Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

41
Caso clínico • J.S.P., sexo masculino, 15 anos, branco, solteiro, estudante, natural e procedente de Salvador-BA. Mãe relata que há 8 dias o paciente iniciou quadro de poliúria, polidipsia, perda de peso e cansaço e que há 1 dia evoluiu com náuseas, vômitos e dor abdominal periumbilical. Há três horas começou a ficar sonolento, o que a motivou a procurar por assistência médica. Refere história de tosse produtiva com expectoração amarelada acompanhada de febre (38,5*C) há cinco dias.

Transcript of Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Page 1: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

• J.S.P., sexo masculino, 15 anos, branco, solteiro, estudante, natural e procedente de Salvador-BA. Mãe relata que há 8 dias o paciente iniciou quadro de poliúria, polidipsia, perda de peso e cansaço e que há 1 dia evoluiu com náuseas, vômitos e dor abdominal periumbilical. Há três horas começou a ficar sonolento, o que a motivou a procurar por assistência médica. Refere história de tosse produtiva com expectoração amarelada acompanhada de febre (38,5*C) há cinco dias.

Page 2: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

SINAIS E SINTOMAS IMPORTANTES

Page 3: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

POLIÚRIA

POLIDIPSIA

FADIGA

PERDA DE PESO

DIABETES MELLITUS

Page 4: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

Levando em consideração que:Paciente jovem Sem fatores de risco para DM tipo 2 Surgimento abrupto dos sintomas (8 dias)

DIABETES MELLITUS TIPO 1

Page 5: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

NÁUSEAS

VÔMITOS

DOR ABDOMINAL

ABDOME AGUDOApendicite aguda - Obstrução intestinal - Úlcera péptica perfurada – Hérnia encarcerada - Perfuração intestinal - Diverticulite aguda - Diverticulite de Meckel - Síndrome de Boerhaave - Distúrbios intestinais inflamatórios - Gastrenterite aguda - Gastrite aguda - Adenite mesentética - Infecções parasitárias - Colecistite aguda -Colangite aguda - Abscesso hepático íntegro ou roto - Tumor hepático roto -Rotura espontânea do baço - Infarto e abscesso esplênicos - Cólica biliar - Hepatite aguda - Pancreatite aguda - Pielonefrite aguda - Cistite aguda - Infarto renal – Orquiepididimite - Colite isquêmica aguda - Trombose mesentérica

Page 6: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

NÁUSEAS

VÔMITOS

DOR ABDOMINAL

DESCOMPENSAÇÃO METABÓLICA AGUDA

DO DM

Page 7: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

TOSSE PRODUTIVA

EXPECTORAÇÃO AMARELADA

FEBRE

INFECÇÃO DO TRATO

RESPIRATÓRIO

PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE?

FATOR PRECIPITANTE?

Page 8: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

• Exame físico (dados positivos):Sonolento, desidratado 3+/4+, FC = 128bpm, FR = 32ipm. Dor difusa à palpação abdominal. Hálito adocicado. Aparelho respiratório - FTV aumentado, submacicez à percussão, MV diminuído com presença de creptos em 1/3 pulmonar inferior direito.

Page 9: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

QUAIS EXAMES DEVEMOS SOLICITAR

Page 10: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

GLICEMIA

FÓSFORO

URÉIA

CREATININA

ELETRÓLITOS

ANÁLISE URINÁRIA

CETONÚRIA

GASOMETRIA

HEMOGRAMA

ECG

HEMO/UROCULTURARX DE TÓRAX

Page 11: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

• Exames laboratoriais: Glicemia 265mg/dL; pH arterial 7,08; Bicarbonato sérico 11mEq/L; Presença de cetonas na urina.

RX de tórax:

Page 12: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

Diagnóstico?

CETOACIDOSE DIABÉTICA

Page 13: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso clínico

• Critérios diagnósticos:1. Glicemia ≥ 250 mg/dL

2. pH arterial ≤ 7,33. Bicarbonato sérico ≤ 15 meq/L

4. Cetonemia ou cetonúria

Page 14: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Eduardo Cunha e Lara Guimarães

Complicações metabólicas agudas:Cetoacidose diabética

&Síndrome hiperosmolar

hiperglicêmica

Page 15: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Cetoacidose diabética

• Complicação aguda do Diabetes Mellitus caracterizada por:

HIPERGLICEMIA

ACIDOSE METABÓLICA

DESIDRATAÇÃO

CETOSE

Deficiência profunda de insulina

Page 16: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Epidemiologia• Acomete principalmente pacientes com DM tipo 1

• Importante: Existem vários relatos publicados de CAD em indivíduos com DM2, inclusive em pacientes idosos acima de 70 anos NÃO É UMA COMPLICAÇÃO EXCLUSIVA DE DM1!

• Pode ser a forma de apresentação clínica inicial do DM

• Responsável por metade das mortes em pacientes com DM1 com menos de 24 anos

• O prognóstico depende das condições de base do paciente, com piora em idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas

Page 17: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD – Fatores precipitantes

PNEUMONIA INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

OMISSÃO DA INSULINOTERAPIA

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

PANCREATITE AGUDA

Page 18: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD – Fatores precipitantes

TRAUMA GESTAÇÃO ABUSO DE ÁLCOOL

USO DE DROGAS USO DE MEDICAMENTOS

Page 19: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - FisiopatologiaRedução na concentração de

insulina+

Liberação excessiva de hormônios contrarreguladores

Aumento na produção hepática e renal de glicose;

Redução da captação pelos tecidos periféricos

Hiperglicemia e consequente hiperosmolaridade

Desidratação e glicosúria

Liberação excessiva de ácidos graxos livres do tecido adiposo

(lipólise)

Oxidação em corpos cetônicos no fígado

Cetonemia e acidose metabólica

Page 20: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Fisiopatologia

Page 21: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD – Manifestações clínicas• Período antecedente a CAD Poliúria, polifagia, polidipsia, perda de peso,

cansaço

• Instalação da CAD Anorexia, náuseas, vômitos, cefaléia, mal-estar, parestesia, dor abdominal

• Progressão da CAD Alteração do nível de consciência (apenas 10% dos casos)

• Exame físico:Cetoacidose Taquipnéia, respiração de Kussmaul, hálito cetônicoDesidratação Pele e mucosas secas, extremidades frias, hipotonia muscular, agitação, pulso rápido Atraso no tratamento da acidose e desidratação pode evoluir para CHOQUE HIPOVOLÊMICO e MORTE

Page 22: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD – Manifestações clínicas

Page 23: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Diagnóstico

QUAIS EXAMES DEVEMOS SOLICITAR

Page 24: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Diagnóstico

GLICEMIA

FÓSFORO

URÉIA

CREATININA

ELETRÓLITOS

ANÁLISE URINÁRIA

CETONÚRIA

GASOMETRIA

HEMOGRAMA

ECG

HEMO/UROCULTURARX DE TÓRAX

Page 25: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Diagnóstico

• Critérios diagnósticos:1. Glicemia ≥ 250 mg/dL

2. pH arterial ≤ 7,33. Bicarbonato sérico ≤ 15 meq/L

4. Cetonemia ou cetonúria

Page 26: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Diagnóstico

Page 27: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Tratamento

• Metas:1. Manutenção das vias respiratórias pérvias

2. Correção da desidratação

3. Correção dos distúrbios eletrolíticos e ácido-básico

4. Redução da hiperglicemia e da osmolalidade

5. Identificação e tratamento do fator precipitante

Page 28: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

CAD - Tratamento

Page 29: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Caso 2H.M.L. 76 anos vem a emergência do HGESF com queixa de poliúria, polidipsia, inapetência, vômitos, febre (38,5º C ) e ardência ao urinar há 3 dias. Paciente desorientado, REG e anictérico. Sem história de hipertensão na família, diabético há 20 anos em uso de insulina NPH 100 U 2 x ao dia ( uma dose após café da manhã e outra dose a noite antes de dormir), nega outras doenças relatadas. Ao exame físico:Peso: 88kg Altura: 1,67m FC : 80 bpm rítmico e simétrico FR: 23 ipm PA: 140X80mmHg Temperatura axilar: 39ºcCabeça e pescoço: sem alterações Tórax: simétrico, boa expansibilidade, macicez á percussão de bases pulmonares , FTV aumentado em bases pulmonares, presença de crepitações difusas em hemitoráx direito e esquerdo. Cardiovascular: Ictus visível em 5º EIE, LMC, palpável, bulhas rítmicas e normofonéticas. Ausência de sopros.Abdome: RHA + com dor á palpação profunda em hipogástrio e flanco E Extremidades : Enchimento capilar aumentado ( 4 seg) em MMSS, ausência de edema em membros.Foram solicitado exames...

Page 30: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Exames laboratoriais:

Hb: 11,5 mg/dl (N) Leucócitos: 16.000 ↑ com desvio á esquerda.Plaquetas: 160.000 (N) Glicemia de jejum: 650 mg/dl ↑Na: 110 ↓ K: 1,8 ↓ Uréia: 35 mg/dl (N) Creatinina: 1,0mg/dl (N)

Gasometria arterial:pH: 7,2 HCO3: 14 pCO2: 30

Urina I: 13 leucócitos/ campo Cetonúria : 3+ e Glicosúria : 3+Nitrito +

Solicitado Rx de toráx em PA

Page 31: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Alguns questionamentos...

1- Quais informações o avaliador deixou de obter do paciente? 2- O exame físico foi adequado?3- Existe algum outro exame que poderia ter sido solicitado pelo médico?

Page 32: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Raio X de Tórax em PA

Raio X com presença de infiltrado bilateral (broncograma aéreo) com distribuição perihilar.

Page 33: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Lista de problemas1. Poliúria2. Inapetência3. Vômito4. Febre ( 39º C)5. Ardência miccional6. Rebaixamento do nível de consciência7. Enchimento capilar aumentado8. Macicez em bases pulmonares9. FTV ↑ em bases pulmonares10. Dor á palpação profunda em hipogástrio e flanco E 11. Creptos em base de hemitoráx D e E12. Leucócitos: 16.000 com desvio á esquerda.13. Glicemia: 650 mg/dl14. Urina I: 13 leucócitos/ campo 15. Cetonúria : 3+ e Glicosúria : 3+16. Broncograma aéreo em bases pulmonares ( RX)

Page 34: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Suspeitas...

1. Diagnóstico Sindrômicoa) Síndrome Hiperosmolar/ hiperglicêmicab) ITRc) ITU d) Síndrome metabólica e) 2. Diagnóstico etiológicof) DM tipo 2 g) Pneumonia bacteriana h) Uretrite

Page 35: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Náuseas, vômitosDor abdominal

Fisiopatologia da CAD e do EHH

Glicogênio Glicose

GlicerolAGL

Aminoácidos

Cetona

GlicogenóliseGliconeogênese hepáticaCetogênese

GlucagonCatecolaminasGHCortisol

Diabetes Mellitus – Joslin 14a Edição

Ácido Acetoacético

B-OH-butirato

Glicosúria

InsulinaDesidratação

Hiperglicemia

Hiperosmolaridade

Cetoacidose

Lactato

Consumo de álcalis

ObnubilaçãoTorpor, coma

Disf. renal

Inibição da captação de glicose

Polis

HiperventilaçãoAlcalose respirat.Resp. KussmaulHálito cetônico

Acidose metab.

Emagrecimento

↓Na+, Cl-, K+, PO4-, Mg++, Ca++

Page 36: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Diagnóstico Diferencial

CAD

Hipoglicemia cetóticaCetose Alcoólica

Cetose de Inanição

Acidose

Cetose

Acidose LáticaAcidose Hiperclorêmica

SalicilismoAcidose Urêmica

Acidose Medicamentosa

Hiperglicemia

EHHIntolerância à glicose

Hiperglicemia de estresse

Kitabchi & Wall, Med Clin North Am, 79; 9-36

Page 37: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

NIH publ.no.: 59-1468,1995

CAD e EHH - Considerações Gerais

CAD EHHTipo DM DM 1 DM 2

Idade Jovens Idosos

Glicemia (mg/dL) > 250 >600

pH arterial (VN: 7,35-7,45) < 7,3 > 7,3

HCO3 (mEq/L) (VN: 22-26) < 15 > 18

Cetonemia/Cetonúria ++++ 0/+

Osmolaridade Sérica (mOsm/kgH2O) (VN: 290±5) Variável > 330

Ânion Gap (mmol/L) (VN: 7-9) > 10-12 < 12

Índice de Mortalidade < 5 % 15%

Page 38: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Diagnóstico Clínico-Laboratorial

Leve Moderada GraveGlicemia(mg/dl) > 600 >750 >1000

pH arterial 7.25 - 7.30 7.24 – 7.00 <7.00 HCO3(mEq/L) 18 - 15 15 - 10 <10

Cetonúria/Cetonemia negativa Positiva Positiva

Osmolaridade (mOsm/Kg) Variável Variável Variável

Ânion Gap (mEq/L) > 10 >12 >12

Nível de Consciência Alerta Alerta/Sonolência Torpor/Coma

UTI

Page 39: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

EHH: Tratamento

Hidratação

Reposição de Insulina

Correção de distúrbios eletrolíticos (Potássio)

Correção do Fator Precipitante

Page 40: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica
Page 41: Aula 29-cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica

Referências Bibliográficas

• BARONE et al. Cetoacidose diabética em adultos – Atualização de uma complicação antiga. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo, Rio de Janeiro, vol.51, n.9, pg.1434-1447, 2007.

• Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2013-2014. Disponível em: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/201405/diretrizes-sbd-2014.pdf