Sobre a Economia Psicopolítica
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Sobre a Economia PsicopolticaEvandro Vieira OuriquesOficios Terrestres (N. 31), pp. 30-48, julio/diciembre 2014. ISSN 1853-3248http://perio.unlp.edu.ar/ojs/index.php/oficiosterrestres/index
Por Evandro Vieira [email protected]
Ncleo de Estudos Transdicisciplinares de Comunicao
e Conscincia (netccon)
Escola de Comunicao
Universidad Federal de Ro de Janeiro
Brasil
RESUMOO mal estar hoje da teoria social,
bem como das metodologias de
mudana, resultante de um con-
junto de sintomas que estimulam
um avano epistmico da ordem
da caesura. No entanto, como o
avano epistmico que se constri
em rede e se oferece com a econo-
mia psicopoltica o da passagem
da tradio dualista para a emer-
gncia do no-dualismo, tal passa-
gem a um s tempo a quebra da
regularidade (que permite superar
o axioma hobbesiano), mas tam-
bm o aprofundamento terico das
grandes conquistas obtidas pelas
economias polticas e pelos estu-
dos culturais e socioculturais. Em
relao s primeiras, a economia
psicopoltica as ajuda a superar o
impasse gerado por seu foco nas
polticas de redistribuio, uma vez
que no existem recursos naturais
para universalizar os bens e ser-
vios percebidos como desenvuel-
tos, e que tal padro de produo
e consumo no pode ser naturali-
zado como a condio humana; e aos estudos culturais e socioculturais, as ajuda a superar o seu foco nas pol-ticas de identidade.
ABSTRACTThe malaise of todays social theo-
ry, as well as the methodologies of
change, is the result of a set of symp-
toms that stimulate an epistemic
advance in the order of caesura.
However, as this epistemic advance
is builded on network and offered
as the psychopolitical economy is
the passage of the dualist tradition
for the emergence of non-dualism,
this passage is at the same time
the breaking of the regularity (that
overcomes the Hobbesians axiom),
but also the advance of the great
achievements made by the political
economies and the cultural and so-
ciocultural studies. Regarding the
political economies, the psychopo-
litical economy helps to overcome
the impasse generated by its focus
on the redistribution policies, since
there are no natural resources to
universalize the goods and services
perceived as developed, and that
such a pattern of production and
consumption can not be naturalized
as a human condition; and the re-
garding the cultural and socio-cul-
tural studies, the psychopolitical
economy helps them to overcome
their focus on policies of identity.
SOBRE A ECONOMIA PSICOPOLTICA
ABOUT THE ECONOMIA PSICOPOLTICA
30
PALAVRAS-CHAVEeconomia psicopoltica
estudos culturais
estudos socioculturais
teoria social latinoamericana
KEYWORDSpsychopolitical economy
cultural studies
sociocultural studies
latinamerican social theory
UNIVERSIDAD NACIONAL DE LA PLATA
Recibido: 02 | 06 | 2014 Aceptado: 04 | 09 | 2014
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Por Evandro Vieira Ouriques
Qual a coisa mais dificil que existe?A que parece mais fcil
Aos seus olhos ver,Aquilo que est diante do seu nariz.
Goethe (Reich, 2003)
O mal estar hoje da teoria social, bem como das metodologias de mudana, resultante de um conjunto de sintomas que estimulam um avano epistmico da ordem da caesura. No entanto, como o avano epistmico que se constri em rede e se oferece com a economia psicopoltica o da passagem da tradio dualista para a emergncia do no-dualismo, tal passagem a um s tempo a quebra da regularidade (que permite superar o axioma hobbe-siano), mas tambm o aprofundamento terico das grandes conquistas obtidas pelas econo-mias polticas e pelos estudos culturais e socioculturais.
Em relao s primeiras, a economia psicopoltica as ajuda a superar o impasse gerado por seu foco nas polticas de redistribuio, uma vez que no existem recursos naturais para universalizar os bens e servios percebidos como desenvolvidos, e que tal padro de pro-duo e consumo no pode ser naturalizado como a condio humana; e aos estudos cul-turais e socioculturais, os ajuda a superar o seu foco nas polticas de identidade, que os coloca no impasse no-resolvido de conseguirem transformar direitos sociais, polticos e culturais em direitos econmicos.
A superao destes focos, que acabaram, de maneira paradoxal, por reiterar o crescimento ilimitado do neoliberalismo e do neo-desenvolvimentismo, demanda conhecer o fundamen-to epistmico que permite que foras emocionais, cognitivas e volitivas sejam capturadas de maneira inconsciente, tambm esquerda, e, claro, direita como j era de se esperar, por esta mentalidade, h muito criticada por exemplo por Walter Benjamin: Este es el punto, y no es problema terico, es un problema epistmico (Zemelman, s/d).
As cincias sociais, em sua inalienvel porm hoje to pouco costumeira relao com a filosofia, precisam exercitar o seu avano, o que depende necessariamente da abertura s epistemologias no-hegemnicas (Ouriques, 2011), uma vez que as hegemnicas no tm sido historicamente suficientes para ajudar aos acadmicos, s lideranas sociais e s lideranas
INFORMEESPECIAL
Oficios Terrestres Ao 20 - Vol. 31 - N. 31 Enero-Junio 2014 ISSN 1853-3248
SOBRE A ECONOMIA PSICOPOLTICA
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organizacionais, por exemplo a partir da Alemanha, Frana, Inglaterra, Itlia e Estados Uni-dos, a impedir o triunfo da devastao econmica e ambiental e da ascendncia neo-fascista.
Como sabemos, a Segunda Grande Guerra converteu a Europa no continente mais violento do mundo, quando morreram entre 60 e 85 milhes de pessoas, ao que se soma as centenas de milhes de mortos e deslocados nos processos de colonizao e ps-colonizao, nos quais tambm os Estados Unidos esto envolvidos de maneira decisiva desde o ps-guerra. Digo isto pois cabe a ns, a partir da Amrica Latina, a responsabilidade de oferecer aos nossos colegas, amigos e semelhantes um caminho epistmico, terico e metodolgico de fato eficiente e eficaz no atendimento s demandas da Sociedade.
Para isso a economia psicopoltica parte do diagnstico promovido pela anlise de dados empricos e demais constataes objetivas a respeito das reais condies sociais, econ-micas, polticas e ambientais que se vive. a partir do conhecimento de como o axioma hobbesiano, e a correspondente financeirizao do mundo (o capital fictcio ao qual j se referia Carl Marx), instalam-se nos territrios mentais (Ouriques, 2009), ou seja, nos flu-xos de pensamentos (racionalidades cognitiva, instrumental e axiolgica), afetos (emoes e sentimentos), percepes (sensaes e intuies) e volio, que estamos construindo epistmica, terica e metodologicamente, e em rede, a economia psicopoltica tendo em vis-ta sua capacidade de emancipao em tais ambientes resultantes da opresso e colonizao dos territrios mentais (Ouriques, 2009).
os dados de concentrao de renda e devastao da naturezaVejamos por exemplo dados a concentrao de renda ocorrida enquanto eram utilizadas as teorias disponveis: em 1992 [Fig. 1], 20% da populao mundial concentrava 82,7% do que a direita, o centro, a esquerda e a-polticos consideram riqueza mundial.
Figura 1. UNDP. Human
Development Report 1992.
apud Korten, David C. (2001)
When Corporations Rule the
World. USA: Kumarian Press,
Inc. and Berret-Koehler
Publishers, Inc. p. 111
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Agora vejamos a situao oito anos aps, 2010. [Fig. 2]
Os 0,5% (e no o 1% aos quais os movimentos sociais se referenciam) que ganharam mais de $1 milho de dlares lquidos concentrou 35,6% da riqueza mundial. Acrescido do grupo de 7,5% intimamente ligado a eles, e que ganharam entre $100 mil e $1 milho de dlares, encon-tra-se o total de 8% da populao mundial adulta que controlou 79,5% da riqueza mundial. E estes dois segmentos, acrescidos dos 23,6% que ganharam entre apenas $10 mil anuais e $100 mil, somam os 31,6% da populao adulta mundial que controlaram 95,8% da renda mundial.
Ou seja, estes 31,6% formam o coletivo de indivduos em pleno exerccio da capacidade co-letiva de realizao que gostaramos que as teorias sociais e as metodologias de mudana tivessem a capacidade de mobilizar para que, por exemplo, os ndices de concentrao de riqueza, e muitos outros, no fossem estes.
Dito de outra maneira, qualquer pessoa que ganhou a partir de 834 dlares mensais em 2010 fez parte do coletivo de 31,6% da populao adulta que deixou 68,4% da populao adulta com apenas 4,2% da riqueza mundial.
Agora temos aqui os custos ambientais de tal riqueza concentrada, que as teorias em vigor gostariam de desconcentrar e distribuir para todos:
Figura 2. Credit Suisse
Research Institute, Global
Wealth Report, October 2010
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Se tivssemos abandonado em 2007 [Fig. 3] de maneira rpida tal padro de riqueza, leva-ramos 43 anos, ou seja, at 2050, para igualarmos a quantidade de recursos naturais com o padro de produo e consumo. No o fizemos, como foi possvel constatar mais uma vez na Rio+20 (2012) e na Conferncia de Varsvia (2013). Com as teorias sociais e as metodologias de mudana de que dispomos em 2050 estaremos consumindo o equivalente a dois planetas e 1/3 em termos de recursos naturais. Se uma pessoa ou uma organizao administrasse o oramento de sua casa ou de seu negcio desta maneira como ela seria chamada?
Analisemos agora [Fig. 4], as curvas de 1750, 1880, 1850, 1900, 1950 e 2000 dos ndices de temperatura mdia do hemisfrio norte, populao, concentrao de CO2, pib, perda de
Figura 3. Ewing et alli, 2010
Figure 4. New Scientist. 18
October 2008, p. 40
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florestas tropicais e bosques, extino de espcimes, nmero de carros, uso de gua, consu-mo de papel, explorao de pescados, perda de oznio e investimento estrangeiro. Esta ima-gem talvez o retrato das ideologias patriarcais de progresso, normalidade e hiper-masculi-nidade (Nandy, 2011). E aqui [Fig. 5] as projees de pegada ecolgica relativa a importantes ndices entre 2008 e 2050, a partir dos dados de efetivo consumo deles entre 1961 e 2008.
Ao completar esta base emprica para o argumento da economia psicopoltica da teoria social, vamos examinar a relao entre pegada ecolgica (Linha Vermelha) e biocapacidade (Linha Verde) [Imagens 6, 7, 8, 9, 10 e 11] de alguns pases centrais, considerados desenvolvidos e portanto como exemplos a serem seguidos, inclusive pelas teorias anteriormente citadas.
Como podemos ver, os Estados Unidos mantm seu padro de produo e consumo obtendo a bio-capacidade necessria retirando-a de os outros pases.
Figure 5. WWF Living Planet
Report 2012, p.100
Figure 6 Estados Unidos -
Global Footprint Network,
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Proporcionalmente ao seu desenvolvimento a China retira de outros pases os recursos naturais.
A Frana portanto consome reservas naturais acima de seus prprios recursos desde antes dos anos 60... Esta sintetiza a histria de pilhagem colonial e ps-colonial sistemtica de recursos de outros pases e povos que vem desde o sculo xvi para a construo de uma esttica de consumo, filosofia, teoria social e arte que passam a ser psicopoliticamente ad-miradas como desejveis para todos. E, sintomaticamente, inclusive por aqueles dos quais tais recursos foram e so removidos pela fora fsica e/ou simblica.
Figura 7 China. https:
//www.wwf.or.jp/activities/
lib/lpr/Chn_EF_Repor-
t2010EN.pdf)
Figure 8 Frana-Global
Footprint Network, 2010
Figure 9 Danemark-http:
//www.footprintnetwork.
org/images/trends/2012/
pdf/2012_denmark.pdf)
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E agora a Dinamarca, idealizada por tantos...
A situao real da poderosa Alemanha, no centro das duas grandes do sculo passado e neste no centro do ressurgimento dos nacionalismos europeus do sculo xv.
E esta a situao do Brasil... Cada vez menos recursos naturais e um futuro sombrio corres-pondente ao dos pases amigos da Amrica Latina, frica e sia, cuja superao depende de que as cincias sociais avancem com base em nova episteme que aproxime a economia poltica da economia psquica de maneira a que seja possvel compreender o fenmeno da irraciona-lidade, das foras emocionais que obscurem a cognio e a volio, pois como dizia Mattelart em 2003, hoje a liberdade poltica no pode mais ser apenas o exerccio da prpria vontade mas precisa passar necessariamente pelo domnio do processo de formao da vontade.
Dans les annes 1960, les sciences sociales ont entretenu des relations parfois intenses
avec des champs du savoir qui leur chappait. Cest ainsi que des rapports nombreux
et denses les ont rapproches trs tt de la psychanalyse, laquelle Talcott Parsons,
Claude Lvi-Strauss, Roger Bastide, Norbert Elias, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse
Figure 10 Alemanha-Global
Footprint Network, 2010
Figure 11 Brasil-Global
Footprint Network, 2010
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et bien dautres se sont beaucoup intresss. Aujourdhui, les eaux semblent stre spa-
res, mais les enjeux demeurent, ou se renouvellent qui enjoignent les sciences sociales
dbattre avec des partenaires pouvant jouer le rle qua jou il y a un demi-sicle la
psychanalyse, sans exclure de renouer avec elle: reconnatre par exemple limportance
de lirrationnel, des motions, aborder la complexit de la sexualit, ou les dimensions les
plus centrales de la violence, la cruaut, le sadisme, la violence pour la violence appellent
de nombreux partenariats et compagnonnages intellectuels (Calhoun & Wieviorka, 2013: 11).
os dados de concentrao de poderVejamos agora dados sobre a concentrao de poder, o que diferente da concentrao de riqueza. De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Federal Suo de Pesquisa Tec-nolgica-eht sobre o poder do que chamo estado mental capital, na qual foi identificada a rede de poder que as pessoas formam nas corporaes em todo o mundo e mostrada pela primeira vez na Histria neste trabalho ficou provado que 4/10 do controle sobre o valor econmico das empresas transnacionais est nas mos de 147 delas; e que 3/4 destas so do setor financeiro (Ouriques, 2013).
A New Scientist publicou o comentrio de um dos pesquisadores responsveis pelo estudo, James Glattfelder, que resume a questo: Com efeito, menos de 1% das empresas consegue controlar 40% de toda a rede (2011: em linha). Neste 1% esto por exemplo Barclays Bank, JPMorgan, Chase&Co, Goldman Sachs, etctera.
Como diz Ladislau Dowbor,
natural e saudvel que tenhamos todos uma grande preocupao em no inventarmos
conspiraes diablicas, maquinaes maldosas. Mas ao vermos como nos principais
setores as atividades se reduziram no topo a poucas empresas extremamente podero-
sas [] nenhuma conspirao necessria. Ao estarem articulados em rede, e com um
nmero to diminuto de pessoas no topo, no h nada que no se resolva no campo de
golfe no fim de semana. Esta rede de contatos pessoais de enorme relevncia. Mas so-
bretudo, sempre que os interesses convergem, no necessria nenhuma conspirao
para que os defendam solidariamente, como na batalha [] para se reduzir os impostos
que pagam os muito ricos, ou para se evitar taxao sobre transaes financeiras, ou
ainda para evitar o controle dos parasos fiscais. [] O caos financeiro planetrio, em
ltima instncia, tem uma origem bastante clara, de poucos atores. No pnico mundial
gerado pela crise, debatem-se as polticas de austeridade, as dvidas pblicas, a irres-
ponsabilidade dos governos, deixando na sombra o ator principal, as instituies de in-
termediao financeira (2012: em linha).
outros dados decisivos a enfrentar
Ao lado destas evidncias olhamos, tambm de frente:
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1. A imensa perda de conquistas sociais obtidas no sculo passado, quando na luta contra o avano do comunismo a mentalidade capitalista reconheceu importantes direitos trabalhis-tas, econmicos e sociais, bem como foi levada a aceitar taxas de tributao mais altas para os mais ricos. O que, como sabemos, acabou aps a queda do Muro de Berlim: o novo gran-de inimigo deixou de ser o comunismo e passou a ser o Estado Social, e os direitos anterior-mente reconhecidos foram e continuam a ser suprimidos pela correspondente privatizao das polticas de sade, educao, segurana, energia, gua, mobilidade, etc. importante ressaltar que quando modelos neo-desenvolvimentistas (baseados no fortalecimento da in-dstria, comrcio, emprego, salrios, etc.) incomodam os anseios da mentalidade neoliberal (focado no rentismo das finanas, juros altos, dvida interna e externa, desemprego, corte de salrios, etc.), o fantasma do comunismo ressurge, como no Brasil na reao re-eleio de Dilma Roussef e em relao a avanos conexos na Amrica Latina.
Le nolibralisme, comme idologie et comme pratique, est par essence antisociologi-
que. Sa dbcle quest venue signifier la crise financire partir de 2007 devrait tre
le triomphe des sciences sociales et de leur intrt pour les institutions, les rapports
sociaux et politiques, les mdiations, laction collective et plus largement la vitalit de la
socit civile, ainsi que celui dun rle relativement large de la puissance publique. Mais
ne sous-estimons pas le risque de voir les sciences sociales tre instrumentalises par
un pouvoir politique pour flatter via les mdias les tendances les plus dmagogiques,
pour coller lopinion publique laide de sondages, plutt que de proposer des visions
politiques long terme. De tels usages sont toujours une possibilit, et si nous devons
les dnoncer, nous pouvons surtout en proposer dautres, conformes lesprit dmocra-
tique et aux valeurs humanistes (Calhoun & Wieviorka, 2013: 17).
2.O crescimento generalizado do fascismo, marcado pela irracionalidade que, ao suspender a possibilidade dialgica, instaura o avano das foras conservadoras mesmo em seus aspec-tos modernizadores, e configura o estado de exceo nomeado por Giorgio Agamben.1 Neste cenrio quase desapareceu o campo poltico e a participao e deliberao democrticas, ao passo que ressurgiram os velhos nacionalismos na Europa, que datam do sculo xv e que, ao contrapor o Norte ao Sul na dinmica do jugo do nacionalismo alemo, esteve no centro das duas grandes guerras, dissolve a Unio Europia,2 e fortalece os movimentos separatis-tas e xenfobos de cunho fascista. Por exemplo, no Brasil ressurgiram, tambm em reao re-eleio da mentalidade Dilma Rouseff, alinhados com preconceitos coloniais contra os nordestinos, e l. na Europa, contra os gregos, portugueses, espanhis, galegos, etc., vistos como preguiosos, etctera.
3.O fato de que os movimentos nas ruas, como a dos Indignados na Espanha e os de Junho de 2013 no Brasil, foram e so eficazes no protesto mas, por um lado, na maioria das vezes3 falham na prtica poltica: interrompem-se como surgiram ou, como no caso brasileiro, aca-bam capturados pela violncia e mesmo pelo fascismo, tendo em vista a falta de conscincia contra o qu esto protestando e a favor de qu esto lutando.
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4.A permanncia de um fundo metafsico nas vrias verses da modernidade tardia, que in-sistem em projetar a liberdade para uma essncia, desta vez a tecnolgica, a da comuni-cao tecnolgica, a qual s nos restaria adequar-nos. O que acaba outra vez por fortalecer a mentalidade privatista e desregulamentadora, uma vez que as finanas e a comunicao eletrnica so indissociavelmente associadas e a potncia emancipadora da cultura digital depende do vigor da desobedincia civil mental (Ouriques, 2007).
5.A hipertrofia do protagonismo dos tribunais, articulada com o seu recuo4 para antes do Es-tado Moderno. Exemplos deste recuo esto amplamente identificados em dois pases emble-mticos da Amrica Latina: no caso chileno, por Del Valle desde 1998 (2004, 2012; Del Valle & Ouriques, 2014), em um padro, reconhecido tambm pelos juzes da Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2014, que chega ao ponto de uma condenao sob a Lei Anti-te-rrorista ter sido promulgada com base em testemunho annimo que afirmou ter a certeza moral de que o ru seria o culpado...; e, no caso brasileiro, por Michel Misse5 (1997, 2006, 2010a, 2010b) que constata por isso conceitua que o sistema jurdico-judicial deste pas est funcionando com base no regime de sujeio criminal; ou seja, quando a justia e a mdia introjetam na identidade do cidado uma suposta essncia criminal. Em ambos os casos, como disse emblemticos e que apresentam um padro sistmico nos dias atuais, estamos diante do recuo para a mentalidade anterior ao Direito Moderno. Que foi criado justamente para que o sujeito, aps seu ato ter sido investigado e julgado como crime, e ele ter cumprido a condenao correspondente, possa retornar Sociedade, no pleno gozo de seus direitos constitucionais.
6.O fato de que indivduos, grupos, redes, movimentos e organizaes apresentem, de ma-neira muito mais frequente e comum do que gostaramos, atitudes no-solidrias e antide-mocrticas na maneira como conversam internamente, articulam suas aes intersetoriais e procuram mobilizar os segmentos sociais e organizacionais com os quais trabalham em favor da comunicao, transparncia, colaborao positiva, cidadania, democracia, polticas pblicas sociais, intervenes em comunidades e responsabilidade socioambiental. Quando verificamos ao longo da Histria, e do presente, a extenso dos prejuzos causados por essas atitudes mentais para os movimentos de transformao social em todas as reas, podemos afirmar que se trata de uma alarmante pandemia no territrio mental. A desconexo entre os saberes das ciiencias sociais com aqueles sobre a economia psquica dos indivduos que faz to frequente, na ao pela transformao social nos trs setores, o oposto dela: a traio, o cinismo, a vaidade, a violncia, o autoritarismo, o roubo de projetos, a concen-trao de poder, a manipulao de assemblias e reunies, o nepotismo, o fluxo hierarqui-zado e cristalizado de informaes, a no-escuta, a mentira deslavada, a distoro do que dito, a supresso de informaes decisivas, o uso de redes para interesse prprio, a com-petio antitica por patrocnios, a perseguio e menosprezo dos derrotados em geral, etc. (Ouriques, 2009). Os dogmatismos das teorias sociais e sua incapacidade de superar o axioma hobbesiano que alimenta tais lutas fratricidas histricas no interior da academia, das organizaes e dos movimentos sociais os fragmentaram e traumatizaram e continua a frag-ment-los e traumatiz-los gerando camadas e camadas de decepo e profundas feridas
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cognitivas, emocionais e volitivas que dificultam a construo de alternativas ps-liberais, de fato emancipadas do neoliberalismo internacional.
7. A incapacidade epistmica sobretudo da teoria cultural, mas tambm das economias polti-cas com sua meta desenvolvimentista, de lidar com as outras epistemes, como as indgenas, na medida em que estas falam frequentemente do lugar da Natureza como viva e portanto da verdade, e para o culturalismo a Natureza no s morta e perigosa mas a verdade ou inexistente ou impossvel de ser acessada, pois seria o lugar que a episteme ocidental he-gemnica s consegue ver como o lugar da captura, o que a faz acabar como assujeitada pela verdade do estado mental capital:
tem sido acanhada [a teoria cultural] com respeito moralidade e metafsica, emba-
raada quando se trata de amor, biologia, religio e a revoluo, grandemente silenciosa
sobre o mal, reticente a respeito da morte e do sofrimento, dogmtica sobre essenciais,
universais e fundamentos, e superficial a respeito da verdade, objetividade e ao desin-
teressada. Por qualquer estimativa, essa uma parcela da existncia humana demasiado
grande para ser frustrada. Alm disso, esse um momento bastante embaraoso da
histria para que nos achemos com pouco ou nada a dizer sobre questes to funda-
mentais6 (Eagleton, 2005: 144).
Isso refora a lgica de produo de diferenas absolutas, de exotismos, de desigualdades, de expulso e perseguio dos indgenas e do campesinato em todos os continentes para o avano ainda maior do modelo neo-extrativista. Vimos no grfico da relao entre as pe-gadas ecolgicas e as bio-capacidades dos pases centrais em comparao situao do Brasil a dramaticidade que a economia dos pases latino-americanos serem movidas basi-camente por seus recursos naturais. O neo-desenvolvimismo latinoamericano precisa sair desta armadilha (Ouriques, 2012c). Isto implica em uma outra teoria social que garanta o vigor da diferena econmica, no sentido do vigor de mltiplas maneiras econmicas de se viver; e no apenas a da reduo ao padro dito desenvolvido, que o da explorao dos recursos naturais do outro, este outro que jamais poder chegar a tal padro simplesmente por no existirem recursos naturais para tal. Isto obriga revalorizao de todas as econo-mias no-capitalistas existentes, como as economias camponesas, as economias indgenas e as economias solidrias construdas na gratido, na reciprocidade e no respeito Natureza.
A coleo inteira de processos homeoestticos governa a vida, de momento a momento,
em cada clula do nosso corpo. [...] claro que a tentativa contnua de conseguir um esta-
do de vida equilibrado um aspecto profundo e definidor de nossa existncia. o que nos
diz Espinosa, que vai mais longe e chama a essa tentativa a primeira realidade de nossa
existncia, uma realidade que ele descreve como o esforo implacvel da auto-preser-
vao presente em qualquer ser. Espinosa designa esse esforo implacvel com o termo
conatus, a palavra latina que pode tambm se traduzir como tendncia, no sentido que
aparece nas Proposies VI, VII e VIII da tica, Parte III (Damsio, 2003: 43-44).
8.A resistncia das cincias sociais em enfrentar os limites da Natureza, como referido, e acei-tar que passamos da contradio entre capital e trabalho para a contradio entre cultura e
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natureza, uma vez que tal enfrentamento implica necessariamente em rever o fundamento epistmico do Ocidente, baseado em que a liberdade estaria garantida por uma cultura que no seria limitada pela natureza sob forma alguma. Isto provou-se ser um equvoco, como insisto por escrito desde 1975 (Ouriques & Werner, 1975).
sempre um sinal de ignorncia ou orientao mstica colocar o homem e suas emoes
fora do mbito da natureza fsica. O homem parte da natureza: ele surgiu das funes
naturais. No possvel ser de outro modo. decorrncia de simples raciocnio sobre a
evoluo natural. No h contra-argumento vlido para essa afirmao (Reich, 2003: 192).
9.A dinmica das teorias vigentes em por um lado insistirem na potncia de justia e equa-nimidade do Estado, quando atualmente ele est em geral nas mos de antidemocratas, ou ento de sujeitos inicialmente democratas que emergem de experincias de subjugao e ao chegar ao poder (quando na verdade a captura se d no quando ele chega l mas pelos estados mentais que moveram e movem o sujeito na direo do poder institucionalizado) re-velam-se subjugadores de outros, o que impede a mudana social proposta. Ser emancipado o efeito de ser posto pela estrutura (poder) na histria (lugar determinado) e de emergir em rede como seu contraposto reflexivo (potncia). o que fazemos na economia psicopoltica: focamos na capacidade do sujeito, como agncia, ser exemplo vivo de uma nova maneira de pensar, de ser afetado, de afetar, de perceber e portanto de direcionar sua volio no modo como age, em rede, com a famlia, os amigos, o trabalho, o movimento, as ruas, a cama, o mundo.
a economia psicopoltica Consciente destes fatos, e de tantos outros conexos, a economia psicopoltica, com seu fundamento epistmico no-dualista (na medida em que o dualismo que prevaleceu no Ocidente a origem da fragmentao em todos os nveis e campos) est atenta em como a manipulao ocorre a ponto de gerar tamanhos paradoxos como os vistos at aqui entre os propsitos das teorias sociais e movimentos vigentes e os resultados efetivos obtidos, de maneira a revert-la.
Neste sentido decisivo lembrar que os tericos clssicos da propaganda, da publicidade, do marketing e das relaes pblicas baseiam-se no princpio verificado no incio do sculo passado, por exemplo por Paul Felix Lazarsfeld e Edward Bernays (este sintomaticamente sobrinho de Sigmund Freud) de que a despeito das predisposies a manipulao no pro-gride (Serpa, 2013: 19).
Portanto a centralidade estrattica do foco na auto-desconstruo psicopoltica em rede do territrio mental do receptor, para ento (de maneira no-linear mas simultnea e cu-mulativa) que ele se auto-construa cognitiva, afetiva e volitivamente de maneira igualmente psicopoltica e em rede como agncia, o que me faz concordar com Valrio Brittos (2003) que a valorizao do receptor relevante elo de encontro entre a Economia Poltica da Co-municao e os Estudos Culturais.
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O fato que a dominao se faz atravs de operaes psicolgicas com fins polticos, por-tanto psicopolticos, enquanto a resistncia a tais operaes so feitas por teorias e meto-dologias de mudana que relegam o que chamam dualisticamente de psquico ou a a um plano secundrio (Ouriques, 1992), ou ento a uma hipervalorizao dos afetos que recusa a conscincia crtica sobre eles, insistindo na tradio de remeter o sujeito ao desejo (basta ser afeto para ser legtimo), justamente o lugar onde o sujeito capturado pela manipulao de suas predisposies.
O salto do reino da necessidade ao reino da liberdade colocar inevitavelmente a ques-
to do domnio de nosso prprio ser, de subordin-lo a ns mesmos. [...] Na futura socie-
dade, a psicologia ser, na verdade, a cincia do homem novo. [...] essa cincia do homem
novo ser tambm psicologia. Para isso j hoje mantemos suas rdeas em nossas mos.
No preciso dizer que essa psicologia se parecer to pouco com a atual como, con-
forme palavras de Spinoza, a Constelao do Co se parece ao cachorro, animal labrador
[...]! (Vigotski, 2004: 417).
Tal conscincia comea pelas predisposies geradas pelo trauma epistmico que afast-lo de sua realidade orgnica, de sua realidade autopoitica, da realidade de que o fundamento biolgico, psquico e social o amor, como provado por Humberto Maturana e Francisco Varela (Maturana & Varela, 2001; Maturana & Verden-Zoller, 2004). Sim, o amor (Eagleton, 2005), este outro nome que segue epistemicamente escondido sob os valorizados nomes direitos humanos, justia social, polticas pblicas, equidade econmica, dilogo, respeito, foras emocionais.
[...] o maior enigma da vida, a funo de autopercepo e conscincia de si, este enig-
ma est envolto em temor e reverncia; s vezes resulta em um assustado assombro,
ou mesmo at em completa confuso e desintegrao do ego investigador, como na
esquizofrenia. Toda luta pela perfeio aparece, sob esta luz, como uma luta pela mais
completa integrao entre as emoes e o intelecto; em outras palavras, uma luta pela
quantidade mxima de fluxo da bioenergia [biopoder], sem bloqueios e cises impediti-
vas da autopercepo (Reich, 2003: 304).
So 11 os grandes eixos de operaes psicolgicas com fins polticos, portanto psicopolticos, que mantemos sob rigorosa ateno, cognio e afeto incorporados.
The general terms embodiment theories and theories of embodied cognition refer to
a particular account of how the mind represents and processes information [...]. Some
researchers working on problems as seemingly diverse as the recognition of facial ex-
pression, what language is used for, empathic responding, and how metaphors arise
and function, rely on theories of embodied cognition. In recent instantiations of such
theories, mental processes are called embodied because an incomplete but cogniti-
vely productive reexperience is produced in the brain as if the individual were there in
the very situation, the very emotional state, or with the very object of thought [...]. In
other words, from these accounts, thought and language rely on partial reactivations
of neutral states in sensory-motor and affective systems to perform their tasks. Such a
view has arisen in contrast to models of mental processing that hold that external and
internal events that an individual encounters retain no perceptual or experiential basis in
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memory. According to those models, information that is encoded by the sense modalities
is stored in memory as abstract symbols that are functionally separated from the origi-
nal neural systems those involved in vision, olfaction, and audition, for example that
encoded them in the first place (Niedenthal & Maringer, 2009: 122).
Tudo depende portanto que o sujeito faa uma dobra mental-incorporada, ou seja, d uma cambalhota para trs na qual ele toma o self como objeto do conhecimento e experiencia a fuso valor e fato (Ouriques, 2013) e assim pratica a re-edio de seu territrio mental, eli-minando gradativamente os estados mentais discriminatrios (do que depende por exemplo a unidade sem uniformidade dos movimentos sociais, como queria Rosa Luxemburgo nos anos trinta).
Il est possible que toutes ces luttes, toutes ces mobilisations ne trouvent jamais le moin-
dre principe dunit, et quelles correspondent des univers de significations fragmen-
ts, sans correspondance. Mais les sciences sociales peuvent aussi poser la question de
leur ventuelle intgration future dans limage dune conflictualit relativement unifie
(Calhoun & Wieviorka, 2013: 26).
Eis os 11 eixos:
1.Famlia/Sociedade (a mentalidade do crescimento ilimitado, reificada pela violncia de g-nero e pela violncia contra a infncia); 2. Educao (a pedagogia da opresso); 3. Mdia (a concentrao crescente da propriedade cruzada dos meios de comunicao desregula-dos sob o argumento baseado nos insustentveis conceito de censura e de liberdade de expresso comercial); 4. Esportes (o incentivo competio entendida como eliminao do outro para objetivos rentistas); 5. Religio (o esvaziamento do contato direto com a au-to-poiesis atravs da relao mediada, reforando o regime de servido); 6. Cincia (compro-metida tecnologicamente com os interesses blicos, financeiros, comerciais, publicitrios, eleitorais; e com o dissenso consentido promovido pelas agncias de financiamento de pesquisas e monitoramento dos programas de ps-graduao); 7. Arte (a dramaturgia da mimesis, ao invs do xtase); 8. Confinamento Judicial (a punio por conflito com a Lei); 9. Confinamento Psiquitrico (a punio por conflito com a normalidade); 10. Guerra Psicol-gica (em sua 4a. gerao, a Guerra Psicolgica tem como principal objetivo exatamente gerar a decepo no adversrio, o estado mental anteriormente referido, pois o que permite domin-lo da menira mais eficaz e eficiente); 11. Vigilncia (o carter panptico da internet, como provado pelo Echelon, Wikileaks e Snowden).
Conhecemos bem a imensa e crescente incapacidade atual das instituies de serem capazes de ajudar os sujeitos a lidar com suas vidas. Elas foram destrudas pelo axioma hobbesiano (ou seja, de que seramos incapazes de superar a violncia) vindo tanto das teorias sociais e metodologias de mudana, que o naturalizaram, quanto do estado mental neo-liberal cujo ini-migo o Estado. Portanto construir, reconstruir e fortalecer instituies que ajudem de fato os sujeitos a lidar com suas vidas depende diretamente que os sujeitos-agncia superem psi-copoliticamente em rede o axioma hobbesiano. Wright Mills estava certo quando disse em 1959 que neither the life of an individual nor the history of a society can be understood without understanding both (Calhoun & Wieviorka, 2013: 35). isto que a economia psicopoltica faz.
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NOTAS1 A questo a patir de 11 de Setembro foi naturalizado um estado mental
de guerra civil mundial contnua que tornou-se o paradigma de governo
dominante na poltica contempornea. O que era uma medida de exceo,
portanto provisria, passou a ser uma condio da governabilidade, diante
da qual cessam todos os instrumentos do Direito moderno de garantias
individuais, o que feito sintomaticamente em nome do vigor do indivi-
dualismo em seu clmax neoliberal.
2 Boaventura de Souza Santos: Uma das coisas s quais nunca se faz re-
ferncia que a Alemanha no pagou a sua dvida Grcia pela ocupao
e destruio na Segunda Guerra Europia, mas atualmente cobrou a d-
vida da Grcia, o que constitui uma injustia histrica tremenda (http://
www.ihu.unisinos.br/noticias/537124-o-neoextrativismo-esta-acaban-
do-com-a-america-latina-entrevista-com-boaventura-de-sousa-santos).
3 Boaventura tambm chama a ateno para que os Indignados na Espan-
ha conseguiram converter-se em um novo partido, o Podemos, e que est
tendo sucesso eleitoral e est obrigando o psoe, um dos partidos que mais
foi direita no passado, a se reformular (id.).
4 Sincrnico crise tica do jornalismo. O maior exemplo brasileiro o
conhecido jornalismo praticado pela revista Veja no Brasil.
5 Neste sentido, representaes de periculosidade, de irrecuperabili-
dade, de crueldade participam de processos de subjetivao que con-
duzem, no limite justificao do sujeito criminal. Trata-se de um pro-
cesso de inscrio do crime na s%%%ubjetividade do agente, como uma
possesso e no apenas como um comportamento criminvel, tornando
muitas vezes sua tentativa de sair do mundo do crime to inveross-
mel para os outros a ponto de exigir um processo de converso (despos-
sesso) de tipo religioso (Misse, 2010b: 25-26).
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6 [...] un relativisme qui inquitait dj Irving Horowitz dans les annes 1990 (Horowitz, 1993): luniversalisme de la raison ne cde-t-il pas du terrain face la pousse des spcialisations par domaine qui tendent senfermer chacune dans son propre espace, sans communiquer avec lensemble dune discipline et moins encore avec plusieurs? Le spectacle des grandes librairies universitai-res confirme souvent cette impression: le rayon sociologie, aux tats-Unis
y est pauvre, et poussireux, tandis que les rayons gay and lesbian studies,
genocide studies, African-American studies, etc. prosprent, ainsi que
tout ce qui touche aux thses relatives la postmodernit, elle-mme trs sou-vent antichambre de ce relativisme (Calhoun & Wievioka, 2013).