Sobre o Marxismo na Linguística

download Sobre o Marxismo na Linguística

of 18

Transcript of Sobre o Marxismo na Linguística

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    1/18

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    2/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 2

    O que foi que mudou na lngua russa durante esse perodo? O vocabulrio dalngua russa mudou em certa medida; mudou no sentido de que enriqueceu com umaquantidade importante de novas palavras e expresses nascidas com a nova produosocialista, com o novo Estado, a nova cultura socialista, a nova sociedade, a novamoral, e enfim com o desenvolvimento da tcnica e da cincia; o sentido de uma srie

    de palavras e expresses modificou-se, adquirindo um novo significado; certo nmerode palavras antiquadas desapareceram do vocabulrio. No que diz respeito ao lxicofundamental e ao sistema gramatical que so a base da lngua, no somente no foramliquidados e substitudos depois da liquidao da infra-estrutura capitalista por umnovo lxico fundamental e por um novo sistema gramatical da lngua, mas foramconservados na sua integridade e no sofreram nenhuma modificao sria:mantiveram-se exatamente como base da lngua russa moderna.

    Prossigamos. A super-estrutura gerada pela infra-estrutura, mas isso nosignifica absolutamente que ela seja apenas o reflexo da infra-estrutura, que seja

    passiva, neutra, que permanea indiferente ao destino de sua infra-estrutura, aodestino das classes, ao carter do regime. Ao contrrio depois de ter vindo luz, ela setoma uma imensa fora ativa, ajuda ativamente sua infra-estrutura a se formar econsolidar, recorre a todos os meios para auxiliar o novo regime a dar o golpe de graana velha infra-estrutura e nas velhas classes, e a liquid-las.

    E no pode ser de outro modo. A super-estrutura criada pela infra-estruturaexatamente para servi-Ia, para ajud-la ativamente a se formar e consolidar, para lutarativamente a fim de liquidar a velha infra-estrutura caduca e sua velha super-estrutura. Basta que a super-estrutura renuncie a esse papel de auxiliar, basta-lhe

    passar de uma posio de defesa ativa de sua infra-estrutura para uma posio deindiferena relativamente a esta, basta adotar uma atitude idntica em face de todasas classes, para que perca sua qualidade e deixe de ser uma super-estrutura.

    Sob esse aspecto, a lngua difere radicalmente da super-estrutura. A lngua no gerada por tal ou qual infra-estrutura, velha ou nova, no interior de uma determinadasociedade mas por todo o transcurso da histria da sociedade e da histria das infra-estruturas ao longo dos sculos. Ela no criada por uma s classe, mas por toda asociedade, por todas as classes da sociedade, pelos esforos de centenas de geraes.Ela no criada para satisfazer s necessidades de uma s classe, mas de toda a

    sociedade, de todas as classes da sociedade. Ela criada justamente como lngua nicapara toda a sociedade e comum a todos os membros da sociedade, como lngua detodo o povo. Por isso, o papel auxiliar desempenhado pela lngua, como meio de oshomens se comunicarem entre si, no consiste em servir a uma classe em detrimentodas outras classes, mas em servir indiferentemente a toda a sociedade, a todas asclasses da sociedade. isso exatamente que explica que a lngua possa servirindiferentemente tanto ao velho regime agonizante, como ao novo regimeascendente, tanto velha infra-estrutura como a nova. tanto aos exploradores comoaos explorados.

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    3/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 3

    No um segredo para ningum que a lngua russa serviu tanto ao capitalismorusso e cultura burguesa russa antes da Revoluo de Outubro, como serve hoje aoregime socialista e cultura socialista da sociedade russa.

    Deve-se dizer a mesma coisa do ucraniano, do bielorusso, do uzbeque, do kazakh,

    do georgiano, do armnio, do estoniano, do leto, do lituano, do moldavo, do trtaro,do azerbaijano, do bachkir, do turcomano e das outras lnguas das naes soviticasque tanto serviram ao velho regime burgus dessas naes como servem hoje ao novoregime socialista.

    E no pode ser de outro modo. para isso que a lngua existe, para isso ela foicriada: para servir sociedade em seu conjunto, de instrumento que permita aoshomens comunicar-se entre si; para ser comum aos membros da sociedade e nicapara a sociedade, para servir igualmente aos membros da sociedade,independentemente de sua situao de classe. Basta que a lngua abandone essa

    posio de instrumento comum a todo o povo, basta que a lngua se ponha a preferir ea apoiar um grupo social qualquer em detrimento dos outros grupos sociais, para queela perca sua validade, para que deixe de ser o meio de os homens se comunicarementre si, para que se transforme numa gria de um grupo social qualquer, se degrade ese condene a desaparecer.

    Desse ponto de vista, distinguindo-se fundamentalmente da super-estrutura, alngua no se distingue, porm, dos meios de produo, das mquinas por exemplo,que so to indiferentes s classes como a lngua e que podem servir indiferentementetanto ao regime capitalista como ao regime socialista.

    Prossigamos. A super-estrutura o produto de uma poca durante a qual vive eage uma infra-estrutura econmica determinada. Eis porque a super-estrutura novive muito tempo; liquidada e desaparece ao mesmo tempo que a infra-estruturadeterminada.

    A lngua, ao contrrio, o produto de toda uma srie de pocas durante as quaisse forma, se enriquece, se desenvolve e ganha brilho. Eis porque a lngua viveincomparavelmente mais tempo do que qualquer infra-estrutura ou qualquer super-estrutura. justamente o que explica que o nascimento e a liquidao, no somentede uma infra-estrutura e de sua super-estrutura, mas de muitas infra-estruturas e desuas super-estruturas correspondentes no conduzem, na histria, liquidao deuma lngua determinada, liquidao de sua estrutura e ao nascimento de uma lnguanova com um vocabulrio novo e um sistema gramatical novo.

    Mais de cem anos so transcorridos depois da morte de Puchkin. Desde ento, naRssia, o regime feudal e o regime capitalista foram liquidados e nasceu um terceiro, oregime socialista. Portanto, duas infra-estruturas, suas super-estruturas foramliquidadas e uma nova infra-estrutura socialista nasceu com sua nova super-estrutura.Contudo, se consideramos a lngua russa, por exemplo, durante esse longo perodo elano sofreu nenhuma transformao fundamental e a lngua russa moderna difere

    pouco da de Puchkin por sua estrutura.

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    4/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 4

    O que mudou na lngua russa desde aquela poca? O vocabulrio da lngua russase enriqueceu notavelmente nesse lapso de tempo; grande quantidade de palavrasantiquadas desapareceu do vocabulrio; mudou o sentido de um nmero considervelde palavras; o sistema gramatical foi melhorado. No concernente estrutura da lnguade Puchkin, ela se conservou em toda a sua essncia, com seu sistema gramatical e seu

    lxico fundamental, como base da lngua russa moderna.

    E isso perfeitamente compreensvel. De fato, de que serviria que depois do cadaconvulso, a estrutura existente da lngua, seu sistema gramatical e seu lxicofundamental fossem destrudos e substitudos por outros novos, como acontecehabitualmente com a super-estrutura? De que serviria que "gua", "terra","montanha", "floresta", "peixe", "homem"' "andar", "fazer", "produzir", "comerciar",etc., no se chamassem mais gua, terra, montanha, etc., mas outra coisa? A quemaproveitaria que as variaes das palavras na lngua e a disposio das palavras nafrase no se fizessem segundo a gramtica existente, mas segundo uma outra,

    inteiramente diferente? Que proveito tiraria a revoluo de semelhante transformaoradical nas lnguas? Via de regra a histria no faz nada de essencial sem que haja paraisso uma necessidade particular. Cabe perguntar para que seria necessria uma taltransformao radical na lngua, uma vez que est provado que a lngua existente, comsua estrutura, satisfaz perfeitamente, no essencial, s necessidades do novo regime?Pode-se e deve-se destruir a velha super-estrutura e substitu-la por uma nova emalguns anos, para deixar o campo livre ao desenvolvimento das foras produtivas dasociedade, mas como destruir a lngua existente e criar em seu lugar uma lngua novaem alguns anos, sem provocar anarquia na vida social, sem ameaar a sociedade dedesagregao? Quem pois, alm dos don Quixotes, pode atribuir-se uma tal tarefa?

    Enfim, h ainda uma diferena radical entre a super-estrutura e a lngua. A super-estrutura no est ligada diretamente produo, atividade produtiva do homem.Ela s est ligada produo indiretamente, por meio da economia, por meio da infra-estrutura. Eis porque a super-estrutura no reflete as mudanas no nvel dedesenvolvimento das foras produtivas imediata e diretamente, mais depois dasmudanas na infra-estrutura, por refrao das mudanas da produo nas mudanasda infra-estrutura. Isso quer dizer que a esfera de ao da super-estrutura estreita elimitada.

    A lngua, ao contrrio, est ligada diretamente atividade produtiva do homem eno somente sua atividade produtiva, mas tambm a qualquer outra atividade dohomem em todas as esferas de seu trabalho, desde a produo at a infra-estrutura,desde a infra-estrutura at a super-estrutura. Eis porque a lngua reflete as mudanasda produo imediata e diretamente, sem esperar as mudanas na infra-estrutura. Eisporque a esfera de ao da lngua, que engloba todos os domnios da atividade dohomem, muito mais vasta e mais variada que a esfera de ao da super-estrutura.Mais ainda, ela quase ilimitada.

    isso que explica, sobretudo, que a lngua, seu vocabulrio propriamente dito, seencontre em estado de modificao quase ininterrupta. O desenvolvimentoininterrupto da indstria e da agricultura, do comrcio e dos transportes, da tcnica e

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    5/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 5

    da cincia, exige da lngua que ela enriquea seu vocabulrio com novas palavras eexpresses indispensveis a seu trabalho. E a lngua, que reflete diretamente essasnecessidades, enriquece seu vocabulrio com novas palavras, aperfeioa seu sistemagramatical.

    Portanto:

    a) um marxista no pode considerar a lngua como uma super-estrutura sobreuma infra-estrutura;

    b) confundir a lngua com uma super-estrutura cometer um erro.

    Pergunta: exato que a lngua sempre teve e conserva um carter de classe,que no existe uma lngua comum e nica para a sociedade, uma lngua que no tenhaum carter de classe mas que seja a de todo o povo?

    RESPOSTA: No, no exato.

    No difcil compreender que numa sociedade sem classes, no pode haver umalngua de classe. O regime do comunismo primitivo no conhecia classes, porconseguinte, nele no podia haver lngua de classe, nele a lngua era comum, nicapara toda a coletividade. A objeo segundo a qual deve-se entender por classe toda acoletividade humana, inclusive a coletividade comunal primitiva, no uma objeo,mas um jogo de palavras que no merece ser refutado.

    Quanto ao desenvolvimento posterior das lnguas, das lnguas dos cls slnguas das tribos, das lnguas das tribos s lnguas dos povos, e das lnguas dos povoss lnguas nacionais em toda parte, em todas as fases de seu desenvolvimento, alngua, como meio de os homens se comunicarem entre si na sociedade, era comum enica para a sociedade, servindo do mesmo modo aos membros da sociedade,independentemente de suas condies sociais.

    No me refiro aqui aos imprios do perodo da escravido e da Idade Mdia,como, por exemplo, o imprio de Ciro e de Alexandre o Grande ou ainda o impriode Csar e de Carlos Magno que no tinham base econmica prpria e eramformaes militares-administrativas, efmeras e instveis. Estes imprios no somenteno tinham, como no podiam ter uma lngua nica para o imprio e inteligvel paratodos os membros do imprio. Representavam conglomerados de tribos e de povosque tinham sua prpria vida e sua prpria lngua. Por isso, no me refiro a estesimprios ou a outros que lhes so semelhantes, mas s tribos e aos povos que faziamparte do imprio e que tinham sua base econmica e sua lngua formada h muitotempo. A histria mostra que as lnguas destas tribos e destes povos no tinham umcarter de classe, que eram lnguas de todo o povo, comuns s tribos e aos povos, einteligveis para eles.

    Certamente havia, ao lado dos dialetos, modismos locais, mas eram dominados e

    subordinados pela lngua nica e comum, da tribo ou do povo.

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    6/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 6

    Mais tarde, com o aparecimento do capitalismo, a liquidao dodesmembramento feudal e a formao de um mercado nacional, os povos setransformaram em naes e as lnguas dos povos em lnguas nacionais. A histriamostra que essas lnguas nacionais no so lnguas de classe mas lnguas comuns aoconjunto do povo, comuns a todos os membros da nao e nicas para a nao.

    Foi dito acima que a lngua como meio de os homens se comunicarem entre si nasociedade, serve paralelamente a todas as classes da sociedade e manifesta sob esseaspecto uma espcie de indiferena relativamente s classes. Mas as pessoas, osdiferentes grupos sociais, as classes esto longe de ser indiferentes lngua. Elas seesforam para utilizar a lngua no seu interesse, para impor-lhe seu vocabulrioparticular, sua terminologia particular, suas expresses particulares. As camadassuperiores das classes possuidoras, que se isolaram do povo que odeiam o povo; aaristocracia dos nobres, as camadas superiores da burguesia, se distinguemespecialmente sob esse aspecto. Vemos criar-se grias, dialetos de "classe", "lnguas"

    de salo. Na literatura, esses dialetos e grias so s vezes erroneamente consideradoscomo lnguas: "a lngua nobre", "a lngua burguesa", em oposio "lngua proletria, "lngua camponesa". Por estranho que isso possa parecer, por essa razo quecertos de nossos camaradas chegaram concluso de que a lngua nacional umafico, que somente as lnguas de classe existem na realidade.

    Creio no haver nada mais errneo do que essa concluso. Podemos consideraresses dialetos e grias como lnguas? Por certo que no. Np podemos fazer isso, emprimeiro lugar: porque esses dialetos e essas grias no possuem seu sistemagramatical nem seu lxico fundamental, tomam-nos emprestado lngua nacional. Em

    segundo lugar, porque essas lnguas e essas grias tm uma esfera de aplicao estreitaentre os membros das camadas superiores desta ou daquela classe e no soabsolutamente vlidas como meio de os homens se comunicarem entre si, para asociedade em seu conjunto. Que tm eles, ento? Tm um certo nmero de palavrasespecficas que refletem os gostos especficos da aristocracia ou das camadassuperiores da burguesia; certo nmero de expresses e de ditos que se distinguem porseu carter rebuscado, precioso e isento das expresses e ditos "grosseiros" da lnguanacional; finalmente, certo nmero de palavras estrangeiras. Quanto ao essencial, isto, a maioria esmagadora das palavras e o sistema gramatical, tomado emprestado lngua de todo o povo, lngua nacional. Por conseguinte, os dialetos e grias

    representam ramificaes da lngua nacional de todo o povo, so privados de qualquerindependncia lingstica e destinados a vegetar. Pensar que os dialetos e griaspossam se transformar em lnguas independentes, capazes de afastar e de substituir alngua nacional, perder a perspectiva histrica e abandonar as posies do marxismo.

    Alude-se a Marx, cita-se uma passagem de seu artigo "So-Max" em que ele dizque os burgueses tm sua "lngua prpria", que essa lngua " produto da burguesia",que ela marcada pelo esprito do mercantilismo, da venda e da compra. Por meiodesta citao, certos camaradas querem demonstrar que Marx afirmava por assimdizer "o carter de classe da lngua", que ele negava a existncia de uma lnguanacional nica. Se esses camaradas abordassem a questo objetivamente, deveriamter citado uma outra passagem desse mesmo artigo "So-Max", em que Marx,

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    7/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 7

    tratando da questo dos caminhos da formao da lngua nacional nica, fala da"concentrao dos dialetos numa lngua nacional nica, em funo da concentraoeconmica e poltica".

    Marx reconhecia portanto a necessidade de uma lngua nacional nica como

    forma superior qual os dialetos esto subordinados como forma inferior.

    Que pode ser, nesse caso, a lngua dos burgueses que, segundo Marx, ", oproduto da burguesia"? Marx a considerava como uma lngua semelhante lnguanacional, possuindo uma estrutura lingstica prpria?

    Podia ele consider-la como uma lngua assim ? No, certamente! Marx queriadizer simplesmente que os burgueses infestaram a lngua nacional nica com seuvocabulrio de mercadores, que, por conseguinte, os burgueses tm sua gria demercadores.

    Da se conclui que aqueles camaradas desvirtuaram a posio de Marx. E adesvirtuaram porque citaram Marx, no como marxistas, mas como escolsticos, noindo ao fundo do problema.

    Alude-se a Engels, cita-se palavras de Engels na sua obra "A situao da classeoperria na Inglaterra:

    "...A classe operria tornou-se aos poucos um povo inteiramentediferente da burguesia inglesa"; "os operrios falam um outro dialeto,

    tm outras idias e concepes, outros costumes e outros princpiosde moral, outra religio e outra poltica diferente da burguesia".

    Na base dessa citao, certos camaradas deduzem que Engels negava anecessidade de uma lngua nacional comum a todo o povo, que ele afirmava, porconseguinte, "o carter de classe" da lngua... A verdade que Engels no fala aqui dalngua, mas do dialeto, dando-se perfeitamente conta que o dialeto, como ramificaoda lngua nacional, pode substitu-la. Mas esses camaradas, visivelmente, no encaramcom bons olhos a existncia de uma diferena entre lngua e dialeto...

    claro que essa citao empregada fora de propsito, pois Engels no fala aquiem "lnguas de classe", mas sobretudo das idias, das concepes, dos costumes, dosprincpios de moral, da religio, da poltica de classe. perfeitamente justo que asidias, as concepes, os costumes, princpios de moral, a religio, a poltica sejamdiametralmente opostos nos burgueses e nos proletrios. Mas o que tem a ver comisso a lngua nacional ou "o carter de classe" da lngua? Ser que a existncia decontradies de classes na sociedade pode servir de argumento a favor do carter declasse da lngua ou contra a necessidade de uma lngua nacional nica ? O marxismodiz que a comunidade de lngua um dos traos essncias da nao, sabendoperfeitamente, por outro lado, que dentro das naes existem contradies de classe.Aceitam estes camaradas esta tese do marxismo? Alude-se a Lafargue para dizer que

    na sua brochura "A lngua francesa antes e depois da revoluo", Lafargue reconhece"o carter de classe" da lngua e que ele nega, por assim dizer, a necessidade de uma

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    8/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 8

    lngua nacional comum a todo o povo. No exato. Lafargue fala, efetivamente, da"lngua nobre", ou "aristocrtica", e das "grias" das diferentes camadas da sociedade.Mas esses camaradas esquecem que Lafargue, que se desinteressa pelo problema dadiferena entre a lngua e a gria e que chama aos dialetos ora "lngua artificial", oragria", afirma claramente em sua brochura que a "lngua artificial, que distinguia a

    aristocracia... era extrada da vulgar, falada pelos burgueses e pelos artesos, a cidadee o campo".

    Lafargue reconhece pois a existncia e a necessidade de uma lngua de todo opovo, compreendendo perfeitamente o carter subordinado e a dependncia da"lngua aristocrtica" e dos outros dialetos e grias em face da lngua de todo o povo.

    Dai se conclui que a referncia a Lafargue no cumpre seu objetivo.

    Alega-se como argumento que, num certo momento, na Inglaterra, os feudais

    ingleses falaram "durante sculos" a lngua francesa, enquanto o povo ingls falava alngua inglesa, e pretende-se que esta circunstncia seja um argumento a favor do"carter de classe" da lngua, e contra a necessidade de uma lngua comum a todo opovo. Isso no um argumento mas uma simples anedota. Em primeiro lugar, noeram todos os feudais, mas um grupo estreito da aristocracia feudal inglesa na cortereal e nos condados que falava ento o francs. Em segundo lugar, eles no falavamuma lngua "de classe", mas a lngua francesa comum, a lngua de todo o povo francs.Em terceiro lugar, sabe-se que essa predileo pela lngua francesa desapareceu maistarde sem deixar sinal, dando lugar lngua comum a todo o povo ingls. Crem essescamaradas que os feudais ingleses e o povo ingls se tenham entendido "durante

    sculos" com a ajuda de tradutores, que os feudais ingleses no se serviam da lnguainglesa, que no existia nessa poca uma lngua inglesa comum a todo o povo, que ofrancs era ento na Inglaterra algo mais que uma lngua de salo s tendo curso noscrculos estreitos das camadas superiores da aristocracia inglesa? Como se pode, nabase de tais "argumentos" anedticos, negar a existncia e a necessidade de umalngua comum a todo o povo?

    Durante algum tempo, os aristocratas russos, tambm, se entretiam falandofrancs na corte dos tzares e nos sales. Orgulhavam-se de balbuciar palavrasfrancesas ao falar russo, de no saber falar russo sem o sotaque francs. Quer isso

    dizer que nessa poca, na Rssia, no existia uma lngua comum a todo o povo, que alngua comum a todo o povo era ento uma fico, e as "lnguas de classe" umarealidade? Nossos camaradas cometem aqui pelo menos dois erros. O primeiro erroconsiste em que confundem a lngua com a super-estrutura. Pensam que se a super-estrutura tem um carter de classe, a lngua, tambm, no deve ser comum a todo opovo, mas deve ter um carter de classe. Contudo, j disse acima que a lngua e asuper-estrutura so duas noes diferentes, que um marxista no pode admitir que seconfundam.

    O segundo erro consiste no fato de que esses camaradas consideram a oposioentre os interesses da burguesia e os do proletariado, sua encarniada luta de classes,como a desagregao da sociedade, como a ruptura de todos os laos entre as classeshostis. Na sua opinio, j que a sociedade se desagregou e no existe mais sociedade

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    9/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 9

    nica, mas somente classes, no preciso uma lngua nica para a sociedade, no preciso uma lngua nacional. Que resta pois se a sociedade se desagregou e se noexiste mais lngua nacional comum a todo o novo? Restam as classes e as lnguas declasse". Naturalmente, cada "lngua de classe" ter sua gramtica "de classe": umagramtica "proletria", outra gramtica "burguesa". verdade que tais gramticas no

    existem na realidade. Mas isso no importa a estes camaradas: eles crem que um diahaver tais gramticas.

    Num dado momento, tivemos "marxistas" que afirmavam que as estradas deferro que permaneceram em nosso pas depois da Revoluo de Outubro eramburguesas, e que no convinha a ns, marxistas, nos utilizarmos delas, que era precisodestru-las e construir novas estradas ferro, "proletrias". Isso lhes valeu o apelido de"trogloditas"...

    claro que essa viso primitiva, anarquista, da sociedade, das classes, da lngua,

    nada tem de comum com o marxismo. Mas ela existe, sem nenhuma dvida, econtinua a viver na cabea de certos camaradas nossos que se embrulharam nesseproblema.

    evidentemente falso que, em conseqncia da luta de classes encarniada, asociedade se tenha desagregado em classes que no so mais ligadas economicamenteuma outra dentro da prpria sociedade. Ao contrrio,enquanto existir o capitalismo,os burgueses e os proletrios estaro ligados entre si por todos os fios econmicos,como elementos da mesma sociedade capitalista. Os burgueses no podem viver eenriquecer sem ter assalariados sua disposio; os proletrios no podem continuar

    a existir sem empregar-se com os capitalistas. A ruptura de todos os laos econmicosentre eles significa cessar toda produo, e cessar toda produo leva morte dasociedade, morte das prprias classes. claro que nenhuma classe querer marcharpara sua destruio. Eis porque a luta de classes, por mais violenta que seja, no podelevar desagregao da sociedade. Somente a ignorncia em matria de marxismo e aincompreenso total da natureza da lngua poderiam sugerir a certos camaradasnossos a fbula da desagregao da sociedade, das "lnguas de classe", das gramticas"de classe.

    Alude-se, alm disso, a Lnin e recorda-se que Lnin reconhecia a existncia de

    duas culturas sob o capitalismo, a cultura burguesa e a cultura proletria, que a palavrade ordem de cultura nacional sob o capitalismo era uma palavra de ordemnacionalista. Tudo isso exato e Lnin tinha nisso inteira razo. Mas o que tem a vercom isso o "carter de classe" da lngua? Referindo-se as palavrasde Lnin concernentes s duas culturas sob o capitalismo, estes camaradas querem,visivelmente, persuadir o leitor de que a existncia do duas culturas na sociedade acultura burguesa e a cultura proletria significa que deve haver tambm duaslnguas, porque a lngua est ligada cultura, que, por conseguinte, Lnin nega anecessidade de uma lngua nacional nica, que ele , por conseguinte, pelas lnguas"de classe". O erro desses camaradas consiste aqui no fato de que identificam econfundem a lngua com a cultura. Contudo, a lngua e a cultura so duas coisasdiferentes. A cultura pode ser burguesa ou socialista. Alngua, esta, como meio de

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    10/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 10

    comunicao, sempre uma lngua comum a todo o povo e tanto pode servir culturaburguesa como cultura socialista. No um fato que as lnguas russa, ucraniana,usbeca, servem hoje cultura socialista dessas naes, do mesmo modo que serviam sua cultura burguesa antes da Revoluo de Outubro? Esses camaradas se enganamportanto redondamente ao afirmar que a existncia de duas culturas diferentes leva

    formao de duas lnguas diferentes e negao da necessidade de uma lngua nica.

    Falando de duas culturas, Lnin partia exatamente da tese de que a existncia deduas culturas no pode conduzir negao de uma lngua nica e formao de duaslnguas, de que a lngua deve ser nica. Quando os homens do Bundpuseram-se aacusar Lnin de ter negado a necessidade de uma lngua nacional e de considerar acultura como "no-nacional,Lnin, como sabido, protestou violentamente e declarouque lutava contra a cultura burguesa e no contra a lngua nacional cuja necessidadeera para ele indiscutvel. estranho que certos camaradas nossos tenham comeado aseguir as pegadas dos homens do Bund.

    Quanto lngua nica, cuja necessidade se pretende que Lnin tenha negado, preciso referir-se s seguintes palavras de Lnin:

    "A lngua um meio essencial de comunicao entre os homens: aunidade da lngua e seu desenvolvimento sem obstculos so uma dascondies essenciais para as trocas comerciais verdadeiramente livrese amplas, correspondentes ao capitalismo contemporneo, para umagrupamento livre e amplo da populao em todas as diversasclasses".

    Da se conclui que esses estimados camaradas desvirtuaram as idias de Lnin.

    Alude-se finalmente a Stlin. Cita-se as palavras de Stlin dizendo que "aburguesia e seus partidos nacionalistas foram e continuam sendo, durante esteperodo, a principal fora dirigente dessas naes". Tudo isso exato. A burguesia eseu partido nacionalista dirigem efetivamente a cultura burguesa, do mesmo modoque o proletariado e seu partido internacionalista dirigem a cultura proletria. Masque tem a ver com isso o "carter de classe" da lngua? Ignoram esses camaradas quea lngua nacional uma forma da cultura nacional, que a lngua nacional pode servirtanto cultura burguesa como cultura socialista? Ignoram esses camaradas aconhecida tese dos marxistas, segundo a qual as culturas atuais russa, ucraniana,bielorussa e outras so socialistas por seu contedo e nacionais pela forma, isto , pelalngua? Concordam eles com essa tese marxista?

    O erro de nossos camaradas, reside em que no vm a diferena entre a cultura ea lngua e no compreendem que o contendo da cultura se modifica em cada perodonovo do desenvolvimento da sociedade, enquanto a lngua permanece, no essencial, amesma durante vrios perodos e serve indiferentemente nova cultura e velhacultura.

    Portanto:

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    11/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 11

    1. a lngua, como meio de comunicao, sempre foi e continua sendo nicapara a sociedade e comum a todos os membros da sociedade;2. a existncia dos dialetos e das grias no prejudica, mas confirma aexistncia de uma lngua comum a todo o povo, de uma lngua da qual essesdialetos e grias so ramificaes e qual esto subordinados;

    3. a tese sobre o carter de classe da lngua uma tese errnea, nomarxista.

    Pergunta: Quais so os traos caractersticos da lngua?

    RESPOSTA: A LNGUA faz parte dos fenmenos sociais que se manifestam aolongo da existncia da sociedade. Ela nasce e se desenvolve com o nascimento e odesenvolvimento da sociedade. Ela morre ao mesmo tempo que a sociedade. No hlngua fora da sociedade. Eis porque no se pode compreender a lngua e as leis de seudesenvolvimento seno estudando a lngua em ligao indissolvel com a histria da

    sociedade, com a histria do povo a que pertence a lngua estudada e que seucriador e portador.

    A lngua um meio, um instrumento, com o auxlio do qual os homens secomunicam entre si, trocam seus pensamentos e chegam a se compreendermutuamente. Diretamente ligada ao pensamento, a lngua registra e fixa em palavras eem arranjos de palavras, em frases os resultados do trabalho do pensamento, os xitosdo trabalho de conhecimento do homem e torna assim possvel a troca depensamentos na sociedade humana.

    A troca de pensamentos uma necessidade permanente e vital, porque sem essatroca impossvel coordenar as aes comuns dos homens na luta contra as foras danatureza, na luta pela produo dos bens materiais indispensveis, impossvel obterxitos na atividade produtiva da sociedade, e, por conseguinte, impossvel a prpriaexistncia da produosocial. Portanto, sem uma lngua inteligvel para a sociedade ecomum a todos os seus membros, a sociedade cessa a produo, se desagrega e deixade existir como sociedade. Nesse sentido, a lngua, sendo um instrumento decomunicao, ao mesmo tempo um instrumento de luta e de desenvolvimento dasociedade.

    sabido que todas as palavras de que se compe a lngua formam no seuconjunto o que se chama o vocabulrio. O essencial no vocabulrio, o lxicofundamental que tem por sua vez como ncleo todos os termos radicais. O lxicofundamental muito menos vasto que o vocabulrio, mas vive durante muito tempo,durante sculos, e serve de base formao de palavras novas. O vocabulrio reflete oestado da lngua; quanto mais rico e variado o vocabulrio, mais rica e desenvolvida a lngua.

    Entretanto, tomado isoladamente, o vocabulrio no forma ainda a lngua, antes o material de construo da lngua. Da mesma forma que os materiais deconstruo no formam o edifcio, embora seja impossvel construir sem eles, o

    vocabulrio no constitui a prpria lngua, embora sem ele no seja concebvelnenhuma lngua. Mas o vocabulrio se reveste da maior importncia quando entra no

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    12/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 12

    domnio da gramtica que fixa as regras da variao das palavras, as regras de suadisposio nas frases e d assim lngua um carter harmonioso e racional. Agramtica (morfologia, sintaxe) um conjunto de regras sobre a variao das palavrase sobre a disposio das palavras na frase. Em conseqncia, precisamente graas gramtica que a lngua pode dar ao pensamento humano um invlucro material: o da

    lngua.

    O trao caracterstico da gramtica, que ela fornece as regras da variao daspalavras, tendo em vista, no as palavras concretas, mas as palavras em geral privadasde todo carter concreto; ela fornece as regras da formao das frases tendo em vistano determinadas frases concretas, por exemplo, um sujeito concreto, um predicadoconcreto, etc., mas, em geral, toda espcie de frases, independentemente da formaconcreta de tal ou qual frase. Por conseguinte, fazendo abstrao do particular e doconcreto tanto nas palavras como nas proposies, a gramtica toma daquilo que hde geral na base das variaes das palavras e de sua disposio frases e tira disso as

    regras, as leis gramaticais. A gramtica o resultado de um longo trabalho deabstrao do pensamento humano, o expoente de xitos imensos do pensamento.

    Sob esse aspecto a gramtica lembra a geometria que determina suas leis,fazendo abstrao dos objetos concretos, considerando os objetos como corposprivados de todo carter concreto e estabelecendo entre eles relaes que no sorelaes concretas entre determinados objetos concretos, mas relaes entre corposem geral privados de qualquer carter concreto.

    Ao contrrio da super-estrutura que no est ligada produo diretamente, mas

    por meio da economia, a lngua est diretamente ligada atividade produtiva dohomem, bem como a toda e qualquer atividade em todas as esferas de seu trabalho,sem exceo. Assim, o vocabulrio, como elemento mais sensvel s transformaes,encontra-se em estado de transformao quase perpetua; deve-se notar quediferentemente da super-estrutura, a lngua no precisa aguardar a liquidao da infra-estrutura ela modifica seu vocabulrio antes da liquidao da infra-estrutura eindependentemente do estado desta ltima.

    Todavia, o vocabulrio da lngua no se transforma, como a super-estrutura, pormeio da supresso do antigo e da edificao do novo, mas enriquecendo o vocabulrio

    existente com palavras novas que se formaram em ligao com as mudanas doregime social, com o desenvolvimento da produo, da cultura, da cincia, etc. Se bemque o vocabulrio perca, via de regra, uma certa quantidade de palavras envelhecidas,ele se enriquece com uma quantidade muito mais elevada de palavras novas. No quediz respeito ao lxico fundamental, ele se mantm no essencial e utilizado como basedo vocabulrio da lngua.

    Isto compreensvel. No absolutamente necessrio destruir o lxicofundamental se ele pode ser utilizado com xito durante vrios perodos histricos,sem nem mesmo falar do fato de que a destruio do fundo principal do vocabulrio,acumulado durante sculos, considerando-se a impossibilidade de criar num curtolapso de tempo um novo fundo principal do vocabulrio, conduziria a paralisar a lnguaa provocar uma desorganizao total das relaes entre os homens.

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    13/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 13

    O sistema gramatical da lngua muda de modo ainda mais lento que o lxicofundamental. Elaborado ao longo das pocas e formando um todo nico com a lngua,o sistema gramatical muda ainda mais lentamente que o lxico fundamental.Certamente, ele sofre mudanas com o tempo, aperfeioa-se, melhora e precisa suasregras, se enriquece com novas regras, mas as bases do sistema gramatical se

    conservam durante muito tempo, porque, como a histria demonstra, elas podemservir com xito sociedade durante pocas.

    Assim, a estrutura gramatical da lngua e seu lxico fundamental constituem abase da lngua, a essncia de seu carter especfico.

    A histria revela a grande estabilidade e a resistncia imensa da lngua assimilao forcada. Em lugar de explicar esse fenmeno certos historiadores nofazem mais do que se espantar. Mas no h nisso nenhum motivo de espanto. Aestabilidade da lngua se explica pela estabilidade de seu sistema gramatical e do seu

    lxico-fundamental. Durante centenas de anos, os assimiladores turcos se esforarampor mutilar, destruir e aniquilar as lnguas dos povos balcnicos. Durante esse perodoo vocabulrio das lnguas balcnicas sofreu srias modificaes, adotouumaquantidade no desprezvel de palavras e expresses turcas, houve "convergncias" e"divergncias", mas as lnguas balcnicas resistiram sobreviveram. Por que? Porque osistema gramatical e o lxico fundamental dessas lnguas conservaram-se no essencial.

    Resulta de tudo isso que a lngua, sua estrutura, no podem ser consideradascomo o produto de uma determinada poca. A estrutura da lngua, seu sistemagramatical e o fundo principal do vocabulrio so o produto de muitas pocas.

    Deve-se compreender que os elementos da lngua moderna se formaram na maisremota antiguidade antes da poca escravagista. Tratava-se de uma lngua poucocomplicada, com um vocabulrio muito pobre mas com seu prprio sistemagramatical, primitivo verdade, mas que no deixava de ser por isso um sistemagramatical.

    O desenvolvimento posterior da produo, o surgimento das classes, oaparecimento da escrita; o nascimento do Estado, que necessitava para administrar deuma correspondncia mais ou menos bem cuidada; o desenvolvimento do comrcio,que precisava mais ainda de uma correspondncia bem cuidada; o aparecimento daimprensa, o desenvolvimento da literatura, tudo isso trouxe grandes mudanas aodesenvolvimento da lngua. Enquanto isso, as tribos e os povos se desmembravam e sedispersavam, confundiam-se e se mesclavam e, mais tarde, se deu o aparecimento daslnguas nacionais e dos Estados nacionais, produziram-se convulses revolucionrias,os velhos regimes sociais foram substitudos por novos. Tudo isso trouxe ainda maioresmodificaes lngua e ao seu desenvolvimento.

    Mas seria um erro grosseiro pensar que o desenvolvimento da lngua se deu domesmo modo que o da super-estrutura: por meio da destruio do que existe e daedificao do novo. Na realidade, o desenvolvimento da lngua se deu no por meio da

    destruio da lngua existente e da formao de uma lngua nova, mas pelodesenvolvimento e aperfeioamento dos principais elementos da lngua existente.

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    14/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 14

    Deve-se notar que a passagem de uma qualidade da lngua a outra no se deu pelaexploso, nem pela destruio brutal do velho e a criao do novo, mas por umaacumulao progressiva e prolongada de elementos, de nova qualidade, da estruturanova da lngua, atravs do desaparecimento gradual dos elementos da velhaqualidade.

    Diz-se que a teoria do desenvolvimento da lngua por fases uma teoria marxista,porque ela reconhece a necessidade de exploses bruscas como condio dapassagem da lngua, da velha qualidade qualidade nova. Isso no exato,certamente, porque seria difcil encontrar qualquer coisa de marxista nessa teoria. E sea teoria do desenvolvimento por fases reconhece, de fato, exploses bruscas nahistria do desenvolvimento da lngua, pior para ela. O marxismo no reconhecenenhuma exploso brusca na histria do desenvolvimento da lngua, nenhumdesaparecimento da lngua existente nem qualquer formao sbita de uma lnguanova. Lafargue no tinha razo ao falar "de uma brusca revoluo da lngua entre 1789

    e 1794" na Frana. ("Ver a brochura de Lafargue: "A lngua francesa antes e depois darevoluo"). No houve nessa ocasio nenhuma revoluo da lngua na Frana, emenos ainda revoluo brutal. Certamente, durante aquele perodo o vocabulrio dalngua francesa enriqueceu-se com novas palavras e novas expresses, perdeu certaquantidade de termos envelhecidos, certas palavras mudaram de sentido, e acabou-se.Mas mudanas desse gnero no decidem absolutamente da sorte da lngua. Oprincipal numa lngua seu sistema gramatical e seu lxico fundamental. Mas osistema gramatical e o lxico fundamental da lngua francesa, ao contrrio,conservaram-se sem modificaes notveis e no somente se conservaram, mascontinuam a existir em nossos dias na lngua francesa contempornea.

    No preciso nem mesmo dizer que para liquidar a lngua existente e para formaruma nova lngua nacional ("revoluo brutal na lngua!) um espao de cinco, seis anos ridiculamente curto, isso exige sculos.

    O marxismo entende que a passagem de uma lngua da velha qualidade a umaqualidade nova se produz no pela exploso, no pela destruio da lngua existente ea constituio de uma lngua nova, mas pela acumulao gradual dos elementos deuma nova qualidade, portanto, pelo desaparecimento gradual dos elementos da velhaqualidade.

    preciso dizer, em inteno dos camaradas apreciadores de exploses, que a leida passagem da velha qualidade qualidade nova pela exploso, no somente nopode ser aplicada histria do desenvolvimento da lngua, mas ainda que no sempre aplicvel aos outros fenmenos sociais, quer se trate das infra-estruturas oudas super-estruturas. Ela obrigatria para uma sociedade dividida em classes hostis.Mas ela no absolutamente obrigatria para uma sociedade sem classes hostis. Numperodo de oito a dez anos, realizamos na agricultura de nosso pas, a passagem doregime burgus, do regime de explorao camponesa individual, ao regimesocialista kolkhosiano. Foi uma revoluo que liquidou o velho regime econmicoburgus no campo e que criou um regime novo, socialista. Todavia, essa reviravoltaradical no se produziu pela exploso, isto , pela destruio do poder existente e a

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    15/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 15

    criao de um poder novo, mas pela passagem gradual do velho regime burgus nocampo ao regime novo. Conseguimos faz-lo, porque foi uma revoluo vinda de cima,porque essa reviravolta radical foi realizada por iniciativa do poder existente com oapoio das massas essenciais do campesinato.

    Diz-se que numerosos fatos de cruzamentos de lnguas, que se produziram nahistria, permitem supor que durante esse cruzamento se v formar uma nova lnguapor exploso, pela passagem brusca da velha qualidade qualidade nova. Isto absolutamente falso.

    No se pode considerar o cruzamento de lnguas como ato nico de um golpedecisivo cujos resultados se fazem sentir durante alguns anos. O cruzamento delnguas um longo processo que se realiza durante centenas de anos. Eis porque nose trata aqui de nenhuma exploso.

    Prossigamos. Seria completamente falso pensar que o cruzamento de duaslnguas, por exemplo, gera uma terceira lngua nova que no lembra nenhuma daslnguas cruzadas e difere qualitativamente de cada uma delas. Na realidade, quandodo cruzamento, uma das lnguas ordinariamente obtm a vitria, conserva seu sistemagramatical, conserva seu lxico fundamental e continua a se desenvolver segundo asleis internas de seu desenvolvimento, enquanto a outra lngua perde gradualmentesua qualidade e desaparece pouco a pouco.

    Por conseguinte, o cruzamento no d uma terceira lngua, uma lngua nova, masconserva uma das lnguas, conserva seu sistema gramatical e seu lxico fundamental, e

    permite que ela se desenvolva segundo as leis internas de seu desenvolvimento.

    verdade que isso enriquece de certo modo o vocabulrio da lngua que obteve avitria s expensas da lngua vencida, mas em lugar de enfraquec-la, isso s fazrefor-la.

    Tal foi por exemplo, o caso da lngua russa com a qual se cruzavam, duranteodesenvolvimento histrico, as lnguas de diversos outros povos, e que sempre obtevea vitria.

    Certamente o vocabulrio da lngua russa enriqueceu-se durante esse tempo scustas do vocabulrio das outras lnguas, mas isso, longe de enfraquece-la, aocontrrio, enriqueceu e reforou a lngua russa.

    No referente ao carter nacional da lngua russa, ele no sofreu o menor prejuzo,porque, tendo conservado seu sistema gramatical e seu lxicofundamental, a lnguarussa continuou a progredir e a aperfeioar-se de acordo com as leis internas de seudesenvolvimento.

    No h nenhuma dvida que a teoria do cruzamento no pode fornecer nada desrio lingstica sovitica. Se verdade que a lingstica tem por tarefa essencial

    estudar as leis internas do desenvolvimento da lngua, preciso reconhecer que a

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    16/18

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    17/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 17

    que a discusso comeasse calavam e silenciavam sobre o desassossego que existia nalingstica. Mas quando a discusso comeou e quando se tornou impossvel calar, elesforam obrigados a exprimir-se nas colunas da imprensa. E ento? Evidenciou-se que nadoutrina de N. J. Marr h toda uma srie de lacunas, de erros, de problemasimprecisos, de teses insuficientemente elaboradas. Pergunta-se por que os

    "discpulos" de N. J. Marr, s comearam a falar disso aps a abertura da discusso?Por que no se preocuparam com isso mais cedo? Por que no falaram nisto aberta ehonestamente no momento azado, como prprio dos homens de cincia?

    Depois de ter reconhecido "alguns" erros de N. J. Marr, os "discpulos" de N. J.Marr pensam, parece, que s se pode continuar a desenvolver a lingstica na base dateoria "atualizada" de N. J. Marr, que eles consideram como uma teoria marxista. Euvos peo por favor, deixemos de lado o "marxismo" do N. J. Marr. N. J. Marr quisrealmente tornar-se marxista e procurou s-lo, mas no o conseguiu. No foi mais doque um simplificador e um vulgarizador do marxismo no gnero dos membros do

    "Proletcult" ou do "R. A. P. P.".

    N. J. Marr introduziu na lingstica a tese falsa, no marxista, da lngua comosuper-estrutura e embrulhou-se e embrulhou a lingstica. impossvel, na base deuma tese falsa, desenvolver a lingstica sovitica.

    N. J. Marr introduziu na lingstica uma outra tese, igualmente falsa e nomarxista, sobre "o carter de classe" da lngua e embrulhou-se e embrulhou alingstica. impossvel, na base de uma formulao falsa, em contradio com todo otranscurso da histria dos povos e das lnguas, desenvolver a lingstica sovitica.

    N. J. Marr introduziu na lingstica um tom de modstia, suficiente e arrogante,que no pertence ao marxismo e que levada negar pura e simplesmente e semreflexo tudo o que havia na lingstica antes de N. J. Marr.

    N. J. Marr denigre ruidosamente o mtodo histrico comparativo tratando-o de"idealista". E, contudo, preciso dizer-se que o mtodo histrico-comparativo, apesarde seus graves defeitos, assim mesmo melhor que a anlise, realmente idealista, dosquatro elementos de N. J. Marr, porque o primeiro leva ao trabalho, ao estudo daslnguas, ao passo que o segundo s leva a consultar, pachorrentamente, a bola decristal dos famosos quatro elementos.

    N. J. Marr trata com arrogncia toda tentativa de estudar os grupos (as famlias)de lnguas e v nisso a manifestaro da teoria da "lngua-me. E, contudo, no sepode negar que no h nenhuma dvida sobre o parentesco lingstico de naes taiscomo os eslavos, por exemplo, e no hdvida que o estudo do parentesco lingsticodestas naes pode ser de grande proveito para a lingstica no estudo das leis dodesenvolvimento da lngua. Intil dizer que a teoria da "lngua-me" no tem nenhumarelao com isso.

    A dar-se ouvidos a N. J. Marr e sobretudo a seus "discpulos", se poderia pensar

    que no existiu qualquer lingstica antes de N. J. Marr, que a lingstica surgiu com a"nova doutrina" de N. J. Marr. Marx e Engels eram muito mais modestos: julgavam que

  • 7/31/2019 Sobre o Marxismo na Lingustica

    18/18

    Site - http://comunidadestalin.org Pgina 18

    seu materialismo dialtico era o produto do desenvolvimento das cincias, inclusive dafilosofia, durante o perodo precedente.

    Assim a discusso teve tambm o mrito de revelar as falhas ideolgicas existentena lingstica sovitica.

    Penso que quanto mais depressa nossa lingstica se libertar dos erros de J. N.Marr, tanto mais depressa lhe ser possvel sair da crise que atravessa atualmente.

    Liquidar o regime moda de Araktcheev na lingstica, renunciar aos erros de N.J. Marr, introduzir o marxismo na lingstica: tal , a meu ver, o caminho pelo qual sepode sanear a lingstica sovitica.

    Incio da pgina

    "Os inspiradores da poltica agressiva dos Estados Unidos e da Inglaterra no estointeressados num acordo e na colaborao com a URSS. Eles tm necessidade no de

    um acordo e da colaborao, mas de discursos sobre o acordo e a colaborao afim defazer fracassar o acordo,de lanara culpa sobre a URSS e de "demonstrar" desse modo

    a impossibilidade de colaborar com a URSS. Os fomentadores de guerra se esforampor desencadear uma nova guerra temem acima de tudo os acordos e a colaborao

    com a URSS, porque a poltica de acordos com a URSS mina asposies dosfomentadores de guerra e torna semsentido a poltica agressiva destes senhores".

    J. STLIN