MERCADOS EMERGENTES: QUÉ MERCADOS DEBERÍAMOS POTENCIAR DE ...
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C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
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2 . 12 . 12 . 12 . 1 M e r c a d o s p ú b l i c o s , g a l e r i a s ,M e r c a d o s p ú b l i c o s , g a l e r i a s ,M e r c a d o s p ú b l i c o s , g a l e r i a s ,M e r c a d o s p ú b l i c o s , g a l e r i a s ,
lojas de departamento e supermercados lojas de departamento e supermercados lojas de departamento e supermercados lojas de departamento e supermercados
No Brasil, a atividade comercial varejista ganhou força nas
décadas finais do século XIX quando a produção industrial começou a
conquistar o mercado nacional. Como observou Vargas,”... o
funcionamento desta atividade varia conforme: a distribuição e
característica da população (densidades, nível de renda, hábitos
de compra, etc); o desenvolvimento dos transportes e comunicações;
as legislações trabalhistas e de regulamentação do uso e ocupação
do solo; as barreiras comerciais legais (protecionismo);
conservadorismo por parte dos interessados; o desenvolvimento
tecnológico; fatores históricos; e, o nível de concentração e
desenvolvimento das demais atividades econômicas”1. No Brasil, a
incorporação de inovações na atividade comercial varejista
aconteceu primeiramente em capitais, como São Paulo, Rio de
Janeiro, Recife e Porto Alegre.
Nesse período, Les Halles Centrales de Paris, com sua
construção em ferro e vidro, constituiu-se em um modelo difundido
internacionalmente, inclusive no Brasil. O mercado público de ferro do
século XIX integrou um conjunto de reformas da cidade, que estava
sendo realizado em várias regiões do país. Tais equipamentos
apareceriam como uma resposta dos sanitaristas às insalubres feiras
livres e ribeiras de peixe dos séculos anteriores. No Recife, por exemplo,
se tem notícias de sanitaristas inconformados com as condições de
1 VARGAS,<A Heliana Comim. Comércio: localização estratégica ou estratégia na localização? Tese de Doutorado. São Paulo, FAU-USP, 1992. p.243.
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higiene da Ribeira de Peixe, instalada em um prédio dotado de
arcadas abertas. Em 1845, o médico Joaquim D'Aquino Fonseca
criticou, em particular, as precárias condições de higiene e o acúmulo
de pobres em seu interior, julgando que “... além da vida devassa que
tem, causão tedio, e revoltão o animo daqueles que veem as nuvens
de moscas, que de continuo vão do peixe ou carne ás chagas, e
destas á carne ou peixe”.2 A intenção dos sanitaristas ia ao encontro
das aspirações de uma emergente burguesia por uma cidade cujas
áreas nobres – inclusive as destinadas ao comércio - estivessem
protegidas do uso em larga escala pelos pobres. A construção de
mercados públicos de ferro no Brasil também foi favorecida pelos
esforços da indústria européia, produtora dos perfis metálicos e outros
componentes construtivos dos edifícios de ferro, para abrir novos
mercados.
O primeiro mercado
público construído em ferro e
vidro no Brasil foi o Mercado de
São José, no Recife. Erguido em
1875 no local onde antes existira
a Ribeira de Peixes, seu projeto
foi norteado por questões
higienistas,
utilizando-se de extensas clarabóias e venezianas, que propiciaram
grande iluminação e ventilação aos seus interiores. A implantação de
torneiras, de piso impermeabilizado e de sistema de esgotos facilitava
a operação regular de limpeza, enfatizando seu caráter higienista. O
projeto era uma cópia quase fiel do projeto do Mercado de Grenelle 2 FONSECA, Joaquim D´aquino, citado por: CORREIA, Telma de Barros. Cidade e consumo. Paper, São Carlos, 2000, p. 2.
1. Mercado de São
José, no Recife.
Fonte: Silva, 1986.
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em Paris, de autoria do arquiteto A. Normand, publicado na revista
Nouvelles Annalles de la Construction em 1869. De acordo com
Geraldo Gomes “ esse mercado compunha-se de um pavilhão com
estrutura de ferro e duas pequenas contruções em alvenaria,
destinadas à administração. O mercado de São José tem dois
pavilhões iguais – com a mesma estrutura do pavilhão de Grenelle –
ligados por uma coberta com estrutura de ferro, diferente da utilizada
nos pavilhões”3. Citando o relatório do engenheiro Vauthier – que
havia sido contratado pela Câmara de Veradores do Recife para
acompanhar a execução das estruturas de ferro na França – o autor
mostra a inspiração no projeto do Mercado de Grenelle e ainda em
alguns elementos dos Halles Centralles de Paris. Segundo Geraldo
Gomes,“ O mercado de Grenelle, reproduzido em 1869 nos Nouvelles
Annales de la Construction e que o autor do projeto parece ter
consultado quando fixou seu plano, nos servio de typo, conquanto
tenhamos aproveitado algumas disposições dos novos pavilhões dos
Halles Centrales e de outros mercados de Paris”4. Vauthier fez algumas
adaptações no projeto, observando a diferença climática entre Recife
e Paris. Entre elas constavam a substituição das telhas de ferro
ondulado previstas no projeto por telhas de barro e de parte das
venezianas previstas em vidro por outras de madeira, utilizadas no
fechamento externo dos vãos.
Depois do pioneiro Mercado
de São José, os mercados públicos
em ferro se difundiram pelo Brasil. Em
Belém, foi erguido o Mercado de
3 SILVA, Geraldo Gomes. Arquitetura do ferro no Brasil. São Paulo, Nobel, 1986, p.141. 4 VAUTHIER, L. L. Trecho do relatório publicado no Diário de Pernambuco de 6 de maio de 1874. Citado por SILVA, Geraldo Gomes, Op. Cit., p. 142.
2. Mercado Ver-o.-
Peso, em Belém.
Fonte: Silva, 1986.
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Ferro, em 1901, que posteriormente
seria conhecido como Mercado Ver-
o- Peso e que se tornou um cartão
postal da cidade.
Em São Paulo, também com estrutura de ferro, foi construído o
Mercado São João, em 1890. Sete anos mais tarde houve uma
proposta de
ampliação do prédio. O novo Mercado São João, seria implantado no
espaço cedido pela demolição do casario que cercava o antigo
mercado. O projeto, assinado pelos arquitetos Heuszler e Dubugras era
suntuoso, dispondo-se em dois pavimentos com planta quadrada com
fachadas de 84,5 metros de lado. A proposta previa uma parceria
entre o poder público e o setor privado: o mercado seria construído
com recursos privados e explorado durante quarenta anos, ao fim dos
quais voltaria ao poder público. Entretanto, após grande polêmica, a
idéia não foi adiante5.
5 SEGAWA, Hugo. Prelúdio da Metrópole. Arquitetura e urbanismo em São Paulo na passagem do século XIX ao XX. São Paulo, Ateliê Editorial, 2000, p.36.
3. Projeto para o Mercado
São João.
Fonte: Segawa, 2000.
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No Rio de Janeiro do início do século XX, sob forte influência das
reformas urbanas de Haussmann, nasceu o maior dos mercados
públicos em ferro do Brasil. Concebida ainda no governo anterior ao
de Pereira Passos, a idéia de se projetar um mercado de grandes
dimensões ,fazendo uso de tecnologia e materiais inovadores,
encontrou forte apoio em Pereira Passos, que iniciou suas obras no ano
de 1903. O projeto era semelhante ao do mercado Ver-o-Peso. Tinha
planta quadrada medindo 150 metros de lado, oito entradas
monumentais, quatro delas encimadas por torres. O mercado carioca
era quase quatro vezes maior que o Mercado de São José, até então
o maior do País. Possuía 12.500m2 de área construída, o que
correspondia, entretanto, a menos da metade dos 30.000m2 de Les
Halles Centrales de Paris. Assim como no caso do Mercado de São
José, também se enfatizava, na época da construção, as suas
condições higiênicas. Segundo artigo do jornal A Notícia: “Todo o
mercado acha-se preparado convenientemente de modo que seus
compartimentos estão providos de gaz, água e esgoto. Em cada
compartimento há um ralo e uma torneira e as águas servidas são
levadas para a canalização da City Improvements” 6. O artigo ainda
faz menção ao moderno frigorífico:“... mandado buscar na Europa é
uma dos mais modernos e aperfeiçoados. Conta quatro camaras para
a conservação de fructas, peixes, aves já preparadas etc.“7.
O Mercado Municipal do Rio de
Janeiro se inseria em um conjunto de
reformas urbanas implementadas pelo
prefeito Pereira Passos (1902 - 1906),
idealizadas nos moldes das reformas
6 A Notícia do Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 1907. Citado por SILVA, Geraldo Gomes, Op. Cit., p. 158. 7 Id. 159.
4. Planta de
cobertura do
Mercado Municipal
do Rio de Janeiro.
Fonte: Silva, 1986.
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urbanas parisienses, visando o controle
sanitário, urbanístico e da circulação,
recorrendo para isso, ao método das
demolições e reconstruções 8.
Simultaneamente aos mercados públicos de ferro, surgiriam as
galerias, uma tipologia comercial voltada aos mais abastados. No
Brasil, as galerias se difundiram nos centros das grandes cidades
sobretudo a partir de meados do século XX. Como observa Hugo
Segawa, fazendo referência ao Mercado São João e à paulistana
Galeria de Cristal, há grandes diferenças de usos entre os dois
equipamentos: “... no novo mercado projetado, percebemos uma
denotação doméstica, isto é, a preocupação de se ampliar um
estabelecimento de utilidade pública local, imediata, em
contrapartida à sofisticada Galeria de Cristal, monumento de
conotações cosmopolitas, envolvendo valores que defendem um
novo status da capital do Estado enriquecido e os valores culturais de
sua elite, status no qual o espírito republicano paulista procuraria
promover e consolidar como padrão de civilidade na provinciana
cidade de São Paulo”9.
A referida Galeria de Cristal, foi o primeiro exemplar desta
tipologia em terras paulistas. Projetada por Jules Martin, buscava atrair
uma classe privilegiada da população que fazia suas compras na rua
XV de Novembro, a mais importante via comercial da cidade na
época.
8 VAZ, Lilian Fessler.Uma história da habitação coletiva no Rio de Janeiro – Estudo da modernidade através da moradia. Tese de Doutorado. São Paulo, FAU-USP, 1994. p. 79. 9 SEGAWA, Hugo. Op. Cit. p. 37.
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Posteriormente, muitas galerias foram construídas em cidades
brasileiras. As galerias proporcionaram o agrupamento de diversos
tipos de comércio, serviço e lazer. Atraíam a clientela das classes mais
abastadas com seus ambientes sofisticados, onde atores sociais como
mendigos e camelôs por exemplo, não tinham acesso. Isso as
diferenciava dos mercados públicos, que eram locais de acesso
menos controlado. Por longo tempo, as galerias permaneceram como
locais de encontro da elite, que privilegiava seus interiores como local
de convívio e comércio. Consagravam os centros de cidade como
locais preferenciais de localização. A decadência de muitas dessas
galerias pode ser associada ao declínio das áreas centrais onde estão
edificadas. “A Galeria Alaska em Copacabana é um exemplo neste
sentido, com sua reputação de lugar boêmio e de má fama. Durante
o dia suas lojas, lanchonetes e barbearias atendem a uma clientela de
classe média. À noite, seu corredor e seus bares, boates e cinema
concentram prostitutas, homossexuais, artistas da noite e boêmios, em
meio a vendedores ambulantes de amendoim e engraxates”10. Em
São Paulo, um dos exemplos nesse sentido é a Galeria do Disco,
10 CORREIA, Telma de Barros, Op. Cit., p. 4.
5. Projeto de Jules
Martin para a Galeria
de Cristal.
Vista interna e fachada.
Fonte: Segawa, 2000.
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situada na Avenida São João. Local sofisticado na década de 1960,
esta galeria entrou em decadência junto com o seu entorno.
As lojas de departamento foram outra novidade das décadas
finais do século XIX, que impuseram mudanças na maneira de se
comercializar os produtos. A especialização por setor, o preço pré-
determinado e exposto, e a atmosfera de entretenimento nos seus
interiores, fizeram delas um sucesso quase instantâneo. A primeira
criada no Brasil foi a “Notre Dame de Paris”, na Rua do Ouvidor, no Rio
de Janeiro, assim descrita por Koseritz : “... cada vitrine corresponde a
uma das dez secções do negócio e contém grande massa de
amostras dos artigos respectivos. Uma vitrine por exemplo, só contém
fazendas, outra, somente calçados, há ainda uma que só expõe
chapéus de senhoras e artigos de moda e assim por diante... É um
negócio gigantesco no qual se encontra tudo o que diz respeito à
especialidade, isto é, a tecidos e objetos de uso para homens e
senhoras (...) Cada secção tem seu chefe, seu segundo e um caixeiro;
a gente faz a compra, recebe a nota e ouve obrigatoriamente
“passez à la caisse s’il vous plait “. No caixa a gente paga, recebe
uma nova nota e mediante a apresentação desta, o chefe da secção
entrega a mercadoria”11. A idéia de Paris como capital mundial da
moda e do bom gosto, difundida entre as elites brasileiras da época, é
apropriada neste empreendimento, do nome da loja à fala dos
vendedores.
Em São Paulo, a Casa Alemã pode
ser considerada a primeira no gênero. Foi
fundada como uma pequena venda de
11 KOSERITZ, Karl Von. Imagens do Brasil, São Paulo, Martins/Edusp, 1972, p. 161.
6. Anúncio do Mapping Stores no
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confecções em 1833 na rua 25 de Março.
Posteriormente, a loja mudou-se para a
ladeira João Alfredo (Ladeira Porto Geral)
e em 1910 para a Rua Direita. Neste último
endereço poderia ser considerada uma
moderna loja de departamentos e seria a
principal concorrente do Mappin durante
algum tempo12.
Este último o mais famoso representante deste equipamento no
Brasil, foi inaugurado em São Paulo, em 1912. Durante boa parte do
século XX, foi o principal ponto comercial da cidade, chegando a
receber em um único fim de semana, cerca de 500.000
consumidores13. O Mappin, na segunda década do século XX se
tornou palco de intensa sociabilidade, como descreve Sevcenko: “A
partir das dezesseis horas, se estabelecia o footing no circuito de lojas
finas do Triângulo, cujo ápice era o chá das cinco nos salões do
Mappin Stores e o refluxo do rush das seis. Nesse horário os homens
deixavam os escritórios e os bancos; as moças de família retornavam
aos lares, dando início à toilette dos eventos noturnos”14.
Havia, portanto, uma inspiração européia na composição dos
espaços urbanos e nos modos de vida dos moradores das classes mais
abastadas da capital paulista. Os resultados deste esforço na busca
de semelhanças com cidades européias chegaram a ser observados
por diversos viajantes estrangeiros em passagem pelo Brasil. George
12 PEIRÃO, Solange e ALVIM, Zuleika. Mappin: 70 anos. Sao Paulo, Casa anglo-brasileira/ Ex-libris, 1987, p. 35. 13 Id. p. 37. 14 SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo, Cia das Letras, 1992, p.51.
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Clemenceau, registraria em seus diários de viagem, na década
de1920, a impressão de que São Paulo seria tão curiosamente
francesa em certos aspectos que, ao longo de uma semana de
viagem, ele não teria tido a sensação de estar fora de seu país. Já o
escritor Paul Adam teve uma impressão diferente, observando através
das cores do sol e do traçado das ruas uma semelhança com Verona
e outras cidades italianas. Outros viajantes, entre os quais Lèvi-Strauss,
que morou na cidade na década de 1930, enfatizaram as enormes
diferenças entre São Paulo e as cidades européias15.
As lojas de departamento ajudaram a impulsionar o comércio
no centro da cidade. Após a década de 1940, quando ocorre a
venda do controle acionário dos sócios ingleses para os brasileiros, o
Mappim, passa a gradativamente a mirar as camadas mais populares,
através da venda de grande variedade de produtos de baixo custo.
Essa estratégia decorreu em grande parte à concorrência que se
estabeleceu após a implantação das Lojas Americanas e das Lojas
Brasileiras, que adotaram com sucesso esse modelo de lojas de
variedades16. Esse modelo, semelhante ao praticado nos Estados
Unidos, era mais descontraído que o grand Magasin europeu, no qual
o Mappin se inspirava. Nele, as classes sociais se misturavam,
ampliando a gama de consumidores. Utilizavam-se também de outras
técnicas importadas dos EUA como a propaganda de preços de
promoção através do jornal, o crédito parcelado e a divisão da loja
em departamentos17.
15 Id. p. 117. 16 FRÚGOLI, Heitor Jr. Centralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na metrópole. São Paulo, Cortez : Editora da Universidade de São Paulo, 2000, p.53. 17 LIMA FILHO, Alberto de Oliveira. Distribuição espacial do comércio varejista da Grande São Paulo. São Paulo, Instituto de Geografia da USP, 1975. Citado por : VARGAS, Heliana Comin, Op. cit., p.248.
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Em São Paulo, até a década de 1940, os principais
equipamentos comerciais, estavam concentrados no centro, que
detinha boa parte dos empregos da cidade. Como consequência
desse grande afluxo de público, o centro passou a sofrer com o
congestionamento de pessoas, dos bondes e dos automóveis. Heliana
Vargas observa, que: “... trabalhadores industriais começaram a
participar do sistema varejista com sua renda disponível, limitada mas
crescente(...). Muitos segmentos da classe média ampliavam seus
horizontes através de pequenas viagens, comprando equipamentos
de esportes de preço não muito elevado e procurando
eletrodomésticos mais simples, tais como ferros elétricos, batedeiras e
rádios. Houve uma expansão também de artigos de vestuário18.
A partir dos sinais de saturação da zona comercial do centro de
São Paulo, desencadeou-se um movimento de descentralização da
localização comercial. Dois processos podem ser vistos como
associados a tal evento. O primeiro deles foi decorrente da expansão
viária promovida pelo Estado, influenciando o surgimento dos
corredores comerciais, principalmente junto às vias radiais do centro.
Esta expansão foi favorecida pela ação do prefeito Francisco Prestes
Maia, que durante um de seus mandatos (1938-1945) implantou parte
do Plano de Avenidas para São Paulo, que havia formulado em 1930.
De acordo com Libâneo, Prestes Maia “...Via no centro três graves
defeitos: era exíguo e incapaz de comportar a vida de uma grande
cidade; de difícil acesso e estava sempre congestionado. Somente
outro centro, em outra localização teria condições de resolver esses
entraves. O perímetro de irradiação abriria vias de expansão e
18 VARGAS, Heliana Comin. Op. Cit., p. 249.
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penetração, convergindo para pontos diferentes do núcleo central. O
novo centro se instalaria para além do Anhangabaú, em direção à
Rua Barão de Itapetininga, São João e Avenida Ipiranga. Caberia ao
poder público executar a tarefa, socializando os custos”19. Nessa
perspectiva, diversas modificações viárias foram implantadas, tais
como o alargamento das ruas Liberdade, Vieira de Carvalho e Xavier
de Toledo, o prolongamento da Avenida São João e a construção de
avenidas conectadas a áreas distintas da cidade a Nove de Julho, a
Consolação, a Rio Branco, a Anhagabaú, a do Estado e a Rangel
Pestana20.
O segundo processo vinculado à expansão de centros
comerciais secundários, se relaciona ao processo de suburbanização
decorrente da implantação dos novos bairros, iniciada ainda nas
primeiras décadas do século XX. Em relação a esse processo, Flávio
Villaça escreve que: “ as burguesias nem sempre procuram o “perto”
em termos de tempo e distância . Às vezes elas se afastam na busca
de grandes lotes e ar puro, por exemplo, mas mesmo quando isso
ocorre há limites para esse afastamento. Nesses casos elas trazem para
perto de si seu comércio, seus serviços e o centro que reúne os
equipamentos de comando da sociedade – e isso não por razões
simbólicas ou de status, mas pela razão muito prática de que elas o
frequentam intensamente e nele exercem muitos de seus empregos. A
pulverização dos centros metropolitanos em metrópoles como São
Paulo, nada mais é do que a manifestação de expedientes das
camadas de mais alta renda para trazer mais próximo delas ( no que
19 LIBÂNEO, M. L. A Invenção Da Cidade De São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, PUC, 1989, p. 43. Citado por: FÚGOLI, Heitor Jr. Op. cit., p. 54. 20 MEYER, Regina Prosperi. O centro da metrópole como projeto. São Paulo, Associação Viva o Centro, 1994. Citado por: FÚGOLI, Heitor Jr.Op. cit., p. 54.
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se refere ao tempo) os equipamentos de controle da sociedade, seus
empregos e seus serviços e ao mesmo tempo produzir centros mais
adaptados a seu meio predominante de locomoção: o automóvel”21.
O processo de descentralização comercial que se manifestava
nas metrópoles brasileiras atingiu a atividade comercial varejista, que
gradativamente se instalava nos novos corredores comerciais. As lojas
de departamento, por exemplo, começaram a inaugurar filiais em
outros locais, mais distantes do centro principal.
A ascensão do uso do automóvel, aliada às remodelações do
sistema viário, favoreceu a difusão de novos modelos
estabelecimentos comerciais. A compra motorizada foi um hábito que
ganhou força na década de 1960, praticamente obrigando muitos
comerciantes a proverem suas lojas de espaços para o
estacionamento do automóvel particular. De acordo com Lima Filho,
nos cinco últimos anos da década de 1960, a indústria nacional de
automóveis atingiu a marca de 1 milhão de unidades produzidas, das
quais boa parte permanecia em São Paulo22. Ainda naquela década,
se agravou o problema de circulação junto ao centro principal de São
Paulo e pela primeira vez os comerciantes começaram a se preocupar
com as facilidades de estacionamento em sua propaganda a
conveniência de locais fora da área central 23.
Os supermercados foram os primeiros a oferecer tais facilidades
a seus clientes. Muitas vezes, foram instalados em grandes áreas,
21 VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo, Nobel 2001, p.329. 22 LIMA FILHO, Alberto de Oliveira. Shopping centers: EUA x Brasil. Uma análise mercadológica comparativa. Rio de Janeiro, FGV, 1971. 23 VARGAS, Heliana Comin. Op. Cit., p. 251.
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especialmente junto a eixos viários de trânsito rápido, onde
preservavam grandes áreas para estacionamento, o que passou a ser
um diferencial em relação às feiras livres, açougues e outros
equipamentos voltados à venda de gêneros alimentícios. Os
consumidores passaram a ver no supermercado uma forma de
economia de tempo, uma vez que se podia encontrar grande
variedade de gêneros alimentícios em um só lugar. À tal facilidade
viria a ser somada a difusão da geladeira, que propiciava o
espaçamento das idas ao supermercado.
Em São Paulo, os
primeiros equipamentos deste
gênero foram inaugurados ainda
no início da década de 1950, mas
podem ser considerados
experiências pioneiras,
enfrentando dificuldades de
aceitação do público, ainda não
acostumado ao sistema de auto-
atendimento24.
Os pioneiros, Supermercado Americano, Sirva-se e Depósito Popular,
funcionavam em edifícios semelhantes a galpões industriais, com
cobertura metálica e decoração despojada, que num primeiro
momento, tanto quanto o sistema self service, deve ter causado
espanto a consumidores acostumados ao ambiente sofisticado das
lojas de departamento. No Rio de Janeiro, o pioneiro foi o
supermercado O Disco, inaugurado em 1953.
24 BRUNA, Gilda Collet. A problemática do dimensionamento de áreas comerciais para uso no planejamento territorial. Tese de Doutorado. São Paulo, FAU-USP, 1972.
7. Supermercado O Disco, no
Rio de Janeiro.
Fonte: Mello e Novais, 1998.
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No Brasil, os supermercados ganhariam força somente na
década de 1960. A grande aceitação deste equipamento se associa
também à sua própria evolução, com a incorporação de técnicas
comerciais como, o sistema self service, a preocupação com a
programação visual interna, a higiene e o aumento na variedade de
produtos comercializados. Muitos supermercados aumentaram seu rol
de produtos ofertados, incluindo - além dos gêneros alimentícios –
roupas, eletrodomésticos e utensílios domésticos, entre outros produtos.
Os hipermercados, ao contrário dos supermercados - que
demoraram a ter aceitação do público -, conquistaram rapidamente
o mercado, se difundindo também por outras capitais de estado e
pelo interior de São Paulo. Há no hipermercado, não só o benefício da
economia de tempo, vital para os moradores da metrópole, mas uma
forte publicidade envolvida, mobilizando rádio, jornais e tv, numa
escala ainda não observada. A isso se associa sua expansão pelo
interior. Segundo Vargas: “O sucesso obtido por esses
estabelecimentos foi tão grande que encorajou o surgimento de
hipermercados como o Jumbo de Santo André com 9500m2 de área
construída e 800 vagas de estacionamento; o Moby Dyck de São
Paulo, com 6000m2 de construção e 1000 vagas de estacionamento e
outros que chegavam a oferecer mais de 50.000 artigos diferentes num
mesmo local”25.
A tipologia destes estabelecimentos se diferencia dos primeiros
galpões destinados aos supermercados. É semelhante à utilizada pelos
americanos em seus hipermercados: grandes caixas com pequenas
aberturas para o exterior, rodeadas de estacionamentos que
25 VARGAS, Heliana Comin. Op. Cit., p. 250.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
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resguardavam interiores decorados e, sobretudo a partir da década
de 1980, climatizados. O hipermercado representou um passo decisivo
em direção à aceitação dos shopping centers no Brasil, com os quais
guardam algumas semelhanças.
2.2 Os Shopping centers no Brasil
O Mercado do Derby, erguido por Delmiro Gouveia no Recife,
pode ser considerado um precursor do shopping center no Brasil.
Tratava-se de um centro comercial com localização suburbana,
reunindo lojas - que vendiam desde alimentos até livros importados - e
atividades de lazer, tudo executado e administrado por um
empreendedor privado, ainda no ano de1899. Telma Correia observa
que em relação ao Mercado de São José, o “Derby dá um passo a
mais no processo de isolamento: afasta-se do centro da cidade,
situando-se em área suburbana e pouco habitada. Este isolamento
espacial tem repercussão imediata na acessibilidade ao Derby, restrita
em grande parte aos que dispunham de transporte próprio ou de
recursos para pagar um transporte coletivo – o bonde - relativamente
caro”26. O empreendimento utilizava-se de farta publicidade, via
impressa, na qual difundia a atividade de fazer compras como uma
aventura deliciosa e divertida. Tal estratégia viria a ser a tônica da
propaganda dos supermercados e shopping centers das décadas
posteriores. O detalhe básico que o diferenciava dos shopping centers
26 CORREIA, Telma de Barros. Pedra: plano e cotidiano operário no sertão. Tese de Doutorado. São Paulo, FAU-USP, 1995, p.325.
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atuais é o fato do Derby não ser direcionado a uma clientela
proprietária de automóvel.
No Brasil, os shopping centers haveriam de surgir e se difundir, a
partir da década de 1960, num contexto de profundas transformações
da sociedade, correlatas à difusão do automóvel e da televisão e à
expansão da industrialização e de uma classe média ávida por
consumo. O fabuloso avanço nos meios de comunicação no século
XX, parece ter sido crucial na formação de um padrão de consumo
de classe média, espelhado na cultura americana, que se firmava no
segundo pós guerra como modelo para o mundo.
No século XIX, as elites européias
– cujo modo de vida era
mundialmente difundido,
especialmente pela literatura -
ditavam o tom. Após a Segunda
Guerra, através, entre outros veículos,
do cinema de Hollywood, os
americanos difundem sua cultura no
planeta, inclusive no Brasil.
Dos grandes musicais, passando
pela
rebeldia de James Dean, pelas mirabolantes peripécias do agente 007
ou do Superman, as platéias sonhavam no cinema, e se identificavam
com os seus personagens. Subjacente, ocultava-se uma eficiente
campanha de marketing, impulsionando a venda de produtos e
principalmente, a difusão de hábitos e costumes, entre os quais o
consumo desenfreado em supermercados e shopping centers.
James Dean em ensaio
fotográfico de Roy Schahtt.
Fonte: www.jamesdean.com.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
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No Brasil, de 1930 até o início dos anos 80, se constitui um modelo
de economia que, embora de forma extremamente excludente,
tentou incorporar padrões de produção e consumo próprios dos países
desenvolvidos. Da indústria do aço, à de combustíveis, passando pelo
setor de energia elétrica, muitos foram os avanços do parque industrial
brasileiro, principalmente, no que diz respeito aos bens de consumo. A
indústria têxtil e a de produtos de beleza, avançaram, seguidas pela
indústria farmacêutica e outros setores.
Junto com estas indústrias,
emergiam novos modos de
consumo. Mello e Novaes relatam
as mudanças ocorridas,
principalmente na vida doméstica
brasileira à partir dos anos 70: “
Chegou o extrato de tomate, a
lata de ervilha, de palmito, de leite
condensado; chegaram novos tipo
de achocolatados, de macarrão
(...), o pão tipo pullman, para fazer
torradas ou sanduíches, agora em
moda. (...) O cigarro com filtro
causou furor entre os fumantes. O
consumo de refrigerantes
multiplicou-se, deslocando os sucos
de fruta: o guaraná, o da
Antarctica preferido ao da
9. Novos produtos e
eletrodomésticos chegam ao
Brasil na década de 1950.
Fonte: Mello e No
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
71
Brahma, a Coca cola, e
finalmente a Pepsi cola”27.
Também houve mudanças nos hábitos de higiene e limpeza, seja
pessoal ou da casa. Na casa, o detergente, a buchinha de plástico, o
sabão em pó e o bombril substituíram os tradicionais recursos de
limpeza. Na higiene pessoal, difunde-se uso da escova de dentes e
outras inovações, descobertas por uma indústria cosmética, que via
na vaidade feminina, seu maior filão. A televisão também participa
ativamente da moldagem desses novos hábitos e formas de consumo.
A telenovela nasce, quase que como
uma extensão dos comerciais das
multinacionais. Segundo Esther
Hamburger: “As convenções de
representação consolidadas no
início dos anos 70, pela Globo
incluem a noção de que cada
novela deveria trazer uma
novidade, algo que a diferenciasse
das anteriores e fosse capaz de
provocar o interesse, o comentário,
o debate dos telespectadores, e o
consumo de produtos a ela
relacionados, como livros, discos,
roupas etc28”.
27 Mello, J. M. Cardoso & NOVAIS, Fernando. Capitalismo tardio e sociedade moderna. In: História da vida privada no Brasil, v.4. São Paulo, Cia das Letras, 1998, p. 561. 28 HAMBURGER, Esther. Diluindo fronteiras: A televisão e as novelas no cotidiano. in: História da vida privada no Brasil, v.4. São Paulo, Cia das Letras, 1998, p. 440.
10. A novela Irmãos
Coragem, com Tarcísio
Meira e Glória Meneses:
Campeã de audiência na
década de 1970.
Fonte: Mello e Novais,
1998.
11. Lima Duarte e Regina
Duarte na novela Roque
Santeiro, nos anos 1980.
Fonte: Mello e Novais,
1998.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
72
Esta aceleração da mudança de hábitos e formas de
consumo, teria um de seus aspectos no surgimento e na proliferação
de shopping centers. O primeiro shopping center no Brasil – o Shopping
Iguatemi - surgiu na década de 1960, quando os EUA contavam com
milhares deles e sua tipologia já havia passado por mudanças
consideráveis.
Quando o Shopping Iguatemi abriu suas portas, em São Paulo,
em 1966, ainda predominava entre os lojistas a crença de que os
produtos deveriam estar expostos para a rua. Era forte a desconfiança
em relação a uma tipologia fechada para o exterior. Além do mais, se
tratava de uma tipologia construtiva difícil de ser apropriada para
outros fins em caso de fracasso do negócio. “Para complicar, sua
localização, na então acanhada rua Iguatemi, era perigosamente
distante de outros centros tradicionais29”. No primeiro projeto, o partido
adotado foi o do shopping aberto, com amplas entradas, preservando
jardins internos e fazendo uso de farta iluminação zenital. Em relação
ao projeto original, na obra “foram substituídos os materiais mais caros
e as soluções mais elaboradas30”. Seu planejamento - feito por uma
firma de engenharia - levou em conta apenas o número de lojas
compatíveis com as necessidades de consumo de seu entorno. O perfil
do se planejamento considerava a clientela localizada a até 20
minutos de viagem do shopping center. Essa população - que
abrangia os bairros Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulista,
Jardim Guedala, Morumbi, Butantã, Pinheiros e Cidade Jardim,
29 PINTAUDI, Silvana (org.). Shopping centers: cultura e modernidade nas cidades brasileiras. São Paulo, Unesp, 1992, p. 25. 30 AFLALO, Roberto. Shopping Center Iguatemi: O retrato da evolução do varejo. in: Projeto. São Paulo, Arco Editorial, n. 119, 1989, p. 87.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
73
representava uma das concentrações populacionais de mais alta
renda do Brasil31.
Dessa constatação, decorre a de que a maioria dos consumidores
possuía automóveis. Eram esses mesmos consumidores que elegiam a
então sofisticada Rua Augusta, que tinha se destacado também pela
comodidade de estacionamentos em frente às lojas e que começava,
em 1966, a sentir os efeitos maléficos do congestionamento. Nesse
sentido, o Shopping Iguatemi passou a concorrer diretamente com a
região da Augusta, que levava nítida desvantagem no quesito
estacionamento. Lima Filho observa que o sucesso do Iguatemi foi
quase instantâneo, tornando insuficiente as 500 vagas de
estacionamentos oferecidas inicialmente pelo estabelecimento.
Posteriormente, o sucesso do empreendimento, funcionou como
um incentivo para que outros shoppings se instalassem. Na década de
1970, a expansão ocorre ainda de maneira tímida. No final desta
década havia apenas 6 shoppings instalados no Brasil. O boom viria
31 LIMA FILHO, Albero de Oliveira. Op. cit., p. 93.
12. O Shopping Center
Iguatemi, no ano de sua
inauguração.
Fonte: Projeto n. 119 – 1989.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
74
na década de 1980, ao final da qual se chegaria a quase uma
centena de shopping centers implantados. Nesta década, a
expansão avança no sentido do interior do estado de São Paulo e das
capitais dos demais estados. A tipologia neste momento é
monumental, com interiores ricamente ornamentados. Amplos e áridos
estacionamentos envolvem blocos dotados de cegas empenas”32.
Este é o caso do Park Shopping em Brasília e do Ribeirão Shopping, em
Ribeirão Preto, inaugurados no início da década de 1980. Eram
grandes caixas implantadas em meio a um estacionamento. Seus
interiores renunciavam além do contato com o meio urbano, também
à luz natural. José Vital Monteiro considera que este procedimento era
adotado para que o consumidor realmente perdesse a noção de
tempo, “entrasse mesmo em uma outra dimensão”, protegido das
intempéries, da violência urbana e mesmo das preocupações com
horários33. Estes shoppings foram implantados após acuradas análises
quanto à localização, acessibilidade, “mix” e área de influência. Em
sua tese de livre docência, Gilda Collet Bruna cita o material
promocional de vendas do Ribeirão Shopping divulgado pela
Embraplan (empresa responsável pelo seu planejamento), que o
coloca como o “mais moderno centro de compras do interior” e um
dos primeiros a merecer atenção especial à etapa de
planejamento34.
A década de 1980 se caracterizou pela consolidação dos
shopping centers no Brasil. No final da década, de acordo com a
32 SEGAWA, Hugo. Os arquitetos e os shoping centers. In: Projeto. São Paulo, Arco Editorial n. 119, 1989, p. 84. 33 MONTEIRO, José Vital. Shopping center Iguatemi: O retrato da evolução do varejo. In: Projeto. São Paulo, Arco Editorial n. 119, 1989, p. 87. 34 BRUNA, Gilda Collet. Processo de dimensionamento de áreas comerciais. São Paulo, Pini, 1982, p. 29.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
75
ABRASCE, existiam no país, 80 shopping centers implantados
principalmente nas capitais e no interior do estado de São Paulo. Até
então, a preocupação dos empreendedores era garantir uma
localização que atingisse as camadas populacionais de alta renda.
Daí a grande quantidade de shopping centers instalados no interior do
estado de São Paulo, que respondia, em 1991, por 50% do PIB estadual
e pela segunda maior arrecadação de impostos do país35. O
planejamento de grande parte dos shopping centers implantados na
década de 1980 se apoiava na busca por uma localização ideal, junto
às camadas populacionais de alta renda e facilmente acessível, na
busca por lojas “âncoras” de grande atração de público (como as
lojas de departamento e os magazines) e na composição ideal das
lojas “satélite”. Neste momento, também se levava em conta na
análise do local, a proximidade de outros centros e as possibilidades
de concorrência futura. O projeto arquitetônico cuidava da “perfeita”
localização das lojas “satélites” e “âncoras”. Desta localização - que
visava à otimização da circulação dos consumidores – nascia o “mall”
de compras e deste conjunto, derivava o tratamento volumétrico do
edifício. Esta “caixa” em alguns casos era implantada em regiões
adensadas, gerando um áspero diálogo com o meio urbano. Podem
ser citados como exemplo desta tipologia, os shopping centers
Eldorado, Morumbi e Ibirapuera, em São Paulo.
Embora existam alguns
trabalhos que ainda na década de
1970 consagravam-se à
problemática da relação dos
shopping centers com a estrutura
35 VARGAS, Heliana Comin. Op. cit., p. 264.
Shopping Center Eldorado.
Fonte: Shopping Center Book,
1998.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
76
urbana, foi somente no final da
década de 1980 que o debate se
intensificou no país. No final dessa
década, a revista Projeto promoveu
um debate entre alguns arquitetos
especializados na elaboração de
projetos de shopping centers. A
discussão envolvia a polêmica em
torno da inserção dos shopping
centers no tecido urbano. Segundo
alguns destes projetistas, o conflito
deriva do fato da maioria dos
shopping centers brasileiros se
espelharem nos grandes shopping
centers regionais norte-americanos,
que eram instalados em regiões
periféricas. No caso brasileiro, o
modelo era implantado em
ambiente diverso.
Segundo Argos Seleme, ao contrário da tendência americana,
grande parte dos shopping centers no Brasil se localiza em meio a
áreas previamente adensadas, merecendo um maior cuidado na
relação do
empreendimento com o meio
urbano. Ainda segundo o
arquiteto, o partido adotado no
Brasil seguia o padrão norte-
americano das décadas de
1950 e 1960, onde se enfatizava
15. Detalhe externo do shopping
Iguatemi, no Rio de Janeiro.
Fonte: Shopping Center Book,
1998.
15. Detalhe da fachada do
Shopping Center Iguatemi,
no Rio de Janeiro.
Fonte: Shopping Center
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
77
a disposição do “mall” em
relação às lojas em detrimento
do estudo dos arranjos
volumétricos exteriores36. Este
descuido na relação entre o
equipamento e o meio urbano
foi registrado pela revista
Projeto: “Há algum tempo, um
arquiteto de
outro país circulando por aqui, disse que alguns dos shopping centers
implantados em São Paulo poderiam ser comparados a objetos
voadores não identificados”37. Nesse período, os próprios arquitetos
projetistas de shopping centers reconheciam a hegemonia do modelo
em relação ao trabalho criativo do arquiteto, como observa Cláudio
Paneque, outro arquiteto especialista em shopping centers: “Se o
arquiteto seguir o programa à risca, faz seu trabalho. Mas está óbvio
que não se vai encontrar, nesse tipo de edifício, uma linguagem
arquitetônica paulistana, carioca ou italiana, ou seja o que for. O
modelo é norte-americano e o conceito é claro: proporcionar
conforto ao consumidor, oferecendo-lhe ambiente agradável e clima
correspondente”38.
Surgem também a partir da
década de 1980, os shopping
centers voltados à outras classes
36 Criatividade tenta ir além do modelo proposto. in: Projeto. São Paulo, Arco Editorial, n.129, 1990, pp. 65-68. 37 Id., p.67. 38 Id., p. 66.
Shopping Center
Interlagos.
Fonte: Arquivo
Novoshopping, 2002.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
78
populacionais, de renda um pouco
mais baixa, como o shopping
Center Norte e o Interlagos
(inaugurados na década de 1980)
e o Aricanduva (inaugurado no
início da década de 1990). O
Center Norte situava-se distante
das zonas residenciais da classe
alta. Implantado junto ao metrô,
favoreceu o acesso a seus
interiores de consumidores de
renda mais baixa (classes B e C).
Adotou slogans de penetração
popular como “um shopping para
todos”, próximo a
vias de transporte coletivo39. Além disso, utilizou amplamente
elementos que simulam espaços urbanos tradicionais, como as praças,
quiosques, bancos, floreiras, etc.
Nos início da década de 1990, alguns setores demonstraram a
desconfiança de que o mercado estava saturado, não havendo
espaço para novos empreendimentos. Acreditava-se que um
shopping center para sobreviver, necessitaria de uma população em
seu entorno de 1 milhão de habitantes. Na virada da década havia
doze shopping centers regionais instalados na cidade de São Paulo,
sugerindo que o mercado estava atingindo seus limites40.
39 FRÚGOLI, Heitor Jr. Shopping centers: um olhar antropológico. In: Projeto. São Paulo, Arco Editorial, n. 137, 1990, p.52. 40 Construtores usam capital próprio e se associam a fundos. Estado de São Paulo. São Paulo, 22/08/1991.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
79
Face à concorrência que se intensificava, os shopping centers
passaram por uma fase de adaptação ao mercado, na qual, com
frequência adotaram procedimentos como: especialização em
seguimentos; mudanças constantemente na decoração e nas
promoções; intensificação das campanhas de marketing;
oferecimento de transporte gratuito aos consumidores, etc. Nesta
década, segundo Heliana Vargas, diminuem os vínculos com o
território41. Se na década de 1980 praticamente não se implantava
mais de um shopping dentro do mesmo raio da atração, na década
seguinte isso ocorre com frequência, principalmente nos grandes
centros como São Paulo, onde se chega ao extremo de se ter um
shopping em frente ao outro (como é o caso do Shopping Morumbi e
do Market Place). Estes empreendimentos dificilmente sobreviveriam se
oferecessem os mesmos produtos e serviços. Ainda assim, a
concorrência se intensificou, justificando a adoção de medidas como
a especialização por setor, a oferta de variado número de serviços e
tipos de entretenimento, etc.
A década de 1990 também foi marcada pela expansão dos
shopping centers de vizinhança, raros nos anos oitenta. Alguns deles
chegaram a se instalar em áreas centrais, incorporando-se a planos de
revitalização desses locais, como é o caso do Shopping Light, em São
Paulo, instalado no edifício Alexandre Mackenzie, projetado em 1929
pelo escritório de Ramos de Azevedo para abrigar o prédio da antiga
Light. Localizado às margens do Viaduto do Chá e defronte ao Teatro
Municipal, situa-se em um ponto onde circulam diariamente mais de 1
milhão de pessoas. Seu projeto, suscitou grande polêmica sobre a
41 VARGAS, Heliana Comin. Op. Cit.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
80
preservação do patrimônio histórico como o que se observou na
revista Projeto42. Apesar da
polêmica, o Shopping Light foi
inaugurado em 1999, após
estudos de restauro que
viabilizaram a implantação de
um shopping center em um
edifício tombado pelo
Condephat. Projeto semelhante
foi desenvolvido em Curitiba na
implantação do Shopping
Curitiba, que se implantou no
edifício de um antigo quartel do
século XVII. Seu projeto conciliou
as formas originais do edifício
histórico com a construção de
um novo edifício anexo. Neste
sentido também pode ser citado
o Pátio Shopping, implantado no
bairro paulistano de Higienópolis.
O empreendimento preservou
dois antigos casarões do bairro,
que foram incorporados ao
novo edifício43.
Outro ponto marcante da década de 1990, foram as constantes
reformas sofridas pelos shopping centers que haviam se implantado
nas décadas anteriores. Tais reformas, quase sempre privilegiaram - 42 Patrimônio da cidade pode virar shopping center. in: Projeto. São Paulo, Arco editorial, n. 137, 1990. 43 O Empreiteiro. São Paulo, n. 373, dezembro de 1999, p. 33.
19. Shopping Center Light. Fonte:
www.saopaulocentro.com.br/light.
18. Shopping Center
Curitiba: preservação
do patrimônio histórico.
Fonte: Shopping Center
Book, 1998.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
81
além da constante troca dos elementos decorativos – a iluminação
natural e a presença de vegetação em seus interiores, numa tentativa
de superar a imagem artificial de seus ambientes.
As reformas também reafirmavam
a potencialidade dos negócios,
uma vez que quase sempre
estavam associadas à expansão
do número de lojas e serviços. Entre
essas reformas, destaca-se a
polêmica reforma sofrida pelo
Shopping Iguatemi de São Paulo,
em 1989. Os autores do projeto
original, os arquitetos Gian Carlo
Gasperini e Roberto Aflalo,
protestaram contra a
descaracterização sofrida por seu
projeto. Para eles, o projeto
original,
prevendo futuras ampliações,
“tinha um grande componente
modular em seu interior e que se
refletia na fachada, feita com
uma estrutura de painéis. Nada
disso foi seguido e o resultado
sugere uma união mal resolvida de
vários elementos”44. O autor das
reformas, o arquiteto Júlio
44 A polêmica reforma do Iguatemi. In: Projeto. São Paulo, Arco Editorial n. 119, 1989, p. 92.
21. Vista interna do Shopping
Center Iguatemi.
Fonte: www.iguatemi.com.br.
20. O Shopping Center
Iguatemi após sua
polêmica reforma de 1989:
Fonte: www.iguatemi.com.br
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
82
Neves, defendeu-se, alegando que a arquitetura de shopping centers
é dinâmica e, portanto, sujeita a constantes alterações, que levem em
conta os anseios dos consumidores. “... os frequentadores desejam um
centro de compras colorido, vivo, dinâmico e rico, e a arquitetura
precisa levar em conta essa preferência, procurando transformar o
shopping em atração. Nossa intenção é retratar na fachada um
pouco da festa que ocorre lá dentro”45.
Houve também uma tentativa
de incorporar aos novos projetos e às
reformas dos espaços dos shopping
centers o conceito de shopping
aberto, com o “mall” integrado à
ambientes externos, que
normalmente possuíam farta
vegetação, cascatas, lagos e praças
a céu aberto. Tal tendência visou
amenizar a artificialidade dos
espaços interiores dos shopping
centers. Um exemplo desta tendência
pode ser identificado no Galleria
Shopping em Campinas, inaugurado
em 1992. Seu “mall” é aberto,
estruturando-se em volta de um
grande pátio em dois níveis, os quais
são ornamentado por quedas
d’água, lagos e plantas. Esse
modelo,
45 NEVES, Júlio. in: Projeto. São Paulo, Arco Editorial n. 119, 1989, p. 92.
22. Galleria
Shopping, em
Campinas: Opção
pela abertura ao
exterior.
Fonte: Shopping
Center Book, 1998.
23. Shopping
Center Praia de
Belas. Fonte:
Shopping Center
Book, 1998.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
83
no entanto, gerou algumas controvérsias, principalmente com relação
ao clima. Para alguns especialistas, os shopping centers no Brasil
deveriam ser totalmente climatizados, buscando a integração com o
exterior através da utilização de farta iluminação natural. Este é o caso
do Shopping Center Praia de Belas, inaugurado em 1991. Seus
projetistas, do Escritório Técnico Júlio Neves, explicam que: “em países
quentes como o Brasil, às vezes a solução é fingir que eles são abertos.
E isso é conseguido através de efeitos de boa iluminação. Isto é o Praia
de Belas: fechado mas dotado de muita luz natural”46.
Na década de 1990 as inovações no “mix” direcionaram-se
sobretudo, aos serviços e entretenimentos. Anteriormente as âncoras
dos shoppings eram (e em alguns casos ainda são) as lojas de
departamento, as quais, entretanto passaram a ter dificuldades,
principalmente devido à concorrência com os hipermercados. Marco
desta tendência foi o fechamento do Mappin, depois de mais de 80
anos de existência. Neste sentido, houve uma mudança no padrão de
“ancoragem” dos shoppings centers. Estes passaram a contar com
cinemas “multiplex”, várias praças de alimentação e serviços diversos
como agências bancárias, academias de ginástica e até escolas.
Estas novas atividades implantadas nos shopping centers, geraram
efeitos imprevistos: interiores repletos de não consumidores. Tal questão
tem despertado a atenção de administradores de shopping centers,
os quais passaram a debater estratégias para converter estes usuários
em consumidores efetivos. Esta é um questão delicada, afirma Celso
Abramovitz, diretor do grupo Multiplan. “Você pode ter num shopping
center um público destinado a fazer compras e outro público que só
quer passear. O custo desse que só quer passear é estar ocupando
46 Shopping Center Praia de Belas. in: Projeto, São Paulo, Arco Editorial n. 149, 1991, p. 65.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
84
espaço do outro que iria comprar”47. Esta questão fica mais evidente
quando se observa que os não consumidores ocupam vagas de
estacionamento que teoricamente estariam servindo aos
consumidores. Segundo Abramovitz, “a grande maioria dos shopping
centers brasileiros não tem mais como crescer por falta de
estacionamento. E o consumidor vai embora se não encontra vaga
para estacionar”48.
Ao contrário das discussões em pauta na década de 1980, que
se centravam nas estratégias para atração de público, no início da
década de 2000, o debate dos planejadores e administradores de
shopping centers se voltou para a qualificação dos frequentadores de
shopping centers. Para a quantificação do fenômeno “não
consumidores”, importou-se um termo (mais um) dos EUA, o chamado
Ticket médio, que afere o valor médio gasto por cada consumidor em
um determinado período de tempo. Por esse parâmetro, pode-se
avaliar a “qualidade” dos frequentadores de determinado shopping
center, pois o ticket médio é aferido dividindo-se o valor das vendas
globais do shopping pelo fluxo mensal de consumidores. Para os
administradores, quanto maior esse número, maior a “qualidade” dos
frequentadores do shopping center aferido. Até agora, uma das
possíveis estratégias na busca de frequentadores “qualificados” é a
segmentação e o agrupamento dentro do shopping de lojas com
produtos semelhantes. A explicação para essa estratégia, segundo
Henrique Falzoni, presidente da Sonae Enplanta é a diminuição no
número de horas que os consumidores tem passado dentro dos
shopping centers. Citando pesquisas norte-americanas, afirma que
47 ABRAMOVITZ, Celso. Gente que Gasta. in: Shopping Centers. ABRASCE, ano 24, n.111, novembro 2000, p.19. 48 Id.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
85
esse número caiu de 12 horas semanais na década de 1980, para
apenas 4 horas no final da década de 199049. Outra argumentação
possível é a concorrência com o comércio eletrônico, que é
essencialmente agrupado por setores, podendo levar o consumidor a
buscar espaços não virtuais com as mesmas características de
praticidade.
Uma primeira cristalização desta nova tendência - que é vista
com desconfiança por alguns especialistas por tender a diminuir a
compra por impulso, que sempre fez parte das estratégias dos
shopping centers – aparece no projeto para o Shopping Parque Dom
Pedro, em Campinas que deverá ser o maior shopping center da
América Latina, com 162 mil metros quadrados de área construída e
105 mil metros quadrados de área bruta locável. O projeto deste
mega empreendimento prevê a setorização das lojas em oito setores
distintos: moda, esporte, cultura, artigos para casa, serviços e
entretenimento. Tais setores serão claramente demarcados na
fachada, possibilitando o rápido acesso do consumidor ao setor
desejado. Além da setorização, uma outra tendência cristalizada no
projeto do Shopping Parque Dom Pedro é a integração entre exterior e
interiores a exemplo do que já ocorrera com o Galleria Shopping,
também em Campinas e com o Bluwater, em Londres.
Trata-se de um “shopping temático”,
que tem na natureza sua marca. As
cinco entradas do edifício, são
demarcadas por temas como: águas,
49 FALZONI, Henrique. Lojas agrupadas por segmento. in: Shopping Centers. ABRASCE, ano 24, n.111, novembro 2000, p.13. 50 Correio Popular, Campinas, 1 de Abril de 2001, p. 8.
24. Vista aérea das obras do
Shopping Parque Dom Pedro. Fonte:
www.parquedompedro.hpg.ig.com.br
25. Detalhe dos ícones que
sinalizarão a “entrada das
águas” e das “montanhas” no
Shopping Parque Dom Pedro.
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
86
pedras, árvores, montanhas e flores. A
entrada das águas por exemplo, terá
fontes e riachos que correrão para
dentro do edifício, descendo em
forma de cascata pelas laterais da
escadaria de acesso à praça de
alimentação, onde formará espelhos
d’água50. Procedimentos
semelhantes serão adotados também
nas outras entradas, onde o esforço
dos empreendedores
em vincular sua imagem com a preocupação ambiental se torna
visível. O Parque Dom Pedro deverá ter também um equipamento
inusitado, uma capela dedicada a São Francisco, conhecido como
padroeiro dos animais. Mais um reforço na tentativa de associação da
imagem do Shopping como ambiente natural.
Shopping centers no Brasil: situação em março de 2002 I t e n s Total
Número de Shoppings 240 Operação 219 Construção 21
Área bruta locável (m2) 5.441.901 Área dos terrenos (m2) 13.816.046 Área construída (m2) 12.611.021 Vagas para carros 385.000
Lojas satélite 35.866 Lojas âncora 679 Cinemas 943
Empregos gerados (mil pessoas/mês) 419.000 Faturamento (R$ Bi) em 2000 23,0
Percentual de vendas em relação ao 15%
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
87
varejo nacional (excluído setor automotivo)
Fonte: – Associação Brasileira de Shopping Centers. www.abrasce.com.br, março de 2002.
Participação da ABL e empregos em cada estado
U F
Nº de Shoppings ABL (m2) Nº de empregos
AL 1 33.767 2.597 AM 1 29.894 2.300 BA 7 173.477 13.344 CE 4 87.668 6.744 DF 12 253.403 19.492 ES 3 53.197 4.092 GO 6 113.366 8.720 MA 2 28.094 2.161 MG 19 361.337 27.795 MS 1 53.973 4.152 PA 2 56.669 4.359 PB 3 42.554 3.273 PE 7 198.393 15.261 PI 1 21.080 1.622 PR 11 195.680 15.052 RJ 38 784.803 60.369 RN 3 28.093 2.161 RS 19 332.363 25.566 SC 8 123.436 9.495 SE 2 46.020 3.540 SP 90 2.424.634 186.905
TOTAL 240 5.441.901 419.000 Fonte: – Associação Brasileira de Shopping Centers. www.abrasce.com.br, março de 2002.
P a r t i c i p a ç ã o d e c a d a r e g i ã o n o t o t a l . R e g i õ e s
Nº de Shoppings ABL (m2) Nº de lojas Nº de
empregos Norte 3 86.563 459 6.650
Nordeste 30 659.146 4.858 50.700 Centro-oeste 19 420.742 2.929 32.300 Sudeste 150 3.623.971 23.910 278.700 Sul 38 651.479 4.389 50.500
Arquitetura do comércio varejista em Ribeirão Preto a emergência e expansão dos shopping centers
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Total 240 5.441.901 36.545 419.000 Fonte: – Associação Brasileira de Shopping Centers. www.abrasce.com.br, março de 2002.
Em março de 2002, havia 219 shopping centers em operação
no Brasil e 21 em construção. O número de shopping centers existentes
no país e a rápida difusão destes equipamentos nas últimas duas
décadas, evidenciam o enorme sucesso do modelo. Os motivos deste
sucesso podem ser buscados em algumas semelhanças entre a
sociedade brasileira e a do país onde os shopping centers foram
gerados e se difundiram com maior intensidade, os Estados Unidos.
Uma dessas semelhanças situa-se no caráter excludente dessas
sociedades, nas quais desigualdades sociais são correlatas a processos
de segregação social no espaço urbano. A proliferação de
“micrópoles” cercadas e protegidas – como os condomínios
residenciais e os shopping centers – é uma das resultantes destes
modelos de sociedade. Outra semelhança entre as sociedades
brasileira e americana pode ser vista – conforme já foi observado por
Lévi-Strauss na década de 1930 – na ânsia de renovação das
cidades51. Esta ânsia de renovação, que determina uma reconstrução
constante do espaço urbano, revela um desprezo pelos marcos
arquitetônicos do passado, que justifica os movimentos de setores das
elites – moradores, comerciantes e prestadores de serviço – do centro
para novas localizações na cidade. Esta ânsia de renovação também
explica a facilidade de adesão a novidades, tanto nas formas de
comércio, quanto nos espaços a eles reservados. O próprio movimento
constante no sentido de ampliação e reformas de shopping centers no
Brasil, é solidário com este gosto pela renovação.
51 LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
C a p í t u l o 2 O shopping center no Brasil
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