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comissão editorial

Ana Luiza Drummond

Jorge de Freitas

Ranielle Menezes

design e revisão

Ana Luiza Drummond

Jorge de Freitas

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Sumário APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 5

Beatrice Medrado ....................................................................................... 7

o preço da arte negociada a preços baixos .................................................................... 8

eu trago a fumaça do seu amor acabado ....................................................................... 9

a liberdade inundando seus poros ............................................................................... 10

Banksy .......................................................................................................................... 11

rostos como pinturas ................................................................................................... 12

Augusto de Sousa ...................................................................................... 13

Cotidiano ...................................................................................................................... 14

Anarquia ...................................................................................................................... 15

X ................................................................................................................................... 16

Rês ................................................................................................................................ 17

Liberdade ..................................................................................................................... 18

Flavia Clemente Dias ................................................................................. 19

Gritos d’ África ............................................................................................................ 20

O Araçá-roxo ................................................................................................................ 21

Óleo de Lorena II ........................................................................................................ 22

Farol ............................................................................................................................ 23

Teu olhar ..................................................................................................................... 24

Ana Laura _ana artsketchs ....................................................................... 25

Mariana Cardoso ...................................................................................... 29

Vernissage ................................................................................................................... 30

O passado pela frente ................................................................................................... 31

Salif Diallo (Salif Silva) ............................................................................ 35

O vale .......................................................................................................................... 36

João Pires da Gama .................................................................................. 38

Bandeira Lilás ............................................................................................................. 39

Marcus Ernesto Marchi Júnior (Nome Artístico: Marcus Marchi Jr.) ...... 40

Delírio de um vegetariano .......................................................................................... 41

Rotina de cão (vou por que tenho que ir) .................................................................. 42

Ser humano não é gente – 00A .................................................................................. 43

Ser humano não é gente – 01A .................................................................................. 43

“CRUZ & MARCHI” .................................................................................. 44

A dinâmica da desordem urbana .............................................................................. 45

Fuga para a liberdade ................................................................................................ 46

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APRESENTAÇÃO

É uma contra-palavra, é a palavra que faz romper o “arame”, a palavra que não se curva diante dos “cavalos de parada nem dos pilares da História”, é um acto de liberdade. É um passo. (Paul Celan)

A segunda edição da Caxangá chega em 2020 na tentativa de se colocar como

um instante de fôlego no ar rarefeito da travessia pela pandemia em um país em

autodestruição. Mas é preciso, como disse Derrida, “preferir sempre a vida”.

Assim, buscamos nos apegar às formas de (r)existir, formas que passam,

indiscutivelmente, pela arte e sua amplidão de possibilidades. A arte pode nos

fornecer instantes em que a existência faz-se possível pelo simples fato de não

curvar-se. Portanto, diante da majestade do(s) absurdo(s) diários, é preciso

celebrar o instante; o fôlego; a resistência insistente; a existência compartilhada

pelo imaginário.

Nessa celebração que não deixa de ser fúnebre, os poemas de Beatriz Medrado

tematizam os valores atribuídos ao artístico, ao amor e à liberdade, sobretudo

ao poetizar o livre-trânsito de “Bansky” que, pelos muros destruíd0s-recém-

construídos, transmuta-se em sentimentos profundos em contraposição à

artificialidade dos rostos das garotas bonitas que são como pinturas bem-

acabadas.

Augusto de Souza traz o cotidiano aliado à necessidade constante da anarquia

que, em seu íntimo, agarra a liberdade a “cada momento/ Nova”, “disforme”,

naturalmente poética.

Químico-poeticamente, Flávia Clemente Dias nos apresenta um universo no

qual a química e a poesia não são planetas distantes, mas, pelo contrário, são

sinfonias que se encontram, obstinadamente, na figura doce do “Araçá-roxo”.

Ademais, a poesia de Dias é “Farol” de esperança e perspectiva de encontro

consigo mesma.

De Poços de Caldas, Ana Laura (ana_artsketches) nos embriaga com uma

colorida coleção de imagens inspiradas na cultura dos mangás japoneses e na

tecnologia dos games dos anos 80 e 90.

A “Vernissage”, de Mariana Cardoso, nos leva pela opulência da Galeria Alberto

da Veiga Guignard, dando a sensação de um poema-vertigem nos reinos de

Minas Gerais. Cardoso contribui ainda com um importante texto crítico-

memorialístico capaz de revelar a necessidade da ação da memória para evitar a

repetição dos passados violentos que, incessantemente, espreitam pelas frestas

das portas do presente.

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O cabo-verdiano Salif Diallo nos abrilhanta com o conto “O vale”. Nele, Diallo

expõe a caminhada sobrenatural pelo traçado do vale enquanto espaço de

acontecimentos inquietantes.

No poema “Bandeira lilás”, João Pires da Gama nos oferece uma potente

imagem-confronto que subverte as diretrizes e determinações do patriarcado ao

poetizar: “E nas ruas da cidade, dos gritos/ Se fez uma só voz/ Proclamando a

glória às mulheres mortas”.

O artista Marcus Marchi Jr. traz para a Caxangá uma desconcertante coleção de

imagens difíceis de classificar, mas que, a par e passo com o surrealismo,

questiona as determinações do real, indo desde delírios vegetarianos até o

questionamento das fisionomias e determinações do humano.

Para o fechamento da segunda edição, Marchi Jr. retorna acompanhado de

Dudu Cruz (“Cruz & Marchi”) para colocarem em xeque a nossa apreensão da

realidade concreta das paisagens urbanas em um misto de técnicas artísticas.

Fazendo justiça ao instante de respiração e de liberdade própria da arte (do

fazer arte), Cruz & Marchi encerram a nossa celebração com a belíssima imagem

“Fuga para a liberdade” que, ao fim e ao cabo, celebra os desejos dos editores da

Caxangá: que a revista seja um espaço de contra-palavra, um ponto de fuga, de

ensaio, de tentativa e de crítica a toda e qualquer forma de fascismo.

Jorge de Freitas

Ana Luíza Drummond

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Beatrice Medrado

Tem dezenove anos e é escritora, compositora e estudante de Ciências Sociais

pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf.

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o preço da arte negociada a preços baixos

a arte é vendida sem piedade por nada mais que $50 quem vai ler vai entender ou sentir da mesma forma que eu quando a escrevi? essa mercadoria é negociada a preços baixos e deixada de lado quando não tem mais utilidade o que vai ser dos artistas loucos morrendo de fome sem nunca receber o suficiente gastando suas mãos sua voz sua vida e morrendo mais cedo sem ser reconhecido ou morrendo em vida quantos centavos vale uma alma?

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eu trago a fumaça do seu amor acabado

enquanto trago a fumaça estou tragando o amor que eu nunca tive e provavelmente nunca terei mas isso não me deixa desanimada porque existem outros amores por ai apenas temos que dar uma oportunidade e tem aquele que deveria ser insubstituível o seu próprio amor.

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a liberdade inundando seus poros

mantenha seus olhos bem abertos e nunca deixe que ninguém te diga que você não é o suficiente que não pode sair de casa sem que ele saiba quais seus passos e que você precisa ficar calada o que seria de nós mulheres sem nossas vozes e qual o sentido de caminhar se seus passos são controlados? você precisa andar em liberdade falar em liberdade se banhar em liberdade qualquer amor que te ofereça menos que isso não é amor pra você e nem pra ninguém ele não é o suficiente

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Banksy

você pintou meu coração como banksy pintava seus muros em San Francisco e eu nunca vou te dizer o que tenho escrito como ele nunca disse, só depois de feito você vai encontrar em algum lugar mas não vai saber que fui eu quem escrevi não é triste nunca sequer pense isso meus sentimentos são como os ratos do banksy eles deslizam pelas ruas nas madrugadas somem e aparecem enquanto o sol nasce e se põe eles são esquecidos e lembrados quando conveniente eles se escondem para sobreviver os muros são derrubados e erguidos novamente e pintados outra vez ninguém nunca vai saber a profundidade que isso tem.

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rostos como pinturas

garotas bonitas e seus rostos tão bem desenhados como pinturas frescas elas sempre sustentam um sorriso no rosto eu não me pareço nem um pouco com elas você sabe disso pela meia dúzia de palavrões que saem pela minha boca você pode saber apenas pela forma como eu olho pra você mas você não parece se importar e eu não me importo também

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Augusto de Sousa Tem 24 anos, residente de Santa Catarina. Trabalha a expressão da experiência humana como projeto poético. Experiências líricas a partir do modernismo e existencialismo anarquista.

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Cotidiano

A tarde inerte do presente Ocupada de tarefas e contas, De mecânico oficio, É a maldição de Prometeu. Contra ela irrompem os ladrões e os Cantores noturnos, As bestas amansadas e o Torpor dos insetos. As pedras rolantes e as Tripas líricas dos répteis, O gado que transpõe A cerca de Apolo. Ele, o tempo da espera, Contra a desordem do agora, Tornar-se-á norma e Desespero. A série ameaçada Faz do corriqueiro Violência e os Pune por criar seu próprio tempo. **

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Anarquia

Subterrânea Silenciosa Nem tão oca A ruína quase ressona Pulsante Entre o domínio Da força corrente Organismo Autônomo A liberdade declara-se A cada momento Nova. **

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X

Tentar a sorte como a vaga a saltar Sobre a areia depositando Na margem a mistura de alga e espuma Hesitante entre o corpo na praia Que me ultrapassa e cai sob a montanha Ilumina o Sol à minha janela A multidão arbórea e constante Da vegetação hábitat disforme Das almas sensitivas: voar-se-ão Pois outra vez chega a maré a romper. **

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Rês

Eu, animal ruminante (res ruminans), Digiro nas câmaras poli gástricas Da memória a minha experiência, Meu rancor, meu capim. Regurgito, sem pressa, e Os encaro sem surpresa. Sobre o pasto verde do agora O cheiro acre do passado Sobe às narinas, O outrora mascado logo Retorna às entranhas. **

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Liberdade

Tudo que nasce é disforme e A regra não passa de esforço Da mente desperta, que intende À natureza impor limite.

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Flavia Clemente Dias Bacharela em Química Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-graduanda em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ganhou prêmio de reconhecimento técnico-cientifico com o tema “Biossorção de cromo nas cascas de banana”, pelo ex-ministro da cultura Fernando Haddad. Publicou o livro POEQUÍMICA pela editora Autografia, que retrata temas de química em forma de poesia.

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Gritos d’ África

Acabou a tormenta Prescreveram Aquele horror Que assustava Por muitos anos Tiveram sua fé abalada E viveram crueldades Impensadas Alforria É uma melancolia Todos que sobreviveram A memória não se apaga Assinada Lei Aurea Por uma princesa da dinastia portuguesa Não-francesa Dado o grito sem eco Que corre no espaço frenético Onde estás Senhor Deus? Que destino, embalde no infinito O meu grito percorreu todo o tempo Nesse universo sem fundamento Do meu sofrimento Onde estás Senhor Deus?

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O Araçá-roxo

Araçá-roxo é o fruto doce do cerrado, Das suas folhas é obtido sesquiterpenos oxigenados, Sua rota metabólica acontece nos cloroplastos. O isopreno é o tijolinho, A Unidade que vai construindo ... Todos os blocos moleculares. E dando origem a nomenclatura hemi-, mono-, sesqui-, di-, tetra- É uma sinfonia das moléculas, que vai formando a matéria. E tudo ocorre no sol, ou na chuva, No inverno ou primavera, A produção de compostos químicos na folha não se interrompe, É como uma orquestra sinfônica constante. Ô movimento organizado Das folhas, flores, e frutos do cerrado... Obtém-se óleo essencial ou extrato.

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Óleo de Lorena II

É de sílica ou C 18 tua coluna cromatográfica? Existe algum terpeno? Ou alcaloide? Quantos carbonos tem a tua molécula? 10 ou 15 carbonos? A regra é clara do isopreno, O teu óleo essencial contém trans-carofileno, Composto com propriedades biológicas! Olha que, Majoritário! Esse composto no óleo essencial do cerrado Com Ligações duplas, E substituições, É puramente indescritível, Os produtos naturais com efeitos medicinais.

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Farol

Um pouco perdida Um pouco isolada Um pouco esperançosa Um pouco calma Mas eu aguento, sinto-me forte Um pouco frio aqui Um pouco de medo Está escuro Estou me acostumando a isso Acendo o estopim, aqui dentro de mim... Para saber quem eu sou.

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Teu olhar

Seja métrico, rítmico, frenético Seja galopante, esse teu olhar flamejante Feito de pequenos cristais de diamante. Seja teu olhar – esse alótropo de carbono – o espelho do mar, Sem fim, de infinitos mistérios.

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Ana Laura _ana artsketchs Desde criança eu sempre desenhei, e hoje essa é minha profissão. Faço algumas encomendas de retratos realistas para ganhar uma graninha e ajudar minha mãe, mas o que eu mais gosto é de criar meus desenhos, usar a imaginação e muitas cores. Me inspiro nos animes, mangás japoneses e na cultura que eu admiro muito...a tecnologia futurista e a dos anos 80 e 90,são uma coisa fascinante pra mim, isso é adicionado nas minhas criações, as cores também são inspiradas no Japão e nos anos 80, jogos, plantas, urbanismo também são adicionados e misturados.

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Mariana Cardoso

Escreve porque um dia teve fome; tomou a faca e talhou não os pêssegos, mas as mãos. Para estancar a sangria da ferida que nunca fechou, costura versos e prosas, estuda história, teatro e a quentura própria das duas da tarde. Consta no RG que tem vinte e dois anos e vem de Belo Horizonte.

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Vernissage

Todo mundo elegantece no frio e minas gerais é um reino. Na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard tem paletós, casacos, echarpes indianas, tem scarpins, botas, mocassins, tem a proibida palavra EUROPA acordada sob todas as línguas, línguas doces de champanhe que lambem fantasias de parques com árvores peladas e bistrôs tocando jazz à meia luz. Na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard senhoras e senhores aprovam telas tristonhas com camponeses famintos, com camponeses feridos, com camponeses, e dizem que nunca se fez nada como os retirantes de portinari. Uma parede de vidro, que é uma barreira de vidro, que é um muro de berlim de vidro, que é uma muralha da china de vidro, separa – mui educadamente o respeitável público da Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard do homem escorado do outro lado do vidro, que entre o papelão e a manta dorme de regata e bermuda. O homem que dorme (um camponês faminto, um camponês ferido, um camponês) está fora da Galeria, está fora da estação, está fora de cogitação. Todo mundo elegantece no frio e minas gerais é um reino.

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O passado pela frente

Em agosto de 2017, um ano após o escandaloso processo que depôs Dilma Rousseff, foi ao ar uma entrevista da ex-presidenta concedida à Rede TV!. Mariana Godoy, comandando o programa, inquiriu a convidada sobre sua calma durante o desfecho do impeachment. Não chorou, não desceu a rampa do Planalto, não deixou transparecer, afinal, as emoções que uma cultura piamente crente na fragilidade feminina espera de uma mulher na berlinda. “As pessoas são emotivas, cada uma à sua maneira. Eu não sou uma pessoa que chora, o que não significa que eu não me emociono. Eu não choro porque a minha vida, uma parte dela, não podia chorar. Cê não pode chorar. (...) Cê controla. Nas situações extremas cê não chora. (...) A mais extrema, fisicamente, foi na tortura. Não chora. (...) Doía pra danar. Não é necessário chorar pra sofrer, cê sofre sem chorar. Eu te asseguro isso. (...) É diferente de trauma. Chama-se, assim, repressão política. (...) Quando cê sofre a dor física, cê não tem consciência de nada, cê luta por mais dez minutos, depois mais outros dez, cê luta contra o medo. O medo é maior do que qualquer consciência.” 1

Os jornalistas não ouviram ilesos. Visivelmente desconfortável, Mauro Tagliaferri, também presente durante a gravação, fez menção à fala de Jair Bolsonaro, ainda deputado quando o impeachment foi votado na Câmara. “Pela memória do coronel Carlos Aberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff” 2, o parlamentar votou favoravelmente à cassação do mandato. Ustra foi coronel e um dos maiores torturadores do regime militar; Rousseff foi uma guerrilheira presa e torturada, na década de 1970, pelo crime de subversão. Ao afirmar que um é o terror da outra, Bolsonaro não ignorou a memória ou a dor: desprezou-as. Não há muita consideração quando quem sofre a dor é o outro. O mesmo quando pendurou, em 2009, um cartaz na porta de seu gabinete com os dizeres “Quem procura osso é cachorro” 3, aludindo à busca pelos corpos dos militantes desaparecidos na guerrilha rural do Araguaia. Ou quando disse, sobre o incêndio que consumiu o Museu Nacional em setembro deste ano e destruiu seu acervo: “Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?” 4. Alçado a ícone supremo do “combate” à corrupção e à violência, e por isso sedutor a muitos olhos e ouvidos, Bolsonaro é porta-voz e legitimador de todo um modo de pensar o Brasil sem quaisquer preocupações com a preservação da memória, do patrimônio histórico, do rigor científico. Suas declarações, como as de tantos outros líderes fundamentalistas, são uma constante expulsão de Mnemósine e Clio da vida nacional.

A repressão e a censura às lutas políticas, assim como às manifestações artísticas, contudo, acabam por dar a elas renovada força. As artes florescem com especial vigor durante governos críticos, como resposta e contra-ataque a todo jugo. O campo literário demonstra, de modo particular, o poder de mobilizar a memória e o passado, para fazê-los sentir no presente (como consequência, herança, reminiscência) e no futuro (como possibilidade, previsão, repetição); ou, ainda, para expurgar e cristalizar dores e prazeres contidos em experiências vividas pelo artista. Em um encontro de 1990 gravado pela RTV Unicamp, uma conversa sobre literatura entre os poetas e professores Adélia Prado e Rubem Alves, Adélia ponderou: “Quanto você tem, por exemplo, a memória de uma coisa que te faz falta, uma saudade tão violenta que se

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confunde com uma fome absoluta, e você é capaz de resgatar aquilo na palavra, então você descansa, você fala ‘ai, graças a Deus, a pessoa morreu’, ou ‘o meu relógio que eu amava tanto se perdeu, mas ele está presente aqui’, e de forma muito mais perene, porque a palavra aí, no caso, fica imortal, se ela é realmente uma palavra poética. Então ela fica perene, fresca, imortal (...), você fala ‘que bom, eu não perdi nada’. Porque há o resgate. A palavra resgata.” 5

Sombras de reis barbudos, de José J. Veiga, e As meninas, de Lygia Fagundes Telles, são obras escritas no calor dos acontecimentos, durante a ditadura civil-militar brasileira – 1972 e 1973, respectivamente. Diferentes, porém, são os autores, seus estilos, as relações que estabeleceram com os anos de chumbo, os modos de (re)criar a dor das personagens. O primeiro, um romance de formação cujo protagonista, um menino, vive a experiência de uma ditadura – jamais admitida – em uma pequena cidade rural. O segundo, um romance formado pelo tríplice protagonismo de jovens universitárias em uma metrópole.

Veiga traz Lucas, o narrador que vai da infância à adolescência enquanto correm as páginas e adverte, tomando alguma distância para enxergar melhor os fatos – a história a seguir começa doce, mas termina amarga. A mãe, que nota sua desolação, é quem o motiva a escrever. É um expurgo. Lucas recolhe os sentimentos, seus e alheios, e os abriga dentro do texto. A literatura aqui surge como resgate e espaço de abrigo. Parece muito simples: “apenas” um menino contando histórias; mas é a representação de uma voz marginalizada, que galga seu espaço e entra em disputa com as narrativas oficiais. Escrever memórias é, em parte, recolher-se ao luto; mas também é tomar posse da origem de todos os nossos acontecimentos. 6 A distância entre o vivido e o narrado permite que o Lucas, após experimentar todas as situações, especialmente os sofrimentos, medite sobre elas e desenvolva um posicionamento crítico inédito. Constrói-se a compreensão dos outros através de seus olhos, cheios de expectativa infantil, a princípio, e de busca de sentido, depois; ele pesa, por exemplo, as estranhas motivações e ações do pai, dos momentos mais amenos aos de maior opressão, sejam dirigidas ao menino ou à mãe. Aqui o tempo tem movimento circular, uma espécie de espiral, de vai-e-volta. As coisas estão bem e depois mal, bem e depois mal, e assim continuamente, como a construção da espera nas crianças.

Há vários símbolos para representar o sofrimento, como as sombras, os urubus que pairam sobre a cidade, a construção dos muros nas ruas, a proibição dos ensaios teatrais e outros desmandos excêntricos da Companhia, semelhante aos de instituições totalitárias – a primeira coisa que elas fazem, segundo Hanah Arendt, é separar as pessoas e acabar com os espaços públicos, pois isoladas as gentes não pensam em conjunto e não se organizam. 7 Há também símbolos mais explícitos, como os vários objetos de tortura no fim da trama. Os moradores da cidade constroem uma engenhoca “preventiva”, semelhante às gargalheiras usadas contra escravizados no Brasil, para não serem punidos pelo crime de olhar para o céu. Uma denúncia direta de Veiga, talvez, às violências da ditadura. Além das dores desesperançadas, entretanto, surgem também aquelas que geram movimentos de resistência. Sabe-se, por alto, dado que naqueles tempos o protagonista era uma criança e não poderia conhecer todas as movimentações dos adultos, que há homens sendo presos e contestando. Não raro suas esposas, chorosas, procuram a mãe de Lucas para pedir favores. 8 Mesmo com tantos elementos à disposição, é empobrecedor ler o livro apenas

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sob a ótica ditatorial. Isso significaria datá-lo e impedir outras interpretações. A imagem da Companhia, por exemplo, pode ser ligada não só ao regime, como também ao sistema capitalista.

Lygia Fagundes Telles, por sua vez, desenvolve uma narrativa em que a dor penetra mais facilmente, graças à mistura de três vozes diversas e ao uso do fluxo de consciência como técnica fundamental, cheia de ruídos. Ana Clara, Lia e Lorena são jovens universitárias que residem no pensionato do convento de uma grande cidade. Os algozes da ditadura não se disfarçam atrás da fachada de uma Companhia, como no caso de Lucas; são homens com nomes que Lia, a militante comunista, conhece bem. Mas são também assombros como a pobreza, a violência, a loucura e a solidão.

A autora funda três reinos de dor, um para cada amiga. Ana Turva, a moça-corpo, hedonista, tem no consumo desenfreado, nas drogas e no corpo de Max seu escape. A infância carente, que jamais conheceu um “feudo familiar”, um “olho pingando amor”, mas sim assédios, estupros e abusos, faz eco em toda a sua breve vida adulta. Lião, moça-mente, cerebral, carrega o fardo revolucionário e o medo constante de ser pega a cada esquina. O preto-e-branco quase matemático da rotina de guerrilha a fere: seu escape é o amor pelo companheiro de luta, que não se concretiza. Lena, moça-espírito, tenta tapar os buracos de suas dores com exagerada assepsia. Seu quarto, a concha rosada, é um mundo em que não cabem as desordens vindas do lado de fora - a sujeira das alpargatas e das cinzas do cigarro de Lia, a dureza do sexo de Ana Clara, a violência da morte de Rômulo, a ausência de M.N., a cobiça das ações de Mieux –, mas o sofrimento acaba passando por frestas. “Um pouco que alguém se aproxime e já sente odores. Vozes.” 9

É interessante notar o modo como dentro do texto os homens são fracos e opacos, como que esfumaçados. Em toda a sua obra, Lygia tem em foco a experiência de mulheres brasileiras. Na maior parte das vezes, mulheres de classe média e de grandes centros urbanos tentando controlar a própria vida. Os homens deixam a cena: Miguel e M.N., amores de Lia e Lorena, ainda que sejam figuras importantes, porque muitos evocadas, não aparecem.

Os corpos das meninas defendem-se, cada qual à sua maneira, do sofrimento. Lia não aceita ser domada e engolida: as meias caem de suas panturrilhas grossas e o elástico nunca consegue conter seus cabelos. Lorena exercita-se constantemente, em busca de uma forma física que a torne mais atraente aos olhos dos homens e a salve do pesadelo de permanecer virgem. Ana rói as unhas e demonstra imensa cuidado com os dentes – são as garras com as quais se protege desde o Dr. Algodãozinho. O que a difere das amigas é um desejo inverso: não quer lembrar o passado, quer esquecer. Ana Clara é a antiliteratura, a dificuldade de superar e criar o mundo novo. A memória que às outras parece refúgio e quentura, ou mesmo reinvenção, à jovem beldade representa as sensações ainda muito vivas das violências que sofreu nas mãos do padrasto, do dentista, do noivo. Do mundo de sua infância, enfim, em que vidas “descartáveis” como a sua não eram passíveis de luto.

Ousando olhar ainda mais fundo nos olhos do terror de seu tempo, Lygia inseriu em As meninas, por meio de uma fala de Lia a Madre Alix, o relato de um homem torturado pela ditadura – algo inédito até então. Representando seu

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sofrimento, passado, seria possível chocar o presente e evitar, talvez, sofrimentos futuros. Do choque e da empatia, afinal, é possível que nasça a ação. Para Susan Sontag, americana autora de Diante da dor dos outros, sobre fotografia de guerra e a relação que estabelecemos entre notícia, arte e catástrofe, “A compaixão é uma emoção instável. Ela precisa ser traduzida em ação, do contrário definha. (...) Nossa solidariedade proclama nossa inocência, assim como proclama nossa impotência.” 10

Recusar escarafunchar os dias e anos idos é correr o risco de viver novamente os mesmos traumas e ver outra vez os mesmos fantasmas. Agora que ideias fascistas tornam a fincar suas estacas sobre um terreno de democracia tão menina, quando torturadores, paus de arara, repressões são substantivos-verbos conjugados no presente por maus líderes, o que se pode fazer é tirar as teias de aranha do espelho e mirar nosso reflexo longamente, sem temer feiuras. Soltar aos poucos as armas e as pedras, porque as canetas e os pincéis, eles sim, foram feitos para o abraço macio das mãos.

1 Mariana Godoy recebe a ex-presidente Dilma Rousseff. Entrevista concedida a Mariana Godoy e Mauro Tagliaferri. Disponível em: https://bit.ly/2S0J6Bq

2 Impeachment, Bolsonaro e Ustra. Um coronel da ditadura homenageado no Congresso. Nexo, 2016. Disponível em: https://bit.ly/1QjhXjt

3 Cartaz contra desaparecidos do Araguaia irrita deputados. Estadão, 2009. Disponível em: https://bit.ly/2MWPLOt

4 ‘Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?’, diz Bolsonaro sobre incêndio no Museu Nacional. G1, 2018. Disponível em: https://glo.bo/2wIDGST

5 Poesia – O “bate-papo” de Rubem Alves e Adélia Prado. Campinas: RTV Unicamp, nov. 1990. Disponível em: https://bit.ly/2yotLmh

6 FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Murilo na cidade: os horizontes portáteis do mito. Blumenau: Edifurb, 2003, p. 21.

7 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Trad. de Roberto Raboso. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

8 VEIGA, José J. Sombras de reis barbudos. 15ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1988.

9 TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. 19ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.

10 SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. Trad. de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 84-85.

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Salif Diallo (Salif Silva)

Nasceu em 1979 na ilha do Maio, em Cabo Verde. Transmedia designer e professor universitário. É doutor em Design e membro do coletivo artístico xu.collective. Tem trabalhos transdisciplinares que exploram diversas práticas discursivas e culturais e vários artigos publicados em jornais, revistas científicas e livros. E-mail: [email protected].

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O vale

Quase a desfalecer procuro o discernimento para ainda relatar um pouco daquilo que presenciei. Andei durante vários dias sem encontrar vivalma. Apenas montanhas altas e perigosas, um frio cortante e uma vontade insana de achar de novo a civilização. Cheguei a esta estalagem ainda era noite, depois de um longo caminhar sem descanso. Durante toda a viagem não ousei virar para trás, nem por um instante, sabia que se hesitasse por um segundo que fosse, acabaria por regressar.

Do vale as amargas e violentas recordações das batalhas se confundem com a paisagem miraculosa de um verde cristalino, de uma brisa fresca e das folhas incandescentes, dançando no meio da densa floresta vestida de plantas encantadas. Duras as batalhas, muito cruéis até, serão lutas de grande desespero e sobrevivência. Escorrem regatos de sangue ao longo do vale desenhando manchas vermelhas e violentas pelas margens. Mas, ainda assim, ninguém estaria disposto a morrer sem resistir até ao seu limite. Às escuras lamentações do tempo todos pernoitam e, fosse como fosse, altercam como podem em agarrar essa centelha da vida, por quanto seja ainda possível o seu perdurar.

Maldito seja o anjo da morte que vem assombrar aqueles temíveis e valentes cavaleiros que se entregam à luta com tanto ardor e audácia, com tanta bravura. Penetra silenciosamente no vale, noite longa e no meio das espadas que se entrecruzam, dos gritos que se perdem no vento e do sofrimento que consume as almas, triunfando sobre os guerreiros.

Assim, quase sempre, tão inevitável, por mais que as inumanas forças sejam empenhadas, por mais que as orações desesperantes trepem os céus sem nenhum amparo, por mais valorosos que sejam. No finalmente, é sempre pelo mesmo golpe de espada, por entre as mesmas mãos do inimigo. O fio da vida cede e tudo então se definha na profunda escuridão do além, nesse eterno vazio.

No madrugar da noite e na paz silenciosa do bosque surgem os passos e, das trevas do vale sem fim ressurgem, surpreendentemente, alguns vultos, cavaleiros alegres entoando cânticos de vitória, o anunciar do milagre da ressurreição divina. Nesse triunfante regresso, escondem renovadas forças e uma coragem extraordinária. Sempre disponíveis o desafio, capazes de enfrentar qualquer um e preparados para a nova batalha do dia seguinte. Tinham conseguido desafiar os desígnios da morte e derrotado o medo agoniante, embora, sem compreender o seu preço, nem o verdadeiro jogo do inimigo. Como se da liberdade recusassem o seu resgate. Que destemidos soldados, nesse temor à morte iníqua! Terão já apreendido alguma da morte?

Era tarde fresca de outono, o vento batia leve nas folhas secas, o cheiro precioso do orvalho se confundia com o aroma das flores. O sol inundava com a sua claridade e calor os corações dos cavaleiros valentes do vale. Ali no meio deles, sentia-me inundado de um sentimento indiscritível e a confiança avolumava-se no ser. Apalpando a consciência e enchendo-me de coragem, aproximei do centro, mesmo ao pé do mestre e encarrei de frente aquela multidão de soldados sentados em semicírculo, na habitual reunião magna. De repente, minha voz soltou-se para longe e projetou-se com gravidade. Aquela voz já embaraçava a minha alma e me aprisionava na escuridão daquela paragem longínqua.

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Confiante, falei então do seguinte modo:

“Agradeço-vos profundamente, meu grande mestre e todos vós meus fiéis companheiros, valorosos amigos, pela vossa tamanha generosidade. Por me terem acolhido nesta magnífica casa. Não há palavras que possam expressar o apreço que tenho por vós e a gratidão por tudo quanto tenho aprendido convosco. O valor do combate e o verdadeiro significado da vida. Sei o quanto tenho crescido desde que aqui cheguei e prontamente me amparastes, abrindo os vossos corações. Porém, após uma longa meditação, acabei por tomar uma decisão muito importante. Já não desejo a luta, não pretendo mais batalhar. Renuncio à espada. Prefiro partir além e viver sem ter que lutar. Apesar de não recear jamais a morte, ainda assim, a minha decisão é abandonar o grande vale”.

Nisto, um grande silêncio se abateu sobre o hall do castelo, por entre os olhares murmurantes e sons cobertos de vazio. O mestre levantou-se então e serenamente tomou da palavra e disse:

“Filho estimado, ficamos todos muito gratos pelas tuas palavras de reconhecimento. Sobre a grande batalha, é certo que toda a escolha é tua e nós respeitamo-la profundamente, seja qual ela for. És livre de escolher o teu próprio caminho, mas tens que te lembrar sempre de que se renunciares à luta jamais terás o direito à redenção. Jamais partilharás da vida eterna. Na verdade, só conseguem ressuscitar da morte aqueles que perdem a vida no vale sagrado, lutando com bravura e dando provas da sua coragem até ao fim, sem nunca desistir. Se decidires, portanto, aceitar a morte sem lutar, desaparecerás para sempre e jamais voltarás à vida”.

As palavras do mestre ecoaram como trovão no meu coração e todo o meu sangue ficou gelado de medo. Nunca tinha percebido que esse era o preço, o verdadeiro segredo do vale.

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João Pires da Gama

Nascido em 17/07/1993 em Brasília. Me criei no Rio de Janeiro, cidade, onde vivi grande parte de minhas desventuras e aventuras. Fui poeta de rua. Membro do júri jovem de um festival de cinema. E onde tive minhas dez internações psiquiátricas. Escrevi um livro de poemas chamado “Para Todos os Corações Selvagens”, que lancei na Travessa de Botafogo. O livro está chegando nas livrarias ainda. Tenho um segundo livro para lançar agora chamado “Caçador”. Continuarei escrevendo como meio de sobreviver aos meus demônios. Sou forte o bastante para acreditar na potência de minha obra. Sou um caçador de mim.

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Bandeira Lilás

Elas tinham medo do lobo lá fora Mal sabiam elas Que o mal habitava dentro Os corpos nus, sagrados Como que sacramentados Em um festival de seios, sem tabus As bruxas desenhavam no chão O pentagrama invertido Conjurando Lilith, a primeira mulher Que proclamou em Adão, o homem errado. A costela e as bruxas, no caldeirão Viram suas faces rubras, permeadas de ilusão A ilusão feita por um patriarcado Velharia dos homens brancos Párias de uma misoginia antigamente idolatrada Agora os homens pedem perdão Mas perdão é presa fácil As mulheres uivaram: Não! E nas ruas da cidade, dos gritos Se fez uma só voz Proclamando a glória às mulheres mortas E no calor tropical do Brasil Ouviu-se em coro uma cantoria bélica Que se alastrou no ar até atingir o chão E assim se fez da rebelião Já sem governo, por anarquia Uma belíssima e altiva consagração Nunca foi tão belo ver a lua beijar o sol E ser na canção Homem e Mulher Na cruz Maria e João

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Marcus Ernesto Marchi Júnior (Nome

Artístico: Marcus Marchi Jr.)

Salões de Arte

. 52º e 81º Salão Ararense de Artes Plásticas

. X Salão Elke Hering de Artes Visuais - SC

. 65º Salão de Abril de Fortaleza

. 7º Salão de Artes Plásticas de São José do Rio Preto - SP

. 2º e 3º Salão de Outono da América Latina

. SAV – Salão de Artes Visuais de Vinhedo – SP

Premiações

. 9º e 16º Salão de Artes de Catanduva

. XI Salão Latino-Americano de Artes Plásticas de Santa Maria- RS

.VI Salão da Câmara Municipal de ponta Grossa –PR

. 1º Salão Priorado dos Inconfidentes Sete Lagoas –MG

. 82º Salão Ararense de Artes Plásticas

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Delírio de um vegetariano – Técnica mista (desenho + colagem)

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Rotina de cão (vou por que tenho que ir) – (desenho caneta esferográfica)

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Ser humano não é gente – 00A – (desenho caneta esferográfica)

Ser humano não é gente – 01A – (desenho caneta esferográfica)

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“CRUZ & MARCHI”

Eduardo A. Carrilho Cruz (Dudu Cruz)

Trabalho com arte digital desde 2003, com pratos sujos, e tantas outras coisas que não são interessante para se ter numa parede antes de serem trabalhadas. Depois com máquina fotográfica ampliou-se a diversidade de imagens. Participei de várias exposições coletivas. No Instituto Bunkio 2 anos, 2004 2005. Em 2007: Laureado com medalha de prata pelo Museu do Louvre pela coletânea de trabalhos, por intermédio de Diva Pavesi. E participei de várias exposições coletivas.

Marcus Ernesto Marchi Júnior (Marcus Marchi Jr.)

Salões de Arte

. 52º e 81º Salão Ararense de Artes Plásticas

. X Salão Elke Hering de Artes Visuais - SC

. 65º Salão de Abril de Fortaleza

. 7º Salão de Artes Plásticas de São José do Rio Preto - SP

. 2º e 3º Salão de Outono da América Latina

. SAV – Salão de Artes Visuais de Vinhedo – SP

Premiações

. 9º e 16º Salão de Artes de Catanduva

. XI Salão Latino-Americano de Artes Plásticas de Santa Maria- RS

.VI Salão da Câmara Municipal de ponta Grossa –PR

. 1º Salão Priorado dos Inconfidentes Sete Lagoas –MG

. 82º Salão Ararense de Artes Plásticas

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A dinâmica da desordem urbana - (Dudu Cruz arte digital - Marcus Marchi Jr. colagem

não-digital)

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Fuga para a liberdade - (Dudu Cruz arte digital - Marchi Jr. colagem não-digital)

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