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STUART HALL DA DIASPORA IDEN1IDAOES E MEDIATES CUL1URAIS Liv SOVIK Adelaine La Guardia Resende Ana Carolina Escosteguy Claudia Alvares Francisco Rudiger Sayonara Amaral Belo Horizonte Editora UFMG Brasilia Representacao da UNESCO no Brasil 2003

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STUART HALL

DA DIASPORAIDEN1IDAOES E MEDIATES CUL1URAIS

Liv SOVIK

Adelaine La Guardia ResendeAna Carolina Escosteguy

Claudia AlvaresFrancisco RudigerSayonara Amaral

Belo HorizonteEditora UFMG

BrasiliaRepresentacao da

UNESCO no Brasil

2003

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Copiadora MDM
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Carlos Eduardo
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© 2003 dos originals em ingles by Stuart Hall© 2003 da traducao by Editors UFMGEste livro on parte dele nao pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizatao cscrita doEditor.O autor e responsavel pela escolha e pela apresentacao dos fatos contidos nesla publicafao e pelasopinioes aqui cxpressas, que nao sao necessariamente as da UNESCO e nao compromeiem aOrganizacao. As designates empregadas e a apresenta9ao do material nao implicam a expressao dequalquer opiniao que seja, por parte da UNESCO, no que diz respeito ao status legal de qualquer pais,terrii6rio, cidade ou area, ou de suas autoridades, on no que diz respeilo S delimitacao de suasfronteiras ou de seus limites.

H179d Hall.Stiiari

Da diaspora: Identidades e mediacoes culturais / Stuart Hall;Organizacao Liv Sovik; Traducao Adelaine La Guardia Resende ... let all.- Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasilia: Representacao da UNESCO noBrasil, 2003.

4M p. (Humanitas)

ISBN: 85-7041-356-4

I. Identidade Social 2. Cultura 3. Etnologia I. Sovik, Liv11. Resende, Adelaine La Guardia III. Tftulo IV. Serie

CDD: 306CDU: 316

Catalogacao na publicacao: Divisao de Planejamenlo e Divulgacao da Biblioteca Universilaria - UFMG

ED1TORACAO DE TEXTO: Ana Maria de MoraesPROJETO GRAFICO: GI6ria Campos - MangdCAPA: Stuart McPhail Hall, diptico de Dawoud Bey, acervo da National Portrait Gallery, Londrcs.REV1SAO E NORMALIZACAO: Simone de Almeida Gomes'"VISAO DE PROVAS: Cida Ribeiro e Lfvia Renala L. Salgado

Rh .'TSAO TfiCNICA: Liv SovikPRODUCAO GRAFICA: Warren M. SantosFORMATAgAO DO MIOLO: Cassio Ribeiro

UN1VERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAISReitora: Ana Lucia Almeida GazzolaVice-Reitor: Marcos Borato Viana

EDITORA UFMGAv. Antonio Carlos, 6627Ala direita da Biblioteca Central - lerreo -Campus Pampulha31270-901 - Belo Horizonte/MGTel.: (31) 3499-4650 . Fax: (3D 3499-4768www.editora.ufmg.br [email protected]

CONSELHO EDITORIALTITULARSAntonio Luiz Pinlio Ribeiro, Bcairiz Rezende Danlas,Cados Antonio Leite Brandao, Heloisa Maria MurgelStarling, Luiz Otavio Fagundes Amaral, Maria dasGracas Santa Barbara, Maria Helena Damascene eSilva Megale, Romeu Cardoso Guimaraes,Wander Meio Miranda (Presidente)SUPLENTES

Cristiano Machado Gontijo, Denise Ribeiro Scares,Leonardo Barci Castriola, Lucas Jose Bretas dosSantos, Maria Aparecida dos Santos Paiva, MaurflioNunes Vieira, Newton Bignotto de Souza,Reinaldo Martiniano Marques, Rkardo CastanheiraPimenta Figueiredo

50Sistema Integrado

de Bibliotecas/UFES

CONSELHO EDITORIAL DA :

UNESCO NO BRASILJorge Wertliein, Juan Carlos Tedcsco,Cecilia Braslavsky, Adarna Quane,Celio da Cunha

Organizacao das Nafoes Unidas para aEducacao, a Ciencia e a CulturaRepresentacao no BrasilSAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9° andar70070-914 - Brasilia -DE - BrasilTel.: (55 61) 321-3525 Fax: (55 61) 322-4261UHBRZSuncsco.org.br

CREDITOS DOS TE3 i Id ien^fdades ec u l t u r a i s

PARTE 1 - CONTROV^RSL< 198681/05)

"-*

pensando a diaspora: reflexoes sobre a terra no exteriorHALL, S. Thinking the Diaspora: Home-Thoughts from Abroad. Small Axev. 6, p. 1-18, Sept., 1999.© Indiana University Press.

Quest5o multiculturalHALL, S. The Multi-cultural Question. In: HESSE, Earner (Org.). Un/settledMulticulturalisms. London: Zed Books, 2000.

Quando foi o p6s-colonial? Pensando no limlteHALL, S. When Was "The Post-colonial"? Thinking at the Limit. In: CHAMBERS,Iain; CURTI, Lidia (Org.). The Post-Colonial Question: Common Skies, DividedHorizons. London: Routledge, 1996.

PARTE 2 - MARCOS PARA OS ESTUDOS CULTURAIS

• Estudps Culturais: dois paradigmasReprinted by permission of Sage Publications from Stuart Hall, "Cultural Studies:Two Paradigms", in Media, Culture and Society, 2, 57-72, 1980.© Sage Publications 1980. -t

^.V1"

Significant), representacao, Ideologia: Althusser e os debates pos-estruturalistas.HALL, S. Signification, Representation, Ideology: Althusser and the Post-Structuralist Debates. Critical Studies in Mass Communication, v. 2, n. 2,p. 91-114, June 1985. Used by permission of the National CommunicationAssociation.

^Estudos Culturais e seu legado teoricoHALL, S. Cultural Studies and Its Theoretical Legacies. In: GROSSBERG,Lawrence et al. (Org.). Cultural Studies. New York: Routledge 1992p. 277-286.

Para AUon White: metaforas de transformacaoHALL, S. For Allon White: Metaphors of Transformation. In: WHITE, Allon.Carnival, Hysteria and Writing. Oxford: Clarendon Press, 1993. Reprinted bypermission of Oxford University Press.

PARTE 3 - CULTURA POPULAR E IDENTIDADE

-r Notas sobre a desconstrucao do "popular"HALL, S. Notes on Deconstructing "the Popular".© History Workshop Journal, 1981, by permission of Oxford University Press.

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MARX, K. Early Writings. Tradupao T. B. Bottomore. London: C. A.

Watts, 1963.

MARX, K. Capital. London: Lawrence and Wishart, 1970, v. 3.

MARX, K. Grundrisse. Traducao de M. Nichoiaus. London: Penguin,

1973-

MARX, K; ENGELS, F. The German Ideology. London: Lawrence andWishart, 1970.

POULANTZAS, N. Political Power and Social Classes. Traducao de T.O'Hagan. London: New Left, 1975. [1968].

VOLOCHINOV, V. N. Marxism and the Philosophy of LanguageTraducao de I. Matejka e I. R. Tutunik. New York: Seminar, 1973.[1930]. [Marxismoeafilosofia da linguagem. Sao Paulo: Hucitec, 1981].

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ESTUDOS CUME S E U L E G A D O J E O R I C O

O tituio "Estudos culturais e seu legado teorico" implicaque se olhe para o passado, de forma a poder consultar-se epensar-se o presente e o futuro dos estudos culturais emretrospectiva. Parece mesmo ser necessario fazer-se algumtrabalho genealogico e arqueologico ncs arquivos. Ora, mee extremamente dificil lidar corn a questao dos arquivos, pois,no que toca aos^jujos^ujturals) sinto-me comojom tableauvivant, um espirito do passado ressuscitado, outorgando-sea si propricTa autoridaBe^3e urna orieem. No final das contas,± *~ .̂ ,̂ , ._ . ^ -1—-.-i-iiQ- •——"• '

os estudos culturais nao emergiram em algum lugar naquelemomento em que conheci Raymond Williams, ou na trocade olhares entre eu e Richard Hoggart? Os estudos culturaisteriam nascido nesse momento, saindo prontos da nossacabeca, ja em estado adulto! Quero falar do passado, mascertamente nao dessa forma. Nao gostaria de me referir aosestudos culturais britanicos (que, de qualquer modo, e umsignificante com o qual me sinto pouco a vontade) de umaforma patriarcal, como guardiao da consciencia dos estudosculturais, esperando escolta-los de volta aos parametros desua verdadeira essencia. Em outras palavras, quero esquivar-me dos numerosos fardos de representacao que as pessoasgeralmente carregam consigo — carrego pelo menos tres:espera-se que eu fale por todos os individuos de raca negrasobre todas as questoes teoricas, cnticas etc., como tambemse espera, as vezes, que eu represente quer a politica britanica,

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quer os estudos culturais. Chama-se a isto o fardo do hornemnegro, e gostaria de poder escapar-me dele neste momento.

Paradoxalmente, o meu objetivo acarreta uma visao auto-biografica. Pensa-se a autobiografia habitualmente como algorevestido da autoridade da autenticidade. Contudo, terei quefalar de um ponto de vista autobiografico, se quiser fugir deter a ultima palavra no assunto. Vou falar da minha perspec-tiva sobre certos mementos e legados teoricos nos estudosculturais, nao por esta constituir uma verdade, nem porrepresentar a unica forma de se contar a hist6ria. Eu proprioja a contei, em vezes anteriores, de multiplas formas alterna-tivas; e tenciono voltar a conta-la de forma diferente. Masneste exato momento, para a presente conjetura, desejariatomar uma posicao em relacao a grande narrativa dos estudosculturais, com o fim de incentivar reflexoes sobre os estudoscuIturais^ ̂ oinc^pra^aj sobre o nosso posicionamento insti-tucional e sobre o seu projeto. Quero faze-lo ao referir-me aalguns legados ou momentos teoricos, mas de uma maneiramuito particular. Este ensaio nao consiste nurn comentariosobre o exito ou utilidade de posicionamentos teoricosdistintos nos estudos culturais (deixo esse objetivo paraoutra ocasiao). Consiste, antes, numa tentativa de transmitira minha impressao de certos momentos nos estudos culturais,e a partir dai, de marcar algumas posicoes relativamente aquestao geral do relacionamento entre a teoria e a politica.

_Os ^sludQS_c_uIturaig sjjD_urna^Jbrfnacao discursiva, nosentido. iltiano do termcx Apesar de~liTguris def~nostermos estado presentes quando os estudos culturais assu-miram esse nome, eles nao tern uma origem simples. Muitodo trabalho do qual os estudos culturais surgiram ja seencontrava presente, a meu ver, na obra de outros autores.Raymond Williams partilha da mesma opiniao, e traca, noensaio intitulado "The Future of Cultural Studies" (1989), asraizes dos estudos culturais nos primordios do movimentopara a educacao dos adultos. "A relacao^ntre jjrnjgroieto e

decisiva", escreve, por estes ultimo^-:6nsistirem em "diferentes modos de materializar... e subse-qiientemente de descrever uma disposicao comum de energiae direcao". O s e s t u d o_s_ c ' u It ur ai_s^ jiba r^cjjT^_d|sjguj^c^ m ul-!J£lj^.j2ejT^^mQ_aujr^^endem um conjumo^de formacoes, com as suas clifeTelTtes

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conjunturas e momentos no passado. Gostaria de insistirna variedade de~trafealrTos Tfiefentes' aos estudos culturais.Consistindo sempre num conjunto de formacoes instaveis,encontravam-se "centrados" apenas entre aspas, de um modopart icular que tentarei definir em seguida.^Os estudosculturais_tiyeram_urna_grande dlversidade de traietoriasL muitosseguiram e seguem percursos distintos no seu interior; foramconstruidos por um numero de metodologias e posiciona-mentos teoricos diferentes, todos em contencao uns com osoutros. O trabalho teorico do Centre for Contemporary ICultural Studies era mais apropriadamente chamado de \"ruido teorico", sendo acompanhado por uma quantidade /razoavel de sentimentos negatives, discussoes, ansiedades \instaveis, e silencios irados. ~s

Ora, sera que isto significa que os estudos culturais naoconstituem urna area de regulamentacao disciplinar, ou seja,que vale qualquer tipo de acao desde que o autor opte por sedenominar ou se posicionar dentro do seu projeto e pratica?Tarnbem nao me agrada esta formulacao^ Apesar -_do j^rojelados estudos cujniiais..s£-cacaci££i2aj pela(a^ertur^jiaD_ s.e.

reduzlr a um plural ism c^ s^irnpjis^a. Sim, recusa-se aser uma grande narrativa ou um meta-discurso de qualquerespecie. Sim, consiste num projeto aberto ao desconhecido,ao que nao se consegue ainda nome]ar7~Todavia, demonstravontacle ern~conectar-se; tern interesse em suas escolhas. Eimportante chegar-se a uma definicao dos estudos culturais;nao podem consistir apenas em qualquer reivindicacao quemarcha sob uma bandeira particular. E uma imciatiya ouproieto serio)_g_au^j^e^nscj^e^jTg_aspecto "politico" dosestudos cultaraLs. Nao que uma dada politica se encontreinscrita, a priori, nos estudos culturais. No entanto, algo estaem jogo nos estudos culturais de uma forma que, acho eespero, nao e exatamente o caso em muitas outras importantespraticas criticas e intelectuais. Registra-se aqui uma tensaoentre a recusa de se fechar o campo, de policia-lo e, ao mesmotempo, uma determinac.ao de se definirem posicionamentosa favor de certos interesses e de defende-los. Essa e a tensao— a abordagem dialogica a teoria — que quero tratar devarias formas ao longo do presente ensaio. Se bem que naoacredite no fechamento do conhecimento, considero que apolitica nao e possivel sem o que denominei de "clausura

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arbitraria"; sem ocomo clausura arbitraria. Em outras palavras, nao entendo

^ufna-pi=afica^ue*terua~"fazer uma diferenca no mundo que naotenha alguns pontos de diferenca ou distincao a definir edefender. Trapse de^osicjpnaingntos, apes2tr_de_estes.ultimos nao serem nem finais nem absolutos. Nao podemser traduzidos intactos de uma conjuntura para outra; naose pode esperar que se mantenham no mesmo lugar. Querovoltar aquele momento em que se definiam os interessesdos estudos culturais, aqueles mementos em que os posicio-namentos comecavam a ter um peso.

Esta e uma forma de focar a questao da "mundanidade"dos estudos culturais, para usar um termo de Edward Said.Nao fico, aqui, com as conotacoes seculares da metafora damundanidade, mas antes com a mundanidade dos estudosculturais. Falo da "sujeira" do jogo semiotico, se me permitema expressao. EstotTtentandQ devolYer o proieto dos estudosculturais do ar Iimr^dp_do__significado, da textuaiidade e dateoria, para algo sujo, bem mais_embaixo. Isso envolve odificil exercicio de examinar algumas das "viradas" ou conjun-turas teoricas mais cruciais nos estudos culturais.

O primeiro traco que quero desconstruir esta relacionadoa ideia de que os estudos_cjjkurais_britariicos se definem porterem se tornado, a certa altura, uma pratica critica marxista.O que significa exatamente esta designacao dos estudosculturais como teoria critica marxista? Como podemos pensaros estudos culturais naquele momento? De que momentoestamos falando? Quais as implicacoes para os legadosteoricos, traces e seqiielas do marxismo nos estudos cul-turais? Ha diversas formas de se contar a historia, e lembrem-sede que nao proponho esta versao como a unica narrativapossivel. Contudo, vou apresenta-la de um modo que tal-vez os surpreenda.

f Entrei nos estudos culturais pela Nova Esquerda, e elaI sempre considerou o marxismo como problema, dificuldade,

perigo, e nao como solucao. Por que? Nada teve a ver com/ questoes teoricas enquanto tais, ou em isolamento, mas com

/ o fato de que a minha formacao politica, bem como a daNova Esquerda, ocorreram num momento historicamentemuito semelhante ao atual — um fato que me surpreende

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ter passado desapercebido por tanta gente — , o momenio°e fato,

a primeira Nova Esquerda britanica emergiu em 1956 nomomento do desmantelamento de todo um projeto histo-rico-politico. Neste sentido, entrei no marxismo de costas:como se fosse contra os tanques sovieticos em Budapeste.Com estas palavras, nao estou negando que tanto eu quantoos estudos culturais fomos, desde o inicio, fortemente influen-ciados pelas questoes que o marxismo, como projeto poli-tico, colocou na agenda: o "pocier, a extensao global e ascapacidades de realizacao historica do capital; a questao declasse social; os relacionamentos complexes entre o poder— termo esse que e mais facil integrar aos discursos sobrecultura do que "exploracao" — , e a exploracao; a questao deuma teoria geral que poderia ligar, sob uma reflexao critica,os dominios distintos da vidaf a politica e a teoria, a teoria ea pratica, questoes economicas, politicas, ideologicas, eassim por diante; a propria nocao de conhecimento critico ea sua producao como pratica. Tais questoes cruciais referem-seao que significava trabalhar na vizinhanca do marxismo,sobre o marxismo, contra o marxismo, com ele e para tentardesenvolve-lo.

Em nenhum momento os_estudos_culturais-eL-Q marxismose encaixaram perfeitamente, em terrnos teoricos. Desde oinicio (permitam-me que me expresse assim por agora), japairava no ar a sempre pertinente questao das grandes insu-ficiencias, teoricas e politicas, dos silencios retumbantes, dasgrandes evasoes do marxismo — as coisas de que Marx naofalava nem parecia compreender, que eram o nosso objetoprivilegiado de estudo: cultura, ideologia, linguagern, osimbolico. Pelo contrario, os elementos que aprisionavam omarxismo como forma de pensamento, como atividade depratica critica, encontravam-se, ja e desde sempre, presentes— a ortodoxia, o carater doutrinario, o determinismo, oreducionismo, a imutavel lei da historia, o seu estatuto comometanarrativa. Isto e, o encontro entre os estudos culturaisbritanicos e o marxismo tern primeiro que ser compreendidocomo o envolvimento com um problema — nao com umateoria, nem mesmo com uma problematica. Comeca, e desen-volve-se, por meio de uma critica de um certo reducionismo

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e economicismo, que creio nao ser.extrmseco, mas mtnnsecoao marxismo; a contestacao do modelo de base e superestru-tura atraves do qual ambos os marxismos, o sofisticado e ovulgar, tentaram pensar o relacionamento entre sociedade,economia e cultura. Encontrava-se localizado e situado nacontesta^ao necessaria e prolongada, e por enquanto inter-minavel, da questao da falsa consciencia. Exigia, no meu caso,uma ainda incompleta contestacao do profundo eurocen-trisrno da teoria marxista. Quero precisar este ultimo aspecto.Nao se trata apenas do local de nascenca de Marx, nem dostemas de que falava, mas antes do modelo situado no amagodas partes mais desenvolvidas da teoria marxista, quesugeriam a evolucao organica do capitalismo a partir das suasproprias transformagoes. Mas eu era oriundo de uma socie-dade onde o profundo tegumento da sociedade, economia ecultura capitalistas tinha sido imposto pela conquista e pelacolonizac.ao. Esta nao e uma critica vulgar, mas sirn teorica.Nao responsabilizo Marx por ter nascido onde nasceu; apenasquestiono a teoria destinada a apoiar o modelo em torno doqual se encontra articulada: o seu Eurocentrismo.

Quero sugerir uma metafora diferente para o trabalhoteorico: uma metafora de luta, de combate com os anjos.A^nica_teoria que vale a penaretere^aquela^que voce ternde contestar. nao a que voceDesejaria dizer aigo^rnaisTdiante sobre a surpreendentefluencia teorica dos estudos culturais contemporaneos.Contudo, a minha propria experiencia com a teoria — e omarxismo e urn exemplo paradigmatico — consiste numcombate com os anjos — uma metafora que voces podeminterpretar o mais literalmente possivel. Lembro-me de terlutado com^Althusser. Lembro-me de, ao ver a ideia_de^rjraticate6rica" em Lendo O Capital, pensar, "ja li o suficiente". Disse amirn mesmo: nao cederei uni milimetro a esta traduc.ao pos-estruturalista malfeita do marxismo classico, a nao ser queela me consiga veneer, a nao ser que me consiga derrotar noespirito. Tera_que caminhar sobre o mejj_jca,daver para meconvencer. Declarei-lhe guerra, ate a morte. Umartigo longoalgo prolixo (Hall, 1974) que se debruca sobre a Introducao,escrita por Marx em 1857, aos Grundrisse, no qual procureidefinir a diferenca entre o estruturalismo da epistemologiamarxista por urn lado, e o da althusseriana por outro, foi

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apenas o inicio deste longo envolvimento. E esta nao eapenas uma questao pessoal. No_Cejiir^qr_ComejTiporaryJiiltur^JJStjxdi.eaj durante cinco ou seis anos, muito depoisda moda antite6rica ou da resistencia a teoria nos estudosculturais ter sido superada, decidimos, de uma forma muitoantibritanica, mergulhar na teoria: demos a volta em todo opensamento europeu, para nao fazermos uma simples capi-tulacao ao Zeitgeist, tornando-nos marxistas. Lemos o idea-_

alemao, lemos Weber ao avesso, lemos_g_id_ealisnio_ s i r g - i t i c a ideaiista~ae arte^ Qa escrevi a

respeito nos artigos intituTaHos^O interior da ciencia: ideo-logia e a sociologia do conhecimento" (1980a) e "CulturalStudies and the Centre: Some Problems and Problematics"(1980b).)

Assim, ajio£ao_de que o marxismo e os estudos £ulturais Iencaixaram um no olTtToT^econnecehdo uma afinidade /

~TTrie"crrata eh'tre"si e^danclo as maos em algum momento de/v

sintese hegeliana ou teleologica — consistindo este no\ ' ffajmomento fundadgx.dos- estudos.,culturais,rrr.^.staJ.Qtairnente /errada. Nao podia ser mais diferente do que isso. E quandofjeventualmente, na decada de 70, os estudos culturais brita-nicos avancaram — de formas muito distintas, convenhamos— dentro da problematica do marxismo, deveria entender-seo terrno "problematica" num sentido genuino, nao apenas numsentido formalista-teorico: como problema, incidindo tantosobre a luta contra os constrangimentos e limites daquelemodelo quanto sobre as questoes necessarias que o mar-xismo nos exigia responder. E quando, por fim, no meupropj-krtntbalho, procurei aprender com os avancos teoricos

trabalhar com eles, foi apenas porque certasestrategias de evasao teriam obrigado a obra de Gramsci, dediversas formas, a responder ao que apenas posso chamar(eis outra metafora para o trabalho teorico) os enigmasda teoria — aquilo que a teoria marxista nao conseguiaresponder, oiT^a^^oVassuntos relatives ao mujidg^moderno

^descobertos poj^^rams^Fque~"perm"aneciam sem solucao"^erTtTo~do"~quadr6 conceitual da grande teoria, o marxismo,no qual continuou a trabalhar. A certa altura, as questoesque ainda queria abordar eram-me inacessiveis, excetoatraves de um desvio gramsciano. Nao por que Gramsci asresolveu, mas porque pelo menos as abordou. Nao desejana

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aqui apresentar a minha opiniao pessoal sobre o que osestudos culturais no coni&xto_britanico teriam, num dadoperiodo, aprendido conVGramsc;!:

sobre a natureza da propria culjura, sobr1 , ̂ obre-aJm^ojtancia^jia^e^fiecificidade histo-

li^^ da

de classe apjenas^se^sej^corre a nocao deslocad^de con juntoe de bjocos. Esses sao os ganhos decorrentes de um desviovia Gramsci, mas minha intengao nao e de falar deles. SobreGramsci, neste contexto, quero dizer que, enquanto elepertencia ou pertence a problematica do marxismo, a suaimportancia para aquele momento dos estudos culturaisbritanicos consiste precisamente em quanto ele deslocouradicalmente algumasdas herangas marxistas nos estudos

jcuTTurais. O car ate r radical do "deslocamentc^gfarnsciaiio doTrrarxismo ainda nao foi compreendido, e provavelmente nuncasera levado em conta, agora que estamos entrando na era dopos-marxismo. E esta a natureza do movimento da historia edo modismo intelectual. Contudo, Gramsci contribuiu comalgo mais para os estudos culturais, e gostaria de apro-fundar-me um pouco nesse tema, pois essa contribuicaoenvolve o que chamo da necessidade de reflexao sobre anossa posic.ao institucional e a nossa pratica intelectual.

Assim como fizeram outras pessoas ligadas aos estudosculturais e especialmente no Centro, tentel descrever o quepensavamos estar fazendo com o tipo de trabalho intelectualali estabelecido. Devo admitir que, apesar de ter lido cliversosregistros mais sofisticados e elaj3j3ra4oA-&-£l£Jjrarnsd aindame parece ser o quejnais se_aproxima daquilo queprocura-

jvamos fazer. Certamente, sua frase "a procni^ao^elrTtelectuaisorganicos" se revela problematica. Mas para mim nao haduvida de que buscavamos umaprJ^ca^jislitucionaLjiosestudos culturais u^ l Ide^5e~roz l iLum intelectual orga-

sabiamos previamente o que isso significaria,no contexto britanico dos anos 70, e nao tfnhamos certezade que reconheceriamos essa figura, caso conseguissemosproduzi-la. A dificuldade inerente ao conceito de intelectualorganico e que o mesmo consiste no aparente alinhamentodos intelectuais com um movimento historico emergente enao conseguiamos perceber entao, como nao vislumbramos

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agora, onde se encontrava esse movimento. Eramos interde refe-

..rencia: intelectuais organicos com uma nostalgia ou vontadeou esperanca (para usar uma frase de Gramsci de outrocontexto) que a dada altura o trabalho intelectual nos prepa-rasse para esse tipo de relacionamento, se tal conjunturaalguma vez viesse a surgir. Mais sinceramente, estavamosprontos a imaginar ou imitar ou simular um tal relaciona-mento na sua ausencia: "pessimismo do intelecto, otimismoda vontade".

Mas acho de extrema importancia o fato de o pensamentogramsciano em torno destas questoes captar aquilo que noseramos. Porque um segundo aspecto da defini^ao de Gramscido trabalho intelectual — definicao essa que penso ter estadosempre proxima da nocjlo dos estudos culturais como projeto— foi a sua exigencia de que o "intelectual organico" traba-Ihasse simultaneamente em duas frentes. For um lado, tmhamosque estar na vanguarda do trabalho teoricg Intelectual, "'Pols',segundo Gramsci, e dever dos intelectuais organicos terconhecimentos superiores ^oj^dg^jntelectuais tra.dicionai&conhecimentos verdadeiros, nao apenas fingir que se sabef //nao apenas ter a fa. cil i clacle '"do "c ofTrTeTimenf :o i , mas' cgnrTeceF ̂b em e pjiQ£Lin£La^gat&. O conhecimento para o marxismo etao freqiientemente puro reconhecimento — mais uma repro-du?ao daquilo que sempre soubemos! Se jogarem o jogo dahegemonia terao que ser mais espertos do que "eles". Assim,nao ha limites jeoricos dos_qu_ais_QS-es.tudos culturais possamrecuar. Contudo, o segundo aspecto e igualmente crucial:j>intejectual organico nao pode subtrair-se dalidade da transmissao dessas idei_as. desse conhecimento,atraves da fungjo intelectuaL aos^cjue naos0nalmente7classe intelectual. E a nao ser que essas duasfrentes estejam operando simultaneamente, ou pelo menos anao ser que essas duas ambicoes fa^am parte do projeto dosestudos culturais, qualquer avanc.o teorico nunca sera acom-panhado por um envolvimento no nivel do projeto politico.

Preocupa-me muito que decodifiquem o meu discursocomo sendo antiteorico. Nao e antiteoria, mas tern a ver comas condigoes e os problemas inerentes ao desenvolvimentodo trabalho intelectual e teorico como pratica politica.

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A opcao de viver com as tensoes entre estas duas exigencias,sem procurar resolve-las, e um caminho um tanto diffcil.r,ramsci rLunca-pediu^gue as res^lvessemosjmas deu-nos urp_exemplo prStico de^jcpmo-con-viv.er-Com-,elas^ Nunca produ-

"zirh o s^mfelectu a is organicos (antes tivessemos) no Centre.Nunca nos ligamos a esse movimento historico em ascen-dencia; o nosso ejcexcicicLfQi...mgtaf6rico. Contudo, as_meta-foras sag__coisas_sj£rias. A^t^m^aj^rs^ica^ Estou tentandore-descrever os estudos culturais como trabalho teorico quetera que continuar a conviver com essa tensao.

Queria ainda falar de dois outros mementos teoricosnos estudos culturais que interromperam a ja-interrompidahistoria da sua formacao. Alguns desses acontecimentossurgiram quase que da estratosfera: nao se engendraram nointerior, nao faziam parte de um desenvolvimento interno geralda teoria da cultura. O chamado desenvolvimento dos estudos^ultujais. foi, incontayeis ve^zes, interrompidopor rompi-mentos, verdadeiras rupturas, defor£as_ejfteriores; como sese tratasse da interrupcao por novas ideias que descentraramo que parecia ser uma pratica acumuiada de trabalho. Haassim outra metafora para o trabalho teorico: o trabalhoteorico como interrupcao. —__

Ocorreram pelomenoaJduas interrupcoesNio trabalho do•"- —- _-.---'"*-—^"~— ~~~——-*' \^^ ./

^Centre for Ccmiemporary Cutrufal^STucliesT) a primeira em-~- —-^--^-=F^rz;ir^£L--——J— — ——; —-1 l

torno doQreminisrngye a segunda incidindo sobre questoes deracjpEste ensaio nao consiste numa tentativa de resumir osavancos e consequencias teoricos e politicos da intervencaofeminista para os estudos culturais britanicos; esse objetivoficara para outro dia, outro lugar. Contudo, tambem naoquero deixar de invocar aquele momento de um modo vagoe casual, A intervencao do feminismo foi especlfica e deci-s|va_para os estudos HHu^aiT^bem cpmo^rjara muitos outrosprojetos teoricos). Introduziu umaVrupturaj Reorganizou ocampo de maneiras bastante concretas. Primeiro, a propo-sicao da questaQ^dD^pessoal_cpmo politico — e suas conse-quencias para a mudanca do objeto de estudo nos estudosculturais — foi completamente revolucionario em termos teo-ricos e praticos. Segundo, a expansao radical da nncaojjepoder, que ate entao tinha sido fortemente desenvolvidadentro do arcabouco da nocao do publico, do dominiopublico, com o resultado de que o termo poder— tao central

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para a problematica anterior da hegemonia — nao pode serutilizado da mesma maneira. Terceiro, a centralidade dasquestoes de genero e sexualidade para a compreensao do

~proprio poder. Quarto, a aEertura dejrnuitas questoes quejulgavamos ter abolido em torno da area perigosa do subje-tivo e do sujeito, colocando essas questoes no centre dosestudos culturais como pratica teorica. Quinto, a_reabertucada "fronteira fechada" entre a teoria social e a teoria doInconsciente — a psicanalise. E dificil descrever a irnportanciada abertura desse novo continente nos estudos culturais, defi-nida pelo relacionamento — ou antes, aquilo que JacquelineRose chamou de "relacoes instaveis" — entre o feminismo, apsicanalise e os estudos culturais. " ~~

Sabe-se que aconteceu, mas nao se sabe quando nem ondese deu o primeiro arrombamento do feminismo. UsojajnetsUfora deliberadamente; chegou como um ladrao a noite, inva-

inconveniente, aproveitouO titulo do

a

volume ernque este ataque de surpresa primeiro se realizou— Women Take /sswe* — e ilustrativo: pois as mulheres nao.so tomaram conta do livro publicado naquele ano, comotambem iniciaram uma querela. Mas quero Ihes dizer algomais sobre o que aconteceu. Dada a irnportancia crescentedo trabalho intelectual feminista, beni como dos primordiosdo movimento feminista no inicio da decada de 70, muitos denos no Centre — najnaipria homens, e claro — pgngamps

duzjij£a^. E tentamos realmente atrai-lo,

importa-lo, fazendo boas propostas a intelectuais ferninistasde peso. Como seria de esperar, muitas das mulheres nosestudos culturais nao estavam interessadas neste projeto"magnanimo". Abnarnos a porta aos estudos feministas, comobons homens transformados. E, mesmo assim, quando ofeminismo arrombou a janela, tqdasjis resistencias, por mais

Jnsusgeitas que fossem,_yieram a tona — o poder patriarcalplenamente instalado, que acreditara ter-se desautorizado asi proprio. Aqui nao ha lideres, diziamos naqueles tempos;estamos todos, estudantes e corpo docente, unidos na apren-dizagem da pratica dos estudos culturais. Todo mundo e

TTvre~para decidir o que bementende7~etc7T:, todavia, quandose chegava a questao da leitura curricular... Foi precisamente

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ai que descobri a natureza sexuada do poder. Muito, masmuito tempo depois de conseguir pronunciar essas palavras,confrontei-me com a realidade do profundo discernimentofoucaultiano quanto a reciprocidade individual do conheci-mento e do poder. Falar de abrir mao do poder e uma expe-

C riencia radicalmente diferente de ser silenciado. Eis aqui outraforma de pensar, outra metafora para a teoria: o modo cornoo feminismo rompeji_e_Jiite«^npeu os estudos culturais.

Ha ainda a (questao raciaj^lp^e^jiidg^cuUurais^ Ja mereferi as fontes extrinsecas importantes na formacao dosestudos culturais — por exemplo, aquilo que chamei omomento da Nova Esquerda, e a sua querela inicial com omarxismo. Contudo, esta foi uma conjuntura profundamentebritanica ou inglesa. Com efeito, fazer com que os estudosculturais colocassem na sua agenda as questoes criticas deraca, a politica racial, a resistencia ao racismo, questoescriticas da politica cultural, consistiu numa ferrenha lutateorica, uma luta da qual, curiosamente, Poli£ingJ33e Crisisfoi o primeiro exemplo, ja muito tardio. Representou umavirada decisiva no meu proprio trabalho intelectual e teorico,bem como no do Centre. Mais uma vez, foi apenas o resul-tado de um longo, aigo amargo — certamente amargamentecontestado — combate interno contra um silencio retumbante,mas inconsciente. Um combate que continuou no que desdeentao se tornou conhecido, apenas na historia reescrita, comoum dos grandes livros seminais do Centre for ContemporaryCultural Studies, The Empire Strikes Back. Na verdade, PaulGilroy e o grupo de pessoas que produziram o livro tiveramimensa dificuldade em criar o espaco teorico e politiconecessario no Centro, espaco que Ihes permitisse debrucar-sesobre o projeto.

Queria reter a nocao, implicita em ambos os exemplos, deque os jnp_vimentos_provocam moment os teoricos. E asconjunturas historicas insistem nas teorias: sao momentosreais na evolucao da teoria. Mas aqui tenho que parar erefazer meu caminho, porque acho que voces podem tervoltado a, ouvir, naquilo que eu estou dizendo, uma invo-cacao a um populismo antiteorico simplista, que nao respeitanem reconhece a importancia crucial, a cada instante, dosacontecimentos que tento recontar, do que poderia chamarde demora necessaria ou desvio atraves da teoria. Desejaria

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falar desse "desvio necessario" por um momento. O quedescentrou e deslocou o caminho estabelecido do Centrefor Contemporary Cultural Studies e, ate certo ponto, dosestudos culturais britanicos em geral, e o que se chama asvezes de rviraHalinguistica!> a descoberta da discursividacje,datextua lidade. Tambem houve baixas no Centro em tornodestes termos. Travou-se uma luta com eles, exatamente damesma forma que tentei descrever anteriormente. Mas osganhos decorrentes do envolvimento com esses conceitossao decisivos para compreender como a teoria veio a serdesenvolvida nesse trabalho. Contudo, a meu ver, estascontrapartidas teoricas nunca poderao constituir um momentode auto-suficiencia.

De novo, nao ha aqui espaco para fazer mais do queelencar os progresses teoricos decorrentes dos encontros comtrabalhoj^strutitralisja, semiotico e pos^estruturalista,: aimportancia crucial da linguagem e da metafora linguisticapara qualquer estudo da cultura; a expansao da nocao dotexto e da textualidade, quer como fonte de significado, quercomo aquilo que escapa e adia o significado; o reconheci-mento da heterogeneidade e da multiplicidade dos signifi-cados, do esforco envolvido no encerramento arbitrario dasemiose infinita para alem do significado; o reconhecimentoda textualidade e do poder cultural, da propria represen-tacao, como local de poder e de regulamentacao; do simbo-lico como fonte de identidade. Sao enormes avancos teoricos,apesar de que, claro, sempre se atentara as questoes dalinguagem (muito antes da revolucao semiotica, o trabalhode Raymond Williams desempenhou aqui um papel central).No entanto, a reconfiguracae-da^teoria, que resultou em terde se pensar questoes davcultura. atraves das metaforas^ialinguagem e da textualidade, representa um ponto para alem"a^^u^ros^stu^Hs^uIujrais tern agora que necessariamentese localizar. A metafora do discursivo, da textualidade,representa um adiamento necessario, um deslocamento, queacredito estar sempre implicito no conceito da cultura. Se vocespesquisam sobre a cultura, ou se tentaram fazer pesquisa emoutras areas verdadeiramente importantes e, nao obstante,se_encontraram reconduzidos a cultura, se acontecer que a

arrebate a alma, tern de reconhecer que irao[pre trabalhar numa area de dgsjecacosnto. Ha sempre

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algo descentrado no meio cultural [the medium of culture},na linguagem, na textualidade, na significacao; ha algo queconstantemente escapa e foge a tentativa de ligacao, direta eimediata, com outras estruturas. E ainda, simultaneamente, asombra, a estampa, o vestigio daquelas outras formac_6es, daintertextualidade dos textos em suas posicoes institucionais,dos textos como fontes de poder, da textualidade como localde representacao e de resistencia, nenhuma destas questoespodera jarnais ser apagada dos estudos culturais.

A questao e, o que acontece quando uma area — quetenho procurado descrever de forma muito pontual, dispersae interrupta, como algo que muda constantemente de direcao,e que e definida como projeto politico — tenta desenvolver-secomo uma especie de intervencao teorica coerente? Ou, parainverter a questao, o que acontece quando um projeto acade-mico e teorico tenta envolver-se em pedagogias que se apoiamno envolvimento ativo de individuos e grupos, ou quandotenta fazer uma diferenca no mundo institucional onde seencontra? Estas sao questoes extremamente complicadas deresolver, pois solicitam que digamos "sim" e "nao" ao mesmotempo, Pede-se que assumamos que a cultura ira sempretrabalhar atraves das suas textualidades — e, simultaneamente,essa textualidade nunca e suficiente. Mas nunca suficienteem relacao a que? Nunca suficiente para que? Torna-se difici-limo responder a tal questao, pois, filosoficamente, nuncafoi possivel no campo teorico dos estudos culturais — sejaeste concebido em termos de textos e contextos, de intertex-tualidade, ou de formacoes historicas nas quais as praticasculturais se encontram arraigadas — dar contjL teoricamejiLe

jiasj-elacoes da cultura e dos seus ereitosT Contudo, queriaenfatizaF^u^Terltfuanfo^os esfucToTculEirais nao aprenderema viver com esta tensao, que todas as praticas teoricas tern deassumir — uma tensao que Said descreve como o estudodo texto nas suas afiliacoes com "instituicoes, gabinetes,agendas, classes, academias, corporacoes, grupos, partidosideologicamente definidos, profissoes, nacoes, racas e generos"—, terao renunciado a sua vocacao "mundana". Isto e, amenos^que^ e ate que se respeite o deslocamento necessarioda cultura, .sem todayia deixar de no's irritarmos com o seu

Jracasso em reconciliar-se com putras^qugigoes importjantesZlcom outras questoes que nao podem nem nuncapoderao ser

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abrangida^r^a^textualidade critica nas suas

^elaboragoes. osTe^cao, contmuarao incompletos. S^voce"ggsa tensSo, podera^rxoctoZiT^furiO_tr^_balho intelectual, rnastera perdida a pratica intelectual. fomojjolitica,. Ofereco-lhes

Tslio~n"Io por acTtaTqu^os estudos culturais devam ser assim,nem porque o Centre conseguiu faze-lo bem, mas simples-mente porque penso que, em geral, isso define os(jstudos^

'c3a]tjajZisIc5mQ_rjiroieu^5 Seja no contexto britanico, seja noamericano, os estudos culturais tern chamado a atencao naoapenas devido ao seu desenvolvimento interno teorico porvezes estonteante, mas por manter^queslQ£S_ppliticas e teoricasrjurnate^ao_,riao-^solS3a^i^e^^ajl£nte. Os estudos culturaispermitem que essas questoes se irritem, se perturbem ese incomodem reciprocamente, sem insistir numa clausura^teorica final. ^

Tenho falado principalmente em termos de historia previa.No entanto, as discussoes em torno da AIDS me lembramfortemente essa tensao. A AIDS e uma das questoes que nosdefronta com a nossa incapacidade, enquanto intelectuaiscriticos, de produzir efeitos reais no mundo em que vivemos.E, mesmo assim, ela tern sido frequentemente representadade formas contra ditorias. Diante da urgencia das pessoas queestao morrendo, qual, em nome de Deus, e o prqposito dos

' T ' ' .̂•O-̂ ^ h^T —. +, . , , _^_^^ -̂̂ ^

estudos culturais? Qual o sentido do estudo das represen-tacoes, se nao oferece resposta a alguem que pergunta se,caso tome a medicacao indicada, ira morrer dois dias depoisou uns meses antes do previsto? Nessas alturas, penso quequalquer pessoa que se envoly^_^ejiajn£at£_nos^esiudo^"cultura^cqmo prltica intelectuarhdeve-senth^ n§_£ele,_suatransilQri_eda_d^^j_5jj^'n^ul?sl^^ o pouco que con-_segue registrar, o pouco que alcangamos mudar ou incentivarj^glgr^^oce nao sente isso como uma tensao no trabafhoquej?roduz e jorque a Ig^Biinifflxgurem' paz. Por outrolado, nao concordo, no final das contas, com a forma como odilema nos tem sido frequentemente apresentado, poisconsiste efetivamente numa questao mais compfexa e deslo-cada do que a mera ocorrencia de mortes la fora. A questaoda AIDS e uma area extremamente importante de luta ede contestacao. Alem das pessoas que sabemos que estaomorrendo, ou que morreram, ou que vao morrer, ha uma

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parcela numerosa de pessoas que estao morrendo, das quaisninguem fala. Como podemos negar que a questao da AIDSesta relacionada com a representacao de certas pessoas emdetrimento de outras? A AIDS e o local onde o avan^o dapolitica sexual esta sendo revertido. E um local no qual naoso pessoas vao morrer, mas tambem o desejo e o prazer, secertas metaforas nao sobreviverem, ou caso sobrevivam deforma errada. A nao ser que operemos dentro dessa tensao,nunca saberemos do que os estudos culturais sao, nao saoou nunca serao capazes; mas igualmente, nao se sabera oque preclsam fazer e o que so os estudos culturais tern acapacidade privilegiada de realizar. Tern que analisar certosaspectoj>jia_jialui£za-constitutiva e politica da propria repre-sentacao, das suas complexidades, dos ereItos~daTihguagem,da textualidade como local de vida e morte. Sao estes ostemas que os estudos culturais podem focar.

Usei este exemplo, nao por ser perfeito, mas especifico,por ter um significado concrete, porque nos desafia na suacomplexidade e, portanto, tern o que ensinar sobre o futuredo trabalho teorico serio. Preserva a natureza essencial dotrabalho intelectual e da reflexao critica, a irredutibilidadedos discernimentos que a teoria pode trazer a pratica poli-tica, discernimentos que nao se alcancam de outra forma.E, ao mesmo tempo, prende-nos a modestia necessaria dateoria, a modestia necessaria dos estudos culturais comoprojeto intelectual.

Queria terminar de duas maneiras. Primeiro, vou abordaro problema da institucionaiizacao 'oTesjudos_cultuf^is~5ritanicos por um lado, e os americanospor ou£r.o..E depois, apoiaTi'do::rrre~imTTiTefafoms do trabalhoteorico que tentejjjtnggr (sem, espero, reivindicar autoridadeou autenticidade, mas, antes, de forma inevitavelmente pole-mica, estrategica e politica), focjj_a_d£fiuiclo possivel docampo

Nao sei o que dizer acerca dos estudos culturais ameri-canos. Fico completamente pasmado com eles. Penso nas lutastravadas, num contexto britanico, para fazer com que osestudos culturais fossem aceitos pela instituisao, para arranjar,com imensa dificuldade e altamente disfarcados, tres ou quatroempregos, comparado com a rapida institucionaiizacao que esta

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ocorrendo nos Estados Unidos. A comparacao nao e ape-nas valida para os estudos culturais. Se pensarem no im-portante trabalho que tern sido feito em materia de histo-ria e teoria ferninistas na Inglaterra e se perguntarem quantasdessas mulheres exerceram ou poderao vir a exercer a ativi-dade de professoras universitarias em tempo integral duran-te suas vidas, comeca-se a compreender o sentido da margi-nalidade. Assim, a enorme explosa(Xjlos-eslu.das culturaisnos Estados Unidos, sua rapida profissionalizacao e institu-cionalizagao, nao constituem um momentoque qualquer umde nos que tentou estabelecer urn^Centro marginalizado numauniversida.de como Birmingham poderia^jimpjesmente, lamen-tar. Contudo, devo dizer, enfaticamente, que me faz lembrar

Ifforma como, na Inglaterra, encaramos sempre a institucio-nalizagao como um momen^^pj^furidamente perigos^~Te-nho dito que os perigos nao constituem lugares^dos qu^is_se (pode^fugir, mas_lugare^^a£a__gjidesevai: Portanto, queria \apenas que soubessem que minha opiniao pessoal e que aexplosao dos estudos cuiturais, juntamente com outras for-mas de teoria critica na academia, representa um momento deperigo extraordinario. Por que? Bern, seria excessivamentevulgar falar de coisas como o numero de empregos e a quan-tidade de dinheiro disponiveis, e da pressao que estes doisfatores exercem sobre as pessoas para que produzam aquiloque julgam ser trabalho politico e intelectual de naturezacritica, enquanto se sentem controlados por questoes decarreira, de publicacao e aftns. Deixem-me, em vez disso,voltar ao aspecto que mencionei anteriormente: a minhasurpresa diante da fluencia teorica dos estudos culturais nosEstados Unidos.

A questao da fluencia teorica constitui uma metafora dificile provocadora, e queria dizer uma palavra sobre isto. Haalgum tempo, oihando para o que so se pode charnar dediluvio desconstrutivo (em oposicao a virada desconstru-tiva) que atingiu os estudos literarios norte-americanos, nasua vertente formalista, tentei distinguir o trabalho teorico eintelectual extremamente importante que esta corrente U'nhapossibilitado nos estudos culturais, da mera repeticao, umtipo de mimica e de ventriloquismo, que passa as vezes porexercicio intelectual serio. O meu medo naquele momento.

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era de que, se os estudos culturais ganhassern uma institucio-nalizacao equivalents, no mesmo contexto americano, iriam,de forma semelhante, formalizar as questoes criticas dopoder, historia e politica ate acabar com elas. Paradoxalmente,o que quero dizer com fluencia teorica e exatamente o oposto.Atualmente nao ha momento algum, nos estudos culturais

^,-aj-nerica nc>s , onde nao se possa, extensiva e interminavel-mente, teorizar o poder — politica, raca, classe e genero,subjugacao, dominacao, exclusao, marginalidade, alteridadeetc. Nao ha praticamente mais nada nos estudos culturais quenao tenha sido teorizado dessa maneira. E ainda persiste aduvida sobre se esta textualizacao esmagadora dos propriosdiscursos dos estudos culturais constitui, por uma razao ououtra, o poder e a politica como questoes exclusivamente detextualidade e de Hnguagem. Isso nao auer dizer que eudeixe de considerar as questoes do(poder e do i£>olitia) como

(jM tendo de estar, e estando, inseridas erirrepresentacoes, quesao semrjigjquestgesdiscursivas. Contudo, haforrnas~"ge^cgns-

Jituir o pc^er comoo grosseiro exercicio e as ligacoes dopocTer e da culturacompletamente privados de significacao. E este o momentoque considero perigoso na institucionalizacao dos estudosculturais no altamente rarefeito, enormemente elaborado ebem-financiado mundo profissional da vida academica norte-americana. Nao tem nada a ver com o fato de que os estudosculturais americanos tentem assemelhar-se aos estudos cul-turais britanicos, causa essa que julgo ser inteiramente falsae vazia. Tenho tentado, especificamente, nao falar do passadocomo uma tentativa de policiar o presente e o future. Masgostaria, finalmente, de extrair da narrativa que construi dopassado algumas diretrizes para o meu proprio trabalho, etalvez para o de voces.

Volto a seriedade tremenda do trabalho intelectual. E um( assunto tremendamente se>io. Volto as distmcoes criticas entre1\o trabalho intelectual e o trabalho academico: sobrepoem-sef

itocam-se, nutrem-se um ao outro, fornecem os meios para sev/fazer um ao outro. Contudo, nao sao a mesma coisa. Volto a

dificuldade de instituir uma pratica cultural e critica genuina,que tenha como objetivo a producao de um tipo de trabalhopolitico-intelectual organico, que nao tente inscrever-se numame ta narrativa englobante de conhecimentos acabados, dentro

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de instituicoes. Volto a teoria e a politica, a politica dateoria. Nao a teoria como vontade de verdade, mas a teoria,

localizadoscomoe conjunturais, que tem de ser djebatidosjde jJ£n_rnodo dialo-"gico. MasTanrtJ^iircorncrpratica que pensa sempre a suatnfervencao num mundo em que faria alguma diferenca, emque surtiria algum efeito. Enfim, uma pratica que entendea necessidade da modestia intelectual. Acredito haver todaa diferenca no mundo entre a compreensao da politica dotrabalho intelectual e a substituicao da politica pelo trabaihointelectual.

[HALL, S. Cultural Studies and its Theoretical Legacies. In:GROSSBERG, Lawrence et al. (Org.). Cultural Studies. NewYork: Routledge, 1992. p. 277-286. Traducao de ClaudiaAlvares, publicada na Revista de Comunicafdo e LinguagensLisboa, Relogio d'Agua, n. 28, out. 2000. Revista e adaptadaao uso brasileiro da lingua portuguesa.]

NOTA

• "Women Take Issue" consiste, em ingles, num trocadilho linguistico tendoum duplo signiflcadp: por um lado, ''issue" significa nurnero ou edicao,insinuando-se assim que as mulheres tomaram posse da publica^ao daquelarevista academica; por outro lado, "j^ake issue" quer dizer discordar, suge-rindo-se desta forma que as intelectuaisreministas introduziram vozesdiscordantes nos cultural studie.s.^N. T.).

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WILLIAMS, R. The Politics of 'Modernism. London: Verso, 1989.

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P A R A A L L O N W H I T EMETAFORAS DE MNSFORMAfJAO

Transgressao. Talvez um dia ela pareca tao decisiva para anossa cultura, tao parte de seu solo quanto a experiencia

da contradi^ao foi no passado para o pensamento dialetico.A transgressao nao busca opor uma coisa a outra ... naotransforma o outro lado do espelho ... em uma extensaorutilante ... sua funfiio e medir a excessiva distancia que

ela inaugura no amago do limite e iracar a Hnhalampejante que faz com que o limite se erga.

(M. FOUCAULT. Prefacio a Transgressao. In:Linguagem, contramemoria, prdtica)

Existem muitos tipos de metaforas pelas quais pensamosa mudanca cultural. Essas metaforas tambem mudam. Aquelasque se apoderam de nossa imaginac.ao e, por algum tempo,governam nosso pensamento acerca dos cenarios e possibili-dades da transformagao cultural cedem lugar as novas meta-foras, que nos fazem pensar essas dificeis questoes emoutros termos. Este ensaio trata de uma mudanga desse tipo,que ocorreu na teoria critica nos ultimos anos.

As metaforas de transformacao devem fazer pelo rnenosduas coisas. Elas nos permitem imaginar o que aconteceriase os valores culturais predominantes fossem questionados etransformados, se as velhas hierarquias sociais fossemderrubadas, se os velhos padr6es e normas desaparecessemou fossem consumidos em um "festival de revoluc.ao", e novossignificados e valores, novas configuracoes socioculturais,comecassem a surgir. Contudo, tais metaforas devem possuir