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    III Encontro Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao - XIII ENANCIB 2012GT 9: Museu, Patrimnio e Informao

    CATEGORIZAO DOS EX-VOTOS NO MUSEU VIVO DO PADRE CCERO EM

    JUAZEIRO DO NORTE-CEModalidade de apresentao: Comunicao Oral

    Carla Faanha de Brito UFCVirgnia Bentes Pinto [email protected]

    RESUMOA gnese do sintagma ex-votos traz em sua semntica o reconhecimento de f, sendomaterializado nas peas que simbolizam o agradecimento de uma graa alcanada, a seralcanada, ou pedido de proteo, seja ele referente cura de uma doena ou outra coisa. Osex-votos podem se apresentar de formas diversas: rplicas de partes do corpo, quadros, fotos,vestimentas etc., colocados nas igrejas, capelas ou em museus sacros. Em Juazeiro do Norte, oMuseu Vivo do Padre Ccero, conhecido popularmente como Casaro, constitudo por umrico acervo de peas ex-votivas, tornando-se um espao de patrimnio, representandoreferncias da memria cultural e religiosa. O estudo em foco caracteriza-se como pesquisaqualitativa, de natureza descritiva, apoiado na anlise de contedo, no interacionismosimblico e na etnometodologia. O objetivo geral foi: analisar o discurso imagtico do acervodo Museu Vivo do Padre Ccero em Juazeiro do Norte-CE, representado na figura dos ex-votos, na perspectiva de elaborao de um modelo de categorizao baseado na categorizaoaristotlica, visando representao indexal. Os resultados demonstram que nesse museuexistem vrias categorias de peas ex-votivas que precisam ser organizadas conforme asferramentas do campo da Cincia da Informao e que a aplicabilidade das categoriasaristotlicas apoiada no uso de uma terminologia museolgica poder trazer contribuiesefetivas para a recuperao da informao no espao museolgico.

    Palavras-chave: Categorizao. Representao. Ex-votos. Museu Vivo do Padre Ccero.Religiosidade Popular. Memria.

    ABSTRACT

    The genesis of the syntagm ex-votos brings in its semantic recognition of faith as embodied

    in the pieces that symbolize an received grace, or to be achieved, or asking for protection,being it related to healing of a disease or something else. The ex-votos can take a wide varietyof forms: replicas of body parts, pictures, photos, clothing etc., deposited in churches, chapelsor sacred museums. In Juazeiro do Norte-CE, the Living Museum of Father Cicero, popularlyknown as Big House, has a rich collection of ex-votive pierces, becoming a space heritage,that represents the cultural and religious memory references. This study is characterized as aqualitative, descriptive, based on the content analysis, in symbolic interactionism andethnomethodology. The purpose of this study was to: analyze the discourse imaging of theLiving Museum of Father Cicero of Juazeiro do Norte-CE, represented by its ex-votos, for thepreparation of a model of categorization based on the Aristotelian categorization, for anindexal representation. The results of this study show that in this museum there are several

    categories of ex-votos that need to be arranged from the Information Science view and the useof the Aristotelian categories as a museological terminology may bring contributions to theeffective information retrieval in museum space.

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    Keyword: Categorization. Representation information. Ex-votos. Museum. Living Museumof Father Cicero. Popular Religiosity. Memory.1 INTRODUO

    Na sociedade contempornea, mais do que nunca, embora se conviva bastante comdocumentos impressos, aqueles no impressos desempenham papel de destaque, no somentepara estudiosos desses tipos de suportes de registros de informao, no entanto, tambm, paraa Cincia da Informao, particularmente, no mbito de museus, bibliotecas e outros espaosmemorialsticos.

    Nesse mbito que a pesquisa se introduz apresentando algumas questes que surgem

    a partir de nosso problema de pesquisa que se reflete na seguinte indagao: em quecategorias devem ser agrupadas as peas referentes aos ex-votos do Museu Vivo1 do PadreCcero, visando a estabelecer uma realidade representada por essas peas?

    Na medida em que esses objetos museolgicos adquirem sentidos, transmutam dacondio original de objetos de devoo. Conforme Azevedo Netto (2008), sendo esseselementos formas de representao pblica, j que foram produzidos em um espaointersubjetivo, atuando nas estruturas cognitivas daqueles que interagiram com essas figuras,refletimos sobre discurso expositivo com origem nessa resignificao dos ex-votos quandotransmutam de sua condio original, de objetos de devoo para uma nova roupagem comoobjetos expostos em um espao coletivo, no caso dos museus.

    Conforme Ferguson (1999), ao ofertar o ex-voto, ocorre o pagamento da dvidacontrada no ato do pedido, finalizando o processo caracterstico da prtica votiva, constitudopor trs estgios principais: a realizao do voto, a manifestao do milagre e o pagamento dapromessa. A noo do conceito de ex-voto nos leva ao entendimento de um voto que j foialcanado ou concedido.

    O tema escolhido para a discusso desta pesquisa traz em sua proposta a significnciados objetos museolgicos representados nos ex-votos no espao do Museu Vivo do PadreCcero, conhecido popularmente como Museu do Casaro, em Juazeiro do Norte-CE, como

    Esclarecemos que esta pesquisa no contempla o conceito de museu vivo, entendido como sendo territrios que abrigamexposies vivas, pois esses espaos levam em conta espcies de seres vivos existentes na natureza, como zoolgicos etc.,portanto no se aplica ao caso da denominao de Museu Vivo do Padre Ccero, porm, ao longo desta dissertaoutilizaremos esta denominao por se tratar do nome registrado no Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM. Talvez no casodo Museu do Padre Ccero, esse entendimento de Museu vivo seja uma metfora de eternidade do Padre e por se tratar deum espao dinmico e interativo na concepo de seus criadores.

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    elementos criadores de uma realidade viva e representativa das intervenes coletivas dosdevotos em torno da figura do Padre Ccero Romo Batista.

    Essa pesquisa refora o conceito de museu no mais como espao de reproduo da

    realidade, porm comolocusde produo e construo de sentidos. A esse respeito, Loureiro;Loureiro, L; Silva (2008, p.5) dizem que os museus so produtores ativos e dinmicos quecriam realidades por meios dos objetos.

    Amparados nessas reflexes, nosso interesse intensificou-se pela temtica em questo,pois, em visitas, observamos que existe uma rica variedade de ex-votos, por exemplo, figurasque retratam uma parte do corpo humano, um animal, uma pea de vesturio, e documentosfotogrficos que podem ser categorizadas, de modo a dar no apenas uma esttica ao museu

    porm, na perspectiva de elaborao de redes semnticas, de categorias de temas especficosrepresentados nessas peas. Para tanto, buscamos apoio nas categorias aristotlicas discutidasno livrorganon, que apresenta as dez categorias (substncia, quantidade, qualidade, relao,lugar, tempo, posio, posse, ao e paixo).

    Como objetivo geral desta pesquisa, analisamos o discurso imagtico do acervo doMuseu Vivo do Padre Ccero em Juazeiro do Norte-CE, representado na figura dos ex-votos,na perspectiva de elaborao de um modelo de categorizao baseado na categorizao

    Aristotlica visando representao indexal.

    2 MUSEUS COMO ESPAOS DE SOCIALIZAO: testemunhos da memria cultural ereligiosa

    Ao longo da histria da humanidade, os museus constituem, por exemplo, espaos dememria cientfica, sociocultural e religiosa; independentemente de suas especificidades.Conforme o ICOM (Conselho Internacional de Museus), na definio aprovada pela 20

    Assembleia Geral de Barcelona em 6 de julho de 2001,museu uma instituio permanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade edo seu desenvolvimento, aberta ao pblico e que adquire, conserva, investiga,difunde e expe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, paraeducao e deleite da sociedade. (ICOM, 2011).

    Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)[...] os museus so casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos,pensamentos e intuies que ganham corpo atravs de imagens, cores, sons eformas. Os museus so pontes, portas e janelas que ligam e desligammundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. Os museus so conceitos eprticas em metamorfose. (IBRAM, 2011).

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    Os museus so necessariamente espaos de comunicao, como bem diz Horta (1994,p.10), em sua anlise semitica do museu. Para essa estudiosa, os museus no se constituemapenas instituies,

    [...] mas como um meio, um instrumento, um sistema de comunicao, comuma estrutura flexvel e mutante como a da linguagem que se apia em umnovo conceito do objeto museal. Essa estudiosa diz ainda que, o processo decomunicao dos museus implica o uso de diferentes cdigos e sistemassemiticos, que vo atuar simultaneamente sobre os receptores.

    Vemos, pois, a relao entre ex-votos, devotos e museu como criao e transformaode sentido, de objeto devocional para objeto museolgico, representada por um vastoprocesso de formao, sustentao e transformao de objetos, na medida em que seus

    sentidos se modificam, modificando o mundo das pessoas. (HAGUETTE, 2007, p.37).Observando essa realidade do deslocamento do conceito inicial de ex-voto, interessa-

    nos tambm a discusso do espao museolgico e sua composio mediante suasintervenes, repleto de simbologias, principalmente no que tange ao Museu Vivo do PadreCcero como campo de pesquisa, no mais como espao de reproduo da realidade, pormcomolocus de produo, elaborao sgnica, lugar de memria. Em realidade, conforme Lima(2008, p. 36) essa produo de sentidos se traduz

    A (re)interpretao que se faz do produto cultural ao qualific-lo nacategoria de Bem Cultural uma atribuio de valor, um juzo elaboradopelo campo cultural que o consigna como elemento possuidor de carterdiferencial. E ao distingui-lo deste modo, torna-o especial e em posio dedestaque perante os demais objetos da mesma natureza, emprestando-lhesentido de excepcionalidade. Mencionando objetos materiais que sedestacam e os significados decorrentes dos juzos de valor que lhes foramatribudos, h exemplos eloqentes para citar quando se trata de ilustrar oque se considera um Bem Cultural.

    Em um dilogo com a memria, elemento esse importantssimo para entendermos oprocesso de composio e representao de um Bem Cultural, entendemos que, paraconfirmar ou recordar uma lembrana, no so necessrios testemunhos no sentido literal dapalavra, ou seja, indivduos presentes sob uma forma material e sensvel. (HALBWACHS,2006, p. 31). Entendemos que todo esse processo de representao apoiado nas possibilidadestrazidas pela memria-fonte nica na qual se podem representar as coisas do passado-guardaextensa ligao com a instncia dos museus, ao servir de espao de interao e troca delembranas que se transformam em memrias, primordialmente individuais, mas que setornam coletivas.

    Ao identificar as instncias produtoras e reprodutoras de sentido nos museus,observamos o papel desses agentes na troca de experincias, no mais alheias ou mesmo

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    pessoais, mas experincias representadas por uma memria que trazida ao museu, comoespao comum, contemplada e vivida pelo prisma da coletividade.

    Defendemos, ento, o argumento de que os objetos caracterizados como ex-votos so

    reflexos de testemunhos no somente apoiados em uma memria individual de devoo, mastambm enriquecidos pela memria coletiva das pessoas que tanto depositam suas graasrepresentadas pela figura do ex-voto, quanto daquelas que contemplam, se identificam etecem a relao e sentidos, agora, permitidos pela instncia do museu. De acordo com Ricoeur(2007, p.41) [...] o testemunho constitui a estrutura fundamental de transio entre amemria e a histria. Dessa forma, por intermdio dos fatos relatados, ou mesmo de fatosdepositados como objetos e imagens, das memrias do passado, no caso dos ex-votos, que

    temos acesso ao discurso histrico apresentado no mais como fatos pessoais e ntimos,dispersos e sorrateiros, vistos sob a suspeita da ptica da descrena incutida peloesquecimento, mas agora como fatos que podem ser estudados, questionados oucomprovados, refletidos e interpretados; quer dizer, a legitimao da memria materializadanos museus.

    Segundo Pollak (1992, p. 211), a memria pode ser compreendida, no primeiromomento, como um fenmeno individual. O autor ressalva, contudo, que ela deve ser vista

    [...] como um fenmeno construdo coletivamente e submetido a flutuaes, transformaes,mudanas constantes, consolidando-se no espao, no objeto, na imagem, no suporte.

    Consoante todo esse processo de trazer as coisas do passado ao presente, podemosentender que essas memrias so constitudas por meio de lembranas individuais, privadas ecoletivas, apoiadas pelas lembranas de outro, mesmo que estejam somente ligadas a eventosque somente nos pertencem. (HALBWACHS, 2006). Dessa forma somos parte de um todo.Levamos conosco, em nossas lembranas, as aes do outro mesmo na sua ausncia.

    3 RELIGIOSIDADE POPULAR EM JUZEIRO DO NORTE-CE

    Para compreendermos as emoes motivadas pela devoo e f contidas nos objetosex-votivos representados pelas promessas de curas, proteo e realizaes alcanadas,manifestaes essas que materializam a f por meio do objeto, faz-se mister um estudo dareligiosidade popular, prtica observada nas manifestaes encontradas em Juazeiro do Norte,vinculada nas promessas, romarias, procisses, festas religiosas etc.

    Conforme Cmara Neto (2002, p. 2),[...] a religiosidade popular, portanto, no corpo eclesial nem corpodoutrinrio, configurando-se em uma religiosidade dotada de razovel

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    independncia da hierarquia eclesistica incluindo-se a toda adocumentao oficial da Igreja e todos os telogos elaboradores da doutrina independncia essa ao carter sistemtico do catolicismo oficial,materializada em uma exploso quase ntima ao sagrado, humanizando-o,sentindo-o prximo, testando-o e sentindo sua fora por mtodos criados,no pelo clero, mas pelos prprios devotos, mtodos esses que sotransmitidos, em sua grande totalidade, oralmente. Em suma, o vivido emoposio ao doutrinal.

    A religiosidade popular, como observado nas palavras do autor, vista dentro dasprticas religiosas do catolicismo oficial como transgresso aos dogmas e doutrinas, comoao profana, recebendo influncia de suas origens desde as primeiras manifestaes de talprtica no perodo colonial que geraram tais movimentos.

    Em consequncia, nasce o catolicismo popular que desestrutura tal ortodoxia e sobum olhar suspeito, que perpassa um fio tnue entre o profano e o sagrado. Conforme oentendimento de Azzi (1987, P. 125), no h unanimidade no entre os termos religiosidadepopular e o catolicismo popular, sua herana ligada aos cultos pagos e experincias msticas,burlando os ditames da ortodoxia e a unicidade da religio catlica, divide opinies quanto aoseu conceito e ao que pretende ser. Isso decorre das origens e prticas da religiosidadepopular no Brasil que tem por alicerce heranas da f catlica em Portugal, impregnada deinfluncias de grupos tnicos, vindos das culturas e religies islmicas e africanas, com seusrituais msticos, que aos poucos tornaram Portugal bero de uma religio hbrida. Surge umcatolicismo popular, voltado invocao de um ser protetor, para a cura imediata, para aresoluo dos problemas, mediante os anseios do povo, que se manifestava por meio depedidos e agradecimentos em festas, cultos, romarias etc.

    Observando as caractersticas e aes traadas ao longo do tempo dessa prticareligiosa, so notrias as manifestaes da religiosidade popular no universo escolhido danossa pesquisa. Essa prtica religiosa carrega em sua semntica um universo rico de

    contedos simblicos, que culminam em uma reapropriao das tradies religiosas cujaautoria est na comunidade-romeiros, devotos, penitentes-como expresso de devoo e f.

    A cidade de Juazeiro do Norte-CE um exemplo tpico desse tipo de manifestao,produzindo uma sucesso de eventos que marcam a religio catlica popular local, por meiode romarias, pagamento de promessas, penitncias, milagres, procisses, festas etc. verdadeiratradio cultural.

    marco dessa religiosidade popular o milagre ocorrido com a beata Maria de Arajo

    em 1889, que passou a ter experincias sobrenaturais, entrando em transe ao receber de PadreCcero a hstia da comunho, onde as hstias recebidas sangravam, e esse fenmeno passa a

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    ser considerado como milagre por parte da populao. Em 1934, depois da morte de PadreCcero, surge a devoo sua figura, gerando relatos de sua apario. O padre foi consideradosanto pelo povo de Juazeiro do Norte e o responsvel por inmeros milagres, atravs da cura

    de doenas e desejos realizados.Juazeiro do Norte uma cidade que tem no padre Ccero Romo Batista ummarco na construo da religiosidade, da cultura do seu povo e nosacontecimentos polticos da regio do Cariri. Graas a ao do patriarca, ela considerada uma dos maiores centros de religiosidade popular da AmricaLatina, atraindo milhes de romeiros todos os anos. (SANTANA NETO,2011, p. 5).

    Padre Ccero tambm considerado um empreendedor no crescimento da cidade deJuazeiro no Norte e cercanias, pois, em virtude da religiosidade popular, manifestada pelocatolicismo popular, como observa Santana Neto (2011, p. 5), o

    [...] movimento migratrio desencadeado pelo milagre de Juazeiro que fezcom que aquele povoado tivesse sua populao multiplicada rapidamente. Afigura do padre assumiu caractersticas msticas atraindo milhes deromeiros. Crescentes multides de fiis vinham a Juazeiro em busca dosconselhos e das bnos do Padim Cio.

    Della Cava (1985, p. 27) destaca o crescente desenvolvimento de Juazeiro do Norte,por ele denominado de vila santurio, onde milhares de romeiros instalaram residncia fixa,

    na cidade do Padim, gerando em menos de 20 anos um polo de destaque agrcola, comerciale artesanal por meio da f em busca de trabalho e prosperidade. O que parecia umaconvocao para um ato religioso se tornou novamente, como no acontecido milagre dahstia, um salto para o desenvolvimento empreendedor de Juazeiro do Norte.

    Rios (2011, p.151) reflete a respeito do Padre que virou santo - Padre Ccero - afirmando que no Vale do Cariri, foi canonizado pelo povo mesmo antes de morrer,provando que para um santo existir, basta apenas a vontade dos fiis.

    Assim, a imagem do Padre Ccero referncia na dinmica social local, fazendo surgirextensas romarias pela cidade e o fluxo de peregrinos, denominados de romeiros queenriquecem Juazeiro do Norte junto imagem do santo popular, nas casas, praas eestabelecimentos comerciais.

    Seguindo esse raciocnio, Berger (1985, p. 17) discorre sobre essa relao entredevotos, que so trazidos pelas romarias ao acentuar que as romarias, carregam em si umsentido de busca, ao permitir que o devoto tenha um encontro com supremo, com o ideal.Embora sejam motivadas por motivos ntimos e pessoais, as romarias no configuramtrajetria percorrida individualmente, mas do universo simblico criado por todos e reflexo deprocessos sociais mais abrangentes, na medida em que determinam condutas e prticas sociais

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    referentes a papis e identificaes reconstitudas por meio da participao do indivduo nocenrio social; ou seja, em uma ao coletiva, que tece interaes religiosas e culturais.

    Essa realidade nos habilita a ratificar nossa compreenso de que os objetos ex-votivos

    como manifestaes dessa religiosidade esto cada vez mais em processo de constantetransformao, onde qualquer objeto, estando relacionado ao pagamento da promessa dodevoto, no importando tipos e formas, podem ser includos na categoria de objeto ex-votivo.

    Com tudo isso, a hegemonia do conceito de religiosidade popular est ligada muitomais a um conceito regional, ou mesmo nacional, do que universal (CMARA NETO, 2002,p. 6). Assim, no possvel definir de forma unnime o termo religiosidade popular, apenasapresentar alguns conceitos comuns que se manifestam em universos diferentes, j que esta

    impulsionada no coletivo, recebendo reflexos socioculturais, ora de maneira intensa, ora deforma mais sutil nas regies onde h reflexos desse tipo de religiosidade.

    4 METODOLOGIA

    Este ensaio se caracteriza como pesquisa qualitativa. Conforme Flick (2004, p. 25), um processo contnuo de construes, de verses da realidade, cujo foco no apenas ofenmeno estudado em si, mas o relato ou discurso do sujeito de pesquisa sobre o fenmeno

    vivido ou presenciado por ele, e que este o verdadeiro objeto da pesquisa. Para Minayo(2004, p. 22), a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das aes erelaes humanas, um lado no perceptvel e no captvel em equaes, mdias eestatsticas. A pesquisa qualitativa visa compreenso e reflexo acerca dos sentidos dosfenmenos a serem investigados e prope uma viso mais apurada dos aspectos sociais dosenvolvidos na pesquisa, como o caso da nossa viso sobre o fenmeno ex-votivo.

    De natureza descritiva, a pesquisa tem por finalidade identificar as caractersticas de

    um determinado problema ou questo e descrever o comportamento dos fatos e fenmenos.(BRAGA, 2007, p.25).

    Com vistas a investigar mais profundamente os objetos de pesquisa, valemos-nos datriangulao metodolgica. A proposio de Fortin (1996, p. 318) traz a triangulao como oemprego de uma combinao de mtodos e de perspectivas que permitem extrair conclusesvlidas propsito de um fenmeno.

    Delineamos nossa pesquisa com arrimo nos mtodos compreensivos. No

    Interacionismo Simblico, na medida em que os objetos em termos de seus sentidos socriaes sociais, ou seja, so formados com amparo na definio e interpretao pela interao

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    humana. (HAGUETTE, 2007, p. 37). Na Etnometodologia-pois nos guiar na anlise dosfatos relatados pelos devotos na busca de identificar os mtodos que as pessoas usam na suavida diria a fim de constituir a realidade social. Neste sentido, nos deslocamos em longos

    passeios que fizemos pela cidade de Juazeiro do Norte, a fim de buscar subsdios para acompreenso da representao simblica do fenmeno da religiosidade popular nessa cidade.Tambm, por vrios momentos, visitamos esse espao, tentando identificar a variedade detipos de documentos ex-votivos a fim de obter subsdios que contribussem para nossaproposta de categorizao.

    Aliado Etnometodologia, trabalhamos tambm com anlise de contedo, tomandocomo referncia principal Bardin (2002, p. 38), que entende essa tcnica como [...] um

    conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes que utiliza procedimentos sistemticos eobjetivos de descrio do contedo das mensagens. Todos esses mtodos nos deramsustentao para compreender a pesquisa emprica de modo a nos apropriar do objeto deestudo, a fim de que fosse possvel constituir as categorias conforme a proposta aristotlicaque embasa o aspecto pragmtico desta dissertao.

    Para a coleta de dados, respaldamo-nos na tcnica de observao no participante.Assim, fizemos diversas visitas ao Museu Vivo do Padre Ccero, tanto em perodo de

    romarias, bem como em dias considerados comuns, embora nunca o sejam, pois todos os diasocorrem visitas a esse espao, no no sentido cultural, porm, na crena que os romeiros tmpara alcanar graas ou pagar por aquelas j concretizadas. Tambm realizamos vriascaminhadas pela cidade de Juazeiro do Norte, a fim de observar a etnografia da presena realdas imagens de Padre Ccero pela cidade e o simbolismo da representao social dosseguidores de Ccero Romo Batista. Todas essas observaes foram anotadas no dirio decampo, no intuito de investigar o sentido do objeto de estudo de forma plena, minimizando os

    conflitos e tenses nas interpretaes e concluses sobre os dados da pesquisa.Alm de nossas caminhadas pela cidade de Juazeiro do Norte, concentramos o estudoemprico no Museu Vivo do Padre Ccero. Os estudos de caso so originrios das pesquisasda rea de medicina, principalmente, nos chamados caso de Hipcrates, e foram se infiltrandoem outros campos de saberes. No entendimento de Godoy (1995, p. 25) esses estudos so"[...]como um tipo de pesquisa cujo objeto uma unidade que se analisa profundamente e objetivao exame detalhado de um ambiente.

    Esse museu est registrado no IBRAM por meio do Cadastro Nacional de Museus,tambm conhecido popularmente como o Museu do Casaro localizado no bairro do Hortoem Juazeiro do Norte-CE. Nesse Museu, a temtica gira em torno dos ex-votos trazidos pelos

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    devotos e cuja devoo est aliada figura do Padre Ccero Romo Batista, personagem dereferncia dos moradores e devotos de toda a regio Nordeste, em particular, do Cariri, eespecialmente da cidade de Juazeiro do Norte, campo emprico desta pesquisa.

    O Museu Vivo do Padre Ccero foi inaugurado no dia 21 de julho de 1999. Situado emtorno da esttua do Padre Ccero, obra do artista Armando Lacerda. A edificao do Casarotem um grande valor espiritual. Embora seja de natureza privada, pois mantido pelaEntidade dos Afilhados do Padre Ccero, ainda assim, ao visitar esse espao, a primeiraimpresso que temos de que se trata de um museu pblico; afinal, no cobrada nenhumataxa para se entrar e muito menos para se deslocar nas diversas salas onde os ex-votos estoarmazenados.

    Considerado um museu de arte religiosa seu acervo composto por peas religiosascomo oratrios, imagens de santos etc. bem como pelos objetos ex-votivos. A classificaodos ex-votos, universo de nossa investigao, feita por tipo de material: peas de madeirarepresentando partes do corpo humano. Com rarssimas excees, estas perpassam toda aextenso do museu, fotos, roupas, quepes militares e bons, vestidos de noiva e outros objetosdo cotidiano, representativos da religiosidade popular, que assumem uma nova representao,tornando-se objeto de devoo, como estojos de canetas, rplicas de casas e stios, brinquedos

    como bonecas e carros etc, assumindo o terceiro sentido o de objeto museolgico.As peas de ex-votos que chegam ao Museu Vivo do Padre Ccero so deixadas em

    um altar, onde se encontra uma imagem do santo popular de joelhos, erguido ao centro domuseu.

    mister lembrar, com base na Poltica Nacional de Museus (2007), que o Museu Vivodo Padre Ccero, apesar de contemplar algumas das caractersticas museolgicas, ainda sedistancia de algumas concepes no mbito dos museus, como por exemplo no que se refere

    ao planejamento e execuo da exposio, muitas vezes causando poluio visual, aoenvolver no mesmo espao peas semanticamente distantes. Embora esse museu no atendatodas as prerrogativas necessrias para se fazer museu, ainda assim, respeitado como tal,pelos prprios organismos consagrados instituio museolgica.Tambm, no nos podemosesquecer de que o poder da cultura ultrapassa a dimenso conceitual e a vontade do povo maior do que qualquer coisa. O Padre Ccero Romo um desses exemplos e, por extenso, omuseu que leva seu nome. Morin (2002, p. 35) fundamenta nosso entendimento, assinalandoque a cultura o conjunto de hbitos, costumes, prticas, saber fazer, saberes, normas,interditos, estratgias, crenas, ideias, valores, mitos, que se perpetua de gerao em gerao,reproduz-se em cada indivduo, gera e regenera a complexidade social.. Esses aspectos esto

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    presentes no ambiente do Museu Vivo do Padre Ccero. Da a enorme representaosimblica das peas ex-votivas.

    5 CATEGORIZAO DOS EX-VOTOS DO MUSEU VIVO DO PADRE CCEROEmbora com a sua gentica na Filosofia Clssica, a categorizao vem ao encontro dos

    interesses e pesquisas no campo da Cincia da Informao, principalmente, com base naspropostas de classificao que buscam estruturar os conhecimentos em grandes categorias,apresentando as relaes entre eles. Acompanhando essa insero e inovao da categorizaono tratamento e representao da informao, Bentes Pinto et. al. (2010) acentua que

    [...] esse ressurgimento decorrente da chamada exploso informacionaloriunda do desenvolvimento cientfico e tecnolgico, que a partir dasTecnologias Eletrnicas da Informao e da Comunicao (TEICs) seintensificam cada vez mais, configurando-se no paradigma do excesso deinformao e das dificuldades para acess-las. Portanto, est no cerne dasdiscusses em torno da representao do conhecimento e da informao,desde que essa representao no seja entendida como um mero aglomeradode informaes, mas, como sendo uma linguagem estruturada que seconstitui como um sistema lgico- simblico que contempla aspectos dosconhecimentos implcito (tcito), explcito e criativo.

    A categorizao sempre esteve presente nas discusses dos filsofos da AntiguidadeClssica, desde os pr-socrticos. Considera-se Plato, no entanto, como um dos pioneiros aestabelecer classificao e categorizao do mundo, de modo que o homem pudessecompreend-lo e se deslocar sobre ele. Aristteles (2000), na obra traduzida por Maria JosFigueiredo, Categorias, traz a categorizao como forma ontolgica de estruturar oconhecimento, buscando dar luz a toda essa complexidade percebida hoje na sociedade e que j se anunciava desde o homem pr-histrico. Assim, estruturou os sentidos expressados porintermdio das palavras em dez categorias:substncia, quantidade, qualidade, relao,lugar, tempo, posio, posse, ao e paixo.

    Essa polissemia presena constante identificada nos estudos de representao dainformao, pois, ao lidarmos com a informao, e seus reflexos em uma sociedade plural,nos deparamos uma diversidade de palavras, imagens e objetos que receberam influncia dacultura em que se inserem, trazendo a estes mudanas de forma e sentido.

    Ao estudar a categorizao aristotlica, visando sua aplicabilidade aos ex-votospercebemos sua necessidade, primeiramente, por entender a dinmica e complexidadeimplcitas nesses objetos. Segundo, porque os ex-votos so documentos que precisam ser

    tratados do ponto de vista informacional, seguindo os princpios de organizao dainformao no mbito da Cincia da Informao. Assim, os ex-votos se constituem pela sua

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    forma (modelos,designers etc.) e pelo seu contedo a representao simblica da graaalcanada. , portanto, nesse tipo particular de documento que a informao se materializa naf do sujeito.

    No que diz respeito descrio dos objetos de museu, Mensch (1987, 1990, apudFERREZ, 1991) aponta que existem trs aspectos fundamentais a saber:

    a) propriedades fsicas dos objetos (descrio fsica); composio material, construotcnica e morfologia (forma espacial, dimenses, estrutura da superfcie, cor, padres de cor,imagens, texto, se existente);

    b) funo e significado (interpretao); significado principal (significado da funo,significado expressivo - valor emocional-), significado secundrio, simblico e metafsico; e

    c) histria; gnese (processo de criao no qual idia e matria-prima se transformemnum objeto), uso (inicial e reutilizao), deteriorao e conservao, restaurao.

    Esclarecemos que, embora a preocupao desta pesquisa no seja, necessariamente, sedebruar em todos esses aspectos, ainda assim, consideramos importante traz-los aqui, hajavista que eles esto presentes nas peas ex-votivas e contribuiram para materializar a propostade categorizao.

    Para estruturar a categorizao dos ex-votos do Museu Vivo do Padre Ccero,

    baseamos-nos noThesaurus para acervos museolgicos, de autoria de Helena Dodd Ferrez eMaria Helena S. Bianchini, editado em 1987, que um dos poucos instrumentosterminolgicos dessa rea no Brasil. Com relao aos objetos de ex-votos no tratados nesseThesaurus, utilizamos a terminologia adotada pelo Museu, adaptando-a aos objetos ex-votivosde l.

    Inicialmente, observamos o modo como os ex-votos so organizados no espao domuseu. O resultado dessa observao permitiu ampliar a concepo acerca desses objetos,

    formas, tipos, sentidos, estrutura lgica etc. Pelo fato de as peas de ex-votos seremconstitudas pela representao de vrios e diversos objetos, seguindo esseThesaurus predicamos o qualificador, conforme o interesse da instituio. Por exemplo, corao demadeira. Nesse museu, as classes de peas ex-votivas seguem a prpria estrutura distribudapelos responsveis do museu, entre as salas de exposio, sem, contudo, necessariamenteseguir uma categoria semntica de objetos em classes.

    Seguindo as orientaesThesaurus para acervos museolgicos, classificamos aspeas- ex-votivas em onze (11) grandes categorias, dispostas em ordem alfabtica, para que,somente com base nelas, pudssemos estruturar as subcategorias referentes s peas ex-votivas.

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    QUADRO 1 Onze grandes categorias

    A) O CORPO HUMANO NA SUA ESTRUTURACOMPLETA E PARTES;

    B)

    OBJETOS CERIMONIAISC) OBJETOS PESSOAISD) TRABALHOE) TRANSPORTE

    F) ANIMAISG) COMUNICAO

    H)

    CONSTRUOI) EMBALAGENS/RECIPIENTESJ) INSGNIASK) LAZER E DESPORTO

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

    Estabelecidas essas grandes categorias, o passo seguinte foi estabelecer as dezcategorias correspondentes s peas ex-votivas.

    Visando a melhor compreenso didtica, elaboramos alguns quadros, criando as

    relaes com os ex-votos, apresentados conforme a estrutura anteriormente estabelecida,classificando os componentes inscritos nesses objetos. Sendo assim, consideramos que acategoria substncia em toda a nossa proposta diz respeito ao conceitoex-voto. Por qu?Porque na proposta aristotlica essa categoria se destaca por ser a essncia dos objetos que, nocaso do Museu Vivo do Padre Ccero, o ex-voto. J a qualidade refere-se predicao doobjeto, o individualizando. Para tanto, observamos a Nota de Aplicao (NA) doThesaurus,que orienta para se qualificar os ex-votos acrescentando a extenso qualificador do

    descritor/nome do objeto, de acordo com o interesse da instituio. (FERREZ, BIANCHINI,1978, p. 273). Assim, acrescentamos, por exemplo, corao de madeira, cabea de porcelana.A quantidade configura-se como a caracterstica de quantificao do objeto ex-votivo,

    no no que se refere totalidade do acervo, porm em quantas partes se pode representar agraa alcanada ou solicitada, por exemplo. No que concerne relao, configura-se pelovnculo entre a f do devoto com o ex-voto. A paixo diz respeito ao ato que desencadeia todoo processo da crena no santo. Ao corresponde concretizao do movimento da paixo,o feito. A categoria posse estabelece uma relao de propriedade do ser com a coisa. Posiorefere-se disposio do objeto no museu. A categoria lugar representa o espao locacionalonde o objeto exposto, enquanto o tempo se refere a condio de temporalidade, depermanncia da exposio do ex-voto no espao do museu.

    O esclarecimento das categorias aristotlicas se faz necessrio nesta pesquisa, hajavista que so peas de acervos museolgicos. Portanto, a aplicabilidade dessas categorias nose configura como um exerccio simplista. Muito pelo contrrio, foi necessrio certo cuidadoem mergulhar no universo cultural e religioso onde se localizam as peas ex-votivas parapodermos entender a lgica categorial e s ento modelar a proposta que ser exposta aseguir. De posse desses dados, elaboramos as categorias conforme os ensinamentos de

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    Aristteles, apresentadas aqui para representar os dados finais da pesquisa quatro das onzecategorias trabalhadas:

    A)

    O CORPO HUMANO NA SUA ESTRUTURA COMPLETA E PARTES;B) OBJETOS CERIMONIAIS;C) OBJETOS PESSOAIS;D) TRABALHO.

    A) CATEGORIA REFERENTE AO CORPO EM SUA ESTRUTURA COMPLETA EPARTES

    No Thesaurus de base para a estruturao das categorias, as esculturas relativas ao

    corpo humano no so consideradas em sua estrutura completa, porm somente a cabea, asmos e o tronco (busto) que esto na categoria artes visuais/cinematogrfica. Nas notasexplicativas dessa fonte, inserem-se nessa categoria os objetos cuja finalidade a esttica,portanto, a semntica das peas ex-votivas sob o olhar do devoto, no tem essa configurao.Assim, optamos por construir uma categoria que privilegiasse esse sentido. Nessa categoria,alocamos as peas ex-votivas (madeira ou no) que retratam o corpo humano em sua estruturacompleta: cabea, tronco e membros. Apresentaremos entre as partes do corpo encontradas no

    Museu Vivo do Padre Ccero: cabeas e mamas.

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

    Quadro - 2 - Aplicabilidade da categorizao de Aristteles em peas de ex-voto CABEA

    CATEGORIAS PREDICADOS

    SUBSTNCIA Ex-votosQUALIDADE Cabea de madeira, de porcelanaQUANTIDADE nicaRELAO Graa alcanadaAO Cura Doena

    PAIXO DevooPOSSE Caracterizado com o tipo, e/ou tamanho e formato.POSIO Pendurada por ganchos e sobre superfcie de madeiraLUGAR Prateleiras, paredes ou vitrina-armrios.TEMPO Rotativo

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    Quadro -3 - Aplicabilidade da categorizao de Aristteles em peas de ex-voto: MAMA

    CATEGORIAS PREDICADOS

    SUBSTNCIA Ex-votoQUALIDADE Mama de madeiraQUANTIDADE Um ou doisRELAO Graa alcanadaAO Cura DoenaPAIXO DevooPOSSE Caracterizado e/ou imantado com a doena, inscrio no objeto

    e/ou tamanho e formato.POSIO Pendurados por ganchosLUGAR ParedesTEMPO Rotativo

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

    B) OBJETOS CERIMONIAIS

    Seguindo-se as instrues de Ferrez e Bianchini (1987, p. 57), essa categoria dizrespeito aos objetos utilizados em cerimnias ou rituais, civis, religiosos, ou militares, desdeque sejam sistemticos. Esto inclusos nessa categoria as subcategorias relativas aos objetoscerimoniais de instituies, comemorativos, de cultos efnebres.

    Quadro 4 - Aplicabilidade da categorizao de Aristteles em peas de ex-voto: URNA CINERRIA

    CATEGORIAS PREDICADOS

    SUBSTNCIA Ex-votoQUALIDADE Urna cinerria em caixa de madeira e

    plsticoQUANTIDADE nicaRELAO ConfortoAO Pedido de proteoPAIXO Devoo

    POSSE Cinzas do devoto ou de algumparentesco com o mesmoPOSIO Sobre superfcie de madeiraLUGAR Vitrina-armriosTEMPO Rotativo

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

    C) OBJETOS PESSOAIS

    Incluem-se nessa categoria os objetos destinados a atender as necessidades humanas.

    Conforme Thesaurus para acervos museolgicos, se enquadram nessa categoria assubcategorias seguintes: acessrios de indumentria, artigo de tabagismo, de viagem, objetos

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    de adorno, devoo pessoal, conforto e peas de indumentria. No Museu Vivo do PadreCcero, observamos a existncia dessas duas ltimas. Na nota de escopo desse vocabulrio,consideram-se comopeas de indumentriaos objetos usados como vestimentas oucalados por seres humanos. inclui, tambm as coberturas de cabea e mscaras quecomplementem trajes. Apresentaremos como exemplo a subcategoria vu e grinalda.

    Quadro - 5 - Aplicabilidade da categorizao de Aristteles em peas de ex-voto: VU e GRINALDA

    CATEGORIAS PREDICADOS

    SUBSTNCIA Ex-votoQUALIDADE Vus de fil e Grinaldas de prolasQUANTIDADE Um ou vrias

    RELAO Graa alcanada ou a ser alcanada/ Pedidode proteoAO Agradecimento e/ou desejo de realizaoPAIXO DevooPOSSE Objeto de origemPOSIO Sobre superfcie de madeiraLUGAR VitrinasTEMPO Rotativo

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

    4) TRABALHO

    Conforme a Nota de Aplicao do Thesaurus para acervos museolgicos,enquadram-se nesta categoria os objetos utilizados nas atividades de trabalho do ser humano,incluindo-se aqui as subcategorias relativas a equipamentos: agrcolas, de artes do espetculo,de artistas/artesos, de atividades comerciais, de fiao/tecelagem, de minerao, de pecuria,mdicos, musicais, petrecho de pesca.

    Destaca-se nesta categoria entre os ex-votos encontrados do Museu Vivo do PadreCcero a subcategoria:equipamento mdico.

    Quadro - 6 - Aplicabilidade da categorizao de Aristteles em peas de ex-voto: MODELO DEDENTADURA E AFASTADOR TORCICO/DE EXTERNO ETC.

    CATEGORIAS PREDICADOS

    SUBSTNCIA Ex-votoQUALIDADE Molde de dentadura (gesso) e afastador torcico/de externo

    QUANTIDADE nicoRELAO Graa alcanadaAO AgradecimentoPAIXO DevooPOSSE Objeto de trabalho do devoto

    POSIO Sobre superfcie de madeiraLUGAR Vitrina-armriosTEMPO Rotativo

    Fonte: Dados da pesquisa emprica

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    6 CONCLUSO

    A procedncia da expresso do termo ex-votos remonta aos povos gregos e romanos e

    traz em sua semntica o reconhecimento de f, sendo materializada nas peas que simbolizamo agradecimento de uma graa alcanada, seja ela referente cura de uma doena ou a outracoisa.

    Este artigo resultado de pesquisas desenvolvidas em nvel de mestrado, ondeprocuramos entender os problemas voltados aos objetos da cultura material, em um trabalhoespecfico com ex-votos, objetos-documentos que podem ou no se configurar como aquelestradicionais da representatividade cultural e religiosidade popular, na tentativa de buscar

    aspectos significantes que os tornam elementos ricos de informaes apontando paramapeamento de uma memria coletiva revelada numa dinmica de modelos e formas.(BRITO, 2012, p. 16).

    Com essa compreenso, estabelecemos os pilares desta pesquisa, buscando analisar odiscurso imagtico do acervo do Museu Vivo do Padre Ccero em Juazeiro do Norte,representado na figura dos ex-votos, na perspectiva de elaborao de um modelo decategorizao baseado nas categorias Aristotlicas, visando representao indexal.

    Os ex-votos podem se apresentar de formas diversas: rplicas de partes do corpo,fotos, vestimentas etc., colocados nas igrejas ou em museus religiosos.

    O estudo em lide identificou no Museu Vivo do Padre Ccero um rico acervo de ex-votos, tornando-se um espao de patrimnio, representando referncias da memria cultural ereligiosa.

    Entre as instncias produtoras de conhecimento, se destacam os museus, espao aquidiscutido como lugar de transformao, onde as lembranas se tornam memrias

    representadas por figuras, sons, imagens e objetos. Ao abordarmos o modo como essamemria presentificada se enlaa ao cotidiano das pessoas, destacamos as peas de ex-votoscomo testemunho das vivncias de devotos em torno da graa alcanada, como figurasrepresentativas da memria cultural e religiosa referente figura de Padre Ccero RomoBatista. Sendo assim, ratificamos o fato de que os ex-votos, no contexto observado ao longodessas discusses, so fontes de informao histrica, veculos de comunicao e preservaoda memria.

    vlido salientar que no h padro quanto ao que pode se tornar objeto ex-votivo.Nossa proposta de categorizao, mesmo aplicada aos ex-votos do Museu Vivo do PadreCcero, o que j limita a pluralidade desses objetos, pois estes so enraizados s estruturas

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    culturais de Juazeiro do Norte, foi fruto de uma pesquisa realizada durante no perodo de julho de 2010 a dezembro 2011. Sabendo da dinmica desses objetos, possvel que esseaspecto hbrido tenha produzido outros ex-votos que no se encontram nesta pesquisa. Isto

    no invalida, porm, sua aplicao, mas contribui de forma a indicar os caminhos paracompreender a essncia do ex-voto, suas manifestaes e interferncias na sociedade.

    Em adio a todo esse complexo informacional e ao dinamismo observado nas peasex-votivas, envolvidas e transformadas pela cultura - e visando a estruturar as informaes emcampos estratgicos para entender o processo de idealizao, construo e institucionalizaodesses elementos- estruturamos os dados extrados dos ex-votos nas dez categorias deAristteles: substncia, qualidade, quantidade, relao, ao, paixo, posse, posio, lugar e

    tempo.Os resultados mostram que, no contexto do Museu Vivo do Padre Ccero e dos ex-

    votos, possvel a aplicao das categorias de Aristteles com vistas a constituir uma cadeiade elementos que ora se repetem e so comuns aos ex-votos, ora se modificam, sendo comunsa algumas classes tipolgicas e alheias a outras.

    No podemos deixar de identificar, porm, alguns problemas para estabelecer acategorizao, pois algumas informaes podem estar implcitas em tais objetos. Suas formas

    e sentidos so constantemente modificados pela cultura, necessitando de uma leitura apoiadaem fragmentos, como bilhetes que acompanham as peas, testemunhos de devotos e guias domuseu, para extrair, de forma justa, a dinmica informacional proposta pelas peas de ex-votos.

    Com relao contribuio desta pesquisa, reside em outra perspectiva informacionalem relao ao documento no verbal, no caso em baila, as peas ex - votivas, que constituemo acervo do Museu Vivo do Padre Ccero, evidenciando que, como qualquer outra fonte de

    informao, os ex-votos precisam ser tratados do ponto de vista documental e, para que seobtenha xito, a colaborao entre a Biblioteconomia e a Museologia se faz necessria.Portanto, temos a expectativa de que esta pesquisa possa servir de base para subsidiar outrosestudos, tanto nessas reas como outras interdisciplinares, principalmente no que diz respeito elaborao de linguagens documentrias concernentes terminologia das peas ex-votivas,que ainda so escassas no Brasil, haja vista se tratar de museus que fogem estrutura daquelestradicionais.

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