Post on 04-Dec-2015
description
ParaJoanScott,AlbertHirschman
eMichaelWalzer,colegas
Titulo
original:
AvailableLight:Anthropological
ReflectionsonPhilosophicalTopics
TradUlraoautorizadadaprimeira
edi<;:iionorte-americana
publicadaem
2erooporPrincetonUniversity
Press,
deNew
Jersey,EstadosUnidos
Copyright©2000,PrincetonUniversity
Press
Copyright©2001daedic;:aobrasileira:
JorgeZaharEditorLtda.
ruaMexico31sobreloja
20031-144
RiodeJaneiro,RJ
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SindicatoNacional
dosEditoresdeLivros,R].
Geertz,Clifford
G26n
Novaluzsobreaantropologia
/Clifford
Geertz;
traduc;:ao,VeraRibeiro;revisaotecnica,MariaClaudia
"Pereira
Coelho.-
RiodeJaneiro:JorgeZahar
Ed.,
2001
(Antropologia
social)
Traduc;:aode:Availablelight:anthropological
re-
flectionsonphilosophical
topics
1.Etnologia.2.Filosofia.3.Pluralismo
(ciencias
sociais).1.Titulo.II.Serie
CDD
306
CDU
39
4Osusosdadiversidade
Aantropologia,minhafrijhliche
Wissenschaft,ternseenvolvidofatalmente,no
cursodetodasuahist6ria(urnalongahist6ria,separtirmosdeHer6doto,ou
muitocurta,separtirmosdeTaylor),comaenormevariedadedemaneiras
comqueoshomensemulherestentamviversuasvidas.Emcertosmomentos,
elaprocuroulidarcomessavariedadecaptando-a
emalgumaredete6ricauni-
versalizante:estagiosevolutivos,ideiasoupraticaspan-humanas,ouformas
transcendentais
(estruturas,arquetipos,gramaticassubterraneas).Emoutros,
insistiunaparticularidade,
naidiossincrasia,naincomensurabilidade-repo-
lhosereis.Mas,recentemente,elaseviudiantedealgonovo:ac-P0ssibilidade
dequeaV:<triedadeestejarapidamente
sesuavizandonumespe_ctr~~:[gd()
emaisestreito.Podemosver-nosconfrontadoscomurnmundonoqualsim-
plesmentejanaoexistammaisca<;:adoresdecabe<;:as,estruturasmatrilineares
oupessoasquefazemaprevisaodotempopelasviscerasdoporco.Asdiferen-
<;:assem
dtividacontinuarao
aexistir__osfrancesesja.rnai~2_meraom~~t_eiga
comsal.Masosbonseve1hostemposdelan<;:arvitivasnafogueiraedocaniba-
lismonaovoltam
mais.
Emsimesmo,comoquestaoprofissional,esseprocessodesuaviza<;:aodo
contrastecultural(mpondo-sequesejareal)talveznaosejataoperturbador.
QS3ntrop6logossimplesmente
teraoqueaprenderacompreender
dife~~n<;:as
maissutis,es~_ustextostalvezsetornem
maissagazes,aindaque-meno-s_~speta-
culares.Maselelevantaumaquestaomaisampla,aomesmotemp-;-deordem
moral,esteticaecognitiva,queemuitomaisperturbadora
equeestanocentro
devariasdiscuss6esatuaissobrecomojustificarosvalores:0quechamarei,
apenasparaterurnnomequefiquegravadonamente,de0FuturodoEtno-
centrismo.
Retomareimaisadiantealgumasdessasdiscuss6esmaisgerais,poisepara
elasquesevolta0meuinteresseglobal;mas,comoformadeabordar0proble-
ma,querocome<;:arapresentando
umatese,ameu
verincomum
eurnbocado
desconcertante,
que0antrop610go
FrancesCL:mdeLevi-Strauss
desenvolveno
inicio
dasuarecente
coleranea
deensaios,prov~~adoramente
intitulada
(pro-
vocadoramente
aomenosparaurnantrop610go)0olhardistanciado.
1
AtesedeLevi-Strauss
surgiu,antesdemaisnada,em
respostaaurnconviteda
Unesco
paraqueproferisseaconferencia
deabertura
doAnoInternacional
de
Corpbate
aoRacismoeaDiscrimina<;:ao
Racial,que,casovocestenham
esque-
cido,foi1971."Fuiescolhido",
disseele,
porquevinteanosantestinhaescrito[urnpanfletointitulado]"Ra<;:a,e_hist6ria"
paraaUnesco,[noqual]afirmaraalgumasverdadesfundamentais....[Em]1971,
logopercebiqueaUnescoesperavaqueeu[simplesmente]asrepetisse.Mas,vin-
teanosantes,paraatenderasinstitui<;:6esinternacionais,
queeujulgavaterque
apoiarmaisdoquecreiohoje,euhaviaexageradournpouco
minhasconclus6es
em"Ra<;:aehist6ria".Talvezporminhaidadeecertamentegra<;:asareflex6esins-
piradaspelasitua<;:aoatualdomundo,naogosteidessasolicitudeemeconvenci
deque,paraserUtilaUnesco
ecumprircomhonestidade0meucompromisso,
deveriafalarcomabsolutafranqueza.
2
Comodehahito,issonao
sereveloupropriamente
umaboaideia,provo-
candoumaespeciedefarsa.Algumas
membrosdadiretoriadaUnesco
ficaram
consternados
por"euhaverquestionado
urncatecismo
[cujaaceita<;:ao]lhesper-
mitiraascender
deempregosmodestosnospaisesem
desenvolvimento
parares-
peiraveisposi<;:6esdeexecutivos
numa
institui<;:ao
internacional".30
entao
diretor-geral
daUnesco,outroFrancesdecidido,pediu
inesperadamente
apala-
vraafimdereduzir0tempodeLevi-Strauss
eassimfor<;:a-Ioafazeroscortesde
"aperfei<;:oamento"quethehaviam
sugerido.Levi-Strauss,incorrigive4
leuain-
tegradeseutexto,aparentemente
emaltavelocidade,
notempoquetherestava.
Aforaisso,queequivalia
aurndianormal
naONU,0problema
daconfe-
renciadeLevi-Strauss
foique,nela,alielese"rebeloucontra0abuso
delingua-
gem
peloqualaspessoas
tendem
cadavezmaisaconfundir
0racismo...com
atitudes
normaiseatelegitimas
e,dequalquer
modo,ineviraveis"
-ouseja,
com0etnocentrismo,
embora
elenao
0chamasse
poressenome.4
oetnocentrismo,
argumentou
Levi-Strauss
em"Ra<;:aecultura",
ede
modournpouco
maistecnicoem"0antrop610go
eacondi<;:aohumana",
es-
critocercadeumadecadadepois,naoapenas
naoeruim
emsi,comoeateuma
coisaboa,pelomenosdesdequenaofujaaocontrole.Afidelidadeaurncerto
conjunto
devaloresfazcomque,inevitavelmente,
aspessoas
fiquem
"parcial
outotalmente
insensiveisaoutrosvalores"aosquaisoutras
pessoas,igualmen-
teprovincianas,
sanigualmente
£leis.'"Nao
hanadadeofensivoem
secolocar
opr6prio
estilodevidaou0pr6prio
mododepensaracimadosoutrosouem
sentirpouca
atrayao
poroutrosvalores."Essa"incomunicabilidade
relativa"
nao
autoriza
ninguem
areprimir
oudestruir
osvaloresrejeitados
ouaqueles
queospossuem.Aexceyao
disso,porem,"elanao
ternnadaderepugnante":
Talvezsejaate0pre<;:oapagarparaqueossistemasdevaloresdecadafamiliaespi-
ritualoudecadacomunidadesejampreservadoseeneontrem
emsimesmosos
reeursosnecessariosparasuarenova<;:ao.Se...associedadeshumanas
exibem
urn
grauatimodediversidadeparaalem
doqualnaopodem
avan<;:ar,masabaixodo
qualnaopodem
descersemriscos,temosdereeonheeerque,em
largamedida,es-
sadiversidaderesultadodesejodeeadaculturaderesistiraseulturasqueaeer-
earn,desedistinguir
delas-
emsuma,deserelamesma.Aseulturasnao
deseonheeem
umasasoutrase,devezem
quando,atetomam
emprestimosentre
si;mas,paranaoperecerem,elasdevem,soboutrosaspectos,permanecer
urn
.••
6tantoImpermeavels.
Portanto,naoapenas
eumailusaoqueahumanidade
possaselivrarintei-
ramente
doetnocentrismo,
"ousequer
interessar-se
emfaze-lo",
comonao
se-
riaborn
se0£lzesse.Tal"liberdade"
conduziria
aurnmundo
"cujasculturas,
todas
apaixonadas
umas
pelas
outras,aspirariam
apenas
acelebrar-se
mutua-
mente,numatalconfusaoquecadaumaperderia
qualquer
atrativoquepudes-
seterparaasdemaiseperderia
suapropriarazaodeser.,,7
Adisranciacria,senao
encanto,pelomenosindiferenya
e,assim,integri-
dade.Nopassado,quando
aschamadas
culturasprimitivas
envolviam-se
ape-
nasmuito
marginalmente
umas
com
asoutras
-referindo-se
asimesmas
como"AsVerdadeiras",
"AsBoas"ousimplesmente
"OsHomens",
edespre-
zandoasquesesituavam
dooutroladodoriooudaserracomo"
macacos"
ou
"ovosdepiolho",
istoe,nao
humanas
ounaoplenamente
human
as-,
ainte-
gridadeculturaleraprontamente
mantida.
A"profunda
indiferenya
paracom
outras
culturasera...umagarantiadequeelaspodiam
existirasuapr6priama-
neiraesegundoosseuspr6priostermos."s
Agora,quando
eclaroqueessasitu-
ayao
janao
prevalecequando
todos,
cadavezmaisapertados
num
pequeno
planeta,
estaoprofundamente
interessados
emtodososdemaisenosassuntos
quelhesdizem
respeito,assomaapossibilidade
deperdadessaintegridade
em
funyao
daperdadessaindiferenya.
Talvez0etnocentrismo
nunca
desapareya
porcompleto,sendo"daessenciamesmadanossaespecie",maspodetornar-se
perigosamente
fraco,deixando-nos
amerce
deumaespeciedeentropia
moral:
Sem
duvidanosiludimoscomurnsonhoaosuporquealgumdiaaigualdadeea
fraternidadereinarao
entreoshomenssemcomprometer
nossadiversidade.No
entanto,seahumanidadenaoestiresignadaasetomar
umconsumidoresteril
dosvaloresqueconseguiucriarnopassado...,capazapenasdedaraluzobrasbas-
tardaseinveny6esgrosseirasepueris,[entao]ted.queaprendermaisumavezque
todacriayaoverdadeiraimplicaumacertasurdezaoapelodeoutrosvalores,che-
gandoatearejeiti-los,senaonegi-losporcompleto.Poisnaopodemosdesfrutar
plenamente
dooutro,identificarmo-noscomelee,aomesmotempo,continuar
diferentes.Quandosealcanyaacomunicayao
integralcom0outro,maiscedoou
maistardeelasignificaadestruiyao
dacriatividadedeambos.Asgrandeserascri-
ativasforamaquelasem
queacomunicayao
setomarasuficienteparaaestimula-
.yaomutuadeparceirosdistantes,masnaoerataofreqiientenem
taovelozque
pusesseem
perigoosobsticulosindispensiveisentreosindividuoseosgrupos,
ouqueosreduzisseaopontoem
quetrocasexcessivamenteficeispudessemigua-
lareanularsuadiversidade.9
oquequerquesepense
detudoissooupormaissurpreso
quesefiqueao
ouvi-lo
daboca
deurnantropologo,
decerto
setratadealgoqueternurntoque
contemporilneo.
Osatrativosda"surdez
aoapelodeoutrosvalores"
edeuma
abordagem
dotipo"relaxeegoze"arespeito
doaprisionamento
pessoal
na
propriatradic;:aoculturalsaGcadavezmaiscelebradosnopensamento
socialre-
cente.Incapazes
deabrac;:ar0relativismo
ou0absolutismo
-0primeiro
por
inviabilizar
0julgamento,
0segundoporretid.-lo
dahistoria-,
nossosfiloso-
fos,historiadores
ecientistas
sociaisvoltam-se
paraaimpermeabilitequeLe-
vi-Strauss
recomenda,
dotipo"nossomosnos,elessaGeles".Quer
seencare
issocomolegitimac;:ao,comoajustificac;:aodopreconceito
oucomoaesplendi-
dahonestidade
daFrasedeFlannery
O'Connor,
"quando
emRoma,
fapm
comofizeram
emMilledgeville",
ditaem
tom
de"eis-meaqui",eclaroquee
algoquecoloca
aquestaodoFuturo
doEtnocentrismo
-edadiversidade
cul-
tural-
sobumanovaluz.0recuo,0distanciamento,
0Olhar
Distanciado
seraorealmente
amaneira
deescapar
adesesperada
tolerancia
docosmopolitis-
modaUnesco?Sed.0narcisismo
moralaalternativa
aentropia
moral?
Saomultiplas
asforc;:asresponsiveis
porumavisao
maisinteressante
doauto-
centramento
culturalnosultimos25ou30anos.Existem
asquest6es
relativas
a"situac;:aodomundo"
aqueLevi-Strauss
alude,maisespecialmente
0incapa-
cidadedeamaioriadospaisesdoTerceiro
Mundo
deatender
asroseasexpec-
tativas
queeram
correntes
pouco
antesepouco
depois
desuas
lutasde
independencia.
OsextremistasAmin,Bokassa,PolPoteKhomeini,
ou,com
menosextravagancia,
Marcos,
Mobuto,
Sukarno
eIndiraGandhiesfriaram
urnpouco
aideiadequehamundos
emoutroslugares
emrelac;:aoaosquais
umacomparac;:ao
noseclaramente
desfavor<ivel.Existe0sucessivodesmascara-
mentodasutopiasmarxistas-aUniaoSovietica,aChina,Cuba,0Vietna.E
hatambem
umareduc;;aodopessimismoexpressonaideiadeDecliniodoOci-
dente,induzidapelaIIGuerraMundial,peladepressaoglobalepeladerrotado
imperialismo.Mashatambem,ecreioquenaomenosimportante,0aumento
daconscienciadeque0consenso
universal-transnacional,transculturale
atedetodasasclasses-sobreassuntosnormativosnaoesravisivelnumfuturo
proximo.Nem
todos-ossikhs,ossocialistas,ospositivistas,osirlandeses-
chegaraoaumaopiniaocomumsobre0queedecenteeo
quenaoe,0quee
justoe0quenaoe,0queebeloeo
quenaoe,0queerazoavele0quenaoe,
pelomenosnaotaocedo,out~lveznunca.
Quandoabandonamos(e,eclaro,nem
todosabandonaram,talvezsequer
amaioria)aideiadeque0mundocaminhaparaurnacordoessencialsobre
questoesfundamentais,oumesmo,comoLevi-Strauss,dequedeveriafaze-la,
naturalmente
cresce0apelodoetnocentrismodotipo"relaxeegoze".Senos-
sosvaloresnaopodem
serdesvinculadosdenossahistoriaenossasinstituic;;oes,
comonao
podem
se-loosvaloresdeninguem
emrelac;;aoasuasinstitui-
c;;oesesuahistoria,parecenaohaveroutracoisaafazersenaoseguir0exemplo
deEmersoneandarcomnossaspropriaspernas,falandocomnossapropria
voz."Esperoindicar",escreveuRichardRortyhumtextorecente(maravilho-
samenteintitulado"Liberalismoburguespos-moderno"),"comonos[oslibe-
raisburguesespos-modernos]
podemosconvencernossasociedadedequea
fidelidadeaelamesmaeosuficiente...,dequeelasoprecisaserresponsavelpor
suaspropriastradic;;oes.,,10Aquiloaquechega0antropologoem
buscadas"leis
consistentesquesubjazem
adiversidadeobservaveldascrenc;;aseinstitui-
c;;oes"lI,partindodoracionalismoedaaltaciencia,eatingidoapartirdoprag-
matismoedaprudenciaeticapelofilosofopersuadidodeque"naoha'base'
para[nossas]lealdadeseconvicc;;oes,excetopelofatodequeascrenc;;as,desejos
eemoc;;oesqueassustentamsuperpoem-seasdeinumerosoutrosmembrosdo
grupocomquenosidentificamosparafinsdedeliberac;;aomoralepoHtica".12
Asemelhanc;;aeaindamaior,apesardospontosmuitodiversosdequepar-
ternessesdoissabio.~(0kantismosem0sujeitotranscendental,0hegelianismo
sem0espiritoabsoluto)edosfinsaindamaisdiversosparaosquaiselesten-
dem
(urnmundobem
arrumadodeformastransponiveis,urnmundodesarru-
madodediscursoscoincidentes),porquetambem
Rortyencaraasdistinc;;oes
odiosasentreosgruposnaoapenascomonaturais,mascomoessenciaisao
pensamento
moral:
[0]anilogohegelianoda"dignidadehumanaintrinseca"[kantiana]naturaliza-
do,eadignidadecomparativadogrupocomqueapessoaseidentifica.Asna~6es
ouigrejasoumovimentos,nostermosdessavisao,SaGexemploshist6ricosbri-
lhantes,naoporquereflitam
raiosprovenientesdeumaFontesuperior,maspor
causadasefeitosdecontraste-
dacomparac;:aocomcomunidades
piores.As
pessoasterndignidadenaacomoumaluminescenciainterna,masporcomparti-
lharem
essesefeitosdecantraste.Urncoroliriodessavisaoequeajustificac;:ao
moraldasinstituic;:6esepriticasdogrupoaquesepertence
-porexemplo,a
burguesiacontemporanea
-esobretudoumaquestaodenarrativas
hist6ricas
(queincluem
hip6tesessobre0quetendeaacontecerem
algumascontingencias
futuras),enaodemetanarrativas
filos6ficas.0respaldoprincipaldahistoriogra-
fianao
eafilosofia,masaarte,queserveparadesenvolver
emodificar
aau-
.to-imagem
dogrupo-
porexemplo,fazendoaapoteose
deseusher6is,
diabalizandoseusinimigos,montandodiilogosentreseusmembrosemudando
ofocodesuaatenc;:aO.13
Ora,sendoeumesmointegrante
dessastradi<;:6esintelectuais
-doestu-
dociendfico
dadiversidade
cultural,
porprofissao,edoliberalismo
burgues
p6s-moderno,
porconvic<;:aogeral-,
minhavisao
pessoal,paraaborda-Ias
nestemomento,
equearendi<;:aofacilaocomodismo
desermosapenas
n6s
mesmos,
cultivando
asurdez
emaximizando
agratidao
pornao
termosnasci-
dovandalosouIk,serafatalparaambas.Umaantropologia
muitotemerosa
de
destruir
aintegridade
eacriatividade
culturais,nossasedetodososoutros,
por
seaproximar
deoutras
pessoas,conversarcomelaseprocurarapreende-Ias
em
seucotidiano
esuadiferen<;:a,estafadadaamorrer
deumainani<;:aoquenao
podesercompensada
porqualquer
manipula<;:ao
deconjuntos
dedadosobjeti-
vados.Qualquer
filosofiamoraltemerosa
deseenredar
num
relativismo
desa-
juizadoounum
dogmatismo
transcendental,
aponto
denao
conseguir
pensar
emnadamelhoraserfeitocomasoutras
maneirasdeviverdoquefaze-laspa-
recerem
pioresdoqueanossa,estadestinada
(comodissealguem
sobreostex-
tosdeV.S.Naipaul,
talveznossoprincipal
adepto
daconstru<;:ao
desses"efeitos
decontraste")
afazercomque0mundo
setorneseguro
paraacondescenden-
cia.Tentarsalvarduasdisciplinas
delasmesmas,aomesmotempo,talvezpare-
<;:aarrogancia.
Mas,quando
setern
dupla
cidadania,
tem-se
obriga<;:oes
dobradas.
Adespeito
desuascondutas
diferentesedesuasdiferentespreocupa<;:oes
(eeu
meconfessomuitomaispr6ximo
dopopulismo
desleixado
deRortyquedo
elitismomelindroso
deLevi-Strauss
-0quetalvezsejaapenas
urnpreconcei-
toculturalmeu),essasduasversoes
do"cadaurnternsuapr6priamoral"
ap6i-
am-se,pelomenosem
parte,numavisao
comum
dadiversidade
cultural,
qual
seja,adequesuagrandeimportancia
resideem
elanosfornecer,parausaruma
f6rmula
deBernardWilliams,
alternativas
an6s,em
contraste
comalternativas
paranos.Outrascren<;:as,valoreseestilosdecondutasaovistascomocren<;:as
queadotariamos,valaresquedefenderiamoseestilosdecondutaqueseguida-
mas,sehouvessemosnascidonumlugarauepocadiferentesdaquelesem
que
estamos.
Eofariamosmesmo.Mastalvisaopareceaomesmotemposuperestimare
subestimarbem
maisdoquedeveriaarealidadedadiversidadecultural.Supe-
restima-Iaparsugerirqueterumavidadiferentedaqueseterneumaop<;:ao
praticasabreaqual,dealgummodo,asujeitoternquedecidir(seraqueeude-
veriatersidoBororo?Nao
eumasorteeunaoternascidohitita?);esubesti-
ma-Iaparobscurecerapoderqueternessadiversidade,quandopessoalmente
dirigidaanos,detransformarno~saideiadoquee,paraurnserhumano-Bo-
roro,hitita,estruturalistaauburguesliberalpos-moderno-,
acreditar,valo-
rizarauconduzir-se:doquee,comoobservouArthurDanto,fazendoecoa
famosaperguntadeThomas
Nagelsabreamorcego,"acharqueamundoe
plano,queficoirresistivelcommeuvestidodePoiret,queareverendoJimJo-
nesmeteriasalvoparseuamor,queasanimaisnaoternsentimentosauqueas
flA
,k"
140
bl
d.
oresastern-auqueaquenteeapun.
pro
emaaetnocentnsmo
naoestaem
elenoscomprometer
comnossoscompromissos.Temos,pardefi-
ni<;:ao,essecompromisso,assimcomoestamoscomprometidoscomnossasda-
resdecabe<;:a.0
problemadoetnocentrismoequeelenosimpedededescobrir
emquetipodeangulo,comoaCavafJdeForster,nossituamosem
rela<;:aoao
mundo;quetipodemorcegossomas,defato.
Essavisao-dequeasenigmassuscitadospelarealidadedadiversidade
culturalternmaisavercomnossacapacidadedesondarasapalpadelasassensi-
bilidadesalheias,asmodosdepensamento
quenaotemosnem
tendemosater
(rockpunke
vestidosdePoiret),doquecompodermosaunaofugirdepreferir
nossaspreferencias-
terndiversasimplica<;:6es,quesaournmaupressagio
paraaabardagem
dascoisasculturaisem
termosde"nossomasnos"e"elessao
eles".Aprimeiradelas,e,possivelmente,amaisimportante,equeessesenig-
masnaosurgem
meramentenasfronteirasdenossasociedade,onde,segundo
essaabordagem,esperariamosencontra-Ios,massurgem,parassimdizer,nos
limitesdenosmesm?,s.Aestranhezanaocome<;:anoslimitesdaagua,masnos
dapele.Aqueletipodeideiaquetendeasercultivadapelosantropologosdesde
MalinowskiepelosfilosofosdesdeWittgenstein-adequeasxiitas,digamos,
parseremoutros,constituem
urnproblema,masastorcedoresdefutebol,par
exemplo,parserempartedenos,naoaconstituem,au,pelomenos,naosao
urnproblemadomesmotipo-esimplesmenteerrada.0mundosocialnao
sedivide,em
suasarticula<;:6es,entreurnnosperspicuo,comaqualpodemos
terempatia,parmaisquesejamosdiferentesentrenos,eurnelesenigmatico,
comaqualnaopodemosserempaticos,parmaisquedefendamosateamorte
seudireitodeseremdiferentesdenos.Agentalhacomes:amuitoantesdoCanal
daMancha.
Tantoaantropologiarecente,dotipoDoPontodeVistadoNativo(que
pratico),quantoafilosofiarecente,dotipodasFormasdeVida(daqualsou
adepto),foramlevadasaconspirar,ouparecem
conspirar,paraobscureceresse
fato,atravesdeumaaplicas:aocronicamente
erradadesuaideiamaispoderosa
emaisimportante:aideiadeque0sentidoesocialmenteconstruido.
Aperceps:aodeque0sentido,sobaformadesinaisinterpretaveis-sons,
imagens,sentimentos,artefatos,gestos-,
s6passaaexistirdentrodosjogos
delinguagem,dascomunidades
discursivas,dossistemasdereferenciainter-
subjetivosedasmaneirasdeconstruir0mundo;dequedesurgenocontexto
deumainteras:aosocialconcreta,em
queumacoisaeumacoisaparaumvocee
urneu,enaoem
algumagrutasecretanacabes:a;edequeeleerigorosamente
hist6rico,moldadonofluxodosacontecimentos,
essaperceps:aoeinterpretada
comoimplicandoqueascomunidades
humanasSaDoudevem
sermonadasse-
manticas,quasesemjanelas(0que,ameuver,nem
Malinowskinem
Witt-
genstein-
e,arigor,nem
Kuhnnem
Foucault-
pretenderam
que
implicasse).Somos,dizLevi-Strauss,passageirosdessestrensqueSaDnossas
culturas,cadaqualmovendo-seem
seustrilhospr6prios,comsuapr6priavelo-
cidadeeem
suapr6priadires:ao.Ostrensquecorrem
ladoalado,indoem
di-
res:6essimilaresecomvelocidadesnaomuitodiferentesdanossa,sao-nosao
menosrazoavelmentevisiveis,quandoosolhamosdenossoscompartimentos.
Masostrensqueestaoem
trilhosobliquosouparalelos,indoem
dires:aoopos-
ta,nao0sao."[P]ercebemosapenasumaimagem
vaga,fugazequasenaoiden-
tifidvel,em
geralapenasumamanchamomentanea
emnossocampovisual,
quenaotraznenhumainformas:aosobresimesmaemeramentenosirrita,por-
queinterrompenossaplacidacontemplas:ao
dapaisagem
queservedepanode
fundoparanossosdevaneios."15Rortyemaiscautelosoemenospoetico,esin-
toqueseinteressamenospelostrensdasoutraspessoas,taopreocupadoesta
emsaberparaondeestaindo0seu,masfaladeuma"superposis:ao"maisou
menosacidentaldesistemasdecrens:a,entrecomunidades
"americanasricase
burguesas"eoutras"comasquaisprecisamosfalar",comosendo0quepermi-
teque"algumaconversaentreasnas:6esaindasejapossivel".160fatode0sen-
timento,0pensamento
e0juizosealicers:arem
numaformadevida-quee0
unicolugar,alias,tantoameuverquantonaopiniaodeRorty,em
queelespo-
dem
seapoiar-etidocomosignificandoqueoslimitesdemeumundoSaDos
limitesdaminhalinguagem,0quenaoeexatamente0que0homem
disse.
oqueeledisse,eclaro,foiqueoslimitesdaminhalinguagem
SaDoslimi-
tesdomeumundo,0quenaoimplicaque0alcancedenossamente,daquilo
quepodemosdizer,pensar,apreciarejulgar,estejaaprisionadonasfronteiras
denossasociedade,nossopals,nossaclasseaunossaepoca,masqueaalcance
denossamente,agamadesinaisquedealgummodoconseguimosinterpretar,
eaquiloquedefineaespa<;:ointelectual,afetivoemoralem
quevivemos.
Quanta
maiorelee,maiorpodemostoma-la,tentandocompreender
aque
vem
aserasadeptosdaTerraplana,auareverendoJimJones(auasIkauas
vandalos),aquesignificasercomoeles,emaisclarosnostomamostambem
paranosmesmos,tantoem
termosdoquevemosdeaparentemente
remotae
deaparentemente
familiarnosoutros,deatraenteederepulsivo,desensatoe
deinteiramente
louco;oposi<;:6esessasquenaosealinham
demaneirasimplis-
ta,paishaalgumascoisasmuito.atraentesnosmorcegoseoutrasmuitorepug-
nantesnosetnografos.
ComodizDantonomesmoartigoqueciteihapouco,sao"aslacunasen-
tremim
easquepensamdiferentemente
demim-aqueequivaleadizerto-
dosasoutros,enaoapenasassegregadospardiferen<;:asdegera<;:6es,sexo,
nacionalidade,
seitaeatera<;:a-
[que]definem
asverdadeirasfronteiras
do
self".l?Comoeletambem
diz,auquase,saoasassimetrias-entreaquiloem
quecremosauquesentimoseaquiloqueasoutrosfazem-quenospermi-
temsituarondeestamosagoranomundo,comoeestarnesselugareparaonde
gostadamosaunaodeir.Obscureceressaslacunaseassimetrias,relegando-as
aocampodadiferen<;:apasslveldeserreprimidaauignorada,dameradesseme-
lhan<;:a,queeaqueaetnocentrismofazeestadestinadoafazer(0universalis-
modaUnescoasobscurece-Levi-Strausstemtodarazaonisso-,
negando
parcompletosuarealidade),equivaleanosisolardesseconhecimento
edessa
possibilidade:dapossibilidade,em
termosliteraiserigorosos,demudarmosde
ideia.
Ahistoriadequalquerpovoem
separadoeadetodosaspovosem
conjunto,
comotambem,arigor,ahistoriadecadapessoatomadaindividualmente,tem
sidoahist6riadessamudan<;:adeideias,em
geraldevagar,asvezesmaisdepressa;
au,casoatomideal.i~tadestaafirma<;:aoperturbealeitor(naodeveria,porque
naoeidealistanem
negaaspress6esnaturaisdarealidadeauaslimitesmateriais
davontade),temsidoahist6riadamudan<;:adossistemasdesinais,dasformas
simb6licasedastradi<;:6esculturais.Essasmudan<;:asnaosederam
necessaria-
menteparamelhor,talveznem
mesmoemcaraternormal.Tampoucolevaram
a
umaconvergenciadasopini6es,masaumamisturadelas.0querealmentefoi,
emalgummomenta,algaaomenosparecidocomamundodassociedadesinte-
graisem
comunica<;:aodistantedeLevi-Strauss,laem
seuaben<;:oadoneoHtico,
transformou-seem
algabem
maisparecidocomamundopos-modemodesen-
sibilidadesem
choquenumcantata
inescapaveldequenosfalaDanto.Tal
comoanostalgia,adiversidadejanaoecomoantigamente;e0trancafiamento
dasvidasem
vag6esferroviariosseparados,paraproduzirarenovac;:aocultural,
ouseuespac;:amentocomefeitosdecontraste,paraliberarenergiasmorais,sao
sonhosromanticosquenaodeixam
deserperigosos.
Atendenciageralde0espectroculturaltomar-semaisvagoemaisconti-
nuo,semsetomarmenosdiscriminado(alias,eprovavelqueestejaficandomais
discriminado,amedidaqueasformassimbolicassedividem
eproliferam),ten-
denciaestaaquemereferinoinicio,alteranao
soarelac;:aodelecoma
argumentac;:aomoral,mastambem
0cariterdessapropriaargumentac;:ao.Acos-
tumamo-nosaideiadequeosconceitoscientificosmodificam-secomasmu-
danc;:asdostiposdeinteresseparaosqu.aissevoltam
oscientistas-aideiade
quenaoseprecisadod.lculoinfinitesimalparadeterminaravelocidadedeuma
charrete,nem
daenergiaquanticaparaexplicaraoscilac;:aodeurnpendulo.Mas
temosbem
menosconscienciadeque0mesmoseaplicaaosinstrumentosespe-
culativosdoraciodniomoral.Asideiasquebastaramparaasmagnlficasdiferen-
c;:asdeLevi-Straussnao
saosuficientesparaasperturbadorasassimetriasde
Danto;eecomestasultimasquenosconfrontamoscadavezmais.
Emtermosmaisconcretos,asquest6esmoraisprovenientesdadiversida-
decultural(que,eclaro,estaolongedesertodasasquest6esmoraisqueexis-
tern),asquais,seequechegavam
asurgir,surgiamsobretudoentresociedades
-aqueletipodecoisados"costumescontrariosarazaoeamoral"dequese
alimentou0imperialismo-,
surgem
agora,cadavezmais,dentrodelas.As
fronteirassociaiseculturaisternumacoincidenciacadavezmenor-hajapo-
nesesnoBrasil,turcosasmargensdoMainenativosdasIndiasOcidentaise
Orientaisencontrando-senasruasdeBirmingham
-,numprocessodebara-
lhamentoquejavem
acontecendohaurnborntempo,eclaro(naBelgica,no
Canada,noUbano,naAfricadoSul,enem
aRomadosCesareseralamuito
homogenea),masque,em
nossosdias,aproxima-sedeproporc;:6esextremase
quaseuniversais.Javailonge0tempoem
queacidadenorte-americanaera0
principalmodelodefragmentac;:aoculturaledesordem
etnica;aParisdenos
ancetreslesgauloisestaficandotaopoliglotaepolicromaquantoManhattan,e
eposslvelqueaindavenhaaterurnprefeitodaAfricasetentrional
(ou,pelo
menos,assimtemem
muitosdosgaulois)antesqueNovaYorktenhaurnpre-
feitohispanico.
Nocorpodeumasociedade,dentrodasfronteirasdeurn"nos",essesurgi-
mentodequest6esmoraisangustiantes,centradasnadiversidadecultural,as-
simcomoasimplicac;:6esqueeleternparanossoproblemageraldo"futurodo
etnocentrismo",
talvezseesclarec;:amdemaneirabem
maisvlvidaatravesde
urnexemplo-naodeurnexemploinventadodeficc;:aocientifica,referentea
aguaem
antimundos,
ouapessoascujaslembranc;:asseintercambiam
enquan-
toelasdormem(comoosexemplosquepassaramaagradardemaisaosfi16so-
fosultimamente,emminhaopiniao),masdeurnexemploreal,ou,pelo
menos,apresentadoamimcomorealpeloantrop6logoque0narrou:0Caso
doIndioBebedoedaMaquinadeHemodialise.
ocasoesimples,pormaisintrigantequetenhasidoseudesfecho.Arros
atras,aextremaescassezdemaquinasdehemodialise,emvirtudedeseuenor-
mecusto,levou,comoeranatural,acriayaodeurnprocessodeformayaode
filaparaqueospacientesnecessitadosdedialisetivessemacessoaelas,num
programamedicodegovernodosudoestedosEstadosUnidos,dirigido,tam-
bemmuitonaturalmente,porjovensmedicosidealistas,provenientesdegran-
desfaculdadesdemedicina,emsuamaioriasituadasnoleste.Paraqueesse
tratamentosejaeficaz,aomeno;porurnperiodoprolongado,enecessariauma
disciplinarigorosaquanto
adietaeoutrasquest6esporpartedospacientes.
Comoiniciativagovernamentalregidaporc6digoscontrariosadiscriminayao
e,dequalquermodo,moralmentemotivada,comoafirmei,aorganizayaoda
filafoifeitanaoemtermosdacapacidadedepagamento,masdasimplesgravi-
dadedoscasosedaordemdechegadadospedidos,politicaestaque,comas
distory6eshabituaisda16gicapratica,levouaoproblemadoindiobebedo.
Esseindio,depoisdeconseguiracessoaoequipamento
escasso,recu-
sou-se,paragrandeconsternayaodosmedicos,aparardebeber,ousequera
controlarsuaingestaodealcool,queeraprodigiosa.Suapostura,seguindourn
tipodeprindpiosemelhanteaodeFlanneryO'Connor,quemencioneianteri-
ormente-
0de0sujeitocontinuaraserqueme,independentemente
de
quemosoutrosquiseremqueseja-,
eraaseguinte:soumesmournindiobe-
bedo,jafazurnborntempoquesouassim,epretendocontinuarase-loen-
quantovocesconseguiremmemantervivo,amarrando-meaessasuamaldita
maquina.Osmedicos,cujosvaloreserambemdiferentes,achavamque0indio
estavaimpedindo0acessoaoaparelhoporpartedeoutraspessoasdafilaemsi-
tuayaonaomenosdesesperada,asquais,navisaodeles,poderiamaproveitar
melhorseusbeneHcios-0tipojovemdeclassemedia,digamos,bempareci-
docomeles,destinadoauniversidadee,quemsabe,afaculdadedemedicina.
Como0indiojaestavautilizandoamaquinadehemodialisequando0proble-
maseevidenciou,er~snaoconseguiramdecidir-se(nemcreioqueissolhesti-
vessesidopermitido)aretira-Iodela;masficaramprofundamenteaborrecidos
-pelomenostantoquanto0indiosemostravadeterminado,sendosuficien-
tementedisciplinadoparacomparecercompontualidadeatodasassuasses-
s6es-,
esemduvidateriamconcebidoumarazaoqualquer,aparentemente
medica,pararetira-Iodesuaposiyaonafila,sehouvessempercebidoatempo0
queestavaporvir.0indiocontinuouausar0aparelhoeelescontinuaramin-
comodadosdurantevariosanos,ateque-orgulhoso,imagino,agradecido
(naoaosmedicos)porterobtidournprolongamentodavidaemquecontinuar
abeber,esemnenhumarrependimento-elemorreu.
Poisbern,0objetivodestapequenafibulaemtemporealnaoemostrar
comoosmedicospodemserinsensiveis(elesnaoeraminsensiveis,etinhamIi
suasraz6es)ouquaodesorientadostornaram-seosindios(essenaoestavades-
norteado,sabiaexatamenteondesesituar),nemtampoucosugerirqueosvalo-
resdosmedicos(istoe,aproximadamente
osnossos),osdoindio(istoe,
aproximadamenteosnaonossos),oualgumjulgamentoexternoaspartes,reti-
radodafilosofiaoudaantropologiaeproferidoporurndosjuizesherculeosde
RonaldDworkin,devesseterprevalecido.Eraurncasodificil,queteveurnfi-
nalpenoso,masnaovejocomournetnocentrismo,urnrelativismoouuma
neutralidademaiorespudessemtermelhoradoascoisas(emboraurnpouco
maisdeimaginac;:aotalvez0fizesse).0objetivodafibula(naotenhopropria-
mentecertezadequehajanebumamoral)emostrarqueeessetipodecoisa,e
naoatribodistante,dobradasobresimesmanumadiferenc;:acoerente-
comoosAzandeouosIk,cujofasciniosobreosfi16sofoseapenasligeiramente
menorque0dasfantasiasdeficc;:aocientifica,talvezporqueIhessejapossivel
transformi-losemmarcianossublunareseenxergi-losemconsonanciacomis-
so-,
querepresenta,aindaquedemaneirameiomelodramatica,aformage-
ralassumidahojeemdiapelosconflitosdevaloressurgidosdadiversidade
cultural.
Osantagonistasdessahist6ria,seequesepodeve-losdessemodo,nao
eramrepresentantesdetotalidadessociaisensimesmadas,queseencontrassem
poracasonasfronteirasdesuascrenc;:as.Osindiosqueafastam0destinoatra-
yesdoconsumodeilcoolsaopartetaointegrantedaAmericacontemporanea
quantoosmedicosque0corrigematravesdousodemiquinas.(Sevocequiser
sabercomo,pelomenosnoqueconcerneaosindios-presumoqueconhec;:a
osmedicos-,
leia0inquietanteromancedeJamesWelch,Winterinthe
BLood,ondeosefeitosdecontrasteressaltamdeurnmodobastantepeculiar.)
Sehouvealgumafalhanesseepis6dio-e,abemdajustic;:a,edificildizer,a
.'disrancia,exatamentequalfoisuadimensao-,
tratou-sedaincapacidade,por
partedeambososlados,deapreender0quesignificavaestarnooutro,epor-
tanto,0quesignificavaestarnoseu.Pelomenosaoqueparece,ninguem
aprendeumuitacoisasobresimesmoousobrequalqueroutrapessoanesseepi-
s6dio,eabsolutamentenadasobre0caraterdoencontroocorridoentreeles,
excetopelasbanalidadesdarepugnanciaedaamargura.Naoeaincapacidade
deaspessoasenvolvidasabandonaremsuaspr6priasconvicc;:6eseadotaremas
ideiasdeoutrosquefazessahistorietaparecertaoprofundamentedeprimente.
Tampouco0esuafaltadeumaregramoraldesencarnadaaquerecorrer-0
BernMaiorou0PrincipiodaDiferenc;:a(osquais,alias,pareceriamproduzir
resultadosdiferentesaqui).0querespondeporessesentimentodepressivoea
impossibilidadedeaspessoassequerimaginarem,emmeioaomisteriodadife-
renya,comoseriapossivelcontornarumaassimetriamoralperfeitamenteau-
tentica.Tudoaconteceunoescuro.
oquetendeaacontecernoescuro-asunicascoisasquesediriaserempermi-
tidasporumaconcepyaodadignidadehumanapautadaem"umacertasurdez
aoapelodeoutrosvalores"ouuma"comparayaocomcomunidadespiores"-
e0usadaforya,paragarantir-aconformidadeaosvaloresdosdetentoresda
forya,ouumatoleranciavazia,que,naocomprometendonada,naomodifica
nada,ouainda,comonestecaso,noqualaforyanaoestadisponiveleatole-
ranciaedesnecessaria,urnescoamentoparaurnfimambiguo.
Semduvida,sucedehaversituay6esemquedefatoexistemasalternativas
praticas.Naoparecehavermuitoquefazercom0reverendoJones,depoisque
deestaemperseguiyaocerrada,senaodete-lofisicamente,antesquededistri-
bua0venenosoKool-Aid.Quandoaspessoasachamque0quentee0rock
punk,bern,pelomenosdesdequenao0toquemnometro,trata-sedosouvi-
dosedofuneraldelas.Eediflcilmesmo(algunsmorcegossaomaisintrinseca-
mentemorcegosdoqueoutros)saberexatamentecomoprocedercomalguem
queafirmaqueasfloresternsentimentoseosanimaisnao.0paternalismo,a
indiferenyaeateasoberbanemsempresaoatitudesinliteisaadotardiantede
diferenyasdevalor,mesmodiferenyasdemaiorpesodoqueessas.0problema
esaberquandoelessaouteisepodemosdeixaradiversidadeentregueemsegu-
ranyaaseusespecialistas,equando,comopensoocorrercommaisfreqiiencia,
eumafreqiienciacadavezmaior,desnaosaouteiseelanaopodeserentregue
dessamaneira,havendonecessidadedealgomais:umaincursaoimaginativa
numamentalidadealheia(eumaaceitayaodela).
Emnossasociedade,0conhecedorporexcelenciadasmentalidadesalhei-
asternsido0etnografo(0historiadortambern,emcertamedida,eofomancis-
ta,deurnmododiferente,masquerovoltaraminhapropriaseara),que
dramatizaaestranheza,enalteceadiversidadeetranspiralarguezadevisao.Se-
jamquaisforemasdiferenyasdemetodoouteoriaquenosseparam,temos
sidosemdhantesnisto:profissionalmenteobcecadoscommundossituados
noutroslugaresecom0torna-loscompreensiveis,primeiroparanosmesmos
e,depois,atravesderecursosconceituaisnaomuitodiferentesdosusadospelos
historiadoresederecursosliterariosnaomuitodiferentesdosusadospelosro-
mancistas,paranossosleitores.E,enquantoessesmundosestiveramrealmente
noutroslugares,laondeMalinowskiosencontroueondeLevi-Straussosre-
cordou,issofoi,apesardebastantediflcilcomotarefapratica,relativamente
naoproblematicocomotarefaanalitica.Podiamospensarnos"primitivos"
("selvagens","nativos"ete.)comopensavamosnosmarcianos-comomodos
possiveisdesentir,raciocinar,julgar,conduzir-seeviverqueeramdescontinu-
osdosnossos,altemativosanos.Agoraqueessesmundoseessasmentalidades
alheios,emsuamaioria,naoestaorealmentenoutrolugar,massaoaltemativas
paranos,situadasbemperto,"lacunas[instantaneas]entremimeosquepen-
samdiferentementedemim",parecehavernecessidadedeurncertoreajustede
nossoshabitosretoricosenossosentimentodemissao.
Osusosdadiversidadecultural,deseuestudo,suadescriyao,suaanalisee
suacompreensao,ternmenos0sentidodenossepararmosdosoutrosesepa-
rarmososoutrosdenos,afimdedefenderaintegridadegrupalemanteraleal-
dadedogrupo,doque0sentidodedefinir0campoquearazaoprecisa
atravessar,paraquesuasmodestasrecompensassejamalcanyadaseseconcreti-
zem.0terrenoeirregular,cheiodefalhasstibitasepassagensperigosas,onde
osacidentespodemaconteceredefatoacontecem,eatravessa-looutentar
atravessa-Iocontribuipoucoounadaparatransforma-Ionumaplanicienivela-
da,seguraehomogenea,apenastomandovisiveissuasfendasecontomos.
Paraquenossosmedicosperemptoriosenossoindiointransigente(ouo(s)
"rico(s)americano(s)"e"[aquelescomquem]precisamosfalar",nalinguagem
deRorty)seconfrontemdemaneiramenosdestrutiva(eestamoslongedeter
certezadequepossamrealmentefaze-lo,poisasfendassaoreais),elesprecisam
explorar0caraterdoespayOqueossepara.
~~·E~ulti~;l~s-t~nZl~,
saoelesmesmosqueterndefazerisso;nessecaso,
naohasubstitutopara0conhecimentolocal,nemtampoucoparaacoragem.
Masosmapasegraficosaindapodemseruteis,assimcomoastabelas,osrela-
tos,asfotografias,asdescri<;:6eseateasteorias,seatentarempara0real.Os
usosdaetnografiasaosobretudoauxiliares,mas,aindaassim,saoreais;comoa
compilayaodedicionariosou0polimentodelentes,essaeoupodeseruma
disciplinafacilitadora.Eoqueelafacilita,quando0faz,eurncontatooperaci-
onalcomumasubjetividadevariante.Elacoloca"nos"particularesentre"eles"
particulares,ecoloca"eles"entre"nos"onde,comovenhodizendo,todosja
nosencontramos,aindaquepoucoavontade.Elaeagrandeinimigadoetno-
centrismo,doconfinamentodaspessoasemplanetasculturaisemqueasuni-
casideiasqueelasprecisamevocarsao"asdaqui",naoporpresumirquetodas
aspessoassaoiguais,masporsaberquaoprofundamente
nao0sao,e,apesar
disso,quaoincapazessaodedeixardelevaremcontaumasasoutras.0que
querquetenhasidopossivelurndia,esejaporqueforqueseanseieagora,aso-
beraniadoconhecidoempobreceatodos;namedidaemqueelatenhafuturo,
onossoseratenebroso.Naosetratadequedeva~osamarunsaosoutrosou
morrer(seassimfor-negroseafricanderes,arabesejudeus,tameisecingale-
ses-,
creioqueestaremoscondenados).Trata-sedequedevemosconhecer
unsaosoutrosevivercomesseconhecimento,outerminarisoladosnummun-
dobeckettianodesoliloquiosemchoque.
otrabalhodaetnografia,oupelomenosurndeles,erealmenteproporcio-
nar,comoaarteeahistoria,narrativaseenredospararedirecionarnossaaten-
<;:ao,masnaodotipoquenostomeaceiraveisanosmesmos,representando
os
outroscomoreunidosemmundosaquenaoqueremosnempodemoschegar,
masnarrativaseenredosquenostornem
visiveisparanosmesmos,represen-
tando-noseatodososoutroscomojogadosnomeiodeurnmundorepletode
estranhezasirremoviveis,quenaotemoscomoevitar.
Ateepocabemrecente(agoraasitua<;:aoestamudando,emparte,pelo
menos,porcausadoimpacto
daetnografia,massobretudoporque0mundo
estamudando),
aetnografiaestavabastante
sozinhanisso,poisahistoria,na
verdade,passavaboapartedotempoaestimularnossaauto-estima,arespaldar
nossosentimento
dequeesravamoschegandoaalgumlugar,aofazeraapoteo-
sedenossosheroisediabolizarnossosinimigos,oualamentaragrandezaper-
dida;0comentariosocialdosromancistas,
emsuamaiorparte,erainterno-
comaspartesdaconscienciaocidentalsegurando,umasparaasoutras,urnes-
pelhoplanocomo0deTrollopeoucurvocomo0deDostoievski;eateoses-
critosdeviagem,queaomenosatentavam
parasuperficiesexoticas(selvas,
camelos,bazares,templos),empregavam-nas
sobretudo
parademonstrar
a
grandecapacidadederecupera<;:aodasvirtudesaprendidas,
emmeioacircuns-
tanciaspenosas-
0inglesquesemantinhacalmo,0frances,racional,0nor-
te-americano,
inocente.Agora
queelajanaoesrataosozinhaequeas
estranhezascomqueterndelidarvao-setornandomaisobliquasematizadas,
menosfaceisdedescartarcomoanomaliasdesvairadas-homensquesejul-
gamdescendentesdeurntipodecanguru
ouestioconvencidosdequepodem
serassassinadosporurnolhardeesguelha-,
suatarefadelocalizaressasestra-
nhezasedescreversuasformaspodesermaisdificil,sobcertosaspectos,mas
naoemenosnecessaria.Imaginaradiferen<;:a(0quenaosignifica,eclaro,in-
venta-Ia,mastorna-laevidente)continuaaserumacienciadaqualtodospreci-
samos.
"
Naoemeuobjetivoaqui,entretanto,defenderasprerrogativasdeumaWissen-
schaJtfeitaemcasa,cujapatentesobre0estudodadiversidadecultural,seeque
elaalgumdiaateve,expirouhamuitotempo.Meuproposito
esugerirque
chegamosaurnponto,nahistoriamoraldomundo(urnahistoriaque,emsi
mesma,eclaro,etudomenosmoral),emquesomosobrigadosapensarnessa
diversidadedemodobemdiferentedoquecostumavamosfazer.Sedefatoesra
ocorrendoque,em
vezdesesepararem
emunidadesemolduradas,em
espa<;:os
sociaiscomlimitesdefinidos,~sa~ordagensseriamentedistimasga_yidaes~ao
semisturandoem
espa<;:osmaldefinidos,espa<;:ossociaiscujoslimitesnaotern
fixidez,si~-i~~egulares-edlf1c~~l;~-;Ilz-ar,
aquestaodecomolidarcomos
enigmasdejulgamentoaquetaisdisparidadesdaomargem
assumeurnaspecto
bem
diferente.Fitarpaisagensenaturezas-mortas
eumacoisa;observarpano-
ramasecolagenseoutramuitodiferente.
Queecomestasultimasquenosdeparamoshojeem
dia,quevivemos
cadavezmaisem
meioaumaenormecolagem,pareceevidenciar-seportoda
parte.Nao
eapenasnonoticiirio
noturnoqueosassassinatosnaIndia,os
.bombardeiosnoUbano,osgolpesdeEstadonaAfricaeostiroteiosnaAmeri-
caCentralseimiscuem
entredesastreslocaisquenaochegam
asermaisinteli-
glveis,seguidosporsisudasdiscuss6essobre0estiloempresarialjapones,as
formasdepaixaopersasouosestilosdenegocia<;:aodosirabes.Hitambem
umaimensaexplosaodetradu<;:6es,boas,ruinseindiferentes,deeparallnguas
-ramil,indonesio,hebraicoeurdu-antesconsideradasmarginaiseobscu-
ras;hiumamigra<;:aodaculiniria,dovestuirio,dosacessoriosedadecora<;:ao
(cafetasem
SaoFrancisco,ColonelSandersem
Jogjacartaebanquetas
debar
emQuioto),etambem
0surgimento
detemasdogamelaonojazzdevanguar-
da,demitosindlgenasnosromanceslatinosedeimagensderevistasnapintura
africana.Acimadetudo,porem,trata-sedequeapessoaqueencontramosna
lojadehortali<;:asefrutasterntantaouquasetantaprobabilidadedevirdaCo-
reiaquantodoIowa,apessoadocorreio,tantadevirdaArgeliaquantodeAu-
vergne,eadobanco,tantadevirdeBombaim
quanto
deLiverpool.Nem
mesmoosmeiosrurais,ondeasimilitudetendeasermaisarraigada,ficam
imunes:hifazendeirosmexicanosnosudoestedosEstadosUnidos,pescadores
vietnamitasnolitoraldogolfodoMexicoemedicosiranianosnomeio-oeste.
Naoprecisocontinuaramultiplicarosexemplos.Todosvocessaocapazes
depensarnosseus,extraldosdeseuspasseiospelasredondezas.Nem
todaessa
diversidadeeigualmenteimportante
(aculiniriadeJogjacartasobreviveraao
prazerdechuparosdedos),igualmenteimediata(vocenaoprecisacompreen-
derascren<;:asreligiosasdohomem
quethevendeselos),nem
provem,todaela,
deurncontrasteculturalclaro.Maspareceflagrantemente
claroque0mundo,
emcadaurndeseuspontoslocais,esticome<;:andoaseparecermaiscomurn
bazardoKuwaitdoquecomurnclubedecavalheirosingleses(paraexemplifi-
car0que,talvezporeununcaterestadoem
nenhumdosdois,parecem-meser
oscasosmaisdiametralmente
opostos).0etnocentrismodostiposovodepio-
lhoou"issosoexistegra<;:asacultura"podeounaocoincidircomaespeciehu-
mana,masagoraemuitodiHcil,paraamaioriadenos,saberexatamenteonde
centra-lo,naimensamontagem
dasdiferen<;:asjustapostas.Osmilieuxestao
todosmixtes.JinaosefazemmaisUmweltecomoantigamente.
Nossarespostaaessarealidadequemepareceimperiosae,aoquetambem
meparece,umdosmaioresdesafiosmoraisqueenfrentamosatualmente,como
umingredientedepraticamentetodososoutrosqueenfrentamos,desde0desar-
mamentonuclearateadistribui<;:aoeqtiitativadosrecursosmundiais;e,paraen-
frenra-lo,asrecomenda<;:6esdetoleranciaindiscriminada,
quedequalquer
modonaosansinceras,e(0queconstituimeualvoaqui)osconselhosderendi-
<;:aoaosprazeresdacompara<;:ioodiosa,sejaelaorgulhosa,animada,defensivaou
resignada,sao-nosigualmenteintiteis,emboraestesultimostalvezsejamosmais
perigosos,porseremosquemaistendem
aserseguidos.Aimagem
deummun-
dorepletodepessoastaoapaixonadamente
encantadascomaculturaumasdas
outras,queaspirem
unicamenteacelebrarumasasoutras,naomeparececonsti-
tuirumperigoclaroeatual;aimagem
deummundorepletodepessoasqueglo-
rifiquem
alegrementeseusheroisediabolizemseusinimigos,sim,infelizmente
parececonstitui-lo.Naoeprecisoescolher-alias,eprecisonaoescolher-en-
treumcosmopolitismosemconteudoeumprovincianismosemlagrimas.Ne-
nhumdosdoistemserventiaparasevivernumacolagem.
Paravivernumacolagem,epreciso,em
primeiro
lugar,queapessoase
tornecapazdediscernirseuselementos,determinandoquaissan(0queimpli-
ca,em
geral,determinar
deondevierame0queeram
quandoestavam
li)e
comoserelacionam
unscomosoutrosnapratica,aomesmotemposemem-
botaraideiaqueelatemdesuaproprialocaliza<;:aoedesuaidentidadedentro
desta.Emtermosmenosfigurados,"compreender",
nosentidodacompre-
ensao,dapercep<;:aoedodiscernimento,precisaserdistinguidode"compreen-
der"nosentidodaconcordanciadeopini6es,dauniaodesentimentosouda
comunhao
decompromissos;
hiquedistinguir0jevousaicomprisqueDe
Gaulleproferiudojevousaicomprisqueospiedsnoirsouviram.*Devem9s
aprendera;l£reender0quenaopodel11osa1.Jras:~r.
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-Adificuldadedissoeimensa,comosemprefoi.Compreender
aquiloque,
deumadadamaneiraouforma,noseestranhoetendeacontinuarase-lo,sem
apararsuasarestascomvagosmurmuriossobreahumanidadecomum,sem
desarmi-lo
com0indiferentismodo"acadacabe<;:asuasenten<;:a",esemdes-
carra-locomoencantador,adorivelate,massemimporrancia,
eumahabilida-
dequetemosdeaprenderduramente
e,depoisdehave-laaprendido,sempre
demaneiramuitoimperfeita,temosdetrabalharcontinuamente
paramanter
viva;naosetratadeumacapacidadeinata,comoapercep<;:aodeprofundidade
ou0sensodeequilibrio,em
quepossamosconfiarplenamente.
Enisso,nofortalecimento
dacapacidadedenossaimagina<;:aoparaapre-
ender0queesradiantedenos,queresidem
osusosdadiversidadeedoestudo
dadiversidade.Setemos(comoadmitoquetenho)maisdoqueumasimpatia
sentimentalporaqueleobstinadoindionorte-americano,naoeporcomparti-
lharmosasideiasdele.0alcoolismoerealmentenocivo,ecolocaraparelhosde
hemodiaJiseaservi<;:odesuasvitimasefazerurnmauusodeles.Nossasimpatia
derivadesabermosaquepre<;:oeleconquistou0direitoasuasopinioese,por-
tanto,0sentimento
deamarguraqueexistenelas;derivadenossacompreensao
daestradaterrivelqueeletevedepercorrerparachegaraelas,edaquilo-0et-
nocentrismoeoscrimesqueelelegitima-queatomoutaoterrivel.Sequi-
sermossercapazesdejulgarcomlargueza,comoeobvioquedevemosfazer,
precisamostomar-noscapazesdeenxergarcomlargueza.Eparaisso,0queja
vimos-0interiordenossosvagoesferroviarioseosbrilhantesexemploshis-
toricosdenossasna<;:oes,nossasigrejasenossosmovimentos,pormaisabsor-
ventequeseja0primeiro
epormaisdeslumbrantesquesejamosultimos-
simplesmente
naobasta.