Poemas

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Também eu, também eu, joguei às escondidas, fiz baloiços, tive bolas, berlindes, papagaios, automóveis de corda, cavalinhos... Depois cresci, tornei-me do tamanho que hoje tenho. Os brinquedos perdi-os, os meus bibes deixaram de servir-me. Mas nem tudo se foi: ficou-me, dos tempos de menino, esta alegria ingénua perante as coisas novas e esta vontade de brincar. Vida!não me venhas roubar o meu tesoiro: não te importes que eu ria, que eu salte como dantes. E se riscar os muros ou quebrar algum vidro ralha, ralha comigo, mas de manso... Eu tinha um bibe azul... Tinha berlindes, tinha bolas, cavalos, papagaios... A minha Mãe ralhava assim como quem beija... E quantas vezes eu, só pra ouvi-la ralhar, parti os vidros da janela e desenhei bonecos na parede...) Vida!, ralha também, ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso, como se fosse ainda a minha Mãe... Sebastião da Gama

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Page 1: Poemas

Também eu, também eu,joguei às escondidas, fiz baloiços,tive bolas, berlindes, papagaios,automóveis de corda, cavalinhos...

Depois cresci,tornei-me do tamanho que hoje tenho.Os brinquedos perdi-os, os meus bibesdeixaram de servir-me.Mas nem tudo se foi:ficou-me,dos tempos de menino,esta alegria ingénuaperante as coisas novase esta vontade de brincar.

Vida!não me venhas roubar o meu tesoiro:não te importes que eu ria,que eu salte como dantes.E se riscar os murosou quebrar algum vidroralha, ralha comigo, mas de manso...

Eu tinha um bibe azul...Tinha berlindes,tinha bolas, cavalos, papagaios...A minha Mãe ralhava assim como quem beija...E quantas vezes eu, só pra ouvi-laralhar, parti os vidros da janelae desenhei bonecos na parede...)

Vida!, ralha também,ralha, se eu te fizer maldades, mas de manso,como se fosse ainda a minha Mãe...

Sebastião da Gama

Dulce, doce Dulcemenina do campo

Page 2: Poemas

de olhos verdes de águade água e pirilampo

Doce, Dulce doce, dócilestendendo pelo sol lençóisentre anil e vento

Dócil, doce Dulcede face vermelhadoce rosa airosa a fugir da abelhada abelha, de vespas e besoiros tontospelo arroio de oiro de seixos redondos

Viajei por toda a Terradesde o norte até ao sul;

Page 3: Poemas

em toda a parte do mundovi mar verde e céu azul...............................Em toda a parte vi floresromperem do pó do chão,universais, como as doresdo mundoque em toda a parte se dão

Vi sempre estrelas serenase as ondas morrendo em espuma.Todo o Sol um Sol apenas,E a Lua sempre só uma.

Diferente de quanto existesó a dor que me reparte.Enquanto em mim morro triste,Nasço alegre em toda a parte.

António Gedeão