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    Semana 2

    Por filosofia, pode-se compreender o pensamento que sempre esteve a serviço do homem,engendrando e aprimorando o que entendemos por aquilo que o faz identificar-se no meio emque vive, diferentemente dos outros animais. Aristóteles mostra que o homem se expressa pelapalavra e a linguagem, como resultados do raciocínio humano. Como afirma Chauí (2005, p.147), “o homem possui a palavra (logos) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e oinjusto”.

    E ao buscar adquirir novos meios ou mecanismos de desenvolvimento do intelecto, o homemdesenvolveu sua forma de pensar. Nasceu a filosofia. Filosofia é uma palavra grega, oriunda daassociação de outras duas também gregas: philo (amor/amizade) e sophia (sabedoria).Etimologicamente, o filósofo não é o sábio, é apenas aquele que ama a sabedoria ou quer setornar amigo dela, entretanto não a possui, ficando, assim, como um sujeito determinado abuscar sempre razões e sentidos para a vida. Segundo Pitágoras de Samos, século VI a.C.,“ser a sabedoria plena privilégio dos deuses, cabendo aos homens apenas desejá-la, amá-laser seus amantes ou seus amigos, isto é, filósofos (philosóphos).” (Pitágoras apud CHAUÍ,2005, p. 15)

    A filosofia surgiu entre os séculos VII e VI a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor, onde osprimeiros filósofos passaram a pensar, de forma sistematizada, o que se explicava sobre osfenômenos da natureza, por isso receberam o nome de filósofos físicos ou cosmológicos.Estudavam o kosmos (harmonia), observando a natureza dos corpos e esta natureza consistiano arkhé (princípio) de todas as coisas.

    Tais fundamentos trouxeram à tona diversos pensamentos e princípios filosóficos que sãoelucidados até os dias atuais, como os teoremas de Tales (625-558 a.C.) e de Pitágoras(570-497 a.C.), entre outros. Porém, ênfase maior foi dada aos diversos argumentos e contra-argumentos entre os pensamentos de Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.) e Parmênides de Eléia

    (530-460 a.C.), sobre aquilo que é ou aquilo que não é, ou seja, o imutável e aquilo que flui e émutável. Tais discussões entre os dois citados pensadores promoveram contribuiçõesmagníficas para alguns filósofos posteriores, entre eles, principalmente, Sócrates de Atenas(469-399 a.C.), Platão de Atenas (427-347 a.C.) e Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.), estestrês considerados pela grande maioria dos estudiosos como os maiores representantes dafilosofia clássica helênica.

    Os filósofos físicos ou da natureza (physis), também conhecidos como cosmológicos, são maisidentificados como aqueles que a história da filosofia comumente denomina pré-socráticos, poisviveram antes de Sócrates e este é tido como o patrono da filosofia. É com este pensador quese originou, de fato, a filosofia como um sistema encadeado e organizado de ideias, embora elemesmo não tenha deixado nada escrito; e é a seu discípulo, Platão, que devemos a

    possibilidade de conhecimento da maior parte do pensamento de Sócrates.

    Tal pensamento foi difundido pelo Ocidente por meio de diálogos, nos quais são narradasvárias situações em que estão presentes os mais diversos e emblemáticos conceitos humanos,como a virtude, o amor, a morte, a justiça, a política, a educação, a piedade, entre outrascaracterísticas que compõem a natureza humana.

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    Os sofistas cobravam, ao contrário de Sócrates, para ensinar aos alunos, geralmente filhos deeupátridas (bem-nascidos), os chamados cidadãos, homens livres que possuíam propriedadese riquezas. Vale apena ressaltar que o contexto histórico ga Grécia era do exercício daDemocracia direta, ou seja, a grande maioria dos cidadãos com exceção das mulheres eescravos e estrangeiros não poderiam participar das decisões da Pólis, daí a importância dossofistas ensinando e cobrando para que os homens pudessem obter sucesso nas assembleias

    através da arte da retórica a arte do convencimento mesmo que a “verdade” passe ao ladodessa argumentação. E, por serem aristocratas e administradores das pólis (cidades), portanto,os cidadãos, exerciam, de fato, a política como demagogos (condutores de povos), porém estetermo acabou ficando com uma conotação pejorativa devido às circunstâncias em que muitoslíderes exerceram essa função, em diversos tempos e lugares, posteriormente aos primeiroscidadãos atenienses.

    Sabe-se que, nessa esfera, o conhecimento se dá pela forma mais coerente e, para alguns,mais democrática, ou seja, por meio do diálogo. Sócrates utilizava o método como oprocedimento correto de se indagar ou questionar o discípulo, para que aquele pudesse, por sisó, buscar o conhecimento. Por isso, o método socrático foi denominado maiêutico, ou seja,por fazer um trabalho de parto das ideias. Compreendendo que sua mãe era parteira, Sócratespôde acompanhá-la nos nascimentos, o que caracterizaria mais tarde seu famoso meio defazer os discípulos descobrirem que o conhecimento estaria em cada um deles.

    Além do diálogo, a maiêutica só seria completa se houvesse a ironia socrática, favorecendo oquestionamento e a busca de tal conhecimento. Ao ironizar seu próprio conhecimento e o deseus interlocutores, Sócrates se passava por nada saber, para, assim, desenvolver em cadaum deles o que estava dentro deles, ou seja, os conceitos da verdade. Sócrates assumia, destamaneira, a postura contrária dos sofistas, seus opositores, que cobravam para ensinar por meioda persuasão, utilizando como métodos discursos inflamados, poemas decorados e a perfeita eeloquente oratória.

    A filosofia tem um papel fundamental na educação, por sacramentar os desejos do homem emquerer aprender e a apreender, a adquirir conhecimentos para se fortalecer nas próprias ideias,no comportamento e nas atitudes. O rumo que desejamos para melhorar a educação de umpaís é tornar os educandos mais conscientes e críticos, aguçados em saber como são feitas ascoisas, de onde vêm e, por isso, cabe ao educador ter este privilégio de motivar taiscuriosidades; também cabe ao educador o papel de desenvolver uma educação de qualidade,não somente pelo que aprendeu, mas, principalmente, pelo que o educando necessitaaprender, o que sente vontade de aprender.

    É fato que se deve levar em conta a realidade dos educandos, muni-los de conhecimentos nasmais diversas áreas, desde aqueles mais simples até os mais profundos e complexos. Aonosso educando, devemos oferecer o pleno papel da cidadania, porém não adianta formarmos

    grandes cidadãos se não formamos os homens, já que, por si só, educados e formados paraserem homens, certamente, serão grandes cidadãos. Ao contrário, se nos preocuparmosapenas em formar cidadãos, geralmente não conseguimos que estes cidadãos tenhamconsciências de grandes homens.

    Portanto, aprender filosofia é empreender e portar uma espécie de bússola capaz de conduzir eauxiliar nas mais diversas tarefas do homem em ser cada vez melhor. Sua funçãodesmistificadora da consciência, seja pelo discurso, seja pela reflexão, alerta e desperta no

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    homem um olhar mais aguçado e mais refinado de tudo aquilo que encontra ao seu redor.Dentro da escola, fora da escola, na sociedade, nos noticiários e, principalmente, na mídia,necessitamos de uma voz mais autônoma e mais reflexiva.

    Ao perguntarmos o que é filosofia, é preciso ter em mente o seu significado. Não basta apenasresponder que ela é uma ciência, o que de fato não é. Ela é uma ferramenta necessária para a

    obtenção do conhecimento; logo, não é uma ciência! Ela auxilia qualquer ciência, pois estádiretamente envolvida na construção de qualquer conhecimento. Isso mostra a importância queexerce em qualquer área do conhecimento humano. Portanto, filosofia nada mais é que,etimologicamente, “amor à sabedoria”.

    Se filosofia é amor à sabedoria, o que seria então o filósofo? Nada mais do que aquele queama a sabedoria e, como apenas a ama e a busca, não é um sábio, sendo apenas umprofundo conhecedor dos objetos conceituais do homem.

    Qual o papel do filósofo na construção do conhecimento? Ele busca resolver problemasencontrados em nosso cotidiano, que, muitas vezes, tão próximos de nossos olhos sãoinatingíveis por estes, favorecendo-se, assim, a compreensão de fatos que estão implícitos noproblema, seja de menor ou de maior proporção. Tais fatos podem ser encontrados no própriohomem ou em seu entorno, permeando sua essência. Em outras palavras, a filosofia ajuda aentender ou compreender o próprio homem.

    E como se filosofa? Filosofa-se ao pensar sobre as possíveis soluções dos problemashumanos. A filosofia não tem o objetivo de solucionar todos os casos, ela aborda uma das maisimportantes fontes na busca do conhecimento humano, a fomentação de um método, ou seja,ela aponta os caminhos a serem seguidos para as possíveis soluções dos problemasencontrados na realidade humana. Tais caminhos são desenvolvidos por diversos pensadoresda filosofia, ou seja, os filósofos. Desde os mais remotos pensadores, como Tales de Mileto(625-558 a.C.), tido como o primeiro, até os mais recentes, como Jürgen Habermas (1929),

    tivemos grandes pensadores deste universo enigmático que é a filosofia, dentre os quaispodemos citar Sócrates (469-399 a.C.), considerado o patrono da filosofia, ou seja, o maisimportante filósofo de todos os tempos, além de Platão (428-348 a.C.), Aristóteles (384-322a.C.), René Descartes (1596-1650), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Immanuel Kant(1724-1804), Georg. W. F. Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883), Friedrich Nietzsche(1844-1900), Jean-Paul Sartre (1905-1980), entre outros.

    E qual a importância desse conhecimento filosófico para o homem de hoje? Como foi ditoantes, a filosofia auxilia qualquer área do conhecimento humano. Logo, não seria descartadapor nenhuma área do desenvolvimento humano. Mas qual o fundamento máximo que poderevelar a filosofia como instrumento importante para este curso? Existe uma área da filosofia,

    que é de extrema importância para se compreender o homem: a ética. Por ética entendemos aciência da moral, ou seja, a construção e a manutenção dos valores humanos. Tais valores sãoherdados de nossos antepassados, pertencem a uma sociedade em que o sujeito está inseridoe também é parte do próprio sujeito, portanto a ética é uma das mais belas virtudes do homem,aquela que o norteia na conduta de fazer o bem.

    Mas, para haver tal conduta, o homem precisa despertar em si mesmo naqueles quepertencem ao seu grupo a consciência da reflexão. Por reflexão entendemos o retorno ao

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    portanto questionava. Ao perguntarem para Sócrates por que o questionamento, Sócratesrespondia: “a única coisa que sei é que nada sei”, levando o interlocutor, muitas vezes, aindagações profundas.

    E por último, em seu método, o fisósofo, ao refutar o interlocutor pelo diálogo, e mostrar,ironicamente, que nada sabia, na verdade praticava o que ele chamava de maiêutica, que, em

    grego, quer dizer trabalho de parto. Mas o que seria este “trabalho de parto" em praça pública?Seria o parto das ideias, pois, segundo ele, a parteira não faz o parto da criança, o que ela fazé auxiliar no parto, em outras palavras, a criança tem, por natureza, a tarefa de nascer sozinha,assim como as ideias ou os pensamentos, e o homem não necessita de um sofista paraensinar. O que o discípulo ou o interlocutor necessitava era de um “parteiro das ideias”, aqueleque apenas auxiliaria no nascimento das ideias. Para tanto, ele se prontificava a exercer taltarefa. Tarefa aquela que herdou de sua mãe Fenareta, que era parteira. Sócrates, quandocriança, acompanhava-a nos partos de muitos concidadãos e, ao observar o nascimento dascrianças, deduziu que nada daquilo era trabalho de sua mãe, ela apenas servia de auxílio parao nascimento das crianças.

    Esse método ou definição de encontrar a verdade do homem no próprio homem leva Sócratesa se opor aos mais célebres sábios da cidade de Atenas, durante o século V a.C., os famosossofistas, do grego sóphos que quer dizer sábios. Sócrates os denominava de sofistas porpraticarem o sofismo, o falso conhecimento ou, como conhecemos hoje,a falácia. Os sofistasde autodeclaravam detentores do saber, logo sábios, todavia também se opuseram a Sócrates,acusando-o de corromper os jovens, por ficar nas praças públicas (do grego ágoras) indagandosobre os conceitos das coisas, como “o que é justiça”, “o que é piedade”, “o que é belo”, “o queé verdade”, entre outros questionamentos.

    Baseando-se na tese de que Sócrates corrompia os jovens, ele também foi acusado de nãoacreditar nos deuses atenienses e, por conseguinte, criar novos deuses, levando a cidade aocaos e, consequentemente, foi condenado à morte pelos sofistas.

    Sócrates nunca escreveu nada, o que sabemos sobre ele deve-se aos seus discípulos,Xenofonte de Erquia (430-355 a.C.), e ao mais importante deles, Platão de Atenas (427-347a.C.). Xenofonte escreve a Apologia de Sócrates, obra que narra a acusação, a defesa e acondenação de Sócrates pelos sofistas, enquanto Platão escreve dezenas de obras, intituladasde Diálogos e cada um narra Sócrates com seus interlocutores discutindo sobre diversosconceitos.

    Muitos desses diálogos são aporéticos, ou seja, não têm saídas (a/sem, póros/saída). Sócratesindagava seus discípulos, porém estes aprofundavam tanto em seus discursos e conceitos quenão chegavam a um final, ou, em outras palavras, buscavam definições de conceitos. Paratanto, não definiam, de fato, tais conceitos, por exemplo, no caso sobre o conceito de justiça,Platão escreve este diálogo em seu mais famoso livro: A República ou Politéia, em queSócrates indaga seus interlocutores sobre o conceito de justiça, porém não obtém respostasdos discípulos, tornando o termo sem definição conceitual, ou seja, sem saber de fato o quesignifica a palavra justiça.Logo, neste livro de Platão, os diálogos socráticos são aporéticos,

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    sem saída.Sócrates, por condenação, foi obrigado a tomar um veneno chamado cicuta e, aomorrer, proferiu as palavras: “prefiro morrer na injustiça de minha cidade e de meusconcidadãos ao viver com ela”.

    Platão de Atenas

    Descendente de uma família aristocrática de Atenas, Platão (427-347 a.C.) foi o principaldiscípulo de Sócrates e o principal escritor ou narrador das ideias de seu mestre. Platão, apósa morte de Sócrates, ocorrida em 399 a.C., viaja por cerca de 20 anos por regiões como aMagna Grécia, atual Itália, a fim de buscar conhecimentos sobre a filosofia e a matemática dePitágoras de Samos (570-496 a. C.). Absorve muitos conhecimentos e, ao retornar a Atenas,em 387 a.C., funda a famosa escola Academia, local destinado à produção intelectual. Naacademia, logo na entrada, havia uma placa com os dizeres: “aqui só entram geômetras”,referindo-se àqueles que produziriam o conhecimento.

    Para Platão, há dois tipos de mundo: o inteligível ou abstrato e o palpável ou concreto. Omundo inteligível ou abstrato, que ele denominava mundo das ideias, aquele que o filósofodizia ser o perfeito, eterno, real e verdadeiro; e o palpável e concreto, que o filósofo chamou demundo dos sentidos, aquele considerado por ele como o mundo irreal, limitado, imperfeito efalso. O mundo das ideias produz o bem, enquanto o mundo dos sentidos produz o mal.

    Por mundo das ideias, Platão entendia que era o mundo perfeito, aquele que era belo e eterno,sendo imutável. Tal pensamento é conhecido por Teoria das Ideias. Já o mundo dos sentidos éuma mera reprodução imperfeita do real, sendo apenas reflexos da realidade. Por exemplo: umlápis era apenas um lápis, porém cada lápis tem seus atributos ou qualidades, todavia a ideia

    de lápis só pertence ao lápis, seja ele qual lápis for, aí se encontra a verdade pura para Platão,não podendo identificar o lápis por sua aparência, daí o resultado ou o reflexo seria imperfeitoem relação à ideia que temos de lápis.

    Para ele, o que permanece é a ideia do objeto e não o objeto em si. Nisto consiste opensamento do filósofo de que a verdadeira e plena essência é imutável e deve ser ou estarem estabilidade, pois aquilo que se altera não passa de aparência e os sentidos enganam nabusca pelo conhecimento verdadeiro.Para que haja o entendimento da teoria das ideias, Platãorecorre à Alegoria da Caverna, elucidando, por exemplo, como funciona a busca e a aquisiçãode conhecimentos e como se dão as aparências nos homens.

    Ainda sobre o conhecimento, para o pensador, deve constituir-se na produção do bem pelo

    homem e este bem só pode ser adquirido pelo conhecimento, que, em grego, chamamos deepistéme. Esse conhecimento só ocorrerá se o homem buscá-lo nele mesmo ou no mundo dasideias, já que o que o homem poderia encontrar no mundo dos sentidos seria apenas, a opiniãoou crença (doxa) e a técnica ou arte (tekhné), mas que estudadas a fundo poderiam levar aoconhecimento verdadeiro.

    Já na política, para Platão, o modelo perfeito é a república e os governantes deveriam serfilósofos, já que estes são mais capazes de produzir o bem por meio do conhecimento

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    adquirido no mundo das ideias. Platão dividia, hierarquicamente, a sociedade ateniense combase na virtude da alma de seus concidadãos, pois, pelo conhecimento, o homem procura eproduz a sua maior virtude, a ética, que para o filósofo era o bem.

    Para ele, a sociedade deveria ser dividida da seguinte forma:

     A primeira virtude era a da sabedoria, deveria ser a cabeça do Estado, ou seja, o governante,pois possui caráter de ouro e utiliza a razão; A segunda espécie de virtude é a coragem, deveria ser o peito do Estado, isto é, os soldadosou guardiões da pólis, pois sua alma de prata é imbuída de vontade; A terceira virtude, a temperança, deveria ser o baixo-ventre do Estado, ou os trabalhadores,pois sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.

    Mito da caverna

    Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna, existeuma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior dela, permanecem sereshumanos, que nasceram e cresceram ali. Esses seres ficam de costas para a entrada,acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo dacaverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesauma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modoque os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser as falas delas.Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

    Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance nadireção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos e saia da caverna,descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles e, mais além, todoo mundo e a natureza.Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigoscompanheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo

    Platão, sérios riscos - desde ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles,que o tomarão por louco e inventor de mentiras.

    Platão não buscava as verdadeiras essências na Physis, como buscavam Demócrito e seusseguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a essência das coisas para além domundo sensível. E o personagem da caverna, que acaso se liberte, como Sócrates, correria orisco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmentediferente. Transpondo para a nossa realidade, é como se você acreditasse, desde que nasceu,que o mundo é de determinado modo, e então vem alguém e diz que quase tudo aquilo é falso,é parcial, e tenta te mostrar novos conceitos, totalmente diferentes. Foi justamente por razõescomo essas que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da“Alegoria da Caverna”, pela qual nos convida a imaginar que as coisas se passam, na

    existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homensacorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas levados pela afirmação que ossentidos humanos nos fornecem e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.

    Fonte: [clique aqui]

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    Aristóteles de Estagira

    O filósofo macedônico Aristóteles (384-322 a.C.), diferentemente de seu mestre Platão,baseou-se nas ciências físicas. Ao contrário de seu mestre, entendia que os sentidos ou omundo concreto e físico é que fariam com que o homem buscasse o conhecimento, portanto,

    para ele, o conhecimento estava no mundo palpável, aquele próximo à realidade do homem eque o conhecimento era precedido pelos sentidos.

    Filho de Nicômaco, importante médico da corte do rei da Macedônia Amintas III, pai de Filipe II,Aristóteles foi assistente de seu pai por alguns anos até ingressar, com apenas 17 anos, naAcademia de Platão, permanecendo lá até a morte de seu mestre, em 347 a.C. Tal fatoocasionou seu retorno à Macedônia, onde se tornou tutor e preceptor do filho de Filipe II, o

     jovem Alexandre Magno. Fundou, em 336 a.C., o Liceu, escola filosófica baseada em suasteorias científicas, entre as quais se destacava o exercício, privilegiando a física, a biologia, azoologia, a geologia, a medicina, a lógica, a ética, a metafísica e a política.

    O pensamento de Aristóteles é constituído pela metafísica e pela teoria das quatro causas, quecompõem a base de todo conhecimento humano sobre a realidade em que este está inserido -o concreto. Para ele, existem quatro causas implicadas na existência de algo:

    1. A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);2. A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);3. A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãosde quem trabalha a argila);

    4. A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar umambiente).

    O termo metafísica não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado porAristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa das realidades que estão alémdas realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial. O conceito demetafísica, em Aristóteles, é extremamente complexo e não há uma definição única. Osconceitos de ato e potência, matéria e forma, substância e acidente possuem especialimportância na metafísica aristotélica. O filósofo, assim, deu quatro definições para metafísica:

    1. A ciência que indaga e reflete acerca dos princípios e primeiras causas;2. A ciência que indaga o ente como aquilo que o constitui, como o ser do ente;

    3. A ciência que investiga as substâncias;4. A ciência que investiga a substância supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebidoatravés da materialidade e da experiência sensível.

    A teoria aristotélica sobre as causas estende-se sobre toda a Natureza, que é entendida comoum artista que age no interior das coisas. Aristóteles distingue, também, a essência e osacidentes em alguma coisa.A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o quedá identidade a um ser, sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele

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    mesmo. Por exemplo: um livro sem nenhum tipo de história ou informações estruturadas, nocaso de um livro técnico, não pode ser considerado um livro, pois o fato de ter uma história ouinformações é o que o permite ser identificado como "livro" e não como "caderno" oumeramente "maço de papel".

    O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não

    descaracteriza o ser por sua falta (o tamanho de uma flor, por exemplo, é um acidente, poisuma flor grande não deixará de ser flor por ser grande; a sua cor, também, pois, por mais queuma flor tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim tal característica não faz deuma flor o que ela é).

    Para ele, todas as coisas são em potência e em ato. Uma coisa em potência é uma coisa quetende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que

     já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas ascoisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato -também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é oAto Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é arealização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente decoisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus, em que Deusseria "Ato Puro".

    Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. Omovimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimentopode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência. O ato é,portanto, a realização da potência e essa realização pode ocorrer por meio da ação (geradapela potência ativa) e perfeição (gerada pela potência passiva).

    No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que seocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é

    essencial e imutável, mas com aquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposiçõesadquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantirou possibilitar a conquista da felicidade.

    Partindo das disposições naturais do homem (disposições particulares a cada um e queconstituem o caráter), a moral mostra como essas disposições devem ser modificadas para quese ajustem à razão. Essas disposições costumam estar afastadas do meio-termo, estado queAristóteles considera o ideal. Assim, algumas pessoas são muito tímidas, outras muitoaudaciosas. A virtude é o meio-termo e o vício se dá ou na falta ou no excesso. Por exemplo:coragem é uma virtude e seus contrários são a temeridade (excesso de coragem) e a covardia(ausência de coragem).

    As virtudes se realizam sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as relaçõeshumanas desaparecem, por exemplo, em relação a Deus. Totalmente diferente é a virtudeespeculativa ou intelectual, que pertence apenas a alguns (geralmente os filósofos) que, forada vida moral, buscam o conhecimento pelo conhecimento. É assim que a contemplaçãoaproxima o homem de Deus. Aristóteles foi um grande e notável escritor e difusor de váriasciências. Pena que muitos de seus escritos foram perdidos.

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    Semana 4

    Na Idade Média, o conhecimento filosófico divide-se em duas teses, destacadas em doislongos períodos que denominamos de Filosofia Patrística e Filosofia Escolástica. Na primeira,reconhecemos a figura de Santo Agostinho (354-430) e, na segunda, a figura de São Tomás deAquino (1225-1274).

    Santo Agostinho

    Sabemos que Santo Agostinho viveu no período do decadente Império Romano, aquele quesucumbiria aos bárbaros em 476 e, depois daqueles anos, haveria a ascensão da Igreja comoa mais importante instituição da Europa Ocidental. Por se tratar de um pensamento voltadopara a religião, Santo Agostinho creditava alguns conceitos que seriam relevantes para amanutenção da Igreja posteriormente, “como as noções de beatitude, predestinação eiluminação divina” (ANDERY, 2007,p.145). Para Santo Agostinho, Deus é o criador de todas ascoisas, a luz que ilumina o universo, a fonte inesgotável da verdade, a inteligibilidade, aeternidade e a essência.

    Se todo o Universo foi criado por Deus, logo ele criou todas as coisas, desde as inanimadas,como aquelas que não pensam até e principalmente aquelas que pensam, como o homem. OUniverso, Deus o teria criado de forma inacabada, permitindo que algumas das matérias setransformassem em outras, conforme a vontade divina, porém haveria a diferença entre matériae forma e Santo Agostinho as definia como criadas ao mesmo tempo, para que as mesmaspudessem se complementar, dando novas formas às diversas matérias ou coisas diferentes.

    Santo Agostinho acreditava que Deus criou tudo do nada e o tempo passaria a existir após acriação do Universo. Para ele, o homem teria a prioridade em ser criado à sua imagem e

    semelhança, portanto passou a entender a questão do tempo. Logo, conhecemos a suamáxima, quando ele diz crer para compreender e compreender para crer, por isso entendemosque o homem, segundo Agostinho, tinha como virtude a dignidade de obter a razão e ainteligência. Todavia, o homem, mesmo sendo superior a outras espécies de animais, eralimitado quanto às coisas divinas, ou seja, não caberia ao homem a faculdade de interpretarassuntos sobre os Céus, os Anjos, Deus e todos os segmentos relacionados à Divindade.

    Segundo Santo Agostinho, Deus criou o mundo e, como Deus é um ser magnífico em bondade,não criaria o mal, porém o homem, com a confiança exacerbada em sua superioridade racional,buscou solucionar problemas relacionados às questões divinas, promovendo-se, assim, amaldade no mundo. Portanto, o homem se afasta de Deus, porque a vontade do homem é livre,ele possui o Livre Arbítrio sobre suas próprias ações.

    A Patrística, a corrente filosófica baseada no Neoplatonismo, é denominada assim por se tratarde um conjunto de teses elaboradas por padres da Igreja no final da Idade Antiga e início daIdade Medieval que dentre suas finalidades a de sistematizar um conhecimento diferenciadospara os seus membros os cléricos, tornando pessoas diferenciadas em seu contexto social ehistórico, baseado no poder do conhecimento e do divino. Por esta corrente, destacamos,segundo o pensamento de Santo Agostinho, que Deus, mesmo dando a liberdade do

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    pensamento do homem, criou os valores morais para o homem e, como ele os criou, podemodificá-los, conforme as ações do homem.

    Baseando-se no pensamento neoplatônico, a alma é imortal e superior ao corpo e este aaprisiona, o que Santo Agostinho acredita ser a fonte de todas as pretensões maléficas dohomem. Por isso, considera que o corpo passa a ser mortal, logo o homem deveria se opor às

    coisas materiais, como o corpo, e se preocupar com as coisas essenciais, como a alma, já queesta é imortal e capaz de se desvincular do corpo, como na morte. Porém, se o homem édotado de Livre-Arbítrio e pode fazer o mal, se sua alma tiver consciência e se arrepender detodos os males, ela pode ser salva, bastando-lhe ser purificada, por isso deveria passar por umestágio pós- morte, que seria o purgatório. Caso se arrependesse, a alma seria conduzida parao Céu; caso não se arrependesse, iria para o inferno.

    Assim como a alma, o conhecimento é inteligível para Santo Agostinho, portanto não provémdos sentidos, que estariam ligados à matéria e, segundo ele, todas as matérias são mutáveis enão são eternas. Agostinho acredita ainda que os escolhidos habitariam a Cidade de Deus eque todos seriam cidadãos obedecendo à vontade divina determinada pela Igreja.

    Para Santo Agostinho, fé e ciência poderiam se agrupar na compreensão do Universo e,consequentemente, para a compreensão da existência de Deus, porém a primeira sobrepondo-se à segunda.

    São Tomás de Aquino

    Ao contrário de Santo Agostinho, que baseava seus pensamentos nas ideias platônicas, pormeio do neoplatonismo alicerçado na Patrística, São Tomás de Aquino baseava suasconcepções nas ideias de Aristóteles. Porém, cabe destacar que São Tomás teria, no princípio,

    bases filosóficas de Santo Alberto Magno, seu grande mestre, e as ideias de Platão, todaviaSão Tomás providencia seu próprio pensamento tendo como referência o pensamento deAristóteles, no que se refere ao desenvolvimento das ciências, pois aquelas se destacariam noperíodo em que São Tomás viveu, no século XIII, tendo em vista as ascensões científicaspromovidas pelas Cruzadas, que caracterizaram a necessidade da medicina, do direito, dasfinanças e da defesa, em consequência das relações com outros povos, principalmente osmuçulmanos, considerados, pela Europa Ocidental, como os pagãos, os inimigos da IgrejaCatólica. Por acompanhar as ascensões científicas, os europeus se sentiram na obrigação decriar instituições que pudessem atendê-los em suas necessidades relacionadas às relaçõescomerciais promovidas pelas Cruzadas. Nasceram, naquele momento, os bancos e asuniversidades.

    A Escolástica, o movimento filosófico que caracterizou o período em que São Tomás defendeusuas teses sobre a existência de Deus e a compreensão do Universo, tem este nome por sereferir a espaços voltados para a compreensão do pensamento humano, como o dasuniversidades, logo conhecidas como as grandes escolas do pensamento.

    Nas universidades, as teses eram argumentadas sobre os mais diversos segmentos dopensamento do homem, porém cumpre destacar que o principal era a explicação da existênciade Deus e como se dava a explicação, pois, com a ascensão comercial e, posteriormente, a

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    vive, os sociólogos procuram estabelecer metas para se conhecer o ser humano em suatotalidade.

    No final do século XIX, na Europa, mais precisamente na França, o filósofo Auguste Comte(1798-1857) criou ou nomeou uma ciência que buscava estudar o homem em sociedade.Nasceu aí a Sociologia. Tal ciência é estudada profundamente por pensadores preocupados

    com a forma em que vive o homem, na sua constituição e na sua relação com o Estado. Dentreos principais nomes da Sociologia se destacam: Émile Durkheim (1858-1917), Max Weber(1864-1920) e Karl Marx (1818-1883).

    Entre os aspectos de maior relevância enfocados pela Sociologia, destacam-se: a política, otrabalho, a religião, a economia, a educação, a fome, a miséria, a guerra, a cultura, entreoutros.

    O objeto de estudo da Sociologia são os fenômenos sociais. Vamos citar um exemplo muitocomum: as brigas de torcedores. Por que tal fenômeno acontece? Como analisar a paixão porum determinado time de futebol? Como entender a existência e permanência deste fato emnossa cultura? Percebe-se que há um sentimento coletivo que perpassa esse fenômeno. Oexemplo, em meio a tantos outros, pode nos elucidar como a Sociologia opera. Enquantomuitos torcem, os pensadores sociais analisam esse comportamento, observando seus afetos,seus medos e perturbações, com o intuito de compreender melhor o homem na sociedade emque vive.

    Com o advento da Revolução Industrial, podem-se perceber fatores fenomenológicos quetransformariam a cultura, a sociedade, a política, a religião, a educação de muitos povos domundo inteiro, quase que por completo. Falamos da aquisição de novas matérias-primas emão-de-obra barata por nações poderosas em troca de lucros cada vez mais vultosos paraessas sociedades. A exploração de uma nação por outra, a determinação da sociedade como

    objeto superior ao indivíduo ou a observação da importância do indivíduo para esta mesmasociedade são temas trabalhados por Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, três grandesmestres da Sociologia.

    Semana 6

    Fatos Sociais

    Émile Durkheim (1858-1917) – Fatos Sociais

    Para o pensador francês Émile Durkheim, ocorrem na sociedade fenômenos sociais que ele

    considera acima dos indivíduos e exteriores a eles. A tais fenômenos o autor deu o nome deFatos Sociais. Os fatos sociais são elementos constitutivos que norteiam todo o processo dedesenvolvimento de uma sociedade.

    O autor considera que tais fenômenos existem em uma sociedade antes mesmo de o homemexistir. O exemplo mais pertinente que Durkheim nos dá é o das leis, pois as leis, segundo ele,são criadas pelos homens para saciar suas necessidades em vida em comum num estadoorganizado. Para ele, o homem nasce em uma sociedade já estabelecida por leis anteriores,

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    exteriores e superiores a ele. Tais leis são coercivas ou coercitivas, ou seja, são passíveis depunição, caso não cumpridas.

    Vamos pegar um exemplo comum: numa sala de aula, há uma placa de aviso “proibido fumar”.Você tem a consciência de que não se deve fumar em sala de aula, porém o faz.Consequentemente, você será punido de alguma forma por não atender a lei que ali estava

    estabelecida. Mas as leis não são somente anteriores ao homem, também são criadas durantea vida do homem, como no exemplo da recente lei de proibição de fumar em um ambientefechado como um bar.

    Para Durkheim, se não houver leis, a sociedade fica em um estado de anomalia, ou seja,doente, pois é necessário que haja as normas de conduta para que o homem possa executarseu papel de um ser gregário em consonância com outros de sua espécie e além dela.

    Por fim, os Fatos Sociais são considerados “coisas” que estão em uma hierarquia superior aoindivíduo e, por “coisas” entendemos objeto, logo, o sujeito (homem) está submetido ao objeto(coisas).

    Família

    Entendemos por família o aglomerado de pessoas que se estabelecem formando um núcleo,ou seja, a família nuclear é aquela composta por pai, mãe e filho, podendo ser estendida amadrastas ou no caso padrastos, ou ainda, adoção. A família consanguínea é aquela na qual acriança habita com parentes de sangue, como tio, tia, avó, avô, madrinha, padrinho etc. Paraentendermos as dificuldades encontradas em nossa sociedade, destacam-se dois tipos decasamento familiar: a monogamia e a poligamia. Sobre a primeira, não há dificuldade decompreensão, pois é constituída da formalidade na relação entre um homem e uma mulher,enquanto a poligamia é estruturada por diversos atores sociais, relacionados entre si. Alémdisso, a poligamia se divide em duas, a poliginia e a poliandria. Quanto à primeira, entende-se

    por um casamento realizado entre um homem e várias mulheres, enquanto que poliandria éuma mulher para vários homens.

    Integração Social

    O homem, por ser um ser social, convive com outros e necessita compreender que nem todospensam, sentem ou agem da mesma forma.Cada um tem suas singularidades que o diversificados demais.Isso assinala um pouco da complexidade que permeia as relações humanas.Já vimos que o homem transforma o seu meio ambiente e, ao mesmo tempo que altera o seumeio, é alterado por ele, devido às suas mais diversas condições de adaptação,aproveitamento e construção de subsídios que norteiam sua vivência. Tudo isso é designadocultura.

    Necessidades, hábitos, tradições, manifestações artísticas, entre outros elementos compõem acultura humana e só podem ser comunicados e transmitidos por meio da linguagem.Cumpre notar que há uma série de interações sociais que permitem ao homem seu auto-reconhecimento no grupo e tais relações podem ser econômicas; religiosas; políticas;familiares, entre outras. Esses sistemas que compõem a vida humana nas suas mais diversasespecificidades consistem em unidades estruturais complexas e favorecem a interação social.

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    Controle Social

    O controle de pessoas ou grupos sobre outras pessoas ou outros grupos sociais tem porobjetivo fazer com que os indivíduos não se desviem das normas sociais formais ou informaisencontradas na sociedade e nos grupos. Pode ser qualquer lei que proíbe um ato, como andarna contramão ou não fumar, não usar um aparelho eletrônico ou não olhar para os lados nahora de uma prova de um concurso ou de um vestibular; ou pode ser também da maneirainformal, como um exemplo negativo, porém existente, as normas sociais em um ambientecontrolado por traficantes, no qual os habitantes daquela localidade não podem exercer taisações, pois comprometem toda a estrutura daquele grupo que domina os demais.

    Mudanças de comportamentos implicam novos valores e surgimento de novas culturas. Cabedestacar que os diversos valores sociais existentes são diferentemente encontrados nassociedades atuais, alterando-se de sociedade para sociedade. Um determinado valor em certasociedade pode ser lícito, enquanto em outra pode ter ser totalmente ilícito.

    No caso dos ataques suicidas frequentemente encontrados em países muçulmanos ou nosatentados com carros bombas em diversas partes do mundo, é necessário se precaver decertos pensamentos já taxados como corretos, pois o que é entendido como desumano pormuitos, no caso, o Ocidente, é entendido como sagrado em determinadas regiões do OrienteMédio e norte da África, aqueles comumente habitados por muçulmanos. Trata-se de umaquestão cultural.

    Vale ressaltar que o controle social desempenha notável papel na sociedade ao garantir acoesão social. A Sociologia contemporânea tem assinalado que o controle social, embora seja

    permanente e contínuo, nunca é total.

    Desvios Sociais

    Por desvios sociais entendemos quaisquer falhas nas conformidades às normas existentes, éaquele comportamento que não corresponde às expectativas da sociedade, logo é consideradouma violação das regras sociais e acontece quando alguém ou algum grupo se opõe àsvigências normativas. Todavia, é importante salientar que há uma conduta de desvio socialquando há um questionamento, por meio de panfletos ou manifestos, como no caso daspasseatas, greves, entre outros elementos que possam ser considerados subversivos ouperigosos ao Estado. Em outras palavras, consideram-se desvios sociais aqueles que,principalmente, levam a periculosidade ao Estado e muitos desses desvios se tornaram crimes

    contra o Estado.

    Porém, em outros casos, a manifestação de ruptura se dá no âmbito da cultura, como no casoda contracultura, em que a mobilização e a contestação é em relação aos valores vigentes einstituídos na cultura ocidental. Na década de 1960, os hippies se opunham radicalmente aosvalores considerados importantes na sociedade: o trabalho, o nacionalismo, a ascensão social,entre outros.

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    O desvio social é considerado um comportamento fora da estabelecida normalidade e existemgrupos que confirmam o desvio, como os usuários de drogas, os homicidas, os estupradores,

    entre outros. Ao constatar os desvios, o controle social é mobilizado para exercer estabelecer asanção por meio de variadas formas, como a detenção,ou até a pena de morte, em algumassociedades. Também é possível estabelecer o isolamento e a exclusão do desviante emrelação à sociedade.

    Isolamento

    Entendemos por isolamento, o tratamento dado a uma determinada criança, jovem ou adulto,menosprezando-os. Podemos destacar o isolamento cultural, o isolamento social e oisolamento psíquico ou auto-isolamento. O primeiro refere-se ao isolamento relativo acomportamentos, tradições, crenças associados a uma cultura, a forma de comer, de se vestir,de falar. Já o segundo tipo envolve questões associadas à classe social, por exemplo umacriança que mora em uma favela ser discriminada pelas outras em virtude de provocar umasensação de periculosidade. E, por último, o terceiro, o isolamento psíquico ou auto-isolamento, que é o mais perigoso, por provocar discriminação mental, causando doresirreparáveis, muitas vezes levando ao suicídio ou à violência, consequentemente à intolerância,logo, ao crime ou ao terrorismo.

    Semana 7

    Marxismo

    As ideias de Karl Marx compuseram a corrente de interpretação histórica denominadamarxismo, movimento filosófico, econômico e político que se inicia no século XIX e temdesdobramentos até nossos dias. Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Treves, Alemanha, emorreu em 14 de março de 1883, em Londres. Dentre suas principais obras podemos citarManuscritos Econômico-Filosóficos (1844); Salário, Preço e Lucro (1865); Para a Crítica daEconomia Política (1859) e O Capital (1867), sua obra mais conhecida, escrita em co-autoriacom Friedrich Engels.

    Seu método de interpretação histórica é conhecido como materialismo histórico-dialético. Emcontraposição à corrente idealista, representada por Platão, Descartes, Kant e Hegel, Marxpropôs uma interpretação materialista e dialética da história, ou seja, a concepção de que a

    história deve ser entendida como um processo resultante de forças contrárias. Para ele, vale ahistória dos fatores econômicos e sociais, que materializam as relações humanas. E essesfatores colocam em conflito duas classes sociais: a burguesia e o proletariado, os que detêm osmeios de produção e os desprovidos desses meios. A história é, portanto, resultado de fatosmateriais que impulsionam a luta de classes.

    Para o pensamento marxista, a sociedade se organiza em níveis:

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    1. A infraestrutura: consiste na base econômica, nas relações de produção. Numa sociedadeagrária, as relações de produção se dão entre os proprietários da terra e os que trabalham aterra; na sociedade industrial, essas relações se estabelecem entre os donos dos meios deprodução - os capitalistas e os trabalhadores - proletários. Essas relações são extremamenteconflituosas e provocam a luta de classes – para Marx o motor da história.

    2. A superestrutura: nível que carrega uma reprodução, do ponto de vista simbólico, dasrelações de dominação presentes na infraestrutura. Esse conjunto de representações constituia Ideologia. É composta pelas instituições jurídicas e políticas – leis, Estado - e pelasinstituições ideológicas (as artes, a religião, a moral).

    O modo de produção constitui a maneira como as forças produtivas se organizam em dadasrelações de produção em dado momento histórico. Toda época histórica articula a infraestruturae a superestrutura de uma maneira. Na história humana, houve o modo de produção patriarcal(primeiras civilizações), o modo de produção escravista (Império Romano), o modo deprodução feudal (Idade Média) e o modo de produção capitalista.

    O modo de produção capitalista

    Marx descreveu com maestria o modo de produção capitalista. Para ele, o capitalismo sesustenta pelo fetiche da mercadoria.

    Segundo o Dicionário Aulete, o termo fetiche significa “objeto ao qual se atribuem poderessobrenaturais ou mágicos e se presta culto; ídolo; feitiço.”

    Em O Capital (volume I), Marx assinala que a mercadoria, ao ser produzida, não mantém seuvalor real de venda determinado pela quantidade de trabalho materializado, mas adquire uma

    valoração de venda fantasmagórica. É como se ela não fosse fruto do trabalho humano, masse transformasse em uma coisa com vida própria. Nesse cenário, o próprio homem é pensadocomo mercadoria, sendo, portanto, reificado. A base do sistema capitalista está na exploraçãoda mão-de-obra proletária. O proletário paga, com o trabalho, o seu salário em um número dehoras, mas sempre trabalha um excedente de horas, tomadas pelo capitalista como lucro. Esteexcedente é a mais-valia.

    A submissão do homem ao mundo das mercadorias só é possível por causa da ideologia –conjunto de representações que visam ocultar todo o processo de sustentação do poder daclasse dominante. A ruptura com esse edifício ideológico depende da tomada de consciênciapor parte do proletário, o que só se torna possível por meio da práxis, entendida como práticatransformadora da realidade.

    Leia os textos de Marx a seguir:

    Prefácio de "Contribuição à Crítica da Economia Política"

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    Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as relações jurídicas - assim como asformas de Estado - não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela dita evoluçãogeral do espírito humano, inserindo-se pelo contrário nas condições materiais de existência deque Hegel, à semelhança dos ingleses e franceses do século XVIII, compreende o conjuntopela designação de "sociedade civil"; por seu lado, a anatomia da sociedade civil deve serprocurada na economia política. [ ... ] A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez

    adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: naprodução social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas,necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a umdeterminado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destasrelações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre aqual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadasformas de consciência social.

    O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política eintelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu sersocial que, inversamente, determina a sua consciência. Em certo estágio de desenvolvimento,as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações deprodução existentes ou, o que é a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade noseio das quais se tinham movido até então. De formas de desenvolvimento das forçasprodutivas, estas relações transformam-se no seu entrave. Surge então uma época derevolução social. A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, todaa imensa superestrutura. Ao considerar tais alterações, é necessário sempre distinguir entre aalteração material - que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa - dascondições econômicas de produção, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas oufilosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência desteconflito, levando-o às suas últimas consequências.

    Assim como não se julga um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar

    uma tal época de transformação pela mesma consciência de si; é preciso, pelo contrário,explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre asforças produtivas sociais e as relações de produção. Uma organização social nuncadesaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter;nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condiçõesmateriais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade.

    É por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver e, assim, numaobservação atenta, descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as condiçõesmateriais para o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer. Em umcaráter amplo, os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno podem serqualificados como épocas progressivas da formação econômica da sociedade. As relações de

    produção burguesas são a última forma contraditória do processo de produção social,contraditória não no sentido de uma contradição individual, mas de uma contradição que nascedas condições de existência social dos indivíduos. No entanto, as forças produtivas que sedesenvolvem no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiaispara resolver esta contradição. Com esta organização social termina, assim, a Pré-História dasociedade humana.

    (MARX, K. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo: Martins Fontes, 1977, p.23.)

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    A produção da mais valia

    Suponhamos agora que a quantidade média diária de artigos de primeira necessidade

    imprescindíveis à vida de um operário exija 6 horas de trabalho médio para a sua produção.Suponhamos, além disso, que estas 6 horas de trabalho médio se materializem numaquantidade de ouro equivalente a 3 xelins. Nestas condições, os 3 xelins seriam o preço ou aexpressão em dinheiro do valor diário da força de trabalho desse homem. Se trabalhasse 6horas diárias, ele produziria diariamente um valor que bastaria para comprar a quantidademédia de seus artigos diários de primeira necessidade ou para se manter como operário. Mas onosso homem é um obreiro assalariado. Portanto, precisa vender a sua força de trabalho a umcapitalista. Se a vende por 3 xelins diários, ou por 18 semanais,vende-a pelo seu valor. Vamossupor que se trata de um fiandeiro. Trabalhando 6 horas por dia, incorporará ao algodão,diariamente, um valor de 3 xelins. Este valor diariamente incorporado por ele representaria umequivalente exato do salário, ou preço de sua força de trabalho, que recebe cada dia. Mas,neste caso, não iria para o capitalista nenhuma mais-valia ou sobreproduto algum. É aqui,então, que tropeçamos com a verdadeira dificuldade. Ao comprar a força de trabalho dooperário e ao pagá-la pelo seu valor, o capitalista adquire, como qualquer outro comprador, odireito de consumir ou usar a mercadoria comprada.

    A força de trabalho de um homem é consumida, ou usada, fazendo-o trabalhar, assim como seconsome ou se usa uma máquina fazendo-a funcionar. Portanto, o capitalista, ao comprar ovalor diário, ou semanal, da força de trabalho do operário, adquire o direito de servir-se dela oude fazê-la funcionar durante todo o dia ou toda a semana. A jornada de trabalho, ou a semanade trabalho, tem naturalmente certos limites, mas a isto voltaremos, em detalhe, mais adiante.

    No momento, quero chamar-vos a atenção para um ponto decisivo. O valor da força de

    trabalho se determina pela quantidade de trabalho necessário para a sua conservação, oureprodução, mas o uso desta força só é limitado pela energia vital e a força física do operário.O valor diário ou semanal da força de trabalho difere completamente do funcionamento diárioou semanal desta mesma força de trabalho; são duas coisas completamente distintas, como aração consumida por um cavalo e o tempo em que este pode carregar o cavaleiro.

    A quantidade de trabalho que serve de limite ao valor da força de trabalho do operário nãolimita de modo algum a quantidade de trabalho que sua força de trabalho pode executar.Tomemos o exemplo do nosso fiandeiro. Vimos que, para recompor diariamente a sua força detrabalho, este fiandeiro precisava reproduzir um valor diário de 3 xelins, o que realizava comum trabalho diário de 6 horas. Isto, porém, não lhe tira a capacidade de trabalhar 10 ou 12horas e mais, diariamente. Mas o capitalista, ao pagar o valor diário ou semanal da força de

    trabalho do fiandeiro, adquire o direito de usá-la durante todo o dia ou toda a semana.

    Faze-lo-á trabalhar, portanto, digamos, 12 horas diárias, quer dizer, além das 6 horasnecessárias para recompor o seu salário, ou o valor de sua força de trabalho, terá de trabalharoutras 6 horas, a que chamarei horas de sobretrabalho, e este sobretrabalho irá traduzir-se emuma mais-valia e em um sobreproduto. Se, por exemplo, nosso fiandeiro, com o seu trabalhodiário de 6 horas, acrescenta ao algodão um valor de 3 xelins, valor que constitui umequivalente exato de seu salário, em 12 horas acrescentará ao algodão um valor de 6 xelins e

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    produzirá a correspondente quantidade adicional de fio. E, como vendeu sua força de trabalhoao capitalista, todo o valor, ou todo o produto, por ele criado pertence ao capitalista, que é donode sua força de trabalho, por tempo. Por conseguinte, desembolsando 3 xelins, o capitalistarealizará o valor de 6, pois com o desembolso de um valor no qual se cristalizam 6 horas detrabalho receberá em troca um valor no qual estão cristalizadas 12 horas. Repete-se,diariamente, esta operação, o capitalista desembolsará 3 xelins por dia e embolsará 6, cuja

    metade tornará a inverter no pagamento de novos salários, enquanto a outra metade formará amais-valia, pela qual o capitalista não paga equivalente algum. Este tipo de intercâmbio entre ocapital e o trabalho é o que serve de base à produção capitalista, ou ao sistema do salariado, etem que conduzir, sem cessar, à constante reprodução do operário como operário e docapitalista como capitalista.

    A taxa de mais-valia dependerá, se todas as outras circunstâncias permanecerem invariáveis,da proporção existente entre a parte da jornada que o operário tem que trabalhar parareproduzir o valor da força de trabalho e o sobretempo ou sobretrabalho realizado para ocapitalista. Dependerá, por isso, da proporção em que a jornada de trabalho se prolongue alémdo tempo durante o qual o operário, com o seu trabalho, limita-se a reproduzir o valor de suaforça de trabalho ou a repor o seu salário.

    Semana 8

    O pensador alemão defende que o sujeito é o ser mais importante para a manutenção dasociedade, já que este exerce uma função vital para o funcionamento do Estado onde vive.Para ele, o homem, ou sujeito, produz a ação social em todos os segmentos da sociedade,favorecendo, assim, a compreensão de como uma sociedade opera.

    Max Weber (1864-1920) explicita-nos exemplos da ação do sujeito consciente para evitarconflitos que levariam a sociedade a rupturas e, consequentemente, a possíveis conflitosgeradores de desconforto para alguns ou para muitos, senão para a sociedade em seu todo.

    Ação Social

    A consciência do sujeito pode ser visualizada em um exemplo clássico de Weber, a saber:numa ciclovia, há dois ciclistas, um em cada sentido, porém, quase próximos. Um deles sente anecessidade de desviar a bicicleta para que não haja choque. Tal atitude encaminhada por umdos sujeitos, ou pelos dois, é denominada por Weber de Ação Social, ou seja, uma ação que osujeito pratica racionalmente, promovendo-se, assim, a harmonia entre os membros de umasociedade. Nas palavras de Weber: ação social significa “uma ação que, quanto a seu sentidovisado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por

    este em seu curso. (WEBER,1999, p.3).

    Para termos uma ação social, é necessário observarmos o contexto, pois uma mesma açãopode ser social ou não. Por exemplo, se alguém escreve um email, na tentativa de ser lido poralguém, existe a ação social, pois existe um sentido na ação: ser lido por outra pessoa.Emcontrapartida, escrever uma poesia, exclusivamente para expressar sensações e sentimentospessoais não é ação social, a não ser que, ao escrevê-lo, o poeta tinha a intenção de provocaralguma manifestação, alguma reação no leitor.

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    Max Weber apresentou uma classificação dos tipos de ação social, de acordo com os motivosque a geram. São elas:

     Tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado;

     Afetiva: aquela determinada por afetos ou estados emocionais;

     Racional com relação a valores: aquela determinada pela crença consciente num valorconsiderado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade;

     Racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que estabelece fins e organizaos meios necessários, ou seja, suas finalidades.

    Essa classificação em 4 tipos baseia-se em modelos ideais, cujos exemplos puros raramentepodem ser encontrados na sociedade. Como são vários os motivos de uma ação social, elapode ser classificada em mais de um tipo. O caso de um professor é bem ilustrativo dessacomplexidade: sua atitude de dar aula pode ser determinada pelo seu desejo de ter o salário(ação com relação a fins); mas também pela importância que ele confere à educação (açãocom relação a valores), ou ainda pelo prazer que ele sente ao ver seus alunos aprenderem(ação afetiva); ou ainda porque toda a sua família é de professores e ele sempre viveu nessemeio (ação tradicional).

    Relação Social

    Até agora, tratamos de ação social. Falta-nos abordar o conceito weberiano de relação social,compreendido como o sentido compartilhado da ação social, ou seja, a consciência de ambos

    os envolvidos do sentido da ação social. A relação social fundamenta-se na probabilidade deocorrência de um dado evento, o que inclui oportunidade e risco. Não há determinismos sobreo que será a sociedade.

    Tipos de Dominação

    Weber não vê a possibilidade de relação social sem dominação, uma vez que todas as esferasda ação humana estão marcadas por algum tipo de dominação. A dominação é condição de serda sociedade. O indivíduo obedece a uma ordem, acreditando realizar sua própria vontade;conforma-se a um padrão supondo ser por escolha própria. Tudo isso ocorre por causa dadominação.

    Para o autor, existem pelo menos três tipos de dominação legítima:

     Tradicional: é o tipo de dominação que ocorre em razão da crença na santidade dasordenações e dos poderes já muito antigos. Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidadeprópria, santificada pela tradição, ou seja, por fidelidade. O conteúdo das ordens está fixadopela tradição, cuja violação desconsiderada por parte do senhor poria em perigo a legitimidadedo seu próprio domínio, que repousa exclusivamente na santidade delas. O governante é opatriarca ou senhor, os dominados são os súditos e o funcionário é o servidor. Seu tipo mais

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    puro é o da dominação patriarcal. É classificado por Weber como dominação estável, devido àsolidez e estabilidade do meio social.

     Carismática: é o tipo de dominação em que a autoridade é sustentada graças a uma devoçãoafetiva por parte dos dominados à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma).Seus tipos mais puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo.

    A associação dominante é de caráter comunitário, na comunidade ou no séquito. O tipo quemanda é o líder. O tipo que obedece é o “apóstolo”. Obedece-se à pessoa do líder por causade suas qualidades pessoais e não em virtude de sua posição estatuída ou de sua dignidadetradicional. Trata- se de uma dominação instável, pois nada há que assegure a perpetuidade dadevoção afetiva ao dominador, por parte dos dominados.

     Legal ou Racional: é o tipo de dominação em que qualquer direito pode ser criado emodificado por meio de um estatuto sancionado corretamente quanto à forma. Seu tipo maispuro é a dominação burocrática. A obediência se presta não à pessoa, em virtude de direitopróprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e em que extensão sehá de obedecer. Weber classifica este tipo de dominação como estável, uma vez que ébaseada em normas criadas e modificadas por estatuto, ou seja, o poder da autoridade élegalmente assegurado.

    A dominação, para Weber, pode ser exercida em diferentes esferas da vida social. Classes,estamentos e partidos são fenômenos da disputa de poder nas esferas econômica, social epolítica. Para o autor, a burocracia é a mais bem acabada forma de dominação, pois estábaseada na crença na legalidade ou racionalidade de uma ordem. Ela é resultado do processode racionalização da vida social moderna, é uma forma de organizar o trabalho em sociedadescomplexas.

    A modernização para ele é o processo de passagem de uma perspectiva mais tradicional domundo (em que as coisas são dadas) para uma perspectiva mais organizada (onde as coisas

    são elaboradas, construídas).

    A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

    Para Weber, as ideias religiosas têm grande influência sobre o desenvolvimento do espíritoeconômico. No livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ele deixa clara a relaçãoentre o espírito do capitalismo ocidental e a ética racional do protestantismo ascético.

    Seu ponto principal é que as doutrinas da fé calvinista - sobretudo a ideia de predestinação -foram fundamentais para a formação e para o fortalecimento do espírito capitalista moderno. A

    certeza da salvação – ideia pregada pelo protestantismo - é inseparável do conceito deproduzir. O protestantismo criou uma ética inteiramente nova: a ética do trabalho. Ao contráriode Marx, o capitalismo nada tem a ver com o impulso de ter ou a ânsia por lucro. Para Weber, ocapitalismo é um sistema baseado na moderação do ímpeto, um tempero racional para acobiça.