Doença de ALZHEIMER - Clínica Dra. Rosa Basto · doença denominada doença de Alzheimer...

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76 d Guia ZEN saúde ALZHEIMER Doença de Por Rosa Basto Licenciada em Psicologia Hipnoterapeuta Criadora do método Terapia Diamante ® Presidente da Associação Internacional de Hipnose Clínica e Terapias Integrativas AIHCTI Presença quinzenalmente na TVI com a rubrica “Curar com a Hipnoterapia” no programa A Tarde É Sua Formadora nacional e internacional de Hipnose Clínica e PNL e Terapia Diamante ® www.drarosabasto.com [email protected] Lisboa: 218 222 403 / Porto: 224 017 112 Segundo o relatório da Alzheimer’s Disease International (ADI), “em 2009, estimou-se que 35,6 milhões de pessoas em todo o mundo iriam viver com demência em 2010. Prevendo que este número quase duplique a cada 20 anos, atingindo os 65,7 milhões, em 2030 e os 115,4 milhões, em 2050. Muito deste aumento deve-se claramente ao aumento do número de pessoas com demência em países de baixo e médio rendimento. N ão são só os números que nos devem preocupar, mas também a doença de Alzheimer e a de- mência pelo enorme impacto que têm nas sociedades; esta pode ser considerada uma epidemia que está a ganhar terreno junto da população “grisalha” de todo o mundo. Um fraco reconhecimento, um diagnóstico errado e o estigma pro- vocam problemas significativos junto das pessoas com demência e respetivas famílias, em países de todas as dimensões e em comunidades com todos os níveis de rendimento.” Fonte: ADI (Relatório doença de Alzheimer no mundo, em 2009) ALOIS ALZHEIMER, NEUROPSIQUIATRA ALEMÃO A designação “Alzheimer” (DA) é uma homenagem ao neuropsiquiatra alemão Alois Alzheimer, que em 1907 descreveu o caso de uma mulher (51 anos) com um quadro de demência de causa desconhecida, instalação insidiosa e agravamento progressivo. O caso

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saúde

ALZHEIMERDoença de

Por Rosa BastoLicenciada em Psicologia

HipnoterapeutaCriadora do método Terapia Diamante®

Presidente da Associação Internacional de Hipnose Clínica e Terapias Integrativas

(AIHCTI)Presença quinzenalmente na TVI com a rubrica “Curar com a Hipnoterapia” no

programa A Tarde É SuaFormadora nacional e internacional de

Hipnose Clínica e PNL e Terapia Diamante®

[email protected]: 218 222 403 /

Porto: 224 017 112

Segundo o relatório da Alzheimer’s Disease International (ADI), “em 2009, estimou-se que 35,6 milhões de pessoas em todo o mundo iriam viver com demência em 2010. Prevendo que este número quase duplique a cada 20 anos, atingindo os 65,7 milhões, em 2030 e os

115,4 milhões, em 2050. Muito deste aumento deve-se claramente ao aumento do número de pessoas com demência em países de baixo e médio rendimento.

Não são só os números que nos devem preocupar, mas também a doença de Alzheimer e a de-

mência pelo enorme impacto que têm nas sociedades; esta pode ser considerada uma epidemia que está a ganhar terreno junto da população “grisalha” de todo o mundo. Um fraco reconhecimento,

um diagnóstico errado e o estigma pro-vocam problemas significativos junto das pessoas com demência e respetivas famílias, em países de todas as dimensões e em comunidades com todos os níveis de rendimento.”Fonte: ADI (Relatório doença de Alzheimer no mundo, em 2009)

ALOIS ALZHEIMER, NEUROPSIQUIATRA ALEMÃOA designação “Alzheimer” (DA) é uma homenagem ao neuropsiquiatra alemão Alois Alzheimer, que em 1907 descreveu o caso de uma mulher (51 anos) com um quadro de demência de causa desconhecida, instalação insidiosa e agravamento progressivo. O caso

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descrito por Alzheimer e os semelhantes que de seguida foram descritos ocorriam em pessoas entre os 50 e 60 e poucos anos, enquanto a demência senil era uma doença de pessoas muito mais velhas. Nessa altura, por influência de Kraeplin, chefe de serviço do hospital onde Alzheimer trabalhava, pro-pôs que se considerariam duas demências independentes, a DA incidindo em pessoas 50 e 65 anos e a demência senil que afetava pessoas com mais de 65 anos. Em meados do séc. XX conclui-se que não havia razão para a distinção entre as duas entidades e passou a considerar-se somente uma, a DA. A partir daí, a doença começou a ter o nome do respetivo médico.

DOENÇA NEURODEGENERATIVATrata-se de uma doença neurodegenerati-va, em que as alterações e destruições do tecido nervoso são graduais e progressivas, iniciando-se a partir de um momento da vida adulta. Consequentemente, as suas manifes-tações são de início insidioso e muitas vezes passam despercebidas a quem convive com o doente. É comum cada familiar referir uma data diferente para o que se supõe ser o início da doença. Por regra, o doente é levado para a consulta por um familiar, sem que o próprio se sinta preocupado com o que se passa. Na boa verdade, o doente vai perdendo progres-sivamente a capacidade de introspeção e crítica, e vai negando ou até minimizando as suas incapacidades. Por vezes, justificam as incapacidades refugiando-se em justificações

A DOENÇA É HEREDITÁRIA?

A grande maioria dos casos não é hereditária. A doença surge esporadicamente em pessoas com mais de 60-65 anos de idade sem nenhuma relação familiar aparente. No entanto, 5 % dos doentes de Alzheimer herdam a doença dos seus pais. Estes doentes sofrem de uma forma particular da doença denominada doença de Alzheimer familiar, causada por mutações em determinados genes e que se transmite de pais para filhos. O filho ou filha de uma pessoa com a doença possui 50% de probabilidade de herdar o gene mutado e, portanto, vir a sofrer da mesma doença. O aparecimento de sintomas de perda da memória e do raciocínio numa pessoa com menos de 55-60 anos e com casos semelhantes na família levanta a suspeita de doença de Alzheimer familiar. (ver Caixa 1)

como: “Ando mais cansado, porque tenho dormido pouco”. Por esse motivo é muito importante ouvir em separado o relato do acompanhante, que ao lado do doente não conseguiria dizer tudo para não ofender o seu familiar enfermo.

ASPECTOS CLÍNICOSA DA afeta, em geral, pessoas com mais de 50 anos. Como já foi referido, a doença instala-se silenciosamente, de modo insidioso e progressivo, com períodos estacionários, e até com aparentes remissões. O número de fases pode ser dividido em três momentos: fase inicial, avançada e terminal. Numa primeira fase, só quase os doentes notam as suas falhas. Sentem que a memória já não corresponde ao que era antes, esquecem--se dos dados do dia a dia, não dominam os assuntos, ficam ansiosos e deprimidos.

• Vinpocetina;• Ginkgo biloba;• Nicergolina;• Lecitina pirecetam;• Codergocrina;• Nimodipina;• Citicolina, entre muitos outros…

Atenção: Os medicamentos só podem ser tomados mediante prescrição médica. Fonte: Terapêutica farmacológica da demência Elexandre de Mendonça, Frederico Simões do couto. Cap. 7, Livro Doença de Alzheimer e outras demências

Terapêutica não farmacológica da demência• “Reabilitação”/ Estimulação cog-nitiva• Terapia de Orientação na Realidade• Terapia da Reminiscência• Terapia de Validação• Outras técnicas: técnica de associação nome-face; associação semântica--verbal

Medicamentos usados na doença

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O tempo vai passando, a situação agrava--se, os erros dos doentes tornam-se cada vez mais evidentes e os familiares ficam apreensivos. A doença progride, os doentes começam a fazer disparates flagrantes e a desorientação torna-se completamente evi-dente, perdem-se com facilidade. Embora continuem a ter uma vida social, saúdam os circundantes corretamente usando as fórmulas convencionais, mas acontecem muitos vazios que os demais podem não se aperceber de imediato. A personalidade destes doentes, passado algum tempo, fica francamente deteriorada. Deixam de reco-nhecer a família e amigos (prosopagnosia) e de identificar os ambientes onde circundam. O discurso é frequentemente pobre, per-severante, ecolálico e com parafasias. Por vezes, têm alucinações e ideias paranoides e tornam-se agressivos. São incapazes de se vestirem sozinhos, perdem os modos de comer, passando a comer com a colher ou com a mão. Têm incontinência dos esfínc-teres. Quando vão ao médico não sabem porque estão ali (anosognosia). Irrequietos e com hiperatividade. Em muitos, o sono é intercortado por episódios confusionais. Na última fase da doença, os doentes ficam confinados à cama, em mutismo, acabam com postura em flexão, necessitam de intubação nasogástrica, gastronomia ou sopros para serem alimentados e estão incontinentes.

Uma intercorrência, em regra uma infeção respiratória traz-lhes a morte.

A DOENÇA É HEREDITÁRIA?A grande maioria dos casos não é heredi-tária. A doença surge esporadicamente em pessoas com mais de 60-65 anos de idade sem nenhuma relação familiar aparente. No entanto, 5 % dos doentes de Alzhei-mer herdam a doença dos seus pais. Estes doentes sofrem de uma forma particular da doença denominada doença de Alzheimer familiar, causada por mutações em deter-minados genes e que se transmite de pais para filhos. O filho ou filha de uma pessoa com a doença possui 50% de probabilidade de herdar o gene mutado e, portanto, vir a sofrer da mesma doença. O aparecimento de sintomas de perda da memória e do raciocínio numa pessoa com menos de 55-60 anos e com casos semelhantes na família levanta

a suspeita de doença de Alzheimer familiar. (ver Caixa 1)

COMO SE DETETA PRECOCEMENTE?Apesar de não haver, ainda, cura para o Alzheimer, existem vários medicamentos em desenvolvimento com o objetivo de travar ou atrasar a progressão da doença. É opinião consensual que estes novos medi-camentos serão tanto mais eficazes quanto mais precocemente for detetada a doença e iniciado o tratamento. Neste sentido, estão em curso inúmeros estudos para descobrir novos métodos de diagnosticar a doença assim que surgem os primeiros sinais de lapsos de memória. Muito recentemente foi demonstrado que é possível diagnosticar precocemente a doença de Alzheimer através de um teste molecular que quantifica três biomarcadores no líquido cefalo-raquideano.

ETIOLOGIA

Desconhece-se a causa da DA, exceto em casos raros familiares de início precoce (antes dos 60 anos) em que a doença é causada por mutações num de três genes: presenilina 1, presenilina 2 e proteína precursora do B-amilóide. Vários fatores de risco da DA foram estudados, um deles é o genótipo Apo E. Esta lipoproteína participa no transporte do colesterol, levando a uma maior pos-sibilidade de contrair a doença.

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A incidência da DA aumenta a partir dos 50 anos à medida que se vai subindo no escalão etário. Com base no censo da população de 1991, estimou-se que haveria em Portugal cerca de 50 mil doentes de DA e com base numa projeção para 2010 que haveria nessa altura 70 mil doentes de DA. Este incremento deve-se ao au-mento do número de idosos. Nos nossos dias, ainda se faz investigação para apurar o número de doentes com Alzheimer. A demência de Alzheimer representa 60 a 70% dos casos de demência, existindo, no entanto, múltiplas outras causas de síndrome demencial suscetíveis de causar uma deterioração cognitiva e emocional. Uma análise dos resultados de 47 estudos de prevalência efetuados entre 1945 e 1985 demonstrou que a prevalência da demência de Alzheimer duplica a cada cinco anos após os 60 anos, enquanto no grupo etário 60-64 a prevalência estimada é de 0,7%. Ela atinge os valores de 38,6 após os 90 anos. Fonte: José Ferro e José Pimentel – Neurologia

Epidemiologia

FATORES DE RISCO

Segundo o neurologista Katzman, a DA vitimiza quer o indivíduo comum quer o doutorado, embora existam claros indicadores de risco associados à baixa escolarização e ocupação pro-fissional. O sexo feminino e a baixa escolarização têm sido, além da idade, os fatores de risco mais vezes relacionados com o aparecimento da demência. Entre outros fatores, os ambientais (idade, lesão cerebral traumática, níveis elevados de colesterol, diabetes, AVC) e hereditários são os que mais vitimizam as pessoas portadoras desta doença.

Também a avaliação neuropsicológica se insere no contexto dos exames complemen-tares de diagnóstico, fornecendo informação adicional para o diagnóstico da demência. Esta avaliação consiste no estudo exaustivo das diferentes funções nervosas superiores, tal como atenção, memória, orientação, iniciativa, linguagem, cálculo, praxias, gno-sias, abstração/raciocínio lógico e funções executivas. Este exame complementar de diagnóstico indica se existem alterações cognitivas, especifica e quantifica a gravidade, ou não, da doença.

APOIO AO DOMICÍLIOAtualmente, segundo a autora Graça Melo, o apoio ao domicílio ao doente com demên-cia é uma das questões mais importantes nos cuidados assistenciais. O doente que sofre de demência passa por vários níveis de dependência e necessidades de múltipla natureza ao longo do processo da doença: física, psicológica, social, económica e mui-tas outras. Muitos autores defendem que a demência é a doença que requer mais ajuste familiar. Esta realidade necessita de uma resposta global, integradora, coordenada e continuada. A manutenção ao domicílio é, por isso, um acontecimento desejado: ficar em casa o mais tempo possível e terminar a sua vida cuidado pela família.Esta realidade, por vezes, não é tão exe-quível quanto o desejado, pois constitui uma situação complexa em que interagem múltiplos fatores:

1. A saúde e o estado emocional

2. A segurança e conforto da habitação3. A presença de suporte natural (família e amigos) atento e disponível4. A disponibilidade de cuidados e ajudas profissionais5. Os meios financeiros

De acordo com a autora, cada um destes fatores pode constituir um constrangimento incontrolável, suscetível de danificar o equilíbrio necessário para o bem-estar no domicílio do doente. É importante uma multidisciplinariedade holística para que tudo possa dar certo. O papel do cuidador do doente é um dos mais importantes.

CUIDADOR: ELEMENTO-CHAVE O papel do cuidador é, sem dúvida, o elemento mais importante nos cuidados da doença de Alzheimer. Desde há alguns anos que a Associação de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer formou uma parceria com a escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian, Lisboa, com a finalidade de promover programas para cuidadores informais e formais. A qualidade de vida do doente e do cuidador, bem como a manutenção do doente, são fortemente dependentes deste se adaptar e corresponder às necessidades do doente. Os cuidadores diferem na forma como lidam com a doença, sendo uns melhores sucedidos do que outros. A forma como o cuidador lida com o doente é um factor

preditivo de agitação no doente e exaus-tão do próprio cuidador. Existe também a co-morbilidade nestes doentes e a boa preparação do cuidador é crucial para evitar que outras patologias se instalem e aumentem a gravidade da doença. O próprio cuidador tem que estar bem psicológica e fisicamente para poder levar a cabo esta grande tarefa. Muitas vezes, os cuidadores vão-se abaixo, deprimindo e ganhando grandes níveis de ansiedade, precisando de cuidados. Por este motivo é tão importante a formação antes de qualquer um tomar conta de um doente desta natureza.

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