954 candeeiro 1461 pb

2
Ano 7 - nº 1461 Junho/2013 P1+2 proporcionará aumento de inédita produção de uvas em Itatuba-PB O sol ainda nem tem surgido ao longo da serra, quando um caminhar leve e um olhar atento dão início aos primeiros cuidados do dia na horta. Luzia Bezerra da Silva, mais conhecida como Dona Lita, largou a vida urbana e voltou a morar no Sítio para dedicar-se à sua paixão de produção de vegetais e frutas. Quando criança, Dona Lita aprendeu com seu pai as primeiras lições da produção de hortas. “Meu pai sempre plantava hortaliças e presenteava nossos vizinhos e amigos com cestas de legumes e frutas e apesar da vontade de produzir desde cedo, eu tinha o sonho de ser professora. Precisei estudar e trabalhar fora. Na cidade, não dava pra produzir”, lembra. Passaram-se 30 anos desde quando Dona Lita iniciou suas atividades como professora atuando na rede municipal e estadual de ensino e agora, recém-aposentada, decidiu deixar a vida urbana. Ao lado do seu esposo, Sr. Luiz Ernesto, um agricultor familiar, ela mora na comunidade de Serra Velha, a 12km da cidade de Itatuba-PB, e tem dedicação exclusiva à sua horta e à produção ao redor de casa. Agora ela tem uma nova rotina. “Talvez até eu trabalhe mais agora do que quando em sala de aula, mas estou podendo cuidar como quero da minha horta. Ela é igual um bebê. Requer todo um cuidado especial e eu faço isso com carinho. Levanto diariamente às quatro e meia da manhã e muitas vezes ainda vou para a horta escovando os dentes e observando tudo, retirando alguma folha seca e já rego pela primeira vez no dia. Depois de todos esses cuidados é que volto para dentro de casa e preparo o café da manhã”. Dona Lita colhe e exibe inédita plantação de uvas. Fotos: Sinaldo Luna

description

 

Transcript of 954 candeeiro 1461 pb

Ano 7 - nº 1461Junho/2013

P1+2 proporcionará aumento de inédita produção de uvas em Itatuba-PB

O sol ainda nem tem surgido ao longo da serra, quando um caminhar leve e um olhar atento dão início aos

primeiros cuidados do dia na horta. Luzia Bezerra da Silva, mais conhecida como Dona Lita, largou a vida urbana e voltou a morar no Sítio para dedicar-se à sua paixão de produção de vegetais e frutas.

Quando criança, Dona Lita aprendeu com seu pai as primeiras lições da produção de hortas. “Meu pai sempre plantava hortaliças e presenteava nossos vizinhos e amigos com cestas de legumes e frutas e apesar da vontade de produzir desde cedo, eu tinha o sonho de ser professora. Precisei estudar e trabalhar fora. Na cidade, não dava pra produzir”, lembra.

Passaram-se 30 anos desde quando Dona Lita iniciou suas atividades como professora atuando na rede municipal e estadual de ensino e agora, recém-aposentada, decidiu deixar a vida urbana. Ao lado do seu esposo, Sr. Luiz Ernesto, um agricultor familiar, ela mora na comunidade de Serra Velha, a 12km da cidade de Itatuba-PB, e tem dedicação exclusiva à sua horta e à produção ao redor de casa.

Agora ela tem uma nova rotina. “Talvez até eu trabalhe mais agora do que quando em sala de aula, mas estou podendo cuidar como quero da minha horta. Ela é igual um bebê. Requer todo um cuidado especial e eu faço isso com carinho. Levanto diariamente às quatro e meia da manhã e muitas vezes ainda vou para a horta escovando os dentes e observando tudo, retirando alguma folha seca e já rego pela primeira vez no dia. Depois de todos esses cuidados é que volto para dentro de casa e preparo o café da manhã”.

Dona Lita colhe e exibe inédita plantação de uvas. Fotos: Sinaldo Luna

Com pouco mais de dois meses de dedicação exclusiva à horta, Dona Lita já comemora e se diz ansiosa com os resultados que a implementação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) trará à sua produção. Ela lembra que tanto a horta do seu pai quanto a sua não passaram por nenhuma orientação, foram feitas apenas com base na experiência e na experimentação, mas sem muita segurança do que poderiam ou não dar certo. Para ela, isso agora vai melhorar: “Com as orientações que já temos recebido nos cursos, tenho certeza de que minha produção aumentará e uma das melhores coisas que já nos foi passada é o incentivo ao não uso de agrotóxicos e como saber cuidar de cada hortaliça”, comemora.

Participante assídua dos cursos, Dona Lita está conquis-tando uma cisterna-enxurrada, que, segundo ela, deverá ser como uma “chave de ouro” aos seus canteiros. Enfrentando até pouco tempo uma das maiores secas das últimas décadas, a produção de Dona Lita também foi ameaçada, mas, graças aos seus esforços, sobreviveu: “A uva consome muita água. Foi complicado lidar com a seca, mas graças a Deus voltou a chover e minha horta está uma riqueza e sem precisar comprar água”, diz.

A ousadia de plantar uvas deu certo e Dona Lita vislumbra ainda muito mais. Com a cisterna-enxurrada, ela não só quer dar uma segurança maior e aumentar seus canteiros. “Ainda não tenho tudo o que consumo. Com a cisterna-enxurrada quero produzir todas as frutas, os legumes e os vegetais que consumo e assim ter uma vida mais saudável, assim como também incentivar meus familiares e amigos de que vale a pena produzir”.

Para Dona Lita, “O objetivo do projeto não está apenas em ter uma cisterna, mas em produzir. Agradeço bastante a confiança depositada pelo Serviço Pastoral dos Migrantes e vamos arregaçar as mangas para produzir, explorar nossas riquezas, ter uma vida saudável, sabermos lidar e ter meios para conviver com a estiagem. Água é vida e a partir dela podemos produzir muito mais”.

Durante o curso de Gestão de Água para Produção de Alimentos - GAPA, os participantes visitaram o sítio de Dona Lita e contabilizaram 60 espécies, entre hortaliças, fruteiras, animais e plantas medicinais.

Reportagem: Sinaldo Luna

2

Toda a horta é cuidadosamente regada duas vezes ao dia. Foto: Sinaldo Luna

Para facilitar os cuidados, a horta foi instalada ao lado de sua casa. Foto: Sinaldo Luna

A horta de Dona Lita, próxima à sua casa, destaca-se não apenas pela diversidade da plantação e o carinho com que é cuidada. A ousadia da professora aposentada fez brotar a inédita plantação de uvas da região: “Eu gosto de desafios. Gosto de tentar mesmo sem conhecer e certo dia, há dois anos, encontrei um vendedor de carro de mão com sementes de uva. Comprei, trouxe para cá e plantei. Parece que elas caíram como luva aqui na Serra. São dois anos de produção. A cada safra, a quantidade só tem aumentado”, relata Dona Lita, que presenteia amigos e vizinhos com sua produção. No último dia das crianças seus alunos foram agraciados com cestas de uvas: “Nunca vendi nada do que produzo. Minha casa é sempre cheia de visitas e todas elas levam um pouco do que tem aqui, assim como fazia meu pai”, diz com brilho no olhar.