MONUMENTALIDADE E VISIBILIDADE NOS SEPULCROS MEGALÍTICOSDA PLATAFORMA DO MONDEGO

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Trabalhos de Arqueologia da EAM, 5, Lisboa, Colibri, 1999, pp.35-49 MONUMENTALIDADE E VISIBILIDADE NOS SEPULCROS MEGALÍTICOS DA PLATAFORMA DO MONDEGO José Manuel Quintã VENTURA * RESUMO: Apresentam-se aqui os dados adquiridos nos últimos anos de investigação arqueológica, na Plataforma do Mondego, no âmbito do megalitismo. Tomando como ponto de partida as informações existentes para os diversos núcleos megalíticos identificados na região, tecendo-se considerações sobre a evolução regional e implantação na paisagem. O arranque do fenómeno, na Plataforma do Mondego, parece estar associado a pequenos monumentos de câmara megalítica simples e aberta. O estudo dos materiais provenientes das deposições funerárias permitiu o reconhecimento de uma acção de selecção nos depósitos votivos e a sua inserção em contextos associados ao arranque do megalitismo regional, que parece situar-se algures nos finais do V e inícios do IV milénio cal AC. Por outro lado, será após a desactivação destes pequenos monumentos que se irão construir, possivelmente em momentos próximos da 2ª metade do IV milénio cal AC. Os grandes monumentos megalíticos de planta evoluída, onde as deposições votivas corresponderiam a uma reformulação das prescrições até aí em uso, eventualmente como forma de regularizar tensões sociais que então se desenvolveriam, nos grupos humanos do Neolítico médio/final regional. Este segundo momento de expansão do Megalitismo regional, corresponde a uma monumentalização da paisagem, implicando o aumento da influência dos monumentos na organização do espaço, simbólico e profano, por via da sua visibilidade e pela existência, no sentido arquitectónico, de espaços cénicos onde se passam a realizar, agora, parte dos rituais associados aos mortos. PALAVRAS-CHAVE: Monumentalidade, Megalitismo, Beira-Alta ABSTRACT: In this paper we present an analysis of the work we have done throughout the last years on Mondego’s Platform, concerning the megalithic phenomena. Starting with the data available for the several megalithic nucleus identified in the region, we discuss problems concerning its evolution and location in the landscape. The starting point of the phenomena, as we know it, are a series of small monuments with simple and open megalithic chambers. The analysis of the ritual deposits allows us to identify them as resulting from a deliberate act of selection and to place them at the start of the phenomena somewhere in the late V, early IV millennia cal BC. It will be after these small monuments were closed and deactivated that, in the 2nd half of the IV millennium cal BC, the larger ones with complex architectural structures were constructed, involving ritual depositions now including elements taken from domestic environments, possibly as a way to stabilise social tensions inside the middle/late Neolithic groups. This second moment can be interpreted as model of spatial monumentali- zation. This might imply a greater control over the territory, either in its symbolic or profane meaning, owing to the monuments’ visibility and the existence of special architectural scenic areas where some of the rituals associated with the dead start to occur. * Licenciado em História e História, Variante de Arqueologia pela F.L.U.L., Mestre em Arqueologia e Pré-História na F.L.U.L., Investigador do PEABMAM. Rua Dr. Ricardo Jorge, 5, 13º Esq, Venda Nova, 2700-301 Amadora, Portugal. <[email protected]>

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Apresentam-se aqui os dados adquiridos nos últimos anos de investigação arqueo¬lógica, na Plataforma do Mondego, no âmbito do megalitismo. Tomando como ponto de partida as informações existentes para os diversos núcleos megalíticos identificados na região, tecendo-se considerações sobre a evolução regional e implantação na paisagem.

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Trabalhos de Arqueologia da EAM,5, Lisboa, Colibri, 1999, pp.35-49

MONUMENTALIDADE E VISIBILIDADE NOS SEPULCROS MEGALÍTICOSDA PLATAFORMA DO MONDEGO

José Manuel Quintã VENTURA*

RESUMO: Apresentam-se aqui os dados adquiridos nos últimos anos de investigação arqueológica, na Plataforma do Mondego, no âmbito do megalitismo. Tomando como ponto de partida as informações existentes para os diversos núcleos megalíticos identificados na região, tecendo-se considerações sobre a evolução regional e implantação na paisagem.O arranque do fenómeno, na Plataforma do Mondego, parece estar associado a pequenos monumentos de câmara megalítica simples e aberta. O estudo dos materiais provenientes das deposições funerárias permitiu o reconhecimento de uma acção de selecção nos depósitos votivos e a sua inserção em contextos associados ao arranque do megalitismo regional, que parece situar-se algures nos finais do V e inícios do IV milénio cal AC. Por outro lado, será após a desactivação destes pequenos monumentos que se irão construir, possivelmente em momentos próximos da 2ª metade do IV milénio cal AC. Os grandes monumentos megalíticos de planta evoluída, onde as deposições votivas corresponderiam a uma reformulação das pres-crições até aí em uso, eventualmente como forma de regularizar tensões sociais que então se desenvolveriam, nos grupos humanos do Neolítico médio/final regional. Este segundo momento de expansão do Megalitismo regional, corresponde a uma monumentalização da paisagem, implicando o aumento da influência dos monumentos na organização do espaço, simbólico e profano, por via da sua visibilidade e pela existência, no sentido arquitectónico, de espaços cénicos onde se passam a realizar, agora, parte dos rituais associados aos mortos.

PALAVRAS-CHAVE: Monumentalidade, Megalitismo, Beira-Alta

ABSTRACT: In this paper we present an analysis of the work we have done throughout the last years on Mondego’s Platform, concerning the megalithic phenomena. Starting with the data available for the several megalithic nucleus identified in the region, we discuss problems concerning its evolution and location in the landscape.The starting point of the phenomena, as we know it, are a series of small monuments with simple and open megalithic chambers. The analysis of the ritual deposits allows us to identify them as resulting from a deliberate act of selection and to place them at the start of the phenomena somewhere in the late V, early IV millennia cal BC. It will be after these small monuments were closed and deactivated that, in the 2nd half of the IV mil-lennium cal BC, the larger ones with complex architectural structures were constructed, involving ritual depositions now including elements taken from domestic environments, possibly as a way to stabilise social tensions inside the middle/late Neolithic groups.This second moment can be interpreted as model of spatial monumentalization. This might imply a greater control over the territory, either in its symbolic or profane meaning, owing to the monuments’ visibility and the existence of special architectural scenic areas where some of the rituals associated with the dead start to occur.

KEY-WORDS: Monumentality, Megalithism, Beira Alta

1. OBJECTIVOS E ENQUADRAMENTO

Os objectivos do presente artigo, podem ser sintetizados na seguinte formula: estabelecer um ensaio de análise espacial, tendo em conta a implantação dos monumentos megalíticos, relacionando-a com os recursos humanos eventualmente disponibilizados na sua construção e as concepções acerca do espaço de implantação.

Assim, visaremos sobretudo a transição do V para o IV milénio e a 1ª metade do IV milénio cal AC, abordando o desenvolvimento do fenómeno megalítico na Plataforma do Mondego, em especial, o que vai ocorrer nos núcleos megalíticos por nós estudados nas áreas correspondentes aos concelhos de Carregal do Sal e Nelas (cf. Figura 1). É antes de

mais, a perspectivação de um "fenómeno de larga duração" passível de ser observado, não só localmente como ainda regionalmente e, nalguns casos, transregionalmente.

O carácter relativamente recente dos estudos sobre o povoamento do Neolítico antigo, assim como os referentes a uma perspectiva global dos sepulcros megalíticos na área em apreço, implica que os resultados disponíveis são ainda parcelares, visto que alguns arqueosítios ainda se encontram inéditos ou foram somente objecto de apresentações preliminares (SENNA-MARTINEZ & ESTEVINHA, 1994;VALERA, 1997; VENTURA, 1998a). Assim, não será ainda possível a construção de uma Modelização totalmente coerente, constituindo estas linhas apenas mais uma contribuição e reformulação de interpretações

* Licenciado em História e História, Variante de Arqueologia pela F.L.U.L., Mestre em Arqueologia e Pré-História na F.L.U.L., Investigador do PEABMAM. Rua Dr. Ricardo Jorge, 5, 13º Esq, Venda Nova, 2700-301 Amadora, Portugal. <[email protected]>

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anteriores (cf. SENNA-MARTINEZ, 1989a, 1994 e 1995; CRUZ, 1995; VALERA, 1997).

N

Legenda:Monumentos Megalíticos

0 2 Km

Figura 1 - A área da Plataforma do Mondego onde se centra o presente trabalho. 1-Orca 1 do Ameal, 2-Orca 2 do Ameal, 3-Orca dos Fiais da Telha, 4-Orca 1 de Oliveira do Conde, 5-Orca 2 de Oliveira do Conde, 6-Orca do Santo, 7-Monumento da Víbora, 8-Orca do Outeiro do Rato, 9-Orca do Valongo, 10-Orca de Santo Tisco, 11-Orca de Pramelas, 12-Arquinha da Moura (Tondela), 13-Lapa da Arquinha da Moura (Oliveira do Hospital), 14-Orca do Seixo da Beira, 15-Orca do Folhadal.

Por outro lado, a própria conceptualização de Megalitismo, também não é pacífica, sendo actualmente comum referências a fenómenos megalíticos não-funerários, como ainda a fenómenos funerários megalíticos não-monumentais, apenas para destacar alguns aspectos desta problemática. Mesmo assim, podemos considerar que o Megalitismo, em especial na sua vertente funerária, consiste, não num fenómeno único e linear, mas sim uma pluralidade de fenómenos, ao longo de uma longa diacronia, sem que no entanto nos seja possível encontrar um fio condutor, senão na solução empregue em termos arquitectónicos, que formalmente se convencionou designar de "Megalitismo" (JORGE V., 1986, 1989 e 1990; SILVA F., 1993 e 1994).

No entanto, pela sua prática e diversidade, o fenómeno ultrapassa também a simples realidade

regional, para se afirmar como o produto de um determinado momento da evolução das comunidades humanas. Para o caso português e, a bem dizer, do ocidente peninsular, a originalidade situa-se, não tanto, na expressão arquitectónica (resultado de uma concepção multi-regional) mas sim na concepção e no conjunto dos artefactos que reflectem uma realidade regional e os contactos supra-regionais (GONÇALVES, 1992:173; VENTURA, 1994b). Assim sendo, o Megalitismo deve ser visto como uma de "comunhão de prescrições e rituais" relacionadas com o culto dos mortos, que se assume, a longo prazo, como um fenómeno pluri-regional.

Neste sentido, o Megalitismo deverá ser considerado, mais como um conjunto de prescrições rituais ou "mágico-religiosas" e práticas funerárias (GONÇALVES, 1992:57; VENTURA, 1994b), que se

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consubstanciam no colectivismo do espaço reservado aos mortos. Assim, parece corresponder, no que se refere à faixa ocidental da Península Ibérica, a uma evolução de determinadas comunidades neolíticas, que apesar das assimetrias regionais e dos diferentes ritmos de evolução, desenvolveram em comum uma "Concepção", que abrange não só os aspectos arquitectónicos, mas também o tipo e qualidade de ofertas aos mortos por parte de diversas comunidades.

Assim, apesar das diferenças regionais, estes grupos humanos mantêm um certo "fio condutor" co-mum, o que poderá indiciar, que apesar de uma clara distinção em realidades regionais, com personalidade própria, que assentam no substrato cultural, recursos e potencialidades económicas de cada uma destas, têm de se reconhecer a existência de ideias que "viajariam" concretizando-se numa mais ou menos homogeneidade discreta nas estruturas arquitectónicas, que se mantêm mais ou menos inalteráveis, na sua Concepção. Tudo parece indiciar, que a existir um cânone, este permite uma certa capacidade de adaptação às realidades locais e uma certa variabilidade, na sua estrutura, permitindo a sua "redescoberta" e "readaptação" por diversas comunidades, afastadas no Tempo e Espaço, tal como acontece com a constatação da existência de monumentos sub-megalíticos (JORGE V., 1986), de tradição megalítica (SILVA F., 1993 e 1994) ou de estruturas funerárias sob tumuli (CRUZ, 1995).

Este conjunto de prescrições rituais e práticas funerárias, ultrapassaria largamente a simples expres-são arquitectónica, consubstanciando-se sim num conjunto de práticas de aproximação ao mundo dos mortos, com prescrições, ritos e comportamentos, que se interrelacionam (cf. GONÇALVES, 1992:57; VENTURA, 1994b; SENNA-MARTINEZ, 1998). Por seu lado, a organização do Espaço dos Mortos seria efectuada em função do Espaço dos Vivos, ainda que de uma forma idealizada ou purificada (cf. HODDER, 1984; CRIADO BROADO, 1995; SENNA-MARTINEZ, LÓPEZ PLAZA & HOSKIN, 1997; VENTURA, 1998a).

De um modo geral, as estruturas funerárias presentes na Bacia do Médio e Alto Mondego, enquadráveis no IV milénio cal AC, caracterizam-se mais pela sua aparente uniformidade, dentro de uma certa variabilidade, em oposição ao que foi já detectado em zonas mais a norte. Assim, apesar de um certo polimorfismo formal (VENTURA 1993 e 1994b), este não atinge a variedade conhecida para outras regiões, nomeadamente do Centro-Norte Litoral e do Noroeste (JORGE V., 1983, 1986 e 1995; SILVA F., 1989, 1993 e 1994, CRUZ, 1988, 1992 e 1995) ou mesmo das zonas da bacia hidrográfica do Távora (CRUZ, 1995; GOMES L., 1996) ou mesmo de

Trás-os-Montes e Alto Douro (GONÇALVES & CRUZ, 1994), sendo até ao momento desconhecidas quaisquer estruturas de "tradição megalítica" ou "Sub-Megalíticas" (SILVA F., 1993:115-116). As es-truturas tumulares, até ao momento detectadas na região encerram, com raras excepções1 câmaras funerárias, providas ou não de corredor.

2. A EVOLUÇÃO DAS ESTRUTURAS, ESPÓLIOS E SIMBOLOGIAS NA PLATAFORMA DO MONDEGO

O processo de ocupação do espaço, na Plataforma do Mondego, durante o Neolítico antigo ou de tradi-ção antiga, que preconizamos ter ocorrido nos finais do VI e durante todo o V milénio cal AC, parece ter ocorrido num período de tempo relativamente curto, o que parece ser substanciado, com o arranque, possivelmente, nos finais do V e/ou inícios do IV milénio cal AC, do fenómeno megalítico (cf. VALERA, 1998; VENTURA, 1998:155-164).

No entanto, este momento de arranque do megalitismo regional, que associamos ao Neolítico médio pleno regional, só é conhecido pelos conjuntos funerários, o que à partida parece limitar o conhecimento das organizações da produção artefactual, devido em grande parte à selectividade quer dos utensílios, quer das matérias-primas, dos materiais presentes nestes contextos, indiciando um idealizar simbólico das comunidades que por ele são responsáveis. Estes conjuntos seriam, ainda assim, muito similares na sua organização, aos conjuntos do quotidiano, tendo em conta as produções líticas, com uma predominância, no seu inicio, dos suportes la-melares em bruto ou transformados em geométricos (sobretudo triângulos e crescentes), evoluindo posteriormente para a utilização de produtos laminares que se vão associar já aos conjuntos de geométricos trapézios e eventualmente às primeiras pontas de seta, identificadas localmente em conjuntos presentes na Orca de Santo Tisco, Carregal do Sal (SENNA-MARTINEZ & VENTURA, 1994; VENTURA, 1998a) ou regionalmente na Lapa de Tourais, Seia (SENNA-MARTINEZ, 1989a). A ausência de cerâmica, teria mais a ver com as realidades das prescrições simbólico-rituais, do que com outras razões.

No entanto, a relativa abundância do sílex como matéria-prima, em clara contradição com a realidade geológica regional, não traduz em si um desafogo no abastecimento em sílex por parte das comunidades que depositaram estes espólios nos monumentos megalíticos, mas indicará, antes pelo contrário, toda uma série de concepções e, por que não, prescrições simbólico-rituais especificas destas comunidades.

1 Até ao momento apenas foram identificados duas pequenas mamoas, que pela tipologia, parecem enquadrar-se em estruturas sem câmara megalítica, afins dos monumentos "Tipo Fonte da Malga" (KALB & HÖCK, 1979), para além da Orca do Valongo, Carregal do Sal, onde numa mamoa clássica - pelo menos regionalmente - a área funerária corresponderia a uma fossa no centro da mesma, coberta por Lages (HENRIQUES & BARROSO, inf. pessoal).

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Um contexto funerário apresenta as suas próprias especificidades, podendo ser considerado um reflexo do Mundo dos Vivos (ARIÈS, 1988; HODDER, 1984), mas no sentido de uma "Idealização" do mesmo. O sílex, como matéria-prima, seria assim considerado, um valor acrescido, quando comparado com as matérias-primas locais, não tanto pela sua escassez e/ou origem externa ao espaço da Bacia do Médio Mondego, mas fun damen talmente nas suas "Qualidades" em função do talhe, permitindo utensílios de qualidade superior, o que os colocariam preferencialmente no grupo de peças a adquirirem um "carácter votivo". Assim, não surgiriam como exclusivas dos monumentos megalíticos, mas seriam em especial essas a utilizar em contextos funerários.

No entanto, há que ter cuidado, na separação do que, eventualmente, é estritamente votivo, do que assume carácter utilitário, tarefa que se afigura complicada, uma vez que não há hipótese de diferenciar num espólio entre o equipamento quotidiano do morto e o correspondente a uma oferta da comunidade como forma de homenagem, visto que ambos fazem parte de uma mesma realidade ritual, por via do assumir de um carácter votivo e simbólico, por ambos tipos de artefactos, pela própria acção da deposição neste tipo de contextos.

Só no Neolítico final regional, na 2ª metade do IV e inícios do III milénio cal AC, com o conhecimento das primeiras áreas habitacionais - como seja o caso do Ameal-VI - se podem caracterizar os contextos do-mésticos dos utilizadores de parte dos monumentos megalíticos. Estes apresentam-se maioritariamente sem condições naturais de defesa e/ou controle da paisagem, pouca densidade de ocupação, indicando situações de ocupação sazonal, preferencialmente no outono/inverno, surgindo ainda como ocupações especializadas na recolecção (SENNA-MARTINEZ, 1994 e 1995).

Parece ser nos inícios deste momento, que se irá assistir a um aparente momento de ruptura, passível de se localizar cronologicamente em meados do IV milénio cal AC, com alterações ao nível da indústria lítica, à semelhança do que também parece ocorrer em contextos similares do Maciço Calcário Estre-menho e no Sudoeste Alentejano (CARVALHO, 1998a e 1998b), com o relativo aumentar da importância de produtos e utensílios sobre lâmina, em contraponto ao domínio anterior dos produtos lamelares ou micro-laminares (VENTURA, 1998a e no prelo). Esta realidade, é também visível no Planalto Mirandês, no Abrigo do Buraco da Pala, em especial na transição do nível IV para o nível III (SANCHES, 1997) embora

aí predominem as lascas. Parece ainda ocorrer neste período, nos diversos arqueosítios estudados em que tal é passível de observação, uma certa intensificação na utilização de produtos vegetais, que se tornam a base económica das referidas comunidades, consubstanciada na produção lítica com o aumento das frequências de certos tipos de utensílios como lâminas retocadas, "foices", elementos de moagem, instrumentos de pedra polida e particularmente com a intensificação da produção cerâmica.

Também neste momento crono-cultural, se assiste na Plataforma do Mondego, a uma intensificação na circulação de produtos líticos em sílex, agora normalizados, usualmente grandes lâminas de sílex de "fase plena de debitagem", utilizando a técnica da pressão (SENNA-MARTINEZ, 1989a:496; ZILHÃO, 1994; VALERA, 1997; CARVALHO, 1998a). Considerando a origem exógena da maioria destes produtos2, teremos que conceber a hipótese de contrapartidas, para a qual, poderemos, eventualmente, considerar a "exportação" de anfibolite, quer em bruto ou já conformada (cf. SENNA-MARTINEZ, 1994; VALERA, 1997:133). Esta intensificação irá aumentar com o III milénio cal AC, com a inserção de outras áreas e, eventualmente, com outros artefactos a entrar no sistema de circulação.

Tendo em consideração que, a organização do Espaço dos Mortos faz-se naturalmente em função do Espaço dos Vivos (cf. JORGE V., 1986, 1989; GONÇALVES, 1992; CRIADO BROADO, 1993; VENTURA, 1994b e 1998a; SENNA-MARTINEZ, 1998) é natural que a um povoamento aparentemente dispersos e temporário dos primeiros habitantes da Plataforma do Mondego, corresponderá a aparente dispersão dos primeiros monumentos, cujas dimensões podem variar entre o pequeno monumento e o de médias dimensões, localizáveis em áreas de profunda visibilidade para estas mesmas comunidades (CRIADO BROADO, 1993, 1995; VENTURA, 1993, 1994b e 1998a), apresentando, uma situação de utilização de curta duração3, correspondente à própria realidade do quotidiano.

Assim, a dimensão dos monumentos terá mais a ver com a(s) comunidade(s) que serve, do que terá a ver com a sua possível antiguidade. Numa primeira etapa, parece-se assistir a uma certa individualização da deposição dos mortos, situação já inferida pelo casal Leisner, para o caso dos monumentos mais antigos de Reguengos de Monsaraz (LEISNER & LEISNER, 1951), igualmente detectada no caso da Orca 2 do Ameal, com duas áreas de deposição de materiais e eventualmente uma terceira, sem dúvida

2 Tendo em conta a suas dimensões e a dificuldade de obtenção de nódulos, para este tipo de debitagem na região (cf. VALERA, 1997).3 Quando nos referimos a uma curta duração, referimo-nos a monumentos que foram encerrados imediatamente após a sua construção ou então, sendo as deposições realizadas ainda durante a construção do monumento, como no caso do monumento 1 da Pena Mosqueira, Mogadouro, onde o monumento foi construído sobre o inumado (SANCHES, 1997) ou então no caso da Orca 2 do Ameal, onde as deposições na câmara megalítica, se efectuaram num momento anterior ao finalizar da construção do mesmo, o que se realizou imediatamente após estas deposições (cf. VENTURA, 1998a).

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correspondentes a zonas de deposição de outros tantos corpos, após o que o monumento teria sido completado e encerrado (cf. VENTURA, 1998a:46-51).

Com a evolução destas comunidades para uma situação de maior controle do território, sucede-se-lhe uma malha mais apertada de áreas habitacionais e dos respectivos monumentos megalíticos (cf. JORGE V., 1989; GONÇALVES, 1992). Assim, a sua localização e função na paisagem, logo desde o inicio, seria de-terminada por critérios e prescrições rituais, que evoluíram conforme o Espaço e o Tempo.

Assim, se os primeiros monumentos, ou da 1ª Fase como a identificámos, parecem traduzir a mobilidade de um grupo de economia itinerante, onde a componente de produção poderia não ser o principal elemento de subsistência, os respectivos artefactos depositados, corresponderiam, não só à fase de alargamento do território, eventualmente através da caça ou desbravamento, mas fundamentalmente reflectiriam a construção de uma Simbologia da Morte, marcada pela construção de estruturas permanentes, associadas a "símbolos na paisagem" visíveis, eles mesmos, marcando antes de mais a fixação, com um carácter mais definitivo ao solo e território (cf. CRIADO BROADO, 1993 e 1995).

Desta forma, esta 1ª Fase, corresponderia aos inícios da estabilização das comunidades do Neolítico médio, após a sua deslocação para novos territórios. Este processo, no Núcleo dos Fias/Ameal, por exemplo, iniciar-se-ía nos inícios do IV milénio cal AC, sendo então construídos monumentos, que apesar das diferenças arquitectónicas, resultado da personalidade própria e das distinções da realidades regionais, parecem incluir concepções supra-regio-nais, acerca do que construir e como o construir. Estes monumentos, incluem espólios, ou melhor, deposições rituais de certos tipos de objectos, que seriam sobrevalorizados em relação ao conjunto artefactual das comunidades responsáveis pela sua deposição, obedecendo também a determinadas prescrições. Estes espólios estariam presentes, nos diversos monumentos que se integrariam nesta 1ª Fase, como sejam a Orca de Pramelas, Canas de Senhorim (SENNA-MARTINEZ & VALERA, 1989; SENNA-MARTINEZ, 1989a) para além da Orca 1 e 2 do Ameal, Carregal do Sal (VENTURA 1994a, 1998a).

Posteriormente a este momento de arranque, a crer nos dados disponíveis, ocorreriam paulatinas alterações nos conjuntos funerários, tendo em conta a informação disponibilizada pela escavação da Orca de Santo Tisco, Carregal do Sal (SENNA-MARTINEZ & VENTURA, 1994) e da Lapa de Tourais, Seia (SENNA-MARTINEZ, 1989a), alterações estas, decorrentes, em grande medida, da evolução

tecnológica, patente, por exemplo no talhe do sílex, já que os grupos humanos responsáveis pelos depósitos nestes monumentos possuiriam uma indústria lítica de pedra lascada, dominada por utensílios sobre produtos laminares, e os espólios, apesar de seleccionados, parecem indiciar a adição aos elementos presentes anteriormente, de um novo tipo de artefacto, as pontas de seta.

Sem querer sobrevalorizar este item, consideramos sintomático, que em determinados momentos ele se encontre totalmente ausente do registo arqueológico, vindo depois a surgir numa percentagem elevada nos conjuntos artefactuais recuperados. Este momento, não surge desligada do anterior, não existindo por isso um corte, ainda que até ao presente, as realidades aqui descritas, ainda não tenham sido comprovadas, na vertical, num único monumento, tudo parece indiciar constituírem momentos de uma única fase, sendo a seguinte o re-sultado da evolução lógica da anterior, daí a nossa designação de momento b da 1ª Fase, indicando um processo de continuidade.

Se a 1ª Fase, nos seus dois momentos, corresponderia ao processo de estabilização, este estaria já concretizado, no Neolítico final regional, como poderíamos entrever com a construção dos monumentos de corredor longo, que seriam assim testemunhas mudas de um aumento demográfico e, consequentemente, de uma intensificação produtiva, para suportar este crescimento populacional.

Este crescimento seria desigual em algumas destas comunidades, correspondendo à complexização desigual dos diversos monumentos. Assim, a generalização desigual dos monumentos de corredor4, corresponderia não só à colectivização da morte, mas também traduziria o aumento demográfico, a assunção colectiva do território e dos laços de parentesco e até certo ponto uma certa solidariedade social estabilizada no Tempo e na pedra (cf. JORGE V., 1989; BRADLEY, 1990; GONÇALVES, 1992; CRIADO BROADO, 1993 e 1995; VENTURA, 1998a).

Este momento, do megalitismo regional - 2ª Fase - parece estar associado, não só com o abandono da filosofia presente nas estruturas sepulcrais anteriores, mas fundamentalmente com o início da construção de grandes monumentos, em termos de mão-de-obra/tempo despendido. Estes últimos, surgiriam isolados do restante conjunto e destacados na paisagem, como no caso da Orca dos Fiais da Telha, da Orca 1 de Oliveira do Conde ou então da Orca do Outeiro do Rato, usando só os elementos dos núcleos megalíticos da área de Carregal do Sal/Nelas. Enquanto os monumentos da 1ª Fase seriam

4 Assim seria perfeitamente aceitável, que monumentos de arquitectura evoluída fossem contemporâneos de monumentos simples, se encararmos a situação no global. No entanto como a evolução é polissémica, a realidade que é o Megalitismo deverá antes de mais ser entendida ao nível das diversas necrópoles e núcleos, para depois de poder construir o quadro completo, devido em grande medida à evolução desigual das comunidades.

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construídos para se "esbaterem" na paisagem, os da 2ª Fase foram construídos para, antes de mais, serem vistos.

Parece, assim, verificar-se a tendência para uma evolução das arquitecturas no sentido do simples para o complexo ou melhor do Invisível para o Visível (CRIADO BROADO, 1993 e 1995). O tumulus passa a assumir funções diversificadas com a sua complexização, através da construção de áreas de múltipla funcionalidade na área frontal, cujos protótipos podem ser já descirníveis em alguns monumentos da primeira etapa, como seja o caso da Orca do Folhadal (SENNA-MARTINEZ & VENTURA, no prelo), posteriormente aplicada a monumentos de fase plena, como nas Orcas dos Fiais da Telha e do Outeiro do Rato5 (SENNA-MARTINEZ, 1989a; SENNA-MARTINEZ & VENTURA, 1994; SENNA-MARTINEZ & AMARO, 1987; VENTURA, 1998a).

Ao mesmo tempo assinala-se a introdução de elementos, quer em termos das matérias-primas, quer em termos de tecnologia, afins das produções conhecidas para os povoados integráveis, em termos crono-culturais, na mesma realidade (SENNA-MARTINEZ, 1989a, 1994, 1998). Nesta mesma Fase assistimos à restruturação de toda uma "Paisagem Cultural/Cosmogónica", com a criação de elementos de "visibilidade acentuada" (CRIADO BROADO, 1995; VENTURA, 1998a), que definitivamente organizam o espaço, qualquer que seja o entendimento que dele possa existir, em torno destas estruturas, que se assumem assim como "manifestações simbólicas de largo espectro de aceitação".

3. ENQUADRAMENTO DAS SOCIEDADES DO NEOLÍTICO FINAL

Para diversos autores, dos quais destacamos VICENT GARCÍA (1995), as comunidades pré-calcolíticas, ou seja, as do Neolítico final, da Península Ibérica seriam, na generalidade, integráveis naquilo que é classificado como uma estrutura de "política económica primitiva", caracterizada por um "modo de produção" e de apropriação colectivo (mas não necessariamente igualitário). Assim, a estrutura sócio-económica baseada em bandos seria substituída por uma outra que permitiria, a longo prazo o desenvolvimento de uma estrutura baseada no sistema de linhagens6 (cf. JORGE V., 1989; VINCENT GARCIA, 1995:178). Assim, tudo parece indicar, que nestas

comunidades do Neolítico final, vão surgir e desenvolver-se formas incipientes de desigualdade, competição (entre grupos e indivíduos) e de uma certa coerção social (VICENT GARCIA, 1988; CRIADO BROADO, 1993) estaríamos assim perante uma situação de redefinição dos sistemas de coesão social e paralelamente das formas de apreensão das estruturas simbólico-rituais, nas quais as atitudes perante a morte se inserem por excelência.

Com o desenvolvimento destas sociedades, através da implementação de uma actividade produtora permanente o que implicaria um maior controlo da natureza, em todas as formas, desenvolvem-se outras formas de apropriação dos aspectos simbólicos e rituais. Esta acção deixa de ser passiva, para passar a ser uma atitude activa na inter-relação dos vivos com os mortos, que passam a ser "testemunhas" dos processos competitivos desenvolvidos por estes grupos.

Esta mesma realidade foi defendida por outros autores, para a necessidade de expansão para novas áreas das comunidades do Neolítico antigo ou de tradição antiga, visto identificarem nesta expansão, não só factores de um certo aumento demográfico, mas também uma certa tensão social, cada vez mais acentuada dentro e entre os grupos neolíticos, o que, eventualmente, se reflectiria, no fenómeno megalítico desde o seu arranque (cf. DÍAZ-ANDREU, 1995:99). No entanto, não negando uma possível anterioridade desta tensão, consideramos, que ela só se encontra presente no registo arqueológico, a partir do momento em que são construídos os grandes monumentos megalíticos.

Os mortos seriam relacionadas, eventualmente, já desde as comunidades do Neolítico médio regional, com figurações de "entidades protectoras" ou mesmo, transcendentalmente, os defuntos seriam investidos de um estatuto e poderes divinos (GONÇALVES & CRUZ, 1994:211 e 233). Isto implicaria, para alguns autores, que nas comunidades do IV milénio cal AC, nos monumentos funerários só seriam, eventualmente, depositados alguns elementos da comunidade, elementos mais velhos de certas linhagens detentoras de um "saber", em especial, do sagrado/simbólico/mitológico (cf. JORGE V., 1989). Estando assim reservado esse privilégio a um número restrito de elementos, que partilhariam algo em comum, o que implicaria que os túmulos megalíticos, seriam minoritários e excepcionais.7

5 Relembremos que no caso da Orca dos Fiais da Telha foi detectado um pequeno corredor "intratumular" ao qual estaria, eventualmente associado uma "estrutura de condenação" com deposições rituais de cerâmica sobre a mesma estrutura. Existe a eventualidade de existência de um "átrio" na zona fronteira do monumento, mas a construção de um caminho florestal nessa área não permitiu a correcta interpretação desta realidade. No caso da Orca do Outeiro do Rato, para além de uma área de acesso por, também, pequeno "corredor intratumular", foi detectada uma "estrutura de condenação" frontal, eventualmente associada a um "átrio".6 Que, eventualmente, só atingiria o máximo desenvolvimento, na área em estudo, em momentos já atribuíveis ao Bronze antigo regional (SENNA-MARTINEZ, 1994 e 1995).7 Apesar de atraente, esta proposta, não pode ser totalmente consubstanciada, enquanto não forem encontradas as estruturas funerárias alternativas, quer elas sejam em fossa, como parece ocorrer em momentos mais tardios na Meseta Norte (cf. FABIÁN GARCIA, 1995), quer sejam abrigos diversos.

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Quadro 1: Volumes das Massas TumularesMonumento Vol (m3) h/Trab.

Orca 1 do Ameal (VENTURA, 1998a) 84 280

Orca 2 do Ameal (VENTURA, 1998a) 74 166

Orca 2 de Oliveira do Conde (VENTURA, 1998a) 86 286

Orca do Folhadal (SENNA-MARTINEZ & VENTURA, no prelo) 61 203

Orca de Pramelas (SENNA-MARTINEZ, 1989a) 62 206Orca de Santo Tisco (SENNA-MARTINEZ & VENTURA, 1994) 60 200

Orca do Valongo (HENRIQUES & BARROSO, 1994) 199 663

Orca dos Fiais da Telha (SENNA-MARTINEZ, 1989a) 322 1072

Monumentalidade e Visibilidade nos Sepulcros Megalíticos da Plataforma do Mondego

A zona de implantação destes monumentos seria significativa para o grupo humano, sendo identificada através de "marcos" naturais, que delimitariam zonas tradicionais de movimentação do grupo, organizando, não só fisicamente o seu quotidiano prático, como o simbólico (JORGE V., 1986 e 1989; VENTURA, 1993, 1994b e 1998a). Constituiriam assim marcas simbólicas, apropriadoras do espaço e dos seus recursos, à sombra das quais seriam erigidos os diversos monumentos funerários, manifestação física do "culto dos antepassados".

Assim, como já referimos, um pouco por toda a Plataforma do Mondego, a 2ª metade do IV milénio cal AC é caracterizada pela construção e utilização de grandes monumentos de planta evolucionada, ainda que, eventualmente, se continuem a construir e utilizar pequenos monumentos. Os grandes monumentos, dentro de cada necrópole, são raros surgindo normalmente isolados do restante conjunto e destacados na paisagem, o que provocaria a criação de "espaços cénicos" ou melhor de uma "Paisagem Monumental" (JORGE V., 1989a; CRUZ, 1988, 1993; CRIADO, 1995; VENTURA, 1998a), quer através da própria localização do monumento em espaços visíveis8, quer através da criação de zonas especiais na parte frontal dos monumentos, que limitando em parte o acesso, permitiria uma globalização e visualização directa de parte dos rituais aí praticados, tornando-os, eventualmente, acessíveis a uma assistência mais numerosa, do que seria possível com os pequenos monumentos da fase anterior.

Estes "espaços cénicos" também entendíveis como representacionais, fariam destes tipo de monu-mentos templos no sentido pleno do termo, com espaços fechados (câmara e corredor), de exclusividade, e espaços abertos (átrios), para um público alargado, mas, eventualmente, socialmente seleccionado (GONÇALVES & CRUZ, 1994; VENTURA, 1998a). Este assistiria aos rituais que não só estabeleceriam a relação sagrada com os antepassados e/ou entidades tutelares do grupo, através da imitação dos seus actos, mas também promoveriam a reprodução do "mágico-religioso" e a santificação do seu "mundo".

É particularmente atraente poder conceber estes "espaços cénicos", como o centro de toda a actividade

de coesão social, que estes sítios parecem implicar, visto que será através da visualização ou mesmo reprodução de todo o aparelho simbólico por parte dos participantes, que a função de aglutinação social destes sítios atinge a plenitude (MOHEN, 1995). Assim, o fulcro ritual, parece transitar em parte, do interior para o exterior, de uma área restrita para um espaço global, assistindo-se à sua visualização, per-ceptível através de deposições de ofertas em zonas fronteiras do monumento, como por exemplo, no caso do Monumento dos Moinhos de Vento (Arganil), Dólmen de S. Pedro Dias (Vila Nova de Poiares), Orca dos Fiais da Telha e do Outeiro do Rato (Nelas) (cf. SENNA-MARTINEZ, 1989a), para já não referir os recentes casos dos monumentos de Antelas (Oliveira de Frades), do Picoto do Vasco e dos Castenairos (Vila Nova de Paiva) (CRUZ, 1998).

Ora, esta situação de deposições visualizadas pa-rece-nos indiciar, antes de mais, a tentativa de resolu-ção de conflitos potencialmente mais frequentes, nos quais o ritual funerário passaria a reflectir, não só uma realidade simbólica mais também "social", atra-vés de mecanismos de regulação social presentes na atribuição de ofertas aos mortos.

Em primeiro lugar há a considerar, que os monu-mentos de grandes dimensões, de planta evoluída, com corredores médios ou alongados, implicam à partida um maior investimento, de força de trabalho, que os pequenos monumentos, da 1ª Fase, que pare-cem estar associados a pequenos grupos humanos, onde todos os elementos se encontram ligados entre si por laços familiares directos.

Assim, como é possível verificar no Quadro 1, que se segue, que tendo em conta somente a volume-tria dos monumentos, com a estrutura tumular inclu-ída, que um grande monumento, como a Orca dos Fi-ais da Telha, corresponde a pelo menos quatro mo-numentos do tipo da Orca 1 do Ameal. Se a esta in-formação for adicionada, o número de horas de tra-balho mínimas necessárias, para a recolha dos diver-sos elementos construtivos, a extracção dos ortóstatos e por fim a construção do próprio monumento, verifi-ca-se claramente uma grande desproporção entre os pequenos monumentos e os de grandes dimensões.

8 É aqui importante não só determinar a visibilidade do monumento, ou mais concretamente de onde o arqueosítio é visível, mas também o que seria visível do mesmo.

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No entanto, é necessário não esquecer que estes valores apenas indicam as necessidades de horas de trabalho, para a construção da estrutura tumular, o que poderá ser feito, na quase totalidade dos monu-mentos por um pequeno grupo de adultos, diferenci-ando-se apenas o tempo gasto entre os pequenos mo-numentos e os grandes, que normalmente apresentam não só uma maior volumetria como estruturas pétreas de maiores dimensões. Assim, realizámos uma se-gunda abordagem (cf. Quadro 2) a qual consistiu no cálculo da massa (ton.) dos maiores ortóstatos pre-sentes nas estruturas megalíticas e no número mínimo de indivíduos necessários para a sua "manipulação", utilizando diversas técnicas, nomeadamente a da Ele-vação, Arrasto simples e Arrasto utilizando troncos como roletes (cf. VÁZQUEZ VARELA, 1991/92; GONZÁLEZ LÓPEZ & TEIJEIRO LÓPEZ, 1998).

Se este processo permite no caso dos grandes mo-numentos, normalmente bem conservados, estabele-cer sem grandes distorções, as necessidades de mão-de-obra para a sua construção, no caso dos pequenos monumentos, aos quais faltam normalmente as tam-pas de cobertura, esta informação apenas serve de in-dicativo para os valores mínimos de indivíduos en-volvidos na sua construção. Naturalmente, que não nos parece no actual estado dos nossos conhecimen-tos, correcto privilegiar os valores de um método em relação a outro, situando-se a realidade possivelmente numa média dos valores do conjunto dos métodos. Mesmo assim, constata-se que os pequenos monu-mentos que parecem caracterizar a 1ª Fase do Mega-litismo da Plataforma do Mondego continuam a des-tacar-se pelo pequeno número de elementos necessá-rios, possibilitando a sua construção por pequenas comunidades.

Por outro lado, os grandes monumentos, parecem envolver um maior número de indivíduos, particu-larmente pela inclusão nas estruturas tumulares de elementos líticos pesando diversas toneladas, o que parece permitir o reconhecimento que o investimento

de mão-de-obra e energético necessário à sua cons-trução deveria ultrapassar em larga medida o número de possíveis tumulados 9, existindo assim uma clara desproporção entre o número de construtores e indi-víduos depositados.

Se estes monumentos de planta mais complexa e maiores dimensões implicam uma maior força de tra-balho, isto deve-se possivelmente a dois factores, por um lado o aumento de dimensão do grupo, possibili-tado por uma certa expansão da economia produtora (cf. VICENT GARCÍA, 1988 e 1995), mas fundamen-talmente por uma alteração da conceptualização da Morte, que deixa de ser vista como individualizável e restrita ao espaço familiar, para se assumir como um fenómeno colectivo, daí a necessidade de aumentar o âmbito funerário. Estas mesmas construções vão não só exigir um maior esforço físico, como em si, pare-cem indiciar o surgimento e desenvolvimento de uma hierarquia, que mesmo que seja temporária, permite a conceptualização arquitectónica e a organização do trabalho, necessário à sua construção. Se aceitarmos estes monumentos da 2ª Fase, como elementos Mo-numentalizadores da Paisagem e Apropriadores de um determinado território (CRIADO BROADO, 1993; VENTURA, 1994b e 1998a), encontraremos aqui as formas de justificação da coesão da(s) comunidade(s) que os vão erigir.

9 Ainda que no único caso em que é possível determinar com alguma segurança o número de deposições conhecidas, no presente Núcleo - a Orca 2 do Ameal - esta constatação também possa ser inferida, a desproporção cresce dramaticamente nos grandes monumentos paradigmáticos do apogeu do Megalitismo Regional, como por exemplo nas Orcas dos Fiais da Telha, da Cunha Baixa (Mangualde) e Juncais (Vila Nova de Paiva), para apenas nomear algumas. Apesar de nestes monumentos não se conhecer o número total de eventuais tumulados, durante a "utilização" do mesmo, algumas ilações poderão ser retiradas pelos espólios depositados, que indicam um número relativo de elementos aí depositados, de forma a permitir a alguns investigadores, como por exemplo Domingos Cruz a afirmação que estes tipos de monumentos teriam uma utilização limitada no Tempo e nos Indivíduos depositados (CRUZ, 1995; 1998).

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Quadro 2: Cálculo de Volume dos Ortóstatos e Nº Mínimo de Indivíduos utilizadosMonumento Massa (ton) Elevação Arrasto Arrasto com roletes

Orca 1 do Ameal (Esteio de Cabeceira) 1,1 20 18 7

Orca 2 do Ameal (Esteio da Câmara) 1 18 16 6

Orca do Folhadal (Esteio de Cabeceira) 1,7 30 27 10

Orca do Folhadal (Tampa do Corredor) 1,3 23 21 8Orca de Pramelas (Esteio de Cabeceira) 1,4 24 22 8Orca de Santo Tisco (Esteio da Câmara) 1,6 28 26 10

Orca 1 do Carapito (Esteio de Cabeceira) 5,1 89 81 30

Orca dos Fiais da Telha (Esteio de Cabeceira) 5,2 91 83 31

Orca dos Fiais da Telha (Tampa da Câmara) 13,8 245 223 83

Orca da Cunha Baixa (Esteio de Cabeceira) 4,9 86 78 29

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Monumentalidade e Visibilidade nos Sepulcros Megalíticos da Plataforma do Mondego

Desta forma, estes monumentos, como um todo, configuram-se para além de estruturas fundamentais na organização do Espaço dos Vivos, assumindo-se agora, muitas vezes, como "lugares centrais" (cf. JORGE V., 1989a e 1989b), ou seja verdadeiros Axis Mundi da sociedade, que parecem estar ligados ao desenvolvimento de mecanismos de visualização de uma competitividade entre elementos ou famílias do mesmo grupo que, longe de indicarem profundas alterações sociais, indicam sim o desenvolvimento de formas primitivas de diferenciação, senão pessoal, pelo menos ao nível familiar ou de clãs.

Mas para que a função destes monumentos como "elementos de coesão social" possa ser aferida é ne-cessário que as cerimónias/actividades aí realizadas, possam em parte ser visualizadas, para tal são necessários espaços concretos, "arenas privilegiadas", que estes grandes monumentos, desde a sua origem, senão na sua formulação, parecem constituir. O monumento assume-se assim como um "espaço cénico", na maioria das vezes salientado pela construção de áreas complexas, como "átrios", corredores alongados, corredores "intratumulares", etc.10, onde a comunidade poderia participar, assistir e aferir11, desta mesma competição, consubstanciada pelas ofertas aos mortos e/ou entidades tutelares do grupo, muitas vezes em áreas, não consideradas anteriormente, enquanto que apenas um pequeno grupo de indivíduos, seleccionado por natureza, teria acesso ao espaço restrito, limitado fisicamente e que implica, nem que seja de uma forma ritual um processo de "passagem física" para o seu interior pelos "iniciados".

Estas "passagens", configuram-se sob diversas formas, podendo ser constituídas por um pequeno anel lítico na periferia do tumulus, como no caso das Orcas de Antelas (Oliveira de Frades) e dos Castenairos (Vila Nova de Paiva) (CRUZ, 1998); pequenas estruturas frontais tipo "átrio" em rampa, como no monumento de S. Pedro Dias (Vila Nova de Poiares) e eventualmente na Orca do Outeiro do Rato (Nelas) (SENNA-MARTINEZ, 1989a) ou então pura e simplesmente por um "átrio" ligado a um "corredor intratumular", como parece ser o caso da Orca dos

10 Situação que só se encontra patente nos monumentos evoluídos, como sejam a Orca dos Fiais da Telha, com um eventual "átrio" frontal, na Orca do Outeiro do Rato, com um "estrutura de condenação" sobrepondo-se a um "átrio". No caso dos monumentos dos Moinhos de Vento, Arganil e de S. Pedro Dias, Vila Nova de Poiares a construção de um empedrado ou "átrio" frontal (SENNA-MARTINEZ, 1989a), situação também detectada, em outros conjuntos megalíticos da Beira Alta, como sejam o recente caso da Lameira de Cima, Penedono (GOMES L., 1996)11 Visto que na esmagadora maioria dos monumentos da 1ª Fase, detectados nos núcleos megalíticos de Carregal do Sal/Nelas, todas estas operações eram relativamente restritas ao conjuntos de indivíduos que realizaria o ritual funerário, sendo restrito senão mesmo selectivo o acesso a estes rituais (cf. VENTURA, 1998a) mas que em qualquer dos casos deveria envolver uma grande parte da comunidade ou estrutura familiar afectada.

Fiais da Telha, Monumento dos Moinhos de Vento (Arganil) e Dólmen 1 e 2 da Lameira de Cima (Penedono) (SENNA-MARTINEZ, 1989a; GOMES L., 1996). Por fim, o acesso torna-se ainda mais limitado, não só comunitariamente como fisicamente, através de corredores longos, estreitos e baixos, que impõem uma ideia de respeito e veneração perante os antepassados e as "entidades tutelares". Estas estruturas de acesso, alargam-se dramaticamente ao chegar à Câmara, muitas vezes precedida de uma pequena antecâmara - caso das Orcas dos Fiais da Te-lha, da Cunha Baixa (Mangualde) e dos Juncais (Vila Nova de Paiva).

As ofertas aos mortos e por conseguinte às entidades divinas e/ou divinizadas, permitiriam assim fomentar um método satisfatório de criação/consolidação de prestígio e da própria unidade do grupo, desde que estas ofertas pudessem ser visualizadas e avaliadas pela comunidade, daí a necessidade de novos espaços visuais, pre-ferencialmente nas zonas frontais. Por outro lado, não existiria o problema da contra-oferta, já que estas ofertas surgiriam com um duplo sentido: oferendas a entidades de valor místico/simbólico e ofertas às entidades vivas. Cria-se assim, eventualmente, uma arena privilegiada de "consumo competitivo" em que todas as ofertas são retiradas de circulação, o que impossibilita que outros os usem em outras actividades de oferta, permitindo um contínuo processo de acumulação de prestígio por parte dos ofertantes.

Esta concepção não implica que as ofertas aos mortos, enquanto entidades de uma determinada sociedade, reflictam a sua posição social, mas antes pelo contrário apenas são indicativos que as actividades associadas às acções funerárias sirvam de processo de coesão ou mesmo redefinição do papel social dos ofertantes em períodos de instabilidade. A oferta é feita à entidade colectiva, que tutela os mortos, entidade esta que é a própria memória colectiva e/ou o passado cognoscível do grupo. Esta posição reflecte-se também no próprio processo funerário, já que a sua complexização permite aos vivos destacarem as suas próprias exigências em termos de posição social. A competição encontra-se presente sempre que elementos de grupos com menor acesso a bens tentam imitar as práticas de elementos que são mais "abonados" (BRADLEY, 1990:39), situação que irá implicar a reconstrução do sistema de prescrições simbólico-rituais, aplicado no cerimonial funerário.

Tudo isto implica que no inicio deste processo só seriam utilizados objectos que pela suas característi-cas se assumiam como únicos e significantes para o grupo, assumindo a partir de determinado momento como votivos, quer pelo seu acabamento, matéria-prima ou uma série de outros factores, ou seja, assistir-se-ía a uma continuidade entre os espólios

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desta Fase com os da anterior. Com a expansão deste fenómeno e a contínua retirada de circulação de produtos de qualidade, seria necessário para a persecução do sistema, devido à relativa escassez destes, a redefinição das prescrições simbólico-rituais, com o surgimento, nos espólios funerários, de elementos de âmbito doméstico, como sejam a cerâmica, e produções em outras matérias-primas, como por exemplo o quartzo.

Aliás esta realidade, presente nos espólios, parece não se circunscrever à Bacia do Médio Mondego, visto que em outras áreas, se assiste também, com o desenvolvimento do megalitismo e o desenvolvimen-to dos monumentos de características avançadas, a uma integração de novos elementos, que até aí não surgiam no registo arqueológico, nomeadamente a deposição de artefactos usados e alguns defeituosos. Isto pode implicar, na óptica de Víctor Gonçalves quando confrontado com esta realidade no «Grupo de Reguengos de Monsaraz» um certo enfraquecimento da prescrição anterior (GONÇALVES, 1992:63-5), ou mesmo, na nossa opinião, na redefinição da mesma devido a certas pressões exteriores ao mundo dos mortos.

Esta heterogeneidade dos espólios, que pelas suas características morfométricas, os aproximam das realidades dos habitats conhecidos, com o surgimento de inúmeras peças inacabadas, defeituosas, de restos de talhe e fundamentalmente com o surgimento da cerâmica, até aqui ausente dos registos arqueológicos dos monumentos megalíticos, parecem permitir inferir que estamos perante um momento de alteração, de redefinição das prescrições, num sentido, que Ian Hodder considera de reprodução simbólica do "Espaço dos Vivos", no "Espaço dos Mortos", ou então, da lenta infiltração do elemento feminino, numa simbologia até aí marcadamente masculina (cf. HODDER, 1984).

Se esta nova realidade arqueológica, parece indicar a redefinição de uma inter-relação entre funerário e doméstico, também pode ser entendido, como o aumentar da presença e da importância dos elementos domésticos, e por consequência do elemento feminino, como organizadores do simbólico e consequentemente do quotidiano e vice-versa, reformulação esta, que atingirá a plenitude com o surgimento e desenvolvimento de estruturas habitacionais permanentes, consubstanciadas, nos primeiros povoados fortificados ou estruturas monu-mentais, atestados para as comunidades calcolíticas, identificadas, quer na Bacia do Alto Mondego (cf. VALERA, 1997), quer para a região a norte do Douro (cf. JORGE S., 1986; SANCHES, 1997), onde o po-voado é que surge então como organizador espacial e simbólico de toda a realidade do grupo humano, tornando-se assim como o elemento preferencial e permanente da Monumentalização da Paisagem.

4. ESPAÇO, PAISAGEM E RITUAL. HIPÓTESES DE UM DISCURSO

Em recentes textos salientámos, a profunda inter-relação entre os monumentos megalíticos e a sua zona de implantação (VENTURA, 1993, 1994b e 1998a), à semelhança do que já tinha sido detectado para outras regiões (cf. JORGE V., 1989; SILVA F., 1993 e 1994). Tivemos então ensejo de destacar, que no caso do Núcleo Fiais/Ameal, aparentemente, todos os monumentos se localizavam, sem excepção, ao longo da linha de festo, sobranceiras ao grande curso fluvial, que é o Mondego, numa posição de domínio em relação a uma das portelas tradicionais, de travessia deste curso de água. Por outro lado a sua relativa proximidade relativamente à elevação da Víbora, cujo valor "simbólico" é "confirmado" durante a Proto-História local, com uma série rochedos insculturados e, cuja tradição se manterá através do imaginário colectivo local.

Por outro lado, também noutras áreas se tem procedido a uma análise da Arqueologia da Paisagem, tendo como elemento fundamental, a Visibilidade do registo arqueológico enquanto um acto consciente da comunidade humana (CRIADO BROADO, 1989, 1993 e 1995; CRIADO BROADO et al., 1991; VAQUERO LASTRES, 1991/92) como estratégias de apropriação e construção de Paisagem que deve ser entendida também como Cultural.

O reconhecimento da existência de diversas formas de Visibilidade ou de Invisibilidade, corresponderia assim, a um processo de simetria inversa, que ao longo do IV e III milénios cal AC, na Península Ibérica, existiriam zonas, ou áreas regionais, onde os monumentos megalíticos assumiriam um papel de maior Visibilidade em oposição aos contextos domésticos, enquanto que a invisibilidade aparente de certos contextos funerários é replicada pela grande visibilidade e aparato dos contextos domésticos. Esta situação antagónica, pode ser interpretada como uma prática social que exige sempre a necessidade de uma certa visibilidade por parte de determinados grupos humanos, quer esta seja funerária ou do quotidiano (HODDER, 1984; JORGE, S, 1986 e 1990; CRIADO BROADO, 1993).

Desta forma, o espaço, ou melhor a Natureza e consequentemente a sua projecção a Paisagem, é conceptualizada ou apropriada, pelos grupos humanos, de uma forma similar à sua própria dinâmica, nos diversos âmbitos da existência dessas comunidades - Físico, Simbólico e Ritual. Estas comunidades tenderiam a efectuar a demarcação simbólica de determinados pontos geográficos, per-feitamente individualizáveis na paisagem, cujo impacto se realiza em todas as esferas de apreensão do natural por estes mesmos grupos humanos. A Paisagem passa a pertencer ao discurso simbólico e

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Monumentalidade e Visibilidade nos Sepulcros Megalíticos da Plataforma do Mondego

como tal, é parte indissociável das realidades da sociedade.

Assim, considerando que o Espaço dos Mortos é uma replicação do Espaço dos Vivos, ainda que de uma forma idealizada, é plausível depreender que o espaço ocupado pelos monumentos funerários, seja simbolicamente significativo em relação às duas realidades em presença - os Vivos e os Mortos. Tendo em conta este factor, é fundamental salientar já a profunda diferença, existente dois tipos de monumentos funerários, presentes no Megalitismo da Plataforma do Mondego:

· Aqueles que uma vez cobertos pelas respectivas estruturas tumulares ficariam invisíveis, pelo que os deveremos considerar como tendo sido construídos com uma única função e utilização, quer implique ou não deposição colectiva. No final são indistinguível da paisagem que os rodeia, sendo o caso das Orcas 1 e 2 do Ameal, da Orca 2 de Oliveira do Conde, todas no concelho de Carregal do Sal (VENTURA, 1998a, 1998c e 1998d), da Orca de Pramelas e até certo ponto da Orca do Folhadal, em Nelas (SENNA-MARTINEZ, 1989a; SENNA-MARTINEZ & VENTURA, no prelo);

· Os Monumentos de planta evoluída, que apesar das estruturas envolventes, se destacam pela sua dimensão ou características intrínsecas (como por exemplo arte parietal) e que surgem indubitavelmente associados a claras estruturas de acesso (corredores desenvolvidos, átrios, etc.) que atingem mesmo os limites exteriores da área tumular, permitindo assim uma forma de reinicialização do processo de deposição, no seu interior (espaços cénicos). Estes podem funcionar com uma dupla função: Sepulcro e santuário. Assumem-se assim como locais simbólicos, passando a constituir símbolos de um discursos de poder.

Alguns autores, nomeadamente Víctor Oliveira Jorge, propõem que esta diferenciação se deva em grande parte, como acontece em algumas áreas europeias, a uma tendência para a evolução das arquitecturas no sentido do simples para o complexo (JORGE V. 1989). No entanto consideramos, que este factor só por si não explica a razão do surgimento de monumentos não só maiores, mais complexos, mas que também surgem destacados na paisagem, pelo que consideramos, que em determinados grupos humanos, em particular na Plataforma do Mondego, esta evolução se fará, fundamentalmente, do Invisível para o Visível podendo, no entanto, coexistir em certos momentos várias soluções arquitectónicas, ainda que não haja a certeza de tal poder ocorrer nos mesmos núcleos. A estrutura megalítica e o tumulus

passam a assumir funções diversificadas com a sua complexização (corredores alongados, átrios, etc.) (VENTURA, 1998a).

Desta forma, podemos inferir, que para as comunidades do Neolítico antigo e/ou médio, a Natureza é entendida numa perspectiva mental/simbólica, como algo que se inter-relaciona com o grupo humano, num sentido que se poderá designar de «naturalização da cultura», ao invés de ser entendida como «domesticação da natureza», como parece ocorrer com as sociedades em momentos posteriores (CRIADO BROADO, 1993:25)

No caso dos primeiros monumentos megalíticos, que na sua implantação buscam não tanto destacar-se na Paisagem, mas antes pelo contrário fundir-se nela constituindo um todo, poderão implicar, enquanto concretização de um discurso simbólico da Paisagem, uma situação em as comunidades apreendem o Espaço como aberto, no qual não existem barreiras sociais físicas, sendo a apropriação do território efectuada pela deambulação dos mesmos grupos humanos, na persecução das suas actividades. Assim o que interessa reter da paisagem, são os marcos físicos naturais visíveis (cf. CRIADO BROADO, 1993 e 1995; VENTURA, 1998a), daí que os espaços fune-rários, enquanto realidades simbólicas, tendem a concretizar-se, não tanto em relação a si mesmos, mas sim em relação a estes mesmos marcos multidimensionais, presentes não só no real/quotidiano, mas também no Simbólico/Ritual. Estaríamos assim perante uma sociedade constituída de uma forma indivisa, não existindo divisões ou desigualdades, não existindo pois âmbitos de especialização separados do resto da sociedade.

Assim, os primeiros monumentos megalíticos, do Núcleo Megalítico dos Fiais/Ameal, as Orcas 1 e 2 do Ameal e como também, as Orcas 2 de Oliveira do Conde e do Santo, não se destacam na Paisagem, sendo mesmo absorvidas por esta. Assim, estes primeiros monumentos, situam-se em zonas de passagem e acesso, quer ao vale do Mondego, quer a zonas situadas a norte e/ou a sul, situação esta, que será mantida na rede viária romana. Por sua vez, a elevação da Víbora, constituí ainda actualmente, na memória colectiva, um elemento de fácil identificação a média distância, também aglutinador de eventuais zonas de habitat. Estes monumentos estariam, eventualmente, associados a pequenos grupos humanos dispersos por um extenso território e auto-suficientes, eventualmente, construindo cada um o seu túmulo megalítico, de dimensões modestas e como já foi referido, de curta duração, em termos de utilização.

Com o desenvolvimento das sociedades neolíticas, através da implementação de uma actividade produtora permanente o que implicaria um maior controlo da natureza em todas as formas, desenvolvem-se outras formas de apropriação da

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natureza, no aspectos simbólico e ritual. Esta acção deixa de ser passiva, pelo simples reconhecimento de certas características visíveis da paisagem e respectiva atribuição de uma carga simbólica, para passar a ser uma atitude activa na inter-relação com o Espaço, assistindo-se ao que podemos designar por «domesticação da paisagem» (cf. CRIADO BROADO, 1993; JORGE, S. 1999).

A paisagem domesticada, implica a existência de elementos de caracter simbólico-ritual, que expres-sam a nova concepção de Espaço, ele mesmo um espelho da realidade do grupo humano. Naturalmente que na construção desta nova paisagem se encontram elementos herdados da anterior concepção, aos quais se vão adicionar os novos elementos, que os modificam e manipulam, de modo a estabelecer novos significados. Esta nova conceptualização, parece estar, ligada ao desenvolvimento de construções funerárias que se assumem como monumentais sobre o espaço e a paisagem.

Com o Neolítico final regional, inserivel na 2ª metade do IV e inícios do III milénio cal AC, passamos a conhecer os primeiros contextos domésticos das comunidades, que eventualmente, terão "utilizado" alguns dos monumentos megalíticos, com o caso do «Ameal-VI». Os habitats destes grupos humanos, caracterizam-se, pela simetria inversa à realidade dos monumentos megalíticos, que utilizam, já que se apresentam sem condições de controle da paisagem, por construções precárias e total Invisibilidade. A informação disponível, indica ainda uma baixa densidade de ocupação, associada a situações de ocupação sazonal, preferencialmente no Outono/Inverno, correspondendo, eventualmente, a habitats especializados na recolecção (SENNA-MARTINEZ, 1994 e 1995).

Nos monumentos evoluídos coevos deste tipo de habitats, o que se assiste, não é à fusão entre paisa-gem física e o simbólica, mas sim a uma restruturação do discurso. Criam-se espaços ou Paisagens Monumentais (CRIADO BROADO, 1993; VENTURA, 1998a), ainda que na sua implantação, estes novos monumentos procurem uma certa continuidade, nem que seja pelo simples facto de surgirem, na periferia de monumentos já existentes, ainda que já se encon-trassem desactivados. Assim, parecem aparentemente formar núcleos, criando-se muitas vezes uma imagem artificial de continuidade na tradição social, surgindo estes monumentos como «Cristalizadores do Tempo».

No planalto do Ameal, assiste-se à construção, na periferia de sepulcros de maiores dimensões, todos eles de corredor desenvolvido, caso da Orca 1 de Oliveira do Conde e Orca dos Fiais da Telha, que envolveriam um maior investimento de tempo e mão-de-obra, implicando logo um maior esforço do grupo ou dos grupos humanos envolvidos. Estes monumentos corresponderiam ao apogeu do megalitismo regional e seriam caracterizados pela

longa duração da sua utilização12, ao contrário dos primeiros monumentos caracterizados pela curta duração.

Procede-se assim a um processo de "sacralização do espaço", marcado pela construção de monumentos que, ainda que tipologicamente e conceptualmente afins dos primeiros, se destacam pela imponência das suas estruturas, concentrando em si um maior número de mão-de-obra e tempo despendido para a sua edifi-cação13.

Consideramos que se assiste assim a uma Monumentalização da paisagem, em oposição aos modelos de monumentalização do monumento (cf. JORGE V., 1986:235). Este processo inserir-se-ía na confirmação e restruturação da função simbólica da paisagem cultural, do espaço utilizado pelo grupo construtor/utilizador de tais monumentos (CRIADO BROADO, 1995; VENTURA, 1994b e 1998a).

Cria-se deste modo uma Paisagem Cultural, assumindo estes monumentos uma expressão simbólica, inscrita pelos grupos humanos no espaço geográfico, que polarizaria nestes territórios concepções de uma actividade simbólica e possivelmente de inter-relação grupal.

Assim, estes grupos do Neolítico final parecem passar a reclamar a apropriação efectiva do território, assumindo-se o Monumento Megalítico como marca simbólica, apropriadora do espaço e dos seus recursos, bem como manifestação do "culto dos antepassados", símbolos de coesão e legitimadores do(s) grupo(s) humano(s) que o construíram, servindo como lugares centrais ou Axis Mundi, organizadores da sociedade no território (JORGE V. 1989; VENTURA, 1993, 1994b e 1998a).

Este, deixa de ser concebido como um espaço indivisível, aberto, para ser um território fechado, ex-

12 O sentido de longa duração deverá ser entendido em oposição à de curta duração aplicado aos pequenos monumentos da fase inicial. Assim esta longa duração poderá abranger 3 a 4 gerações na interpretação de Domingos CRUZ ou atingindo mesmo 6 a 8 na nossa óptica (cf. VENTURA, 1998), sucedendo-se os grandes monumentos no Espaço e no Tempo, não havendo assim, na maioria dos casos, uma simultaneidade e contemporaneidade de utilização.13 Este processo de monumentalização associada a processos rituais, não se resumem só ao processo criativo/construtivo, sendo mesmo salientado senão ampliado pelas "estruturas de condenação" e por todos rituais de "selagem" associados a estas últimas adições volumétricas, que os tornam particularmente significativos e significantes. Assim, não só a estruturas de condenação vão selar o monumento como o vão ampliar em termos de volumetria, como ainda parecem estar associados a intensos "fogos rituais" por vezes intensos, como se encontra testemunhado nos casos da Mamoa 1 de Madorras (GONÇALVES & CRUZ, 1994), da Orca de Areita (GOMES et al., 1998) e Necrópole da Lameira de Cima (GOMES L., 1996). Para a Plataforma do Mondego, não conhecemos no entanto situações de "fogos rituais" para além do caso da sepultura secundária do Dólmen dos Moinhos de Vento, Arganil (SENNA-MARTINEZ, 1989a), ainda que o processo de ampliação volumétrica da parte frontal, fosse constatado no caso da Orca do Outeiro do Rato, Nelas e eventualmente no da Orca dos Fiais da Telha.

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clusivo. É a transformação da Paisagem em Território (CRIADO BROADO, 1993 e 1995). Assim, desenvolvem-se estratégias de subsistência dependentes do território e em complementaridade este sofre a assimilação de valores de carácter doméstico, prefigurando uma nova atitude social, que se estende da cultura sobre a natureza, convertendo-a, pelo menos em termos simbólicos, o que também parece estar associado ao surgimento e desenvolvimento de formas incipientes de desigualdade, competição (entre grupos e indivíduos) e de uma certa coerção social (VICENT GARCIA, 1988 e 1995). Isto vai levar, a longo prazo, ao surgimento e desenvolvimento de uma sociedade dividida, com sistemas de controle e exercício do poder. Estas sociedades necessitam, antes de mais de exercer o seu discurso sobre a natureza, alterando-a, conformando a paisagem à sua realidade.

O desenvolvimento de uma conceptualização doméstica da natureza, implica o desenvolvimento de concepções de Tempo e Espaço, anteriormente ausentes ou não fundamentais. O Ser Humano, modeliza agora o Espaço, criando uma Paisagem artificial, que se vai reflectir no discurso simbólico, que se assume como um Espaço fragmentado, plural e propriedade de determinado grupo humano. Os monumentos megalíticos, enquanto marcos deliberados na Paisagem, inserem-se nesta transformação da mesma, sempre entendida como uma acto de leitura ou de interpretação. Esta apropriação simbólica tem, nos monumentos megalíticos, o seu caracter físico ou palpável. Estes monumentos assumem-se agora, mais do que os elementos naturais, que tendem a substituir ou melhor a aproveitar, constituindo-se como Monumentos no verdadeiro sentido da palavra, porque passam a ter existência no Espaço e no Tempo, visto serem construídos não só o para o imediato mas também como um elemento permanente do grupo na paisagem para o futuro.

Em comunidades estruturadas em torno de laços de parentesco ou de associativismo (RENFREW, 1983), tais como parecem ser as sociedades megalíticas do Neolítico final peninsular, os mortos não são um elemento exógeno à sociedade e como tal os rituais funerários, quaisquer que eles sejam, apresentam-se como o culminar de um comportamento consciente e inconsciente, que passa não só por um comportamento social, da apropriação de um território, não só como espaço físico e/ou simbólico, onde se desenrolariam diversas actividades (paisagem cultural), mas também como uma forma de per-petuação e de comunicação de um saber contido num espaço restrito, vedado, inacessível e inalterável - a montanha, a floresta, o sepulcro, etc. (GONÇALVES, 1992; CRIADO BROADO, 1993 e 1995; VENTURA, 1993, 1994b e 1998a) - que transmite diferentes mensagens a diversos tipos de audiência, que

permitiriam a criação, manutenção e transformação da ordem sócio-simbólica ao longo do espaço e do tempo. Esta apropriação do território intensificar-se-ía com o aumento demográfico e com o aumento da concorrência por determinado espaço, obrigando a desenvolvimento de formas, que resultaram na monumentalização da paisagem, por via da multiplicação dos monumentos no território, em núcleos e necrópoles. Os núcleos, surgiriam assim como "intensificadores/confirmadores" dessa "paisagem cultural" (VENTURA, 1994b e 1998a).

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