Boletim de Conjuntura n. 54

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Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 1 -

APRESENTAÇÃO

O afastamento da presidente

Dilma Rousseff, em 12 de maio

deste ano, marca um

aprofundamento da orientação

do governo central no sentido de

atender aos interesses liderados

pelos rentistas, apoiados pelo

empresariado e por segmentos

conservadores da sociedade

brasileira. Esses interesses têm

forte representação no

Congresso Nacional e agora se

tornaram praticamente a única

fonte de diretrizes no interior do

executivo federal.

O consenso entre tais forças é de

que é preciso radicalizar o

direcionamento das políticas

públicas no sentido do mercado

bem como empreender

mudanças nas contas públicas e

na economia coerentes com essa

radicalização. A pressão por

ajustes duros nas contas do

governo federal, pela retomada

das privatizações, pela

flexibilização da legislação

trabalhista e a reviravolta na

política externa do país sugerem

que se avizinham tempos

sombrios para os assalariados

em geral e para os mais pobres.

O governo Temer, a despeito da

sua falta de legitimidade para

levar a cabo as mudanças

exigidas por tais interesses,

encaminha de forma rápida

propostas extremas,

aproveitando-se do vácuo

político gerado pelo processo de

impeachment. Essas reformas

são consideradas pré-condições

para uma retomada do

crescimento da economia

brasileira.

Não obstante, os indicadores

disponíveis nos três/quatro

primeiros meses de 2016

sugerem a manutenção do

quadro macroeconômico

desfavorável. Ademais, não há

qualquer sinal de um caminho

crível que aponte para a

retomada do crescimento, após

forte retração do PIB em 2015 e

a manutenção dessa retração no

primeiro trimestre de 2016.

A única mudança perceptível é

no campo político, na relação

Executivo e Legislativo, com o

Congresso passando a atuar de

forma relativamente mais

cooperativa, votando em certos

casos as mesmas medidas que

antes se recusava a apreciar. A

aprovação de uma “meta” fiscal

deficitária de R$ 170 bilhões

mostra um legislativo que

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realismo conveniente ao governo

Temer.

O governo, por outro lado, lança

balões de ensaio na imprensa

convencional, envolvendo temas

polêmicos do ponto de vista da

população. A recriação da CPMF

e outras estratégias de aumento

da carga tributária é um desses

temas. O congelamento real dos

gastos públicos é outro e, na

temática da previdência, o que

se explicita a conta gotas são

mudanças que implicarão em

perdas sensíveis de direitos para

os aposentados do RGPS, do

funcionalismo federal, bem como

para os dependentes de auxílios

assistenciais.

No que tange a alguns

indicadores estratégicos, a

inflação, na casa de dois dígitos

no ano passado, arrefeceu o seu

ritmo no inicio de 2016 ante a

forte recessão em curso. O

desemprego, todavia, segue sua

trajetória de crescimento,

segundo as várias formas de

mensurá-lo, puxado pela maior

desocupação na construção civil,

na indústria e no comércio.

No cenário incerto da economia

brasileira, os bancos ampliam as

suas reservas em detrimento do

que é transformado em crédito,

garantindo ganhos nas

chamadas operações

compromissadas. Por outro lado,

a despeito da recessão ter

levado à retração do crédito,

especialmente das empresas, os

spreads elevados garantem a

rentabilidade aos bancos, mais

do que compensando a taxa de

juros básica alta e a certa

elevação da inadimplência.

As contas públicas permanecem

com déficit primário, causado

especialmente pela queda da

arrecadação e pela explosão das

despesas financeiras. As contas

externas, da mesma forma,

deficitárias, só foram

amenizadas pelo pequeno saldo

comercial que se explica mais

pela recessão do que pela efetiva

elevação das exportações. A

retração da entrada de capitais

especulativos se dá

paralelamente a alguma

elevação do investimento direto

consequente do barateamento

dos ativos pré-existentes no país

em função da desvalorização

cambial. A seguir tais

informações são analisadas em

maior detalhe.

Boa leitura!

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1. POLÍTICA ECONÔMICA

A divulgação dos resultados do

PIB do primeiro trimestre deste

ano, pelo IBGE, despertou uma

onda, ainda que efêmera e

contida, de otimismo do

mercado, que projetava um

recuo maior da economia.

Comparada com o 4º trimestre

de 2015, este recuo foi de 0,3%

ante as expectativas de bancos e

consultorias que apontavam uma

queda de 0,8%.

Diante deste resultado, otimistas

de plantão passaram a enxergar

sinais incipientes de

arrefecimento da crise e a

melhorar prognósticos mais

sombrios que vinham sendo

feitos para a atividade

econômica em 2016. Como essa

queda estava antes projetada

para algo em torno de 4%

praticamente por todas as

instituições que realizam

estimativas sobre o seu

desempenho, algumas

começaram a ajustá-la para

baixo e a considerar que a

mesma poderá se situar em

torno de 3,5%. Não deixa de ser

um tombo apreciável, muito

próximo ao registrado em 2015,

mas, ainda assim, “menos mau”

do que anteriormente esperado,

expressão utilizada por

representantes do mercado.

Para a gerente das Contas

Nacionais Trimestrais do IBGE,

Cláudia Dionísio, não se pode

dizer que houve melhora ou

qualquer reversão de tendência,

apesar deste resultado ter sido

menos decepcionante. Isso

porque, a redução do ritmo de

queda pode ser explicada mais

pelo efeito-base, já que esta se

encontrava muito deprimida no

final de 2015, devido à falta de

crescimento em 2014 e à brutal

recessão deste ano, do que

propriamente pela retomada de

sinais vitais dos setores da

atividade econômica, que

justifiquem esse otimismo.

De fato, de uma maneira geral,

quase todos os setores viram

diminuída a velocidade de sua

queda comparada ao último

trimestre de 2015: a da

indústria, de 1,6% para 1,2%; a

do comércio de -2,6% para -1%;

e a dos serviços de -1,5% para -

0,2%.

No entanto, a comparação do

desempenho deste trimestre

com outros períodos mostra, por

outro lado, que a economia

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brasileira se encontra distante do

ponto da curva em que poderá

se reencontrar com o sol do

crescimento. Na comparação

com o 1º trimestre de 2015, a

queda registrada no PIB atingiu

5,4% e, no acumulado dos

quatro últimos trimestres frente

aos quatro anteriores, 4,7%,

indicando que o recuo no ano

deverá ser expressivo. Visto pelo

lado da oferta, o desempenho

dos setores da atividade

econômica apenas confirmam

essa possibilidade: a

agropecuária conheceu, neste

período (trimestre do ano contra

igual período do ano anterior)

retração de 3,7%, a indústria de

7,3% e o setor serviços, de

3,7%.

Por outro lado, o desempenho da

economia visto pela ótica da

demanda também confirma que

as forças que poderiam injetar

algum oxigênio para economia

se encontram anêmicas para

este objetivo. O consumo das

famílias, responsável por 60% do

PIB, conheceu uma queda de

1,7% na comparação do 1º

trimestre de 2016 com o 4º de

2015, acumulando uma retração

de 6,3% quando comparado ao

1º trimestre do mesmo ano. O

consumo do governo, que

responde por outros 20% do

produto, embora tenha crescido

1,1% em relação a

outubro/dezembro, recuou 1,4%

ante o primeiro trimestre de

2015. E a formação bruta de

capital, com queda de 1,7%,

despencou 17,5% frente aos

primeiros três meses também do

ano anterior, o que levou a taxa

de investimentos a situar-se em

inexpressivos 16,9% no primeiro

trimestre de 2016.

A verdade é que a queda do PIB

só não foi maior por se ter

contado com uma contribuição

positiva do comércio exterior

para mitigá-la: o aumento de

6,5% das exportações no

primeiro trimestre, combinada

com uma queda de 5,6% das

importações frente ao quarto

trimestre de 2015, e, na

comparação de trimestre/

trimestre do ano anterior, o fato

de as primeiras terem se

expandido 13%, com queda de

21,7% do produto importado,

terminou contribuindo para

melhorar o seu desempenho,

mesmo não podendo ser

considerado uma contribuição

saudável para a economia, dada

a queda brutal das importações.

O grande problema diante deste

quadro é que ele não permite

vislumbrar de onde poderão

nascer forças que permitam à

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atividade econômica reagir,

contribuindo para minorar a

recessão e injetar ânimo na

atividade produtiva.

Em relação ao consumo das

famílias, o avanço do

desemprego, que atingiu 11,2%

no trimestre fechado em abril, e

que deve continuar aumentando,

combinado com a queda da

renda média dos trabalhadores

(-3,7% em 2015) e ao elevado

nível de endividamento das

famílias (cerca de R$ 250

bilhões) não permite qualquer

otimismo, pelo menos no curto

prazo, de que algum start possa

ser dado por essa frente.

Os gastos do governo,

pressionados por um ajuste

primário do governo federal de

grande magnitude (R$ 170

bilhões ou de 2,6% do PIB), não

aparecem também como

candidatos a desempenhar este

papel. Dos investimentos, num

quadro de grandes incertezas

políticas, mantidas e

magnificadas com a continuidade

das investigações da Operação

Lava Jato, com a denúncia de

envolvimento dos membros do

novo governo nos esquemas de

corrupção e obstrução da justiça,

com os não poucos e graves

gargalos estruturais da economia

e com uma economia

internacional que permanece

também anêmica, igualmente

não se pode esperar que

consigam reagir tão cedo.

Restariam, assim, como fatores

de dinamismo apenas as

exportações, mas essas, apesar

de favorecidas pela melhora do

câmbio, além de não terem peso

assim tão significativo na

geração do produto, ainda

padecem da fraqueza da

demanda externa e do baixo

preço das commodities.

O que poderia mudar este

quadro depende, assim, da

política econômica no governo

interino de Michel Temer. Mas, o

fato, é que essa vem sendo, pelo

menos até o momento, incapaz

de lançar alguma luz para

sinalizar que alguns problemas

possam ser corrigidos e de que o

país poderá pelo menos mitigar

os efeitos da recessão e interagir

positivamente com o grau de

confiança dos empresários, em

geral, que até melhorou um

pouco após a aprovação, pelo

Senado Federal, do

prosseguimento do processo de

impeachment da presidente.

Além das trapalhadas políticas

cometidas pelo novo presidente

interino, como o de compor os

quadros de seu governo com

réus e investigados na Operação

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Lava Jato e no STF, aguçando e

intensificando a oposição à sua

administração e deixando incerta

a sua própria continuidade, a

indicação da equipe econômica,

integrada pela mais fina flor da

ortodoxia, não permite otimismo

sobre os resultados que se

obterá com as medidas já

aprovadas ou, por enquanto,

apenas anunciadas, para tirar o

país da crise em que se

encontra.

Seguindo o mesmo script dessa

escola de pensamento, para

quem a solução da crise fiscal

deve preceder qualquer outra

mudança, visando resgatar a

confiança dos agentes

econômicos para que os

investimentos voltem a fluir para

a economia e, com isso, o

crescimento econômico, a ênfase

da política econômica tem sido

dada à aprovação de medidas

para essa finalidade, como as

que se referem aos cortes de

gastos, inclusive de

investimentos, aumento dos

impostos indiretos e restrição do

crédito, especialmente do

BNDES. Tratam-se, pelo seu

conteúdo, indiscutivelmente de

medidas de cunho recessivo, que

devem derrubar ainda mais a

receita pública como vem

acontecendo desde 2014 – só

em 2015, essas receitas

conheceram uma queda real de

8% -, podendo anular ou até

mesmo mais do que anular

eventuais ganhos que poderiam

ser obtidos com o ajuste,

agravando ainda mais a

situação.

A leitura parcial, intencional ou

equivocada, de que o desajuste

fiscal tem como causa principal o

desequilíbrio das contas não

financeiras do governo, típica da

ortodoxia na defesa do capital e

das camadas de alta renda, o

que não significa que este não

tenha importância, impede aos

gestores da atual política

econômica, assim como da de

seus antecessores, de perceber

que o caminho trilhado do

ajuste, além de representar um

verdadeiro “austericídio”,

mantém em trajetória

ascendente, a relação dívida

bruta/PIB, atualmente na casa

de 67,5% do PIB, por não

enfrentar as suas principais

causas, as contas financeiras e,

entre essas, especialmente os

encargos da dívida pública, que

andam na casa de 8% do PIB.

Com isso, o questionável, à

medida que não diferencia o

capital produtivo do financeiro

em termos de decisão de

investimentos, e principal e

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principal objetivo da política

econômica, dificilmente obterá

êxito, considerando que a

relação dívida bruta/PIB deverá

continuar em trajetória

preocupante de expansão,

mesmo que se consiga zerar o

déficit primário, alimentada por

um déficit nominal descomunal,

que atualmente anda em torno

de 10% do PIB, o maior do

mundo.

Na verdade, não há muita

diferença entre a política

econômica que está sendo

desenhada pelo atual governo

com a política econômica

implementada em 2015, também

pela ortodoxia, sob o comando

do ministro Joaquim Levy, a não

ser pelo fato de que as condições

na atualidade são mais graves,

dada a maior deterioração que

conheceram as principais

variáveis macroeconômicas com

o ajuste implementado em seu

mandato. À exceção da melhoria

conhecida nas contas externas,

com a significativa redução do

déficit em transações correntes,

em 2015, que se encontra

reduzido a menos de 2% (1,97%

até abril no acumulado de 12

meses), fruto mais da recessão

do que propriamente de uma

política econômica virtuosa, e

dos recuos que começam a se

registrar na taxa de inflação, em

virtude do forte desfalecimento

da demanda agregada e da

redução nos índices de correção

dos preços e tarifas monitorados

pelo governo, todos os demais

indicadores e variáveis

econômicas conheceram uma

progressiva deterioração: queda

brutal do PIB, acompanhada de

aumento significativo do

desemprego e de contração

também significativa da renda

dos trabalhadores, colapso fiscal,

com aumento explosivo do

déficit primário e, mais ainda, do

nominal, ampliação considerável

do endividamento, falência

financeira dos governos

estaduais e municipais e retorno

à trajetória anterior de aumento

da pobreza.

Mantido o atual ajuste proposto

pelo ministro da Fazenda,

Henrique Meirelles, do governo

interino de Temer, praticamente

nos mesmos moldes do

empreendido pela presidente

Dilma Rousseff, em 2015, levado

à frente pelo então ministro,

Joaquim Levy, o país pode se

preparar para um período bem

mais longo do que se poderia

esperar, para se proteger de não

poucas tormentas econômicas

que prometem desabar sobre a

sua economia e, principalmente,

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sobre a sua população,

especialmente de suas camadas

menos protegidas das

intempéries econômicas.

2. INFLAÇÃO

IPCA e INPC

Dentre os indicadores mais

importantes na mensuração da

inflação no Brasil ganha

destaque o Índice Nacional de

Preços ao Consumidor Amplo

(IPCA), medido pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). O índice

considera as famílias com

rendimentos mensais de até

quarenta salários mínimos,

sendo a principal referência para

a política monetária baseada em

metas de inflação¹ fixadas pelo

governo.

No ano de 2015 o IPCA fechou

em 10,67%, maior taxa desde

2002 (12,53%), muito acima da

taxa acumulada em 2014

(6,41%), superando o teto da

meta (6,5%). A principal causa

dessa aceleração inflacionária foi

a alta de 18,31% em Habitação,

seguido de Alimentação e

Bebidas, 12,06% e Transporte,

10,16%. A alta em Habitação é

explicada principalmente pelo

item Energia Elétrica Residencial

(51%). Além disso, destaca-se a

elevação média de 22,55% do

botijão de gás, de acordo com o

boletim do IBGE. Enquanto a alta

nos preços do Transporte, que

tem um peso de 18,37% no

IPCA, deve-se principalmente a

elevação do item ônibus público

(15,09%). O Gráfico 1.1

apresenta o IPCA desagregado

por categorias.

Gráfico 1.1 IPCA acumulado no ano

Fonte: Elaboração própria. Dados IBGE.

10.67 12.03

18.31

5.36 4.46

10.16 9.23 9.5 9.25

2.11

-505

101520

dez/14 dez/15

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Em relação ao acumulado no ano

de 2015, a cidade que teve

maior variação de preços foi

Curitiba (12,58%) e a com

menor foi Belo Horizonte

(9,22%), essa última bem

próxima à variação apresentada

na Grande Vitória (9,45%),

como pode ser observado na

Tabela 1.1.

Observando o Gráfico 1.2 as

movimentações do IPCA de 2015

convergem com as de 2014 no

mês de agosto e setembro,

voltando a descolar no mês de

outubro, com variação de 0,82%

contra os 0,42% em outubro de

2014, e mantendo-se em alta

até dezembro.

Tabela 1.1 Variação IPCA acumulada no ano (%)

Fonte: Elaboração própria com dados fornecidos pelo IBGE

Região Metropolitana

dez/14 jan/15 fev/15 dez/15 jan/16 fev/16 Mar/16

Brasil 6,41 1,24 2,48 10,67 1,27 2,18 0,43

Belém - PA 6,59 1,02 2,1 9,93 1,06 2,18 0,53

Fortaleza - CE 6,03 1,08 1,91 11,43 1,45 2,26 0,72

Recife - PE 6,32 0,57 2,22 10,15 1,32 2,62 -0,04

Salvador - BA 5,76 0,88 2,56 9,86 1,69 3,13 -0,14

Belo Horizonte - MG

5,83 1,07 2,17 9,22 1,19 2,19 0,49

Rio de Janeiro - RJ

7,6 1,71 2,93 10,52 1,82 2,52 0,29

São Paulo - SP 6,1 1,51 2,77 11,11 1,1 1,92 0,57

Curitiba - PR 6,66 0,95 2,35 12,58 0,73 1,56 0,57

Porto Alegre - RS 6,77 1,19 2,33 11,22 1,56 2,55 0,67

Grande Vitória - ES

6,17 1,2 1,91 9,45 1,15 1,43 0,16

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Gráfico 1.2 - Variações mensais do IPCA para 2014 e 2015 (%)

Fonte: Elaboração própria. Dados do IBGE.

O IPCA acumulado no primeiro

trimestre de 2016 ficou 2,62%,

inferior ao mesmo período de

2015 (3,83%). O IPCA no mês

de março apresentou alta de

0,43%, menor valor registrado

desde 2012 (0,21%) e também

inferior ao mesmo mês em 2015

(1,32%).

A maior alta no acumulado do

primeiro trimestre de 2016

ocorreu no item de Educação

(6,90%), que pode ser explicada

pelo período de matricula nos

cursos regulares, com alta de

8,1% de janeiro a março. Em

seguida destaca-se o item de

Alimentação e Bebidas (com alta

nos preços de 4,65%). Foram

registradas altas expressivas nos

itens frutas (19,01%),

tubérculos, raízes e legumes

(16,01%) e hortaliças e verduras

(15,89%). Já o item

Comunicação apresentou uma

queda nos preços de 0,78% no

acumulado até março, com

destaque para os itens telefone

fixo, com queda de 2,64% e

telefone celular, de 2,51%.

Outro indicador utilizado na

mensuração da inflação é o

Índice Nacional de Preços ao

Consumidor (INPC), que difere

do IPCA apenas no que diz

respeito à abrangência, uma vez

que considera as famílias com

rendas mensais até cinco

salários mínimos. O INPC fechou

o ano de 2015 com elevação de

11,28%, acima dos 6,23% de

2014, sendo Vitória a cidade que

0.55

0.69

0.92

0.67

0.460.4

0.01

0.25

0.57

0.420.51

0.78

1.24

1.221.32

0.71 0.740.79

0.62

0.22

0.54

0.82

1.010.96

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AG

O

SET

OU

T

NO

V

DEZ

2014 2015

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Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

apresentou o índice mais baixo

com 9,5%. Na comparação com

IPCA verifica-se que a inflação

das famílias de menor renda foi

maior. Como pode ser observado

no Gráfico 1.3, o índice em 2015

acompanhou o mesmo

comportamento do IPCA,

convergindo nos meses de

agosto e setembro e deslocando

posteriormente. Observa-se um

pico de variação no mês de

novembro entre 2014 e 2015 de

0,53% e 1,11%,

respectivamente.

Gráfico 1.3 - Variações mensais do INPC para 2014 e 2015 (%)

Fonte: Formulação própria com dados do IBGE

O INPC acumulado no primeiro

trimestre de 2016 ficou em

2,93%, inferior aos 4,21%

registrados em março de 2015.

Seguindo a trajetória do IPCA no

acumulado no ano até março os

itens que apresentaram altas

foram Educação (6,45%) e

Alimentação e Bebidas (4,79%).

Destaca-se uma queda de 1,1%

no item de Comunicação no

trimestre.

O Índice Geral de Preços (IGP) é

calculado pelo Instituto Brasileiro

de Economia (IBRE), da

Fundação Getúlio Vargas (FGV)

considerando a variação de

preços que atinge diretamente a

economia do Brasil. Devido a sua

estrutura é possível analisar a

inflação do país como um todo e

quais os setores são mais

afetados. O Índice de Preços ao

Produtor Amplo (IPA)

corresponde a um peso de 60%

no cálculo do IGP e mede a

variação de preços do mercado

atacadista. O Índice de Preços ao

Consumidor (IPC) tem um peso

0.63 0.64

0.82 0.78

0.6

0.26

0.13 0.18

0.490.38

0.530.62

1.48

1.16

1.51

0.71

0.99

0.77

0.58

0.25

0.51

0.77

1.11

0.9

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

JAN

FEV

MAR

ABR

MAI

JUN

JUL

AG

O

SET

OU

T

NO

V

DEZ

2014 2015

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de 30% no IGP e mede a

variação de preços entre as

famílias que recebem renda de 1

a 33 salários mínimos. O Índice

Nacional de Custo de Construção

(INCC) representa, portanto

10%, e mede a variação de

preços na construção civil, tanto

no caso de materiais, como de

mão de obra empregada no

setor.

O Índice Geral de Preços –

Disponibilidade Interna (IGP-DI)

registra a inflação do dia

primeiro ao último dia do mês de

referência. É o indexador das

dívidas dos Estados com a União.

A inflação acumulada no ano de

2015 ficou em 10,67% ante os

3,78% registrados em 2014. Foi

a maior taxa registrada nos

últimos 13 anos. No entanto,

houve uma convergência a partir

de novembro de 2015 que

acabou compensando seus

valores superiores de julho a

novembro, de acordo com os

dados obtidos pelo IPCA e o

INPC. No Gráfico 1.4 é possível

acompanhar a variação mensal

de preços pelo IGP-DI nos anos

de 2015 e 2014.

Gráfico 1.4 – Variações mensais do IGP-DI para 2014 e 2015 (%)

Fonte: Formulação própria com base nos dados do portal IBRE.

O IPA acumulado no ano de

2015 foi de 11,32% contra os

2,17% de 2014, sendo a parcela

mais significativa para explicar o

comportamento do IGP-DI. O

IPC elevou-se de 6,86%, em

2014, para 10,54% em 2015 e o

INCC, de 6,94% para 7,49%. De

acordo com o boletim do FGV-

IBRE de dezembro de 2015, os

maiores aumentos no ano foram

com habitação (13,27%),

alimentação (11,63%) e

transporte (10,99%).

0.40

0.85

1.48

0.45

-0.45-0.63 -0.55

0.06 0.02

0.59

1.14

0.38

0.670.53

1.210.92

0.40

0.680.58

0.40

1.42

1.76

1.19

0.44

-1.00

-0.50

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

JAN

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MAR

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NO

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DEZ

2014 2015

Page 14: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

Um dos maiores impactos nos

preços em 2015 registrados pelo

IGP-M foi o aumento da energia

elétrica e de combustíveis

fósseis. A crise hídrica e a

retirada de subsídios

governamentais contribuíram

para o aumento das tarifas de

energia.

De acordo com o portal de

notícia G1 o aumento na conta

de luz foi em média de 51%

maior do que em 2014. A cidade

de São Paulo teve o maior

reajuste, de 70,97%. A gasolina

teve aumento de 20,10% e o

etanol de 29,93% em 2015

comparado a 2014, apesar da

queda nos preços internacionais

do petróleo. Como o Brasil

depende muito do transporte

rodoviário, o preço dos

combustíveis fósseis influencia o

preço das mercadorias na

economia brasileira. O que mais

pesou na renda do brasileiro foi

a elevação dos preços dos

produtos alimentícios, o real

altamente desvalorizado pode ter

contribuído para o aumento de

preços de produtos importados.

Em 2016 o IGP-DI acumulou

2,77% até março, pouco

superior aos 2,43% em 2015,

representando menor impacto

direto na economia brasileira. O

IPA-DI fechou de janeiro a

março de 2016 em 2,86% sendo

o único superior ao mesmo

período em 2015 (1,89%). O

IPC-DI caiu de 4,17% no

primeiro trimestre de 2015 para

3,07% em 2016, e o INCC-DI de

1,86% para 1,58% no mesmo

período. O que mais puxou o

índice para baixo foi a expressiva

queda nos preços de Habitação

(-0,15% em março, -3,41% no

subgrupo tarifa de eletricidade

residencial) de acordo com o

boletim FGV-IBRE de março de

2016. No entanto, o IGP-DI

acumulou alta de 11,07% em 12

meses.

O Índice Geral de Preços do

Mercado (IGP-M), também

calculado pela FGV e divulgado

no final de cada mês, registra a

variação de preços do dia vinte

de um mês até o dia vinte e um

do próximo mês e corrige,

juntamente com outros

parâmetros, contratos de

fornecimento de energia elétrica

e contratos de aluguel e

financeiros. No Gráfico 1.5,

pode-se conferir a variação no

IGP-M dos anos de 2014 e 2015.

Page 15: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

Gráfico 1.5 – Variações mensais do IGP-M para 2014 e 2015 (%)

Fonte: Elaboração própria. Dados do IBRE

Para o primeiro trimestre de

2016 o IGP-M está acumulado

em 2,97%. O IPA-M ficou em

2,98%, o IPC-M está em 3,25%

e o INCC-M em 1,63%. Os

maiores aumentos do ano no

período foram na alimentação

(4,98%), Educação (5,79%) e

Transportes (3,79%).

Elaborado pelo Departamento

Intersindical de Estatística e

Estudos Socioeconômicos

(DIEESE), o Índice de Custo de

Vida (ICV) mede a variação do

custo de vida das famílias com

renda de 1 a 30 salários mínimos

do município de São Paulo. A

variação acumulada do ICV em

2015 foi de 11,46%, bem

superior à 2014 (6,73%). Os

grupos de maiores altas foram o

de Habitação (15,70%),

Transporte (9,48%) e

Alimentação (10,54%). Nesse

último item se destaca a alta dos

preços dos produtos Aves e Ovos

(11,85%) e Grãos (8,27%).

Para os três primeiros meses de

2016 houve uma elevação de

2,96% no ICV. Obteve destaque

o grupo de Educação e Leitura

(7,64%), face o reajuste dos

preços nas mensalidades

escolares nesses meses. Foi

menor, no entanto, que em igual

período de 2015 (3,68%).

O DIEESE também disponibiliza

os preços da Cesta Básica

Nacional com a finalidade de

monitorar sua evolução através

de pesquisas mensais nas

capitais brasileiras. A quantidade

dos gêneros da cesta

acompanhada varia conforme a

região. Os produtos que a

compõem são: Carne, Leite,

Feijão, Arroz, Farinha, Batata,

0.480.38

1.67

0.78

-0.13

-0.74-0.61

-0.27

0.2 0.28

0.98

0.620.76

0.27

0.981.17

0.41

0.67 0.69

0.28

0.95

1.89

1.52

0.49

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

2.5JA

N

FEV

MAR

ABR

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DEZ

2014 2015

Page 16: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

Tomate, Pão, Café, Banana,

Açúcar, Óleo e Manteiga.

A análise do preço da cesta

básica feita pelo DIEESE, em

dezembro de 2015, mostra que

houve um aumento dos preços

em todas as 18 cidades

pesquisadas, sendo o maior

deles em Salvador (23,67%) e o

menor em Manaus (11,41%).

Destaca-se em Salvador a alta

do preço do tomate (88,24%),

causada pelo clima instável, com

seca no início do ano e chuvas

intensas que resultaram em

perdas de produção. Já em

Manaus, destaca-se a diminuição

do preço do arroz (2,57%). O

maior valor da cesta registrado

em 2015 foi em Porto Alegre (R$

418,82) e menor em Aracaju (R$

296,82).

Ao comparar o custo médio da

cesta com o salário mínimo

liquido calculado pelo DIEESE

tem-se que, em dezembro de

2015, o trabalhador

comprometeu 50% do salário

mínimo liquido com a cesta

básica, maior que a relação no

mesmo período de 2014 quando

correspondeu a 46,3%. Já para

Vitória a relação foi acima da

nacional de 51,65%.

Em março de 2016, o salário

mínimo necessário para a

manutenção de uma família de

quatro pessoas deveria equivaler

a R$ 3.736,26, ou 4,25 vezes

mais do que o mínimo em vigor

de R$ 880,00. Houve uma piora

na renda disponível ao

trabalhador em relação a

fevereiro, quando o mínimo

necessário correspondeu a R$

3.186,92, ou 4,04 vezes o piso

de R$ 788,00. Na Tabela 1.2

podem ser vistos os valores das

cestas básicas em março de

2016 para as 27 capitais

pesquisadas. Os produtos de

maiores aumentos nesse mês

foram Feijão (26 Capitais),

Manteiga (25 capitais), Leite (25

capitais) e Açúcar (23 capitais).

O feijão foi explicado pelo

DIEESE pelas condições

climáticas, que prejudicou a

qualidade dos grãos e pela

entressafra que forçaram a

redução da oferta. Para o leite e

seu derivado a manteiga, a

explicação encontrada foi a

entressafra e o aumento no

custo de produção. Já no caso do

açúcar, também pela entressafra

e por maior parte de sua

produção ser destinada ao

etanol, também com efeito de

redução sobre a oferta. Em

relação ao valor das Cestas em

março de 2016, Brasília (R$

444,74) e São Paulo (R$

444,11), ficaram com as cestas

mais caras. Já Natal (R$ 325,98)

e Maceió (R$ 342,55), ficaram

com as cestas mais baratas. Em

Vitória o preço da cesta foi R$

418,18, apresentando aumento

de 4,19% no mês e 7,50%no

acumulado no ano.

Page 17: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

Tabela 1.2 Cesta Básica nas Capitais Brasileiras em Março de 2016

Fonte: DIEESE

Capital Valor da

Cesta

Variação Mensal

(%)

% Salário Mínimo Líquido

Tempo de

Trabalho

Variação no Ano

(%)

Brasília 444,74 1,38 54,93 111h11m 11,56

São Paulo 444,11 0,16 54,86 111h02m 6,21

Florianópolis 441,06 2,41 54,48 110h16m 4,01

Rio de Janeiro 440,79 2,38 54,45 110h12m 10,78

Porto Alegre 420,9 0,98 51,99 105h14m -0,82

Vitória 418,18 4,19 51,65 104h33m 7,50

Belém 413,87 1,72 51,12 103h28m 17,60

Belo Horizonte 408,84 2,14 50,5 102h13m 10,35

Cuiabá 407,72 1,28 50,36 101h56m 4,31

Curitiba 400,78 2,04 49,5 100h12m 2,30

Campo Grande 394,04 1,59 48,67 98h31m 1,43

Fortaleza 386,3 -0,34 47,71 96h35m 12,72

Teresina 385,8 2,08 47,65 96h27m 12,28

Manaus 381,52 -12,87 47,12 95h23m 3,73

Goiânia 378,45 1,79 46,75 94h37m 12,77

Palmas 376,93 3,41 46,56 94h14m 8,93

Boa Vista 375,37 -7,05 46,36 93h50m 3,15

Macapá 372,52 -3,45 46,01 93h08m 9,00

São Luís 356,56 0,36 44,04 89h08m 8,88

Porto Velho 354,29 -1,5 43,76 88h34m 1,96

João Pessoa 351,88 -2,43 43,46 87h58m 8,36

Aracaju 349,32 -3,53 43,15 87h20m 14,25

Salvador 348,71 3,22 43,07 87h11m 10,97

Recife 347,21 -0,79 42,89 86h48m 4,00

Rio Branco 342,66 -1,88 42,32 85h40m 10,19

Maceió 342,55 -1,39 42,31 85h38m 5,58

Natal 325,98 -1,75 40,26 81h30m 4,33

Page 18: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 43 -

Houve, de forma geral, uma

deterioração nos índices de

inflação no ano de 2015 em

relação ao ano anterior. Vale

lembrar que foi um ano de

liberação de preços

administrados das tarifas de

energia e combustíveis. No

entanto, o início de 2016

apresentou uma leve inflexão

nesse cenário, o que não

necessariamente leva a uma

situação otimista. Ainda existem

pressões para a alta nos preços

associados à desvalorização do

Real perante o Dólar e às

quebras de safras. No entanto,

somam-se a esse jogo forças

contrárias, correspondentes às

quedas no consumo das famílias

e à reversão para uma política

mais restritiva de crédito e de

gastos públicos.

¹O Banco Central do Brasil (BCB) definiu como meta de inflação para 2016 a taxa de 4,5% ao ano, podendo variar em 2,0 pontos percentuais para mais ou para menos.

3. NÍVEL DE ATIVIDADE

PIB NACIONAL

O Brasil vem enfrentando

grandes dificuldades para a

retomada de seu crescimento,

ante o cenário de crise interna

de ordem política e econômica e

a redução do ritmo de

crescimento da economia

mundial como um todo. Se em

2014 o PIB (Produto Interno

Bruto) brasileiro ficou

praticamente estagnado, haja

vista a insignificante expansão

de 0,1% em relação a 2013, o

ano de 2015 foi marcado pela

contração de 3,8% do PIB, a

maior da série histórica iniciada

em 1996. Por outro lado, os

resultados apresentados pelo

IBGE referentes ao primeiro

trimestre de 2016 também não

são nada animadores, indicando

uma retração de 5,4% desse

agregado quando comparado

com o mesmo trimestre do ano

passado.

Em valores correntes, o PIB,

maior agregado macroeconômico

brasileiro, totalizou, em 2015,

R$ 5,9 trilhões. No linguajar

econômico, cenário semelhante a

este, isto é, de crescimento

negativo do PIB combinado com

inflação, costuma ser

denominado de estagflação.

Como o resultado do primeiro

trimestre do ano, quando

comparado com o trimestre

imediatamente anterior também

apresenta retração, nesse caso

de 0,3%, a economia brasileira

chega ao sexto trimestre

consecutivo sem crescimento.

Analisando a produção brasileira

pela ótica da oferta, se ao final

de 2015, o setor Agropecuário

havia sido o único a apresentar

expansão em relação a 2014, da

Page 19: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

ordem de 1,8%, resultado

fortemente influenciado pelo

crescimento observado na

produção de algumas culturas,

como a soja (11,9%) e milho

(7,3%), bem como pela

desvalorização cambial, no

primeiro trimestre de 2016 esse

setor também passa a registrar

queda, -0,3% quando

comparado ao último trimestre

de 2015. E o quadro se agrava

para esse setor quando

comparamos o primeiro

trimestre de 2016 com igual

período de 2015, ou seja, queda

de 3,7%.

Segundo o Levantamento

Sistemático da Produção Agrícola

(LSPA/IBGE), as principais

retrações se deram nas safras de

fumo (-20,9%), arroz em casca

(7.6%) e milho (5,0%). Além

disso, segundo o mesmo

levantamento, quase todas as

culturas relevantes para o país

sofreram queda de

produtividade. Caso semelhante

ao das produções pecuária e

florestal, que demonstraram

fraco desempenho durante este

primeiro trimestre do corrente.

O cenário para a Indústria

também não é animador, uma

vez que o setor havia

apresentado queda de 6,2% ao

longo de 2015 e, no primeiro

trimestre de 2016, retração de

1,2% em relação ao trimestre

imediatamente anterior e 7,3%

em relação a igual período de

2015. A Indústria de

transformação, principal fator

negativo ao longo do ano

passado, registrou uma

contração de 9,7%, voltando a

cair pelo sexto trimestre

consecutivo (-0,3%) e, quando

comparado com igual período do

ano anterior atinge queda de

10,5%. Mesmo a Extrativa

mineral, único destaque positivo

na atividade industrial em 2015 -

quando acumulara crescimento

de 4,9% - apresentou retração

nesse primeiro trimestre de 2016

(-1,1%). Máquinas e

equipamentos, indústria

automotiva e outros

equipamentos de transporte,

metalurgia, produtos de

borracha e de metal, material

plástico, eletroeletrônicos,

equipamentos de informática e

móveis tiveram, todos,

decréscimo na produção, o que

contribuiu para o fraco resultado

indústria de transformação. Vale

destacar que a Indústria, como

um todo, vem perdendo espaço

relativo no PIB desde 2006.

Recente pesquisa da

Confederação Nacional da

Indústria, que avaliou o período

entre 2010 e 2013, apontou que

a participação do setor para a

integralização do PIB caiu de

27,4% para 24,9% no período

analisado.

O setor de Serviços também

apresentou queda de 2,7% em

2015. Dentre as atividades que

compõem os Serviços, o

Comércio sofreu a maior

Page 20: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

retração, 8,9%. Entre as

possíveis causas apontadas para

esse comportamento negativo

estão a elevação da inflação, a

escassez de crédito e o aumento

do desemprego, que reduz o

poder de compra e o consumo

agregado, afetando o setor

diretamente. Mesmo quando

comparado o último com o

terceiro trimestre do ano de

2015, resultado geralmente

influenciado positivamente pelas

festas de fim de ano, houve uma

retração de 1,4%, já

dessazonalizado. Nessa mesma

base de comparação, o destaque

negativo ficou novamente com o

Comércio, o qual apresentou

contração de 2,6%. No

acumulado de 2016, esse setor

continua apresentando

contração, haja vista a queda de

10,7% no primeiro trimestre do

ano quando comparado a igual

período de 2015.

Pela ótica do gasto, a contração

de 14,1% da Formação Bruta de

Capital Fixo foi o destaque

negativo do ano que se

encerrou. Este recuo é

justificado principalmente pela

queda da produção interna e da

importação de bens de capital,

sendo influenciado ainda pelo

desempenho negativo da

construção civil neste período,

obrigada a conviver com o

estancamento dos programas

governamentais de construção

de casas populares e com a

redução das atividades das

empresas construtoras

envolvidas na investigação da

Operação Lava Jato. Além disso,

as expectativas dos agentes, que

diante desse cenário de

incertezas reduzem os

investimentos de maneira

significativa, devem ser

consideradas. Só no último

trimestre de 2015, a contração

foi de aproximadamente 5%, se

compararmos com o trimestre

imediatamente anterior e o

ajuste sazonal.

Importante lembrar que a

Formação Bruta de Capital Fixo é

um indicador do nível de

investimento da economia, uma

vez que procura medir a

variação da produção de bens de

capital, servindo também para

verificar se a capacidade da

produção da economia está

crescendo. O recuo nessa

categoria de uso é justificado,

principalmente, pela queda das

importações e da produção

interna de bens de capital, bem

como pelo desempenho negativo

da construção civil neste

período.

No primeiro trimestre de 2016

todos os componentes da

demanda interna apresentaram

queda na comparação com igual

período do ano anterior e pelo

quinto trimestre seguido. A

Despesa de Consumo das

Famílias caiu 6,3% a Formação

Bruta de Capital Fixo, queda de

17,5%, e Despesa de Consumo

do Governo, retração de 1,4%

Page 21: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 46 -

em relação ao primeiro trimestre

de 2015. A deterioração de

indicadores como inflação, juros,

crédito, emprego e renda ajuda

a explicar essa queda do

consumo.

Além disso, o nível de

endividamento das famílias, que

segundo o Banco Central atingiu

46,3% em abril, e o aumento do

desemprego também ajudam a

comprometer a capacidade de

compra das famílias.

Influenciada pela desvalorização

cambial de 37%, as Exportações

de Bens e Serviços apresentaram

expansão de 13%, enquanto as

Importações caíram 21,7% ao

longo do primeiro trimestre de

2016. Entre os produtos e

serviços da pauta de

exportações, os maiores

destaques foram observados em

petróleo e derivados, produtos

de metalurgia e agropecuária e

veículos automotores. Já entre

as importações, as maiores

quedas ocorreram em máquinas,

tratores e equipamentos,

automóveis, viagens

internacionais, siderurgia e

eletroeletrônicos.

Tabela 3.1 - Brasil: Produto Interno Bruto – Taxa Acumulada ao longo do ano

Setor de Atividade 2015.

I 2015.

II 2015.

III 2015.

IV 2016.

I

Agropecuária 5,4 3,9 2,1 1,8 -3,7

Indústria -4,4 -5,1 -5,6 -6,2 -7,3

Extrativa Mineral 12,5 10,3 8,1 4,9 -9,6

Transformação -7,3 -7,7 -9,0 -9,7 -10,5

Construção Civil -8,3 -9,4 -8,4 -7,6 4,2

Prod. e distrib. eletricidade, gás e água -6,6 -4,2 -2,3 -1,4 -6,2

Serviços -1,4 -1,6 -2,1 -2,7 -3,7

Comércio -5,9 -6,5 -7,7 -8,9 -10,7

Transporte, armazenagem e correio -4,0 4,6 -5,7 -6,5 -7,4

Serviços de informação 3,5 1,7 0,6 -0,3 -5,0

Interm fin seguro/prev compl, serv rel 0,7 0,4 0,4 0,2 -1,8

Outros serviços -1,2 -1,6 -2,2 -2,8 -3,4

Ativ. imobilárias e aluguel 0,1 0,5 0,4 0,3 0,0

Adm. saúde e educação públicas -0,4 0,1 0,4 -0,0 -0,8

PIB a preços de mercado -2,0 -2,5 -3,2 -3,8 -5,4

Despesa de consumo das famílias -1,5 -2,3 -3,0 -4,0 -6,3

Despesa consumo administração pública -0,5 -0,4 -0,4 -1,0 -1,4

Formação bruta de capital fixo -10,1 -11,5 -12,7 -14,1 -17,5

Exportação de bens e serviços 3,3 5,7 4,0 6,1 13,0

Importação de bens e serviços (-) -5,0 -8,3 -12,4 -14,3 -21,7

Fonte: Contas Nacionais Trimestrais - IBGE

Page 22: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 43 -

Indústria

O contexto de recessão

econômica que se encontra o

país se aprofunda com a

trajetória de queda da produção

física industrial. No acumulado

no primeiro trimestre de 2016,

contra mesmo período do ano

anterior, o recuo foi de 11,7%.

Esse dado preocupa, pois, em

março de 2015, a mesma base

de comparação registrou queda

de 5,9%. Importante destacar

que a diminuição da produção é

puxada pela categoria de Bens

de capital.

Tabela 3.2 - Produção Física Industrial Trimestral por Categorias de Uso (Variação % acumulada em relação à igual período do ano anterior)

Fonte: IBGE / Sidra - Pesquisa da Indústria Mensal Produção Física

Na categoria Bens de capital a

queda observada alcançou

28,9% no primeiro trimestre de

2016 frente ao mesmo período

do ano anterior. Pesam sobre o

setor os efeitos da Operação

Lava Jato, o aumento da

instabilidade e da incerteza por

conta da redução do crescimento

mundial e o delicado momento

político vivido internamente. A

queda acentuada é reflexo do

recuo em todos os grupamentos

do segmento. O maior destaque

entre as reduções foi em bens de

capital para equipamentos de

transporte, com retração de

28,6%.

Nota-se destacada retração na

produção de bens de capital para

construção civil, com queda de

41,2%. Esse setor é afetado com

o envolvimento das maiores

empreiteiras do país na

Operação Lava Jato, pois

enquanto estão sob investigação,

apresentam considerável

redução de suas atividades. As

incertezas geradas pelo cenário

político conturbado induzem o

encolhimento no investimento,

variável extremamente instável

Atividade / Período Jan-Mar

2015 Jan-Mar

2016

Bens de Capital -18,0 -28,9

Bens Intermediários -2,8 -10,3

Bens de Consumo Duráveis -15,8 -27,3

Bens de Consumo Semi e Não Duráveis -5,9 -4,5

Indústria Geral -5,9 -11,7

Page 23: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

e, por conseguinte, impactam no

nível de produção, reduzindo a

demanda por capital fixo.

Outra implicação da instabilidade

política e econômica é a redução

das encomendas da Petrobrás às

contratadas, que também

acabam por reduzir seus

investimentos. Somam-se a isso

os cortes orçamentários feitos

pelo Governo Federal no

Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) e no “Minha

Casa, Minha Vida”, que

acarretam diminuição ainda

maior nas obras de

infraestrutura, impactando

negativamente o setor de

construção civil.

No tocante aos bens

intermediários, a queda foi de

10,3% no acumulado no

trimestre encerrado em março

de 2016 contra mesmo período

do ano anterior. Nessa categoria,

a maior variação ocorreu no

âmbito de veículos automotores,

reboques e carrocerias, com

recuo de 27,8%. O setor de

metalurgia, um dos mais

afetados pela desaceleração da

economia mundial, a exemplo da

China, registrou queda de

13,9%. A produção associada às

atividades da indústria extrativa,

que recuou 15,3%, já vinha

sentindo os efeitos dos baixos

preços das commodities,

incluindo petróleo.

O preço do barril de petróleo

vem sofrendo baques, em

decorrência do excesso de

oferta, que deve se manter com

o retorno do Irã ao mercado

após a retirada das sanções a

esse país. É sustentado,

principalmente, pela Arábia

Saudita, maior exportador de

petróleo do mundo, na tentativa

de inibir a conquista de novos

mercados pelo petróleo extraído

do xisto, produto concorrente

produzido pelos Estados Unidos.

Outro importante determinante

para o decréscimo ocorrido na

indústria extrativa foi a baixa

cotação do minério de ferro,

influenciada pela redução da

demanda mundial pelo produto,

especialmente a chinesa. Essa

redução decorre da alteração do

modelo de crescimento chinês,

que tem priorizado o consumo ao

invés do investimento. Não se

pode desconsiderar também o

fato de que esse segmento foi

ainda mais prejudicado após o

rompimento da barragem de

rejeitos de minério, pertencente

à mineradora Samarco, em

Mariana-MG, o que paralisou a

produção por parte dessa

empresa.

Referente ao acumulado no

primeiro trimestre do ano foi

notada queda de 4,5% na

categoria de bens de consumo

semi e não-duráveis. Tal

desempenho desse setor foi

influenciado pelo recuo de

13,5% em produtos

semiduráveis. Nesse

grupamento, a produção de

Page 24: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

telefones celulares pressionou o

índice para baixo. Isso após o

governo voltar a cobrar o

PIS/COFINS sobre aparelhos

eletrônicos, podendo elevar os

preços de alguns smartphones

em cerca de 10%.

É observado, no segmento de

bens de consumo duráveis, no

acumulado no primeiro trimestre

de 2016, retração de 27,3%. A

queda é puxada fortemente pelo

setor de fabricação de

automóveis, que contraiu 25,3%,

e pelo setor de eletrodomésticos,

contração de 34,8%. Em março

de 2016 contra o mesmo mês do

ano anterior, o segmento de

eletrodomésticos apontou queda

de 19,1% na “linha branca” e

31,3% na “linha marrom”, que

engloba sofá, guarda-roupa,

mesa e cama. Esse recuo é

influenciado, em grande parte,

pela redução das jornadas de

trabalho e pela concessão de

férias coletivas em várias

unidades produtivas.

Uma variação negativa que

chama a atenção ocorreu na

fabricação de Equipamentos de

informática, eletrônicos e

ópticos, com recuo de 34,7%.

Tal declínio pode ser explicado

pela depreciação do Real frente

Tabela 3.3 - Produção Física Industrial por Atividades (Variação % Acumulada em relação à igual período do Ano Anterior)

Atividade / Mês

Mar 15- Mar 16

Acum ano

Acum 12

meses

Indústria Geral -11,4 -11,7 -9,7

Indústrias Extrativas -16,6 -15,3 -2,8

Indústria de Transformação -10,6 -11,1 -10,7

Fabricação de produtos alimentícios 0,1 -1,4 -2,2

Fabricação de bebidas -4,3 -7,9 -6,1

Fabricação de produtos do fumo 17,3 31,3 -2,7

Fabricação de produtos têxteis -15,7 -15,9 -17,0

Confecção de artigos do vestuário e acessórios -8,6 -11,4 -10,8

Prep. Couros, fabr artefatos couro, art viagem e calçados -7,3 -6,7 -9,0

Fabricação de produtos de madeira 1,5 -2,6 -4,0

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel -1,3 1,7 0,0

Impressão e reprodução de gravações -17,3 -17,2 -18,9

Fabr de coque, derivados do petróleo/biocombustíveis -5,8 -1,3 -4,8

Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos 2,7 0,9 -8,5 Fabr sabões/detergentes/produtos limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal -5,6 -3,8 -4,0

Fabricação de outros produtos químicos -0,1 -1,9 -4,6

Page 25: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

Fabricação de produtos de borracha e material plástico -16,8 -15,7 -12,0

Fabricação de produtos de materiais não-metálicos -14,3 -13,4 -9,8

Metalurgia -14,4 -13,9 -10,7

Fabr produtos metal, exceto máquinas e equipamentos -19,6 -17,0 -14,0

Fabricação de máquinas e equipamentos -17,8 -23,7 -18,6 Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos -31,1 -34,7 -32,0

Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos -17,4 -20,5 -16,6

Fabricação de equipamentos de comunicação -34,4 -33,5 -35,1 Fabricação de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos -15,6 -11,2 -4,7 Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias -23,8 -27,8 -27,8 Fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores -22,0 -23,6 -14,1

Fabricação de móveis -17,9 -15,7 -17,0 Fabricação de produtos diversos

-15,5 -14,1 -8,7

FONTE: IBGE / Sidra - Pesquisa da Indústria Mensal Produção Física

ao dólar, uma vez que esse

segmento, no Brasil, se restringe

a montagem e os componentes,

que são importados e se tornam

mais caros com o dólar

valorizado.

No que compete ao mês de

março de 2016, vale destacar

expansão de 1,4% da indústria

nacional, frente ao mês

imediatamente anterior. Nessa

base de comparação, todas as

categorias apresentaram

resultados positivos. O maior

aumento na produção ocorreu no

segmento de bens de capital,

com variação positiva de 2,2%,

interrompendo três meses de

queda. Nas demais categorias os

aumentos foram de 0,1% para

bens intermediários, 0,3% para

bens de consumo duráveis e

0,9% para bens de consumo

semi e não-duráveis. Esse

crescimento da indústria geral foi

influenciado principalmente pelo

avanço de 4,6% na fabricação de

produtos alimentícios. Apesar

desse sutil alivio, setores

importantes como metalurgia e

indústria extrativa apresentaram

recuos. O primeiro caiu 2,1% e o

segundo 0,9%.

Segundo o gerente da

coordenação de indústria do

IBGE, André Macedo, o resultado

positivo de 1,4% não elimina a

perda recente do setor industrial,

haja vista que só fevereiro

mostrou queda de 2,7%, ou

seja, uma magnitude superior ao

observado em março. Ainda

assim, há claramente um perfil,

na margem da série, diferente

do que vinha sendo observado.

Macedo também pondera que o

resultado positivo para bens de

capital em março não significa

Page 26: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

uma mudança na intenção de

investimento dos empresários.

Ele considera que tal elevação

pode ter sofrido influência da

retomada gradual de parques

industriais que estavam em

regime de férias coletivas.

Indústria Capixaba

Se o desastre ambiental ocorrido

em Mariana gerou efeitos

negativos econômicos intensos

em âmbito nacional, no que

concerne ao Espírito Santo os

abalos sofridos por conta da

tragédia foram ainda maiores. O

bom desempenho que vinha

apresentando a indústria

extrativa capixaba, devido ao

ganho de produtividade fruto da

implantação de duas novas

unidades produtivas, foi

interrompido após a paralização

das atividades de pelotização da

Samarco. Como consequência do

desastre, desencadeou-se uma

queda de 24,1% no setor de

extração, que puxou uma

contração de 14,3% na indústria

geral do estado, ambas as

reduções no confronto do quarto

trimestre de 2015 com o mesmo

período de 2014.

O desastre não foi sentido

apenas na indústria capixaba,

mas também no PIB do Espírito

Santo, contribuindo para uma

queda de 11,1% desse agregado

no último trimestre de 2015 e de

1,1% no acumulado do mesmo

ano.

Os resultados do primeiro

trimestre de 2016 seguiram a

mesma tendência de queda do

último trimestre de 2015. A

indústria capixaba retraiu

22,4%, resultado que só não é

pior do que Pernambuco, que

encolheu 27,0%. O decréscimo

nesse período também é

explicado pela indústria

extrativa, que apresentou

resultado ainda pior que no

quarto trimestre de 2015,

reduzindo sua produção em

36,8%.

Comércio

O Comércio Varejista, em março

de 2016, apresentou uma queda

de 5,7% no Volume de Vendas,

em comparação com março de

2015. Móveis e eletrodomésticos

foi o item que mais caiu, 16,6%

no acumulado do ano e 13,8%

na comparação com

fevereiro/2016. Esse segmento

de venda anteriormente mais

dinâmicos sofre atualmente com

a queda da demanda, a alta da

inflação, o aumento dos juros,

menor oferta de crédito.

A contínua queda no Volume de

Vendas e nas Receitas de Vendas

demonstra o agravamento da

crise econômica que assola o

país. Com a queda de

trabalhadores na ativa as vendas

do comércio são diretamente

atingidas e consequentemente

aumenta também a demissão

Page 27: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

nesse setor, gerando um efeito

bola de neve.

O setor automotivo também

apresentou forte queda, 17,6%,

o que indica, entre outras coisas,

grande incerteza do consumidor

sobre emprego e renda futuros.

Segundo dados de 2015 55%

das vendas de veículos referiu-se

a vendas financiadas em até 72

meses. Com a restrição de

crédito e a elevação da taxa de

juros ficaram mais difíceis as

vendas deste setor. O próprio

presidente da ANFAVEA, Luiz

Moan, afirmou que um aumento

das exportações pode ser

importante para dar vazão aos

carros que estão no pátio em

virtude da crise atual.

A única variação positiva ocorreu

no Setor de Hipermercado,

Supermercados, Alimentos,

Bebidas e Fumo com um

aumento de 12,7% em

comparação com março do ano

anterior. Por se tratar de bens de

primeira necessidade, a alta

relativa já era esperada no

período de férias, aqueles

durante os quais ocorre um

aumento do consumo dessa

categoria de bens.

Tabela 3.4 – Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as principais atividades (%)

Atividades Mar 2016/Fev 2016

Mar 2016/Mar 2015

Acum 12

Meses

Volume de Vendas Comércio varejista -0,9 -5,7 -5,8

Hiper, Super., Alim., Beb. e Fumo -1,7 -1,2 -7,5 Móveis e eletrodomésticos -1,1 -13,8 -16,6 Outros art. de uso pessoal e doméstico 0,7 2,0 2,3

Combustíveis e lubrificantes -1,2 -10,1 -7,5 Comércio Varejista ampliado -1,1 -11,1 -9,6

Veic. e motos, partes e Peças -0,5 -11,1 -17,6 Material de Construção -0,3 -14,6 -10,9

Receita de Vendas Comércio varejista -0,4 6,2 3,1

Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo -1,1 12,7 7,5 Móveis e eletrodomésticos -0,7 -8,4 -13,7 Outros art. de uso pessoal e doméstico -1,1 -3,8 0,3

Comércio varejista ampliado -0,8 0,6 -2,2

Veic. e motos, partes e Peças -0,9 -10,1 -14,2 Material de Construção 0,4 -10,7 -6,5

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.

Page 28: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 43 -

Comércio Capixaba

A atividade do comércio no

Espírito Santo também

acompanhou a tendência de

queda observada no país como

um todo e sofreu uma queda

sistemática na comparação

Março-Fevereiro. Fechou o ano

com resultados negativos da

ordem de 20,1% e 12,2%, para

Volume e Receita de vendas,

respectivamente, conforme

indicado na tabela 6. Concorrem

como justificativas para esse

comportamento os

desdobramentos do caso

Samarco, uma vez que o

acidente ambiental provocado

pelo rompimento da barragem

de Mariana, além das mortes e

dos danos materiais provocados,

paralisou as operações

produtivas da mineradora.

A queda de 20,2% do Volume de

vendas do comércio capixaba no

acumulado do ano foi puxada

principalmente pelos subgrupos

Móveis e eletrodomésticos (-

21,3%) e o setor de

Hiper.,super.,bebidas e fumo,

que embora tenha apresentado

uma queda no volume de vendas

da ordem de 9,8%, apresentou

elevação de 0,4% na Receita de

Vendas, comparado a Abril.

Tabela 3.5– Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as principais atividades no Espírito Santo (%)

Atividades Mensal Acum. Ano

Acum. 12

Meses

Volume de Vendas Comércio varejista -20,1 -20,2 -19,6

Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 0,4 -3,2 -3,9 Móveis e eletrodomésticos -23,7 -21,3 -16,4 Outros art. de uso pessoal e

doméstico -24,5 -30,0 -24,8 Comércio Varejista ampliado -9,6 -9,3 -9,3

Veic. e motos, partes e Peças -35,8 -37,3 -34,1 Combustíveis e lubrificantes -17,3 -14,0 -14,3 Material de Construção -10,5 -8,2 -9,9

Comércio varejista 0,4 0,6 -1,4 Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 13,7 9,8 6,3 Móveis e eletrodomésticos -22,3 -20,0 -14,9 Outros art. de uso pessoal e

doméstico -18,1 -24,0 -20,2 Comércio Varejista ampliado -12,2 -12,2 -12,7

Veic. e motos, partes e Peças -33,1 -34,4 -30,5 Combustíveis e lubrificantes -6,5 -0,3 -2,4 Material de Construção -6,6 -3,9 -5,4

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coord. de Serv. e Com.

Page 29: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 43 -

Para evitar maior peso sobre

economia capixaba que já

apresenta dados preocupantes, o

Governo do Estado do Espírito

Santo abriu mão de aumentar as

alíquotas dos impostos

estaduais, optando pela redução

de gastos e pela adoção de

tecnologias e de gestão

tributária. Recorreu ao Refis,

programa de refinanciamento de

débitos tributários, além de estar

reavaliando benefícios fiscais

concedidos em anos anteriores,

como forma de compensar a

perda de receitas tributárias.

4. EMPREGO E SALÁRIOS

Os sinais de retração e crise da

economia mundial ainda estão

presentes. Apesar de relativa

melhora entre os anos de 2014 e

2015, em que a taxa de

crescimento do PIB na União

Européia, por exemplo, variou

positivamente de 1,4% para

1,9%, segundo dados do

Eurostat. Ainda assim esse

percentual permanece

insuficiente para absorver os

desempregados existentes e os

novos entrantes no mercado de

trabalho. Considerando a série

histórica desde a eclosão da crise

em 2008-2009, a taxa média de

crescimento da região foi de

apenas 0,3% a.a.

Os indicadores do mercado de

trabalho europeu acabaram

refletindo este movimento cíclico

de retração. Em 2015, a taxa

média de desemprego na União

Européia foi de 9,4%, sendo que

países como França (10,4%) e

Itália (11,9%) ficaram acima

desta média. Na zona Euro, a

média foi de 10,8%. A taxa

média de desemprego de longa

duração (+1 ano) na União

Européia saiu de 2,6%, em

2008, para 5,1% em 2014.

Por outro lado, nos EUA,

potência hegemônica, a taxa de

desemprego foi de 5,3%, em

2015, apresentando redução em

relação aos anos anteriores.

Naturalmente o Brasil

acompanha o movimento da

economia mundial. Inicialmente,

nota-se uma tendência de

redução e mesmo estabilidade

no desemprego pós-crise 2008-

2009, porém com saltos

positivos mais expressivos na

taxa de desemprego a partir de

2014 e, principalmente em 2015,

como seria em seguida

explicitado.

Page 30: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

A conjuntura recessiva mundial

associada às instabilidades

políticas e econômicas internas

nos últimos meses contribuíram

para um cenário de retração e de

piora nos indicadores do

mercado de trabalho.

IBGE - PNAD CONTÍNUA

A PNAD Contínua possui

periodicidade mensal, sendo

analisada por meio de

trimestres, sejam fixos, dividindo

o ano em quatro períodos, ou

móveis, o qual corresponde o

mês da pesquisa e os dois meses

anteriores. Serão utilizados

nesta análise os dados do último

trimestre móvel (jan-mar/16),

assim como do ano de 2015, que

corresponde à média fixa.

Em meio à crise vivida no atual

contexto político-econômico

brasileiro, o desemprego está

subindo a uma proporção

elevada desde o quarto trimestre

de 2014, analisado pelos

trimestres fixos. Porém, na

comparação dos últimos dois

trimestres de 2015, vê-se que a

taxa de desocupação se manteve

estável, numa pequena elevação

de 8,9% para 9%. Todavia, no

início do ano de 2016 novamente

notamos uma retomada no

desemprego, chegando, no

primeiro trimestre de 2016, a

10,9%.

Esta tendência de alta

acompanha a evolução do

desemprego em economias de

países centrais como a França,

por exemplo, com taxa

desemprego média de 10,4% em

2015. Em outros países como

Itália, Portugal e Espanha, os

indicadores variaram de 11% a

21%, refletindo a crise

capitalista em países tanto do

centro quanto da periferia da

zona euro.

Uma característica marcante e

contrastante a tal aumento da

taxa de desocupação é o fato de

que a quantidade de pessoas

ocupadas como “conta própria”,

núcleo principal da

informalidade, aumentou 1,2%

em relação ao trimestre móvel

anterior, correspondente à

outubro, novembro e dezembro

de 2015.

Se comparado com os dados do

mesmo trimestre do ano

passado, ou seja, janeiro a

março de 2015, que foi quando

de fato começou a tendência de

alta no desemprego, vê-se um

aumento de 6,5%. Isso mostra

que com as demissões no setor

privado as pessoas buscam uma

nova alternativa de renda, de

modo a tentar “driblar” a

Page 31: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

recessão a partir da entrada na

informalidade.

Já em relação à população

ocupada, alguns dados

desagregados por categorias

foram observados pela média

fixa trimestral. O nível de

instrução das pessoas ocupadas

no Brasil, a partir dos dados

apurados no último trimestre de

2015, por exemplo, mostram

que 30,1% não possuíam o

ensino fundamental completo,

54,2% tinham concluído pelo

menos o ensino médio e 17,3%

finalizaram o nível superior. São

proporções que chamam

atenção, mas que quando

analisadas regionalmente,

Gráfico 4.1: Evolução do índice de desocupação, trimestre móvel – PNAD (%)

Fonte: IBGE – PNAD Contínua. Elaboração Própria

mostram-se ainda mais

preocupantes. O percentual de

pessoas ocupadas nos níveis de

instrução mais baixos (não

tinham concluído o ensino

fundamental) nas regiões Norte

(38,2%) e Nordeste (39,7%) era

superior ao observado nas

demais regiões, sendo que no

Sudeste a taxa foi de 23,9%.

Quanto ao percentual de pessoas

com nível superior completo a

região Sudeste (20,9%) foi a

que apresentou a maior taxa,

enquanto a Região Norte a

menor (11,6%).

Do ponto de vista da divisão das

pessoas em idade de trabalhar,

segundo os sexos, observa-se

que apesar das mulheres

representarem uma maior parte

nesta classe (52,2%), no quarto

trimestre de 2015 elas

representaram menor parte da

população ocupada, sendo que a

diferença aumentou do terceiro

8%

7.40%6.90%

6.20%

7.10%

6.80%

6.80%

6.50%

7.90%8.30%

8.90%9%

10.90%

1T13 2T13 3T13 4T13 1T14 2T14 3T14 4T14 1T15 2T15 3T15 4T15 1T16

Page 32: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

trimestre em relação ao quarto

trimestre de 2015, com os

homens totalizando 7,2% em

comparação aos 56,9%

apresentados no terceiro

trimestre.

No Espírito Santo, vê-se, assim

como no país, uma tendência de

crescimento na taxa de

desemprego. Observa-se que ela

vinha se mantendo abaixo da

taxa de desocupação nacional,

porém no quarto trimestre de

2015 o desemprego chegou a

9,1%, um pouco maior que os

9% apresentado no Brasil.

Analisando-se os dados do

trimestre fixo, o desemprego no

estado subiu de 8,1% para 9,1%

do terceiro para o quarto

trimestre de 2015.

DIEESE – PED

Os resultados disponibilizados

pela Pesquisa de Emprego e

Desemprego (PED) podem ser

observados através do Gráfico

3.2, que apresenta uma média

entre as regiões metropolitanas

de Fortaleza, Porto Alegre, São

Paulo e Salvador, mais o Distrito

Federal.

Vale ressaltar que a taxa de

desemprego na pesquisa é

dividida em desemprego aberto

(pessoas que procuraram

trabalho de maneira efetiva nos

30 dias anteriores ao da

entrevista e não exerceram

nenhum trabalho nos sete

últimos dias) e oculto, sendo

este último dividido em outros

dois subgrupos: desemprego

oculto pelo trabalho precário e o

desemprego oculto pelo

desalento.

De acordo com a metodologia do

PED, o desemprego oculto pelo

desalento é aquele que considera

pessoas que não possuem

trabalho e não procuraram nos

últimos 30 dias anteriores ao da

entrevista, por desestímulos do

mercado de trabalho ou por

circunstâncias inesperadas, mas

apresentaram procura efetiva de

trabalho nos últimos 12 meses.

Já o desemprego oculto pelo

trabalho precário é aquele que

considera o trabalho remunerado

ocasional de auto-ocupação ou o

“trabalho não remunerado em

ajuda a negócios de parentes e

que procuraram mudar de tendo

procurado neste período, o

fizeram sem êxito até 12 meses

atrás”.

Os dados indicam uma tendência

de alta na taxa de desemprego

segundo semestre de 2015 para

aumentando entre julho a do o

início de 2016, outubro 2015,

permanecendo constante no

Page 33: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

último trimestre do referido ano

e retomando a alta entre

dezembro/15 a fevereiro/16. De

julho de 2015 até fevereiro de

2016, a taxa de desemprego

cresceu praticamente dois

pontos percentuais.

Gráfico 3.2: Evolução da taxa de desemprego médio total - PED (%)

Fonte: Elaboração própria através dos dados do DIEESE/PED.

Como indicado, o último

trimestre de 2015 foi o único que

apresentou estabilidade por

causa do aumento da demanda

por trabalho no Comércio, porém

não garantiu continuidade nos

meses seguintes. Um das

explicações para isso é a queda

do consumo das famílias em -4%

no ano de 2015 em relação a

2014, quando houve crescimento

de 1,3%. A deterioração no

mercado de trabalho que vem

acontecendo desde julho de

2015 influenciou diretamente na

queda do consumo, pois, com o

desemprego aumentando, as

famílias têm cada vez menos

condições para comprar. Outros

fatores que contribuíram foram a

alta taxa de juros que dificulta o

acesso ao crédito e a elevação

da inflação que vem reduzindo a

capacidade de compra dos

salários.

12.74

13.08

13.4413.66 13.64 13.66 13.92

14.78

jul/15 ago set out nov dez jan/16 fev

Page 34: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

Já nos dois primeiros meses de

2016, especialmente fevereiro,

notamos a maior taxa de

desemprego da série, 14,7%,

comparáveis à taxa de fevereiro

de 2009 (14,3%), momento do

auge da crise pós-2008. Em

fevereiro de 2016, no conjunto

das regiões utilizadas para

calcular a taxa de desemprego,

os setores vilões foram: a

indústria de transformação, que

teve uma retração de 81 mil

trabalhadores; no setor de

serviços foi registrada uma

queda de 72 mil postos de

trabalho; no comércio e

reparação de veículos

automotores e motocicletas

houve um acréscimo no nível de

desempregados em 78 mil.

Somando tudo, são mais 231 mil

desempregados de janeiro para

fevereiro de 2016.

O DIEESE calcula o salário

mínimo necessário para a

reprodução da força de trabalho,

o trabalhador e sua família. O

salário mínimo oficial definido

para 2016 é de R$ 880,00, um

aumento de 11,70% em relação

ao último ano. Já o salário

mínimo estimado pelo Dieese no

mês de março desse ano foi de

R$ 3.736,26, ou seja, o salário

mínimo vigente se encontra mais

de quatro vezes abaixo do que

seria o ideal para o amparo das

famílias, demonstrando o quão

precária é a reprodução dos

trabalhadores brasileiros que

dependem do salário mínimo

para sobreviver. Um trabalhador

que recebe um salário mínimo

vive em média com um valor

diário de R$ 29,33. Supondo que

ele trabalhe oito horas por dia

para receber menos de trinta

reais, o valor de uma hora

trabalhada é de R$ 3,66; por

outro lado, deve-se destacar que

esta é a hora de trabalho mais

valorizada desde a criação do

salário mínimo.

MTPS - CAGED

Em um cenário de retração

econômica, há redução contínua

na quantidade de postos de

trabalho formal. Em 2015, por

exemplo, tivemos o

encerramento de 1.552.953

vagas. Este foi o pior resultado

desde o início das apurações do

Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados (CAGED), em

1992. O acumulado do primeiro

trimestre de 2016 equivale ao

fechamento de 319.150 postos

de trabalho, cerca de 6,3 vezes

menos postos de trabalho do que

o resultado encontrado no

mesmo período de 2015.

Page 35: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

No período selecionado para

análise, julho de 2015 a março

de 2016, tem-se como saldo

acumulado o valor negativo de

1.559.070 postos de trabalho

formal, conforme se pode

observar na tabela 4.1.

Tabela 4.1: Brasil - Evolução do emprego por setor de atividade econômica

2015/2016

Ind.

Transf Constr Civil

Comércio Serviços Agropec Outros1 Total

Julho -64.312 -21.996 -34.545 -58.010 24.465 -3.507 -157.905

Agosto -47.944 -25.069 -12.954 4.965 -4.448 -1.093 -86.543

Setembro -10.915 -28.221 -17.253 -33.535 -3.246 -2.432 -95.602

Outubro -48.444 -49.830 -4.261 -46.246 -16.958 -3.392 -169.131

Novembro -77.341 -55.585 52.592 -23.312 -21.969 -5.014 -130.629

Dezembro -192.833 -102.660 -38.697 -180.941 -58.853 -22.224 -596.208

Janeiro -16.553 -2.588 -69.750 -17.159 8.729 -2.373 -99.694

Fevereiro -26.187 -17.152 -55.520 -9.189 -3.661 7.127 -104.582

Março -24.856 -24.184 -41.978 -18.654 -12.131 3.027 -118.776

Total -509.385 -327.285 -222.366 -382.081 -88.072 -29.881 -1.559.070

Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.

1 O item "outros" refere-se aos setores extrativo mineral, serviço industrial de utilidade pública e administração pública.

Os setores mais afetados pela

redução nos postos de trabalho

foram os da Indústria de

Transformação, Serviços e

Construção Civil, sendo

responsáveis por 78% do saldo

total apresentado. Em relação à

Indústria de transformação, a

queda no nível da atividade

econômica impactou fortemente

nesse setor. Da mesma forma

com a Construção Civil, que

também teve queda contínua,

tendo dezembro de 2015 como o

mês mais representativo de

saldo negativo. Como fator de

análise para esse recuo, pode-se

relacionar o ajuste fiscal,

baseado no corte de gastos

públicos, que diminuiu o volume

de obras públicas e gastos com

infraestrutura. Além disso, o

fator sazonal de entrega de

obras no fim do ano amplia o

saldo negativo desse setor,

impactando o último trimestre de

Page 36: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 44 -

2015. Segundo o Valor

Econômico1, uma tendência de

queda na atividade do setor pode

ser associada às investigações

da Operação Lava Jato, com

paralisação de obras, quebra de

contratos e diminuição de crédito

e investimentos.

O Comércio também apresentou

queda constante, tendo um

único resultado positivo no

subsetor de comércio varejista,

em novembro de 2015, com a

criação de 54.031 empregos.

Isto assegurou um saldo líquido

positivo para o setor neste mês

de 52.592 postos, ligado à

perspectiva de vendas para o fim

do ano.

Analisando o setor de Serviços,

encontramos um pequeno saldo

positivo no mês de agosto de

2015, sendo responsáveis por

esse resultado os subsetores de

instituições de crédito, seguros e

capitalização, serviços médicos,

odontológicos e veterinários e

ensino, com variações positivas

em relação ao mês anterior de

0,03%, 0,26% e 1,04%,

respectivamente. Porém, mesmo

apresentando saldo líquido

positivo no respectivo mês, se

1 Disponível em: http://www.valor.com.br/brasil/4489886/fim-de-grandes-obras-ameaca-empreiteiras

comparado ao mesmo mês em

2014, houve redução de 93% na

geração de novos postos de

trabalho.

A Agropecuária apresentou saldo

positivo em dois momentos no

período selecionado, em julho de

2015 e janeiro de 2016. Essa

evolução positiva ocorreu

principalmente nas regiões

Nordeste, Sudeste e Centro-

oeste, em julho de 2015, e Sul e

Centro-oeste em janeiro de

2016.

O Espírito Santo, conforme se

pode observar na tabela 2,

acompanhou a tendência

nacional de retração de postos

de trabalho, tendo saldos

negativos em todos os setores

da atividade econômica. O setor

de comércio foi responsável, no

último quadrimestre de 2015,

pela criação de um total de

1.021 vagas, por conta do

fomento das vendas em relação

ao fim de ano.

O pior resultado acumulado deu-

se no setor Serviços com menos

13 mil vagas, com maior

expressividade dos subsetores

de comércio e administração de

imóveis, valores mobiliários,

serviço técnico e serviços de

alojamento, alimentação,

reparação, manutenção e

Page 37: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 45 -

redação que, juntos,

representaram 72% do saldo

total. Em dezembro de 2015

observou-se saldos negativos

expressivos nos subsetores

transportes e comunicações e

ensino, relacionados à redução

da frota de ônibus da Grande

Vitória nesse período de férias

escolares e às férias,

respectivamente.

Após o rompimento da barragem

de rejeitos da Samarco em

Mariana, Minas Gerais, a

mineradora teve suas atividades

embargadas, o que levou a

suspensão dos contratos de

trabalho dos empregados das

unidades de Minas Gerais e

Espírito Santo, direcionando

esses trabalhadores a cursos de

qualificação2.

Essa paralisação sugere, como

conseqüência, quebra de

contratos com as empresas

terceirizadas. O presidente do

Sindicato das Indústrias

Metalúrgicas e de Material

Elétrico do Espírito Santo

2Disponível em: http://www.samarco.com/2016/01/15/empregados-da-samarco-aprovam-proposta-de-suspensao-temporaria-do-contrato-de-trabalho/

(Sindifer)3, afirmou que mais de

20 empresas do setor prestam

serviços a Samarco e com a

inatividade da mineradora houve

a suspensão do pagamento dos

trabalhadores, o que sugere a

demissão de cerca de 800

empregados dessas terceirizadas

a partir de março.

Em geral, a evolução do

emprego formal em âmbito

estadual foi um reflexo do que

ocorreu no Brasil. De acordo com

os dados apresentados, sugere-

se um processo de deterioração

do mercado de trabalho,

relacionado ao atual panorama

conjuntural brasileiro e

internacional. A retração da

produção, gerada pela incerteza

em relação ao mercado e a altas

taxas de juros, reduz os novos

investimentos. Soma-se a isso, o

baixo preço das commodities e o

ajuste fiscal recessivo,

dificultando uma possível

retomada do crescimento e do

emprego.

3 Disponível em: http://www.sindiferes.com.br/noticiasver/585/800-trabalhadores-de-terceirizadas-da-samarco-serao-demitidos-a-partir-de-marco.html.html

Page 38: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 43 -

Tabela 4.2: ES - Evolução do emprego por setor de atividade econômica -

2015/2016

Ind.

Transf.

Constr

Civil Comércio Serviços Agropec Outros Total

Julho -715 -1.125 -1.609 -543 -1.646 -28 -5.666

Agosto -711 -804 -925 -698 -1.319 -46 -4.503

Setembro 96 -432 135 -1.946 -248 -7 -2.402

Outubro -595 -726 132 -1.512 -517 -153 -3.371

Novembro -1.621 -1.040 725 -965 -432 -93 -3.426

Dezembro -3.631 -2.339 29 -3.936 -446 -525 -10.848

Janeiro -62 -100 -1.437 -1.100 -210 -24 -2.933

Fevereiro -161 -786 -2.341 -934 63 -6 -4.165

Março -923 -210 -659 -1.462 -405 -9 -3.668

Total -8.323 -7.562 -5.950 -13.096 -5.160 -891 -40.982

Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.

O item "outros" refere-se aos setores extrativo mineral, serviço industrial de utilidade

pública e administração pública.

5. POLÍTICA MONETÁRIA

CRÉDITO

Com base nos dados do Banco

Central do Brasil, as operações

de crédito no sistema financeiro

encerraram o ano de 2015 com

um saldo de R$ 3,22 trilhões;

em abril de 2016 o saldo recuou

para R$ 3,14 trilhões. Essa

variação foi resultado da

retração do crédito à pessoa

jurídica, ao mesmo tempo em

que o crédito à pessoa física se

manteve estável.

As operações de crédito se

expandiram em 6,6%, em 2015,

contra uma ampliação de 11,3%,

em 2014. De acordo com o

Banco Central, a desaceleração

do crédito é reflexo direto da

retração econômica e da política

monetária adotada para a

contenção da inflação. Além

disso, em comunicado à

imprensa, o Banco Central

evidenciou que a situação do

Page 39: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 53 -

crédito tem sido influenciada

pelo aumento da percepção de

risco, em parte devido ao

crescimento dos níveis de

inadimplência verificados.

No que tange às pessoas

jurídicas o cenário de diminuição

do saldo de crédito além de

representar um aumento da

percepção de risco é também um

indicativo da redução de

investimento no futuro.

Gráfico 5.1 – Saldo de crédito do sistema financeiro (em R$ milhões)

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

As operações de crédito podem

ser divididas em crédito com

recursos livres e crédito

direcionado. Os créditos com

recursos livres são empréstimos

nos quais as instituições

financeiras têm autonomia sobre

a destinação dos recursos,

enquanto o crédito direcionado é

destinado a determinados

setores ou atividades,

geralmente a taxas favorecidas.

A desaceleração econômica

afetou, inicialmente, o crédito de

recursos livres. Entretanto, o

crédito direcionado também

registrou contração, o que pode

ser explicado pelas restrições ao

crédito imobiliário para as

pessoas físicas e redução de

procura de financiamento ao

investimento para pessoas

jurídicas.

As operações de crédito com

recursos livres atingiram R$ 1,63

trilhão no fim de 2015,

representando expansão anual

de 3,7% (4,6%, em 2014). Dado

o comportamento regular da

economia no segundo semestre

de cada ano, esse crédito foi

relacionado a contratações de

final de ano na indústria e

comércio, no segmento de

pessoa jurídica, e ao aumento

das operações com cartão à

vista, no segmento de pessoas

físicas.

Page 40: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 53 -

O saldo de crédito direcionado foi

de R$ 1,58 trilhão, em dezembro

de 2015, representando um

crescimento de 9,8% no ano

(ante 19,6% em 2014). O

resultado se deveu, no segmento

de pessoas físicas, à elevação do

crédito rural, e no segmento de

pessoas jurídicas, aos recursos

do BNDES para investimentos.

Tratando-se dos segmentos da

economia, em dezembro de

2015, o volume de crédito a

agropecuária cresceu 7,2%,

seguida do comércio (6,5%) e do

crédito industrial (5,4%).

A inadimplência total, no

segundo semestre de 2015, foi

de 3,4%, ante os 2,7% obtidos

no mesmo período do ano

anterior. A tendência de

elevação da inadimplência

manteve-se em 2016, e, em

abril, o nível atingiu 3,7%.

A relação crédito/PIB ampliou-se

no segundo semestre de 2015,

passando de 53,34%, em julho,

para 54,53% em dezembro. O

nível de crédito em relação ao

PIB foi superior ao observado no

mesmo período de 2014

(53,06%).

TAXA DE JUROS

Dado o fim da série de altas da

taxa básica de juros no final ano

passado, o Conselho de Política

Monetária (Copom) tem adotado

uma política de estabilidade da

Taxa Selic. Seguindo como o

planejado, na última reunião em

julho deste ano, a SELIC foi

mantida em 14,25%. Essa

decisão se dá em função do

sistema de metas de inflação

proposto pelo Conselho

Monetário Nacional (CMN) que

visa o controle da inflação. Dado

o entendimento do Copom de

que a inflação, medida pelo

IPCA, encontra-se ainda em

patamares elevados, a política

monetária adotada tem sido

contracionista.

O Copom vem determinando a

manutenção da taxa Selic no

atual nível visando à redução do

nível de preços no médio e longo

prazo. De acordo com o Copom,

essa medida de contenção da

inflação é necessária por conta

dos seguintes pontos:

recuperação do crescimento da

economia, pois através de uma

taxa de inflação baixa permite-se

a diminuição dos riscos e a

depreciação de investimentos, o

que leva a uma segurança no

planejamento das famílias,

empresas e governo; e a

estabilidade do sistema

financeiro, tendo em vista que

atualmente houve uma elevação

dos riscos para a estabilidade

financeira global, com aumento

da incerteza gerada pelos baixos

Page 41: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 52 -

preços do petróleo e suas

implicações para empresas do

setor e países produtores4.

Dessa forma, a perspectiva é de

manutenção da taxa Selic até a

convergência da inflação para

próximo ao centro da meta,

prevista para 2017. Segundo o

Copom, a elevada inflação em

2015 é decorrente dos processos

de ajustes de preços relativos

ocorridos, bem da recomposição

de receitas tributárias observada

nos níveis federal e estadual,

contribuindo para resistência a

queda da inflação. Ao mesmo

tempo em que o Copom destaca

que esses processos têm

impacto direto sobre a inflação,

reforça a política de alta da taxa

Selic com o intuito auxiliar a

ancoragem das expectativas

inflacionárias e contribuir para

deter a alta das projeções de

inflação.

Dada a influência das variações

da taxa de captação5 e do spread

bancário6, pode-se observar que

a taxa média de juros de

4 Todas as informações do parecer do Copom sobre a Política Monetária são retiradas das Atas da 196ª e 197ª reunião. 5Taxa de captação é aquela taxa no qual os bancos vão pagar ao captar os recursos que serão utilizados como créditos. 6 É composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.

aplicação das operações de

crédito do sistema financeiro,

computadas as contratações com

recursos livres e direcionados,

atingiu 32,4% a.a. em abril.

A taxa de juros média teve um

aumento considerável com

variações de 5,9% p.p. em 12

meses acumulados até abril de

2016. Por um lado esse fato se

explica pelo aumento da taxa

básica de juros, que elevou a

taxa de captação. Por outro lado,

essa elevação deve-se ao fato do

spread bancário ter se ampliado

nos últimos meses acima da taxa

de captação. Isso sinaliza, além

de uma estratégia para cobrir a

inadimplência, a elevação dos

lucros dos bancos.

Page 42: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 52 -

Gráfico 5.2 – Taxa SELIC Meta X IPCA

Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil e IBGE.

Tabela 5. 1 – Taxa de aplicação (% a.a.) em 2015 e 2016

Fonte: Elaboração própria. Dados do Banco Central do Brasil.

Pessoa Jurídica Pessoa Física Total

2015 Jan 17,4 32,0 24,9

Fev 18,1 32,9 25,7

Mar 18,1 33,3 25,9

Abr 18,5 34,0 26,5

Mai 18,8 34,8 27,1

Jun 19,2 35,3 27,5

Jul 19,8 36,3 28,4

Ago 20,4 37,0 29,0

Set 20,4 37,4 29,3

Out 21,5 38,7 30,5

Nov 21,2 38,7 30,4

Dez 20,7 37,9 29,8

2016 Jan 22,8 39,2 31,4

Fev 22,7 39,9 31,8

Mar 22,2 40,6 32,0

Abr 22,0 41,3 32,4

Período

Page 43: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 53 -

Em abril de 2016 a taxa média

de juros, no segmento de

pessoas físicas, ficou em 41,3%

a.a. Destacam-se, nesse

primeiro quadrimestre, a

variação dentro das modalidades

de cheque especial, que teve

uma expansão de 9,0 p.p., e de

cartão de crédito rotativo, que

teve uma variação de 32,2 p.p. A

primeira taxa se encontrava, em

abril de 2016, em 308,7% a.a e

a segunda atingiu 448,6% a.a.

Vale ressaltar que a modalidade

de cheque especial teve uma

variação de 82,8 p.p.,

acumulada em doze meses até

abril, demonstrando um alto

grau de elevação do spread

bancário.

No segmento de pessoas

jurídicas, a taxa média de juros

atingiu 22,0% a.a., em abril de

2016, um recuo de 0,8 p.p. na

variação quadrimestral. Essa

redução deve-se ao fato de que

houve, por um lado, retração de

empréstimos com recursos

livres, ficando em 31,1% a.a em

abril. Nessa modalidade de

empréstimos, deve-se evidenciar

o cheque especial e o desconto

de duplicatas, que ficaram

respectivamente, em 308,5 %

a.a. e 38,1% a.a. Por outro lado,

essa redução também se deve a

queda dos empréstimos para

pessoas físicas com recursos

direcionados, sendo que, em

janeiro de 2016 a taxa era de

12,3% a.a. e no mês de abril

atingiu de 11,6% a.a. Evidencia-

se a contração na modalidade

financiamentos do BNDES de -

0,7 p.p. no quadrimestre,

atingindo 11,6% a.a em abril de

2016.

Pode-se notar, de forma geral,

que a tendência foi de aumento

para todas as taxas médias de

juros, acompanhada no final do

ano de 2015 e no início de 2016,

tanto para pessoa física, quanto

para jurídica. Esse aumento

deve-se inicialmente as

elevações da taxa básica de

juros, que ocasionam uma maior

taxa de captação para os

bancos.

No entanto, mesmo após a

estabilização da taxa Selic, há

um processo de aumento dessas

taxas por meio do spread

bancário, o qual compensa o

aumento da taxa de captação,

repassando para o consumidor.

Além disso, a outra parte do

aumento do spread bancário é

decorrente da elevação dos

lucros dos bancos e da taxa de

inadimplência.

AGREGADOS MONETÁRIOS

O saldo da base monetária (total

de moeda emitida mais reservas

bancárias) registrado em abril de

2016 foi de aproximados R$ 242

bilhões, 4% do PIB. Houve um

decréscimo de 2,5 p.p. se

comparado com o mesmo

período no ano imediatamente

anterior (tabela 5.2).

Page 44: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 52 -

Tabela 5.2 – Base monetária e componentes: saldo em final de período ago/15 a abr/16 (R$ bilhões)

Componentes Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr

Base monetária 231,71 228,44 239,62 242,84 255,28 240,32 252,56 242,53 242,14

Var. 12 meses (%) 0,16 -4,18 3,72 0,51 -3,13 0,76 5,76 0,78 3,03

Papel-moeda emitido 195,15 196,01 203,23 205,31 225,48 207,60 205,13 203,80 202,06

Var. 12 meses (%) 4,21 1,98 5,57 2,97 2,10 4,14 3,56 2,48 2,43

Reservas bancárias 36,56 32,43 36,38 37,52 29,80 32,71 47,42 38,72 40,07

Var. 12 meses (%) -17,04 -29,81 -5,53 -11,14 -30,16 -16,47 16,41 -7,30 6,2

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

Se observado o comportamento

da base monetária em 12 meses,

torna-se possível visualizar a

tendência entre janeiro de 2015

a março de 2016. O gráfico 5.3

utilizou as médias trimestrais

para expressar o comportamento

da curva.

Gráfico 5.3: Médias trimestrais da variação 12 meses da base monetária e tendência no período de jan/2015 a mar/2016

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

6.28

5.83

7.577.08

5.42

1.63

-1.12

-0.10 0.020.37

-0.62

1.13

2.43

3.19

1.90

-2.00

-1.00

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar

%

Linear (Variação da média trimestral)

Page 45: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 52 -

Os bancos comerciais foram os

grandes responsáveis pela

manutenção das variações

majoritariamente positivas do

último ano, mostradas na tabela

1, ainda que em meio a um

panorama de queda do volume

da base monetária. No cenário

incerto da economia brasileira,

os bancos ampliam as suas

reservas em detrimento do que é

transformado em crédito,

visando evitar calotes (dada a

taxa de inadimplência).

Por outro lado, a expectativa do

aumento de desemprego e da

inflação também influencia a

conduta das famílias de manter

liquidez, guardando dinheiro em

papel moeda por precaução e

procurando (se necessário)

empréstimos a taxas de juros

elevadas, o que resulta também

no aumento do M1; isso condiz

com o aumento de papel moeda

em poder do público em todo o

ano de 2015 e em 2016.

Tabela 5.3 – Fatores condicionantes da base monetária - jul/15 a abr/16 (R$ bilhões)

Condicionantes Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr

Conta do tesouro nacional 0,18 16,04 11,75 31,96 -5,25 2,04 8,52 -5,08

Op. com títulos públicos federais 12,68 12,99 10,07 -18,96 -28,72 18,81 34,82 -1,19

Op. do setor externo -27,50 -1,72 -8,17 -1,07 -0,53 -0,32 -18,97 12,72

Redesconto do banco central -1,98 2,44 -0,71 -1,96 0,47 2,31 0,00 0,00

Dep. de instituições financeiras -27,63 2,44 0,75 -7,71 0,86 2,70 8,05 5,19

Op. com derivativos 38,59 -19,03 -11,97 7,79 16,76 -11,71 -42,70 -

12,33

Outras contas 0,40 0,43 0,79 0,43 0,84 0,71 0,25 0,31

Variação da base monetária -3,26 11,17 3,22 12,44 -14,96 12,23 -10,03 -0,39

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.

No que tange aos condicionantes

da base monetária (tabela 3),

destacam-se as operações no

setor externo, com títulos

públicos e derivativos, que

mostram os efeitos da política

contracionista adotada no

combate à inflação. Na operação

com derivativos, vê-se o Banco

Central atuando com os

contratos de swap cambial

reverso em fevereiro e março.

Tal ação, com objetivo de

estabilizar a taxa de câmbio,

agrega impacto à contração de

R$ 11,71 bilhões e R$ 42,70

bilhões respectivamente. Em um

momento de tensão econômica

generalizada e aumento do

desemprego, o comércio exterior

se torna um importante pilar de

Page 46: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 52 -

sustentação da economia,

aproveitando o quadro de

desvalorização cambial. A alta do

dólar, por outro lado, no final de

2015, reflete a fuga de divisas

para o mercado externo.

No ano de 2015 o Tesouro

Nacional movimentou uma

quantia de R$ 42,98 trilhões em

títulos, sendo destes 32,1% da

carteira do Banco Central (R$

13,8 trilhões). Nos quatro

primeiros meses de 2016,

obteve-se uma média de R$ 3,96

trilhões mensais, 20,3% maior

se comparado com igual período

de 2015. Esses valores sinalizam

a manutenção da emissão de

títulos para a retenção de

liquidez. No mercado secundário

de títulos públicos, as operações

no overnight, ou seja, as

operações de curto prazo

baseadas na taxa SELIC e

lastreadas em determinados

títulos, são o principal

componente do mercado de

operações compromissadas

(operações com compromisso de

recompra dirigidas aos bancos).

Foram movimentados

aproximadamente R$ 984,34

bilhões em títulos no overnight,

um aumento de 2,28% em

relação ao ano anterior,

lastreadas na taxa básica de

juros diária de 14,15%.

O M1, composto de papel moeda

em poder do público e depósitos

a vista, equivaleu à R$ 299,32

bilhões em abril de 2016, sendo

desses aproximadamente R$

167,69 bilhões em papel-moeda

em poder do público e R$ 131,62

bilhões em depósitos a vista,

uma contração de 2,5 p.p no

observado em 12 meses. O saldo

do M2 que corresponde ao M1

mais depósitos de poupança e

títulos privados, equivaleu a R$

2,23 trilhões. O M3, composto

pelo M2 somado às quotas de

fundos de renda fixa e os títulos

públicos que lastreiam as

operações compromissadas entre

o público e o setor financeiro,

encerrou o mesmo mês em R$

4,88 trilhões. Por fim, o M4, que

agrega o M3 e os títulos públicos

de detentores não financeiros,

totalizou R$ 5,79 trilhões,

caracterizando uma variação

percentual positiva de 12% e

equivalendo a 96,7% do PIB em

abril de 2016.

Vale ressaltar que o M1 tem

apresentado saldos negativos

desde junho do ano passado,

majoritariamente devido aos

depósitos a vista em queda.

Ressalta-se também a queda nos

depósitos de poupança de 1,6%

e 0,1% (em janeiro e fevereiro,

respectivamente) e dos R$ 6,6

bilhões em resgates líquidos da

poupança em fevereiro, afetando

o saldo final do M2. O aumento

das operações compromissadas

e do movimento de títulos

públicos contribuíram para a

elevação no saldo do M3 e M4.

Page 47: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 53 -

6. POLÍTICA FISCAL

A situação econômica e política

do Brasil atual é de grandes

desafios. No campo econômico,

os indicadores macroeconômicos

mostram fortes sinais de

deterioração, sinalizando o

cenário crítico que atravessa a

economia brasileira. No campo

político, como um reflexo da

situação melancólica da

economia, corre o processo de

impeachment contra a

presidente da República, tendo

sido o parecer já aprovado pela

câmara dos deputados e em

julgamento no Senado. A ligação

direta desse quadro de grande

instabilidade com o resultado

fiscal do governo é patente. Dois

argumentos utilizados como base

do processo de impeachment, a

abertura sem respaldo legal de

créditos suplementares e as

chamadas pedaladas fiscais, são

de natureza fiscal/orçamentária,

envolvendo o que se pode

chamar de uma criminalização

de políticas ficais expansionistas.

A política econômica adotada no

governo Dilma, com

desonerações fiscais e subsídios

creditícios para setores

produtivos via BNDES, não surtiu

o efeito esperado sobre o

crescimento da economia, e,

como consequência, o governo

abriu mão de receitas e ampliou

o endividamento e as despesas

financeiras comprometendo

seriamente o quadro fiscal.

Em dezembro de 2015, Joaquim

Levy deixou o Ministério da

Fazenda. Conhecido como “mãos

de tesoura”, chegou ao governo

com a perspectiva de ajustar as

contas fiscais, fazendo uma série

de cortes visando promover um

compromisso com resultado

fiscal positivo. No entanto, o que

houve, pelo segundo ano

consecutivo, foi déficit primário.

A partir de maio de 2016

assumiu Henrique Meireles, com

a principal meta de congelar os

gastos do governo federal em

termos reais. Os cortes

adicionais de gastos previstos

para a área social e as reformas

sugeridas para o SUS e a

previdência denotam o perfil de

ajuste pretendido pelo Ministro e

pelo governo Temer.

De acordo com a LDO de 2016, a

proposta era que o Setor Público

alcançasse um superávit de R$

30,60 bilhões. Porém a incerteza

sobre a evolução da receita

primária e expectativa de

redução no nível de atividade

econômica tornam necessário

um espaço orçamentário para

absorver a frustração de

receitas. Dessa forma, o

Ministério da Fazenda propôs

uma nova readequação fiscal,

uma redução da meta de até R$

Page 48: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

120,65 bilhões, o que tem

implícito um resultado deficitário

de R$ 89 bilhões. Por fim, já na

gestão interina de Temer

chegou-se a algo que não é

exatamente uma meta mas uma

previsão de déficit da ordem de

R$ 170 bilhões.

Análise do Governo Central

acima da linha

No ano de 2015 o Governo

Central obteve um déficit

primário de R$ 116,66 bilhões

(equivalente a 2% do PIB). Esse

valor chega a seis vezes o déficit

de 2014 (R$ 17,24 bilhões, 0,3%

do PIB). O resultado é o pior já

registrado na série histórica

iniciada em 1997.

A receita total, em 2015,

apresentou um aumento nominal

de apenas 2,6% em relação a

2014, alcançando R$ 1,25

trilhão. A respeito da despesa

total, ela teve um aumento de

11,65% nesse mesmo período,

chegando à R$ 1,15 trilhão. Para

ter uma maior noção de como

foram delineados esses

resultados, inclusive em valores

reais, considerando que o ano de

2015 foi de uma alta inflação, é

preciso analisar mais a fundo o

que aconteceu com as receitas e

as despesas das instâncias do

Governo Central.

O Tesouro Nacional, em 2015,

obteve uma ampliação em sua

receita nominal de apenas 1,5%,

comparado com o ano anterior.

Em valores reais ocorreu uma

queda de 6,8%.

O resultado é inteiramente

influenciado pela forte recessão

vivida no ano pelo país, a qual

impacta diretamente na

arrecadação de tributos. Ao

verificar os itens da receita em

termos nominais, os destaques

ficaram por conta dos

dividendos, ilustrando uma

queda de 36,3%, e da cota parte

das compensações financeiras

(paga a União pela exploração de

recursos minerais), chegando a

queda de 28,4%. Itens de um

peso considerável como as

contribuições obtiveram um

aumento nominal de 3,1%.

Já quando a análise parte para

os valores reais, esses

resultados sofrem uma mudança

considerável. As contribuições

tiveram retração de 5,3%,

causada pela diminuição na

Cofins e no PIS/Pasep. Os

impostos também obtiveram

uma retração de 3,1%,

destacando-se a queda do IRPJ.

No lado da despesa do Tesouro

Nacional de 2015, ocorreu um

aumento em valor nominal de

12,1% comparando com 2014.

Em valores reais ocorreu um

crescimento no âmbito das

despesas do Tesouro Nacional

correspondente a 2,5%.

Em valores nominais o destaque

ficou por conta dos itens Custeio

e Capital e Pessoal e Encargos

Sociais. O Custeio e Capital

Page 49: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 69 -

aumentou 14,8%, passando de

R$ 411,18 bilhões, em 2014,

para R$ 472,22 bilhões, em

2015. Dentro do item Custeio e

Capital o que chama a atenção é

o aumento de 555,9% dos

Subsídios e Subvenções

Econômicas, atingindo R$ 58,93

bilhões. Por outro lado, as

despesas discricionárias, que em

2014 tiveram um aumento de

17,7%, em 2015 apresentaram

queda de 5,5%. Dentre as

despesas discricionárias, o gasto

com PAC teve a maior queda,

18,1%. Pessoal e Encargos

Sociais atingiu R$ 235,76 bilhões

em 2015, crescimento de 7,2%.

Segundo a STN o crescimento

em valores reais das despesas é

explicado, em grande parte, pelo

impacto dos pagamentos da

União a despesas com Subsídios

e Subvenções Econômicas (já

que foi o item de maior variação,

enquanto itens de grande

representatividade como o PAC

tiveram uma variação negativa).

Esta se trata de despesas da

União relativas a equalização de

preços e taxas de juros de

diversos programas do governo

As transferências do Governo

Central para os Estados e

Municípios apresentaram um

aumento nominal de 2,7%,

passando de R$ 210,17 bilhões,

em 2014, para R$ 215,76

bilhões, em 2015.

A receita nominal da Previdência

Social, em 2015, foi de R$

350,27 bilhões, um aumento de

3,8% em relação a 2014. Em

termos reais, há uma queda de

4,8% explicada, segundo

relatório do STN, pela diminuição

de R$ 22,60 bilhões nas

contribuições previdenciárias,

face à redução da massa salarial.

As despesas nominais da

Previdência Social com benefícios

aumentaram em 10,6%,

elevando-se 1,4% em termos

reais.

A respeito do resultado fiscal da

Previdência Social, nota-se um

déficit de R$ 85,81 bilhões em

2015, contra R$ 56,70 bilhões no

ano anterior. Esses números

evidenciam um aumento de

51,3% do déficit dessa

instituição.

Analisando o primeiro

quadrimestre de 2016, o

resultado primário do Governo

Central foi um déficit de R$ 8,45

bilhões. A receita líquida total

(receita total menos

transferências) cresceu 5,4%,

com as receitas não

administradas pela Receita

crescendo a taxa superior,

18,4%, devido a elevação

sensível das receitas e

concessões. A despesa total

expandiu 12,3% no

quadrimestre sendo que os

destaques ficam por conta de

outras despesas obrigatórias

(20,5%) e o gasto com

Benefícios Previdenciários

(15,2%).

Page 50: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 70 -

Uma mudança a se destacar é a

nova apresentação dos dados

fiscais de 2016. Além de

mudança na apresentação da

receita o item Custeio e Capital

passou a ser aberto de forma

distinta, especificando despesas

discricionárias e despesas

obrigatórias. O item outras

despesas obrigatórias cresceu

20,4%, devido principalmente ao

abono e seguro desemprego e ao

item subsídios, subvenções

econômicas e PROAGRO O total

das despesas obrigatórias,

incluindo benefícios

previdenciários, pessoal e

encargos e outras despesas

obrigatórias, equivaleu, no

primeiro quadrimestre, a R$

302,13 bilhões, 78% do total da

despesa. Já as despesas

discricionárias, chegaram aos R$

86,04 bilhões.

Tabela 6.1 Resultado Primário do Governo Central (R$ Milhões correntes)

Discriminação

Jan - Dez

2014 2015

I. RECEITA TOTAL 1.224.032,2 1.250.183,5

I.1. Receita do Tesouro 883.276,8 896.811,3

I.2. Receita da Previdência Social 337.503,1 350.272,0

I.3. Receita do Banco Central 3.252,3 3.100,2

II. TRANSFERÊNCIAS A ESTADOS E MUNICÍPIOS

210.165,2

215.758,6

III. RECEITA LÍQUIDA TOTAL (I-II) 1.013.866,9 1.034.424,9

IV. DESPESA TOTAL 1.031.109,8 1.150.265,5

IV.1. Pessoal e Encargos Sociais 219.834,1 235.764,1

IV.2. Benefícios Previdenciários 394.201,2 436.090,1

IV.3. Despesas com Custeio e Capital 411.140,9 472.217,7

Obrigatórias 222.375,4

230.825,2

Discricionárias 268.060,4 253.286,5

IV.4. Transf. Tesouro ao Banco Central 2.566,5 2.394,1

IV.5. Despesas do Banco Central 3.367,1 3.799,4

V. RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL (III-IV)

-17.242,9

-116.655,6

V.1. Tesouro Nacional 39.570,0 -29.323,3

V.2. Previdência Social -56.698,1 -85.818,1

V.3. Banco Central -114,8 -699,2

VI. RESULTADO PRIMÁRIO/PIB (%) -0,34 -2,00

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional.

Page 51: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

Tabela 6.1 Resultado Primário do Governo Central (R$ Milhões correntes)

Discriminação Jan/abr

2015 Jan/abr

2016 %

I. RECEITA TOTAL 431.661,1 448.413,7 3,9%

I.1 - Receita Administrada pela RFB 276.933,3 281.864,2 1,8%

I.2 - Incentivos Fiscais 0,0 -10,5 I.3 - Arrecadação Líquida para o RGPS 110.395,9 114.083,4 3,3%

I.4 - Receitas Não Administradas pela RFB 44.331,9 52.476,5 18,4% II. TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 71.499,8 68.694,8 -3,9%

III. RECEITA LÍQUIDA (I-II) 360.161,3 379.718,9 5,4%

IV. DESPESA TOTAL 345.598,5 388.169,5 12,3%

IV.1 Benefícios Previdenciários 131.557,7 151.576,3 15,2%

IV.2 Pessoal e Encargos Sociais 73.750,3 79.124,6 7,3%

IV.3 Outras Despesas Obrigatórias 59.261,0 71.428,4 20,5% IV.4 Despesas Discricionárias(Todos

Poderes) 81.029,5 86.040,3 6,2%

V. FUNDO SOBERANO DO BRASIL 0,0 0,0 VI. PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL 14.562,8 -8.450,7 -158,0%

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional.

Análise do Setor Público

Consolidado (abaixo da linha)

As contas do Setor Público

Consolidado (SPC),

considerando-se o conceito

“abaixo da linha”, analisam o

resultado fiscal pela ótica do

financiamento e mostram o

desempenho fiscal do governo

através da variação do

endividamento líquido. De

acordo com este conceito, o

resultado primário do SPC,

acumulado de janeiro a

setembro de 2015, registrou um

déficit primário de R$ 8,42

bilhões, que corresponde a

0,20% do PIB. Os números

referem-se ao Governo Central,

Estados, Municípios e empresas

estatais (excluindo-se Eletrobrás

e Petrobrás).

O Governo Central respondeu

por um déficit primário de R$

21,72 bilhões (0,51% do PIB).

Os números do Banco Central

mostram que, no acumulado dos

nove primeiros meses deste ano,

os estados e municípios tiveram

desempenho muito superior ao do

governo federal.

No acumulado, os Estados e

Municípios registraram um

Page 52: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

superávit primário de R$ 16,37

bilhões, enquanto as empresas

estatais tiveram um déficit de R$

3,06 bilhões.

A política de taxas de juros altas,

usada como argumento para

combate a inflação, bem como a

elevação da taxa média de

remuneração da dívida pública

face ao quadro de forte

instabilidade, atingindo 30,9%

em setembro, amplia

sensivelmente as despesas

financeiras do governo. A

despesa com juros nominais

alcançou, no acumulado no ano,

R$ 408,32 bilhões, 9,5 % do

PIB, com forte contribuição do

governo Central (7,9% do PIB).

Se comparado com o mesmo

período do ano anterior, as

despesas com juros quase

dobraram (equivaliam a 5,1 %).

Tabela 6.2 – Necessidades de Financiamento do Setor Público (R$ milhões)

2014 2015 2015 2016

Discriminação Acum. Dez

Acum. Dez

Acum. Jan-Abr

Acum. Jan-Abr

I. Resultado Primário 32.536 111.249 -32 448 -4 411

I.1. Governo Central 20.472 116.656 -15 524 5 764

I.2. Governos Regionais 7.790 -9.684 -17 197 -11 413

I.3. Empresas Estatais 4.274 4.278 273 1 238

II. Juros Nominais 311.380 501.786 146 060 108 702

II.1. Governo Central 251.070 397.240 115 669 74 666

II.2. Governos Regionais 56.905 98.775 28 362 32 332

II.3. Empresas Estatais 3.405 5.771 2 029 1 703

III. Resultado Nominal 343.916 613.035 113 613 104 291

III.1. Governo Central 271.542 513.896 100 145 80 431

III.2. Governos Regionais 64.695 89.090 11 165 20 919

III.3. Empresas Estatais 7.679 10.048 2303 2 941

(+) déficit (-) superávit Fonte: BCB – Notas para a imprensa de Maio de 2016.

A Dívida Líquida do Setor Público

Consolidado (DLSP) atingiu R$

2,14 trilhões em 2015 (36,2%

do PIB), ampliando-se, caso

comparada com 2014, em que

atingiu R$ 1,88 trilhão (33,1%

do PIB). O Governo Central

respondeu por R$ 1,31 trilhão da

dívida líquida (22,2% do PIB), os

Governos Regionais por R$

771,63 bilhões (13,1% do PIB),

e as empresas estatais por R$

52,30 bilhões (0,9 % do PIB).

A Dívida Interna Líquida, em

2015, atingiu R$ 3,30 trilhões

(55,7% do PIB), um forte

aumento se comparado a 2014,

Page 53: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

em que alcançou R$ 2,67

trilhões (46,9% do PIB). Esse

aumento se deu pelo elevado

déficit nominal do SPC em 2015.

Já a dívida externa líquida,

negativa desde meados dos

2000, atingiu -R$ 1,15 trilhão

(19,5% do PIB), contra -

R$786,40 bilhões (13,8% do

PIB), em 2014. Essa variação se

deu principalmente pelo

comportamento no câmbio no

período e seu efeito nas reservas

internacionais do Banco Central.

Não houve variação relevante do

valor em dólar das reservas

durante o período. Cabe

ressaltar que a acumulação de

reservas internacionais cumpre a

finalidade de amenizar os

impactos de choques cambiais.

Esses ativos do governo, porém,

possuem um grande custo fiscal

para o Governo, pois tem

remuneração quase nula, por

serem aplicados em títulos da

dívida norte-americana.

A Dívida Bruta do Governo Geral,

que abrange o Governo Federal,

Governos Estaduais e os

Governos Municipais, excluindo

Banco Central e empresas

estatais, alcançou R$ 3,93

trilhões em 2015 (67,4% do

PIB), muito acima do que

apresentou em 2014, que foi

57,2% do PIB. O aumento da

dívida bruta reflete o significativo

déficit nominal nas contas

públicas do ano de 2015, da

ordem de R$ 613,04 bilhões, ou

10,4% do PIB em 2015.

Já em abril de 2016, a DLSP

atingiu R$ 2,36 trilhões (39,4%

do PIB), expansão de 3,2 p.p.

em relação a dezembro de 2015,

sendo essa expansão devido ao

aumento da dívida interna

líquidaque atinge 56,7 % do PIB.

As razões para tanto foram o

déficit nominal do SPC no

período, por conta da expansão

dos gastos financeiros do

Governo Central, e a relativa

valorização cambial ao Real,

causando redução no valor em

Real das reservas internacionais

do Banco Centra, com redução

do saldo líquido negativo da

dívida externa líquida para

17,4% do PIB no final do mês de

abril.

Page 54: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

Tabela 6.3 – Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) (em milhões R$)

2015 2016

Discriminação Dez/Saldo % PIB Abr/Saldo % PIB

Dívida Líquida Total 2 136 888 36,2 2 356 611 39,4

Governo Central 1 312 962 22 1 575 574 26

Governos Regionais 771 635 13 726 633 12

Empresas Estatais 52 292 0,9 54 404 0,9

Dívida Interna Líquida 3.289.112 55,7 3 397 603 56,7

Dívida Externa Líquida -1.152.224 -19,5 -1 040 992 -17,4

Fonte: BCB - Notas para imprensa de Maio de 2016.

Dívida Mobiliária Federal

A dívida mobiliária federal é um

elemento essencial para análise

da dívida do país. Enquanto a

Dívida Bruta do Governo Geral

(DBGG), que engloba o governo

Federal, estaduais e municipais,

fechou o mês de abril de 2016

em R$ 4,04 trilhões,

correspondendo a 67,5% do PIB,

a Dívida Mobiliária Federal em

mercado totalizou 44,4% do PIB

e o endividamento em títulos

para operações compromissadas

do Banco Central 17,3% do PIB.

Somando-se as duas últimas

operações de endividamento em

títulos chega-se ao montante de

61,7% do PIB, indicando que a

dívida bruta se constitui

predominantemente com base

no endividamento mobiliário.

Os custos e prazos dos títulos

emitidos pelo tesouro estão

associados a flutuações da taxa

básica de juros, dos índices de

inflação, da taxa de câmbio e

das expectativas associadas aos

títulos pré-fixados.

Em dezembro de 2015, o saldo

da dívida mobiliária em mercado

encerrou em R$ 2,65 trilhões

(Tabela 6.5), um aumento de

24,0% em relação a janeiro do

mesmo ano. Esse aumento

significativo da dívida mobiliária

está relacionado com a

instabilidade política e econômica

do país, que abriu espaço para o

mercado exigir maiores

remunerações para continuar

financiando os títulos da dívida

mobiliária, elevando também o

endividamento do governo no

longo prazo. Em abril de 2016 a

dívida mobiliária em mercado

assumiu o patamar de R$ 2,67

trilhões.

Segundo o BCB os principais

detentores dessa dívida são os

Page 55: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 68 -

Fundos de Investimentos, que

em dezembro de 2015 possuíam

64,4% de todos os títulos

públicos federais, seguidos pelas

Pessoas Jurídicas Financeiras,

com 19,1% e as Pessoas

Jurídicas não Financeiras, com

13,5%.

A atração de investidores pelos

títulos indexados à Selic com

Swap elevou-se no de 2015.

Essa modalidade, que

correspondia, em janeiro, a

4,3% dos títulos, passou a

responder por 5,6%, em

dezembro, e seguiu aumentando

em 2016, alcançando 9,4% em

março (tabela 6.4). Esse

aumento pode ser atribuído à

elevação taxa Selic no período

que passou de 12,55% a.a., em

janeiro, para 14,15% a.a., em

dezembro.

A participação dos títulos pré-

fixados se elevou no ano de

2015, passando 28,4% em

janeiro para 30,7% em

dezembro de 2015. Por outro

lado, do final de 2015 até abril

de 2016 o movimento foi de

queda, atingindo 25,9%.

Os títulos vinculados ao câmbio

tiveram sua participação

ampliada no ano de 2015,

assumindo, em dezembro,

12,5% dos títulos públicos

federais frente aos 10,4% de

janeiro (tabela 6.4). Esse

aumento está relacionado à

elevação da taxa de câmbio ao

longo do ano.

Tabela 6.4 - Títulos Públicos Federais, oper. de mercado aberto (R$ milhões/%)

Discriminação jan/15 dez/15 jan/16 abr/16

Dívida Total (R$ bilhões) 3.039.139 3.544.708 3.615.394 3.685.230

Indexadores (%)

Over/Selic sem Swap 14,3 17,7 18,6 19,6

Over/Selic com Swap 4,3 5,6 6,9 13,2

Câmbio sem Swap 0,4 0,5 0,5 0,4

Câmbio com Swap 10,4 12,5 12,2 6,9

Prefixado 28,4 30,7 27,2 25,9

TR 0,3 0,3 0,3 0,3

Índice de preços 26,8 25,6 25,6 26,2

Oper. De Merc. Aberto 29,7 25,2 27,9 27,5

Fonte: BCB - Notas para imprensa de 18/10/2015

Page 56: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 18 -

Em termos da composição dos

títulos da dívida no ano de 2015,

destacam-se as NTNs, que

alcançaram o patamar de R$

1,22 trilhão em dezembro

(tabela 6.5) – 46,4% dos títulos

fora do BACEN. Segundo o

Balanço do Tesouro Direto a

maior parte das NTNs

correspondem à NTN-B e à NTN-

B principal, que são títulos

vinculados ao IPCA. Dessa forma

o que explica a elevação na

participação desses títulos no

total de títulos fora do Bacen

bem como o aumento da sua

remuneração, é a alta do IPCA

que encerrou o ano no patamar

de 10,67%.

As Letras do Tesouro Nacional

(LTNs), por sua vez, são títulos

pré-fixados de baixa volatilidade.

Constata-se que essa

modalidade apresentou uma

participação relativamente

estável durante o ano de 2015,

num 28,8% do total de títulos

fora do Bacen, chegando a um

montante de R$ 764,47 bilhões

me dezembro (tabela 6.5).

No mesmo período, as LFTs, que

são títulos pós-fixados indexados

pela taxa Selic, obtiveram um

aumento da participação no total

de títulos fora do BACEN,

passando de 20,4%, em janeiro,

para 23,6%, em dezembro, um

montante de R$ 626,19 bilhões.

Essa elevação começa a

representar um problema,

devido à alta da taxa Selic

promovendo uma piora no perfil

da dívida, além de seguir a

tendência de alta assumindo o

patamar de R$ 722, 62 bilhões

em abril de 2016.

A instabilidade política vivida no

país, associado à piora do

quadro macroeconômico,

principalmente com a alta da

taxa Selic, o aumento da inflação

e a elevação do câmbio

representam os principais fatores

para a dificuldade no controle do

nível da Dívida Mobiliária

Federal, abrindo espaço para sua

elevação e a piora de perfil.

Page 57: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 19 -

Tabela 6.5 - Perfil dos Títulos Públicos Federais Emitidos pelo Tesouro Nacional (R$ milhões e %)

Discriminação jan/15 dez/15 jan/16 abr/16

Títulos emitidos 3 204 002 3 936 681 3 873 237 3 967 754

Carteira do BACEN 1 066 054 1 286 515 1 266 257 1 297 563

LTN 616 444 764 479 667 665 614 359

LFT 435 732 626 192 671 484 722 615

NTN 1 059 354 1 229 620 1 237 694 1 302 295

Div. Securitizada 6 944 7 693 7 592 7 469

CFT/CTN 16 638 19 711 20 087 21 050

TODA 2 835 2 472 2 459 2 404

Total fora do BACEN 2 137 948 2 650 165 2 606 980 2 670 191

% do PIB 37,5 44,9 44,1 44,6

Fonte: BCB - Notas para imprensa de Maio de 2016.

7. SETOR EXTERNO

A compreensão adequada do

resultado no setor externo do

primeiro trimestre de 2016

requer a recuperação do

contexto econômico brasileiro,

marcadamente influenciado

pelos efeitos da ainda

persistente crise mundial. Crise

que pode-se ver claramente

através do desempenho

econômico dos principais

parceiros comerciais brasileiros,

nominalmente EUA e China, que

registraram, de 2014 para 2015,

crescimento nulo do PIB no caso

dos EUA e diminuição de 0,5%,

de um ano para o outro, no caso

chinês. Essa tendência mundial

recessiva é agravada no Brasil

pelo contexto de alta

instabilidade política interna

vivenciada ao longo de 2015,

que culminou num déficit no

balanço de pagamentos de cerca

de - US$ 3,70 bilhões. Ela

também influenciou o resultado

do balanço de pagamento neste

primeiro trimestre de 2016. A

análise comparativa entre o

acumulado do ano de 2014 e

2015 pode ser visto na tabela

7.1 e servirá como base para a

análise no decorrer do texto.

Page 58: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 77 -

Tabela 7.1 - Balanço de pagamentos – acumulado - (US$ Milhões)

Balanço de pagamentos 2014 2015

Transações Correntes -104 181 -58 882

Balança comercial -6 629 17 670

Serviços -48 107 -36 919

Renda Primária -52 170 -42 357

Renda Secundária 2 725 2 724

Conta Capital e Financeira -100 830 -54 294

Conta Capital 231 440

Conta Financeira -100 599 -54 734

Erros e Omissões 3 351 3 708

Resultado do Balanço -3 351 -3 708

Fonte: Banco central — Elaboração Própria

Concretizando as expectativas

desfavoráveis para o início deste

ano o Brasil fechou o primeiro

trimestre de 2016 com saldo

negativo no balanço de

pagamentos de

aproximadamente - US$ 1,98

bilhões, frente o resultado

negativo de - US$ 1,15 bilhão

observado no mesmo período do

ano passado, num agravamento

nas contas externas do país. É

interessante observar, através

da tabela 7.2, que apesar da

relativa melhora nas transações

correntes, principalmente graças

à desvalorização cambial

ocorrida, o déficit no primeiro

trimestre de 2016 chega a ser

71,6% maior que aquele visto

em igual período de 2015 (U$$ -

1,15 bilhão). Isso graças à brutal

queda nas captações de

investimento externo, conforme

se observa através da Conta

Financeira (queda de 76,9% de

um período para o outro).

Page 59: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

Tabela 7.2 — Balanço de Pagamentos - janeiro a março — (U$$ milhões)

Balanço de pagamentos

Jan- Mar

2015

Jan- Mar

2016

Transações Correntes -25 099 -7 591

Balança comercial -5 809 7 771

Serviços -10 181 -6 213

Renda Primária -9 640 -9 902

Renda Secundária 531 753

Conta Capital e Financeira -23 941 -5 604

Conta Capital 79 83

Conta Financeira -23 865 -5 521

Erros e Omissões 1 158 1 987

Resultado do Balanço -1 158 -1 987

Fonte: Banco central — Elaboração Própria

TRANSAÇÕES CORRENTES

A Conta Transações Correntes,

no acumulado de 2015, obteve

um comportamento quantitativo

muito diferente do ano anterior,

com a queda de 44% no déficit,

o saldo da conta alcançou US$ -

58,88 milhões, o menor déficit

desde 2009. Esse aumento na

diferença persiste para o

primeiro trimestre deste ano, o

que pode ser visto comparando-

se o primeiro trimestre de 2016

ao mesmo período de 2015, em

que a conta passou de US$ -

25,09 bilhões para US$ -7,59

bilhões. Para o último mês de

abril, o resultado foi

superavitário, alcançando US$

0,41 bilhão, influenciado pelo

superávit de US$ 2,12 bilhões na

balança comercial.

Page 60: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

Gráfico 7.1 – Transações Correntes – acumulado do ano 2014 e 2015 –

(US$ milhões)

Fonte: Banco Central – Elaboração Própria

O que contribuiu para o declínio

do déficit em Transações

Correntes foi a Balança

Comercial, com déficit de US$

6,62 bilhões, em 2014, contra

um superávit comercial de US$

17,67 bilhões, em 2015. Houve

uma diminuição do déficit em

todas as rubricas que compõem

a conta de Transações correntes.

A composição deste déficit,

entretanto, não se alterou,

sendo a rubrica de Renda

Primária, no acumulado, a mais

deficitária, com um déficit de

US$ 42,36 bilhões no ano de

2015, díspar do déficit de US$

52,17 bilhões, no ano de 2014.

A conta de serviços, que registra

as transações internacionais de

intangíveis, como visto no

gráfico 7.1, foi deficitária em

US$ 36,92 bilhões no acumulado

do no passado, em função de

aluguel de equipamentos e de

viagens. O déficit em aluguel e

equipamentos somou US$ 21,53

bilhões no acumulado do ano,

sendo o maior dentro conta de

serviços, que teve uma

diminuição ante o ano de 2014,

alcançando déficit de US$ 22,53

bilhões. Já no primeiro trimestre

deste ano o déficit na rubrica de

serviços teve uma queda perante

o mesmo período do ano de

2014, no ano passado era de

-6 629

-48 107 -52 170

2 725

17 670

-36 919 -42 357

2 724

-60 000

-50 000

-40 000

-30 000

-20 000

-10 000

-

10 000

20 000

30 000

Balançacomercial (bens)

Serviços Renda primária Renda secundária

2014 2015

Page 61: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

US$ 10,18 bilhões negativos, a

rubrica no primeiro trimestre

deste ano chegou a um déficit de

US$ 6,2 bilhões.

O item viagens internacionais

registrou um déficit total de US$

11,5 bilhões no acumulado de

2015, houve redução de 38,5%,

comparativamente ao ocorrido

no ano anterior, em que o

déficit foi de US$ 18,72 bilhões.

O resultado foi influenciado pela

retração de 32% nos gastos de

turistas brasileiros em viagens

ao exterior, US$ 17,35 bilhões,

valor mais baixo desde 2010.

Tal queda deve-se

principalmente ao dólar mais

alto, que encarece as

passagens, diárias de hotéis e

outras despesas. O dólar

começou 2015 a R$ 2,659 e

terminou em R$ 3,948, o que

representa um aumento de

48,5%. Mas a questão mais

alarmante quanto ao item

viagens internacionais foi que

houve uma queda de 14,5% nas

despesas de viajantes

estrangeiros ao Brasil, mesmo

com o a alta do dólar. Cabe

destacar que a base de

comparação, o ano de 2014, foi

ano de Copa do Mundo. Ao fim

deste resultado em 2015,

rompeu-se um crescimento do

déficit que acontecia desde

2005. Não diferente das

viagens, na rubrica de

transportes também houve uma

redução no déficit, que, em

2014, somou US$ 8,7 bilhões,

em 2015, US$ 5,66 bilhões.

Para o primeiro trimestre de

2016 a rubrica serviços teve um

déficit de US$ 6,21 bilhões,

contra US$ 10,18 bilhões no

mesmo período de 2015. O item

viagens teve a maior alteração,

com uma diminuição de 68,6%

no déficit, em 2015 o déficit foi

de US$ 3,6 bilhões frente a -

US$ 1,12 bilhão no mesmo

período deste ano. Já para o

mês de abril houve uma

retração de US$ 0,38 bilhão no

déficit frente ao mês de março,

somando no mês deste ano -

US$ 2,52 bilhões.

No que diz respeito à renda

primária, que registra a

remuneração do trabalho

assalariado, composto de

salários e ordenados e que antes

correspondia ao item renda, o

maior destaque na comparação

do acumulado de 2014 e 2015,

foi a redução de US$ 6,97

bilhões em renda de

investimentos. Diferente do

resultado acumulado do ano de

2015, no primeiro trimestre

deste ano houve um aumento de

46% do déficit neste mesmo

Page 62: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 79 -

item, que este ano alcançou US$

4,35 bilhões, contra US$ 2,35

bilhões em 2015. Tal situação

deveu-se, principalmente, a

atual instabilidade política e

econômica no país e tende a

piorar ainda mais, visto que as

grandes agências de classificação

de risco de crédito como Fitch

Ratings, S&P e Moody’s

rebaixaram a nota soberana no

final de 2015 para “BB+” no

grau de investimento e em abril

no início de 2016, rebaixaram

novamente para “BB”.

Ainda dentro da conta de renda

primária, o item renda de

investimento em carteira teve

uma diminuição no déficit de

US$ 2,98 bilhões, com

acumulado de US$ 18,09

bilhões, em 2015, e US$ 21,07

bilhões, em 2014. A diminuição

do déficit foi influenciada

principalmente pela queda de

37% do déficit de lucros e

dividendos. Quanto ao primeiro

trimestre deste ano o item de

renda de investimento em

carteira também deve uma

diminuição no déficit, de US$

6,63 bilhões, em 2015 para US$

5,03 bilhões neste ano. Em abril,

a conta obteve o menor déficit

do ano, em US$ 1,93 bilhão

contribuído por uma queda de

US$ 0,9 milhão no déficit de

renda de investimento.

A conta de renda secundária,

anteriormente denominada

transferências unilaterais,

manteve-se estável no

acumulado do ano de 2015, se

comparado ao de 2014, como

pode ser visto no gráfico 1.

Já a balança comercial brasileira

alcançou um resultado

superavitário de US$ 19,7

bilhões, no período de janeiro a

maio 2016 revertendo o déficit

alcançado em igual período de

2015, de US$ 2,301 bilhões.

Mesmo registrando uma queda

de 1,62% nas exportações o

superávit foi possível devido á

queda das importações também,

em 30,09%.

A variação absoluta das

exportações de 2015, em relação

a 2016, foi negativa em menos

US$ 1,20 bilhão, sendo o maior

responsável por esse resultado à

exportação de produtos básicos

com queda de US$ 1,10 bilhão

no período equivalente a menos

3,20%. Esse resultado ocorreu

puxado pela redução da

exportação de minério de ferro e

seus concentrados, resultado

ocorrido devido ao baixo preço

do produto. Pode-se observar

Page 63: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 77 -

uma alta na exportação de soja

triturada, devido maior

importação por parte da China.

Gráfico 7.2 – Exportações – mensal 2015 e 2016 - (US$ milhões)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento – Elaboração própria

Os produtos industrializados

apresentaram um pequeno

superávit no período em análise.

Esse resultado e possível devido

um alta na exportação de

produtos manufaturados. O

grupo foi puxado devido uma

alta nas exportações automóveis

de passageiros, pelo motivo de

maior importação de países

como Argentina e México. Em

compensação os produtos

semimanufaturados

apresentaram um déficit puxado

pelos produtos

semimanufaturados de ferro ou

aços, devido a queda do preço

do mineiro de ferro bruto.

No primeiro quadrimestre de

2016 houve queda absoluta na

importação de menos US$ 23,16

bilhões e queda relativa de Bens

de consumo (-26,4%), bens de

capital (-27,0%) e bens

intermediários (-19.2%). A

redução nas importações é fruto

da recessão econômica no país,

reduzindo em cerca de 30% a

importação de produtos

industrializados, igual retração

em manufaturados, com queda

de 24,2% na importação de

partes e peças para veículos

0

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

US$

MIL

ES F

OB

EXPORTAÇÃO BRASILEIRA

2015 2016

Page 64: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

automotores e tratores. Dentre

os semimanufaturados a maior

queda foi entre os catados de

cobre e seus elementos (37,8%).

Houve uma variação negativa de

31,21% também nos produtos

básicos. Esse resultado deveu-se

à queda nas importações de

óleos bruto de petróleo 45,2% e

na queda de importação de gás

natural de 51%.

Gráfico 7.3 – Importações – mensal 2015 e 2016 - (US$ milhões)

Fonte: Ministério do Desenvolvimento – Elaboração própria

A balança comercial passa por

sérios problemas devido a uma

conjuntura interna desfavorável

e a queda nas importações do

maior parceiro comercial do país,

a China. Mas o Ministério do

desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (MIDIC),

aposta numa melhoria através

de um novo plano nacional de

exportação7 para que se possa

7 Plano nacional de exportação apresenta cinco pilares de atuação: acesso a mercados; promoção comercial; facilitação

alcançar melhores resultados

superavitários da balança

comercial.

CONTA CAPITAL E

FINANCEIRA

É necessário lembrar aqui que a

conta capital em si, dada a

magnitude dos valores nela

representados e a sua própria

do comércio; financiamento e garantia às exportações; e aperfeiçoamento de mecanismos e regime tributários para o apoio às exportações.

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

16,000

18,000

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

US

$ M

ILH

ÕE

S F

OB

IMPORTAÇÃO BRASILEIRA

2015 2016

Page 65: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

definição é de menor importância

para compreensão do balanço de

pagamentos. Por outro lado, a

conta financeira é de extrema

importância, nela estão

expressas a maioria das

captações de investimento

responsáveis por cobrir o

histórico déficit em transações

correntes brasileiro.

Até 2002, com os déficits em

transações correntes registrados

no período, houve entrada de

capitais capazes de cobri-los,

havendo saldo positivo no

balanço de pagamentos. De

2002 em diante, dada a

mudança de conjuntura interna e

externa, registrou-se superávits

em transações correntes o que

nos possibilitou efetivamente

exportar recursos pelo curto

período 2003-2006. Daí em

diante os déficits em transações

correntes voltaram a se verificar,

especialmente depois de 2008,

com a relação direta entre

captações de investimento

externo e saldo do balanço de

pagamentos se apresentando

novamente, expondo a

dependência brasileira da conta

financeira mais uma vez.

A partir de 2011, porém, a conta

financeira não foi mais capaz de

cobrir o déficit em transações

correntes, resultando em déficit

no balanço de pagamentos. No

mesmo ano inicia-se uma

redução geral do saldo da conta

financeira, com menor entrada

de capital estrangeiro. Com

exceção do ano de 2014 em que

o saldo da conta financeira se

elevou em cerca de 38,4%, face

ao aumento do Investimento

Estrangeiro Direto (40%) e dos

Empréstimos (1215,4%). A

queda nas captações verificada

em 2015, no entanto, reafirma a

tendência observada desde 2011

de maneira drástica.

Comparando os resultados do

acumulado de abril a abril

(tabela 4.1) já podemos

observar novamente a tendência

à queda nas captações de

investimento estrangeiro

(redução de 66,3%) muito em

função, como mencionado

acima, da instabilidade

econômica vivenciada ao longo

de 2015.

Page 66: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 77 -

Gráfico 7.4 — Saldo balanço de Pagamentos 1995-2015 (US$ Milhões)

Fonte: Banco Central — Elaboração Própria/BPM6

Gráfico 7.5 — Saldo Conta Financeira 1995 – 2015 (US$ Milhões)

Fonte: Banco Central — Elaboração Própria/BPM6

-5000

-4000

-3000

-2000

-1000

0

1000

2000

3000

4000

5000

Saldo do Balanço

-20000

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

Page 67: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 78 -

Tabela 7.3 — Conta Financeira Resultado Acumulado — (US$ Milhões)

Resultado Acumulado Abril 2014 – Abril 2015 -106900

Resultado Acumulado Abril 2015 - Abril 2016 -36049

Fonte: Banco Central — Elaboração Própria/BPM6

É curioso reparar que,

comparando o primeiro trimestre

de 2016 com o primeiro

trimestre de 2015, como mostra

a tabela 4.2, observa-se a

redução da captação de

investimentos totais de um

período para o outro apesar do

aumento no Investimento Direto

em aproximadamente 204%. O

resultado da conta neste

primeiro trimestre continua 77%

inferior àquele verificado no

primeiro trimestre de 2015. Isto

se deve a queda conjunta dos

Investimentos em carteira,

Derivativos e a rubrica Outros

investimentos em 131%, 102%

e 259% respectivamente.

Tabela 7.4 — Conta Financeira - (US$ Milhões)

Discriminação

Jan - mar

2015

Jan - mar

2016 ∆%

Conta Financeira: Concessões líquidas (+) /

Captações líquidas (-) -23865 -5520 -77%

Investimento Direto -5093 -15467 204%

Investimentos diretos no exterior 8056 1466

Investimentos diretos no país 13149 16933

Investimentos em carteira -18927 5856 -131%

Investimentos em carteira – ativos -1273 170

Investimentos em carteira – passivos 17654 -5685

Derivativos 2041 -41 -102%

Outros investimentos -5125 8154 -259%

Ativos de reserva 3239 -4022 224%

Erros e omissões 1158 1987

Fonte: Banco Central — Elaboração Própria/BPM6

Uma das possíveis causas para o

aumento verificado do

Investimento direto no país seria

a desvalorização cambial

ocorrida entre os períodos, que

dão ao investidor estrangeiro

maior poder de compra. Isto

pode ser ilustrado pelo aumento

da rubrica Participação no capital

total de U$$ 7,25 bilhões, no

primeiro trimestre de 2015,

Page 68: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 77 -

Chegando, no primeiro trimestre

de 2016, a U$$ 9,86 bilhões.

Voltando a queda nas captações

de investimento, pelos motivos

já citados ao longo do texto, é

natural a redução verificada nos

derivativos dado o risco que

envolve o tipo da aplicação e o

contexto de baixa credibilidade

da economia brasileira. Na

rubrica outros investimentos vê-

se isso mais claramente através

de seu principal componente, os

Empréstimos, financiamentos

concedidos a importações na

modalidade de crédito de

compradores, que caiu cerca de

243%, comparando-se os

períodos, saindo de -3,18 US$

bilhões e chegando a 4,54 US$

bilhões.

No que concerne ao

Investimento em carteira (tabela

7.5), nota-se a redução drástica,

principalmente, dos títulos de

renda fixa, redução de 163,9%,

somados a queda nos

investimentos em ações (-

36,4%) superam o aumento nas

captações através dos fundos de

investimento, alta de 33,5%.

Destaca-se mais uma vez a

importância do grau de confiança

do investidor estrangeiro para o

bom desempenho das contas

externas brasileiras.

Tabela 7. 5 - Investimentos em Carteira (Passivos) - Janeiro a março - (US$

Milhões)

Discriminação

jan-mar

2015

jan-mar

2016 %

Investimentos em Carteira - Passivos 17654 -5685 -131%

Investimentos em Ações 3870 2460 -36,4%

Investimentos em Fundos de Investimentos 331 442 33,5%

Investimentos em Títulos de Renda Fixa 13453 -8587 -163,8%

Fonte: Banco Central — Elaboração Própria/BPM6

Page 69: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 19 -

Grupo de Estudos e Pesquisa em Conjuntura

Departamento de Economia

Curso de Ciências Econômicas

Universidade Federal do Espírito Santo

Av. Fernando Ferrari, 514 – Campus Goiabeiras – Vitória – ES

CEP 29075-910 – Tel/fax: (27) 4009-2605

Coordenação: Neide César Vargas

Professores Pesquisadores: Daniel Pereira Sampaio, Luis Enrique

Casais Padilla, Maurício de Souza Sabadini, Renata Couto Moreira,

Rodrigo Franklin, Vinícius Vieira Pereira e Vitor Daher.

Política Econômica: Fabrício Augusto de Oliveira

Participaram neste número:

Adriano Edgar Sousa Duarte

André Luiz de Oliveira Sacani

Bruno Montarrois Bastos

Daniel Pereira dos Anjos

Eloah de Jesus Fassarella

Gabriel Arten Barboza

Gabriel Cavatti

José Marcos de Oliveira Redighieri

Maria Amélia Santiago Ataide

Maria Carolina S. Ferrari

Marina de Abreu Queiroz

Matheus Deps Bolelli

Millena de Pinho Moraes Alves

Ramon Borge Rizzi

Ramon Cristian Rocha Silva

Ramon Moreira de Paula

Renzo Caliman Souza

Tales Lins Costa

Thiago Filipe Silva Pinto

Wires Alves dos Anjos

Page 70: Boletim de Conjuntura n. 54

Vitória/ES – Boletim Nº 54 - 20 -