Biologia Celular II

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Biologia Celular, Genética.

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  • Bruno Azevedo

    Mrcia Attias

    Narcisa Cunha e Silva

    Prescilla Emy Nagao

    Biologia Celular II

    1, 2 e 3Mdulos Volume nico

  • Bruno Azevedo

    Mrcia Attias

    Narcisa Cunha e Silva

    Prescilla Emy Nagao

    Volume nico - Mdulos 1, 2 e 3

    Biologia Celular II

    Apoio:

  • Material Didtico

    ELABORAO DE CONTEDOBruno AzevedoMrcia AttiasNarcisa Cunha e SilvaPrescilla Emy Nagao

    COORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALCristine Costa Barreto

    DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISOAlexandre Rodrigues AlvesAna Tereza de AndradeJanete Silveira Pinto

    COORDENAO DE LINGUAGEMMaria Anglica Alves

    REVISO TCNICAMarta Abdala

    2009/1 Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

    Copyright 2005, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj

    Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.

    A994bAzevedo, Bruno.

    Biologia celular II. v. nico / Bruno Azevedo et al. Rio de Janeiro : Fundao CECIERJ, 2009.

    261p.; 19 x 26,5 cm.

    ISBN: 85-7648-134-0

    1. Ciclo celular. 2. Ncleo interfsico. 3. Funes celulares. 4. Matriz extracelular. 5. Clula nervosa. 6. Clula muscular. 7. Clulas-tronco. 8. Clula apoptptica. I. Attias, Mrcia. II. Silva, Narcisa Cunha e. III. Nagao, Prescilla Emy. IV. Ttulo.

    CDD: 571.6

    EDITORATereza Queiroz

    COORDENAO EDITORIALJane Castellani

    REVISO TIPOGRFICAKtia Ferreira dos Santos

    COORDENAO DE PRODUOJorge Moura

    PROGRAMAO VISUALRenata BorgesSanny Reis

    ILUSTRAOEquipe CEDERJ

    CAPAJefferson Caador

    PRODUO GRFICAAndra Dias FiesFbio Rapello Alencar

    Departamento de Produo

    Fundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001

    Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725

    PresidenteMasako Oya Masuda

    Vice-presidenteMirian Crapez

    Coordenao do Curso de BiologiaUENF - Milton Kanashiro

    UFRJ - Ricardo Iglesias RiosUERJ - Cibele Schwanke

  • Universidades ConsorciadasUENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho

    UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Vieiralves

    UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

    UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta Miranda

    UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira

    UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

    Governo do Estado do Rio de Janeiro

    Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia

    Governador

    Alexandre Cardoso

    Srgio Cabral Filho

  • Biologia Celular II

    SUMRIO

    Volume nico

    Mdulo 1

    Aula 1 - O ciclo celular _____________________________________________7 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 2 - A clula em diviso _______________________________________ 25 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 3 - Ncleo interfsico ________________________________________ 41 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 4 - Transporte ncleo-citoplasma________________________________ 59 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Mdulo 2

    Aula 5 - Junes celulares 1: Junes ocludentes _______________________ 77 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Prescilla Emy Nagao

    Aula 6 - Junes celulares 2: Junes ancoradouras e junes comunicantes ___ 89 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Prescilla Emy Nagao

    Aula 7 - Matriz extracelular_______________________________________ 107 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Prescilla Emy Nagao

    Aula 8 - Matriz extracelular: as protenas da matriz _____________________ 119 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Prescilla Emy Nagao

    Aula 9 - Parede celular __________________________________________ 135 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Mdulo 3

    Aula 10 - A clula nervosa ________________________________________ 145 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 11 - A clula muscular _______________________________________ 163 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 12 - As clulas-tronco ________________________________________ 187 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva

    Aula 13 - A clula apoptptica _____________________________________ 209 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Bruno Azevedo

    Aula 14 - A clula cancerosa _______________________________________ 233 Mrcia Attias / Narcisa Cunha e Silva / Bruno Azevedo

    Gabarito ____________________________________________247

  • Ao final desta aula, voc dever ser capaz de:

    Definir o que ciclo celular.

    Listar e caracterizar as quatro fases que compem o ciclo celular.

    Descrever o mecanismo bsico de controle do ciclo pelas ciclinas e quinases associadas a ciclinas (Cdks).

    Conceituar o que so e onde se situam os pontos de checagem.

    Relacionar a protena p53 ao surgimento de tumores malignos.

    Conceituar G0.

    Sinalizao celular (Aulas 13 e 14

    de Biologia Celular I)

    Pr-requisito

    objetiv

    os1AULAO ciclo celular

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    INTRODUO O ciclo celular, que voc estudar agora do ponto de vista celular, j foi

    estudado na disciplina Gentica.

    Ao longo de toda a vida de um organismo, mesmo depois de terminado

    o perodo de crescimento, vrias de suas clulas continuaro se dividindo,

    seja para renovao de tecidos, como o epitlio intestinal e as clulas

    sangneas, seja para reparo de leses, como um corte na pele ou a

    fratura de um osso.

    A etapa de diviso celular, que voc estudar na Aula 2, compreende a

    mitose, na qual o DNA dividido em duas cpias idnticas, e a citocinese,

    quando a membrana plasmtica se estrangula, dividindo o citoplasma,

    suas organelas e estruturas, entre as clulas-filhas. Cada clula-filha entra

    ento no perodo de intrfase. O nome intrfase induz idia de que

    esse perodo apenas o intervalo entre duas divises celulares. Quando os

    perodos do ciclo celular foram denominados, os pesquisadores realmente

    consideravam a intrfase apenas como o intervalo entre duas divises,

    porque eram as divises celulares que mais chamavam a ateno, eram

    mais fceis de observar, por isso mais estudadas. Com o tempo, ficou claro

    que durante a intrfase que a clula desempenha todas as suas funes.

    Nesse perodo, ocorre a sntese de componentes celulares citoplasmticos

    e a duplicao do DNA. Uma diviso sempre precedida de uma intrfase

    e aps a intrfase muitas vezes sobrevm uma diviso. Essa , em essncia,

    a dinmica do ciclo celular (Figura 1.1).

    Figura 1.1: O ciclo celular de uma clula de mamfero

    dura, em mdia, 24 horas, e composto por um pero-

    do de crescimento e uma diviso. A clula leva cerca

    de uma hora para se dividir. O perodo de sntese

    inclui uma fase de crescimento (G1) , a duplicao do

    DNA (S) e um segundo perodo de crescimento (G2).

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    AS FASES DO CICLO CELULAR

    A Figura 1.1 sintetiza as principais caractersticas do ciclo celular

    de uma clula de mamfero tpica. A fase M, ou de diviso celular, em geral

    dura apenas cerca de uma hora, mas muito impactante, pois vemos

    ao microscpio ptico, em tempo real, a condensao e movimentao

    dos cromossomos, a separao das clulas-filhas etc. (pea ao tutor

    para mostrar a voc algumas animaes na Internet). J na intrfase,

    que corresponde s restantes 23 horas do ciclo, a simples observao

    ao microscpio ptico no d nenhuma indicao da intensa atividade

    que ocorre nesse perodo.

    A intrfase compreende trs fases: G1, S e G2. As fases G1 e G2

    correspondem a intervalos (G de gap, espao em ingls) onde a clula

    cresce para recuperar o volume que a clula-me tinha antes da diviso.

    Nesse perodo, so sintetizadas membranas para o complexo de Golgi,

    o retculo e para incorporao membrana plasmtica. Alm disso,

    organelas celulares como mitocndrias crescem e se clivam. Sem esse

    acrscimo de volume, a cada diviso, as clulas-filhas seriam menores

    (veja a Figura 1.3). Na fase S (de Sntese), o DNA duplicado. Como

    voc pode perceber, a mitose s se inicia depois de garantida a herana

    que cada clula-filha vai receber. Nisso consiste a beleza do ciclo celular:

    cada fase s tem incio depois de cumprida a tarefa anterior. Isso evita

    que sejam produzidas clulas onde possa estar faltando alguma parte

    do genoma. De forma anloga, a clula no consegue formar membrana

    plasmtica, retculo ou Golgi, a no ser pela incorporao de elementos

    estrutura preexistente. Assim, cada clula-filha precisa herdar parte do

    Golgi, do retculo e tambm mitocndrias da clula-me.

    Num organismo adulto, cada tipo celular tem o ciclo com uma

    durao diferente, desde algumas horas, at anos. Nesses ciclos, o que tem

    durao varivel a fase G1. As fases S e M tm durao aproximadamente

    constante em cada organismo. A fase M, especialmente, curta, durando

    cerca de uma hora. Veja a comparao da durao do ciclo em diferentes

    tipos celulares na Figura 1.2.

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    Figura 1.2: Em A, a representao do ciclo celular de uma clula epitelial; em B, de um hepatcito. Embora clulas

    epiteliais se dividam a cada 24 horas, aproximadamente, e clulas hepticas apenas uma vez a cada dois anos, o tempo

    gasto pelos diferentes tipos celulares nas fases S, G2 e M aproximadamente igual. O que varia a durao de G1.

    Multiplicao sem crescimento. Ser que pode?

    No incio do desenvolvimento embrionrio, o zigoto, ou clula-

    ovo, sofre ciclos sucessivos de mitose em que as clulas-filhas so cada

    vez menores. Nessa fase, diz-se que o ovo est sofrendo clivagem e,

    embora o nmero de clulas aumente, o volume do embrio quase

    igual ao da clula inicial (Figura 1.3). Esta uma situao especial

    em que o ciclo celular uma sucesso de fases S e M, sem parar em

    G1 e G

    2. Isso acontece porque a clula-ovo tem, quando comparada

    s clulas do indivduo adulto, um grande volume citoplasmtico,

    e nesse citoplasma h um estoque das molculas necessrias, o que

    permite que a clula se divida muitas vezes sem precisar esperar

    que essas molculas sejam sintetizadas de novo durante a intrfase.

    Em conseqncia disso, as divises so rpidas, mas o volume das

    clulas-filhas vai diminuindo, embora o do ncleo permanea constante.

    Num determinado momento, o estoque citoplasmtico de molculas

    acaba ficando abaixo do necessrio para disparar a duplicao do

    DNA e a mitose. A partir da, nas etapas seguintes do desenvolvimento,

    essas clulas continuaro no apenas a se dividir, mas comearo a se

    diferenciar nos diversos folhetos e anexos embrionrios.

    Figura 1.3: No incio de seu desenvolvimento, o zigoto sofre sucessivas clivagens, um tipo

    de ciclo celular no qual a intrfase curta e no ocorre crescimento das clulas-filhas.

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    CONTROLE DO CICLO CELULAR

    Mesmo para um leigo, as imagens de uma clula em diviso so

    sempre surpreendentes: a sincronia do afastamento dos cromossomos

    na anfase, o estrangulamento que separa as clulas-filhas, a

    recomposio do envoltrio nuclear, tudo parece orquestrado como

    num teatro onde fios invisveis coordenam os movimentos dos bonecos,

    no caso, as clulas.

    Essa seqncia ordenada de eventos no se restringe mitose,

    ela caracterstica de todo o ciclo celular: o DNA s vai se duplicar

    aps a fase de sntese e crescimento celular, e a mitose s se inicia se o

    DNA estiver duplicado e a clula tiver o tamanho correto. Concluindo:

    o disparo de cada etapa do ciclo celular feito durante a etapa anterior.

    como o ciclo de uma mquina de lavar: encher lavar enxaguar centrifugar. A mquina possui sensores para medir o nvel de gua,

    temporizadores para que cada etapa dure apenas o necessrio... Mas e

    na clula? Quais so os sensores que liberam a etapa seguinte?

    Esse mistrio comeou a ser elucidado a partir de experimentos

    com ovcitos de sapo (Xenopus). Como j comentamos na Figura 1.3,

    o zigoto dos animais normalmente uma clula grande, e no caso do

    Xenopus (Figura 1.4) mede mais de 1mm!

    Figura 1.4: O ovcito de Xenopus mede mais

    de 1mm. (Foto de Tony Mills, publicada em

    Molecular Biology of the Cell, Garland Pub. Co.)

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    CONTROLE INTERNO DO CICLO

    A princpio, acreditava-se que o controle do ciclo celular estava

    no ncleo das clulas, mas um experimento crucial demonstrou que o

    controle exercido por molculas do citoplasma.

    O experimento consistia em retirar com uma agulha bem fina

    uma poro do citoplasma de um ovcito fecundado (zigoto) e injetar o

    contedo em um ovcito no fecundado (Figura 1.5). Pois bem, a clula

    que recebia esse extrato citoplasmtico entrava imediatamente em mitose

    (embora fosse haplide!). Injetando-se o extrato citoplasmtico de uma

    clula na fase G2, no produzia nenhum efeito no ovcito. Concluiu-se,

    ento, que no citoplasma do zigoto havia um fator promotor de mitose

    ou MPF (de M-phase promoting factor).

    Quando o MPF foi purificado, constatou-se que ele

    continha uma nica enzima: uma protena quinase (veja o boxe).

    Ao fosforilar protenas-chave, eventos caractersticos da mitose como

    a condensao dos cromossomos, desagregao do envoltrio nuclear

    e outros eram disparados.

    Quinases

    So enzimas que catalisam uma reao em que uma outra protena fosforilada, isto , um fosfato vindo do ATP liga-se a um de seus aminocidos. Essa reao pode ser rapidamente revertida pela ao de um outro tipo de enzima as fosfatases. A adio ou remoo de grupos fosfato uma das maneiras mais freqentes de ativao e inativao de molculas (Aulas13 e 14 de Biologia Celular I).

    Figura 1.5: Demonstrao experimental da presena do fator de promoo de mitose. Apenas

    o extrato do citoplasma de clulas na fase M capaz de induzir a diviso de um ovcito no fecundado.

    Injeo de extrato

    de citoplasma de

    zigoto na fase M

    Ncleo

    Formao de

    fuso mittico

    Injeo de extrato

    de citoplasma de

    clula em intrfase

    Ovcito inicia mitose Ovcito no se divide

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    Um fato intrigante que essas quinases estavam presentes no ovo

    de Xenopus em todas as fases do ciclo celular, enquanto a ativao do

    MPF era cclica (Figura 1.6). Como poderiam essas quinases estarem

    ativadas apenas em determinado momento?

    Figura 1.6: Aps injeo do extrato citoplasmtico de Xenopus, a atividade

    da MPF aumenta rapidamente, caindo abruptamente ao final da mitose.

    Essa pergunta no foi respondida atravs de experimentos feitos

    com ovos de Xenopus e sim ovos de mariscos. Nesses organismos, foram

    detectadas protenas cuja concentrao ia aumentando gradativamente

    durante a fase S, caindo abruptamente quando a clula entrava na fase

    M (Figura 1.7). Essas protenas foram batizada de ciclinas.

    Figura 1.7: A concentrao citoplasmtica da ciclina disparadora da mitose aumenta gradativa-

    mente durante a intrfase, caindo abruptamente ao final da mitose. A concentrao da quinase

    promotora da mitose constante ao longo de todo o ciclo celular, apenas sua atividade varia.

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    Concluiu-se assim que o MPF , na verdade, um complexo

    de protenas: uma ciclina e uma quinase dependente dela, ou Cdk

    (cyclin dependent kinase) (Figura 1.8). Aps a descoberta da ciclina e da

    Cdk disparadoras da mitose M-ciclina e M-Cdk foram identificadas

    outras ciclinas (e respectivas Cdks) disparadoras de outros eventos do

    ciclo celular. Assim, embora as Cdks estejam presentes o tempo todo, sua

    atividade regulada pela presena, ou no, da ciclina que a ativa.

    Figura1.8: Para que determinada fase do ciclo

    celular se inicie, necessria a ativao da Cdk

    por uma ciclina especfica. A Cdk ativa, por sua

    vez, vai fosforilar outras molculas e provocar

    mudanas na clula, como a condensao dos

    cromossomos, a formao do fuso mittico etc.

    Tambm ficou mais clara a dinmica de ativao das Cdks: as

    ciclinas da mitose, por exemplo, comeam a ser sintetizadas no incio

    da fase G1. Sua concentrao citoplasmtica vai aumentando at atingir

    a concentrao reativa. Isso ocorre imediatamente antes de a clula

    entrar na fase M. Nesse intervalo, a clula estar cumprindo o roteiro

    de atividades das fases G1 (crescimento), S (duplicao do DNA) e

    G2 (crescimento), sempre pela ativao de Cdks especficas dessas

    etapas, que vo sendo ativadas por ciclinas cuja concentrao reativa

    alcanada primeiro.

    CONTROLE EXTERNO DO CICLO: A ORDEM DOS FATORES ALTERA O PRODUTO

    Um ponto fundamental para o ciclo celular dar certo que cada

    evento s seja iniciado quando for concluda a fase anterior (o mesmo

    princpio da correta lavagem de roupas: nada de enxaguar antes de

    ensaboar). No difcil prever as conseqncias desastrosas de entrar

    em mitose antes de concluda a duplicao do DNA, ou da entrada na

    fase S sem que a clula tenha crescido o suficiente. Por isso, ao longo

    Quinase dependente

    de ciclina (Cdk)

    Ciclina

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    do ciclo celular existem diversos pontos de checagem. Para passar

    etapa seguinte, cada item da etapa anterior checado e, se no estiver

    cumprido, o ciclo celular no avana. Veja na Figura 1.9 quais so esses

    pontos de checagem.

    Figura 1.9: Ao longo do ciclo celular existem trs pontos de checagem: em G1, G2 e em M. Em cada um

    desses pontos, so checados os itens correspondentes s perguntas contidas nas caixas. Se todos esti-

    verem corretos, a clula passa etapa seguinte, cumprindo a ordem inserida na caixa sombreada.

    Uma clula pode ficar muito tempo em G1 se no houver nutrientes

    suficientes para manter um nmero maior de clulas. Do mesmo modo,

    a disponibilidade de espao tambm limita a proliferao celular.

    Alm disso, mesmo com nutrientes e espao suficientes, as clulas no

    se dividem se no receberem de outras a informao de que devem

    se dividir. Esta informao vem na forma de molculas sinalizadoras

    chamadas fatores de crescimento, detectadas por receptores de superfcie.

    O somatrio de sinais, que engloba os nutrientes, o espao disponvel

    e os fatores de crescimento, constitui a resposta para a pergunta

    O ambiente favorvel? feita na checagem de G1.

    Em G1 a clula precisa crescer para recuperar o volume perdido

    ao ter o citoplasma dividido entre as clulas-filhas. Esse crescimento,

    naturalmente, depende de um ambiente favorvel para a obteno de

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    nutrientes, de temperatura e pH adequados realizao dos processos

    metablicos. No se sabe como a clula consegue calcular que o volume

    do citoplasma em relao ao ncleo atingiu a proporo correta, mas

    quando isso acontece a clula fica liberada para entrar na fase S, de

    sntese do DNA.

    A deciso de entrar na fase S da intrfase conhecida como

    ponto de Start, pois inicia um processo que irreversvel a partir desse

    ponto. Depois que uma clula inicia a duplicao do genoma, ter de

    se dividir ou morrer.

    O segundo ponto de checagem est em G2. A o tamanho e o

    ambiente so novamente conferidos. Embora o maior crescimento

    ocorra em G1, a clula pode crescer mais um pouco em G

    2. Entretanto,

    o ponto mais importante a ser conferido se o DNA est total e

    corretamente duplicado. Nesse ponto, vrias anomalias genticas, como

    mutaes e delees, podem ser detectadas e corrigidas, ou as clulas

    defeituosas podem ser eliminadas. Uma falha nesse ponto pode levar ao

    desenvolvimento de tumores malignos.

    A ltima chance de eliminar uma clula defeituosa no ponto

    de checagem que antecede a sada da fase M. Enquanto todos os

    cromossomos no estiverem alinhados na placa metafsica, a diviso

    celular no prossegue para a anfase e para a citocinese (separao das

    clulas-filhas). Isso visa a garantir que cada clula-filha receber uma

    cpia exata do genoma da clula-me.

    CICLINAS E CDKS: PRECISO ALGO MAIS

    J compreendemos que a clula entrar na fase M quando a

    M-Cdk formar um complexo com a M-ciclina, cuja concentrao

    citoplasmtica aumenta gradativamente a partir de G1. Para garantir

    que a M-Cdk no comece a fosforilar as protenas da fase M antes da

    hora, o complexo M-ciclina-M-Cdk inicialmente inativo. Para que a

    Cdk se torne ativa, precisa ser fosforilada. Duas quinases fosforilam a

    M-Cdk. Uma fosforila um stio que inibe a atividade da M-Cdk, a outra

    fosforila o stio de ativao da enzima. Assim, o complexo s se tornar

    ativo depois de ter um desses fosfatos (o inibidor) removido pela ao

    de uma fosfatase. A partir da, o complexo ciclina-Cdk (ou MPF) se

    torna ativo e capaz de catalisar inclusive a ativao dos complexos

    ainda inativos (Figura 1.10).

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    M-Cdk

    M-ciclina

    MPF inibidoQuinaseinibitria

    Fosfatoinibidor

    Fosfatoativador

    Fosfataseativadora

    MPF ativado

    V O C U M H O M E M O U U M C O G U M E L O ?

    (O pequeno prncipe Antoine de Saint-xupery)

    Enquanto o ciclo celular era estudado em ovos de sapos e mariscos, as leveduras,

    formas unicelulares de alguns fungos (como o fermento de po), foram escolhidas

    como clula eucaritica modelo para estudar os genes que controlam o ciclo celular.

    Apesar de serem clulas eucariticas, as leveduras levam quase o mesmo tempo que

    uma bactria para se duplicar. Seu ciclo celular todo leva cerca de uma hora. Associado

    a isso, foram produzidas muitas formas mutantes de leveduras que interrompiam o

    ciclo celular em diferentes pontos, permitindo identifi car que genes estavam envolvidos.

    Isso permitiu concluir que, do ponto de vista evolutivo, o ciclo celular

    um evento extremamente conservado. Os mesmos genes que

    controlam o ciclo em um simples fungo tambm esto presentes em

    seres complexos como os mamferos, ou seja, eu, voc e todos ns!

    Figura 1.10: O complexo promotor de mitose depende

    da fosforilao de um stio e da defosforilao de

    outro da Cdk para que o complexo se torne ativo.

    Quinaseativadora

    M-Cdk

  • Biologia Celular II | O ciclo celular

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    Afinal, o que as Cdks fosforilam?

    As Cdks de cada etapa do ciclo celular catalisam a fosforilao

    de diferentes protenas com diferentes resultados. A M-Cdk, por

    exemplo, atua, entre outras, sobre as seguintes protenas (que so, claro,

    seus substratos):

    catalisa a fosforilao das laminas, filamentos intermedirios que formam uma rede que reveste o envoltrio

    nuclear (Aula 22 de Biologia Celular I e Aula 3 de Biologia Celular II).

    As laminas fosforiladas despolimerizam, provocando a fragmentao da

    lmina nuclear e a vesiculao (e desaparecimento) do envoltrio nuclear.

    A fosforilao de uma outra protena, a condensina, promover a condensao dos cromossomos observada na mitose (Aula 2).

    A fosforilao de protenas associadas aos microtbulos tambm promover sua reorganizao para formar o fuso mittico (Aula 2).

    Cada etapa do ciclo depende de ciclinas diferentes

    O disparo de cada etapa do ciclo celular depende da ativao de

    complexos ciclina-Cdk especficos daquela etapa (Figura 1.11).

    Figura 1.11: Cada complexo ciclina-Cdk

    capaz defosforilar vrias protenas

    (substratos) relativas quela fase.

    Cdk Ciclina mittica Cdk Ciclina de G1

    MPF Substratos a serem

    fosforilados

    na mitose

    Quinase start Substratos a serem

    fosforilados

    em START

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    Em contrapartida, uma vez encerrada aquela etapa, como

    interrompida a atividade dessas quinases? Respondeu certo quem

    se lembrou do mecanismo de degradao de protenas em proteassomas,

    estudado na Aula 18 de Biologia Celular I. Ao fim de cada etapa

    as ciclinas so ubiquitinadas e direcionadas para rpida destruio

    nos proteassomas (Figura 1.12).

    Os substratos do MPF, como as laminas, as condensinas, as

    protenas associadas a microtbulos etc., que tinham sido fosforilados

    no incio da fase M, sero defosforilados no final dessa fase por fosfatases

    que so ativadas ainda pelo prprio MPF, imediatamente antes da

    degradao das ciclinas.

    Figura 1.12: Em cada etapa do ciclo celular, diferentes Cdks so ativadas por ciclinas espe-

    cficas. Finda a etapa, as ciclinas so destrudas em proteassomas. No esquema, esto

    representados apenas a ativao da duplicao do DNA e o disparo da diviso celular.

    Iniciar duplicao do DNA

    G-Cdk

    G- Ciclina degradada em proteassomas

    M-Cdk

    M- Ciclina degradada em proteassomas

    M-ciclina

    Disparo da mitose

    G-ciclina

    M

    G2

    S G1

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    Figura 1.13: Mecanismo de inibio da atividade do complexo ciclina-Cdk provocado por uma leso no DNA.

    Desastre vista? O ciclo celular pode ser interrompido

    Que o ciclo celular constitudo de etapas (G1, S, G2 e M), voc

    j sabe. Que cada uma dessas etapas disparada pela formao de

    complexos ciclina-Cdk, voc tambm j sabe. Que cada etapa regulada

    pela etapa anterior, onde existem pontos de checagem, tambm j foi

    comentado.

    Agora, como que o processo pode ser interrompido, caso em

    algum ponto de checagem a clula no passe na vistoria?

    Em cada ponto de checagem existem freios moleculares capazes de

    impedir o prosseguimento do ciclo. Porm, a maioria dessas molculas

    pouco conhecida, ou mesmo desconhecida. Uma exceo so as

    protenas inibidoras de Cdks, que bloqueiam a formao ou a atividade

    de complexos ciclina-Cdk.

    No ponto de checagem de G1, danos na estrutura do DNA induzem

    o aumento da concentrao e da atividade da p53, protena reguladora

    da atividade gnica. Quando ativa, a p53 estimula a transcrio de um

    gene que codifica a p21, uma protena inibidora de Cdk. A protena p21

    se liga aos complexos ciclina-Cdk

    da fase S, responsveis por levar

    a clula fase S, bloqueando sua

    ao (Figura 1.13). A parada na

    fase G1 d oportunidade clula

    de reparar seu DNA antes de

    replic-lo. Mutaes na p53 so

    incapazes de impedir a replicao

    de DNA lesado. No portanto

    surpreendente que diversos tipos

    de clulas tumorais possuam

    mutaes no gene que codifica

    essa protena, o que evidencia sua

    relao com o desenvolvimento

    de cncer.

    DNA

    leso no DNA p53 inativa

    p53 ativa

    A p53 ativada liga-se regio reguladora do gene p21

    Ativaoda p53

    Transcrio

    Traduop21 (protena inibidora de Cdk)

    INATIVOcomplexo ciclina-Cdk

    p21 de fase S

    ATIVOcomplexo ciclina-Cdk

    de fase S

    mRNA p21

    p21 gene

  • Biologia Celular II | O ciclo celular

    20 C E D E R J

    Biologia Celular II | O ciclo celular

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    Dividir ou no dividir, eis a questo

    A partir do estgio de oito clulas, j tm incio os processos

    de diferenciao celular de um embrio. Algumas iro constituir os

    anexos (placenta, saco amnitico e saco vitelnico), outras faro parte

    dos folhetos embrionrios. Nessa etapa, todas as clulas se dividem

    intensamente. No indivduo adulto, alguns tecidos, como a pele, o sangue

    e os ossos, renovam-se constantemente. Isso implica a permanncia, na

    idade adulta, de linhagens de clulas capazes de se dividir e se diferenciar

    nos diferentes tipos celulares encontrados nesses tecidos as clulas-

    tronco, assunto de uma outra aula nesta disciplina. No epitlio intestinal,

    as clulas se dividem a cada 24 horas, aproximadamente. J no fgado,

    que tido como um rgo com grande capacidade de regenerao, os

    hepatcitos se dividem, em condies de normalidade, apenas uma vez

    por ano! Clulas com grau ainda maior de especializao, como os

    neurnios e as clulas musculares, em princpio no se dividem. Via de

    regra, quanto mais especializada a clula, menor a freqncia com que

    ela entra em diviso.

    Uma clula que no mais se dividir, como os neurnios e as

    clulas musculares, abandona o ciclo celular durante a fase G1 e entra

    num estado particular, denominado G0 ou quiescncia.

    Uma clula pode permanecer no estado G0 por tempo indefinido.

    No caso dos neurnios, para sempre. Nos hepatcitos, o perodo G0

    pode atingir dois anos, mas eles continuam podendo voltar G1

    e reentrar no ciclo.

  • Biologia Celular II | O ciclo celular

    22 C E D E R J

    Biologia Celular II | O ciclo celular

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    Dividir at quando?

    Cada tipo celular que compe um organismo parece j ter uma

    programao intrnseca de quantas vezes vai se dividir antes de morrer.

    Tomando como exemplo um fibroblasto humano: se ele for retirado

    de um embrio e mantido em cultura de clulas em condies ideais

    de nutrio e espao, vai se dividir cerca de 80 vezes; j um fibroblasto

    humano retirado de um adulto de 40 anos, mantido nas mesmas

    condies, vai se dividir cerca de 40 vezes apenas. Essa observao coloca

    em evidncia uma possvel relao entre o controle do ciclo celular e o

    envelhecimento e a longevidade.

    Procurando o mecanismo de controle do nmero de divises que

    uma clula capaz de realizar, os achados apontam para a replicao do

    genoma. A cada replicao, a ponta do cromossomo, o telmero, precisa

    ser restaurada por uma enzima, a telomerase. Nas clulas humanas,

    o gene que codifica a telomerase no expresso em clulas somticas do

    adulto. Por isso, a cada diviso celular, o telmero fica mais curto, at

    que no mais possvel replicar o cromossomo corretamente. Clulas

    podem se manter nessa situao, denominada senescncia celular, por

    longo tempo realizando perfeitamente suas funes antes de morrer.

    A manuteno das propores corporais depende da

    entrada e sada, no ciclo celular, de cada clula do organismo

    no momento exato.

    Alm da velocidade com que as clulas se dividem, outro fator

    importante no controle do nmero de clulas de um organismo

    a apoptose ou morte celular programada, que ser discutida na

    Aula 14 de Biologia Celular II.

  • Biologia Celular II | O ciclo celular

    22 C E D E R J

    Biologia Celular II | O ciclo celular

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    R E S U M O

    O ciclo celular constitudo por uma intrfase, subdividida em G1, S e G2, e uma fase de diviso, denominada M.

    O controle interno do ciclo celular exercido por molculas citoplasmticas: as ciclinas, que vo se acumulando em cada fase do ciclo, e as quinases dependentes

    de ciclina (Cdk), presentes em quantidades constantes por todo o ciclo.

    Quando as ciclinas atingem concentraes reativas numa fase, elas se combinam com as quinases, promovendo a passagem para a prxima fase.

    O complexo formado pela M-Cdk e a M-ciclina se chama MPF e dispara a mitose, fosforilando vrias protenas, dentre elas as que compactam os cromossomos, as

    que desmontam o envoltrio nuclear e as que levam os microtbulos a formar

    o fuso mittico.

    No final de cada fase do ciclo, as ciclinas so degradadas em proteassomas.

    O ciclo celular tambm tem um controle externo, dado pela disponibilidade de nutrientes, de espao e de fatores de crescimento.

    Em conjunto, os controles interno e externo formam os pontos de checagem: no final de G1, a clula precisa ter o volume suficiente e o ambiente favorvel

    para entrar em S. No final de G2, alm do ambiente e do volume favorveis,

    preciso que o genoma esteja correta e completamente duplicado. Na metfase,

    os cromossomos precisam estar todos alinhados para que a diviso prossiga.

    Clulas bastante diferenciadas, como neurnios e msculos, escapam do ciclo celular em G1 e permanecem num estado de quiescncia chamado G0, a partir

    do qual podem at voltar ao ciclo em algum momento.

  • Biologia Celular II | O ciclo celular

    24 C E D E R J

    EXERCCIOS

    1. O que e quais so as fases que compem o ciclo celular?

    2. O que so ciclinas? Como atuam?

    3. O que so Cdks? Como atuam?

    4. O que MPF?

    5. O que acontece com as ciclinas de uma determinada fase do ciclo quando

    a mesma se encerra?

    6. Como feito o controle externo do ciclo celular?

    7. O que so pontos de checagem?

    8. O que G0?

  • A clula em diviso

    Microtbulos (Aula 23 de Biologia Celular I).

    Ao final desta aula, voc dever ser capaz de:

    Associar a mitose distribuio do material gentico entre as clulas-filhas.

    Caracterizar cada uma das fases da mitose. Explicar os fenmenos de: condensao dos cromossomos;

    duplicao dos centrossomos;

    formao do fuso mittico;

    migrao dos cromossomos para o equador da clula;

    formao da placa metafsica;

    migrao dos cromossomos para os plos;

    desagregao e reorganizao do envoltrio nuclear.

    Pr-requisito

    obje

    tivos

    2AULA

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

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    Biologia Celular II | A clula em diviso

    Na Aula 1, voc j estudou que todas as clulas obedecem a um ciclo celular,

    perodo que compreende uma fase em que a clula cresce e reproduz suas

    estruturas internas e uma outra durante a qual ela se divide.

    O perodo da intrfase compreende trs etapas (G1, S, G2) e algumas

    clulas podem permanecer para sempre em G1, sem passar fase

    de diviso, chamada M.

    O ciclo celular dura, em mdia, de 12 a 24 horas. A fase M dura cerca de 1

    hora. Esse um valor mdio, havendo, naturalmente, muitas variaes. Cada

    fase do ciclo celular disparada por Cdks (do ingls ciclyn dependent

    kinases, ou seja, quinases dependentes de ciclinas ). As ciclinas, como j

    sabemos, so protenas que, uma vez ativadas (pelas Cdks), deflagram

    eventos especficos. A diviso celular ou mitose disparada pela M-Cdk.

    A mitose um evento bastante complexo, que tem por objetivo distribuir

    eqitativamente o material gentico, duplicado na fase S, entre as duas

    clulas-filhas.

    FASES DA MITOSE

    A mitose inclui uma seqncia de eventos que, embora nem

    sempre possam ser claramente delimitados, foram divididos em fases.

    Provavelmente, esses nomes so seus velhos conhecidos:

    1. Prfase

    2. Prometfase

    3. Metfase

    4. Anfase

    5. Telfase

    A Figura 2.1 mostra o aspecto tpico das principais etapas.

    Entender como e por que as estruturas envolvidas mudam de aspecto

    ou mesmo desaparecem o tema central desta aula.

    Uma clula em diviso bastante diferente de uma clula em

    intrfase em, pelo menos, trs caractersticas:

    O envoltrio nuclear, presente na clula interfsica, desaparece

    durante a diviso.

    Os cromossomos, que formam uma massa na clula interfsica,

    se condensam e se individualizam durante a diviso.

    Durante a diviso, os microtbulos se rearranjam, dando origem

    ao fuso acromtico.

    INTRODUO

    } citocinese

  • Biologia Celular II | A clula em divisoBiologia Celular II | A clula em diviso

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    Figura 2.1: Aspecto do ncleo e centrossomos nas diferentes fases do ciclo celular. A duplicao dos cromossomos e

    dos centrolos precede a fase M propriamente dita. Esta tem incio com a prfase, em que os cromossomos comeam a

    se condensar, individualizando-se. Na metfase, cada centrossomo ocupa um plo da clula e dele partem microtbu-

    los que formam o fuso mittico. Os cromossomos se encontram alinhados no plano mdio da clula, eqidistantes

    dos dois plos. Na anfase, o material gentico (cromossomos) dividido igualmente, migrando em sentidos opos-

    tos para os dois plos da clula. A ltima fase da mitose a citocinese, ou seja, a separao das duas clulas-filhas.

    E A, CLULAS? VAMOS COMEAR A NOS DIVIDIR?

    As condies necessrias para que a clula entre na fase M

    so providenciadas durante a intrfase. Nesse perodo, erroneamente

    chamado descanso, os cromossomos se duplicam, permanecendo unidos

    pela regio chamada centrmero (Figura 2.4).

    Tambm se duplicam nesta fase os centrossomos. Voc j aprendeu

    sobre o centrossomo na aula sobre microtbulos. Eles so o que chamamos

    centro organizador de microtbulos, isto , todos os microtbulos de uma

    clula partem da. Nas clulas animais, os centrossomos incluem um par

    de centrolos, cuja estrutura formada por nove trios de microtbulos

    bem caracterstica (Figura 2.2).

    Metfase

    Citocinese

    Prfase

    Incio da prfase

    S/G2

    G1

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    28 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    Figura 2.2: (a) Um par de centrolos observado ao microscpio eletrnico. Note que um centrolo sem-

    pre est posicionado a 90 graus em relao ao outro. (b) Esquema da estrutura do centrolo com-

    posta por nove trios de microtbulos, designados como A, B e C. Cada centrolo mede cerca de 100nm.

    (Foto: M., McGill, D.P., Highfield, T.M., Monahari e B.R. Brinkley, J. Ultrastr. Res. 57: 43-53,1976).

    Os centrolos de um par no so idnticos. Um deles dominante e

    possui filamentos que o conectam matriz pericentriolar (de onde partem

    os microtbulos). Quando os centrolos de um par vo se duplicar,

    eles se separam e cada um d origem (nucleia) a um novo centrolo

    (Figura 2.3). Os dois pares de centrolos permanecem prximos at

    o incio da prfase.

    Figura 2.3: Apenas um dos centrolos de um par est ligado matriz pericentriolar. Na fase S, os centrolos de um par se

    distanciam e cada um d origem a um novo centrolo. O centrolo mais antigo ser sempre o dominante no novo par.

    C

    B

    A

    G1 S G2 M G1

    (a) (b)

  • Biologia Celular II | A clula em divisoBiologia Celular II | A clula em diviso

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    Uma vez que os cromossomos e centrossomos estejam duplicados,

    a mitose pode ter incio.

    PRFASE

    Na prfase, o envoltrio nuclear ainda se encontra intacto.

    nesta etapa que os cromossomos duplicados se condensam

    e assumem sua forma caracterstica de dois bastes, as cromtides-irms,

    ligados pelo centrmero (Figura 2.4).

    Figura 2.4: Cromossomo na forma condensada e dupli-

    cada observado ao microscpio eletrnico de varre-

    dura. O estrangulamento que mantm as cromtides

    unidas o centrmero (seta). (Foto: Terry Allen)

    Voc pode estar curioso para saber como os cromossomos

    interfsicos, longos e finos, se enovelam dessa forma. A resposta est numa

    protena que possui dois domnios capazes de se ligarem hlice de DNA.

    Por ser capaz de promover a condensao dos cromossomos, s custas

    da hidrlise de ATP, foi denominada condensina. A condensina funciona

    como uma pina em que cada extremidade se liga a um ponto da cadeia

    de DNA e se fecha em seguida, aproximando as duas (Figura 2.5).

    Na regio do centrmero, uma protena da mesma famlia mantm

    as duas cromtides coesas. Seu nome? Coesina. Veja na Figura 2.5.b como

    se acredita que essa protena mantenha as cromtides-irms unidas.

    1m

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    30 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    Embora o envoltrio nuclear ainda esteja intacto, a migrao

    dos centrossomos para os plos opostos tem incio nessa etapa.

    medida que migram para plos opostos da clula, os microtbulos

    se irradiam a partir dos centrossomos. Por lembrar uma estrela, cada

    uma dessas estruturas chamada ster (Figura 2.6). Este o incio da

    formao do fuso acromtico, que s estar completamente formado

    na etapa seguinte.

    Figura 2.6: O ster formado pela distribuio

    radial de microtbulos em torno do centros-

    somo. Na prfase, os centrossomos, j dupli-

    cados, comeam a migrar para plos opostos.

    PROMETFASE

    Nas descries mais antigas da prometfase, dizia-se que nessa

    fase do ciclo celular o envoltrio nuclear desaparecia. Na verdade, o

    envoltrio nuclear, o retculo endoplasmtico e o complexo de Golgi no

    so visveis nessa fase porque se fragmentam em vesculas, permitindo

    que alguns microtbulos do fuso acromtico se liguem ao cinetcoro

    dos cromossomos, j totalmente condensados.

    O cinetcoro um complexo de protenas que se liga

    aos cromossomos na regio do centrmero (Figura 2.7).

    Figura 2.5: (a) Tanto as coesinas quanto as condensinas so protenas dimricas, capazes de

    ligarem-se s hlices de DNA, aproximando-as. A coesina (b) aproxima as duas cromtides-irms, enquanto

    a condensina (c) ajuda na espiralizao da cadeia de DNA, resultando na condensao do cromossomo.

    Cromtides-irms Hlice de DNA

    ATP ATP

    a(a) (b) ( c )

  • Biologia Celular II | A clula em divisoBiologia Celular II | A clula em diviso

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    Figura 2.7: O cinetcoro um complexo de pro-

    tenas que se associa ao cromossomo na regio do

    centrmero. nessa regio que se ancoram microtbulos

    do fuso responsveis por movimentar os cromossomos.

    Os cromossomos s se ligam ao fuso pelo cinetcoro. Essa ligao

    parece ser feita de modo aleatrio, pelo sistema de tentativa e erro, isto

    , os vrios microtbulos, que partem dos centrossomos de acordo com

    a instabilidade dinmica que lhes caracterstica, crescem e encolhem

    rapidamente. Eventualmente, alguns deles tocam os cromossomos.

    Se esse contato acontecer na regio certa, isto , a extremidade do

    microtbulo fazendo contato com o cinetcoro, o cromossomo

    permanecer ancorado quele microtbulo. Como os cromossomos

    esto duplicados, os cinetcoros de cada uma das cromtides-irms

    ficar ligado a microtbulos de um plo. Os microtbulos mais longos

    so mais fortes, puxando o cromossomo na direo do centrossomo no

    qual tm sua origem (Figura 2.8). Estabelece-se, assim, um verdadeiro

    Figura 2.8: Na prometfase, os cromossomos so puxados pelos microtbulos do fuso. A maior fora

    exercida pelos microtbulos mais longos (cromossomo da parte superior da figura). No plano mdio,

    as foras se equilibram (cromossomo da parte inferior da figura) e o cromossomo permanece alinhado.

    Cromtide

    Cromossomo

    condensado

    Cinetcoro

    Microtbulos

    cinetocoriais

    Centrmero

    Centrossomo

    Centrossomo

    cabo de guerra entre os dois plos. Essa disputa

    termina empatada, com os cromossomos

    alinhados no equador da clula. Quando

    todos os cromossomos se alinham de forma

    eqidistante dos plos, significa que a diviso

    celular entrou na metfase.

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    32 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    METFASE

    Na metfase, o fuso acromtico j est plenamente desenvolvido e

    os cromossomos se alinham no plano equatorial da clula, eqidistantes

    dos dois plos. Alm dos microtbulos astrais isto , que compem o

    ster , e dos microtbulos cinetocoriais que se ligam ao cinetcoro

    dos cromossomos , o fuso possui microtbulos que desempenham uma

    terceira funo. Trata-se de microtbulos que partem dos plos opostos

    e se interpenetram no plano equatorial da clula. Podemos cham-los

    microtbulos interpenetrantes (Figura 2.9). Os trs tipos de microtbulos

    so altamente dinmicos, polimerizando-se e despolimerizando-se mais

    rapidamente que os microtbulos das clulas interfsicas e formam o

    fuso acromtico ou fuso mittico (Figura 2.9). Conforme as foras

    exercidas pelos microtbulos cinetocoriais ligados a cada uma das

    cromtides-irms se equilibram, encolhendo de um lado e alongando-

    se do outro, os cromossomos vo se dispondo na placa equatorial.

    Esta a fase mais demorada da mitose e a diviso s prossegue quando todos

    os cromossomos se encontram alinhados.

    Figura 2.9: Esquema mostrando o fuso acromtico na etapa de metfase e as

    diferentes funes desempenhadas pelos microtbulos que o formam.

    Centrossomo plo do fuso

    Microtbulos astrais Microtbulos

    cinetocoriais

    Cinetcoro

    Microtbulos

    interpenetrantes

  • Biologia Celular II | A clula em divisoBiologia Celular II | A clula em diviso

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    ANFASE

    Na anfase, as cromtides-irms se separam e cada uma delas

    puxada pelos microtbulos cinetocoriais em direo a plos opostos.

    Voc pode estar se perguntando: como as cromtides-irms se

    separam se elas esto ligadas pela coesina?

    Boa pergunta! A resposta bastante simples: a enzima

    separase se encarrega de cortar as pontes formadas pela coesina.

    Assim, cada cromtide puxada para um plo pelos microtbulos

    cinetocoriais respectivos.

    A migrao dos cromossomos para plos opostos resulta no

    apenas do encolhimento dos microtbulos cinetocoriais. Protenas

    motoras associadas aos microtbulos interpenetrantes tambm

    contribuem para que haja entre eles um deslizamento que aumenta

    a distncia entre os plos (Figura 2.10).

    Ainda no foi possvel explicar como subunidades de tubulina

    podem se soltar da extremidade do microtbulo voltada para o cinetcoro

    sem que a ligao entre a cromtide e o microtbulo se desfaa.

    O distanciamento provocado pelo deslizamento entre microtbulos

    do fuso o prenncio da ltima fase da diviso celular, a telfase.

    Figura 2.10: O afastamento das cromtides resulta de duas foras complementares. (a) Os microtbulos cineto-

    coriais se despolimerizam e (b) os microtbulos que se superpem crescem. Alm disso, protenas motoras

    promovem o deslizamento entre eles.

    O encolhimento dos microtbu-

    los cinetocoriais movimenta as

    cromtides na direo dos plos

    Os microtbulos que partem de

    plos opostos deslizam entre si,

    aumentando a distncia entre eles

    Zona de crescimento

    dos microtbulosProtenas motoras

    (b)(a)

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    34 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    TELFASE

    A telfase corresponde ao final da mitose. Nessa etapa,

    os cromossomos j se encontram segregados em plos opostos

    da clula e distanciados pelos microtbulos que se superpem

    (Figura 2.11). Esse distanciamento fundamental para que ocorra a

    distribuio do citoplasma e das organelas entre as duas clulas-filhas.

    Esse processo chamado citocinese.

    Os microtbulos astrais tambm exercem fora de separao

    entre as clulas-filhas deslizando sobre protenas motoras ligadas

    membrana plasmtica (Figura 2.12).

    Figura 2.11: Na clula esquerda, a sobreposio dos microtbulos maior que na da direita. Isso resulta

    em que os cromossomos esto mais afastados na segunda. (Foto: Jeremy D. Pickett-Heaps em Molecular

    Biology of the Cell, Garland Publ. Co.,3rd ed.)

    Figura 2.12: A interao com protenas motoras leva os microtbulos a se afastarem no plano equato-

    rial da clula (a), ou a empurrar a membrana plasmtica por ao de protenas motoras acopladas a ela (b).

    Afastamento pelo deslizamento

    entre microtbulos superpostos

    Afastamento pelo deslizamento

    de microtbulos astrais sobre

    protenas motoras

    (a)

    (b)

    Regio central de

    superposio dos

    microtbulosPlo

    Microtbulos

    do plo

    Regio de

    superposio

    reduzidaPlo 2m

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    A separao final entre as clulas-filhas depende de um anel

    de constrio (ou anel contrtil) formado por filamentos de actina e

    molculas de miosina (Figura 2.13).

    Figura 2.13: A separao entre as clulas-filhas se d pelo estrangulamento resul-

    tante do deslizamento do anel de constrio, formado por filamentos de actina e

    molculas de miosina. (Foto: Mrcia Attias)

    COMO SE DIVIDEM AS CLULAS VEGETAIS

    A rgida parede de celulose que envolve as clulas vegetais

    impede que as duas clulas-filhas resultantes da mitose se separem

    por estrangulamento. Neste caso, o ponto de clivagem, onde as

    duas clulas sero delimitadas, vesculas contendo precursores da

    parede e elementos da prpria membrana sero determinados pela

    disposio de microtbulos. O processo pode ser acompanhado

    em linhas gerais na Figura 2.14, mas nas disciplinas de Botnica

    mais detalhes sero abordados.

    Anel contrtil

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    36 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    Microtbulos corticais formam uma

    banda que envolve a clula logo abaixo

    da membrana plasmtica. Essa banda

    prediz onde a nova parede celular

    se fundir quando a clula se dividir.

    O fragmoplasto formado na telfase

    pelos microtbulos sobrepostos. Vescu-

    las derivadas do complexo de Golgi car-

    reando precursores da parede celular se

    associam a esses microtbulos, acumulan-

    do-se na regio equatorial e fundindo-se

    para formar a placa crivada primordial.

    Microtbulos associados ao fragmoplasto

    se formam na periferia da placa crivada

    primordial. Novas vesculas derivadas do

    Golgi so recrutadas para essa regio,

    fundindo-se com a borda da parede celular,

    estendendo-se para fora. Os microtbu-

    los impedem a total fuso dessas mem-

    branas, resultando nos plasmodesmas.

    A membrana da placa crivada em expan-

    so funde-se membrana plasmtica

    da clula-me, completando a nova

    parede celular. O arranjo cortical de

    microtbulos interfsicos resta-

    belecido em cada uma das clulas-filhas.

    Figura 2.14: As principais etapas da diviso de uma clula vegetal.

    Complexo de Golgi Parede celular da clula-me

    Banda de microtbulos

    Microtbulos do fuso

    Microtbulos ligados

    ao fragmoplasto

    PlasmodesmasMicrotbulos corticais

    Placa crivada primordial

    Vesculas derivadas do Golgi

    Telfase

    Citocinese

    G1G2

    G1

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    A DIVISO NOS PROCARIOTOS

    Nas bactrias, a diviso celular chamada fisso binria e muito

    mais simples (e rpida) que nos eucariontes. O processo se resume na

    duplicao do cromossomo nico da bactria. O cromossomo duplicado

    translocado para o plo oposto da clula e uma invaginao da

    membrana bacteriana separa a bactria em duas. Essa fisso depende

    de uma protena, a FtsZ, que possui algumas semelhanas com a tubulina

    de eucariotos e forma um anel que se contrai, orientando o crescimento

    da parede bacteriana na fenda que se forma, resultando na fisso binria

    (Figura 2.15).

    Figura 2.15: Principais etapas da diviso de uma clula procarionte.

    (1) O DNA se distribui em

    um nico cromossomo.

    (2) Esse cromossomo

    se duplica a partir de

    um ponto de origem.

    A clula tambm cresce.

    (3) Uma vez duplicados,

    os pontos de origem

    migram para plos opos-

    tos na clula bacteriana.

    (4) A membrana se inva-

    gina e uma nova parede

    bacteriana forma-se,

    (5) separando as duas

    clulas-filhas.

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

    38 C E D E R J

    Biologia Celular II | A clula em diviso

    Entre a diviso celular bacteriana e a mitose, na qual um aparelho

    mittico sofisticado montado a partir do citoesqueleto, vrias etapas

    adaptativas aconteceram. Ainda hoje existem organismos em que a diviso

    celular parece representar estgios intermedirios dessa evoluo.

    Em alguns dinoflagelados (um tipo de alga), o envoltrio nuclear no se desfaz. Na verdade, nesses organismos a segregao dos

    cromossomos depende da adeso membrana interna do ncleo.

    Em alguns protozorios, o fuso mittico se forma atravs de um tnel, e o envoltrio nuclear no se desfaz, mas alguns microtbulos

    penetram no ncleo, ligando-se aos cromossomos.

    Em algumas leveduras (fungos), o fuso se forma dentro do ncleo. Essas formas de diviso esto esquematizadas na Figura 2.16 e

    so uma demonstrao clara das muitas tentativas que a natureza faz at

    encontrar o sistema mais eficiente para replicao de cada organismo.

    Bactrias

    Cromossomos-filhos aderidos

    membrana plasmtica so separados

    pelo crescimento da mesma.

    Dinoflagelados tpicos

    Vrios feixes de microtbulos passam

    atravs de tneis no envelope nuclear

    intacto, estabelecendo a polaridade

    da diviso. Os cromossomos se movem

    associados membrana nuclear interna,

    sem aderir aos microtbulos.

    Outros protozorios

    Um nico feixe de microtbulos forma o

    fuso que atravessa o envoltrio nuclear,

    formando um tnel. Os cromossomos

    se ligam pelos cinetcoros membrana

    nuclear e interagem com os plos pelos

    microtbulos cinetocoriais.

    Cromossomo

    Membrana plasmtica

    CromossomoEnvoltrio nuclear

    intacto

    Microtbulos

    polares

    Microtbulos

    cinetocoriais

    Centrolos

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    Leveduras e algas diatomceas

    O envelope nuclear permanece intacto;

    o fuso se forma dentro do ncleo, asso-

    ciado ao envelope nuclear. Cada cinet-

    coro se liga a um nico microtbulo.

    Clulas de animais

    O fuso comea a se formar fora do

    ncleo. Na prometfase, o envoltrio se

    desagrega e os cromossomos podem se

    ligar a microtbulos do fuso.

    Figura 2.16: Formas de diviso de vrios organismos.

    Quando a fase M (mitose) se inicia, os cromossomos e os centrossomos j foram

    duplicados, nas fases S e G2.

    Na prfase, os dois centrossomos se separam e comeam a se dirigir para

    plos opostos da clula. Os cromossomos tambm iniciam o processo de

    individualizao.

    A prometfase a fase em que o envoltrio nuclear se fragmenta e alguns

    microtbulos do fuso capturam os cromossomos.

    Os cromossomos duplicados permanecem unidos pelo centrmero. Um complexo

    de protenas ao redor do centrmero constitui o cinetcoro. Os cromossomos se

    ligam ao fuso sempre pelo cinetcoro.

    Foras antagnicas, exercidas pelos microtbulos que partem dos plos, levam os

    cromossomos para o plano equatorial da clula, formando a placa metafsica.

    A enzima separase corta a ligao entre as cromtides-irms e cada uma delas

    se dirige a um dos plos. Essa separao essencial para a anfase.

    Na anfase, dois mecanismos levam ao afastamento das cromtides-irms: a

    despolimerizao dos cromossomos cinetocoriais e o deslizamento, mediado por

    protenas motoras, entre os cromossomos sobrepostos.

    Na telfase, novo envoltrio nuclear se forma em torno de cada ncleo-filho e

    o citoplasma se contrai no plano equatorial. Os microtbulos do fuso predizem o

    local onde o anel contrtil, formado por actina e miosina, se formar, levando

    separao das clulas-filhas.

    Microtbulos

    polaresMicrotbulos cinetocoriais

    Microtbulos polares Microtbulos cinetocoriais

    Centrolos

    Fragmentos do envelope nuclear

  • Biologia Celular II | A clula em diviso

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    EXERCCIOS

    1. Qual o principal objetivo da diviso celular?

    2. Quais so as fases tradicionalmente estabelecidas para descrever a diviso

    celular?

    3. Em que etapa do ciclo celular ocorre:

    a) Duplicao dos cromossomos?

    b) Condensao dos cromossomos?

    c) Duplicao dos centrossomos?

    d) Formao do fuso mittico?

    e) Migrao dos cromossomos para o equador da clula?

    f) Formao da placa metafsica?

    g) Migrao dos cromossomos para os plos?

    h) Desagregao e reorganizao do envoltrio nuclear?

    4. Qual o papel das seguintes protenas que participam da diviso celular?

    Coesina:

    Condensina:

    Separase:

    5. Como os microtbulos podem participar da mitose?

    6. O que a citocinese?

  • Ncleo interfsico

    Ao final desta aula, voc dever ser capaz de:

    Discutir a importncia do aparecimento de um ncleo individualizado.

    Listar os componentes estruturais do ncleo durante a intrfase.

    Enumerar os diversos graus de organizao da cromatina.

    Correlacionar aparncia, composio e funo do nuclolo.

    Compartimentalizao celular (Aula 15 de Biologia Celular I).Controle do ciclo celular (Aula 1 de Biologia Celular II).

    Diviso celular (Aula 2 de Biologia Celular II).

    Pr-requisitos

    obje

    tivos

    3AULA

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    INTRODUO Durante a intrfase, quase todo o genoma de um eucarioto est dentro de

    um compartimento, o ncleo. O ncleo o maior compartimento celular,

    ocupando em mdia 10% do volume total da clula. A maioria das clulas

    possui apenas um ncleo, com exceo de:

    eritrcitos de mamferos, que perdem o ncleo durante a diferenciao;

    clulas derivadas da fuso de clulas precursoras, como as clulas musculares

    esquelticas, que possuem muitos ncleos;

    certos protozorios, como os do gnero Giardia, que so binucleados

    (Figura 3.1).

    Figura 3.1: (a) Clula muscular multinucleada; (b)

    o protozorio Giardia lamblia possui dois ncleos

    e quatro pares de flagelos.

    O ncleo costuma ter formato arredondado e ocupar posio

    central nas clulas, mas pode ficar na periferia, como nas clulas

    musculares (Figura 3.1) ou nos adipcitos (reveja a Figura 27.2 em

    Biologia Celular I) e no serem redondos, como os ncleos de leuccitos

    (Figura 3.2).

    IMPORTNCIA EVOLUTIVA

    Voc aprendeu em Biologia Celular I (Aula 15) que a compartimenta-

    lizao foi um grande avano evolutivo porque permitiu que as diferentes funes

    celulares pudessem ser distribudas em diferentes locais, onde as molculas

    envolvidas em determinada atividade celular esto prximas. Esse raciocnio

    se aplica perfeitamente ao compartimento nuclear, mas h outras vantagens

    que tornaram o aparecimento do ncleo evolutivamente to importante.

    Ncleos Miofibrila

    Ncleos

    Flagelos

    a b

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    Figura 3.2: Micrografias eletrnicas de

    glbulos brancos: em A, um neutrfilo;

    em B, um basfilo; em C, um eosinfilo;

    em D, um moncito. Todos possuem

    apenas um ncleo (N), que tem formato

    irregular. Como estamos vendo cortes

    ultrafinos dessas clulas, nem sempre

    todas as partes do ncleo aparecem no

    plano de corte. Fotos: Dorothy Bainton.

    CADA COISA EM SEU LUGAR

    A maior vantagem evolutiva do aparecimento de um

    ncleo individualizado foi, sem dvida alguma, a separao entre

    a transcrio (sntese de uma fita de RNA a partir do DNA) e

    a traduo (sntese de um peptdeo a partir da fita de RNA).

    Os dois eventos esto separados em eucariotos porque no

    existem ribossomos maduros no compartimento nuclear. Isso

    garante que os mRNA produzidos na transcrio tenham de

    sair do ncleo para o citoplasma antes de comearem a ser

    traduzidos. Qual a vantagem disso? Criar oportunidade de

    processar o RNA antes que ele saia do ncleo (Figura 3.3).

    Figura 3.3: Em eucariotos, a transcrio e a traduo ocorrem em

    compartimentos diferentes. Assim, o RNA sintetizado na transcrio

    pode ser processado ainda no ncleo, antes de ser transportado

    para o citoplasma, onde ser traduzido pelos ribossomos.

    2mm

    NcleoDNA

    RNA

    Processamento

    mRNA

    Transporte

    Transcrio

    Traduo

    Protena

    Citoplasma

    Ribossomos

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    Para que voc possa avaliar o impacto evolutivo da separao

    dos eventos de transcrio e traduo, basta lembrar que a quantidade

    de informao contida no genoma de procariotos muito menor que a

    contida no genoma dos eucariotos. Essa diferena no se deve apenas

    maior massa de DNA presente neles. Nos procariotos, os genes esto

    arranjados em seqncia linear. Se toda a diversidade de informao

    dos eucariotos tivesse de ser arranjada na forma de genes enfileirados,

    seria impossvel acomodar o comprimento de seu genoma numa clula!

    Foi a oportunidade de processar o RNA resultante da transcrio que

    gerou a possibilidade de sobrepor informaes. Ao ser processada, cada

    molcula de RNA ora perde uma parte, ora outra parte, transpe regies

    etc., podendo gerar vrios mRNA, cada um resultando numa protena

    diferente. Assim, as clulas eucariticas puderam se tornar muito mais

    complexas, com uma variedade de protenas muito maior do que

    a variedade genmica.

    Se voc tinha aprendido que o aparecimento do ncleo foi

    evolutivamente importante porque protegeu o DNA, no se preocupe.

    Esse conceito no est errado. De fato, envolvido por um envelope to

    bem estruturado (voc j vai ver!), o genoma est protegido de todo o

    movimento do citoplasma. Mas vamos reconhecer que, se nada mais

    tivesse acontecido depois do aparecimento do ncleo, a diferena entre

    eucariotos e procariotos seria muito menor!

    A ORGANIZAO GERAL DO NCLEO INTERFSICO

    O ncleo o compartimento que contm o DNA, organizado na

    forma de cromatina, e est separado do citoplasma por um envelope

    ou envoltrio nuclear. O envoltrio define um ambiente nuclear, cuja

    matriz diferenciada, o nucleoplasma. O nucleoplasma e o citoplasma

    se comunicam diretamente atravs de aberturas no envoltrio.

    Essas aberturas no so simples buracos, e sim poros muito bem

    estruturados, denominados complexos do poro.

    Partes diferentes da cromatina tm arranjos especiais, sendo o

    nuclolo o mais conhecido deles. O envoltrio nuclear, formado por

    duas membranas, est sustentado tanto pelo lado citoplasmtico quanto

    pelo lado nuclear, por filamentos do citoesqueleto (Figuras 3.4 e 3.5).

    No lado nuclear, filamentos intermedirios formam a lmina nuclear.

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    No lado citoplasmtico, outros tipos de filamentos intermedirios,

    alm de microtbulos, colaboram com a sustentao. O prprio centro

    organizador de microtbulos (centrossomo) se encontra bastante prximo

    do envoltrio nuclear.

    Vamos dedicar ateno especial a cada uma dessas principais

    estruturas nucleares nesta e na prxima aula.

    Figura 3.4: Micrografia eletrnica da

    regio nuclear. Note que a cromatina

    aderida fica excluda da rea sob o

    complexo do poro. Foto: Larry Gerace.

    Figura 3.5: Esquema ilustrativo da organizao geral do

    ncleo. Esse esquema se baseia em informaes obtidas

    a partir de micrografias como a mostrada na Figura 3.4.

    Envoltrio nuclear

    Complexo do poro

    Lmina nuclear

    Cromatina aderida

    Matriz nuclear 1m

    Retculo endoplasmtico

    Filamentos intermedirios

    Poro

    Cromatina

    Ncleo

    Centrossomo

    Lmina nuclear

    Membrana externa

    Membrana interna1m Envoltrio nuclear

    Microtbulos

    {

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    ORGANIZAO DA CROMATINA

    Voc est estudando a organizao do DNA e seu metabolismo

    em Biologia Molecular, por isso aqui s vamos abordar alguns aspectos

    da organizao do DNA de eucariotos, especialmente na intrfase.

    Como acabamos de ver, o genoma dos eucariotos muito grande,

    e esse tamanho torna difcil sua acomodao dentro do ncleo.

    necessrio que as molculas de DNA estejam compactadas.

    O grau de compactao do DNA varia no ciclo celular, como j

    foi mencionado nas duas ltimas aulas, atingindo seu mximo na fase

    M, quando possvel individualizar, contar e classificar as molculas

    de DNA, ali chamadas cromossomos. Existem regies do cromossomo

    essenciais para a manuteno de sua integridade e para que possa

    haver replicao. Essas regies so o centrmero, os telmeros e as

    origens de replicao (Figura 3.6). Nos eucariotos, as molculas de

    DNA esto compactadas com protenas, formando o arranjo que ns

    chamamos cromatina.

    Figura 3.6: Regies essenciais dos

    cromossomos: cada cromossomo tem

    de ter um centrmero, sobre o qual se

    alojam as protenas do cinetcoro na

    mitose, telmeros nas extremidades

    e vrias origens de replicao, que

    assumem o aspecto de bolhas na fase S.

    As protenas que compactam o DNA so classificadas em histonas

    e no-histonas. As histonas so protenas muito adequadas para interagir

    com o DNA (cido desoxirribonuclico) porque tm alto teor de

    aminocidos carregados positivamente, sendo, portanto, bsicas. Quatro

    histonas diferentes (H2A, H2B, H3 e H4), com duas cpias de cada,

    formam um octmero ao redor do qual a fita dupla de DNA est enrolada

    (Figuras 3.7 e 3.8). Esse arranjo chamado nucleossomo. O segmento

    de DNA que fica entre dois nucleossomos chamado DNA de ligao e

    pode variar de tamanho. J o segmento que envolve um nucleossomo tem

    tamanho bastante regular, de cerca de 200 pares de bases.

    Telmero

    Origem de replicao

    Centrmero

    Origem de replicao

    Telmero

    Bolha de replicao CinetcoroCromossomos duplicados

    em clulas

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    Figura 3.8: Procedimento para dissociar

    os nucleossomos e separ-los das histonas.

    Existe ainda uma outra histona compactando

    o DNA, a histona H1, que no faz parte do

    nucleossomo. Ela fica por fora do arranjo de

    nucleossomos, ajudando a torn-lo mais frouxo ou

    mais compactado (Figura 3.9).

    DNA de ligao

    Histonas do nucleossomo

    DNA de ligao digerido

    por nucleares

    200 pares de nucleotdeos

    Dissociao com alta

    concentrao de sal

    Nucleossomos liberados

    Octmero de histomas

    Dissociao

    Duplas hlice de DNA

    H2A H2B H3H4

    11nm

    a bFigura 3.7: Modelo do nucleos-

    somo visto de dois ngulos

    diferentes, com o DNA represen-

    tado pelo tubo helicoidal (A) ou

    pelas linhas paralelas (B) ao

    redor das histonas. Esquema

    de Evangelos Moudrianakis.

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    Figura 3.10: Micrografia eletrnica de um

    trecho de DNA no estado compactado

    natural (a) e depois descompactado (b).

    A molcula nativa (A) chamada fibra de

    30nm e o DNA no seu estado descompactado

    (B) comparado a um colar de contas. Fotos:

    (a) de Barbara Hamkalo; (b) Victoria Foe.

    Figura 3.11: Nucleossomos enrolados sobre si prprios. Em (a), aspecto

    frontal de uma fibra, em (b), o aspecto lateral. Os primeiros seis nucleossomos

    esto numerados, para facilitar a compreenso.

    A estrutura formada pelos nucleossomos intercalados por DNA

    de ligao assemelha-se a um colar de contas (Figura 3.10.b). Quando

    assume a configurao nativa, ela se arranja como a fibra de 30nm

    (Figura 3.10.a). A fibra de 30nm consiste no colar de nucleossomos

    enrolado sobre si prprio, encurtando muito a molcula de DNA

    (Figura 3.11).

    Figura 3.9: A histona H1 liga-se

    por fora dos nucleossomos,

    ajudando a mant-los mais

    prximos ou mais afastados.

    Histona H1

    Nucleossomo

    Octmero de histomas

    30nm

    1

    2

    34

    5

    6

    1

    2

    3

    4

    5 6

    a

    b

    a b

    50nm

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    Mesmo na forma de fibra de 30nm, um cromossomo tpico teria

    aproximadamente 1mm de comprimento, ficando impossvel acomod-lo

    dentro de uma clula. necessrio, portanto, que o DNA seja ainda mais

    compactado. Em contrapartida, se o DNA estiver compactado demais

    durante a intrfase, atividades como transcrio e replicao certamente

    ficaro muito dificultadas. Assim, fcil supor que o mecanismo de

    compactao do DNA tenha de ser dinmico, facilitando o acesso das

    enzimas quando necessrio (Figura 3.12). Regies descompactadas do

    DNA tambm so alvo fcil para degradao por DNAses.

    Figura 3.12: Para que haja transcrio,

    necessrio que o DNA esteja descom-

    pactado. As regies descompactadas

    tambm ficam acessveis degradao.

    Talvez voc j tenha ouvido ou lido os termos eucromatina e

    heterocromatina. A eucromatina (ou cromatina verdadeira) aquela

    que transcreve; portanto, corresponde ao estado descompactado.

    J a heterocromatina est no seu estado mais compactado, inacessvel

    a enzimas de transcrio ou de degradao. Fica assim mais protegida

    e ocupa menos espao (Figura 3.13). Cada regio do genoma ora est

    na forma de eucromatina, nos momentos em que transcreve, ora na de

    heterocromatina, quando quiescente.

    Os vrios nveis de organizao da cromatina, desde o estado mais

    compactado o cromossomo metafsico at a molcula de DNA sem

    as protenas de compactao esto representados na Figura 3.13.

    Gene que ser

    transcrito pouco depois

    Regies condensadas

    da cromatina

    RNA

    Gene sendo transcrito

    Tratamento com DNAse

    DNAdegradado

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    Se voc reparar nas micrografias eletrnicas de ncleos interfsicos,

    sejam irregulares como os da Figura 3.2, ou regulares, como os das

    Figuras 3.5 e 3.14, vai perceber que parte da cromatina tem aspecto

    bastante eletrondenso.

    Figura 3.13: Um cromossomo metafsico

    pode ir sendo desenrolado at chegar ao

    estado mais simples do DNA, a dupla hlice.

    Cromossomo metafsico

    inteiro

    Segmento de cromossomo

    na forma condensada

    Segmento de cromossomo

    na forma estendida

    Colar de contas de

    nucleossomos

    Pequena regio da dupla

    hlice de DNA

    1400nm

    700nm

    300nm

    30nm

    11nm

    2nm

    Fibra de 30nm formada por

    nucleossomos compactados

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    Figura 3.14: Micrografia eletrnica de

    um ncleo interfsico tpico de clulas

    de mamfero. Foto: Daniel Friend.

    O aspecto eletrondenso est, na maior parte das vezes, relacionado

    ao estado compactado da cromatina, a heterocromatina (nem sempre,

    voc j vai conhecer as excees). Poderamos, assim, correlacionar

    as regies eletrondensas do ncleo com regies do genoma que no

    esto transcrevendo. Observando bem as fotos, voc vai reparar que

    sempre existe heterocromatina na regio mais perifrica do ncleo,

    bem juntinho do envoltrio nuclear. A identificao dessa parte da

    cromatina veio por acaso: testando o soro de pacientes de DOENAS

    AUTO-IMUNES por imunofluorescncia em clulas em mitose e na intrfase,

    constatou-se que os anticorpos fluorescentes reconheciam os telmeros

    dos cromossomos mitticos e tambm a heterocromatina aderida ao

    envoltrio nuclear em clulas interfsicas.

    Examinando clulas de outras espcies, nem sempre encontramos

    os telmeros aderidos ao envoltrio nuclear durante a intrfase. Mas esse

    dado foi importante porque deu incio idia, cada vez mais aceita, de que

    durante a intrfase os cromossomos descondensados no esto embolados

    dentro do ncleo. Muito ao contrrio, parece haver grande organizao

    do genoma. Alguns autores supem que, semelhana do que ocorre

    no citoplasma, existe um nucleoesqueleto sustentando essa organizao.

    De fato, se aplicarmos a ncleos isolados a mesma metodologia de extrao

    do citoesqueleto, usando detergentes no-inicos, um material protico

    isolado. Sob certas condies, esse material parece formar filamentos,

    mas sua organizao no semelhante dos grupos de filamentos do

    citoesqueleto. Nenhuma das protenas conhecidas do citoesqueleto faz

    DOENAS AUTO-IMUNES

    So causadas por falhas do sistema

    imune, que no elimina clulas produtoras de anticorpos que

    reconhecem as molculas do prprio

    indivduo (self). Os pacientes dessas doenas

    possuem na circulao anticorpos que

    conhecem e atacam suas prprias clulas.

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    parte do nucleoesqueleto. Na verdade, foi recentemente demonstrado

    que a actina, que forma microfilamentos no citoplasma, apesar de poder

    entrar no ncleo (na prxima aula voc vai ver quem pode entrar no

    ncleo), nunca encontrada l, sendo ativamente excluda. Por enquanto,

    fica a noo de que o ncleo interfsico organizado. Ainda faltam dados

    para estabelecer quem responsvel por essa organizao.

    NUCLOLO

    Ainda reparando nas micrografias do ncleo interfsico, voc diria

    que h outra regio eletrondensa, que, portanto, deve corresponder

    heterocromatina: o nuclolo. Nesse caso, no entanto, a correlao no

    se aplica. O nuclolo eletrondenso por outro motivo. Na verdade, seria

    injusto dizer que o nuclolo heterocromatina. Se heterocromatina o

    estado compactado, aquele inacessvel a enzimas, portanto, quiescente,

    o nuclolo tudo menos isso! Talvez voc j tenha ouvido antes que o

    nuclolo uma fbrica de ribossomos. Como tal, uma das regies do

    ncleo que mais trabalha! Na verdade, no nuclolo esto os genes que

    codificam para os RNA ribossomais (rRNA) e para as protenas que

    fazem parte dos ribossomos. Se o nuclolo fosse mesmo uma fbrica,

    ela teria o certificado ISO9001 de qualidade total!

    Sabendo que os genes que codificam

    para os rRNA esto no nuclolo, voc

    poderia pensar que esses genes esto no

    mesmo cromossomo. No esto! Na espcie

    humana, por exemplo, esto em cinco

    cromossomos diferentes: 13, 14, 15, 21

    e 22. Mas como eles podem estar na mesma

    regio do ncleo? A soluo desse enigma

    est na Figura 3.15.

    Partes de cromossomos que

    contm genes para rRNA

    EnvoltrioNuclolo

    Rompimento

    mecnico

    Nuclolo isolado

    contendo pedaos

    de cromossomos Figura 3.15: Ncleos isolados podem ser usados

    para, por rompimento mecnico, isolar nuclolos.

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    Durante a intrfase, as regies dos cromossomos que contm genes

    que codificam para os RNA se aproximam. Os genes que codificam os

    mRNA que vo produzir as protenas ribossomais no citoplasma tambm

    se aproximam no nuclolo. Depois de serem produzidas no citoplasma (por

    outros ribossomos!), as protenas ribossomais voltam ao ncleo pra comear

    a se associar aos rRNA e formar novos ribossomos.

    Mas ateno, perigo! Se os ribossomos ficassem prontos, poderiam

    iniciar a traduo dos mRNA antes que eles fossem processados! L se ia a

    maior vantagem evolutiva dos eucariotos por gua abaixo!

    As subunidades ribossomais ficam quase prontas no ncleo, mas

    s amadurecem depois de chegar ao citoplasma (Figura 3.16).

    Gene de

    rRNADNA

    Transcrio

    rRNA precursor

    Nuclolo

    Subunidade

    maior imatura

    Subunidade

    menor

    Protenas

    ribossomais

    sintetizadas

    no cito-

    plasma

    Transporte e

    maturao ativa

    dos ribossomas

    RNA e protenas

    envolvidas

    no processamento

    Citoplasma

    18S rRNA

    40S

    5.8S

    2.8S

    5S

    60S

    Nuclo

    rRNA

    Figura 3.16: Esquema geral da

    produo de ribossomos pelo nuclolo.

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    Figura 3.17: Sub-regies do nuclolo.

    Fotos: E. G Jordan e J. McGovern.

    Heterocromatina perifrica

    Envoltrio

    nuclear

    Nuclolo

    rea

    densa

    rea

    granular

    Centro

    fibrilar

    2m 1m

    Todo o processamento dos rRNA a partir do precursor

    realizado no nuclolo por um conjunto de RNA e protenas

    muito bem organizado. As protenas vm do citoplasma e se

    juntam ao nuclolo, facilitando o arranjo ao mesmo tempo em que os RNA

    so processados. Para que tudo funcione a contento, o prprio nuclolo

    precisa ser muito organizado. Em micrografias de grande aumento possvel

    perceber que o nuclolo subcompartimentalizado, com regies densas

    e regies fibrilares (Figura 3.17). Com tantos RNA e protenas associados,

    no de estranhar que o nuclolo seja eletrondenso, apesar de no ser

    formado por heterocromatina!

    QUANTOS NUCLOLOS TEM UMA CLULA?

    Depende da fase do ciclo celular em que ela se encontra. Durante

    a intrfase, o nuclolo um s.

    medida que a fase M se aproxima e os cromossomos comeam

    a se compactar, os diferentes cromossomos que possuem genes para

    rRNA se afastam, mas ainda continuam a transcrever, fazendo parecer

    que existem vrios nuclolos. A transcrio dos genes ribossomais s

    pra mesmo na prometfase, por isso nessa fase no h nuclolo nenhum.

    A diviso celular mal terminou e os genes ribossomais recomeam

    sua intensa atividade de transcrio e montagem de ribossomos,

    ainda antes que os cromossomos onde se localizam possam se

    reaproximar (Figuras 3.18 e 3.19).

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    Figura 3.18: Aparncia do nuclolo durante o ciclo celular.

    Figura 3.19: Aspecto do nuclolo visto por microscopia ptica de con-

    traste de fase. As clulas da esquerda esto em final de diviso celular; a do

    meio, no incio de G1; a da direita, em G2. Fotos: E. G Jordan e J. McGovern.

    G2 Mitose G1 S

    Desassociao Reassociao

    NucloloEnvoltrio nuclear

    10m

    OUTROS SUBCOMPARTIMENTOS NUCLEARES

    Nos ltimos anos, vrios subcompartimentos nucleares foram

    observados. Assim como o nuclolo, eles no so envoltos por membrana.

    Os mais estudados so os corpsculos nucleares, ou corpsculos de

    Cajal (aquele mesmo que voc conheceu como um dos descobridores

    do complexo de Golgi) e os grnulos de intercromatina, ou speckles

    (Figura 3.20). A funo desses compartimentos ainda no est clara,

    mas acredita-se que sejam agrupamentos de enzimas e RNA envolvidos

    na transcrio e no splicing de RNA, respectivamente.

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    Figura 3.20: Imunofluorescncia

    usando anticorpos que reconhe-

    cem diferentes subcompartimentos

    nucleares. As setas apontam os

    corpsculos de Cajal. As regies brancas

    correspondem a speckles. Os grandes

    crculos escuros correspondem ao

    nuclolo (essa clula est bem no incio

    de G1). O cinza do fundo corresponde

    cromatina. Foto: Judith Sleeman.

    CONCLUSO

    O ambiente nuclear , portanto, altamente organizado, com

    compartimentos formados pela associao de macromolculas que se mantm

    unidas sem estarem cercadas por uma membrana. Apenas o envoltrio nuclear

    formado por duas bicamadas lipdicas, como veremos na prxima aula.

    R E S U M O

    Nos eucariotos, o genoma fica dentro de um compartimento especfico,

    o ncleo.

    A maioria das clulas eucariticas possui apenas um ncleo, mas existem

    clulas binucleadas, como alguns protozorios; multinucleadas, como as fibras

    musculares e clulas anucleadas, como os eritrcitos de mamferos.

    A presena do ncleo faz com que os eventos de transcrio e traduo ocorram

    em compartimento separados, possibilitando o processamento do RNA.

    Nucleossomos so arranjos octamricos de histonas em torno dos quais se

    enrola a dupla fita de DNA com cerca de 200 pares de bases. O DNA entre os

    nucleossomos chamado DNA de ligao.

    A cromatina corresponde ao DNA compactado por protenas e pode estar

    alternadamente na forma de eucromatina, em processo de transcrio, ou de

    heterocromatina, estado mais compactado em que no h transcrio.

    O nuclolo corresponde regio em que esto sendo sintetizados

    os ribossomos, por isso apresenta-se mais denso que o resto da eucromatina.

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    EXERCCIOS

    1. Quais as vantagens evolutivas do aparecimento do ncleo?

    2. Construa um esquema com a organizao geral do ncleo interfsico.

    3. Qual a importncia da compactao do DNA?

    4. O que um nucleossomo?

    5. O que DNA de ligao?

    6. Qual o papel da histona H1?

    7. Diferencie eucromatina de heterocromatina.

    8. O que vem a ser a heterocromatina aderida ao envoltrio nuclear de clulas

    interfsicas?

    9. O nuclolo heterocromatina? Por qu?

    10. Podemos dizer que os genes que codificam os ribossomos ficam todos em um

    mesmo cromossomo?

  • .

  • Ao final desta aula, voc dever ser capaz de:

    Conhecer a estrutura do envoltrio nuclear.

    Correlacionar a estrutura do envoltrio com sua dinmica no ciclo celular.

    Conhecer a estrutura do complexo do poro.

    Conhecer as principais caractersticas do transporte entre ncleo e citoplasma.

    Compartimentalizao celular (Aula 15 de Biologia Celular I).Filamentos Intermedirios (Aula 22 de Biologia Celular I).

    Controle do ciclo celular (Aula 1 de Biologia Celular II).Diviso celular (Aula 2 de Biologia Celular II).

    Transporte ncleo-citoplasma

    Pr-requisitos

    objetiv

    os4AULA

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    INTRODUO Voc aprendeu na ltima aula que o envolt