Mercado de luxo 2008

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40 cliente sa | outubro 2008 | www.clientesa.com.br 40 cliente sa | outubro 2008 | www.clientesa.com.br Em franca expansão mundial, o mercado do luxo cresce no Brasil, cada vez mais personalizado e com geração de cultura local É vertiginoso o crescimento do mercado de luxo no Brasil. O curioso é a con- tradição em se tratando de um País com uma infi- nidade de desafios sócio-econô- micos. Mas os números confirmam: segundo a pesquisa O Mercado de Luxo no Brasil (ANO II), realizada entre novembro de 2007 e abril de 2008 pela MCF Consul- toria em parceira com a GFK Indicator, o seg- mento de luxo faturou US$ 5 bilhões e teve crescimento de 17%, sendo que São Paulo representa 72% desse seleto uni- verso. Nas proje- ções para esse ano, Rio de Janeiro e Distrito Federal de- vem ter uma expansão signifi- cativa dentro desse segmento, concentrando, respec- tivamente, 44% e 28% das em- presas. Já no mundo, são US$ 220 bilhões por ano. “Acredito que temos fôlego para do- brar 2% do consumo O ritmo dos clientes no luxo Acessórios masculinos Mont Blanc: abotoaduras Silves Dinos (R$ 1.587,75), caneta tinteiro Fraçois (R$ 10.240,77) e relógio Time Walker Chronograph Automatic (R$ 14.796,98) Celebration Rings (na foto), coleção de anéis da Tiffany´s Co. Feitos de platina e diamantes custam a partir de R$ 22 mil cada. mundial do luxo em dez anos. Para este ano, a expectativa é manter a média histórica de crescimento, em torno de 20%”, afirma Carlos Ferreirinha, consultor de luxo e dire- tor-presidente da MCF Consultoria & Conhecimento. O glamour da marca de luxo, a exclusividade dos produtos e o atendimen- to personalizado vin- tíssima qualidade, inovação, marca de prestígio e da incorporação rápi- da de novas tendências no produto. Ele investe em conforto, bem-estar, segurança e exige tratamento dife- renciado que traduza suas expecta- tivas. São pessoas que sabem distinguir o valor da lapidação de um diamante, do design atemporal, da pesquisa histórica existente atrás de um instrumento de escrita ou da construção de movimentos extre- mamente complexos, e ainda assim muito precisos, de um relógio de pulso. “O consumidor de luxo contemporâneo não é identifi- cado apenas pela conta bancá- ria ou classe sócio-cultural ou econômica, mas sim e, princi- palmente, por seu estilo de vida, seus sonhos e seus valores”, ressalta Luz Vaalor, diretora e consultora da Valor Luxury Management. MARCAS X OFERTAS Mesmo com a crise mundial, o grupo LVMH, maior conglomerado de luxo do mundo, continua líder no segmento registrando um cresci- mento de 12% em 2007. O fatura- mento total do grupo no ano passado foi de 16,5 bilhões. Dentro do LVMH, presidido por Bernard Arnault, a Louis Vuitton rende o maior faturamento e maior volume de vendas, com 405 lojas espalha- das pelo mundo com administração especial Mercado de Luxo culados ao desejo e ao so- nho de consumo jus- tificam as principais motivações de com- pra. O cliente deste segmento, 56% femi- nino, entre 35 e 50 anos, está atrás de al-

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Em franca expansão mundial, o mercado do luxo

cresce no Brasil, cada vez mais personalizado e com

geração de cultura local

Évertiginoso o crescimento do mercado de luxo no Brasil. O curioso é a con-tradição em se tratando de um País com uma infi-

nidade de desafios sócio-econô-micos. Mas os números confirmam: segundo a pesquisa O Mercado de Luxo no Brasil (ANO II), realizada entre novembro de 2007 e abril de 2008 pela MCF Con sul-toria em parceira com a GFK Indicator, o seg-mento de luxo faturou US$ 5 bilhões e teve crescimento de 17%, sendo que São Paulo representa 72% desse seleto uni-verso. Nas proje-ções para esse ano, Rio de Janeiro e Distrito Federal de-vem ter uma expansão signifi-cativa dentro desse segmento, concentrando, respec-tivamente, 44% e 28% das em-presas. Já no mundo, são US$ 220 bilhões por ano. “Acredito que temos fôlego para do-brar 2% do consumo

O ritmo dos clientes no luxo

Acessórios masculinos Mont Blanc: abotoaduras Silves Dinos (R$ 1.587,75), caneta tinteiro Fraçois (R$ 10.240,77) e relógio Time Walker Chronograph Automatic (R$ 14.796,98)

Celebration Rings (na foto), coleção de anéis da Tiff any´s Co. Feitos

de platina e diamantes custam a partir de

R$ 22 mil cada.

mundial do luxo em dez anos. Para este ano, a expectativa é manter a média histórica de crescimento, em torno de 20%”, afirma Carlos Ferreirinha, consultor de luxo e dire-tor-presidente da MCF Consultoria

& Co nhecimento.O glamour da marca de

luxo, a exclusividade dos produtos e o atendimen-to personalizado vin-

tíssima qualidade, inovação, marca de prestígio e da incorporação rápi-da de novas tendências no produto. Ele investe em conforto, bem-estar, segurança e exige tratamento dife-renciado que traduza suas expecta-tivas. São pessoas que sabem distinguir o valor da lapidação de um diamante, do design atemporal, da pesquisa histórica existente atrás de um instrumento de escrita ou da construção de movimentos extre-mamente complexos, e ainda assim muito precisos, de um relógio de

pulso. “O consumidor de luxo contemporâneo não é identifi-cado apenas pela conta bancá-ria ou classe sócio-cultural ou econômica, mas sim e, princi-

palmente, por seu estilo de vida, seus sonhos e seus valores”, ressalta Luz Vaalor, diretora e consultora da Valor

Luxury Mana gement.

MARCAS X OFERTASMesmo com a crise mundial, o

grupo LVMH, maior conglomerado de luxo do mundo, continua líder no segmento registrando um cresci-mento de 12% em 2007. O fatura-mento total do grupo no ano passado foi de � 16,5 bilhões. Dentro do LVMH, presidido por Bernard Arnault, a Louis Vuitton rende o maior faturamento e maior volume de vendas, com 405 lojas espalha-das pelo mundo com administração

especial Mercado de Luxo

culados ao desejo e ao so-

nho de consumo jus-tificam as principais motivações de com-pra. O cliente deste segmento, 56% femi-nino, entre 35 e 50 anos, está atrás de al-

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Duas grandes mudanças no público-alvo do segmento de luxo vêm cha-mando a atenção de pesquisadores e profi ssionais de marketing. São elas: a expansão da base de clientes e a mu-dança nos estilos de vida e comporta-mentos. Por estarem há mais tempo no mercado, as marcas luxuosas no mundo estão preparadas para entender a essas mudanças. O Brasil engatinha nesse segmento, por isso, é o momento certo para entender melhor o que aconteceu em países desenvolvidos como os da Europa e Estados Unidos. A tendência de ampla expansão do luxo mundial, segundo as últimas avaliações, sinaliza oportunidades abrindo-se em direção aos mercados emergentes como os pa-íses do Bric (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), por serem as economias mais recentes neste mercado e apre-sentarem um grande crescimento da população de ricos conforme relatório “2008 World Wealth Report”.

TENDÊNCIASMercado mundial

direta e própria, em toda sua rede. Com acrés cimo de 14% em suas vendas no ano de 2007, a Louis Vuitton é respon-sável por 50% do faturamento total do grupo

que tem marcas como Christian Dior, Givenchy e Tag Heuer.

Anualmente, a Louis Vuitton cria opções de

peças únicas feitas com couros exóticos e pedras preciosas, como as bolsas Lock It e Mahina Alligator; os baús feitos sob enco-menda (Special Orders) e relógio Tourbillon, uma peça que custa � 430 mil em qualquer lugar do mun-do e que pode ser 100% customi-zada pelo cliente. Já a recente aposta da Christian Dior é o telefo-ne celular Dior Phone com display touchscreen e câmera, além do My Dior, um minicelular conectado via bluetooth.

Outro império de luxo, a Daslu, apresentará sua nova coleção Daslu Chic Chic para o verão 2008/2009, baseada no folclore do Nordeste. A equipe de criação da butique esteve em São Luís, Recife e Olinda e levou em conta as m a n i -

festações da arte popular, do artesana-to e da música da região. “Percebemos que nada é mais exuberante do que a cultura popular do País. Por isso, usa-mos referências desses temas nordesti-nos em cores e estampas”, explica Eliana Tranchesi, dona da Daslu. O lançamento, em setembro, conta com um food hall no lo-cal — novidade que será repetida a cada estação. Nesta pri-meira edição, o tradicional Empório Chiappetta é presen-ça confirmada.

No caso dos ho-téis de luxo a busca por serviço diferen-ciado, mais perso-nalizado e com alta tecnologia agrega-da, é cada vez maior, principalmen-te no segmento de negócios, que demanda sofisticados centros de conferência, salas de reuniões, ins-talações modernas e equipamentos audiovisuais. Nos hotéis da rede Marriott no Brasil, segundo Juliana Yoshida, líder do conselho de ven-das, o treinamento de associados, como são chamados os colaborado-res, é prioridade estratégica. Desde sua introdução na empresa, o asso-ciado recebe treinamentos intensi-

vos para garantir o atendimento esperado pelo exigente hóspede de luxo. Existe uma média anual de aproximadamente 70 horas de treinamento por associado nos hotéis.

E para superar as expectativas desse cliente tão exigente, o Grand Hyatt São Paulo dispo-nibiliza uma série de serviços como o Hyatt Wine Club, uma confraria de vinhos que reúne os clientes uma vez por mês para degustar e discutir temas sobre o vinho. O spa Amanary oferece, entre outras coisas,

massagens, tratamentos faciais e corporais, aromaterapia, tratamen-tos com pedras quentes e reflexolo-gia. A academia de ginástica do hotel conta com sala de exercícios,

sauna, piscina coberta para trei-no, área de relaxamento e bar de sucos. Na gastronomia, os hóspe-des podem escolher entre três res-taurantes principais: o Eau, com menu de opções francesas; o Kinu, que serve especialidades ja-ponesas; e o Grand Caffe, de culi-nária italiana e internacional. Por último, o Hyatt São Paulo

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disponibiliza o Upstairs Bar e Lounge, para aperitivos e petiscos, o Wine Library, com opções de vi-nhos refinados, e o n.u. Bar, que serve refeições à beira da piscina. “Luxo é poder realizar todos os desejos do nosso cliente por meio do atendimento personalizado e, ao mesmo tempo, respeitar sua privacidade”, explica Carl Em-berson, gerente geral do hotel.

A gastronomia também é sinôni-mo de sofisticação, a exemplo do Eça, restaurante da joalheria H.

Stern, comandado pelo chef belga Frédéric De Maeyer. Com uma cozi-

nha contemporâ-nea, que tem como base a culinária francesa, ele inves-te na escolha de pratos preparados com ingredientes especiais. “Produtos luxuosos em si fi-cam em segundo lugar, quando com-parados a uma ex-periência positiva de consumo asso-ciada a ele. Aqui fazemos amizade e, por último, ne-

gócio. O resultado final é um am-biente positivo, baseado nos valores e experiências”, define Christian Hallot, embaixador da H.Stern.

No setor de construção, as empresas têm apostado em empreendimentos de alto padrão, na maioria apartamen-tos com áreas privativas não inferiores a 250m², sendo um por andar, com amplos ambientes de sala e terraços, pelo menos quatro suítes e até banhei-ros separados para o casal, uma das ten-dências do setor para o cliente de alto poder aquisitivo. E para o lançamento

desses empreendimentos, a incorpora-dora e construtora Company investe em campanhas institucionais, informa-tivos pe riódicos e divulga-ções específicas. Também firmou parcerias com empresas fornecedoras de móveis e decora-ção que proporcio-nam aos seus c l i e n t e s condi-

ções comerciais exclusivas na aquisi-ção dos produtos.

Os cuidados com a beleza e a saú-de fazem parte do dia-a-dia do con-sumidor AA. E é por isso que a L’Occitane trabalha com um robusto calendário de ações anuais que con-templam lançamentos de novas li-nhas de produtos que são extensões daquelas já consagradas da marca. Complementando esse calendário são desenvolvidas ações mais pontu-ais como gifts, embalagens especiais e até novas terapias no Spa L’Occitane. “O cliente L’Occitane não compra apenas produtos. Ele busca uma experiência completa e exclusiva em todos os seus pontos de contato com a marca”, garante Brena Barbarini, gerente de produto pleno da L´Occitane do Brasil. Patricia Gaia, diretora executiva do Emporio Armani, concorda. “O cliente de pro-dutos de luxo quer exclusividade, é

Existem diferentes metodologias para se defi nir o que é ser rico. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada, o Ipea, nessa categoria estão os indivíduos pertencentes a famílias com renda mensal igual ou superior a 40 sa-lários mínimos (R$ 16,6 mil). Sob essa metodologia, o número de afortunados cresceu de 0,8% para 1%, diz o Ipea. Já a FGV defi ne a classe média como famí-lias que possuem renda entre R$ 1.064 e R$ 4.591. As classes A e B ganham acima deste valor e somam hoje 15,52% da po-pulação brasileira.

Segundo a FGV, de 2004 a 2008, a classe D passou de 46,13% da população para 32,59%. A redução da pobreza entre 2002 e 2008 em seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizon-

RADIOGRAFIA QUEM É RICO NO BRASIL?

Pesquisas mostram crescimento das classes altaste, Porto Alegre, Recife e Salvador) caiu 13,5 pontos percentuais, concluiu a Fun-dação. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) usados por Marcelo Néri, mostram que só nos seis primeiros meses do ano foram gerados 1,361 milhão de novos postos de trabalho no Brasil.

O Ipea registrou uma redução pela me-tade da população indigente. Caiu de 13,7% para 6,6%. Nesta categoria estão as famílias cuja renda per capita mensal não ultrapassa um quarto do salário mí-nimo, R$ 103,75. O Instituto espera um resultado ainda mais otimista até o fi m do ano. A perspectiva é que a miséria ceda em média 43,8%, o total de 2,4 mi-lhões de pessoas (de 5,57 milhões para 3,12 milhões de habitantes).

Na foto, bolsas Louis Vitton, marca líder em faturamento do grupo LVMH

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internacionalizado, exige um tra-tamento diferenciado e não abre mão da qualidade e tradição dos

produtos e das marcas. Um bom atendimen-to pessoal, ou seja, saber exatamente o que o cliente de-seja, é a parte mais importan-te do negócio”, afirma Patricia.

Outra marca que é ícone do mercado de luxo é a

M o n t b l a n c . Atualmente, as jóias em ouro e diaman-tes, de edições limitadas, fazem grande sucesso entre o público feminino, assim como as bolsas e carteiras da coleção Starisma, caracterizada pelo design da estrela Montblanc gravada na peça. Entre os homens, os produtos mais co-biçados são os relógios cronógrafos com caixas grandes, cintos e pastas exe-cutivas. Mas a coleção de abotoaduras,

segundo Andrea Figueiredo, gerente nacional de butiques, é o verdadeiro best-seller da empresa. “Isso sem falar nos instrumentos de escrita, mercado que a Montblanc lidera mundialmen-te”, diz Andrea.

A estratégia da Rimowa, especiali-zada em malas sofisticadas para via-

gem, é oferecer um serviço de concierge (conserto das malas) em hotéis cinco estrelas em todos os

países em que a gri-fe está presente. “O cliente que conso-me luxo exige pro-dutos de excelente qualidade e uma grife que tenha um histórico sólido ca-paz de agregar va-lor ao produto, tornando-o um ob-jeto de desejo e símbolo de status incontestável”, afir-ma o CEO para América Latina da

Rimowa, Ulrich Weskott.

COMPETIÇÃO O Brasil, por ser um país de ex-

trema agilidade e empreendedo-rismo, observa o surgimento contínuo de novos negócios de luxo, o que torna inevitável o au-

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mento da concorrência em al-guns setores. O segmento de automóveis de luxo, por exem-plo, segundo a consultora Luz, têm uma concorrência compará-vel a alguns países da Europa. Já os investimentos em novas lojas de varejo e novos sistemas de distribuição de produtos ainda são tímidos comparados a outros países como França, Itália e Estados Unidos.

No caso do setor de constru-ção, com a abertura de capital de mais de 20 empresas do segmen-to, terrenos em bairros nobres com valores proibitivos passaram a ser objeto de incorporações a uma velocidade que antes não acontecia. Com o processo de capitalização das empresas, a corrida pela matéria-prima (ter-renos) ocasionou o surgimento de uma infinidade de lançamen-tos imobiliários, o que fez cres-cer a concorrência.

Além disso, o próprio consumi-dor tem uma facilidade cada

vez maior de aces-so a produtos e serviços premium;

viajam mais e rece-bem estímulos a todo

momento, o que au-menta o nível de exi-

gência do cliente e, conseqüente-

mente, a pres-são por

parte das empresas no sentido de ten-tar oferecer o melhor. Foi o que acon-teceu com a Air France. Muitas empresas do setor aéreo aboliram a primeira classe, causando frustração para os clientes. O fato motivou a companhia francesa a manter o ser-viço exclusivo em suas aeronaves. “Em 2007, recrutamos 70 comissá-rios brasileiros que atendem os pas-sageiros nas rotas São Paulo - Paris e Rio de Janeiro – Paris”, conta Isabelle Birem, diretora geral do Grupo Air France KLM no Brasil.

Uma das premissas básicas para se destacar no segmento luxo é fa-miliarizar-se com os hábitos de con-sumo e estilo de vida das classes de maior poder aquisitivo, comple-mentado pela busca incessante da qualidade dos serviços, a fim de surpreender e encantar clientes em cada um dos contatos com a marca.

Outro fator relevante é a reputa-ção sólida da marca e os pa-

drões altíssimos que não se adquire da

noite para o dia. “Ter mais em-presas no mer-cado não se traduz em maior competição dire-

ta para marcas es-tabelecidas como a

Tiffany & Co”, reforça Patricia Assui, gerente geral da joalheria no Brasil. Rosângela Lyra, diretora da Christian Dior no Brasil, diz que, para fideli-zar o cliente, a empresa vai além das jóias, dos perfumes e dos cos-méticos. A marca francesa investe no conhecimento aprofundado so-

bre o que vende. “Fazemos questão de que o cliente saia da loja não só com um produto, mas com a certeza de ter feito a com-pra certa”, frisa Rosângela.

Entretanto, Luz re-força que a maior competição aconte-ce dentro do pró-prio segmento de

luxo, entre as marcas nacionais e in-ternacionais. “As marcas internacio-nais levam vantagem em relação ao luxo nacional, principalmente pela imagem e infra-estrutura e pela capa-cidade que elas têm em incorporar rapidamente as novidades aos pro-dutos e serviços”, avalia.

Mas a adequação das marcas in-ternacionais ao mercado brasileiro tem tido uma evolução natural. Luz, da Valor Luxury Management , de-fende a tese de que a estratégia glo-bal das marcas deve ser mantida para preservar uma imagem unifica-da. Pelo fato dos consumidores já conhecerem a tradição por trás des-tas marcas, apenas a forma de co-municação, apresentação de produtos e lançamentos devem ser adequados ao formato do País. “No caso do brasileiro, ele quer atendi-mento e relacionamento direto e personalizado, primando pelo con-forto e com mimos, entrega de pro-dutos em casa, manobristas, copeiras para o serviço da loja, espumante, licores, entre outras regalias”, diz Mirelle Zanotto, gerente de novos negócios da MCF Consultoria. Para Patricia, do Emporio Armani, o con-sumidor brasileiro se identifica mui-to com o estilo sofisticado que caracteriza as criações do estilista

Na foto, sapato plataforma Louis Vitton, feita em couro e cetim

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RAIO-X MERCADO DE LUXO

Giorgio Armani. “Trata-se de uma adoração mundial, que transpõe tempo e estilos.”

A Montblanc concorda que o brasi-leiro não quer ter algo diferente do que ele encontra em outros países.

Com exceção das edições espe-ciais, desenvolvidas com exclusi-vidade para determinados países, o que ele quer mesmo é comprar o que vê em Paris, Londres, Nova York, quer a marca como ela é

mundialmente. “Obviamente que nós ouvi-mos o nosso cliente e procu-ramos atender as suas expecta-tivas e assim fi-camos sabendo se ele gosta de bolsa com fe-cho magnético ou com zípero ou de um reló-gio para mer-

gulhar em águas profundas, e passamos essas informações para a matriz, assim como fazem todas as demais butiques Montblanc do mun-do”, explica Andrea.

A pesquisa das preferências locais e o

mapeamento do perfil do consumi-dor brasileiro são fundamentais para a adequação de marcas internacio-nais. No segmento hoteleiro, essas adequações incluem serviços dife-renciados para grupos e reservas individuais, como também opções gastronômicas. No Hyatt São Paulo, os funcionários são todos brasileiros, o que facilita o entendimento das ne-cessidades dos hóspedes, maior

parte nacionais. Segundo

Na foto, torta mousse com violeta e sorvete, do restaurante Eça

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Existem diferentes metodologias para se defi nir o que é ser rico. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Apli-cada, o Ipea, nessa categoria estão os indivíduos pertencentes a famílias com renda mensal igual ou superior a 40 sa-lários mínimos (R$ 16,6 mil). Sob essa metodologia, o número de afortunados cresceu de 0,8% para 1%, diz o Ipea. Já a FGV defi ne a classe média como famí-lias que possuem renda entre R$ 1.064 e R$ 4.591. As classes A e B ganham acima deste valor e somam hoje 15,52% da po-pulação brasileira.

Segundo a FGV, de 2004 a 2008, a classe D passou de 46,13% da população para 32,59%. A redução da pobreza entre 2002 e 2008 em seis regiões metropoli-tanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Ho-

RADIOGRAFIA QUEM É RICO NO BRASIL?

Pesquisas mostram crescimento das classes altasrizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador) caiu 13,5 pontos percentuais, concluiu a Fundação. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Ca-ged) usados por Marcelo Néri, mostram que só nos seis primeiros meses do ano foram gerados 1,361 milhão de novos postos de trabalho no Brasil.

O Ipea registrou uma redução pela me-tade da população indigente. Caiu de 13,7% para 6,6%. Nesta categoria estão as famílias cuja renda per capita mensal não ultrapassa um quarto do salário mí-nimo, R$ 103,75. O Instituto espera um resultado ainda mais otimista até o fi m do ano. A perspectiva é que a miséria ceda em média 43,8%, o total de 2,4 mi-lhões de pessoas (de 5,57 milhões para 3,12 milhões de habitantes).

Emberson, a estratégia é respeitar a cultura local sem descuidar do confor-to exigido pelo hóspede. “Pensamos globalmente, mas atuamos localmen-te.” Para Hallot, do Eça, o valor de um produto de luxo no mercado não é pri-vilégio internacional ou nacional. “Se um produto não se sustenta em outros mercados é porque ele está classifica-do como um artesanato local e não um produto de luxo”, explica.

OBSTÁCULOSA expansão e implantação do negó-

cio de luxo no Brasil requerem a su-peração de uma série de obstáculos. As altas taxas de importação é um fa-tor que dificulta a competição com o mercado externo, uma vez que os clientes viajam e comparam os pre-ços, o que retarda a expansão. Mas, hoje, o principal obstáculo não é tan-to o preço dos produtos e, sim, a cul-tura. Durante anos o consumo de luxo fora um campo inexplorado no País, até por questões sócio-econômicas.

como um exportador de divisas e não como gerador de impostos e postos de trabalho, afirma Weskott, da Rimowa,

Sob a visão do setor imobiliário, segundo o diretor de incorporação da Company, Ricardo Laham, mes-mo sendo um mercado com margens para crescimento, a implantação de novos projetos esbarra na escassez de terrenos com as características ne-

cessárias, na inflação dos custos da terra que não podem ser reproduzi-dos nos valores de venda, e também nas restrições construtivas legais e aspectos de vizinhança. “E nesta situação a diferenciação, como acon-tece em qualquer setor seja de pro-dutos ou de serviços, será conquistada no relacionamento com o cliente”, reforça Laham.

Na foto, piscina do São Paulo Airport Marriott Hotel

“Temos ainda muito que aprender e existem poucos que possam nos ensi-nar”, reforça Hallot, do Eça. Até o aten-dimento recebido pelas marcas de luxo internacionais nos órgãos públi-cos ligados à importação são vistos