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Uma Análise Crítica da Guerra das Malvinas/Falklands pela Teoria das Operações Marítimas em Guerras Limitadas de Corbett Érico Esteves Duarte Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luís Rodrigo Machado X Encontro da ABED São Paulo, 3-5 de setembro de 2018

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Uma Análise Crítica da Guerra das Malvinas/Falklands pela Teoria das Operações Marítimas em Guerras

Limitadas de Corbett

Érico Esteves Duarte Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Luís Rodrigo Machado

X Encontro da ABED

São Paulo, 3-5 de setembro de 2018

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Introdução

O presente artigo tem como ambição duas contribuições principais. Primeiro, ele busca verificar a utilidade do arcabouço teórico de Julien Corbett para análise de operações marítimas contemporâneas. Ele dá continuidade a agenda de um

programa de pesquisa científico clausewiztiano1, ao apontar que as teorias da guerra de Carl von Clausewitz e Julien Corbett têm potencial explanatório para o estudo de guerras limitadas. Recuperamos, portanto, o argumento que a Guerra das Malvinas é um caso exemplar para esse teste, pois ela:

[…] cumpre todos os requisitos de uma guerra limitada como acima delineados: a disputa por um território de valor político limitado e passível de ser isolado estrategicamente. E se aplicados as demais proposições das teorias de Clausewitz e Corbett, é possível ter uma avaliação preliminar das razões do insucesso argentino e da importância de se aprofundar seu estudo. A invasão argentina foi veloz o suficiente para inviabilizar qualquer reação britânica que a estancasse, e também procedeu adequadamente na concentração de força terrestre para defesa nas ilhas. No entanto, a Argentina não foi efetiva o suficiente ou não tinha meios adequados para conduzir uma ofensiva marítima que rompesse as linhas marítimas britânicas. De maneira que foram os britânicos aqueles capazes de isolar as ilhas, resultando em desmoralização e rendição das forças terrestres argentinas nas Malvinas, sem que Argentina tivesse como alterar ou retaliar esses reveses. São várias as questões a serem melhor investigadas e revistas com o benefício da abertura dos arquivos oficiais desde 2012. Entre elas, apontam-se três centrais: existiam alternativas melhores para a campanha marítima argentina? Até que ponto a falta de interoperabilidade entre as forças armadas argentinas foi decisiva para o resultado da guerra? Levando-se em consideração que a força terrestre argentina nas Malvinas possuía considerável contingente militar e reservas logísticas intactos quando da sua rendição, a campanha defensiva terrestre poderia ter sido estendida por tempo suficiente a tornar improvável o

sucesso britânico?2

Como um estudo preliminar, limitamos o artigo à verificação da teoria de Corbett e à análise crítica as operações marítimas argentinas. Ou seja, o artigo busca responder as duas primeiras perguntas da citação: existiam alternativas melhores para a campanha marítima argentina? Até que ponto a falta de interoperabilidade entre as forças armadas argentinas foi decisiva para o resultado da guerra?

Uma segunda ambição de contribuição do artigo é oferecer uma abordagem

relativamente original do caso estudado. Com raras exceções3, a literatura sobre a Guerra das Malvinas não é teoricamente orientada, nem construída a partir de hipóteses. Isso é particularmente prejudicial ao impor uma fragmentação das

1 Duarte e Mendes, “A Ciência da Guerra”.

2 Duarte, “Clausewitz, Corbett e o Desafio das Guerras Limitadas”, 141.

3 Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic

Decisions”.

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contribuições a perspectivas unilaterais e/ou fragmentadas da guerra, tendo como pior efeito a limitação dos ganhos progressivos e pedagógicos desses estudos. Portanto, ainda que o presente artigo tenha como enfoque a análise das possibilidades estratégicas argentinas, ele não se limita a fontes argentinas nem apenas ao ponto de vista do uso dos enfrentamentos para o propósito da guerra. Ele também considera os pontos de vista políticos, táticos e logísticos da guerra.

Nosso principal argumento é que, no contraste entre as proposições conceituais de Corbett e a correlação das forças combatentes argentinas e britânicas, a Argentina tinha apenas duas opções estratégicas: ou ela conduzia uma operação militar simbólica com assinaturas navais e terrestres mínimas, reduzindo assim as possibilidades de perdas; ou ela elevava as taxas de riscos ao concentrar forças suficientes nas ilhas Malvinas que fariam os britânicos considerarem ser os custos de sua reconquista altos demais. No primeiro caso, de uma diplomacia coercitiva, uma força de guarnição seria suficiente. No segundo caso, ela teria que constituir sua própria Fortaleza Malvinas e ser capaz de resistir, ao menos, a ataques limitados britânicos por uma cabeça-de-praia ou demonstração de força a fim de influenciar as negociações pelas Malvinas.

A Argentina não era capaz de conduzir todas as etapas de operações marítimas em guerras limitadas, segundo a teoria de Corbett. O Reino Unido tinha uma ampla vantagem de recursos navais em relação a Marinha argentina, com mais alto nível de desempenho e prontidão de uma força-tarefa naval completa com meios aéreos, submarinos, de superfície e de mísseis. Isso significa que a Argentina não era capaz de fazer frente aos britânicos numa batalha naval decisiva em alto mar. Como consequência, ela também não era capaz de conduzir uma ofensiva naval que rompesse com as linhas de comunicação marítimas britânicas ou neutralizasse seu acesso as ilhas, muito menos era capaz de conduzir uma ofensiva coercitiva para conquista de posses britânicas adicionais de valor para permuta pelas Malvinas ou causar adicionais que forçassem Londres ceder aos termos argentinos. Da mesma maneira, ela não era capaz de sustentar uma linha de comunicações marítima em apoio de qualquer força estabelecida nas Malvinas.

Apesar disso, argumenta-se que as forças argentinas seriam capazes não apenas de tomar, mas defender as Ilhas Malvinas. Pois, na realidade da guerra no mar na era dos mísseis, existe a possibilidade de acumulação de meios de plataformas

distintas em operações de defesa de costa4. A Argentina tinha meios navais, aéreos e terrestres suficientes para tornar as ilhas em sua ‘Fortaleza Malvinas’ e impor aos britânicos uma condição de dilema na tomada de decisão: assumir o risco de perdas com os meios disponíveis em um curto prazo de tempo, ou postergar a operação de retomada para concentração de mais meios sob risco de perder as condições políticas - internacionais e nacionais - para tal.

As vantagens navais britânicas eram potencialmente limitadas num ambiente de aguas rasas e costeiras em que seus submarinos tivessem menor liberdade de

4 Vego, Naval Strategy and Operations in Narrow Seas; Hughes, Fleet Tactics and Coastal

Combat; Till, Seapower, seç. 9.7.

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ação (em particular porque eles estavam subordinados ao comando naval em Northwodd e não ao comandante da força-tarefa Almirante Woodward), e passasse a depender quase que exclusivamente de seus caças-bombardeiros Sea Harrier para fazer frente a combinação da capacidade de mísseis dos navios de superfície argentinos, com as baterias antiaéreas de defesa de costa e sua superioridade numérica em termos aéreos. Nas piores estimativas, a Argentina tinha a vantagem de 80 caças-bombardeiros operacionais contra 20 do lado oponente. Embora os britânicos contassem com mísseis ar-ar mais efetivos, os argentinos, diferente de seu oponente, eram capazes de assumir baixas que não colocariam sua operação em risco. Essa vantagem argentina seria ainda maior se ela pudesse ter contado com seu porta-aviões Veinticinco de Mayo operando proximamente das ilhas e do uso pleno da pista de pouso em Stanley (ou Porto Argentino) ou à disposição combinada dos caças A-4 com o destroier Belgrano e as três fragatas modernas que tinha a disposição ao inicio do conflito. Dessa maneira, os pilotos argentinos contariam com voos mais curtos, condições de conduzir suas missões de combate por mais tempo e conduzir uma campanha aérea concentrada com melhor apoio de sistemas de radares e comunicação embarcados e em terra.

No entanto, argumenta-se que essas duas alternativas estratégicas tinham uma pré-condição específica para cada uma delas. Para condução de ação típica de diplomacia coercitiva de uma tomada de mão simbólica e temporária, era necessário que a Operação Alfa na Geórgia do Sul não tivesse sido conduzida. Isso porque ela não era o objetivo primário argentino e expunha qualquer a operação a improvisos diplomáticos e operacionais.

De outro lado, ainda que a Operação Alfa também prejudicasse a opção estratégica de uma Fortaleza Malvinas, esta opção tinha como pré-condição mudanças significativas na preparação e momento da invasão argentina. Era necessário, primeiramente, suspender a rivalidade e desconfiança mutua entre as forças singulares. Em segundo, uma revisão profunda de doutrinas aéreas e navais argentinas. Enquanto a Força Aérea não era adequada a guerra naval, a Armada via com muito maus olhos o emprego de sua força de superfície como ‘artilharia móvel’ em operações defensivas em costa e ambas tinham que concentrar recursos nas Ilhas Malvinas com um mínimo de interoperabilidade entre elas. Por fim, seria necessária a substituição das brigadas mecanizadas, formadas por conscritos engajados havia apenas três meses, por brigadas de montanha, de mais alto desempenho operacional e adequadas ao frio, se decidisse conduzir a operação às vésperas do inverno. Ou, alternativamente, como suscitado pela própria Junta Militar, a operação deveria ser conduzida apenas ao fim de 1982, com clima e tropas conscritasadestradas mais adequadamente. Essa alternativa seria reforçada ainda pelas possibilidades de incremento de componentes aéreos e navais aos argentinos e destituição de embarcações britânicas, como estipulado desde o início de 1982.

Nesse sentido, responde-se também a segunda pergunta que motiva esse artigo. Ainda que desejável uma alta taxa de interoperabilidade entre as forças argentinas, não seria necessária para qualquer uma das opções estratégicas apontadas desde que as forças combatentes argentinas atuassem em vários

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setores distantes entre si de um teatro de operações. Entretanto, a concentração de forças demandaria um comando operacional conjunto nas Ilhas Malvinas, com autoridade e capacidade de ungir um único plano operacional.

De qualquer maneira, qual fosse o curso de ação argentino, o pré-requisito das guerras limitadas era a manutenção das negociações diplomáticas com operações militares combinadamente. Na compreensão argentina, havia um mal entendimento que ações diplomáticas e militares fossem sequenciadas, em que as negociações eram suspensas e apenas retornavam com as posições de vantagens militares conquistadas. Seja nas Nações Unidas, na Organização dos Estados Americanos, seja com a intermediação norte-americana, a Argentina tinha que ter atuado nas várias arenas que tinham acesso aos representantes britânicos, de maneira que pudesse se informar e articular sobre a duração das operações militares com os pleitos diplomáticos.

Como a história relata, a Argentina seguiu um curso intermediário aos propostos aqui. Muito enérgico para uma ação de diplomacia coercitiva, e muito fraco para desbaratar os cálculos e chances de sucesso britânico. Além disso, a Operação Alfa não apenas foi conduzida como parte da Operação Azul, de tomada rápida e simbólica das Malvinas, como determinou sua alteração para Operação Rosário, com antecipação e expansão da invasão, sem preparo correspondente dos contingentes. Por fim, a Argentina rompeu as negociações moderadas pelo Secretário de Estado norte-americano Alexander Haig no dia 27 de abril, dois dias antes do desembarque anfíbio ser autorizado pela primeira-ministra Thatcher e um dia depois que o reforço argentino partiu em direção a Stanley.

A estrutura do artigo segue, de maneira sucinta, a estrutura de análise crítica

(kritik) de Clausewitz5. A seção que segue esta introdução apresenta o conteúdo teórico que se busca aplicar. Reconhecendo os limites de um artigo, limita-se a apresentação a uma fração da teoria de guerras limitadas, focando-se principalmente nas proposições que consideram os aspectos que envolvem forças marítimas e não se adentra nas questões relacionadas a operações terrestres. A segunda seção contextualiza elementos objetivos da guerra: os constrangimentos relativos de um teatro de operações hostil a ambos os beligerantes, a correlação de forças e as condições relativas de condução de enfrentamentos, uma breve reconstrução das decisões e planejamento argentino. Nesse sentido, se apropria das considerações sobre a realidade contemporânea de guerra na era dos mísseis, que favoreceria, em termos relativos, forças costeiras sobre esquadras em alto

mar6.

Na terceira seção, a partir dos contrastes do arcabouço conceitual de Corbett e das condições objetivas de meios, se considera a utilidade de uso da força nas Malvinas segundos os interesses políticos da Junta Militar argentina. Com isso, se considera as possibilidades estratégicas argentina a dois cursos de ação: o uso

5 Duarte, “A Análise Crítica de Clausewitz (Kritik): O Potencial Epistemológico da Teoria da

Guerra”. 6 Hughes, Fleet Tactics and Coastal Combat; Vego, Naval Strategy and Operations in Narrow

Seas.

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simbólico de uma operação militar como recurso de diplomacia coercitiva7, ou uma campanha de guerra limitada centrada na sua primeira etapa de defesa do objeto de valor e abandono de qualquer iniciativa de disputa de controle do mar.

A quarta seção faz uma breve análise crítica sobre os impactos da precipitação e da falta de interoperabilidade na condução do conflito em conjunto com uma avaliação do atendimento ao mapa do plano de guerras limitadas proposto por Corbett.

1. A Teoria das Operações Marítimas em Guerras Limitadas

Corbett aponta que a utilidade política da guerra limitada deriva, primeiro, de que nem sempre é desejável ou possível a ruptura das forças combatentes oponentes. Segundo,os objetivos políticos podem ser atendidos por uma intervenção limitada através de tomadas de posições e objetos limitados e ainda pela destruição e conquista de propriedades privadas. Terceiro, o contexto político e outros objetivos políticos mais ou igualmente importantes, podem impedir um grande envolvimento numa guerra específica.

Por isso, no contexto dos Estado-nacionais, ele aponta dois pré-requisitos para guerras limitadas. Primeiro, o objetivo político não deve apenas ser limitado em área, mas também em valor político. Ou seja, ele não deve ser tido como um elemento orgânico de uma nação. Segundo, ele precisa ser “estrategicamente isolado ou ser capaz de ser reduzido a um isolamento real pelas operações

estratégicas”8. Isso significa que disputas de territórios ou posses fronteiriças entre estados contíguos ou adjacentes em termos continentais, incorrerão numa área cinzenta entre guerras limitadas e ilimitadas. Distinto disso, guerras entre impérios e superpotências globais podem perfeitamente atender a esses requisitos. O mesmo com relação à conquista “de posses além-mar ou nas extremidades de vastas áreas de território imperfeitamente ocupado”. Em todos esses casos, os objetivos políticos podem ser isolados por operações marítimas e/ou terrestres, atendendo as condições para uma guerra limitada plena.

A grande ameaça de guerras limitadas entre sociedades políticas sem distanciamento geográfico terrestre entre elas é que uma ofensiva estratégica implica, na maioria dos casos, deixar pontos do próprio território desguarnecidos, principalmente pelo deslocamento das forças combatentes de sua proteção para realização da expedição. Isso impossibilita a restauração das defesas nacionais em caso de um golpe de acordo a linhas de guerras ilimitadas ao nosso território. Corbett recupera a ilustração de Clausewitz sobre a Campanha de Austerlitz de 1805, quando a Áustria enviou uma força

7 Greenhill e Krause, Coercion; Jakobsen, “Pushing the Limits of Military Coercion Theory”;

Schelling, "The Strategy of Conflict'. 8 Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 55.

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expedicionária para a conquista de territórios no norte da Itália, perdidos para a França em 1796, e Bonaparte, em resposta, tomou a capital Viena e destruiu as

forças austríacas de defesa9.

Esses elementos trazem a mais relevante distinção de guerras limitadas, do ponto de vista de teorias que visam refletir sobre o emprego das forças combatentes. Em guerras ilimitadas, o peso e o vigor da ofensiva estratégica forçam o oponente a concentrar suas forças na sua própria defesa e, por isso, dificultam a realização de contragolpes em outras áreas do ofensor. Já em guerras limitadas, tudo dependerá da posição geográfica do objetivo e da distribuição global de forças. Em regiões muito isoladas e com pouca possibilidade de reação do oponente, uma única ofensiva limitada pode ser suficiente. Em regiões não tão isoladas ou havendo a possibilidade de algum tipo de resposta pelo oponente, conduz-se uma campanha ofensiva para conquista do objeto seguido de uma segunda fase coercitiva - idealmente por uma campanha defensiva servida de limitadas ofensivas - de maneira a forçar o oponente a aceitar a situação adversa que se

criou para ele10.

O mesmo vale de uma guerra entre duas potencias continentais isoladas por um terceiro país. De qualquer maneira, a existência de teatros marítimos e mistos é o que conforma em um mesmo grupo os casos históricos desse tipo de guerra. Corbett conclui que guerras limitadas poderão ser sempre um recurso para potencias insulares ou entre potencias separadas pelo mar, mas principalmente para a potência capaz de comando do mar em tal grau que lhe permita não apenas isolar seu objetivo de guerra, mas tornar inviavelmente custosa ou uma má política a invasão do seu território nacional pelo oponente.

É com essa argumentação elegante que ele expõe o papel mais relevante das operações marítimas em guerras limitadas que em guerras ilimitadas. Somando à essas considerações, tem-se o mapa de um plano de guerra em guerras

limitadas, articulando-se atividades combatentes - terrestres e marítimas11.

Em primeiro lugar, uma guerra limitada desenvolve-se pela dinâmica do equilíbrio entre o teatro de operações de combate e os impactos e as utilidades políticas dos objetivos sob disputa em outras regiões geográficas. Ou seja, em boa parte das vezes não existe correspondência geográfica entre os efeitos políticos desejados e onde se trava a guerra. O isolamento político torna-se aqui fundamental, pois não se terá concessão de um objeto que é necessário ou existencial a uma nação. É isso que permite a exploração política através dos vários meios diplomáticos dos resultados estratégicos dentro de uma expectativa razoável de acomodação com o oponente.

Em segundo lugar, as possibilidades de sucesso premiam a iniciativa e a velocidade de conquista do objeto. Isso se dá pela vantagem estratégica de se tomar um objeto antes que o oponente seja capaz de defendê-lo. Nesse momento,

9 Corbett, Maritime Operations in the Russo-Japanese War, 1904-1905, 2015, 63.

10 Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 46, 56–57.

11 Corbett, Maritime Operations in the Russo-Japanese War, 1904-1905, 2015, 65–68.

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a meta bélica é o objeto e a destruição das forças do oponente apenas um meio quando necessário.

Em terceiro lugar, a consolidação do equilíbrio político que se deseja se dá após a construção do equilíbrio estratégico no teatro de operações através de uma conduta estratégica, mas que não pode ser puramente defensiva. Deve-se se estabelecer o mais forte possível, de maneira de ser capaz de resistir a qualquer força trazida à posição. Nesse estágio, a força combatente do oponente torna-se a meta bélica terrestre, enquanto as forças marítimas assumem um importante papel em impedir a concentração de meios do oponente sobre o objeto recém-conquistado. Isso pode incorrer na necessidade bloquear as bases navais do oponente, e até assumir o controle das linhas de comunicação marítimas do

oponente através de batalhas navais 12 . Por isso, embora se conduza uma campanha defensiva terrestre, a disputa pelo controle das linhas de comunicações marítimas pode demandar em uma campanha marítima ofensiva. De fato, essa distinção perde sentido no domínio marítimo, pois as linhas marítimas de ambos os beligerantes se darão em áreas comuns. Ou seja, para proteção das próprias linhas marítimas que servem a defesa do objeto, são necessárias ações contra as

tentativas do oponente de seu uso13.

Possuindo o oponente a possibilidade de linhas de comunicação terrestres, operações combinadas podem ser necessárias para romper essas linhas ou compor uma posição de interposição mais avançada, de maneira a isolar o objeto que se deseja.

Em quarto lugar, tendo assegurado suas posições por operações terrestres e marítimas, deve-se conduzir uma campanha defensiva em intenção, mas vigorosamente ofensiva em forma. Esse estágio seria uma pressão geral pela qual se demonstra ao oponente que ele tem mais a perder que a ganhar se desejar continuar a guerra. Para esse propósito, pode ser necessário a ameaça ou a tentativa de tomada de um outro objeto. Nesse caso, deve se considerar, mais uma vez, os efeitos políticos desse outro objeto. Se ele não implica símbolos de soberania, por um lado, e se ele tem algum valor para o oponente, por outro. Caso as circunstâncias políticas e estratégicas não permitam essa possibilidade, é

necessário se aplicar operações coercitivas contra outros pontos do oponente14.

É importante observar que as atividades marítimas dos dois últimos estágios demandam necessariamente a divisão da frota e que o comando do mar nesses casos não significa a concentração da frota ou esquadra em uma área limitada. Apenas nessa construção abstrata, seriam necessárias, pelo menos, a divisão da mesma em três seções. Uma para apoio da posição defensiva do objeto e exercício

12 É nesses termos que Corbett qualifica seu entendimento de comando do mar, apontando que

ele não faz sentido a destruição das forças navais do oponente como um fim em si mesmo. Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 97–98.

13 Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 100–103.

14 Esta é essencialmente a formulação do plano de guerra do Japão em 1904 formulado por

Corbett a partir de sua teoria, em relação ele contrastaria para avaliação dos ajustes necessários pelos japoneses em relação, principalmente, ao e último estágio de sua execução.

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da linha de comunicação, outra para a obstrução de seu uso pelo oponente e uma terceira para defesa do território natal. Apenas a partir do sucesso dessas e principalmente da segunda, é que se poderia considerar a realocação ou uma

quarta divisão para realização do estágio coercitivo15.

Por fim, é a luz desse panorama político e estratégico que Corbett reforça a centralidade de um Estado-Maior conjunto e de sua articulação com a liderança

política para o sucesso em uma guerra limitada16. Na qualidade da estrutura e dos procedimentos desse Estado-Maior podem residir a diferença no sucesso de operações em que a correlação de força é simétrica ou desvantajosa. Principalmente porque o desenvolvimento de guerras limitadas demanda decisões sobre avaliações do valor político de posições e objetos geográficos, condutas e conversões de campanhas ofensivas e defensivas e concentração e desconcentração de forças terrestres e marítimas que não são triviais.

2. O Contexto das Guerras das Malvinas: Teatro de Operações, Condições Relativas de Força e o Plano de Guerra Argentino.

Mais do que uma narrativa história, o objetivo desta seção é apontar elementos factuais que permitam refletir sobre as decisões estratégicas argentinas na condução de uma campanha com objetivos positivos sobre a soberania das ilhas.

Figura 1: As Malvinas no Oceano Atlântico

15 Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 132–33, 151, 170–71, 222–23; Corbett,

Maritime Operations in the Russo-Japanese War, 1904-1905, 2015, 70–71. 16 Corbett, Maritime Operations in the Russo-Japanese War, 1904-1905, 2015, 298–99.

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Fonte: Scott Nietzel, 2007.17 As Malvinas são um conjunto de aproximadamente 800 pequenas ilhas, dentre as quais as maiores são a Soledade e a Gran Malvina, cujas primeiras ilhotas ficam a aproximadamente 480 quilômetros do continente sul-americano, e a capital Stanley a 730 quilômetros no ponto mais próximo. As distâncias percorridas pelos britânicos são muito maiores ficando a 14500 quilômetros da Grã-Bretanha e 6000 quilômetros da base mais próxima, em Ascensão, no meio do Atlântico Sul como podemos observar na Figura 1. Abrange uma área de

17 Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine

Strategic Decisions”, p. 27.

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aproximadamente 12.200 quilômetros quadrados, e seu terreno varia de um solo pedregoso a um tipo de turfa resistente ao frio. Na época do conflito aproximadamente 1800 pessoas residiam no território e possuíam um rebanho ovino de mais de 600 mil cabeças, sendo esta sua principal atividade econômica. Situada na latitude 51º Sul a proximidade com o continente antártico se faz sentir com seus ventos frios com seus 8 meses de neve no ano e prevalência de ventos

sudoeste18.

A contenda pelo arquipélago data do século XVI quando, no início do século, o Tratado de Ultrecht ratificou o controle da Espanha sobre seus territórios na América do Sul incluindo suas ilhas. A despeito do tratado os britânico estabeleceram uma guarnição em 1765 reclamando as ilhas para sua coroa, sendo removidos de lá pelos espanhóis dois anos depois, vindo aumentar sua presença no arquipélago elevando o efetivo para 1400 homens em 1770. Em 1816 com a independência argentina, as ilhas pertencentes ao Vice-reino do Rio da Prata foram reclamadas pelo novo governo, tendo um governador nomeado desde 1826. Após um incidente com navios de pesca estadunidenses em 1831 as ilhas foram atacadas pela fragata USS Lexington dos EUA e o território declarado sem governante, fazendo com que no ano seguinte, em 1832, as ilhas fossem reclamadas pelos britânicos alegando que o evento de 1770 não havia interrompido a soberania britânica nas ilhas. A disputa permaneceu inativa até a que o Comitê das Nações Unidas de Descolonização foi criado em 1961, recebendo então a demanda argentina pela soberania das ilhas o que levou às negociações

entre argentinos e britânicos nos anos seguintes até a eclosão do conflito19.

2.1 O Plano de Guerra Argentino.

As fontes acessadas indicam que o planejamento para operação argentina nas Malvinas teve início em 22 de dezembro de 1981, um dia antes de Galtieri assumir a presidência, quando o almirante Anaya instruiu o chefe de Estado-Maior da Armada, vice-almirante Alberto Gabriel Vigo, a formular um plano detalhado, com o envio de forças especiais para reconhecimento, sobre os efetivos necessários para ocupar Stanley com unidades de apoio e logística para sua defesa. Embora não tivesse sido mencionado o prazo para execução, a instrução detalhava que o aprestamento dos aviões Super Etandard e P-3 deveria ocorrer antes de junho de 1982. Essa instrução foi repassada para o vice-almirante Juan José Lombardo para dar prosseguimento nas medidas de preparação junto com o departamento de material naval. Lombardo, a partir de então, tornou-se o

principal encarregado no desenho dos planos originais argentinos20.

No entanto, o aval de Galtieri para início do planejamento ocorreu uma semana depois, em 29 de dezembro, na primeira reunião do conclave da Junta Militar -

18Nietzel “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic

Decisions"; Souza, "A Guerra que Foi Possível pelas Malvinas". 19 Rivas, "Wings of the Malvinas”.

20 Yofre, 1982, vol. edição Kindle, l. 1009.

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entre Galtieri, Anaya e o brigadeiro Basilio Lami Dozo, no edifício Condor. Nessa oportunidade, Galtieri e Anaya lançaram a ideia que dentro de um ano marcaria os 150 anos de ocupação britânica das Malvinas e aventaram a possibilidade de uma ação argentina deveria ocorrer até lá. No entanto, houve nenhuma confirmação nesse sentido. A partir de então, a Junta passou a se encontrar regularmente para abordar aspectos da Questão Malvinas, entre outros, enquanto apenas a Armada seguia com um planejamento operacional. Em particular, o Estado-Maior do Exército não foi acionado, embora Lombardo tenha reclamado a Anaya de sua importância ao antecipar que o novo contingente de

conscritos não estaria apto a ser empregados antes de abril21.

Em 5 de janeiro de 1982, a Junta Militar concordou que deveria se levar adiante uma rodada de negociações com o Reino Unido em Nova York entre 27 e 28 de fevereiro, mas só acionar o planejamento militar caso as negociações não lograssem sucesso. Em 12 de janeiro, a Junta definiu o Grupo Malvinas de planejamento composto pelo general Osvaldo Jorge Garcia, pelo brigadeiro Sigfrido Martín Plessl, além do vice-almirante Lombardo. No entanto, este não era essencialmente um comando de planejamento combinado, desde que os estados-maiores do Exército e Força Aérea não foram incluídos e as minutas e planos formulados eram ultrassecretos e restritos. Mesmo a composição e efetivação do grupo, em 26 de janeiro, não foram registradas em ata.

Esse grupo elaborou três planos de trabalho. A Diretiva Estratégica Nacional (DENAC 1/82) definia o parâmetro estratégico de uso de poder militar para resolver a Questão Malvinas. Assumia-se que o Reino Unido não reagiria militarmente, que os Estados Unidos se manteriam neutros e que a lógica da operação seria ocupar para negociar. A Diretiva Estratégica Militar (DEMIL 1/82) tinha como propositivo considerar as circunstâncias mais favoráveis para execução da operação. Por isso, propôs, originalmente, como prazo para condução da operação 9 de julho, sendo quê, as forças e seus detalhes logísticos

deveriam estar prontos em 20 de maio22. Posteriormente, essa data foi alterada para 15 de maio. Terceiro, o Plano de Esquemático de Campanha previa o emprego de uma força anfíbia considerável, mas sem incorrer em baixas britânicas e ser encerrada em cinco dias de operações. O Grupo Malvinas deveria apresentar os planos operacionais em meados de março.

Algo curioso é que na mesma reunião de 12 de janeiro que se apontou que a Operação Alfa não deveria ser realizada antes das negociações de fevereiro. A operação envolvia, originalmente, infiltrar nas ilhas Geórgia do Sul um destacamento militar. Versões desse plano eram considerados desde Perón também como forma de pressionar negociações com o Chile. No entanto, originalmente a Operação Alfa não visava criar um incidente internacional, tão pouco sua ocupação.

O vice-almirante Lombardo também foi o responsável em atualizar o plano dessa operação, antes da ascensão de Galtieri e da emergência da Questão Malvinas,

21 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta, l. 730–762.

22 Camogli, Batallas de Malvinas, 340–51; Yofre, 1982, vol. edição Kindle, l. 1400–1518.

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desde que se considerava a sua execução no verão de 1982. Assim, quando recebeu a incumbência relacionadas às Malvinas, ele mencionou a Anaya a incongruência entre as duas operações, sendo que a primeira exporia a segunda. Anaya cedeu a Lombardo cancelando a Operação Alfa. O chanceler Costa Mendez e o embaixador argentino na ONU tiveram acesso ao plano dessa operação e também requisitaram seu cancelamento. Mas, ao que tudo indica, ele prosseguiu sem conhecimento de ninguém mais que Anaya, e conduzido pelo seu braço direito, vice-almirante Vigo.

Na primeira reunião da Junta apóso insucesso das negociações com os britânicos de fim de fevereiro, em 2 de março, não se tinha ainda uma definição da data de execução da Operação Azul de ocupação das Malvinas, mas se definiu a data e os procedimentos para exposição dos planos do Grupo Malvinas. Isso ocorreu no dia 16 de março, com a realização da primeira reunião do Comitê Militar e o Grupo Malvinas no Edifício Condor. Portanto, pela primeira vez, era envolvido o Estado-Maior conjunto argentino para ampliação do plano de trabalho da DEMIL 1/82. Nessa reunião também se decidiu que a Operação Alfa seria suspensa e apenas

executada em conjunto com a Operação Azul de ocupação da Malvinas23. Por fim, no dia 23 de março, a Junta determinou que a operação seria executada nos primeiros dias do mês de abril.

Com o desenvolvimento do incidente na Geórgia do Sul, e após o despacho do contingente original argentino para as Malvinas, em 26 de março, a Junta Militar e o Grupo Malvinas passaram a considerar que o Reino Unido poderia reagir militarmente. Eles consideraram duas opções: suspensão do desembarque ou seguir em frente levando em conta a possibilidade de um choque com baixas. A única decisão tomada foi a de Anaya e de enviar as corvetas Granville e Drumond para a zona de conflito. Apenas pela noite, do mesmo dia 26, que Galtieri decidira pelo prosseguimento do desembarque.

Em 7 de abril, Galtieri decidiu pela expansão da operação a partir de dois dias. Com isso, a operação deixava de ser um recurso de diplomacia coercitiva e abria o caminho para uma guerra. No entanto, em adição ao grupo de fuzileiros navais nas Malvinas foi decidido o envio o de três regimentos de infantaria mecanizadas sem seus blindados, obviamente, mas mais grave, sem seus grupos orgânicos de artilharia. Também se indica que o comandante Menendez não foi informado da

decisão de Galtieri24.

2.2 As Forças Navais e Aéreas Argentinas.

A Força Naval combatente argentina era composta de uma miscelânea de navios e submarinos, com exemplares adquiridos novos misturados com veteranos combatentes da segunda guerra mundial. O navio aeródromo Veinticinco de

23 Yofre, 1982, vol. edição Kindle, l. 2646; Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La

Trama Secreta, 1757–69. 24 Camogli, "Batallas de Malvinas", l. 649.

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Mayo era a nau capitânia da frota, com 16.000 toneladas de deslocamento e comissionado em 1945, já havia passado por 3 modernizações e operava 12 aeronaves Douglas A-4Q Skyhawks e 5 Grumman Trackers no seu Grupo Aéreo. O navio aeródromo e seu grupamento aéreo eram designado Grupo de Tarea 79.1 (GT 79.1). Suas escolta era composta pelos ARA Hercules e ARA Santíssima Trinidad, dois destroieres de mísseis Type 42 adquiridos novos junto a Grã-Bretanha, que diferentemente dos Type 42 britânicos, possuíam 4 lançadores de mísseis antinavio MM38 Exocet além dos usuais armamentos da classe: um canhão naval de 4,5 polegadas, um reparo duplo de míssil antiaéreo Sea Dart com 22 disparos e de dois canhões antiaéreos de 20 mm. Também compunha a escolta o ARA Segui, um antigo destróier da II Guerra Mundial da Classe Allen M. Summer, modernizado no qual foram instalados 4 lançadores de MM38 Exocet em adição aos seus 6 canhões de 127 mm, 2 lançadores triplos de torpedo e 4 canhões de 3 polegadas antiaéreos montados em 2 reparos duplos. As três escoltas e o navio-tanque auxiliar ARA Punta Médanos formavam o GT 79.2 operando em apoio ao GT 79.1 porém, devido a problemas de propulsão, o ARA Segui teve que retornar ao porto em 29 de abril.

Tabela 1: Navios Combatentes Argentinos.

Fonte do dados de English, Watts, 1982; Rivas, 201225.

O segundo maior navio em deslocamento era o ARA General Belgrano, também veterano da II Grande Guerra e sobrevivente do ataque japonês a Pearl Harbour, era um "cruzador leve" com 11.000 toneladas de deslocamento, também modernizado, porém suas características principais denotavam o anacronismo de

25 English, Watts "Battle for the Falklands", 35; Rivas, "Wings of the Malvinas”, 275-277.

Ton. Tubos Misseis Antinavio AA ASW Aviação

12 A-4Q Skyhawks

5 Grumman Tracker

5 X 3 - 6 in

8 x 1 - 5 in - -

ARA Hercules

ARA Santissima Trindade

ARA Comodoro Py 2,4 kt 2 x 2 - 5 in 4 x 1- MM38 Exocet2x3- torpedo

2 - HedgehogPossivel helicóptero

ARA Segui 2x2 - 3 in -

ARA Hipólito Bouchard

ARA Piedrabuena

ARA Rosales - 2x3 -torpedo

ARA Almirante Storni 2 - Hedgehog

ARA Drummond 1x2 - 40 mm

ARA Guerrico 1 - 3,9 in 2 - 20 mm

ARA Granville

Total 51,2 kt 54 tubos 36 lançadores58 canhões

12 mísseis

54 torpedos

12 Hedgedog

12 A4 Skyhawks

3 Grumman trackers

5 helicópteros

Helicopter

2 kt 4 X 1 - 5 in 3x2-76,5 mm

1 kt 4 x 1- MM38 Exocet 2x3- torpedo

2,2 kt 3 x 2 - 5 in 4 x 1- MM38 Exocet2x3- torpedo

2- Hedgehog-

ARA General Belgrano 11 kt2x4 Sea Cat

2 x4 - 40 mm2 helicópteros

4,1 kt 1 - 4,5 in 4 x 1- MM38 Exocet1x2 Sea Dart

2 - 20 mmHelicóptero Lynx

NAVIOS COMBATENTES ARGENTINOS DISPONÍVEIS NO INICIO DO CONFLITO

ARA Veinticinco de Mayo 16 kt 10x1 - 40mm

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sua construção - couraça e grandes canhões. O cruzador era o único navio com blindagem de todo o teatro de operações, contava com uma couraça que chegava a 10 centímetros de espessura, contrastando com alguns navios britânicos que possuíam sua superestrutura confeccionada em alumínio. Seus canhões também eram os maiores do teatro, 15 canhões de 150 milímetros montados em 5 torres triplas com um alcance de 18 quilômetros. O Belgrano também possuía 8 canhões de 127 milímetros montados em reparo simples, cuja função original era prover fogo antiaéreo pesado, mas também poderia ser usado contra embarcações ou apoio e fogo à terra. Após uma modernização recebera dois lançadores quádruplos de mísseis antiaéreos Sea Cat e, complementando este papel, possuía dois canhões duplos de 40 mm. Durante as operações no conflito abrigava dois helicópteros, sendo um deles um Allouete. Compunha sua escolta dois destróieres, ARA Hipólito Bouchard e ARA Piedra Buena, também veteranos da Grande Guerra da classe Allen M. Summer modernizados com 4 lançadores de MM38 Exocet, 6 canhões de 127 mm, 2 lançadores triplo de torpedo e hangar e deck para helicóptero. Estes navios, juntamente o navio-tanque ARA Punta Delgada, formavam o GT 79.3.

Completavam o grupo de navios combatentes de superfície disponíveis no início do conflito, 3 fragatas de origem francesa de 1.000 toneladas de deslocamento da classe A-69 D’Estienne d'Orves que possuíam 4 lançadores de mísseis MM38 Exocet, 2 reparos triplos de torpedos ASW além de um canhão de 100 mm para fogo naval e apoio de fogo a terra. Estas fragatas compunham o GT 79.4. Com relação à ampliação da força de superfície, em 1982 estavam sendo construídos 4 destróieres Meko 360 de 3.400 toneladas de deslocamento na Alemanha e 6 Fragatas de 1.700 toneladas em estaleiros argentinos. Das unidades construídas da Alemanha 3 já estavam no mar sendo a previsão de comissionamento da primeira para o segundo semestre de 82.

A força de submarinos argentina estava muito descontada no início do conflito dos quatro submarinos na Armada, um deles o ARA Santiago del Estero não operava e era rebocado entre as bases para gerar confusão nos britânicos dando a impressão que estava operacional e o ARA Salta estava em manutenção durante o início da guerra não ficando pronto a tempo de entrar em combate. A força de submarinos operacionais ficara reduzida a apenas dois exemplares o ARA Santa Fé e o ARA San Luis. O Santa Fé era um submarino de origem norte-americana remanescente da segunda guerra mundial com 10 tubos de lançamento de torpedos de 533 mm e 1.700 toneladas de deslocamento. O San Luis era um Type 209-1300 de origem alemã com 1.200 toneladas de deslocamento com 8 tubos de torpedos de 533 mm, porém seu computador de solução de tiro não operava, sendo necessário o calculo manual do disparo.

Tabela 2: Aeronaves Argentinas desdobradas nas Malvinas.

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Fonte dos dados: Grove, 2005; Rivas, 201226.

No início do conflito além das aeronaves que estavam embarcadas no ARA Veintecinco de Maio, algumas aeronaves estavam desdobradas no arquipélago para missões de Suporte Aéreo Aproximado. A maior parte das aeronaves de asa fixa combatentes decolava do continente para cumprir suas missões. Baseados no arquipélago operaram 25 Pucarás de ataque e suporte aéreo aproximado, quatro treinadores Turbo-Mentors modificados para aviões de ataque, sete Aeromachi

AM339 para a mesma função além de diversos Helicópteros27.

Devido â falta de preparo da pista e da carência de instalações adequadas para a manutenção de aeronaves, o maior número de aeronaves argentinas que participaram no conflito partia do continente, voando entre 700 e 1000 quilômetros até atingirem espaço aéreo do arquipélago. Estas grandes distâncias eram cumpridas ao custo de reabastecimentos em voo ou à custa de tempo de permanência no combate, os IAI M5 Dagger podiam ficar apenas 5 minutos "on station". À disposição da Fuerza Aérea Argentina (FAA) e do Comando de la Aviación Naval Argentina (CANA) no início do conflito, estavam operacionais 12 Mirage III, 25 IAI M5 Dagger, 38 A-4B Skyhawk, 8 Bombardeios Canberra, 45 Pucará da Força Aérea e 4 Super Etendard, 8 A-4Q Skyhawk, 10 Aeromachi AM

339, 3 S-2 Tracker e 2 P-2 Neptune28.

Tabela 3: Aeronaves Argentinas desdobradas nas Malvinas.

26 Grove, 2005 “Falklands Conflict 1982 - The Air War: A New Appraisal, p. 271; Rivas, "Wings

of the Malvinas", 330-344 27; Grove, “Falklands Conflict 1982 - The Air War: A New Appraisal”, 271; Rivas, "Wings of the

Malvinas", 330-344 28 Grove, “Falklands Conflict 1982 - The Air War: A New Appraisal”, 268.

Tipo Força Quantidade

Pucará FAA 25

Aeromachi AM339 CANA 6

Turbo-Mentor CANA 4

Chinook Exército 2

FAA 2

Puma Exército 5

Guarda Costeira 1

Hue Exército 2

FAA 2

A109 Exército 3

Sky van CANA 1

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Fonte dos dados: Philip Grove, 2005; Rivas, 2012.29.

A Força Aérea Argentina também buscava alternativas para suprir deficiências tecnológicas, embora pudesse contar com dois Embraer P-95 alugados do Brasil para conduzir missões de vigilância marítima alternando com o os P-2, estes eram de curto alcance. Para a identificação de navios britânicos em rota desde Ascensão até o teatro de operações foram utilizados Hércules C-130 e, inclusive, um Boeing 707 da FAA. As capacidades argentinas de reconhecimento eram escassas, mas, apesar de utilizar aeronaves que não estavam preparadas para estas missões, as habilidades de navegação e pilotagem das tripulações permitiram localizar numerosos objetivos. Um destes C-130 foi improvisado como bombardeio com a instalação de cabides para bombas sob as asas no local dos tanques de combustíveis externos e com a instalação de um sistema de mira de um Pucará. O C-130 "bombardeiro" conduziu três missões de patrulha no oceano atlântico entre Ascensão e o TO. 30

Além das aeronaves combatentes citadas, várias aeronaves de transporte, Hércules C-130, Boeings 707 e aeronaves menores como Short Skyvans, estavam à disposição da operação para cumprir com as obrigações logísticas de transportar tropas, suprimentos e armamentos para o arquipélago. Outro importante papel dos Hércules, na variante KC-130H de reabastecimento em voo, foi a realização de 40 missões para reabastecimento do Skyhawk e Super

Etandards realizando mais de 100 destas operações31. Além das aeronaves de asa fixa, foram empregados diversos tipos de helicópteros nas operações.

A maior deficiência das aeronaves argentinas residia no seu sistema de armas, mais especificamente nos mísseis para enfrentamento ar-ar. Os mísseis

29 Grove, 2005 “Falklands Conflict 1982 - The Air War: A New Appraisal”, p. 271; Rivas, "Wings

of the Malvinas", 330-344. 30 Pereyra, “Clausewitz e a Guerra Aérea das Falklands/Malvinas”, 8. Rivas, "Wings of the

Malvinas", 70-71, 275-277. 31 Rivas, "Wings of the Malvinas", 71-72.

Força de combate da FAA Comissionados Operacionais

Mirage III 15 12 (Grupo 8)

Dagger 37 25 (Grupo 6)

A-4B/C(P) Sky hawk 52 38 (Grupo 4 & 5)

Canberra 10 7 (Grupo 2)

Pucará 45 45 (Grupo 3)

Força de combate do CANA Comissionados Operacionais

Super Etendard 5 4

A-4Q Sk y hawk 10 8

AM339 10 10

S-2 Tracker 6 5

P-2 Neptune 3 2

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disponíveis para os aviões de interceptação, Matra R530, Matra R 550, Shafrir 2 e a versão antiga do Sidewinder a AIM-9B necessitavam que o avião atacante precisasse manobrar e se posicionar atrás do alvo para efetuar o disparo. Outro ponto importante era a qualidade do armamento para ataque à navios, as forças armadas argentinas possuíam apenas 5 mísseis Exocet MM 39 capazes de serem

lançados de aeronaves, utilizando na maioria dos vezes bombas não guiadas32.

2.3 As Forças Navais e Aéreas Britânicas

Os britânicos tinham a disposição o HMS Hermes concebido como um porta-aviões de escolta durante a 2ª Guerra Mundial havia sofrido uma atualização em 1980 para operar os Harriers com a instalação de uma sky-jump. Com 24.000 toneladas de deslocamento contava usualmente com doze Sea Harriers e nove helicópteros Sea King. Para defesa antiaérea. À época do conflito o HMS Hermes contava com dois lançadores do míssil superfície-ar Sea Cat. O segundo porta-aviões à disposição dos britânicos no teatro era o HMS Invincible de 16.000 toneladas de deslocamento com um componente aéreo de dez Sea Harriers e

contava com um sistema de defesa antiaérea Sea Dart33.

As escoltas presentes no teatro compreendiam 8 destróieres e 15 fragatas de diversas classes e capacidades. A força era composta de cinco destroieres Type 42 de 3.500 toneladas de deslocamento, equipados com um lançador duplo de mísseis antiaéreo Sea Dart, um canhão de 4,5 polegadas e dois de 20 mm, dois lançadores triplos de torpedo ASW, e um helicóptero Lynx. Dois destroieres da classe County, com 5400 toneladas de deslocamento, equipados com 4 lançadores de MM 38 Exocet, um lançador duplo do míssil antiaéreo Sea Slug, dois lançadores quádruplos de Sea Cat, dois canhões de 4,5 polegadas montados em uma torre dupla, dois canhões de 20 mm e um Helicóptero ASW. E, completando os destróieres, havia o HMS Bristol, de 6.100 toneladas de deslocamento equipado com um Lançador duplo de míssil antiaéreo Sea Dart,

um Ikara ASW, um canhão de 4,5 polegadas e dois de 20 mm34.

Tabela 4: Navios Combatentes Britânicos.

32 Chant, "Air War in the Falklands".

33 English, Watts "Battle for the Falklands", 35

34 English, Watts "Battle for the Falklands", 35

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Fonte dosdados: English, Watts, 1982; Rivas, 201235.

Também faziam parte da força as fragatas Type 22 HMS Broadsword e HMS Brilliant que deslocavam 3.500 toneladas e possuíam quatro Exocet MM38, 2 lançadores sêxtuplos do míssil antiaéreo Sea Wolf, dois canhões antiaéreos de 40 mm e dois de 20 mm, além de transportar 2 helicópteros Lynx. Sete fragatas Type 21 de 2.750 toneladas de deslocamento, com quatro MM38 Exocet, um lançador quádruplo de míssil Sea Cat, dois lançadores triplos de torpedos, um canhão de 4,5 polegadas e dois de 20 mm além de transportar um helicóptero. Três fragatas Type 12M, HMS Argonaut, HMS Penelope e HMS Minerva de 3.200 toneladas

35 English, Watts "Battle for the Falklands", 35; Rivas, "Wings of the Malvinas”, 275-277.

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de deslocamento, possuíam 4 lançadores de MM 38 Exocet, 2 lançadores quádruplos de Sea Cat, e dois canhões de 40 mm. Uma fragata Type 12 M, HMS Andrômeda, com a configuração de um lançador Sêxtuplo de mísseis antiaéreo Sea Wolf. Duas Fragatas Type 12 de 2.800 toneladas com um lançador quádruplo de mísseis Sea Cat, dois canhões de 20 mm e dois canhões de 4,5 polegadas montados em uma torreta dupla, com um helicóptero Wasp. Com 1.500 toneladas de deslocamento estavam presentes também dois navios patrulha oceânicos cujo

armamento era 1 canhão de 40 mm. destróieres36.

Os dois navios de assalto anfíbio HMS Fearless e HMS Intrepid, com 11.000 toneladas de descolamento que acompanhavam a Força Tarefa com 700 homens embarcados possuíam uma capacidade de autodefesa antiaérea composta por dois canhões de 40 mm e um lançador quádruplo de mísseis Sea Cat. Embora não fossem considerados navios combatentes como os dois navios de assalto anfíbio, os 6 navios de desembarque logístico da classe Sir Lancelot de 5.600 toneladas de deslocamento e capazes de transportar 400 homens possuíam para

autodefesa 2 canhões de 40 mm antiaéreos37.

A força tarefa trazia consigo diversos navios menores como 2 caças minas de 750 toneladas, 3 navios hospitais, 10 navios-tanque, 4 navios de suprimento, 1 navio de armazenamento e um navio de apoio à helicópteros, todos da Royal Fleet Auxiliary. Em adição aos insuficientes navios logísticos da Royal Fleet, foram requisitados navios civis, com tripulações voluntárias para serem enviados ao teatro. Dentre estes navios estavam 3 navios de cruzeiro de luxo o RMS Queen Elizabeth II, O SS Canberra e o SS Uganda. Também foram requisitados, 15 navios-tanque, 11 roll-on roll-off ferries, um navio container, seis navios de passageiro, quatro navios de apoio em mar aberto, 3 rebocadores, 1 navio

lançador de cabos e 5 pesqueiros que foram utilizados como caça minas38.

Com relação à submarinos participaram do conflito 5 submarinos nucleares e 1 convencional diesel-elétrico. Dentre os submarinos nucleares dois eram da classe Churchill comissionados ao final da década de 60 com 4.900 toneladas de deslocamento e 6 tubos de torpedo capazes de disparar torpedos de 533 mm e mísseis Harpoon, dois da classe Swiftsure comissionados ao longo da década de 70 com 4.400 toneladas de deslocamento com 5 tubos de torpedo, também capazes de lançar mísseis e torpedos e o antigo HMS Valiant, o segundo submarino nuclear da Royal Navy, comissionado no início da década de 60 com 4.200 toneladas de deslocamento e 6 tubos de torpedo. Estava à disposição das operações um antigo submarino diesel-elétrico da classe Oberon utilizado principalmente para a infiltração de comandos no arquipélago, com 2.000

toneladas de deslocamento e 6 tubos de torpedo à proa e 2 à popa39. A fragilidade da força tarefa residia na baixa capacidade antissubmarino dos seus navios de

36 English, Watts "Battle for the Falklands", 35

37 English, Watts "Battle for the Falklands".

38 Speller, "Understanding Naval Warfare", 115-116; Rivas, "Wings of the Malvinas", 362-363.

39 Harper, “Submarine Operations During the Falklands War”.

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superfície, ficando à proteção antissubmarino entregue aos próprios submarinos

de ataque britânicos.40

Dentre as capacidades antiaéreas dos sistemas presentes na sua força de superfície o mais moderno era o Sea Wolf, supersônico de curto alcance capaz de engajar aeronaves e mísseis, presente em apenas 3 dos 27 navios combatentes presentes na FT era posto em dúvida no engajamento de alvos próximos à superfície devido à confusão em diferenciar o alvo das ondulações causadas pelo seu deslocamento. O segundo sistema mais moderno era o Sea Dart de longo alcance, presente em 7 navio, efetivo para engajamentos à grandes altitudes, perdia eficiência ao engajar alvos próximos da superfície, e demorava para aquecer após ser recarregado. O mais antigo e em maior número, presente em 17 navios, era o Sea Cat, da primeira geração de mísseis antiaéreos possuía um

sistema de guiagem ótico manual comandado por rádio.41

2. 4 A Operação Alfa

A nova junta governante começou a planejar, em conjunto com a Operação Azul, a Operação Alfa que objetivava o estabelecimento clandestino de presença argentina nas Geórgia do Sul. Originalmente o então “Projeto Alfa" pretendia acobertar as reais intenções do grupo de ocupação a partir da instalação de uma base científica na ilha ao final do verão de 1982, para isto um grupo de 15 militares conhecido como Grupo Alfa foi reunido iniciando preparações para tal operação. Entretanto, a existência de um contrato vigente para o desmantelamento de antigas estações baleeiras no arquipélago assinado por um empresário argentino do ramo de recuperação de cabos submarinos, Constantino Davidoff, acabou sendo útil ao planejamento dos militares.

As intenções originais de Davidoff eram sinceras, e puramente econômicas. Ele havia identificado as antigas estações desativadas desde a década de 60 no ano de 1976. Em 1979, ele havia assinado um contrato com o proprietário das instalações desativadas para o desmantelamento e compra dos materiais recuperados pelo valor de 100 mil libras esterlinas, o que deveria ser concluído até 31 de março de 1983. Todas as fábricas da ilha, com exceção da localizada em Grytviken, vizinha a uma base operacional do British Antartic Survey (BAS), estavam incluídas no pacote. Os termos do contrato haviam sido informados para as autoridades em Stanley por ambos os empresários, e já no ano de 1980 Davidoff havia solicitado que o navio de patrulha e pesquisa Antártica britânico HMS Endurance transportasse o material necessário para as tarefas, o que foi prontamente negado. Embora tenha sido negada a utilização do navio fora lhe dada a permissão para as tarefas desde que ele e seu pessoal se apresentasse às instalações da BAS para os procedimentos alfandegários necessários na chegada ao arquipélago.

40 Woodward, "One Hundred Days".

41 English, Watts "Battle for the Falklands", 35.

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Nesse ínterim, o planejamento da Operação Alfa seguia. Em 20 de dezembro, Davidoff chegava as ilhas a bordo do quebra-gelo Almirante Irizar da marinha argentina para inspecionar as instalações e fazer um levantamento dos materiais a serem recuperados, porém o empresário falhara em cumprir os procedimentos de solicitação de entrada, o que lhe rendera uma repreensão da embaixada britânica no retorno a Buenos Aires. Devido à atenção indesejada despertada pelo episódio nas autoridades britânicas o governo argentino, para evitar impactos negativos nas negociações subsequentes sobre as Malvinas, decidira no início de janeiro de 1982 pela suspensão de novas viagens de Davidoff ao arquipélago e a suspensão da Operação Alfa. Porém seu esquema de negócio fora considerado útil aos militares e proporcionava um bom álibi à operação.

Em 11 de març0 o navio de transporte ARA Bahia Buen Suceso partiu em direção à Geórgia do Sul transportando 41 trabalhadores, entre os quais 10 ex-militares

de elite disfarçados, juntamente com Davidoff42. Embora tenha comunicado a Stanley que estava se deslocando às ilhas e chegaria com seus trabalhadores no dia 18 falhara, inexplicavelmente pela segunda vez, em se apresentar à estação do BAS para procedimentos alfandegários e solicitação de permissão formal para os trabalhos. No dia 16 de março, os trabalhadores já haviam começado reparos no porto de Leith para permitir o desembarque dos equipamentos que começaria dia 18. No dia 19 de março, cientistas da BAS escutaram tiros, e verificaram se tratar da tripulação do navio caçando renas, e também haviam hasteado uma bandeira argentina no local. No dia seguinte retornaram solicitando a remoção da bandeira e apresentação de todos em Grytviken para notificação oficial da sua chegada. Embora a bandeira tenha sido removida, não ocorreu apresentação junto a BAS para a assinatura dos papéis.

Embora o episódio tenha sido minimizado pelo embaixador britânico em Buenos Aires, o governador das Falklands, cuja Geórgia do Sul era uma dependência, havia ordenado no dia 19, com anuência da primeira ministra Thatcher, que o HMS Endurance partisse de Stanley com uma guarnição de 22 fuzileiros para a defesa da ilha e, se necessário, remoção dos argentinos à força. Devido ao mar grosso o navio britânico se dirigia com dificuldade embora tentasse imprimir uma velocidade alta. Neste ínterim, o governo britânico ordenara novamente a partida do navio argentino levando todos os homens consigo. No dia 21 de março, o Bahia Buen Sucesso partia da baia Stromness e o governo argentino informava os britânicos que o navio partira, dando a entender de forma ambígua que os trabalhadores estariam a bordo. Esta informação fez com que o Endurance com sua guarnição de fuzileiros iniciasse seu retorno a Stanley, porém no dia seguinte, 22 de março, o BAS comunicaria que os trabalhadores permaneciam em Leith. A nova informação levara a uma nova mudança de rumo do HMS Endurance, se dirigindo novamente à Geórgia do Sul, onde chegara no dia 24, desembarcando

os fuzileiros em Grytviken e assumindo posição de patrulha ao redor da ilha43.

42 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, "Malvinas. La Trama Secreta".

43 Rivas, "Wings of the Malvinas”.

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O governo Britânico procurou se aconselhar com seus serviços de inteligência e também com os órgãos de Inteligência dos Estados Unidos procurando indicações das reais intenções argentinas, porém os sinais não eram claros, nem o MI6, nem o Quartel General de Comunicações Governamentais (GCHQ), responsável por monitorar as comunicações de governos estrangeiros, conseguiam traçar um panorama claro do que estava acontecendo. A Agencia de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) e o GCHQ observaram um aumento substancial das comunicações por rádio na região, porém como eram rotineiros os exercícios navais das marinhas chilena e argentina gerou certa confusão nas agências. E, embora Londres houvesse decidido não aceitar ou tolerar qualquer intervenção argentina nenhuma ação, além do despacho do Endurance, nenhuma decisão foi tomada neste sentido. Esta indecisão durou uma semana e, não obstante, alertado pela comunicação do aumento do tráfego de informações, um submarino nuclear fora despachando no dia 29 de março em

direção ao arquipélago44.

O governo argentino já havia decidido proteger sua posição, no lugar de ceder às exigências britânicas, e já haviam sido despachados o quebra-gelo ARA Bahia Paraíso com 14 homens do Grupo Alfa que chegaria dia 25 em Leith. No dia seguinte, 26 de março, o Bahia Paraíso deixaria o porto de Leith para patrulhar a área e impedir ações britânicas. A tensão escalava com os dois navios de operações antárticas, HMS Endurance e ARA Bahia Paraiso patrulhando a área, ora à vista um do outro, ora buscando manobras evasivas. Ambos navios contavam com helicópteros embarcados, Um Alouette III e um Puma no argentino e dois Wasp no britânico.

Após o despacho do Endurance de Stanley, a mídia britânica começara a cobrir amplamente o episódio dando ares de dramaticidade retratando um valente Endurance contra ondas gigantes tentando alcançar as ilhas para expulsar argentinos. A imprensa sul-americana também noticiava o ocorrido com algumas

mídias, sobretudo rádios uruguaias, fazendo sensacionalismo sobre o assunto45. Uma reunião da Junta governante, que estava preocupada com a visibilidade que o evento dos trabalhadores na Geórgia do Sul tinha tomado na imprensa e os possíveis desdobramentos de alguma resposta britânica, levou Anaya a acreditar que as águas ao redor do arquipélago estariam patrulhadas por submarinos britânicos por volta do dia 10 de abril, decidindo antecipar a Operação Azul, ordenando a sua imediata execução. Com planos modificados dada a urgência da demanda, o seu nome foi modificado para Operação Rosário. O Grupo de Tareas 40, com os componentes anfíbios para a invasão das Malvinas zarpou dia 28 da

base naval de Puerto Belgrano46.

No dia 31 de março o Endurance se aproximou do Bahia Paraiso e a esta altura o comandante do navio argentino já tinha informação que o Endurance trazia a

44 Keegan, "Inteligência na Guerra".

45 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, "Malvinas. La Trama Secreta"; Rivas, "Wings of the

Malvinas. 46 Anderson, “The Falklands War 1982”.

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bordo 22 fuzileiros. No dia 1 de abril o Bahia Paraiso receberia a ordem operacional 1/82 que mandava ocupar Grytviken, assegurar o Porto de Leith de maneira a ganhar o controle da ilha no dia 2 de abril coincidindo com a tomada de Stanley. Devido a um atraso provocado pelo clima ruim a corveta ARA Guerrico só chegou no dia seguinte ao planejado o que postergou o início da operação para o dia 3 de abril.

A notícia do desembarque em Stanley, no dia 2, levou o comandante do destacamento de fuzileiros britânicos a preparar a base do BAS em Grytviken, para ações defensivas. Durante tentativa de desembarcar tropas no local o helicóptero Puma do Bahia Paraíso foi abatido e a maioria dos ocupantes morta na queda. A corveta Guerrico também sofrera danos devido à disparos de armamento portátil anticarro dos militares britânicos o que fez ela recuar e apoiar as operações à distância com fogo de seu armamento de 100 mm. O suporte permitiu a aproximação de tropas argentinas, que haviam sido desembarcadas pelo helicóptero restante, nos flancos britânicos. Diante de tal exposição o

comandante britânico se rendeu.47

2. 5 O desenrolar das hostilidades

No dia 2 de abril, uma sexta feira, ocorria o desembarque anfíbio argentino nas Malvinas, 220 militares foram transportados por helicópteros, 96 rumaram em botes e 10 mergulhadores foram lançados a partir de submarinos, a isto se seguiu desembarque de um Batalhão de Infantaria da Marinha a partir de navios

anfíbios. As ilhas foram tomadas rapidamente no assalto inicial.48

No dia seguinte ao desembarque, sábado dia 3 de abril, o Parlamento Britânico se reuniu para pressionar o governo à ação, porém a ordem de mobilização já havia sido dada na quarta feira anterior ordenando a organização de uma força tarefa para retomar o controle das ilhas, o que obviamente demandaria informações sobre as forças combatentes argentinas. Embora o único escritório restante do MI6 em solo sul-americano ficasse justamente em Buenos Aires, ele estava focado principalmente em inteligência política, e não foi capaz de fornecer informações satisfatórias sobre as forças armadas argentinas. Tão pouco os adidos militares na embaixada Britânica na Argentina tinham capacitação para o levantamento de informações restritas sobre as forças combatentes. Isto causou certo constrangimento, logo após a ordem de preparar uma força tarefa para zarpar em direção ao arquipélago, ocorreu uma vergonhosa busca por informações sobre as capacidades militares argentinas em publicações como o Military Balance do IISS e no Jane’s Fighting Ships, o que não trouxe informações novas. As informações sobre as forças argentinas também eram escassas sobre especificamente quais unidades estariam sendo enviadas para as ilhas. Apesar de conhecidas as informações publicadas da localização de unidades e, em certa medida, do nível de preparo delas, não se tinha ideia de

47 Souza.

48 Souza "A Guerra que foi Possível pelas Malvinas".

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especificamente quais estavam desembarcando. Era sabido que as três brigadas de montanha era as organizações melhores preparadas e equipadas do exército argentino e embora o GCHQ pudesse confirmar que estas estavam estacionadas

em seus quartéis, esta informação não chegou aos oficiais da FT britânica49.

A preparação argentina assumiu tons dramáticos quando começou a se verificar uma escalada na preparação da FT britânica. Meios que estavam dispersos em exercícios da OTAN no Mediterrâneo foram chamados de volta à Gibraltar para reabastecimento e enviados para Ascensão. Navios de desembarque anfíbios que iriam para a reserva da força, bem como o porta aviões HMS Hermes que seria descomissionado, foram incorporados novamente às pressas para o conflito. começou, então uma ponte aérea frenética para as ilhas pois existia o temor crescente de que em breve os submarinos nucleares britânicos estariam em

prontidão na área50.

A despeito da falta de informações para a organização da Força Tarefa, a mobilização britânica fora tão rápida que dia 5 de abril, apenas 15 dias após a Invasão da Geórgia do Sul, os primeiros escalões da FT Britânica, estavam deixando Porthsmouth em direção a ilha de Ascensão para reagrupar com os demais meios que seriam empregados no conflito, naquela que ficou conhecida

como Operação Corporate51. O comandante Sandy Woodward da FT Britânica sabia que seriam três as principais ameaças a sua frota: a aviação baseada em terra, a força naval de superfície argentina e a força de submarino. Esperar o tipo de ameaça sem uma exata informação dos seus meios era um pouco preocupante, pois era esperado que os argentinos possuíssem ao menos cinco Exocets, porém as informações davam conta que havia apenas um avião capaz de lança-lo, quando na verdade eram quatro Super Étendards de fabricação francesa com esta capacidade. Sobre a força de superfície sabia-se apenas que os meios mais capazes eram 3 escoltas de origem inglesa, um cruzador de origem americana e um antigo porta-aviões também britânico e sobre sua força de submarinos não se sabiam

quantos estavam operacionais52.

O GCHQ havia sido eficaz em identificar, através da interceptação de comunicações via rádio, que a força de superfície já estava no mar organizada em dois grupos, um deles em torno do navio aeródromo ARA Veinticinco de Mayo e outro em torno do cruzador ARA General Belgrano, possivelmente tentando executar um movimento de pinça para atacar a FT. A localização dos submarinos diesel-elétricos argentinos era mais difícil, porém era esperado que os

submarinos nucleares pudessem localizar e neutralizar esta ameaça53.

As Regras e Engajamento previstas pelo Reino Unido para o conflito delimitavam uma Zona de Exclusão Marítima (ZEM) de 200 Milhas náuticas

49 Keegan, "Inteligência na Guerra".

50 Souza "A Guerra que foi Possível pelas Malvinas".

51 Woodward, "One Hundred Days".

52 Keegan, "Inteligência na Guerra".

53 Keegan.

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(aproximadamente 370 quilômetros) ao redor das ilhas, dentro deste raio de ação, não poderiam trafegar navios argentinos. No dia 30 de abril a FT alcançou os limites da ZEM, a Armada Argentina se movimentava visando dar combate à FT Britânica pois em represália ao estabelecimento da ZEM Britânica os argentinos haviam estabelecido uma ZEM própria de 260 milhas náuticas ao

redor das ilhas.54

Devido às limitações em detecção submarina da Armada Argentina os grupos de combate argentinos se deslocavam às cegas para dar combate à FT. Durante este deslocamento, no dia 2 de maio, o grupo que estava sendo capitaneado pelo cruzador ARA General Belgrano foi encontrado pelo Submarino HMS Conqueror o cruzador foi torpedeado indo a pique. Este foi um momento delicado para a diplomacia britânica pois tanto o submarino quanto o cruzador estavam fora da ZEM estabelecida para o limite de tiro letal da FT. Este episódio selou o destino de toda a Armada Argentina, que durante o restante do conflito ficou recolhida aos seus portos, justamente devido às baixas capacidades antissubmarino da Armada Argentina que não dispunha de meios de detecção adequados para longas patrulhasmarítima, dispondo de apenas um avião P2- Neptune

operacional dos dois que haviam sido adquiridos junto aos EUA55.

Com a marinha argentina acuada, e uma das três ameaças neutralizada, coube à aviação baseada em terra dar combate aos navios britânicos, porém a não ampliação da extensão da pista em Stanley faria com que a aeronave mais capaz, os Mirage III, operassem a partir do continente sem capacidade de abastecimento no ar, a autonomia na zona de combate ficava reduzida apenas 5

minutos antes da necessidade de retornar56.

No dia 1º de maio, começaram os ataques à pista de pouso de Stanley, o primeiro ataque foi realizado por um bombardeio estratégico, convertido para bombardeio convencional, que voou desde Ascensão até as Malvinas com diversos reabastecimentos em voo. A pista fora atingida e embora apenas um avião tivesse sido destruído o temor que novos bombardeios destruíssem aviões ali estacionados fizeram com que os argentinos diminuíssem o seu uso. Mais tarde no conflito, no final de maio, os ataques à força de desembarque que seria realizado pelos A-4 Skyhawks e Daggers seriam originados do continente e precisariam contar com complicadas operações de reabastecimento aéreo para

chegar ao local dos ataques57.

Com a Armada Argentina fora de ação, o principal temor do almirante Woodward passou a ser o ataque de mísseis Exocet lançado de aviões. Para lidar com esta ameaça a FT não dispunha de aviões de alerta antecipado. Isto fez com que fosse utilizado uma antiga tática da II guerra, operar com uma linha de piquete radar com três destroieres leves Type 42, que contavam com contramedidas de "chaff"

54 Souza "A Guerra que Foi Possível pelas Malvinas".

55 Souza.

56 Rivas, "Wings of the Malvinas”

57 Souza "A Guerra que Foi Possível pelas Malvinas".

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para confundir os mísseis e o sistema de mísseis Sea Cat para derrubá-los, apoiados por uma segunda linha de navios contando com três fragatas e um destróier. A formação de navios combatentes seria seguida por dois navios auxiliares da frota que tinham a função de confundir os mísseis que passassem pela primeira linha, "oferecendo" alvos "descartáveis" a fim de proteger os dois porta aviões da força tarefa e os navios de transporte de tropas. O sistema antimíssil mais efetivo, o míssil antimíssil Sea Wolf, estava a bordo das duas

fragatas Type 22 que tomavam conta dos dois porta aviões à curta distância58.

O comando da força tarefa tinha a informação que o alcance máximo dos Super Etandards era de apenas 680 quilômetros, este alcance seria insuficiente para atingir a posição que a FT estava no dia 3 de maio partindo das bases no continente, fora ignorada completamente a capacidade de reabastecimento em voo dos aviões argentinos. O avião de patrulha marítima P-2 Neptune chegou a ser captado nos radares da FT, mas fora negligenciado como sendo um esforço argentino pela busca a sobreviventes do naufrágio do Belgrano, mas na verdade

estava atuando para direcionar o ataque contra os britânicos59.

Woodward sabia que os dias seguintes ao afundamento do General Belgrano seria decisivo para a Argentina manter o esforço de guerra. O afundamento do cruzador merecia uma resposta à altura para evitar uma desmoralização nos estágios iniciais do conflito, assim o almirante solicitara uma atenção extra aos cuidados e procedimentos da força. E, não obstante, não foi o que ocorreu. Uma característica do sistema de detecção e comunicação dos Type 42 fazia com que o radar de busca aéreo ficasse inoperante quando o navio estivesse transmitindo via satélite e, num destes imponderáveis da guerra, justamente na hora em que o HMS Sheffield estava conduzindo operações de comunicação via satélite o HMS Glasgow, o mais avançado dos navios do piquete radar, identificou dois disparos de mísseis. Como preparado e treinado diversas vezes, os navios do piquete radar assumiram estações de batalha e lançaram ao ar as contramedidas de folhas de metal para atrair os mísseis, com exceção do HMS Sheffield, que acabou sofrendo o impacto. Dia 4 de maio entraria para a história como a primeira vez que um míssil disparado de avião afundaria um navio em um conflito naval. Este feito foi realizado por um míssil Exocet de fabricação francesa disparado de um avião

também francês60.

O episódio com o Exocet causaria mudanças profundas na condução da guerra por parte dos britânicos, a FT foi posicionada mais ao leste para evitar novos contatos com a aviação baseada em terra argentina, e uma busca intensa por informações sobre quantidades, localizações e número de aviões foi conduzida para tentar neutralizar a ameaça. O GCHQ juntamente com a NSA continuavam a interceptar comunicações via rádio e com a decisão dos EUA de apoiar integralmente nas questões de inteligência o esforço britânico, foram colocados à disposição os sistemas de satélites de reconhecimento KH-8 e KH-11 e o sistema

58 Woodward, "One Hundred Days".

59 Keegan, "Inteligência na Guerra".

60 Woodward, "One Hundred Days".

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de satélite de vigilância marítima White Cloud, que se mostraram pouco efetivos devido a grande quantidade de nuvens na região, à demora no processamento de informações na época e também a frequência baixa de observação passando

apenas duas vezes por dia no teatro61.

Estas dificuldades levaram o quartel general Britânico a evoluir nos métodos de contra inteligência, haja vista que os métodos passivos, os meios tradicionais de alerta e os métodos de satélite, não estavam gerando os resultados esperados o Ministério da Defesa decidiria que a ameaça deveria ser eliminada na origem com o emprego de forças especiais britânicas destruindo mísseis e aviões no

continente62.

Comandos britânicos já estavam sendo usados desde o começo do conflito, tendo cabido a eles o início das hostilidades contra os argentinos retomando o controle da Geórgia do Sul já no dia 25 de abril, tirando de combate o submarino ARA

Santa Fé no processo.63 Eles também estavam sendo posicionados com o uso de helicópteros durante a noite em diversos pontos do arquipélago para coletar informações de inteligência em loco, dada a escassez de informações prévias e também da ineficiência do sensoriamento remoto. Ao todo 13 equipes, 7 do SAS e 6 do SBS, estavam infiltradas nas Malvinas coletando informações e escolhendo o ponto de desembarque das tropas. Os comandos também foram utilizados para neutralizar um aeródromo de aviões de ataque ao solo e apoio aéreo aproximado argentino na ilha de Peeble no dia 14 de maio, 45 homens desembarcaram de helicópteros e foram guiados até o destino por umas das equipes previamente infiltradas, destruindo 11 aviões Pucarás e Turbo Mentors, que estavam sendo guardados por 100 homens. A decisão de utilizar os comandos em detrimento de um ataque aéreo havia sido decorrente de um episódio no dia 4 de maio no qual durante uma tentativa de ataque ao solo por 3 Sea Harriers um deles foi

derrubado por artilharia antiaérea argentina caindo no solo64.

A tentativa de ataque de comandos contra a base dos Super Etandards era composta de duas etapas a primeira ocorreu entre 17 e 18 de maio na qual foi realizada a tentativa de infiltração de uma equipe que deveria coletar informações e descobrir a localização das bases dos aviões. Devido uma precipitação do piloto do helicóptero que pensou ter sido avistado, ele rumou para o Chile não desembarcando o time do SAS. A outra etapa consistia em desembarcar 45 membros de forças especiais na pista da base aérea com um Hércules C-130, destruir os aviões e matar os pilotos, devido a falha na coleta de inteligência da primeira etapa, as únicas informações disponíveis eram mapas datados de 1939 e fotocópias do The Times. Diante de tal falta de informações e da insatisfação

61 Keegan, "Inteligência na Guerra".

62 Keegan.

63 Souza "A Guerra que foi Possível pelas Malvinas".

64 Keegan.

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dos comandos diante da incerteza de sucesso o oficial responsável cancelou a

operação65.

Os embates entre a aviação argentina e a FT continuam até que em 21 de maio os desembarques britânicos começaram na Baia de San Carlos, uma operação arriscada pois os navios tinham sua mobilidade restringida pela baia se tornando um alvo fácil para a aviação argentina, neste dia a fragata HMS Ardent foi afundada por "bombas burras" enquanto protegia o desembarque, mas não sem custo, 15 aviões argentinos foram abatidos. Nos dias seguintes, mais especificamente nos dias 24 e 25 de maio mais 3 navios seriam afundados pela aviação argentina, dois com bombas "burras", o destróier Type 42 HMS Coventry e a fragata HMS Antelope, e um com o temido Exocet. O navio afundado pelos mísseis, fora atingido por dois, era o BMNV Atlantic Conveyor um navio de apoio logístico que transportava toneladas de suprimentos. O afundamento de um navio de suprimento ocorreu de forma inesperada, o piloto argentino declarara posteriormente que pensava se tratar do HMS Hermes pelo tamanho detectado

no radar66.

A esta altura do conflito a Força Aérea Argentina buscava alternativas para conseguir atingir a cadeia de suprimentos britânica. O C-130 improvisado como bombardeio conduziu três missões de patrulha no oceano atlântico entre Ascensão e o TO, nos dias 28, 29 e 31 de maio, nas quais na primeira não encontrou alvos, na segunda a bomba que atingiu o deck do navio-tanque British Wye não explodiu e na terceira abortou o ataque pensando, devido a neblina, que o RFA Fort Garage que levava suprimentos para o TO fosse uma fragata Type

2267.

A única missão de longa distância bem sucedida foi no dia 7 de junho no qual o navio tanque Hercules, após passar pelo Brasil e ter sua rota e destino descobertos pelos argentinos, estava em águas internacionais foi avistado pelos aviões de busca que estavam procurando o gigante superpetroleiro de 100.000 toneladas de deslocamento, dois Boeing 707 conduziam esta busca e quando encontraram o petroleiro informaram a sua posição, no dia anterior a missão de acompanhar o navio passou para o C-130 e após mandar o petroleiro se dirigir a um porto argentino para averiguação ele mudou de rota e aumentou a velocidade. Dois bombardeios Camberra direcionados pelo C-130 encontraram e atingiram o

petroleiro que não afundou devido a não detonação da bomba68.

Em 28 de maio os combates no terreno se intensificam, nesta altura do conflito diversos militares argentinos estavam mal supridos de alimentação e munição. Os combates no terreno seguiram até a rendição em 14 de junho, dois dias antes, porém o HMS Glamorgan foi atingido por um míssil Exocet disparado de terra

65 Keegan, "Inteligência na Guerra".

66 Rivas, "Wings of the Malvinas”.

67 Rivas.

68 Rivas.

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não chegando a afundar. O conflito culminou com a renúncia do presidente

argentino em 17 de junho.69

3. As Possibilidades Estratégicas Argentinas

A maior parte da literatura Anglo-saxã aponta que as razões políticas argentinas para tomar as Malvinas eram calcadas numa tentativa de dar sobrevida ao regime militar, em desarranjo em decorrência da deterioração das condições econômicas e sociais. Já a recente produção acadêmica argentina, com acesso a documentos inéditos e entrevistas com as figuras-chave, desenha um panorama mais complexo e idiossincrático.

Arquivos sobre o governo do general Leopoldo Galtieri apresentam que uma resolução da Questão Malvinas era o preço da Armada argentina no apoio a ascensão daquele de comandante-em-chefe do Exército à presidência no lugar de Roberto Viola. Entretanto, ainda que Galtieri manifestasse inclinação em tratar dessa questão, ele, o Exército e a Força Aéreos argentinas nunca desenvolveram planos e deliberações prévias a respeito.

De fato, Galtieri tinha como plano diretor de seus primeiros meses como presidente neutralizar a influência da Marinha e centralizar sob sua autoridade os ministérios militares e civis. A cronologia das reuniões da Junta Militar permitirem questionar se Galtieri realmente decidiria por uma invasão em algum momento, sem a influência da Armada argentina, e não como um recurso para unir e ludibriar o alto comando militar enquanto ele conduzia a reorganização das forças políticas e lealdades dentro e fora do governo.

Isso se deve à consideração de que as minutas dessas reuniões tratavam da Questão Malvinas de maneira inconstante, com calendários revistos em cada reunião e sem medidas preparatórias correspondentes ao planejamento estratégico. Por um lado, ele teve muito mais energia e urgência na substituição de governos das províncias com o foco de rever as lealdades políticas das forças armadas para a Presidência, bem como começou a arquitetar as condições para sua candidatura à presidente mesmo considerando a abertura política. Por outro lado, ele acelerou o alinhamento aos Estados Unidos em troca de apoio norte-americano ao seu regime. Algo que foi identificado, posteriormente, inclusive pela inteligência britânica, era que uma possível recuperação das Malvinas

deveria ocorrer dentro de dois anos no início do seu mandato presidencial70. No entanto, a crise se deu apenas três meses após a transição de poder e não deveria ter ocorrido tão cedo não fosse pela atuação de uma figura-chave da Armada e o incidente na ilha Geórgia do Sul.

Assim sendo, onde a Questão Malvinas mais premente era na Armada, que desde 1955, tinha planos operacionais atualizados. Esses foram acessados por último

69 Souza "A Guerra que foi Possível pelas Malvinas".

70 Hastings e Jenkins, The Battle for the Falklands, 46.

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pelo almirante Jorge Isaac Anaya em 22 de dezembro de 1981, apenas dois meses após sua promoção à comandante em chefe. Além de uma obsessão pessoal com a questão, Anaya justificou que a ação nas Malvinas era necessária como forma de se ganhar prestígio diplomático como forma de prover as bases para reconciliação civil-militar. Ele e a Armada, já ao fim de 1981, reconheciam que o regime militar era insustentável e necessário um processo de transição. No entanto, isso não seria possível, e sem revanchismo contra o estamento militar, sem condições que, de alguma maneira, celebrasse ou recuperasse a credibilidade

do mesmo71.

Assume-se que a utilidade política de uma operação militar nas Malvinas era simbólica e de efeito esperado de curto prazo, portanto, deveria ser não mais que uma demonstração de força com ganhos limitados e baixo risco e custos. Com isso, aponta-se que existiam apenas dois cursos de ação viáveis. O primeiro era a criação de uma crise internacional em que a Argentina fosse capaz de retirar concessões do Reino Unido e internacional. Neste caso, dever-se-ia evitar qualquer possibilidade de confrontação com forças britânicas e manter o desenvolvimento da crise principalmente em termos diplomáticos. De maneira correspondente, a assinatura militar nas Ilhas Malvinas deveria ser mínima e simbólica. Por um lado, o lado positivo desse curso de ação era que ele manteria os riscos e potenciais perdas militares ao mínimo. Por outro lado, os ganhos também seriam limitados e simbólicos, bem como o desenvolvimento desse curso não estaria sob controle da Junta Militar. Ao passo que a Questão Malvinas se tornasse uma crise internacional, com possíveis envolvimentos e arbitragens das Nações Unidas e Estados Unidos, a Argentina teria que esperar e aceitar ganhos subotimos.

O segundo curso de ação envolveria uma preparação militar adequada e detalhada e um plano de ação que envolvesse tomar e reter as Malvinas, com substantiva concentração de meios navais, aéreos e terrestres a fim de tornar a possibilidade de interposição britânica muito custosa. Como discutido na seção anterior, a Argentina tinha meios para tal, se o curso das decisões políticas e de preparação logística fossem outros. Abaixo, detalhamos as condições de viabilidade e pré-requisitos operacionais de ambas alternativas.

3.1. Diplomacia Coercitiva

De um ponto de vista teórico, a alternativa estratégica argentina de compelir os britânicos a retomaram as conversações diplomáticas de maneira mais dedicada, e com maior susceptibilidade, ao seu pleito não é um curso de ação de guerras limitadas. No entanto, ele é aqui considerado, primeiro, tendo em vista que era uma opção viável. Segundo, como forma de contraste à segunda opção estratégica e assim esmiuçar melhor as características desta última.

71 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta, seç. 2001; Camillión,

Memorias Políticas, seç. 253–254.

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Em guerras limitadas, os lados beligerantes não possuem meios disponíveis, nem objetivos políticos fortes e polares o suficiente para se possível e justificar os custos de colocar um lado indefeso para reagir, mesmo contra um acordo incondicional. Portanto, circunstâncias como da Alemanha nas primeira e segunda guerras mundiais são muito raras.

Originalmente, o plano de ação da Junta Militar para questão da Malvinas envolvia três etapas: a) uma nova rodada de negociações bilaterais; b) a condução das operações das Malvinas e, talvez também na Geórgia do Sul; e c) a retomada das negociações bilaterais com o Reino Unido. No entanto, o plano da Operação Azul original, de 12 de janeiro, previa uma incursão militar nas Malvinas de

apenas cinco dias72.

[La]Directiva Estratégica Militar” (DEMIL) elaborada por la Junta establecía inicialmente una operación limitada en el tiempo por el retiro de tropas argentinas de las Malvinas. Las previsiones iniciales dispusieron que el día “D” sería fijado para la segunda quincena de mayo y concluiría

cinco días más tarde73.

Essa força simbólica teria uma composição de 600 homens, que através de um fait accompli levaria a negociações bilaterais intensas, e que os britânicos seriam indenizados e compensados. Previa-se ainda a inclusão dos Estados Unidos, bem como consultas com o Mercado Comum Europeu e contatos com países do bloco socialista.

No entanto, houve o isolamento do porto diplomático das considerações e planejamento da Junta e do Grupo Malvinas. Evidência disso foi a requisição pelo almirante Anaya de substituição do embaixador argentino no Reino Unido por um oficial naval, argumentando que este teria melhor condições de reportar os eventos para seus pares britânicos.

Nesse sentido, se o objetivo político principal da Junta Militar era criar uma situação internacional que conferisse prestigio diplomático, essa ação diplomática coercitiva tinha que conduzir essa operação militar de maneira sincronizada com ações diplomáticas junto às Nações Unidas, onde as tratativas quanto a soberania e descolonização da Ilhas Malvinas eram tratadas desde 1965 e foram retomadas em 1982. Tinha que se considerar as relações diplomáticas com os Estados Unidos, principalmente em um período de aproximação com a Argentina para o apoio desta em operações de contra insurgência na América Central e uma operação de paz no Sinai. Terceiro, deveria haver uma melhor coordenação nas consultas e deliberações com possíveis apoiadores e aliados na América Latina e no Bloco dos Países Não-Alinhados.

Nesse sentido, essa deveria ser uma operação eminentemente diplomática com uma participação militar para “empurrar” seu desenvolvimento. Principalmente

72 Camogli, Batallas de Malvinas, l. 341; Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La

Trama Secreta, l. 878. 73 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta. Locais do Kindle 1414-

1417.

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porque a questão das Malvinas não era prioridade do serviço de assuntos estrangeiros do Reino Unido, nem do Conselho de Segurança dos Nações Unidas.

Essa operação de diplomacia coercitiva tinha dois pré-requisitos importantes. Primeiro, ela deveria ser desde o início concebida e planejada com a participação de diplomatas regularmente nas reuniões semanais da Junta Militar no edifício Liberdad, desde dezembro de 1981, e, principalmente no Grupo Malvinas – formado por almirante Lombardo, general García e brigadeiro Plessl – responsável pelo detalhamento da operação militar. Segundo, além das considerações logísticas de desembarque e extração do destacamento militar, a composição e o momento da operação tinham que ser subordinamos a uma estratégia de ações diplomáticas em Washington, Nova York e Londres.

Com relação à composição, esse destacamento tinha que ser o menor possível em termos presença de efetivos e mais flexível possível em termos de mobilidade e extração, de maneira a ser dificilmente enquadrada como uma invasão de conquista nos termos mais estritos do direito internacional. Algo marcante nesse sentido é que a operação militar deveria ser breve e o contingente deveria se retirado ao passo que a crise estivesse dada e os primeiros contatos diplomáticos tivessem sido iniciados.

No entanto, pelo que se sabe, a chancelaria teve participação apenas consultiva e pontual nas deliberações da Junta Militar e informal no caso do Grupo Malvinas. Neste último caso, a mais marcante foi a taxação como errática a Operação Alfa de ação militar da Geórgia do Sul pelo chanceler Costa Mendez e o chefe do Estado-Maior naval almirante Lombardo e a recomendação pelo seu cancelamento. Ademais, o entendimento da Junta Militar era que negociações diplomáticas e ações militares existiam uma na ausência ou sequência da outra.

Isso leva a outra parte da consideração quanto ao escopo e momento da ofensiva diplomática. Em termos de momento, a operação militar possivelmente deveria ocorrer apenas depois de consultas informais e apresentação do caso das Malvinas aos Estados Unidos e ao bloco de países do não-alinhados, principalmente aqueles presentes no Conselho de Segurança em 1982 (Uganda, Zaire, Togo, Panamá e Jordânia).

No caso dos Estados Unidos, o general Galtieri tinha grande acesso a figuras do alto-escalão militar e realizou duas visitas oficiais aos Estados Unidos entre sua ascensão como Presidente, em dezembro de 1981, e o início da crise. Os falcões norte-americanos, naquele momento, eram ávidos em ter apoio político e em termos de assessoramento contra movimentos revolucionários na América Central. Da mesma maneira, houve considerável pressão para que Argentina cedesse tropas para composição de uma força de paz no Sinai. Como moeda de troca, Reagan pressionou, sem sucesso, para que o embargo de transferência militar para Argentina fosse suspenso. Não existem registros em que a questão da Malvinas tenha sido apresentada em algum momento como moeda de troca. Existe apenas o registro de uma consulta informal, em junho, o ex-diretor assistente da CIA Vernon Walters, se os Estados Unidos manteriam neutralidade no caso de uma operação militar na Malvinas. A resposta foi que eles o seriam em caso de nenhuma baixa britânica. Essa foi uma consideração que determinou o

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planejamento militar do Grupo Malvinas, mas em nenhum momento o posicionamento norte-americano na questão foi aventada tendo em vista outras

possibilidades de ação e barganha74.

A Questão Malvinas era um tema no âmbito das Nações Unidas desde 1965, cuja Resolução 2065 convidada os dois lados a negociarem, com desvantagens para os britânicos, que deveria reconhecer a soberania argentina, de maneira que podiam

apenas adiar essa conclusão75. Mesmo quando do desenvolvimento da guerra, mesmo após a aprovação da Resolução 506, o Reino Unido não tinha ampla vantagem diplomática nas Nações Unidas, e mesmo na Europa, os britânicos não tinham certeza, apenas esperavam, que teriam sucesso diplomático76. Em maio, membros da Comunidade Econômica Europeia suspenderam as sanções econômicas exigidas pelo Reino Unido, bem como este teve que apelar para o

recurso de veto contra uma moção que pedisse o cessar-fogo77.

Nesse caso, houve clara falta de sincronização entre as operações militares e ações diplomáticas. Em primeiro lugar, aos países latino-americanos e do bloco dos países não-alinhados nunca fora apresentada a questão das Malvinas, que sequer sabiam da retomada das negociações com o Reino Unido desde o início de 1982, e eles nunca foram consultados sobre a possibilidade de formação de um grupo de apoio no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral. Na mesma linha, o representante argentino nas Nações Unidas, Eduardo Roca, assumiu sua posição em 31 de março de 1982, muito tardiamente para cumprir essa tarefa, e ainda não existem registros que apontem que ele tenha sido incumbido de qualquer tarefa do gênero. Ademais, tendo em vista a gravidade da questão, o chanceler argentino, Costa Mendez, deveria ter consultado esse bloco de países diretamente e fora das Nações Unidas e estado presente nas Nações Unidas antes da operação militar. De fato, Costa Menezes se fez presente em Nova York apenas em 3 de abril, depois que a invasão estava dada. Ainda com relação às Nações Unidas, Francis Toase aponta que do ponto de vista do momento de diplomacia coercitiva, o desembarque argentino nas Malvinas foi tardio, pois até 1o de abril, quem ocupava a presidência do Conselho de Segurança era a embaixadora norte-americana Jeane Kirkpatrick, uma latinista que foi uma figura destacada no endosso de que a política externa norte-americana deveria dar mais apoio ao regime militar argentino em troca de sua atuação anticomunista na América

Latina78. Da mesma forma, a Argentina fez muito pouco uso do espaço que tinha na OEA.

Por fim, desde 1981, havia a retomada em certas esferas do governo britânico que a questão das Malvinas deveria ser encerrada como uma forma de auferir ganhos

74 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta, seç. 430.

75 Pereyra, “Clausewitz e a Guerra Aérea das Falklands/Malvinas”, 2.

76 Boyce, The Falklands War, 79.

77 Givhan, “The Time Value of Military Force in Modern Warfare: The Airpower Advantage”, 23.

78 Francis Toase, “The United Nations Security Resolution 502”, in The Falklands Conflict

Twenty Years On: Lessons for the Future, org. Stephen Badsey, Rob Havers, e Mark Grove (London: Frank Cass, 2005), 159.

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diplomáticos com a América Latina e os próprios Estados Unidos. No primeiro caso, tinha-se em vista rever a retração da presença britânica na região desde 1960 e desmonte do Império Britânico. No segundo, tinha-se a marca traumática da Crise de Suez de 1956 e qualquer operação militar no Terceiro Mundo tinha que ter clara e inequívoca consulta com os norte-americanos. Ademais, o

panorama europeu não era inequivocamente a favor do Reino Unido79.

A questão de cessão das Malvinas era real dentro do governo britânico, era importante a composição de um grupo de pressão em Londres, formado não apenas por diplomatas, mas componentes com influência e acesso junto ao

Parlamento, principalmente do Labour Party80 . Portanto, havia espaço para lobby argentino junto a figuras-chave da burocracia e mundo político britânico, que deveria estar atuando muito antes de qualquer operação nas Malvinas e deveria ser muito atuante durante e, principalmente, depois da operação.

No entanto, o principal ponto a chamar a atenção com relação a esse curso de ação é que não se poderia ter a expectativa de um resultado ótimo e rápido. O erro de cálculo argentino era assumir que uma ação de diplomacia coercitiva poderia equivaler a uma vitória militar, em que o lado “derrotado” concede tudo ao lado vitorioso. A dependência dessa alternativa estratégica de canais multilaterais e uma ação militar elástica não denotam a possibilidade de um controle exclusivo de seu curso de ação em mãos argentinas. Na mesma proporção que os riscos, os ganhos desse tipo de ação também seriam limitados.

Contrastando essa formulação hipotética com a cronologia dos fatos, mesmo com a não/mal planejada Operação Alfa e a crise da Geórgia do Sul, os argentinos tiveram condições para um desenvolvimento diplomático que atendesse seus objetivos.

Isso porque o objetivo político não era a conquista física um de um objeto de valor, mais os efeitos simbólicos do seu ato, a fim de auferir prestigio. Entre 6 e 27 de abril de 1982, a Argentina tinha um palco internacional a sua disposição e a articulação das duas maiores potências ocidentais do dia em busca de sua conciliação. Os argentinos deveriam ter visto como muito fortuito a intervenção diplomática norte-americana liderada pelo secretário de Estado Alexander Haig e terem aceito alguma de suas propostas, potencialmente a segunda realizada em 12 de abril, em que se concediam uma administração pelas Nações Unidas das Ilhas Malvinas.

Haig concebeu três propostas. A primeira em 6 de abril propôs que a força-tarefa britânica fosse desviada e as forças argentinas se retirassem das Ilhas Malvinas,

79 Lawrence Freedman, “The Impact of the Falklands Conflict on International Affairs”, in The

Falklands Conflict Twenty Years On: Lessons for the Future, org. Stephen Badsey, Rob Havers, e Mark Grove (London: Frank Cass, 2005), 16; Peter Hennessy et al., “‘War Cabinetry’: The Political Direction of the Falklands Conflict”, in he Falklands Conflict Twenty Years On: Lessons for the Future (London: Frank Cass, 2005), 52; John Nott, “A View from the Centre”, in The Falklands Conflict Twenty Years On: Lessons for the Future, org. Stephen Badsey, Rob Havers, e Mark Grove (London: Frank Cass, 2005), 60.

80 George Boyce, The Falklands War, 2005 edition (Houndmills, Basingstoke, Hampshire; New

York: Palgrave, 2005), 41–42.

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com substituição de uma força de paz composta pelo Canadá, Estados Unidos e dois países latinos, seguida de negociações. Em 12 de abril, essa proposta foi atualizada sugerindo a retenção da força-tarefa britânica a mil milhas das ilhas Malvinas e ainda a retirada militar argentina. No entanto, ela que mais atendia os interesses argentinos porque propunha a suspensão das sanções econômicas. Mas a grande atualização era que as Nações Unidas, Estados Unidos, Reino Unido e Argentina constituiriam uma autoridade interina para celebração de um acordo, em que a Argentina deveria participar da administração local das ilhas, controlando a polícia e indicando o governador. A terceira e última proposta de Haig foi apresentada em 27 de abril e já demonstrava uma tendência de favorecimento ao Reino Unido, cuja força-tarefa já estava pronta e esperando o comando de prosseguimento e definição se conduziria uma demonstração de forças ou uma operação de reconquista. Segundo essa, ambos beligerantes e os Estados Unidos apontariam representantes para composição de uma autoridade interina e a forma de governo definitiva das ilhas seria segundo a consulta com a população local e preservando a continuidade da tradição da administração local, sendo que a Argentina poderia apontar dois representantes para ocupar o

conselho executivo dessa administração81.

O cenário em que a Argentina aceitasse uma das primeiras duas propostas colocaria o Reino Unido numa situação desconfortável e sob pressão dos Estado Unidos. Independentemente de quanto tempo e se as ilhas não viessem a ser parte da soberania argentina integralmente, esses seriam reveses pequenos em comparação ao prestígio internacional de derrotar, diplomática, mas publicamente, uma grande potência e com aval dos Estados Unidos.

No entanto, a decisão de antecipação do desembarque nas Malvinas levou Galtieri despachar o primeiro contingente de fuzileiros navais argentinos ocorrer um dia antes da terceira proposta de Haig, que sequer a considerou. Isso teve repercussões militares, pois o termino da ‘diplomacia shuttle’ que determinou a decisão britânica de seguir interposição nas Malvinas, a efetivação da zona marítima de exclusão com regras de engajamento estendidas e o apoio total

norte-americano ao Reino Unido82 Nesse sentido a continuidade das negociações significava ganhar tempo para as atividades militares.

A falta de articulação e marginalidade dos bons diplomatas que a Argentina tinha à mão é uma lição a ser aprendida, pois é um erro recorrente em casos desse tipo de ação. Ainda que o ambiente das negociações diplomáticas seja fluído e, em algumas situações, mais difíceis de serem identificados de que as alterações nos equilíbrios de força, havia elementos muito claros para que a Argentina organizasse uma campanha diplomática sincronizada com a militar. Aponta-se que esse tenha sido uma falha mais de caráter conceitual do que organizacional.

81 Boyce, The Falklands War, 82–91; Archive (Thatcher MSS), “Falklands: Summary of peace

proposals put forward by Haig, HMG, and Peru, 12 April to 5 May [released 2013]”. 82 Southby-Tailyour;, Amphibious Assault Falklands, 74–77, 90–91.

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3.2 A Fortaleza Malvinas

Segundo a teoria de Corbett, em circunstâncias de objetivos políticos positivos em guerras limitadas, a conquista e a defesa do objeto podem trazer a guerra imediatamente para um acordo de paz. Isso porque, primeiro, a campanha defensiva nesse estágio não sofre das desvantagens de uma defensiva em uma guerra ilimitada, com os efeitos morais e materiais de perda de território e ainda a perda de iniciativa. Portanto, é uma posição bastante forte, permitindo inclusive

o sucesso estratégico de forças menores sobre maiores83.

A correlação de forças navais aponta que o Argentina não tinha meios para executar os dois últimos estágios de uma campanha de guerra limitada. Ela não tinha meios navais que lhe permitissem atacar, em alto-mar, a força-tarefa britânica, nem evadir seu bloqueio e atacar outros objetos de valor como forma de dispersar os recursos britânicas no esforço de recuperação das Malvinas e como recurso de barganha diplomática. Com isso, ela era obrigada a apostar todas as suas fichas na defesa das Malvinas. Esse não deveria ser simplesmente um blefe vazio, mas a concentração de meios que, somado aos fatores geográficos, climáticos, de alocação limitada de recursos e de incerteza um cenário internacional de pouco propício, constrangeria muito os cálculos britânicos de custos e benefícios.

A Argentina poderia ter preparado e planejado a invasão tendo como meta ter uma posição forte na defesa nas Malvinas, de maneira a elevar ainda mais os riscos e incertezas do cálculo político britânico, ou a necessidade de mover uma força-tarefa mais poderosa, com os ônus logísticos e de tempo que isso envolvia. Mesmo o deslocamento de uma força-tarefa que se assumisse apenas capaz de uma demonstração de força seria sujeito às intempéries do clima e das “forças

paradoras da água”84, e teria um prazo curto de auto sustentação no Atlântico Sul.

A Argentina tinha vantagens logísticas relativas e superioridade numérica em termos aéreos e terrestres, que, combinados com meios navais, eram suficientes para um plano de defesa de costa efetivo. Quanto mais a caracterização da posição estratégica argentina denotasse que as batalhas necessárias para a vitória de qualquer um dos lados levariam a um debacle, mais as forças políticas internas e externas seriam contra a resolução britânica de seguir a interposição. Uma posição forte, adequadamente preparada e servida de estoques, permitiria a Argentina utilizar de todas as vantagens da defesa, sem ter suas deficiências. Quanto por mais tempo as forças argentinas fossem capazes de manter as Malvinas e apresentar seu pleito à comunidade internacional, tornaria os custos britânicos de seguir o estado de hostilidade muito altos em comparação a ganhos

essencialmente simbólicos85.

83 Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, 72; Corbett, Maritime Operations in the

Russo-Japanese War, 1904-1905, 2015, 63. 84 Mearsheimer, A Tragédia da Política das Grandes Potências, 97–98.

85 Givhan, “The Time Value of Military Force in Modern Warfare: The Airpower Advantage”, 24–

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O primeiro e maior erro argentino foi o inadequado uso de recursos navais. Primeiramente com emprego do submarino Santa Fé e de duas corvetas para apoio da Operação Alfa. Segundo, após o afundamento do Belgrano, a decisão pela retirada total de sua força naval do teatro de operações. O que se deu menos por insuficiência de meios, e mais por recusa de Anaya em aceitar baixas significativas que pudessem colocar sua posição de comando em risco. Anaya era entusiástico sobre a defesa das Malvinas, mas não com sua própria força pagando

os custos 86 . Com isso, delegou-se a Força Aérea o ônus de conduzir uma estratégia de força em potência solitariamente. Esta desenhou uma primeira campanha aérea baseada num disparo de oportunidade dos cinco Exocet ar-

superfície disponíveis87. Depois disso, a defesa argentina das Malvinas limitou-se a uma campanha aérea de fustigação com abandono das forças terrestres de apoio de fogos aeronavais.

Nessas condições, essas ficaram limitadas a uma defesa estática e forçadas a dispersar seu contingente em terreno mais favorável a proteção contra-ataques aéreos aproximados de aviões e helicópteros oponentes, e ainda para evitar serem

cercadas pelas tropas britânicas88. Geralmente, aponta-se que os submarinos e vantagem missilica britânicos superariam qualquer defesa argentina. Uma inspeção mais detalhada dos meios pode sugerir outros cenários.

O emprego da força britânica de submarinos de ataque, movidos a propulsão nuclear, não era onipresente e combinado com a força-tarefa naval de superfície. O reposicionamento desses meios foi questionado e, depois de decido, realizado com muito zelo diante o papel que eles tinham na salvaguarda do Estreito de

Berents no contexto da Segunda Guerra Fria 89 . Ademais, o emprego desses recursos de potencial efeito estratégico afetou as impressões políticas de países do bloco socialista e ocidental. Por isso, os submarinos Splendid, Spartan e Conquer tiveram suas operações instruídas direto e exclusivamente pelo comando naval britânico em Northwood, e não eram parte do comandante da força-tarefa, almirante Sandy Woodward. HMS Spartan e Splendid partiram da Inglaterra no dia primeiro de abril, e o Conquer no dia dois, e chegaram no teatro dez dias depois para impor a zona marítima de exclusão. O Spartan observou o desembarque argentino em Stanley e o Splendid patrulhou a área entre a Argentina e as Malvinas. Em todas as ocasiões que esses fizeram contato com embarcações argentinas, eles reportaram para Northwood. O Conquer teve inicialmente a missão de patrulhar em torno de Geórgia do Sul e não foi capaz de

detectar o submarino argentino Santa Fé90.

25.

86 Lopes, O Código das Profundezas, l. 2584; Zellem, “Clausewitz and Seapower: Lessons of the

Falkland Islands War Unclassified”, 29–30; Zellem, 22; Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic Decisions”, 32–36, 53–54.

87 Zarza, “Malvinas: The Argentine perspective of the Falkland’s conflict”, 34.

88 Fremont-Barnes, The Falklands 1982: Ground Operations in the South Atlantic, 7.

89 Nott, “A View from the Centre”, 58.

90 Harper, “Submarine Operations during the Falklands War”, 12.

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Do lado argentino, a ameaça ou a imposição de altos custos com ataques à força-tarefa por meio de ataques pelos seus dois submarinos a diesel disponíveis, seriam apenas viáveis com algum apoio em termos de inteligência de plataformas de superfície, aéreas ou terrestres. Os submarinos argentinos tinham suficiente

capacidade de acobertamento, mas limitados sistemas de orientação de disparo91. Portanto, a possibilidade ataques de uma posição segura dependia da triangulação a partir de informações obtida por outros. Portanto, eles tinham pouca chance em ação de combate em mar aberto e sem coordenação com meios aéreos, navais e mesmo terrestres. Isso era disponível desde a primeira semana de abril, com o deslocamento de aviões de patrulha antissubmarino Tracker para Stanley, mas que foram reposicionados para a Ilha Pebble na Gran Malvina, fora

de qualquer cobertura aeronaval92.

Em termos de potencial de lançamento de mísseis, apesar da vantagem numérica britânica, nenhum dos dois lados tinham doutrinas para seu emprego em salvos, como orienta o entendimento contemporâneo sobre guerra no mar. Por terem mísseis de mais longo alcance e melhores sistemas de guiamento e

comunicação93, os britânicos sempre teriam vantagem numa relação de atrito entre os dois lados. Se a Argentina tivesse posicionado seus meios a concentrar a instancia da batalha naval a poucas ou a uma única batalha naval na costa das Ilhas Malvinas, suas chances seriam muito maiores. Pois, ainda que viesse a ter mais baixas que seu oponente, este sofreria com efeitos logísticos e políticos muito maiores. Ou seja, a Argentina deveria ter posicionado, pelo menos, uma fração de sua marinha de superfície entre as Ilhas Malvinas. O próprio comandante da força-tarefa britânica, almirante Woodward, testemunhou que se um dos destróieres argentinos com capacidade de lançamento de mísseis Exocet tivesse sido posicionado entre as ilhas Malvinas, seria muito difícil neutraliza-lo. Possivelmente, esse teria sido um emprego mais útil do Belgrano e das fragatas

que compunham seu grupo de combate94.

O segundo erro argentino, da mesma maneira que o primeiro, fora um erro de alocação e emprego, pois era possível ter sido alocado um maior contingente da força aérea argentina no arquipélago. Operando a 600 quilômetros do teatro e sem apoio de radares disponíveis pelas forças terrestres navais, os pilotos argentinos não tinham como fazer frente aos Sea Harriers, como não tinha tempo de missão e dados suficientes para empregar ataques meios efeito estratégico

contra as embarcações de desembarque anfíbios95. Ainda assim, entre 21 e 25 de maio, os caças argentinos forçaram os porta-aviões britânicos a operarem a uma distância bem segura, a leste das Malvinas. Isso teve como impacto que sua

91 Harper, 21.

92 Fremont-Barnes, The Falklands 1982: Ground Operations in the South Atlantic, 21.

93 Hanable, Case Studies in the Use of Land-Based Aerial Forces in Maritime Operations, 1939-

1990, 121. 94 Southby-Tailyour, Exocet Falklands, 86.

95 Green, “Argentina’s Tactical Aircracft Employment in the Falklands War”, 22–24.

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capacidade de prover superioridade aérea local para as operações anfíbias ficou

limitada a seis horas por noite96.

A presença de grupos aéreos nas Malvinas teria tido impacto muito maior nos cálculos e posicionamento britânico. A Argentina tinha amplas condições de ter ajustado as pistas de pouso em Porto Stanley para operar seus caças Mirage e Super Étendard em uma semana se preparações previas e um plano tivessem sido desenvolvidos. Mesmo sem esse esforço, era possível a operação dos A-4

Skyhawks nas condições existentes97.

A opção da Fortaleza Malvinas teria como maior benefício a possibilidade dos argentinos lutarem com suas forças aéreas e navais na defensiva. Nesse sentido, o principal resultado negativo da estratégia da força em potência (fleet in being) empregada foi que essas que forças tiveram que conduzir ataques contra a força-tarefa britânica. Mesmo com inferioridade de números, as forças navais argentinas conduziram um ataque no dia 2 de maio, quando houve a neutralização do Belgrano. Da mesma maneira, a campanha aérea argentina deu aos britânicos a vantagem de empregaram seus limitados recursos aéreos em

economia de força98.

Ademais, assumindo que a Argentina não concentraria todos seus recursos aéreos e navais nas Malvinas, mas manteriam uma fração significativa em suas águas territoriais, isso teria um “efeito bastião” contra a ordem de batalha naval britânica, que sempre temeria ter seu flanco exposto enquanto engajasse concentradamente para romper a Fortaleza Malvinas, o que drenaria recursos. Possivelmente, seus submarinos de ataque teriam que ser redirecionados para essa cobertura.

Ainda sobre a dimensão naval, algo que já foi notável na Guerra das Malvinas e

se mantém nos atuais debates sobre A2AD99, é que plataformas de radares em solo têm vantagens comparativas sobre radares postados em embarcações e aviões. Os argentinos posicionaram no Porto Stanley um radar AN/TPS-43 em 2 de abril com alcance de 240 milhas que era capaz de localizar não apenas ameaças aéreas, mas mesmo as embarcações britânicas e seus porta-aviões. Ele foi ainda

integrado com os sistemas defesa aérea com setenta canhões antiaéreos100. Esse sistema teria um potencial considerável contra a força-tarefa britânica se a ele tivesse disso somado o poder de missílico e de artilharia convencional dos vasos de superfície e dos A-4.

96 Givhan, “The Time Value of Military Force in Modern Warfare: The Airpower Advantage”, 26–

27. 97 Hanable, Case Studies in the Use of Land-Based Aerial Forces in Maritime Operations, 1939-

1990, 122. 98 Zellem, “Clausewitz and Seapower: Lessons of the Falkland Islands War Unclassified”, 29–30.

99 Biddle e Oelrich, “Future Warfare in the Western Pacific”.

100 Hanable, Case Studies in the Use of Land-Based Aerial Forces in Maritime Operations, 1939-

1990, 124.

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Do lado britânico, não havia a disposição aviação de monitoramento e aviso antecipado e dependia-se de proteção de perímetro efetuada pelos Sea Harriers. Além da capacidade limitada de sensoriamento, os britânicos tinham limitados sistemas de coordenação de fogo e comunicação entre as principais componentes de sua força naval. As docas de desembarque anfíbio Fearless e Intrepid eram da década de 1950 e desatualizadas em termos de instalações de comando e sensoriamento. A Fearless, em particular, não tinha comunicação por satélite e

apenas comunicações seguras via VHF101.

Os britânicos eram bastante conscientes dessa defasagem e mesmo a mínima possibilidade de que os argentinos tivessem instalado uma capacidade combatente de negação de acesso às Malvinas teria grande efeito no planejamento britânico.

Isso pode ser corroborado pelo fato que a orientação estratégica britânica inicial era que a força-tarefa seria apenas um recurso dissuasório e para influenciar as negociações com demonstração de força, sendo o limiar da operação uma cabeça de praia em uma área segura e sem oposição das Ilhas Malvinas. Em 8 de abril de 1982, o Estado-Maior britânico instruiu o comando da força-tarefa com o plano da Operação Appreciation em que se reconhecia que os meios militares disponíveis possivelmente não eram suficientes par atender os objetivos políticos. Limitava-se a meta da operação ao restabelecimento da presença britânica nas Malvinas e pressionar a posição argentina. O documento assumia ainda que um desembarque não seria possível até que uma efetiva zona de exclusão marítima e aérea fosse estabelecida. Mais importante, o documento era ambíguo sobre o desfecho da operação e não trazia instruções para além do estabelecimento de uma cabeça de praia. Michael Clapp e Julian Thompson - respectivamente, comandantes das forças-tarefa de desembarque e do contingente de fuzileiros navais - assumiam que não era possível a condução de um assalto anfíbio forçado contra forças oponentes. Até o dia 22 de abril, manteve-se a orientação que o objetivo da operação era uma demonstração de força. Apenas no dia 26, em prosseguimento da recusa argentina à terceira proposta de Haig, que se encaminhou o plano da Operação Sutton, que comandava a recuperação das

ilhas, a ser lançada por volta de 16 de maio102. A essa altura, já havia ocorrido a recuperação da Geórgia do Sul e forças especiais já tinham reconhecido as forças argentinas nas Malvinas e no contingente e concluído suas condições limitadas de preparo.

Assim sendo, a Argentina tinha a possibilidade de executar uma defesa de esforços coordenados das Malvinas, com razoáveis chances de sucesso de mantê-la. Algo que foi reconhecido por analistas britânicos, norte-americanos e

soviéticos103.

101 Southby-Tailyour, Exocet Falklands, 16.

102 Michael Clapp; Ewen Southby-Tailyour; Amphibious Assault Falklands: The Battle of San

Carlos Water by Michael Clapp, Reprint edition (Pen & Sword Maritime, 2007), 61–63, 70–71, 74.

103 John Arquilla e Maria Rasmussen, “The Origins of the South Atlantic War”, Journal of Latin

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4. Avaliação e Crítica.

Segundo o curso de ação decidido pela Junta Militar, a campanha provocou, em 100 dias de combates a perda de 35 aeronaves, nove navios afundados, 32 embarcações danificadas, 225 baixas e 777 feridos britânicos. Para tal, as forças combatentes argentinas perderam 117 aeronaves, quatro navios afundados, 4

embarcações danificadas, 335 soldados mortos e 1.068 feridos104.

Esta seção, traz considerações finais avaliando criticamente alguns aspectos preponderantes que levaram a um contraste tão grande entre expectativas hipotéticas e a efetiva condução argentina da guerra ao atendimento ao plano do mapa de guerras limitadas de Corbett. Buscando fazer um fechamento deste trabalho são retomado alguns aspectos e realizada uma breve análise do atendimento ao mapa do plano de guerras limitadas de Corbett, discutindo posteriormente dois aspectos importantes para sua condução, as atividades navais e a centralidade do Estado Maior. Enquanto artigo exploratório não pretendemos alcançar conclusões definitivas, mas sim manter aberta a discussão das hipóteses e o debate acerca do legado de Corbett na condução de operações marítimas e guerras limitadas.

Como exposto na primeira seção do artigo, Corbett aprofunda o estudo das guerras limitadas apontando alguns benefícios da preferência pela condução de guerras limitadas tendo uma maior utilidade política do que guerras ilimitadas, apontando dois pré-requisitos para manter as guerras limitadas controladas sem escalonarem para uma guerra ilimitada. O primeiro seria que o objetivo político devesse ser limitado tanto na área a quanto no seu valor político, não sendo considera ampliações das demandas e do campo de ação e o segundo é a necessidade do objetivo político não ser parte orgânica da nação adversária, e que ele fosse isolado ou pudesse ser isolado estrategicamente, ou conseguir ser isolado a partir de operações estratégicas.

As Malvinas atendiam estes dois pré-requisitos. Com relação a "limitação do valor político", estava claro e definido que o que o objeto de disputa era o objetivo positivo em alterar a soberania sobre as ilhas. Com relação ao "isolamento estratégico", nada melhor que uma ilha a centenas de quilômetros do continente, que poderia ser isolado por operações navais e aéreas como foi realizado. O conflito corrobora, assim, a importância da geografia para a condução de guerras limitadas. O posicionamento das ilhas a milhares de quilômetros da base britânica mais próxima, e a apenas algumas centenas de quilômetros do território continental argentino, diminuiria a possibilidade de reação da Grã-Bretanha, o que de fato aconteceu em um primeiro momento dada a diminuída presença de tropas nas Malvinas. Foi necessário a organização da Operação Corporate com uma longa cadeia logística para a condução de operações de retomada das ilhas. À época, o único país que poderia isoladamente conduzir alguma operação semelhante seria os Estados Unidos dadas as complexidades e necessidade de meios envolvidos.

American Studies 33, no 4 ([s.d.]): 739–71.

104 Zarza, “Malvinas: The Argentine perspective of the Falkland’s conflict”, 21.

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O "mapa do plano de guerras limitadas" oriundo das formulações de Clausewitz, e trabalhado posteriormente por Corbett, possui quatro "diretrizes" para a articulação das forças terrestres e, principalmente, marítimas dada a natureza do isolamento geográfico marítimo das Malvinas.

A primeira diretriz diz respeito à localização do Teatro de Operações, e postula que a guerra limitada se desenvolve em regiões não centrais aos países beligerantes. O Teatro de Operações das Malvinas atende completamente esta diretriz, o objeto de disputa não era central nem para a Argentina nem para o Reino Unido, não sendo parte histórica da "formação da identidade nacional" para ambos os contentores e ainda sendo motivo de discussão no parlamento britânico sobre os altos custos de manutenção. O seu valor na época era marginal, haja vista que as tecnologias para extração do petróleo existente no leito marinho adjacente as ilhas eram muito cara, portanto não era um território sobre o qual as nações conduziriam uma guerra total para garantir seu domínio.

A segunda diretriz diz respeito à agilidade com a qual o objeto deve ser conquistado. Conquistar o objetivo rapidamente aumenta significativamente as chances de vitória, conferindo uma vantagem estratégica ao país que assim conseguir fazê-lo, pois possibilita a conquista antes que ações defensivas sejam empregadas. Uma tomada rápida do objeto também possibilita que mais cedo possível seja conduzida a preparação para sua defesa. No conflito das Malvinas, a Argentina conseguiu tomar rapidamente o controle de Stanley e subjugar a pequena guarnição ali presente. Como discutido na segunda seção, em poucas horas 92 homens lançados por botes, 10 por submarino, e 220 por helicópteros tomaram a cidade e prepararam o desembarque de um batalhão de infantaria da marinha.

A terceira diretriz diz respeito ao estabelecimento da defensiva estratégica que dará suporte à busca pelo equilíbrio diplomático. Na defensiva estratégica, cabe às forças terrestres o papel de resistência às tentativas de retomada do objeto. Às forças marítimas nesta situação, assumiriam um papel de controle das vias marítimas impedindo a concentração de força do oponente que ameaçassem o objeto a ser mantido. Este controle seria feito a partir de batalhas navais se necessário, atuando ofensivamente no mar enquanto se conduz a defensiva terrestre. Embora a primeira e segunda diretrizes estivessem satisfatoriamente atendidas, neste ponto os argentinos começam a falhar em atender ao mapa teórico de condução de uma guerra limitada proposta por Corbett.

Apesar da defesa das ilhas começar a ser preparada e o transporte de forças terrestres, e equipamentos, ter sido iniciado, houve a separação temporal das negociações diplomáticas e condução das operações, sendo as negociações interrompidas pelos argentinos um dia após a partida do reforço de tropas para as Malvinas. Parte da ineficiência diplomática foi ocasionada pela precipitação da Operação Alfa que suscitou reações exacerbadas e impulsivas de argentinos e britânicos. A falta de coordenação e, mesmo informação, da operação ao corpo diplomático argentino deu a oportunidade que a primeira derrota ocorresse nas Nações Unidas com a aprovação da resolução 502, que acusava a Argentina como país agressor. Não foi conseguido por parte dos diplomatas argentinos a invocação do TIAR e tão pouco conseguido um veto da China ou da União

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Soviética que vetasse a resolução 502 do Conselho de Segurança que determinava a imediata cessação das hostilidades entre os dois países e a retirada imediata das tropas argentinas das ilhas. Nesse sentido, a execução da Operação Alfa conspirou contra as possibilidades de sucesso diplomático e mesmo militar argentinos. Esses resultados foram de tal maneira negativos que alguns autores argentinos a

consideram uma conspiração, na verdade, britânica105.

Durante a preparação da defesa a decisão do general Galtieri de enviar mais tropas para as ilhas, sobretudo para guarnecer a Ilha Gran Malvina, que não era o objetivo estratégico, contribuiu para onerar a cadeia logística priorizando o exército perante as outras forças, mesmo que distorcida. O foco no reforço de tropas se dava em soldados apenas, não transportando peças de artilharia de 155 mm, essenciais em uma defesa em profundidade de uma cabeça de praia e blindados. Este episódio da decisão isolada de Galtieri exemplifica a prática de membros da Junta personalizarem decisões a despeito de planejamentos estratégicos e operacionais mais amplos. A atividade de reforço de tropas ocupou todo o mês de abril, impedindo que a pista fosse ampliada para permitir as aeronaves de superioridade aérea Mirage III operassem dali mesmo a força aérea necessitando de apenas uma semana para a manutenção necessária. Mesmo os A-4 Skyhawks que poderiam operar na pista em suas condições originais, demandavam do transporte de suprimentos, pessoal de terra e munições, para operar um grupo aéreo na ilha, e este esforço competia com o transporte de tropas

adicionais106.

Não obstante, a falta de preparo e transporte de pessoal de terra, suprimento e munições para Stanley, os bombardeios de longa distância realizados pelos Vulcan que danificaram a pista, demoveram os oficiais argentinos de basear seus aviões de alta performance no local por medo de novos ataques, reforçando o argumento que a pista não seria adequada devido suas características construtivas, 4 polegadas de asfalto sobre rocha sólida. O argumento que a pista de Stanley não seria apropriada para a operação dos A-4 sem adequado preparo se mostrou errado quando logo após a guerra os britânicos operaram seus

próprios A-4 do local107.

Diversas análises posteriores à guerra dão conta que a operação de caças mais capazes no arquipélago, em apoio às operações marítimas seriam de suma importância para causar perdas irreparáveis nos escassos recursos aéreos britânicos que contavam com apenas 20 Harriers e Sea-Harries para as missões

de superioridade aérea e defesa da força tarefa108. O pequeno número de aviões,

105 Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta, l. 1509; Vita, Malvinas

82: cómo y por qué, 1278 Camogli, Batallas de Malvinas, 628. 106 Pereyra, “Clausewitz e a Guerra Aérea das Falklands/Malvinas”; Souza, "A Guerra que Foi

Possível pelas Malvinas". 107 Hanable, Case Studies in the Use of Land-Based Aerial Forces in Maritime Operations, 1939-

1990; Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic Decisions”; Anderson, The Falklands War 1982.

108 Hanable, Case Studies in the Use of Land-Based Aerial Forces in Maritime Operations, 1939-

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e as reduzidas capacidades de lançamento dos dois porta-aviões conseguiam prover uma cobertura das operações de desembarque de apenas 6 horas por noite, o limitado tempo de cobertura teria sido extremamente curto caso a aviação argentina pudesse contar com mais tempo em combate, porém estes muitas vezes lutavam com um olho nos navios outro no indicador de combustível.

A quarta diretriz diz respeito à condução da campanha defensiva. Esta campanha defensiva deve ser defensiva em intenção, mas ofensiva em forma, pressionando o oponente para que desista da guerra. Para isto seria necessário ameaçar ou tomar outro objeto, considerando cuidadosamente os impactos no outro país desta ação. Portanto não poderia ser algo que despertasse valores nacionalistas porem que tivesse algum valor. O beligerante com motivação positiva, no caso a Argentina, não conduziu nenhuma ação de ataque adicional, afim de pressionar a Inglaterra. Embora sem poder atacar a base britânica mais próxima, Ascensão, devido a constrangimentos diplomáticos, por ser uma base cedida aos norte-americanos, ou a constrangimentos operacionais, falta de capacidade de projeção de força em um teatro tão distante de seu território, a ação ficou restrita ao enfrentamento nas ilhas. A conquista e defesa da Geórgia do Sul, neste aspecto, depois de realizada a operação principal nas Malvinas atenderia em parte esta diretriz, haja vista que ocupar as pequenas ilhas, embora não ferisse diretamente o sentido nacional britânico, tão pouco era um objeto de valor que poderia fazer pressão sobre Londres, diferente de um alvo estratégico como a Ilha Ascensão, por exemplo.

Como discutido anteriormente, as atividades necessárias para o atendimento da terceira e quarta diretrizes são fortemente dependentes de forças navais, mais especificamente, da capacidade da força naval operar dispersa em dois ou três frentes diferentes: defendendo o objetivo, protegendo o território natal e impedindo o uso das linhas de comunicação marítima pelo inimigo.

A total inércia da força de superfície da marinha argentina e a participação desastrosa de seus submarinos comprometeram a possibilidade de sucesso da operação. Devido a negativa em atacar as linhas de suprimento britânicas, sobretudo com o Veinticinco de Maio, para evitar um mal-estar diplomático, a opção operacional adotada pela marinha argentina durante o conflito foi assumir a postura de “fleet in being”, evitando uma batalha decisiva mahaniana porém conduzindo uma guerra de atrito, buscando alvos de oportunidade ao largo da zona de exclusão britânica. O afundamento do Belgrano, fora da zona de exclusão britânica, colocou em xeque esta opção que havia sido adotada em detrimento de uma defesa aproximada da costa com o posicionamento dos navios junto às ilhas para atuar sob a cobertura da artilharia antiaérea argentina posicionada em terra e com apoio de sua aviação.

A Armada falhou em não aceitar que parte de seus navios operassem junto a costa ampliando as chances da Fortaleza Malvinas e novamente, após o afundamento do Belgrano, em posicionar navios junto à costa ou no estreito para auxiliar na defesa costeira. Ao priorizar uma opção operacional em detrimento das demais a

1990; Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic Decisions”; Anderson, The Falklands War 1982; Rivas, "Wings of the Malvinas" .

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marinha argentina não conseguiu contribuir para o atendimento simultâneo das duas ultimas diretrizes do mapa do plano de guerras limitadas. Se as forças fossem divididas, com a força de submarinos sendo usada para impedir o uso das linhas de comunicações, o posicionamento de algumas unidades junto as ilhas, próximas à portos ou no estreito, e a manutenção das demais unidades, incluindo o porta-aviões devido à sua importância geopolítica para a região, sendo mantidas na reserva como força em potência o papel atender as duas últimas diretrizes seria melhor exercido.

Uma avaliação dos navios combatentes argentinos nos seus GTs e dos navios britânicos na FT, entretanto, mostra que mesmo em caso de uma batalha mahaniana entre as duas frotas, apesar de parecer uma enorme desvantagem, a diferença não era assim tão grande como nos mostraram as tabelas 1 e 4 na segunda seção deste artigo. Embora a FT contasse com o dobro de navios que os GTs argentinos, 27 contra 13, e possuísse uma capacidade de deslocamento praticamente 3 vezes maior 140 mil toneladas contra 51 mil toneladas, a capacidade de lançamento de mísseis antinavio a partir dos navios britânicos era apenas 1,5 vezes superior à argentina. O advento dos mísseis e a evolução da tecnologia, alcance e tonelagem dos mesmos, propiciaram um incremento na capacidade de ataque, reduzindo a quantidade de disparos necessários para incapacitar ou afundar navios. Em efeitos práticos, isto significa que navios de tonelagem superior não exercem vantagem sobre meios menores, desde que possuam capacidades semelhantes de mísseis pois, “na era dos mísseis, as batalhas marítimas passaram a ser decididas pelo lado que aplica seus mísseis

mais efetivamente em termos relativos” 109 . Forças menores, mas bem posicionadas, podem ter a possibilidade de causar grandes efeitos

proporcionalmente ao seu tamanho110. Embora a quantidade, e qualidade, dos meios navais argentinos não fosse páreos para um enfrentamento em alto mar no conflito, seu emprego em uma posição mais protegida junto ao arquipélago poderia ter feito diferença.

A despeito de falhas estratégicas na condução do conflito, mesmo com a precipitação, a falta de interoperabilidade, as falhas na condução da diplomacia coercitiva e no estabelecimento de uma “Fortaleza Malvinas” os militares argentinos falharam em atingir o calcanhar de Aquiles de qualquer operação expedicionária, sua cadeia logística. Uma operação realizada a 14.000 quilômetros de seu território tem uma fragilidade intrínseca na sua linha de suprimentos. Tentativas foram feitas com os Camberras e C-130 modificados, porém um esforço mais efetivo usando meios navais não foi considerado. Para este emprego poderia ter sido usado a força de submarinos argentina, porém uma consequência operacional da precipitação foi o desvio do submarino Santa Fé, que se preparava em Mar del Plata para 60 dias de operação e apoio do desembarque nas Malvinas para, no dia 8 de abril, transportar homens e material para a Geórgia do Sul. Essa ação apressada forçou o emprego do submarino sem condições operacionais plenas, como pouca bateria, sem todos os lança-torpedos

109 Duarte, “A Conduta da Guerra na Era Digital e Implicações para o Brasil”.

110 Hughes, “Fleet Tactics and Coastal Combat”.

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disponíveis, sem radar e sem poder receber informes por rádio111. O Santa Fé foi tirado de ação em uma das maiores falhas da operação de um submarino, ser pego na superfície durante a batalha. Nessa operação, o submarino foi identificado, atacado e neutralizado por helicópteros britânicos, considerando que a Argentina tinha apenas outro submarino além deste, esse foi o desperdício de recurso escasso. O submarino restante, ARA San Luís, por sua vez falhara 3 vezes em disparar corretamente seus torpedos, dois contra navios e uma contra um

submarino, ao largo das ilhas e não tentando atritar a cadeia logística britânica112.

Corbett ressalta a centralidade de um Estado-Maior conjunto conduzindo as operações em articulação com a liderança política para o sucesso em uma guerra limitada, porém, o que foi observado no comando argentino durante o episódio foi algo essencialmente diferente disto. Embora a precipitação do início das hostilidades tenha contribuído em parte para uma falta de coordenação conjunta, grande parte desta característica deriva primeiro de uma Grande Estratégia, no sentido mais amplo, da argentina como um todo e em segundo de um plano de

campanha inexistente até abril113.

Algo que se considera dessas falhas de preparo, planejamento execução seria a cultural organização das forças armadas argentinas na época, que, assim, com na maior parte dos demais países sul-americanos, foram cunhadas mais por choques fronteiriços limitados e ações de estabilização interna do que grandes operações militares. Isso resultaria ainda em estruturas limitadas em recursos, infraestrutura e orçamento, bem como de baixa sinergia com suas elites civis, que

compunham a chancelaria, por exemplo114.

Esse ‘feudalismo militar’ não passou desapercebido das autoridades argentinas e

era um dos objetivos políticos de Galtieri quando assumiu a presidência115. No entanto, é necessário refletir se os argentinos seriam capazes de superar essas deficiências em direção de produzir alguma capacidade organizacional de ação

combinada entre suas unidades no calor do combate116.

A falta de interoperabilidade entre as forças armadas argentinas impactou muito a condução das operações defensivas durante o conflito, na maioria das vezes não haviam doutrinas de operações conjuntas e em algumas vezes ocorreram disputas por recursos como no caso da utilização da frágil cadeia logística até o arquipélago. O cúmulo do distanciamento das forças pode ser observado no

111 Lopes, O Código das Profundezas, l. 1501.

112 Harper, “Submarine Operations during the Falklands War”, 10.

113 Zarza, “Malvinas: The Argentine perspective of the Falkland’s conflict”, 12–13.

114 Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine

Strategic Decisions”, 46–50; Centeno, Blood and Debt. 115 Nietzel, “The Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic

Decisions”, 51–57; Cardoso, Kirschbaum, e Van der Kooy, Malvinas. La Trama Secreta, l. 72. 116 Zarza, “Malvinas: The Argentine perspective of the Falkland’s conflict”, 35; Nietzel, “The

Falklands War: Understanding the Power of Context Shaping Argentine Strategic Decisions”, 31.

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episódio da preparação dos detonadores das bombas empregadas nos ataques aos navios, onde a falta de troca de informações entre a FAA e o CANA não possibilitou que a maioria das bombas lançadas de aviões nos primeiros ataques à FT explodissem como se não bastasse as dificuldades operacionais de estarem baseados a 700 ou 800 quilômetros da zona de combate.

A contagem de perdas britânicas poderia ser muito maior que as anotadas caso o índice de detonações fosse maior. Os britânicos perderam 2 destróieres, 2 fragatas, um navio container e um navio de desembarque no conflito, destas perdas uma fragata a HMS Antelope foi perdida quando estava realizando o desarme de uma bomba não detonada, e a HMS Ardent após ter recebido 5 impactos diretos que não explodiram ter recebido novos impactos de Skyhawks do CANA com explosões. O próprio HMS Sheffield que entrou para a história como o primeiro navio afundado por um míssil disparado de um avião, foi danificado pela força cinética do impacto e pelo combustível do motor do míssil

que, também, não havia explodido117.

Entre impactos diretos que perfuraram o navio e não explodiram e bombas que ricochetearam em cascos ou conveses dos navios foram atingidos 11 embarcações diferentes, incluindo 1 destróier, 4 fragatas, 4 navios de desembarque de tropas, e dois navios tanque. Caso o ajuste dos detonadores fosse apenas 50% melhor este fato simplesmente dobraria o número de perdas britânicas. Este fato levou o marechal da RAF Lord Craig após o conflito a proferir a célebre frase "Six better fuses ad we would have lost", ou em uma tradução livre: “Seis detonadores melhores e nós teríamos perdido”. Porém o problema não era nos detonadores e sim no ajuste deficiente dos mesmos. Para evitar a artilharia antiaérea embarcada, os aviões argentinos voavam a baixa altitude e sem ajuste adequado dos detonadores, estes não explodiam por segurança devido a não terem realizado o número de revoluções mínimas ajustado no detonador. Esta característica, concebida para proteção da aeronave e do piloto, era conhecida do CANA mas fora negligenciada pela FAA e falta de interoperabilidade e troca de

informações impediu a disseminação da informação.118

117 Rivas, "Wings of the Malvinas"

118 Keys, “Six Better Fuses”.

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