Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    8PSUHVHQWHGHJUHJRV

    Introduo

    Este texto resultou de uma curiosidade pessoal e um pequeno resumo de algunsanos de pesquisa. Dediquei-me a este estudo como um pesquisador independente e

    exclusivamente interessado no encadeamento dos fatos. A ideia de que o passado deve

    necessariamente ligar-se com nitidez ao presente foi o norte da minha pesquisa.

    Princpio to simples e seguro que ao se desdobrar em outras questes, trouxe-me

    concluses surpreendentes.

    Depois de situar o perodo que me interessava - entre os ltimos sculos da Era

    Antiga e os primeiros sculos da Era Crist - recorri a bibliotecas pblicas. No

    encontrei livro algum a tratar claramente do assunto. At que reparei que as informaes

    mais significativas apareciam em diversas obras como ilustraes de uma erudio nada

    conclusiva. Foi o bastante, pois essas ilustraes eram extremamente sugestivas, ntidas

    e definidas como pegadas na areia intata de uma praia deserta. Uma histria espera de

    um contador.

    Vencer o invlucro ideolgico que envolve a cultura ocidental foi o mais difcil,pois eu me encontrava envolvido por ele tambm. Pareceu-me muita pretenso

    contrariar mais de um milnio de Histria. Questionar diretamente historiadores

    renomados como Edward Gibbon (1737-1794), Will Durant (1885-1981), Arnold

    Joseph Toynbee (1889-1975), Edward McNall Burns (1897-1972), Henri-Irne Marrou

    (1904-1977), entre muitos, seria imprprio. O respeito que cultivamos pelos nossos

    mestres acaba por coloc-los numa torre de marfim. No entanto, quando o motivo do

    questionamento pode ser demonstrado, o questionamento procede e deve ser apreciado,

    certamente.

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    Existe um antigo consenso que defende a importncia da crena religiosa no seio

    de uma civilizao, salientado pelo professor Arnold J. Toynbee. Por outro lado,

    notria a dificuldade disseminada pelo poder de determinadas convices culturais

    frutificadas de crenas religiosas. No seria a Histria a nica a escapar da influncia

    desse tipo de poder. O ilustre professor da Sorbonne, Henri-Irne Marrou, disse que o

    historiador no avana sozinho ao encontro do passado. Aborda-o como representante

    do seu grupo. Praticamente, todos os historiadores de renome eram ou so religiosos,

    inclusive os citados. A Histria ainda rea de domnio da religio. Todavia, como o

    nico grupo com o qual me identifico o humano, com suas raas, culturas, qualidades

    e defeitos, lancei-me empreitada.

    Confiando na minha intuio, mantive o foco nos fatos: fiz uma triagem dasnotcias histricas, reservando-as para uma provvel acomodao num momento

    avanado das investigaes. Imaginei que ao comear a se delinear essa histria dentro

    da Histria, o rumo da minha pesquisa estaria definido. Foi o que aconteceu.

    Descobri, por exemplo, que a cultura ocidental chamada impropriamente de

    Judaico-Crist, quando na realidade ela Heleno-Judaica. E isso faz alguma diferena?

    Sim, muita. Porque o primeiro nome (Heleno) indica a origem, como nipo-brasileiro,

    talo-americano, greco-romano etc. O Cristianismo no continuao e nem reforma do

    Judasmo, como se faz acreditar. So muitssimo diferentes. Portanto, a histria outra.

    No perodo do encontro das Eras, Antiga e Crist, o nico povo capaz de

    promover uma transformao mundial desse porte, com capacidade e condio de criar

    uma nova cultura e dar prosseguimento a ela, era o povo heleno. Essa possibilidade

    vinha se desdobrando em episdios desde as conquistas de Alexandre Magno, at

    encontrar o momento propcio para a sua ecloso. No que houvesse um plano pr-estabelecido nos seus mnimos detalhes, naturalmente. O que havia era um ideal

    universalista e uma disputa pela manuteno da hegemonia cultural helnica, no caso

    helenstica (uma mistura da cultura helnica com as culturas orientais, sob o aspecto

    religioso).

    Lembrando que as palavras esto impregnadas de histrias, ainda que no conste

    na sua etimologia, o verbo agregar (de origem latina) reflete claramente o propsito

    do ideal universal helenstico, ou seja, juntar, reunir, congregar (a os gregos

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    novamente) a Humanidade num povo s, como os gregos pretendiam (grego era como

    os romanos chamavam os habitantes da Hlade, os helenos). A religio foi o meio

    utilizado para isso. Os gregos se sentiam como tutores da Humanidade, como hoje se

    sentem cristos e islmicos. A propsito, o islamismo tambm uma cultura heleno-

    judaica.

    Na contramo das verdades estabelecidas eu havia penetrado num mundo

    estranho sem o explcito apoio didtico dos prezados mestres. Curiosamente,

    substanciado com as evidncias oferecidas por eles mesmos. At parece que esses

    historiadores deixaram rastros de propsito. Quem sabe, como uma forma inconsciente

    de compensao pela utilizao da Histria como um instrumento de favorecimento

    ideolgico. Assim sendo, a concluso bvia: a Histria mentiu. Lembrei-me de que nomagistrio nunca houve lugar para a rebeldia. Professores de Histria, assalariados pelo

    sistema e envolvidos ideologicamente por ele, fazem o que lhes exigido, como pees

    que sempre foram da cultura dominante. A partir da as peas desse quebra-cabea

    foram se encaixando com relativa facilidade. Contrariar mais de um milnio de Histria

    j no me parecia pretenso. Quando a gente sabe o que procura, os livros acabam

    contando.

    Ivani de Araujo Medina

    Nota: d D,

    E

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    Capitulo I

    Iniciaremos o exame das primeiras pegadas, na areia intocada dessa praia

    virgem da Histria, observando um pargrafo da obra Histria Geral das Civilizaes,

    de dois ilustres mestres da Sorbonne, Andr Aymard e Jeannine Auboyer:

    O grego era poeta e artista, apto para

    imaginar fbulas e formas cheias de encanto, de graa e vida. Era sbio e

    filsofo, inclinado a levar at a extrema audcia a reflexo sobre o universo,

    sobre a natureza e sobre si mesmo. Repartia-se entre uma tendncia

    racionalista, que o conduzia s mais ousadas negaes, e uma tendncia

    mstica, que seu antigo e ininterrupto contato com o Oriente sempre alimentara,

    mas qual a simbiose criada pela conquista de Alexandre atribua vigor

    especial. (AYMARD; AUBOYER, 1974, t. II, vol. III, p. 20)

    O primeiro aspecto deste pargrafo se refere capacidade imaginativa desse

    povo, unida ao conhecimento acumulado e estimulada pela conscincia da liberdade de

    pensamento. O segundo aspecto se refere a duas tendncias do pensamento dele, que

    nada tm de conflituosas nesse contexto. A influncia oriental numa cultura que sabia

    trocar proveitos com as demais, deixando uma impresso positiva aos outros povos, no

    gerava conflitos ntimos. Eles sabiam que s a mudana no muda. Os gregos davam

    um toque pessoal a tudo que absorviam. Para eles nada estava pronto, sempre vinha um

    por qu? a reformular as ideias e os mtodos alheios. Aps as conquistas de

    Alexandre o mundo antigo entrou num processo de transformao e acentuao daquela

    tendncia mstica, que se estendeu ao mundo de hoje. O pensamento moderno

    consequncia da histria grega. Esses aspectos so fundamentais na compreenso do

    destino desses indcios deixados por eles na Histria.

    Nenhum outro povo havia se empenhado tanto na busca de uma sociedade ideal.

    Empenho que os qualificou, sobremaneira, culturalmente. Viviam em cidades-estado

    (polis) e a atividade poltica consistia na busca da felicidade para os seus cidados. Um

    homem desinteressado pela poltica era censurado e chamado de idiota, cujo

    significado em grego dedicado a interesses particulares.

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    Tudo isso contava com dois suportes fundamentais a um intenso e proveitoso

    convvio social: a educao e o ensino. Nenhuma outra cultura havia se desenvolvido

    com tanta vitalidade e empenho, sob esse aspecto, quanto a cultura helnica. Alm de

    formar o homem, a educao deveria, sobretudo, formar o cidado. A finalidade cvica

    da educao se equilibrava com as finalidades espirituais no primeiro plano. A educao

    e o ensino focavam o homem na sua essncia, como o resultado de um firme e

    equilibrado domnio de si mesmo. Os gregos entenderam que a educao havia de ser

    um amplo processo de construo consciente. O desenvolvimento do corpo e do

    esprito, de forma equilibrada e harmnica, expressava a aceitao de uma realidade

    irrecorrvel para o Homem - a sua prpria existncia. Esse o processo de formao do

    homem da polis, do homem universal numa realidade poltica patritica, mas no

    nacionalista. O helenismo se ocupava da criatura humana, e no objetivamente do

    grego. O estrangeiro que se adaptasse ao modo de vida da polis era considerado um

    deles. No entanto, o apreo acentuado dos helenos pela prpria cultura os elevava

    intimamente condio de senhores e reduziam os demais condio de escravos.

    Escravizar um grego, nunca. Escravizar um indivduo no-helenizado? Problema algum.

    A educao e o ensino atravessaram, pelo menos, duas fases marcantes no

    mundo grego. A influncia de moralistas egpcios trouxe alteraes importantes na

    educao moral ensinada pelos poetas. Depois disso, os mitos dos deuses passaram a ser

    contestados, tidos por Plato como perniciosos na formao dos jovens. Scrates,

    mestre de Plato, foi o responsvel por essa mudana. Admitiu a existncia de uma

    natureza moral do Homem, e nela, deveriam ser procurados os elementos determinantes

    da finalidade da vida e da educao.Ele sustentava que o conhecimento aprofundadodessa natureza possua validade universal. Atribuindo, assim, uma nica origem

    Humanidade e Scrates no leu a Bblia.

    Esse conceito, que Scrates adquiriu no Egito, recomendava que o conhecimento

    devesse ser desenvolvido pelo prprio indivduo, de sua prpria existncia, devendo

    este ser instrudo adequadamente para isso (coisa que na cultura ocidental, at hoje, no

    aconteceu). O conhecimento no podia ser adquirido pela simples aceitao das

    opinies alheias (a imposio de um modo de pensar ou de uma crena, como

    aconteceu), mas somente pela procura e pelo assentamento ntimo da verdade

    universalmente vlida. Mais tarde, o gnosticismo bateria nessa mesma tecla. Foramesses osideais educativos que se desenvolveram a partir do sculo IV da Era Antiga e

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    tiveram o seu sepultamento iniciado a partir do sculo III, em decorrncia das

    conquistas de Alexandre.

    A propsito, no Ocidente, para efeito didtico, convencionou-se que a contagem

    do tempo da Era Antiga seria decrescente. Por exemplo, quando um perodo estiverreferenciado do tipo (332-263) est se falando da Era Antiga, por isso o sculo IV vem

    antes do sculo III. Enquanto a contagem da Era Crist de ordem crescente,

    evidentemente. Assim sendo, como no existe o ano zero, o sculo I da Era Antiga

    vizinho de porta do sculo I da Era Crist. importante esse esclarecimento para no

    confundir os leitores pouco acostumados com esse tipo especfico de leitura.

    Datandodo princpio do segundo milnio da Era Antiga, o conhecimento da arte

    da navegao propiciou aos gregos o estabelecimento de colnias na sia Menor - ondehoje a atual Turquia - em Chipre e na Sria. Tal esprito de aventura levou-os a

    construir cidades no Ocidente, como Marselha, Crimia e chegaram a instituir a Magna

    Grcia (Grande Grcia), colonizando a Siclia e o sul da Itlia. Souberam tirar um

    grande proveito desses territrios extensos, e mais ricos do que o da sua ptria, em

    funo de uma vida esplendorosa. A cultura helnica era o fator de integrao entre

    essas cidades e venerada com uma devoo inabalvel (o culto ao helenismo).

    Em 499 da Era Antiga, quando os sditos gregos asiticos se rebelaram, quandoviram frustradas suas pretenses polticas e comercias junto ao soberano da Prsia, e

    receberam apoio dos gregos atenienses, parecia que o Imprio Persa engoliria

    completamente o mundo helnico. O Imprio Persa era a mais bem organizada, a mais

    populosa, a mais rica e conciliada estrutura poltica jamais erigida; compreendia a

    Prsia territorial, a sia Central, a sia Menor, a Mesopotmia, a Sria, a Palestina e o

    Egito. Dario I (521-486), desejando a criao de um estado universal, organizou o

    imprio com base no poder absoluto do soberano, imperador hereditrio, cujaautoridade, afirmava ele, emanava da vontade dos deuses.

    A autoridade do governante asitico se apoiava em leis imutveis consideradas

    divinas; entretanto, os gregos sabiam que as leis eram feitas pelos homens e para os

    homens. Se uma lei estivesse em desacordo com a poca, podia ser mudada por

    interesse e consenso comuns. J o poder divino do imperador persa contava com a

    estabilidade da religio de cada um dos povos conquistados. Na Prsia, invocava Ahura

    Mazda ou Ormuz; em Babilnia, Marduque; no Egito, Amon.E onde no existia teoriadinstica com base divina, Dario I procurou estabelecer, com os magos persas, uma

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    religio monrquica de tendncias universais. Dotou os templos de feso, Sardes,

    Pessinonte, de um clero persa, que neles introduziu, com as ideias masdestas, a moral

    de Zoroastro, que alcanava, pela ideia do alm sobre a qual fora concebida, os cultos

    de mistrios que triunfavam ento em todos os pases mediterrneos.

    Depois que as tentativas de Dario I e do seu sucessor Xerxes (486-465) falharam

    na inteno de estender o Imprio Persa at a Grcia Continental, as relaes entre

    persas e gregos conheceram um perodo amistoso. A influncia persa sobre a poltica

    grega foi to grande, que parecia serem os persas eram os vencedores. Muitos gregos

    sentiram-se atrados pelas oportunidades de emprego naquele rico e fascinante imprio.

    No foi pequeno o nmero de gregos que se engajaram no servio militar e diplomtico

    do Imprio Persa. Essas experincias enriqueciam sobremaneira o repertrio histrico,poltico e cultural dos gregos.

    Nos sculos VII e VI da Era Antiga, os gregos da sia Menor (como os romanos

    a chamavam) ou da Anatlia (como os gregos a chamavam, significa brilho do Sol ou

    Leste) no mostraram o mnimo constrangimento em aprender novos e mais

    requintados costumes com os seus vizinhos ldios. Nessa poca, o papel principal da

    vida civilizada grega era desempenhado pelos helenos asiticos. As tradies do

    Imprio Hitita haviam sobrevivido nos reinos da Frgia, Ldia e Lcia, dos quais a Ldiaestava mais prxima dos gregos. Foram os ldios os principais civilizadores dos helenos.

    Foi na sia Menor, onde estavam em constante contato com o Oriente, que os gregos

    encontraram o caminho do progresso, remodelando o que recebiam e dando-lhe um

    carter novo. Desconheciam tradies e regras inalterveis, cada explicao no era

    mais do que o ponto de partida para novos questionamentos. Essa faceta do esprito

    grego os acompanha indefinidamente na Histria.

    Entre os grupos gregos que colonizaram a sia Menor, predominavam os jnios.Sobre os demais grupos (drios, elios e aqueus), tinham estes a vantagem de reunir as

    qualidades dos outros e uma notvel variedade de aptides, gostos e ideias, que tiveram

    no Oriente uma excelente oportunidade de florescimento. As cidades da Jnia, na costa

    da Ldia, alm de aprimorar a indstria e o comrcio e estend-los Grcia Continental

    e s demais colnias, produzia novas formas de arte e de pensamento. Mileto, como

    outras cidades da Jnia, passou por importante desenvolvimento econmico e poltico

    nos sculos VII e VI. Mantinha boas relaes com a Ldia e o Egito, de onde tambmrecebeu influncias. A Ldia mantinha relaes culturais com a Babilnia, que detinha

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    conhecimentos avanados na matemtica e na astronomia. Foi em Mileto, no sculo VI

    que surgiram os primeiros filsofos, como Tales e Anaximandro. Anaximandro

    afirmava que todas as coisas provinham de uma nica substncia primria, que era

    infinita, eterna e sem idade. Havia um movimento eterno no qual se produziu a origem

    dos mundos. Estes foram evoluindo e constituindo a vida a partir da gua. O homem e

    os outros animais provinham dos peixes.

    Nesse oceano de curiosidades, a influncia religiosa e cientfica babilnica

    preocupava-se mais com a prosperidade neste mundo do que a felicidade no outro

    (como no caso egpcio), se dedicava ao estudo das cincias dos deuses (significado do

    termo teologia). A Mesopotmia, onde se situava a Babilnia, era uma fonte riqussima

    de conhecimentos de toda ordem aos anatolianos. L, tiveram origem as cidades.

    Diferente das cidades litorneas gregas, onde a cultura, a indstria e o comrcio se

    desenvolviam vigorosamente, no interior da sia Menor, sobre vastos planaltos que se

    estendiam at o comeo da sia central, outra realidade se ligava ao mundo helnico pelas

    estradas. L no havia cidades ricas e populosas, mas imensas florestas, campinas cobertas

    de linho e trigo, pastagens e rebanhos. Eram os domnios das antigas monarquias,

    apartados do desejo do saber e das demais influncias da vida urbana. Bandos de gauleses

    imigrados no terceiro sculo e uma mistura de frgios e celtas avizinhavam-se de raasbrbaras, rudes, incapazes de iniciativa, prontas a servir como escravas ou tomarem armas

    por ordem do soberano, venerando seus sacerdotes e deuses. Uma mentalidade despida de

    qualquer esprito poltico e cultura intelectual, entregue a um misticismo grosseiro.

    Havia uma troca permanente entre as cidades gregas mediterrneas e as

    monarquias do planalto. Pelas estradas que levavam Prsia, as matrias-primas como o

    linho, as peles, ls, madeiras, minerais chegavam ao destino, onde eram transformadas em

    produtos, e retornavam como mantas, peas de mobilirio etc. As cortes dessas

    monarquias haviam adotado as modas gregas. A crescente demanda da mo-de-obra

    escrava era suprida por camponeses frgios, ldios, capadcios e do vasto reinado do

    Ponto. Para estes, no era cruel nem desonroso vender os prprios filhos.

    O helenismo da sia havia perdido uma boa parte do seu esprito poltico e se

    deixara impregnar pelo esprito religioso local, em detrimento das antigas convices, que

    j no se prestavam a essa realidade promissora. Os trabalhadores necessitavam da suareligiosidade nativa; os gregos do trabalho deles. Em vista disso, as altas classes

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    compostas por ricos negociantes no se importaram de trocar o antigo civismo pelo

    enriquecimento dos cultos indgenas, consagrando aos deuses parte do tempo que

    deveriam consagrar ao Estado. Acolheram os deuses indgenas nos seus suntuosos

    templos, prestigiando a cultura dos pees da indstria e do comrcio, e suas festas

    frequentes assumiram um lugar de destaque na vida pblica e particular dos gregos

    asiticos (manipulao da cultura de massa).

    Como esses gregos tinham um comrcio muito intenso, os interesses das suas

    cidades da sia Menor iam muito alm dos seus territrios. A ordem, a paz e a

    tranquilidade eram fundamentais nesse processo que o helenismo escolhera para cumprir

    seu plano de dominao econmica e intelectual sobre os outros povos. Depois das

    conquistas de Alexandre, o ouro acumulado nas cidades gregas da sia Menor deu-lhesluxo, estimulou as artes e as letras e aumentou a pompa das cerimnias religiosas. Dessa

    forma a monarquia havia, ento, se credenciada para levar adiante o ideal universal

    helenstico.

    As vitrias militares de Alexandre Magno (365-323) sobre o imperador persa

    Dario III (380-330) - em continuidade ao projeto do seu pai, Felipe II, de acabar de vez

    com esta ameaa - fez dos gregos herdeiros de um vasto imprio. Como consequncia,

    essa herana revolucionou o antigo modo de vida helnico. Oportunidades inimaginveis

    de emprego e negcios surgiram na administrao e no comrcio dos pases conquistados.

    No Egito, por exemplo, aos nativos sobravam funes que os gregos rejeitavam, e foi

    assim que a sua cultura ganhou o mundo e consolidou posies por mrito prprio. As

    outras culturas tiravam-lhe o chapu.

    De acordo com Plutarco (46-119), historiador grego da Antiguidade, Era sua

    vontade (de Alexandre) tornar a terra habitvel sujeita mesma razo e todos os homenscidados do mesmo governo (uma nica lei e um nico governo para o mundo). Estava

    lanada a semente do ideal universal helenstico para a conquista moral de um novo

    mundo.Moral significa costumes, e eram os costumes helnicos que deveriam prevalecer.

    Alexandre havia se tornado um entusiasta do poder divino do soberano persa e se

    considerava um semideus, para o desgosto dos seus companheiros. Passou a trajar-se

    moda persa ostentando um diadema na cabea como o Rei dos reis.

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    No luxuosssimo Imprio Persa, um cerimonial severo aterrorizava os sditos e

    tornava religioso o acatamento ao soberano. O seu domnio era quase sobrenatural. Na

    sala de audincias, a apadana, um quadrado de 43,50m de lado, teto construdo de toras

    de cedro sustentado por colunas de 1,60m de dimetro e 20,00m de altura, tudo ricamente

    trabalhado e decorado com muitas cores, o rei tomava assento no seu maravilhoso trono,

    com o brilho e a distncia dos simples mortais como aquela representao exigia. Dessa

    maneira, recebia os strapas (a administrao persa era dividida em satrapias, onde esses

    vice-reis dispunham igualmente de cortes luxuosas) vestidos com seus elegantssimos

    trajes regionais, que se prostravam diante do trono, antes da prestao de contas.

    Associados, o luxo e o poder divino impressionam e coagem o esprito humano h

    muito tempo. Uma receita de sucesso.

    Com a consumao da queda do Imprio Persa, em 325 da Era Antiga, depois que

    uma espantosa quantidade de riqueza acumulada naquele tesouro foi transformada em

    moeda corrente, a cultura grega nunca mais seria a mesma. O surgimento de uma

    burguesia rica, culta, influenciada pelo requinte e pelo luxo da administrao persa e

    profundamente sugestionada com a troca de conhecimento com o Oriente, mudaria o

    mundo. O historiador alemo Droysen (1808-1884), ao referir-se cultura desenvolvida

    nas regies conquistadas por Alexandre, qualificou-as de helensticas, para distingui-las dacultura original, ou helnica.

    Depois da morte de Alexandre, em 323, o seu reinado mundial desfez-se

    imediatamente. Aps um perodo de lutas entre os seus generais, em 281 foi feita a

    partilha: Cassandro ficou com o reino da Grcia e da Macednia; Ptolomeu, com o reino

    do Egito; Seleuco, com o reino da Sria, Prsia e Mesopotmia. Assim surgiram as

    monarquias helensticas e uns pequenos reinados gregos de pouca durao, na ndia.

    Como no mundo grego, a ndia era composta por diversas cidades-estado e um

    intercmbio cultural se deu entre gregos e hindus. Um dos soberanos desses reinados

    hindus que se chamava Aoca teve a fama de conquistador sanguinrio; depois de

    provocar, presenciar e experimentar muito sofrimento casou-se com uma princesa de

    famlia budista. A vida desse rei se transformou: abandonou as batalhas e passou a se

    dedicar divulgao do budismo. Enviou, em meados do sculo III da Era Antiga,

    missionrios para as cortes de Antoco II (Sria) e de Ptolomeu II (Egito), e at mesmo de

    Antgono Gonatas na Macednia, e de Magas, em Cirene (na atual Lbia). O hbito cristo

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    de rezar com as mos postas junto ao peito e o batismo (imerso) so hbitos religiosos de

    origem hindu.

    Na confrontao da Grcia com o

    Oriente, provocada pela conquista de Alexandre, difcil medir o que o

    Oriente forneceu civilizao helenstica, por assim dizer, nada na

    literatura e na cincia, um pouco mais na arte e na filosofia, e quase tudo

    na religio. (LVQUE, 1967, p.160).

    Atenas continuava conservadora e com muitos devotos, era considerada aHlade das Hlades. Enquanto isso, as monarquias helensticas se abriram a novos

    costumes e conhecimentos. A cidade de Alexandria, no Egito, foi construda para

    superar Atenas. No seria exagero dizer que os orgulhosos gregos dessa poca

    acumulavam todo o conhecimento da Humanidade. Havia um anseio por transformao

    ainda indefinido, sem rosto, sem nome e sem rumo, latente no mundo antigo. A vocao

    universalista da cultura helnica encontrou, no perodo helenstico, a possibilidade de

    expandir o ideal educacional da polis para o oikoumen (as terras habitadas). No semmotivos, os gregos sentiram-se capacitados a liderar o progresso existencial da

    Humanidade.

    O Ocidente jamais seria o mesmo.

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    Capitulo II

    Nos passos dessa transformao ocidental, outro historiador importante, obritnico Paul Johnson, em sua obra Histria dos judeus, comenta sobre o orgulho

    grego e sinaliza sobre as suas consequncias:

    Os gregos viam seu oikoumen, isto ,

    o universo civilizado onde suas ideias prevaleciam, como uma sociedade

    multirracial e multinacional, e aqueles que recusavam a aceit-lo eram

    inimigos do homem. Em sua grande ofensiva contra o Judasmo mosaico,

    Antoco Epfanes jurou abolir as leis judaicas prejudiciais humanidade, e

    ele sacrificou porcos sobre os livros sagrados judaicos. (JOHNSON, 1989, p.

    138)

    Como tutores da Humanidade, os gregos no admitiam contestao na seara

    cultural deles ou nas inmeras cidades que espalharam pelo Ocidente e pelo Oriente.

    Por outro lado, os judeus queriam continuar judeus e residiam nas mesmas cidades

    praticando suas crenas e costumes. Esse modo de pensar helnico levou o soberano da

    Sria grega, Antoco IV Epfanes (175-164), a tentar aculturar de vez os judeus,

    impondo-lhes os seus costumes (a Judeia fazia parte daquela monarquia). Conta-se que

    sacerdotes de Jerusalm e parte da juventude haviam deixado se seduzir pela cultura

    helnica. Jovens judeus chegaram a praticar jogos nus, como faziam os gregos, o que

    irritou profundamente os conservadores judeus. Sob o pretexto de uma interveno,

    devido s lutas entre duas faces judaicas (conservadores e pr-helnicos), Antocoinvadiu Jerusalm e saqueou o tesouro do templo, para reduzir seus prejuzos causados

    por uma desastrosa campanha militar no Egito. Liderados por Matatias e seu filho

    Judas, o Macabeu, os judeus venceram essa guerra e fundaram um reinado

    independente, que daria origem dinastia ashmoneana, homenagem a Ashmon, av de

    Judas.

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    Essa derrota no foi somente militar e poltica, foi principalmente uma derrota

    cultural. A nica sofrida pelos gregos na sua histria, e um espinho que ficou encravado

    no orgulho deles. Por viverem numa sociedade fechada, impermevel aos costumes

    alheios e proibindo casamento com estrangeiros, os judeus vinham aguando a antipatia

    da intelectualidade grega. Enquanto a cultura helnica buscava o aprimoramento

    humano la grega, a cultura hebraica buscava a perenidade do seu povo.

    Essa rejeio antiga no se tratava, absolutamente, de uma atitude proveniente

    de um grupo isolado de intelectuais insatisfeitos. Era algo muito maior e profundo,

    tratava-se de uma cultura enfurecida contra outra. No ouvimos falar em guerras

    culturais ou coisa parecida, mas batalhas aconteceram e dessa guerra no se deu notcia.

    O que no mnimo sintoma de alguma coisa sria e ainda carente de explicao. interessante se observar que h uma significativa predominncia de

    historiadores seguidos por filsofos nessa guerra cultural contra o Judasmo. O

    historiador dessa poca era extremamente influente na sociedade, como um grande

    erudito, prestigiado pelo conhecimento e pela natureza da sua funo social, enquanto o

    filsofo era a prpria elite intelectual. Para o bem ou para o mal, as ideias deles

    circulavam em todas as cidades. Havia um aquecido comrcio de livros, e a importncia

    destes na vida dos gregos helensticos claramente provada pelas descobertas deexemplares completos ou de folhas esparsas nas casas e nos tmulos gregos, nas cidades

    ou mesmo nas aldeias dessas monarquias helensticas, especialmente no Egito. A

    maioria desses intelectuais procedia de cidades gregas da sia Menor e tambm de

    cidades da Sria e do Egito gregos: Clearco de Soli (filsofo da escola de Aristteles),

    Diodoro Sculo (historiador), Queremon (historiador), Lismaco, Apolnio Mlon

    (retor), Apion (professor de literatura e escritor), entre outros tantos.

    Maneto, o historiador egpcio, espalhou a histria de que

    os judeus haviam sido expulsos do Egito, havia muitos sculos, por sofrerem

    de escrfula ou lepra. O preconceito antis-semita intensificava-se de ambos os

    lados e, no sculo I da Era Crist, estalou com destruidora violncia.

    (DURANT,1971, p. 468)

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    Maneto ou Maneton, um intelectual muito cotado em sua poca (sculo III da

    Era Antiga) o mais conhecido e antigo inimigo da cultura judaica e do povo judeu. Era

    ligado poltica dos Ptolomeus (dinastia grega que governava o Egito) que

    encomendaram a Maneton a concepo de uma religio de exportao a partir de

    elementos gregos e egpcios. Depois das vitrias de Alexandre a preocupao com a

    concepo de uma religio universal sempre esteve em pauta.

    Para consolidar sua aspirao universalista e a definitiva vitria sobre o

    Judasmo, o mundo grego teria que passar por reformas. Vo-se os anis, mas ficam os

    dedos. O antigo culto ptria, com os deuses das cidades, se mostrava ineficaz a essa

    pretenso. Alm do mais, na sia Menor esse culto havia dividido o lugar com os

    deuses nativos em favor da prosperidade da indstria e do comrcio. O mundo haviamudado muito e os gregos precisavam mudar o seu conceito de religio diante da nova

    realidade. Mudar para permanecer.

    Apenas a religio persa de Ahra Mazda havia experimentado o gostinho de um

    reinado mundial. Ainda assim, sem poder absoluto sobre os pases dominados. De

    qualquer maneira, a prxima religio a ser inventada j sabia como no deveria ser.

    O episdio que estalou no sculo I da Era Crist com destruidora violncia, ao

    qual se refere o professor Will Durant, foi a guerra romano-judaica de 66-70/3 (a vitriaromana foi em 70, mas a fortaleza de Massada resistiu at 73), cuja importncia ficou

    minimizada na Histria. Acabou parecendo um simples conflito entre os dominadores

    romanos e os dominados judeus. No entanto, informaes fragmentadas apontam para

    outro lado, um lado que se evita comentar para no causar embaraos cultura

    dominante.

    [...]. Consequentemente importante

    compreender que a revolta judia contra Roma era, no fundo, um

    conflito entre a cultura judaica e a grega. (JOHNSON, 1989, p. 124)

    Durante a pesquisa pareceu-me que somente o historiador Paul Johnson se

    referiu ao fato com todas as letras. Os judeus eram amistosos com os romanos e bons

    pagadores dos tributos.

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    Enquanto os judeus assim

    desfrutavam de governo prprio, pareceu a Roma que, lisonjeando-os

    nessa posio, eles seriam menos cansativos que os gregos e mais

    aptos a suportar o poder administrativo. Por isso, Augusto, ao mesmo

    tempo em que refreava os gregos alexandrinos, confirmava osprivilgios judaicos. (GRANT, 1977, p. 61)

    Eram os gregos que davam trabalho aos romanos, especialmente os de

    Alexandria, no Egito, e os da Palestina com seu antis-semitismo ferrenho. O imperador

    Cludio (41-54) se viu obrigado a mandar enforcar alguns deles em 53. Estes foram

    canonizados como mrtires antis-semticos. grega a origem do antis-semitismo, dos

    gregos daquela poca, bem entendido.

    A guerra romano-judaica foi uma cilada preparada contra o Judasmo e um

    atentado contra o templo de Jerusalm. Por trs disso encontravam-se civis e militares

    gregos a servio do governo imperial romano. A influncia e a participao direta dos

    anatolianos, escravos libertos que haviam se entranhado no governo imperial, foi num

    crescente tal dominando Roma que favoreceu seus interesses ocultos. O prprio

    imperador Cludio introduziu o costume de chamar para seus ministros e principais

    conselheiros polticos esses cultos, talentosos e abastados libertos, que possuam um

    poder jamais atingido por um senador. Os trs secretrios de Estado: Palas (Finanas),

    Narciso (Secretaria de Estado) e Calisto (Peties), so bons exemplos de tal situao.

    Tambm Nero (54-68) esteve envolvido por poderosos e temidos libertos, como Paris,

    Hlio e Epafrodito.

    Esses ex-escravos se serviam dos romanos para a sua poltica antis-semita e,

    injustamente, os romanos passaram para a Histria como inimigos dos judeus. O

    professor Will Durant conta que Palas nomeou seu irmo Flix como procurador na

    Judeia. Esses procuradores instituram uma tradio de corrupo e maus tratos aos

    judeus, que culminou com a nomeao de Gssio Floro (64-66). Foi este o ltimo

    procurador na Judeia e o deflagrador da guerra. Nomeado para o posto e transferido da

    sia Menor, Gssio Floro ultrapassou todas as medidas. Provavelmente, acreditavam os

    gregos que a destruio do Templo e a interdio de Jerusalm aos judeus fossem fatais

    ao judasmo, que se encontrava num processo de estrangulamento cultural. Corte a

    cabea que o corpo cai.

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    A manipulao poltica por trs dos panos, desse poder anatoliano, se serviu

    tambm da insatisfao dos rejeitados galileus nessa cilada. O Judasmo galileu devia

    ser escrito entre aspas, por causa da falta de assistncia cultural da parte dos judeus.

    No existiam sinagogas na

    Galilia nos sculos I e II. Surgem s na metade do sculo

    III. (HORSLEY, 2000, p. 121)

    Em 78 da Era Antiga, os ashmoneanos conquistaram e absorveram a Samaria,

    Edom, Moab, Galileia, Idumeia, Transjordnia, Gadara, Pela, Gerasa, Rfia e Gaza. O

    judasmo e a circunciso foi um processo que os descendentes dos ashmoneanos

    impuseram aos seus novos sditos pela fora da espada. O pouco que os galileus

    assimilaram da religio judaica teve um custo muito elevado para uma gente humilde e

    feroz defensora dos prprios costumes. Portanto, sempre houve muito ressentimento

    entre os judeus convertidos e os judeus tradicionais da Judeia, que os desprezavam.

    [...]. Geralmente, porm, Josefo fazdistines claras entre os galileus e idumeus e os judeus

    como ethnoi ou povos distintos. (HORSLEY, 2000, p. 33).

    Na rida Jerusalm, o esforo dos moderados que compunham o ncleo do

    Judasmo tradicional (saduceus e fariseus) e o governo judeu institudo pelos romanos

    (Herodes Agripa II), contra a exacerbao da periferia do Judasmo, especialmente a dos

    zelotas, precisava de muito pouco para ser anulado por uma guerra civil. A liderana judaica devia estar perfeitamente consciente da dificuldade que enfrentava interna e

    externamente, e do perigo que representava essa massa de manobra composta de

    convertidos sob influncia grega. Os radicais zelotas, ou zelotes, conhecidos tambm

    como sicrios, eram um grupo agressivo e desejoso de guerra que apunhalavam na

    multido aqueles que consideravam colaboradores dos romanos, provocando a ira dos

    dominadores, segundo Flavio Josefo (historiador judeu que lutou nessa guerra e depois

    se aliou aos romanos) Os zelotes haviam surgido no tempo do procurador Flix (52-60),irmo de Palas, o secretrio das Finanas de Cludio. Seus adeptos provinham das

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    camadas mais pobres do campo e da cidade, compostos de jovens descendentes de

    convertidos, com os hormnios e a rebeldia flor da pele. Em Jerusalm, eram

    considerados impuros e valiam menos do que uma mulher de uma famlia tradicional.

    Os judeus da Judeia desprezavam os

    galileus como sendo gente atrasada, como os galileus desprezavam os

    da Judeia como escravos manietados na teia da Lei. E havia tambm o

    perptuo atrito entre judeus e samaritanos. (DURANT, 1971. vol. III,

    p.415).

    Essa guerra de 66-70/3 foi um dos episdios mais sanguinolentos resultantes do

    ardiloso antis-semitismo grego. A Judeia foi devastada, Jerusalm incendiada, o Templo

    destrudo e centenas de milhares de judeus foram mortos. Foi o golpe mais duro que o judasmo

    sofreu.

    A astcia desses libertos precisava de conteno. Os romanos haviam sido

    usados como um arete contra os portes do Judasmo. A obstinao de destruir o

    Judasmo e a explorao poltica da situao de misria dos convertidos mostrava o

    quo perigosos eram aqueles para a administrao romana. Perigo esse que Vespasiano

    experiente general incumbido por Nero para por fim rebelio na Judea e que

    posteriormente tornou-se imperador (69-79) - soube identificar. Vespasiano, Trajano e

    os seus sucessores julgaram imprudente confiar de tal modo em ex-escravos; e os cargos

    de secretrio de estado foram doravante preenchidos exclusivamente por romanos da

    classe dos cavaleiros. Finalmente, Roma comeava a despertar para o que se passava

    debaixo do seu nariz. Entretanto, a cultura romana continuou sob o domnio grego. Esse

    o ponto fundamental.

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    Captulo III

    Duvido que algum tenha aprendido no ensino formal o que foi exposto atagora. Certa vez, uma professora, que fazia ou faz parte do laboratrio de Histria

    Antiga de uma importante universidade do Rio de Janeiro, me perguntou se esse

    confronto cultural entre gregos e judeus havia mesmo acontecido. A especialidade dela

    era outra. Fiquei perplexo. No critico a professora e, sim, o ensino. O conhecimento

    desse confronto mais proveitoso ao entendimento contemporneo do que a descoberta

    de Colombo. Como essa histria dentro da Histria ainda no saiu da sombra,

    organizada e publicada por um reconhecido doutor historiador, os servidores da culturadominante no se veem noutra alternativa.

    [...] as universidades no

    podem ser mais universais do que as pessoas que ensinam e

    aprendem dentro de suas paredes. Poucos so aqueles que

    vo alm do aprendizado da moda de seu tempo, [...]

    (DAVIES, 2000, p. 58)

    O desejo de aprender nasce com o indivduo, de modo que o ensino se evidencia

    como o modelador de sua mente e dos valores que o orientaro por toda vida. Aquilo

    que ensinado como verdadeiro ou falso, como bom ou mal, estabelece dessa maneira o

    conceito de verdade. Essa verdade est ligada s experincias passadas e s concluses

    extradas por aqueles que gerenciavam o conhecimento. O conhecimento fez com que

    os acontecidos fossem registrados com a inteno de se levar adiante um determinado

    entendimento da verdade, e no, simplesmente, preservar a memria. Seria

    surpreendente se a Histria estivesse isenta desse aspecto partidrio.

    O fato que lidamos com uma verdade estabelecida, encapsulada numa

    historicidade considerada intocvel por alguns e falseada por outros. Essa polmica

    muito antiga, mas estava restrita ao meio intelectual, envolvida num particularismo que

    no se estende ao entendimento comum.

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    A verdade histrica a mais ideolgica

    de todas as verdades cientficas [...] Os termos de subjetivo e de objetivo j no

    significam nada de preciso desde o triunfo da conscincia aberta [...]. A

    verdade histrica no uma verdade subjetiva, mas sim uma verdade

    ideolgica, ligada a um conhecimento partidrio. (ARON cit. por Marrou, s/

    data, p. 269)

    Desde o sculo IV da Era Crist os gerentes do conhecimento impem sua

    verdade ao ensino.

    A humanidade teria ento uma

    histria comum e uma direo nica: a vitria romana e a salvao crist. A

    histria da salvao romano-crist rene tempo e eternidade, histria e Cristo.

    Foi uma ideia absolutamente nova, que nem os judeus haviam chegado a

    formular, obcecados com a ideia de um povo eleito.[...] Os eventos histricos

    eram manifestao de Deus, cuja vontade devia ser decifrada. O destino das

    naes, as lutas polticas se submetiam vontade divina. Essa ideia nova criou

    uma histria nova a histria universal. (REIS, 2003, p. 19)

    Dando prosseguimento a essa poltica educacional, Incio de Loyola (1491-

    1556), por exemplo, fundador da ordem da Companhia de Jesus, ensinava que, se a

    Igreja decidisse que o branco era preto, o dever de seus filhos era acreditar. Havia

    missionrios jesutas na frica, no Japo e na China, na Amrica do Norte e do Sul.

    Fundaram, aos milhares, colgios e seminrios na Europa e na Amrica e insinuaram-se

    tambm em instituies mais antigas. Durante sculos, detiveram o monoplio da

    educao na Espanha e um quase monoplio na Frana. Os mtodos de coero

    utilizados por milnios fundaram o atual e lacunar conceito de verdade, histrica

    inclusive.

    Se um simples acidente de trnsito capaz de gerar diversas verses da parte

    daqueles que o presenciaram, por que sobre a Histria Universal no encontramos um

    nico livro com uma verso diferente, que mostrasse como, de fato, ocorreu o processo

    de transio da Era Antiga para a Era Crist e as suas verdadeiras causas? At hoje issoparece natural. Mas no .

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    Por pura coerncia, a nossa intelectualidade encontra-se sentimentalmente e

    existencialmente impossibilitada de se envolver com a verdade mais simples. Por isso,

    no devemos contemplar a Histria com os olhos que ela nos deu. O passado, sob o

    olhar crtico do presente, no mnimo pode render boas questes. Portanto, precisamos

    ter, ao menos, uma pequena noo das foras culturais exercidas sobre a Histria.

    O professor Marrou, um vigoroso cristo e clebre historiador, aconselha que, ao

    pretendermos lidar com a Histria, o primeiro passo definir a pergunta a ser feita ao

    passado. Assim sendo, no encalo das pegadas, o abordaremos com a seguinte pergunta:

    Por que seguimos os judeus?

    Muitos j se fizeram essa pergunta em algum momento da vida. Os judeus so

    desafetos culturais do mundo cristo. Nascemos ouvindo falar mal deles. At hoje,

    alguns chegam a dizer que Hitler estava certo. Contam histrias absurdamente ridculas

    para satisfazerem inconscientemente os apelos dessa herana mals. Pessoas que no

    tm em suas vidas nada que justifique esse dio, pensam assim. Apesar de tanto, o

    envolvimento cultural faz pouco caso da inteligncia e no deixa ver o quanto

    estranho o acatamento do Antigo Testamento. No faz sentido se adotar o livro sagrado

    de um povo sob tamanha inclemncia crtica e seguir orientado por suas tradies. Se a

    luz da Histria ainda no ilumina a, porque ainda no iluminou a si mesma.A presso exercida pela cultura hebraica sobre a cultura ocidental tem uma

    histria embaraada: na poca das monarquias helensticas a populao judaica era

    considervel, inclusive, nas inmeras cidades que os gregos fundaram no Oriente.

    Agrupavam-se principalmente em quatro zonas: Babilnia, Sria, sia Menor e o Egito

    possuindo cada uma um milho de judeus, o que era muito para a poca. Tambm em

    grande proporo encontravam-se nas ilhas do mar Egeu, na Grcia, na Itlia, na

    Hispnia (nome dado pelos romanos a toda Pennsula Ibrica), na Cirenaica (na atualLbia) que tambm j foi chamada de Atenas da frica, cuja capital era Cirene. Os

    judeus trabalharam na construo, na remodelao ou na expanso de muitas dessas

    cidades. Eram sditos leais e dedicados. Como seus costumes eram conhecidos e seu

    trabalho precioso, alguns soberanos das monarquias helensticas no implicavam com

    eles, inclusive o Senado romano relacionava-se bem com os ashmoneanos.

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    Quando Roma comeou a importar

    trigo egpcio, eram os mercadores judeus de Alexandria que em seus

    barcos transportavam o produto. Percebendo os gregos que haviam

    fracassado na helenizao dos judeus, comearam a temer pelo

    prprio futuro, num Estado em que a maioria continuavapersistentemente oriental e se reproduzia com tanta intensidade.

    (DURANT,1971, p. 468)

    Entretanto, como a tradio judaica no permitia o casamento com estranhos,

    agrupavam-se em bairros prprios, crescendo e multiplicando conforme a Torah (a lei).

    No sculo I da Era Crist a populao judia estimada entre 8 a 10% da populao do

    mundo conhecido. Os helenos pressentiam a ameaa sua devotada cultura com a

    incontida procriao dos judeus e a crescente curiosidade popular por aquele modo de

    vida. As converses estavam em alta. O mundo hoje poderia ser judeu e quase ningum

    sabe disso.

    Registram-se converses por toda parte -

    sobretudo das mulheres, porque muitos homens consideravam a

    circunciso repugnante e forma-se uma categoria de meio-convertidos, os sebmenoi (os que temem a Deus). (LVQUE, 1967,

    p. 50)

    Vista pelos gregos como uma mutilao absurda, a circunciso era um

    impedimento ao progresso decisivo do Judasmo nas classes baixas. Os habitantes

    daquelas cidades j no tinham interesses e um passado comum como os helenos de

    outrora. A diferena de nvel de vida fazia-os viver de maneira muito diferente e osdeuses das cidades no os ajudavam nisso. Mais um motivo para o enfraquecimento do

    culto ptria como um culto religioso. O deus dos judeus era outro, voltava-se ao

    indivduo, prometia proteo e prosperidade em troca do cumprimento da sua lei. Exigia

    um tipo de lealdade que no ofendia o Estado. Um grande problema para os inimigos do

    judasmo estava ali enunciado e pedia uma soluo altura.

    Na poca, o conceito de divindade e religio era bem diferente dos de hoje. O

    Judasmo no uma religio transcendente. Ocupa-se unicamente da vida que se leva,carnal por assim dizer, e de nada mais.Uma poltica religiosa para a conduo do povo,

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    na qual est claramente expresso o que deve e o que no deve ser feito. Do ponto de

    vista helnico, como j foi dito, religio era coisa de mulher e escravo, os mais

    desfavorecidos naquela sociedade. O Estado havia estabelecido os deuses cuja

    venerao era indispensvel para o bom comportamento dos cidados. A religio era,

    em essncia, um fenmeno poltico.Assim sendo, em ambas as culturas, a religio tinha

    um valor utilitrio, cujo objetivo era o bom comportamento dos cidados. Sendo que na

    primeira, prestigiava-se implicitamente o prprio povo, e na segunda, explicitamente o

    Estado.

    O futuro dos gregos e de tudo o que eles haviam construdo estava em jogo e

    dependia da religio naquele momento histrico. O assunto de mulheres e escravos

    tornara-se assunto de segurana cultural.

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    Captulo IV

    A conquista romana do mundo grego, ao mesmo tempo em que insinuava a

    criao de um estado universal, se mostraria como um cavalo de Troia, em Roma. No

    sculo II da Era Antiga, Roma conheceu um novo tipo de escravo, mais culto e sbio do

    que seu senhor os gregos macednios e atenienses. Com o reincio da sua expanso

    pela Anatlia, Sria e Judeia, no comeo do sculo I da mesma Era, outro tipo de

    escravo, ainda mais caracterstico, passou a chegar a toda Itlia. Entre os gregos, eram

    eles os mais articulados ideologicamente e inconformados com o domnio romano - os

    arruinados anatolianos.

    A explorao intensiva das cidades ricas do Oriente transportava da Anatliapara a Itlia, alm das riquezas materias, hbeis agricultores, tintureiros, teceles,

    perfumistas, cozinheiros, pintores, ferreiros, cinzeladores, msicos, engenheiros,

    arquitetos, literatos, gramticos; homens e mulheres de inteligncia fina tratados como

    mercadorias de alto valor.O patrimnio acumulado pela civilizao helnica, desde as

    conquistas de Alexandre, passava para as mos dos financistas italianos. Aquela gente

    culta e refinada via-se obrigada a vender filhos e filhas; por fim, entregavam-se como

    escravos, sem opo, diante da desgraa financeira provocada por dvidas compulsrias.Roma era uma repblica de camponeses que se assenhoreava dos domnios e dos

    bens de uma civilizao responsvel pelas grandes conquistas do Ocidente, sem estar

    qualificada para administrar a oportunidade que se apresentava. At o incio da Era

    Crist, Roma destri, sem construir, algo de novo altura daquilo de que se apropria.

    Pilha e arruna, pondo em perigo as cidades que se tornaram suas, e, sacando

    imprudentemente sobre um capital que j seu compromete o prprio futuro. O

    arrefecimento dessa prtica predatria se deve crescente influncia da cultura gregasobre a rusticidade romana culminado pelo Cristianismo.

    Enquanto isso, tal situao calamitosa, vivida em solo grego sob a administrao

    de pr-cnsules nomeados pela Repblica Romana, foi encontrar uma melhora na

    administrao de Augusto (63-14), um admirador da cultura helnica. A tem incio uma

    reao arquitetada pela astcia anatoliana, para a manuteno do modelo cultural, social

    e econmico que os gregos asiticos haviam conquistado, e, no entendimento deles,

    deveria ser estendido a toda Humanidade.

  • 8/6/2019 Jesus Cristo Presente Dos Gregos

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    Quando Augusto esteve em visita sia Menor, encontrou templos que se

    erguiam em sua homenagem. Havia o cuidado para que a devoo no se traduzisse

    apenas em algumas cidades, mas em toda a sia Grega. Altares foram devotadamente

    erguidos. Regulamentaram o culto de Augusto que deveria constar em todos os templos.

    No bastava s cidades da sia Menor adorar o presidente da repblica latina; era

    importante que o culto se difundisse por toda parte. Esse culto era uma novidade

    estranha, a adorao de um deus vivo era apenas praticada no Egito, o costume na sia

    Menor era inclu-los na legio dos deuses somente depois de mortos. Enquanto na Itlia

    se tentava restaurar a Repblica, por que esse costume egpcio surgira repentinamente

    se enroscando como uma planta trepadeira no primeiro magistrado?

    Depois de tentarem divinizar os pr-cnsules, que tinham um mandato curto (um

    ano), sabiam os gregos asiticos que o homem certo havia chegado. Ele devia ser a

    fora coordenadora dos interesses particulares das suas cidades, sua muralha contra a

    Prsia, o protetor do seu comrcio, como nas antigas monarquias helensticas. Da os

    anatolianos fizeram de Augusto um deus. Mas, no era s isso, era o incio do fim de

    Roma.

    No final do sculo I da Era Antiga, boa parte da classe mdia romana era de

    origem anatoliana. A desconfiana contra essa nova classe mdia, que decidida ia

    ocupando todos os espaos, fazia alguns romanos tradicionais alertarem sobre os que

    impunham seus hbitos estranhos e a sua moral duvidosa aos seus, como um rio que

    sobe o nvel silenciosamente, prestes a uma absoluta inundao que poderia arrastar a

    honra de Roma, seus costumes e suas crenas.

    A influncia greco-oriental tornara-se absoluta em Roma; a partir da, quando a

    cidade j no contava com a resistncia cultural de eloquentes defensores das tradies

    romanas, como Cato (234-149), o censor, que tambm era um grande prosador, mas

    ficou conhecido pela sua intolerncia s novidades estrangeiras (era funo do censorfazer o censo e zelar pelos costumes).

    Fazer de Augusto um deus era um bom comeo. A instituio da monarquia,

    eleita como a forma de governo ideal no processo de dominao cultural do helenismo

    sobre os outros povos, era vital aos interesses dos gregos asiticos. A influncia destes

    sobre a rusticidade romana, consolidada pela nova classe mdia, encontrava no Senado

    Romano uma forte resistncia. O apoio s antigas tradies, garantido pelo Senado com

    o cargo de censor, e o compartilhamento do poder entre os senadores e o primeiromagistrado, era o que de pior existia aos interesses anatolianos. Por isso, com o advento

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    do imprio, o Senado de Roma tornou-se um venervel e intil monumento

    Antiguidade. A vontade de um deus no se discute.

    Os judeus tambm perderam com isso, porque a tradio hebraica os proibia de

    reverenciar outro deus que no o de Israel. Vide a poltica anti-judaica de Calgula no

    sculo em se que inaugurava o imprio. A criao do Imprio Romano foi um desastre

    para muitos, principalmente para os futuros imperadores, que foram assassinados com

    frequncia em virtude do ambiente de ambio e intrigas que os envolvia. No Oriente,

    esse estado de coisas no ameaava a pessoa divina do soberano. No Ocidente, o deus

    de mentirinha, figura estranha s tradies locais, estava em maus lenis.

    Alm de tudo, o contragosto dos tradicionalistas romanos no era bastante para

    conter o entusiasmo com as novidades de grande parte da juventude de romana. Ovdio

    (43-17), poeta romano, reflete o entusiasmo com as aquisies culturais do seu povo,

    nos seguintes termos:

    Que outros guardem as suas

    simpatias para o passado. Eu congratulo-me por ter vindo ao mundo

    agora. Esta idade condiz com meu gosto. [...]. porque temos cuidado

    com o corpo e o nosso tempo no conhece j essa rusticidade que

    longos anos este sobreviveu aos nossos antigos avs. (OVDIO, 1965,p. 111)

    O progresso dos costumes anatolianos foi se tornando cada vez mais evidente

    em Roma. Os antigos monarcas da Anatlia eram tambm o grande sacerdote. Os

    imperadores romanos igualmente reservariam para si o grande pontificado (servir de

    ponte entre os homens e os deuses).Os imperadores asiticos no podiam esquivar-se

    obrigao de estarem presentes nas festas muito importantes. Exatamente como eles, osimperadores romanos exerceriam em carne e osso o culto de Jpter Capitolino. Os

    gregos asiticos moldavam a seu gosto a nova Roma, ao tempo em que asseguravam

    seus interesses no comrcio internacional.

    Ao desembarcar na sia Menor,

    Augusto entrara em contato com uma das trs maiores regies

    industriais do mundo antigo, e que eram, precisamente, a sia Menor,a Sria e o Egito.(FERRERO, 1965, P. 138)

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    As cidades gregas da sia Menor eram de longe as mais ricas e representativas

    desse poder econmico. Em Roma, muitos ex-escravos anatolianos se beneficiaram

    largamente da onda de prosperidade comercial iniciada com a Paz de Augusto. Um

    deles, que teria perdido grande parte da sua fortuna nas guerras civis, deixou, ao morrer,

    3600 juntas de bois, 250 mil cabeas de gado mido e, o que quase se inclua na

    descrio de gado, 4116 escravos. A escravido era o motor da economia na

    Antiguidade e, o fato de um ex-escravo possuir tantos escravos, d uma ideia do poder

    econmico e do prestgio social desses novos romanos.

    O historiador italiano Guglielmo Ferrero (1871-1942) acreditava que Jlio Csar

    talvez ambicionasse conciliar a aristocracia e a democracia no imperialismo. Uma Roma

    remodelada pela cultura helnica iluminaria o mundo. Governadacom o auxlio de umaclasse mdia abastada e culta e de uma aristocracia enrgica e prudente, franqueada aos

    homens e s ideias novas, tal repblica cumpriria o ideal de hegemonia universal de

    Alexandre.

    A nova situao poltica e econmica, que se encontrava em curso, favorecia

    sobremaneira a uma transformao profunda no mundo antigo. Roma era uma leoa de

    estmago cheio, numa soneca tranquila ao p de uma frondosa rvore, enquanto seus

    filhotes brincavam sem vigilncia. Tudo era muito oportuno aos gregos: os dominados,

    mais sbios e consequentes, tinham nas mos seus dominadores, que constituram

    fortunas custa de guerras e despojos, e, naquele momento, eram os dominados os

    favorecidos no aprimoramento da cincia do capital com a Paz Romana, a construrem

    suas fortunas nos tempos de paz. O financiamento para qualquer projeto no sentido de

    se preservar e dar seguimento aos interesses helnicos estava garantido.

    A grande virada grega havia se iniciado e se desenhava com a implantao do

    imprio. No entanto, o dio grego havia deixado uma escandalosa mancha de sangue,

    iniciada na sua inaugurao, primeiro sculo da Era Crist, e continuava avanando

    como numa campanha de extermnio difcil de justificar. Depois da guerra de 66-70/3,

    sob Nero (54-68), outra guerra promovida pelo mesmo dio se deu sob Trajano (98-

    117), a guerra de Kitos (115-117). Na sequncia, o imperador Adriano, apaixonado pela

    cultura helnica, reconstruiu Jerusalm como uma cidade grega, pensando erigir uma

    esttua de Zeus no lugar do segundo templo, provocando mais uma revolta (132-135).

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    Novamente massacres, milhares de mortos e a proibio dos judeus Jerusalm, ou

    Aelia Capitolina, como passou a se chamar a cidade.

    Mesmo sem o templo e a perda de Jerusalm, os judeus voltavam a se organizar.

    O estrago foi grande, mas no definitivo como se pretendia. Desde o sculo III da Era

    Antiga os gregos tentavam sem sucesso liquidar o Judasmo pela fora. Entretanto, no

    havia interesse romano nessa desmesurada obsesso e nem todos os imperadores eram

    influenciveis ao ponto de tomarem para si o propsito deles. Como j vimos, depois de

    Otvio Augusto, a sorte dos judeus passou a depender do entusiasmo do imperador

    romano pelo helenismo, o que ainda no era o bastante para os gregos. No sculo II da

    Era Crist Antonino Pio (136-161) deixou isso claro, ao revogar a poltica anti-judaica

    do seu antecessor, o imperador helenista Adriano (117-136), restituindo o direito da

    liberdade de culto aos judeus. Alis, sob dois dos Antoninos a sorte dos judeus

    melhorou. O sucessor de Antonino Pio, Marco Aurlio (161-180), viria a conceder a

    cidadania romana aos judeus. A inutilidade de tais aes de custo elevado levou os

    inimigos do Judasmo a outro raciocnio. Era hora de mudar.

    Tem incio uma histria difcil de aceitar, para alguns, e fcil de compreender,

    para todos. A experincia jnia foi fundamental no seu desenvolvimento e a cultura

    helenstica, por si s, j dava uma pista do que viria a ser a soluo definitiva.

    Esgotados os recursos do bem e do mal, o jeito seria usar a fora do adversrio contra

    ele mesmo. Uma soluo polmica, mas no havia escolha. Precisavam ser geis

    naquele momento, porque nesse mesmo sculo II ganhava fora o gnosticismo, que

    condenava o deus de Israel como um farsante no lugar do verdadeiro Deus. O antigo

    antis-semitismo, que se comprazia com essa nova opo helenstica, seria mais uma

    grande dificuldade pretenso de um Judasmo grego, o antdoto contra o autntico. Por

    isso, o gnosticismo precisava ser vencido o quanto antes.

    A revogao da poltica anti-judaica de Adriano, por Antonino Pio, foi o

    momento certo para se mudar de estratgia, porque o Judasmo no se encontrava mais

    na ilegalidade e tentaria recuperar o tempo perdido. Todavia, em vantagem nessa guerra

    cultural, os gregos teriam algum desgaste ao enfrentarem a si mesmo, o que no era

    novidade alguma, apenas um risco calculado. O foco do gnosticismo se encontrava em

    Alexandria, no Egito, conhecido centro antis-semita, que no era to poderoso assim,

    uma vez que a ascendncia anatoliana se mostrou evidente em todo esse processo.

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    Tratava-se de um projeto de longo prazo e a maioria dos propagandistas da nova

    cultura vinha da sia Menor. A Sria e o Egito gregos tambm tiveram um papel de

    vanguarda na sua elaborao, que se formava a partir daquela oportunidade. A capital

    do imprio seria o centro de irradiao para os seus domnios, servindo-se das inmeras

    estradas construdas para as legies. Todos os caminhos, tanto levavam quanto partiam

    de Roma. A partir de 140 comeou a chegar quela cidade uma leva desses

    propagandistas peculiares, para fundarem as primeiras escolas dedicadas formao dos

    servidores da nova cultura.

    Nada mais grego do que a ateno aos mtodos educativos. A implantao de

    uma nova cultura era uma tarefa herclea, mas Hrcules era grego. O novo Judasmo

    era, sem dvida, uma afronta a eles prprios, um remdio amargo reservado pelo

    destino que teriam que engolir. Se no foram capazes de convencer os judeus das

    vantagens do helenismo e nem conseguiram extermin-los, podiam, ao menos, botar um

    freio nas converses e, redirecionando os sebmenoi (os que temem a Deus), at quem

    sabe pescarem alguns judeus incautos. Seria um timo comeo.

    O anatoliano Irineu (130-200), um dos continuadores desse movimento, inimigo

    ferrenho do Judasmo e do gnosticismo, defendia que a unidade e a existncia da nova

    cultura dependiam do Antigo Testamento, que preparava a Humanidade para o dom doEsprito. Muito estranho, no?

    O apelo por um mundo unido forte e tocava a sensibilidade de muitos. Era o

    sentimento de uma poca de gente culta. Para tanto, os gregos teriam que ser mais

    eficientes do que foram os persas, porm; no contavam com uma poltica religiosa que

    os auxiliasse na unificao de povos com costumes diferentes. A crena religiosa era o

    nico ponto em comum entre todos os povos. Afinal, o Homem um deus cado.

    Evidentemente, tal ajustamento teria que se dar por a. Da a importncia da antigaexperincia jnia. Os jnios aprenderam muito com as crenas mesopotmias que

    influenciaram a Anatlia, por causa do seu intenso comrcio. A crena judia era uma

    delas. Segundo essas crenas, era pelas leis dos deuses que os homens deviam ser

    governados. Os mais antigos cdigos da Humanidade se fizeram assim.

    comum confundir fazer poltica com religio com poltica religiosa. Esta

    ltima, no caso, alm dos perigos que oferece, um mtodo eficiente para a focalizao

    da vontade, disponibilizando as reservas interiores ao indivduo, abrange a origem

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    alegrica do povo judeu, a histria, a religio, o cdigo civil, o cdigo penal, o direito

    do trabalhador, as relaes sociais, a famlia, a sade, etc. Enfim, tudo devidamente

    codificado e bem amarrado num nico pacote de cunho religioso. Fruto da praticidade

    mesopotmia. No se precisava explicar nada ao sujeito, os deuses querem assim e

    pronto! O Antigo Testamento era o segredo da sobrevivncia do Judasmo e tambm se

    prendia educao.

    Educao e religio formavam a combinao fundamental. O primeiro passo

    seria dar um fim rigidez mosaica, tornando o novo Judasmo mais flexvel e sensvel

    aos costumes helensticos, na medida do possvel, claro! No se podia insultar mais o

    deus de Israel, que deixava de ser um farsante para assumir o reino dos cus perante os

    gregos da periferia. O segundo passo seria eliminar a exigncia da deplorada

    circunciso. Desse modo se reuniria a famlia em pouco tempo, tornando o Judasmo

    grego mais gil e fortalecido para prosseguir.

    A extrema audcia desse movimento fomentado por uma elite cultural criou um

    filho para o Deus de Israel, uma anttese ao prprio Judasmo, a partir de uma profecia

    judia. Foram perfeitos: o filho, na pele do messias salvador, estabelecia uma nova

    aliana com a Humanidade, e no s com os judeus. Uma resposta aos anseios

    populares da poca e um muro de contenso expanso do Judasmo.

    Como notrio, e muito apropriado s circunstancias que envolvem uma

    histria dessas, o messias salvador da Humanidade acabou morto por vontade dos

    judeus. Assim sendo, a sorte desse povo deicida e inimigo da Humanidade ficou

    selada pelos seus desafetos culturais.

    No toa que todos os documentos referentes foram escritos em grego,

    exatamente em koin.

    O documento principal de que

    dispomos para conhecer as primeiras dcadas da Igreja constitudo

    pelos Atos dos Apstolos [...]. Quem escreve grego e escreveu para

    gregos [...]. (DANILOU; MARROU, 1966, p. 27)

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    A unidade helenstica afirmava-se principalmente na lngua, o koin. At ento,

    no havia uma lngua grega, sim vrios dialetos escritos e falados pelo povo grego. O

    tico no era a nica lngua literria. Pndaro escrevera em drico e Herdoto em jnico.

    O tico era apenas o mais prestigioso dos dialetos do mundo grego. Alexandre falava o

    jnico tanto na vida oficial quanto na vida privada, recorrendo excepcionalmente sua

    lngua nacional. Foi o tico, auxiliado pelo jnico, que contribuiu com o essencial para

    o koin, informam os professores Aymard e Auboyer.

    At hoje no se tem notcia de um nico documento da poca (primeiro sculo

    da Era Crist) escrito em aramaico ou mesmo em grego ou latim.Nenhum escritor da

    nova cultura se manifestou nessa poca porque o movimento ainda no existia.

    Mack (Burton) com justeza

    enfatiza que todo texto que temos de Jesus atrasado; eu diria um

    pouco alm e os consideraria angustiantemente tardios. De fato,

    retorno minha questo inicial sobre nossa falta de texto aramaico do

    que Jesus disse: no um extraordinrio escndalo que todos os textos

    decisivos do Cristianismo sejam to surpreendentemente tardios? (cit.

    de BLOOM; MAYER, 1993, p. 127)

    Posteriormente, os gregos lanaram mo de um expediente muito comum entre

    os helensticos, ou seja, plantar histria no passado. A literatura apocalptica um bom

    exemplo dessa prtica (Apocalipse significa revelao). Expediente nada complicado

    para filsofos e historiadores. A guerra de 66-70/3 havia destrudo todos os vestgios de

    uma histria que nunca existiu. Foi montada com pedaos de outras.

    [...] a verso tradicional sobre o

    nascimento do cristianismo na Palestina no digna de f; as

    informaes mais verossmeis sobre as comunidades crists mais

    antigas nos levam sia Menor [.. .] (LENTSMAN, 1963, p. 110)

    essa a versoonde os mistrios sobrenaturais no sobrevivem. A humanidade

    que dela transpira enlaa sem dificuldades o passado ao presente. Alguns podem noaceit-la, mas todos podem compreend-la.

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    A inadmissvel inexistncia de comprovaes da verso crist para os primeiros

    sculos encontrou crticos severos entre os prprios intelectuais cristos, quanto

    persistncia dessa bruma sobre os primrdios do cristianismo. O conhecido historiador

    Edward Gibbon (1737-1794) critica abertamente a histria da Igreja; critica Justino,

    tanto pela inabilidade dele como escritor, e dos apologistas que o sucederam, como lhe

    atribui o hbito de confundir a realidade com seus desejos e apelar para o recurso da

    fraude. Alis, foi ele quem fez um estudo meticuloso das profecias judaicas. Outro

    intelectual cristo, Maurice Lachatre (1814-1900), se queixa da falta absoluta de

    historiadores verdicos e da multido de livros em grego e latim como um obstculo ao

    julgamento pessoal e igualmente reclama das fraudes pias.

    As invenes so presena constante na histria crist. Uma das mais conhecidastenta justificar a chegada da nova cultura ao poder: na noite anterior uma decisiva

    batalha, o imperador Constantino sonhou com uma cruz, e nela estava escrito: Sob este

    signo vencers. No dia seguinte, pela manh, mandou que pintassem uma cruz nos

    escudos dos soldados e a vitria foi esmagadora sobre o inimigo. Uma das prolas do

    seu bigrafo, o grego Eusbio de Cesaria (265-339), o pai da histria do cristianismo

    primitivo.

    Eusbio (260-340, aproximadamente),

    Bispo de Cesaria, entre outros livros, comps a primeira Histria

    Eclesistica que contm documentos muito importantes relativo ao

    sculo III, e, particularmente, ao sculo II, mas este autor falsificava

    frequentemente os documentos de que dispunha. Jacob Burckhardt, do

    qual no se poderia suspeitar de estar inclinado para o materialismo,

    refere-se a Eusbio nestes termos severos: Depois das imensurveisdeformaes, reticncias e mentiras constatadas nos seus escritos, no

    se tem o menor direito de consider-lo como uma fonte digna de

    confiana. Convm acrescentar a tudo isso as obscuridades

    intencionais, a retrica calculada, as ambiguidades sem nmero deste

    escritor. (LENTSMAN, 1963, p. 47)

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    No sculo IV da Era Crist, a nova cultura atingiu uma importante etapa do seu

    objetivo a chegada ao poder; que se deu por intermdio do imperador Constantino

    (227-337). Os gregos cristos e seus irmos de crena romanos (scios minoritrios)

    assumiram prontamente a mquina estatal e no perderam tempo. Os primeiros

    smbolos cristos aparecem nas moedas como instrumento de propaganda, desde 315.

    As ltimas representaes pags desaparecem em 323. Logo, em 330, a sede do imprio

    seria transferida para a sia Menor, ocupando o local de uma antiga base militar grega -

    Bizncio.

    O esvaziamento da importncia de Roma em benefcio da nova capital do

    imprio e do Cristianismo, Constantinopla, calou fundo na alma latina. Os gregos

    sempre desprezaram os latinos. Era o princpio do fim de uma frgil e interesseira

    aliana. Nasceria, ento, a Igreja Catlica Apostlica Romana e a Igreja Ortodoxa

    Grega, com o trmino da Igreja original, a Igreja Catlica (universal).

    Roma foi-se confundindo aos poucos

    com os reinados dependentes que em outrora lhe haviam reconhecido

    a supremacia; e o pas dos Csares passou a ser olhado com friaindiferena por um prncipe guerreiro (Constantino), nascido nas

    vizinhanas do Danbio e educado em cortes e exrcitos da sia

    Menor e investido na prpura pelas legies da Britnia. (GIBBON,

    2005, p.293)

    Os Evangelhos (Euagglion uma palavra grega que designa a comemorao de

    uma vitria militar, o final de uma guerra, a chegada de um soberano, a respostapositiva de um orculo. Havia tambm o sentido de recompensa pela gratificao paga

    ao mensageiro (ggelos) da boa notcia ou mensagem (aggelia), das boas novas)

    podem ser considerados como obras histricas na medida em que relatam conceitos

    religiosos e costumes de uma poca, nunca pela histria que contam. O carter

    apologtico dessas obras, marco zero da propaganda institucional, evidente. O Antigo

    Testamento (poltica religiosa judaica) e o Novo Testamento (doutrina ideolgica

    crist), juntos na Bblia, nunca nos causaram espanto, porque fomos, desde cedo,acostumados a v-los assim, preservados da crtica no abrigo do sagrado. O termo

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    Bblia uma forma enganosa de convencimento, por no se tratar de uma obra cuja

    inteireza justifique a importncia que esse termo alcanou. Pelo contrrio, nela esto

    evidentes o conflito e o confronto instigados pelo antis-judasmo do Novo Testamento,

    nos 25% que lhe cabem.

    As palavras mais autnticas do

    Senhor dos Evangelhos no so as palavras judaicas, mas sim

    as no-judaicas e as antijudaicas. (STAUFFER cit. por

    LPPLE, 1973, p. 84)

    Essa unio de duas obras antagnicas, formando convenientemente uma terceira,

    sob um nico ttulo, antes de qualquer outra possibilidade interpretativa, a prova

    material da cobia (do valor pedaggico) do alheio. O Antigo Testamento ali est como

    o esplio de uma guerra cultural da qual no se deu notcia.

    Quero crer que, medida que as evidncias forem chegando ao conhecimento

    pblico, os antigos contos religiosos encontraro seus lugares precisos na histria do

    aprendizado humano. O estmulo a pesquisas favorece ao esclarecimento, que tem um

    papel fundamental na arte do aprimoramento de uma moralidade cheia de lacunas.

    Moral significa costume, e a nossa cultura Heleno-Judaica nada mais do que a mistura

    de costumes antagnicos (gregos e judeus). Da as suas contradies. Pudera, foi

    concebida em funo de uma realidade que no existe mais. Portanto, a importncia do

    conhecimento desse processo, que deu incio a uma nova cultura e, posteriormente, a

    uma nova Era, no deve ser minimizada.

    O olhar livre de preconceitos propicia a assimilao do saldo positivo das

    experincias passadas e libera a Humanidade para o prximo passo, sem traumas,disputas e ressentimentos. O professor Toynbee chegou a arriscar o prognstico de que

    o grande confronto do sculo XXI seria entre cristos e islmicos. Tomara que no.

    Num confronto entre convices desse tipo tudo mais vira detalhe.

    No dia 1 de setembro de 2004, numa quarta-feira, terroristas islmicos,

    chechenos e rabes, fizeram 1200 refns numa escola em Beslan, na Rssia, de tradio

    crist ortodoxa. Mais de duas dezenas de sequestradores, armados com metralhadoras,

    pistolas e explosivos, invadiram a escola e confinaram os refns no ginsio. Os

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    terroristas ameaavam matar cinquenta crianas para cada um deles que fosse morto

    pela polcia ou pelo exrcito. No dia seguinte, quinta-feira, os terroristas libertaram 26

    mulheres e bebs, mas no permitiram a entrada de gua e comida para os refns.

    Apesar de a polcia no ter tentado invadir o prdio, ouviram-se tiros e exploses de

    granada durante todo o dia dentro da escola.

    Crianas perguntaram professora: Eles vo nos matar? Vo? O que fizemos de

    errado?

    Na sexta-feira, dia 3, o desfecho trgico contabilizava mais de uma centena de

    crianas mortas.

    O que fizemos de errado? uma boa pergunta por que nada inexplicvel naHistria. Toda soluo se inicia com a admisso do erro, que parte do aprendizado.

    Por outro lado, precisamos aceitar o fato de que a soluo de hoje pode ser o erro de

    amanh. A persistncia nele por poder, vaidade, falta de coragem ou comodismo to

    humana como so as virtudes. A escolha e o risco sero sempre nossos.

    No s essa histria de grego justifica tudo, outras questes tomam seu lugar na

    fila. O motivo da existncia da religio precisa de esclarecimento. Afinal, o que

    religio? Esse poder ameaador, referenciado nos escritos mais antigos da Histria, no

    conseguir conservar eternamente na sombra a sua verdadeira identidade.

    [...] Porque no h coisa alguma

    escondida, que no venha a ser manifesta: nem coisa alguma

    feita em oculto, que no a ser pblica. (Mc 4:38-21)

    Livre de temores, a conscincia humana no tem limites. Seria preciso

    desconstruir o Homem para limit-la. No admissvel que ele desconhea a sua

    prpria origem quando o seu conhecimento j pode ir to longe.

    [...]. A verdade exerce uma atrao prpria e

    tem as suas exigncias para com os seus servos, como Demcrito

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    sentiu, ao dizer que preferia descobrir a razo de ser de uma s coisa a

    possuir o reino dos Persas. (BOWRA, 1977, p. 256)

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