Organizadores: Fernando Miranda / Gonzalo Vicci / … · ÍNDICE. PRÓLOGO . Educación y...

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Organizadores: Fernando Miranda / Gonzalo Vicci / Melissa Ardanche BELLAS ARTES

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  • Organizadores: FernandoMiranda/GonzaloVicci/MelissaArdanche

    BELLAS ARTES

  • BELLAS ARTES

    Organizadores: FernandoMiranda/GonzaloVicci/MelissaArdanche

  • Universidad de la Repblica Roberto Markarian Rector

    Comisin Sectorial de Investigacin Cientfica Cecilia Fernndez Pro Rectora de Investigacin

    Instituto Escuela Nacional de Bellas Artes Fernando Miranda Director

    Impreso en Mastergraf / Mayo 2017 D.L. ISBN: 978-9974-0-1461-9

    Diseo de portada: Tania Prez Maquetacin: Elina Zurdo

  • ORDEN DOCENTE

    Samuel Sztern Javier Alonso Ruth Lpez Paula Espert Martn Iribarren

    ORDEN ESTUDIANTIL

    Mariana Sierra Yohnattan Mignot Josefa Sanes

    ORDEN EGRESADOS Edgardo Terevinto Mara del Carmen Baitx Sofa Martnez

  • NDICE

    PRLOGO

    Educacin y Visualidad: Investigaciones pedaggicas en contextos hiper-visuales....................................13 Fernando Miranda, Gonzalo Vicci y Melissa Ardanche

    SNTESIS

    V Coloquio Internacional Educacin y Visualidad. Investigaciones pedaggicas en contextos hiper-visuales: Sntesis y Comentarios............................................................................................................................15 Alice Ftima Martins

    1) FORMACIN DE PROFESORES Y CULTURA VISUAL

    Atravessamentos da Educao da Cultura Visual na formao de professores em Artes Visuais..........21 Monica Mitchell de Morais Braga y Belidson Dias

    Reabitar o conceito de Multivduo em Canevacci sob uma Perspectiva da Formao Docente em Artes Visuais.......................................................................................................................................................................27 Francieli Backes y Leonardo Charru

    Imagens nas escolas: currculo, prticas e dilogos com visualidades................................................................33 Adriane Camilo Costa y Raimundo Martins

    Lugares, encontros e acontecimentos da formao docente em Artes Visuais...............................................39 Deise Facco Pegoraro y Leonardo Charru

    Arte contempornea e educaco da cultura visual: pedagogias culturais na alfabetizao infantil.....43 Lutiere Dalla Valle y Jssica Maria Freisleben

    Afetos de um mundo secreto: fabulaes de uma formao docente..................................................................47 Ana Cludia Barin y Marilda Oliveira de Oliveira

    Cavar vazios: Compor/ produzir/ inventar docncias entre escritas e imagens............................................55 Francieli Regina Garlet y Marilda Oliveira de Oliveira

    Pesquisar na primeira pessoa: enfrentamentos metodolgicos no processo de formao docente em artes visuais........................................................................................................................................................61 Jonara Eckhardt y Leonardo Charru

    2) CULTURA VISUAL Y PRODUCCIN DE NARRATIVAS FLMICAS ALTERNATIVAS

    Josaf Duarte e o cinema autodidata.................................................................................................................................67 Paulo Passos de Oliveira

  • Narrativas audiovisuais: dispositivos mveis e imagens tcnicas em ambiente escolar.............................73 Marcelo Henrique da Costa

    Um cinema entre as runas e o futuro...............................................................................................................................83 Alice Ftima Martins

    Narrativa flmica infante e experincia educativa: que campos de sentidos so produzidos neste dilogo?............................................................................................................................................................................87 Vivien Kelling Cardonetti y Marilda Oliveira de Oliveira

    Dando Pinta: juventude transviada nas periferias do Rio de Janeiro.................................................................97 Rodrigo Torres do Nascimento y Aldo Victorio Filho

    Nas redes tericas e metodolgicas com imagens, cotidianos e afetos.............................................................105 Teresinha M. C. Vilela y Aldo Victorio Filho

    3) DISCUSIONES EPISTEMOLGICAS Y PEDAGGICAS SOBRE EL ARTE Y LA CULTURA VISUAL

    O discurso da cultura visual no Brasil (2005-2015)..................................................................................................113 Erinaldo Alves do Nascimento y Maria Emilia Sardelich

    Os materiais visuais na pesquisa em Educao...........................................................................................................119 Susana Rangel Vieira da Cunha

    Mquinas esttico - poticas para aprender...............................................................................................................129 Tatiana Fernndez y Belidson Dias

    A pergunta que foi feita: sobre escolhas metodolgicas e desafos na pesquisa em Arte e Cultura Visual.............................................................................................................................................................137 Leda Maria de Barros Guimares

    Avessos da docncia em Artes Visuais...........................................................................................................................145 Alexandre Guimares

    Ensino de Desenho na formao profissional e tecnolgica: reflexes sobre arte, visualidades e cotidiano no contexto cultural amaznico......................................................................................155 Ronne Franklim Carvalho Dias y Raimundo Martins

    4) PRCTICAS ARTSTICAS Y RESISTENCIAS VISUALES

    Fanzines: visualidades impertinentes e suas tticas de narrativas imagticas............................................163 Ramon Santos de Castro

    A Viso Arde: sobre aquilo que no deve ser visto......................................................................................................173 Paul Cezanne Souza Cardoso de Moraes

    Frida kallejera? Me kahlo! Quando corpos e imagens se encontram.................................................................179 Odailso Bert, Crystian Castro y Andres Morales Granillo

    Batuque, arte e educao na comunidade quilombola So Pedro dos Bois, Amap/Brasil......................185 Clcia Tatiana Alberto Coelho y Raimundo Erundino Santos Diniz

    Prcticas de colaboracin y modelos de autora en editoriales cartoneras latinoamericanas................195 Valeria Lepra

    Materialidades efmeras en la emergencia de una esttica de resistencia poltica en el espacio pblico...................................................................................................................................................................199 Roberta Rodrigues

  • Intervenciones montevideanas: as frases desenhadas pelos muros da cidade, seus autores e sua receptibilidade..................................................................................................................................207 Maurcio Fernando Schneider Kist

    Esttica y poltica. Un estudio de las prcticas artstico-polticas en Uruguay, Argentina y Chile durante los aos 70 y 80................................................................................................................219 May Puchet

    Noite das Lanternas Flutuantes: Prcticas artsticas de participacin colectiva con la comunidad del barrio Arquiplago en Porto Alegre Brasil...........................................................................227 Ricardo Moreno

    5) MBITOS Y RECORRIDOS

    Universos visuais da espera em espao de trnsitos: Colgio Militar de Santa Maria...............................235 Simone Marostega y Leonardo Charru

    Construes poticas para processos emancipatrios na paisagem escolar.................................................241 Maria Lia Gauterio Conde Pinto

    Choque de Monstros: corpo, identidade e visualidade na escola........................................................................245 Pmela Souza da Silva

    Ensino de Arte: dilogos transestticos na formao do sujeito na cibercultura..........................................253 Dbora Cristina Santos e Silva y Leda Maria de Barros Guimares

    Olhar, ver, reparar: um estudo sobre as visualidades e cegueiras que atravessam a escola...................259 Juliana Zanini Salbego y Leonardo Charru

    O ensino mdio em logotipos e cartuns no Brasil......................................................................................................263 Rosilei Mielke y Erinaldo Alves do Nascimento

    A Escola de Artes Visuais do Parque Lage....................................................................................................................269 Claudia Saldanha

    Mantras dodecafnicos: visualidades musicales......................................................................................................281 Lesa Sasso y Belidson Dias

    Excessos e intervalos de aprendizagens com a cidade...........................................................................................287 Tamiris Vaz y Raimundo Martins

    6) VISUALIDADES DIGITALES Y CONSTRUCCIN DE IDENTIDADES

    O que pode uma docncia ao garimpar heterogneos e aprender nos encontros com signos? .............295 Anglica Neuscharank y Marilda Oliveira de Oliveira

    Ocultamiento / Revelacin: Un estudio sobre impactos e inter-relaciones entre sujetos y dispositivo tecnolgico visual de vigilancia en espacio pre-determinado..................................................305 Marcela Blanco Spadaro

    Conversaciones Hipervisuales. Eso tambin es una visualidad!........................................................................311 Juan Sebastin Ospina lvarez

    Essa no sou eu: um estudo sobre as culturas juvenis do corpo no espao escolar...................................321 Karina Dias Silveira y Leonardo Charru

    Justia social e educao: Problemas de gnero nas Artes Visuais...................................................................325 Carla de Abreu

  • As visualidades interativas dos robs paraibanos no Robocup jr. Dance........................................................333 Rosngela Pacfico Matias y Erinaldo Alves do Nascimento

    Da inveno de infncia adolescncia estendida: imagens de juventude contempornea no advergame Salvando a fonte....................................................................................................................................339 Jordana Falco Tavares y Raimundo Martins

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    PRLOGO

    Educacin y Visualidad: Investigaciones pedaggicas en contextos hiper-visuales

    Fernando Miranda Gonzalo Vicci Melissa Ardanche

    El V Coloquio Internacional Educacin y Visualidad se realiz, en 2016, en la ciudad de Montevideo, Uruguay. El evento, que se lleva adelante desde 2007 en distintas universidades brasileas, ocurri por primera vez fuera de Brasil.

    Para esto, se cont con la organizacin del Ncleo de Investigacin en Cultura Visual, Educacin y Construccin de Identidad del Instituto Escuela Nacional de Bellas Artes, as como distintos y convergentes apoyos de la Universidad de la Repblica.

    En la edicin de la que este libro rene el conjunto de contribuciones, el tema fue el de las Investigaciones pedaggicas en contextos hiper-visuales, con el que se pretendi reconocer los desafos de las prcticas de investigacin y de la produccin de conocimiento en entornos cotidianos de mltiples experiencias visuales, y dar alternativas crticas, prcticas y reflexivas.

    Naturalmente, en un evento de colaboraciones variadas, es importante fijarse tambin como objetivo profundizar las relaciones entre los grupos de investigacin relacionados en este espacio acadmico, tanto como el conocimiento mutuo de sus prcticas y de sus producciones tericas. El espacio de la Educacin, de las Artes Visuales y de los Estudios de Cultura Visual, como mbito de investigaciones, merece distintos foros de amplificacin y debate de sus resultados locales y regionales.

    En base a las caractersticas temticas del conjunto de contribuciones expuestas en la quinta edicin de este coloquio, hemos agrupado las mismas en seis captulos, a fin de ordenar sus aportes y relacionar su lectura.

    En el primer apartado, que denominamos Formacin de profesores y Cultura Visual, encontrar el lector reflexiones surgidas de investi

    gaciones que tienen que ver con las etapas de preparacin de base de los docentes que actan en mbitos de educacin artstica.

    Se establecen all relaciones entre los estudios de Cultura Visual y los formatos curriculares de formacin del profesorado, la construccin de la identidad docente y las representaciones estticas, ideolgicas y polticas de los educadores.

    Las contribuciones de este apartado tambin avanzan sobre la formacin de profesores en sus condiciones de ejercicio prctico, las caractersticas de los ambientes fsicos, y las relaciones con materiales y visualidades cotidianas.

    Un segundo apartado tiene que ver con la Cultura Visual y la produccin de narrativas audiovisuales alternativas, donde el inters est centrado en diversas maneras de producir visualidades.

    Desde prcticas autodidactas desarrolladas en mbitos no centrales de produccin flmica y que recogen experiencias de vida locales, hasta la utilizacin de lenguajes audiovisuales en el trabajo con adolescentes en distintos contextos de actuacin, las aportaciones transcurren en reconocer oportunidades, posibilidades y logros de narrativas visuales diversas.

    Esto permite reconocer expectativas, experiencias, placeres -y tambin sufrimientos y dolores- de diferentes grupos y colectivos que encuentran en la construccin de relatos visuales, posibilidades de expresin y voz.

    Un tercer conjunto de colaboraciones las hemos nucleado bajo el ttulo de Discusiones epistemolgicas y pedaggicas sobre el Arte y la Cultura Visual.

    Se trata de un grupo de textos que tienen como denominador comn analizar los discursos vincu

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    lados a las artes visuales, la Pedagoga y las visualidades cotidianas, y la condicin de la teora y el estatus disciplinar de la reflexin sobre estos campos.

    Este apartado no escapa de ubicar textos que discuten tambin las orientaciones metodolgicas y las consecuencias curriculares de estos debates, tanto como su impacto en la definicin siempre discutida de la condicin epistemolgica de nuestro campo de estudio.

    Al apartado cuarto lo hemos denominado Prcticas artsticas y resistencias visuales. Creemos que el mismo exigir al lector un juego con sus propias referencias visuales y sus experiencias como espectador.

    All se recogen distintos resultados de investigaciones que toman en cuenta diferentes alternativas artsticas, acciones de resistencia y memoria, y hasta maneras de posicionarse frente al denominado mercado del arte.

    Los textos no eluden miradas sobre lo institucional formal a nivel cultural -museos- o educativo -centros escolares-; pero tambin avanzan sobre maneras alternativas de ubicarse frente al Estado y al mercado, para trabajar con referencias artsticas, polticas o comunitarias que abren mbitos de accin a ser explorados o reconocidos.

    Continuando en la estructura de este libro, el quinto apartado asume las aportaciones que reunimos bajo el ttulo ms abierto de mbitos y

    recorridos; nos adentramos en la lectura de una serie de textos que forman una suerte de work in progress respecto a investigaciones en curso que reconocen los ms variados mbitos de acontecimiento de experiencias dentro del sistema educativo formal, especialmente en escuelas y colegios secundarios.

    El libro termina con un ltimo apartado, el sexto, donde el inters reside en lo que hemos definido como Visualidades digitales y construccin de identidades.

    Este grupo de trabajos hace foco en la relacin con las imgenes visuales y en sus consecuencias de produccin de deseo, construccin de identidad y sexualidad, consecuencias de consumo, y hasta prcticas de vigilancia. En un extremo, algunos de los textos avanzan an a formas de visualidades desprovistas de imgenes, a las que podramos llegar por textos literarios y evocaciones imaginarias.

    Al final, estamos convencidos de que los resultados de las distintas prcticas de investigacin que este volumen rene, favorecen la posibilidad de reunir sus contribuciones en diferentes captulos temticos que abrirn seguramente, a futuro, nuevas oportunidades de avance.

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    V COLOQUIO INTERNACIONAL EDUCACIN Y VISUALIDAD INVESTIGACIONES PEDAGGICAS EN CONTEXTOS HIPER-VISUALES: SNTESIS Y COMENTARIOS

    Alice Ftima Martins - UFG

    Entre os dias 9 e 10 de maio de 2016, os professores Fernando Miranda e Gonzalo Vicci, do Instituto Escuela Nacional de Bellas Artes Universidad de la Repblica, ligados ao Ncleo de Investigacin en Cultura Visual, Educacin y Construccin de Identidad, estiveram frente na realizao do V Coloquio Internacional Educacin y Visualidad, cujas atividades ocuparam os espaos do belo Teatro Sols, em Montevideo. Os temas em pauta organizaram-se em torno ao eixo Investigaciones pedaggicas en contextos hiper-visuales. Sua realizao integra as atividades desenvolvidas regularmente pelo Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educao (CNPq/ Brasil), de modo que dele participou o corpo de pesquisadores do grupo, e seus orientan-dos matriculados nos diversos programas de ps-graduao aos quais se vinculam, no Brasil e Uruguai. Encerrando a programao acadmica, foi organizada uma sesso com o objetivo de se esboar uma sntese acrescida de comentrios e observaes a respeito dessa que foi uma breve mas intensa jornada. A empreitada foi designada, pelos coordenadores, Prof Rachel Fendler e a mim. Assim, a ns coube a tarefa de acompanhar toda a programao e, ao final, enfrentar o desafio de apontar as principais questes emergidas ao longo das apresentaes de trabalho e das conversaes, bem como sinalizar aspectos que tal-vez devessem sem enfatizados nos prximos colquios a serem realizados pelo Grupo.

    Desse exerccio, pudemos constatar que, de um modo geral, as conversaes e os trabalhos apresentados ressaltaram preocupaes e interesses no tocante a um amplo conjunto de temticas que atravessam o campo, ou os campos, seja a partir dos estudos da cultura visual, de um modo mais amplo, seja no tocante aos contextos considerados hiper-visuais e seus desdobramentos, conquanto temtica

    do colquio. Destarte, ganharam destaque as tenses e inquietaes em relao s questes de gnero, etnia, e pedagogias, com destaque aos referenciais identitrios. Tambm foram tratadas questes referentes s tecnologias da imagem, da informao, das relaes, e suas reverberaes nos processos educativos, em seus diversos contextos e ambientes. Assim, a nfase esteve nos processos de ensinar e aprender atrelados s visualidades da arte, da publicidade, das ruas, das redes, dos ambientes digitais. Nesses termos, o visvel e o no visvel, as visualidades autorizadas, legitimadas, foram problematizadas em relao s demais, as no autorizadas, trazendo-se discusso os modos de visibilizar e os sistemas de regulao. O corpo compareceu como um dos temas mais potentes, se no o principal, nessas questes, nas relaes de tenso entre o visvel e o no visvel, o autorizado e o no autorizado.

    Nas discusses, recorrentemente esteve em destaque a nfase na abordagem de temas que envolvem, diretamente, os contedos, as temticas capazes de inquietar e motivar o desenvolvimento das vrias pesquisas em pauta. Contudo, e talvez por isso mesmo, ficou ressaltada a necessidade de haver uma aproximao maior s questes de ordem metodolgica e epistemolgica em relao ao tema-eixo proposto para o colquio. Foi possvel notar que os temas desenvolvidos j traziam alguma demarcao prvia a respeito da noo de visualidade e hiper-visualidade, no tocante a suas implicaes em processos de investigao, aos modos de abordagem. Na maioria dos casos, essas demarcaes prvias no foram colocadas em questo, no foram problematizadas. Por essa razo, sentimos a necessidade de haver um avano maior sobre a abordagem epistemolgica, bem como na discusso a respeito das metodologias de pes

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    quisa. Tal nfase poderia fornecer parmetros norteadores para articular, de modo mais consistente, a abordagem das temticas em pauta. O que so os contextos hiper-visuais? Qual a natureza das visualidades referidas nas pesquisas reportadas? As visualidades repercutem nas questes em processo de investigao? De que forma? Elas permitem pensar de outra maneira? Em que medida, ao trazer as discusses sobre imagens, e fazer uso delas, corre-se o risco de reproduzir as coisas que j se sabe de antemo, ou de reiterar certos conjuntos de crenas, em vez de question-las?

    No caso das pesquisas apresentadas, todas desenvolvidas no mbito dos programas de ps-graduao que tomam parte do Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educao (CNPq/ Brasil), pareceu-nos interessante perguntar, por exemplo, como se do as relaes entre as pesquisas desenvolvidas pelos orientadores e os estudantes a eles vinculados? Como funcionam os grupos e as redes de investigao no tocante circulao de visualidades, alm da discusso a respeito das mesas?

    Ainda a esse respeito, e intentando um exerccio de autocrtica, sugere-se fazer uma reflexo a respeito dos tipos de imagens geralmente articuladas nas apresentaes das conferncias que tratam de imagens. Ou seja, como se fazem uso das visualidades quando se abordam questes relativas ao visual e ao hiper-visual? Como as estratgias de uso dessas visualidades articulam as tenses entre os contedos em discusso e a organizao do pensamento?

    Finalmente, ressaltou-se a intensidade com que a programao foi desenvolvida, com algumas manifestaes relativas ao desejo de que houvesse mais tempo para o aprofundamento nos debates. Esta queixa resulta da difcil equao a ser resolvida pelos organizadores, em todas as edies do Colquio, entre os parmetros que envolvem nmero de participantes apresentando trabalhos, o tempo destinado apresentao de cada comunicao e o tempo de debate e conversao. Ainda e assim, tal observao aponta, sobretudo, para o desejo de aprofundar compartilhamentos, o que s ocorre onde h solo frtil, acolhimento, encontro profcuo. Tais qualidades podem ser atribudas ao V Coloquio Internacional Educacin y Visualidad, sem dvidas.

    No poderia fechar este breve relato sem agradecer o desafio proposto pelos organizadores, que me levou a participar da progra

    mao com os sentidos mais atentos, resultando em aprendizagens ampliadas. Do mesmo modo, no poderia deixar de referir o cuidado e o rigor com que a Prof Rachel Fendler acompanhou os trabalhos, cuja interlocuo considero um privilgio, neste exerccio.

  • 1. FORMACIN DE PROFESORES Y CULTURA VISUAL

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    ATRAVESSAMENTOS DA EDUCAO DA CULTURA VISUAL NA FORMAO DE PROFESSORES EM ARTES VISUAIS

    Monica Mitchell de Morais Braga - UnB Belidson Dias UnB

    Resumo:

    Em meio a grande oferta visual da vida contempornea, trabalhar com os estudos da cultura visual em ambientes de aprendizagem uma abordagem que vem se desenvolvendo com frequncia no Brasil. Os estudos referentes cultura visual entendem que a experincia social afetada por imagens e artefatos que configuram prticas do mostrar, do ver e do ser visto, caracterizando-se, portanto, um campo que pensa e problematiza nossas experincias visuais que surgem das condies da vida cotidiana. A educao da cultura visual prope espaos de mudanas tanto na (re) construo de um currculo de arte que se faa mais prximo da vida cotidiana contempornea, quanto para mobilizar, diversificar e ampliar modos de olhar. Uma educao voltada para a cultura visual busca compreender influncias, processos e impactos que operam na mediao das representaes visuais em contextos educacionais. A educao da cultura visual surge como uma concepo pedaggica que destaca as mltiplas representaes visuais do cotidiano. Esta pesquisa pretende investigar a presena da cultura visual na formao de professores de artes visuais de duas instituies de ensino superior. Considerando atravessamentos uma metfora aos caminhos percorridos por formandos em licenciatura em artes visuais da Universidade Federal de Gois e da Universidade de Braslia, a pesquisa busca investigar os Trabalhos de Concluso de Curso destas duas instituies. A pesquisa se expande para questes e reflexes que vo alm da anlise das produes

    destes futuros professores para refletir sobre o pensamento da educao da cultura visual nos currculos da formao dos professores em artes visuais.

    Palavras-chave: cultura visual, currculo e formao de professores.

    Introduo

    A influncia crescente das imagens no cotidiano tem reflexos na maneira no qual compreendemos e nos relacionamos com as pessoas. O cotidiano est repleto de imagens que influenciam o nosso modo de pensar, de agir e isso afeta diretamente os processos de ensino e aprendizagem da arte. Professores, pesquisadores na rea de arte investigam a necessidade e a importncia em li-dar com estas imagens em seus estudos.

    Em meio a grande oferta visual da vida contempornea, trabalhar com os estudos da cultura visual em ambientes de aprendizagem uma abordagem que vem se desenvolvendo com frequncia no Brasil. A pesquisa sobre cultura visual desenvolvida no Brasil encontra-se, em grande parte, na Universidade Federal de Gois, Universidade de Braslia, na Universidade Federal de Santa Maria (UnB, UFG e UFSM)1. Encontramos pesquisas tambm na Universidade Federal da Paraba e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFPB e UERJ)2. Por se tratar de uma abordagem pioneira em Programas de Ps-Graduao3, a cultura visual nem sempre est presente nos currculos dos cursos de for

    1 - Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educao da Faculdade de Artes Visuais (UFG), Grupo de Pesquisa do CNPq - Transviaes: Educao e Visualidade do Instituto de Artes (UnB) e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte, Educao e Cultura do centro de Educao (UFSM). 2 - Grupo de Pesquisa Estudos Culturais em Educao e Arte (UERJ) e Grupo de Pesquisa em Ensino de Artes Visuais (UFPB). Estas duas universidades participam do grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educao da UFG junto com a UnB, UFSM e Universidad de la Republica Uruguay (UDELAR). 3 - O primeiro curso de ps-graduao em Cultura Visual no Brasil comeou na FAV/UFG em 2003.

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    mao de professores em artes visuais.

    Por este motivo, esta pesquisa pretende investigar como a presena da cultura visual nos Trabalhos de Concluso de Curso (TCC) das Licenciaturas em Artes Visuais da UFG e UnB, nos anos de 2007 a 2013, pode constituir-se em um currculo para a formao em educao da cultura visual para professores de artes visuais. Esse interesse por este recorte surge das inquietaes de aluna e docente que atravessa estas instituies, de forma que o termo atravessamentos passa a ser uma metfora aos caminhos formativos, portanto, dos currculos percorridos por formandos em Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Gois e da Universidade de Braslia. A educao da cultura visual

    Segundo Belidson Dias, a educao da cultura visual significa a recente concepo pedaggica que destaca as mltiplas representaes visuais do cotidiano (2012, p. 61). Considera que estas representaes estimulam prticas de produo, apreciao e crtica de artes ao desenvolver a cognio, imaginao e conscincia social. Pois, compreende todos os tipos de representao visual, sejam elas consideradas arte ou no.

    importante ressaltar que a educao da cultura visual no elimina o dilogo com a histria da arte. Contudo, no a trata atravs de uma concepo linear, cronolgica, formalista e evolutiva da produo artstica. Tampouco se detm a biografias de artistas ou com a histria dos movimentos estilsticos. Sem a pretenso de enaltecer a arte e os artistas, pretende questionar como as imagens fixam, disseminam e interferem nas nossas interpretaes de ns mesmos e do mundo. Para Dias,

    a essncia da proposio pedaggica no atingir a resposta esttica elevada, das Belas Artes ou at mesmo das artes visuais, mas para alcanar significado, sentido, por meio da anlise de todas as formas de cultura visual contextualizadas pela experincia da vida cotidiana. (2012, p.61)

    O uso do termo educao da cultura visual entendido aqui como uma pedagogia crtica, que no sugira, nem promova uma metodologia ou pedagogia unificada e especfica, ou ainda, que indique um currculo especfico (DIAS, 2011, p. 67). Constitui-se numa srie de conceitos transdisciplinares que promovam a identidade individual e a justia social na educao.

    Uma educao voltada para a cultura visual busca compreender influncias, processos e impac

    tos que operam na mediao das representaes visuais em contextos educacionais. A educao da cultura visual se abre para diferentes formas de conhecimento incentivando consumidores passivos a tornarem-se produtores ativos da cultura, revelando e resistindo no processo s estruturas homognicas dos regimes discursivos da visualidade (DIAS, 2008, p. 39).

    A educao da cultura visual ultrapassa a indefinida fronteira que abarca os objetos artsticos e explora a visualidade, ao enfocar discusses sobre a influncia das imagens da mdia, tal qual o cinema, a publicidade, os jogos digitais, as revistas, histrias em quadrinhos, na busca da conexo entre a arte e a vida, entendendo a imagem como parte do cotidiano, num contexto diverso e complexo.

    Dias (2012) nos lembra que no incio do sculo XXI, no Brasil, que se observam vrios arte/educadores realizando um deslocamento gradual da pesquisa e da prtica de ensino focada nos estudos da arte de elite, para a discusso, dos aspectos culturais da visualidade do cotidiano ampliando as formas de conhecer e incorporar as questes da visualidade cotidiana nas prticas escolares.

    A perspectiva da educao da cultura visual prope contextualizar o social e o individual. So abertas possibilidades de entendimento das relaes de poder sociais e individuais, dos processos de construo identitria dos prprios estudantes e de insero de outras identidades para esse entendimento. Considera-se importante discutir a experincia social e cultural do ver e ressaltar sua influncia na formao de identidades e subjetividades, posto que a experincia individual no pode ser pensada de modo separado da prtica social.

    A incorporao crtica dos fenmenos da cultura visual requer ateno ao contexto social. As prticas sociais, os rituais escolares, rotinas e todo tipo de interaes pedaggicas no podem operar independentemente de seus contextos sociais. A educao da cultura visual associa e acrescenta reflexes de cunho poltico, social, econmico, histrico, tecnolgico, artstico e educacional bagagem de saber, memria, vivncia e capacidade interpretativa que o indivduo j possui.

    Uma educao da cultura visual visa estimular a reflexo crtica do que pode ser observado, sentido, imaginado, racionalizado ou simplesmente transmitido por intermdio da visualidade. Prope ainda, esclarecer a produo de sentidos e

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    significados influenciados por imagens e objetos visuais, bem como o relacionamento da visualidade com a elaborao de repertrios visuais e imaginrios que contribuam para as prticas sociais do homem contemporneo, em distintos espaos, entre eles, o espao escolar.

    Neste sentido, o trabalho pedaggico desenvolvido sob a perspectiva da educao da cultura visual, parece participar da formao dos saberes que circulam nas escolas, saberes estes que, assim como os da visualidade contempornea, influenciam as crianas e os jovens. A este respeito, Martins e Tourinho afirmam que

    Crianas adolescentes e jovens so, provavelmente, os mais influenciados pelo contexto, pelas informaes, referncias e valores da cultura visual que os rodeia. Seus interesses, conhecimento, identidades e, principalmente, seus afetos, so contagiados por essas influncias e incorporados aos seus modos de vida, passando a fazer parte de suas subjetividades e sensibilidades. (MARTINS; TOURINHO, 2011, p. 55)

    Irene Tourinho acredita que de qualquer forma e sob qualquer concepo, ao falar de currculo, estamos falando de poder (2009, p.53). So muitas as contradies do currculo. As exigncias constantes das instituies escolares no sentido de preserv-lo, tem gerado incmodos e impulsionado embates que, aos poucos, podem sinalizar a possibilidade de negociao em meio a essas relaes de poder. Esses embates surgem do entendimento de que os currculos podem ser examinados sob muitas perspectivas crticas, que vo desde os focos que enfatizam ou minimizam at as escolhas que as apresentam ou as desconsideram (p. 50).

    Para Tourinho, nas ltimas dcadas do sculo XX o currculo ganhou espao na teorizao educacional no Brasil nas perspectivas crticas e ps-crticas. Reflexes que pensam o currculo como um artefato algo construdo socialmente, em contextos particulares e a partir de interesses especficos (2005, p. 109). Ao analisar quatro propostas curriculares da educao bsica de dois estados e dois municpios brasileiros, por exemplo, Tourinho afirma que

    Nas instituies escolares no Brasil, o currculo ora privilegia uma concepo tcnica-universalista na qual o currculo compreendido como a expresso de tudo que existe na cultura (cien

    tfica, artstica e humanista) transposto para uma situao de aprendizagem , ora d nfase a uma perspectiva processual-culturalista, que v o currculo como espao de cultura que se faz na interao e negociao entre alunos e professor. (2009, p. 52)

    Tourinho percebe que a ideia de currculo como prescrio ainda acompanha as propostas. So contedos explcitos que prescrevem atividades, independente de um tema, projeto ou pesquisa em andamento na sala de aula.

    A inteno de fazer um levantamento dos Trabalhos de Concluso de Curso dos licenciados em artes visuais a de examinar o conhecimento j elaborado na rea de cultura visual na formao de professores que apontem os enfoques, os temas mais pesquisados e as lacunas existentes quando se trata de uma educao para a cultura visual.

    Um recorte da pesquisa: os TCC da FAV/UFG

    O curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFG teve incio no ano de 1974 no ento Instituto de Artes. Nessa poca, era chamado de Licenciatura em Desenho e Plstica, nomenclatura que perdurou at o ano de 1984 quando mudou para Licenciatura em Educao Artstica. no ano 2000, que o curso recebe o nome de Licenciatura em Artes Visuais (GUIMARES, 2003).

    Este artigo apresenta o levantamento de Trabalhos de Concluso de Curso (TCC) da Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Gois (FAV/UFG). O levantamento ocorreu entre os meses de maro e abril de 2016 na Sala de Leitura da FAV/UFG. Os alunos ao produzirem seus TCC so orientados a entregar uma verso fsica para ficar arquivado neste espao. No h uma obrigatoriedade da entrega em CD ou meio digital. Nem o site da FAV, nem a biblioteca da UFG possuem um banco de dados de monografias de graduao. No repositrio Institucional da UFG encontramos apenas dissertaes e teses.

    A inteno inicial era fazer um levantamento dos TCC at o ano de 2013. Em 2014 houve uma mudana na estrutura curricular do curso. Porm, no foram encontrados TCC, na sala de leitura, dos anos de 2012 e 2013. A estrutura curricular de 2000 a 2013 tinha em seu fluxo a disciplina Teorias da Imagem e Cultura Visuali4.

    4 - Fluxo de integralizao curricular do curso de Licenciatura em Artes Visuais da FAV/UFG. Disponvel em http://fav.ufg.br/up/403/o/ Fluxo_de_Integraliza%C3%A7%C3%A3o_-_Licenciatura_em_Artes_Visuais.pdf?1417469230 Acessado em 20/04/16.

    http://fav.ufg.br/up/403/o
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    AO TOTAL CULTURA VISUAL

    2007 9 1 (PPG) 2008 7 1 (APPG) 2009 8 -2010 3 1 2011 9 5 (3PPG)

    Total general 36 8

    O quadro a seguir, revela o quantitativo de TCC encontrado no perodo de 2007 a 2011. Os TCC foram realizados individualmente, em duplas ou trios de alunos. Na primeira coluna encontra-se o ano de realizao, na segunda o nmero de TCC encontrado e na terceira a presena do termo cultura visual5. Os critrios de busca foram: ttulo, resumo, palavras-chave e sumrio.

    Neste levantamento inicial, foram encontrados trinta e seis Trabalhos de Concluso de Curso da Licenciatura Presencial6 em Artes Visuais da FAV/UFG. Oito destes TCC se referiam a cultura visual em seus textos. No ano de 2007, foram encontrados nove TCC e apenas um com a presena da cultura visual no texto. O termo estava presente no ttulo, resumo, palavra-chave e sumrio. O TCC foi elaborado por trs alunos e orientado por um professor do programa de ps-graduao da instituio. No ano de 2008, dos sete TCC encontrados apenas um fazia referncia a cultura visual. O termo estava presente no sumrio, apresentando o captulo: o papel da cultura visual na educao. A orientao foi de uma professora formada no programa de ps-graduao da instituio. J em 2009, dos oito trabalhos encontrados no h referncia da cultura visual. Em 2010, dos trs trabalhos, apenas um faz meno a cultura visual como uma das palavras-chave do texto e a orientadora no faz parte do programa de ps-graduao da instituio. Por fim, em 2010, dos nove trabalhos, cinco fazem referncia a cultura visual e destes trs sob a orientao de professores do programa de ps-graduao da FAV/UFG.

    De posse destes oito TCC que abordam a cultura visual o passo seguinte levantar os TCC do Instituto de Artes da UnB e analisar os pontos de convergncias e divergncias destas abordagens sobre cultura visual. Com essa pesquisa, aps todo o

    processo de levantamento e de anlise que ainda se encontram em fase de elaborao, esperamos poder contribuir para o avano das pesquisas na rea a partir de um entendimento de como a cultura visual se apresenta na formao de professores de artes visuais em determinado tempo e local.

    Referncias

    DIAS, Belidson. Pr-acoitamentos: os locais da arte/educao e da cultura visual. In: MARTINS, Raimundo (Org.). Visualidade e Educao. Goinia: Programa de Ps-Graduao em Cultura Vi-sual/FUNAPE, 2008, p. 37-53.

    O i/mundo da educao da cultura visual. Braslia: Editora da ps-graduao em arte da Universidade de Braslia, 2011.

    Arrasto: o cotidiano espetacular e prticas pedaggicas crticas. In: MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene (Orgs.). Cultura das imagens: desafios para a arte e para a educao. Santa Maria: Editora UFSM, 2012, p. 55-73.

    GUIMARES, Leda et. al. Percurso histrico da licenciatura em arte na Universidade Federal de Gois (UFG). In: MEDEIROS, Maria Beatriz de (org.). A arte pesquisa. Braslia: Mestrado em Arte, Universidade de Braslia, 2003, v. 1, pp. 82 - 92.

    TOURINHO, Irene; MARTINS, Raimundo. Circunstncias e ingerncias da cultura visual. In: MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene. (Orgs.). Educao da cultura visual: conceitos e contextos. Santa Maria: Editora UFSM, 2011, p. 51-68.

    TOURINHO, Irene. Perguntas que conversam sobre educao visual e currculo. In: OLIVEIRA, Marilda Oliveira de; HERNNDEZ, Fernando

    5 - Como a FAV/UFG desde 2003 tem o curso de ps-graduao em Cultura Visual, a coluna 3 do quadro informa tambm se o orientador do trabalho vinculado ao programa. 6 - No ano de 2007, a FAV implantou uma licenciatura na modalidade distncia com diversos polos distribudos em municpios do Estado de Gois. Informao obtida em http://fav.ufg.br/p/7983-licenciatura-em-artes-visuais-modalidade-a-distancia Acessada em 20/04/16.

    http://fav.ufg.br/p/7983-licenciatura-em-artes-visuais-modalidade-a-distancia
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    (Org.). A formao do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria: UFSM, 2005, p.107-118.

    Currculo para alm das grades: de pores a terraos, praas e jardins. In: VIS - Revista do Programa de Ps-graduao em arte. Braslia: Editora Brasil,V.8, n.1, jan/jun. De 2009, p. 49-59.

    Monica Mitchell de Morais Braga:

    Doutoranda em Arte IdA/UnB. Mestre em Cultura Visual FAV/UFG. Licenciada em Artes Plsticas FAV/UFG. Especialista em Formao de Professores PUC-GO. Professora do Instituto Federal de Gois na rea de Artes Visuais. Membro do Nepeinter (Ncleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares) do IFG e do grupo de Pesquisa do CNPq - Transviaes: Educao e Visualidade (UnB). [email protected]

    Belidson Dias Bezerra Jnior:

    Professor Associado do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Braslia (UnB). Possui Ps-doutorado na Universitat de Barcelona, Espanha (2013/14), Doutor em Estudos Curriculares em Arte Educao - Artes Visuais, na University of British Columbia (2006) Canad; Mestre em Artes Visuais - pintura na Manchester Metropolitan University (1992), na Inglaterra; especializao na Chelsea College of Art & Design (1993), Inglaterra, e graduado em Artes Plsticas - Educao Artstica, pela UnB (1989). Pesquisador e docente do Programa de Ps-Graduao em Arte e desde Maro de 2015 o coordenador. [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    REABITAR O CONCEITO DE MULTIVDUO EM CANEVACCI SOB UMA PERSPECTIVA DA FORMAO DOCENTE EM ARTES VISUAIS

    RE-INHABITING THE CONCEPT OF MULTIVIDUAL IN CANEVACCI UNDER A VISUAL ARTS TEACHER FORMATION PERSPECTIVE

    Francieli Backes - UFSM Leonardo Charru - UFSM

    Resumo

    Esta escrita prope uma apropriao do conceito de multivduo para a rea da formao de docentes em artes visuais, possibilitando uma ampliao de sentidos acerca de subjetividades e seus trnsitos. Neste sentido, ao tecer relaes com autores que dialogam indiretamente com este conceito, pretende subsidiar o pensamento de no polarizao e de no rotulao dos indivduos com identidades fixas e insubstituveis, com o objetivo de propor uma formao docente em artes visuais que se alimente das potencialidades do conceito de multivduo.

    Palavras-chave: Multivduo, subjetividade, formao docente.

    Abstract

    This writing proposes an appropriation of the multividual concept to the area of teacher formation in Visual Arts, enabling an expansion of meanings about subjectivities and their transits. In this sense, by weaving relationships with authors that dialogue indirectly with this concept, it aims to subsidize the thought of non-biases and non-labelling of individuals with fixed and irreplaceable identities in order to propose a teacher formation in visual arts that feeds on the potentialities of the multividual concept.

    Keywords: Multividual, subjectivity, teacher formation.

    Introduo

    A sociedade contempornea apresenta-se a ns como uma mestiagem dos valores e ideais da modernidade somados s peculiares e caractersticas culturais que diluem-se diariamente. Esse carter fludo condio da modernidade e aqui somado ao carter comunicacional da contempo

    raneidade. O sujeito contemporneo resultado desta modernidade, onde no h identidade fixa: as identidades tornaram-se mveis e fludas. A identidade passa a diluir-se em subjetividades e o indivduo detm a possibilidade de assumir diversos eus. A essa condio o antroplogo Mssimo Canevacci ir atribuir o conceito de multivduo, o qual pretende ampliar o conceito ocidental de indivduo aquele que no pode ser dividido.

    A necessidade de uma clarificao da conceitualizao da pesquisa em curso no PPGE/UFSM conduziu-nos, portanto, compreenso destes mltiplos eus que assumem subjetividades diversas em contextos diferentes. Entendemos que tais dinmicas propiciam um pensamento acerca da formao docente.

    A compreenso deste fenmeno de multi-subjetivao conduz problematizao do lugar como espao de construo de identidades e de co-habitao de subjetividades.

    Ciberespao, identidades descartveis e... enfim, o multivduo

    A modernidade apresenta-nos a marca da fluidez, resultado das aes de uma classe dominante, que se caracteriza basicamente pelo dinamismo. Este nasce de uma necessidade de grupos sociais dominantes, movidos pelo imperativo capitalista do lucro, o qual se obtm muitas vezes na velocidade da produo e da oferta de produtos ao mercado consumidor (BERMAN, 1986). Este ritmo desenfreado de produo e recepo se ampliou desde a modernidade at contemporaneidade, resultando em uma sociedade de relaes cada vez mais volteis e de pouca valorao. A esta nova forma de viver, Bauman (2007) ir atribuir o ttulo de Vida Lquida. A modernidade e a vida lquida desviam-se da consolidao, hbitos, desejos e at mesmo as relaes passam a tornar-se obsoletas com a mesma ve

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    locidade com que os produtos industrializados perdem seu valor.

    Os avanos tecnolgicos e o surgimento do ciberespao tornam as relaes ainda mais frgeis, levando tendncia das identidades descartveis (BAUMAN, 2011). Em termos antropolgicos podemos nos amparar no que prope Pierre Levy (1999) sobre o ciberespao como resultado de um movimento social, uma necessidade de ampliar as formas de comunicao entre as pessoas. Para Pierre Levy (1999, p. 124-125) o ciberespao um produto sociocultural resultante de um processo onde uma infraestrutura de comunicao pode ser investida por uma corrente cultural que vai, no mesmo movimento, transformar seu significado social e estimular sua evoluo tcnica e organizacional. O termo ciberespao surgido em 1984 no romance de fico intitulado Neuromante, de William Gibson, define o universo das redes digitais, mas definido por Pierre Levy (1999, p. 92) como um espao de comunicao aberto pela interconexo mundial de computadores e das memrias dos computadores.

    Esta nova forma de comunicar-se vem associada uma necessidade de economia de tempo, e o tempo um bem valioso no mundo lquido moderno. O que despende tempo evitado em nossa sociedade contempornea, dessa forma o contato virtual muito mais atrativo, pois no exige que este tempo to precioso e escasso seja gasto em comunicaes profundas, mas sim em relaes mais superficiais, as quais permitam que haja tempo para o surfe por tantas outras superfcies no menos e talvez muito mais - convidativas (BAUMAN, 2011, p. 23).

    O ciberespao, ou mundo virtual, configura um universo a parte onde as relaes so mediadas pela possibilidade de adicionar-remover-excluir-bloquear. Estas opes muito teis no mundo digital no esto presentes na vida real, o que torna as relaes virtuais muito mais atrativas.

    E nesse campo de relaes virtuais as identidades se tornam descartveis ou biodegradveis, a partir de uma necessidade de remodelar a identidade e a rede no momento em que surge uma necessidade (BAUMAN, 2011, p.24).

    Atento para esta condio de descarte e degradao das identidades, o antroplogo Mssimo Canevacci ir propor o conceito de multivduo ao sujeito contemporneo capaz de assumir diferentes identidades mediado pelo espao onde est presente ou imerso. Embora o multivduo resulte da modernidade, para Canevacci (2003)

    ele ir apresentar-se como o sujeito de uma nova sociedade, no mais voltada to somente ao consumo, acima disso, uma sociedade pautada na comunicao, produzindo uma nova cidade - a metrpole comunicacional. Esta nova cidade caracterizada pela hibridizao de corpos e espaos, ressignificando-se constantemente:

    A metrpole comunicacional muito mais baseada sobre o consumo e sobre a comunicao. O consumo, a comunicao e a cultura tm uma produo de valores, no s no sentido econmico, mas valores no sentido antropolgico. certo que a dimenso industrial ainda significativa, mas no central como era na cidade moderna. E esse cruzamento entre comunicao e tecnologia digital favorece um tipo de transformao profunda na metrpole (CANEVACCI, 2009, p. 11).

    Nesta nova cidade, mediada pelos avanos tecnolgicos e pela cultura digital, ir se desenvolver o multivduo. O conceito de multivduo amplia a ideia ocidental de indivduo como aquele que no passvel de divises, que uno, nico. No en-tanto, entramos em um conflito se afirmarmos a existncia de uma identidade nica, a qual adquire o mesmo carter em diferentes lugares. Uma identidade fixa e inerte, resistente qualquer forma de contgio a partir de um mundo exterior, de espaos e lugares diferentes. Nesse sentido Canevacci (2009) propem o plural de eu no mais como ns, mas sim como eus. Uma multiplicidade de subjetividades que habitam um s sujeito, onde

    as pessoas podem desenvolver uma multiplicidade de identidades, de eus multivduo; fazer uma co-habitao flutuante de diferentes selves (plural de self) que co-habitam, s vezes conflitam ou constroem uma nova identidade, flexvel e pluralizada. O indivduo contemporneo, que o multivduo, esse tipo possibilidade (CANEVACCI, 2009, p.17).

    Nikolas Rose (2011) ir atentar para a condio deste sujeito contemporneo, o qual representa uma crise irreversvel na forma como constituem-se as subjetividades. Esta crise no simboliza um problema, apenas um novo sentido para compreender o homem contemporneo. Amparado em Deleuze e Guattari, o autor nos apresenta uma forma ainda mais voltil de se pensar a subjetividade: ela no apenas mvel, fluda, ela uma forma no subjetivada de existncia (ROSE, 2011, p.142). Isso quer dizer que o sujeito pode adquirir diferentes formas de existir sem que isso implique na produo de uma subjetividade. O multivduo ir ento transitar entre subjetividades existenciais e no existenciais, as quais representam

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    apenas uma forma passageira de sentir, ser e estar em um determinado espao.

    Nesse sentido estamos falando em processos de subjetivao. A subjetivao pode ser compreendida como

    [...] o nome que se pode dar aos efeitos da composio e da recomposio de foras, prticas e relaes que tentam transformar ou operam para transformar o ser humano em variadas formas de sujeito, em seres capazes de tomar a si prprios como os sujeitos de suas prprias prticas e das prticas de outros sobre eles (ROSE, 2011, p.143).

    Compreende-se desta forma que a subjetivao no se d apenas na relao do sujeito com o espao, mas tambm em sua relao com outros sujeitos. Dessa forma, ampliando a concepo de Canevacci (2009), de que no possvel ser o mesmo em diferentes espaos, tambm no possvel permanecer-se o mesmo no contato com os diferentes sujeitos.

    Nesse sentido, ns como sujeitos multivduos pertencemos a um constante processo de metamorfose, adquirindo a subjetividade que mais adequada s nossas necessidades de auto-representao, e isto algo comum no ambiente virtual: o ciberespao.

    O ciberespao pode ser compreendido, ento, como um terreno frtil para o desenvolvimento de uma nova cultura: a cultura de sujeitos multivduos, aqueles capazes de assumir diferentes eus. Na fluidez do trnsito entre uma identidade e outra, a rigidez do conceito de identidade acaba dando lugar ao conceito de subjetividade. O multivduo no assume ento diferentes identidades, mas sim transita livremente por suas diversas subjetividades exteriorizando-as no momento e no lugar que s exigem. No entanto, este sujeito mltiplo em um s, no habita apenas o ambiente virtual, esta prtica torna-se habitual em suas relaes no mundo fsico. Esta caracterstica, embora presente no meio virtual, acaba sendo absorvida pela sociedade e trazida ao mundo fsico, fazendo com que no cotidiano das pessoas, estas adquiram diferentes formas de eus, na medida em que so mais adequados uma determinada situao ou momento.

    A fragilidade do mundo habitado pelo multivduo

    A fluidez: esta talvez seja uma caracterstica da chamada Gerao Y, uma gerao que nasce em

    um mundo de oportunidades e de prazeres cada vez mais sedutores, mas que ir se deparar com uma crise que no est preparada para enfrentar. A gerao Y possui ao seu alcance a abundncia de empregos e de oportunidades, as quais reforam a condio de liquidez das relaes de trabalho e tambm interpessoais (BAUMAN, 2011, p. 58-62). Tudo facilmente descartvel e substituvel neste mundo lquido moderno, at mesmo as subjetividades.

    No mundo lquido moderno, a solidez das coisas, assim como a solidez das relaes humanas, vem sendo interpretada como ameaa: qualquer juramento de fidelidade, qualquer compromisso de longo prazo (para no falar nos compromissos intemporais), prenuncia um futuro sobrecarregado de obrigaes que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de agarrar no voo as novas e ainda desconhecidas oportunidades que venham a surgir (BAUMAN, 2011, p. 112-113).

    A fluidez de fato caracterstica prpria da sociedade contempornea, assim como a fragilidade nas relaes e a facilidade em substituir no apenas bens de consumo mas tambm interesses, desejos, gostos e tudo mais que nos afeta. Nesse sentido, este carter to marcante da nossa sociedade representa um ponto de instabilidade tambm para a educao em todos os mbitos e reas. Na educao das artes visuais no diferente. Se compreendermos a arte como forma de comunicao ao passo em que tambm nos identificamos como sujeitos multivduos, de imediato nos identificamos com a figura mitolgica de Apolo. Isto porque teremos o peso da instabilidade do mundo contemporneo em nossas costas. No entanto, este desafio torna-se tambm solo frtil para problematizaes que perpassam a arte e a cultura. Esta fragilidade torna-se ento um potencial para a educao das artes visuais.

    A arte por si s apresenta-se como um produto desta sociedade instvel. As produes artsticas assumem para si o carter efmero de forma natural, pois esto imersas neste contexto que necessita de produes no eternas, facilmente degradveis, capazes de serem substitudas conforme a necessidade sociocultural do espao onde se inserem.

    Ampliando nosso olhar, possvel ver alm das obras de arte e pensar em uma cultura mais extensa: a cultura visual. Aquela que abarca obras de arte, mas tambm toda a forma de comunicao atravs das imagens ou dos produtos das imagens e os discursos que elas podem gerar. A

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    cultura visual tambm resultado dessa sociedade habitada crescentemente por multivduos, produzida pelas diversas subjetividades, s vezes persistentes, outras vezes degradveis.

    A educao transitada pelos multivduos

    Pensar o docente como multivduo em formao, em meio aos estudantes que tambm os so, gera uma sensao de superficialidade. Nos parece que ser impossvel um autoconhecimento sobre nossa subjetividade e uma aproximao maior com as subjetividades dos educandos. Nos deparamos neste instante com a sensao de tentar segurar, delimitar, prender em nossas mos algo que lquido, que fludo, e isto impossvel.

    O conceito de multivduo uma potencialidade para pensar a educao. Primeiramente nos desestabiliza, nos provoca uma viagem interior em busca de quais so estes mltiplos eus que nos compem. Neste percurso possvel coletar elementos que potencializem nossa prtica a partir do que nos afeta, a partir de nossos desejos e da-quilo que nos prazeroso, ao passo em que compreendemos que o corpo humano afetado de diferentes formas, as quais favorecem e potencializam nossas aes ou nos fazem permanecer inertes perante elas (Spinoza, 2009).

    Ao nos aproximarmos do conceito de afeto em Spinoza (1632-1677), possvel perceber que as afeces so responsveis pelo movimento do sujeito, geram prazer ou desconforto, nos impulsionando ao movimento em busca de sensaes ou a fugir delas. Docentes esto em formao ao longo de toda sua carreira, e nos afetos dirios recolhidos em suas experincias cotidianas que reside a fora propulsora de sua ao. No entanto, ns educadores pensamos a educao a partir do que ir afetar apenas o educando, negligenciando nossas experincias, as afeces que nos movem, em uma triste iluso de que ser possvel uma aproximao quase que osmtica das mltiplas realidades dos educandos.

    Pensar a educao a partir do sujeito como multivduo permite pensar sobre o que afeta o docente e o que afeta o educando. Se compreendermos o multivduo como o sujeito mvel, o qual necessita de uma anlise profunda, somos conduzidos a concluir que esta uma viagem introspectiva e subjetiva, a qual deve ser pessoal, o contrrio, ser apenas uma interpretao superficial.

    Esta uma contribuio formao docente, pois possibilita ao docente compreender que

    no possvel a partir de seu discurso, definir ou estigmatizar a figura do educando, ou seja, o(a) professor(a) passa a ser mediador no processo de interpretao das mltiplas subjetividades, sem ter o domnio sobre a autorrepresentao do educando. Sua experincia possibilita mediar a experincia do educando, sem interferir nela.

    Contribuies Metodolgicas

    Pensar o multivduo nos remete tambm a ideia do pensamento complexo, de conexes e de transdisciplinaridade. Nesse sentido, necessria a contribuio de uma metodologia de pesquisa que contribua e dialogue com estes preceitos. preciso amparar-se em uma proposta metodolgica que esteja aberta a todo tipo de contribuio dos sujeitos envolvidos, observados e narrados na pesquisa. Tambm uma metodologia que reconhece o valor dos discursos e d voz s falas envolvidas, utilizando-as como matria-prima. Desta forma, todas as reas de conhecimento, bem como todas as vozes, as experincias de vida e a cultura cotidiana, operam como elementos da pesquisa. Os achados e os acasos so tambm importantes dispositivos que podem atuar como disparadores da produo de conhecimento.

    A proposta metodolgica que dialoga com estas proposies encontrada na bricolagem. Pro-posta a partir dos estudos de Levy-Strauss, a bricolagem vem sendo utilizada como metodologia de pesquisa em diversas reas de conhecimento. Na educao ela est intimamente relacionada aos estudos de Edgar Morin, no que se refere complexidade do conhecimento. Advinda da necessidade de uma sociedade contempornea caracterizada, como dissemos no inicio, por sua fluidez e por seu carter ideologicamente moldvel, a bricolagem surge como uma proposta metodolgica mais holstica, a qual pretende analisar os diferentes fatores relacionados aos fenmenos socioculturais.

    Esta proposta metodolgica dissolve o modelo cartesiano que tende a dissociar as partes para compreender o objeto em estudo. O trabalho do bricoleur uma ao contnua de tecer e costurar referncias tericas que so capazes de dialogar entre si produzindo novas percepes nunca antes pensadas ou propostas. A bricolagem pode ser compreendida como uma metodologia de pesquisa ativa, preocupada com a utilizao de ferramentas que esto disposio do pesquisador, sem que este necessite escolher um nico mtodo padro.

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    O termo bricolagem oriundo do francs bricolage, significa, segundo Kincheloe e Berry (2007, p. 15) um faz-tudo que lana mo das ferramentas disponveis para realizar uma tarefa. O termo apresentado de forma metafrica por Claude Levy-Strauss (1989) o qual compreende a bricolagem como um processo capaz de definir a relao entre as partes a partir de um contedo comum entre elas. Para este autor, o bricoleur aquele que se utilizar das ferramentas que esto sua disposio para realizar a tarefa da pesquisa.

    [...] um construtor bricoleur seria aquele que realiza suas obras a partir de uma lgica divergente do arquiteto: ele no elabora previamente um plano, ou um projeto com comeo, meio e fim, mas desenvolve sua construo medida que dispe de material e ferramentas, em um desenvolvimento contnuo no-programado, li-dando diretamente com o acaso, o imprevisto e o improviso (KINCHELOE e BERRY 2007, p. 16).

    A proposta metodolgica da bricolagem dialoga com uma pesquisa que pretende compreender a existncia destes sujeitos multivduos, ao passo em que busca desvincular-se dos esteretipos e das vises simplistas e reducionistas. Para falarmos sobre multivduos precisamos romper as fronteiras entre as reas de conhecimento e faz-las operarem juntas para a produo do conhecimento. preciso diluir a divisria entre a arte erudita e a arte popular, entre a arte eurocntrica e a cultura das imagens cotidianas. Assim, a bricolagem permite um dilogo e um tecer de relaes entre diferentes domnios, territrios e espaos e prope uma confluncia entre eles, criando uma colcha de retalhos, retalhos mltiplos, assim como os mltiplos eus que constituem o multivduo.

    Consideraes Finais

    Esta uma proposta de pesquisa a qual est se construindo a partir de uma lgica bricoleur, onde as leituras, os encontros com as visualidades, as experincias de vida e a cultura cotidiana operam como matria-prima para compreender a dinmica de uma sociedade composta por sujeitos entre os quais transitam os multivduos.

    O multivduo, este novo agente que emergiu da sociedade contempornea, est presente em diversos espaos, e transita por diversos territrios tambm. um bricoleur. Coleta para a sua vida tudo o que pode ser til e tambm tudo aquilo que o afeta. Assim constitui-se de subjetividades que hora so aparentes, hora esto imersas dentro de seu ntimo. O multivduo pode estar em ns,

    nos educandos, em qualquer pessoa que transita pelas caladas. Pensar sobre, entre e como multivduo na sociedade contempornea, pretende nos dar a permisso de no sermos um s e de no compreendermos o outro como sujeito nico. Esta uma das muitas necessidades da contemporaneidade: nos permitir diluir fronteiras, ampliar nosso campo para alm das dicotomias, questionar e dissolver as hegemonias.

    Neste sentido, esta uma pesquisa que procura ir ao encontro do pensamento complexo, da fuga dos esteretipos e polaridades, de uma ampliao dos modos de ver, vivenciar e transitar as diferentes culturas. pensar o multivduo como transcendncia de fronteiras onde a arte encontra o potencial para desenvolver-se e mostrar-se. enfim, uma perspectiva a partir do qual o educador tem a possibilidade de desenvolver um ensino transdisciplinar, livre de limitaes cartesianas.

    Referncias bibliogrficas

    BAUMAN, Zigmunt. 44 Cartas do mundo lquido moderno. Traduo Vera Pereira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

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    Vida Lquida. Traduo Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2007.

    BERMAN, Marschal. Tudo que slido desmancha no ar: A aventura da modernidade. So Paulo: Companhia das Letras, 1996.

    CANEVACCI, Massimo. A comunicao entre corpos e metrpoles. In Revista Signos do Consumo, vol. 1, n 1, 2009, p. 08-20.

    Pausas de Carne. In Cadernos PPG-AU FAUFBA. Vol.1, n.1 (2003). Salvador: FAUFBA-EDUFBA, 2003.

    KINCHELOE, Joe; BERRY, K. Pesquisa em educao: conceituando a bricolagem. Porto Alegre: Artmed, 2007.

    LEVY-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Trad. Tnia Pelligrini. Campinas: Papirus, 1989.

    LEVY, Pierre. Cibercultura. Traduo Carlos Irineu da Costa. So Paulo: Editora 34, 1999.

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    MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dria. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

    ROSE, Nikolas. Inventando nossos eus. In. SILVA, Tomaz Tadeu da. Nunca fomos humanos - nos rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autntica, 2001.

    SPINOZA, Benedictus de. tica. Belo Horizonte: Autntica, 2009.

    Francieli Backes

    Mestranda do Programa de Ps Graduao em Educao - UFSM (PPGE - Linha de Pesquisa Educao e Arte). Graduada em Artes Visuais Licenciatura Plena em Desenho e Plstica pela Universidade Federal de Santa Maria. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte, Educao e Cultura (GEPAEC). Acadmica do curso de Farmcia - UFSM. Atua como docente de artes visuais nas redes estadual e municipal de ensino.

    Leonardo Augusto Verde Reis Charru

    Licenciado em Artes Plsticas (Pintura) pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (1990). Mestre em Histria da Arte pela Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1995). Doutor em Belles Arts pela Universitat de Barcelona, Espanha (2004) e Doutor em Cincias da Educao pela Universidade de vora (2004). Atualmente Professor Adjunto do Departamento de Artes Visuais, Centro de Artes e Letras, da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.

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    MAGENS NAS ESCOLAS: CURRCULO, PRTICAS E DILOGOS COM VISUALIDADES

    Adriane Camilo Costa UFG Raimundo Martins UFG

    Resumo:

    O texto expe caminhos trilhados para investigar as construes imagticas nas escolas de tempo integral da Rede Municipal de Educao de Goinia. A pesquisa questiona a presena de imagens/visualidades construdas pelos professores pedagogos no espao fsico das escolas e em que medida tais imagens contribuem para desenvolver a percepo esttica e cultural dos sujeitos/ alunos. Buscamos compreender concepes de ensino das Artes Visuais de professoras pedagogas, sua formao inicial e continuada e suas prticas pedaggicas com os estudantes. Uma anlise das propostas de currculo da rede de ensino em questo tambm faz parte do corpus deste trabalho cujo objetivo estabelecer dilogos com as prticas que envolvem visualidades. A investigao tem como foco escolas de tempo integral em razo de apresentarem modos de construo e estruturas curriculares diferenciados, alm do fato de acolherem os estudantes de oito da manh at dezesseis horas e vinte minutos. Algumas demandas pedaggicas dessas escolas e das comunidades onde esto inseridas so analisadas a partir das imagens elaboradas pelas professoras e utilizadas em seu trabalho didtico. Na expectativa de compreender o universo visual contemporneo dessas instituies e de verificar o grau de autonomia das escolas da Rede Municipal de Educao de Goinia so propostos percursos dialgicos abertos a imprevistos e percalos.

    Palavras-chave: visualidades, professoras pedagogas, escolas de tempo integral

    Resumen:

    Este texto expone formas que han sido pisadas para investigar construcciones de imgenes en las escuelas de tiempo completo de Educacin Municipal de Goinia.

    Las preguntas de investigacin cuestionan la presencia de imgenes / visualidades construidos por pedagogos maestros en el espacio fsico de las escuelas y en qu medida estas imgenes contribuyen a desarrollar la percepcin esttica y cultural de los sujetos/estudiantes. Buscamos entender los conceptos de enseanza de las artes visuales de pedagogos maestros, su formacin inicial y continua y sus prcticas de enseanza con los alumnos. Un anlisis de las propuestas del plan de estudios del sistema educativo en cuestin es tambin parte del corpus de este trabajo destinado a establecer un dilogo con las prcticas que implican visualidades. La investigacin se ha centrado en las escuelas de tiempo completo, ya que tienen diferentes mtodos de construccin y las estructuras curriculares, adems del hecho de recibir estudiantes de las ocho de la maana hasta diecisis horas y veinte minutos. Algunas demandas pedaggicas de estas escuelas y las comunidades en las que operan son analizados desde las imgenes producidas por los maestros y empleados en su trabajo de enseanza. Con la expectativa de la comprender el universo visual contempornea de estas instituciones y para verificar el grado de autonoma de los centros de la Red de Educacin Municipal de Goinia se proponen caminos de dilogo abiertos para imprevistos y contratiempos.

    Palabras clave: Visualidades, pedagogas maestros, escuelas de tiempo completo

    A formao integral do sujeito uma questo que h muito preocupa educadores e gestores de instituies educacionais pblicas brasileiras. Ultimamente, o Governo Federal, por meio do Ministrio da Educao, tem investido em estratgias a fim de (re) organizar o currculo e a jornada escolar na perspectiva da proposta de uma Educao Integral. Na expectativa de consolidar essa proposta, o municpio de Goinia tem investido na ampliao da jornada escolar e no

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    Figura 11 - Imagens de Escolas de Tempo Integral do municpio de Goinia

    aumento do tempo de permanncia dos educan-dos nas escolas de ensino fundamental. Hoje, o municpio mantm vinte e duas escolas de tempo integral que atendem os estudantes por oito horas dirias.

    Atenta a esta permanncia dos estudantes numa instituio educacional realizo no doutorado em Arte e Cultura Visuali uma investigao sobre as construes imagticas nas Escolas Municipais de Tempo Integral de Goinia. Neste texto, pretendemos evidenciar alguns caminhos trilhado na busca por respostas para a pesquisa que questiona a presena de imagens/visualidades construdas por professores pedagogos no espao fsico dessas escolas e tambm o modo como tais imagens contribuem para desenvolver a percepo esttica e cultural dos educandos, ou seja, construes culturais elencadas por essas visualidades, suas possveis transformaes e a construo de novos conhecimentos.

    Depois de muito dialogar com professores das es-colas do municpio de Goinia cuja jornada pedaggica est organizada em tempo ampliado - as Escolas Municipais de Tempo Integral de Goinia, EMTI -, almejo investigar como essas visualidades so pensadas enquanto construo de conhecimento. Como elas podem ser transformadas em conhecimento pelos sujeitos que frequentam esses espaos.

    Grande parte das EMTI de Goinia apresenta uma configurao predefinida de visualidades que compem seus espaos fsicos, por exemplo, painis de boas-vindas aos estudantes no retorno s aulas, em sua maioria compostos por desenhos de trao estereotipado e cuja representao de folguedos - soltar pipa, andar de bicicleta etc. - nem sempre corresponde ao espao escolar. Ve

    rifica-se, tambm, uma disposio para a interdependncia em relao a datas comemorativas. Esta observao talvez seja prematura e deve ser revisitada, considerando que h um trajeto a ser percorrido ao longo da pesquisa que ainda est em andamento.

    Na perspectiva do Projeto Poltico Pedaggico dessas escolas, de acordo com o qual a reorganizao dos tempos e espaos visam a educao integral dos educandos (GOINIA, 2015), a pesquisa busca identificar e compreender a concepo de organizao dos espaos e de ferramentas culturais, tanto no Projeto Politico Pedaggico quanto na organizao das ferramentas culturais selecionadas, projetadas e concretizadas pelas professoras.

    O documento que orienta os objetivos e as aes que as Escolas Municipais de Tempo Integral de Goinia pretendem alcanar esclarece que

    Tendo em vista a complexidade e a necessidade da educao escolar na concepo histrico-cultural, fica evidente a importncia da ampliao da jornada escolar. Ter mais tempo para estabelecer relaes complexas mediadas por ferramentas culturais, possibilitando novos contedos, vivncias e atividades no plano interpsquico (social) e depois no intrapsquico (individual), por meio do auxlio de companheiros mais experientes e do professor e depois sozinhas, construindo sentido e apropriando-se de significados, torna-se condio primeira para viabilizar a formao humana. (GOINIA, 2015)

    O referido documento tambm evidencia que o conhecimento deve ser considerado em sua completude enquanto saber esttico-expressivo e comunicativo, alm de cientfico, fsico e tico. Esse

    1 - Pesquisa de doutorado no Programa de Ps-Graduao em Arte e Cultura Visual na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Gois, sob orientao do professor doutor Raimundo Martins.

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    aspecto ser analisado, discutido e avaliado na pesquisa durante a investigao das construes visuais presentes nessas instituies.

    O previsto e o inesperado do currculo

    consenso que vivemos hoje na era das imagens e saber interpret-las deve fazer parte das aes educativas sistematizadas da educao formal de ensino, pois o conceito de educao est intimamente ligado formao de sujeitos livres e crticos, condio para qual fundamental o conhecimento. Considerando as interpretaes das imagens que os estudantes realizam a partir de suas prprias referncias culturais, e ponderando sobre as visualidades presentes no cotidiano, pode-se dizer que um processo contnuo de interpretao e construo de significados, assim como as visualidades das instituies educacionais, faz parte desse processo construtivo de conhecimento.

    A capacidade dos profissionais da educao perceberem a importncia da formao cultural para a construo do conhecimento geral e especfico fundamental para que a educao esttica visual tenha seu lugar garantido na educao sistematizada. Da a preocupao em buscar compreender as concepes de ensino das artes visuais de professoras pedagogas no mbito de sua formao inicial e continuada, bem como de suas prticas pedaggicas com os estudantes. A organizao das visualidades dos espaos fsicos das escolas passa a ter significativa importncia na construo de conhecimento dos sujeitos que ali circulam. Nesta perspectiva, bsico que seja discutida a formao cultural dos professores que atuam nesses espaos. Para Oliveira (2010: 264),

    Educar e educar-se recursivamente, no processo de complexidade-imaginao, em criatividade, lucidez crtica e auto-compatibilizao das novas solues. Geram-se cultura geral e profissional; e uma dinmica exploratria/actuante-no-devir. A qualidade de uma educao visual necessria a todos, para crescimento em emoo-razo e resposta responsvel aos desafios culturais emergentes, passar por aqui. (grifos da autora)

    A autora evidencia a necessidade da educao visual de qualidade, pensada e no inocente, numa dinmica exploratria atuante. Uma anlise, ainda embrionria, das propostas de currculo da Rede em questo compe esse panorama cujo objetivo estabelecer dilogos com os procedimentos que envolvem visualidades. De acordo com o Programa para as escolas municipais com

    atendimento em tempo integral (Goinia, 2013), o currculo das Escolas Municipais de Tempo Integral de Goinia (EMTI) est organizado em duas partes que se complementam. Uma baseada nos Componentes Curriculares Obrigatrios, saberes organizados a partir das reas de conhecimento previstas por lei federal como obrigatrios para o Ensino Fundamental, nas seguintes disciplinas: Arte, Cincias, Educao Fsica, Histria, Geografia, Lngua Estrangeira Moderna, Lngua Portuguesa e Matemtica.

    A outra parte composta pelas chamadas Atividades Especficas, atividades que visam integrao dos diferentes componentes curriculares desenvolvendo conhecimentos na prxis, na proposta da apropriao qualitativa do tempo, criando possibilidades para o educando formar-se sujeito livre no apenas formalmente, mas livre em sua capacidade de pensar, refletir e se posicionar frente ao mundo. Nesta organizao, as duas partes so abordadas separadamente, mas devem ser complementares para a formao integral dos educandos e se intercalando, ou seja, os componentes curriculares obrigatrios e as atividades especficas esto organizados de maneira que se alternem durante o dia, organizao pensada para que (todo) o currculo institudo para as EMTI tenha importncia anloga.

    Nesta pesquisa consideramos, tambm, que a educao, a cultura e as visualidades contribuem para o entendimento das relaes de poder existentes nas escolhas das imagens a serem propagadas e divulgadas, intencionalmente ou no, pelo currculo previsto nas escolas. Segundo Moll (2012: 28),

    A ampliao do tempo de permanncia dos estudantes tem implicaes diretas na reorganizao e/ou expanso do espao fsico, na jornada de trabalho dos professores e outros profissionais da educao, nos investimentos financeiros diferenciados para garantia da qualidade necessria aos processos de mudana, entre outros elementos.

    Assim, na reorganizao do espao fsico, as visualidades desses espaos passam a ter significativa importncia para a construo de conhecimento dos sujeitos que ali circulam.

    Imagens e prticas pedaggicas...

    A pesquisa busca analisar e propor formas para compreender concepes de ensino de artes visuais de professoras pedagogas a partir de trs eixos: formao inicial, formao continuada e

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    prticas pedaggicas. Considerar os currculos que esto sendo pensados para estes eixos e para as escolas de tempo integral, em mbito local e nacional, basilar no entendimento sobre o ensino de artes visuais na contemporaneidade.

    Tomar como ponto de partida as concepes de ensino de artes visuais e a busca pela cultura visual nas/das EMTI requer a construo de uma abordagem de pesquisa que permita o estudo da realidade no espao escolar. Para Hernndez (2007: 88-89),

    A postura do adulto deve ser a de modelador, buscando o equilbrio entre o desfrute da experincia dos estudantes com os artefatos da cultura visual e a introduo de uma perspectiva crtica e performativa que signifique discusso, explorao e vivncia. (...) Sob esse enfoque, os educadores podem ajudar os estudantes na explorao das manifestaes da cultura visual a partir de uma perspectiva interdisciplinar, vinculada a diferentes teorias sociais e metodologias de interpretao.

    A assertiva postulada por Hernndez refora a ideia de que a formao cultural do professor tem relevncia na construo do conhecimento e, consequentemente, no desenvolvimento de sujeitos autnomos, professores e/ou estudantes.

    importante salientar que as crianas, na sociedade contempornea, desde a primeira infncia, tm acesso a meios de comunicao e a mdias cada vez mais sofisticados, o que estabelece a imagem como sua principal fonte de informao. Segundo Martins e Tourinho (2010: 41),

    (...) a vitalidade e o poder da imagem so evidentes atravs da influncia que elas exercem sobre a imaginao das pessoas, configurando identidades individuais e coletivas, posies de sujeito, modos de ver, pensar, agir e, consequentemente, de produo e interpretao de significados. Na ltima dcada o avano surpreendente das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC), associado a processos eletrnicos de distribuio, comercializao e consumo de mercadorias, informaes, valores e atitudes, contribuiu para ampliar o alcance da imagem, conferindo-lhe posio estratgica na paisagem contempornea, denominada de era da TED, ou seja, da proeminncia de aparatos que intercruzam Tecnologia, Entretenimento e Design.

    Esta realidade tambm discutida pelo socilogo Zygmunt Bauman ao discorrer sobre a vontade de liberdade do sujeito contemporneo

    (ps-moderno), que acompanha a velocidade das mudanas tecnolgicas, culturais e econmicas A liberdade toma lugar da ordem e do consenso como critrio de qualidade de vida (Bauman, 1998). Sobre a ordem, esclarece Bauman:

    Ordem significa um meio regular e estvel para os nossos atos; um mundo em que as probabilidades dos acontecimentos no estejam distribudas ao acaso, mas arrumadas numa hierarquia estrita de modo que certos acontecimentos sejam altamente provveis, outros menos provveis, alguns virtualmente impossveis. S um meio como esse ns realmente entendemos. S nessas circunstncias podemos realmente saber como prosseguir. S a podemos selecionar apropriadamente os nossos atos isto , com uma razovel esperana de que os resultados que temos em mente sero de fato atingidos. (1998:15)

    O amadurecimento e avano desta investigao, ainda em andamento, est orientado para o dilogo com tericos que abordem esta temtica do projeto de maneira aberta e flexvel, estabelecendo relaes com as novas tecnologias e formas hbridas que utilizar visualidades e linguagens artsticas. Estas novas tecnologias esto presentes no nosso cotidiano e do cotidiano das crianas, sobretudo no que se refere constituio de saberes e competncias, elementos que devem ser considerados nas anlises sobre a formao inicial e continuada dos professores que colaboraro com a pesquisa.

    Da mesma forma, quaisquer demandas pedaggicas dessas escolas e das comunidades onde esto inseridas sero analisadas a partir das imagens elaboradas pelas professoras e utilizadas em seu trabalho didtico. A investigao em relao prtica pedaggica das professoras se dar no percurso, em etapas como observao, anlise e crtica, pois a investigao deve considerar o conhecimento dinmico e no linear instigado pelas visualidades e tecnologias contemporneas.

    Prticas e Atividades Especficas

    Na expectativa de compreender o universo visual contemporneo dessas instituies e de verificar o grau de autonomia das escolas da Rede Municipal de Educao de Goinia, esto sendo propostos percursos dialgicos abertos a imprevistos e percalos, uma vez que no h uma frmula prvia que indique trajetrias seguras e precisas.

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    As atividades especficas que compem a parte diferenciada do currculo para as EMTI devem ser pensadas considerando os conceitos trabalhados, os conhecimentos que a constituem, os significados social e histrico, a relevncia social, as linguagens trabalhadas, os recursos materiais necessrios, articulao com outros conhecimentos e as tcnicas necessrias para realizar as aes pretendidas. Estas consideraes devem ser ponderadas para que os objetivos da ampliao da jornada escolar sejam atendidos. O debate sobre as atividades especficas nas es-colas de tempo integral tm sido uma constante, evidenciando a importncia destas atividades na educao integral, muitas vezes confundidas com atividades secundrias, menos significativas que os componentes curriculares obrigatrios. De acordo com Moll (2012: 130),

    O debate da educao integral em jornada ampliada ou da escola de tempo integral, bem como a proposio de aes indutoras e de marcos legais claros para a ampliao, qualificao e reorganizao da jornada escolar diria, compe um conjunto de possibilidades que, em mdio prazo, pode contribuir para a modificao de nossa estrutura societria.

    A modificao de nossa estrutura societria, conforme mencionada por Moll, relevante nas selees das aes estabelecidas nas escolas e tambm das competncias dos professores que ministram as atividades especficas que so selecionadas e propositadas nas escolas, de acordo com a demanda de cada comunidade escolar. Esses so elementos significativos para que as aes propostas tenham xito.

    A investigao, embora em estado inicial de mapeamento das escolas com vistas a pesquisa de campo e a produo de dados, est na fase de levantamento bibliogrfico em sintonia com as perguntas norteadoras, rastreando ideias e discusses de tericos que pesquisam e discutem esta temtica de modo a elaborar possveis itinerrios e dilogos conceituais que venham a embasar caminhos a serem percorridos eu caminhos j trilhados porm ainda no definidos. A pesquisa contempla a questo problematizadora que , porm, passvel de ser revisada durante o percurso investigativo.

    Referncias

    BAUMAN, Zygmund. O mal-estar da ps-modernidade. Trad. Mauro Gama, Cludia Martinelli Gama - Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

    BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educao Bsica. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Currculos e Educao Integral. Braslia: MEC/SEB/ DICEI, 2013.

    GOINIA. Secretaria Municipal de Educao. Diretrizes Curriculares para a Infncia e Adolescncia da Rede Municipal de Educao. Goinia, 2008.

    GOINIA. Secretaria Municipal de Educao. Programa para as Escolas Municipais com Atendimento em Tempo Integral. Goinia, 2013.

    GOINIA. Secretaria Municipal de Educao. Reorganizao das Escolas Municipais de Tempo Integral. Goinia, 2015.

    HERNNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual: transformando fragmentos em nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediao, 2007.

    JOLY, Martine. Introduo anlise da imagem. Trad. Marina Appenzeller Campinas, SP: Papirus, 1996.

    MARTINS, Raimundo e TOURINHO, Irene. Cultura Visual e Infncia: quando as imagens invadem a escola. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2010.

    MOLL, Jaqueline (et al.). Caminhos da educao integral no Brasil: direito a outros tempos e espaos educativos. Porto Alegre: Penso, 2012.

    OLIVEIRA, Elisabete Silva. Educao Esttica Visual Eco-Necessria na Adolescncia. Coimbra, PT: Minervacoimbra, 2010.

    Adriane Camilo Costa

    Licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Gois (UFG), Mestre em Arte e Cultura Visual pela mesma instituio, Especialista em Cinema/Educao pelo IFITEG, doutoranda em Arte e Cultura Visual na FAV/UFG. Atualmente professora na Pontifcia Universidade Catlica de Gois e na Secretaria Municipal de Educao de Goinia. membro do Grupo de Pesquisa Cultura Visual e Educao, da UFG, e do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura e Educao na Infncia, da PUC Gois. http://lattes.cnpq. br/4772871578570275

    http://lattes.cnpq
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    Raimundo Martins

    Doutor em Educao/Artes pela Southern Illinois University (EUA), ps-doutor pela University of London (GB) e pela Universidade de Barcelona (Espanha). Professor Titular e docente do Programa de Ps-Graduao em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Gois (FAV-UFG). pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte, Educao e Cultura (PPGE-UFSM), Cultura Visual e Educao (PPGACV-UFG) e do Laboratrio Educao e Imagem (PPGE-UERJ).

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    LUGARES, ENCONTROS E ACONTECIMENTOS DAFORMAO DOCENTE EM ARTES VISUAIS.

    Deise Facco Pegoraro- UFSM Leonardo Charru - UFSM

    Resumo:

    O presente texto apresenta um recorte da pesquisa de dissertao que se encontra em andamento intitulada Experincia educativa em artes visuais como lugar de encontro: processos e aprendizagem na docncia. Tem por objetivo pensar a experincia educativa em artes visuais como lugar de encontro na docncia. Os encontros e acontecimentos da graduao permeiam o tempo presente como forma de ressignificao de aprendizados. O tempo passado revisitado atravs de dirios da prtica pedaggica e trazido para problematizar aprendizados de um tempo outro onde tambm se fazem presentes imagens do espao escolar de atuao no presente e imagens produzidas pelos alunos. Este universo imagtico dispara o pensamento e convida autores e conceitos para operarem numa tentativa de problematizar um processo de formao docente pela prtica e atravs dos encontros. A pesquisa opera com os conceitos de acontecimento e encontro de Deleuze atravs do mtodo qualitativo cartogrfico de pesquisa em educao.

    Palavras-chave: Educao, encontro, acontecimento.

    O Dirio da Prtica Pedaggica (DPP) neste texto e para minha pesquisa de mestrado significa uma possibilidade de olhar para as aulas de artes visuais a partir de dilemas e do que aconteceu de mais significativo. uma ferramenta de trabalho que conheci atravs dos encontros e aes do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia), subprojeto Artes Visuais/ UFSM, logo no incio do curso de Licenciatura em Artes Visuais e que caminhou comigo durante todo o percurso de bolsista de iniciao docncia e, tambm, durante os estgios supervisionados. Hoje, os dirios continuam me ensinando outras formas de ver a prtica e formao docente e, por isso constitui o elemento disparador de

    questes e problematizador para pensar a experincia educativa em artes visuais como lugar de encontro. Pensando na relao entre forma e contedo, Eisner sugere que

    ...forma e contedo so inseparveis uma das lies que as artes mais profundamente ensinam. Muda o ritmo de um verso de poesia e mudars o significado do poema. A criao de relaes expressivas e satisfatrias o que o trabalho artisticamente guiado celebra. (EISNER, 2008)

    A prtica reflexiva a partir dos dirios feita le-vando-se em considerao alguns pontos que devem ser contemplados no momento de produo do DPP. Estes elementos foram inicialmente colocados durante o meu percurso curricular na licenciatura, a partir de Zabalza (2004).

    Estes elementos/dilemas/pontos de pauta de reflexo do processo esto compreendidos dentro da proposta de Zabalza (2004) contemplando a fala do professor, o eu docente em formao inicial/continuada; os estudantes representados em imagens, ou falas deles (que levam a uma determinada percepo do professor sobre a experincia dos seus educandos); os conceitos chave do projeto de pesquisa/interveno e seus autores; e dilogo entre imagem e escrita, onde se procurou que nenhuma se sobressaisse outra.

    Para trabalhar com esta ferramenta contemplando todos os pontos mencionados acima preciso transitar por caminhos obscuros entrelaando pensamentos e olhares diferenciados. O DPP se torna uma multiplicidade que contribui para que outras composies sejam acionadas, possibilitando diferentes arranjos. A importncia desses elementos est naquilo que eles nos provocam a pensar e nas outras conexes que eles nos desafiam a realizar.

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    Tendo em vista a relevncia desta ferramenta para a formao docente me ponho a pensar em duas questes: ser que o dirio se sustenta por si s ou ser preciso explic-lo? No que respeita aos encontros na UFSM como parte do processo formativo: o que eu aprendi do/com o grupo das aulas, das discusses, dos encontros?

    Dentro desta perspectiva, cada docente em formao prope para si a construo/elaborao de um material em formato distinto tendo como ponto de partida os elementos acima elencados. Desta forma tratar em seguida de narrar as suas vivncias e experincias de sua formao docente. A contemplao destes elementos ocorrer de forma nica para cada pessoa, pois depender do seu prprio processo. O DPP organiza o pensamento dentro do conjunto de prticas e aes docentes. O momento da construo do dirio um tempo de desafio, de olhar para a prpria experincia e assinalar o que de mais significativo ocorreu.

    A imp