Literatura 20.04.16

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8/16/2019 Literatura 20.04.16 http://slidepdf.com/reader/full/literatura-200416 1/3 UNIDADE ILHA DO GOVERNADOR – EST. DA CACUIA – 409 - CACUIA TEL.: 3647-8041 / 3363-7612 DISCI"LINA: L#$%&'$(&' "RO)ESSOR: V'*%++' S'*$#',  ,. 1 Questões Uerj Filme Berenice não gostava de ir ao cinema, de modo que o pai a levava à força. Cinema era coisa que ele adorava, sempre sonhara em se tornar cineasta; não o conseguira, claro, mas queria que a filha partilhasse sua paixão, com o que se sentiria, de certa forma, indenizado pelo destino. Uma responsailidade que s! fazia aumentar o verdadeiro terror que Berenice sentia quando se aproximava o s"ado, dia que haitualmente o pai, homem muito ocupado, escolhia para a sessão cinematogr"fica semanal.  # medida que se aproximava o dia fat$dico, ela ia ficando cada vez mais agitada e nervosa; e quando o pai, chegado o s"ado, finalmente lhe dizia, est" na hora, vamos, ela frequentemente se punha a chorar e mais de uma vez ca$ra de  %oelhos diante dele, suplicando, não, papai, por favor, não faça isso comigo. &as o pai, que era um homem en'rgico e al'm disso %ulgava ter o direito de exigir da filha que o acompanhasse (vi)vo desde h" muito, criara Berenice sozinho e com muito sacrif$cio*, mostrava+se intransigente não tem nada disso, voc- vai me acompanhar. ela o fazia, em meio a intenso sofrimento. /or fim, aprendeu a se proteger. 0a ao cinema, sim. &as antes que o filme começasse, corria ao anheiro, colocava cera nos ouvidos. 1oltava ao lugar, e mal as luzes se apagavam cerrava firmemente os olhos, mantendo+os assim durante toda a sessão. 2 pai, encantado com o filme, de nada se aperceia; tudo o que fazia era perguntar a opinião de Berenice, que respondia, numa voz neutra mas firme + 3ostei. 3ostei muito. ra de outro filme que estava falando, naturalmente. Um filme que o pai nunca veria. &24C56 7C8046 In Contos reunidos. 7ão /aulo Companhia das 8etras, 9::. 9. m certo momento do texto, percee+se a introdução da fala das personagens mesclada à fala do narrador.  4 presença do di"logo nesta narrativa tem como principal efeito (4* marcar a aceleração do tempo (B* evidenciar o conflito entre as personagens (C* promover a altern<ncia do foco narrativo (=* assinalar a sequenciação dos elementos do enredo 2. Por fim, aprendeu a se proteger. (l. 9>*  4 forma de proteção desenvolvida por Berenice reforça um traço tem"tico central do texto.  4 palavra que melhor define esse traço ' (4* sumissão (B* intoler<ncia (C* dissimulação (=* incomunicailidade 3. Era de outro filme que estava falando, naturalmente. ?este trecho, o termo em destaque cumpre a função de (4* afirmar ponto de vista (B* pro%etar ideia de modo (C* revelar sentimento oculto (=* expressar sentido reiterativo Texto II Como e porque sou romancista &inha mãe e minha tia se ocupavam com traalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as a%udavam. =ados os primeiros momentos à conversação, passava+se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra. &uitas vezes, confesso, essa honra me arrancava em a contragosto de um sono começado ou de um folguedo querido; %" naquela idade a reputação ' um fardo e em pesado. 8ia+se at' a hora do ch", e t!picos havia tão interessantes que eu era origado à repetição. Compensavam esse excesso, as pausas para dar lugar às expans@es do audit!rio, o qual desfazia+se em recriminaç@es contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o her!i perseguido. Uma noite, daquelas em que eu estava mais possu$do do livro, lia com expressão uma das p"ginas mais comoventes da nossa ilioteca. 4s senhoras, de caeça aixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam+lhes o seio. Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas l"grimas, eu tam'm cerrando ao peito o livro aerto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentaç@es de minha mãe e suas amigas. ?esse instante assomava à porta um parente nosso, o 6evd.A /adre Carlos /eixoto de  4lencar, %" assustado com o choro que ouvira ao entrar 1endo+nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais perturou+se + ue aconteceuD 4lguma desgraçaD /erguntou arreatadamente.

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UNIDADE ILHA DO GOVERNADOR – EST. DA CACUIA –409 - CACUIA

TEL.: 3647-8041 / 3363-7612

DISCI"LINA: L#$%&'$(&' "RO)ESSOR: V'*%++' S'*$#', 

,. 1

Questões Uerj

FilmeBerenice não gostava de ir ao cinema, de

modo que o pai a levava à força. Cinema eracoisa que ele adorava, sempre sonhara em se

tornar cineasta; não o conseguira, claro, masqueria que a filha partilhasse sua paixão, com oque se sentiria, de certa forma, indenizado pelodestino. Uma responsailidade que s! faziaaumentar o verdadeiro terror que Berenice sentiaquando se aproximava o s"ado, dia quehaitualmente o pai, homem muito ocupado,escolhia para a sessão cinematogr"fica semanal. # medida que se aproximava o dia fat$dico, ela iaficando cada vez mais agitada e nervosa; equando o pai, chegado o s"ado, finalmente lhedizia, est" na hora, vamos, ela frequentementese punha a chorar e mais de uma vez ca$ra de %oelhos diante dele, suplicando, não, papai, por favor, não faça isso comigo. &as o pai, que eraum homem en'rgico e al'm disso %ulgava ter odireito de exigir da filha que o acompanhasse(vi)vo desde h" muito, criara Berenice sozinho ecom muito sacrif$cio*, mostrava+se intransigentenão tem nada disso, voc- vai me acompanhar. ela o fazia, em meio a intenso sofrimento.

/or fim, aprendeu a se proteger. 0a aocinema, sim. &as antes que o filme começasse,

corria ao anheiro, colocava cera nos ouvidos.1oltava ao lugar, e mal as luzes se apagavamcerrava firmemente os olhos, mantendo+os assimdurante toda a sessão. 2 pai, encantado com ofilme, de nada se aperceia; tudo o que fazia eraperguntar a opinião de Berenice, que respondia,numa voz neutra mas firme

+ 3ostei. 3ostei muito.ra de outro filme que estava falando,

naturalmente. Um filme que o pai nunca veria.&24C56 7C8046

In Contos reunidos. 7ão /aulo Companhia das 8etras, 9::.

9. m certo momento do texto, percee+se aintrodução da fala das personagens mesclada àfala do narrador. 4 presença do di"logo nesta narrativa tem comoprincipal efeito(4* marcar a aceleração do tempo(B* evidenciar o conflito entre as personagens(C* promover a altern<ncia do foco narrativo(=* assinalar a sequenciação dos elementos doenredo

2. Por fim, aprendeu a se proteger. (l. 9>*

 4 forma de proteção desenvolvida por Berenicereforça um traço tem"tico central do texto. 4 palavra que melhor define esse traço '(4* sumissão(B* intoler<ncia(C* dissimulação

(=* incomunicailidade

3. Era de outro filme que estava falando,naturalmente.?este trecho, o termo em destaque cumpre afunção de(4* afirmar ponto de vista(B* pro%etar ideia de modo(C* revelar sentimento oculto(=* expressar sentido reiterativo

Texto IIComo e porque sou romancista&inha mãe e minha tia se ocupavam com

traalhos de costuras, e as amigas para nãoficarem ociosas as a%udavam. =ados os primeirosmomentos à conversação, passava+se à leitura eera eu chamado ao lugar de honra.

&uitas vezes, confesso, essa honra mearrancava em a contragosto de um sonocomeçado ou de um folguedo querido; %" naquelaidade a reputação ' um fardo e em pesado.

8ia+se at' a hora do ch", e t!picos havia

tão interessantes que eu era origado àrepetição. Compensavam esse excesso, aspausas para dar lugar às expans@es do audit!rio,o qual desfazia+se em recriminaç@es contraalgum mau personagem, ou acompanhava deseus votos e simpatias o her!i perseguido.

Uma noite, daquelas em que eu estavamais possu$do do livro, lia com expressão umadas p"ginas mais comoventes da nossailioteca. 4s senhoras, de caeça aixa,levavam o lenço ao rosto, e poucos momentosdepois não puderam conter os soluços que

rompiam+lhes o seio.Com a voz afogada pela comoção e a

vista empanada pelas l"grimas, eu tam'mcerrando ao peito o livro aerto, disparei empranto e respondia com palavras de consolo àslamentaç@es de minha mãe e suas amigas.

?esse instante assomava à porta umparente nosso, o 6evd.A /adre Carlos /eixoto de 4lencar, %" assustado com o choro que ouvira aoentrar 1endo+nos a todos naquele estado deaflição, ainda mais perturou+se

+ ue aconteceuD 4lguma desgraçaD/erguntou arreatadamente.

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UNIDADE ILHA DO GOVERNADOR – EST. DA CACUIA –409 - CACUIA

TEL.: 3647-8041 / 3363-7612

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 4s senhoras, escondendo o rosto nolenço para ocultar do /adre Carlos o pranto eevitar seus remoques9, não proferiram palavra.Eomei eu a mim responder

+ Foi o pai de 4manda que morreuG =isse,mostrando+lhe o livro aerto.

Compreendeu o /adre Carlos e soltouuma gargalhada, como ele as saia dar,verdadeira gargalhada hom'rica, que maisparecia uma salva de sinos a repicarem do queriso humano. ap!s esta, outra e outra, que eraele inesgot"vel, quando ria de aund<ncia decoração, com o g-nio prazenteiro de que anatureza o dotara.

Foi essa leitura cont$nua e repetida denovelas e romances que primeiro imprimiu emmeu esp$rito a tend-ncia para essa forma liter"riaHo romanceI que ' entre todas a de minhapredileçãoD

?ão me animo a resolver esta questãopsicol!gica, mas creio que ningu'm contestar" ainflu-ncia das primeiras [email protected] = 48?C46Como e porque sou romancista. Campinas /ontes, 9::L.

9remoque zomaria, caçoada

M. 4 reação do /adre Carlos ' muito diferentedaquela que apresentam as senhoras diante daNmorteO do personagem, situação que, no texto, 'demarcada tam'm pelo emprego de certaspalavras. 4 diferença entre a reação das senhoras e a do/adre Carlos ' indicada pelo uso das seguintespalavras(4* consolo + riso(B* l"grimas + desgraça(C* hom'rica + inesgot"vel(=* comoção gargalhada

. Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestar a

influ!ncia das primeiras impress"es. # l. PQ+P: $ 4o final do texto o autor levanta uma questão,mas diz que não pode resolv-+la. ntretanto, asegunda parte da frase sugere que o autor temuma resposta.ste ' um conhecido processo ret!rico, pelo qualo autor adota o procedimento indicado em(4* criticar para negar (B* negar para afirmar (C* duvidar para %ustificar 

(=* reconhecer para criticar 

R. + %oi o pai de &manda que morreu' (isse,mostrando)l*e o livro a+erto.Compreendeu o Padre Carlos e soltou umagargal*ada, # l. P9+PP $

=e acordo com o texto, a compreensão que opadre teve da situação foi poss$vel pelacominação das palavras do narrador com(4* um gesto simult<neo à fala(B* um senso apurado de humor (C* uma opinião formada sore a fam$lia(=* um conhecimento pr'vio do prolema

Texto IIIEm volta da moça

J" então os dois g-meos cursavam, um aFaculdade de =ireito, em 7. /aulo; outro ascola de &edicina, no 6io. ?ão tardaria muitoque sa$ssem formados e prontos, um paradefender o direito e o torto da gente, outro paraa%ud"+la a viver e a morrer. Eodos os contrastesestão no homem.

?ão era tanta a pol$tica que os fizesseesquecer Flora, nem tanta Flora que os fizesseesquecer a pol$tica. Eam'm não eram tais asduas que pre%udicassem estudos e recreios.stavam na idade em que tudo se comina semquera de ess-ncia de cada coisa. 8" que

viessem a amar a pequena com igual força ' oque se podia admitir desde %", sem ser precisoque ela os atra$sse de vontade. 4o contr"rio,Flora ria com amos, sem re%eitar nem aceitar especialmente nenhum; pode ser at' que nemperceesse nada. /aulo vivia mais tempoausente. uando tornava pelas f'rias, como quea achava mais cheia de graça. ra então que/edro multiplicava as suas finezas para se nãodeixar vencer do irmão, que vinha pr!digo delas. Flora receia+as todas com o mesmo rostoamigo.

?ote+se e este ponto deve ser tirado àluz, note+se que os dois g-meos continuavam aser parecidos e eram cada vez mais eseltos.Ealvez perdessem estando %untos, porque asemelhança diminu$a em cada um deles a feiçãopessoal.=emais, Flora simulava às vezes confundi+los,para rir com amos. dizia a /edro

  =r. /auloG dizia a /aulo  =r. /edroGm vão eles mudavam da esquerda para

a direita e da direita para a esquerda. Flora

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UNIDADE ILHA DO GOVERNADOR – EST. DA CACUIA –409 - CACUIA

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mudava os nomes tam'm, e os tr-s acaavamrindo. 4 familiaridade desculpava a ação ecrescia com ela. /aulo gostava mais de conversaque de piano; Flora conversava. /edro ia maiscom o piano que com a conversa; Flora tocava.2u então fazia amas as coisas, e tocava

falando, soltava a r'dea aos dedos e à l$ngua.Eais artes, postas ao serviço de tais

graças, eram realmente de acender os g-meos,e foi o que sucedeu pouco a pouco.(47707, &achado de. Esa e -acó. 6io de Janeiro Jos' 4guilar,9:RP.*

S. Esa e -acó nos traz a narrativa sore irmãosg-meos Pedro e Paulo  , muito diferentes, anão ser pela apar-ncia f$sica e pelo amor quededicam a uma mesma mulher %lora.?o trecho apresentado, o narrador expressa um

ponto de vista determinado sore os sentimentosde Flora em relação aos g-meos.sses sentimentos podem ser caracterizadospor(4* descaso e manipulação(B* desorientação e simpatia(C* amigTidade e frivolidade(=* amival-ncia e inoc-ncia

Q. m algumas passagens, o texto de &achadode 4ssis apresenta teses às quais se %untamoposiç@es ant$teses. ssa fusão, por sua vez,

transforma+se em s$ntese.Um exemplo de s$ntese est" presente noseguinte fragmento(4* Nstavam na idade em que tudo se cominasem quera de ess-ncia de cada coisa.O (l. 99 +9>*(B* N8" que viessem a amar a pequena com igualforça ' o que se podia admitir desde %",O (l. 9> +9*(C* N=emais, Flora simulava às vezes confundi+los, para rir com amos.O (l. >L + >9*(=* Nm vão eles mudavam da esquerda para a

direita e da direita para a esquerda.O (l. > + >R*

:. ?o romance Esa e -acó, o narrador p@e emevid-ncia seus pensamentos e suas percepç@es,conduzindo a reação dos leitores durante toda anarrativa.2 fragmento que melhor exemplifica essedirecionamento da reação dos leitores '(4* NJ" então os dois g-meos cursavam, um aFaculdade de =ireito, em 7. /aulo; outro ascola de &edicina, no 6io.O (l. 9 + >*(B* N?ote+se e este ponto deve ser tirado à luz,  note+se que os dois g-meos continuavam a ser 

parecidos e eram cada vez mais eseltos.O (l. P+ PS*(C* NFlora mudava os nomes tam'm, e os tr-sacaavam rindo.O (l. >R + >Q*(=* N2u então fazia amas as coisas, e tocavafalando, soltava a r'dea aos dedos e à l$ngua.O (l.

MP + M>*

9L. Não tardaria muito que sassem formados e prontos, um para defender o direito e o torto dagente, outro para a/ud)la a viver e a morrer. (l. >+ R*?a passagem destacada, foram exploradosdiferentes recursos ret!ricos.=ois desses recursos podem ser identificadoscomo(4* meton$mia e met"fora(B* ant$tese e pleonasmo(C* paradoxo e ironia(=* an"fora e alusão