Pensamento e Vida (Psicografia Chico Xavier - Espírito Emmanuel)

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  • Francisco Cndido Xavier

    Pensamento e Vida

    Ditado pelo Esprito Emmanuel

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    ndice Pensamento e Vida .......................................................................... 4 1 O espelho da vida ........................................................................ 5 2 Vontade........................................................................................ 7 3 Cooperao .................................................................................. 9 4 Instruo .................................................................................... 11 5 Educao.................................................................................... 13 6 F ............................................................................................... 15 7 Trabalho ..................................................................................... 18 8 Associao ................................................................................. 20 9 Sugesto ..................................................................................... 23 10 Entendimento........................................................................... 26 11 Bero ........................................................................................ 28 12 Famlia ..................................................................................... 31 13 Filhos ....................................................................................... 34 14 Corpo ....................................................................................... 36 15 Sade........................................................................................ 39 16 Vocao ................................................................................... 41 17 Profisso .................................................................................. 43 18 Sociedade................................................................................. 45 19 Prosperidade ............................................................................ 47 20 Hbito ...................................................................................... 50 21 Dever........................................................................................ 52 22 Culpa ........................................................................................ 54 23 Auxlio ..................................................................................... 56 24 Humildade ............................................................................... 58 25 Tolerncia ................................................................................ 60 26 Orao...................................................................................... 63

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    27 Obsesso .................................................................................. 65 28 Enfermidade ............................................................................ 67 29 Morte........................................................................................ 69 30 Amor ........................................................................................ 72

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    Pensamento e Vida

    Perguntou-nos corao amigo se no possuamos algum livro no Plano Espiritual, suscetvel de ser adaptado s necessidades da Terra.

    Algumas pginas que falassem, ao esprito, dos problemas do esprito... Algo leve e rpido que condensasse os princpios supe-riores que nos orientam a rota ...

    E lembramo-nos, por isso, de singela cartilha falada de que dispomos em nossas tarefas, junto aos companheiros em trnsito para o bero, utilizada em nossas escolas de regenerao, entre a morte e o renascimento.

    Anotaes humildes que repontam do crebro como flores que rebentam do solo, sem pertencerem, no fundo, ao jardim que as recolhe, por nascerem da Bondade de Deus que conjuga o Sol e a gleba, a fonte e o ar, o adubo e o vento, para nelas instilar a cor e a forma, a beleza e o perfume...

    Eis aqui, portanto, adaptada quanto possvel ao campo do es-foro humano, a nossa cartilha simples.

    Pensamento e Vida, chamamos-lhe no Mundo Espiritual e, sob a mesma designao, oferecemo-la aos nossos irmos de luta, temporariamente internados na esfera fsica, para inform-los, ainda uma vez, de que o nosso pensamento cria a vida que procu-ramos, atravs do reflexo de ns mesmos, at que nos identifi-quemos, um dia, no curso dos milnios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o Pensamento e a Vida de Nosso Pai.

    EMMANUEL

    Pedro Leopoldo, 11 de fevereiro de 1958.

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    1 O espelho da vida

    A mente o espelho da vida em toda parte. Ergue-se na Terra para Deus, sob a gide do Cristo, feio

    do diamante bruto, que, arrancado ao ventre obscuro do solo, avana, com a orientao do lapidrio, para a magnificncia da luz.

    Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas al-mas humanas surge entre as iluses que salteiam a inteligncia, e revela-se nos Espritos Aperfeioados por brilhante precioso a retratar a Glria Divina.

    Estudando-a de nossa posio espiritual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a interpret-la como sendo o campo de nossa conscincia desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.

    Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o cora-o lhe a face e que o crebro o centro de suas ondulaes, gerando a fora do pensamento que tudo move, criando e trans-formando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar.

    Em todos os domnios do Universo vibra, pois, a influncia recproca.

    Tudo se desloca e renova sob os princpios de interdependn-cia e repercusso.

    O reflexo esboa a emotividade.

    A emotividade plasma a idia.

    A idia determina a atitude e a palavra que comandam as a-es.

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    Em semelhantes manifestaes alongam-se os fios geradores das causas de que nascem as circunstncias, vlvulas obliterativas ou alavancas libertadoras da existncia.

    Ningum pode ultrapassar de improviso os recursos da pr-pria mente, muito alm do crculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos ns, os reflexos uns dos outros, den-tro da nossa relativa capacidade de assimilao.

    Ningum permanece fora do movimento de permuta incessan-te.

    Respiramos no mundo das imagens que projetamos e recebe-mos. Por elas, estacionamos sob a fascinao dos elementos que provisoriamente nos escravizam e, atravs delas, incorporamos o influxo renovador dos poderes que nos induzem purificao e ao progresso.

    O reflexo mental mora no alicerce da vida.

    Refletem-se as criaturas, reciprocamente, na Criao que re-flete os objetivos do Criador.

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    2 Vontade

    Comparemos a mente humana espelho vivo da conscincia lcida a um grande escritrio, subdividido em diversas sees de servio.

    A possumos o Departamento do Desejo, em que operam os propsitos e as aspiraes, acalentando o estimulo ao trabalho; o Departamento da Inteligncia, dilatando os patrimnios da evolu-o e da cultura; o Departamento da Imaginao, amealhando as riquezas do ideal e da sensibilidade; o Departamento da Memria, arquivando as smulas da experincia, e outros, ainda, que defi-nem os investimentos da alma.

    Acima de todos eles, porm, surge o Gabinete da Vontade.

    A Vontade a gerncia esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ao mental.

    A Divina Providncia concedeu-a por aurola luminosa ra-zo, depois da laboriosa e multimilenria viagem do ser pelas provncias obscuras do instinto.

    Para considerar-lhe a importncia, basta lembrar que ela o leme de todos os tipos de fora incorporados ao nosso conheci-mento.

    A eletricidade energia dinmica.

    O magnetismo energia esttica. O pensamento fora eletromagntica.

    Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em to-das as manifestaes da Vida Universal, criando gravitao e afinidade, assimilao e desassimilao, nos campos mltiplos da

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    forma que servem romagem do esprito para as Metas Supremas, traadas pelo Plano Divino.

    A Vontade, contudo, o impacto determinante.

    Nela dispomos do boto poderoso que decide o movimento ou a inrcia da mquina.

    O crebro o dnamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexo que lhe prpria; no entanto, na Vontade temos o controle que a dirige nesse ou naquele rumo, estabele-cendo causas que comandam os problemas do destino.

    Sem ela, o Desejo pode comprar ao engano aflitivos sculos de reparao e sofrimento, a Inteligncia pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a Imaginao pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memria, no obstante fiel sua funo de registradora, conforme a destinao que a Natureza lhe assina-la, pode cair em deplorvel relaxamento.

    S a Vontade suficientemente forte para sustentar a harmo-nia do esprito.

    Em verdade, ela no consegue impedir a reflexo mental, quando se trate da conexo entre os semelhantes, porque a sinto-nia constitui lei inderrogvel, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mant-los coesos na corrente do bem.

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    3 Cooperao

    Para que algum dirija com xito e eficincia uma empresa importante, no lhe basta a nomeao para o encargo.

    Exige-se-lhe um conjunto de qualidades superiores para que a obra se consolide e prospere. No apenas autoridade, mas direo com discernimento. No s teoria e cultura, mas virtude e juzo claro de propores.

    Dilatados recursos nas mos, a servio de uma cabea sem rumo, constituem tesouros nos braos da insensatez, assim como a riqueza sem orientao navio matroca.

    Quem governa emitir foras de justia e bondade, trabalho e disciplina, para atingir os objetivos da tarefa em que foi situado.

    Quando o poder intemperante, sofre o povo a intranqilida-de e a mazorca, e, quando a inteligncia no possui o timo do carter sadio, espalha, em torno, a misria e a crueldade.

    Da, conhecermos tantos tiranos nimbados de grandeza men-tal e tantos gnios de requintada sensibilidade, mas atolados no vcio.

    No mundo ntimo, a vontade o capito que no pode relaxar no mister que lhe devido.

    E assim como o administrador de um servio reclama a ajuda de assessores corretos, a vontade no prescindir da ponderao e da lgica, conselheiros respeitveis na chefia das decises.

    No entanto, urge que o senso de cooperao seja chamado a sustentar-lhe os impulsos.

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    Nas linhas da atividade terrestre, quem orienta com segurana no ignora a hierarquia natural que vige na coexistncia de todos os valores indispensveis vida.

    Na confeco do agasalho comum, o fio contar com o apoio da mquina, a mquina esperar pela competncia do operrio, o operrio edificar-se- no tcnico que lhe supervisiona o trabalho, o tcnico arrimar-se- na diretoria da fbrica e a diretoria da fbrica equilibrar-se- no movimento da indstria, dele extraindo o combustvel econmico necessrio alimentao do ncleo de servio que lhe obedece aos ditames.

    Observamos, assim, que no Estado Individual a vontade, para satisfazer governana que lhe compete, sem colapsos de equil-brio, precisa socorrer-se da colaborao a fim de que se lhe clareie a atividade.

    A cooperao espontnea o supremo ingrediente da ordem. Da Glria Divina s balizas subatmicas, o Universo pode ser

    definido como sendo uma cadeia de vidas que se entrosam na Grande Vida.

    Cooperao significa obedincia construtiva aos impositivos da frente e socorro implcito s privaes da retaguarda.

    Quem ajuda ajudado, encontrando, em silncio, a mais se-gura frmula de ajuste aos processos da evoluo.

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    4 Instruo

    J se disse que duas asas conduziro o esprito humano pre-sena de Deus.

    Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.

    Pelo amor, que, acima de tudo, servio aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas prprias virtudes; e, pela sabedoria, que comea na aquisio do conhecimento, recolhe a influncia dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da prpria grandeza, impelindo-a para o Alto.

    Atravs do amor valorizamo-nos para a vida.

    Atravs da sabedoria somos pela vida valorizados. Da o imperativo de marcharem juntas a inteligncia e a bon-

    dade. Bondade que ignora assim como o poo amigo em plena

    sombra, a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.

    Inteligncia que no ama pode ser comparada a valioso poste de aviso, que traa ao peregrino informes de rumo certo, deixan-do-o sucumbir ao tormento da sede.

    Todos temos necessidade de instruo e de amor.

    Estudar e servir so rotas inevitveis na obra de elevao.

    Toda a cultura intelectual formada em cadeia de gradativa expanso.

    As civilizaes sucedem-se, ininterruptas, ao influxo da he-rana mental.

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    A arte, na palavra ou na msica, no buril ou no pincel, evolui e se aprimora, por intermdio da repercusso a exprimir-se no trabalho dos cultivadores do belo, que se inspiram uns nos outros.

    A escola um centro de induo espiritual, onde os mestres de hoje continuam a tarefa dos instrutores de ontem.

    O livro representa vigoroso m de fora atrativa, plasmando as emoes e concepes de que nascem os grandes movimentos da Humanidade, em todos os setores da religio e da cincia, da opinio e da tcnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dna-mo de energia criadora, encontramos os mais adiantados servios de telementao, porquanto, a imensas distncias, no espao e no tempo, incorporamos as idias dos espritos superiores que passa-ram por ns, h Sculos.

    Scrates reflete-se nas pginas dos discpulos que lhe comun-gavam a intimidade e, ainda hoje, consumimos os elevados pen-samentos de que foi ele o portador.

    Retrata-se Jesus nos livros dos apstolos que lhe dilataram a obra e temos, no Evangelho, um espelho cristalino em que o Mestre se reproduz, por divina reflexo, orientando a conduta humana para a construo do Reino de Deus entre as criaturas.

    Conhecer patrocinar a libertao de ns mesmos, colocan-do-nos a caminho de novos horizontes na vida.

    Corre-nos, pois, o dever de estudar sempre, escolhendo o me-lhor para que as nossas idias e exemplos reflitam as idias e os exemplos dos paladinos da luz.

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    5 Educao

    Disse-nos o Cristo: brilhe vossa luz ...1 E ele mesmo, o Mestre Divino, a nossa divina luz na evolu-

    o planetria. Admitia-se antigamente que a recomendao do Senhor fosse

    mero aviso de essncia mstica, conclamando profitentes do Culto externo da escola religiosa a suposto relevo individual, depois da morte, na imaginria corte celeste.

    Hoje, no entanto, reconhecemos que a lio de Jesus deve ser aplicada em todas as condies, todos os dias.

    A prpria cincia terrena atual reconhece a presena da luz em toda parte.

    O corpo humano, devidamente estudado, revelou-se, no mais como matria coesa, seno espcie de veculo energtico, estrutu-rado em partculas infinitesimais que se atraem e se repelem, reciprocamente, com o efeito de microscpicas exploses de luz.

    A Qumica, a Fsica e a Astronomia demonstram que o ho-mem terrestre mora num reino entrecortado de raios.

    Na intimidade desse glorioso imprio da energia, temos os raios mentais condicionando os elementos em que a vida se ex-pressa.

    O pensamento fora criativa, a exteriorizar-se, da criatura que o gera, por intermdio de ondas sutis, em circuitos de ao e reao no tempo, sendo to mensurvel como o fotnio que, arrojado pelo fulcro luminescente que o produz, percorre o espao

    1 Mateus, 5:16 (Nota do autor espiritual)

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    com Velocidade determinada, sustentando o hausto fulgurante da Criao.

    A mente humana um espelho de luz, emitindo raios e assi-milando-os, repetimos.

    Esse espelho, entretanto, jaz mais ou menos prisioneiro nas sombras espessas da ignorncia, maneira de pedra valiosa in-crustada no cascalho da furna ou nas anfractuosidades do precip-cio. Para que retrate a irradiao celeste e lance de si mesmo o prprio brilho, indispensvel se desentrance das trevas, custa do esmeril do trabalho.

    Reparamos, assim, a necessidade imprescritvel da educao para todos os seres.

    Lembremo-nos de que o Eterno Benfeitor, em sua lio ver-bal, fixou na forma imperativa a advertncia a que nos referimos:

    Brilhe vossa luz.

    Isso quer dizer que o potencial de luz do nosso esprito deve fulgir em sua grandeza plena.

    E semelhante feito somente poder ser atingido pela educao que nos propicie o justo burilamento.

    Mas a educao, com o cultivo da inteligncia e com o aper-feioamento do campo ntimo, em exaltao de conhecimento e bondade, saber e virtude, no ser conseguida to-s fora de instruo, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adeso da vontade que, em se consagrando ao bem por si prpria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode liber-tar e polir o corao, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, conseqentemen-te, o crebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e sublimao.

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    6 F

    Para encontrar o bem e assimilar-lhe a luz, no basta admitir-lhe a existncia. indispensvel busc-lo com perseverana e fervor.

    Ningum pode duvidar da eletricidade, mas para que a lm-pada nos ilumine o aposento recorremos a fios Condutores que lhe transportem a fora, desde a aparelhagem da usina distante at o recesso de nossa casa.

    A fotografia hoje fenmeno corriqueiro; contudo, para que a imagem se fixe, na execuo do retrato, preciso que a emulso gelatinosa sensibilize a placa que a recebe.

    A voz humana, atravs da radiofonia, transmitida de um continente a outro, com absoluta fidelidade; todavia, no prescin-de do remoinho eletrnico que, devidamente disciplinado, lhe transporta as ondulaes.

    No podemos, desse modo, plasmar realizao alguma sem atitude positiva de confiana.

    Entretanto, como exprimir a f? indaga-se muitas vezes.

    A f no encontra definio no vocabulrio vulgar.

    fora que nasce com a prpria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que a sabedoria da prpria vida. Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que se recompe, humilde, e revela-se na rvore dece-pada que se refaz, gradativamente, entregando-se s leis de reno-vao que abarcam a Natureza.

    Todas as operaes da existncia se desenvolvem, de algum modo, sob a energia da f.

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    Confia o campo no vigor da primavera e cobre-se de flores.

    Fia-se o rio na realidade da fonte, e dela no prescinde para a sua caudal larga e profunda.

    A simples refeio , para o homem, espontneo ato de f. A-limentando-se, confia ele nas vsceras abdominais que no v.

    Todo o xito da experincia social resulta da f que a comu-nidade empenhe no respeito s determinaes de ordem legal que lhe regem a vida.

    Utilizando-nos conscientemente de semelhante energia, -nos possvel suprimir longas curvas em nosso caminho de evoluo.

    Para isso, seja qual for a nossa interpretao religiosa da idia de Deus, imprescindvel acentuar em ns a confiana no bem para refletir-lhe a grandeza.

    Recordemos a lente e o Sol. O astro do dia distribui eqitati-vamente os recursos de que dispe. Convergindo-lhe porm, os raios com a lente comum, dele auferimos poder mais amplo.

    O Bem Eterno a mesma luz para todos, mas concentrando-lhe a fora em ns, por intermdio de positiva segurana ntima, decerto com mais eficincia lhe retrataremos a glria.

    Busquemo-lo, pois, infatigavelmente, sem nos determos no mal.

    O tronco podado oferece frutos iguais queles que produzia antes do golpe que o mutilou.

    A fonte alcana o rio, desfazendo no prprio seio a lama que lhe atiram.

    Sustentemos o corao nas guas vivas do bem inexaurvel. Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos suces-

    sos que nos cruzem a lide cotidiana. Teremos, assim, o espelho de nossa mente voltado para o bem, incorporando-lhe os tesouros eternos, e a felicidade que nasce da f, generosa e operante, liber-

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    tar-nos- dos grilhes de todo o mal, de vez que o bem, constante e puro, ter encontrado em ns seguro refletor.

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    7 Trabalho

    Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos Supe-riores, indispensvel que a nossa vontade abrace espontanea-mente o trabalho por alimento de cada dia.

    No pretrito, aprecivamo-lo por atitude servil de quantos ca-ssem sob o ferrete da injria.

    A escola, as artes, as virtudes domsticas, a indstria e o a-manho do solo eram relegados a mos escravas, reservando-se os braos supostos livres para a inrcia dourada.

    Hoje, porm, sabemos que a lei do trabalho roteiro da justa emancipao. Sem ela, o mundo mental dorme estanque. Fugir-lhe aos impositivos situar-se margem do caminho, onde o carro da evoluo marcha, inflexvel, deixando retaguarda quan-tos se amolgam iluso da preguia.

    O usurrio no padece apenas a infelicidade de seqestrar os bens devidos ao Bem de Todos, mas igualmente o infortnio de erguer para si mesmo a cova adornada em que se lhe estiolaro as mais nobres faculdades do esprito.

    No vale, contudo, agir por agir. As regies infernais vibram repletas de movimento.

    Alm do trabalho-obrigao que nos remunera de pronto, necessrio nos atenhamos ao prazer de servir.

    Nas contingncias naturais do desenvolvimento terrestre, o esprito encarnado compelido a esforo incessante, para o sus-tento do corpo fsico. Recolhe, de graa, a gua pura, os princ-pios solares e os recursos nutrientes da atmosfera; entretanto,

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    preciso suar e sofrer em busca da protena e do carboidrato que lhe assegurem a euforia orgnica

    Cativo, embora, s injunes do plano de obscura matria em que transitoriamente respira, pode, porm, desde a Terra, fruir a ventura do servio voluntrio aos semelhantes todo aquele que descerre o espelho da prpria alma aos reflexos da Esfera Divina.

    O trabalho-ao transforma o ambiente.

    O trabalho-servio, transforma o homem.

    As tarefas remuneradas conquistam o agradecimento de quem lhes recebe o concurso, mas permanecem adstritas ao mundo, nas linhas da troca vulgar.

    A prestao de concurso espontneo, sem qualquer base de recompensa, desdobra a influncia da Bondade Celestial que a todos nos ampara sem pagamento

    A maneira que se nos alonga a ascenso, entendemos com mais clareza a necessidade de trabalhar por amor de servir.

    Quando comeamos a ajudar o prximo, sem aguilhes, ma-triculamo-nos no acrisolamento da prpria alma, entrando em sintonia com a Vida Abundante.

    Nos crculos mais elevados do esprito, o trabalho no im-posto. A criatura consciente da verdade compreende que a ao no bem ajustamento s Leis de Deus e a ela se rende por livre vontade.

    Por isso, nos domnios superiores, quem serve avana para os cimos da imortalidade radiosa, reproduzindo dentro de si mesmo as maravilhas do Cu que nos rodeia a espelhar-se por toda parte.

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    8 Associao

    Se o homem pudesse contemplar com os prprios olhos as correntes de pensamento, reconheceria, de pronto, que todos vivemos em regime de comunho, segundo os princpios da afini-dade.

    A associao mora em todas as coisas, preside a todos os a-contecimentos e comanda a existncia de todos os seres.

    Demcrito, o sbio grego que viveu na Terra muito antes do Cristo, assevera que os tomos, invisveis ao olhar humano, agrupam-se feio dos pombos, cata de comida, formando assim os corpos que conhecemos.

    Comeamos agora a penetrar a essncia do microcosmo e, de alguma sorte, podemos simbolizar, por enquanto, no tomo entre-gue nossa perquirio, um sistema solar em miniatura, no qual o ncleo desempenha a funo de centro vital e os eltrons a de planetas em movimento gravitativo.

    No plano da Vida Maior, vemos os sis carregando os mun-dos na imensidade, em virtude da interao eletromagntica das foras universais.

    Assim tambm na vida comum, a alma entra em ressonncia com as correntes mentais em que respiram as almas que se lhe assemelham.

    Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos.

    que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintoniza-mo-nos com as emoes e idias de todas as pessoas, encarnadas ou desencarnadas, da nossa faixa de simpatia.

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    Estamos invariavelmente atraindo ou repelindo recursos men-tais que se agregam aos nossos, fortificando-nos para o bem ou para o mal, segundo a direo que escolhemos.

    Em qualquer providncia e em qualquer opinio, somos sem-pre a soma de muitos.

    Expressamos milhares de criaturas e milhares de criaturas nos expressam.

    O desejo a alavanca de nosso sentimento, gerando a energia que consumimos, segundo a nossa vontade.

    Quando nos detemos nos defeitos e faltas dos outros, o espe-lho de nossa mente reflete-os, de imediato, como que absorvendo as imagens deprimentes de que se constituem, pondo-se nossa imaginao a digerir essa espcie de alimento, que mais tarde se incorpora aos tecidos sutis de nossa alma. Com o decurso do tempo, nossa alma, no raro, passa a exprimir, pelo seu veculo de manifestao, o que assimilara, fazendo-o seja pelo corpo carnal, entre os homens, seja pelo corpo espiritual de que nos servimos, depois da morte.

    por esta razo que geralmente os censores do procedimento alheio acabam praticando as mesmas aes que condenam no prximo, porquanto, interessados em descer s mincias do mal, absorvem-lhe inconscientemente as emanaes, surpreendendo-se, um dia, dominados pelas foras que o representam.

    Toda a brecha de sombra em nossa personalidade retrata a sombra maior.

    Qual o pequenino foco infeccioso que, abandonado a si mes-mo, pode converter-se dentro de algumas horas no bolo pestfero de imensas propores, a maledicncia pode precipitar-nos no vcio, tanto quanto a clera sistemtica nos arrasta, muita vez, aos labirintos da loucura ou s trevas do crime.

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    Pensando, conversando ou trabalhando, a fora de nossas i-dias, palavras e atos alcana, de momento, um potencial tantas vezes maior quantas sejam as pessoas encarnadas ou no que concordem conosco, potencial esse que tende a aumentar indefi-nidamente, impondo-nos, de retorno, as conseqncias de nossas prprias iniciativas.

    Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, aju-dando, aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque, nessa atitude, refletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurana o nosso problema de companhia.

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    9 Sugesto

    Comenta-se o fenmeno da sugesto mental, qual se fora pri-vativo de gabinetes magnticos especficos, mobilizando-se hip-notizadores e hipnotizados, conta de taumaturgos.

    Grasset, o eminente neurologista da escola de Montpellier, chega a classificar as sugestes em duas categorias: as intra-hipnticas, que se efetuam no curso do sono provocado, e as ps-hipnticas, que se realizam alm do despertar.

    Entretanto, a sugesto acontecimento de toda hora, na vida de todos os seres, com base na reflexo mental permanente.

    Dela se apropriou com mais empenho a magia, que, signifi-cando o governo das foras ocultas, tem sido, antes de tudo, o clima de todas as cerimnias religiosas na Terra, cerimnias essas em que se conjugam as foras de poderosas mentes encarnadas e desencarnadas, gerando sucessos que impressionam a mente popular, disciplinando-lhe os impulsos.

    Fora mental pura e simples, carreando a idia por imagem viva, a sugesto, como a eletricidade, o explosivo, o vapor e a desintegrao atmica, no boa nem m, dependendo os seus efeitos da aplicao que se lhe confere. Temo-la, assim, no ape-nas no altar da orao e nos smbolos sagrados do servio religio-so, aconselhando a virtude e o progresso ao corao do povo, mas tambm nos espetculos deprimentes dos ritos brbaros e na demagogia de arrastamento, ressumando o psiquismo inferior que inspira a licenciosidade e a rebelio.

    Nossas emoes, pensamentos e atos so elementos dinmi-cos de induo.

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    Todos exteriorizamos a energia mental, configurando as for-mas sutis com que influenciamos o prximo, e todos somos afeta-dos por essas mesmas formas, nascidas nos crebros alheios.

    Cada atitude de nossa existncia polariza foras naqueles que se nos afinam com o modo de ser, impelindo-os imitao cons-ciente ou inconsciente.

    que o princpio de repercusso nos comanda a atividade em todos os passos da vida.

    A escola um lar de iniciao para as almas que comeam as lides do burilamento intelectual, constituindo, simultaneamente, um centro de reflexos condicionados para milhes de espritos que reencarnam para readquirir pelo alfabeto o trabalho das pr-prias conquistas na esfera da inteligncia.

    Com o auxlio dos mltiplos instrutores que nos guiam da c-tedra e da tribuna, pelo livro e pela imprensa, retomamos no mundo a nossa realidade psquica, determinada pela soma de nossas aquisies emocionais e culturais no passado, com a possi-bilidade de mais ampla educao da vontade para o devido ajus-tamento Vida Superior.

    Somos hoje, deste modo, herdeiros positivos dos reflexos de nossas experincias de ontem, com recursos de alterar-lhes a direo para a verdadeira felicidade.

    Auxiliando a outrem, sugerimos o auxilio em nosso favor. Suportando com humildade as vicissitudes da senda regenerativa, instilamos pacincia e solidariedade, para conosco, em todos aqueles que nos rodeiam.

    Ajudando, ajudamo-nos. Desservindo, desservimo-nos.

    Por intermdio da sugesto espontnea, plantamos os reflexos de nossa individualidade, colhendo-lhes os efeitos nas individua-

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    lidades alheias, como semeamos e obtemos no mundo o cnhamo e o trigo, a cenoura e a batata.

    Somos, assim, responsveis pela nossa ligao com as foras construtivas do bem ou com as foras perturbadoras do mal.

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    10 Entendimento

    O cultivador do campo no prescinde do arado com que sul-car o corpo da gleba.

    O estaturio recorrer ao buril para afeioar o mrmore i-dia criadora que lhe inflama a cabea.

    A criatura interessada na produo de reflexos mentais prote-tores de sua senda no dispensar o entendimento por alicerce do trabalho renovador.

    Entendimento que simbolize fraternidade operante.

    Simpatia que se converta em fulcro de fora atrativa, exterio-rizando-nos a melhor parte, para que a melhor parte dos outros se exteriorize ao nosso encontro.

    Todos somos compulsoriamente envolvidos na onda mental que emitimos de ns, em regime de circuito natural.

    Categorizamo-nos bons ou maus, conforme o uso de nossos sentimentos e pensamentos, que, no fundo, constituem cargas de energia eletromagntica, com as quais ferimos ou acalentamos, ajudamos ou prejudicamos, vitalizamos ou destrumos, e que voltam, invariavelmente, a ns mesmos, impregnadas dos recur-sos felizes ou infelizes com que lhes marcamos a rota.

    Quando colricos e irritadios, agressivos e speros para com os outros, criamos, por atividade reflexa, o desalento e a intempe-rana, a crueldade e a secura para ns mesmos e, quando genero-sos e compreensivos, prestimosos e teis para com aqueles que nos cercam, criamos, conseqentemente, a alegria e a tranqilida-de, a segurana e o bom nimo para ns prprios.

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    Responde-nos a vida em todas as coisas e em todas as criatu-ras, segundo a natureza de nosso chamamento.

    At o ingresso na Conscincia Csmica, todos os seres se dis-tinguem pela face de luz com que se alteiam para os cimos da evoluo e pela face de sombra pela qual ainda sofrem a influn-cia da retaguarda.

    A prpria posio vulgar do homem na Terra vale por smbo-lo dessa condio especfica. Por cima o fulgor pleno do Sol, por baixo a escuridade do abismo.

    Todos recolhemos do Pai Celeste os estimulos ao futuro e to-dos padecemos os reflexos do passado a se nos projetarem sobre a existncia.

    Desatando, assim, as algemas do mal que ns mesmos forja-mos em detrimento de nossas almas, h que buscar o bem, senti-lo, mentaliz-lo e plasm-lo com todos os potenciais de realizao ao nosso alcance.

    Para comear, precisaremos separar o criminoso da criminali-dade, como o lavrador que estabelece diferena entre o verme e a plantao, para abolir o domnio do primeiro e enriquecer a utili-dade da segunda. E assim como o trabalhador rural extingue a praga, salvando a lavoura, necessrio que o nosso entendimento improvise meios de auxiliar o companheiro que caiu sob o guante da delinqncia, sem alent-la.

    Apequenar-se para ajudar, sem perder altura, assegurar a melhoria de todos, acentuando a prpria sublimao.

    Entretanto, s o culto infatigvel do entendimento pode ga-rantir-nos o equilbrio indispensvel no servio de auto-burilamento em que devemos empenhar os nossos melhores so-nhos, de vez que apenas o amor puro capaz de criar em nossa mente a energia da luz divina, a expandir-se de ns em reflexos de protetora renovao.

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    11 Bero

    Excetuando-se os planos organizados para as obras especiais, em que Espritos missionrios senhoreiam as reservas fisiolgicas para a criao de reflexos da Vida Superior entre os homens, impelindo-os a maior ascenso, todo bero de agora retrata o ontem que passou.

    O caminho que iniciamos em determinada existncia o pro-longamento dos caminhos que percorremos naquelas que a prece-deram.

    Esfalfa-se a investigao cientfica na Terra, estudando o con-tinusmo biolgico.

    Ncleos de cromossomos e veculos citoplsmicos, fatores de ambiente e genealogias familiares so chamados pelos geneticis-tas equao dos problemas da origem e natural que de suas indagaes surjam resultados notveis, quais sejam aqueles que tangem aos caracteres morfolgicos e s surpresas da adaptao.

    O escalpelo da observao humana, porm, no consegue, por agora, ultrapassar o recinto externo da constituio orgnica, detendo-se no exame da conformao e da estatura, da pigmenta-o e do grupo sangneo, alusivos filiao corprea, j que os meandros da hereditariedade psquica so, por enquanto, quase que integralmente inacessveis sondagem da inteligncia terres-tre.

    que as clulas germinais, por sementes vivas, reproduzem os nossos clichs da conscincia no trabalho impalpvel da for-mao de um corpo novo.

    Na cmara uterina, o reflexo dominante de nossa individuali-dade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de princpios germi-

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    nativos que nos forjam os alicerces do novo instrumento fsico, selando-nos a destinao para as tarefas que somos chamados a executar no mundo, em certa quota de tempo.

    Nisso no vai qualquer exaltao ao determinismo absoluto, porque ningum pode suprimir o livre-arbtrio, com o qual articu-lamos as causas de sofrimento ou reparao em nossos destinos, dentro do determinismo relativo em que marchamos para mais altas formas de emoo e pensamento, na conquista da liberdade suprema.

    Pelo transe da morte fsica, regressamos Vida Maior com a soma de realizaes que nem sempre so aquelas que devramos efetuar. Em muitas circunstncias, as imagens trazidas da perma-nncia na carne so fantasmas temveis, nascidos de nossas pr-prias culpas, exigindo reajuste e pagamento, a modelarem para os nossos sentidos o inferno torturante em que se nos revolvem as queixas e aflies.

    Eis, porm, que a Justia Fiel, por misericrdia, nos concede o retorno para a bno do reincio. Retomamos, assim, atravs do bero, o contato direto com os nossos credores e devedores para a liquidao dos dbitos que contramos, cujo balano efetivo jaz devidamente contabilizado nas Leis Divinas.

    desta maneira que comumente renascemos na Terra, segun-do as nossas dvidas ou conforme as nossas necessidades, assimi-lando para esse fim a essncia gentica daqueles que se nos afi-nam com o modo de proceder e de ser.

    Os problemas da hereditariedade, em razo disso, descendem, de forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam prprios.

    Em verdade, por vezes, abnegados coraes, cultivando a lei-ra do amor pelo sacrifcio, trazem a si coraes desditosos, guar-dando transitoriamente, nos braos, monstruosas aberraes que destoam do elevado nvel em que j se instalaram; contudo, de-

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    vemos semelhantes excees ao esprito de renncia com que fazem emergir das regies infernais velhos laos afetivos, distan-ciados no tempo, usando o divino atributo da caridade.

    De conformidade com a regra, porm, nosso bero no mundo o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de ns, quando na reencarnao, honr-lo com trabalho digno de restaura-o, melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele fomos trazidos ou atrados, segundo os problemas da regenerao ou da mordomia de que carecemos na recomposio de nosso destino, perante o futuro.

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    12 Famlia

    A famlia consangnea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradveis ou desagradveis que o pretrito nos devolve.

    Certo, no inclumos aqui os Espritos pioneiros da evoluo que, trazidos ao ambiente comum, superam-no, de imediato, criando o clima mental que lhes peculiar, atendendo renovao de que se fazem intrpretes.

    Comentamos a nossa posio no campo vulgar da luta. Cada criatura est provisoriamente ajustada ao raio de ao

    que capaz de desenvolver ou, mais claramente, cada um de ns apenas, pouco a pouco, ultrapassar o horizonte a que j estenda os reflexos que lhe digam respeito.

    O homem primitivo no se afasta, de improviso, da prpria taba, mas a renasce mltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado demora-se longo tempo no plano racial em que assimila as experincias de que carece, at que a soma de suas aquisies o recomende a diferentes realizaes.

    assim que na esfera do grupo consangneo o Esprito reen-carnado segue ao encontro dos laos que entreteceu para si pr-prio, na linha mental em que se lhe caracterizam as tendncias.

    A chamada hereditariedade psicolgica , por isso, de algum modo, a natural aglutinao dos espritos que se afinam nas mes-mas atividades e inclinaes.

    Um grande artista ou um heri preeminente podem nascer em esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. a mani-festao do gnio pacientemente elaborado no bojo dos milnios,

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    impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco traba-lho criativo.

    Todavia, na senda habitual, o templo domstico rene aqueles que se retratam uns nos outros.

    Uma famlia de msicos ter mais facilidade para recolher companheiros da arte divina em sua descendncia, porque, muita vez, os Espritos que assumem a posio de filhos na reencarna-o, junto deles, so os mesmos amigos que lhes incentivavam a formao musical, desde o reino do Esprito, refletindo-se reci-procamente na continuidade da ao em que se empenham atravs de sculos numerosos.

    ainda assim que escultores e poetas, polticos e mdicos, comerciantes e agricultores quase sempre se do as mos, no culto dos melhores valores afetivos, continuando-se, mutuamente, nos genes familiares, preservando para si mesmos, mediante o traba-lho em comum e segundo a lei do renascimento, o patrimnio evolutivo em que se exprimem no espao e no tempo. Tambm assim, de conformidade com o mesmo princpio de sintonia, que vemos dipsmanos e cleptomanacos, tanto quanto delinqentes e enfermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam espiritualmente as deficincias e as provas, porquanto muitas inteligncias transviadas se ajustam ao campo gentico daqueles que lhes atraem a companhia, por fora dos sentimentos menos dignos ou das aes deplorveis com que se oneram perante a Lei.

    A tara familiar, por esse motivo, a resultante da conjuno de dbitos, situando-nos no plano gentico enfermio que mere-cemos, face dos nossos compromissos com o mundo e com a vida. Dessa forma, somos impelidos a padecer o retorno dos nossos reflexos txicos atravs de pessoas de nossa parentela, que no-los devolvem por aflitivos processos de sofrimento.

    Temos assim, no grupo domstico, os laos de elevao e a-legria que j conseguimos tecer, por intermdio do amor louva-

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    velmente vivido, mas tambm as algemas de constrangimento e averso, nas quais recolhemos, de volta, os clichs inquietantes que ns mesmos plasmamos na memria do destino e que necessi-tamos desfazer, custa de trabalho e sacrifcio, pacincia e hu-mildade, recursos novos com que faremos nova produo de reflexos espirituais, suscetveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.

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    13 Filhos

    Nasce a criana, trazendo consigo o patrimnio moral que lhe marca a individualidade antes do renascimento no plano fsico; no entanto, receber os reflexos dos pais e dos mestres que lhe im-primiro nova chapa cerebral as imagens que, em muitas ocasi-es, lhe influenciaro a existncia inteira.

    Indiscutivelmente, a instruo espera-lhe o esprito em nova fase, enriquecendo-lhe o caminho nesse ou naquele mister; contu-do, importa reconhecer que a palavra escrita, em confronto com a palavra falada ou com o exemplo direto, revela poderes de reper-cusso menos vivos, mormente quando torturada entre os precon-ceitos da forma gramatical.

    que a voz e a ao prtica jazem impregnadas do magne-tismo indutivo que se desprende da reflexo imediata, operando significativas transformaes para o bem ou para o mal, segundo a natureza que lhes personaliza as manifestaes.

    As crianas confiadas na Terra ao nosso zelo so portadoras de aparelhagem neurocerebral completamente nova em sua estru-tura orgnica, feio de cmara fotogrfica devidamente habili-tada a recolher impresses. A objetiva, que na mquina dessa espcie constituda por um sistema de lentes apropriadas, capa-zes de colher imagens corretas sobre recursos sensveis, repre-sentada na mente infantil por um espelho renovado em que se conjugam viso e observao, ateno e meditao por lentes da alma, absorvendo os reflexos das mentes que a rodeiam e fixando-os em si prpria, como elementos bsicos de Conduta.

    Os pequeninos acham-se, deste modo, merc dos moldes espirituais dos que lhes tecem o bero ou que lhes asseguram a escola, assim como a argila frgil e viva ante as idias do oleiro.

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    No podemos, pois, esquecer na Terra que nossos filhos, em-bora carreando consigo a sedimentao das experincias passadas, em estgios anteriores na gleba fisiolgica, so companheiros que nos retomam transitoriamente o convvio, quase sempre para se reajustarem conosco, aos impositivos da Lei Divina, necessitados quanto ns mesmos, de provas e ensinamentos, no que tange ao trabalho da regenerao desejada.

    Excetuados aqueles que transcendem os nossos marcos evolu-tivos, face da misso particular de que se investem na renovao do ambiente comum, todos eles nos sofrem os reflexos, assimi-lando impresses entranhadamente perdurveis que, s vezes, lhes acompanham os passos desde a meninice at a morte do corpo denso.

    Trat-los conta de enfeites do corao ser induzi-los a fu-nestos enganos, porquanto, em se tornando ineficientes para a luta redentora, quando se lhes desenvolve o veculo orgnico facil-mente se ajustam ao reflexo dominante das inteligncias aclima-tadas na sombra ou na rebeldia, gravitando para a influncia do pretrito que mais deveramos evitar e temer.

    assim que toda criana, entregue nossa guarda, um vaso vivo a arrecadar-nos as imagens da experincia diria, competin-do-nos, pois, o dever de traar-lhe noes de justia e trabalho, fraternidade e ordem, habituando-a, desde cedo, disciplina e ao exerccio do bem, com a fora de nossas demonstraes, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e esperana. Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o corao da infncia urna preciosa a incorporar-nos os reflexos, trofu que nos retratar no grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na funo de herdeiros das nossas prprias obras.

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    14 Corpo

    Abstendo-nos de qualquer digresso cientfica, porquanto os livros tcnicos de educao usual so suficientemente esclarece-dores no que reporta aos aspectos exteriores do corpo humano, lembremo-nos de que o Esprito, inquilino da casa fsica, lhe preside formao e sustentao, consciente ou inconsciente-mente, desde a hora primeira da organizao fetal, no obstante quase sempre sob os cuidados protetores de Mensageiros da Pro-vidncia Divina.

    Trazendo consigo mesmo a soma dos reflexos bons e menos bons de que portador, segundo a colheita de mritos e prejuzos que semeou para si mesmo no solo do tempo, o Esprito incorpora aos moldes reduzidos do prprio ser as clulas do equipamento humano, associando-as prpria vida, desde a vescula germinal.

    Amparado no colo materno, estrutura-se-lhe o corpo mediante as clulas referidas, que, em se multiplicando ao redor da matriz espiritual, como a limalha de ferro sobre o m, formam, a princi-pio, os folhetos blastodrmicos de que se derivam o tubo intesti-nal, o tubo nervoso, o tecido cutneo, os ossos, os msculos, os vasos.

    Em breve, atendendo ao desenvolvimento espontneo, acha-se o Esprito materializado na arena fsica, manifestando-se pelo veculo carnal que o exprime. Esse veculo, constitudo por bi-lhes de clulas ou individuaes microscpicas, que se ajustam aos tecidos sutis da alma, partilhando-lhes a natureza eletromag-ntica, lembra uma oficina complexa, formada de bilhes de motores infinitesimais, movidos por oscilaes eletromagnticas, em comprimento de onda especfica, emitindo irradiaes pr-

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    prias e assimilando as irradiaes do plano em que se encontram, tudo sob o comando de um nico diretor: a mente.

    Desde a fase embrionria do instrumento em que se manifes-tar no mundo, o Esprito nele plasma os reflexos que lhe so prprios.

    Criaturas existem to conturbadas alm-tmulo com os pro-blemas decorrentes do suicdio e do homicdio, da delinqncia e da viciao, que, trazidas ao renascimento, demonstram, de ime-diato, os mais dolorosos desequilbrios, pela disfuno vibratria que os cataloga nos quadros da patologia celular.

    As enfermidades congnitas nada mais so que reflexos da posio infeliz a que nos conduzimos no pretrito prximo, re-clamando-nos a internao na esfera fsica, s vezes por prazo curto, para tratamento da desarmonia interior em que fomos com-prometidos.

    Surgem, porm, outras cambiantes dos reflexos do passado na existncia do corpo, da culpa disfarada e dos remorsos ocultos. So plantaes de tempo certo que a lei de ao e reao governa, vigilante, com segurana e preciso.

    por isso que, muitas vezes, consoante os programas traa-dos antes do bero, na pauta da dvida e do resgate, a criatura visitada por estranhas provaes, em plena prosperidade material, ou por desastres fisiolgicos de comovente expresso, quando mais irradiante se lhe mostra a sade.

    Contudo, imperioso lembrar que reflexos geram reflexos e que no h pagamento sem justos atenuantes, quando o devedor se revela amigo da soluo dos prprios dbitos.

    A prtica do bem, simples e infatigvel pode modificar a rota do destino, de vez que o pensamento claro e correto, com ao edificante, interfere nas funes celulares, tanto quanto nos even-

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    tos humanos, atraindo em nosso favor, por nosso reflexo melho-rado e mais nobre, amparo, luz e apoio, segundo a lei do auxlio.

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    15 Sade

    A sade assim como a posio de uma residncia que de-nuncia as condies do morador, ou de um instrumento que re-produz em si o zelo ou a desdia das mos que o manejam.

    A falta cometida opera em nossa mente um estado de pertur-bao, ao qual no se renem simplesmente as foras desvairadas de nosso arrependimento, mas tambm as ondas de pesar e acusa-o da vtima e de quantos se lhe associam ao sentimento, instau-rando desarmonias de vastas propores nos centros da alma, a percutirem sobre a nossa prpria instrumentao.

    Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocan-do leses funcionais diversas.

    A clera e o desespero, a crueldade e a intemperana criam zonas mrbidas de natureza particular no cosmo orgnico, impon-do s clulas a distonia pela qual se anulam quase todos os recur-sos de defesa, abrindo-se leira frtil cultura de micrbios pato-gnicos nos rgos menos habilitados resistncia.

    assim que, muitas vezes, a tuberculose e o cncer, a lepra e a ulcerao aparecem como fenmenos secundrios, residindo a causa primria no desequilbrio dos reflexos da vida interior.

    Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as clulas em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregao.

    Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da nu-trio constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.

    Enquanto encarnados, natural que as vidas infinitesimais que nos constituem o veculo de existncia retratem as substncias que ingerimos. Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa quantidade de bactrias patognicas que, em se instalando

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    comodamente no mundo celular, podem determinar molstias infecciosas de variegados caracteres, compelindo-nos a recolher, assim, de volta, os resultados de nossa imprevidncia.

    Mas no somente a, no domnio das causas visveis, que se originam os processos patolgicos multiformes.

    Nossas emoes doentias mais profundas, quaisquer que se-jam, geram estados enfermios.

    Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos voltam-se sobre ns mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o servio das clulas nervosas que, instala-das na pele, nas vsceras, na medula e no tronco cerebral, desem-penham as mais avanadas funes tcnicas; acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se derramando sobre o cr-tex enceflico, produzem alucinaes que podem variar da fobia oculta loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles com-panheiros encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e de ser, nos atingem com sugestes destruido-ras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos a deplorveis fenmenos de alienao mental, na obsesso comum, ainda mesmo quando no jogo das aparncias possamos aparecer como pessoas espiritu-almente sadias.

    No nos esqueamos, assim, de que apenas o sentimento reto pode esboar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carncia de equilbrio interior, imprimindo no aparelho somtico os desvarios e as perturbaes que lhe so conseqentes.

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    16 Vocao

    A vocao a soma dos reflexos da experincia que trazemos de outras vidas.

    natural que muitas vezes sejamos iniciantes, nesse ou na-quele setor de servio, diante da evoluo das tcnicas de trabalho que sempre nos reclamam novas modalidades de ao; todavia, comumente, retomamos no bero a senda que j perlustramos, seja para a continuao de uma obra determinada, seja para corri-gir nossos prprios caminhos.

    De qualquer modo, o titulo profissional, em todas as ocasies, carta de crdito para a criao de reflexos que nos enobream.

    O administrador, o juiz, o professor, o mdico, o artista, o marinheiro, o operrio e o lavrador esto perfeitamente figurados naquela parbola dos talentos de que se valeu o Divino Mestre para convidar-nos ao exame das responsabilidades prprias peran-te os emprstimos da Bondade Infinita.

    Cada esprito recebe, no plano em que se encontra, certa quo-ta de recursos para honrar a Obra Divina e engrandec-la.

    Acontece, porm, que, na maioria das circunstncias, nos a-propriamos indebitamente das concesses do Senhor, usando-as no jogo infeliz de nossas paixes desgovernadas, no aloucado propsito de nos antepormos ao prprio Deus.

    Da a colheita dos reflexos amargos de nossa conduta, quando se nos desgasta o corpo terrestre, com o doloroso constrangimento do regresso s dificuldades do recomeo, em que o instituto da reencarnao funciona com valores exatos.

    E como cada regio profissional abrange variadas linhas de atividade, o juiz que criou reflexos de crueldade, perseguindo

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    inocentes, costuma voltar ao mesmo tribunal, onde exercera as suas luzidas funes, com as lgrimas de ru condenado injusta-mente, para sofrer no prprio esprito e na prpria carne as flage-laes que imps, noutro tempo, a vtimas indefesas. O mdico que abusou das possibilidades que lhe foram entregues, retorna ao hospital que espezinhou, como apagado enfermeiro, defrontado por speros sacrifcios, a fim de ganhar o po. O grande agricultor que dilapidou as energias dos cooperadores humildes que o Cu lhe concedeu, para os servios do campo, vem, de novo, gleba que explorou com vileza de sentimento, na condio de pobre lidador, padecendo o sistema de luta em que prendeu moralmente as esperanas dos outros. Artistas emritos, que transformaram a inteligncia em trilho de acesso a desregramentos inconfessveis, reaparecem como annimos companheiros do pincel ou da ribalta, debaixo de inibies por muito tempo insolveis, feio de habilidosos trabalhadores de ltima classe. Mulheres dignificadas por nomes distintos, confiadas ao vicio e dissipao, com esque-cimento dos mais altos deveres que lhes marcam a rota, freqen-temente voltam aos lares que deslustraram, na categoria de nfi-mas servidoras, aprendendo duramente a reconquistar os ttulos venerveis de esposa e me...

    E, comumente, de retorno suportam preterio e hostilidade, embaraos e desgostos, por onde passem, experimentando subli-mes aspiraes e frustraes amargosas, porquanto da Lei ve-nhamos a colher os reflexos de nossas prprias aes, implantados no nimo alheio, retificando em ns mesmos o manancial da emoo e da idia, para que nos ajustemos corrente do bem, que parte de Deus e percorre todo o Universo para voltar a Deus.

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    17 Profisso

    Pelos contatos da profisso cria o homem vasta escola de tra-balho, construindo a dignidade humana; contudo, pela abnegao emite reflexos da beleza divina, descerrando trilhos novos para o Reino Celestial.

    A profisso, honestamente exercida, embora em regime de re-tribuio, inclina os semelhantes para o culto ao dever.

    A abnegao, que sacrifcio pela felicidade alheia, sublima o esprito.

    por isso que todos os povos sentem necessidade de erguer, no imo do prprio seio, um altar permanente em que rendam preito aos legtimos heris.

    A abnegao que comea onde termina o dever possibilita a repercusso da Esfera Superior sobre o campo da Humanidade.

    O delinqente comum, algemado ao crcere, inspira piedade e sofrimento. O paladino de uma causa nobre, injustamente recluso no mesmo stio, provoca respeito e imitao.

    O administrador consciente e amigo que reparte os bens do servio, gastando a parte que lhe compete com escrupulosa probi-dade, um padro de virtudes terrenas. O homem que cede suor e sangue de si mesmo, a benefcio de todos, sem cogitar do seu interesse, um apstolo das virtudes celestes.

    A ama, devidamente paga por seu trabalho, junto criana que lhe recebe carinho, credora natural de ateno e reconheci-mento, mas o corao materno, em constante renncia, arrebata, quem o contempla, glria do amor puro.

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    assim que o matemtico, laureando-se de consideraes pblicas, dignamente gratificado pela obra que realiza, catalo-gado conta de cientista, e o cientista, mergulhado no trabalho incessante, em favor da tranqilidade e da segurana da civiliza-o, esquecido de si mesmo, classificado por benfeitor.

    Pela fidelidade ao desempenho das suas obrigaes, o homem melhora a si mesmo e, pela abnegao, o anjo aproxima-se do homem melhorado, aprimorando a vida e o mundo.

    Nas atividades que transcendem o quadro de servios remu-nerveis na Terra, fruto das almas que ultrapassaram o impulso de preservao do prprio conforto, descem os reflexos mentais das Inteligncias Celestes que operam, por amor, nas linhas da bene-merncia oculta, linhas em que encontramos os braos eternos do Divino Incognoscvel, que Deus.

    Nessa provncia moral do devotamento sem lindes, em que surpreendemos todos os coraes humanos consagrados ao servi-o espontneo do bem, nem sempre respira o gnio, por vezes onerado de angstia pela soma dos reflexos infelizes que carreia consigo desde o passado distante, mas identificamos facilmente os altos sacerdotes de todas as religies, os admirveis artistas de todas as ptrias, os nobres inventores de todos os climas, os artfi-ces iluminados de todos os povos e as grandes mes, tanta vez esquecidas e sofredoras, de todas as latitudes. Por todos esses a Espiritualidade Superior desce gradativamente esfera humana, sem qualquer ligao com o pagamento da popularidade e do ouro, porque a, pelo completo desprendimento de si mesma, no auxilio aos outros, que a alma vive o apostolado sublime da re-nncia santificante, atraindo o Pensamento Divino para o burila-mento e a ascenso da Humanidade.

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    18 Sociedade

    A sociedade humana pode ser comparada a imensa floresta de criaes mentais, onde cada esprito, em processo de evoluo e acrisolamento, encontra os reflexos de si mesmo.

    A dentro os princpios de ao e reao funcionam exatos.

    As ptrias, grandes matrizes do progresso, constituem not-veis fulcros da civilizao ou expressivos redutos de trabalho, em que vastos grupos de almas se demoram no servio de auto-educao, mediante o servio comunidade, emigrando, muita vez, de um pas para outro, conforme se lhes faa precisa essa ou aquela aquisio nas linhas da experincia.

    O lar coletivo, definindo afinidades raciais e interesses do cl, o conjunto das emoes e dos pensamentos daqueles que o povoam. Entre as fronteiras vibratrias que o definem, por inter-mdio dos breves aprendizados bero-tmulo, que denomina-mos existncias terrestres, transfere-se a alma de posio a posi-o, conforme os reflexos que haja lanado de si mesma e con-forme aqueles que haja assimilado do ambiente em que estagiou.

    Atingida a poca de aferio dos prprios valores, quando a morte fsica determina a extino da fora vital corprea, empres-tada ao esprito para a sua excurso de desenvolvimento e servio, reajuste ou elevao, na esfera da carne, colhemos os resultados de nossa conduta e, bastas vezes, preciso recomear o trabalho para regenerar atitudes e purificar sentimentos, na reconstruo de nossos destinos.

    Dessa forma, os coraes que hoje oprimem o prximo, a se prevalecerem da galeria social em que se acastelam, na ilusria supremacia do ouro, voltam amanh ao terreno torturado da ca-

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    rncia e do infortnio, recolhendo, em impactos diretos, os raios de sofrimento que semearam no solo das necessidades alheias. E se as vitimas e os verdugos no souberem exercer largamente o perdo recproco, encontramos no mundo social verdadeiro crcu-lo vicioso em que se entrechocam, constantemente, as ondas da vingana e do dio, da dissenso e do crime, assegurando clima favorvel aos processos da delinqncia.

    Sociedades que ontem escravizaram o brao humano so hoje obrigadas a afagar, por filhos do prprio seio, aqueles que elas furtaram terra em que se lhes situava o degrau evolutivo. Hordas invasoras que talam os campos de povos humildes e inermes, neles renascem como rebentos do cho conquistado, garantindo o refazimento das instituies que feriram ou depredaram. Agrupa-mentos separatistas, que humilham irmos de cor, voltam na pigmentao que detestam, arrecadando a compensao das pr-prias obras. Citadinos aristocratas, insensveis aos problemas da classe obscura, depois de respirarem o conforto de avenidas sun-tuosas costumam renascer em bairros atormentados e annimos, bebendo no clix do pauperismo os reflexos da crueldade risonha com que assistiram, noutro tempo, dor e dificuldade dos filhos do sofrimento.

    Em todas as pocas, a sociedade humana o filtro gigantesco do esprito, em que as almas, nos fios da experincia, na abastana ou na misria, na direo ou na subalternidade, colhem os frutos da plantao que lhes prpria, retardando o passo na plancie vulgar ou acelerando-o para os cimos da vida, em obedincia aos ditames da evoluo.

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    19 Prosperidade

    Prosperidade na Terra quer dizer fortuna, felicidade. Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia re-

    levo, autoridade, domnio... Gastam-se largos patrimnios da existncia para conquistar-

    lhe o prestigio e no falta quem surja no prlio estudando as for-as ocultas para incorporar-lhe o bafejo.

    Milhes dos homens de hoje vivem cata de ouro e predomi-nncia, com o mesmo empenho com que antigamente, em apren-dizados mais simples, se entregavam aos misteres primitivos de caa e pesca.

    que, na procura desse ou daquele valor da vida, mobiliza-mos a energia mental, constituda base de nossas emoes e desejos.

    O espelho do corao, constantemente focado no rumo dos objetos e situaes que buscamos, traz-nos rota os elementos que nos ocupam a alma.

    No esqueamos, todavia, que, na laboriosa jornada para a Glria Divina, nos confundimos sempre com aquilo que nos possui a ateno, demorando-nos nesse ou naquele setor de luta, conforme a extenso e durao de nossos propsitos.

    Como no filme cinematogrfico, em que a histria narrada feita pelos quadros que se sucedem, ininterruptos, a experincia que nos peculiar, nessa ou naquela fase da vida, constitui-se dos reflexos repetidos de nossos sentimentos, gerando idias cont-nuas que acabam plasmando os temas de nossa luta, aos quais se nos associa a mente, identificando-se, de modo quase absoluto,

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    com as criaes dela mesma, maneira da tartaruga que na cara-paa, formada por ela prpria, se isola e refugia.

    Em razo disso, o conceito de prosperidade no mundo sem-pre discutvel, porquanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar com proveito para os sagrados objetivos da Criao.

    Muita gente, pela reflexo mental incessante em torno dos re-cursos amoedados, progride em ttulos materiais; entretanto, se os no converte em fatores de enriquecimento geral, cava abismos dourados nos quais se submerge, gastando longo tempo para libertar-se do azinhavre da usura.

    Legies de pessoas no sculo ferem o solo da vida, com an-seios repetidos de salincia individual, e adquirem vasto renome na cincia e na religio, nas letras e nas artes; contudo, se no movimentam as suas conquistas no amparo e na educao dos companheiros da senda humana, quase sempre, muito embora fulgurem nas galerias da genialidade, sofrem o retorno das ondas mentais de extravagncia que emitem, caindo em perigosos labi-rintos de purgao.

    H, por isso, muita prosperidade aparente, mais deplorvel que a misria material em si mesma, porque a mesa vazia e o fogo sem lume podem ser caminhos de louvvel reparao, enquanto o banquete opparo e a bolsa farta, em muitas ocasies, apenas significam avenidas de licena que correm para o despe-nhadeiro da culpa, de onde s conseguiremos sair ao preo de longos estgios na perturbao e na sombra.

    Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus o progresso material dos mpios. Em verdade, porm, semelhante fortuna no existe, de vez que a prosperidade, ausente da reta conduta, no passa de apropriao indbita e como roupa bri-lhante cobrindo chagas ocultas, que exigem a formao de refle-xos contrrios aos enganos que as originaram, a fim de que a

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    prosperidade legtima, a expressar-se em servio e cultura, amor e retido, confira ao esprito o reflexo dominante da luz.

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    20 Hbito

    O hbito uma esteira de reflexos mentais acumulados, ope-rando constante induo rotina.

    Herdeiros de milnios, gastos na recapitulao de muitas ex-perincias anlogas entre si, vivemos, at agora, quase que maneira de embarcaes ao gosto da correnteza, no rio de hbitos aos quais nos ajustamos sem resistncia.

    Com naturais excees, todos adquirimos o costume de con-sumir os pensamentos alheios pela reflexo automtica e, em razo disto, exageramos as nossas necessidades, apartando-nos da simplicidade com que nos seria fcil erguer uma vida melhor, e formamos em torno delas todo um sistema defensivo base de crueldade, com o qual ferimos o prximo, dilacerando conseqen-temente a ns mesmos.

    Estruturamos, assim, complicado mecanismo de cautela e desconfiana, para alm da justa preservao, retendo, apaixona-damente, o instinto da posse e, com o instinto da posse, criamos os reflexos do egosmo e do orgulho, da vaidade e do medo, com que tentamos inutilmente fugir s Leis Divinas, caminhando, na maioria das circunstncias, como operrios distrados e infiis que desertassem da mquina preciosa em que devem servir gloriosa-mente, para cair, sufocados ou inquietos, nas engrenagens que lhes so prprias.

    Nesse crculo vicioso, vive a criatura humana, de modo geral, sob o domnio da ignorncia acalentada, procurando enganar-se depois do bero, para desenganar-se depois do tmulo, aprisiona-da no binmio iluso-desiluso, com que despende longos scu-los, comeando e recomeando a senda em que lhe cabe avanar.

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    No ser lcito, porm, de modo algum, desprezar a rotina construtiva. por ela que o ser se levanta no seio do espao e do tempo, conquistando os recursos que lhe enobrecem a vida.

    A evoluo, contudo, impe a instituio de novos costumes, a fim de que nos desvencilhemos das frmulas inferiores, em marcha para ciclos mais altos de existncia.

    por esse motivo que vemos no Cristo divino marco da re-novao humana todo um programa de transformaes viscerais do esprito. Sem violncia de qualquer natureza, altera os padres da moda moral em que a Terra vivia h numerosos milnios. Contra o uso da condenao metdica, oferece a prtica do per-do. A tradio de raa ope o fundamento da fraternidade legti-ma.

    No abandono tristeza e ao desnimo, nas horas difceis, traz a noo das bem-aventuranas eternas para os aflitos que sabem esperar e para os justos que sabem sofrer.

    Toda a passagem do Senhor, entre os homens, desde a Man-jedoura, que estabelece o hbito da simplicidade, at a Cruz afron-tosa que cria o hbito da serenidade e da pacincia, com a certeza da ressurreio para a vida eterna, o apostolado de Jesus res-plendente conjunto de reflexos do caminho celestial para a reden-o do caminho humano.

    At agora, no mundo, a nossa justia cheira a vingana e o nosso amor sabe a egosmo, pelo reflexo condicionado de nossas atitudes irrefletidas nos milnios que nos precedem o hoje. No podemos desconhecer, todavia, que somente adotando a bondade e o entendimento, com a obrigao de educar-nos e com o dever de servir, como hbitos automticos nos alicerces de cada dia, colaborando para a segurana e felicidade de todos, ainda mesmo custa de nosso sacrifcio, que refletiremos em ns a verdadeira felicidade, por estarmos nutrindo o verdadeiro bem.

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    21 Dever

    O dever define a submisso que nos cabe a certos princpios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvol-vimento de nossas faculdades.

    Para viver em segurana, ningum desprezar a disciplina.

    Obedecem as partculas elementares no mundo atmico, obe-dece a constelao na glria da Imensidade.

    O homem viajar pelo firmamento, a longas distncias do lar em que se lhe vincula o corpo fsico; no entanto, no lograr faz-lo sem obedincia aos princpios que vigem para os movimentos da mquina que o transporta.

    Dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de ao no bem que o Supremo Senhor nos traa responsabili-dade, para a sustentao da ordem e da evoluo em Sua Obra Divina, no encalo de nosso prprio aperfeioamento.

    Cada conscincia bafejada pelo sol da razo ser interpretada, assim, conta de raio na esfera da vida, evolvendo da superfcie para o centro, competindo-lhe a obrigao de respeitar e promo-ver, facilitar e nutrir o bem comum, atitude espontnea que lhe valer o auxilio natural de todos os que lhe recolhem a simpatia e a cooperao. Com semelhante atitude, cada esprito plasma os reflexos de si mesmo, por onde passa, abrindo-se aos reflexos das mentes mais elevadas que o impulsionam contemplao de mais vastos horizontes do progresso e adequada assimilao de mais altos valores da vida.

    Desse modo, pela execuo do dever regio moral de servi-o em que somos constantemente alertados pela conscincia ,

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    exteriorizamos a nossa melhor parte, recolhendo a melhor parte dos outros.

    Acontece, porm, que muitas vezes criamos perturbaes na linha das atividades que o Senhor nos confia, e no apenas des-conjuntamos a pea de nossa existncia, como tambm colocamos em desordem muitas existncias alheias, desajustando outras muitas peas na mquina do destino.

    Surge ento para ns o inexorvel constrangimento luta maior, que podemos nomear como sendo o dever-regenerao, pelo qual somos compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de nossa individualidade, frente daqueles que se fizeram credores das nossas quotas de sacrifcio.

    dessa maneira que recebemos, por imposio das circuns-tncias, a esposa incompreensiva, o esposo atrabilirio, o filho doente, o chefe agressivo, o subalterno infeliz, a molstia pertinaz ou a tarefa compulsria a beneficio dos outros, como gleba espiri-tual para esforo intensivo na recuperao de ns mesmos.

    por esse motivo que de nada vale desertar do campo de du-ras obrigaes em que nos vejamos sitiados, por fora dos aconte-cimentos naturais do caminho, de vez que na intimidade da cons-cincia, ainda mesmo que a apreciao alheia nos liberte desse ou daquele imposto de devotamento e renncia, ordena a razo este-jamos de sentinela na obra de pacincia e de tolerncia, de humil-dade e de amor, que fomos chamados intimamente a atender; sem isso, no obstante a aparncia legal de nosso afastamento da luta, somos invencivelmente onerados por ocultas sensaes de desgos-to ante as nossas prprias fraquezas, que, comeando por ligeiras irritaes e pequeninos desalentos, acabam matriculando-nos o esprito nos institutos da enfermidade ou na vala da frustrao.

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    22 Culpa

    Quando fugimos ao dever precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com mltiplas manifestaes, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.

    E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos refle-xos de nossa lembrana amarga, transforma-se num abcesso men-tal, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmtica de nossa vida ntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convvio.

    feio do m, que possui campo magntico especfico, to-da criatura traz consigo o halo ou aura de foras criativas ou destrutivas que lhe marca a ndole, no feixe de raios invisveis que arroja de si mesma. por esse halo que estabelecemos as nossas ligaes de natureza invisvel nos domnios da afinidade.

    Operando a onda mental em regime de circuito, por ela incor-poramos, quando moralmente desalentados, os princpios corrosi-vos que emanam de todas as Inteligncias, encarnadas ou desen-carnadas, que se entrosem conosco no mbito de nossa atividade e influncia.

    Projetando as energias dilacerantes de nosso prprio desgos-to, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por silenciosa argumentao interior que nos converte o pesar, inicialmente alimentado contra ns mesmos, em mgoa e irritao contra os outros.

    que os reflexos de nossa defeco, a torvelinharem junto de ns, assimilam, de imediato, as indisposies alheias, carreando para a acstica de nossa alma todas as mensagens inarticuladas de revolta e desnimo, angstia e desespero que vagueiam na atmos-

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    fera psquica em que respiramos, metamorfoseando-nos em autn-ticos rebelados sociais, famintos de insulamento ou de escndalo, nos quais possamos dar pasto imaginao virulada pelas mrbi-das sensaes de nossas prprias culpas.

    nesse estado negativo que, martelados pelas vibraes de sentimentos e pensamentos doentios, atingimos o desequilbrio parcial ou total da harmonia orgnica, enredando corpo e alma nas teias da enfermidade, com a mais complicada diagnose da patolo-gia clssica.

    A noo de culpa, com todo o squito das perturbaes que lhe so conseqentes, agir com os seus reflexos incessantes sobre a regio do corpo ou da alma que corresponda ao tema do remorso de que sejamos portadores.

    Toda desero do dever a cumprir traz consigo o arrependi-mento que, alentado no esprito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existncias de reaprendi-zado e restaurao.

    Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento to imediato quanto possvel de nosso equilbrio vibratrio, se no desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparaes.

    por essa razo que Jesus, no apenas como Mestre Divino mas tambm como Sbio Mdico, nos aconselhou a reconciliao com os nossos adversrios, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdo sem limites.

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    23 Auxlio

    Auxiliar espontaneamente refletir a Vida Divina por inter-mdio da vida de nosso eu, que se dilata e engrandece, pro-poro que nos desdobramos no impulso de auxiliar.

    A Eterna Providncia o reservatrio do Amor Infinito, em doao permanente, solicitando canais de expresso que o distri-buam, aos quais prov com matemtica preciso.

    necessrio, porm, estejamos de atalaia no celeiro de ns mesmos, a fim de que no impeamos o eterno dar-se de Nosso Pai, dando incessantemente dos bens de que Ele nos enriquece.

    Quem observa os princpios da eletricidade no ignora que o fluxo constante da fora, para a consecuo dos benefcios que ela produz, reclama um circuito completo. Se no houvesse plos positivos e negativos, no disporamos do favor da luz e do mo-vimento.

    Quem conhece igualmente o manancial sabe que a gua, para manter-se pura, exige escoadouro.

    Toda obstruo, por isso mesmo, significa inrcia e enfermi-dade.

    A lei do auxlio permite a solicitao, mas determina a expan-so para que a ajuda no desajude.

    O sangue que no circula gera a necrose que traduz cadaveri-zao dentro do corpo vivo.

    O homem que saiba governar muitos bens reunidos, constru-indo com eles a base do trabalho e da educao de muitos, qual represa em lide, no campo social, missionrio do progresso que as leis da vida nutrem de esperana e sade, segurana e alegria; ao

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    passo que o detentor de numerosos bens, sem qualquer serventia para a comunidade, um sorvedouro em sombra margem do caminho, usurrio infeliz que as mesmas leis da vida cercam de angstia e medo, solido e secura.

    O amparo que recolhemos corresponde ao amparo que dis-pensamos. E o amparo que dispensamos est invariavelmente seguido de vastos acrscimos potenciais para a hiptese de nos fazermos mais teis.

    Lembremo-nos de que refletir as bnos de Deus no socorro espontneo ao prximo, sem o tambor da vaidade a estimular-nos o exclusivismo, atrair os reflexos de Deus para aqueles que nos cercam e que, igualmente em silncio, se deslocam ao nosso encontro, prestando-nos assistncia efetiva.

    Ajudar com o sentimento, com a idia, com a palavra e com a ao, ajudar a todos e melhorar sempre invocar, em nosso favor, o apoio integral da vida.

    No nos esqueamos, pois, de que o auxilio que prestamos s criaturas, sem exigncia e sem paga, a nossa rogativa silenciosa ao Socorro Divino, que nos responde, invarivel, com a luz da cooperao e do suprimento.

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    24 Humildade

    A humildade, por fora divina, reflete-se, luminosa, em todos os domnios da Natureza, os quais expressam, efetivamente, o Trono de Deus, patrocinando o progresso e a renovao.

    Magnificente, o Sol, cada dia, oscula a face do pntano sem clamar contra o insulto da lama; a flor, sem alarde, incensa a glria do cu. Filtrada na aspereza da rocha, a gua se revela mais pura, e, em seguida s grandes calamidades, a colcha de erva cobre o campo, a fim de que o homem recomece a lida.

    carncia de humildade, que, no fundo, reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo, surgem na alma humana doentios enquistamentos de sentimento, quais sejam o orgulho e a cobia, o egosmo e a vaidade, que se responsabilizam pela dis-crdia e pela delinqncia em todas as direes.

    Sem o reflexo da humildade, atributo de Deus no reino do eu, a criatura sente-se proprietria exclusiva dos bens que a cercam, despreocupada da sua condio real de esprito em trnsi-to nos carreiros evolutivos e, apropriando-se da existncia em sentido particularista, converte a prpria alma em cidadela de iluso, dentro da qual se recusa ao contato com as realidades fundamentais da vida.

    Sob o fascnio de semelhante negao, ergue azorragues de revolta contra todos os que lhe inclinem o esprito ao aproveita-mento das horas, j que, sem o clima da humildade, no se des-vencilha da trama de sombras a que ainda se vincula, no plano da animalidade que todos deixamos para trs, aps a aurola da razo.

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    Possuda pelo esprito da posse exclusivista, a alma acolhe facilmente o desespero e o cime, o despeito e a intemperana, que geram a tenso psquica, da qual se derivam perigosas sn-dromes na vida orgnica, a se exprimirem na depresso nervosa e no desequilbrio emotivo, na ulcerao e na disfuno celular, para no nos referirmos aos deplorveis sucessos da experincia cotidiana, em que a ausncia da humildade comanda o incentivo loucura, nos mais dolorosos conflitos passionais.

    Quem retrata em si os louros dessa virtude quase desconheci-da aceita sem constrangimento a obrigao de trabalhar e servir, a benefcio de todos, assimilando, deste modo, a bno do equil-brio e substancializando a manifestao das Leis Divinas, que jamais alardeiam as prprias ddivas.

    Humildade no servido. , sobretudo, independncia, li-berdade interior que nasce das profundezas do esprito, apoiando-lhe a permanente renovao para o bem.

    Cultiv-la avanar para a frente sem prender-se, projetar o melhor de si mesmo sobre os caminhos do mundo, olvidar todo o mal e recomear alegremente a tarefa do amor, cada dia.

    Refletindo-a, do Cu para a Terra, em penhor de redeno e beleza, o Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despe-diu-se dos homens pelos braos da Cruz.

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    25 Tolerncia

    Vive a tolerncia na base de todo o progresso efetivo. As peas de qualquer mquina suportam-se umas s outras

    para que surja essa ou aquela produo de benefcios determina-dos.

    Todas as bnos da Natureza constituem larga seqncia de manifestaes da abenoada virtude que inspira a verdadeira fraternidade.

    Tolerncia, porm, no conceito de superfcie.

    reflexo vivo da compreenso que nasce, lmpida, na fonte da alma, plasmando a esperana, a pacincia e o perdo com esquecimento de todo o mal.

    Pedir que os outros pensem com a nossa cabea seria exigir que o mundo se adaptasse aos nossos caprichos, quando nossa obrigao adaptar-nos, com dignidade, ao mundo, dentro da firme disposio de ajud-lo.

    A Providncia Divina reflete, em toda parte, a tolerncia s-bia e ativa.

    Deus no reclama da semente a produo imediata da espcie a que corresponde. D-lhe tempo para germinar, crescer, florir e frutificar. No solicita do regato improvisada integrao com o mar que o espera. D-lhe caminhos no solo, ofertando-lhe o tem-po necessrio superao da marcha.

    Assim tambm, de alma para alma, imperioso no tenhamos qualquer atitude de violncia.

    A brutalidade do homem impulsivo e a irritao do enfermo deseducado, tanto quanto a garra no animal e o espinho na roseira,

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    representam indcios naturais da condio evolutiva em que se encontram.

    Opor dio ao dio operar a destruio.

    O autor de qualquer injria invoca o mal para si mesmo. Em vista disso, o mal s realmente mal para quem o pratica. Revid-lo na base de inconseqncia em que se expressa assimilar-lhe o veneno.

    imprescindvel tratar a ignorncia com o carinho medica-mentoso que dispensamos ao tratamento de uma chaga, porquanto golpear a ferida, sem caridade, ser o mesmo que converter a molstia curvel num aleijo sem remdio.

    A tolerncia, por esse motivo, , acima de tudo, completo es-quecimento de todo o mal, com servio incessante no bem.

    Quem com os lbios repete palavras de perdo, de maneira constante, demonstra acalentar a volpia da mgoa com que se acomoda perdendo tempo.

    Perdoar olvidar a sombra, buscando a luz.

    No dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade mendaz, teatralizando os impulsos do corao, mas sim persistir no trabalho renovador, criando o bem e a harmonia, pelos quais aqueles que no nos entendam, de pronto, nos observem com diversa interpretao, compreendendo-nos o idioma inarticulado do exemplo.

    Oferece-nos o Cristo o modelo da tolerncia ideal, em regres-sando do tmulo ao encontro dos aprendizes desapontados. Longe de reportar-se desero de Pedro ou fraqueza de Judas, para dizer com a boca que os desculpava, refere-se ao servio da re-deno, induzindo-os a recomear o apostolado do bem eterno.

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    Tolerar refletir o entendimento fraterno e o perdo ser sempre profilaxia segura, garantindo, onde estiver, sade e paz, renovao e segurana.

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    26 Orao

    A orao divino movimento do espelho de nossa alma no rumo da Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza.

    Reportamo-nos aqui ao apelo vivo do esprito s Potncias Celestes, quer vestido na frmula verbal, quer absolutamente sem ela, na silenciosa mensagem da vibrao.

    Imaginemos a face de um espelho voltada para o Sol, desvi-ando-lhe o fulgor na direo do abismo.

    Esta, na essncia, a funo da prece, buscando o Amor Di-vino para concentrar-lhe a claridade sobre os vales da ignorncia e do sofrimento, da misria e do dio, que ainda se estendem no mundo.

    Graduada, desde o mais simples desejo, a exteriorizar-se dos mais nfimos seres, at a exaltao divina dos anjos, nada se faz na Terra sem o impulso da aspirao que orienta o passo de todas as criaturas...

    No corpo ciclpico do Planeta, a orao o movimento que o mantm na tela csmica; no oceano, o fenmeno da mar, pelo qual as guas aspiram ao grande equilbrio. Na planta, a chama-da fototaxia ou anseio com que o vegetal se levanta para a luz, incorporando-lhe os princpios; no animal, o instinto de curiosi-dade e indagao que lhe aliceram as primeiras conquistas da inteligncia, tanto quanto, no homem comum, a concentrao natural, antes de qualquer edificao no caminho humano.

    O professor planeando o ensinamento e o mdico a ensimes-mar-se no estudo para sanar determinada molstia, o administra-dor programando a execuo desse ou daquele servio, e o enge-nheiro engolfado na confeco de uma planta para certa obra,

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    esto usando os processos da orao, refletindo na prpria mente os propsitos da educao e da cincia de curar, da legislao e do progresso, que fluem do plano invisvel, feio de imagens abstratas, antes de se revelarem substancialmente ao mundo.

    Orar identificar-se com a maior fonte de poder de todo o Universo, absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da reno-vao permanente que governam os fundamentos da vida.

    A prece impulsiona as recnditas energias do corao, liber-tando-as com as imagens de nosso desejo, por intermdio da fora viva e plasticizante do pensamento, imagens essas que, ascenden-do s Esferas Superiores, tocam as inteligncias visveis ou invi-sveis que nos rodeiam, pelas quais comumente recebemos as respostas do Plano Divino, porquanto o Pai Todo-Bondoso se manifesta igualmente pelos filhos que se fazem bons.

    A vontade que ora, tange o corao que sente, produzindo re-flexos iluminativos atravs dos quais o esprito recolhe em siln-cio, sob a forma de inspirao e socorro ntimo, o influxo dos Mensageiros Divinos que lhe presidem o territrio evolutivo, a lhe renovarem a emoo e a idia, com que se lhe aperfeioa a exis-tncia.

    Dispomos na orao do mais alto sistema de inte