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  • COMERCIALIZAO DE PRODUTOS AGRCOLAS

    Prof.Dr. Joo Batista Padilha Junior

    Curitiba - 2006

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    Sumrio

    Captulo I 01 1 O Estudo da Comercializao Agrcola.......................................................... 01 1.1 Introduo 01 1.2 A Evoluo dos Sistemas de Comercializao............................................ 03 1.3 Conceitos Bsicos em Comercializao 04 1.4 A importncia Econmica do Agronegcio Brasileiro.................................. 05 1.4.1 O agronegcio Brasileiro.. 06 1.5 A Comercializao e o Desenvolvimento Econmico.................................. 07 1.6 Objetivos Bsicos da Comercializao 08 1.7 O Dualismo Tecnolgico da Comercializao............................................. 09 1.8 A Comercializao nos Pases em Desenvolvimento.................................. 10 1.9 Caractersticas da Produo e do Mercado Agrcola.................................. 10 Captulo II............................................................................................................. 12 2 Mtodos de Anlise de Sistemas de Comercializao................................... 12 2.1 Anlise Funcional de Sistemas de Comercializao................................... 12 2.1.1 Funes de Troca 13 2.1.2 Funes Fsicas 13 2.1.2.1 Anlise Econmica do Transporte 13 2.1.2.2 Anlise Econmica do Armazenamento 22 2.1.2.3 A Anlise Econmica da Agroindstria Brasileira Processamento,

    Beneficiamento e Embalagem..............................................................

    28 2.1.3 Funes Auxiliares de Comercializao 32 2.2 Anlise Institucional de Sistemas de Comercializao................................ 41 2.2.1 A Integrao Vertical e Horizontal............................................................ 42 2.3 Anlise Estrutural de Sistemas de Comercializao................................... 44 2.3.1 Estrutura de Mercado 44 2.3.1.1 Grau de Concentrao de Mercado....................................................... 45 2.3.2 Conduta de Mercado 48 2.3.3 Eficincia de Mercado 49 2.3.4 A Organizao do Sistema de Comercializao....................................... 50 2.3.5 O Canal de Comercializao 50 2.3.5.1 Fatores que Afetam a Escolha do Canal de Comercializao............... 51 Captulo III............................................................................................................ 53 3 Custos, Margens e Markups de Comercializao.......................................... 53 3.1 Os Custos de Comercializao de Produtos Agropecurios....................... 53 3.2 Margem de Comercializao (M) 52 3.2.1 Margem Bruta de Comercializao (M).................................................... 54 3.2.2 Margem Total Liquida de Comercializao ............................................ 55 3.3 Markup de Comercializao (Mk)................................................................ 57 3.4 Mtodos de Composio das Margens de Comercializao....................... 58 3.5 Elasticidade Transmisso de Preos no Sistema de Comercializao....... 60 3.6 Fatores que Afetam as Margens de Comercializao................................. 63 3.7 Anlise Grfica das Margens de Comercializao...................................... 64 3.8 A Evoluo dos Gastos com a Comercializao no Tempo........................ 67

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    Captulo IV

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    4 Anlise de Preos Agropecurios 69 4.1 Caractersticas Bsicas dos Preos Agropecurios................................... 69 4.2 Algumas Questes Importantes na Comercializao Agropecuria............ 70 4.3 Funes dos Preos Agropecurios 71 4.4 Deflacionamento de Preos Agropecurios (Preos Reais versus Preos

    Nominais)................................................................................................

    71 4.4.1 A Formao de um ndice Relativo de Preos (IRP)................................ 72 4.4.2 Deflacionamento de Preos Agropecurios . 73 4.5 Anlise Grfica Comparativa entre Preos Nominais e Preos Reais........ 78 4.6 Anlise Temporal dos Preos Agropecurios.............................................. 82 Captulo V 91 5 Alternativas ou Estratgias de Comercializao............................................. 91 5.1 Alternativas ou Estratgias de Comercializao.......................................... 91 5.1.1 Venda Vista na poca da Colheita........................................................ 91 5.2 Contrato de Venda Antecipada da Produo.............................................. 92 5.2.1 Relaes Contratuais na Agropecuria.... 93 5.2.2 Fontes de Financiamentos da Agropecuria............................................ 93 5.2.3 Modalidades de Venda Antecipada 94 5.2.4 O Custo Financeiro da Venda Antecipada................................................ 95 5.3 Estocagem para Especulao 96 5.4 Formas de Negociao dos Estoques......................................................... 98 5.4.1 Venda com Preo Autorizado 99 5.4.2 Venda com Preo a Fixar ........................................................................ 99 5.4.2.1 Venda com Preo a Fixar com Particular ............................................. 99 5.4.2.2 Venda com Preo a Fixar atravs da Cooperativa ............................... 99 5.4.3 Venda em Comum ou Pooling................................................................ 99 5.4.4 Prmio para o Escoamento de Produto (PEP)......................................... 100 5.5 Hedege (Seguro de Preo).. 100 Captulo VI 102 6 Mercado de Futuros e Derivativos Agropecurios.......................................... 102 6.1 Introduo.................................................................................................... 102 6.2 Tipos de Mercados Agropecurios 102 6.3 A BM&F e os Mercados Futuros Agropecurios.......................................... 103 6.4 Contratos Futuros de Commodities Agropecurias .................................. 104 6.4.1 Conceito 104 6.4.2 Caractersticas dos Contratos Futuros 104 6.5 Objetivos para Negociar no Mercado Futuro 105 6.6 O Tamanho dos Contratos Futuros Agropecurios..................................... 105 6.7 O Vencimento dos Contratos Futuros Agropecurios................................. 106 6.8 Hedging Trava de preos futuros.............................................................. 106 6.8.1 Conceito. 106 6.8.2 Principais Tipos de Hedging 106 6.8.3 Hedge de Venda 106 6.8.3.1 A Transferncia de Contratos no Mercado de Futuros.......................... 108 6.8.4 Hedge de Compra 109

  • iv

    6.9 Custos Operacionais dos Contratos Futuros Agropecurios....................... 110 6.10 Formas de Liquidao dos Contratos Futuros.............................................

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    6.11 Opes em Mercados Futuros Agropecurios.......................................... 111 6.11.1 Seguro de Venda (Put)....... 112 6.11.2 Seguro de Compra (Call) 113 6.11.3 Contrato de Opo de Venda com o Governo Federal.......................... 114 6.11.4 Vantagens e Desvantagens das Opes................................................ 115 Captulo VII.. 117 7 Polticas de Suporte e de Estabilizao de Preo e Renda............................ 117 7.1 Poltica de Controle da Produo (Oferta) 117 7.2 Poltica de Estoques Reguladores. 118

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    Apresentao

    A produo agropecuria representa um empreendimento complexo onde os produtores enfrentam em todas as etapas do processo produtivo as cargas inerentes do risco e da incerteza. Esta falta de controle que a atividade apresenta proveniente da imprevisibilidade de certos fatores, tais como os ambientais e os de mercado, que afetam drasticamente os retornos esperados pelos produtores.

    Desta forma, observa-se que a agropecuria possui problemas dentro e fora da porteira da propriedade, mas , sem dvida, fora do alcance dos produtores rurais que ocorrem a maior parte dos problemas que afetam o resultado econmico-financeiro, com adversas conseqncias sociais.

    Entre estes aspectos depois da porteira, ou seja, no sistema de

    comercializao est o chamado Custo Brasil, que se caracteriza pela ineficincia de vrias funes fsicas ou no de comercializao, que encarecem os produtos e geram enormes perdas de competitividade. Dentre os principais entraves ou gargalos do sistema de comercializao cita-se: a ineficincia do transporte, a inadequao dos portos que operam com custos elevados, a falta de estradas e de capacidade esttica, a tributao excessiva (mais de 50 impostos e contribuies), as maiores taxas de juros do mundo e as barreiras e subsdios.

    Desta forma, no adiante ser extremamente eficiente dentro da propriedade

    rural, produzindo com alta produtividade e custos baixos se, ao se colocar a produo dentro de um sistema de comercializao, perde-se toda a vantagem comparativa e competitiva. justamente sobre isto que o presente trabalho procura enfocar, ou seja, analisar um sistema de comercializao. O Sistema de comercializao representa um papel fundamental dentro da economia ao proceder a ligao entre o setor produtivo e os consumidores finais. Este encaminhamento organizado da produo agropecuria permite que os consumidores finais obtenham os produtos com as caractersticas desejadas. Desta forma, entender o funcionamento deste sistema em um mercado competitivo e globalizado permite melhorar o processo de tomada de decises, alm de auxiliar a compreender os efeitos das variveis exgenas e endgenas sobre os mercados agropecurios.

    O presente trabalho composto por sete captulos que tem por objetivo

    conduzir os interessados ao entendimento sobre o funcionamento e organizao do sistema de comercializao de produtos agropecurios.

    O primeiro captulo apresenta os aspectos bsicos da comercializao e

    explica a necessidade de seu estudo. O captulo dois discute as trs principais alternativas de anlise dos sistemas

    de comercializao, ou seja, anlise funcional, anlise institucional e anlise estrutural.

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    O terceiro captulo trata da formao e transmisso dos custos nas diferentes estruturas de mercado dos sistemas de comercializao alm dos conceitos de margem, markup e elasticidade transmisso de preos, bem como sua aplicabilidade nos estudos de comercializao.

    O quarto captulo destaca as caractersticas bsicas dos preos

    agropecurios, bem como a formao e transmisso dos mesmos nos diferentes nveis dos sistemas de comercializao. Destaca tambm os conceitos de preo nominal, preo real (deflacionado), tendncia, sazonalidade, ciclo e aleatoriedade, alm de sua aplicabilidade nos estudos de comercializao.

    O quinto captulo analisa as principais alternativas de comercializao e suas

    combinaes (portflios), atualmente disponveis aos produtores rurais, alm dos conceitos envolvidos nas estratgias de comercializao.

    O sexto captulo aborda sobre os princpios bsicos de funcionamento do

    mercado de futuros agropecurios, alm dos principais ferramentais disponveis como o hedge e os contratos de opes.

    O ltimo captulo trata das polticas de suporte e de estabilizao de preo e

    de renda aos produtores rurais. Para finalizar, esperamos que o trabalho venha de encontro s reais

    necessidades dos profissionais de cincias agrrias, auxiliando-os a compreender o funcionamento e a estrutura de um sistema de comercializao, bem como servir de ferramental de tomada de deciso e de gerenciamento de risco no processo da comercializao agropecuria.

    Judas Tadeu Grassi Mendes1 Joo Batista Padilha Junior2

    Abril de 2006.

    1 Ph.D em Economia pela Ohio State University (1980), foi professor titular da UFPR (1975-1995), presidente do IPARDES (1983-84), diretor-superintendente da FUNDEPAR (1988-89) e Pr-Reitor Acadmico da UNIFAE.

    2 Engenheiro Agrnomo, M.Sc. em Economia Aplicada pela ESALQ/USP, Doutor em Economia e Poltica Florestal pela UFPR e Professor Adjunto do Departamento de Economia Rural e Extenso da UFPR para Graduao e Ps-Graduao. Foi o criador da Disciplina de Agronegcios na UFPR.

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  • CAPTULO I

    1 O Estudo da Comercializao Agrcola Justificativa

    O Sistema de comercializao agrcola representa um papel fundamental dentro da economia ao proceder a ligao entre o setor produtivo e os consumidores finais. Este encaminhamento organizado da produo agrcola permite que os consumidores finais obtenham os produtos com as caractersticas desejadas. Desta forma, entender o funcionamento deste sistema em um mercado competitivo e globalizado permite melhorar o processo de tomada de decises, alm de auxiliar a compreender os efeitos das variveis exgenas e endgenas sobre os mercados agropecurios.

    Torna-se fundamental, desta forma, tambm saber como ocorre a formao e

    a transmisso dos preos nas diferentes estruturas de mercado ao longo do sistema de comercializao e seus efeitos sobre a cadeia produtiva e os consumidores finais. Objetivos a) Permitir o entendimento sobre as caractersticas do setor agrcola e do encaminhamento da produo at os mercados terminais,

    b) Apresentar os conceitos bsicos necessrios ao entendimento e anlise dos sistemas de comercializao agrcolas,

    c) Entender como um sistema de comercializao organizado pode gerar o desenvolvimento econmico em regies agrcolas brasileiras.

    1.1 - Introduo

    A comercializao agrcola no consiste apenas na venda da produo em um determinado mercado. Ela mais do que isto, sendo caracterizada como um processo contnuo e organizado de encaminhamento da produo agrcola ao longo de um canal ou sistema de comercializao, onde o produto sofre transformaes, diferenciaes e agregaes de valor. As facilidades (utilidades) que os produtos agrcolas sofrem so de posse, forma, tempo e lugar, adequando-os, desta forma, ao gosto e preferncia dos consumidores finais.

    Entre as vrias situaes que levam gerao e a implementao de um sistema de comercializao agrcola esto os desajustes entre o crescimento da demanda (consumo) e o da produo (oferta), bem como o desequilbrio entre a produo para o mercado interno e o externo. Esta falta de resposta da produo ante uma demanda crescente pode ser devido a um conjunto de fatores tais como: a falta de incentivos econmicos, a escassez de recursos, as caractersticas estruturais (desajuste na estrutura de propriedade da terra), a estabilidade monetria e os sistemas de comercializao ineficientes.

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    O sistema de comercializao inclui desde a existncia de uma rodovia ou ferrovia, ao estabelecimento e funcionamento de um poder comprador, ou a instalao de uma planta agroindustrial ou de um centro de armazenamento.

    Este aspecto de extraordinria importncia e muitas vezes constitui um dos principais pontos para a expanso da produo nos pases subdesenvolvidos. Com efeito, pode existir demanda efetiva e condies de disponibilidade de recursos, tcnica e capacidade empresarial para fazer crescer a oferta com relao a essa demanda. Mas, geograficamente, o crescimento da demanda pode estar concentrado em um ponto (zonas urbanas) e o crescimento da oferta em outro (zonas rurais), freqentemente muito distanciadas dos centros de consumo, a sem as conexes fsicas e comerciais adequadas entre elas. E, nesta situao, a oferta no crescer, ainda que haja uma adequada relao preo-custo e no existam obstculos do tipo institucional para impossibilidade de comunicao.

    Este fato que vale, em geral, para todo tipo de produo, adquire uma extraordinria importncia na produo agrcola. Nesta, por exemplo, a demanda de certos produtos pode crescer menos que sua oferta e, alm disso, ainda que demanda e produo cresam igualmente nos mesmos perodos, a grande perecibilidade dos produtos agropecurios faz com que no possam ser enviados dos centros de produo aos centros de consumo se no h meios de transporte adequados e rpidos, ou se no os submete a certos processos de transformao que aumentam sua durabilidade.

    Isto explica o extraordinrio efeito dinmico e multiplicativo do processo de desenvolvimento que tem, para certas regies agrcolas, a construo de uma rodovia ou ferrovia, a instalao de um frigorfico ou de uma indstria de processamento de frutas ou a industrializao do leite.

    Em todos estes casos existiam condies de demanda efetiva e oferta latente, mas, faltava o meio adequado de comunicao entre elas. E, apenas este meio se instalando e comeando a funcionar, a oferta se desenvolve quase que automaticamente.

    Neste assunto vale a pena mencionar que no s a falta de meios fsicos de comunicao, industrializao ou razes de armazenamento que pode constituir um obstculo ao maior desenvolvimento da produo agropecuria. O funcionamento ineficiente do sistema de comercializao, ainda que existam os meios fsicos, pode atuar no mesmo sentido. Falta, por exemplo, de recursos econmicos suficientes, prprios ou obtidos em forma de crdito, do poder comprador, pode inibir o crescimento da produo, ainda que todas as demais condies favorveis sejam dadas. Da mesma forma, pode atuar um poder comprador do tipo monopsnico para o mercado interno ou a exportao que pretenda deprimir os preos que obtm os produtos em seu prprio benefcio, ou um poder comprador que no consiga regular os preos de modo a evitar as excessivas Autuaes destes, dando assim, insegurana aos produtores.

    No caso do Brasil, apesar de toda a importncia e evoluo do agronegcio

    (que cresce a taxas superiores a da expanso do PIB), observa-se ainda uma srie de problemas (gargalos) que impedem o amplo crescimento do setor (Custo Brasil).

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    Desta forma, a ampliao e a melhoria dos sistemas de comercializao representam a maneira mais eficiente e rpida de aumentar o crescimento da economia e a participao competitiva do Brasil no mundo globalizado. 1.2 - A Evoluo dos Sistemas de Comercializao

    A anlise histrica do desenvolvimento das atividades de comercializao auxilia explicar alguns conceitos e instituies contemporneas, principalmente no caso especfico do Brasil, onde segmentos ainda muito primitivos se mantm ao lado de setores ultra modernos. Historicamente, a comercializao apresentou seis estgios: a) Auto-suficincia (econmica dentro do grupo). b) Produo de excedente para o mercado local (era medieval). c) Produo de excedente para o mercado externo (era mercantilista) d) Melhoria na produo da utilidade de forma (revoluo industrial). e) Empresariado voltado para o setor de consumo. f) Empresariado voltado para o "marketing".

    A evoluo do processo de comercializao tambm pode ser observada em quatro estgios distintos: a) Auto-suficincia b) Organizao agrria c) Organizao Agrcola d) Organizao Industrial

    No primeiro estgio, mesmo os mais elementares tipos de mercado eram inexistentes. A auto-suficincia era obtida dentro do grupo social atravs das trocas ou escambo. A comercializao propriamente dita no existia.

    A caracterstica dos trs primeiros estgios que os recursos produtivos e a demanda eram variveis puramente exgenas, onde a mercado no funcionava como coordenador das atividades de produo.

    Conforme Coelho (1979), a natureza exgena da produo e da demanda juntamente com a doutrina de uma economia auto-regulada veio a perder substncia no ltimo estgio de evoluo do sistema de comercializao. Neste estgio, o advento de unidades econmicas integradas e o uso intensivo de capital vieram reduzir, substancialmente, no somente o papel do mercado como regulador da economia, mas, tambm, a "separao" anteriormente existente entre produo e demanda. Particularmente, as empresas passaram a ter maior poder de deciso e o sistema econmico como um todo passou a depender mais do esquema de comercializao. A utilizao de meios para influenciar o comportamento do mercado gradativamente transformou a comercializao de um papel meramente passivo, de subordinao completa s foras de oferta e demanda, em uma fora operacional e dinmica com muito mais instrumentos e reas de ao, traduzidos em maior poder.

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    A utilizao de recursos, tecnologia, planejamento e o papel crescente do setor pblico so as caractersticas bsicas da organizao industrial.

    Neste ltimo estgio, duas atividades tm sido largamente desenvolvidas. A primeira o uso intensivo de capital e tecnologia visando transformao dos recursos disponveis e faz-los capazes de usos altamente variados. A segunda envolve o uso de tcnicas de persuaso para criar ou modificar a escala de preferncias dos consumidores, a fim de induzidos a desejar o que seja mais factvel de ser produzido.

    Uma outra caracterstica deste estgio a tendncia das empresas tornarem-se de maior tamanho e mais integradas, ou seja, na direo da integrao horizontal e vertical. Est-se passando, portanto, de um sistema composto por firmas independentes orientadas para o mercado.

    Em concluso, constata-se que o incio da comercializao comeou com a

    gerao de excedente de produo, fruto em parte da especializao e em parte da tecnologia. Um outro aspecto da especializao o conseqente crescimento das reas urbanas, que por seu turno iro aumentar a demanda por alimentos. Da, a tendncia de se ter uma maior separao geogrfica entre a produo e o consumo, o que implica no aumento da importncia e o desenvolvimento da comercializao. 1.3 Conceitos Bsicos em Comercializao a) Comercializao

    Entende-se por comercializao o desempenho de todas as atividades necessrias ao atendimento das necessidades e desejos dos mercados, planejando a disponibilidade da produo, efetuando transferncia de propriedade de produtos, provendo meios para a sua distribuio fsica e facilitando a operao de todo o processo de mercado".

    Em outras palavras, o desempenho de todas as funes ou atividades envolvidas na transferncia de bens e servios do produtor ao consumidor final. Para que os bens e servios reflitam a preferncia do consumidor, a comercializao comea antes da produo. Dessa maneira, a termo "transferncia" no significa apenas transporte, mas todas as demais operaes fsicas envolvidas desde a aquisio dos insumos para a produo at o produto chegar a gndola do mercado.

    A comercializao, por se tratar de processo de produo de utilidades

    (facilidades) pode ser analisada via a utilizao dos ferramentais fornecidos pela economia.

    b) Mercado

    Refere-se a uma rea geogrfica na qual compradores e vendedores tem as facilidades para negociar um com o outro os termos de mercado (preo e quantidade) e onde as foras de oferta e demanda atuam de modo a determinar o equilbrio. O tamanho desta rea limitado pelo sistema de comunicao, transporte e caractersticas do produto (figura 1.1). Alm disto, a que se lembrar que os vrios

  • 5

    setores da economia sofrem uma constante interao (cadeias produtivas), e que os mesmos so mutuamente dependentes dentro da viso do agronegcio, no qual o sistema de comercializao um elo fundamental.

    Assim, os pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg, j em 1957, enunciaram o conceito de agronegcios, fundamental no estudo da comercializao agrcola.

    Figura 1.1 O mercado de um produto agrcola selecionado (arroz).

    c) Agronegcios

    Agronegcio vem a ser "a soma total das operaes de produo e distribuio de suprimentos agrcolas, das operaes de produo nas unidades agrcolas, do armazenamento, processamento e distribuio dos produtos agrcolas e itens produzidos a partir deles".

    Segundo esses autores, a agricultura j no poderia ser abordada de maneira

    indissociada dos outros agentes responsveis por todas as atividades que garantiriam a produo, transformao, distribuio e consumo de alimentos. Eles consideravam as atividades agrcolas como fazendo parte de uma extensa rede de agentes econmicos que ia desde a produo de insumos, transformao industrial at armazenagem e distribuio de produtos agrcolas e derivados. 1.4 - A importncia Econmica do Agronegcio Brasileiro

    Atualmente, o agronegcio o maior negcio da economia brasileira e mundial. O aspecto importante a destacar o que parcela substancial do valor global gerado ao longo das cadeias de produo agro-industriais no ocorre dentro da porteira, mas sim fora dela, e em especial na fase de processamento e distribuio (sistema de comercializao).

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    Segundo o Banco Mundial (2006), o mundo em 2005 tinha um PIB total de US$ 55,6 trilhes e o agronegcio representava 22%, ou seja, US$ 12,2 trilhes, sendo classificado como o maior negcio do mundo, superando o petrleo, as telecomunicaes e a energia.

    A projeo de crescimento do setor para os prximos 20 anos segundo a

    Harvard Business School de 1,5% a.a., chegando em 2025 a US$ 16,5 trilhes. Uma anlise da cadeia revela que o segmento que vai mais crescer nos

    prximos anos o depois da porteira, que se duplicar, passando de US$ 5,0 trilhes para US$ 10,0 trilhes, sinalizando com isto que as maiores oportunidades de negcios estaro neste segmento.

    Algumas mudanas de comportamento do ser humano colaboram para que

    isto ocorresse. Dentre elas, citamos:

    a) O fato de a mulher estar ocupando cada vez mais o espao no mercado de trabalho faz com que haja um maior crescimento na demanda de alimentos mais elaborados e que tragam maior convenincia;

    b) O homem, cada vez mais far suas refeies fora de casa. Em 1950, 12% das refeies das famlias americanas eram feitas fora de casa; no ano 2000, este ndice chegou a 50% no mundo todo.

    H no agronegcio mundial um grande processo de concentrao em que

    grandes conglomerados multinacionais expandem suas aes e aumentam sua participao no mercado.

    H tambm uma tendncia ao aumento das fuses, aquisies e

    incorporaes, principalmente entre megaempresas de capital aberto. Com capitais bastante pulverizados, essas empresas recorrem s fuses em face da reduo de custos fixos, aumento de participao no mercado e crescimento de rentabilidade por ao, alm de atingirem a economia de escala e escopo.

    1.4.1 O agronegcio Brasileiro

    A exemplo de outros pases, no Brasil, o agronegcio compreende o

    segmento de alimentos, fibras e energia renovvel. No caso do Brasil, em 2004, o agronegcio foi responsvel por: a) Mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional (R$ 1,76 trilho valor mdio dos ltimos quatro trimestres segundo o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), ou seja, R$ 534 bilhes (de acordo com a Sociedade Rural Brasileira);

    b) 42% da receita gerada com a exportao do Brasil, ou seja, US$ 40,8 bilhes durante o ano de 2004, segundo o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA (2004);

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    c) 37% da mo-de-obra ou total de empregos no pas (34,3 milhes de pessoas), sabendo que a PEA (Populao Economicamente Ativa IBGE/2004) de aproximadamente de 92,8 milhes de pessoas;

    d) 46% dos gastos ou do consumo das famlias brasileiras e

    e) Utilizao de mais de 50% da frota nacional de caminhes.

    Hoje, o valor estimado do agronegcio nacional est ao redor de US$ 150

    bilhes (valor mdio dos ltimos quatro trimestres segundo o IBGE) A contribuio de cada setor ou segmento pode ser observada na tabela 1

    abaixo, segundo a evoluo entre 1993 e 2003. Tabela 1 Estimativa do Valor do Agronegcio Brasileiro, 1994-2004, em R$

    milhes de 2004.

    Valor em bilhes de R$ Da Produo Adicionado

    Participao (%) no valor adicionado

    Setores 1994 2000 2004 1994 2000 2004 1994 2000 2004

    Insumos 19,9 25,2 35,3 19,9 25,2 35,3 8,9 9,9 11,2 Agropecuria 141,0 148,9 195,9 121,1 123,7 160,6 23,9 23,8 25,4 Processamento 285,1 295,0 361,7 144,1 146,1 165,8 33,6 33,1 31,1 Distribuio 429,0 441,5 534,0 143,9 146,5 172,3 33,6 33,2 32,3 Total - - - 429,0 441,5 534,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: CEPEA-USP/CNA (2005). O agronegcio o setor chave de insero do Brasil no comercio mundial. Entre todos os setores da economia mundial, a agropecuria o mais aberto e competitivo do cenrio internacional. A parcela de mercado detida pelo Brasil no mercado mundial de alimentos e fibras permanece artificialmente baixa e s no maior por causa de um conjunto de restries externas e internas. 1.5 - A Comercializao e o Desenvolvimento Econmico Em geral, so objetivos do desenvolvimento: a) Aumento na taxa de crescimento do produto interno per capita (PIB);

    b) Pleno emprego da fora de trabalho ou pelo menos uma taxa de desemprego aceitvel;

    c) Maior igualdade na distribuio da renda.

    O processo de desenvolvimento implica na transformao das economias

    rurais ou baseadas na agropecuria para aquelas mais evoludas e baseadas na industrializao do produto. Conforme Coelho (1979), o desenvolvimento do sistema de comercializao de produtos agrcolas est estreitamente relacionado com o desenvolvimento global da economia. Na medida em que o processa de desenvolvimento se amplia, a crescente concentrao populacional em reas urbanas, aliada aos aumentos reais na renda "per capita" geram dois fatores fundamentais. O primeiro, naturalmente, diz respeito dependncia cada vez mais

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    acentuada da sociedade como um todo no esquema da comercializao. O segundo refere-se a mudana na composio e organizao das atividades comerciais agrcolas, usualmente traduzidas na forma de um maior grau de especializao e eficincia". Portanto, h evidncias de que com o desenvolvimento econmico aumenta: a) A especializao da mo-de-obra; b) A adoo de novas tecnologias; c) A separao geogrfica entre produo e consumo; d) A renda per capita. Isto, em conseqncia, provoca uma maior demanda dos servios da

    comercializao, tomando-os mais complexos. A comercializao pode desempenhar papel ativo no desenvolvimento atravs de:

    a) Preos baixos de alimentos; b) Possibilidades de baixos salrios nominais no setor no agrcola (mas altos salrios reais);

    c) Promoo da expanso da demanda de produtos agrcolas (Exemplo: soja); d) Estmulo a criao de empregos; e) Promoo da produo e a distribuio de alimentos que melhor reflitam a preferncia do consumidor;

    f) Incremento do nvel de renda agrcola. Para Rostow (1961) para haver desenvolvimento econmico so necessrias

    duas condies bsicas: a) Crescimento equilibrado entre os setores urbano e rural; b) Integrao do mercado nacional, cujo papel o aumento da produtividade agrcola e melhoria na comercializao agrcola atravs de maior eficincia e inovao tecnolgica.

    Por outro lado, Rostow (1961) enfatiza trs condies importantes para

    assegurar uma demanda de mercado que oferea os incentivos necessrios produo: a) Preos razoavelmente estveis para os produtos agrcolas, a um nvel compensador;

    b) Facilidades adequadas no mercado; c) Sistema satisfatrio de posse da terra. 1.6 Objetivos Bsicos da Comercializao

    A comercializao deve facilitar a responder os problemas econmicos o que" e "quanto" produzir, "quando", "como" e "onde" distribuir os produtos, e sob que "forma". Em outras palavras, isto significa:

  • 9

    a) ORIENTAR A PRODUO, ou seja, transmitir aos produtores sobre uma demanda existente. b) ORIENTAR O CONSUMO, atravs da promoo, visando aumentar a demanda (exemplo: soja na alimentao humana). c) PRODUAO DA UTILIDADE (Facilidade) c.1) De posse, atravs das trocas. c.2) De lugar, atravs do transporte, colocar as mercadorias no local adequado para

    os consumidores. c.3) De tempo, atravs do armazenamento, dispor da produo no momento certo. c.4) De forma, atravs de processamento, beneficiamento e embalagem, os

    produtos podem sofrer alteraes visando atender s necessidades humanas. Conquanto existam muitos objetivos sociais e econmicos para os quais o

    sistema de comercializao possa contribuir, as metas fundamentais e diretas do sistema parecem ser duas: a) Adotar os servios de transferncia de mercadorias do produtor ao consumidor; de qualidade eficientes e econmicas;

    b) Prover de um mecanismo eficiente a determinao de preos. 1.7 O Dualismo Tecnolgico da Comercializao

    Alguns produtos no Brasil apresentam uma acentuada diferenciao em termos tecnolgicos, em nvel de produo, quando comparados com o processo de outras culturas. Esta diferenciao, na produo se segmenta no nvel de comercializao. A soja e o feijo so bons exemplos. A soja, um produto mais voltado para o mercado externo, relativamente ao feijo, apresenta as seguintes caractersticas: a) Utilizao mais intensiva de insumos modernos; b) Maior grau de mecanizao; c) Maior facilidade acesso ao crdito; d) Maior volume de produo por propriedade; e) Maior organizao dos produtores; f) Demanda relativamente mais elstica a preos.

    Estes fatores, em conjunto, possibilitam que, ao nvel da comercializao, as vendas da soja ocorram em grandes lotes, com menor nmero de intermedirios que se utilizam de economias de escala, permitindo em conseqncia mais eficincia e menor margem de comercializao. J o feijo, (cultura produzida por pequenos produtores com baixa tecnologia, e

    com elevada parcela da produo destinada ao autoconsumo) comercializado em pequenos lotes por um grande nmero de intermedirios, mais ineficientes e com maior margem de comercializao.

  • 10

    Estas caractersticas devem ser levadas em considerao, tendo em vista que elas esto relacionadas com a estrutura do mercado. 1.8 - A Comercializao nos Pases em Desenvolvimento

    H uma crena nos pases em desenvolvimento de que os seus sistemas de comercializao so explorativos, economicamente ineficientes e operam com elevadas margens de lucro. s vezes, o sistema comercializao, em pases de baixa renda, no so competitivos, fazendo com que as disparidades de preos regionais temporais sejam resultados de elementos monopolsticos e especulativos. Contudo, normalmente o nmero de intermedirias muito grande para permitir o monopsnico, e ento as diferenas acentuadas de preos so devidas: a) falta de transporte adequado, b) interveno governamental na movimentao do produto (exemplo: ICMS). Os lucros exagerados, nestes pases, so devidos aos seguintes fatores: baixos

    volumes de operao (no utilizao das vantagens de economia de escala), especulao, e habilidade para julgar a tendncia de mercado, estoques e estimativa do volume da nova colheita. Em vista disso, levantam-se hipteses tais como: a) As imperfeies, nos pases de baixa renda resultam da falta de conhecimento e condies inadequadas de transporte e armazenagem;

    b) Os problemas de transporte fazem com que os produtos perecveis sejam produzidos prximos ao centro consumidor;

    c) As perdas de estocagem, nos climas tropicais, so grandes. Dessa forma, as melhorias nas condies da comercializao contribuem para: a) Um melhor uso da produo; b) Aumentar a produo pela reduo do custo de comercializao, o que possibilitaria melhor preo para os produtos;

    c) Aumentar o valor econmico do produto devido ao melhor desempenho na criao de utilidades;

    d) Expandir a rea de mercado (exemplo: a utilizao de caminhes frigorficos). Para Rostow (1961), um setor rural moderno, adicionado de um sistema de

    comercializao eficiente, constitui a base essencial da industrializao e diversificao de uma economia. 1.9 Caractersticas da produo e do Mercado Agrcola

    Tanto ao nvel de produo como de mercado, os produtos agrcolas possuem caractersticas prprias que os diferenciam dos produtos industriais. Tais caractersticas so: a) Dificuldade de controlar a produo devido ao grande nmero de produtores; b) Dificuldade de prever a volume de produo por causa dos fatores incontrolveis (clima, pragas, doenas);

  • 11

    c) Produo sazonal, cujas reflexos so negativos sobre o transporte, armazenamento e processamento;

    d) Produtos volumosos e perecveis (maior custo de estocagem e transporte); e) lnelasticidade-preo da demanda, resultando em maiores variaes nos preos do produto;

    f) lnelasticidade-renda dos produtos agrcolas.

    Com relao a esta caracterstica afirma Feldens (1980) nos pases de renda mais alta a elasticidade-renda relativamente baixa, entre 0,01 e 0,02. Isto significa que o crescimento da demanda de produtos agrcolas depende mais do crescimento da populao do que do aumento da renda da mesma. Em pases de renda mais baixa, a situao um pouco diferente. A elasticidade-renda para produtos agrcolas relativamente mais alta, variando entre 0,30 e 0,50. Mesmo assim, havendo um aumento na renda da populao em 10%, o aumento no consumo de alimentos seria em torno de 3,0% a 5,0%. No caso de acorrer um aumento da renda, conjugado com um aumento da populao, sem um aumento substancial na oferta interna de produtos agrcolas, ocorrer um aumento nos preos ou o racionamento de produtos agrcolas. Referncias Barros, G.S.C. de Economia da Comercializao Agrcola. Piracicaba, FEALQ, 1987. 306 p. il.

    Coelho (1979), C.N.A. Organizao do Sistema de Comercializao e Desenvolvimento Econmico. Braslia, CFP, 1979.

    Feldens, A. M. Comercializao dos Produtos Agrcolas, UFRGS, Brasil. 1980. Marques, P.V. Comercializao de Produtos Agrcolas. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1993.

    Rostow, W.W.; Stages of Economic Growth. Cambridge: CAMBRIDGE UNIVERSITY, 1961. 171p.

    Exerccios de Fixao 1) Analisando um produto agropecurio a sua escolha, identifique os diferentes nveis do sistema de comercializao entre o produtor rural e o consumidor final. Verifique a ocorrncia das funes de comercializao (trocas, tempo, lugar e forma) medida que o produto caminha ao longo do canal de comercializao.

    2) Por que as mudanas de gosto e preferncia dos consumidores que exigem produtos mais elaborados contribuem para a elaborao de relaes contratuais entre os agentes do agronegcio?

    3) Explique o efeito que a distribuio de renda pode exercer sobre o sistema de comercializao em termos de tipos de empresas, hbitos de consumo e qualidade sobre o que consumido.

  • 12

    CAPTULO II 2 Mtodos de Anlise de Sistemas de Comercializao Justificativa

    A comercializao agrcola um processo dinmico e bastante complexo, desta forma, para o seu entendimento e anlise, devemos decomp-lo em nveis de estudo diferentes. Nesta seo so abordadas as trs principais alternativas de anlise dos sistemas de comercializao, ou seja, anlise funcional, anlise institucional e anlise estrutural. Objetivos a) Permitir o entendimento dos principais mtodos disponveis para a anlise de sistemas de comercializao

    b) Apresentar o atual estado de arte do sistema de comercializao agropecurio brasileiro frente aos principais mtodos de anlise apresentados,

    c) Entender como os mtodos de anlise existentes podem facilitar o processo de tomada de decises no sistema de comercializao.

    2.1 Anlise Funcional de Sistemas de Comercializao

    Uma alternativa de classificar as atividades que ocorrem no processo de comercializao dividir esses processas em FUNES. Uma funo de comercializao definida como uma atividade especializada, desempenhada por instituies especializadas durante as diversas fases da comercializao. Portanto, a anlise funcional a estudo das diversas funes ou servios que so executadas sobre os produtos agropecurios durante o processo de comercializao.

    As funes de comercializao so atividades que, como tem que ser realizadas, devem ser simplificadas, mas, jamais eliminadas. A anlise das funes de comercializao til para: a) Avaliar os custos de comercializao dos intermedirios;

    b) Comparar os custos dentro de uma mesma categoria de intermedirios;

    c) Entender a diferena nos custos de comercializao entre os produtos.

    Nesta anlise, o processo executado dentro do sistema de comercializao

    decomposto nas principais funes executadas, que sero analisadas a seguir. Estas funes podem ser classificadas do seguinte modo:

  • 13

    2.1.1 Funes de Troca

    As funes de troca envolvem a transferncia da posse dos produtos agropecurios, que ocorrem por meio das operaes de compra e venda, da qual resulta a formao de preos e de um mercado pontual em certo estgio do sistema de comercializao. Resumidamente temos ento: a) Compra b) Venda c) Formao de preos

    Estas funes envolvem a transferncia de propriedade dos bens, criando a utilidade de posse e fazendo com que os produtos agropecurios caminhem das propriedades rurais at os consumidores finais. 2.1.2 Funes Fsicas As funes fsicas de comercializao tratam do manuseio e da movimentao dos produtos agropecurios ao longo do sistema de comercializao, gerando com isto algum grau de utilidade (facilidade), como a de tempo (armazenagem), a de lugar (transporte) e a de forma (processamento). Estas funes tentam resolver os clssicos problemas econmicos de "quando" e onde" comercializar, e "sob que forma" ("in natura", industrializado). Dentre as principais funes fsicas de comercializao, destaca-se:

    a) Transporte b) Armazenamento ou Armazenagem c) Agro-industrializao - Processamento, Beneficiamento e Embalagem.

    2.1.2.1 Anlise Econmica do Transporte a) Aspectos Gerais do Transporte no Brasil

    Dentro do agronegcio brasileiro, o encaminhamento da produo agropecuria desde as mais longnquas propriedades rurais at o consumidor final proporcionado pelo transporte, gerando com isto a chamada utilidade de lugar. Assim, a funo de transporte de fatores de produo ou de produtos cria a possibilidade de que estes bens do agronegcio estejam disponveis no local, no tempo e na quantidade desejada pelos consumidores, ficando clara a sua importncia diante da crescente separao geogrfica entre a produo e o consumo que o desenvolvimento econmico, a globalizao e outros fatores vm causando no Brasil j h algum tempo.

    O transporte, neste aspecto, envolve a escolha de um conjunto de modais

    (tipos de transporte) e de diferentes rotas que buscam facilitar toda a logstica de comercializao bem como a reduo de custos para tornar o produto competitivo.

    No Brasil, a pouca eficincia nos sistemas de transporte de cargas tem levado

    o agronegcio nacional a se deparar com muitas dificuldades no que tange a produzir de forma competitiva, tanto para o mercado interno quanto para o externo,

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    devido inadequao das estruturas de transporte e logstica. Este fato pode ser observado, de forma dramtica no Paran, toda vez que, com a ampliao da produo de gros (milho e soja) observa-se congestionamentos em Paranagu e problemas em muitas Cooperativas e Indstrias do estado que no estavam preparadas ou programadas para receber este volume maior de produo.

    Segundo o GEIPOT (2000), cerca de 60 % do transporte de cargas do

    agronegcio brasileiro realizado pelo modal rodovirio em aproximadamente 1,7 milho de veculos, restando 20% do volume de cargas para o transporte ferrovirio, 15% para o hidrovirio e apenas 5% para o dutovirio e areo conforme pode ser observado na tabela 2.1.

    Tabela 2.1 Evoluo e participao percentual (%) no transporte de cargas do

    agronegcio brasileiro por modal de transporte, 1978-2000.

    Composio Relativa (%) Modal

    1978 1988 1998 2000 Rodovirio 70,3 57,6 62,6 60,5 Ferrovirio 16,3 22,0 20,0 20,9 Aquavirio 10,1 16,0 12,7 13,9 Dutovirio 2,8 4,0 4,4 4,5 Areo 0,5 0,4 0,3 0,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: GEIPOT, 2000.

    Figura 2.1 Relao entre a distncia (km) e o custo total para o usurio do transporte nas modalidades rodoviria, ferroviria e martima.

    Este fenmeno decorrncia primeiramente do custo total para o usurio das

    diferentes modalidades de transporte. A Figura 2.1 mostra a relao entre o custo

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    total e a distncia em quilmetros nas modalidades rodoviria, ferroviria e de navegao martima. b) O Modal Rodovirio

    Os dados revelam que a transporte rodovirio economicamente indicado

    para distncias at 500 km em relao ao ferrovirio, e at 1.000 km em relao ao de cabotagem. Estes valores, evidentemente, variam de acordo com a classe de produtos e com os custos dos fatores necessrios aos transportes bastando citar a influncia causada por alteraes nos preos dos combustveis.

    Apesar da distncia econmica universal do transporte rodovirio ser de aproximadamente 500 quilmetros, muitos produtos agrcolas percorrem distncias bastante superiores a esta como o caso do farelo de soja (555,0 km), da soja em gro (756,0 km), do trigo (851,0 km), do milho (1.603,0 km) e do arroz (1.653,0 km), gerando com isto a chamada perda de competitividade e agravamento do Custo Brasil.

    Alm deste grande passeio que os produtos agrcolas sofrem, deve-se lembrar do impacto que o custo do transporte acaba gerando no valor do produto. Para o milho, cerca de 22% do preo reflete o valor do frete, enquanto que para a soja este valor de 16%, para o trigo 15% e para o caf apenas 2% em mdia.

    Nos EUA, Europa e em outros pases desenvolvidos, o volume transportado pelo modal rodovirio no ultrapassa 25% do volume total de cargas o que gera as j conhecidas vantagens destes pases frente ao Brasil.

    Atualmente, um dos grandes gargalos para o agronegcio nacional vem a ser

    a infra-estrutura de transportes. Em 1999, o volume total transportado de cargas em toneladas-quilmetro pelos 5 principais modais de transporte utilizados pelo Brasil alcanou o volume de 723,6 bilhes de toneladas-quilmetro.

    A chamada malha rodoviria brasileira, de acordo com o GEIPOT (2000), que

    inclui estradas federais, estaduais e municipais dispe de 1,73 milho de quilmetros onde apenas 9,5 % (164,2 mil quilmetros) so pavimentados. A distribuio desta malha viria pode ser considerada regular com grande concentrao na Regio Sudeste (29,7%), Regio Sul (27,6%) e Regio Nordeste (23,5%), transportando em 1999 aproximadamente 447,4 bilhes de toneladas-quilmetro. Os EUA, em termos comparativos, possuem 6,2 milhes de quilmetros de estradas (3,6 vezes mais do que o Brasil) apesar do seu principal modal de transporte ser o hidrovirio.

    Afora o aspecto das taxas (apresenta tarifas mais baixas que as cobradas

    pelas ferrovias para cargas pequenas e/ou curtas distncias), o transporte rodovirio preferido ao trem por que: a) permite "entrega na porta"; b) tem maior rapidez na entrega; c) possibilita maior flexibilidade de rotas, d) submete as mercadorias a menos choques e a menor manuseio, permitindo o uso de embalagens mais simples, mais leves e mais baratas, e constituindo-se no meio de transporte indicado para as mercadorias mais susceptveis de avarias.

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    c) O Modal Ferrovirio

    As ferrovias brasileiras, figura 2.2, que comearam a ser construdas em meados do sculo XIX, possuem 30.223 quilmetros. A maioria pertencia Rede Ferroviria Federal S. A. (22.069 quilmetros), a segunda maior expanso pertencia ao Estado de So Paulo (5,42 mil quilmetros). Minas Gerais tem 5,33 mil quilmetros de ferrovias, seguida pelo Rio Grande do Sul (3,13 mil quilmetros) e Paran (2,30 mil quilmetros).

    A partir de 1996 as ferrovias comearam a ser privatizadas, tendo o processo

    sido praticamente concludo em 1997. Falta apenas privatizar a ferrovia Norte-Sul, que ligar a regio Norte ao Centro do Pas. Os EUA, neste sentido, possuem cerca de 309 mil quilmetros de estradas de ferro (11 vezes mais do que o Brasil) e transportam em mdia 1,5 trilho de toneladas-quilmetro ao ano.

    Figura 2.2 Principais Ferrovias Brasileiras, 2005.

    A maior parte dos trens movido a diesel e apenas 1.916 quilmetros de linhas so eletrificadas. Dos mais de 30 mil quilmetros de ferrovias brasileiras,

  • 17

    24.700 foram construdos em bitola de 1,00 metro. Para os restantes 5.290 quilmetros predomina a bitola de 1,60 metro. Essa diferena no impede, mas dificulta o trfego integrado entre os diferentes trechos ferrovirios.

    No conjunto do transporte no Pas, significativa a quantidade de carga

    transportada pelas ferrovias (21% do total de cargas do Brasil). As ferrovias da Companhia Vale do Rio Doce foram responsveis por pouco mais da metade deste total. A principal mercadoria transportada o minrio de ferro - 150 milhes de toneladas -, seguida por derivados de petrleo, gros e produtos siderrgicos.

    Em que pese a enorme heterogeneidade do sistema ferrovirio brasileiro, com

    ferrovias modernas e produtivas convivendo ao lado de outras deficitrias, o sistema registra bom desempenho, com elevados ndices de produtividade, quando comparado ao dos pases com economias semelhantes nossa.

    Depois de anos de letargia, o Pas comea a pensar novamente em estradas

    de ferro. A expectativa de que os prximos anos registraro intensa atividade no setor ferrovirio, colocando-o numa posio de destaque entre os transportes brasileiros.

    d) O Modal Hidrovirio

    Cerca de 13,9% do movimento de transporte hidrovirio de cargas registrado no Brasil, divide-se entre os modais fluvial e martimo. Existem 44 portos no territrio nacional sendo 6 na regio norte, 13 na nordeste, 13 na sudeste, 10 na sul e 2 na centro-oeste. De acordo com dados do Ministrio da Marinha, existem no setor 62 mil trabalhadores.

    Em 1998, os portos martimos brasileiros movimentaram 443 milhes de toneladas (crescimento de 1,7% no ano), com receita de US$ 5,7 bilhes com frete. Atualmente h uma frota registrada de 172 navios, sendo 121 de cabotagem (que fazem a navegao entre portos brasileiros) e 51 navios de longo curso, que realizam viagens internacionais. A carga movimentada entre portos brasileiros foi de 44,5 milhes de toneladas e os principais portos so Santos (29% do total), Praia Mole - Esprito Santo (12,9%) e o do Rio de Janeiro (8,3%).

    Segundo o Departamento de Hidrovias Interiores, cerca de 17 milhes de toneladas foram transportadas atravs de navegao fluvial (2,7% do movimento total de cargas do pas). Nos anos 90, o transporte hidrovirio passa a ser utilizado em maior escala no Brasil, como forma de baratear o preo final de produtos, principalmente os de exportao, tornando-os mais competitivos. O custo por quilmetro duas vezes menor que o da ferrovia e cinco vezes mais baixo que o da rodovia.

    Os investimentos para transformao de um rio em hidrovia, porm, so muito altos. So necessrias algumas obras de engenharia para permitir ou ampliar sua navegabilidade, como a dragagem (retirada de terra do fundo dos rios de modo a deix-lo operacional a navios e barcos de maior porte e calado), dentre outras.

  • 18

    Na regio norte, onde as condies naturais so mais favorveis e existe uma maior carncia para a locomoo entre os municpios, o transporte fluvial tem grande importncia. A bacia do Amazonas, por exemplo, a responsvel pela maior parte do movimento de passageiros.

    As principais hidrovias brasileiras so: Hidrovia do Madeira, ligando Porto velho (RO) at Itacoatiara-AM (1.056 km de extenso e por onde circula a maior parte da produo de gros e minrios da regio), Hidrovia do So Francisco, ligando Pirapora-MG a Juazeiro-BA (1.371 km, que transporta 170 mil toneladas anuais de cargas), a Hidrovia Tocantins-Araguaia que conta com 2.250 km de rios navegveis (580km no Rio das Mortes, 1.230 km no Rio Araguaia e 440 km no Rio Tocantins) e a Hidrovia Tiet-Paran, que a maior em extenso e volume - ligando Conchas-SP a So Simo-SP (2.400km e 5,7 milhes de toneladas de cargas transportadas). Em fase de implantao est a Hidrovia Paraguai-Paran. No trecho em funcionamento, que liga Corumb-MS at Porto de Nueva Palmira - Uruguai, a soja o principal produto transportado.

    e) Concluso sobre os Modais de Transporte

    Como resultado do quadro analisado acima, o agronegcio nacional paga o custo mais elevado do mundo para o escoamento das safras e dos produtos agroindustriais. Segundo a ABAG (2000), so US$ 400 milhes ao ano na espera de caminhes, US$ 200 milhes na espera de vages, US$ 250 milhes na espera de navios, que, quando adicionados a outras ineficincias (Custo Brasil) perfazem cerca de US$ 2,0 bilhes ao ano em mdia.

    Os problemas de movimentao de safras tendem a crescer ano aps ano,

    exigindo planejamento e investimentos de infra-estrutura.

    A falta de transportes responsvel por altos custos comercializao e pela predominncia de uma agricultura de subsistncia.

    Finalmente, constata-se acentuada deficincia de veculos refrigerados para transporte de produtos perecveis. Este fato, entre outras razes, decorre do custo destas unidades, de dificuldades na distribuio e da necessidade de boas ligaes rodovirias e ferrovirias. f) O Aspecto Econmico do Comrcio entre Duas Regies Para que haja comrcio entre duas regies h necessidade de que se respeitem

    duas condies bsicas, conforme pode ser observado na figura 2.3: a) Diferenciao nos custos de produo, de modo que uma regio tenha vantagem comparativa em relao outra.

    b) As diferenas de preos entre ambas as regies pelo menos cobrirem os custos de transporte.

  • 19

    P0 o preo que vigoraria na regio exportadora se toda a sua produo fosse consumada localmente. Qualquer preo acima de P0 gera um excesso de oferta (Es). P0 o preo que vigoraria na regio importadora se o seu consumo fosse atendido apenas pela produo local. Qualquer preo abaixo de P0 gera um excedente de demanda (ED).

    Se o custo de transporte fosse zero, o preo em ambas as regies deveria ser igual (P1). Neste caso, a regio importadora compraria da regio exportadora a quantidade Q1, que igual ao segmento ab. Assim, o preo na regio produtora seria maior do que sem o comrcio, o que estimularia a produo local nesta regio.

    Na regio importadora a preo seria menor do que sem o comrcio, o que significa um desestmulo produo local e um aumento no consumo, cujo dficit de oferta seria complementado pela importao.

    Figura 2.3 Anlise Econmica do Comrcio Entre Duas Regies. Considerando-se que o custo de transporte maior que zero (segmento tt),

    observa-se que haver uma diminuio no volume comercializado entre as regies (cd < ab), uma reduo no preo na regio exportadora e um aumento hipottico de custo de transporte. Isto significa que quanto maior o custo de transporte, menor o estmulo ao comrcio entre regies.

    Estudo efetuado pela OCEPAR mostra que os custos totais de transporte com um caminho pesado (carreta com 27 t de carga) so de US$ 0,58 quilmetro, sendo que os custos variveis so de US$ 0,39/km (dois teros) e os custos fixos somam US$ 0,19/km. Para um caminho mdio (trucado, com 14 t de carga) esses custos so US$ 0,33, US$ 0,20 e US$ 0,13 por km, respectivamente.

    g) A Influncia do Custo de Transporte na Viabilidade Econmica de Linhas de Explorao Agropecurias.

    Com base no valor do lucro por unidade de uma cultura ou criao e nos custos de transporte da produo, pode-se fazer algumas consideraes a respeito das distncias do mercado nas quais compensadora a explorao da referida atividade. Para tanto, os dados apresentados na tabela 2.2 listam quatro diferentes linhas de explorao ou atividades, em termos de lucros e respectivos custos de transportes.

  • 20

    Tabela 2.2 Indicadores das Linhas de Explorao Analisadas.

    Atividade Agropecuria

    Lucro por hectare sem considerar os custos de transporte

    (R$/ha)

    Custo de transporte por km da quantidade produzida por hectare

    (R$/km)

    A 700 1,75 B 500 0,71 C 330 0,33 D 195 0,15

    Para o processamento da anlise, existem algumas etapas bsicas a serem

    seguidas, mas, antes de serem considerados os custos de transporte, a atividade A aparece como a mais rentvel. Por outro lado, ela , tambm, a que apresenta os maiores custos de transporte.

    Primeira etapa: Montagem das equaes lineares de lucro por atividade. Tais equaes associam a rentabilidade por hectare com o respectivo custo de transporte.

    LA = 700 1,75.d atividade A

    LB = 500 0,71.d atividade B

    LC = 330 0,33.d atividade C LD = 195 0,15.d atividade D Onde: "d" a distncia ao mercado, em quilmetros (km).

    Segunda etapa: clculo das distncias mximas de carregamento da produo.

    Neste caso, igualamos cada uma das equaes lineares zero (= 0) e isolamos a varivel distncia (d), obtendo com isto a distncia mxima que cada um dos produtos agropecurios poderia ser transportado da propriedade rural ao mercado gerando lucro zero e, a partir da, a atividade passaria a gerar prejuzo.

    No caso do produto A teramos: LA = 700 1,75.d = 0

    - 1,75.d = - 700 (-1) 1,75.d = 700 d = 700 1,75 d = 400 km

    Assim, 400 km seria o limite de mercado para o produto a ser comercializado

    e, caso o fosse, geraria lucro zero, indicando desta forma que o mercado de venda deveria ser em uma distncia inferior a esta. As demais distncias para os produtos B, C e D podem ser observadas na tabela 2.4.

  • 21

    Terceira etapa: Determinao dos pontos de igualao.

    O clculo dos pontos de igualao permite determinar a que distncia uma atividade mais lucrativa do que outra. Para tal clculo, basta igualar as equaes de duas atividades quaisquer. No caso da anlise de competitividade entre a atividade A e a B, teramos:

    LA = LB

    700 1,75.d = 500 0,71.d 1,75.d + 0,71.d = 500 700

    1,04.d = 200 (-1) d = 192,3 km

    Desta forma, at 192,3 km da propriedade rural, a atividade A mais lucrativa

    do que a B. Na distncia calculada (igualao A/B) possuem lucratividade igual e, na distncia acima da calculada a atividade B possui maior grau de lucratividade.

    Figura 2.4 Variao do Lucro da Atividade em Funo da Distncia ao Mercado. Quarta etapa: Determinao de Mercado para as Linhas de Explorao

    Pode-se tambm, com esta metodologia, determinar mercados potenciais para as linhas de explorao com base no grau de lucratividade gerada. Caso estejamos a uma distncia de 500 km de um mercado, quais linhas de explorao sero viveis? Para tal determinao, basta substituir em cada uma das equaes de lucro a varivel distncia (d) pela distncia ao mercado.

    No caso da linha de explorao A, teramos:

    LA = 700 1,75.d

    LA = 700 1,75.(500) LA = 700 875

    LA = R$ 175,00 (prejuzo)

  • 22

    Assim, para um mercado localizado 500 km da propriedade rural, o produto A no poderia ser comercializado, pois, geraria um prejuzo da ordem de R$ 175,00 por hectare. O resultado para as demais linhas de explorao bem como a sua ordem de lucratividade pode ser visualizada na tabela 2.3. Tabela 2.3 Ordem de Lucratividade das Linhas de Explorao

    Ordem de Lucratividade Atividade Lucro por hectare

    (R$/ha) 1 C + 165,00 2 B + 145,00 3 D + 120,00 4 A - 175,00

    2.1.2.2 Anlise Econmica do Armazenamento

    Devido ao fato de a produo agrcola ser altamente estacional, enquanto o consumo relativamente constante ao longo do ano, a funo do armazenamento produzir a utilidade de tempo, permitindo a disponibilidade das mercadorias no momento desejado pelos consumidores. Atravs do armazenamento, que permite uma melhor distribuio da produo ao nvel das taxas de consumo, consegue-se uma acentuada reduo na variabilidade dos preos dos produtos armazenados, trazendo, em conseqncia, efeitos positivos sobre a renda do produtor e estimulando a produo dos anos seguintes. a) O Panorama do Setor Brasileiro de Armazenagem

    Dentro do agronegcio brasileiro, o setor de comercializao vem a ser o responsvel pela transferncia do produto agropecurio desde os mais longnquos locais de produo at o consumidor final. Este processo dinmico de agregao de valores resulta da utilizao de um conjunto de servios como a armazenagem, o transporte, a padronizao, o processamento, o marketing e muitos outros.

    O setor de armazenagem neste contexto est diretamente ligado ao

    comportamento sazonal da produo auxiliando sobremaneira formao de preos, reduzindo a variabilidade dos mesmos ao longo do ano e permitindo manter a oferta ajustada demanda. No Brasil, a impossibilidade de guardar a produo, devido falta de local e condies necessrias para a manuteno e conservao da produo bastante contundente e desta forma exclui o produtor rural de poder participar das etapas mais lucrativas do processo de comercializao.

    Atualmente, os 4,8 milhes de propriedades agrcolas brasileiras se deparam

    com um sistema de comercializao bastante deficiente, incompleto e sem um programa de planejamento estratgico integrado para que todas as etapas do processo de comercializao ocorram de uma maneira organizada e sincronizada. Para piorar a situao, apenas 5% das propriedades rurais brasileiras (cerca de 240 mil) possuem algum tipo de sistema de armazenagem contra 62% nos Estados Unidos, 35% na Argentina e 30% na Frana, gerando com isto elevadas perdas ps-colheita, grande oferta de produo na poca da colheita com respectivo preo

  • 23

    baixo, baixa perspectiva de remunerao (renda) ao produtor e perda de competitividade no agronegcio.

    O surgimento da CONAB (Companhia Nacional do Abastecimento)

    representou um passo importante na racionalizao da estrutura do Governo Federal, pois se originou da fuso de trs empresas pblicas, a Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), Companhia de Financiamento da Produo (CFP), a Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM), que atuavam em reas distintas e complementares, quais sejam, fomento produo agrcola, armazenagem e abastecimento respectivamente.

    A CONAB a agncia oficial do Governo Federal, encarregada de gerir as

    polticas agrcolas e de abastecimento, visando assegurar o atendimento das necessidades bsicas da sociedade, preservando e estimulando os mecanismos de mercado, alm disto, mantm o sistema de cadastramento de armazns no pas. b) A Capacidade Esttica dos Armazns Brasileiros

    Atualmente, a capacidade esttica dos armazns brasileiros de 109,2 milhes de toneladas em 15.129 unidades armazenadoras. Deste total, 26,8 milhes de toneladas se referem aos armazns convencionais (produto ensacado) num total de 7.378 unidades. O restante da capacidade de armazenagem advm dos armazns graneleiros (produto a granel) que responde por 82,3 milhes de toneladas em 7.751 unidades armazenadoras.

    Assim, 75,4% da capacidade esttica do Brasil corresponde aos armazns

    graneleiros enquanto que os 24,6% restantes referem-se aos armazns convencionais conforme pode ser visto na tabela 2.4.

    Tabela 2.4 Nmero e Capacidade Esttica dos Armazns Cadastrados pela

    CONAB por Espcie e Regio, Brasil, 2006 (em milhes de toneladas).

    Convencional Graneleiro Total Regio/

    armazm nmero capacidade nmero capacidade nmero capacidade Norte 364 1,22 102 0,95 466 2,17 Nordeste 769 2,00 326 3,71 1.095 5,71

    Centro-Oeste 1.238 5,86 1.802 27,78 3.040 33,64 Sudeste 1.752 8,88 734 9,52 2.486 18,40 Sul 3.255 8,90 4.787 40,37 8.042 49,27

    Total Brasil 7.378 26,86 7.751 82,34 15.129 109,20 Fonte: CONAB/SUARM/GECAD.

    O sistema de armazenagem nacional est subdimensionado e poder vir a se

    tornar um srio problema (gargalo) ao desenvolvimento e expanso do agronegcio nacional. Para se ter idia do fato, a atual produo brasileira de cereais e oleaginosas (safra 2005/2006) foi estimada em aproximadamente 122,5 milhes de toneladas, o que j supera em mais de 13,3 milhes de toneladas a atual capacidade de armazenagem disponvel.

  • 24

    c) As Distores do Setor de Armazenagem

    No Brasil, a relao produo/armazenagem na safra 2005/2006 est estimada em 1,12, ou seja, a produo supera em 12,2% a capacidade esttica total enquanto que os Estados Unidos possuem uma capacidade esttica 2,5 vezes superior a sua produo agrcola que de aproximadamente 420 milhes de toneladas anuais.

    Em termos regionais, os problemas de armazenagem tornam-se maiores

    ainda, pois, existe uma precria distribuio geogrfica dos armazns (concentrao regional), pssimo estado de conservao das unidades armazenadoras e carncia de armazns e silos nas propriedades rurais.

    No cmputo geral, a Regio Sul possui disparado a maior e a melhor

    capacidade esttica do Brasil. So 8.042 unidades armazenadoras com uma capacidade de armazenagem de 49,3 milhes de toneladas, o que representa 48,2% da capacidade esttica nacional total. Da capacidade esttica total da Regio Sul, 81,9% (40,4 milhes de toneladas) correspondem aos armazns graneleiros enquanto que os 18,1% (8,8 milhes de toneladas) restantes so devidos aos armazns convencionais.

    Em contrapartida a esta situao vivida pela Regio Sul, encontra-se a

    Regio Norte com a pior capacidade esttica. So apenas 466 unidades armazenadoras com uma capacidade de armazenagem de 2,2 milhes de toneladas.

    Assim, diante dos fatos expostos acima se pergunta: Aonde vamos guardar a

    supersafra do Brasil este ano? Como poderemos evitar que os portos, as cooperativas e o sistema de transporte, responsveis pelo escoamento da produo, no entrem em colapso pela falta armazenagem e necessidade de comercializar rapidamente a produo?

    Expandir a produo agropecuria como um todo fundamental para a

    decolagem do agronegcio nacional, mas, precisamos lembrar da necessidade premente da melhoria de toda a infra-estrutura de comercializao (armazenagem, transporte, portos, entre outras), caso contrrio, jamais teremos condies de competir em igualdade neste mundo cada vez mais globalizado e desigual. d) O Efeito Econmico da Armazenagem na Safra e na Entressafra

    Vejamos, agora, o efeito econmico do armazenamento, utilizando-se as curvas de oferta e de demanda (Figura 2.5). J se sabe que, uma vez colhida a quantidade Qs (e admitindo-se a existncia de estoques e a no-possibilidade de importao no curto prazo), a curva de oferta S perfeitamente inelstica (paralela ao eixo dos preos, ao nvel de Qs), enquanto no acontecer a colheita da prxima safra. Do lado do consumo, admita que a curva D1, represente a demanda nos seis meses logo aps a colheita (perodo da safra) e que a curva D2 a demanda referente ao perodo da entressafra, ou seja, do stimo ao dcimo segundo ms (antes que a safra seguinte seja colhida).

  • 25

    Figura 2.5 O Efeito Econmico da Armazenagem na Safra e Entressafra.

    A curva D1 equivale curva D2, porque o consumo mais ou menos regular

    nos dois semestres. Assim, se toda a quantidade ofertada (Qs) fosse consumida no perodo da safra, o preo de mercado ficaria ao nvel de P0. Tendo em vista que a curva de demanda para produtos agrcolas , em geral, inelstica, a queda de preos grande, o que significa afirmar que o preo P0 se situa num nvel baixo, gerando uma receita de P0 .Qs. Portanto, ao preo P0, toda a produo seria consumida no primeiro semestre, e assim, nada sobraria para o segundo perodo.

    Contudo, qualquer preo acima de P0 desestimula o consumo, gerando, em

    conseqncia, um excedente de oferta Es, que seria armazenada para ser consumida na entressafra. Assim, a curva de excesso de oferta (Es) origina-se da diferena entre a quantidade ofertada ou a curva de oferta S e a curva de demanda D1, ou seja, Es = S - D1.

    Para incio de anlise, cabe a seguinte pergunta: O que aconteceria com os

    preos em ambos os semestres se, ao armazenar uma parcela de Qs, o custo de armazenamento fosse zero? Embora seja uma situao irreal, ela serve para facilitar o entendimento, pois a resposta seria trivial, uma vez que, a custo zero no armazenamento, de se esperar que o preo do produto no segundo semestre seja igual ao do primeiro semestre. Se o preo no perodo da entressafra fosse maior que o da safra, surgiria o que se chama de arbitragem de tempo, que uma operao de compra de um produto no tempo t0 para revend-lo mais tarde (t1) por um preo maior. Desse modo, o preo aumenta em t0 e diminui em t1, e essa operao cessa quando a diferena de preos entre t1 e t0 for exatamente igual ao custo de armazenamento. Se o custo de armazenamento, por hiptese, fosse zero, ento o preo no tempo t0 (Pt0) deveria igualar-se ao preo no tempo t1 (Pt1), ou seja, Pt0 = Pt1.

    Admitindo-se, ento, o custo zero para armazenamento, o preo e a

    quantidade de equilbrio no primeiro semestre, seriam determinados pela interseo entre as curvas ES e D1. A este ponto, o preo de mercado seria PE e a quantidade

  • 26

    consumida na "safra" seria QE. Consumindo esta quantidade no primeiro semestre, sobraria, para o perodo da entressafra, a quantidade Q0, que a diferena entre QS e QE. Esta quantidade Q0 seria adquirida tambm pelo preo PE, uma vez que se pressups o armazenamento a custo zero. Desse modo, a receita do produtor seria igual a PE (QE + Q0), que nitidamente maior que a receita P0 . QS (sem armazenamento).

    Deixando de lado a situao irreal de armazenamento a custo zero,

    considere que o custo de armazenar uma unidade (uma tonelada, por exemplo) deste produto, entre a colheita e a entressafra, o segmento ab reais. Desse modo, o preo do produto no segundo semestre (P2) deveria ser superior ao do segundo semestre (P1) em exatamente ab reais, ou seja: P2 = P1 + ab. Ao preo P1 os consumidores estariam dispostos a adquirir a quantidade Q1 (no perodo da "safra"), restando a quantidade Q2 para o segundo semestre, sendo que Q2 = QS - Q1. A receita bruta (sem descontar o custo do armazenamento) do produtor seria igual receita no primeiro semestre P1.Q1 adicionada da receita no segundo semestre P2.Q2. A Figura 6.10 ilustra que, mesmo deduzindo-se o custo ab de armazenamento, a receita lquida [P1.Q1 + (P2 - ab)Q2] ou [P1 (Q1+ Q2)] seria superior receita pela venda de toda a produo QS na poca da "safra" (P0 QS).

    Em concluso, o armazenamento de uma mercadoria, mesmo a um custo

    relativamente elevado, possibilita distribuir melhor a oferta disponvel, evita a acentuada queda dos preos na safra e assegura maior nvel de renda para o produtor. e) A Definio do Preo que Viabiliza a Armazenagem

    A volatilidade dos preos agropecurios um dos aspectos que mais preocupam os produtores rurais e todos os intermedirios possuidores de produtos agropecurios. Neste processo, uma das decises mais fundamentais seria a de comercializar ou armazenar a produo espera de preos melhores. Por caracterstica prpria, os preos agropecurios possuem um elevado grau de volatilidade, so de difcil previso futura e dificultam qualquer processo de tomada de deciso. O acesso s cotaes dos mercados de futuros agropecurios pode auxiliar sobremaneira este processo de tomada de deciso, desde que se considere os custos inerentes ao processo de carregamento da produo no tempo.

    Tendo por base informaes que permitam proceder inferncias sobre os

    preos futuros, pode-se analisar diversas estratgias de comercializao, como a venda na poca da colheita (t = 0) ou no futuro ( t = 1, 2, ... , n), ou mesmo uma combinao destas alternativas.

    Uma forma de se avaliar esta deciso consiste em comparar a rentabilidade esperada das alternativas disponveis. Desta forma, o lucro esperado no ms t pode ser calculado pela equao 2.1.

    Lucrot = RTt CCt CPt (2.1) Onde:

  • 27

    Lucrot = lucro se o produto for vendido no ms t; RTt = receita total esperada com a venda do produto no ms t; CCt = custo de comercializao e armazenamento at o ms t; CPt = custo da produo armazenada at o ms t.

    Os custos de comercializao (CC) so aqueles oriundos de funes de comercializao incorporadas aos produtos (transporte, armazenagem, padronizao, classificao, entre outras), fazendo com que o mesmo caminhe ao longo do sistema de comercializao. O custo de produo (CP), da mesma forma o gasto necessrio para a gerao dos produtos agropecurios. Para que as anlises possam ser feitas, torna-se necessrio corrigir o valor das variveis no tempo, pelo uso de um fator de atualizao (fa), como pode ser observado na equao 2.2.

    fa = (1 + i)n (2.2)

    Onde: i = taxa mensal de juros real (custo de oportunidade). n = nmero de perodos de capitalizao, em meses.

    Somente valer a pena armazenar a produo na poca da colheita para uma

    venda futura daqui n perodos se:

    Lucrot+n Lucrot.fa (2.3)

    RTt+n CCt+n CPt+n Lucrot.fa (2.4)

    RTt+n Lucrot.fa + CCt+n + CPt+n Modelo de Deciso (2.5)

    f) Exemplo de Aplicao da Metodologia de Anlise: Caso da Soja no PR

    Um produtor paranaense de soja est em dvida se comercializa a sua produo vista no ms de maro (poca da colheita) ou armazena at novembro, perodo em que necessitar de recursos financeiros. Em maro, no mercado do Paran, a saca de soja estava sendo cotada a US$ 12,00, e o custo de produo era da ordem de US$ 10,90. O custo de oportunidade do capital de 1% ao ms, que corresponde taxa real de juros mdio de uma renda fixa, e o custo de armazenagem est na ordem de US$ 0,10 por saca por ms. De acordo com as informaes fornecidas acima qual deve ser a deciso do produtor?

    Partindo-se do modelo de deciso, pode-se responder tal questo, assim:

    RTnovembro Lucromaro.fa + CCnovembro + CPnovembro (2.6)

    O fator de atualizao o primeiro elemento a ser calculado neste processo, pois, utilizado para corrigir o valor de todas as variveis no tempo. O fa = (1 + i)

    n, onde: n o nmero de meses entre maro e novembro, neste caso, n = 8, e i o custo de oportunidade do capital, no caso, 1% ao ms. Portanto, substituindo os valores na equao obteremos: fa = (1 + 0,01)

    8 = 1,0829.

  • 28

    Na prxima etapa, pode-se ir calculando as variveis da equao 2.6 conforme a sua seqncia. O Lucromaro.fa calculado por (RTmaro CTmaro) x fa, assim temos: (12,00 10,90) x 1,0829 = 1,1912. O custo de comercializao (CC), no caso, custo de armazenagem da produo entre maro e novembro calculado por: CCnovembro = (custo mensal de armazenagem x nmero de meses de armazenagem x fa), assim temos: (0,10 x 7 x 1,0829) = 0,7580. O ltimo elemento da equao, o custo de produo da soja estimado para novembro, CPnovembro, calculado por: CPnovembro = (custo de produo x fa), assim temos: (10,90 x 1,0829) = 11,8036. Substituindo os valores calculados na equao 2.6 temos:

    RTnovembro Lucromaro.fa + CCnovembro + CPnovembro

    RTnovembro 1,1912 + 0,7580 + 11,8036

    RTnovembro 13,75 US$ por saca

    Desta forma, o problema se resume em tentar predizer o preo de mercado que ir acontecer em novembro. Havendo mercado futuro para a soja, o produtor poderia observar as cotaes para novembro e, caso estas forem maiores ou iguais ao valor calculado US$ 13,75 por saca, valeria a pena fazer um hedge de venda para novembro e armazenar o produto at aquela data.

    2.1.2.3 A Anlise Econmica da Agroindstria Brasileira - Processamento,

    Beneficiamento e Embalagem. a) Aspectos Gerais da Agroindstria Brasileira

    A indstria agroalimentar est subdividida em empreendimentos que atuam na transformao bsica dos produtos da agropecuria, caracterizando uma transformao primria (produtos intermedirias) e as empresas que atuam nas transformaes secundrias (produtos finais). O mercado do setor de transformao primria constitudo pela exportao e por outras indstrias. Como algumas tambm atuam na transformao secundria, verifica-se o seu relacionamento com o consumidor final o que, no entanto, no uma caracterstica especfica do setor, de um modo geral, denomina-se a transformao primria como agroindstria.

    Uma das principais caractersticas da expanso da indstria de alimentos

    tem sido a crescente diferenciao de produtos que est sendo feita, principalmente atravs de inovaes na composio e embalagens.

    A estratgia de marketing o principal fator que permite a introduo de

    novos produtos. Com esta viso, a obteno de novas possibilidades de aproveitamento dos produtos agropecurios permitiu que as exportaes tivessem

  • 29

    participao mais expressiva de produtos com valor agregado mais elevado. A transformao do farelo de soja em protena animal, atravs da produo de frangos e sunos e seus derivados para exportao, exemplo dessas alternativas. A tendncia e a elevao do nvel de processamento dos produtos com a obteno de margens de lucro maiores, seja para atender o mercado interno, seja, para exportar.

    A necessidade de diversificao permanente de linha de produo confere

    tecnologia de produto/processa uma importncia fundamental nas estratgias de concorrncia das empresas. Os produtos industrializados esto penetrando em todas as classes de renda, inclusive alterando a cesta bsica de consumo das classes mais desfavorecidas. b) Caracterizao da Agroindstria Brasileira

    A agroindstria um dos principais segmentos da economia brasileira, com

    importncia tanto no abastecimento interno como no desempenho exportador do Brasil. Uma avaliao recente estima que sua participao no Produto Interno Bruto (PIB) seja de 12%, tendo, pois uma posio de destaque entre os setores da economia, como a qumica e a petroqumica. Na dcada de 70, a agroindstria chegou a contribuir com 70% das vendas externas brasileiras. Atualmente, essa participao est em torno de 40%, no s pela diversificao da pauta de exportaes, mas tambm pela tendncia de queda dos preos das commodities agrcolas nos ltimos 20 anos. Ainda assim, o setor cresceu e aumentou o valor das exportaes em quase todos seus segmentos.

    Os principais segmentos da Agroindstria so: o abate e a preparao de

    carnes, fabricao e refino de acar, os laticnios, panificao e fabricao de massas, os leos vegetais e a indstria de sucos. Esses so os itens que mais se desenvolveram no Brasil nos ltimos 20 anos e ocuparam posio de destaque. Todavia, preciso considerar que o complexo cafeeiro mantm sua importncia, seja na contribuio balana comercial da agricultura, seja no abastecimento do maior mercado consumidor de caf do mundo, que o brasileiro.

    A agroindstria se articula para frente com a indstria de embalagens e com

    o processamento agroindustrial (cada vez mais sofisticado) e, para trs, com a indstria de insumos (defensivos, fertilizantes, raes, insumos veterinrios) e de equipamentos para a agricultura. Numa perspectiva ampla, inclui desde setores de processamento bsico (adicionando valor na secagem, no beneficiamento e na embalagem) at segmentos que envolvem o processamento de matria-prima agrcola, mas que so costumeiramente identificados como tipicamente industriais: setor txtil, de calados e de papel e celulose. Estes possuem caractersticas estruturais distintas dos demais, devendo ser tratados, cada um, como cadeias prprias e com considervel grau de autonomia. A agroindstria inclui ainda a produo de energia a partir da biomassa, rea em que o Brasil lder mundial. Estima-se que na conceituao ampliada, a agroindstria represente mais de 30% da economia brasileira. E, certamente, est nela a maior parte dos setores econmicos em que o Brasil detm competitividade internacional.

    H um conjunto amplo de segmentos, com diferentes estruturas e formas de

    organizao de mercados, que contam com a participao - e, por vezes, com a

  • 30

    competio - de multinacionais e pequenas empresas. A essa variedade corresponde uma segmentao que pode ser identificada na forma de insero do Brasil no mercado internacional, onde o Pas tem significativa participao com produtos semiprocessados, identificados como agroindstria processadora.

    Atualmente, Brasil se defronta com um novo quadro de tendncias

    internacionais no setor agroalimentar, que combina especializao (e, com isto, elevados requerimentos de produtividade) e variedade (que exige ateno ao consumidor e uma gil capacidade de resposta a mudanas na configurao dos diferentes mercados).

    Para melhor entender o que ocorre no Pas atualmente, preciso voltar um

    pouco ao passado. A partir do final da dcada de 60, o Brasil combinou um processo de modernizao agrcola a um conjunto de polticas de estmulo agroindustrializao, que resultou no cenrio de competitividade internacional verificado hoje. O processo de modernizao foi responsvel, ao longo dos anos 70, pela rpida criao de mercados locais de insumos para a agricultura e pelo desenvolvimento e adaptao tecnolgica de material gentico. Este ltimo permitiu um eficiente processo de tropicalizao de culturas e variedades, resultando na ocupao agrcola e agroindustrial de regies aptas mecanizao, como o Centro-oeste, onde o Brasil detm nveis elevadssimos de rendimento fsico na produo de soja em gro.

    O processo de gerao e difuso de inovaes de origem biolgica foi

    fundamental para a ampliao do espao econmico da agroindstria brasileira. As perspectivas abertas pelo desenvolvimento, desde o final da dcada de 70, da moderna biotecnologia possibilitam o melhor aproveitamento das vantagens naturais do Pas, transformando-as em vantagens competitivas.

    As formas de estmulo agroindustrializao tm sido variadas: a) polticas tpicas do perodo de substituio de importaes, adotadas com

    nfase nas dcadas de 60 e 70, como fundos especiais para mecanizao; imposio de quotas e tarifas visando proteger a indstria de insumos; e pesados investimentos em infra-estrutura, incluindo redes pblicas de armazenamento, sistemas de produo de sementes hbridas, estradas e hidreltricas;

    b) polticas de modernizao, principalmente pelo uso do crdito rural

    subsidiado, de importncia crescente nos anos 70, at ser eliminado ao longo dos anos 80;

    c) polticas de promoo s exportaes, com base em incentivos fiscais, e

    poltica de minidesvalorizaes da taxa de cmbio, que se tem mantido estvel; d) polticas de reestruturao agroindustrial, envolvendo financiamento da

    agroindstria e definio de uma poltica de fixao de quotas para exportao; e, finalmente,

    e) polticas de substituio de energia, que utilizaram fundos especiais para

    investimento na produo de lcool e estmulo aos consumidores.

  • 31

    A maior parte destes instrumentos perdeu sua eficcia, mas deixou um saldo positivo, que distingue o Brasil de seus pases vizinhos.

    A abertura da economia brasileira, a redefinio da Poltica Agrcola Comum

    (PAC) adotada pelos pases da Unio Europia, a criao do Mercosul e a reestruturao, em curso, do Estado brasileiro, tornaram imprescindvel a criao de novos instrumentos de polticas no sentido de incentivar o aumento de produtividade, melhorar os fatores sistmicos de competitividade (relacionados ao custo Brasil) e definir claramente uma poltica comercial compatvel com a estabilidade da moeda.

    Entretanto, os obstculos a serem removidos para aumentar a

    competitividade da agroindstria no so pequenos. Eles se localizam em segmentos que no passado foram "tutelados" pelo Estado, como o de leite e o do caf (implicando regras de incentivo a produtores mais eficientes que sejam capazes de acompanhar as novas exigncias do mercado interno); na baixa produtividade; nos problemas sanitrios da pecuria extensiva; na reduzida mdia de produtividade das lavouras de milho, cana-de-acar e laranja. Somam-se, ainda, problemas na definio da poltica de crdito e tarifria (incluindo mecanismos mais eficientes de ao anti-dumping) e a urgente necessidade de melhoria da infra-estrutura rodoferroviria e porturia.

    Essas dificuldades no eliminam o enorme potencial para a explorao de

    mercados emergentes, como o de frutas frescas e hortalias irrigadas, para as possibilidades de produo florestal e de lcool anidro, biodiesel e para a melhor explorao de segmentos nobres da carne bovina. Tais possibilidades indicam que no existem grandes entraves estruturais para elevar a participao internacional da agroindstria brasileira e para promover sua melhoria no atendimento ao mercado interno. c) Mercado Externo da lndstria Agroalimentar Brasileira

    As exportaes do agronegcio em 2005 totalizaram US$ 43,6 bilhes, um

    recorde histrico para o setor. Em relao a 2004, as exportaes apresentaram um incremento de US$ 4,6 bilhes, o que significou uma taxa de crescimento de 11,8%. Com isso, as exportaes do agronegcio corresponderam a 37% das exportaes totais brasileiras no perodo, que foram de US$ 118,3 bilhes. As importaes apresentaram variao anual de 6,2%, totalizando US$ 5,2 bilhes. Como conseqncia, registrou-se um supervit da balana comercial do agronegcio de US$ 38,4 bilhes.

    Entre os fatores que explicam o desempenho positivo do agronegcio, destaca-se o elevado crescimento da economia mundial, que implicou uma maior demanda por bens e o aumento dos preos de importantes commodities da pauta de exportao, como acar, caf e carnes. Alm disso, a ocorrncia de problemas sanitrios continuou afetando o mercado mundial de carnes, resultando em aumento de preos, principalmente, das carnes de frango e suna e da carne bovina, em menor medida. Os grupos de produtos que mais contriburam para o crescimento das exportaes foram carnes (31%); acar e lcool (49%); caf (42%); e papel e celulose (17%).

  • 32

    Tabela 2.5 Balana Comercial do Agronegcio Brasileiro, 2004-2005.

    Fonte: SECEX/MDIC: Anlise das Informaes de Comrcio Exterior - ALICE.

    2.1.3 Funes Auxiliares de Comercializao

    As funes auxiliares visam facilitar e ou complementar o encaminhamento da produo ao longo do sistema de comercializao. Assim, um produto agrcola ou pecurio que precisa ser comercializado em uma bolsa de mercadorias e futuros (commodity), deve seguir normas pr-estabelecidas, e, a padronizao e a classificao respondem pela execuo de tais funes. De forma alternativa, um produtor que precisa armazenar a sua produo, e no dispe de capacidade esttica, pode solicitar um financiamento (crdito) para garantir tal procedimento. Dentre as principais funes auxiliares de comercializao, cita-se: a) Padronizao e Classificao b) Financiamento da Comercializao c) Controle do Risco Fsico e do Risco de Mercado d) Informao de Mercado e) Pesquisa de Mercado

    a) Padronizao e Classificao

    A padronizao e a classificao estabelecem um sistema para medir e descrever a qualidade de um produto, permitindo a fcil identificao das mesmas. Esta funo auxiliar de comercializao:

    Simplifica a compra e a venda, pelo simples exame de uma amostra ou descrio da mercadoria;

    Simplifica e permite a reunio de lotes de mercadorias semelhantes nos silos, transporte e mesmo processamento;

    Possibilita a reduo dos custos de comercializao; Incentiva o aumento e melhoria da produo atravs da diferenciao de preo de qualidade;

  • 33

    Facilita o financiamento (mais fcil avaliao).

    A padronizao consiste no estabelecimento de padres, atravs da portaria do MARA, segundo os atributos qualitativos e quantitativos das mercadorias. Os atributos qualitativos so: a forma, a colorao, o grau de maturao, os sinais de danos mecnicos, de doenas, de pragas e presena de resduos. Os atributos quantitativos so o preo e o tamanho.

    A classificao, realizada por classificadores, consiste na comparao de uma amostra representativa da mercadoria com os padres estabelecidos, enquadrando-a em grupo, classe e tipo. Assim, os produtos agrcolas so classificados em grupo, classe e tipo. As variveis que definem um "grupo" diferem entre produtos, por exemplo:

    Milho em funo da resistncia; Feijo em funo do gnero (ano, corda) Arroz em funo da apresentao (casca, beneficiado) Soja em funo do dimetro (grada, etc.)

    A "classe" definida em funo da colorao, exceo do arroz que pelo comprimento. O tipo" definido conforme a qualidade do produto. b) Financiamento da Comercializao

    H um perodo de tempo entre a colheita do produto at a venda ao intermedirio, em que o produtor tem que manter a mercadoria. Para tanto, h necessidade de fundos para financiar a manuteno de estoques, por que:

    Na poca da colheita os preos dos produtos so normalmente cotados a nveis baixos;

    Os vencimentos das dvidas de custeio geralmente coincidem com o perodo ps-colheita;

    A presena de poucos intermedirios permite uma poltica de grupo, com um preo nico baixo.

    A poltica de garantia de preos mnimos (PGPM) tem por objetivos proteger a

    renda do setor agrcola, estimular ao aumento da produo e reduzir o risco de preo enfrentado pelos produtores.

    Num sistema de livre mercado, onde os preos so o resultado das foras de oferta e procura. O preo mnimo somente seria efetivo, caso fosse fixado acima do preo de equilbrio do mercado. Como resultado, gera-se um excedente de oferta, que ou exportado, ou dever ser adquirido pelo governo ou o governo adota polticas de controle de produo ao nvel da demanda existente.

    O preo mnimo ideal, dentro de uma perspectiva de longo prazo e considerando o custo financeiro da poltica para os cofres do governo aquele que evita um excesso ou uma escassez estrutural de oferta, sendo fixado em torno do nvel de preo de mercado (figura 2.6). E seria eficiente quanto ao objetivo de proteger a renda dos produtores, caso cubra o custo operacional de produo.

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    Figura 2.6 - F