REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT OBSERVA · Julho 2019, Edição 07 - GRATUITA DESIGN GRÁFICO...

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OBSERVA OBSERVA MAGAZINE 10 / JULHO EDIÇÃO 07 MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT

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OBSERVA

O B S E R V A M A G A Z I N E

1 0 / J U L H O

E D I Ç Ã O

07

M A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

OBSERVA

HERITAGEDOURO.COM

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 3

OBSERVAM A G A Z I N E

A TELA DA CAPA, POR CARLOS FARINHA A grandeza de fazer acontecer, descolando no foguetão. Ficam as varandas seguras

EDITORIAL, MADALENA PIRES DE LIMA Sete, uma edição de sorte. Tanto para ler nas férias. Boas viagens

OBSERVATÓRIO DOS LUSODESCENDENTES O que aconteceu?Seminário «Caminho das Peregrinações

GRANDE ENTREVISTA Ex-secretário de Estado dos negócios estrangeirosLuís Campos Ferreira

MIGRAÇÕES, POR GILDA PEREIRA Palavras do Mundo Testemunhos

PELA DIÁSPORA: Jornal Luso-AmericanoO jornal português mais antigo da América do Norte

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CURIOSIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA Miguel Torga. Política poética. «O meu partido é o mapa de Portugal»

PALAVRA AOS INVESTIGADORES A génese da língua portuguesa.Que língua falava Afonso Henriques?

PATRIMÓNIO DA LUSOFONIA Um hino ao nosso azeite. Porque o azeite também se escreve, com honras de emoção

ASTROLOGIA A reflexão de Inês Bernardes.Instabilidade e introspeção

COM LUPA: À ESPREITA CÁ DENTRO Serra da Estrela. Turismo termal: passado, presente e futuro

INFORMAÇÕES FISCAIS Philippe FernandesO IVA representa a principal receita de Portugal

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PAG 4 | OBSERVA - MAGAZINE

OBRAS DE CAPA

O FOGUETÃO

Esta imagem de um homem com

bagagens a olhar para um foguetão

pintado numa fachada é uma

chamada para a ação.

Ficar a olhar estático numa varanda

ou esconder a cabeça como a

avestruz.

Sonhar é preciso mas fazer e tentar

é-o igualmente. Quantos os sonhos

nos passam ao lado. São necessários

sonhadores que realizam, que façam.

O meu desejo é o dos caminhantes,

sonhadores, cosmonautas e sobre-

tudo, dos homens e mulheres que

sabem que esconder a cabeça

na areia é apenas um adiamento do

inevitável. Gosto de pessoas que

sonham e que fazem e quando o

fazem bem algo de mágico acontece.

Carlos [email protected]

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E : [email protected]

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MENSAL

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EDIÇÃO

Julho 2019, Edição 07 - GRATUITA

D E S I G N G R Á F I C OColors Design - https://colorsdesign.eu

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

Wonderpotential Lda, NIF 514077840

D I R E T O R

Jorge Vilela

E D I T O R E S

António Manuel Monteiro, Carla Monteiro, Carlos Farinha, Catarina dos Santos, Cristina Passas, Gilda Pereira, Hernâni Ermida, Inês Bernardes, Jorge Mendes Constante, José Governo, Marco Neves, Philippe Fernandes, Pilar Abreu e Lima, Pedro Guerreiro, Rui Pessoa Vasques

D I R E T O R A C O M E R C I A L

Gilda Pereira

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 5

EDITORIAL

Meta-se no foguetão da nossa capa e

com a mão na massa pinte os seus so-

nhos. Não adie: faça acontecer.

Sete é um número de sorte. Novos ho-

rizontes aparecem no nosso caminho.

Inovar, impõe-se, sempre.

Na sete, podemos continuar a respi-

rar Portugal e a inspirar um país que

pulsa ao ritmo do que nos orienta,

vindo das estrelas, dos oceanos, da

terra, do nosso coração.

Aponte na sua agenda o Fórum do

Observatório dos Lusodescendentes:

19 de setembro, em Lisboa. Se está

no Canadá, espreite alguns cursos de

português: quem sabe possa concor-

rer.

Entrevistamos um apaixonado pelos

portugueses, para quem esses não

são meros substantivos: Luís Cam-

pos Ferreira, Ex-secretário de Es-

tado dos negócios estrangeiros e da

Cooperação.

Fomos à bela Angola encher os pul-

mões e visitamos dois irmãos re-

gressados do Brasil: o «gigante que

nos abandonou». Fizemos um hino

ao azeite pela pena da prosa poéti-

ca de um especialista em louvar esse

grande património e demos boleia a

tartarugas que viajaram agarradas

ao navio do nosso Chef de serviço, no

México.

Descobrimos a génese da língua por-

tuguesa, falada pelo nosso Rei pri-

meiro, em Guimarães.

Turismo termal? O passado, o pre-

sente e futuro, na Serra da Estrela.

Vivam as serras de Portugal.

Desconstruímos o mundo dos con-

cursos dos vinhos, porque gostamos

de ir ao fundo das questões, com

quem percebe da poda.

Aos mais novos pode ler o primeiro

capítulo da história:

«A árvore e a cidade».

Não estacionemos nos plásticos.

Recordamos Miguel Torga, o nos-

so poeta nacionalista que prometeu

à mulher o risco de a trocar por um

verso.

Nós e os poetas, sempre.

Nos assuntos práticos, pode sempre

contar com o apoio nas migrações,

nas novidades fiscais, desta vez sobre

o IVA e com a opinião e novidades do

nosso Advogado.

Em tempo de férias, visitas, matar

saudades, comunhão nos encontros,

de praia e sol ou sombras nas flores-

tas: use mais os abraços e menos o

telemóvel e não tenha pressas des-

medidas nas estradas do caminho até

aos seus.

Boas leituras, boas viagens

e boas férias!

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

PAG 6 | OBSERVA - MAGAZINE

OBSERVATÓRIOSeminário “Caminho de Peregrinações”

O que aconteceu?

No âmbito da sua amplitude, o conceito mobilidade pode ser in-terpretado através de múltiplas abordagens. A diversidade das con-figurações em que se desdobra, o tipo e a forma que vai assumindo, encontram-se intimamente rela-cionados com os quadros sociais e o desenvolvimento tecnológico próprios de cada época.De entre a multiplicidade de cau-sas subjacentes a cada deslocação, as de natureza económica têm, em regra, dominado o interesse e atenção das análises produzidas. Entre muitas outras, há que lem-brar situações de natureza política, catástrofes naturais, turismo, moti-vações de ordem religiosa. Foi esta última, a inspiração orientadora dos temas debatidos no Seminário que decorreu nos passados dias 6

e 7 de junho, no Auditório Adriano Moreira, da Sociedade de Geogra-fia de Lisboa. As duas grandes peregrinações que têm lugar na Península Ibérica – uma em Santiago de Compos-tela (Galiza/ Espanha) e outra em Fátima (Região Centro/ Portugal), a partir do conceito “mobilidade”, viriam a potenciar um estudo mais alargado deste fenómeno social tão rico. Perspetivados alguns as-petos, cujo interesse e pertinência abriram caminho a reflexões diver-sificadas que pela complementa-ridade que encerram melhor fize-ram compreender o tema no seu todo. Para além da fé e dos rituais que se têm instituído, existe uma envolvência social diversificada, que faz cair fronteiras físicas e se estende por uma larga plataforma internacional, na qual os migran-tes, ocupam uma posição muito especial.Feita a análise das representações que materializam comportamen-tos, moldam atitudes e exprimem sentimentos foi apresentado um acervo documental muito rico, cujo registo permitiu dar a conhecer o tema numa dupla vertente, escrita e visual.

Organizado por três instituições – Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais, Univer-sidade Aberta; Cátedra do Camiño de Santiago e das Peregrinacións, Universidade de Santiago de Com-postela; Departamento de Estudos do Santuário de Fátima – no âmbi-to da “Comissão de Migrações” da SGL, integrou um conjunto de co-municadores, muitos deles docen-tes, cujas provas dadas em espaço académico credibilizaram a sua atuação e conferiram qualidade à iniciativa.

Maria Beatriz Rocha-TrindadeProfessora Catedrática/ UAb Investigadora Sénior/ CEMRI

Arq. do Santuário de Fátima, N. Audiovisual

Arq. do Santuário de Fátima, N. Audiovisual

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 7

Partilha a nacionalidade americana e por-tuguesa. Filho de pais portugueses, resi-de actualmente em San José, Califórnia, Estados Unidos, onde desenvolve a sua actividade na área da multimédia. CEO/Fundador de NPG Productions, onde desenvolve produções audiovisuais para empresas dos Silicon Valley Fortune 500; produção de vídeo para televisão Ameri-cana, RTP, etc. Diretor dos documentá-rios “Portuguese in Califórnia” , “Portu-guese in Hawaii” e “Portuguese in New England”. Produtor de música para filme e televisão, para além de ser intérprete e professor. Foi eleito Conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).

Partilha a nacionalidade portuguesa e fran-cesa. Filha de pais Portugueses, reside em Paris, desenvolve a sua atividade profissio-nal enquanto actriz. Membro de uma com-panhia de teatro desde os 9 anos (compos-ta por imigrantes Portugueses em França), segue as aulas da Belle de Mai e do Claude Mathieu em Paris; em Nova Iorque com a Marcia Haufrecht e Michael Margotta do Actor’s Studio, Larry Moss em L.A., Simon Mc Burney, em Londres. Representa no teatro e filma para o cinema e a televisão. Integrou o elenco do filme A GAIOLA DOURADA, primeira comédia realizada sobre os imigrantes Portugueses em França. Em 2008 cria a sua companhia “VIDA VIVA” com sede em Paris mas virada para o intercâmbio entre França, Portugal entre outros.

N e l s o n P o n ta - G a r ç a

J a c q u e l i n e C o r a d o

O L D I A N O S D O M Ê S

O prémio «Portuguese Gives you Wings!» (A Língua Portuguesa Dá-te Asas!) é atribuído pelo Programa de Estudos Portugueses e Luso-Brasileiros da Universidade de York, em Toronto, no Canadá. Patrocinado pela Azores Airlines, o prémio foi lançado em 2018 com a finalidade de galardoar a exce-lência na performance em língua por-tuguesa, no contexto do “Português Elementar”. É entregue ao aluno que se distinguir com a melhor classificação à disciplina de Português. A primeira galardoada, uma estudante de origem hispânica, é finalista de Psicologia e receberá uma viagem aos Açores. O programa da disciplina combina uma mistura de exercícios escritos e orais, que permitem aos alunos sentirem-se à vontade com o idioma vivo e cada vez mais falado no mundo. A dinâmica conferida à língua portuguesa, por esta Universidade de Toronto, não se esgo-ta no prémio «Portuguese Gives you Wings». Também estão contemplados mais dois prémios. O segundo, chama-se “Portuguese and LusoBrazilian Studies Entrance Award” (Prêmio de Entrada de Ingresso nos Es-tudos Portugueses e Luso-Brasileiros), é patrocinado pela Academia do Ba-calhau de Toronto e tem o objetivo de apoiar os estudos a um aluno iniciado na Universidade de York e que faça a sua matrícula no programa de Estudos Portugueses e Luso-Brasileiros.

O aluno selecionado terá de se ter dis-tinguido com os melhores resultados no fim do Ensino Secundário e terá de comprovar dificuldades financeiras, para que possa receber uma bolsa no valor de 1000 dólares canadianos.Por último, o terceiro prémio, “Pré-mio Dark Stones:The Azorean Spirit” (‘Pedras negras: o espírito açoriano’) é atribuído desde 2014, patrocinado pelo Banco Santander Totta e pretende distinguir o progresso e o mérito aca-démicos, assim como o envolvimento dos alunos em atividades curriculares e extracurriculares, sempre no con-texto dos Estudos Portugueses e Luso--Brasileiros. “Este prémio reconhecerá, assim, estudantes inscritos neste pro-grama a tempo inteiro que já tenham completado, pelo menos, 12 créditos em disciplinas com a rubrica corres-pondente (POR) e que, considerando o desempenho académico global, apre-sentem uma média de, pelo menos, sete valores”, pode ler-se o site da uni-versidade. Este prémio homenageia, desta forma, o escritor açoriano José Dias de Melo, autor da obra homónima ‘Pedra Negras’, de 1964. Aprender português é uma porta que se abre ao nosso crescimento como se-res culturais, que aspiram a uma inte-gração pessoal e profissional no mundo da lusofonia.

Observatório dos Lusodescendentes [email protected]

Premiar a excelência na performance em língua portuguesa

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OM: Agradecemos desde já esta dupla entrevista. Onde nasceram? São filhos de pais portugueses?

André Silva: Nascemos e fomos cria-dos na cidade de Queimados RJ, no Brasil. Somos filhos de Dulce do Am-paro Sousa da Silva e José Américo da Silva, sendo a nossa mãe nascida em Cabanelas, concelho de Mirandela. O meu irmão, Anderson formou-se em Direito e tornou-se empresário do ramo de panificação onde laborou durante 22 anos e eu formei-me em

Medicina e fui aprovado no concurso federal, médico perito do INSS (Ins-tituto Nacional de Seguridade Social), onde permaneci até a o fim de 2018.

OM: Qual a relação com o país das vossas raízes durante todo este tem-po?

Anderson Silva: Passamos grande parte das sua vidas gozando férias de verão em Portugal, uma vez que os nossos avós, depois da reforma, decidiram passar seis meses em Portugal e seis

meses no Brasil. A ligação com a terra vai muito além de um lugar para fugir da realidade brasileira, era um pro-jeto de vida pós reforma, «mas virou um plano de emergência.

OM: Porque lhe chama plano de emergência?

Anderson Silva: Apesar da estabili-dade económica de que gozavamos no Brasil, o clima de incerteza política, de insegurança e a perspetiva de um futuro tenebroso, levou o meu irmão

Anderson Si lva e André Si lva

DE REGRESSO A PORTUGAL

Anderson Luiz Sousa da Silva, Advogado e André Inácio Sousa da Silva, Médico, dois lusodescendentes brasileiros que regressaram a Portugal

Dois irmãos que regressaram «do gigante que os abandonou».

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 9

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L A N D E R S O N S I LV A E A N D R É S I LV A

André ao meu escritório, na padaria, com a pergunta fatí-dica: «Vamos embora para Portugal?» Eu tinha sido víti-ma de um episódio de violência, com três armas aponta-das à minha cabeça. Foi numa sexta feira, por volta das 17 horas, quando me dirigia para comprar peças para o meu aquário e havia na estrada, um congestionamento de car-ros e a fila não andava. Três elementos atravessaram a via e com pistolas em punho anunciaram o assalto pedindo para que eu saísse do carro. O carro estava com a marcha engrenada e na hora assustei-me provocando um sola-vanco. Aquele que estava ao meu lado, encostou a arma na minha cabeça e fez menção de atirar. Consegui sair do carro e eles, felizmente, fizeram uma manobra no sentido contrário e foram embora. Para piorar a sensação de in-segurança, havia uma viatura da polícia a 300 metros do

ocorrido. No emprego das forças de segurança no Brasil, «fazer a coisa certa é dar um grande passo para colocar a vida em risco».

OM: Esse crescendo de insegurança no Brasil esteve então na base da vossa vinda para Portugal?

André Silva: Eramos sujeitos a enorme desgaste emocio-nal, considerando que no Brasil a corrupção é endémica e está presente em todos os setores e classes sociais, pelo que concluo não ser culpa exclusiva dos políticos.

OM: Uma coisa é desejar vir, como muitos lusodescenden-tes, por este mundo fora, outra é tomar a decisão de vir mesmo. De que forma foi amadurecida a ideia?

Anderson Silva a esposa Cristiane, Cleyanne França esposa de André Silva e Davi de Amorim

PAG 10 | OBSERVA - MAGAZINE

André Silva: A ideia de virmos para Portugal tomou cor-po e fomos necessitando de planeamento económico pois nenhum poderia exercer, sem mais, as suas profissões em Portugal. Optamos por visitar Portugal no verão, na ten-tativa de vislumbrar um negócio no qual já tivéssemos experiência e ao mesmo tempo, proporcionasse também sustento e qualidade de vida às nossas famílias. Sempre tivemos apreço por um café na Avenida das Amoreiras, que frequentávamos no verão, e soubemos, mais tarde, por um primo, que o mesmo estava à venda. O nosso pri-mo entrou em contacto com o proprietário (em março de 2017) que se prontificou esperar até agosto para fechar o negócio.

OM: Apareceram algumas dificuldades?

Anderson: Silva: : o André só poderia deixar o Brasil em dezembro de 2018, pois a mulher terminaria o curso de Veterinária durante o ano transato. Eu vim antes: a 12 de dezembro de 2017 com a minha família nuclear. Como em todos os recomeços e apesar da qualidade de vida que encontramos, as dificuldades começaram a aparecer dia após dia, mas com ajuda de pessoas que Deus colocou no nosso caminho, conseguimos superar todas e construir

uma casa, que os clientes frequentam e que para além de se deliciarem com doces e salgados, recebem um pouco de carinho. Em dezembro de 2018, o André chegou a Portugal com a mulher e completamos a equipe familiar, fazendo com que a casa subisse de patamar.

OM: Quais as semelhanças com o caminho dos vossos as-cendentes?

André Silva: Fizemos o caminho no sentido inverso dos nossos avós e ficamos muito satisfeitos com o que en-contramos em Portugal. A qualidade de vida é elevada, o sentimento de segurança é incrível e o país é lindíssimo. Deixamos para trás amigos e parentes que o tempo não conseguirá apagar e que as tecnologias ajudam a arrefecer a saudade que sentimos por eles. O gigante, de além-mar, ficou para trás e voltar não é uma opção a se considerar. Todas as vezes que nos dizem que abandonamos o nosso país, lembramos de dizer que não abandonamos o Brasil, foi o Brasil que não cuidou de nós.

A OBSERVA Magazine deseja-lhes o maior dos sucessos, nesta escolha por Portugal.

D E R E G R E S S O A P O RT U G A L A N D E R S O N S I LV A E A N D R É S I LV A

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GRANDE ENTREVISTA

L U Í S Á LV A R O B A R B O S A D E C A M P O S F E R R E I R A

S E C R E TÁ R I O D E E S TA D O D O S N E G Ó C I O S E S T R A N G E I R O S E C O O P E R A Ç Ã O X I X E X X G O V E R N O S

PAG 14 | OBSERVA - MAGAZINE

OM: Muito obrigado por nos receber em sua casa para esta nossa entrevis-ta. Depois de um percurso de mais de 20 anos na política ativa, como diri-gente do PSD, deputado e Secretário de Estado dos Negócios Estrangei-ros e da Cooperação decidiu no final do ano de 2018, deixar o parlamento invocando razões de ordem pessoal e novos desafios profissionais. Olhan-do hoje para trás, voltava a fazer este percurso político? LCF: Sim, voltava. Não tenho 20 anos de política ativa. Em 2001, a 14 de de-zembro, cheguei à política com uma candidatura à Câmara Municipal de Valença do Minho. Perdi essas elei-ções. Em 2002, nas Legislativas, fui para a AR, como deputado. Vinha do

meio empresarial, em que a produção tem objetivos de materialidade, com fins do mês nunca fáceis. Ocupei a Vi-ce-presidência da Mccann Erickson. Fiz uma coisa muito engraçada, que se traduziu em montar a televisão ARTV. Assumi a presidência desse concelho de Direção, em conjunto com o José Magalhães e o António Filipe, com uma tarefa diferenciada do «comum» dos políticos. Foi necessário contratar gente, montar o equipamento, nego-ciar com operadoras e distribuidoras, definir programações e edições e che-gar a um acordo com os outros par-tidos. Desse modo, não apanhei um grande choque térmico: possuía algu-mas competências ou skills, (como se diz agora). Fi-lo com muito gosto.

OM: Que desafios profissionais tem abraçado ao longo deste ano de 2019, além de continuar ligado ao PSD e a fazer comentário político, nomeada-mente, na CMTV?

LCF: Escrevo às quintas-feiras, na pá-gina 2 do Correio da Manhã e sem ser regularmente, também escrevo para o mesmo jornal e sua revista. Regressei a duas áreas às quais estive sempre ligado. A primeira, a área da comuni-cação, não na perspetiva institucional ou de relações públicas, mas numa vertente relacionada com os desafios, instrumentos e conteúdos de traba-lho de algumas empresas de eleva-da e robusta dimensão, que passei a representar, numa intencionalidade de reflexão, como o porte dessas em-

GRANDE ENTREVISTAL U Í S Á LV A R O B A R B O S A D E C A M P O S F E R R E I R A

Licenciado em Direito (Universidade Católica Portuguesa); Estudos Superiores em Comunicação Social;Membro da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa;Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação XIX e XX Governos Constitucionais; Deputado na IX, X, XI, XII e XIII Legislaturas; Presidente da CEOP; Vice-Presidente do GP/PSD; Presidente da SPDFCS; Presidente do Conselho de Direcção do Canal Parlamento; Director do Jornal “Povo Livre”; Secretário-Geral Adjunto do PSD; Coordenador do GP/PSD da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional; Membro (supl.) do Conselho Superior de Informações;Membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa;Vereador da CM de Valença do Minho - sem pelouro;Membro da Assembleia Parlamentar da OSCE - Organization for Security and Cooperation in Europe.

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 15

presas e também tendo a aptidão de materializar trabalho para o exterior. A segunda área, e com a qual estou mais fortemente envolvido, respeita à energia renovável (eólica e fotovoltaica), no seio de várias empresas que se dedicam à construção, desenvolvimento e manutenção desse tipo de energia, nomeadamente, em África e na América Latina. Esta última exige viagens e contactos permanentes com o exterior. As novas energias fazem parte do grande desafio (que passou a fazer parte das nossas vidas) no que respeita às alterações climáticas, desafio esse que me dá um certo gozo ajudar a resolver.

OM: “Cunhar uma nova forma de pensar e agir na Coope-ração, tendo em conta, por um lado, a evolução da arqui-tetura internacional do desenvolvimento, e, por outro, os

interesses nacionais, dentro do quadro da política externa portuguesa”, são palavras suas proferidas no Seminário Diplomático em 2015, na qualidade de Secretário de Esta-do dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. Que novos paradigmas e que novas formas de pensar e agir trouxe para a Cooperação?

LCF: Anteriormente, a cooperação era caritativa, uma doa-ção unilateral, de doador para recetor e muito afastada quer do conhecimento, quer do desenvolvimento económico. Aqueles que se dedicavam à cooperação tinham quase uma alergia aos vasos comunicantes entre a cooperação e a área económica. Esta foi a grande alteração e inovação que eu e a minha equipe introduzimos: se possuíamos conhecimen-tos aprofundados e grandes responsabilidades históricas,

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então não fazia sentido não os transmitir, não os acomodar e manter para além da nossa presença nesses territórios. Seria difícil manter níveis de cooperação elevados, se essas premissas não se cumprissem. Nessa medida, sem comple-xos nem preconceitos, ligamos a cooperação à economia.Estima-se que, em 2050, o Continente africano atinja, sen-sivelmente, o dobro da população que tem hoje. As altera-ções climáticas, as migrações e as questões da segurança ficam muito dependentes do êxito dessa correlação entre a cooperação e a economia, a qual vai permitir criar rique-za, empregos e consequente progresso social, e conduzir à fixação das populações nos seus territórios. O resultado dessa ligação é importar para a Europa segurança e esta-bilidade social. De outra forma, as pessoas, naturalmente, procuram melhor vida em outras paragens para se fixar. Não vale a pena a ilusão de fazer muros (físicos ou meta-fóricos) à volta do Continente africano. Isso resultaria num brutal impacto negativo socioeconómico e cultural ingerí-vel pela Europa. A cooperação não pode ser puramente ca-ritativa, (esta continuará a ser feita em casos esporádicos).Há um dado novo, nomeadamente, em Portugal, que presi-diu à cooperação que diz respeito a um melhor aproveita-mento das verbas da cooperação europeia (cooperação de-

legada, em nome da europa), que aplicamos em Timor, na Guiné-Bissau, em Moçambique, em Angola e outros países, especialmente na área da Saúde e na vertente da telemedi-cina, com muito foco em São Tomé e Príncipe, mas também algum em Cabo Verde. Houve um aumento elevadíssimo de pessoas que puderam tratar-se nos seus territórios.

OM: “Embaixadorias”, foi um programa e iniciativa da sua autoria. Teve continuidade? Que balanço faz dessa inicia-tiva, no contexto da promoção dos diferentes territórios do país, potenciando parcerias económicas entre Portugal e outros países e incentivos ao investimento?

LCF: Não estou em condições de garantir que não teve continuidade e em que moldes evoluiu. Os embaixadores que estavam sediados em Lisboa tinham um frágil conhe-cimento do país. Conheciam Lisboa, um pouco do Porto e nada do resto do país. Não contavam com ajuda nesse sen-tido. Nós fomentamos esse contacto entre os embaixadores e a cultura, quer popular, quer erudita, com a economia, em conjunto com as autarquias, no sentido de conhecer o ADN das regiões e o potencial económico das mesmas. Poste-riormente, comunicavam com muitos atores económicos

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dos seus países e assim surgiam relações económicas com esses países representados em Portugal. Lembro-me de ir à Festa de Nossa Senhora da Agonia com três embaixadores que vivenciavam essas tradições e ficavam a conhecer os tecidos económicos dessa região. Também promovíamos um jantar precedido de uma reunião com o tecido econó-mico das várias regiões do país, nas quais o embaixador discursava, reunião essa que era sempre também partici-pada por um membro da AICEP. Daí resultavam parcerias, encomendas, entre outras. Custava apenas algum tempo, gasolina e organização. É um programa do qual me orgulho e ainda hoje alguns presidentes de Câmara contam-me que foram visitados por embaixadores que voltam para fazer negócio, visitar um hotel que um compatriota abriu numa determinada cidade, por exemplo.

OM: O aumento das exportações foi sem dúvida um ele-mento extremamente importante na recente crise que Portugal atravessou. Como olhava e olha para esta reali-dade?

LCF: Não sou economista de formação, embora tenha estu-dado economia, pelo que o que disser vale o que vale. Tenho

muita dificuldade em acreditar num crescimento sustenta-do, alicerçado no consumo interno. Penso que as exporta-ções e o investimento estrangeiro são muito importantes. Segundo relatórios de entidades muito informadas, vemos que os nossos principais mercados: a Espanha e Alemanha e outros países da Europa vão ter dificuldades, até 2023, 2024. Não há previsões de crescimentos económicos muito elevados e por isso nós temos de forçar aquilo que é o nos-so referencial de qualidade, como nos sapatos, nos vinhos, no têxtil, no alimentar em geral de forma a encontrar neste crescimento frágil e relativo, o nosso cantinho. Não creio que possamos almejar crescimentos económicos acima dos 2% com base no consumo interno até porque temos uma divida externa enorme, assim como privada, os salários andam abaixo da linha da média europeia. Desbravar ou-tros mercados é uma tarefa árdua. Pelo que prevejo, temos de nos socorrer das exportações e do investimento estrangeiro com base num modelo de cap-tação desse investimento muito competitivo e atrativo, que é atrapalhado pela elevada carga fiscal (que não é compe-titiva) sobre as empresas - na equação de captação do in-vestimento - e também pela instabilidade fiscal. A atuação da máquina fiscal também aplica uma discricionariedade

GRANDE ENTREVISTAL U Í S Á LV A R O B A R B O S A D E C A M P O S F E R R E I R A

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GRANDE ENTREVISTAL U Í S Á LV A R O B A R B O S A D E C A M P O S F E R R E I R A

em relação a quem tem vontade de in-vestir em Portugal. A par disso, temos uma justiça que é demorada e isso fra-giliza-nos muito a nível da captação de investimento. A nível laboral, so-mos bons em mão de obra e em outros aspetos. O turismo é um fator impor-tante, mas sozinho não puxa a carroça do progresso social. Até porque tem de haver um cuidado especial no turismo: as cidades não se podem prostituir, sob pena de perderem a sua identidade e matamos a galinha dos ovos de ouro. Mas, ainda temos uma margem de crescimento interessante, até porque possuimos um leque grande de ofertas no turismo: turismo de praia e de sol, de cidade, cultural o religioso, entre outros. Contudo, não esqueçamos que quando um estrangeiro bebe uma cer-veja em Portugal estamos a exportar cerveja (risos). Não há países que com bons níveis de vida para os seus cida-dãos, não tenham uma indústria sóli-da e forte.

OM: A ação externa do MNE em maté-ria de cooperação para o desenvolvi-mento e promoção da língua e da cul-tura portuguesas é prosseguida pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I. P. Que contributos e que políticas adotou em articulação com esse Instituto?

LCF: Foi uma área da responsabilida-de direta do secretário de Estado José Cesário, mas nós tínhamos uma po-lítica. Vou referir o caso de Timor que fez um grande esforço financeiro na promoção da nossa língua. Ajudamos a inaugurar 13 escolas em que todas as matérias eram lecionadas em portu-guês (Escolas de referência). O esfor-ço da divulgação da língua devia ser um desígnio nacional. Em relação ao acordo ortográfico (um sarilho) não sou purista. Penso que devíamos «ze-rar» esse assunto e regressar à casa de

partida. Se não fosse a criatividade dos brasileiros, as adaptações e transfor-mações que fazem, sem recorrerem a estrangeirismos, a nossa língua seria muito menos rica. Têm a capacidade de – com facilidade - criar uma pa-lavra para nomear coisas novas. Eles, quer na tecnologia quer noutras áreas dão cartas, no dia a dia. A nossa lín-gua tinha-se menos viva, se não fos-se essa criatividade dos brasileiros em nomear rapidamente objetos e outros. Escrevo quer à luz do antigo, quer se-gundo o novo acordo ortográfico. Na altura, o Instituto Camões promoveu os centros de leitura, mas especial-mente alocamos uma verba para o ensino do Português, circunstância que fazia parte dos desígnios da CLP e tínhamos um comissário para esse fim, nomeadamente, em África, como na Namíbia, onde deixamos 40000 fa-lantes da língua portuguesa. Mas, não podemos (e isto não é uma piadinha, é mesmo uma crítica) levantar a ban-deira da língua portuguesa e falar in-glês lá fora, por ser muito valorizado cá. Muitos governantes continuam a falar inglês numa atitude de snobismo. Temos de nos deixar de complexos, e contra todos forçar o uso da nossa língua. De forma até indigna, muitos governantes - de todos os partidos e na presença de um tradutor português oficial - falam inglês, como se o por-tuguês não existisse. Os alemães, os franceses, os espanhóis (e esses nes-ses, nem se fala) não o fazem. Falam as suas línguas. Veja-se o modo como a língua espanhola está num cresci-mento, nomeadamente nos Estados Unidos, onde já é quase 50/50.

OM: Ao longo desse período em que exerceu funções como Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, existe alguma si-tuação, acontecimento ou momento particular que gostasse de partilhar?

A aflição humana não se contabiliza, mas tem ideia do número de nativos que ajudou a nascer, a curar, a matar a fome?

LCF: Em quantidade, não. Um gover-nante não é um herói. Houve circuns-tâncias, mais que os dedos das duas mãos, em que no meu gabinete nos preocupamos com situações concretas de pessoas que estavam em situação de fragilidade, por exemplo portugue-ses que estavam no estrangeiro, al-guns vítimas de rapto, em que – sem nunca pisar a linha da legalidade - tive de usar o poder de foro público para resolver um problema particular. Vol-taria a fazê-lo. Muitas vezes era a vida que estava em causa. (Pausa) Há coisas curiosas: Guiné Bissau é um país que tem muitas particularidades, muito de particularidades. À altura, havia al-guma fragilidade nas nossas relações, nomeadamente fruto de problemas que foram arranjados com voos can-celados da TAP. Através da coopera-ção canalizei as nossas energias para a produção alimentar, nomeadamen-te do arroz até porque tentávamos sempre resolver problemas básicos, mas sem nenhum preconceito ideo-lógico, pensando em ganhos dos dois lados, adicionando conhecimento e economia. Sempre que fosse possível levar de Portugal mão de obra, equi-pamento ou matéria prima, claro: isso pagava-se, sem nenhum preconceito. Não querendo que o Estado ou o Go-verno fosse o pulmão da cooperação, mas o integrador da mesma. Através das ONGD´s com quem colaboramos (e outras que ajustamos com forma-ção), incentivamos a que a produção de arroz tornasse o país quase autos-suficiente na produção desse cereal e esta circunstância, sim, provavel-mente, matou a fome a muita gente. Em pouco tempo, tivemos um sucesso extraordinário. Com base numa deci-

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são política e estratégica conseguimos resolver esse problema básico, no-meadamente a populações esquecidas e que ficam longe de Bissau. Há coisas que me marcaram bastante. (Pausa). Nós temos questões histó-ricas e seculares que nos ligam a paí-ses africanos e muitas delas não estão resolvidas. Fomos um dos maiores transportadores (para utilizar uma palavra simpática) de escravos - di-zem as contas da história - prova-velmente de mais de seis milhões. Não sou dos que querem renegar a história ou derrubar estátuas ou ainda chamar bandidos aos protagonistas dessa his-tória, mas não se deve assobiar para o lado e fingir que nada aconteceu. Te-mos de usar a inteligência emocional para fazermos pontes e sanar feridas, enfrentando-as. Uma iniciativa que podia causar um impacto muito po-sitivo nas nossas relações com esses países seria a criação de um museu de direitos civis, (não lhe chamaria mu-seu da escravatura), onde essa história tinha de estar devidamente narrada e interiorizada por nós, sem sentimen-tos de culpa. Apenas com a compreen-são da história e o conhecimento da mesma nós podemos tornarmo-nos mais patriotas, amar mais o nosso país

e fomentar relações mais sadias com os outros países, nomeadamente, com os quais ainda falta resolver alguns problemas não devidamente ultrapas-sados. Tentei ir por esse caminho, mas não tive tempo para o fazer. É uma iniciativa que falta cumprir. É um tema muito sensível, tanto do ponto de vista nacional, como do ponto de vista das relações internacionais. A história e a cultura são instrumentos extraor-dinárias para chegarmos à economia e ao desenvolvimento. Hoje, temos algumas relações económicas com Cuba. Temos portugueses que mon-taram lá indústrias que estão a servir aquela zona do Caríbe. Cuba, do ponto de vista económico é sempre mais um mercado. Mesmo no tempo de Fidel e de Salazar, nunca foram interrompi-das as relações diplomáticas entre os dois países. Portugal teve sempre em-baixada em Havana e Cuba teve sem-pre embaixada em Lisboa. Não sei o que juntava estas duas personagens. Tenho cá uma ideia que se calhar o que ambos pensavam dos americanos os unia e lhes dava cimento a uma relação eventualmente telepática, mesmo que nunca tivessem conversado. Temos histórias bonitas com Cuba, desde Eça, que foi cônsul de Havana. Penso que

reabri portas, levando uma estátua de Camões (expoente máximo da Cultu-ra em Cuba) que ainda lá está, como o fizemos em outros destinos. Foi essa ponte cultural que abriu um conjunto de portas para a economia, uma at-mosfera simpática entre dois regimes tão diferentes em questões de direitos humanos e liberdades fundamentais, nomeadamente de expressão e de im-prensa. É a nossa cultura, incluindo a língua e a literatura, que, de facto, é a pioneira a abrir portas e a mantê-las abertas, quer através da magia da poe-sia e prosa no idioma de Camões e ou-tras artes. As trocas económicas foram sempre a nossa vocação de séculos, que deixaram vocabulário português até os dias de hoje. Em última instân-cia todas elas levam-nos à Paz como objectivo último.

OM: o canal parlamento tem a sua chancela. Que avaliação faz e de que modo pensa que aproximou os por-tugueses da casa da democracia e em especial os jovens?

LCF: No início foi muito difícil. Os pró-prios atores, os meus colegas deputa-dos tinham muitas reservas em relação ao canal, nomeadamente, pelo facto

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de por a nu as fragilidades que tinha e ainda tem a institui-ção parlamento e também havia a ideia que cá fora fossem percecionados de uma forma negativa. Nos dias de hoje, era impensável não existirem estes mecanismos de transpa-rência. O difícil foi descobrir como se editariam estes con-teúdos, como é que se transmitiam, chegando à conclusão, que o melhor era transmitir em bruto. Mostrar tudo e o te-lespetador que julgasse. Se não fosse o Canal Parlamento, o gesto do ministro Pinho que levou à sua demissão, não teria sido visto. Hoje, a utilidade do Canal Parlamento já não dei-xa nenhuma dúvida. Penso é que já deveria ter havido avan-ços relativamente àquilo que se fez. Na altura, introduzi um conjunto significativo de conteúdos sobre o parlamentaris-mo em Portugal, sobre a primeira república e outros temas. Deveria haver mais programas de debate. Se não fosse o ca-nal parlamento, estas últimas comissões de inquérito não teriam tido a força que tiveram. Há matérias que são dis-cutidas em sede de comissões de inquérito que devem ser à porta fechada, pela sua sensibilidade, porque encerram al-gum segredo, eu próprio vi-me muitas vezes confrontado com isso. Assim sendo, corta-se tudo. Sendo matérias que não encerram segredo de justiça, nem outro tipo de segre-do, penso que o Canal Parlamento deve transmitir. Quanto ao impacto que causa junto da comunidade portuguesa, é o que é! O Parlamento ficou mais rico, mais próximo das pessoas que têm a oportunidade de ver o bom e o mau, sem

se resumirem só aos 2 ou 3 minutos que se vê nos canais de televisão. Se o Canal Parlamento conseguiu aproximar e atrair mais os jovens para a política, tenho dúvidas, pois, os últimos índices de audiências, ainda no meu tempo, não tinham registos significativos dessa faixa etária. A questão de interessar os jovens pela política é bem mais complexa, não se resolve apenas pela televisão transparente. O Canal obriga as senhoras e os senhores deputados a preparar me-lhor o trabalho de casa, a serem provavelmente um pouco mais agressivos na busca da verdade ou a transmitir aquilo que é o pensamento deles. Fica gravado e pode ir buscar-se. Foi uma tarefa que me deu muito orgulho fazer. A ideia foi do Presidente Almeida Santos, o homem que disse “isto tem de se fazer”, mas ainda não estava executado. Deu-se a feliz circunstância de ter alguma experiência profissional em zonas próximas à televisão e por isso peguei no proje-to e tive a sorte de ter essas duas personagens, o José Ma-galhães, que sabia muito daquilo, tinha já recolhido muita informação e do António Filipe, por ser um indivíduo muito acima da média do ponto de vista da cultura democrática, embora pertença a um partido mais fechado.

OM: Ainda sobre esta questão de aproximar os jovens da política, o que pensa sobre uma eventual revisão consti-tucional e de uma nova lei eleitoral? Tem alguma ideia de como aproximar os jovens da política?

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LCF: A lei eleitoral, tal como está, ou seja, de serem os par-tidos a decidir, através das suas estruturas nacionais, dis-tritais e locais, quem são os deputados está completamente esgotada. As pessoas já nem votam, ou votam num partido, ou num líder para ser Primeiro-ministro. Na sua maioria, não conhecem os deputados eleitos pelo seu distrito. Sabem apenas quem são os deputados que têm mais visibilidade, mas é por força das comissões de inquérito, ou por força de terem tido uma intervenção mais forte numa determi-nada matéria nacional. Se as pessoas não conhecem os de-putados do seu distrito, como é que podem recorrer a elas? Por outro lado, também é bom dizer que é preciso dar mais meios aos deputados e condições. Por exemplo, não têm um gabinete para receber pessoas; existe uma secretária para 10 deputados; os assessores são assessores das comissões e não dos grupos parlamentares. Portanto, ao nível daquilo que deve ser o trabalho regional, de maior proximidade às pessoas, têm de ser dadas outras condições aos deputados e estou à vontade para dizer isto, porque é impossível vol-tar ao parlamento. Neste momento, é muito difícil para um deputado ter proximidade com os seus eleitores. É neces-sário um universo de deputados indicados a nível nacional, como que um círculo nacional, e depois temos de ter depu-tados que se candidatem (sistema de assinaturas ou outros modelos de sucesso de outros países), dentro dos partidos, mas por eles e finalmente candidatos independentes. Exis-tir a possibilidade de um círculo regional onde as pessoas ligadas aos partidos ou não, como independentes, possam propor-se a candidatos a deputados. Não concordo com a exclusividade dos deputados, desde que não haja conflito de interesses, exista transparência e um protocolo. A ex-clusividade pode afastar muitas pessoas. É importante ter um parlamento com deputados que estejam em contacto com as suas áreas profissionais. Essa transparência permi-tirá que a porta dos interesses se faça pela porta principal e não pela porta dos fundos. Também defendo uma redução

do número de deputados. Eventualmente, espaço à criação de uma segunda câmara, um senado. Por último, a ques-tão do voto: porque é que a pessoa que não esteja, no dia da eleição, no seu local de residência não pode votar? Ou tem de votar antecipadamente? O voto eletrónico iria reduzir a abstenção. Em Portugal existe uma classe política dema-siado formal. Os portugueses e as pessoas em geral gostam de uma boa tirada com graça e humor, e isso também apro-xima as pessoas da classe política.

OM: Mediante a avalanche de turistas nas grandes cida-des, nomeadamente no Porto e em Lisboa, não lhe parece interessante uma estratégia de os encaminhar para o in-terior, nomeadamente para Minho, o Alto Minho e Trás -os- Montes?

LCF: Não sendo o turismo a minha especialidade, julgo que essa questão passa muito pelos operadores turísticos, que planeiam as visitas e criam pacotes de ofertas tipo. É sobre-tudo por eles que se decidem os locais a visitar. Por outro lado, o turismo é muito rápido. Os tempos de permanência no nosso país são em médias 2 a 3 noites. Para se conseguir um turismo que não seja sazonal e levar as pessoas a outras cidades como Braga, Guimarães e Viana, por exemplo, isso tem de ser um trabalho das autarquias e das comissões re-gionais em articulação com os promotores de viagens, que incluam rotas e pacotes, pois o turista per si não decide que vai dar um salto aqui ou ali. Certamente, esse sucesso de-pende muito do investimento privado, mas como disse o turismo não é a minha área.

OM: Gostaria de voltar ao ativo, na política?

LCF: Vejo com bons olhos um regresso a um governo, não para qualquer pasta, porque não tinha valor para acrescen-tar, mas no seio de uma alternativa à esquerda. Essa alter-

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nativa é de afirmação difícil no curto prazo, mas tem de incluir um projeto económico, um novo comportamento internacional, uma nova abordagem nas relações com os países onde se fala português, nomeadamente, paí-ses de África e ideias bem mais claras. Não sei como se casam a três formas de ver a sociedade: o liberalismo, uma social democracia temperada com uma democracia cristã. Mas o mun-do evoluiu, estão a mudar as formas de produção, a forma de gerir a pro-teção social, o conceito de emprego, a nossa relação com as máquinas, entre outras. Tudo terá de ser objeto de uma profunda reflexão. A Direita vai ter de conversar e encontrar os denomina-dores comuns.

OM: nessa altura, se o convidarem…

LCF: Se Deus me der saúde, lá esta-rei, disponível. Considero a área do desenvolvimento muito aliciante, e devia ter um ministério autónomo e também possuir um estatuto próprio, assim como a cultura que deve ter uma força política visível nomeadamente em conjunto com os países africa-nos. A esquerda, «campeã» da cultura falhou redondamente. Independen-temente de o orçamento ser de 200 ou 300 milhões (claro que o dinheiro ajuda), são necessários protagonistas políticos com peso político. À cultura deve juntar-se o desenvolvimento e o turismo: um cluster economicamente explosivo.

OM: Deseja fazer uma saudação es-pecial dirigida aos milhões de portu-gueses que vão ter o gosto de ler a sua entrevista?

LCF: É muito curioso que o suces-so que alcançam, não alcançariam cá. Tenho uma grande admiração por aqueles que estão fora do país e é incrível como são bons em todas as áreas lá fora. Assim, concluímos que a fragilidade está no modelo ou no sistema e não nas pessoas. A grande mensagem para essas pessoas é uma mensagem repetida, porque é aque-la que todos os dias sentem, o de te-rem sempre um olho no nosso país. No país delas. O português cidadão do mundo implica uma postura do Por-tuguês que fica em Portugal e uma atitude quotidiana do Português que está a viver lá fora. Ser português é, no fundo, um adjeti-vo e não um substantivo.

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M I G R AÇ Õ E SPA L AV R A S D O M U N D O

A nossa odisseia em Portugal deu-se há mais de um ano, com a ajuda da equipa maravilhosa da Ei!. A história, a cultura e personalidade de cada lugar, os exce-lentes vinhos e a gastronomia, tudo nos parece incrível. Sem contar com as pes-soas: são muito acolhedoras, simpáticas e educadas. A língua portuguesa, tem sido um de-safio. Não é tão fácil para os falantes nativos de inglês quanto para outros idiomas. A burocracia aqui pode ser complica-da sobretudo por causa das diferentes interpretações que os funcionários das instituições públicas fazem dos requisi-tos para conseguir este ou aquele docu-mento, mas com a orientação certa tudo ficou mais fácil. Apesar dos dissabores, estamos felizes por termos feito esta mudança e não olharemos para trás.

Vir para Portugal tem representado uma aventura fabulosa, repleta de experiên-cias intensas. Sinto que parte da razão para isto é graças ao serviço e à atenção que a Ei! Assessoria me tem dado. O seu apoio foi a chave para o sucesso do meu processo migratório.Graças à excelente gestão desta empresa pude-me maravilhar com este belo país, com a música, com as cores e sabores muito particulares, com os ornamen-tos silenciosos, porém adoráveis, das suas ruas e monumentos, a variedade de ambientes que oferece aos visitantes, tudo somado à fantástica experiência de me sentir em paz e tranquilidade e por estar rodeado de pessoas felizes e des-contraídas.Faço o que gosto e posso desfrutá-lo plenamente por me sentir seguro e com estabilidade a vários níveis da minha vida.

A imigração não é nem uma escolha simples nem um passo fácil de dar. Por isso, é vital contar com o apoio de pes-soas especializadas para ajudar no pro-cesso e estabelecimento no novo país. A minha ajuda e suporte vieram da Ei!.Para além da cidade maravilhosa, pai-sagens fantásticas e cerimónias memo-ráveis que pode encontrar em Lisboa, existe algo sobre as pessoas que vivem aqui, que todos devem conhecer e expe-rienciar, que é a sua bondade, boa-edu-cação e a sua inclinação para ajudar os outros sem perguntarem de onde vens ou porquês.Passado meio ano em Portugal, tenho mais objetivos, metas que quero alcan-çar para poder um dia sentir-me em casa. Se fracassar nestes planos, sinto que me irei arrepender para sempre.

Portugal está a viver uma das maiores vagas migra-tórias alguma vez registada na sua história. Segundo os dados mais recentes do INE, cerca de 5% da popu-

lação já são cidadãos estrangeiros com Título de Residên-cia. Tendo feito parte de uma enorme parcela destas vidas

que depositaram a sua fé em Portugal, tendo contribuído para que centenas de famílias pudessem cumprir com os seus sonhos aqui, quisemos dar a conhecer o testemunho de apenas alguns destes novos cidadãos do mundo que fi-zeram a jornada connosco.

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M I G R AÇ Õ E SPA L AV R A S D O M U N D O

O meu processo para Portugal come-çou no início de 2018. Só em novembro desse ano, é que vi os meus esforços e o apoio da Ei! Assessoria Migratório da-rem frutos.Cheguei a Lisboa, de Caracas, em Janei-ro de 2019 e a minha primeira impres-são foi sem dúvida a mudança de tem-peratura, já que na minha cidade natal quando saí de manhã a temperatura era de 28º C, e em Lisboa estavam 4º C.A língua foi outro choque. Percebi que tinha de aprender português para me-lhorar a comunicação com as pessoas na rua, no escritório, ou, sobretudo, com as entidades públicas para fazer entender o que quero e receber melhores instru-ções.Encontrei várias limitações como imi-grante, mas também um acolhimento e apoio muito bons. Ainda tenho muitos objetivos que quero alcançar, mas ago-ra, com a minha família, continuaremos a lutar para cumprir com as nossas am-bições de nos enraizarmos neste grande país que tão bem nos acolheu.

Vim para Portugal para trabalhar e vi-ver. Foi a melhor decisão que tomámos, eu, meu marido e nosso cachorro. Hoje estamos muito bem instalados e felizes de poder desfrutar desta oportunidade numa cidade tão bonita, segura e tran-quila como Lisboa. Mas não se enga-nem, tem sido um desafio. Deixar toda uma vida para trás, família, amigos, cultura e costumes. Hoje eu percebo que é como nascer de novo!Por incrível que pareça o idioma algu-mas vezes é de difícil compreensão. A adaptação é um dia após o outro, com muitas coisas para fazer e muitos do-cumentos a obter. O que nos leva aos entraves burocráticos e processos com-plexos. Se não fosse a Ei! Assessoria Mi-gratória auxiliando-me a mim e ao meu marido, dando-nos suporte total, nós não teríamos conseguido. Estávamos, para usar uma palavra bem portuguesa, “lixados”!Quase 1 ano completo, eu acredito que temos mais pontos positivos do que ne-gativos a contar. Muito a comemorar, muito mais!

Ao longo do tempo, a vida mostrou-me que se somos fiéis ao que acreditamos e ao que queremos alcançar, a vida gra-dualmente coloca-nos nos lugares cer-tos.Sendo uma mexicana de 32 anos, com um background académico e experiên-cia profissional, a oportunidade de ir vi-ver e trabalhar na minha área em Por-tugal, era imperdível.Foi como construir uma vida a partir do zero mas, felizmente, encontrei uma mão amiga para me acompanhar du-rante todo o processo, e foi a partir do primeiro contato com a equipa da Ei que as minhas dúvidas e medos começaram a desaparecer, desde o primeiro dia. O meu projeto de vida em Portugal tem sido das melhores experiências, com a oportunidade de ter melhor qualidade de vida num país que me oferece tran-quilidade e segurança, um clima ex-traordinário e um excelente equilíbrio entre a minha vida profissional e pes-soal.

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M I G R AÇ Õ E S PA L AV R A S D O M U N D O

A segurança e a tranqui-lidade, o idioma e o rit imo de vida, a história

e a cultura, o clima e a buro-cracia, a gastronomia e o aco-lhimento, são apenas algumas das alegrias e desafios que es-tas pessoas, de várias partes do globo, descrevem ter en-contrado no nosso país. A Ei! Assessoria Migratória diaria-mente luta por estes aventu-reiros e por novos que hão-de vir, como sendo o princípio das suas jornadas para Portu-gal e por fazer tudo ao nosso alcance para que novas raízes possam ser aqui estabeleci-das. Mais do que fonte de es-perança, continua a ser a nos-sa determinação unir o Mundo com todas as etnias, credos e históricos profissionais e aca-démicos para que haja mais testemunhos como estes que aqui se deram a conhecer.

Os desafios surgiram logo à chegada. Encontrar um apartamento é o mais difícil considerando que estás num país novo onde ninguém te conhece, não possuis fiador, tens de pagar rendas ex-tras como garantia etc. No entanto, com esforço, dedicação e a devida dose de sorte, acabámos por conseguir um bom apartamento, por um preço razoável.A saudade da família, dos amigos, do país natal, um trabalho novo, novos colegas e uma nova cultura, foram as maiores dificuldades que tive e senti quando cheguei a Portugal. Hoje, pas-sado um ano em Portugal, com um tra-balho estável e uma casa, posso dizer que estou a criar raízes. Portugal é um país incrível, com um clima excelente, a comida maravilhosa. Viver aqui me proporciona imensas alegrias, sendo a melhor delas a facilidade em viajar, descobrir as belezas de Portugal e de outros países da Europa.

Decidi mudar-me para Portugal depois de ter vindo a Lisboa para o meu 50º aniversário para uma semana memo-rável. Os portugueses eram acolhedores, amigáveis e sempre prontos para aju-dar. A comida foi fantástica; as praias e o clima convidativos e relaxantes.Na internet descobri a Ei! e depois de conversa com a Diretora da empresa, a Gilda Pereira, percebi que era uma pes-soa gentil e bastante conhecedora, sa-nando as minhas dúvidas e dando-me muita confiança para avançar.A Gilda, a Cristina, o Rodolfo, o Daniel, o Tiago e a Carla sempre foram recetivos, eficientes e um prazer de trabalhar com. Documentos em tempo recorde, simpa-tia no trato e profissionalismo. Com a Ei! não só a jornada, como a própria ideia que fiz das pessoas e do país foi muito melhor do que imaginei.Obrigado!

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

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P E L A D I Á S P O R A J O R N A L LU S O - A M E R I C A N O

FICHABissemanal, quartas e sextasLeitores em 46 Estados AmericanosDistribuíção: assinantes e pontos de venda33.000 Exemplares91 anos

Website

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P E L A D I Á S P O R A J O R N A L LU S O - A M E R I C A N O

OM: Quando e como nasceu o jornal Luso-Americano e quem foram os seus fundadores?

LA: O jornal Luso-Americano foi fun-dado por Vasco Jardim em 1928 e des-de então tem-se afirmado como por-ta-voz das comunidades portuguesas em todo o país.

OM: Com que apoios contaram para iniciar este projeto?

LA: Não contamos com quaisquer apoios oficiais para além dos subscritores e da publicidade.

OM: Quais as motivações que estive-ram na base deste projeto?

LA: As motivações foram a ligação in-tercomunitária. Todos querem saber o que se passa nas outras comunida-des. Só em Newark e áreas circundan-tes vendemos mais de 15 mil jornais por edição. Em virtude das páginas de classificados há muitos leitores hispânicos que procuram emprego e americanos que pretendem comprar, vender ou alugar as suas casas.

OM: Como foi realizada a transição para o online? Em que medida se justifica continuar a publicação em papel? De que modo se realiza a dis-tribuição? Em que locais se pode ad-quirir o jornal?

LA: A Edição online começou em 2016

e já é um sucesso. Mais de três mil leitores a ler o nosso jornal na inter-net. Muitos optam também por fazer publicidade na edição digital por es-tar disponível com algumas horas de antecedência. É publicado às quartas e sextas feiras com leitores em 46 es-tados americanos. Tem uma tiragem média de 33 mil exemplares, com a maior parte enviada por correio para os assinantes e o restante distribuí-do por cerca de 300 postos de venda nas áreas de Nova Iorque e New Jer-sey. Possuímos cerca de duas dezenas de correspondentes nas comunida-des de maior expressão nos Estados Unidos, desde a Califórnia à Nova Inglaterra. É importante referir que possuímos assinantes há mais de 50

António Matinho e o filho Paul

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P E L A D I Á S P O R A J O R N A L LU S O - A M E R I C A N O

anos. Possuímos um arquivo em pa-pel do jornal desde a sua fundação e está completamente digitalizado e tem servido para inúmeras teses aca-démicas. Possuímos uma rede própria de distribuição que levanta o jornal da gráfica, pela uma hora de Newark e posteriormente procede à distribui-ção pelas comunidades a qual demora várias horas.

OM: Quais as temáticas mais interes-santes para os leitores de outrora e do presente?

LA: Optamos, no contexto editorial, por dar destaque às comunidades

portuguesas, notícias de Portugal que interessam às comunidades e notícias americanas com relação direta com as comunidades. De uma forma geral destacamos também os portugueses de sucesso e as iniciativas dos clubes e associações. Em relação ao passado, as comunidades eram maiores e ti-nham outra expressão. Atualmente o congelamento da emigração tem sido prejudicial ao aumento das comuni-dades. Continuam a ser os ranchos folclóricos os grandes transmissores da promoção da cultura popular. Cerca de 5 mil jovens dividem-se por deze-nas de grupos etnográficos aos quais dedicam o seu tempo livre. O sistema

escolar tem ajudado, sobretudo onde ainda há escolas portuguesas, que é o caso de Newark, Elizabeth, Long Branch, Lodi, Harrison e outras. Por exemplo, A escola Luís de Camões já teve 400 alunos e hoje está reduzida a pouco mais de 100. Atualmente o jor-nal é propriedade da família Matinho, António e Natália e do filho Paul. A re-dação é composta por sete jornalistas.

OM: A OBSERVA Magazine deseja muita longevidade ao Luso-Ameri-cano e agradece este testemunho.

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AM I G U E L TO R G A

«Ter um destinoé não caber no berço onde o corpo nasceu,

é transpor as fronteiras uma a umae morrer sem nenhuma».

«Nasci como um cabrito ou como um pé de milhoO destino plantou-me aqui e arrancou-me daqui.

E nunca mais as raízesme seguraram bem em nenhuma terra»

DESTINO, RAÍZES E TERRA

Miguel Torga, pseudónimo de Adol-fo Correia Rocha nasceu em S. Mar-tinho de Anta há cento e dois anos, a 12.08.1907 morreu em Coimbra a 17.01.1995. Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa apalaçada do Porto, pertença de familiares.O pequeno criado ganhava quinze tos-tões por mês e dormia num cubículo de campainha à cabeceira. De farda branca servia de porteiro, “moço de recados”, jardineiro, miúdo de limpe-za e polidor da nobre escadaria. Se ne-cessário fosse “atendia campainhas” internas. Era um tempo longe da regu-lação da proibição do trabalho infantil. Um ano depois, foi despedido. Era in-submisso.

Em 1918, é encaminhado para o Semi-nário de Lamego, onde viveu “um dos anos cruciais” da sua vida Aí, aprofun-dou os conhecimentos de português, geografia, história e iniciou a aprendi-zagem de Latim. Findas as férias, co-municou ao pai, que não desejava ser padre. Em 1919, foi então enviado, aos doze anos, para Minas Gerais, Brasil, para de trabalhar numa fazenda, pro-priedade de um tio.

O trabalho era muito. Desdobrava-se em tratar dos animais da quinta: va-cas, porcos e cavalos e outros afazeres como rachar lenha e vender produtos da fazenda. Também se ocupava da contabilidade e era o responsável pela segurança da fazenda, fechando por-tas e janelas antes de se deitar, já tar-de. Quatro anos mais tarde, o tio ma-

triculou-o no Ginásio de Leopoldina. «…o Brasil amei-o eu sempre, foi o meu segundo berço, sinto-o na memória, trago-o no pensamento».Em 1925, seu tio, alimentou a ideia de que o sobrinho viria a ser um “doutor em Coimbra”, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço.Regressado a Portugal, fez em dois anos, os cinco do primeiro e segundo ciclo do curso liceal de sete. No Liceu José Falcão completou o terceiro ciclo num só ano, ficando apto a ingressar na Universidade.

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AM I G U E L TO R G A

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O escritor passa também a ser médico.Em 1929, aos 22 anos, deu início à co-laboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema “Alti-tudes”.A revista, fundada em 1927 pelo “gru-po literário avançado” de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fon-seca, seria uma espécie de ‘bandeira literária do grupo modernista” e era também, “bandeira libertária” da Re-volução Modernista. A intervenção li-terária, já então a entendia Adolfo Ro-cha, como o único modo de combate numa pátria que é o cemitério da pró-pria língua. Que pensaria ele hoje, do novo acordo ortográfico, que envolve o seu amado Brasil?Em 1930, Torga rompe definitiva-mente com essa revista, por razões de liberdade humana e de discordância sobre a estética da revista. No mesmo ano, Adolfo Rocha e Bran-quinho da Fonseca fundam a revista «Sinal», publicada em julho. Na mes-ma altura, publica o poema «Tributo». Em 1931, escreve o conto Pão Ázimo». Conclui o curso universitário de medi-cina em 1933.«Na hora em que esperava merecer da vida a alegria íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o terror fundo que não diz donde vem nem para onde vai», escreveu no dia em que se licenciou.Seguidamente, mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934, conce-lho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra.

«A VIDA AFETIVA. A ÚNICA QUE VALE A PENA»

Casa com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante belga- aluna de Estu-dos Portugueses, cursoministrado por Vitorino Nemésio, em Bruxelas. Viera a Portugal frequentar um curso de férias na Universidade de Coimbra. «Vou tentar ser bom mari-do, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso». «Os sins de que eu fui capaz contra os nãos da vida». Do casamento nasce, a 3 de outubro, de 1955, Clara Rocha.

PSEUDÓNIMO

Adolfo Correia Rocha, aos 27 anos em 1934, autodefine-se pelo pseudónimo que criou.Miguel e Torga, sendo Miguel uma homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica:Miguel de Cervantes e Miguel de Una-muno e Torga (Erica lusitanica), de-signação nortenha da urze, planta brava da montanha, que explode raí-

zes lenhosas sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho.

MAIS CAMINHO. ADMIRAÇÃO POR FERNANDO PESSOA

A Terceira Voz, em 1934 é publica-do por Miguel Torga, com prefácio de Adolfo Rocha, seu irmão. Em janeiro de 1936 funda, com Albano Nogueira, Manifesto, Revista de Arte e Crítica:

«Procurávamos um caminhode liberdade assumida onde nem

o homem fosse traído, nem o artista negado, uma arte rebelde enraizada

na circunstância».É autor de «O Diário torguian», que publicou entre 1941 e 1993, onde re-trata o seu pulsar sobre o homem, o mundo e a vida, entre 3 de janeiro de 1932 e 10 de dezembro de 1993.

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«Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poe-ta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade, sem ao menos perguntar quem era». (3 de dezembro de 1935).

AINDA SOBRE PESSOA:

«Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal

feito de versos». «Bichos», das suas obras mais conhe-cidas, surge em 1940, reeditada pouco depois, com traduções sucessivas para variadíssimas línguas.

«Animais com sentir humano ou seres humanos vestidos

de animais. Ou uma irmandade de animais e homens».

Tudo numa argamassa de vida. O cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morga-do, o Ladino, o Ramiro. E a Madalena, caminhando na contramão da contra-dição entre cultura e vida.

PRÉMIOS E ELOGIOS

Escreve variadíssimas obras de Fic-ção; Poesia e também Peças de Teatro. É, justamente, galardoado com vários prémios, entre os quais:1969 - Prémio do Diário de Notí-cias;1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist. 1980 - Pré-mio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade; 1989 - Prémio Camões;1991 - Prémio Personalidade do Ano;1993 - Prémio da Crítica, consagra a sua obra, entre outros.«Se existe alguém que escreve em por-tuguês e merece o Nobel é Miguel Torga, não eu», diz Jorge Amado, mas Torga não o conseguiu.«Uma literatura que produz, no mesmo século, dois vultos do calibre de Pessoa e Torga, pode considerar-se uma litera-tura de excelente saúde», diz Torrente Ballester

O POLÍTICO

«A política é para eles (os políticos) uma promoção e,

para mim, uma aflição».

Foi preso várias vezes devido à sua obra, sendo a primeira em 1939, em Aljube.Andrée Rocha foi suspensa do seu lu-gar académico, passando a fazer tra-duções e a ajudar o marido.Em 1967, Torga assina um manifes-to no qual é solicitada a aprovação de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a possibilida-de de interpor-se recurso no caso de apreensão de livros.Sobre o 25 de Abril de 1974, descrente nos militares, diz:

«Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem sempre

ardentemente a desejou».Sobre a descolonização escreveu:

«Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos

dele em traineiras».

«A fanfarronice de uns, a incapacida-de de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Me-tade de Portugal a ser o remorso da ou-tra metade». Em 1967, Torga assina um manifes-to no qual é solicitada a aprovação de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a possibilida-de de interpor-se recurso no caso de apreensão de livros.Ramalho Eanes, o General que veio a ser Presidente da República, torna-se seu amigo e Torga dá-lhe um conse-lho:

«Seja sério, mas não se leve a sério».

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Miguel Torga nunca se filiou em par-tido algum:

«É ESCUSADO. NÃO POSSO TER OUTRO

PARTIDO SENÃO O DA LIBERDADE».

«O meu partido é o mapa de Portugal».

Relativamente à entrada de Portugal, a 12 de junho de 1985, no Mercado Comum, Torga mostra que não nutre simpatia nenhuma pela União Euro-peia, a qual diz ofender o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria.Insurge-se contra a ideia da subser-viência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve. Mostra-nos o «repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania e diz que «Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa».

É também contra a regionalização:«O mundo a braços com o drama das di-versidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la»?

«Viajar, num sentido profundo,

é morrer».Em 1937, em dezembro, Torga viaja por Espanha, França e Itália. O fascis-mo em Espanha completava a ameaça à liberdade. Vai a Istambul, em 1953.

Em 1973, parte para contemplar as paragens dos nossos feitos e pega-das passadas «e das nossas misérias presentes». Na África lusófona, tem o «pressentimento de que chegara o fim da epopeia» lusa.

«Lá, como cá, um quadro não muda um homem.

Mas um verso sim».Em Macau, no ano de 1987, na Gruta de Camões e no dia do Poeta, Torga aceita discursar na cerimónia de as-sinatura da transmissão a curto prazo da soberania de Macau.Em Goa, a 19 de novembro de 1986, de-clama oitenta poemas para o disco come-morativo dos seus oitenta anos de vida.

AUTORRETRATO. QUEM NUNCA?

«Nem sempre escrevi que sou intran-sigente, duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. [...] Nem sempre admiti que estava irritado com este ca-marada e aquele amigo. [...] A desgraça é que não me deixam estar só, pensar só, sentir só».

MORTE

Em 17 de Janeiro de 1995, morrem o médico Adolfo Rocha e o poeta Miguel Torga. Descansam em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.

«Nenhum tormento mais, nenhuma imagem

(No caixão, ninguém pode Fantasiar …

Pronto para a viagem de acabar. Só no ouvido dos versos, onde a seiva não corre, uma rima perdura

A dizer com brandura que um Poeta não morre».

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PA L AV R A AO S I N V E S T I G A D O R E SQ U E L Í N G U A FA L A V A A F O N S O H E N R I Q U E S ?

Quando Afonso Henriques se tornou rei de Portugal, que língua ouvíamos nas ruas de Guimarães? Seria latim? Seria português?

O latim clássico não era certamente: entre a chegada dos romanos ao Ocidente da Península e o momento em que Afonso Henriques se torna rei passam séculos e séculos — mais séculos, aliás, do que já passaram entre o tempo de Afonso Henriques e o nosso próprio tempo.

Não só a nossa língua provém do latim vulgar, das ruas, e não do latim clássico, como seria de estranhar que o latim, ao longo de mais de 1000 anos, não mudasse. Mudou — e mudou muito. No momento em que Afonso Henriques nas-ce, nas ruas já ouvíamos algo com características que hoje consideraríamos muito portuguesas e muito menos lati-nas. Como exemplo, já se notaria a queda do «n» e o «l» em muitas palavras que, noutras línguas (como o castelhano) ainda se mantêm — por exemplo, a «luna» latina passou a «lua» no português e manteve-se «luna» no castelhano.

Apesar de ser já, em traços largos, a nossa língua, ninguém usava o nome de português. O termo comum seria «lingua-gem», a linguagem do dia-a-dia, desprezada e sem forma escrita. Era, no entanto, mesmo sem nome, uma língua completa. As línguas vão mudando ao longo dos séculos, transformando-se e dividindo-se, mas nunca estão numa fase imperfeita ou decadente. Estão sempre em contínua mudança.

Agora, a surpresa: a tal linguagem que saía da boca de Afonso Henriques desenvolveu-se, a partir do latim vul-gar, no Norte de Portugal, mas também na Galiza. Naquele momento, não havia uma fronteira linguística entre o novo reino e o reino a norte. A língua de Afonso Henriques era a língua latina própria do território da antiga Galécia roma-na, que incluía o Norte de Portugal e a Galiza.

Nos primeiros séculos da nossa nacionalidade, a tal lingua-gem da rua, a língua da Galécia, começou a ser escrita — e há, aliás, muito boa literatura naquilo que hoje chamamos

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PA L AV R A AO S I N V E S T I G A D O R E SQ U E L Í N G U A FA L A V A A F O N S O H E N R I Q U E S ?

«galego-português» (um nome que ninguém usou até muitos séculos depois). A língua própria da antiga Galécia era uma língua que chegou a ser usada pelos reis castelha-nos para escrever poesia — e foi usada, sem dúvida, por D. Dinis na sua poesia e, cada vez mais, em documentos ofi-ciais. Era o nosso português antes de se chamar português.

A língua da Galécia tornou-se a língua do novo Reino de Portugal. Com alguma naturalidade, tempos depois, come-çou a aparecer o nome de «português» como designação da língua do reino — sem que a língua deixasse de ser a mes-ma que se falava ainda a norte do Minho, na Galiza.

E no sul de Portugal? Na altura em que Afonso Henriques se tornou rei de Portugal, o Sul estava sob domínio muçul-mano. A língua da população era, no entanto, o moçárabe, ou seja, a particular evolução do latim no sul da península. Com a expansão do novo reino de Portugal para sul, a língua do Norte começou a invadir os novos territórios, sofrendo algumas influências do moçárabe e, através deste, do árabe. A língua da Galiza e do Norte tornava-se, também, a língua do Sul de Portugal.

Como a capital ficou estabelecida em Lisboa, a forma parti-cular da língua nessa cidade ganhou um prestígio particu-lar, sem que tal significasse que fosse, de alguma manei-ra, a melhor forma de falar a língua. No Norte, o português continuou a ser falado como sempre foi. Mesmo na Galiza, onde a língua deixou de ser escrita, a população continuou a falar, pelos séculos fora, algo muito próximo do que saía da boca dos portugueses do Norte.

Só no último século, com a expansão do uso do castelha-no na Galiza e com a uniformização da língua portuguesa centrada nos usos do Sul (uma uniformização que não é completa, mas tem aproximado a forma de falar dos portu-gueses de todo o país), os galegos e os portugueses do Norte começaram a sentir uma divergência mais marcada naquilo que se fala na rua a norte e a sul do Minho.

Mesmo assim, ainda hoje há uma surpreendente proximi-dade entre o que se fala dum lado e doutro da fronteira en-tre Portugal e a Galiza — e note-se que estamos a falar de uma das mais antigas fronteiras do mundo. Muitos galegos ainda falam galego — e nós, claro está, falamos português. Nós, portugueses e galegos, falamos qualquer coisa que descende directamente da língua que se ouvia em Guima-rães — mas também em Tui — quando Afonso Henriques se tornou o primeiro rei de Portugal.

Essa língua forjada na antiga Galécia está hoje noutras pa-ragens do mundo, já o sabemos. Mas essa história fica para outro dia...

BIONOTA:

Marco Neves é autor de vários livros de divulgação linguís-tica, entre eles A Incrível História Secreta da Língua Portu-guesa e a nova Gramática para Todos — O Português na Ponta da Língua (ambos editados pela Guerra e Paz). É professor na Universidade Nova de Lisboa e tradutor na empresa Eu-rologos-Lisboa. Escreve regularmente para o Sapo 24 e no blogue Certas Palavras.

Marco Neves Universidade Nova de Lisboa

[email protected]

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H I N O A O A Z E I T E

A H O N R A D A S E M O Ç Õ E S

Pouco me importa quem o sonhou, quem o escreveu

muito menos quem já o confessou. De qualquer forma,

aplaudo tão simpática eloquência à tríade alimentar dos po-

vos e dos locais onde reina a Oliveira - onde o sol, os praze-

res da sesta e a volúpia do corpo acrescentaram agrados não

menos aprazíveis. O Douro e as Terras Quentes Transmon-

tanas. O autor deste manifesto - desta crónica de contento

às honras das emoções - pede, então, perdão aos comensais

de circunstância pela utilização do Azeite nas comidas mais

sensatas e solicita a protecção dos sábios que sabem afrou-

xar os cintos nas ocasiões que fazem desta prática não uma

insólita extravagância senão a consequência de uma solene

convicção. Aliás, (também o escrevi em tempos), o aroma dos

guisados e as birras dos estrugidos, o cachondo dos grelos in-

vernais, o capricho nos assados ou os mimos dos grelhados, o

pico dos caldos ou o erotismo das saladas, o brio dos molhos e

a desquebra dos cachicos avinagrados, a vaidade dos comeres

mais abelhudos ou das patuscadas mais folgadeiras

até o perfume das viandas e a dureza da mulherada das

mezinhas

não desobrigam nem aliviam o argumento de que comer

sem azeite é comer miudinho. Todavia, um breve regresso ao

passado é imperatório […] Não para o percebimento de meras

curiosidades históricas mas para uma visão acontecida deste

e destes alimentos, mesmo que os mitos gastronómicos de

outrora desvaneçam temerosos intelectos ou suplantem os

actuais mercantilistas de ocasião. Assim, não me escuso a re-

ferir que antepassados nossos entendessem que este alento

da oliveira benairasse a inabilidade do apetite, amolentasse

dentes desprevenidos, tivesse serventia na fortificação de

cabelos tristonhos, acomodasse músculos fatigados, fosse

Quem não ama o pão, o vinho e o azeite…

as mulheres e as canções… será um estúpido toda a vida

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ministrado aos moribundos como símbolo da vida eterna

ou aos azarados para curar azias e tripas emperradas, irrita-

ções respiratórias, ataques de lombrigas, maus-olhados […]

A esta mitologia de virtuosidades medicinais, proféticas ou

sagradas

outros antecessores aditaram-lhe predicados alimen-

tares

culturais e económicos (…) Os fenícios – povo navegador,

como nós portugueses – traficaram-no com a escrita alfabé-

tica, os cristãos sacralizaram-no até aos limites do sobrena-

tural, os gregos, além das curtimentas de azeitonas, urdiram

azeites verdes, azeitilhos lúbricos, de azeitonas pretas e os

correntios – que, no nosso Douro de vinhos cheirantes, fo-

ram os azeites de verão, de inverno e azeites gordos. Por sua

vez, a civilização etrusca, que tanto influenciou a cultura ro-

mana, entendeu reconhecer-lhe o elevado teor «proteico!»,

aplicando-o na alimentação revitalizante dos escravos. E os

augustos romanos já não se escusavam a condimentar qual-

quer cozinhado com muito azeite e a confrontar as refeições

mais ritualistas com as melhores azeitonas do império! Na

cozinha bizantina os bolos de trigo eram fritos em azeite, en-

quanto as sopas, feitas de água e verduras, não o isentavam

como tempero. Entretanto, os árabes iniciavam-se na con-

servação das azeitonas com os sobejos de sumos cítricos; os

judeus, embora pouco dados às lides do campo, só admitiam

a gordura do azeite na confecção culinária e muitas vezes em

abusivas quantidades – desde os ovos cozidos, às bolas so-

vadas, até às carnes ovídeas mesmo quando grelhadas. A in-

tensificação da agricultura, o ruralismo crescente, o fomento

dos mercados locais e o dinamismo dos almocreves, os repo-

voamentos régios - do heroísmo e da procura da substância

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PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H I N O A O A Z E I T E

A H O N R A D A S E M O Ç Õ E S

a força crescente da Igreja ou a gulaima conventual

fizeram com que o azeite deixasse de ser o tempero

das abstinências e o combustível das lamparinas para se ele-

ger como a gordura de reserva - o renascimento de uma ali-

mentação mais expressiva ou uma prática indispensável na

maioria do receituário das regiões culturalmente mediterrâ-

nicas. [Em resumo] de remate a este prólogo de enfeite, evoco

aos mais abstraídos que a Oliveira e o Azeite são a memória

dos povos dos prazeres do sol e dos calores da vida … a imor-

talidade da sua cultura, a magnificência do elogio ecológico.

Por isso, caros leitores

gozem a aceitação da mesa, louve-se a singularidade do

azeite

porque para este prazer – o prazer do azeite – não há

castas, nem raças, nem ofícios, é para todas as idades, para

todas as condições, para todos os países, para todos os dias

[…] pode associar-se a todos os demais prazeres e queda-se

por último para consolarmos a perda de outros. E saiba-se

que o azeite – com o vosso perdão – é o amante das comi-

das que os afortunados estômagos transcendem no prazer da

mesa. E também se sabe que, sendo um bom amante, a ama-

da não pode ser nada má (…) Nesta altura, evaporam-se uto-

pias, regenera-se o destino e começam as despedidas com

realidades comestíveis. Como o melhor de qualquer dieta é o

prazer de quebrá-la, vamos a isso

apreste-se com umas laranjas e corte-as às rodelas

deixando pequenas tiras de casca. Retire-lhe o estorvo

dos caroços e salpique com alho picado e um pouco de sal ao

dente; de seguida, regue com azeite – azeite a raiar o verde

picante. Simples. Esta laranja azeitada, que já foi merenda de

meio-dia, acompanhava sempre com pão e azeitonas. Era o

aproveitamento das laranjas mais ácidas. Posteriormente

transformou-se na «laranja dos ricos» ou «laranja dos fidal-

gos» [freixenistas] para adornar assados de capão, cordeiro

ou cabritadas. Actualmente serve-se como salada ou à so-

bremesa. Para acompanhá-la poderia rebuscar um refêgo de

amêndoas com azeite – receita com origens árabes, cristia-

nizada com a introdução do pão migado – uma boa merenda

de verão no tempo das colheitas em alguns locais da Vilariça.

Tem esta conduta

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A H O N R A D A S E M O Ç Õ E S

num almofariz esmague uma dúzia de amêndoas por

pessoa

juntamente com dentes d’alhos. Vá adicionando o azei-

te e mude a pasta conseguida para uma terrina onde se junta

água refrescada e sumo de limão; acrescente o pão migado e

leve ao frigorífico. Poderia ainda relembrar uma pastada de

azeitonas para barrar cadornos de pão centeio - aquele pe-

guilho dos guardadores de gado ou dos segadores quando

apartavam de casa por períodos mais ou menos longos e as

azeitonas novas ainda não tinham saído da árvore - cuja arte

será a de reduzir as azeitonas a puré, misturar-lhe sumo de

limão e azeite de aparto, engrossando com miolo de pão fres-

co. Nestes vícios pouco contidos, porque não prosseguir com

um caldo dos espárragos [?] apresados aos toros das oliveiras

envelhecidas pelo tempo, onde os arados não chegam […] nas

carrasqueiras ou nos mortórios recolonizados pelos mata-

gais. Para confirmar tal gesto de arremedo faça assim

amanhe um bom manhuço de espargos bravos

cortando-os aos pedacitos, e escalde-os em água du-

rante três minutos. Refogue, em azeite, alho picado, cebola às

rodelas e chouriço partido em trochos bastante pequenos. No

apuro certo, ajunte-lhe salsa esfarrapada, a água necessária,

e deixe ferver. Tempere de sal e rectifique de azeite. (Uma boa

migada de pão borneiro e um ovo mexido ajudam ao conforto

dos apetites mais assanhados – e de que maneira!) […] Para

evitar possíveis contenciosos, imagens enganadoras ou fú-

rias altíssimas, arroje-se, sem acanhos, à panóplia de sopas,

caldos e migas que não recusam nem poupam o borrifado

do azeite. Normalmente, para agasalhar os estômagos mais

revolucionários, consagra-se ao azeite o seu mais fiel amigo

– o bacalhau – cujos sabores gastrófilos se sucedem infinita-

mente. Deixo-vos a referência ao meu bacalhau favorito – o

bacalhau no borralho

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depois de bem demolhadas, escorridas e enxutas

coloque cada uma das postas entre duas fatias de pre-

sunto e entrouxe em folhas de couve; ate-as com baraço de

uso nos fumados. De seguida, introduza os embrulhos na

lareira e cubra-os com brasas mornas e alguma cinza ainda

viva. Quando sentir o chiar do bacalhau é sinal de assadura

aprontada. Retire os ditos do borralho e liberte as respectivas

postas. Agora, afogue a borralheira do bacalhau com bastante

azeite e enfeite com cebolas às rodelas. É para acompanhar

com batatas a murro ou por uma grelada bem orvalhada de

azeite. Também não resisto a dar-vos à prova virtual um ba-

calhau entalado… saído dos feitiços gastronómicos de uma

bela mogadourense … como prelúdio para uma noite de míti-

cas fantasias quando emparelhado com um vinho de frescura

sensual. E se a trepa do palheto não atrapalhou a minha me-

mória, como penso que não, para conseguir a gentileza dos

préstimos de bacalhau tão endiabrado

primeiro demolhe as postas do dito em água gelada

que seja de um dia para o outro. Limpe-as das peles para

fritar à parte, desince-as das espinhas estorvantes e trans-

forme-as em lascas ligeiramente grossas. No fundo do tacho

acomode rodelas de cebola, salsa picadinha, alhos lamina-

dos, cabeças de cravinho, colorau picante, sal e um cheiro

de pimenta preta, as lascas de bacalhau passadas por uma

aguardente velha e, por último, as batatas rodeladas. Regue,

azeitando, e leve a lume brando até cozer, abanando o tacho

de vez em quando para que o bacalhau fique [bem] entalado e

a bufar a quentura dos condimentos. Ao servir, enfeite com as

peles fritas e azeitonas quartilhadas na companhia do tal vi-

nho ou de um bruto espumante das margens do Varosa, e ter-

mine com um doce de laranja xaropado ou com uma calda de

pingos de mel. As outras fantasias são por vossa conta! Nes-

tes propósitos, a minha imoderada paixão por este símbolo

da portugalidade leva-me [ainda] a mencionar outras trans-

montanices do bacalhau - assado com pão centeio, à moda da

bruxa valpacense, em sopas da segada, com chícharros mi-

gados de couves, de escabeche, na espiritualidade das pata-

niscas... - que abusam mas nunca insultam o prazer do azeite

[…] Antes que S. Fortunato, patrono dos bons comedores, se

exalte por tão luciferino prazer de comeres azeitados, prin-

cipalmente pelos próprios ciúmes, deixo para escritas pos-

teriores as peixadas, a caça, o pão e os folares. Porém, já que

para alimentar o estafermo do corpo para que a inocência da

alma se sinta bem nele, convide-se novamente o prazer do

azeite, agora na doçaria

ferva-se de véspera litro e meio deste elixir

até ficar da cor do chá. Bata quarenta ovos com um qui-

lo de açúcar, junte-lhe o azeite fervido e um copo de aguar-

dente. Cibinho a cibinho vá acrescentando a farinha triga e

tantinho de sal, batendo com a mão molhada no azeite até

ficar frígida, ou seja, pronta a ser trabalhada com as mãos.

Coloque os bolos conseguidos em tabuleiros com azeite, sal-

picados com farinha, e pincele-os com gema de ovo. Leve a

forno previamente aquecido. O tamanho dos bolos é à medida

dos artistas, e temos doçaina para toda a semana. São os bo-

los ou biscoitos de azeite; quando se excede na aguardente,

chamam-lhe borrachões. Mas a pauta das ementas sacarinas

azeitadas é longa e saborida, graças à popularização do açúcar

e à paixão freirática pela doçaria. Foram as azeitonas doces,

as cavacas, os romeiros económicos, os dormidos, os desgo-

vernados matrafões, as rosquilhas, a mania das compotas de

azeitonas [...] a fritura das bôlas estendidas. Às vezes, o azeite

só servia mesmo para untar o ferro da cozedura – é o caso dos

canelões. Não queria terminar este mistério oleícola sem me

referir a um dos presentes do Supremo Lavrador – as azeito-

nas de escabeche – que as mulheres durienses amanhavam

como atributos mágicos. Preparam-se deste jeito

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A H O N R A D A S E M O Ç Õ E S

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para meio quilo de azeitonas esquartejadas, numa tigela

amanhe uma malagueta, quatro dentes de alho esbor-

rachados, um raminho de óregãos e um pequeno molho de

tomilho, duas folhas de louro, uma colher de chá de alecrim

picado, outra de sementes de funcho e outra de cominhos

bem esmagados. Ajeite a mistura num frasco de vidro com

tampa hermética e arrase com azeite amargo, até à dobra do

gargalo. Feche o frasco e deixe a repousar durante três a cin-

co dias. Sem estrebuchar, agite-o antes de usar e guarde-o

sempre em local fresco. (Abençoadas dulcineias que soube-

ram transformar este conduto de rotina num prazer sensual

de sabores.) Finalmente permitam-me outro incitamento e

reclamar do entusiasmo presente para fixar de forma defi-

nitiva na nossa dieta alimentar a mais presumida de todas as

gorduras – o azeite. E se somos atlânticos por posição

não deixamos de ser mediterrânicos por cultura e opção

onde quase todos se apregoam como descobridores do

azeite através dos seus heróis ou da imaginação dos [seus]

deuses. O que não sabem é que todas as coisas deste mun-

do começaram por não existir, excepto o azeite que desceu

á terra para a utopia do sonho e da nossa memória colecti-

va. Talvez, então, tenha sido por esta razão que os romanos

isentaram do serviço militar os homens mancebos que plan-

tassem oliveiras ou que, para os sábios gregos, só as virgens e

os homens puros pudessem tratar das azeitonas… e do azeite.

Imitemo-los porque a utopia pode ser o destino do prazer e o

prazer, a partilha da utopia - pelo Azeite de Trás-os-Montes.

PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A H I N O A O A Z E I T E

A H O N R A D A S E M O Ç Õ E S

António Manuel MonteiroEngelheiro Agrónomo

[email protected]

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I A

O céu astrológico de cada momento é como um indicador do “clima” a que estamos todos sujei-tos. Da mesma forma que conhecer as condições meteorológicas nos ajuda a não sair de casa com sandálias em dias de chuva intensa, conhecer as condições astrológicas pode ajudar-nos tam-bém a tirar maior proveito das situações e a to-mar decisões mais adequadas. Se fizermos um rápido exercício de retrospec-tiva, provavelmente constataremos que desde o eclipse solar em Caranguejo do dia 2 de Julho temos estado sujeitos a uma grande instabili-dade e incerteza. Durante o eclipse solar, é na-tural que as emoções (representadas pela Lua) se tenham intensificado e obscurecido a razão (representada pelo Sol) e que por isso se tenha tornado mais difícil ver e decidir com clareza. Esta alteração súbita da nossa forma normal de condução das situações representa um convite para começarmos a ver a vida de outra forma, dando maior relevância às nossas necessidades

pessoais de conforto e de ligação emocional.

A instabilidade gerada no contexto do eclipse foi sendo de certa forma agravada com a progressi-va diminuição da velocidade de Mercúrio (o pla-neta da mente, comunicação e aprendizagem) que iniciou o movimento retrógrado no dia 8 de Julho, em conjunção com Marte, o que poderá ter contribuído para grandes dores de cabeça devido a negociações mal conduzidas por im-pulsividade e falta de perspectiva, assim como para discussões acesas das quais nos arrepen-demos em seguida.

No dia 9, Quíron também ficou retrógrado em Carneiro, sugerindo que agora é importante o recuo e o recolhimento para cuidar de feridas relacionadas com a autonomia para assim po-dermos desenvolver aos poucos maior confiança na iniciativa individual para ultrapassar obstá-culos.

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Raquel Dora Pinho

Instabilidade e introspecção

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 45

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I A

Inês BernardesAstróloga

[email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

No dia 16 temos novo eclipse; um eclipse da Lua no grau 24 de Capricórnio, conjunto a Plutão, Saturno e Nodo Sul. Também neste dia a instabilidade domi-na, havendo o risco de sermos puxados para padrões de comportamento prejudiciais relacionados com calculismo frio, exigência desmedida, pessimismo e supressão do instinto natural.

Neste período entre eclipses com Mercúrio retró-grado é importante que nos resguardemos (princi-palmente nos dias 11, 14 e 16) como quem se abriga de um temporal e que evitemos iniciativas princi-palmente as que requeiram a colaboração ou adesão de público. Também é recomendável que façamos o movimento de olhar para dentro no sentido de reco-nhecer as necessidades individuais que ficaram por atender, de modo a que possamos em breve mudar eficazmente o nosso comportamento no sentido de nos tornarmos melhores cuidadores de nós pró-prios.

Entre o dia 19 e 21 é possível que estejamos em me-lhores condições para começar a procurar as res-postas às perguntas: O que é que preciso para me sentir verdadeiramente mais feliz, confortável e seguro/a na minha vida? Como vou mudar o meu modo de funcionamento para satisfazer estas mi-nhas necessidades que só eu posso atender?

Nos dias 24 a 26 a conjunção entre Mercúrio re-trógrado e Vénus em Caranguejo ajuda a um maior bem-estar e a tornar mais fluídas e harmoniosas todas as formas de comunicação e a expressão de sentimentos profundos. Também nestes dias, o trí-gono entre Marte e Júpiter em signos de fogo favo-rece os gestos confiantes, criativos e apaixonados.

No dia 1 de Agosto, Mercúrio estaciona para retomar o movimento directo e dá-se também a Lua nova em Leão, marcando um novo ciclo progressivamente mais alegre, expansivo e esclarecido.

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D EB U I L D I N G N AT U R E

Rui Pessoa VasquesPresidente Executivo da Associação

«Live With Earth» [email protected]

Chegou ao fim mais um BUILDING NA-TURE! Iniciando novos ciclos: desta vez com o Projecto #5 : Construção Natural & Jardinagem, que se realizou de 5 a 10 de Junho último. Nos próximos dias, iremos revelar a reportagem fotográfica e o vídeo oficial do evento nas nossas plataformas.Dia 1:As preparações ocorreram nos dias an-teriores, na associação: da colheita de argilas na Serra do Socorro à prepara-ção da obra; das refeições à preparação da formação.Os participantes chegavam e eram convidados a conhecerem o espaço e as práticas, com dinâmicas de grupo de alinhamento, sessão teórica sobre as várias técnicas de construção natural e sessão teórico-prática sobre o modo de cuidar da Horta Moray.Também realizamos a primeira colhei-ta de canas, sua limpeza e abertura, no sentido de iniciarmos a criação da estrutura dos muros que compõem os canteiros da horta.Dia 2:No segundo dia choveu, pelo que esti-vemos mais resguardados em sessões teóricas, dinâmicas de grupo, e avanços na horta.Dia 3:No terceiro dia terminámos a limpeza da horta e o melhoramento dos seus caminhos e a forma dos canteiros, para ser possível avançar. Neste dia, come-çámos a colocar a estrutura da vedação construída com canas (estacas e entre-laçado).

Dia 4:Durante o quarto dia continuá-mos os trabalhos de construção da vedação natural e canteiros da Horta Moray. Construímos o muro usando Cob (argila + areia + palha), cobrindo a estrutura de canas, e experienciando esta técnica de tabique.Dia 5:De manhã continuamos a mis-são de transportar argila pura e pedras vulcânicas da Serra do So-corro. À tarde, continuámos com a parte teórica e também com os trabalhos de construção natural, moldando o muro de tabique, que ficou pronto a rebocar no dia seguinte.Quanta energia que se gerou neste dia!Dia 6:Neste último dia de Worldcamp, fizemos o reboco do muro em tabique, aplicando técnicas de cal e areia, decorado por ladrilho na parte superior, com cacos de ce-râmica reciclados, que lhe confe-riram beleza e funcionalidade. Sentimos uma enorme gratidão e admiração por todos os partici-pantes presentes e por tudo o que se passou.Certamente, este momento irá ficar gravado na nossa memória de todos e também no espaço e no projeto da Horta Moray. As fotografias eternizam estes momentos de evolução.

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç AA C I D A D E E A Á R V O R E

Agora é de vez! Disse a árvore.- Era uma vez? Perguntou a cidade.- Não, não «era uma vez», mas «agora é de vez», respon-deu a árvore. Hoje vim para ficar para sempre, porque es-tás doente e precisas de mim.- Para sempre? Vais mudar-te para cá?- Sim, as minhas irmãs e primas ficam nas aldeias e nos campos, afinal somos necessárias em todos os cantos e podemos sempre ficar ligadas pelas raízes, todos perten-cemos à mesma enorme casa: a Terra. Que saiba, não te-nho família na Lua.- Não me lembro de ver a Lua, o céu está sempre muito escuro ou com muito fumo, explicou a cidade. És muito bonita, árvore. Só de olhar para ti fico mais calma. Tão verde e frondosa. Escolhe bem onde ficas, espero que não

te enfiem num buraco apertado rodeado de cimento, da-qui a uns anos nem te consegues espreguiçar. - Estás a falar a sério? Onde estava tinha todo o espaço do mundo. Não quero ser culpada por acidentes nas ruas, mas para isso não me podem plantar em zonas muito impermeáveis à chuva e não me podem podar excessiva-mente. - O que é podar?- Podar significa cortar os ramos inúteis das árvores.Sou de uma espécie adaptada às cidades e às ruas e assim posso crescer saudável e de modo equilibrado.- O que tens mais para me contar sobre ti, árvore?- Consigo renovar o ar. Sabes como?- Explicas-me? Perguntou a cidade.

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R O T U R I S M O T E R M A L : PA S S A D O, P R E S E N T E E F U T U R O

Portugal tem variadas estâncias ter-

mais de norte a sul, nem sempre

acompanhadas de alojamento neces-

sário a uma estadia que ronda em mé-

dia os 15 dias.

Quando encontramos o Termalismo

com alojamento e animação podemos

juntar saúde, bem-estar, divertimen-

to e cultura. Foi o que encontramos na

Serra da Estrela, em Unhais da Serra,

uma vila com história, situada a su-

doeste da Serra da Estrela, num vale.

De simples lugar passou a sede de fre-

guesia em 1758. Atravessou a sua épo-

ca de brilho no turístico termal nos fi-

nais do séc. XIX e princípios do séc. XX

sendo na altura conhecida como “Pé-

rola da Beira” ou “Sintra da Covilhã”.

A conversão da residência do Conde

da Covilhã, pelo mesmo, no GRANDE

HOTEL de Unhais da Serra tendo ane-

xo o “CASINO”( com salões de dança,

bilhares, jogos de vaza, entre outros),

contribuiu para a robustez do turis-

mo local, um “turismo glamour”,

vocacionado para os proprietários e

industriais têxteis da região. Assim,

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 49

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R O T U R I S M O T E R M A L : PA S S A D O, P R E S E N T E E F U T U R O

associado às termas foi muito evidente em toda a Europa

este tipo de turismo no início do séc. XX, uma vez que à

época, as férias de verão ocorriam habitualmente em es-

tâncias termais onde os casinos tinham protagonismo.

Em Unhais da Serra, na primavera e no verão podemos, no

presente, visitar várias feiras e romarias:

Nossa Senhora de Fátima (3º domingo de maio); Dia da

Vila (11 de julho) - Festival de Folclore; Semanas Culturais

(julho); Nossa Senhora da Saúde (1º domingo de agosto)

e Santo Aleixo (3º Domingo de setembro). Em termos de

Património Cultural e Edificado podemos visitar o Núcleo

de Paramiloidose; A Penteadora; os Antigos engenhos

movidos a água; a Barragem Padre Alfredo (Covão de Fer-

ro); a Capela Nossa Senhora da Saúde; a Capela Nossa Se-

nhora de Fátima; a Casa Museu Rancho Folclórico; a Igreja

Paroquial de Santo Aleixo; o Moinho movido a água no ri-

beiro dos portos e o Miradouro do Cruzeiro.

Continuando com a história deste Turismo, mais tarde,

PAG 50 | OBSERVA - MAGAZINE

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R O T U R I S M O T E R M A L : PA S S A D O, P R E S E N T E E F U T U R O

a oferta turística diversificada relegou

a estância termal típica para segundo

plano, sendo que o maior desafio para as

termas atuais é apenas o de serem credí-

veis nos tratamentos das diversas pato-

logias. Assim, no presente, os utentes,

muitas vezes, fazem o tratamento as-

sociado a longas distâncias percorridas

com transporte próprio diariamente.

Esta circunstância, associada à extinção

de hotéis próximos - não poucas vezes

- obriga a outras opções de férias e à de-

sistência dos tratamentos e do retempe-

rar das energias.

Na senda do futuro, a nossa escolha nes-

ta bonita zona, recai sobre o

Complexo H2otel / Aquadome

Este complexo foi sonhado para atingir

vários públicos-alvo: famílias em lazer,

(incluindo crianças e jovens); eventos

corporativos e hóspedes em tratamento

termal ou em medical SPA.

O serviço, as infraestruturas, a oferta de

espaços criativos e inovadores, as ativi-

dades para crianças e adultos, os des-

portos, o ginásio e os simpáticos cola-

boradores transformaram o H2otel num

Hotel de eleição.

A tendência na procura pela natureza,

pelo autêntico, pelo biológico, pelo tem-

po e pelo silêncio, vai marcar as termas

do futuro próximo, pelo que as que se

fundirem com o alojamento no mesmo

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 51

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R O T U R I S M O T E R M A L : PA S S A D O, P R E S E N T E E F U T U R O

espaço físico terão melhores probabilidades de êxito.

Especialidades terapêuticas

A prescrição dos tratamentos termais deve ser feita por

médico com competência em hidrologia médica através de

consulta médica a realizar no Aquadom. A água termal é

uma água bicarbonatada sódica, carbonatada, fluoretada e

sulfidratada, vulgarmente designada por águas sulfúreas.

A sua temperatura ronda os 38º. Tem vocações terapêuti-

cas no âmbito do aparelho respiratório, de reumatismos/

doenças músculoesqueléticas e sequelas de traumatismos

osteoarticulares, de osteoartroses, reumatismos infama-

tórios e abarticulares (ombro doloroso, nevralgias e cia-

talgias) e de entorses e sequelas de fraturas. São eficazes

também aos níveis das doenças do aparelho circulatório,

do síndrome hemorroidário e da insuficiência vascular

periférica (membros inferiores).

Calendário de funcionamento

Neste complexo, os tratamentos associados ao termalis-

mo clássico funcionam de 1 de março a 30 de novembro; o

SPA Termal funciona o ano inteiro, sendo cada vez mais

direcionado para faixas etárias mais jovens, que desper-

tam para os benefícios das águas termais numa lógica da

prevenção de doenças.

Visite a Serra da Estrela, todo o ano e trate da saúde de

toda a família, divertindo-se.

PAG 52 | OBSERVA - MAGAZINE

À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AÁ F R I C A – A N G O L A B E L A

R i o C u a n z a

O rio Cuanza é o mais extenso rio exclusivamente ango-

lano. 960 Km de curva em direção ao Norte e Oeste, que

depois desagua no Atlântico, na barra do Cuanza, a Sul de

Luanda. A sua bacia hidrográfica soma 152.570 km², mas

o rio é apenas navegável por 258 km, desde a foz até ao

Dondo. Os seus lagos artificiais também fornecem água

para irrigação de plantações de várias culturas no vale do

Cuanza, como por exemplo, a cana de açúcar. É no maior

afluente do Cuanzan, o rio Lucala, que se encontram as

grandes Quedas de Kalandula. E é junto da foz do rio que

encontramos o Parque Nacional da Quiçama. O rio em-

presta o seu nome a duas províncias de Angola: Cuanza

Norte, na sua margem Norte, e Cuanza Sul, na margem

oposta.

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 53

À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AÁ F R I C A – A N G O L A B E L A

As Cataratas ou quedas de Kalandula revelam-nos a beleza

de uma Natureza intocada e podemos apreciá-las à medida

que vamos fazendo o percurso do rio Lucala. Estas quedas

são uma das mais altas do Continente africano, com a ma-

gistral altura de 105 m. Estão entre as mais impressionan-

tes maravilhas naturais de Angola e foram recentemente

consideradas uma das 7 MARAVILHAS de Angola. Contra-

riamente às famosas cachoeiras africanas, como são as

Cataratas Victoria, as quedas da Kalandula ainda são um

refúgio de paz, silêncio e sons de fauna e brisas de flora. O

turismo de massa ainda por lá não chegou e por isso, tudo

convida a uma viagem de introspeção e tranquilidade. Nós

e as quedas. Por sua vez, a província de Malanje é profícua

em zonas de interesse turístico. As “pedras negras” é um

exemplo de lugar místico com uma história interessante.

Q u e d a s d e K a l a n d u l a

PAG 54 | OBSERVA - MAGAZINE

À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AÁ F R I C A – A N G O L A B E L A

Angola é um dos três países do mundo com maior biodi-

versidade. Isso reflete-se especialmente nesta região. A

vida vegetal exótica, em comunhão perfeita com espécies

raras de animais, torna a visita a Malanje uma experiên-

cia única para todos os sentidos. Se mergulhar nas flores-

tas tropicais de Angola pode tocar em a África do mesmo

modo que África continua a tocar em nós - nos que lá nas-

ceram e naqueles que a visitam -: de modo profundamen-

te veemente e genuíno.

Como canta Ritinha Lobo, Cabo-verdiana, em crioulo:

«Angola, Angola, oi q´povo sabe…Ami nhos ca ta matá-me. M

bem cu hora…pá´me ba nha caminho».

A n g o l a , A n g o l a

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 55

Este magistral Parque Nacional localiza-se a 70 km a Sul

da cidade capital, na Província de Bengo, com uma vasti-

dão de 960.000 hectares. Tem como limites naturais o rio

Kwanza, o rio Longa e o Oceano Atlântico. O seu potencial

turístico é desmedido, dada a sua proximidade à capital

do país,e também devido às suas paisagens de diferen-

tes ecossistemas de grande diversidade da fauna e flora.

Apenas para quem gosta de observar as variadas espécies,

sem desrespeitar o seu fervilhar de vida. No presente, as

infraestruturas existentes têm aptidão para acolher al-

guns turistas e já existe um roteiro turístico que permi-

te aos visitantes a observação de alguns animais, como o

desfrutar das paisagens brutalmente naturais. No Parque

predomina o bosque seco em mosaico, do tipo savana. No

entanto, também encontramos zonas lamacentas e man-

gais (árvores de manga).

O clima é seco-chuvoso, com temperaturas médias a ron-

dar os 27-28 ºC, na época de chuvas e de 23-24 ºC, durante

a época seca. Para visitar com sol, a melhor época do ano

é de maio a outubro. Relativamente à sua flora, o Parque

Nacional da Quiçama situa-se na região fitogeográfica

zambezíaca, que ocupa mais de 80% de Angola. Os géneros

mais representativos no Parque Nacional da Quiçama são

a Acacia, Sterculia, Adansonia, Euphorbia e Commiphora.

A espécie específica da área é a Tessmannia camoneana.

Quanto à fauna do Parque, esta é tradicionalmente tipifi-

cada por elefantes, pacaças, palancas vermelhas, gungas,

hipopótamos, manatins, tartarugas marinhas, nunces,

golungos, bambis, seixas, facocheros e javalis. Nos anos

70, existiam, por exemplo, cerca de 800 elefantes e 3000

pacaças. Estas últimas representavam o símbolo do Par-

que. Hoje, infelizmente, se avista, com raridade, este ani-

mal. O ecossistema marinho compreende 120 km de costa

atlântica, desde a barra do Kwanza até à foz do rio Longa.

A diversidade biológica é abundante e destacam-se as tar-

tarugas marinhas, espécie ameaçada de extinção.

Quando visitar Angola, informe-se sobre as vacinas que

deve tomar e sobre os períodos que antecedem a sua toma.

Boa viagem!

P a r q u e N a c i o n a l d a Q u i ç a m a

PAG 56 | OBSERVA - MAGAZINE

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

É usual começar qualquer discurso, ou depoimento, com uma declaração de interesses. Desta vez vou começar o artigo com uma declaração que talvez possa apelidar de “desinteresse”:Não tenho nenhum interesse pessoal em nenhum concurso de vinhos. E, apesar de trabalhar vinhos e de ter todo o interesse em ver o mérito do meu trabalho reconhecido; apesar de ter vindo a pertencer a júris de alguns concursos de vinho; apesar de ter vin-do a receber prémios através do meu trabalho; não tenho nenhum vínculo que me associe do ponto de vista eco-nómico, de trabalho ou de dependên-cia a qualquer concurso de vinhos ou revista especializada.

Não deixo de reconhecer, porém, que o sector depende muito da forma como cada agente é visto pelo exterior. Mas há mitos a combater. Então, vamos a eles.

Mito nº 1.: Os prémios são atribuídos aos melhores

Nem sempre é verdade. Num concur-so são premiados os melhores entre os que concorreram. Nem sempre os melhores de cada região vitivinícola se submetem a concurso. Os prémios são obtidos muitas vezes por comparação com os vinhos de cada painel, pelo que em princípio recebe validação quem

se destaca num painel, numa amostra entre os vinhos que estão a concurso.

Mito nº 2.: Os prémios são atribuídos pelos produtores a si próprios ou aos amigos

Às vezes é verdade, mas importa sa-ber como… Um painel de prova tem sempre dezenas de pessoas. Os vinhos são provados às cegas, sem identifi-cação. Há membros do júri com mais experiência e outros que representam mais o “perfil do consumidor”. Os primeiros procuram valorizar o es-tilo de cada região; os segundos ten-dem a beneficiar os vinhos por outros

O M U N D O D O S C O N C U R S O S N O S E C TO R V I T I V I N Í C O L A

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 57

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

factores, mais dependentes do seu estilo pessoal. Cada vinho que recebe um prémio importante é usualmente validado por outro painel, mais completo. Pode suceder que no meio desses painéis de prova, às cegas, alguém atribua um prémio ao seu próprio vinho ou ao de pessoas próximas. Mas nenhum vinho é validado apenas por um dos membros do júri e ninguém sabe o que está a provar quando pontua.

Mito nº 3.: Os prémios não têm valor

Os prémios não são infalíveis, mas marcam tendências e destacam sempre aspectos positivos dos vinhos ou dos projectos. Ninguém pode atribuir de forma séria o prémio de “melhor do mundo”, como às vezes se lê nas notícias. Mas um prémio é sempre o sinal de um reconhecimen-to que tem mérito e que deve ser destacado. Aqui, claro, partimos do princípio que os produtores enviam como amostra o vinho que efectivamente comercializam sob a marca premiada. Mas aí é difícil ter garantias de que é sempre assim…

Mito nº 4.: Os prémios são infalíveis

A prova cega de vinhos é sempre mais infalível do que a prova com indicação dos rótulos. Mas a infalibilidade não existe. A experiência do júri concorre para uma prova (e pontuação) mais objectiva e racional. Mas a subjectivida-de está sempre presente. E aquilo que é um sinal de qua-lidade para um jurado não é, necessariamente, o mesmo sinal para outro.

Mito nº 5.: Os prémios são comprados

Ao longo de todos os anos de trabalho no sector tenho assistido ao contrário. Há amizades que se desfazem, há produtores que sentem ser incompreendidos, há inves-tidores e patrocinadores que ficam desolados com os re-sultados dos concursos. A nível internacional já assisti-mos de tudo e sim, até já fizeram filmes sobre a corrupção no sector. Mas a grande maioria dos profissionais tem ética e sabe que, no longo prazo, a credibilidade é o seu único ganha-pão. O que – como já vimos – não é garantia de infalibilidade.

Mito nº 6.: Os prémios são atribuídos sempre aos mesmos

Há de facto padrões de prova e tendências que influen-ciam os júris de concursos e de revistas. Eu, por exemplo, tenho um padrão de prova que tento conter, para intro-duzir objectividade. Tendencialmente valorizo (muito) vinhos frescos e prejudico vinhos com açúcar. Quem tra-balha no sector está sempre influenciado por novas ten-dências ou até pelas pessoas com quem normalmente faz as provas. Mas há inúmeros produtores “revelação” que começam a ser falados precisamente depois de conquis-tar prémios e de deixar para trás produtores mais “reco-nhecidos”.

Em suma, os prémios nos vinhos não são garantias ab-solutas de qualidade. Mas são um instrumento útil, so-bretudo para quem não tem experiência e precisa de in-dicadores para diminuir o risco associado às escolhas. De qualquer forma, é sempre importante provar muito e conhecer padrões diferentes. Mais importante do que os prémios atribuídos por outros é sempre formar uma opi-nião própria. E para isso é fundamental conhecer (quase) tudo o que o sector anda a fazer. Felizmente, há muitas coisas com interesse a surgir no mercado e que merecem ser conhecidas.

Pedro GuerreiroGestor

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

México das minhas saudades

Já aqui contei algumas histórias do tempo em que tra-balhei a bordo. Todas as viagens eram lindas, mas houve umas que me marcavam mais do que outras.Quando íamos ao México era sempre uma enorme alegria, pois existem, realmente, lugares que apenas os olhos po-dem fotografar e guardar dentro de nós. Não há lente que pare no tempo tanta beleza, tanta luz, tanta cor, tanto bri-lho e tantas emoções. Os olhos humanos, ainda que não sejam os mais apurados, são-no o suficiente para nos in-terromper a respiração e o pensar. Apenas sentimos. Recordo as ilhas de San Blas, mesmo às portas do canal do Panamá. Habitadas por uma comunidade de índios: os

kuna, são impossíveis de esquecer, quer pelo colorido das próprias ilhas, mas também pelo colorido das gentes e a sua forma peculiar de viver no meio do Oceano. Muitos dos meus colegas trocavam um pão seco por uma lagosta (langosta, como eles diziam). Comercializavam o seu artesanato e tudo o quanto mais podiam.As crianças davam um autêntico espetáculo ao saltarem para a água, de forma acrobática, divertida e sem pre-conceitos, alcançando as moedas que os turistas atiravam para a água, por tradição!Seguidamente iniciava-se a travessia do Canal do panamá

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

(considerada uma das 7 maravilhas do mundo). Que im-ponência se desenrolava à nossa frente. É difícil descrever o corrupio de navios que se cruzavam: monstros enormes num mar turquesa de tanto azul. Se preferia um veleiro? Talvez, mas o vento estava de feição para cumprir o meu trabalho e tinha de aproveitar. «O resto é mar, são coisas que não posso ver, são coisas lindas que eu tenho para te dar», recordamos agora pela voz de João Gilberto, que partiu, quem sabe para um céu de mar com corais em descanso. Houvesse mais oportunida-des para todos de mergulhar no que esta Terra nos põe em tela à nossa frente. Viajar, viajar, conhecer a nossa casa e dar-lhe abraços de agradecimento.Ali, no meio do oceano, é notório o desnível que existe en-tre o oceano Atlântico e o Pacífico. Depois de subirmos, o barco repousa algum tempo nos lagos do canal para depois descer para o Pacífico. Todo este passeio dura um dia inteiro, pelo que é neces-sário ser preparado com muita antecedência. É um dia de festa, repleto de muita música e buffets temáticos ao ar

livre porque o espetáculo de passar o canal é simplesmen-te único.A vegetação que envolve o canal é estonteante e o clima tem muita personalidade: quente e húmido, como todos os climas tropicais. É necessário estarmos em boa forma físi-ca para que se possa suportar um clima tão intenso. Tudo passa e há que reter os aspectos positivos. Rumamos, en-tão, ao Pacífico e depois de três dias a navegar chegamos a Acapulco, no México. Grandes tartarugas aproveitavam o casco do navio para viajar à nossa boleia. Até onde? Não sei. No mar, todos deixamo-nos perder.Durante os três dias, a navegar sem parar, com paisagem de mar e ar, de água e ar, há que haver também muita ani-mação para promover o convívio entre colegas. Este tor-na-se mais intenso, até porque não há por onde escapar: o ambiente proporciona o estreitamento de laços. O desejo de chegar a Acapulco é muito. Porquê? Prometo contar, numa próxima edição. Acorda, Hernâni, «chega de saudade…».

Hernâni ErmidaChef

[email protected]

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Portugal - França

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www.mclavocats.fr

04 91 47 06 18

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 61

I N F O R M AÇ Õ E S L E G A I S

O mandato para a proteção futura é um contrato para permitir que qualquer pessoa que envelhece or-ganize a sua própria proteção com antecedência, escolhendo a pessoa que será responsável por cuidar de si e dos seus assuntos, no dia em que não poder fazê-lo por causa de sua idade ou estado de saúde.Esse mandato permite, assim, que cada um organize a sua própria proteção para evitar recorrer a uma medida judicial de tutela. É um instrumento legal importante em França, que está a obter um sucesso crescente.A proteção é futura porque se refere apenas ao futuro, quando a pessoa já não estará mais em esta-do, físico ou mental, para realizar os atos necessários à sua proteção. Proteção abrange todos os assun-tos relacionados à vida pessoal, propriedade, saúde, relaciona-

mentos com outros, moradia, etc.A proteção da propriedade abran-ge todos os atos necessários à pre-servação e gestão do património.Normalmente, o mandado é uma escritura pública que permite con-fiar ao mandatário, geralmente um advogado, poderes estendidos.Competirá ao advogado que foi nomeado mandatário implemen-tar o mandato quando a pessoa já não é capaz de cuidar de si mes-mo ou do seu negócio, e só se a incapacidade tenha sido declarada pelo tribunal com base num ates-tado médico. Só então o mandato produz os seus efeitos. Ao escolher o man-datário, também designamos, no mandato, uma pessoa que contro-lará a sua ação.

O mandatário deve apresentar anualmente um relatório sobre a sua missão para a pessoa respon-sável pelo controle : o mandatário estabelece uma conta de gestão de fortunas (utilização de rendi-mentos, atos de administração de propriedade) e um relatório escri-to sobre os atos relacionados com a sua proteção (saúde, habitação, relações com terceiros ...).A responsabilidade do mandatá-rio pode ser questionada no caso de má execução, insuficiência ou falha no exercício da sua missão. A remuneração do mandatário consta antecipadamente e de for-ma transparente no mandato.Na elaboração de um mandato para a proteção futura, o resi-dente não habitual que se instala em Portugal pode organizar com antecedência a proteção dos seus interesses futuros. É um instru-mento adequado para as pessoas que desejam antecipar a sua de-pendência. O RNH (Residente Não Habitual) pode, com este instru-mento, antecipar a organização da sua proteção em Portugal.

A P R O T E Ç Ã O É F U T U R A P O R Q U E S E R E F E R E A P E N A S A O F U T U R O , Q U A N D O A

P E S S O A J Á N Ã O E S T A R Á M A I S E M E S T A D O , F Í S I C O O U M E N T A L , P A R A

R E A L I Z A R O S A T O S N E C E S S Á R I O S À S U A P R O T E Ç Ã O .

O M A N D ATO PA R A A P R OT E Ç Ã O F U T U R A : U M I N S T R U M E N TO L E G A L I M P O R TA N T E PA R A R N H ’ S

( R E S I D E N T E N Ã O H A B I T U A L )

Jorge Mendes ConstanteAdvogado MCL Avocats

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PAG 62 | OBSERVA - MAGAZINE

I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I S

Independentemente, do local onde vi-vemos, seja dentro ou fora da Europa, quando fazemos compras em Portugal, contribuímos para o financiamento do Estado através de um imposto que muitas vezes passa desapercebido, o IVA - Im-posto sobre o Valor Acrescentado.A verdade é que quer sejamos residentes ou não residentes no país, todos pagamos.

Este imposto segue regras nacionais e co-munitárias. De forma geral, o IVA paga-se no país onde a compra é feita e o seu pa-gamento é único. Os particulares que le-vem os bens comprados, por exemplo em Portugal, para outro país europeu, não voltam a pagar mais nenhum IVA ou taxa alfandegária. Isto já não é assim para as entidades que adquirem esses bens para revenda.

Para os portugueses, que não residam num país comunitário, podem obter o reembolso do IVA dos bens que adquirem em Portugal ou em qualquer outro país comunitário, durante a sua estadia, se os apresentarem na alfândega no momento

da partida, caso tenham feito a compra há menos de três meses e possuam os documentos necessários para solicitar o reembolso. Por norma estes documentos são emitidos pelo vendedor. Existem atualmente empresas que se dis-põe a gerir e a facilitar esse processo de reembolso, em troca de uma comissão.As aquisições nas “Duty Free” são vanta-josas pois os artigos não incluem IVA, não sendo necessário o passo burocrático de pedir o reembolso de IVA.

Os portugueses, que não residem em Portugal ou num outro país comunitário, podem adquirir as quantidades que qui-serem sem limites de valor, mas é neces-sário ter em atenção que o país de destino poderá impor limites para a entrada des-ses bens. Se ultrapassarem esses limites ficarão sujeitos a taxas aduaneiras.Hoje em dia a aquisição pela internet as-sume-se, cada vez mais, como sendo o modo de preferência crescente nos con-sumidores. Neste caso, as regras do IVA são bastantes diferentes e existem várias particularida-

des. De forma genérica, na UE, às com-pras de bens pela internet é aplicado o IVA do país de destino dos bens.

A compra de bens em segunda mão, obje-tos de arte, coleção e antiguidades não se-guem as regras normais de IVA na aquisi-ção de bens. Na maioria destes casos não há IVA ou ter-se-á que ter em atenção a regras de IVA mais específicas.Recomendo, portanto, comprem bem ten-do em atenção as regras fiscais e aduaneiras.Se tiver dúvidas, não hesite em falar com um contabilista certificado pelo sim pelo não.

P R I N C I PA L F O N T E D E R E C E I TA D E P O RT U G A L

Philippe FernandesBusiness Adviser

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