Gagnebin Memória História Testemunho (1)

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    af~.".,... UNICAMP

    UNIVERSJDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    Heitor HERMANOTAVARES

    Coordelludor-Gernl da U!1iversidadt~ FERNANDO OALEMBECK

    Prd-Reitor de Desenvo]vimento UnivcLsilariu JURANDIR FERNANDES

    Pro-Reitor de Extel1s~o e As:wntos Cmuunitarios ROBERTO TEIXEIRA MENDES

    PH)- Reitor de Gradu

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    1;-:--,

    MEMORIA E ESQUECIMENTO:

    LINGUAGENS E NARRATIVAS

    4

    MEM6RIA, HIST6RIA, TESTEMUNHO*

    Jeanne Marie Gagnebin Pontifkia Universidade Catolica

    Universidade Estadual de Campinas

    Pour Janine

    '[(:ntarci pcnsar nas questoes que nos ocupam durante este coI6quio,

  • ,~illJ lilt :Ult":llllcntcde hoje. Essa discussao tam bern sustenta as impossiveis e nccessarias, nas quais a memoria traumatic;!, :1jH's:lJ .It" t tcnta se dizer, narrativas e litcratura de tcstemunho quc sc tUllLlr:111l lim genero tristemente recorrentc do scculo XX, em part iCllbr (IlUS ILID no contexto da Shoah.*

    qtl:L~(, (oIlICmpoEspccialmente dois I ()U, l' ()rancos, tratam desse tema: Experiencia epobr-eza, textoo? l'orqlll'escrito entre 1928 e 1935. For que partir dcsses

    ol'llldlt:JJltcs,com descris:oes semelhantes, as vezcs (')Ii:lo ate.para a conclusoes que podem parecer opostas, COllt

    kdaEa presens:a dessa oposis:ao que nos assinala, jUSlall1Clltc :1 questao colocada.

    Ambos os ensaios partem daquilo que ou de decllnio da experiencia (Veifall der Eifahrung) , islO c, da cia no senti do forte e substancial do termo, que a riloso/la cLissic:! dCSCIl

    que repousa sobre a possibilidade de uma tradit,:iio por uma comunidade humana, tradirao retomada C rran"lonllada, cm cada geras:ao, na continuidade de uma palavra transmitida de pai para fl1ho. A importancia dessa tradis:ao, no sentido concreto de nallSIIlisS30 e de transmissibilidade, eressaltada, em ambos os emains, pcb

    antiga (provavelmente uma fibula de Esopo) do velllO vinhatciro que, no lei to de morte, confla aos mhos urn tesouro esd escondido no solo do vinhedo. Os mhos cavam, cavam, mas nao encontram nada. Em compensas:ao, quando chega 0 outono, suas vindimas se tornam as mais abundantes da regiao. Os mhos entao reconhecem que 0 pai nao

    legou nenhum tesouro, mas uma preciosa experiencia, e qlle sua riqueza Ihes advem dessa experiencia.

    Pode-se, naruralmente, interpretar essa fabula como a illlstra

  • conseqii
  • ~ao, tIllla 1I;tIT:I);to !las ruinas da narrativa, uma transll1issao ('Ill I'C os cacos de uma lr;!di~';io ell! rnigalhas.3 Deve-se ressaltar que tal prop()si~';io lJasce de uma injllnc,:ao clica e politica, ja assinalada pela cita~;lo de Ilcdldoto: nao deixar 0 passado cair no esquecimento. 0 que n;1O siglllfica reconstruir uma grande narrativa epica, heroica, da conrillllidadc historica; 0 ultimo texto de Benjamin, as famosas teses Sobre (J C(JIICrito de historia, cmuito claro a esse respeito. Muito pelo conll'ario. rerer da figura do narrador um aspecto muito mais humildc, IllUlto menos triunfanre. Ele e, diz Benjamin, a figura seclliarizada do Justo, essa figura da mistica judaica cuja caracterlstica mais marcall!c C() anonimato; 0 mundo repousa sobre os sete Justos, mas nao saIll' IIIos qllem sao eIes, talvez eIes mesmos 0 ignorem. 0 narrador tamhcll1 snia a figura do trapeiro, do Lumpensammlerou do chffonnier," do CHador de sucata e de lixo, esse personagem das grandes cidades modernas que rccolhe os cacos, os restos, os detritos, movido pela pobreza, certamente, mas tambem pelo desejo de na~ deixar nada se perder (Benjamin introduz aqui 0 conceito teologico de apokatastasis, de recole~ao de toc/as as almas no Parafso).

    Esse narrador sucateiro (0 historiador tambem eUln sammler}5 nao tem por alvo recolher os grandcs feitos. Devc multo mals apanhar tudo aquilo e deixado de lado como algo que nao rem significa~ao, algo que parece nao ter nem importancia nem sentido, algo com 0 que a historia oficial nao saiba 0 que fazer. 0 que sao esses mentos de sobra do discurso hisrorico? A resposta de Benjamin cdupla. Em primeiro lugar 0 sofrimento, 0 sofrimento indizfvel que a Segunda Guerra Mundial devia levar ao cume na crucldade dos campos de concentra~ao (que Benjamin, alias, nao conheceu gra~as a seu suicidio). segundo lugar,aquilo que nao tem nome, aqueles que nao rem nome, 0 anonimo, aquilo que nao deixa nenhum rastro, aquilo que foi tao bem apagado que mesmo a memoria de sua existencia nao subsiste, aqueles

    desapareceram por tao completo que ninguem se lembra de seu nome. Ou ainda: 0 narrador e 0 historiador deveriam transmitir 0 que a tradi~ao, oflcial ou dominante, justamente nao recorda. Essa tarefa paradoxal consiste, entao, na transmissao do inenamiveL numa fidelidade

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    ao passado c aos mortos, mesmo principal mente - quando nao conhecemos nem seu nome nem seu sentido.

    Evidentemente, tal historia nao pode ser 0 desenrolar tranquilo e linear de uma narrativa continua. Sem querer entrar aqui em detalhes, penso que um dos conceitos importantes que poderiam nos ajudar a pensa-Ia e 0 conceito de cesura (comum a Holderlin e a Benjamin) ou o de interrup~ao (com urn a Brecht e a Benjamin). No contexto deste coloquio, gosraria de chamar aten~ao para a seguinte questao: a exigencia

    memoria, que varios textos de Benjamin ressaltam com for

  • do SOlll)() dl' 1'11111(0 I ,rvi no campo de Auschwil:l" SOIlII!) ,',()lIlutlo, descobrc dr, pOl qua,e todos os seus companheiros ;1 (:1
  • t

    NOTAS

    rtf (Ol)(/il/flll Paris:"La fin des [(~cit~t ~ vcr

    Minuit. 1979.

    2 Apdgue lIS pegadas, rradnz Paulo Cesar Souza (Brechr, Pom/as, s;'" !',lId,,: ! \,.1.,,;1 ;m'!a des camps... , 01" cit.

    94

    5 DES: A RET()RICA DO METODO, A FIGURA DE

    AUTORIDADE E OS DESVIOS DA MEM()RIA

    enrre os acollreeirncntos c sellS Tucididcs se oeulta.

    o lei rot nao mais acredita que Ie; cle aeredira que ve. ROlISSL\\J, Emilio

    Por declarac;6es de tao mais portentosa gravidade aportes episremologicos, Tllddidcs inaugura 0 da

    seu teor:

    Tucidides de Arenas a guerra dos peloponcsios e arenienses como des comhateram un, contra os OUlros. Come