Historia Ambiental Da Fruticultura

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    Histria oral e histria ambiental no suldo Brasil: estudo de caso sobre a fruticultura

    em Fraiburgo/Santa Catarina1

    J Klanovicz2

    A partir da dcada de 1960 a fruticultura de clima temperado comeoua alterar regimes de uso da terra, paisagens, relaes entre humanos e nohumanos e entre conhecimento tcnico e conhecimento local, no sul doBrasil. De uma atividade que envolvia poucos profissionais, a fruticultura,

    especialmente o cultivo de macieiras, promoveu migraes de profissionais,reestruturou a economia de municpios como o de Fraiburgo/SC, SoJoaquim/SC e Vacaria/RS, e estabeleceu conglomerados empresariais espe-cializados, pautados numa cultura tcnica, concentrando quase que a tota-lidade da produo nacional de mas nos trs municpios. No demorariapara que o aparato tcnico de modernizao da agricultura transbordassepara outras esferas constituintes das histrias desses municpios, tais comoos processos de identificao, de interpretao histrica, e de construo do

    futuro da atividade, a ser confundido com o prprio futuro das suas popu-laes (KLANOVICZ, NODARI, 2005). Grande parte desses elementos(fundamentais para a construo de histrias ambientais da implantao

    1 Parte da descrio sobre o processo de construo da fruticultura de clima temperado no sul do Brasil,aqui exposta, j foi publicada em verses anteriores nos seguintes artigos: KLANOVICZ, J.; NODARI,E. S. Discursos tcnicos sobre a produo de mas no sul do Brasil. Interthesis: revista internacionalinterdisciplinar PPGICH-UFSC. Florianpolis, v.7, n.1, p.117-144, 2010; KLANOVICZ, J. Artificialapple production in Fraiburgo, Brazil, 1958-1989. Global Environment. Napoli, n.5, p.39-70, 2010.

    2 Doutor em Histria (UFSC, 2007), Docente no Programa de Ps-Graduao em Histria (mestrado)da UNICENTRO. Coordenador do Laboratrio de Histria Ambiental e Gnero (LHAG).

    DOSSI: HISTRIA, NATUREZA, CULTURA E ORALIDADE

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    da fruticultura de clima temperado no sul do Brasil) esto presentes emdocumentos como relatrios tcnicos, fotografias, mas muitos deles, espe-cialmente os que dizem respeito s tenses na construo desses projetos

    de fruticultura plantados em grande escala so acessveis apenas se fizermosuso intensivo de histria oral. Isso desloca a produo da histria ambientaldessas plantaes para a problematizao das relaes entre histria oral e his-tria ambiental, entre as narrativas de vida que mostram tenses decorrentesdo processo de modernizao da agricultura e os eventos macroscpicos domercado, da poltica, da cincia, que atingem a esfera do privado, e incor-porao dessas nuances de pesquisa leitura mais ampla sobre a relao tecidaentre a agroecologia da cultura da macieira e os agentes de transformao

    da paisagem. Nas diversas leituras da histria ambiental da fruticultura declima temperado no sul do Brasil, a histria oral , portanto, necessria parapercorrer as trajetrias individuais das tenses entre o conhecimento agron-mico e o conhecimento local de agricultores no devir da modernizao e parareposicionar alguns humanos exemplarmente no mundo agrcola, marcadopor inmeras interaes ecolgicas que vinculam tecnologia, fauna, flora,intenes humanas e limites impostos pela natureza produo.

    O objetivo deste artigo explorar certos aspectos da histria ambiental

    da fruticultura de clima temperado no sul do Brasil a partir do uso da his-tria oral, e de sua problematizao em relao ao campo maior da histriaambiental, cotejando documentos orais com documentos tcnicos acercada implantao de pomares de macieira em Fraiburgo, Santa Catarina, des-de 1962 at 1990. Em primeiro lugar, apresentam-se algumas das relaespossveis entre histria ambiental, histria oral e micro-histria. Depois,discute-se o estatuto da histria ambiental com relao interpretaosobre a modernizao da agricultura, e suas implicaes para a constru-

    o de uma histria das transformaes da paisagem em Fraiburgo, SantaCatarina, com o processo de implantao de pomares de macieira. Por fim,volta-se a ateno para relatos sobre os efeitos ambientais da modernizaoproporcionada pela fruticultura de clima temperado, perfazendo-se no ocaminho da identificao das peculiaridades da modernizao, mas sim decomo tais relatos so exemplares das repercusses de fenmenos dados emmacroescala, no mundo privado.

    Por solicitao de quem forneceu as entrevistas aqui apresentadas,substituiu-se o nome do entrevistado por um nmero sequencial. As entre-

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    vistas foram organizadas por temas, com palavras-chaves para indexao.O resguardo aqui exposto foi tomado com vistas preservao do conte-do original da fala dos sujeitos, bem como de sua pessoalidade, j que a

    Histria Oral diz respeito a verses do passado, ou seja, memria que um processo pessoal (PORTELLI, 1997). Pressupondo-se que a memria malevel e que existe um carter de criao subjacente aos relatos obtidospara a pesquisa, considerou-se, desde o incio, que as entrevistas produziramsentidos amparados, justamente, na construo subjetiva das relaes entrehumanos e mundo natural (no caso, localizadas na esfera da produo demas em Fraiburgo/SC).

    Micro-histrias, histrias orais e histrias ambientais

    A histria oral apresenta desafios interessantes para a HistriaAmbiental. No que diz respeito s preocupaes terico-metodolgicas, elafora a Histria Ambiental a considerar que as experincias de elaborao dasrelaes entre humanos e mundo natural partem de um lugar particular, de

    um espao ligado a relatos que sempre so ligados a paisagens, a territrios, sazonalidade, memria termomtrica (sentidos e sensaes de frio, decalor). Lawrence Buell observa, com base em autores como Edward Relph,

    Yi-Fu Twan e Edward Soja, que os sentidos dos espaos podem estar enrai-zados no mundo fsico, em atividades e seus objetos, mas eles no so umapropriedade do espao so uma propriedade das intenes e experinciashumanas (BUELL, 1995, p.253). As experincias que emanam em relatosa partir da concretude das ligaes entre humanos e mundo natural remete

    ao problema dos jogos de escala. Como propor uma histria ambiental que,na maioria das vezes, est vinculada a uma escala global (que pode ser umbioma, um ecossistema, um continente) a exemplos particulares (da vivnciaem torno de um pequeno riacho, de uma montanha ou de um mangue)?

    Os relatos que surgem da concretude das relaes entre humanos emundo natural, e que podem ser utilizados na Histria Ambiental carregamoutros desdobramentos. Jennifer Bonnell pontua que a construo de rela-es entre humanos e mundo natural resulta da articulao que diferentes

    grupos sociais fazem entre acontecimentos e experincias individuais e a

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    memria de um lugar (BONNELL, 2010). Partindo-se da ideia de que, naHistria Ambiental, tudo que dito dito de um lugar, e que esses lugaresrepresentam intenes e experincias humanas sobre o mundo, a obser-

    vao de Jennifer Bonnell (2010) pode ser relacionada com formulaesanteriormente propostas sobre a funo, as propriedades, o carter e o usoda memria para fins de pesquisa em reas como a Histria.

    Endel Tulving (1983; 1997) observa, por exemplo, que necessrio pensara memria (que, para ele, divide-se em memria semntica e memria episdi-ca), a partir de dois sistemas distintos, memria semntica e memria epis-dica, os quais (1) seletivamente recebem informaes de sistemas cognitivos eda percepo; (2) retm vrios aspectos dessas informaes, e (3) transmitem

    uma informao quando necessrio. Ambos os sistemas foram pensados paradiferenciar em termos do tipo de informao que armazenada as condi-es e as consequncias do seu repasse e a possibilidade de sua vulnerabilidadea interferncias. O mesmo autor ensaiou sobre a questo da vulnerabilidadeda transformao das informaes recebidas e classificadas pelas memrias. Asinformaes do sistema episdico foram estudadas como sendo mais vulnerveisdo que as do sistema semntico. Por qu? Uma das razes que a informaono sistema semntico super-aprendida, enquanto que no sistema episdico

    ela tipicamente baseada sobre acontecimentos individuais. Na formulaode Endel Tulving, a idia de maleabilidade da memria assume importnciaquando se trata da interpretao de memrias episdicas.

    Talvez uma das formas adequadas para pensar relatos e a relao entreHistria Ambiental, Histria Oral e memria seja considerar ideias comoagentes ecolgicos (como j foi proposto por Donald Worster), ou ainda,atribuir, no momento da anlise de Histria, papel preponderante para oque Lawrence Buell denomina de imaginao ambiental(BUELL, 1995).

    Nessa perspectiva, a ideia de acionar positivamente a vulnerabilidadedas memrias episdicas na construo de histrias ambientais tem criadotimas opes terico-metodolgicas para esse campo de estudo da Histria.

    A aproximao de histria oral, histria ambiental e micro-histria oferece,nesse sentido, um caminho alternativo para a discusso e incorporao derelatos presentes uma histria geralmente composta de elementos humanose no humanos, que no podem ser presos ao espao geopoltico, s fronteirasnacionais ou excessivamente cultura. Quais seriam os desafios a essa histriaambiental relacionada histria oral e micro-histria?

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    necessrio que se diga, de incio, que no h uma forma especfica dese fazer histria. Partimos, contudo, da ideia de que a histria ambiental um tipo de histria na qual necessrio perceber a relao entre humanos e

    no humanos a partir da interface entre as dimenses natural e construdado mundo palpvel (BUELL, 2001). Christof Mauch e Helmut Trischler(2010), ao pensarem as relaes, o papel e a contribuio da Histria notrato de questes ambientais, afirmam que a natureza ainda representa,contudo, um desafio cultural para historiadores e historiadoras. As questesambientais no tem fronteiras nacionais, nem regionais, muito menos umaidentidade local. Isso porque se os problemas ambientais apresentam umadimenso global, as respostas e o engajamento sempre so locais (MAUCH

    e TRISCHLER, 2010). Assim, de exerccio especulativo a campo reco-nhecido nos estudos histricos, a Histria Ambiental apresenta-se comorea de pesquisa til a interpretar problemas contemporneos das relaesentre humanos e no humanos no tempo (BUELL, 2001). Assim, emborao campo de pesquisa seja recente (constitudo com essa denominao nosEUA nos anos 1970), sua genealogia pode nos conduzir ao sculo 18 como iluminismo de Condorcet, a fisiocracia de Franois Quesnay, a economiada natureza de Lineu (WHITEHEAD, 1988), ao pastoralismo de Gilbert

    White; ao sculo 19 com o conservacionismo, o preservacionismo ou ahistoriografia da fronteira, do oeste e da wilderness,nos EUA (TURNER,2004); a geografia de final de sculo promovida na Alemanha e na Frana, e,no sculo 20, desde a histria rural francesa de Marc Bloch (BLOCH, 2001),a geo-histria de Braudel e sua longa durao (BRAUDEL, 1972), a histriado clima de Emmanuel Le Roy Ladurie e sua histria imvel (LADURIE,1971) chegando nos ambientalismos das dcadas de 1960 e 1970 e seguin-do adiante por temas como histria da floresta, histria do uso de recursos

    naturais, histria ambiental urbana, histria ecofeminista, histria ecolgica,histria ambiental dos desastres... Contudo, o campo e a forma como elese estrutura recente, quer o pensemos em termos terico-metodolgicos,como temticos, uma vez que, grosso modo, a histria ambiental a his-tria dos papis e lugares da natureza na vida humana, a histria de todasas interaes que sociedades tm apresentado com o passado no humano,nos seus ambientes (STEWART, 1998, p.352). Mas ela tambm a histriadas interaes entre humanos e no humanos quando se pensa em ecologiascomo a de um prdio num centro urbano como So Paulo/SP, ou numa

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    exploso de reator nuclear, como em Tchornobyl, na ento Unio Soviticade 1986 ou ainda, no vazamento de Csio-137 em Goinia, no Brasil de1987 (KLANOVICZ, 2010).

    Inmeros caminhos podem ser percorridos pela Histria Ambiental,tais como (1) Uso de recursos e conservao, que compreende reaes so-ciais e individuais diminuio de recursos vitais, as percepes sobre essastransformaes, as regras, prticas e discursos desenvolvidos para dialogar ouignorar essas mudanas; (2) Desastres naturais e cultura de risco, compreen-dendo percepes culturais sobre o risco, sobre fatores sociais e ecolgicos;(3) Imperialismo ecolgico, que incorpora questes sobre como regimescoloniais deixaram no apenas as sociedades coloniais em escassez, mas com

    problemas ambientais; (4) Transformao das paisagens, altamente voltada histria agrria e de transformao dos regimes agrcolas e urbanos; (5) ticaambiental, voltada ao entendimento das concepes nicas de grupos comrelao ao uso da natureza; (6) Conhecimento e sociedades do conhecimento,marcados pela a emergncia do conhecimento sobre natureza, as implicaesecolgicas da pesquisa cientfica acerca da prpria temtica ambiental, odebate sobre a comodificao da natureza (MAUCH e TRISCHLER, 2010).

    Grande parte da crtica voltada Histria Ambiental, como afirma

    Jennifer Bonnell (2010, p.9) reside na sua identificao e vinculao comuma tendncia amplido das escalas de anlise, o que reduziria a comple-xidade das motivaes humanas fora abstrata do todo natural. Contudo,reduzir a escala de leitura na histria ambiental, uma vez que os problemasglobais tem reaes e sentidos locais, pode oferecer valiosos insightscomoas sociedades e ambientes alteram a si mesmo e entre si (MOSLEY, 2006).Conforme Mosley, na histria ambiental, o estudo centrado no lugar tem-setornado a principal fora para a inovao em pesquisa: e sua modesta escala

    e relativa maneabilidade das fontes podem conduzir ao desenvolvimento deabordagens hbridas socioambientais.

    R. W. Sandwell (2008) afirma que uma leitura em pequena escalaproporciona um foco por meio do qual possvel interpretar de maneiramais apropriada a srie diria e complexa de relaes envolvendo humanose natureza. A reduo de foco no significa, contudo, particularizar em de-masia determinada narrativa de vida, ou evento. Enquanto a histria dadanessa escala reduzida permite experimentar as atitudes dirias de uma pessoacom um lugar, com um inseto, com uma floresta, a histria ambiental vol-

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    tada s grandes relaes entre humanos e no humanos permite aumentaro entendimento das relaes entre pessoas e lugares por meio da ateno sparticularidades do mundo fsico.

    A histria oral, nesse sentido, est voltada deteco das relaese demais tiposde relaes, dentro da perspectiva da conectividade e das interaesentre organismos e ambientes (CRONON, 1990, p.1130). A histria oralproporciona, ento, a construo de relatos sobre experincias individuais nolugar, ou, em outros termos, a problematizao das interaes entre narrativasde vida e histria de um projeto maior.

    Aqui, estamos interessados no uso de depoimentos que expressamnarrativas de vida e interaes entre elas e a histria da modernizao da

    agricultura a partir da implantao de projetos de fruticultura de climatemperado no sul do Brasil, a partir da dcada de 1960. O tema do uso derelatos orais no estudo da histria ambiental da implantao de pomares demacieiras no sul do Brasil foi, at o momento, parcamente explorado. Emtese construda pelo autor (2007), utilizou-se largamente do expediente dedepoimentos para a construo de uma narrativa voltada ao tema. MarlonBrandt (2005), tambm utilizou relatos para a construo de interpretaessobre a mudana da paisagem extrativista para a paisagem de fruticultura

    em Fraiburgo, dando ateno emergncia de uma das principais empresasprodutoras de ma no Brasil nos anos 1960, a Sociedade Agrcola FraiburgoSA (Safra SA). Em ambos os casos, contudo, o uso de relatos serviu princi-palmente para a montagem de um quebra-cabeas institucional voltado modernizao agrcola em Santa Catarina, e, apesar de amplo repertrio deentrevistas, especialmente coletadas para a tese j apresentada, pouco se deuateno s inmeras pequenas outras histrias presentes nos relatos. Histriaessas que dizem respeito s interpretaes, sentidos e implicaes dadas na

    esfera privada de indivduos vivendo no devir modernizador.

    Ecologizando a plantationna histria da fruticulturade clima temperado do sul do Brasil

    Quando trabalhamos com a histria da agricultura no Brasil e na

    Amrica Latina, e, mais especificamente com asplantationscomo conceito

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    paradigmtico da explorao da terra nesse amplo territrio desde o mundocolonial at a atualidade, deparamo-nos com uma postura majoritria deinterpretao. Stefania Gallini (2011), ao falar da historiografia dessa forma

    de agricultura, observa que desde a dcada de 1940 prevalece uma viso es-truturalista sociopoltica da evoluo agrcola latino-americana, calcada naideia de que aplantation um sistema de mxima explorao do trabalho(escravo, compulsrio ou assalariado) e de uso intensivo da terra (latifndioprodutivo), responsvel principal pelos problemas agrrios, de distribuiode renda e terra. Nessa tradio, que incorpora autores to diversos comoCaio Prado Jr., Celso Furtado, Srgio Buarque de Holanda, Raul Prebisch,no so consideradas, em primeiro plano, as relaes entre a agroecologia

    das plantaes e os agentes que atuam sobre elas, o que, do ponto de vistahistrico, torna essa agricultura homognea, padronizada, e um modelo aser aplicado de maneira atemporal, alm de invisibilizar as tenses histori-camente constitudas entre humanos e no humanos no agroecossistema(GALLINI, 2011).

    Ao se escapar de uma viso to estruturalista pode-se passar a entenderaplantationcomo uma agricultura convencional como tantas outras. Osramos de histria ambiental interessados na discusso das prticas agrcolas

    tm sido fundamentais na promoo do deslocamento do olhar sobre aplantation. O que eles tem feito? Numa primeira instncia, tm revisitadoo tema, muitas vezes pensado no como esgotado, mas apenas em esferaterica, em histrias socioeconmicas e culturais. Sobre os estudos clssicosde histria do Brasil e o carter terico que incorporou de uma maneiraou outra preocupaes ambientais, Diogo de C. Cabral tem consideradoa escrita de autores como Srgio Buarque de Holanda como a construode uma teoria da imprevidncia, j que esse autor falou constantemente

    contra uma agricultura irresponsvel e . Por outro lado, Cabral consideratambm a existncia de uma teoria da espoliao ecolgica, marcada emobras como a de Caio Prado Junior e Fernando Novais os quais, criticando aeconomia de plantation, postularam em diferentes momentos a dilapidaoda natureza (CABRAL, 2007, p. 77-83). Se as interpretaes estruturalistassociopolticas da plantation consideram a plantation em sua extenso ecol-gica apenas do ponto de vista terico o que no contribui com a pesquisa deHistria Ambiental sobre a agricultura no seu cotidiano e nas microrrelaesexistentes entre humanos, animais, insetos, plantas o relativismo proposto

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    por alguns trabalhos de vis cultural no tem conseguido, no entanto, darconta dessas experincias tambm. o que se pode perceber em estudosrecentes como Ser-to natureza, de Mnica Meyer (2008), que discute a

    construo das representaes de natureza na obra de Guimares Rosa apartir de correspondncias trocadas entre o escritor e seu pai, ou Naturezae cultura no Brasil (1870-1922), de Luciana Murari (2009), que acaba portransformar as relaes entre humanos e mundo natural em uma histria decomo os intelectuais brasileiros perceberam a natureza no pas.

    Em seguida, o tema tem servido para discutir conceitos como sustenta-bilidade (como o caso do cultivo de cana-de-acar num mesmo territriobrasileiro a mais de 300 anos), ecologia e relaes entre humanos e no

    humanos anteriormente no problematizadas, como o caso das relaesentre animais, humanos e insetos, doenas e clima em paisagens agrcolashomogneas e suas consequncias para a derrocada ou sucesso de empreen-dimentos agrcolas em determinadas regies.

    Se entendida como uma agricultura convencional e atualizada para asegunda metade do sculo XX num Brasil que buscava modernizar sua agro-pecuria, reforando essa atividade econmica para um mercado capitalista, a

    plantationacabou sendo enquadrada em outras duas interpretaes tambm

    consolidadas. Uma delas, interpretando o fenmeno a partir da instituciona-lizao de rgos de extenso e assistncia tcnica, e a outra voltada leituradas redes de interesses que mesclaria pblico e privado. Ambas tambm nodo visibilidade s tenses inerentes agricultura de larga escala como umadas agriculturas possveis no processo de alastramento e comodificao danatureza. Contudo, ao relacionarmos elementos diversos que compemas paisagens agrcolas, a lista de exemplos de constituies de prticas queexcedem essas abordagens pode no ter fim, especialmente se levarmos em

    conta duas caractersticas bsicas da agricultura moderna, quais sejam aadaptao e crescimento de cultivares em diferentes condies ecolgicas nolongo prazo, e a existncia de algum que consuma essas mesmas culturas(McCOOK, 2011, p.1). Enquanto at a primeira metade do sculo XXesse condicionamento esteve marcadamente ditado pelo alastramento domercado de produtos tropicais em pases europeus e nos Estados Unidosda Amrica, fazendo com que grandes reas de floresta em regies tropicaisfossem devastadas para a construo de paisagens homogneas de plantascomo a cana-de-aucar ou o caf (McCOOK, 2011, p.1), a construo de

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    mercados internos em pases perifricos e ditos tropicais, como o Brasil,tambm serviu para a ampliao do mercado de frutas, porm temperadas.

    A adaptao doAmerican way of lifeno Brasil entre os anos 1940 e 1950

    impulsionou, por exemplo, o mercado interno de frutas de clima temperado,especialmente quando pensamos no consumo de ma, que passou a ser for-temente importada de pases como a Argentina, tornando-se, rapidamente,o segundo produto na balana de importaes agrcolas, perdendo apenasdo trigo (KLANOVICZ, 2007). Nesse sentido, o cultivo de macieiras nosul do Brasil teve um impulso apoiado por mltiplos fatores, entre eles omercado interno, a cultura de consumo baseada no desenvolvimento urbanodos grandes centros como So Paulo e Rio de Janeiro, mas tambm a ins-

    titucionalizao do conhecimento agronmico e da extenso rural. No sepode desconsiderar, tambm, a convergncia de interesses pblicos e privadosque, envoltos por um discurso tcnico, trataram de impulsionar diferentesrelaes ecolgicas na construo de novas paisagens agrcolas regionais.

    A fruticultura de clima temperado no sul do Brasil

    E emergncia da fruticultura de clima temperado, comercial e moderna,aconteceu a partir de 1962, em Fraiburgo, meio-oeste de Santa Catarina. Oprocesso, em linhas gerais, j foi problematizado em trabalhos anteriores,com nuances especficas (FREY, 1989; BURKE, 1994; KLANOVICZ,NODARI, 2005; BRANDT, 2005). Apesar de a temtica j ter sido bemcoberta do ponto de vista de uma histria da institucionalizao e moderni-zao da agricultura, no demais considerar o histrico da implantao e da

    expanso da fruticultura com vistas funo da histria oral na estruturaode uma histria ambiental.

    O cultivo de macieiras em Fraiburgo, Santa Catarina, teve incio comouma atividade experimental, ornamental e oportunista. A Safra SA instalouum pomar experimental de frutferas de clima temperado em 40 hectares, soba direo do agrnomo franco-argelino Roger Marie Gilbert Biau. Depoisde uma dcada de pesquisas sobre adaptao de cultivares, correo de soloe relevo e de contato com tcnicos de outros pases para resolver problemas

    de conduo de pomares na regio, constatou-se que a atividade economi-

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    camente vivel para a localidade era o cultivo de macieiras. Essa constataoocorreu em meio a um processo de expanso de pomares de macieira que

    j vinha ocorrendo desde a segunda metade da dcada de 1960, e foi come-

    morada pela primeira colheita oficial de mas de 1967 (BURKE, 1994;KLANOVICZ; NODARI, 2005; BRANDT, 2005).A Safra SA tinha objetivos especficos, e a sociedade entre proprietrios

    de terra locais e empreendedores franco-argelinos tinha interesses conver-gentes: os franco-argelinos Mahler-Evrard pretendiam investir no ramo defruticultura e produo de vinhos e os proprietrios locais de terra da famliaFrey queriam deslocar seus investimentos do ramo de extrao para quaisqueroutros. Os franco-argelinos tinham know-how na produo de uvas e vinhos

    (mas no na de frutas de clima temperado em geral) e capital, e sabiam dasoportunidades de negcios com frutas e derivados no Brasil. Os Frey eramproprietrios de cerca de cinco mil hectares de terra em Fraiburgo, estavaminteressados na fruticultura, sabiam que o solo e o clima de suas terras erampresumivelmente propcios produo de frutas como mas e uvas, masno tinham experincia em seu cultivo (EVRARD, 2003).

    Quase que de imediato, a SAFRA buscou assessoria tcnica para aconstituio de pomares, e encontrou na empresa Ppinires Delbard, do

    viveirista Georges Delbard, em Malicorne, Frana, um ponto de apoio e deinvestimento. Em sua primeira visita ao pomar experimental de Biau, em1966, Georges Delbard concluiu que o comportamento das macieiras epereiras ali plantadas era idntico ao daquelas cultivadas na Arglia, e que aaltitude corrigia os efeitos da latitude. O viveirista passou a fornecer novasvariedades para Fraiburgo, alm de sugerir tcnicas de manejo de solo e dapaisagem. Tambm investiu capital na ampliao da Safra S.A. at a dcadade 1970, quando decidiu deixar a sociedade, por divergncias na forma de

    conduo dos projetos, especialmente no que dizia respeito a questes am-bientais (DELBARD, 1986, p.569).

    Esse primeiro momento da histria dos pomares modernos de ma-cieira em Santa Catarina, de 1962 a 1973, foi marcado pela convergnciade investimentos privados (os primeiros, at 1968) e pblicos e no s aSafra SA comeava a se dedicar pomicultura. A empresa ReflorestamentoFraiburgo Ltda. comeou a plantar pomares em terras prprias, arrenda-das ou em sistema de comodato e condomnio, com mudas adquiridas daSafra SA. Em 1969, outra empresa da famlia Frey foi criada para executar

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    projetos de fruticultura usando os servios da Reflor Ltda. e da Safra SA:A Renar Agropastorial Ltda. (Renar). A Renar plantaria macieiras comincentivos fiscais, usando recursos originrios da explorao madeireira

    da empresa-me (Ren Frey & Irmo Ltda.), ou seja, dinheiro de impostosreaplicados no processo de acumulao de capital da famlia. Alm disso,aproveitaria tcnicos do Programa de Fruticultura de Clima Temperado3(BRANDT, 2005; KLANOVICZ, 2007).

    O Brasil ainda era importador de mas em 1969, mas o que estava emjogo para a obteno de incentivos era a perspectiva de futura suficincia domercado nacional com base na produo da regio sul. Do ponto de vistaempresarial, se o pas ainda no exportava a fruta, pelo menos comeava

    a produzi-la para o mercado interno, com tcnicas modernas. Da mesmaforma, se havia problemas ecolgicos, eles poderiam ser revertidos com co-nhecimento tcnico, j que Fraiburgo era um vasto campo experimental,para usar a expresso de Willy Frey (1973).

    A expresso cunhada por Willy Frey a respeito de Fraiburgo de 1973no era gratuita. A instalao cada vez mais acelerada de projetos de fru-ticultura de clima temperado, o incremento do conhecimento tcnicosobre fruticultura a partir da criao do Curso Tcnico em Agropecuria

    pela Escola de Segundo Grau Sedes Sapientiae e a intensa migrao deprofissionais da fruticultura para o municpio fizeram com que o ncleourbano passasse a conviver cada vez mais com a ostensividade da paisagemde pomares a sua volta.

    O que Willy Frey nomeava como campo experimental por meio deum discurso orgulhoso e inserido na esfera do desenvolvimentismo era co-memorado, do ponto de vista empresarial e comercial, pelo ento gerenteadministrativo da SAFRA em 1973, Carlos Alberto de Abreu. Em relatrio

    enviado Escola Sedes Sapientiae, o gerente afirmava que a produo defrutas temperadas como mas, peras, nectarinas e ameixas teve um caminhodifcil, marcado por sucessivas importaes de material gentico da Europa,adaptaes e tratamentos. A empresa tinha, na poca, a liderana nacionaldo mercado, com 1.013 hectares de fruteiras temperadas: videiras Merlot,

    3 O Programa de Fruticultura de Clima Temperado era um projeto de estado, conduzido pela Secretariade Estado da Agricultura de Santa Catarina. Surgiu como projeto em 1968, e acabou sendo efetiva-

    mente implementado em 1970, a partir do oferecimento de assistncia tcnica e extenso rural voltadosespecificamente fruticultura de clima temperado, desde aquele ano.

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    Cabernet, Trebiano e Marzenino ; ameixeiras Santa Rosa e Santa Rita; e macieiras Golden Spur, Red Spur, Golden Delicious, Wellspur,Melrose, Blackjohn, Royal Red e Willie Sharp , entre outras. Em 1973 a

    comercializao da Safra S.A. alcanava a 414.718 mudas, sendo 395.154 demacieiras, 12.021 de nectarinas, 4.359 de ameixeiras, 794 de pessegueiros e247 de pereiras, alm de 1.878 de roseiras e 265 de frutas diversas. Ao finaldo relatrio, Abreu afirma que o comrcio de frutas da empresa crescia anoa ano, acompanhando o aumento do consumo nacional (ABREU apudSIMONETTI, 23 out. 1973).

    O consumo de mas per capita no pas passou de 0,65kg/ano em 1960,para 1,45kg/ano em 1970 (ABPM, 2006). Tal crescimento certamente teve

    relao com a ampliao de pomares de macieira em Fraiburgo. Diversasempresas do Brasil comearam a entrar em contato com a Reflor Ltda. comvistas a instalar ali pomares e projetos de reflorestamento, aproveitandoincentivos fiscais oferecidos pelo governo federal e, obviamente, com afinalidade de pagar menos impostos. Essas empresas utilizavam reas daprpria Reflor Ltda., em regime de comodato ou condomnio. Relatrio daempresa, de 1973, mostra dados sobre dez projetos de reflorestamento comPinus taeda, Pinus elliottis eAraucria angustifolia, realizados entre 1967 e

    1970, totalizando 2.716,34 hectares e 3.618.750 mudas. Ao aproveitar amacieira como essncia florestal legalmente vlida para florestamento, deacordo com a lei 5.106, de 1966, a Reflor Ltda. assessoraria 13 projetosde fruticultura, entre 1967 e 1973, abrangendo 592,5 hectares e 542.200mudas. Em 1973 a empresa planejava o plantio de 141 hectares e 112.800mudas para o ano seguinte e mais trezentos hectares com 240 mil macieiraspara 1975. Esses ltimos projetos receberam o nome de Fazenda CasteloBranco III. Os mais de quinhentos hectares plantados at 1974 apenas pela

    Reflor Ltda. eram a materializao de uma estratgia de negcios amparadaem polticas pblicas de incentivo a projetos florestais.

    Em 1977, Fraiburgo concentrava as seguintes empresas no ramo defruticultura: Vincola Fraiburgo SA, Reflorestamento Fraiburgo Ltda.,Renar Agropastoril, Frutcola Fraiburgo SA, Saga Agropecuria, NodarisaEmpreendimentos Florestais, Agrcola Fraiburgo e Fructus Agricultura ePecuria. Em sntese, o surgimento da Safra S.A. e de outras empresas dosetor de fruticultura de clima temperado em Fraiburgo, entre as dcadas de1960 e 1970, foi favorecido por estratgias de investimento e reinvestimento

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    incentivado em pomares de grande extenso territorial e com intenso usode mquinas e insumos. Do ponto de vista macroeconmico, as soluespareciam encaminhar os rumos da atividade para um bom termo, j que

    entre 1960 e 1969 o aumento da produo nacional de mas comeava aacompanhar, em progresso, as importaes da fruta. Mas todo esse avanocompreendia um transbordamento necessrio do campo de produo parao mundo cotidiano da cidade, com implicaes socioeconmicas, polticas,ambientais, culturais e ecolgicas. Do ponto de vista socioeconmico, aimplantao de pomares e o surgimento de empresas impulsionariam amigrao de mo-de-obra especializada, assim como a necessria formaode mo-de-obra para o futuro na localidade. O evento tambm fez com que

    houvesse a aproximao de inmeras instituies num projeto comum, entreelas as escolas tcnicas e a igreja catlica.

    No perodo inicial de expanso de pomares, entre 1963 e 1975, ostcnicos agrcolas e engenheiros agrnomos que moravam em Fraiburgobuscavam tornar produtivos os pomares de macieira enquanto conviviamcom problemas relativos polinizao das plantas, acidez do solo, chuvas degranizo, geadas em pocas de florao. Alm disso, tinham que pesquisar aprpria adaptao de cultivares ao local de produo, sem a presena de ma-

    nuais de cultivo desenhados especificamente para a regio. O conhecimentoeuropeu sobre polinizao sem a necessidade de outros recursos que no oprprio clima dificultava a produo. A demasiada expanso de pomaresem reas onde as florestas j haviam sido derrubadas trouxe problemasecolgicos, principalmente no que diz respeito presena de insetos quepoderiam minimizar o problema da polinizao. Havia carncia de insetoscapazes de polinizar plantas, resultante da reduo drstica das matas nativase da aplicao de acaricidas, fungicidas e outros agrotxicos em quantidade

    crescente, acompanhando a expanso das reas de plantio. A cada hectareexpandido, problemas ou limitaes naturais colocavam prova o conheci-mento tcnico da pomicultura.

    Resolver a questo da queda de flores foi turning point de Fraiburgocomo campo experimental para Fraiburgo como espao de expanso econsolidao da fruticultura. Isso s ocorreu devido pesquisa conduzidapelo agrnomo israelense Amnon Erez. Ele constatou que a carncia dehoras-frio abaixo de 7,2C necessrias por ano (setecentas, no mnimo) re-tardava a brotao das plantas em Fraiburgo. Como soluo, sugeriu o uso

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    intensivo de abelhas para auxiliar a polinizao, alm de produtos qumicospara quebrar a dormncia das plantas (BLEICHER, 15 maio 2002; EREZ,20 jan. 2007). Jorge Bleicher afirma que:

    A foi uma loucura! Um novo momento de expanso de pomares comeouem 1975, e, dessa vez, as empresas comearam a derrubar florestas paradar espao s novas plantaes. As macieiras passaram de uma produode duas a quatro toneladas por hectare, para 28, trinta toneladas. Lucrogarantido com base na tecnologia (BLEICHER, 15 maio 2002).

    A adaptao de variedades foi outro problema encontrado em Fraiburgo.Muitos dos pomares da primeira metade da dcada de 1970 estavam sendoplantados principalmente com as variedades Red delicious e Golden delicious.S a partir de pesquisas que foram compiladas na obraA cultura da ma, doagrnomo japons Kenshi Ushirozawa, que permaneceu em misso tcnicaem Santa Catarina entre 1971 e 1977, que essa questo passou a ser resol-vida. O autor constatou que a produo de Red delicious e de Golden deliciousem regies de altitude mdia de 1000m tornava essas frutas propensas a seremfarinhentas, de baixa qualidade comercial, e sugeria a substituio dessascultivares por variedades mais precoces, tais como a Gala.A erradicao decultivares Golden e Red delicious tornou-se uma constante, enquanto que osnovos pomares passaram a ser instalados com duas cultivares principais, aGala e a Fuji(USHIROZAWA, 1979).

    Quanto ao solo e forma de interveno na paisagem com vistas a cons-tituir pomares modernos em Santa Catarina com as correes necessrias, omanual de plantio de Kenshi Ushirozawa era claro:

    Recomenda-se pensar em mecanizar o mximo possvel a cultura da ma-cieira, bem como realizar a aplicao e incorporao do calcrio termo-fosfato (yoorin), profundamente, antes do plantio das mudas. Em casode solos argilosos, deve-se realizar drenagem, a fim de no enfraquecer oumesmo secar as plantas (USHIROZAWA, 1979, p.29).

    No limiar dos anos 1980 Kenshi Ushirozawa perscrutava todos osaspectos da pomicultura possvel em Santa Catarina, deixando mostra amacieira no conjunto de sua forma e comportamento em esquemas, tabelas

    de produtividade, grficos de distribuio de plantas no espao, sugestes de

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    plantio em reas que pudessem ser transformadas em campo rapidamente.Enquanto isso, em Fraiburgo, no pomar experimental de Roger Biau, aspesquisas que analisavam a adaptao e a fitotoxidade das plantas corriam

    em regime acelerado. As plantas de Roger Biau eram tratadas como ensaios,e os resultados de adaptao eram evidentes. Os resultados dessas pesquisasnunca foram divulgados em peridicos cientficos, e restaram apenas ofcioscom ordens de servio para tcnicos agrcolas em meio ao pomar experimen-tal, especialmente aqueles que tratavam de aplicao de herbicidas.

    Na contemporaneidade, o que unia as experincias de Roger Biau e deKenshi Ushirozawa, era que o primeiro tratou de ensaiar adaptaes, enquan-to o segundo buscou constituir padres para expandir pomares de macieira

    no Estado de Santa Catarina; Roger Biau atuava numa empresa privada eKenshi Ushirozawa trabalhava num projeto pblico do governo estadual.

    Impulsionado pelo ritmo de expanso de pomares e pelos resultadospositivos de pesquisas pblicas e privadas, Fraiburgo foi o municpio quemais devastou os remanescentes de matas nativas de Santa Catarina. Foramderrubados mais de mil hectares de floresta por ano, entre 1980 e 1983, con-forme dados pontuados pelo economista Carlos Eduardo Frickmann Young.Em certa medida, essa realidade materializava as aspiraes de Jorge Bleicher,

    num documento de 1973, que observava que Fraiburgo no descansarenquanto no transformar toda a terra improdutiva em locais geradores deprogresso. A devastao observada por Young isolava mais ainda os insetos ereduzia a biodiversidade local. A presena de abelhas europias para auxiliara polinizao das plantas frutferas foi um sucesso tecnolgico que garantiuo crescimento da produtividade e aumentou a qualidade das frutas, alm dofortalecimento financeiro e de transformao do ambiente por parte dos pro-dutores, entretanto trazia incmodos para os seres humanos, especialmente

    no que diz respeito a picaduras de abelhas em trabalhadores e trabalhadorasnos pomares de macieira, (SIMONETTI, 1973; YOUNG, 2004).

    As dcadas de 1970 e 1980 trouxeram a consolidao da pomiculturaem Fraiburgo, com base em fruticultura mecanizada e racionalizada, queatraiu mo de obra e investimentos de diversos setores e impulsionou a pes-quisa. A populao do municpio, de pouco mais de dois mil habitantes em1967, chegou a mais de 15 mil em 1985. A ma era o carro-chefe da eco-nomia. O uso intensivo de tecnologia aplicada garantia a produtividade dospomares. Mtodos automatizados de irrigao combatiam a seca; sistemas de

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    deteco e interveno combatiam o granizo as chuvas de pedra comestratgias militares (uso de radares e bombardeio de nuvens por foguetes,inicialmente importados da Frana e Sua e, depois, da Unio Sovitica);

    focos de incndio serviam para combater geadas em pocas de florescnciadas plantas (em setembro, na primavera); tratamentos fitossanitrios radicaisatacavam fungos e doenas. Alm disso, havia mtodos para desviar cursosdgua e uma logstica eficientssima em poca de colheita. Tudo isso davalastro aos discursos que, ainda em 1983, afirmavam o sucesso de tcnicosem corrigir defeitos da natureza na regio, conforme matria publicada narevista Veja(23 mar. 1983, p.89).

    Lebres, macieiras, humanos e abelhas

    Dois animais, nos anos 1980, incomodavam muito os produtoresde ma; um deles era o Graxaim-do-mato (Cerdocyon thous), um carnvoroda famlia Canidae, de pelagem geral formado por pelos cinza-claros, ama-relados na base, sendo os da linha dorsal mais escuros, formando uma faixa

    dorsal preta que se estende da nuca ponta da cauda (UCS, 2005). Grandeparte do problema causado pelo animal era que, em plena poca de colheitadas mas, entre fevereiro e maio, a fruta tornava-se um dos alimentos prin-cipais, entre insetos, pequenos vertebrados. O tcnico agrcola #1 afirma que,

    o bichinho at que bonitinho, mas a gente tinha que caar. Era necessrioporque tinha, em algumas pocas, muito graxaim. Ou a gente matava oueles prejudicavam as rvores comendo os frutos que ficavam mais embaixo.

    Isso dava muito prejuzo e se a gente deixasse eles crescerem demais, iamse reproduzir muito (TCNICO AGRCOLA #1, 14 abr. 2004).

    Outro animal de pequeno porte que passou a atacar as plantaes demacieira a partir do momento de expanso dos anos 1970, foi a Lebre (Lepussaxatilis). O mesmo tcnico agrcola #1 afirmava que

    a gente se reunia para caar lebres de noite, porque era mais fcil de peg-lascom a luz. A lebre acaba com a plantao, ento bom de a gente caar,

    porque, alm disso, a carne deliciosa. Mas tinha mais lebre tambm

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    antigamente. Hoje tem muito pouca lebre (TCNICO AGRCOLA #1,14 abr. 2004).

    possvel inferir, por meio dos relatos, que a devastao das florestaspara dar lugar pomicultura pode ter ocasionado a diminuio do territriode vida de animais como o leo-baio, o graxaim, e a lebre.

    Se, como afirma o economista Carlos E. F. Young (2004), Fraiburgo foio municpio que mais devastou reas da Floresta Ombrfila Mista (FOM) nadcada de 1980, em todo o territrio de Santa Catarina, com mais de 1000hectares de rea tomada por mquinas s nos primeiros trs anos daqueladcada, e que o desmatamento naquele municpio j havia sido descrito

    como um cenrio dantesco pelo agrnomo francs Georges Delbard, em1967, possvel dizer que havia uma presso antrpica sobre a paisagem demata atlntica regional que j no era recente ou isolada nos anos 1980, eque a interveno era ostensiva, em diversas escalas.

    Uma delas chama especial ateno, e diz respeito presena/ausncia deinsetos em meio s plantaes de macieira. Depois de projetos organizadoscom dinheiro da iniciativa privada e staff estatal, uma pesquisa terminadaem 1975 concluiu que a soluo para aumentar a produtividade das fru-

    tferas de clima temperado em Fraiburgo era utilizar insetos polinizadorespara facilitar a produo de flores. A abelha entrou e determinou, dali paraa frente, a histria da pomicultura em Fraiburgo.

    A substituio de insetos nativospor insetos manejadosfez com que traba-lhadores da pomicultura tivessem de se adaptar presena diria, em certaspocas do ano, da abelha (Apis mellifera). Como uma abelha visita cerca de10 flores por minuto, a utilizao de uma mdia de duas colmias por hec-tare, totalizando 10 mil insetos, favorecia a polinizao (FREY, 1989, p.17).

    Nada como parece ser, e a resoluo do problema da polinizao acarretoua construo de outros problemas diretamente para as populaes humanas.O tcnico agrcola #1 era atormentado cotidianamente pelas abelhas:

    Eu tenho alergia de abelha, ento eu sempre tinha medo de trabalharquando elas estavam no pomar. Era triste, porque a gente tinha que andarpelas fileiras de maneira e elas estavam ali, trabalhando tambm. A gentetinha que fazer o levantamento da distribuio delas. E elas ficavam direto

    ali, aquele zumbido, aquele alvoroo. So muito bonitas, mas longe de

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    mim. Eu levei umas trs vezes ferroada de abelha e passei mal. Numa delas,tive que ser levado para o hospital (TCNICO AGRCOLA #1, 2004).

    J o trabalhador rural #1 afirma que proibia que seus filhos sassemda casa em que ele reside na empresa Renar (2004). Outro profissionalque alimentou um verdadeiro pavor das abelhas era o tcnico agrcola #2,que, quando comeou a trabalhar, tentava despistar do chefe e no en-trar em qualquer pomar onde existissem colmeias instaladas (TCNICO

    AGRCOLA #2, 9 fev. 2004).Ao contrrio dos graxains e das lebres, que impulsionavam os humanos

    ao pomar com vistas atividade recreativa e culturalmente enraizada da

    caa, as abelhas afugentavam-nos daquele ambiente. O trabalhador agrcola#1 impedia seus filhos de brincar na frente de sua casa, enquanto tambmescondia-se, confessando que, muitas vezes, corria de dentro do pomar, commedo dos enxames (TRABALHADOR AGRCOLA #1, 2005).

    A tecnologia, a servio dos humanos e da humanizao da paisagemagrcola, voltava-se, de algumas formas, contra eles prprios. Insetos comoabelhas eram domesticados, mas nem tanto. Da mesma forma, os profissio-nais que trabalhavam especificamente com abelhas muitas vezes tinham de

    conviver com o problema das ferroadas em suas equipes, embora utilizassemtrajes especficos para o trato apicultural.Na dcada de 1970, a populao natural de insetos diminuiu ainda

    mais, principalmente por intermdio do uso de produtos qumicos ela-borados a base de mercrio, segundo o tcnico agrcola #3 (TCNICO

    AGRCOLA #2, 15 fev. 2003). Segundo o tcnico, havia produtos que eramaplicados s plantaes to fortes, que, no dia seguinte aplicao, inmerosinsetos e pequenos animais, como aves, eram encontrados mortos:

    Eram violentos aqueles produtos. A quantidade de insetos naturais dimi-nua e ento sobrava somente a abelha como instrumento para a polini-zao. Era complicado, porque um outro aspecto era que a gente passavaseguidamente esses produtos dentro dos pomares e tambm perto doscapes de mato. Ento, no sobrava nada, nada (TCNICO AGRCOLA#2, 15 fev. 2003).

    Mas a historicidade da presena das tenses entre humanos, insetos,animais e plantas em meio aos pomares de macieira admite que, nos pri-

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    meiros 15 anos da produo de macieiras, a quantidade de doenas gravese de pragas era menor do que na atualidade. Convivia-se, especialmentena dcada de 1980, com os problemas do caro vermelho europeu, da

    mosca-da-fruta, da sarna da macieira, da podrido amarga e da podridode colo. Com o passar do tempo, surgiram os problemas da lagarta en-roladeira, a mancha foliar da Gala e a podrido branca, alm do que asantigas pragas tornaram-se novos problemas, como a grafolita (EPAGRI,2002, p.98).

    Surgiram as relaes dirias entre humanos, a podrido amarga(Rosellinia necatriz), a podrido de colo (Phytophthora cactorum), a Armilaria(Armillariella mellea), a galha da coroa (Agrobacterium tumefaciens), o cancro

    (Nectria galligena), a sarna (Venturia inaequalis), ou a glomerela (Glomerellacingulata) (EPAGRI, 2002).

    No caso das pragas, os humanos comearam a se deparar, no campode produo, com a traa-das-frutas (Carpocapsa pomonella Linnaeus), oscaros diversos, o pulgo langero (Eriosoma lanigerum), ou a cochonilha(Quadaspidiotus perniciosus).

    Na dcada de 1980, por exemplo, o caro vermelho tornou-se um dos

    principais inimigos dos produtores, uma vez que o controle qumico eradifcil pela facilidade da espcie em adquirir resistncia a acaricidas. Coma proibio do uso de inseticidas piretrides e alguns fosforados, com alegislao imposta pelo Governo Federal desde 1985, aos poucos o carovermelho foi se tornando uma praga secundria na pomicultura, uma vezque inimigos naturais puderam comear a combater a praga.

    Ao passo que a expanso dos pomares era garantida por conta da reso-luo de alguns problemas na superfcie, outros problemas, subterrneos,existiam. Com a expanso dos anos 1980, diversas reas remanescentes deflorestas foram derrubadas para dar lugar a pomares. Isso criou mais compe-ties entre populaes no humanas, tanto entre clima e cultivares, comoentre animais e vegetais. Jorge Bleicher lembra que,

    Na dcada de 1980, produtores comearam a rasgar o solo em direos matas secundrias. Era bom expandir o negcio da ma, porque a lucra-tividade estava crescendo. Alm disso, o Brasil comeou a exportar algumas

    cargas, com bom preo no mercado internacional. Mas o que aconteceu,

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    ento, era que quando voc entrava em matas secundrias, tinha que arran-car outras essncias florestais para dar lugar macieira. Ento, quando vocarrancava a imbuia, acontecia que muitos fungos que sempre viveram ali

    ficavam na terra doidos para se alimentar. A macieira, uma planta mais frgil,era uma verdadeira delcia para fungos que viviam antes sugando energiae alimento da imbuia. Aconteceu que muitos pomares morreram devido aesse problema (BLEICHER, 15 maio 2002).

    Consideraes finais

    As sensaes com relao ao uso de animais na agricultura modernaem Santa Catarina podem dizer respeito a uma mentalidade tcnica emmeio s tentativas de resoluo dos problemas de produo e produtividadeda fruticultura. Esse ponto de leitura fundamental para um outro que sedesdobra, vinculado s diferentes tradues e implicaes privadas da novaforma de cultivo regional. Ele diz respeito s transformaes dos insetos emobjeto de pesquisa, e seres que habitam o dia a dia do mundo do trabalho

    e do lazer, das atitudes prticas frente ao ambiente, que fazem com que otrabalhador tenha de trancar seus filhos em casa num ambiente rural, comvistas segurana contra ferres de abelhas.

    Os fragmentos de narrativas de vida de trabalhadores rurais e tcnicosagrcolas expostos em diversas passagens deste artigo remetem-nos trajetriade um projeto tcnico, chamado implantao de pomares de macieira nosul do Brasil, numa poca de plena modernizao agropecuria regional quevisava ao fornecimento de vveres de clima temperado para um mercado

    interno bastante aquecido e que prometia timos rendimentos.Para as histrias institucionais da produo de mas no Brasil, no

    houve elemento mais eficaz do que a valorizao de documentos tcnicos.Contudo, do ponto de vista da percepo de diferentes recepes desseprocesso, e das consequncias que eles puderam exercer na vida cotidia-na, no h nada mais eficaz para a histria ambiental, do que a fuga a serempreendida de um modelo macro-explicativo para uma escala reduzidade anlise, localizada nas prprias narrativas individuais em um lugar

    especfico.

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    Resumo:Este artigo discute as relaes entre histria oral e histria ambiental atravs de umestudo de caso sobre a fruticultura em Fraiburgo, Santa Catarina, sul do Brasil. Para isso,comparamos depoimentos com outros documentos do mundo da produo de mas desdeos anos 1960.

    Palavras-chaves:Histria Ambiental, Histria Oral, Agricultura.

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    Histria Oral, v. 1, n. 15, p. 159-183, jan.-jun. 2012 183

    Oral history, and environmental history in southern Brazil: a case study on fruticulturein Fraiburgo, Santa Catarina

    Abstract:This article discusses relations between oral history, and environmental history

    through a case study on fruticulture in Fraiburgo, Santa Catarina, Southern Brazil. Due tothis analysis, we compare testimonies to other documents from the apple production worldsince the 1960s.

    Keywords:Environmental History, Oral History, Agriculture.

    Recebido em: 11/03/2012Aprovado em: 05/05/2012