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ÉTICA E RACIONAlIDADE MODERNA de Manfredo de Oliveira Ético e raciono/ido e moderno Ed. Loyolo, 1993. POR ANDRÉ HAGUETTE Professor Titular do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia da UFC Inicialmente me foi confiada a ta- refa de apresentar três livros de uma só vez: Os itinerários de Antigona de Bárbara Freitag; O mal-estar na modernidade de Sérgio Paulo Rouanet e os dois volumes de Ética e sociabilida- de de Manfredo Araújo de Olivei- ra. Se, por um lado, a tarefa parecia ousada e desproporcio- nada pela quantidade e impor- tância das obras e de seus auto- res - certamente entre os me- lhores intelectuais do país -, por outro, a influência que esses au- tores tiveram, em livros e artigos anteriores, em meu pensamento e minha práxis cotidiana, dentro e fora da sala de aula, tornava a tarefa mais acessível. Contingên- cias fizeram com que Bárbara, infelizmente, não pudesse estar conosco hoje e que o livro de Sérgio Paulo não chegasse a tem- po, restando o livro de Manfredo que nos vem não como segundo volume de Ética e sociabilidade, mas com título próprio, Ética e racionalidade moderna, embo- ra se insira na continuação das reflexões iniciadas em Ética e sociabilidade. Mesmo assim, gostaria de co- mentar OsitineráriosdeAntígona e dizer algumas palavras sobre o pensamento de Rouanet, como forma de prestar homenagem a dois intelectuais de renome inter- nacional e de mostrar linhas de con- vergência com os trabalhos de Manfredo de Oliveira. O livro de Bárbara Freitag, pu- blicado em 1992, é excepcional pela oportunidade do tema e, so- bretudo, pela qualidade de sua abordagem interdisciplinar. Como fizera anteriormente, com muita originalidade e perspicácia no artigo "O conflito moral" Cin Tempo Brasileiro, n 2 98, 1989), Bárbara aborda a questão ética por seu aspecto mais doloroso, dramático e trágico, o conflito moral, talvez lembrando-se de Hegel quando escrevia a "ATra- gédia é a escolha entre o direito e o direito". Antígona, na peça de Sófocles, vê-se forçada a es- colher entre a lei do oikós, ou dos deuses, e a lei da polis, ou da cidade, dos homens. Mulher de alma forte em um corpo frágil, ela, com o olhar no absoluto, opta pela lei da consciência íntima e enterra seu irmão, sem medir as conseqüências de seu gesto, sua própria infelicidade, a infelicida- de de sua família e a da polis. Bárbara analisa a tragédia pelos ângulos complementares da filosofia, da sociologia e da psicologia genética, chegando a uma conclusão surpreendente para quem, como eu, sempre viu em Antígona o modelo acabado da moralidade: Antígona não atin- giu o estágio mais alto da moralidade, tal como descrito por Piaget e Kohlberg; ela age con- vencionalmente e, por isso, pro- voca tanta infelicidade e tantas mortes a seu redor. Antígona mostrou-se incapaz, por ser de- masiadamente ligada ao oikós, à domesticidade, à casa, diria o antropólogo Roberto da Matta, de entrar na hermenêutica da ação comunicativa e de chegar à ética política, da responsabilidade, da polis. Permaneceu na moralidade não atingindo a eticidade neces- sariamente comunitária. Produz- se, então, uma inversào: o vilào, usurpador e tirano de Tebas, Cre- onte, por encarar o conflito en- tre as duas moralidades e a me- 106 Revista de Ciências Sociais v.26 n.1/2 1995 diação do diálogo, evolui na sua apreciação moral, muda de posi- ção e se torna capaz de uma moralidade superior, atingindo a eticidade pós-convencional. Conclusão surpreendente essa de Bárbara, surpreendente e, em grande medida, decepcionante, frustrante, pois o tradicional vi- lão é apresentado como o porta- dor da moralidade pós-convenci- onal. Como Bárbara foi capaz de chegar a ·essa inversão' Porque seu pensamento corre no mesmo leito daquele de Sér- gio Paulo Rouanet e de Manfredo de Oliveira, no leito do Ilumi- nismo renovado, ampliado, aber- to e no leito da práxis comunica- tiva, que acredita na fundamen- tação do universalismo ético pela crítica solidária do discurso situa- do. Rouanet nos ensinou peda- gogicamente, em Razões do lluminismo, e, pelo que depre- endo de sua apresentação, con- tinua, com paciência, a nos ensi- nar em Mal-estar na moder- nidade, que a razão é, ainda, a melhor arma que a humanidade possui para resolver seus proble- mas, traçar seu itinerário, buscar sua felicidade. Não mais uma ra- zão soberba, hipostasiada, reali- zação terminal e definitiva da contradição do senhor e do es- cravo, do objeto e do sujeito. Não mais uma razão portadora do sentido realizado da história. Não mais a razão do utilitarismo industrialista e da modernização. Não; uma razão humilde mas se- rena, aberta aos sentimentos, à paixão; uma razão, portanto, la- boriosa e responsável, porque situada, "sempre epocal", dirá Manfredo num certo barbarismo lingüístico. Racionalismo, sim, mas um racionalismo que busca um sentido - não mais aquele possuidor do sentido - de ma- neira solidária, política (polis) e democrática. É precisamente deste raciona-

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ÉTICA E RACIONAlIDADEMODERNAde Manfredo de OliveiraÉtico e raciono/ido e modernoEd. Loyolo, 1993.

POR ANDRÉ HAGUETTEProfessor Titular do Departamentode Ciências Sociais e Filosofia da UFC

Inicialmente me foi confiada a ta-refa de apresentar três livros deuma só vez: Os itinerários deAntigona de Bárbara Freitag; Omal-estar na modernidade deSérgio Paulo Rouanet e os doisvolumes de Ética e sociabilida-de de Manfredo Araújo de Olivei-ra. Se, por um lado, a tarefaparecia ousada e desproporcio-nada pela quantidade e impor-tância das obras e de seus auto-res - certamente entre os me-lhores intelectuais do país -, poroutro, a influência que esses au-tores tiveram, em livros e artigosanteriores, em meu pensamentoe minha práxis cotidiana, dentroe fora da sala de aula, tornava atarefa mais acessível. Contingên-cias fizeram com que Bárbara,infelizmente, não pudesse estarconosco hoje e que o livro deSérgio Paulo não chegasse a tem-po, restando o livro de Manfredoque nos vem não como segundovolume de Ética e sociabilidade,mas com título próprio, Ética eracionalidade moderna, embo-ra se insira na continuação dasreflexões iniciadas em Ética esociabilidade.

Mesmo assim, gostaria de co-mentar OsitineráriosdeAntígonae dizer algumas palavras sobre opensamento de Rouanet, comoforma de prestar homenagem adois intelectuais de renome inter-nacional e de mostrar linhas de con-vergência com os trabalhos deManfredo de Oliveira.

O livro de Bárbara Freitag, pu-

blicado em 1992, é excepcionalpela oportunidade do tema e, so-bretudo, pela qualidade de suaabordagem interdisciplinar. Comofizera anteriormente, com muitaoriginalidade e perspicácia noartigo "O conflito moral" CinTempo Brasileiro, n2 98, 1989),Bárbara aborda a questão éticapor seu aspecto mais doloroso,dramático e trágico, o conflitomoral, talvez lembrando-se deHegel quando escrevia a "ATra-gédia é a escolha entre o direitoe o direito". Antígona, na peçade Sófocles, vê-se forçada a es-colher entre a lei do oikós,ou dosdeuses, e a lei da polis, ou dacidade, dos homens. Mulher dealma forte em um corpo frágil,ela, com o olhar no absoluto, optapela lei da consciência íntima eenterra seu irmão, sem medir asconseqüências de seu gesto, suaprópria infelicidade, a infelicida-de de sua família e a da polis.Bárbara analisa a tragédia pelosângulos complementares dafilosofia, da sociologia e dapsicologia genética, chegando auma conclusão surpreendentepara quem, como eu, sempre viuem Antígona o modelo acabadoda moralidade: Antígona não atin-giu o estágio mais alto damoralidade, tal como descrito porPiaget e Kohlberg; ela age con-vencionalmente e, por isso, pro-voca tanta infelicidade e tantasmortes a seu redor. Antígonamostrou-se incapaz, por ser de-masiadamente ligada ao oikós, àdomesticidade, à casa, diria oantropólogo Roberto da Matta, deentrar na hermenêutica da açãocomunicativa e de chegar à éticapolítica, da responsabilidade, dapolis. Permaneceu na moralidadenão atingindo a eticidade neces-sariamente comunitária. Produz-se, então, uma inversào: o vilào,usurpador e tirano de Tebas, Cre-onte, por encarar o conflito en-tre as duas moralidades e a me-

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diação do diálogo, evolui na suaapreciação moral, muda de posi-ção e se torna capaz de umamoralidade superior, atingindo aeticidade pós-convencional.

Conclusão surpreendente essade Bárbara, surpreendente e, emgrande medida, decepcionante,frustrante, pois o tradicional vi-lão é apresentado como o porta-dor da moralidade pós-convenci-onal. Como Bárbara foi capaz dechegar a ·essa inversão'

Porque seu pensamento correno mesmo leito daquele de Sér-gio Paulo Rouanet e de Manfredode Oliveira, no leito do Ilumi-nismo renovado, ampliado, aber-to e no leito da práxis comunica-tiva, que acredita na fundamen-tação do universalismo ético pelacrítica solidária do discurso situa-do. Rouanet nos ensinou peda-gogicamente, em Razões dolluminismo, e, pelo que depre-endo de sua apresentação, con-tinua, com paciência, a nos ensi-nar em Mal-estar na moder-nidade, que a razão é, ainda, amelhor arma que a humanidadepossui para resolver seus proble-mas, traçar seu itinerário, buscarsua felicidade. Não mais uma ra-zão soberba, hipostasiada, reali-zação terminal e definitiva dacontradição do senhor e do es-cravo, do objeto e do sujeito. Nãomais uma razão portadora dosentido realizado da história. Nãomais a razão do utilitarismoindustrialista e da modernização.Não; uma razão humilde mas se-rena, aberta aos sentimentos, àpaixão; uma razão, portanto, la-boriosa e responsável, porquesituada, "sempre epocal", diráManfredo num certo barbarismolingüístico. Racionalismo, sim,mas um racionalismo que buscaum sentido - não mais aquelepossuidor do sentido - de ma-neira solidária, política (polis) edemocrática.

É precisamente deste raciona-

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lismo que Manfredo de Oliveiranos fala em Ética e sociabilida-de e em Ética e racionalidademoderna, ou melhor dizendo,desta postura para abordar nossapráxis comunicativa cotidiana.Manfredo, como Bárbara e Roua-net, defende que a postura maisalta do racionalismo se encontrana capacidade de argumentaçãocrítica e comunitária, isto é, soli-dária e não-solípsísta à Ia Weberou ao existencialismo, da práxiscomunicativa sempre situada einacabada. Por isso se fala deuma "ética de responsabilidadesolidária" (p. 66) - a de Creon-te!; diz que "a ética torna possí-vel a ciência" (p. 162); prega "apassagem de uma sociedade doarbítrio para uma sociedade po-lítica" (p. 167); ensina "ser o po-bre o universal concreto do hu-mano" (p. 151) e vê a religiãocomo a radicalização da existên-cia da práxis libertadora (p. 189).

Por seu estilo, Manfredo deOliveira é um contador de histó-rias, talvez como herança daque-les contadores e cantadores queescutava nas praças e nas calça-das de Limoeiro quando aindamenino. Alguns contadores gos-tam de contar piadas, outros defalar em almas e demônios, ou-tros ainda forjam epopéias eaventuras. Manfredo gosta decontar histórias de filósofos e ofaz magistralmente, tanto na salade aula como em artigos reuni-dos em livros. Ética e sociabili-dade é um livro de histórias defilósofos. Nele comparecem al-guns artigos: Platão e Aristóteles;alguns modernos, Locke, Kant,Hegel, Marx (Hobbes e Rousseauforam convidados, leia-se na In-trodução, mas não puderam, porabsoluta falta de tempo, compa-recer pessoalmente, sendo a pre-sença deles, todavia, semprelembrada. Em Ética e racio-nalidade moderna comparecemcontemporâneos, sobretudo Apel

e Habermas.Mas, cuidado! Manfredo não é

apenas um contador, ele é umcontador filósofo. E o que o filó-sofo faz? Ele busca "uma refle-xão crítica sobre a totalidade daexperiência humana" (p. 156),não se limitando a "regiões" des-sa mesma experiência, emborajamais consiga definir conteúdosque ultrapassem os humores, aideologia originária e a epoca-lidade das normas e valores soci-ais (p. 156). A filosofia é exigên-cia de sentido, da totalidade dosentido. Ela pode ser parcial nasua execução, mas não o é no seuprojeto, no seu pleito. Ela é, deforma mais específica, "a re-construção dos pressupostos dapráxis argumentativa" dos sujei-tos históricos, sendo, portanto,uma reflexão transcendental enão técnica ou mesmo científica.

O leitor atento deve, afinal,desconfiar das histórias contadaspor Manfredo. Elas não são anó-dinas. Manfredo filosofa pelaboca dos filósofos, um poucocomo Tomás de Aquino firmavasua própria filosofia comentandoos antigos para, desta forma,escapar (parcialmente) da In-quisição. Na realidade, Manfredotem uma obsessão: ele é obce-cado pela questão da fundamen-tação da experiência totalizantehumana. Ele vira e mexe, passade um autor para outro, de umtema para outro (a ciência, a fi-losofia no Brasil, as ideologias, atecnologia, etc.), sempre ele caisobre seus pés, tal um gato, le-vantando a questão da fundamen-tação, quer do conhecimento,quer do agir humano, da sociabi-lidade.

Por isso, creio que haja uma ar-madilha na narrativa manfredianasobre os filósofos: eles formamuma fila que parece indicar umcaminhar da reflexão filosóficapara um ponto de amadureci-mento, a ética discursiva de Apel

e Habermas que "justifica oprincípio de universalização atra-vés de procedimentopragmático-transcendental" e dialético (p.26). Em outras palavras, ao pas-sar de um filósofo a outro, Man-fredo parece passar a idéia, semjamais tematízâ-la, que há, na his-tória da filosofia, uma superaçãocontínua e constante, Aristóteiessuperando seu mestre, Platão,Hegel a Kant, Marx a Hegel, e,finalmente, Habermas e Apei,montados nos ombros de seusantecessores e de mais algunssociólogos e psicólogos, Weber,Piaget, Kohlberg, ete., superamtodos. Pessoalmente, fico meperguntando se essa leitura éadequada e se os diversos pa-radigmas filosóficos apresentamuma história seqüencial ou secada um não possui uma verda-de original e definitiva. Senão,por que motivo reler Platão eAristóteles, por exemplo? So-mente por razões históricas e nãopara descobrir uma fecundidadeintrínseca e insuperável?

Em Ética e racionalidade mo-derna, Manfredo é iluminista,como Bárbara e Sérgio Paulo, porexpor uma fundamentação racio-nal do princípio de validação dasnormas éticas, embora advirta que"o princípio moral fundamentalobtido por uma reflexãotranscendental não pode preten-der substituir essas morais históri-cas, fornecendo apenas uma regracapaz de eliminar, através dodebate, todas as orientaçõesnormativas concretas, ligadas àsdiferentes formas históricas de vidaimpossíveis de universalização. Aética do discurso não forneceorientações de conteúdos poisesses provêm dos contextoshistóricos, mas um procedimentoque pode garantir a objetividadedos julgamentos sobre essasorientações ... O que a ética dodiscurso defende é umacomplementaridade fundamental

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entre o universalismo ético (for-malismo) e as totalidades vitaisconcretas (historicidade)" (p. 37-38). Eis, portanto, a natureza doIluminismo e do Racionalismopossível hoje. Um racionalismoque não é mais vitoriano, massuficiente para dirimir o parado-xo de nossa epocalidade em que"se, por um lado, aprofundam-seo individualismo e o par-ticularismo, desembocando noescândalo moral de uma socieda-de das mais iníquas da históriacontemporânea, por outro háavanço na consciência e na de-fesa dos direitos que efetivam adignidade humana" (p. 47). Aética do discurso possibilita, por-tanto, fundar a ética na sociabili-dade, conservando a diferença eo individualizante, mas expondo-os à crítica e à libertação da nor-matização universal. Produz-se,então, uma reviravolta na funda-ção da ética comunitária. A fun-damentação do agir e da liberda-de não se realiza pelo recurso àreligião numa sociedade secular;mas pelo recurso à política, istoé, à democracia. Esta possibi-lidade aberta pode suscitarotimismo, sobretudo para opobre, elevado, neste trabalho, àcondição de portador social deprivilégio ético ( p. 181) - ca-beria indagar aqui: somente oeconomicamente pobre outambém o socialmente pobre, asminorias? A ética do discurso,dialógica, fundante de valores enormas universais, política, e de-mocrática, é, também, libertária,pois é "exigência de uma prâxisernancipatôria" (p. 180).

Em um Brasil conturbado, éreconfortante a leitura de Ética eracionalidade moderna que fun-damenta possibilidades reais detransformação. O Ceará vem sedestacando no cenário nacionalpela instauração de um fazerpolítico diferente e aplicado. Ostrabalhos de Manfredo de Olivei-

ra, como de outros colegas, nasáreas de medicina, sociologia, li-teratura, matemática, biofísica,etc., mostram que intelectuaistambém renovam e vivificamnosso conhecimento e nossapráxis. Esses intelectuais nos dãoorgulho de pertencer à UFC.Manfredo merece nossas felicita-ções e nossa gratidão pela lide-rança intelectual que exerce, so-bretudo porque esta qualidadeintelectual é complementada poruma integridade profissional ehumana de fazer inveja. Que aliderança de Manfredo de Olivei-ra se exerça por muitos anos econtinue a suscitar entre seuscolegas e discípulos admiraçãoe incentivo, e entre os "pobres",solidariedade e uma práxisemancipatória.

MAIRI REVISITADAde Dominique Tilkin GolloisMairi revisitada: a reintegraçãoda Fortaleza de Macapó natradição oral WaiãpaSão Paulo, NHII·USP/FAPESP, 1994. 91 p.

POR ISABElLE BRAZ PEIXOTO DA SILVAProfessora do Departamento de Ciências Sociaise Filosofia da UFe e doutoranda em CiênciasSociais na Unicomp

Mairi reuisitada, publicação doNúcleo de História Indígena e doIndigenísmo da Universidade deSão Paulo, é um estudo que nospresenteia com uma inovação nocampo etnológico. Ao estudar asociedade indígena Waiãpi, englo-ba a circunstância do contato comos colonizadores na históriadaquele povo, e, mais do que isto,mostra a versão Waiãpi do contato.

Localizados no Estado do Ama-pá, fronteira com a Guiana Fran-cesa, os Waiãpi são de língua tu-pi-guarani, distribuídos em 13

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aldeias, num território de 583.000ha delimitados. É um povo comuma longa história de migração,que vem-se deslocando desde oséculo XVIII, a partir do baixo rioXingu, premido pela pressãoterritorial exerci da pelos brancos.

Gallois considera que, emboratenham passado por muitas trans-formações em seu modo de vida,mantém seu padrão básico de or-ganização social, que consiste naindependência política e econô-mica dos grupos locais (Wanako),fundamento da sua autonomiacultural.

A história atual dos Waiãpi émarcada pela ameaça perma-nente de invasão do seu territóriopor garimpeiros. Não despropo-sitadamente, é a partir do temada ocupação territorial e das dis-putas a ela atinentes que o textonos leva à difícil reflexão sobrea relação entre mito, história eidentidade.

Investigando o discurso doWaiãpi, Gallois estabelece algu-mas classificações: há uma narra-ção mítico-histórica que se diri-ge para dentro da sociedade econsiste em especulações cir-cunstanciadas em torno da histó-ria do contato, funcionando co-mo "discurso-explicação". Umaoutra fala se dirige para os bran-cos e busca confirmar a sua posi-ção nas relações interétnicas, fun-cionando como "discurso-ação".

As narrativas mítico-históricas,por sua vez, se distinguem. Nosrelatos históricos os eventos sãosituados no tempo e no espaçoe as fontes de informação são ex-plicitadas. Nas narrativas míticasas informações são mencionadas,havendo alusões a categoriasgenéricas C'ancestrais", "primei-ros humanos"), sendo o públicofundamental porque garante afidelidade e a continuidade dasinformaçôes ao longo do tempo.

Numa classificação nativa, ela-borada por solicitação da pesqui-

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sadora, os discursos são separa-dos por temporalidades diferen-tes. No tempo de Tomoko há umarelação genealógica e os ances-trais são nomeados. No tempo dosTaimiwer os antepassados sãogenéricos e as situações não sãolocalizadas historicamente. Sãoatemporais.

A autora apresenta uma coletâ-nea de narrativas, que é o objetoprincipal, Mairi - a Fortaleza re-visitada, refere-se ao ponto zeroda história do contato, quando ahumanidade foi recriada peloherói Ianejar, dividida entre índi-os e não-índios, já em posição deconfronto. O segundo, etnogê-nese, aborda a composição étni-ca do grupo e as diferentes mo-dalidades de relacionamento in-terétnicos posteriores.

Nas primeiras narrativas estãopresentes elementos tradicionaisda cultura Waiãpi: a pele, o caxiri,o vermelho.

E também elementos modernosque passam a ser significativospara esta cultura, como a escrita,por exemplo. Além de situaçõese interlocutores que dão a refe-rência do contato e do confrontointerétníco, tais como prisão, ga-rimpeiros, brasileiros, franceses,negros, FUNAl.

Na segunda seqüência de nar-rativas a ênfase está na composi-ção étnica e nos embates entreíndios e brancos. Para tanto, arti-culam diferentes temporalidadese diferentes modos de pensar adescendência, que pode ter ori-gem mítica ou genealógica, nãoimporta. O que importa é a re-intregação simbólica da sua tota-lidade étnica, recompor uma uni-dade perdida no contato, para oseu fortalecimento frente aosbrancos.

O que Gallois demonstra nestetrabalho é a interdependênciaentre mito e história. As narrati-vas mítico-históricas fornecemmaterial para a reelaboração de

argumentos, a serem utilizadospoliticamente nas relações com osbrancos. Ao mesmo tempo oseventos históricos são seleciona-dos, organizados e interpretadosa partir das experiências e exi-gências do presente, enquantoque as narrativas míticas sofremcerta dissolução, restando poucoespaço à cosmologia.

Desta forma, a pesquisadoradetecta as transformações opera-das nas narrativas ao longo deduas décadas, a manipulação dosconceitos de temporalidade e dasmodalidades discursivas, orienta-das pelas mudanças na percep-ção das relações interêtnicas;mudanças estas que operam tam-bém sobre a auto-imagem Waiãpi,permanentemente reelaboradanuma comunicação com as repre-sentações sobre o contato. Antesos Waiãpi tinham medo dos bran-cos, hoje eles têm consciência daespoliação que sofrem e da ne-cessidade de enfrentá-Ia.

Se as conclusões da autora nossurpreendem e nos deixam comsentirrientos de perda e temor poruma certa "razão instrumental"dos Waiãpi, o seu ensinamentomaior está na constatação de queas sociedades indígenas cons-tróem a sua própria história.

TRANSICAO CAPITALISTA,E CLASSE DOMINANTENO NORDESTE

de Ronald H. ChilcoteTransição capitalistae classe dominante no NordesteTraduçõo de Lólio Lourenço de Oliveira,Sõo Paulo, EDUSp,1991. 368 p.

POR MÔNICA DIAS MARTINSDoutoranda do Programa de Pós-Graduaçõoem Sociologia da UFe

Estudioso apaixonado pelo Nor-deste, Ronald H. Chilcote, da Uni-versidade da Califórnia (UCLA),esteve por diversas vezes comoprofessor visitante na Universida-de Federal do Ceará (UFC), pro-porcionando nessas ocasiões,àqueles que foram seus alunos,uma convivência intelectualinstigante. É com alegria que ve-mos seu ensaio "Família e classedominante em duas comunidadessertanejas do Nordeste brasileiro",por nós traduzido e publicado naRevista Brasileira de Estudos Po-líticos da Universidade Federal deMinas Gerais (UFMG), em 1988,transformar-se no livro que oracomentamos.

A tarefa não é fácil, se conside-rarmos a extensão do estudo (368páginas) e a densidade das infor-mações, fruto de um intenso tra-balho de levantamento de dadosestatísticos, leitura de documen-tos e de pesquisa de campo, nascidades de ]uazeiro (Bahia) ePetrolina (Pernambuco), ao lon-go de vários anos, e com maiorintensidade em dois momentosdistintos da vida política nacional:primeiramente, nos anos de 1969e 1971, e depois em 1982 e 1983.

A presente obra do professorChilcote, que tem como temacentral a análise das "estruturas depoder local e sua relação com odesenvolvimento! subdesenvol-

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vimento", é complexa e minuci-osa, como mostra a estrutura dosdoze capítulos que compõem olivro, a saber: (1) O pano de fun-do; (2) A estrutura de poder e aclasse dominante; (3) ]uazeiro:coesão e sectarismo; (4) Pe-trolina: patriarcado e dominaçãoFamiliar; (5) Classe dominante eforma de governo; (6) Classedominante e economia; (7) Asclasses dominantes e a vida soci-al; (8) Ideologia; (9) Desenvol-vimento e subdesenvolvimento;(10) Participação, mobilização econflito; (11) O desafio Políticoà hegemonia tradicional; (12)A intervenção do Estado e asperspectivas da acumulaçãocapitalista.

Inicialmente o livro descreve,de forma sucinta, os principaistraços da sociedade colonial dosertão do Médio São Francisco eseus personagens: o vaqueiro, ocangaceiro e o coronel, revelan-do ao leitor, logo nas primeiraspáginas, que seu interesse pelaregião foi despertado pela leitu-ra da obra clássica de Euclides daCunha, Os sertões. É este o "panode fundo" para o estudo das tra-dições e das mudanças em cursona vida político-econômica dasduas comunidades pesquisadas.

A tarefa seguinte é uma breverevisão bibliográfica da literaturaexistente sobre estrutura de po-der, destacando os vários enfo-ques teóricos sobre liderança edetendo-se na concepção de clas-se dominante, na definição deMarx. Aliando a abordagem teó-rica à pesquisa empírica, fruto dacombinação de vários métodos deestudo de comunidade, o autoridentifica as principais famíliasdetentoras de poder em cada ci-dade e - por meio de informa-ções obtidas em entrevistas comseus representantes e organiza-das em várias tabelas - retrata aatual classe dominante quanto a:origem, sexo, idade, estado civil,

ocupação, nível de aceitação, re-lacionamento social e de envol-vimento com a comunidade, pa-drões de participação na soluçãode problemas locais e relações en-tre o setor econômico e a política.

Para melhor compreender esseprocesso de formação da classedominante, com suas atuais ca-racterísticas, o autor trata de res-gatar a história de ]uazeiro e Pe-trolina, desde o povoamento nosidos do século XVI, baseado empesquisa de fontes documentais,com ênfase nos mecanismos decoesão (relações de sangue, ami-zade, casamento, pactos) e dedivisão do poder (lutas, disputase divergências entre seus mem-bros) entre as famílias dominan-tes e dentro delas, nas formas decontrole sobre as atividades po-líticas - tanto eleitorais como ad-ministrativas - e nas relações dopoder local com o governo cen-tral C'estilos de política"), desdeo Império até 1971, passando pe-la República Velha, Revolução de30, Segunda Guerra Mundial e oRegime Militar.

No capítulo dedicado a Pe-trolina, há que se destacar a con-tribuição valiosa do professorChilcote, ao oferecer aos leitoresalguns dados empíricos funda-mentais para a análise da classedominante, tais como: tabela comas preocupações mais importan-tes, de 1915 a 1970 (exame deeditoriais e reportagens); quadrocomparativo das oito famíliasdominantes, no período compre-endido entre 1893 e 1970; e, omais precioso de todos, o mapea-mento dos vínculos entre as trêsfamílias patriarcais que, desde oinício do século XX, compõem aestrutura de poder local.

O autor vai, gradativamente,desvendando a percepção queesse grupo de famílias que do-mina, política e economicamen-te, as duas cidades tem de simesmo, traçando o perfil biográ-

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fico dos seus principais líderes eapresentando as avaliações dosdetentores do poder sobre suaprópria participação na socieda-de local, regional e nacional. Emsíntese, como se vêem C'opiní-ões, valores e atitudes") no seupapel social, como classe domi-nante, perante:

• o governo local - importân-cia dos grupos institucionais (pre-feitura, câmara de vereadores, re-partições administrativas, partidospolíticos, judiciário, polícia);

• os setores produtivos priva-dos - representação nos principaisempreendimentos (financeiros,mineração, agricultura, pecuária,comércio e serviços, indústria),bem como delimitação geográficada área de influência econômica;

• a vida social - tendência paraparticipação em atividades e or-ganizaçôes cívicas, religiosas, pro-fissionais, sindicais, recreativas,de serviço e culturais.

O capítulo dedicado à ideolo-gia, definida "como os valores ecrenças de uma comunidade ougrupo" (p. 214), discute a con-cordância - ou não - dos mem-bros da classe dominante em re-lação a afirmações sobre demo-cracia, nacionalismo, desenvolvi-mento, capitalismo, educação,religião, buscando verificar as ten-dências progressistas/tradicionaise locais!cosmopolitas; bem comoo grau de confiança nos níveis degoverno e os padrões de tomadade decisão nas famílias. Dois as-pectos são apro-fundados no de-correr do estudo: desenvolvimen-to/subdesenvolvimento e particí-pação/mobilização/ conflito.

Primeiramente, o sentido dodesenvolvimento para os dirigen-tes de ]uazeiro e Petrolina, insti-ga o professor Chilcote a fazeruma revisão crítica da literaturasobre a teoria de dependência edo subdesenvolvimento, temaao qual tem se dedicado com es-pecial interesse, relacionando-a

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com a expenencia passada eatual da região. Em seguida,investiga a compreensão doconceito de democracia partici-pativa, verificando as opiniõessobre direitos/deveres do cidadão,decisões governamentais, partici-pação eleitoral, detendo-se maisdemoradamente na questão daviolência histórica do sertão, atra-vés da percepção dos membrosdas classes dominantes em relaçãoa cinco casos: Palmares, Canudos,Cangaço, Padre Cícero e conflitostrabalhistas.

Ao final, procura verificar asmudanças ocorridas, mais recente-mente (após seu retomo à região,passados dez anos dos primeiroscontatos com a área), em especialdo ponto de vista dos problemasenfrentados pelas famíliasdominantes para manterem suahegemonia, diante da instalação deempresas privadas e estatais,sobretudo em Petrolina, e dapenetração mais intensa do capitalcomercial e industrial. Analisa apolítica no passado e no presente,através das eleições municipais de1972 a 1982, assinalando oprocesso, ainda que parcial, derenovação de lideranças. Concluique há evidências de ruptura coma sociedade tradicional, mas que"a transição para o capitalismo,embora em curso, ainda nãoestava completa" (p. 342),mostrando como a intervençãodo Estado na região, amparadaem projetos e créditos deorganismos internacionais (50-bradinho, Projeto Nordeste, entreoutros), tem afetado os padrõesaté então dominantes.

O livro do professor RonaldChilcote, pela riqueza de relatose pelo vasto material documen-tal, é uma referência teórico-metodológica indispensável aosestudiosos da temática do Nor-deste, nas suas múltiplas aborda-gens interdisciplinares de políti-ca, economia, história, sociologia,

antropologia. A obra vempreencher uma lacuna importan-te no conhecimento da socieda-de brasileira, que é o estudo daregião do semi-árido, por meiode um enorme esforço de pes-quisa do concreto, fugindo dorisco das generalizações. O trata-mento inovador das estruturas depoder local, enfatizando a visãode mundo das classes dominan-tes, revela alguns segredos sobreas famílias que compõem a elitenordestina.

O leitor atento, certamente, en-contrará limitações - mais da co-mentarista do que o autor - queesperamos se transformem emcuriosidade intelectual para apro-fundamento crítico das idéias aquiapresentadas.

MAOS DE MESTREde Sylvio Porto AlegreMãos de Mestre: itineráriosda arte e da tradição.Sõo Paulo, EditoraMaltese, 1994. 155 p.

POR MARTlNE KUNZProfessora do Departamento de LetrasEstrangeiras do UFe

o belo livro de Sylvia Porto Ale-gre delineia com rigor e sensibi-lidade o universo dos artistas po-pulares no Nordeste, "um seg-mento sem rosto e sem nome,que em nosso país nem sequerfaz parte dos cadastros profissio-nais e das estatísticas oficiais: odas outrora denominadas artes eofícios, que hoje costumam serrotuladas de arte e artesanatopopular".

Arte, artesanato? Artista, arte-são, arte popular? Um termo seperde nos confins do outro; nemsempre é possível resolver as he-sitações semânticas. Os termosevoluíram, já foram mais próxi-

mos em outras épocas, distanci-aram-se, perderam de vista o laçode parentesco, se deram as cos-tas até. Essas mudanças de signi-ficado foram acompanhadas dejuízos de valor diferenciados,reveladores de outras modifica-ções relativas à integração socialde artesãos e suas relações como mercado circundante.

A autora toma o cuidado deidentificar e delimitar os concei-tos a serem utilizados. Esse em-basamento teórico nos oferecepalavras-ferramentas a serviço deum compreensão segura. Nadade hermético, a clareza do textofavorece o prazer da leitura semdesmerecer a profundidade dapesquisa.

Uma pesquisa rica em descri-ções e observações. O olhar dopesquisador é privilegiado. Quan-do citadas, as teorias estimulama reflexão, não se tornamcarnisas-de-força de uma realida-de domada. A batalha é outra.

O "chão concreto" das investi-gações e análises da autora é omaterial colhido ao longo dosanos de convivência com osartesãos do Ceará. Os depoimen-tos e histórias de vida dos entre-vistados constituem a base da suareflexão. A tese de doutoradoapresentada em 1988 forneceoutro sustentáculo. Em Arte e ofí-cio de artesão. Histórias e traje-tórias de um meio de sobrevivên-cia, a antropóloga procura "recu-perar a trajetória de um antigomeio de sobrevivência das popu-lações pobres, que ainda perma-nece ativo, tanto nas cidadescomo no campo".

Essas duas fontes nos lembrama história longínqua do artistapopular e enriquecem a reflexãosobre a condição do artista e doartesão hoje. "Nada mudou e tu-do mudou", constata a autora. Apartir da "vista de dentro" da con-cepção e execução da obra e dosvalores a ela atribuídos, seguin-

RESENHAS 11 1

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do critérios internos ao trabalhoartesanal, a pesquisadora perce-be "um eixo de continuidade,embora com rupturas, através dotempo".

Por outro lado, ela tambémconstata que "do ponto de vistada inserção do artista e artesãona sociedade mais ampla, isto é,no que se refere à sua posiçãosocial e às relações externas quese estabelecem com o universoda oficina, as transformações fo-ram enormes e irreversíveis."

Se a questão levantada pelaautora permanece complexa, asaber "as relações entre o podercriador dos indivíduos e dos gru-pos e sua memória social", esselivro tem o mérito de expô-Iacom clareza, de fazer com que oleitor percorra indagações alhei-as com o prazer da descoberta,aviste diversos rumos de refle-xão, aprenda como palmilharnovos caminhos, siga com a au-tora esses "itinerários recons-truídos", onde texto e imagemcompletam-se, integrando-se demodo feliz.

Mãos de mestre nos convida arender uma justa homenagem àarte popular, à sua resistência evitalidade, à sua tradição e criação.

112 Revistode Ciências Sociais v.26 n.l/2 1995