ADES. Surralismo (CAP)

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8/4/2019 ADES. Surralismo (CAP) http://slidepdf.com/reader/full/ades-surralismo-cap 1/8 g ra nd e v id ro , A rioiua desnudada por seus noivos, \itrw~~~~~~[f~lfia extremamente complexa, e a culminacao de Sua f l" le ir t: ru~/ ,I ,i ~~ ~i '1o r ti st a. Repre se nt a uma maqui na de amor que, por frustra permanentemente 0 des ej o de seus nrnt"ar,n:. .~e tl li ~~ )e rf ei lt am(= n1:ec omo s ua s t el as , e as de outros dadai st as que re pr ese ntac oe s p ic to ri ca s d e ma qu in as, s ao 0ex ato op osto da iiI'C;\..C1.,u,-,a futurista: sua atitude e inteiramente ironica. Depois de I U\..JC"UHjJ decidiu acatar 0c on se lh o que e le propri o dava a os a rt is ta s yens e passou a viver a mar ge m dos a cont ec iI ne I1tos. Ao renunciar .vi da de .a rt ist ic a, s al vo p ar a o rg an iz ar u ma ou outra e xposi ca o s ur re alis ta par ec ia t er l ev ad o 0 dada it sua conclusao Iogica." ' . dos eles a usaram. As f ot omonta ge ns mais e John Heartflel~, ~o . denfulcia arrasadora de Hitler e do Bea rt fi el d c onst it ur ra m urna capitalista. .' deri amda confundir 0Dad a c om d e nmguem po ena se assegurar e qu .t " Hausmann e Huelsenbeck tra<;aram , culturalm ente prog;essdls d a : rno e 0 q ue e le que r na Ale ma nha? ", d - "0 que e 0 a ais d h e a ~a o, 1'" . ternacional de to os os omens e it " unia o revo UClonana in . di a l" e "a ex- . base no comurusmo ra ic c ri at ivos e ~ ~t el ec tual s, c °C soci al iz a~ ao) e a a li me nt a~ ao de todo 0 Cu rn pr e c onsi de ra r se pa ra da me nte, em poucas p al av ra s, 0 Dada em porque pertence especificamente it s itua ca o pol it ic a na Ale ma nha a pa rt ir 1917, q uan do a d esilusa o com a gue rra esta va a ume nta ndo, a trave s do s de d ese sp ero d o pe s-g uerra , q ua ndo as espe ran ca s de urn Estad o r"~'''~! f or am f rust ra da s. Em Ber li m, 0 Dada assumiu a sua forma mais mente politica. Quando Huelsenbeck regressou de Zurique a Berlim, em janeiro 1917, ele trocou urn "idilio elegante e bern alimentado" por uma " de c intos a pe rt ados , de t re me nda e c re sc ente f eme ". D ep ar ou -se c om0 estra-: nho fenorneno de urn povo atormentado e exausto que se voltava para a em busca de conforto: "A Alemanha se converte na terra de poetas e d or es se mp re q ue s e pur if ic a dos j ur ist as e c arn ic ei ro s, " 28 Naturalmente, para 0 e xp re ss io ni srn o q ue e le s e vol tou, p orq ue oferecia a fuga mais clara da feia r ea lida de , v is an do a " intr os pe cc ao, a a bstra ca o, a r enunci a a todaobjetivi- d ad e". 0 Dad a iden tifico u imed iata me nte essa atitude c omo sua inirn iga d e- clarada. Tudo 0que 0D ad a p ro du zi u e m Ber li m e not avel p or s ua ins is te nc ia a sp era e ag ressi va na rea lida de. "A a rte supre ma sera a que la que , em seu con- t eu do c onsc ie nt e, a pr es enta osmil ve ze s mil pro blemas do dia , a a rte que foi vis ivel me nt e e st ra ca lhada p el as e xp lo so es da se ma na pas s a da , a a rt e que e st a inc essa nte me nte b usca ndo re unir se us membros espa rra ma dos ap os a col i- sa o d e on tem" (ext ra ido do primeiro man ifesto d ada a lemao ]. A inve nc ao da fo tomo nta ge m, uma ad apta ca o da c ola ge m por ele s c riad a e d esen volv ida , f ei ta de r ec or te s de j or na is e fo to gra fi as , a do to u u rn c am in ho mu lt o dif ere nt e de o utra s co lag ens dad a, co mo as d e Max Ern st, qu e te ndi am a uma de so rga- nizacao poetica da r ea lida de . A f ot omo nt ag em , u sa nd o 0 mat er ia l vis ua l do mundo a s ua vol ta , do a mbie nt e f amil ia r, t or nou- se u ma a rma pol it ic a i nc isi - va e mordaz nas maos dos dadaist as. George Grosz, Hannah Hoch, Raoul . d a ao ositiva de comecar a recons- o surrealismo nasceu de urn ~eseJ~ e <; P tudo o 'Da da tinh a qu e t ermi- . rtir das ruirtas do dada. POlS,ao negar" D da"] e isso truir a pa . ("0 verdadeiro dadaista e c ontra 0 a , nar negando a Sl mesmo " romper Isso foi sentido da rna- Ircul ., que era necessano· d Andre l ev ou a u rn c rr c 0V1ClOSOde i f ses reunidos em torno e e d 1 0 eJovens rance d d neira r na is a gu a pe 0grup ." e chocara com 0niilismo e a- d A de Breton a teonzar Ja s d Breton. A ten enCla b f ' lmente s e c ompa ra rr nos urn e P · bi . que se perce e aci daistas como rca ia, 0 d d esp~";to 0livre pensamento , "OD d' 'umesta 0 e 'H .. , seus manifestos dada: a ae 1h 'greJ'a Dada e livre pensamen- li . - se asseme a a urna 1 . e mma te ri as re g io sa s n ao 1 Manifesto canibal de Picabia: t o a rt is ti co", z sc omo, por e xe mp 0 0 Voces sao todos acusados: levant~m~~~"como ostras serias... o que e st ao f az endo aqui, amon oa d Dada nao sente nada, nao e nada, nada, na a. .E como as vossas esperanc;:as,nada. Como 0 v osso pa raiso, na da . , C omo os vos sos a rt is ta s, nada. C omo a vos sa r el igia o, nada. La marieemise a nu par ses celibataires, meme, t it ul o ori gi na l. 0 a post o " me rne" , "rnesma", e urn trocadilho, intraduzivel para 0portugues: m'airne (me ama). eN,R.T.) 1m

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grande vidro, A rioiua desnudada por seus noivos,

\itrw~~~~~~[f~lfia extremamente complexa, e a culminacao de Sua

fl"leirt:ru~/,I,i~~~i'1ortista. Representa uma maquina de amor que, por

frustra permanentemente 0 desejo de seus nrnt"ar,n:.

.~etlli~~)erfeiltam(=n1:ecomo suas telas, e as de outros dadaistas que

representacoes pictoricas de maquinas, sao0exato oposto da

iiI'C;\..C1.,u,-,a futurista: sua atitude e inteiramente ironica. Depois de I

U\..JC"UHjJ decidiu acatar 0conselho que ele proprio dava aos artistas

yens e passou a viver a margem dos aconteciIneI1tos. Ao renunciar

.vidade.artistica, salvo para organizar uma ou outra exposicao surrealista

parecia ter levado 0 dada it sua conclusao Iogica." '

. dos eles a usaram. A s fotomontagens mais

e John Heartflel~, ~o . denfulcia arrasadora de Hitler e doBeartfield constiturram urna

capitalista. .' deri amda confundir 0Dada comd e nmguem po ena

se assegurar e qu . t " Hausmann e Huelsenbeck tra<;aram

, culturalmente prog;essdlsd

a: rno e 0que ele quer na Alemanha?",

d- "0 que e 0 a ais d h

e a~ao, 1'" . ternacional de to os os omens eit "uniao revo UClonana in . di a l" e "a ex-

. base no comurusmo ra ic

criativos e ~~telectuals, c°Csocializa~ao) e a alimenta~ao de todo0

Curnpre considerar separadamente, em poucas palavras, 0Dada em

porque pertence especificamente it situacao politica na Alemanha apartir

1917, quando a desilusao com a guerra estava aumentando, a traves dos

de desespero do pes-guerra , quando as esperancas de urn Estado r"~'''~!

foram frustradas. Em Berlim, 0 Dada assumiu a sua forma mais

mente politica.

Quando Huelsenbeck regressou de Zurique a Berlim, em janeiro

1917, ele trocou urn "idilio elegante e bern alimentado" por uma "de cintos apertados, de tremenda e crescente feme". Deparou-se com0estra-:

nho fenorneno de urn povo atormentado e exausto que se voltava para a

em busca de conforto: "AAlemanha se converte na terra de poetas e

dores sempre que se purifica dos juristas e carniceiros," 28Naturalmente,

para 0expressionisrno que ele se voltou, porque oferecia a fuga mais clara da

feia realidade, visando a "introspeccao, a abstracao, a renuncia a todaobjetivi-

dade". 0 Dada identificou imediatamente essa atitude como sua inirniga de-

clarada. Tudo 0que 0Dada produziu em Berlim e notavel por sua insistencia

aspera e agressiva na realidade. "Aarte suprema sera aquela que, em seu con-

teudo consciente, apresenta osmilvezes mil problemas do dia , a arte que foi

visivelmente estracalhada pelas explosoes da semana passada, a arte que esta

incessantemente buscando reunir seus membros esparramados apos a col i-

sao de ontem" (extra ido do primeiro manifesto dada alemao]. A invencao dafotomontagem, uma adaptacao da colagem por eles criada e desenvolvida ,

feita de recortes de jornais e fotografias, adotou urn caminho multo diferente

de outras colagens dada, como as de Max Ernst,que tendiam a uma desorga-

nizacao poetica da realidade. A fotomontagem, usando 0material visual do

mundo a sua volta, do ambiente familiar, tornou-se uma arma politica incisi-

va e mordaz nas maos dos dadaist as. George Grosz, Hannah Hoch, Raoul

. d a ao ositiva de comecar a recons-

o surrealismo nasceu de urn ~eseJ~ e <; Ptudo o'Dada tinha que termi-. rtir das ruirtas do dada. POlS,ao negar" D da"] e isso

truir a pa . ("0 verdadeiro dadaista e contra 0 a ,nar negando a Sl mesmo " romper Isso foi sentido da rna-

Ircul ., que era necessano· d Andrelevou aurn crrc 0V1ClOSOde i f ses reunidos em torno e e

d 1 0 eJovens rance d dneira rnais agu ape 0grup ." e chocara com 0niilismo e a-

dA • de Breton a teonzar Ja s d

Breton. A ten enCla b f 'lmente se compararrnos urn e

P· bi . que se perce e aci

daistas como rca ia, 0 d d esp~";to 0livre pensamento, "OD d' 'umesta 0 e 'H ..,

seus manifestos dada: a a e 1h 'greJ'a Dada e livre pensamen-

li. - se asseme a a urna 1 .

emmaterias re giosas nao 1 Manifesto canibal de Picabia:to artistico", zscomo, por exemp 0 0

Voces sao todos acusados: levant~m~~~"como ostras serias...

o que estao fazendo aqui, amon oa d

Dada nao sente nada, nao e nada, nada, na a.

. E como as vossas esperanc;:as,nada.

Como 0vosso paraiso, nada. ,

Como os vossos artistas, nada.

Como a vossa religiao, nada.La marieemise a nu par ses celibataires, meme, titulo original. 0 aposto "merne",

"rnesma", e urn trocadilho, intraduzivel para 0portugues: m'airne (me ama). eN,R.T.) 1 m

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==-=c:J

=E

Foi Breton quem finalmente pos urn fun ao Dada com a organiza\=ao de

serie de eventos desmoralizadores em 1921, como 0 pseudojulgamento

Maurice Barres, 0patriota e homem de letras. A cisao nas fileiras dadaistas

velou-se claramente quando Tzara se negou a colaborar e alegremente sa

tou a iniciativa toda ao recusar-se a responder com seriedade as nrrnlrd

sisudamente formuladas por Breton, 0 "presidente" do tribunal. Fingindo

parte de uma campanha de terrorismo contra membros destacados da

dade frances a,0ulgamento primou pela total ausencia de humor e nA·""'<'~~

na realidade, a pre-historia do surrealismo. Em 1922, Breton anunciou

para urn congresso internacional a fim de deterrninar "a direcao do

moderno" ao qual cornpareceriam representantes de todos os TYl."",~

modernos,incluindo 0 cubismo, 0 futurismoe 0Dada - e assim, ao 1I",,"r"""Pr

o Dada, por assim dizer, na historia da arte, Breton matou-o efetivamente.

o relacionamento entre 0 surrealismo e 0 Dada e complexo, p

sob muitos aspectos, eles eram bastante semelhantes. Politicamente, 0

lismo herdou aburguesia como seu inimigo, e continuou, pelo menos em

oria, seu ataque as formas tradicionais de arte. Artistas previamente associa,

dos ao Dada aderiram ao surrealismo: mas e impossivel dizer que a obra de

Arp, Ernst ou Man Ray,por exemplo, virou surrealista de urn dia para 0 outro.

o surrealismo foi, por assim dizer, urn substituto do Dada; como disse Arp,"expus com os surrealistas porque sua atitude rebelde em relacao a 'arte' e

sua ati tude direta em face da vida eram semelhantes as do Dada". 30 A dife-

renca radical entre eles residia na formulacao de teorias e principios, em vez

do anarquismo dadaista.

Mas foram precis os dois anos para que 0 surrealisrno se firmasse real-

mente como urn movimento, e esses anos, de 1922 a 1924,ficaram conheci-

dos como a periode des sommeils. Os futures surrealistas, incluindo Breton,

Eluard, Aragon, Robert Desnos, Rene Crevel e Max Ernst, ja estavam explo-

rando aspossibilidades do automatismo e dos sonhos, mas 0periodo foi mar-

cado pelo uso de hipnotismo e drogas, Num arugointituladb "Entree des

mediums", em 1922, Breton descreve a excitacao que e1essentiram quando

descobriram que, durante urn transe hipn6tico, alguns deles, especialmente

Desnos, podiam produzir surpreendentes monologos, escritos ou falados, re-

pletos de imagens vividas de que seriam incapazes, afirrnou ele, num estado

consciente. Mas uma serie de incidentes perturb adores, como a tentativa de

suicidio em massa de todo urn grupo deles durante urn transe hipnotico, le-

YOUao abandono desses experimentos e, no primeiro Manifesto surrealista,

_Bretonevita qualquer discussao de auxilia.res'!mecanicbs";·cbrtiOdrogasOU 0

."hlpIlotismo, enfatizando 0surrealismo como atividade natural, nao induzida.

Em 1924, foi estabelecido 0Centro de Pesquisas Surrealistas, publi-

cou-se 0Manifesto surrealista de Breton e saiu 0primeiro numero da revista

.. suqeglistaLq Revolution Surrealiste.Gesou-ee uma atmosfera deexpectatlva

t==c:J

CZ>

="-"==: . . . : : >

mUit~ rnais escritores e artistasplasticos jovens foram atraid~s

e . tmento Entre eles estava Antonin Artaud, que fundo,: m:_is

••...noVOmO::i'rio Theatre Alfred Jarry. Artaud foi colocado na dire\=ao

o revolUclOna . Ar descreveu como "uma em-de Pesquisas Surrealistas, que agon ,,31 E• tica para ideias inqualificaveis e revoltas permanentes. m

roman . d des Europei " Maud expressa" os Reitores das Universi a es uropeias, .., b alCarta a . d lib d de de evasao dos grilhoes da existencia an ,eabrangente e er a , ..' 0irrefreavel otimismo dos surrealistas.

. 0 ue a ciencia [amais ira chegar, la onde asflechas da razao seMals longe d q . 1 hirinto urn ponto central para onde

b m contra as nuvens, existe esse a, do Espi .que ra d for as do ser e todos os nervos essenciais 0 spirito.

cNonverJ::a.1~o:~:;ede; m6veis e sempre mutantes, fora de todas asform~s

esse E pirito se aaita atento aos seus movi-nh .d d ensamento 0nosso s <:r ,

co eci as. e p , taneos _ aqueles com 0 carater de revelacao,

mento~~~: =~:t~: :;: :r~~ de ter caido do ceu. ..A Europa se Cri~a~za,

urn ar bit' .0de suas fronteiras, suas fabncas,mumifica-se 1entamente so 0 e~vo .0dnades'Aculpa esta nos vossos siste-

ib . d [ustica suas UUlverSl .

seus:lo~::~:s :~ voss; logica de dois mais doisigual a q~atro; a cuXa:sta

:~svoces, reito~es...0menor ato de criacao espon~a~ea 3~ urn mun 0 em

mais comp1exo e revelador do que qua.1quermeta Sica.

do " de ao espontanea", 0surrealismo aboliu

Reconhecend~ °d~= ~ ~~~doeaC~~~e eliminou a necessidade da posicao

o veto que 0 a a a p . sua razao de ser sem impor, ao mesmoir6nica dadaista, devolveu ao artista a " M .' 1 d Artaud para a. urn novo conjunto de regras estetlcas. as 0 ape 0 e

tempo, '. . 1 t 0dado que 0surre-

derrubada de fronteiras nao teve resposta por argo 6emp

, . do at'e'en-.: .. . . 1 m 193permanecen

al i 'e tornou realmente mternaClOna e, . -:... smo so s . t frances centrado em Pans.•. " ovimento predornmantemen e, ...•.. .. . . . . u m .r r1. '. . li .0 como urn mOVlrnento...... 0Manifesto surrealista anunCiOU 0surrea sm

dd 'Afl;rma.va en-

do a oi as numa nota e ro ape. . 'litera.'rio, mencionan 0 a pintura ro da ti 'dade humane .. com. 0 objetivode

b t do 0espectro a a Vi '. ... .........

.. tretanto, a ra?~er o. .h en lobando areas ate entao negligencia-explora~ e unificar a pSj;_ue u:n~~:~cie~te. 0Manifesto era tanto a cUlmb:lli~

das da Vida, como 0 so 0 e 0 in " cio de algo totalmente novo.c;aodos dois anos precedentes qlla~to o. anuncio ue .

Deu a seguinte definicao de surrealismo.

lB 9

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de certas formas de associacao ate agora desprezadas, na onipotencia do

nho e no jogo desinteressado do pensamento. Visa a destruicao

detodos os outros mecanismos psiquicos, substituindo-os na resolu<;;ao

principais problemas da vida."

Mirma Breton que a origem de seu interesse pelo automatismo

Freud. Como estudante de medicina, trabalhara na Clinica Charcot sob

orientacao do neurologista Babinski e passara algum tempo num hospital

Nantes (onde conhecera Vache). Escrevendo no Manifesto sobre.. ···8.ntec::-ederami guerra,· dii Breton: u com Freud

como eu ainda estava nessa epoca, e familiarizado com os seus metodoj, de

observacao, que eu tivera ocasiao de aplicar em pacientes durante a guerra

decidi obter de mim mesmo 0 que tentamos obter deles, urn monologo pro-

nunciado 0mais rapidamente possivel, sobre 0qual a mente critica do indivi-

duo nao deve produzir qualquer julgamento, e que, portanto, nao seja

embaras;ado por nenhuma reticencia e seja, tao exatamente quanta possivel

pensamento [alado'i" Em colaboracao com Philippe Soupault, produziu pagi-

na~ e paginas escritas desse modo e que, quando as leram e compararam, os

delXaramespantados com "a consideravel selecao de imagens" assim geradas,

"de urna qualidade tal que nao teriamos sido capazes de produzir usando a

escrita comurn". 35As imagens, a vivacidade e a emocao nos seus escritos eram

muito semelhantes - as diferencas nos textos provinham das diferencas nos

respectivos ternperamentos, "sendo os de Soupault menos estaticos do que

osmeus". Os surrealistas sempre sublinharam que 0 automatismo revelaria a

verdadeira natureza individual de quem quer que 0praticasse, de urn modo

muitissimo mais completo do que em qualquer de suas cria<;:6esconscientes.

Pois 0 automatismo era 0meio mais perfeito para alcancar e desvendar 0 in-

consciente. Os textos que Breton e Soupault t inham escrito foram publica-

dos em Litterature, em 1919, sob 0 t itulo de "Les Champs Magnetiques", os

quais, cinco anos antes do Manifesto, podiam ser qualificados como a primei-ra obre surrealista,

o primeiro Manifesto e uma colcha de retalhos de ideias - a definicao

de surrealismo sublinha 0 automatismo, mas uma extensa parte e dedicada

aos sonhos, que Freud tinha revelado serem uma expressao direta da mente

iri.consciente, quando a mente consciente diminuia seu controle durante 036S • , d

sono. ena urn eqUlvoco, entretanto, pensar que, em virtu e de suas origens

aparentes na teoria psicanalitica, 0 espirito de pesquisa cientffica presidisse

aos primeiros anos do surrealismo. A despeito da homenagem prestada a

Freud, e evidente que 0usa que eles fizeram de suas tecnicas de livre associa-

<;:aoe irrterpretacgo de sonhos foi, em muitos aspectos, abertamente oposto

assuas intencoes, "Cabe agora ao homem pertencer completamente asi mes-

mo, quer dizer; manter em urn estado anarquico 0 sempre poderoso bando

seus desejos.,,37Encorajar deliberadamente os desejos indisciplinados do

. e contrariar frontalmente a psicanalise de Freud, que tinha por fina-

curar os disturbios mentais e emocionais do homern, habilr tando-o a

•rol·tUJ<U 0 seu lugar na sociedade e a viver, como disse Tzara, num estado de

n()nJll<LL.LUU~.~ burguesa. Tampouco estavam interessados na interpretaqdo de

contentando-se em deixar que eles se sustentassem por si mesmos.SUJU~-'

recusou-se, certa vez, a colaborar para uma antologia de sonhos orga-

por Breton, argumentando que nao conseguia vislurnbrar em que e

1=1-;;,..."" de e as lembrancas da infancia

sonhador, poderia ter interesse para alguern. 0 que os surrealistas viam

nos sonhos era a imaginacao em seu estado primitivo e uma expressao pura

"maravilhoso" .

Embora e1e nao 0 reconhecesse no Manifesto, 0 automatismo tarnbern

devia bastante aos mediuns e a sua "escrita automatica", e isso e denunciado

quando Breton sublinha a passividade do individuo: "Torn~mo-~?s em

nossas obras os receptaculos mudos de tantos ecos, modestos dlSPOSltl.VOS de

gravaf{iio."38Ernst e Dali enfatizaram sua passividade dia~te, da"ob~a, compa-

rando-se a mediuns, Entretanto, .quando falam sobre 0 alem, nao preten-

dem subentender 0sobrenatural, como asmensagens dos mortos transmitidas

pelos mediuns, mas tao somente coisas que estao alem das fronteiras da re~-

dade imediata e podern, nao obstante, ser-nos reveladas pelo nosso in

consciente ou mesmo pelos nossos sentidos, quando num estado de extrema

sensibilidade.

Urn extenso trecho do Manifesto e dedicado a "imagem surrealista". A

metafora e natural na imaginacao hurnana, mas esse potencial so pode ser

realizado se for dado ao inconsciente plena liberdade de acao. Entao, as mais

impressionantes imagens ocorrem espontaneamente. "Alinguagem foi dada

ao homem para ser usada de urn modo surrealista." A imagem surrealists

nasce da justaposicao fortuita de duas realidades diferentes, e e da centelha

gerada por esse encontro que depende abeleza da imagem; quanta mais dife-

rentes forem os dois termos da imagem, mais brilhante sera a centelha. Essa

especie de imagern, acreditava Breton, nao podia ser premeditada; 0mais

perfeito exemplo, com que eles se dispunham a rivalizar e passaria a ser a sua

divisa era a frase de Lautreamont: "Tao belo quanta 0 encontro fortuito de, d dh b .·,,39uma maquina de costura e e urn guar a-c uva so re urna mesa anatorrnca.

Breton admitiu que sua propria imaginacao era primordialmente ver-

bal, mas reconheceu a possibilidade de imagens visuais desse genero, De fato,

elasja existiam nas colagens de Ernst, e logo em 1921 Breton escrevia 0pre-

facio para urna exposicao de Ernst, no qual essas obras foram descritas em

termos muito semelhantes aos que usaria mais tarde para descrever a ima-

gem poetica surrealista." Tais colagens dada ja prometiam 0desvairado de -

paysement das series subsequentes de colagens de Ernst, A mulher 100

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-==E

cabecas [ilustracao 57] e Uma semana de bondade, que pertencem propria_mente ao surrealismo.

As artes plasticas sao, num certo sentido, auxiliares do surrealismo·'

cujos interesses principais sao a poesia, a filosofia e a politic a, embora foss~

realmente atraves daquelas que 0 surrealismo se tornou conhecido do grande

publico. No ambito das artes visuals, 0 surrealismo foi urn dos mais vorazes

de todos os movimentos modernos, atraindo para a sua orbita a arte de me-

diuns, criancas, lunaticos, os pintores naifs, juntamente com a arte prirnitiva,que refletia a crenca dos surrealistas em seu pr6prio "primitivismo integral".

Faziam jogos infantis, como 0 cadavre exquis, em que cada jogador desenha

uma cabeca, 0 corpo ou as pernas, dobrando 0 papel depois de sua vez, de

modo que sua contribui~ao nao possa ser vista. As estranhas criaturas que daf

resultam forneceram a Miro inspiracao para suas telas.

Pierre Naville, urn dos primeiros editores de La Revolution Surrealiste,

negou que pudesse existir uma pintura surrealista: "Todos sabem agora que

pintura surrealista e coisa que nao existe, Tanto aslinhas do lapis consignadas

ao acaso do gesto, quanta a reproducao pict6rica de imagens oniricas ou as

fantasias imaginativas nao podem, e claro, ser assim descritas.

"Mas existern espetdculos.

"Memoria e 0prazer dos olhos: essa e toda a estetica.?"Breton respondeu a essa acusacao numa serie de artigos publicados em

La Revolution Surrealiste a partir de 1925, analisando a obra de Picasso, Bra-

que e De Chirico, assim como a daqueles pintores que forjavam os vinculos

mais fortes entre 0 surrealismo e a pintura, Max Ernst, Man Ray e Masson.

Quando os artigos foram editados em livro, com 0 titulo de Le surrealiste et la

peinture, em 1928, eleadicionou ArgMir6 e Tanguy. Breton nao tenta defl-

nir a pintura surrealista Como tal; aborda a questao de urn modo diferente,

avaliando 0 relacionamento individual de cadapintor com 0 surrealismo,

Evita qualquer discussao real sobre estetica,embora inscrevaseu argumento, ..

de urn modo urn tanto vago, no contexto da "imitacao" em arte, dizendo estar

unicamente interessado numa tela na medida em que e uma janela que olha- .

vapara algo; aflrrna tambern que 0modelodo pintor deve ser "purarnenteln- .

terior". Mais tarde, em Genese artistica e perspectioa do surrealismo (1941),

define 0automatismo e 0registro de sonhoscoIho os dois caminhos abertos .ao surrealismo.

Os pintores ligados aos surrealistas conseguiram, de fato, manter urn

. . . . . . . . ._ c = . , . . . .. . _UiCUV. grau de independencia emrela~aoapersonalidade dOririnarite'deBre"-'-

ton do que os escritores surrealistas, talvez porque a pintura nao Fosse()cam-

po de atividade do proprio Breton. Num certo sentido, eles puderam usar

. ideias surrealistas sem serem por elas subjugados e acharam a atmosfera gera-

~dapelosurrealismorsemduvida,muito estiin .. . .

Max Ernst talvez Fosse0mais chegado aos poetas surrealistas, s~~retudo

0 u 1 E·1 a d e acompanhou com interesse os desdobramentos teoncos doPa u r, d "d d .

Em 1925 descobriu 0rottage, que escreve como 0 ver a eiro,,.n.t:GUal~"··~'tJ.'~e·o que J' a'e conhecido pelo termo escrita automdtica",

equiv en

F· . ltado pela obsessao que mostrava ao meu olhar excitado as tabuasUl assa d d . D .dido assoalho, nas quais mil arranhoes tinham aprofun a 0as estrias. eCl.

tao investigar 0simbolismo dessa obsessao e,para ajudar asminhas facul-dades meditativas e alucinat6rias, fiz das tabuas uma serie de desenhos, co-

locando sabre elas ao acaso folhas de papel que passei a friccionar com

grafita. Olhando atentamente para os deseriho~ assim ob~d_os.. surpree~-

deu-me a subita Intensificacao de minhas capacidades ~e visao e a sucessao

alucinatoria de imagens contraditorias umas as outras.

ometodo de}rottage, pelo qual 0autor assiste como "espectador ao na~-

cimento de sua obra", extrapola 0 controle e evita questoes de gosto ou_habl-

lidade. Entretanto, esses }rottages a lapis, que ~sam outras text:rras_ alem ~a

deira sao de uma extraordinaria beleza e sutileza, uma combinacao.da ati-

~~ade ;assiva de "ver" descrita por Ernst e da subsequente composi~a~, cui-

dadosa e delicada. Estao repletos de trocadilhos visuais, como.em H ab ito da s

folhas [ilustracao 59], onde uma fric~ao da textura de madeira conv~~e-senuma enorme folha com nervuras equilibrada entre os troncos de duas a,ryo:-

res" que tambem sao }rottages de tabuas, .

Para Miro e Masson, 0 automatismo rna oferecer, de forn::as ~erente~,

uma direcao completamente nova para seus trabalhos. Os dots pintores ti-

nham atelies vizinhos em Paris e,num dia de 1923,Miro perguntou aMasson

se deveriam ir visitar Picabia ou Breton. "Picabia ja e 0 passado", ~es~o.ndeu

Masson, "B·~etone 0 futuro." Masson adotou sem reservas 0 p~mclplO do

automatismo, e os desenhos a pena e a tinta que co~e<;ou no mv:rno ~e

1923-24, logo depois do seuencontro com Breton: estao entre os :na.1snota-

veis prodlltos do surrealismo. A pena move-se rapidamente, sem l~ela cons-

ciente de urn tema, tracando uma teia de linhas _nervosas, mas firmes, das

qt1aisemergem imll~ens. que sao, por vez:s, aproveltad~s e elaboradas,outras

vezes .deixadas como sugestoes, Os mats bem-sucedidos desses desenhos

possuem uma integridade que provem da elaboracao inconsciente. de. refe-

rencias texturais e sensuais, tanto quanta visuais, Parecem ter a qualidade or-

ganica que Breton, notara nas frases que the acudiam :spontaneamente

.. quando em vigilia,uma.qualidade que ele descreve em ~al0r detalhe .qua~-=_

... .. . ... oautomatisiiioem Genese a.rtistica e perspectwa do surrealismoi:»

Nos termos damoderna pesquisa psicologica, sabemos que fomos levados.a

comparar a construcao do ninho de urn passaro ao comeco de ~m.am:lodia

~-. · ·c ·. ·· (111 p·-tpn (11 f'1·Hll-al.lIIla< ;; 1: :1 · . eonclusao caracteristica. Umamelodiaunpoesua __

=E=';;0:>

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1 1 3

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1 1 ~

co="-="C:

=E

pr6pria estrutura na medida em que distinguimos ossons que lhe

cern daqueles que the sao estranhos ... Insisto em que 0automatismo

graflco quanto verbal sem prejuizo das profundas tens5es individu~is

ele e capaz demanifestar e, em certa medida, resolver =, e 0unico modo

expressao que satisfaz plenamente 0olho ou 0ouvido, aorealizar a uruaans

ritmica (taoreconhecivel no desenho ou texto automatico quanto na

dia ou no ninho )... E concordo que 0automatismo pode participar na co _. -. m

posicao com certas intencoe» premeditadas; mas ha urn grande risco

afastamento do surrealismo, se 0automatismo deixar de fluir a s.,-Vffiii'obfanacq50de'ser cons.i.deradasurreaILsta ~~.~~rti~ta'"'n":::a...·s"e'''eS'~D·~o·"r'c;:'<Aar""··c.

por abranger 0campo psicologico total, do qual a consciencia e apenas umapequena parte. Freud mostrou que nessa profundidade "insondavel" preva-

lece a.tot:l ausencia de contradicao, uma nova mobilidade dos bloqueios

emocionais catlsados pela repressao, uma intemporalidade e uma substitui_

c;:aoda realidade extema pela realidade psiquica, tudo sujeito exclusiva_

mente ao principio do prazer. 0automatismo conduz diretamente a essaregiao.?

As reivindicac;:oes que Breton faz para 0automatismo sao exageradas no

trecho acima transcrito, porque ele estava tentando restabelece-lo a custa da

"Outra via oferecida ao surrealismo, a cham ada fixac;:ao trompe l'oeil de irna-

gens o~cas", 44da qU.al(afirmou ele) Dali tinha abusado e corria 0perigo de

desacreditar 0surrealismo. De fato, a parte os desenhos deMasson e algumas

desuas pinturas de "areia", ha muito poucas obras puramente automaticas-

e, de qualquer forma, como avaliar 0grau de automatismo num desenho ou

pintura? Varios novos metodos de solicitar 0inconsciente foram desenvolvi-

dos, os quais envolvem urn tipo mais mecanico de automatismo e tern a van-

tagem de contornar a questao da habilidade manual. Entre esses novos

processos figuraram 0ja citado frottage de Max Ernst e a "decalcomania" in-

ventada por Oscar Dominguez. Guache preto era espalhado sobre uma folhade papel, e uma segunda folha, colocada em cirna da primeira era levemente

comprimida contra esta e,depois, cUidadosamente levantada 'instantes antes

de q~~, a tint~,secasse; 0resultado deve ser "sem paralelo em ;eu poder de su-

gestao - era a velha parede paranoica de Da Vinci levada a perfeic;:aO".4SMasson concluiu que uma adesao excessivamente rigida aos principios

do automatismo nao 0levava a nada e abandonou-o em 1929 retornando a

Urn e~tilo cubists, mais ordenado. Miro, errtretanto, tal como 'Ernst, fez urn

uso triunfal do automatismo para libertar suas telas do estilo antes adotado

estritamente representacional, uma heranc;:ado cubismo contra a qual Miro

se n~belou violentamente, por representar para ele a "arte estabelecida" ("Eu

fare~em pedacos a guitarra deles"). Breton afirmou que, por seu "puro auto-

rnatisrno psiquico", Miro poderia user considerado 0mais surrealista de todos

.46"Comeco a pintar", disse Miro, lie,enquanto pinto, 0quadro comeca a

~:..,m,,·r-~;eOUa sugerir-se sob 0 meu pincel. Enquanto trabalho, a forma

a assinalando uma mulher, urn passaro ... A primeira fase e livre, in-" Mas,acrescentou, "a segunda fase e cuidadosamente calcula-·OIJ,::''-J· -U~-·

47Nosanos seguintes, Mire alternou entre obras em que 0automatismo ecomo 0nascimento do mundo, que ele comecou espalhando

"de maneira aleatoria" com uma esponja ou com trapos sobre ania-

uma leve imprimadura, e desenvolveu subsequentemente impro-

"visanClQJl!I1gClLt;t : _ l : i L 1 C i t J i : l L i C l i : > , "dl.ecor, e telas como Personage r n arremessando 1!ma

. com suas fOfTI1asbiomorficas e de linguagem desinais. Estis uliiriias

.'," inturas derivam de uma das prirneiras que ele realizou apes ter estabelecido

~ontato com os surrealistas, em que a fantasia e subitamente liber:ada -

Campo arado [ilustracao 61]. Uma paisagem povoada ~e ~stranhas cna_:uras

e dorninada, a esquerda, por uma criatura que se consti tui em uma fusao de

homem, touro e charrua, e, a direita, por urna arvore de onde brotam u~a

orelha e urn olho. Nao era apenas a maior liberdade tecnica que 0 surrealis-

mo oferecia a Miro, atraves do automatismo, mas a liberdade para explo~ar

desinibidamente seus sonhos e fantasias de infancia, e tirar proveito do nco

filao de inspiracao que descobriu na arte popular catala, na arte infantil e nas

pinturas de Bosch.

A distincao entre 0 automatismo e os sonhos, postulada, por exernplo,em La Revolution Surrealiste, onde secoes separadas sao dedicadas a,textos

autornaticos e a narracao de sonhos, nao se aplica rigidamente, em absolute, a

pintura surrealista. Arp, Mire e Ernst, por exemplo, misturaram habilmente

ambas as coisas, nao so em sua obra como urn todo, mas dentro do mesmo

quadro. As pinturas, relevos e esculturas de ~ tern a:~dades com o"auto-

matismo e os sonhos: ele refere-se as suas obras plasticas sonhadas . Sua

rnorfologia flexivel presta-se naturalmente a trocadilhos visuals, con:o a mao

que tambem e urn garfo, os botoes que tarnbem sao seios, que proliferararn

em suas obras dos anos 1920, quando esteve em estreito contato com os sur-

realistas.

.A categoria de obras surrealistas conhecida como "pintura onirica" erealmente aquela em que pre domina urna tecnica ilusionistica; nao tern que

ser necessariamente registros de sonhos. As telas de Tanguy, por exernplo,

possuern uma qualidade onirica, mas nao sao registros de sonhos, ~ntes ex-

ploracoes de paisagens intimas [ilustracao 62]. Muitas telas surrealistas, en-

tretanto tern caracterist icas do que Freud chamou "labor do sonho", como,

por exe:Uplo, a existencia de elementos contraries lado a la~o, a condensa~ao

de dois ou mais objetos ou imagens, 0usa de objetos que tern urn valor sim-

b6lico (ocultando frequentemente Urn significado sexual).

Urn pequeno gropo de telas de Max Ernst, datadas de 1921-24, incluin-

do0lefante dlebes, Oedipus rex e Pieta ou a Revolucdo a noite, tern a clareza

1 1 5

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1 1 6

e a determina~ao que poderiam deconer do fato· de serem registros de

sonho vivido ou de imagem onirica.Fortemente influenciadas por De

co, sao imagens enigmaticas, mas irresistiveis, impondo aomundo a visao

sonho do pintor, desintegrando 0 nosso senso de realidade tao efetiva,na_otao violentamente quanto as suas colagens. Nao nos sao oferecidas

interpreta~ao, embora indica~6es quanto ao seu possivel "significado" nos

jam dadas nos titulos. As telas de Salvador Dali, por outre lado, r(),-."riii-,

uma dramatiza~ao deliberada de seu proprio estado psiquico, tao

almente influenciadas elas foram pelas leituras de psicologia do autor

parecem, por vezes, ilustra~6es para urn caso clinico estudado por FreudKrafft- Ebing.

Dali viu 0 seu realismo minucioso e ilusionistico como uma especie

antiarte, livre de "considera~6es plastic as e outras 'besteiras'., ,48 Dali jun,

tou-se aos surrealistas em 1929, epoca em que omovimento estava sacudido

por conflitos pessoais e politicos. Nos anos seguintes, Dali emprestou-lhe urn

novo foco, nao s6na pintura, mas tambem atraves de outras atividades, como

o filme Um cdo andaluz (1920l que ele fez com Luis Bunuel. Em 1936,0

modo cinico como ele se promovia e a sua total indiferen~a politica nurna

epoca em que os surrealistas se mobilizavam para a a~ao positiva prOVaram

ser excessivamente prejudiciais, e ele foi expulso do movimento.

As telas de Dali fazem desfilar seu temor obsessivo do sexo, levando aoonanismo e ao medo da castra~ao [ele Pintou uma serie de telas de Guilher-

me Tell, cuja lenda interpretou como urn mito de castra~ao). A obra nao for-

nece uma explica~ao para 0 seu inconsciente, porquanto ele pr6prio fez todo

o trabalho de interpreta~ao, e somos presenteados com uma descri~ao

consciente e possivelmente duvidosa. Se compararmos astelas de De Chiri-

co anteriores a1917, queexerceram uma poderosa atracao para todos os

surrealistas, com as de DaIi, percebe-se clararnente a diferen~a entre 0 sim-

bolismo sexual inconsciente das tones e arcadas na obra de De Chirico, que

refor~a a sua qualidade alucinatoria e eIligmatica, e 0 simbolismo sumarneri-

te obvio de DaIi , por exemplo,a imagem recorrente da cabe~a de mulher que

e tambem urn jarro, uma referencia ao lugar-comum freudiano do recipientesimb6lico de mulher.

DaIi disse que aunica diferen~a existente entre ele proprio eurn louco eque ele nao era louco. A paranoia, que ele afirmava ser responsavel por suas

imagens duplas, pouco ou nada tinha a ver com a paranoia medica. A ativida-

de crit ico-paranoica era uma adapta~ao do metodo de /rottagede Ernst,que

tinha feito entrar ern jogQ acapacidadeYisionariadoartista.Bfivolvia-a'

=~=:capacidade de perceber duas ou mais irriagens numa so configura~ao, por

.exemplo, em Mercado de escravos com a bustode Voltaire [ilustra~ao631as

cabe~as de pessoas em negro com golas bran cas no centro do quadro tambem

sao as~ . l l 1 ? ~ .?~llsto . c l ( ) fil<Sf)()fo.Qmetodo baseou-seno~sUbitopoderde-- ..

C:l. . . . . . .c : . . . .

=. co

-=

. - . ro rio da paranoia", e era ;'um metodo esporitaneoslstematlca~, p I"f49D' . Dali' "Acredito estar pr6ximo 0 mo-

to irracional". Isse '. '.. _lC~ •u.•••--.. . di ento de pensamento paranOlCOativo, sera

ern que, por urn prfu°c: im tribuir para 0 total descredito do mun-sistematizar a con sao e con

da realidade." d as nao tao verdadeiramente trans-d D Ii - erturba oras m d

As telas e a sao p . As telas de Magritte sao controverti as;

~O"C)la" quanto as de Magntte. e d mundo acerca das relacoes en-111eSLlIJU'''·-s nossos pressup~~tos acer: es~belece:n analogias irnprevistas

urnobjeto pintado e urn 0 jeto reda , . s nurn estilo deliberadamen-.' . pletamente esconexa :.f.:

justap6e~ coisas com feit de urn lento estopim, Nao tern urn sigm)£-inexpresslvo, 0 que tern 0 e el 0 , luvel Em A condicdo humana I

ld d e urn argumento e reso " .nosenti 0 e qu I te esta colocado diante de uma jane-

.[ilustra<;:ao64], por exemplo, urn cavlaAe ina de vidro pois nela esta uma con-d que parece ser uma am , u ldr "

sustentan 00 . trave da jan ela Entretanto, o. VI ..0d isagern VIsta a aves .tinua~ao exata a .pa -lid de fato uma pintura numa

I d d cortina e mostra ser so 0" . ilusisobressai ao a 0 a dr d tro de urn quadro e embora 0 USI0-

tela. Assim, trata-se de urn qua 0 tabelece se uma violenta tensao entr.e 0. lmente muito tosco, es a - . I

nisrno seja rea fid l'd d da paisagem na tela e a paisagem rea,nosso reconhecimento da e td

ae mbas sao meramente pinta.das, por

I d conhecimento e que a dpor urn a 0, eo. . _ mais complexas, ern torno esseMagritte executa muitas vanacoes, eutro.

genero de ideia, d ,. "alem" da pintura e muito diversa,

A atividade surrealista nos. O~IllOS a ~ 'rao foi 0 do objeto surrea-. xtenso e malS nco para a illven:s- . ;

mas 0 campo mats e I·' I do Surrealismo em Pans, ern

lista, que domino~ ~ Exposicao ~t~rnea~l~~asurrealismo antesda

Segullda

1938. Essa exposicao marcou 0 ,P gb' ·t· t otal eo resultado foi esplen-nh .ar urn rnero am len e ,

: ; : ; ;= :~OX~ri :~~~~ ' ·AdaP~n!=~, ; :~~~~;a : :de urn salao :_nontado nofundo duzentos sacos de carvao; folhas mortas e

da a decorac;ao, pendurou no1 etod· tanque orlado de canicos e samam-:

grama cobriam Q chao em re °di~e urn tro e ern cada urn dos cantos do .r~...b . de carvao ar a no cen .. _ stavs

baias, urn. raseiro d·· a1 Na entrada para a exposicao e avacinto havia u:n~ ehnormed~ab~ :~a~ar~o abandonado ern que ahera crescia

colocado 0Taxi c uvoso ..'. b . do motorista e de urna passa-

por todo lado, tendo em seu in;enor os, oneco~avia caracois vivos rastej ando

; ; : : ~ ~ ~ ~ : _ a ~ g : ~ ~ j i i ~ ~ ! ~ * : : i . k " J o ~ m ar n au ~ e a r : ' "commanequills emmmos a . Ra e outros. No interior do pavilhao

DaH, Duchamp, Ernst, Masson, Man y. dros objetos surrealistas tais.d alem dos numerosos qua ,

estavam reuni os, f- ds .. ha forradose revestidos compe .. ,como a xicara corn pires para oca ea man , , .. • '.. .. ,

1 1 7

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sobressaindo do pavilhao acustico e urna mao de mulher substituindo

0co do pick-up.

A Segunda Guerra dispersou os surrealistas de Paris. MUitos

cluindo Breton, Ernst e Masson, foram para Nova York, onde deram

guimento a suas atividades surrealistas, ajudando a plantar as sementes

movimentos americanos do pas-guerra, como 0expressionismo abstrato

Arte Pop, e atraindo para a sua orbita Roberto Matta e Arshile Gorky.

voltaram para a Franca depois da guerra, mas 0surrealismo ja deixara de

movimento dominante em arte, embora nao fOJcs,,,s,::e:t,'":ermm'i.,:,:'iiC1ar~;ii':LU;:~""\JJr~:l:c·,estivessevivo; Principal instigadot e orgaruziid():r surrealismo, Breton

ceu em 1966, mas muitas ideias subjacentes no surrealismo ainda tern

geradora. Como 0termo "surrealismo" e agora usado tao livremente,

passado ao vernaculo urn pouco como aconteceu tambemao termo

tico", podera ser util recordar a finalidade do surrealismo: "Tudo sugere

existencia de urn certo ponto da mente no qual vida e morte, real e .l!l.la~mll.",

rio, passado efuturo, 0 comunicavel e 0 incomunicavel, as alturas e as

fundidades deixam de ser percebidos como contradit6rios. Ora, seria em

que sebuscaria qualquer outro motivo para a atividade surrealista a nao ser

esperanc;:a de determinar esse ponte,'?' Ele tinha em vista nao a oposic;:aodos

estados eVidentemente contradit6rios, por exemplo, do sonho e da vigil ia,

mas a sua resoluc;:ao num estado de suprarrealidade, e e isso que e atingido

pelo melhor do surrealismo visual.

n o t a s

I. Hans Ritcher, Dada, Art and Anti-Ar t, Londres, 1965, p.13.

2. Anuncio publicado na imprensa, 2 de fevereiro de 1916, ibid., p.16.

3. Hugo Ball, Flucht aus Zeit, MUnique, 1927 (trad. em Transition, n225, Paris,1936).

4. Richard Huelsenbeck, "Dada Lives!", 1936 [em Motherwell (org.) Dada

Painters and Poets, Nova York,1951, p.280]. Esse relato e contestado por

Tzara, que afirma ter sido ele 0criador da palavra, assim como do seu signifi-

cado, que e atribuido ora ao frances para cavalinho de pau, ora ao romeno(da, da) para sirn,

5. Em Motherwell, ibid., p.235. Primeiramente publicado em Berlim, DadaAlmanach, 1920.

6. Andre Breton, "Dada Manifesto", Litterature, maio de 1920, n2 13.

7. Richard Huelsenbeck, En Avant Dada: A History of Dadaism, 1920, emMotherwell, ibid., p.21.

8. Hugo Ball, op.cit.

9, Tristan Tzara, "Dada Manifesto, 1918", publicado pela primeira vez emDada 3, Zurique, dezembro de 1918.

HI b ck En Avant Dada. ,UrnilU ue sen oclai . ithout Pretension" Seven Dada Manifestos,Tzara, "Proc amatron Wl ,

1924. d P . 1919 Estacitac;:aoedeumacartaparaVache Lettres eguerre, arts, , . : 1 3 ' 1T__n"P~ , d 1917 Nao deixou outras obras, eseu rruto 01 arga-Bretor:t,18 de agosto e .

ovido por Breton. _ timente prom Th B 'dg, Stripped Bare by her Bachelors, Even, versao _

Marcel Duchamp, e n .h Green Box por Richard Hamilton,,'. 0 :ifica das notas de Due amp em, . .p gr notas sao datadas de 191

· Hugo Ball'"oDP.cditl'd'' On My Wa~' Nova York,1948, p.39;H Arp

a a an "J th . "'b'd 48ans ' d more removed from aes etics ,1 1 ., p. .ansArp. "1become more an

Hans Arp. DieWoZkenpumpe, Hanover, 1920.

Hugo Ball, op:cit. 1 t as palavras, usando s6 letras para criar 0Hausmann evrtou comp etamen e f "letristas"· ele chamou urn ritmo de sons, para azer poemas , .que d'Hans Arp. "Dadalan ",OP,Clt.

Hans Richter, op.cit., p.77. M 'L' barbada de Duchamp.· be LH00 Q na ona isaPicabia tam em escreveu . . . , . . P' 1920 44

' bi J, Christ rastaquouere, ans, , p. .Francis Pica ia, esus- _ ' Th Art of Assemblage: A Symposium, Mu-

24. Marcel Ducharnp, declaracao em de b d 1961fM d Art Nova York 9 e outu ro e. 4

seum 0 0 ern, , . J, Christ rastaquouere, p.4 ,25. Gabrielle Buffet, citada por pic

dab1aem esus

D- champ onde e urn meio de

r 0usa 0 acaso por u ,26, E interessante compara 1 d Arp onde como urn aspec-

d 1,· gosto pessoa com 0 e r ,

evitar aor em ogica eo. "f' _ . mistica: "Entreguei-me. e urna Slgn1lcac;:aoma1S .

to do automatismo, assum , ica.Ch i-lhe 'trabalhar de acor-1 execucao automatica. amei

comp etamente a uma .,.. t' t das as outras e e insondavel, como1 id 0 a lei que con em 0 d

do com a ei 0acas r id e s6 pode ser experimenta a. . d onde toda V1 a emana e qu . d" 0

a causa prtmeira e ., t" ('~d so the circle close , nmediante 0total abandono aomconscien e.

MyWay,p.77.) d D h em 1986 foireveladoqueeletinha27. Somente depois da morte e uc amp, , port' ante, obra Btant Donne: 1 2

d tr balhar durante 20 anos numa irn , , rtesta 0 a a , dIE la o g , 1946-66 a qual consiste num qua 0

La Chuted'Eau,22 Le gaz C trage, I t:urnnu(modelo)eumapai-

onde 0espectador nao pode entrdartnodqua es.a toda uma ilusao complexa,

sagem brilhantemente ilumina a,sen 0a coisa

impossivel de descrever em tao curto espaco,

28. Richard Huelsenbeck, En Avant Da~a.

29. Andre Breton, Dada Maknifest~ ° r 9 ~ 1 ; .em IlArt Contemporain, n23 (1930?).30 Hans Arp.carta aMiBrze ows, , _ rticular Paris 1924.

• • T t: gue de reues impressao pa , ,31. Louis Aragon, «me va ,', Z . 23 abril de 1925, A maior

. Art d m La Revolution Surrea iste, n r ••

32. Antonm au, e d di d lozi r os valores e as ideias orientais.parte desse numero era e ica a a e ogia

1 1 9

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t=

1 2 B

33. Andre Breton, "Manifesto du surrealisme" p. bu: d ' l ' ans, outu ro de 1924

ntjestes u surrea isme Paris 1962 40· , em34. Ibid., p.36. '" p. .

35. Ibid., p.37. .

;~. ~:e;Pretafiio"dos s~nhos, de Freud, fot publicado em 1900.

. e Breton, Manifeste du Surrealisme" 31. .38. Ibid., p.42. . , p. .

39. Isidore Ducasse Comte de La tre

ris,1968-74.' .. u eamont, Chants deMaldoror (canto VI),

40. "E amaravilhosa faculdade de alcancar duas realid d. . .das sem sair do do '. d. a es lffiensamente

telha resultanted:= c:n~~~~a~:Pr:~e~Cia, deljunta-ldase obter limaB b d . r ru.r ao a cance os nossosguras a stratas otadas Com a mesma int id d

trasBguras; e de desorientar-nos em nossa ::~:a ~:m~:;:o rele~o, d: .•.•

urn quadro de referenda _ e essa faculdad pela pnvas;:ao .

Dada." Reimpresso em Beyond P. . ti ( e que, por enquanto, sustenta . .41 Pi N ill am ng ver nota 42).. terre av o e, em La Revolution Surrealiste, nl!3.: .

42. ~;~ Ernst, Beyond Painting, trad. de Dorothea Tanning, Nova York,1

43. ~dre Breto~, Artistic Genesis and Perspective of Surreali.sr11. .,lisme et Lapeinture, nova edis;:ao Paris 1965 68 ....., 1941, Le surrea-

44. Ibid, p.70. ' ., , p. .

45. Breton, "D'une decalcorriarue sans b·' , ..... .sir)" 1936 e L ., li . 0Jet preconcu (Decalcomarue du de-

46 Anck'· ,m esurr~a.lSmeetLapeinture, op.cit.,p.127.. . e Breton, Le surrealtsrne etLapeinture opcit 37

47·RClt~do eNmames Sweeney; "JoanMiro: C6~e~~ ~~d interview" P. .. etneio, ova York, fevereiro de 1948, p.212. ......• . . . . ,artisan

48. Salvador Dali "L'Ane Pourri" Lesur-s li . .1930, vol. I, ~!! I, p.12. ,surrea isme au service de la revolution, Paris,

. 49. Salvador Dah, The Conq uest 0.( th .I .... l.· .·S I d .. 'J e rrationa relmpresso·em. Th S.· · · · · · · · · ·L:.c .. .ca va or Dali, 1942, pA18. .' .... e qqet .tJeO J

50.. "Eu me habituei a simples alucina ao· vetod lib . .... .

n.o lu.ga..td.e ..urn.·..a fab.rica. 'u.m c·.· s;:· .d J. . e . e:radamellte uma me..squita. .. .. . .. . '. ollJun 0 e percussao formad . .... ..

ruagens nas estradas do C~u,timsalao nofu"£J.dode tl~l· .·.;P:J:bl;lllJO

d

S

,car-51 ;':isdr°~en Enfer; citado por Ernst em Beyond Painting p;~o, •.. au, Une

. e Breton, Deuxierne manifeste du sUrrealis . . '. " .~du surrealisme, op.cit., p.154. . . me,Pans, 1930, e~ Manifestes

• S u p r e m a t i s m oAaron Scharf

J stlPl·enJ.a1:J.srnomenos urn movimento artistico do que uma atitude de es-

que parece refletir a ambivalencia da existencia contemporanea, Foi

a atuacao de urn so homem. Kasimir Malevich (1878-1935) foi a seu

condutor.O movimento surgiu na Russia par volta de 1913. A inten-

de Malevich era expressar a "cultura metalica do nosso tempo", nao par

inJ.it~l<;;ao,as por.criacao. Malevich desdenhava a iconografia.tradtcional da

arte representacional. Suas formas elementares preteneliam anular asrespos-

. tas condicionadas do artista ao seu meio ambiente e criar novas realidades

"nao menos significativas do que as realidades da propria natureza".

A geometria de Malevich fundamentava-se na .linha reta, forma ele-

mentar suprema que simboliza a ascendencia do homem sabre a caosda na-

tureza. 0quadrado, que nunca se encontra na natureza, era a elemento

suprematista basico: a fecundador de todas as outras formas suprematistas.

o quadrado era U1Ilre~~dio ao mundo das aparencias e da arte passada. Em

1915, junto com outras telas fundamentalistas, sua tela de umquadrado ne-

gro sabre fundo branco foi exposta pela primeira vez em Petro grade, entao a

capital da Russia. Mas nao se tratava meramente de urn quadrado, e Malevich

Bcou irritado com aintiiill.sigellcia. d Q I 3 criticos;. que nao foram·capazesdeen-

tender a : verdadeira natureza dessa forma onipotente. Vazio? Nao era urn

quadrado vazio, insistia ele. Ele estava cheio da ausencia de qualquer objeto;

estava prenhe de.significado;Alern disso, nao era nas pinturas, mas nos pequenos desenhos de ele-

mentos suprematistas, feitos par Malevich entre 1913 e 1917, que residiam

asmais sutis irnplicacoes do suprematismo [ilustracao 65]. Nao pretos, mas

cinzentos, eles eram cuidadosa e deliberadamente sombreados a lapis.0

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sinais da mao - uma assercao da as;ao humana -, e isso e centralp~~~·ailoso~ .

fia do suprematismo.Mas, embora as formasgeometricas pretendessem

transmitir a supremacia do espirito sabre a.materia, tambem era t:'''t:ljL...li~

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