Os Usos Da Diversidade

10
Para Joan Scott, Albert Hirschman e Michael Walzer, colegas Titulo original: Available Light: Anthropological Reflections on Philosophical Topics T radUlrao autorizada da primeira edi<;:iionorte-americana publicada em 2eroo por Princeton University Press, de New Jersey, Estados Unidos Copyright © 2000, Princeton University Press Copyright © 2001 da edic;:ao brasileira: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Mexico 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 240-0226/ fax: (21) 262-5123 e-mail: [email protected] site: www.zahar.com.br T odos os direitos reservados. A reproduc;:ao nao-autorizada desta publicac;:ao, no todo ou em parte, constitui violac;:ao do copyright. (Lei 9.610) ClP -Brasil. Catalogac;:ao-na- Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, R]. Geertz, Clifford G26n Nova luz sobre a antropologia / Clifford Geertz; traduc;:ao, Vera Ribeiro; revisao tecnica, Maria Claudia " Pereira Coelho. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001 (Antropologia social) Traduc;:ao de: Available light: anthropological re- flections on philosophical topics 1. Etnologia. 2. Filosofia. 3. Pluralismo (ciencias sociais). 1. Titulo. II. Serie CDD 306 CDU 39 4 Os usos da diversidade A antropologia, minha frijhliche Wissenschaft, tern se envolvido fatalmente, no curso de toda sua hist6ria (urn a longa hist6ria, se partirmos de Her6doto, ou muito curta, se partirmos de Taylor), com a enorme variedade de maneiras com que os homens e mulheres tentam viver suas vidas. Em certos momentos, ela procurou lidar com essa variedade captando-a em alguma rede te6rica uni- versalizante: estagios evolutivos, ideias ou praticas pan-humanas, ou formas transcendentais (estruturas, arquetipos, gramaticas subterraneas). Em outros, insistiu na particularidade, na idiossincrasia, na incomensurabilidade - repo- lhos e reis. Mas, recentemente, ela se viu diante de algo novo: ac-P0ssibilidade dequeaV:<triedade esteja rapidamente se suavizando num espe_ctr~ ~:[gd() e mais estreito. Podemos ver-nos confrontados com urn mundo no qual sim- plesmente ja nao existam mais ca<;:adoresde cabe<;:as,estruturas matrilineares ou pessoas que fazem a previsao do tempo pelas visceras do porco. As diferen- <;:asem dtividacontinuarao a existir __ os franceses ja.rnai~2_merao m~~t_eiga com sal. Mas os bons e ve1hostempos de lan<;:arvitivas na fogueira e do caniba- lismo nao voltam mais. Em si mesmo, como questao profissional, esse processo de suaviza<;:aodo contraste cultural (mpondo-se que seja real) talvez nao seja tao perturbador. QS3ntrop6logos simplesmente terao que aprender a compreender dife~~n<;:as mais sutis, e s~_us textos talvez se tornem mais sagazes, aindaque-meno-s_~speta- culares. Mas ele levanta uma questao mais amp la, ao mesmo temp-;-de ordem moral, estetica e cognitiva, que e muito mais perturbadora e que esta no centro de varias discuss6es atuais sobre como justificar os valores: 0 que chamarei, apenas para ter urn nome que fique gravado na mente, de 0 Futuro do Etno- centrismo. Retomarei mais adiante algumas dessas discuss6es mais gerais, pois e para elas que se volta 0 meu interesse global; mas, como forma de abordar 0 proble-

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Transcript of Os Usos Da Diversidade

ParaJoanScott,AlbertHirschman

eMichaelWalzer,colegas

Titulo

original:

AvailableLight:Anthropological

ReflectionsonPhilosophicalTopics

TradUlraoautorizadadaprimeira

edi<;:iionorte-americana

publicadaem

2erooporPrincetonUniversity

Press,

deNew

Jersey,EstadosUnidos

Copyright©2000,PrincetonUniversity

Press

Copyright©2001daedic;:aobrasileira:

JorgeZaharEditorLtda.

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Geertz,Clifford

G26n

Novaluzsobreaantropologia

/Clifford

Geertz;

traduc;:ao,VeraRibeiro;revisaotecnica,MariaClaudia

"Pereira

Coelho.-

RiodeJaneiro:JorgeZahar

Ed.,

2001

(Antropologia

social)

Traduc;:aode:Availablelight:anthropological

re-

flectionsonphilosophical

topics

1.Etnologia.2.Filosofia.3.Pluralismo

(ciencias

sociais).1.Titulo.II.Serie

CDD

306

CDU

39

4Osusosdadiversidade

Aantropologia,minhafrijhliche

Wissenschaft,ternseenvolvidofatalmente,no

cursodetodasuahist6ria(urnalongahist6ria,separtirmosdeHer6doto,ou

muitocurta,separtirmosdeTaylor),comaenormevariedadedemaneiras

comqueoshomensemulherestentamviversuasvidas.Emcertosmomentos,

elaprocuroulidarcomessavariedadecaptando-a

emalgumaredete6ricauni-

versalizante:estagiosevolutivos,ideiasoupraticaspan-humanas,ouformas

transcendentais

(estruturas,arquetipos,gramaticassubterraneas).Emoutros,

insistiunaparticularidade,

naidiossincrasia,naincomensurabilidade-repo-

lhosereis.Mas,recentemente,elaseviudiantedealgonovo:ac-P0ssibilidade

dequeaV:<triedadeestejarapidamente

sesuavizandonumespe_ctr~~:[gd()

emaisestreito.Podemosver-nosconfrontadoscomurnmundonoqualsim-

plesmentejanaoexistammaisca<;:adoresdecabe<;:as,estruturasmatrilineares

oupessoasquefazemaprevisaodotempopelasviscerasdoporco.Asdiferen-

<;:assem

dtividacontinuarao

aexistir__osfrancesesja.rnai~2_meraom~~t_eiga

comsal.Masosbonseve1hostemposdelan<;:arvitivasnafogueiraedocaniba-

lismonaovoltam

mais.

Emsimesmo,comoquestaoprofissional,esseprocessodesuaviza<;:aodo

contrastecultural(mpondo-sequesejareal)talveznaosejataoperturbador.

QS3ntrop6logossimplesmente

teraoqueaprenderacompreender

dife~~n<;:as

maissutis,es~_ustextostalvezsetornem

maissagazes,aindaque-meno-s_~speta-

culares.Maselelevantaumaquestaomaisampla,aomesmotemp-;-deordem

moral,esteticaecognitiva,queemuitomaisperturbadora

equeestanocentro

devariasdiscuss6esatuaissobrecomojustificarosvalores:0quechamarei,

apenasparaterurnnomequefiquegravadonamente,de0FuturodoEtno-

centrismo.

Retomareimaisadiantealgumasdessasdiscuss6esmaisgerais,poisepara

elasquesevolta0meuinteresseglobal;mas,comoformadeabordar0proble-

ma,querocome<;:arapresentando

umatese,ameu

verincomum

eurnbocado

desconcertante,

que0antrop610go

FrancesCL:mdeLevi-Strauss

desenvolveno

inicio

dasuarecente

coleranea

deensaios,prov~~adoramente

intitulada

(pro-

vocadoramente

aomenosparaurnantrop610go)0olhardistanciado.

1

AtesedeLevi-Strauss

surgiu,antesdemaisnada,em

respostaaurnconviteda

Unesco

paraqueproferisseaconferencia

deabertura

doAnoInternacional

de

Corpbate

aoRacismoeaDiscrimina<;:ao

Racial,que,casovocestenham

esque-

cido,foi1971."Fuiescolhido",

disseele,

porquevinteanosantestinhaescrito[urnpanfletointitulado]"Ra<;:a,e_hist6ria"

paraaUnesco,[noqual]afirmaraalgumasverdadesfundamentais....[Em]1971,

logopercebiqueaUnescoesperavaqueeu[simplesmente]asrepetisse.Mas,vin-

teanosantes,paraatenderasinstitui<;:6esinternacionais,

queeujulgavaterque

apoiarmaisdoquecreiohoje,euhaviaexageradournpouco

minhasconclus6es

em"Ra<;:aehist6ria".Talvezporminhaidadeecertamentegra<;:asareflex6esins-

piradaspelasitua<;:aoatualdomundo,naogosteidessasolicitudeemeconvenci

deque,paraserUtilaUnesco

ecumprircomhonestidade0meucompromisso,

deveriafalarcomabsolutafranqueza.

2

Comodehahito,issonao

sereveloupropriamente

umaboaideia,provo-

candoumaespeciedefarsa.Algumas

membrosdadiretoriadaUnesco

ficaram

consternados

por"euhaverquestionado

urncatecismo

[cujaaceita<;:ao]lhesper-

mitiraascender

deempregosmodestosnospaisesem

desenvolvimento

parares-

peiraveisposi<;:6esdeexecutivos

numa

institui<;:ao

internacional".30

entao

diretor-geral

daUnesco,outroFrancesdecidido,pediu

inesperadamente

apala-

vraafimdereduzir0tempodeLevi-Strauss

eassimfor<;:a-Ioafazeroscortesde

"aperfei<;:oamento"quethehaviam

sugerido.Levi-Strauss,incorrigive4

leuain-

tegradeseutexto,aparentemente

emaltavelocidade,

notempoquetherestava.

Aforaisso,queequivalia

aurndianormal

naONU,0problema

daconfe-

renciadeLevi-Strauss

foique,nela,alielese"rebeloucontra0abuso

delingua-

gem

peloqualaspessoas

tendem

cadavezmaisaconfundir

0racismo...com

atitudes

normaiseatelegitimas

e,dequalquer

modo,ineviraveis"

-ouseja,

com0etnocentrismo,

embora

elenao

0chamasse

poressenome.4

oetnocentrismo,

argumentou

Levi-Strauss

em"Ra<;:aecultura",

ede

modournpouco

maistecnicoem"0antrop610go

eacondi<;:aohumana",

es-

critocercadeumadecadadepois,naoapenas

naoeruim

emsi,comoeateuma

coisaboa,pelomenosdesdequenaofujaaocontrole.Afidelidadeaurncerto

conjunto

devaloresfazcomque,inevitavelmente,

aspessoas

fiquem

"parcial

outotalmente

insensiveisaoutrosvalores"aosquaisoutras

pessoas,igualmen-

teprovincianas,

sanigualmente

£leis.'"Nao

hanadadeofensivoem

secolocar

opr6prio

estilodevidaou0pr6prio

mododepensaracimadosoutrosouem

sentirpouca

atrayao

poroutrosvalores."Essa"incomunicabilidade

relativa"

nao

autoriza

ninguem

areprimir

oudestruir

osvaloresrejeitados

ouaqueles

queospossuem.Aexceyao

disso,porem,"elanao

ternnadaderepugnante":

Talvezsejaate0pre<;:oapagarparaqueossistemasdevaloresdecadafamiliaespi-

ritualoudecadacomunidadesejampreservadoseeneontrem

emsimesmosos

reeursosnecessariosparasuarenova<;:ao.Se...associedadeshumanas

exibem

urn

grauatimodediversidadeparaalem

doqualnaopodem

avan<;:ar,masabaixodo

qualnaopodem

descersemriscos,temosdereeonheeerque,em

largamedida,es-

sadiversidaderesultadodesejodeeadaculturaderesistiraseulturasqueaeer-

earn,desedistinguir

delas-

emsuma,deserelamesma.Aseulturasnao

deseonheeem

umasasoutrase,devezem

quando,atetomam

emprestimosentre

si;mas,paranaoperecerem,elasdevem,soboutrosaspectos,permanecer

urn

.••

6tantoImpermeavels.

Portanto,naoapenas

eumailusaoqueahumanidade

possaselivrarintei-

ramente

doetnocentrismo,

"ousequer

interessar-se

emfaze-lo",

comonao

se-

riaborn

se0£lzesse.Tal"liberdade"

conduziria

aurnmundo

"cujasculturas,

todas

apaixonadas

umas

pelas

outras,aspirariam

apenas

acelebrar-se

mutua-

mente,numatalconfusaoquecadaumaperderia

qualquer

atrativoquepudes-

seterparaasdemaiseperderia

suapropriarazaodeser.,,7

Adisranciacria,senao

encanto,pelomenosindiferenya

e,assim,integri-

dade.Nopassado,quando

aschamadas

culturasprimitivas

envolviam-se

ape-

nasmuito

marginalmente

umas

com

asoutras

-referindo-se

asimesmas

como"AsVerdadeiras",

"AsBoas"ousimplesmente

"OsHomens",

edespre-

zandoasquesesituavam

dooutroladodoriooudaserracomo"

macacos"

ou

"ovosdepiolho",

istoe,nao

humanas

ounaoplenamente

human

as-,

ainte-

gridadeculturaleraprontamente

mantida.

A"profunda

indiferenya

paracom

outras

culturasera...umagarantiadequeelaspodiam

existirasuapr6priama-

neiraesegundoosseuspr6priostermos."s

Agora,quando

eclaroqueessasitu-

ayao

janao

prevalecequando

todos,

cadavezmaisapertados

num

pequeno

planeta,

estaoprofundamente

interessados

emtodososdemaisenosassuntos

quelhesdizem

respeito,assomaapossibilidade

deperdadessaintegridade

em

funyao

daperdadessaindiferenya.

Talvez0etnocentrismo

nunca

desapareya

porcompleto,sendo"daessenciamesmadanossaespecie",maspodetornar-se

perigosamente

fraco,deixando-nos

amerce

deumaespeciedeentropia

moral:

Sem

duvidanosiludimoscomurnsonhoaosuporquealgumdiaaigualdadeea

fraternidadereinarao

entreoshomenssemcomprometer

nossadiversidade.No

entanto,seahumanidadenaoestiresignadaasetomar

umconsumidoresteril

dosvaloresqueconseguiucriarnopassado...,capazapenasdedaraluzobrasbas-

tardaseinveny6esgrosseirasepueris,[entao]ted.queaprendermaisumavezque

todacriayaoverdadeiraimplicaumacertasurdezaoapelodeoutrosvalores,che-

gandoatearejeiti-los,senaonegi-losporcompleto.Poisnaopodemosdesfrutar

plenamente

dooutro,identificarmo-noscomelee,aomesmotempo,continuar

diferentes.Quandosealcanyaacomunicayao

integralcom0outro,maiscedoou

maistardeelasignificaadestruiyao

dacriatividadedeambos.Asgrandeserascri-

ativasforamaquelasem

queacomunicayao

setomarasuficienteparaaestimula-

.yaomutuadeparceirosdistantes,masnaoerataofreqiientenem

taovelozque

pusesseem

perigoosobsticulosindispensiveisentreosindividuoseosgrupos,

ouqueosreduzisseaopontoem

quetrocasexcessivamenteficeispudessemigua-

lareanularsuadiversidade.9

oquequerquesepense

detudoissooupormaissurpreso

quesefiqueao

ouvi-lo

daboca

deurnantropologo,

decerto

setratadealgoqueternurntoque

contemporilneo.

Osatrativosda"surdez

aoapelodeoutrosvalores"

edeuma

abordagem

dotipo"relaxeegoze"arespeito

doaprisionamento

pessoal

na

propriatradic;:aoculturalsaGcadavezmaiscelebradosnopensamento

socialre-

cente.Incapazes

deabrac;:ar0relativismo

ou0absolutismo

-0primeiro

por

inviabilizar

0julgamento,

0segundoporretid.-lo

dahistoria-,

nossosfiloso-

fos,historiadores

ecientistas

sociaisvoltam-se

paraaimpermeabilitequeLe-

vi-Strauss

recomenda,

dotipo"nossomosnos,elessaGeles".Quer

seencare

issocomolegitimac;:ao,comoajustificac;:aodopreconceito

oucomoaesplendi-

dahonestidade

daFrasedeFlannery

O'Connor,

"quando

emRoma,

fapm

comofizeram

emMilledgeville",

ditaem

tom

de"eis-meaqui",eclaroquee

algoquecoloca

aquestaodoFuturo

doEtnocentrismo

-edadiversidade

cul-

tural-

sobumanovaluz.0recuo,0distanciamento,

0Olhar

Distanciado

seraorealmente

amaneira

deescapar

adesesperada

tolerancia

docosmopolitis-

modaUnesco?Sed.0narcisismo

moralaalternativa

aentropia

moral?

Saomultiplas

asforc;:asresponsiveis

porumavisao

maisinteressante

doauto-

centramento

culturalnosultimos25ou30anos.Existem

asquest6es

relativas

a"situac;:aodomundo"

aqueLevi-Strauss

alude,maisespecialmente

0incapa-

cidadedeamaioriadospaisesdoTerceiro

Mundo

deatender

asroseasexpec-

tativas

queeram

correntes

pouco

antesepouco

depois

desuas

lutasde

independencia.

OsextremistasAmin,Bokassa,PolPoteKhomeini,

ou,com

menosextravagancia,

Marcos,

Mobuto,

Sukarno

eIndiraGandhiesfriaram

urnpouco

aideiadequehamundos

emoutroslugares

emrelac;:aoaosquais

umacomparac;:ao

noseclaramente

desfavor<ivel.Existe0sucessivodesmascara-

mentodasutopiasmarxistas-aUniaoSovietica,aChina,Cuba,0Vietna.E

hatambem

umareduc;;aodopessimismoexpressonaideiadeDecliniodoOci-

dente,induzidapelaIIGuerraMundial,peladepressaoglobalepeladerrotado

imperialismo.Mashatambem,ecreioquenaomenosimportante,0aumento

daconscienciadeque0consenso

universal-transnacional,transculturale

atedetodasasclasses-sobreassuntosnormativosnaoesravisivelnumfuturo

proximo.Nem

todos-ossikhs,ossocialistas,ospositivistas,osirlandeses-

chegaraoaumaopiniaocomumsobre0queedecenteeo

quenaoe,0quee

justoe0quenaoe,0queebeloeo

quenaoe,0queerazoavele0quenaoe,

pelomenosnaotaocedo,out~lveznunca.

Quandoabandonamos(e,eclaro,nem

todosabandonaram,talvezsequer

amaioria)aideiadeque0mundocaminhaparaurnacordoessencialsobre

questoesfundamentais,oumesmo,comoLevi-Strauss,dequedeveriafaze-la,

naturalmente

cresce0apelodoetnocentrismodotipo"relaxeegoze".Senos-

sosvaloresnaopodem

serdesvinculadosdenossahistoriaenossasinstituic;;oes,

comonao

podem

se-loosvaloresdeninguem

emrelac;;aoasuasinstitui-

c;;oesesuahistoria,parecenaohaveroutracoisaafazersenaoseguir0exemplo

deEmersoneandarcomnossaspropriaspernas,falandocomnossapropria

voz."Esperoindicar",escreveuRichardRortyhumtextorecente(maravilho-

samenteintitulado"Liberalismoburguespos-moderno"),"comonos[oslibe-

raisburguesespos-modernos]

podemosconvencernossasociedadedequea

fidelidadeaelamesmaeosuficiente...,dequeelasoprecisaserresponsavelpor

suaspropriastradic;;oes.,,10Aquiloaquechega0antropologoem

buscadas"leis

consistentesquesubjazem

adiversidadeobservaveldascrenc;;aseinstitui-

c;;oes"lI,partindodoracionalismoedaaltaciencia,eatingidoapartirdoprag-

matismoedaprudenciaeticapelofilosofopersuadidodeque"naoha'base'

para[nossas]lealdadeseconvicc;;oes,excetopelofatodequeascrenc;;as,desejos

eemoc;;oesqueassustentamsuperpoem-seasdeinumerosoutrosmembrosdo

grupocomquenosidentificamosparafinsdedeliberac;;aomoralepoHtica".12

Asemelhanc;;aeaindamaior,apesardospontosmuitodiversosdequepar-

ternessesdoissabio.~(0kantismosem0sujeitotranscendental,0hegelianismo

sem0espiritoabsoluto)edosfinsaindamaisdiversosparaosquaiselesten-

dem

(urnmundobem

arrumadodeformastransponiveis,urnmundodesarru-

madodediscursoscoincidentes),porquetambem

Rortyencaraasdistinc;;oes

odiosasentreosgruposnaoapenascomonaturais,mascomoessenciaisao

pensamento

moral:

[0]anilogohegelianoda"dignidadehumanaintrinseca"[kantiana]naturaliza-

do,eadignidadecomparativadogrupocomqueapessoaseidentifica.Asna~6es

ouigrejasoumovimentos,nostermosdessavisao,SaGexemploshist6ricosbri-

lhantes,naoporquereflitam

raiosprovenientesdeumaFontesuperior,maspor

causadasefeitosdecontraste-

dacomparac;:aocomcomunidades

piores.As

pessoasterndignidadenaacomoumaluminescenciainterna,masporcomparti-

lharem

essesefeitosdecantraste.Urncoroliriodessavisaoequeajustificac;:ao

moraldasinstituic;:6esepriticasdogrupoaquesepertence

-porexemplo,a

burguesiacontemporanea

-esobretudoumaquestaodenarrativas

hist6ricas

(queincluem

hip6tesessobre0quetendeaacontecerem

algumascontingencias

futuras),enaodemetanarrativas

filos6ficas.0respaldoprincipaldahistoriogra-

fianao

eafilosofia,masaarte,queserveparadesenvolver

emodificar

aau-

.to-imagem

dogrupo-

porexemplo,fazendoaapoteose

deseusher6is,

diabalizandoseusinimigos,montandodiilogosentreseusmembrosemudando

ofocodesuaatenc;:aO.13

Ora,sendoeumesmointegrante

dessastradi<;:6esintelectuais

-doestu-

dociendfico

dadiversidade

cultural,

porprofissao,edoliberalismo

burgues

p6s-moderno,

porconvic<;:aogeral-,

minhavisao

pessoal,paraaborda-Ias

nestemomento,

equearendi<;:aofacilaocomodismo

desermosapenas

n6s

mesmos,

cultivando

asurdez

emaximizando

agratidao

pornao

termosnasci-

dovandalosouIk,serafatalparaambas.Umaantropologia

muitotemerosa

de

destruir

aintegridade

eacriatividade

culturais,nossasedetodososoutros,

por

seaproximar

deoutras

pessoas,conversarcomelaseprocurarapreende-Ias

em

seucotidiano

esuadiferen<;:a,estafadadaamorrer

deumainani<;:aoquenao

podesercompensada

porqualquer

manipula<;:ao

deconjuntos

dedadosobjeti-

vados.Qualquer

filosofiamoraltemerosa

deseenredar

num

relativismo

desa-

juizadoounum

dogmatismo

transcendental,

aponto

denao

conseguir

pensar

emnadamelhoraserfeitocomasoutras

maneirasdeviverdoquefaze-laspa-

recerem

pioresdoqueanossa,estadestinada

(comodissealguem

sobreostex-

tosdeV.S.Naipaul,

talveznossoprincipal

adepto

daconstru<;:ao

desses"efeitos

decontraste")

afazercomque0mundo

setorneseguro

paraacondescenden-

cia.Tentarsalvarduasdisciplinas

delasmesmas,aomesmotempo,talvezpare-

<;:aarrogancia.

Mas,quando

setern

dupla

cidadania,

tem-se

obriga<;:oes

dobradas.

Adespeito

desuascondutas

diferentesedesuasdiferentespreocupa<;:oes

(eeu

meconfessomuitomaispr6ximo

dopopulismo

desleixado

deRortyquedo

elitismomelindroso

deLevi-Strauss

-0quetalvezsejaapenas

urnpreconcei-

toculturalmeu),essasduasversoes

do"cadaurnternsuapr6priamoral"

ap6i-

am-se,pelomenosem

parte,numavisao

comum

dadiversidade

cultural,

qual

seja,adequesuagrandeimportancia

resideem

elanosfornecer,parausaruma

f6rmula

deBernardWilliams,

alternativas

an6s,em

contraste

comalternativas

paranos.Outrascren<;:as,valoreseestilosdecondutasaovistascomocren<;:as

queadotariamos,valaresquedefenderiamoseestilosdecondutaqueseguida-

mas,sehouvessemosnascidonumlugarauepocadiferentesdaquelesem

que

estamos.

Eofariamosmesmo.Mastalvisaopareceaomesmotemposuperestimare

subestimarbem

maisdoquedeveriaarealidadedadiversidadecultural.Supe-

restima-Iaparsugerirqueterumavidadiferentedaqueseterneumaop<;:ao

praticasabreaqual,dealgummodo,asujeitoternquedecidir(seraqueeude-

veriatersidoBororo?Nao

eumasorteeunaoternascidohitita?);esubesti-

ma-Iaparobscurecerapoderqueternessadiversidade,quandopessoalmente

dirigidaanos,detransformarno~saideiadoquee,paraurnserhumano-Bo-

roro,hitita,estruturalistaauburguesliberalpos-moderno-,

acreditar,valo-

rizarauconduzir-se:doquee,comoobservouArthurDanto,fazendoecoa

famosaperguntadeThomas

Nagelsabreamorcego,"acharqueamundoe

plano,queficoirresistivelcommeuvestidodePoiret,queareverendoJimJo-

nesmeteriasalvoparseuamor,queasanimaisnaoternsentimentosauqueas

flA

,k"

140

bl

d.

oresastern-auqueaquenteeapun.

pro

emaaetnocentnsmo

naoestaem

elenoscomprometer

comnossoscompromissos.Temos,pardefi-

ni<;:ao,essecompromisso,assimcomoestamoscomprometidoscomnossasda-

resdecabe<;:a.0

problemadoetnocentrismoequeelenosimpedededescobrir

emquetipodeangulo,comoaCavafJdeForster,nossituamosem

rela<;:aoao

mundo;quetipodemorcegossomas,defato.

Essavisao-dequeasenigmassuscitadospelarealidadedadiversidade

culturalternmaisavercomnossacapacidadedesondarasapalpadelasassensi-

bilidadesalheias,asmodosdepensamento

quenaotemosnem

tendemosater

(rockpunke

vestidosdePoiret),doquecompodermosaunaofugirdepreferir

nossaspreferencias-

terndiversasimplica<;:6es,quesaournmaupressagio

paraaabardagem

dascoisasculturaisem

termosde"nossomasnos"e"elessao

eles".Aprimeiradelas,e,possivelmente,amaisimportante,equeessesenig-

masnaosurgem

meramentenasfronteirasdenossasociedade,onde,segundo

essaabordagem,esperariamosencontra-Ios,massurgem,parassimdizer,nos

limitesdenosmesm?,s.Aestranhezanaocome<;:anoslimitesdaagua,masnos

dapele.Aqueletipodeideiaquetendeasercultivadapelosantropologosdesde

MalinowskiepelosfilosofosdesdeWittgenstein-adequeasxiitas,digamos,

parseremoutros,constituem

urnproblema,masastorcedoresdefutebol,par

exemplo,parserempartedenos,naoaconstituem,au,pelomenos,naosao

urnproblemadomesmotipo-esimplesmenteerrada.0mundosocialnao

sedivide,em

suasarticula<;:6es,entreurnnosperspicuo,comaqualpodemos

terempatia,parmaisquesejamosdiferentesentrenos,eurnelesenigmatico,

comaqualnaopodemosserempaticos,parmaisquedefendamosateamorte

seudireitodeseremdiferentesdenos.Agentalhacomes:amuitoantesdoCanal

daMancha.

Tantoaantropologiarecente,dotipoDoPontodeVistadoNativo(que

pratico),quantoafilosofiarecente,dotipodasFormasdeVida(daqualsou

adepto),foramlevadasaconspirar,ouparecem

conspirar,paraobscureceresse

fato,atravesdeumaaplicas:aocronicamente

erradadesuaideiamaispoderosa

emaisimportante:aideiadeque0sentidoesocialmenteconstruido.

Aperceps:aodeque0sentido,sobaformadesinaisinterpretaveis-sons,

imagens,sentimentos,artefatos,gestos-,

s6passaaexistirdentrodosjogos

delinguagem,dascomunidades

discursivas,dossistemasdereferenciainter-

subjetivosedasmaneirasdeconstruir0mundo;dequedesurgenocontexto

deumainteras:aosocialconcreta,em

queumacoisaeumacoisaparaumvocee

urneu,enaoem

algumagrutasecretanacabes:a;edequeeleerigorosamente

hist6rico,moldadonofluxodosacontecimentos,

essaperceps:aoeinterpretada

comoimplicandoqueascomunidades

humanasSaDoudevem

sermonadasse-

manticas,quasesemjanelas(0que,ameuver,nem

Malinowskinem

Witt-

genstein-

e,arigor,nem

Kuhnnem

Foucault-

pretenderam

que

implicasse).Somos,dizLevi-Strauss,passageirosdessestrensqueSaDnossas

culturas,cadaqualmovendo-seem

seustrilhospr6prios,comsuapr6priavelo-

cidadeeem

suapr6priadires:ao.Ostrensquecorrem

ladoalado,indoem

di-

res:6essimilaresecomvelocidadesnaomuitodiferentesdanossa,sao-nosao

menosrazoavelmentevisiveis,quandoosolhamosdenossoscompartimentos.

Masostrensqueestaoem

trilhosobliquosouparalelos,indoem

dires:aoopos-

ta,nao0sao."[P]ercebemosapenasumaimagem

vaga,fugazequasenaoiden-

tifidvel,em

geralapenasumamanchamomentanea

emnossocampovisual,

quenaotraznenhumainformas:aosobresimesmaemeramentenosirrita,por-

queinterrompenossaplacidacontemplas:ao

dapaisagem

queservedepanode

fundoparanossosdevaneios."15Rortyemaiscautelosoemenospoetico,esin-

toqueseinteressamenospelostrensdasoutraspessoas,taopreocupadoesta

emsaberparaondeestaindo0seu,masfaladeuma"superposis:ao"maisou

menosacidentaldesistemasdecrens:a,entrecomunidades

"americanasricase

burguesas"eoutras"comasquaisprecisamosfalar",comosendo0quepermi-

teque"algumaconversaentreasnas:6esaindasejapossivel".160fatode0sen-

timento,0pensamento

e0juizosealicers:arem

numaformadevida-quee0

unicolugar,alias,tantoameuverquantonaopiniaodeRorty,em

queelespo-

dem

seapoiar-etidocomosignificandoqueoslimitesdemeumundoSaDos

limitesdaminhalinguagem,0quenaoeexatamente0que0homem

disse.

oqueeledisse,eclaro,foiqueoslimitesdaminhalinguagem

SaDoslimi-

tesdomeumundo,0quenaoimplicaque0alcancedenossamente,daquilo

quepodemosdizer,pensar,apreciarejulgar,estejaaprisionadonasfronteiras

denossasociedade,nossopals,nossaclasseaunossaepoca,masqueaalcance

denossamente,agamadesinaisquedealgummodoconseguimosinterpretar,

eaquiloquedefineaespa<;:ointelectual,afetivoemoralem

quevivemos.

Quanta

maiorelee,maiorpodemostoma-la,tentandocompreender

aque

vem

aserasadeptosdaTerraplana,auareverendoJimJones(auasIkauas

vandalos),aquesignificasercomoeles,emaisclarosnostomamostambem

paranosmesmos,tantoem

termosdoquevemosdeaparentemente

remotae

deaparentemente

familiarnosoutros,deatraenteederepulsivo,desensatoe

deinteiramente

louco;oposi<;:6esessasquenaosealinham

demaneirasimplis-

ta,paishaalgumascoisasmuito.atraentesnosmorcegoseoutrasmuitorepug-

nantesnosetnografos.

ComodizDantonomesmoartigoqueciteihapouco,sao"aslacunasen-

tremim

easquepensamdiferentemente

demim-aqueequivaleadizerto-

dosasoutros,enaoapenasassegregadospardiferen<;:asdegera<;:6es,sexo,

nacionalidade,

seitaeatera<;:a-

[que]definem

asverdadeirasfronteiras

do

self".l?Comoeletambem

diz,auquase,saoasassimetrias-entreaquiloem

quecremosauquesentimoseaquiloqueasoutrosfazem-quenospermi-

temsituarondeestamosagoranomundo,comoeestarnesselugareparaonde

gostadamosaunaodeir.Obscureceressaslacunaseassimetrias,relegando-as

aocampodadiferen<;:apasslveldeserreprimidaauignorada,dameradesseme-

lhan<;:a,queeaqueaetnocentrismofazeestadestinadoafazer(0universalis-

modaUnescoasobscurece-Levi-Strausstemtodarazaonisso-,

negando

parcompletosuarealidade),equivaleanosisolardesseconhecimento

edessa

possibilidade:dapossibilidade,em

termosliteraiserigorosos,demudarmosde

ideia.

Ahistoriadequalquerpovoem

separadoeadetodosaspovosem

conjunto,

comotambem,arigor,ahistoriadecadapessoatomadaindividualmente,tem

sidoahist6riadessamudan<;:adeideias,em

geraldevagar,asvezesmaisdepressa;

au,casoatomideal.i~tadestaafirma<;:aoperturbealeitor(naodeveria,porque

naoeidealistanem

negaaspress6esnaturaisdarealidadeauaslimitesmateriais

davontade),temsidoahist6riadamudan<;:adossistemasdesinais,dasformas

simb6licasedastradi<;:6esculturais.Essasmudan<;:asnaosederam

necessaria-

menteparamelhor,talveznem

mesmoemcaraternormal.Tampoucolevaram

a

umaconvergenciadasopini6es,masaumamisturadelas.0querealmentefoi,

emalgummomenta,algaaomenosparecidocomamundodassociedadesinte-

graisem

comunica<;:aodistantedeLevi-Strauss,laem

seuaben<;:oadoneoHtico,

transformou-seem

algabem

maisparecidocomamundopos-modemodesen-

sibilidadesem

choquenumcantata

inescapaveldequenosfalaDanto.Tal

comoanostalgia,adiversidadejanaoecomoantigamente;e0trancafiamento

dasvidasem

vag6esferroviariosseparados,paraproduzirarenovac;:aocultural,

ouseuespac;:amentocomefeitosdecontraste,paraliberarenergiasmorais,sao

sonhosromanticosquenaodeixam

deserperigosos.

Atendenciageralde0espectroculturaltomar-semaisvagoemaisconti-

nuo,semsetomarmenosdiscriminado(alias,eprovavelqueestejaficandomais

discriminado,amedidaqueasformassimbolicassedividem

eproliferam),ten-

denciaestaaquemereferinoinicio,alteranao

soarelac;:aodelecoma

argumentac;:aomoral,mastambem

0cariterdessapropriaargumentac;:ao.Acos-

tumamo-nosaideiadequeosconceitoscientificosmodificam-secomasmu-

danc;:asdostiposdeinteresseparaosqu.aissevoltam

oscientistas-aideiade

quenaoseprecisadod.lculoinfinitesimalparadeterminaravelocidadedeuma

charrete,nem

daenergiaquanticaparaexplicaraoscilac;:aodeurnpendulo.Mas

temosbem

menosconscienciadeque0mesmoseaplicaaosinstrumentosespe-

culativosdoraciodniomoral.Asideiasquebastaramparaasmagnlficasdiferen-

c;:asdeLevi-Straussnao

saosuficientesparaasperturbadorasassimetriasde

Danto;eecomestasultimasquenosconfrontamoscadavezmais.

Emtermosmaisconcretos,asquest6esmoraisprovenientesdadiversida-

decultural(que,eclaro,estaolongedesertodasasquest6esmoraisqueexis-

tern),asquais,seequechegavam

asurgir,surgiamsobretudoentresociedades

-aqueletipodecoisados"costumescontrariosarazaoeamoral"dequese

alimentou0imperialismo-,

surgem

agora,cadavezmais,dentrodelas.As

fronteirassociaiseculturaisternumacoincidenciacadavezmenor-hajapo-

nesesnoBrasil,turcosasmargensdoMainenativosdasIndiasOcidentaise

Orientaisencontrando-senasruasdeBirmingham

-,numprocessodebara-

lhamentoquejavem

acontecendohaurnborntempo,eclaro(naBelgica,no

Canada,noUbano,naAfricadoSul,enem

aRomadosCesareseralamuito

homogenea),masque,em

nossosdias,aproxima-sedeproporc;:6esextremase

quaseuniversais.Javailonge0tempoem

queacidadenorte-americanaera0

principalmodelodefragmentac;:aoculturaledesordem

etnica;aParisdenos

ancetreslesgauloisestaficandotaopoliglotaepolicromaquantoManhattan,e

eposslvelqueaindavenhaaterurnprefeitodaAfricasetentrional

(ou,pelo

menos,assimtemem

muitosdosgaulois)antesqueNovaYorktenhaurnpre-

feitohispanico.

Nocorpodeumasociedade,dentrodasfronteirasdeurn"nos",essesurgi-

mentodequest6esmoraisangustiantes,centradasnadiversidadecultural,as-

simcomoasimplicac;:6esqueeleternparanossoproblemageraldo"futurodo

etnocentrismo",

talvezseesclarec;:amdemaneirabem

maisvlvidaatravesde

urnexemplo-naodeurnexemploinventadodeficc;:aocientifica,referentea

aguaem

antimundos,

ouapessoascujaslembranc;:asseintercambiam

enquan-

toelasdormem(comoosexemplosquepassaramaagradardemaisaosfi16so-

fosultimamente,emminhaopiniao),masdeurnexemploreal,ou,pelo

menos,apresentadoamimcomorealpeloantrop6logoque0narrou:0Caso

doIndioBebedoedaMaquinadeHemodialise.

ocasoesimples,pormaisintrigantequetenhasidoseudesfecho.Arros

atras,aextremaescassezdemaquinasdehemodialise,emvirtudedeseuenor-

mecusto,levou,comoeranatural,acriayaodeurnprocessodeformayaode

filaparaqueospacientesnecessitadosdedialisetivessemacessoaelas,num

programamedicodegovernodosudoestedosEstadosUnidos,dirigido,tam-

bemmuitonaturalmente,porjovensmedicosidealistas,provenientesdegran-

desfaculdadesdemedicina,emsuamaioriasituadasnoleste.Paraqueesse

tratamentosejaeficaz,aomeno;porurnperiodoprolongado,enecessariauma

disciplinarigorosaquanto

adietaeoutrasquest6esporpartedospacientes.

Comoiniciativagovernamentalregidaporc6digoscontrariosadiscriminayao

e,dequalquermodo,moralmentemotivada,comoafirmei,aorganizayaoda

filafoifeitanaoemtermosdacapacidadedepagamento,masdasimplesgravi-

dadedoscasosedaordemdechegadadospedidos,politicaestaque,comas

distory6eshabituaisda16gicapratica,levouaoproblemadoindiobebedo.

Esseindio,depoisdeconseguiracessoaoequipamento

escasso,recu-

sou-se,paragrandeconsternayaodosmedicos,aparardebeber,ousequera

controlarsuaingestaodealcool,queeraprodigiosa.Suapostura,seguindourn

tipodeprindpiosemelhanteaodeFlanneryO'Connor,quemencioneianteri-

ormente-

0de0sujeitocontinuaraserqueme,independentemente

de

quemosoutrosquiseremqueseja-,

eraaseguinte:soumesmournindiobe-

bedo,jafazurnborntempoquesouassim,epretendocontinuarase-loen-

quantovocesconseguiremmemantervivo,amarrando-meaessasuamaldita

maquina.Osmedicos,cujosvaloreserambemdiferentes,achavamque0indio

estavaimpedindo0acessoaoaparelhoporpartedeoutraspessoasdafilaemsi-

tuayaonaomenosdesesperada,asquais,navisaodeles,poderiamaproveitar

melhorseusbeneHcios-0tipojovemdeclassemedia,digamos,bempareci-

docomeles,destinadoauniversidadee,quemsabe,afaculdadedemedicina.

Como0indiojaestavautilizandoamaquinadehemodialisequando0proble-

maseevidenciou,er~snaoconseguiramdecidir-se(nemcreioqueissolhesti-

vessesidopermitido)aretira-Iodela;masficaramprofundamenteaborrecidos

-pelomenostantoquanto0indiosemostravadeterminado,sendosuficien-

tementedisciplinadoparacomparecercompontualidadeatodasassuasses-

s6es-,

esemduvidateriamconcebidoumarazaoqualquer,aparentemente

medica,pararetira-Iodesuaposiyaonafila,sehouvessempercebidoatempo0

queestavaporvir.0indiocontinuouausar0aparelhoeelescontinuaramin-

comodadosdurantevariosanos,ateque-orgulhoso,imagino,agradecido

(naoaosmedicos)porterobtidournprolongamentodavidaemquecontinuar

abeber,esemnenhumarrependimento-elemorreu.

Poisbern,0objetivodestapequenafibulaemtemporealnaoemostrar

comoosmedicospodemserinsensiveis(elesnaoeraminsensiveis,etinhamIi

suasraz6es)ouquaodesorientadostornaram-seosindios(essenaoestavades-

norteado,sabiaexatamenteondesesituar),nemtampoucosugerirqueosvalo-

resdosmedicos(istoe,aproximadamente

osnossos),osdoindio(istoe,

aproximadamenteosnaonossos),oualgumjulgamentoexternoaspartes,reti-

radodafilosofiaoudaantropologiaeproferidoporurndosjuizesherculeosde

RonaldDworkin,devesseterprevalecido.Eraurncasodificil,queteveurnfi-

nalpenoso,masnaovejocomournetnocentrismo,urnrelativismoouuma

neutralidademaiorespudessemtermelhoradoascoisas(emboraurnpouco

maisdeimaginac;:aotalvez0fizesse).0objetivodafibula(naotenhopropria-

mentecertezadequehajanebumamoral)emostrarqueeessetipodecoisa,e

naoatribodistante,dobradasobresimesmanumadiferenc;:acoerente-

comoosAzandeouosIk,cujofasciniosobreosfi16sofoseapenasligeiramente

menorque0dasfantasiasdeficc;:aocientifica,talvezporqueIhessejapossivel

transformi-losemmarcianossublunareseenxergi-losemconsonanciacomis-

so-,

querepresenta,aindaquedemaneirameiomelodramatica,aformage-

ralassumidahojeemdiapelosconflitosdevaloressurgidosdadiversidade

cultural.

Osantagonistasdessahist6ria,seequesepodeve-losdessemodo,nao

eramrepresentantesdetotalidadessociaisensimesmadas,queseencontrassem

poracasonasfronteirasdesuascrenc;:as.Osindiosqueafastam0destinoatra-

yesdoconsumodeilcoolsaopartetaointegrantedaAmericacontemporanea

quantoosmedicosque0corrigematravesdousodemiquinas.(Sevocequiser

sabercomo,pelomenosnoqueconcerneaosindios-presumoqueconhec;:a

osmedicos-,

leia0inquietanteromancedeJamesWelch,Winterinthe

BLood,ondeosefeitosdecontrasteressaltamdeurnmodobastantepeculiar.)

Sehouvealgumafalhanesseepis6dio-e,abemdajustic;:a,edificildizer,a

.'disrancia,exatamentequalfoisuadimensao-,

tratou-sedaincapacidade,por

partedeambososlados,deapreender0quesignificavaestarnooutro,epor-

tanto,0quesignificavaestarnoseu.Pelomenosaoqueparece,ninguem

aprendeumuitacoisasobresimesmoousobrequalqueroutrapessoanesseepi-

s6dio,eabsolutamentenadasobre0caraterdoencontroocorridoentreeles,

excetopelasbanalidadesdarepugnanciaedaamargura.Naoeaincapacidade

deaspessoasenvolvidasabandonaremsuaspr6priasconvicc;:6eseadotaremas

ideiasdeoutrosquefazessahistorietaparecertaoprofundamentedeprimente.

Tampouco0esuafaltadeumaregramoraldesencarnadaaquerecorrer-0

BernMaiorou0PrincipiodaDiferenc;:a(osquais,alias,pareceriamproduzir

resultadosdiferentesaqui).0querespondeporessesentimentodepressivoea

impossibilidadedeaspessoassequerimaginarem,emmeioaomisteriodadife-

renya,comoseriapossivelcontornarumaassimetriamoralperfeitamenteau-

tentica.Tudoaconteceunoescuro.

oquetendeaacontecernoescuro-asunicascoisasquesediriaserempermi-

tidasporumaconcepyaodadignidadehumanapautadaem"umacertasurdez

aoapelodeoutrosvalores"ouuma"comparayaocomcomunidadespiores"-

e0usadaforya,paragarantir-aconformidadeaosvaloresdosdetentoresda

forya,ouumatoleranciavazia,que,naocomprometendonada,naomodifica

nada,ouainda,comonestecaso,noqualaforyanaoestadisponiveleatole-

ranciaedesnecessaria,urnescoamentoparaurnfimambiguo.

Semduvida,sucedehaversituay6esemquedefatoexistemasalternativas

praticas.Naoparecehavermuitoquefazercom0reverendoJones,depoisque

deestaemperseguiyaocerrada,senaodete-lofisicamente,antesquededistri-

bua0venenosoKool-Aid.Quandoaspessoasachamque0quentee0rock

punk,bern,pelomenosdesdequenao0toquemnometro,trata-sedosouvi-

dosedofuneraldelas.Eediflcilmesmo(algunsmorcegossaomaisintrinseca-

mentemorcegosdoqueoutros)saberexatamentecomoprocedercomalguem

queafirmaqueasfloresternsentimentoseosanimaisnao.0paternalismo,a

indiferenyaeateasoberbanemsempresaoatitudesinliteisaadotardiantede

diferenyasdevalor,mesmodiferenyasdemaiorpesodoqueessas.0problema

esaberquandoelessaouteisepodemosdeixaradiversidadeentregueemsegu-

ranyaaseusespecialistas,equando,comopensoocorrercommaisfreqiiencia,

eumafreqiienciacadavezmaior,desnaosaouteiseelanaopodeserentregue

dessamaneira,havendonecessidadedealgomais:umaincursaoimaginativa

numamentalidadealheia(eumaaceitayaodela).

Emnossasociedade,0conhecedorporexcelenciadasmentalidadesalhei-

asternsido0etnografo(0historiadortambern,emcertamedida,eofomancis-

ta,deurnmododiferente,masquerovoltaraminhapropriaseara),que

dramatizaaestranheza,enalteceadiversidadeetranspiralarguezadevisao.Se-

jamquaisforemasdiferenyasdemetodoouteoriaquenosseparam,temos

sidosemdhantesnisto:profissionalmenteobcecadoscommundossituados

noutroslugaresecom0torna-loscompreensiveis,primeiroparanosmesmos

e,depois,atravesderecursosconceituaisnaomuitodiferentesdosusadospelos

historiadoresederecursosliterariosnaomuitodiferentesdosusadospelosro-

mancistas,paranossosleitores.E,enquantoessesmundosestiveramrealmente

noutroslugares,laondeMalinowskiosencontroueondeLevi-Straussosre-

cordou,issofoi,apesardebastantediflcilcomotarefapratica,relativamente

naoproblematicocomotarefaanalitica.Podiamospensarnos"primitivos"

("selvagens","nativos"ete.)comopensavamosnosmarcianos-comomodos

possiveisdesentir,raciocinar,julgar,conduzir-seeviverqueeramdescontinu-

osdosnossos,altemativosanos.Agoraqueessesmundoseessasmentalidades

alheios,emsuamaioria,naoestaorealmentenoutrolugar,massaoaltemativas

paranos,situadasbemperto,"lacunas[instantaneas]entremimeosquepen-

samdiferentementedemim",parecehavernecessidadedeurncertoreajustede

nossoshabitosretoricosenossosentimentodemissao.

Osusosdadiversidadecultural,deseuestudo,suadescriyao,suaanalisee

suacompreensao,ternmenos0sentidodenossepararmosdosoutrosesepa-

rarmososoutrosdenos,afimdedefenderaintegridadegrupalemanteraleal-

dadedogrupo,doque0sentidodedefinir0campoquearazaoprecisa

atravessar,paraquesuasmodestasrecompensassejamalcanyadaseseconcreti-

zem.0terrenoeirregular,cheiodefalhasstibitasepassagensperigosas,onde

osacidentespodemaconteceredefatoacontecem,eatravessa-looutentar

atravessa-Iocontribuipoucoounadaparatransforma-Ionumaplanicienivela-

da,seguraehomogenea,apenastomandovisiveissuasfendasecontomos.

Paraquenossosmedicosperemptoriosenossoindiointransigente(ouo(s)

"rico(s)americano(s)"e"[aquelescomquem]precisamosfalar",nalinguagem

deRorty)seconfrontemdemaneiramenosdestrutiva(eestamoslongedeter

certezadequepossamrealmentefaze-lo,poisasfendassaoreais),elesprecisam

explorar0caraterdoespayOqueossepara.

~~·E~ulti~;l~s-t~nZl~,

saoelesmesmosqueterndefazerisso;nessecaso,

naohasubstitutopara0conhecimentolocal,nemtampoucoparaacoragem.

Masosmapasegraficosaindapodemseruteis,assimcomoastabelas,osrela-

tos,asfotografias,asdescri<;:6eseateasteorias,seatentarempara0real.Os

usosdaetnografiasaosobretudoauxiliares,mas,aindaassim,saoreais;comoa

compilayaodedicionariosou0polimentodelentes,essaeoupodeseruma

disciplinafacilitadora.Eoqueelafacilita,quando0faz,eurncontatooperaci-

onalcomumasubjetividadevariante.Elacoloca"nos"particularesentre"eles"

particulares,ecoloca"eles"entre"nos"onde,comovenhodizendo,todosja

nosencontramos,aindaquepoucoavontade.Elaeagrandeinimigadoetno-

centrismo,doconfinamentodaspessoasemplanetasculturaisemqueasuni-

casideiasqueelasprecisamevocarsao"asdaqui",naoporpresumirquetodas

aspessoassaoiguais,masporsaberquaoprofundamente

nao0sao,e,apesar

disso,quaoincapazessaodedeixardelevaremcontaumasasoutras.0que

querquetenhasidopossivelurndia,esejaporqueforqueseanseieagora,aso-

beraniadoconhecidoempobreceatodos;namedidaemqueelatenhafuturo,

onossoseratenebroso.Naosetratadequedeva~osamarunsaosoutrosou

morrer(seassimfor-negroseafricanderes,arabesejudeus,tameisecingale-

ses-,

creioqueestaremoscondenados).Trata-sedequedevemosconhecer

unsaosoutrosevivercomesseconhecimento,outerminarisoladosnummun-

dobeckettianodesoliloquiosemchoque.

otrabalhodaetnografia,oupelomenosurndeles,erealmenteproporcio-

nar,comoaarteeahistoria,narrativaseenredospararedirecionarnossaaten-

<;:ao,masnaodotipoquenostomeaceiraveisanosmesmos,representando

os

outroscomoreunidosemmundosaquenaoqueremosnempodemoschegar,

masnarrativaseenredosquenostornem

visiveisparanosmesmos,represen-

tando-noseatodososoutroscomojogadosnomeiodeurnmundorepletode

estranhezasirremoviveis,quenaotemoscomoevitar.

Ateepocabemrecente(agoraasitua<;:aoestamudando,emparte,pelo

menos,porcausadoimpacto

daetnografia,massobretudoporque0mundo

estamudando),

aetnografiaestavabastante

sozinhanisso,poisahistoria,na

verdade,passavaboapartedotempoaestimularnossaauto-estima,arespaldar

nossosentimento

dequeesravamoschegandoaalgumlugar,aofazeraapoteo-

sedenossosheroisediabolizarnossosinimigos,oualamentaragrandezaper-

dida;0comentariosocialdosromancistas,

emsuamaiorparte,erainterno-

comaspartesdaconscienciaocidentalsegurando,umasparaasoutras,urnes-

pelhoplanocomo0deTrollopeoucurvocomo0deDostoievski;eateoses-

critosdeviagem,queaomenosatentavam

parasuperficiesexoticas(selvas,

camelos,bazares,templos),empregavam-nas

sobretudo

parademonstrar

a

grandecapacidadederecupera<;:aodasvirtudesaprendidas,

emmeioacircuns-

tanciaspenosas-

0inglesquesemantinhacalmo,0frances,racional,0nor-

te-americano,

inocente.Agora

queelajanaoesrataosozinhaequeas

estranhezascomqueterndelidarvao-setornandomaisobliquasematizadas,

menosfaceisdedescartarcomoanomaliasdesvairadas-homensquesejul-

gamdescendentesdeurntipodecanguru

ouestioconvencidosdequepodem

serassassinadosporurnolhardeesguelha-,

suatarefadelocalizaressasestra-

nhezasedescreversuasformaspodesermaisdificil,sobcertosaspectos,mas

naoemenosnecessaria.Imaginaradiferen<;:a(0quenaosignifica,eclaro,in-

venta-Ia,mastorna-laevidente)continuaaserumacienciadaqualtodospreci-

samos.

"

Naoemeuobjetivoaqui,entretanto,defenderasprerrogativasdeumaWissen-

schaJtfeitaemcasa,cujapatentesobre0estudodadiversidadecultural,seeque

elaalgumdiaateve,expirouhamuitotempo.Meuproposito

esugerirque

chegamosaurnponto,nahistoriamoraldomundo(urnahistoriaque,emsi

mesma,eclaro,etudomenosmoral),emquesomosobrigadosapensarnessa

diversidadedemodobemdiferentedoquecostumavamosfazer.Sedefatoesra

ocorrendoque,em

vezdesesepararem

emunidadesemolduradas,em

espa<;:os

sociaiscomlimitesdefinidos,~sa~ordagensseriamentedistimasga_yidaes~ao

semisturandoem

espa<;:osmaldefinidos,espa<;:ossociaiscujoslimitesnaotern

fixidez,si~-i~~egulares-edlf1c~~l;~-;Ilz-ar,

aquestaodecomolidarcomos

enigmasdejulgamentoaquetaisdisparidadesdaomargem

assumeurnaspecto

bem

diferente.Fitarpaisagensenaturezas-mortas

eumacoisa;observarpano-

ramasecolagenseoutramuitodiferente.

Queecomestasultimasquenosdeparamoshojeem

dia,quevivemos

cadavezmaisem

meioaumaenormecolagem,pareceevidenciar-seportoda

parte.Nao

eapenasnonoticiirio

noturnoqueosassassinatosnaIndia,os

.bombardeiosnoUbano,osgolpesdeEstadonaAfricaeostiroteiosnaAmeri-

caCentralseimiscuem

entredesastreslocaisquenaochegam

asermaisinteli-

glveis,seguidosporsisudasdiscuss6essobre0estiloempresarialjapones,as

formasdepaixaopersasouosestilosdenegocia<;:aodosirabes.Hitambem

umaimensaexplosaodetradu<;:6es,boas,ruinseindiferentes,deeparallnguas

-ramil,indonesio,hebraicoeurdu-antesconsideradasmarginaiseobscu-

ras;hiumamigra<;:aodaculiniria,dovestuirio,dosacessoriosedadecora<;:ao

(cafetasem

SaoFrancisco,ColonelSandersem

Jogjacartaebanquetas

debar

emQuioto),etambem

0surgimento

detemasdogamelaonojazzdevanguar-

da,demitosindlgenasnosromanceslatinosedeimagensderevistasnapintura

africana.Acimadetudo,porem,trata-sedequeapessoaqueencontramosna

lojadehortali<;:asefrutasterntantaouquasetantaprobabilidadedevirdaCo-

reiaquantodoIowa,apessoadocorreio,tantadevirdaArgeliaquantodeAu-

vergne,eadobanco,tantadevirdeBombaim

quanto

deLiverpool.Nem

mesmoosmeiosrurais,ondeasimilitudetendeasermaisarraigada,ficam

imunes:hifazendeirosmexicanosnosudoestedosEstadosUnidos,pescadores

vietnamitasnolitoraldogolfodoMexicoemedicosiranianosnomeio-oeste.

Naoprecisocontinuaramultiplicarosexemplos.Todosvocessaocapazes

depensarnosseus,extraldosdeseuspasseiospelasredondezas.Nem

todaessa

diversidadeeigualmenteimportante

(aculiniriadeJogjacartasobreviveraao

prazerdechuparosdedos),igualmenteimediata(vocenaoprecisacompreen-

derascren<;:asreligiosasdohomem

quethevendeselos),nem

provem,todaela,

deurncontrasteculturalclaro.Maspareceflagrantemente

claroque0mundo,

emcadaurndeseuspontoslocais,esticome<;:andoaseparecermaiscomurn

bazardoKuwaitdoquecomurnclubedecavalheirosingleses(paraexemplifi-

car0que,talvezporeununcaterestadoem

nenhumdosdois,parecem-meser

oscasosmaisdiametralmente

opostos).0etnocentrismodostiposovodepio-

lhoou"issosoexistegra<;:asacultura"podeounaocoincidircomaespeciehu-

mana,masagoraemuitodiHcil,paraamaioriadenos,saberexatamenteonde

centra-lo,naimensamontagem

dasdiferen<;:asjustapostas.Osmilieuxestao

todosmixtes.JinaosefazemmaisUmweltecomoantigamente.

Nossarespostaaessarealidadequemepareceimperiosae,aoquetambem

meparece,umdosmaioresdesafiosmoraisqueenfrentamosatualmente,como

umingredientedepraticamentetodososoutrosqueenfrentamos,desde0desar-

mamentonuclearateadistribui<;:aoeqtiitativadosrecursosmundiais;e,paraen-

frenra-lo,asrecomenda<;:6esdetoleranciaindiscriminada,

quedequalquer

modonaosansinceras,e(0queconstituimeualvoaqui)osconselhosderendi-

<;:aoaosprazeresdacompara<;:ioodiosa,sejaelaorgulhosa,animada,defensivaou

resignada,sao-nosigualmenteintiteis,emboraestesultimostalvezsejamosmais

perigosos,porseremosquemaistendem

aserseguidos.Aimagem

deummun-

dorepletodepessoastaoapaixonadamente

encantadascomaculturaumasdas

outras,queaspirem

unicamenteacelebrarumasasoutras,naomeparececonsti-

tuirumperigoclaroeatual;aimagem

deummundorepletodepessoasqueglo-

rifiquem

alegrementeseusheroisediabolizemseusinimigos,sim,infelizmente

parececonstitui-lo.Naoeprecisoescolher-alias,eprecisonaoescolher-en-

treumcosmopolitismosemconteudoeumprovincianismosemlagrimas.Ne-

nhumdosdoistemserventiaparasevivernumacolagem.

Paravivernumacolagem,epreciso,em

primeiro

lugar,queapessoase

tornecapazdediscernirseuselementos,determinandoquaissan(0queimpli-

ca,em

geral,determinar

deondevierame0queeram

quandoestavam

li)e

comoserelacionam

unscomosoutrosnapratica,aomesmotemposemem-

botaraideiaqueelatemdesuaproprialocaliza<;:aoedesuaidentidadedentro

desta.Emtermosmenosfigurados,"compreender",

nosentidodacompre-

ensao,dapercep<;:aoedodiscernimento,precisaserdistinguidode"compreen-

der"nosentidodaconcordanciadeopini6es,dauniaodesentimentosouda

comunhao

decompromissos;

hiquedistinguir0jevousaicomprisqueDe

Gaulleproferiudojevousaicomprisqueospiedsnoirsouviram.*Devem9s

aprendera;l£reender0quenaopodel11osa1.Jras:~r.

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-Adificuldadedissoeimensa,comosemprefoi.Compreender

aquiloque,

deumadadamaneiraouforma,noseestranhoetendeacontinuarase-lo,sem

apararsuasarestascomvagosmurmuriossobreahumanidadecomum,sem

desarmi-lo

com0indiferentismodo"acadacabe<;:asuasenten<;:a",esemdes-

carra-locomoencantador,adorivelate,massemimporrancia,

eumahabilida-

dequetemosdeaprenderduramente

e,depoisdehave-laaprendido,sempre

demaneiramuitoimperfeita,temosdetrabalharcontinuamente

paramanter

viva;naosetratadeumacapacidadeinata,comoapercep<;:aodeprofundidade

ou0sensodeequilibrio,em

quepossamosconfiarplenamente.

Enisso,nofortalecimento

dacapacidadedenossaimagina<;:aoparaapre-

ender0queesradiantedenos,queresidem

osusosdadiversidadeedoestudo

dadiversidade.Setemos(comoadmitoquetenho)maisdoqueumasimpatia

sentimentalporaqueleobstinadoindionorte-americano,naoeporcomparti-

lharmosasideiasdele.0alcoolismoerealmentenocivo,ecolocaraparelhosde

hemodiaJiseaservi<;:odesuasvitimasefazerurnmauusodeles.Nossasimpatia

derivadesabermosaquepre<;:oeleconquistou0direitoasuasopinioese,por-

tanto,0sentimento

deamarguraqueexistenelas;derivadenossacompreensao

daestradaterrivelqueeletevedepercorrerparachegaraelas,edaquilo-0et-

nocentrismoeoscrimesqueelelegitima-queatomoutaoterrivel.Sequi-

sermossercapazesdejulgarcomlargueza,comoeobvioquedevemosfazer,

precisamostomar-noscapazesdeenxergarcomlargueza.Eparaisso,0queja

vimos-0interiordenossosvagoesferroviarioseosbrilhantesexemploshis-

toricosdenossasna<;:oes,nossasigrejasenossosmovimentos,pormaisabsor-

ventequeseja0primeiro

epormaisdeslumbrantesquesejamosultimos-

simplesmente

naobasta.