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    Educao & Realidade

    ISSN: 0100-3143

    [email protected]

    Universidade Federal do Rio Grande do

    Sul

    Brasil

    Pereira Laranjeira, Denise Helena; Figueiredo Santos Iriart, Mirela; Santos Rodrigues,

    Milena

    Problematizando as Transies Juvenis na Sada do Ensino Mdio

    Educao & Realidade, vol. 41, nm. 1, enero-marzo, 2016, pp. 117-133

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Porto Alegre, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=317243259006

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    Educao & Realidade, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 117-133, jan./mar. 2016.http://dx.doi.org/10.1590/2175-623656124

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    Problematizando as TransiesJuvenis na Sada do Ensino Mdio

    Denise Helena Pereira LaranjeiraI

    Mirela Figueiredo Santos Iriart I

    Milena Santos RodriguesI

    IUniversidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana/BA Brasil

    RESUMO Problematizando as Transies Juvenis na Sada do EnsinoMdio.Este ensaio discute as transies juvenis em tempos incertos. A cri-se de sentidos de algumas agncias socializadoras, entre elas a escola, emseu potencial de garantir s geraes mais novas uma transio para a vida

    adulta, interpela educadores e gestores sobre a necessidade de reconhece-rem a posio das novas geraes nas transformaes sociais. Traremospara o debate alguns dos resultados de uma pesquisa real izada com jovensdo campo concluintes do ensino mdio e algumas categorias analticas quedemarcam as reas de estudos sobre juventude, como culturas juvenis esociabilidades. signif icativo reconhecer que o papel da escola na inserosociocultural e profissional do jovem est por acontecer.Palavras-chave: Transies Juvenis. Culturas. Sociabilidades. Ensino M-dio.

    ABSTR ACT Problemati zing Youth Transitions at the Completion of Sec-ondary Education. This essay discusses the youth transitions in times ofincertitude. The crisis of meanings of some socializing institutions, beingthe school one of them, in their potential of guaranteeing to the youngest

    generations a transition towards adult life, questions educators and man-agers about the need to recognize the position of new generations in socialtransformations. We will bring into debate some of the results of a researchcarried out with young people living in rural regions, completing the sec-ondary education, and some analytical categories that define the studyfield about youth, such as youth cultures and sociability. It is significant torecognize that the role of the school in the socio-cultural and professionalinsertion of the youth is still far from coming into reality.Keywords:Youth Transitions. Cultures. Sociability. Secondary Education.

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    Problematizando as Transies Juvenis na Sada do Ensino Mdio

    Introduo

    Com este ensaio terico discutiremos a relao entre as sociabili-dades juvenis e as estratgias de insero social numa sociedade cujasinstituies tradicionais, sobretudo a escola e a famlia, vivenciam li-mites para oferecer ancoragens s transies juvenis. As transiesjuvenis demarcam momentos de ruptura e reconstruo de novos sig-nificados, papeis sociais e posies identitrias, a exemplo da sada doensino mdio e os processos de migrao do campo para a cidade (oudo distrito para a sede do municpio). Tais rupturas exigem a negocia-o de valores, sentidos e crenas na relao entre a tradio familiaragrcola e as novas formas de socializao como mostraremos atravs

    de algumas narrativas de jovens em contexto rural.Compreendemos que as distintas etapas da vida, do ponto de vis-

    ta biopsquico e social no so lineares, nem fixas, e sim descontnuase complexas. Ou seja, entendemos tais etapas como ciclos de vida queno se encerram em si mesmos, mas so demarcados por elementos deordem social, ideolgica, cultural e poltica que delimitam tempos e es-paos juvenis, como as condies social e geracional.

    Em uma sociedade em mudana, marcada, paradoxalmente, porgrandes avanos tecnolgicos, comunicacionais, econmicos e socio-culturais, e, ao mesmo tempo, por acentuadas desigualdades, sobretu-do educacionais, intra e inter-regionais, os jovens tm enormes desafiosa enfrentar no delineamento dos seus projetos de vida. No plano hist-rico e da realidade objetiva, tratando-se da sociedade brasileira, temosuma distncia ainda enorme a percorrer para atingirmos um Estado dedireitos assegurado a todos os cidados no que toca, sobretudo, s po-lticas sociais pblicas, na melhoria da qualidade de vida e equidadesocial.

    Com relao s polticas para a juventude, podemos enunciaralgumas conquistas resultado da fora dos movimentos sociais nosltimos 10 anos a exemplo da emenda constitucional (n. 65/2010, quealtera o artigo 227 da Constituio) assegurando os direitos nas distin-tas esferas como sade, educao, profissionalizao, cultura, seguran-a, etc. O mencionado artigo reconhece o Estatuto da Juventude (Lei n.12.852/2013) com a finalidade de regular os direitos dos jovens, comotambm o Plano Nacional da Juventude, com durao de dez anos. que

    tem por fim a articulao das vrias esferas do poder pblico paraexecuo de polticas pblicas. O Estatuto da Juventude amplia a fai-xa etria deste segmento compreendido entre 15 e 29 anos e apresentauma agenda de prioridades para garantir a integrao social dos jovens,como um ator social importante na dinmica social1.

    Observamos uma crise de sentidos no papel de algumas agnciassocializadoras tradicionais, como por exemplo, a escola em integrar asnovas geraes no plano poltico e social, em uma sociedade, como abrasileira, marcada entre outros fatores, por fortes desigualdades so-

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    ciais, raciais, de orientao sexual e de gnero. Conjugado ainda, fra-gilidade dos laos sociais e de filiao intergeracional 2, este estado decoisas, interpela educadores e pesquisadores sobre a necessidade de re-conhecermos a posio das novas geraes como potenciais autores nadinamizao cultural e nas transformaes sociais. Diante do contextosociopoltico, em sua dimenso pblica, os jovens tm potencial paraexercer protagonismo, a exemplo dos movimentos culturais de perife-ria, ou ainda dos movimentos coletivos organizados, na reivindicaode direitos sociais e polticos, em seus diferentes territrios.

    Vale mencionar, no entanto, que os jovens no costumam ter suasexperincias de sociabilidade reconhecidas, muitas vezes, nos espaosescolares. Nossas investigaes confirmam tal fato. preciso conside-

    rar as experincias dos jovens, originrias de seus contextos singularesde vida, carregadas de sentido no presente e em seu vir a ser, como cam-po de possibilidades, articulando-as s estruturas de oportunidade e smediaes sociais seja pela relao escola, famlia e comunidade, sejapela participao estudantil, ocupao de espaos polticos ou atravsdas culturas juvenis, como discutiremos mais adiante.

    Neste sentido, categorias analticas como culturas juvenis3e so-ciabilidades, vm dinamizando o campo de estudos sobre juventude, aoproporem no dicotomizar a relao entre sujeito, cultura e instituiessociais e considerarem os/as jovens em seu potencial de apropriao etransformao dos elementos da cultura hegemnica, instituindo-os denovas possibilidades de insero social.

    Os Processos de Socializao e de Transmisso Culturalno Contemporneo

    Ao tomarmos a juventude como categoria social, admitimos a suaposio na ordenao da sociedade, no como mera passagem para avida adulta, mas como grupo que tensiona os espaos sociais e gera-cionais, numa conjuntura em que as formas de participao, os cen-rios polticos, a organizao do trabalho se transformam rapidamente.Acompanhando o pensamento de Martuccel li (2007, p. 10) necess-rio nesse cenrio, reconhecer as diferentes experincias vividas pelos/as jovens, Progressivamente se impe a necessidade de reconhecer asingularizao crescente das trajetrias pessoais [...], em que os sujei-

    tos produzem respostas aos desafios de toda ordem, com os quais sedefrontam em seu cotidiano, construindo suas biografias na interaocom as contingncias scio-histricas que as delineiam.

    Os processos de socializao no passado, como nos atualiza Me-lucci (1997, p. 5-6) eram compreendidos como [...] transmisso bsi-ca de regras e valores da sociedade[...], na atualidade, tais processosse apresentam como [...] possibilidade de redefinio e inveno dascapacidades formais de aprendizado, habilidades cognitivas, criativi-dade.

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    Embora analisando o movimento estudantil no contexto das re-belies juvenis do final da dcada de 60, a obra de Foracchi (1972) temgrande atualidade. A formao de novos agentes sociais (os/as estudan-tes assim o seriam ou deveriam ser), em suas palavras fundamentalpara a preservao e transmisso do patrimnio cultural, uma garan-tia de continuidade e de renovao (Foracchi, 1972, p. 22). Sem isso,no haveria como tambm via Mannheim (1968) a possibilidade donovo no plano societrio, pois [...] a nova vida s ser vivida pelas gera-es mais moas (1968, p. 72).

    Claro estava para Foracchi (1972) que os processos de transiona sociedade moderna eram difceis e complexos, associados a um sis-tema (normativo, econmico e poltico) em crise, que refleti riam sobre

    a juventude (categoria histrica e social)4, expondo o estado de tensofrente sociedade.

    Os limites das instncias socializadoras, debatidos na atualidade,tambm foram bem notados pela mesma autora (1972, p. 23) ao lembrardos questionamentos sobre a eficcia dos recursos de socializao [...],e da [...] validade dos recursos institucionais como alternativas paraa organizao da vida pessoal. Assim, como formar novos agentes so-ciais, sem considerar o contexto histrico, poltico e econmico, mar-cado por polticas neoliberais que atravessam fronteiras e acirram asdesigualdades. As demandas de um grupo social (e aqui tratamos dajuventude) quando no atendidas, instam a r uptura da ordem, as ma-nifestaes vm tona e ref letem o desejo da instaurao do novo, quepode ser traduzido pela implementao de uma agenda propositiva no

    campo das polticas sociais nas cidades e no campo.Na mesma linha, Dubet (2003), analisando a situao dos jovens

    franceses, observa o paradoxo entre a esperana ou as expectativascriadas pelos jovens, e o no atendimento por parte do Estado e dasociedade s suas demandas objetivas. Se atualizamos o debate, essatenso gera o confronto, por vezes fugazes, e, ao mesmo tempo, inten-sos com as diferentes esferas do poder, como ocorrido no Brasil e emoutros pases (Chile, Grcia, Egito, Turquia, entre outros). Sabe-se queexistem especif icidades dos movimentos. No caso brasileiro, o aumentoda tarifa do transporte urbano, foi a fascaque se alastrou para tantasoutras demandas (educao e sade pblica de qualidade; moradia, lo-comoo na cidade, segurana etc.); os jovens secundaristas chilenos

    se rebelaram contra a mercantilizao do ensino, pela democratizaodo acesso ao ensino superior etc.; os gregos foram s ruas sobretudo porquestes econmicas do pas, com elevao das taxas de desemprego;no Egito, mudanas no regime poltico, os jovens lutaram por maior li-berdade e democracia poltica; e na Turquia, a relao pblico/privadogerou o estopim em defesa de uma praa pblica, contra a instalao deum edif cio comercial em seu lugar.

    Enfim, se h particularidades em tais movimentos, h tambmaproximaes, dadas as conexes entre o local e o global. Do ponto de

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    vista de Zizek (2013, p. 103-104), O capitalismo global um processocomplexo que afeta diversos pases de maneiras variadas, e o que unif i-ca tantos protestos em sua multiplicidade que so todos reaes con-tra as mltiplas facetas da globalizao capitalista. Uma das facetas,sem dvida tem ligao direta com o no-lugar ocupado pela educaonas polticas pblicas, seja no plano da infraestrutura (bibliotecas, la-boratrios, salas adequadas), dos recursos humanos, lembrando a for-mao docente, os salrios e planos de carreira defasados; o que atingediretamente os jovens, sobretudo dos estratos mais pobres e/ou da zonarural, na transio entre escola, trabalho e insero social.

    Se a juventude no uma condio meramente biolgica, mastambm cultural (Manheim, 1968), compreendemos que as experi-

    ncias e/ou vivncias apresentam-se como fatores importantes naconstruo e fortalecimento identitrio, bem como na autonomia dossujeitos. A experincia em sua diversidade (cada vez maiores no con-temporneo), marcadas por l imites, riscos e possibilidades nos planoscognitivo, afetivo, cultural e material (Melucci, 1997; Madeira, 2006),traz elementos de diferenciao, como bem posto por Melucci (1997).

    Podemos pensar que as culturas juvenis so expresses singula-res a partir das quais os jovens constroem significados para lidar comum mundo cada vez mais complexo, em que as formas de participao,os cenrios polticos, a organizao do trabalho se transformam rapi-damente. So os jovens que vivenciam de forma mais intensa a tensoentre as foras institudas e as instituintes na dinmica social, em facedas desiguais oportunidades em relao a gnero, etnia e classe social,mas, sobretudo em relao circulao, acesso e distribuio dos bensculturais.

    Comungando com a perspectiva de Pais (2003), o conceito de cul-tura juvenil ganha maior dinamismo e concretude, quando recorre aoseu sentido antropolgico, portanto, voltado para modos de vida espe-cficos e prticas cotidianas, [...] que expressam significados e valoresno apenas ao nvel das instituies, mas tambm ao nvel da prpriavida cotidiana (Pais, 2003, p. 69). Em face de uma socializao inte-gradora, no sentido da adequao social, podemos entender as culturasjuvenis como autonomia criativa, que visa ao protagonismo, no seu sen-tido de diferenciao e de part icipao social.

    O indivduo emerge enquanto individualidade frente ao entre-

    laamento dos distintos crculos com os quais compartilha relaes,portanto, desta diversidade permeada por conflitos, rupturas e osci-laes que despontam tambm as possibilidades de expanso e enri-quecimento da vida social, num movimento perptuo de sua recriaoconstante (Martuccell i, 2000, p. 383 e 392, nossa traduo).

    Amplia-se esse entendimento a partir de Simmel (2006, p. 84), aoconsiderar que O conflito entre a sociedade e o indivduo prossegueno prprio indivduo como luta entre as partes de sua essncia. De um

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    lado, na perspectiva de totalidadee unidade orgnica,a sociedade cobraintegrao do indivduo ao institudo; de outro, o indivduo, Ele querser pleno em si mesmo [] ele quer desenvolver a totalidade de suas ca-pacidades, sem levar em considerao qualquer adiamento exigido pelointeresse da sociedade.

    Podemos nos reportar aos elementos de tenso no processo socia-lizador das novas geraes, presentes nas relaes entre jovens, fam-lia, escola e sociedade: tanto em relao s dimenses mltiplas da suaidentidade (jovem, estudante e trabalhador), como aos contextos quehabitam (rural-urbano).

    As expectat ivas e possibi lidades de integrao socia l so geradasa partir de relaes concretas no plano sociocultural, econmico e po-ltico, vivenciados por indivduos e estratos sociais em dado tempo eespao.

    Sabemos que as oportunidades para que os /as jovens vivenciemuma gama diversa de experimentaes em seu sentido mais amplo, sodesigualmente distribudas no contexto social. Madeira (2006, p. 140),emprega a expresso juventude roubada para definir a situao dos(as) jovens brasileiros das classes populares que ao anteciparem a vidaadulta, seja pela insero precoce no trabalho ou pela gravidez, nousufruem das experimentaes afetivas, biopsquicas e cognitivas(quadro que afeta sobretudo estudantes da escola pblica) tpicas deum breve ciclo da vida, importantes para a vida adulta.

    Vale dizer, ainda, que o espao social, a exemplo da escola, no

    neutro, mas campo de disputas, lcus da estrutura das distribuiese imposio de princpiose divisesque passam pelos campos da etnia,regio, nao, classe, etc. (Bourdieu, 2001, p. 224).

    possvel problematizar concepes de educao formal quetanto no levam em conta as experincias pertinentes s prticas vi-vidas pelos jovens em seus territrios, quanto os tempos diferenciadosdaqueles que se encontram no mundo rural, sob uma lgica de vida co-tidiana distinta da urbana, mas que a ela associada nas relaes deproduo, consumo e servios.

    No caso especfico da educao ofertada aos jovens em contextosrurais, os problemas estruturais da escola pblica, aparecem de formaampliada: deficincias na formao especfica dos docentes, na infraes-

    trutura, no transporte, dentre outras.Em relao juventude rural, Carneiro (2005) aponta como a es-cola preenche idealmente o imaginrio juvenil na construo de seusprojetos individuais. Nestes, a melhoria de vida aparece, quase sempre,atrelada conquista do mercado de trabalho. Como afirma a autora oespao escolar no tem importncia apenas como um meio facil itadordo acesso ao mercado de trabalho, ela se destaca como importante es-pao de sociabilidade onde se faz amigos (Carneiro, 2005, p. 251).

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    Entre apostas e incertezas sobre a escola, os jovens que vivem nodistrito rural de So Jos5, onde realizamos a pesquisaJuventude Escola-rizao e Insero social: um estudo em diferentes contextos da rede pbli-ca de educao no municpio de Feira de Santana (FAPESB, 2008-2010) 6,tm na escola, uma referncia da existncia do poder pblico, pois esteparece se mostrar pouco presente no atendimento a outras importantesdemandas juvenis ligadas cultura, ao lazer e formao profissional.

    Os estudantes (20) entre 18 e 23 anos, concluintes do ensino m-dio, cuja maioria no trabalha formalmente mas auxiliam os pais nalavoura, expressam seu anseio com o trmino do ensino mdio e as re-ais possibilidades de insero socioprofissional, quando reclamam quea escola apresenta-se desconectada da realidade e das suas demandas.

    Fato observado por Nora Krawczyk (2014, p. 86) ao refletir sobre o ensi-no mdio e o sistema educacional na atualidade. A organizao e o fun-cionamento destas instncias, marcadas pelas verticalidade e rigidezburocrtica, apresentam um descompasso com o momento histrico, oque acaba por comprometer qualitativamente o trabalho educativo e aprpria democratizao do conhecimento.

    No entanto, apesar dos seus limites, estar fora da escola, para es-tes jovens, tornariam as transies incertas e a inda mais frgeis.

    Porque sem os contedos a gente no vai conseguir hoje em dia nada.Sem o colgio sem o contedo que a gente tem hoje, a gente no conse-gue. Tem que t informado, inda mais agora na era da informtica nstemos sempre que t informado, o colgio hoje, embora que seja rfode um jeito ou de outro, no traz toda a rea lidade pra gente, mas, ele ocamin ho (sexo feminino, 19 anos).Se eu no tivesse na escola hoje eu taria [...] por ai jogado pelo mundo!Porque a escola aquela onde forma na verdade... O foco da escola pre-parar o a luno pra ser algum! (sexo masculino, 20 anos).

    Eu via o Ensino mdio como algo assim de ouro! Porm para mim hoje s mais uma aproximao para termina r os estudos. Porque o ensino naverdade o mesmo, o objetivo de ensinar o mesmo. Ento o ensino m-dio s isso mesmo 1, 2 e 3 ano, s mesmo para termi nar os estudos,nada mais (sexo mascul ino, 20 anos).

    Os estudantes sabem da fragilidade da escolarizao que recebe-ram, no se sentem preparados nem para o vestibular, nem para o mer-cado de trabalho, mas, ainda assim, sabem que concluir o ensino mdio o mnimo, como bem disse um dos jovens em um dos grupos focais7.

    Para os jovens em contexto rural, muitas vezes, a distncia entreas localidades onde moram e a cidade, as limitadas opes e locais delazer reduzem as experincias de sociabilidade com seus pares. Nessesentido, a escola assume a funo de suprir tais carncias, constituindo--se um importante espao de encontro, de resenhar8, de formao pes-soal e social e tambm de projeo de um futuro, mesmo que incerto.

    Percebemos a centralidade da escola e da famlia como contex-tos de referncia e organizadores das experincias de vida juvenil. Os

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    jovens foram quase unnimes em destacar, na discusso em grupo, oespao de encontro e de convivncia como os maiores predicados daescola:

    O que eu mais gosto na escola so os meus amigos (sexo feminino, 19anos)

    Gosto mais da resenha (sexo mascul ino, 18 anos)

    Eu acho tambm assim o relacionamento, porque como eu poderiaimaginar conhecer, assim, tantas pessoas, como se no fosse a escola?Um exemplo: Marluce mora a mais de cinco quilmetros da min ha casa,eu nunca poderia imaginar conhecer ela se no fosse a escola (sexo mas-culino, 20 anos).

    Setton (2005) questiona o papel das agncias tradicionais de so-cializao no contemporneo, a partir da emergncia de uma nova or-dem sociocultural caracterizada por uma maior circularidade de expe-rincias e referncias identitrias, em que se leve em conta a pluralidadecultural9. A cultura de massa e todo o seu aparato tecnolgico, com fortecarter socializador, levam Setton (2012) a considerar que a famlia e aescola vm perdendo o monoplio na socializao das novas geraes.

    A partir do conceito de hibridao de Canclini (2010), a autora re-corre ideia de multiculturalismo no apenas como fuso de valores,mas significando uma variedade de estratgias de apropriao cultural,em que se considere o movimento dialtico, criativo e contraditrio doprocesso socializador.

    A escola, como instituio socializadora na formao dos jovenstensiona-se com uma heterogeneidade de espaos de socializao juve-nil, sendo que cada vez mais [...] a construo das identidades sociaisdos indivduos passa a ser mediada pela coexistncia de distintas ins-tncias produtoras de valores e de referncias culturais (Setton, 2012).Estes elementos de tenso, so visveis, por exemplo, especialmente noensino mdio, nas interaes professor-aluno, pautadas nas relaes depoder, quando confrontam-se normas escolares e normas dos gruposde pares (Krawczyk, 2014; Dayrell; Carrano, 2014).

    Notamos que os jovens, nas fronteiras entre o rural e o urbano10,alm de conviverem com elementos da tradio familiar agrcola, tam-bm esto conectados aos dispositivos tecnolgicos, que ampliam suaparticipao no mundo, mas a escola ainda o contexto mediador entre

    a vida pblica e a vida privada, por excelncia, mesmo que no maisnico e exclusivo, como relativizado pela reflexo feita por alguns dosjovens no grupo focal.

    A Trama da Vida nos Processos de Transio e a Sadado Ensino Mdio

    Zittoun et al. (2013) convidam-nos a pensar no movimento de con-tinuidades e mudanas que configuram o curso de vida. As transies

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    juvenis envolvem processos de ajustes mtuos e dinmicos em diferen-tes aspectos da sua existncia: da aprendizagem - elaborao de novasformas de ao e de entendimento do mundo, do outro, de si mesmo; daidentidade em mudana - transformao e criao de novas posiesidentitrias e dos processos de significao, por meio dos quais o indi-vduo elabora suas experincias com os outros, conferindo sentidos ouas ressignif icando. Tais mudanas ocorrem de forma interdependente eem ambientes fsicos, sociais, geogrficos e simblicos que facilitam oulimitam as experincias em transio.

    Na perspectiva do curso de vida, a dimenso da temporalidade um organizador das experincias humanas, tanto no sentido da irre-versibilidade, pois uma ao realizada uma ao que no tem volta

    (passado), assim como da imprevisibilidade e abertura para o novo (fu-turo), quando projetamos mundos possveis ou respondemos a novas si-tuaes. A etapa da adolescncia, na concepo de Zittoun et al. (2009),abre-se para a perspectiva de planejar e antecipar estratgias de aono futuro, ao mesmo tempo em que os sujeitos constroem significadosno presente, atravs do uso de recursos simblicos (imaginao, criati-vidade, pensamento). A funo semitica atravs da internalizao deelementos culturais, possibilita a ref lexividade e o distanciamento, ne-cessrios para responder s mudanas e demandas externas em cons-tante movimento.

    H, portanto, de se reconhecer, que as passagens ou transiespelas etapas do ciclo de vida no harmoniosas e lineares, esto sujeitasa confl itos, expressos nas descontinuidades ou rupturas como j pontu-aram, dentre outros, Arendt (2011); Foracchi (1972); Mannheim (1968),Melucci (1997); Zittoun et al. (2009; 2013).

    Madeira (2006) faz um alerta ao dizer que o modelo de transiolinear, que prepara os jovens para a entrada na vida adulta, no aconte-ce com todos os brasileiros da mesma maneira. Os detentores de maiorrenda e nvel de escolaridade, naturalmente a menor parcela da socie-dade, ao terem oportunidade de vivenciar as etapas de escolarizaoem sua plenitude, conseguem alcanar comportamento semelhante aodos outros pases desenvolvidos e emergentes. Vale citar a pesquisa de-senvolvida por Guerreiro e Abrantes (2005) com adolescentes e jovensportugueses. Observam aspectos semelhantes aos estudos de Madeira(2006) realizados no Brasil. Na tipificao feita pelos autores para anali-

    sar os di ferentes processos de transio para a vida adulta, encontram--se entre outros, o tipo profissional(quando os sujeitos relegam para umfuturo mais distante os projetos relacionados constituio da famliae o lazer; ou da transio em dois tempos; o ldico(a opo pelo prolon-gamento da adolescncia, assim a centralidade da fruio e da errn-cia); a experimental (sada de casa, imprevisibilidade no modo de vida,modelo culturalmente valorizado, porm sua prtica residual pelasdificuldades de auto sustentao); a precoce (tpico das classes popu-lares, insero no trabalho, fraca aspirao escolar, limitao na esfera

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    do lazer, presena da maternidade...); a precria(trabalhadores descar-tveis).

    Segundo Ribeiro (2011, p. 27), a maioria dos jovens brasileiros trazdesde a infncia uma significativa defasagem idade-srie escolar, o querepresentar demanda para a Educao de jovens e adultos (EJA). Com-pleta a autora, ao lembrar que aproximadamente 60 milhes de indi-vduos no concluram o ensino fundamental. Enquanto apenas 25%dos jovens encontram-se em situao regular, isto , com adequaoidade e srie. Frente a esse quadro, e refletindo sobre as falas dos sujei-tos da pesquisa, que no por acaso, apresentam a referida inadequao(caracterstica sobretudo da regio Nordeste), acompanhamos algunsdos questionamentos feitos por Ribeiro (2011): Com quais trajetrias

    experienciam os processos escolares e educativos? O que agregam deconhecimento? As credenciais escolares que os jovens mais pobrestm conquistado garantem benefcios educacionais semelhantes aosusufrudos pelos setores sociais mais privilegiados? O aumento da es-colaridade tem postergado a entrada de jovens pobres no mercado detrabalho? Com que idade esses jovens chegam ao final do ensino fun-damental e mdio?.

    Krawczyk (2014, p. 84), a partir dos dados de matrculas de es-tudantes na faixa etria entre 15 e 17 anos de idade, no ensino mdio(PNAD/IBGE, 2009), mostra os nveis de matrculas ainda baixos nestaetapa escolar, embora sua evoluo, como observado a seguir. A ta xa l-quida de matrculas no perodo 1991 e 2010, evoluiu de 17,3% para 32,7%,chegando a 44,2% em 2004 e a 50,9% em 2009. Contudo, apropriada-mente nota a autora que a outra metade, ainda estaria no ensino fun-damental (34,3%), com histricos de reprovao ou ingresso tardio ouainda sem frequentar a escola, o que revela as lacunas no processo dedemocratizao escolar. Acrescentamos, tal processo atinge, como sesabe, em maiores propores jovens negros e pobres, ou seja, os com-ponentes tnico-raciais, de classe, entre outros, a conjugam-se de ma-neira a multiplicar as desigualdades sociais e econmicas, e em ltimainstncia o acesso digno aos incertos e j precrios postos de trabalho.

    Alguns jovens entrevistados durante a nossa pesquisa, revelaramestratgias de negociaes na sada do ensino mdio, quando direta ouindiretamente, assumem a responsabilidade de romperem com trajet-rias biogrficas l igadas tradio familiar agrcola, atravs do processo

    de escolarizao. Para a maioria dos pais desses jovens a escola, com aconcluso do ensino mdio, promoveria uma passagem quase mgicade acesso ao mercado de trabalho. O estudo visto como principal ca-minho para abrir novas alternativas ao trabalho penoso do campo eas incertezas sobre o futuro da atividade agrcola. Nessa perspectiva aeducao ganha contornos bem especficos. Para pais e f ilhos a educa-o a oportunidade de ser algum na vida, isto , a conquista de umbom emprego.

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    No relato da jovem me entrevistada, fica clara essa responsabili-dade, pois ela no apenas ultrapassa a escolarizao de seus pais, comoa de seus irmos.

    Tenho quatro irmos, cinco comigo. Meus dois irmos no estudam,pararam. Meu irmo mais velho parou no 1 ano, o de junto dele parouacho que na 5 ou 6 srie, e minha irm mais velha tava fazendo 2 anoe a mais nova parou na 7 srie. Tive dif iculdades mesmo quando eu tivemeu filho, eu tava na oitava srie, ai eu parei na oitava.[...] Eu pensei emvoltar em primeiro lugar pelo meu pai, porque ele fica muito feliz quan-do v que a gente ta estudando, que a gente quer alguma coisa, porqueele quer que o futuro da gente no seja igual o dele, ai muito incentivodele. Ele falava; Ah voc engravidou e no vai continuar estudando? Agente ficava vendo assim ele triste, vendo que ele no queria isso pra gen-te, ento eu voltei a estudar, assim, pra satisfazer a vontade dele e quemsabe arrumar um emprego. Mas ele [referindo-se ao pai] nunca desistiuda gente [...] (sexo feminino, 19 anos).

    Ao dif cil processo de sada do ensino mdio11, se somaria outratransio, a do ambiente rural para o urbano. Ao analisarmos como osjovens pensam e constroem suas estratgias de transio, ficam evi-dentes as dificuldades para efetiv-las e as distintas posies entre odesejo de permanecer em seu territrio (reconhecendo os entraves paraa insero no mundo do trabalho) e o de buscar alternativas na cidadegrande, promessa de maior sucesso na escolaridade e na insero so-cioprofissional:

    No! Eu no quero de jeito nenhum sair daqui. Eu s vejo gente fa lar: Ah,eu vou me mudar! eu no quero no. O problema aqui so as oportuni-dades, porque emprego no tem. Mas se tivesse? Ia ser uma maravilha!(sexo feminino, 19 anos).

    Porque a estrutura da zona rural ela muito baixa, assim em relao deconhecimento. Ento eu s penso em morar ou numa cidade gra nde, n ?[...] Porque o conhecimento l bem maior, ento quero aprimorar meusconhecimentos. Ela [zona rural] no me oferece oportunidades de estu-dos e de emprego (sexo masculino, 20 anos).

    Muitas vezes, o migrar paradoxalmente tramado como estrat-gia fundamental para a manuteno da famlia no campo. Ter um nicomembro migrante, s vezes condio para a sobrevivncia e a perma-nncia do restante do grupo familiar no campo. A sada, ento, muitasvezes representa uma etapa de uma trajetria, que pode ser marcadapor mltiplos movimentos de idas e vindas (migraes sazonais oudefinitivas), mas a referncia do campo e de suas famlias permanececomo um ancoradouro para esses jovens. Nestes casos, a escolha sobreos seus destinos tributria das condies reais de permanncia da vidano campo, ou seja de uma escolarizao qualificada, de oportunidadesde emprego e renda.

    Os jovens reconhecem que levam um repertriode habilidades econhecimentos bastante restritos para enfrentar, tanto o mercado de

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    trabalho, quanto o ingresso no ensino superior. Mecanismos de acessoao ensino superior como o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM),Programa Universidade para Todos (ProUni) e as polt icas de cotas so-ciais e raciais ainda parecem ter impacto pequeno na construo deplanos e projetos futuros para os jovens entrevistados. As menes atais polticas e programas pblicos foram escassas, revelando poucoconhecimento sobre os mesmos.

    Durante os grupos focais, os/as jovens da escola rural puderamesclarecer como pensam a articulao entre a continuidade dos estu-dos e a perspectiva laboral. Observamos a centralidade do trabalhonas suas trajetrias de vida, assim como a formao profissional, comoetapa precedente. Para a maioria deles, os caminhos mais viveis para

    a sada do ensino mdio seriam: 1) conseguir algum trabalho remune-rado para poder investir em algum curso profissionalizante; 2) realizaralgum curso profissionalizante para aumentar as chances de inseroprofissional qualif icada; e 3) ingressarem em cursos de nvel superior.

    Em tal contexto um desafio para a escola atual tematizar ques-tes caras aos jovens como a dif cil insero profissional num mercadoinconstante, exigente e competitivo. Outro desafio o reconhecimentodas suas demandas para efetivarem a transio social na sada do En-sino Mdio. Seria necessrio: melhorar a qualidade do ensino, ampliaros mecanismos de dilogo e participao estudantil, ampliar as redesde suporte social e tecnolgico. Enfim, sem considerar o jovem comointerlocutor vlidoem questes que lhe dizem respeito, como o prpriocurrculo escolar, torna-se difcil estimular o protagonismo juvenil egarantir a centralidade dos jovens estudantes [do ensino mdio] su-jeitos do processo educativo, ademais, como previsto pelas prpriasNovas Diretrizes Curriculares para o Ensino Mdio (Dayrell; Carrano,2004, p. 103).

    Segundo Mnica Molina (2015) a escola rural ou urbana deve noapenas assegurar os saberes universais, mas aqueles saberes (relativosaos meios de produo e cultura local) que portam os jovens a partirde suas comunidades de origem.12Em se tratando da escola rural, porexemplo, projetos de agroecologia e sustentabilidade poderiam ampliaras oportunidades de permanncia ao territrio, por exemplo, como ob-serva a autora, combinando o sistema de valores transmitidos pela fa-mlia de tradio agrcola, com os smbolos culturais que caracterizam

    formas de pertencimento juvenil.

    Consideraes Finais

    So nas relaes de sociabilidade mais prximas, como as de ami-zades, tecidas primordialmente, como observamos no espao escolare nas diversas formas de associao juvenil, que os jovens encontramdispositivos sociais de subjetivao e desenvolvem relaes de perten-cimento mais significativas.

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    Quando os jovens opinaram sobre a experincia escolar, notamosa distncia entre o projeto institucional e os projetos pessoais, o que nosremete indefinio dos objetivos do ensino mdio na mediao para avida adulta (insero socioprofissional e projetos de futuro).

    Em alguns casos, comparam-se a outros (as) jovens que se encon-tram fora da escola, desempenhando trabalhos braais ou dedicando--se ao cuidado dos filhos. Assim, atribuem a si mesmos uma posiode elitepor estarem concluindo o ensino mdio, embora reconhecendoque levam um baixo repertrio social e cultura l para concorrer a postosde trabalho mais qualificados ou ao ensino superior.

    Os elementos de tenso entre escola, famlia e trabalho foram ex-plicitados pelos/as estudantes entrevistados/as. Seja em relao ao dis-tanciamento da escola suas demandas reais, ou ainda pela fragi lidadede identificao com o rural, quando a cidade aparece como promessade realizao pelo acesso ao trabalho, consumo e formao profissio-nal.

    Percebemos que nos seus modos de se identificar, os/as jovensse encontram diante de repertrios hbridos, tributrios de elementosscio-histrico-culturais que delimitam o universo rural, buclico eromntico - tambm demarcado por uma organizao social com cen-tralidade no trabalho rduo - com elementos contemporneos das so-ciedades tecnolgicas globalizadas, reiv indicando por espaos de par-ticipao cultural menos institucionalizados.

    Nessa direo, colocam-se desafios institucionais, polticos e so-

    ciais, que reconheam os tempos e espaos juvenis, como o direito cidade sem tambm perder de vista o direito vida digna no campo, em que se instituam prticas educativas mais dialgicas, garantindoo verdadeiro acesso aos saberes universais e locais, que os posicionemcomo participantes ativos na construo da cultura, com potencial deao no presente e com vistas a pensar e projetar o futuro, como sujeitostrajectivos (Pais, 2006). Mas para tanto, a escola pblica, teria que su-perar seu estado de orfandade no dizer de uma das jovens , e tornar--se de fato prioridade nas polticas pblicas, continuar garantindo noapenas o ingresso e a mera certificao, mas a permanncia de crianase jovens, oferecendo-lhes uma formao de qualidade, preparando-os/as para a v ida em seu sentido mais amplo: intelectual, moral, esttico eprofissional.

    As redes interativas e intercomunicat ivas construdas como mar-cas de participao juvenil na contemporaneidade, so dispositivosimportantes na compreenso das formas de apropriao e recriaoda herana cultural, atravs de processos de sociabilidade e oportuni-dades que tornam os jovens mais autnomos e agentes de seu destino.Em relao aos espaos formais de educao, o que se observa que atransmisso geracional ainda est marcada pela verticalidade e regidapela lgica adultocntrica.

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    preciso escutar e aprender com os jovens a construo de tticase tessituras para enfrentar o presente em seus obstculos, sobretudopara as classes populares, de forma a potencializar e amplificar opor-tunidades com vistas a projetos de futuro a serem tecidos com arranjosde curto prazo e em grande medida na aposta criativa. Estar atento sculturas juvenis, como forma re-ativa de instituir expresses mais li-bertrias de existncia, nas margens da cultura hegemnica, como re-correndo Pais (2005) territrio de crtica aos poderes estabelecidos.

    Cabe aos prprios sujeitos de direito na cidade e no campo, aosgestores, aos educadores e aos governantes das distintas esferas fede-ral, estadual e municipal o enfrentamento crtico e construtivo queresultem em implementaes de prticas pedaggicas e polticas que

    ultrapassem o plano das promessas, visando a garantia dos direitos so-ciais, includo a os educacionais, j garantidos constitucionalmente.

    Recebido em 30 de maio de 2015Aprovado em 17 de dezembro de 2015

    Notas

    1 Ver em: .

    2 Compreende-se que as relaes intergeracionais de padro vert ical so poucopermeveis, seja nos contextos da famlia, da escola, do trabalho e da poltica,quando poderiam, seno garanti r, ao menos propiciar s geraes mais novasuma transio para a vida adulta pautada em valores associados autonomia, criatividade, alteridade e tica.

    3 Segundo Jos Machado Pais (2006, p. 62) as culturas juvenis podem ser ana-lisadas pelas [...] socializaes que as prescrevem [teorias das geraes oude enfoques classistas] ou pelas ex pressividades (performances) cotidianas.Reconhecidos os limites das abordagens classista e geracional, o autor nota afertilidade da perspectiva que valoriza o campo da experincia (no desco-nectando-o das relaes estruturais), l onde brotam os fazeres, os desejos eas circunstncias vividas e interpretadas in locopelos seus atores.

    4 Nas palavras da autora (1976, p. 12), a noo de juventude como categoriahistria e social, ocorre quando temos um movimento de juventude, ouseja, compreendida enquanto produto h istrico. Esse entendimento, revelaque uma anlise consequente no se limita s relaes geracionais, mas, vaialm, reflete sobre uma ordem social estabelecida, no caso, poca e na atu-alidade, como notamos, inibidora de realizaes e integrao digna e plenados atores sociais.

    5 Distrito do municpio de Feira de Santana-Ba, com aproximadamente 2.300 hab.,distante aproximadamente 12 quilmetros da sede, apesar da proximidade caracteri zado fortemente pela pequena pecuria e agricultura familiar. Apre-senta pequena oferta de servios pblicos, entre eles a educao e o transporteso tidos como precrios. A oferta de emprego tambm reduzida, se limitaprincipalmente ao comrcio informal. Uma n ica escola atende estudantes namodalidade Educao de Jovens e Adultos (EJA) no perodo noturno, e ensinofundamental e mdio no perodo diurno.

    6 A referida pesquisa teve como objetivo compreender os significados sobre aescolarizao e os projetos de futuro entre jovens (14 a 23 anos), em duas escolas

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    pblicas de ensino mdio, em contexto urbano e rural, util izando instrumentosquantitativo (questionrio) e qualitativos (grupos focais e entrevistas). Nesteartigo focaremos as narrativas produzidas por jovens de ambos os sexos, namaioria negros, moradores do contexto rural, concluintes do ensino mdio.

    7 Foram realizados trs grupos focais mistos, na escola, tematizando questescomo os sentidos da escola, pensar o presente e o futuro, o que ser jovem emcontexto rural. O uso de grupo focal no contexto escolar, com jovens no ensinomdio, mostrou-se uma estratg ia metodolgica adequada, j que este provocaa possibilidade de fala e compartilhamento de experincias entre pares. Sobreas tcnicas de grupo focal consultar: Gatti, Bernadete, 2005; Weller, Wivian 2010.

    8 Termo nativo utilizado com frequncia pelos estudantes para se referir aotempo-espao de conversar e se atualizar das experincias uns dos outros,nos interstcios da ordenao e rotina escolar.

    9 O documentrio Diz A Juventude Rural: identidades expressivo desta plu-ralidade nos marcos identitrios juvenis presentes em nosso pas e to poucoconhecida. Isso para tomarmos como referencia a realidade dos jovens quemoram em reas rurais em distintas reg ies que abrangem o Norte, Nordeste,Sul e Sudeste e Centro-Oeste, com suas peculiar idades na msica, na alimen-tao, nas vestimentas, no lazer, na tecnologia, nas sociabilidades, enfim nacultura. Disponvel em: .

    10 Segundo Souza (2010), necessrio considerar a interdependncia campo--cidade, de maneira a no dicotomizar as duas realidades, para tanto os con-ceitos de prtica social, trabalho e conscincia de classe seriam essenciais nasinvestigaes voltadas para a educao do campo.

    11 Constata-se o crescente abandono da escola, sobretudo, quando os estudantesingressam no ensino mdio. De 3,3 mi lhes dos jovens ingressantes no ensinomdio no ano de 2008, apenas 1,8 milhes concluram esta modalidade no

    ano de 2010 (Anurio Brasileiro de Educao Bsica, 2012). Os grupos etriosmajoritariamente ating idos so constitudos por adolescentes e jovens, almde maioria negra. Este quadro concentra-se entre a lunos pobres, que sofremmais, no contexto laboral, com as ex igncias de experincia anterior e maiorqualif icao no apenas tcnica, mas bsica (letramento e clcu lo).

    12 Vale dizer, que existe uma gama de estudos e pesquisas sobre as prticas edu-cativas do campo que corroboram com esta perspectiva dialgica da educaoinspirada em Paulo Freire ao enfatizarem [...] a necessidade de uma metodo-logia de ensino baseada na valorizao da cultura camponesa (Souza, 2010).

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    Denise Helena Pereira Laranjeira professora da Universidade Estadualde Feira de Santana (UEFS). doutora em Educao Universit de Sher-brooke Qubec (2005). Professora titular do Departamento de Educaoda Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); membro do Ncleode Pesquisa Trajetrias, Culturas e Educao (TRACE-DEDU-UEFS)E-mail: [email protected]

    Mirela Figueiredo Santos Iriart doutora em Sade Coletiva pela Universi-dade Federal da Bahia e Professora Titular do Departamento de Educaoda Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Coordenadora doNcleo de Pesquisa Trajetrias, Culturas e Educao (TRACE-DEDU-UE-FS). Desenvolveu estgio ps-doutoral no Departamento de Psicologia naLondon School of Economic and Political Science.

    E-mail: [email protected] Santos Rodrigues graduada em Pedagogia (2010), especialista emDesenho, com nfase em Registro e Memria Visual (2012) e mestre emEducao pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Professora darede municipal de ensino em Bonfim de Feira.E-mail: [email protected]