Revista ITF nº2

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Petrópolis - nº2 | 2011 Pátio interno do ITF Projeto Gente Viva e Centro Educacional Terra Santa social, p. 34 e 35 “O que é Espiritualidade?” argo, p. 22 “Bíblia Sagrada” argo, p. 14 “Master em Evangelização propicia reflexão sobre nossa práca de evangelização”. entrevistas, p. 8

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Revista Eletrónica do Instituto Teológico Franciscano

Transcript of Revista ITF nº2

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Petrópolis - nº2 | 2011

Pátio interno do ITF

Projeto Gente Viva e CentroEducacional Terra Santa

social, p. 34 e 35

“O que é Espiritualidade?”artigo, p. 22

“Bíblia Sagrada”artigo, p. 14

“Master em Evangelização propicia reflexãosobre nossa prática de evangelização”.

entrevistas, p. 8

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Sumário Editorial

Expediente:Revista da Faculdade de Teologia - ITF

Província Franciscana da Imaculada Conceição do BrasilInstituto Teológico Franciscano

Rua Coronel Veiga, 550, centro - Petrópolis-RJ(24) 2243-9959 e 2231-6409E-mail:[email protected]

Site: www.itf.org.br

Ministro Provincial: Frei Fidêncio Vanboemmel, OFMVigário Provincial: Frei Estêvão Ottenbreit, OFMDiretor ITF: Frei Sandro Roberto da Costa, OFM

Edição e Diagramação:Frei Maffei, OFM

Reportagens:Frei Rodrigo da Silva Santos, OFM

Frei Marcel Freire, OFMFrei Douglas Paulo Machado, OFM

Frei Sandro Roberto da Costa, OFMFrei Sinivaldo Tavares, OFM

Frei Osvaldo Maffei, OFM

Revisão:Frei Antônio Everaldo P. Marinho, OFM

Frei Elói Piva, OFMFrei André Luiz da R. Henriques, OFM

Frei Douglas Paulo Machado, OFMFrei Clauzemir Makximovitz, OFM

Revisão final:Frei Celso Márcio Teixeira, OFM

Espiritualidade para uma Vida

Virtuosa

CentroEducacionalTerra Santa

Novidades na Biblioteca

Master em Evangelização

A Palavra de Deus na Vida e na

Missão da Igreja

Educar através do ensino, da pesquisa e da exten-são comunitária, promovendo, junto aos estudantes, leitores e agentes pastorais, valores teológicos, religio-sos, culturais e sociais, a partir do carisma franciscano é missão. Este segundo número da Revista ITF quer levar até nossos estudantes, colaboradores e amigos algumas atividades onde esta missão é concretizada.

Destacamos nesta edição o Congresso Internacional “Evangelização em Diálogo”. Serão quatro dias intensos de reflexão e estudo sobre os novos cenários em vista das atividades evangelizadoras. Junto com o congresso realiza-se o 8º Encontro dos professores e dos diretores dos Institutos teológicos afiliados à Pontifícia Universi-dade Antonianum. Temos as entrevistas com alunos e professores do Master em Evangelização. Um destaque especial aos cursos de extensão “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja” e “Espiritualidade para uma Vida Virtuosa”. A preocupação do ITF com a dimensão social e comunitária é resaltada na repotagem sobre o Projeto Gente Viva e o Centro Educacional Terra Santa.

As páginas desta edição comprovam que muita coisa aconteceu e está acontecendo no ITF. A renovação de nossa afiliação à Pontifícia Universidade Antonianum por mais cinco anos vem atestar nossa busca por um en-sino de qualidade a todos os que participam da vida do ITF. Venha você também caminhar conosco!

Frei Sandro Roberto da Costa, OFMDiretor do ITF

Evangelização em Diálogo2

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Gente Viva

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Faça parte da Família ITF!

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O Instituto Teológico Franciscano promove o Congresso Internacio-nal de Evangelização, que aconte-cerá nos dias 19 a 22 de setembro, com o intuito de analisar e compre-ender os novos cenários nos quais se dá a ação evangelizadora. Frei Sinivaldo Silva Tavares, doutor em Teologia pela Pontificia Università Antonianum (Roma), um dos orga-nizadores do evento, concede uma entrevista exclusiva sobre o Con-gresso Internacional de Evangelização.

Site ITF – O congresso tocará em pontos cruciais que dizem respeito ao modo de evangelizar de Jesus e, portanto, da Igreja. Qual seria este modo, e qual seria a justificativa para se tratar de tal assunto neste congresso?Frei Sinivaldo: A evangelização constitui, para todos os efeitos, razão de ser da Igreja. Fiel à prática evangelizadora de Jesus, o evangelizador por excelência, ela procura realizar sua vocação em diálogo. “Evangelizar em diálogo” corresponde, em primeiro lugar, a um apelo que nos vem do próprio Jesus que, na relação com seus interlocutores, procurou dia-logar sempre. “Evangelizar em diálogo” corresponde ainda à preocupação da

Igreja de se inserir no seio de uma cultu-ra sempre mais plural, dialogando com seus eventuais interlocutores.

Site ITF – Qual a importância do diálogo para o modo de evangelizar da Igreja?Frei Sinivaldo: O diálogo converte-se em ocasião propícia para a Igreja se in-serir nas reais situações em que vivem as pessoas com as quais ela deseja dia-logar. Trata-se do esforço de acolher com responsabilidade as indagações que po-voam o coração e a mente das pessoas humanas, deixando-se afetar por tais angústias e esperanças. O diálogo, ade-mais, cria as condições para que, no de-sempenho de sua tarefa evangelizadora, a Igreja se recrie mediante uma fidelida-de cada vez maior à prática evangeliza-dora de seu mestre Jesus.

Site ITF – O que podemos entender por “novos cenários”, e quais são os obje-tivos deste Congresso Internacional de Evangelização?Frei Sinivaldo: Os novos cenários refe-rem-se à diversidade de situações que caracterizam o “nosso tempo”. Por essa razão, os objetivos que nos propomos com a realização desse congresso são: analisar e compreender novos cenários nos quais se dá a ação evangelizadora; discernir as interpelações destes novos cenários à ação evangelizadora e suge-

rir novos itinerários teológico-pastorais. Face aos novos cenários, a tarefa evan-gelizadora assumirá, portanto, as se-guintes atitudes: analisar, compreender, discernir e sugerir. Tarefa árdua e, ao mesmo tempo, complexa.

Site ITF – Certamente a tarefa que este congresso se propõe é árdua e comple-xa. Qual a importância, então, de situar suas reflexões no contexto do novo pa-radigma ecológico?Frei Sinivaldo: É de extrema importância situarmos nossas reflexões no contexto do novo paradigma ecológico. A dificul-dade maior em compreender e acolher as questões que caracterizam o “nosso tempo” deve-se à nossa incapacidade de captá-las e de discerni-las na sua comple-xidade. É, de fato, impossível compreen-der as questões que se revelam sempre mais em seu caráter multidimensional mediante um saber compartimentado e uma lógica linear. Torna-se necessário, portanto, substituir um pensamento que separa por um pensamento que une e uma lógica linear rígida por uma lógica circular. Torna-se im-prescindível, enfim, integrar as par-tes no todo e o todo no interior das partes. Isso só se tornará possível no horizonte do novo paradigma ecológico.

Frei Sinivaldo fala sobre o Congresso

Internacional“Evangelização em

Diálogo”.

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Congresso propõe-se a acolher novos cenários e discernir suas interpelaçõesO Congresso Internacional “Evan-

gelização em Diálogo - novos cená-rios desde o paradigma ecológico” foi pensado como um processo orgânico composto por quatro momentos: uma conferência inaugural, dois painéis in-terdisciplinares, vários workshops te-máticos e uma sessão conclusiva.

Nosso congresso se propõe a aco-lher novos cenários e discernir suas interpelações desde o paradigma ecológico. Pensou-se, portanto, em uma conferência inaugural, em que se possa delinear o “novo paradigma ecológico”. Com isso, pretende-se, de início, tecer a tela de fundo de nossas reflexões acerca da evangelização no mundo de hoje.

Dentre as muitas questões que ca-racterizam “nossa época”, privilegia-mos duas que serão aprofundadas em

dois painéis interdisciplinares: 1) Evangelização e mundo ur-bano; 2) Evangelização e novas tecnologias. No primeiro pai-nel, contaremos com a parti-cipação dos professores: Henri Acselrad e João Batista Libanio. Professor Associado do Institu-to de Pesquisa e Planejamento

Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), Henri Acselrad abordará a com-plexa questão da sustentabilidade das cidades. Em seguida, o teólogo e escri-tor João Batista Libanio tratará dos de-safios que os conglomerados urbanos põem à teologia e à pastoral.

No painel dedicado ao tema da evangelização e novas tecnologias, contaremos com a presença de três professores: Erick Felinto de Olivei-ra, Martín Carbajo Nuñez e Manuel Anaut. Professor na Universidade Es-tadual do Rio de Janeiro (UERJ), Erick Felinto discorrerá sobre o tema das novas tecnologias e mutação antro-pológica. Martin Carbajo, professor de Teologia Moral na Pontifícia Universi-dade Antonianum (Roma), abordará a questão da Ética e mundo virtual e, por fim, Manuel Anaut, professor de Teologia na Universidade dos Jesuí-tas, na Cidade do México, aprofundará a complexa questão das incidências antropológico-culturais das novas tec-nologias.

Além desses dois painéis interdis-ciplinares, foram programados sete workshops dedicados a temáticas

específicas. Esses workshops foram pensados em função de duas preocu-pações fundamentais: ampliar o leque de temas e propiciar uma metodolo-gia mais interativa. Cada participante elegerá um único workshop, uma vez que serão simultâneos. Contando com um número restrito de participantes e estendendo-se ao longo dos três dias do congresso, cada workshop propi-ciará um maior aprofundamento do tema mediante a utilização de meto-dologias interativas.

O congresso concluir-se-á com uma sessão destinada a recolher seus frutos imediatos. Essa sessão recebeu o su-gestivo nome de “Itinerários”. Um dos objetivos do congresso é precisamen-te sugerir novos itinerários teológico--pastorais. Para tal fim, constituiu-se uma equipe composta por três teólo-gos: Luiz Carlos Susin, Delir Brunelli e Jit Manuel Castillo de la Cruz. Essa equipe terá a incumbência de propor, a partir das reflexões produzidas nos painéis e workshops, eventuais itinerários que serão, nessa sessão de encerramento, discutidos e avaliados por todos os par-ticipantes.

Novos Cenários

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3º Encontro - Roma, 2005“La Eucaristia: storia e cultura.L’apporto francescano”

1º Encontro - Roma, 2003

“La Mariologia contemporanea”

2º Encontro - Roma, 2004“L’Immacolata Concezionenel pensiero di Scoto”

4º Encontro - Roma, 2007

““La persona umana e la sua felicità””

5º Encontro - Roma, 2008“La persona umana e la sua libertà”

6º Encontro - Roma, 2009

“La persona umana e la sua bontà”

7º Encontro - Roma, 2010“Evangelizzazione e dialogo. Per

una proposta formativa globale. ”

A cada ano os representantes dos pro-fessores e os diretores dos Institutos Afiliados à Pontificia Universidade An-tonianum, de Roma, reúnem-se para alguns dias de formação, convivência e troca de experiências e informações sobre o andamento da vida acadêmica das respectivas instituições. Já foram realizados sete encontros. Os cinco

primeiros, de 2003 a 2007, foram re-alizados na sede da PUA, em Roma. O 6° foi realizado em Veneza e o 7° teve lugar em Maiori (Salerno), em 2010. O 8° encontro acontecerá em Petró-polis, Rio de Janeiro, na sede do Ins-tituto Teológico Franciscano. Durante o 6° encontro, realizado em Veneza, ficou estabelecido que durante o tri-ênio 2010-2012, o tema global seria

“Evangelizzazione e dialogo: per una proposta formativa globale”. Este tema foi subdividido em três, um para cada ano do triênio: ano 2010: Le religioni (tema do 7° Encontro em Maiori); ano 2011: Il Creato (será o tema do encontro em Petrópolis); 2012: Per un dialogo con le culture. Os institutos atualmente afiliados à Pontifícia Universidade Antonianum são os seguintes: Studio Teologico “Laurentianum” (Venezia – Itália); Studio Teologico Interprovinciale San Bernardino (Verona – Itália); Studio Teologico (Milano – Itália); Studio Te-ologico “Madonna delle Grazie” (Be-nevento – Itália); Instituto Teológico Franciscano (Buenos Aires – Argen-tina); Scolasticat Jean XXIII (Kolwezi – República Democrática do Congo);

Studio Teologico Francescano Interfa-miliare (Nola - Itália); Instituto Francis-cano de Teología (Monterrey – Méxi-co); Instituto Teológico Franciscano (Petrópolis – Brasil); Studio Filosofico “St. Bonaventure College” (Lusaka – Zâmbia); Instituto Teológico Francisca-no (Quito – Equador).

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-6Notícias

Revista Casa & Campo fala sobre o ITF

Com o intuito de divulgar e apresentar o que Petrópolis possui, a Revista Casa & Campo, propriedade da Tribuna de Pe-trópolis, no número 108 deste ano, fez uma reportagem sobre a Educação com o título “Incen-tivo à troca de conhecimento”. Nesta matéria, a repórter Car-la Magno apresenta a riqueza que o Instituto Teológico Fran-ciscano oferece à população de Petrópolis, salientando os dois cursos de extensão “Espirituali-dade para uma vida virtuosa” e “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.

“Com 115 anos de existência, o Instituto Teológico Franciscano teve tempo para crescer e se transformar em referência no campo da educa-ção superior em todo o Brasil. Hoje ele oferece uma das mais renomadas graduações em teologia, aprovado pelo Ministério da Educação (MEC). Sua biblioteca abriga mais de 120 mil volumes, não só de teologia, mas de outras ciências afins e humanas. Há cerca de dois anos, os cursos livres, ou de extensão, entraram no programa do ITF, abordando os mais variados temas, com o objetivo de atrair, além dos estudiosos de teologia, também de outros cursos, visando estimular a troca de ideias e de conhecimento.”

Leia toda a matéria, em PDF ou FLIP (acesse: http://www.franciscanos.org.br/itf/noti-cias/2011/032.php).

Faculdade de Teologiainicia 2º Semestre

A Faculdade de Teologia – ITF deu início ao 2º semestre do ano letivo nes-ta segunda-feira (01/08). Com ânimo e vitalidade, professores e alunos reto-mam a jornada teológica, buscando sempre a verdade, que ora se revela ora se esconde.

O Instituto Teológico Franciscano, que neste ano (2011) completa 115 anos de existência, tem por objetivo “Educar através do ensino, da pesqui-

sa e da extensão comunitária, promo-vendo, junto aos estudantes, leitores e agentes pastorais, valores teológicos, religiosos, culturais e sociais, a partir do carisma franciscano”.

Partindo desta missão intrínseca da Faculdade de Teologia – ITF, percebe-se que educadores e educandos, protago-nistas da presente história, continuam escrevendo a história na cidade de Pe-trópolis.

“Atentos aos apelos e desafios que nos são lançados pelo momento his-tórico em que vivemos, professores e dirigentes do ITF, sabem que precisam buscar respostas novas, criativas e atuais a esses apelos. A constante bus-ca da excelência no ensino teológico, a abertura de novos cursos, bem como a abertura ao diálogo com os vários setores da sociedade, são alguns dos meios que podem nos ajudar a atingir nossos objetivos”, afirmou Frei Sandro Roberto da Costa, diretor geral do ITF.

O Instituto Teológico Franciscano oferece aos interessados a possibilida-de de cursar uma ou outra disciplina. Neste segundo semestre as disciplinas são: Sociologia da Religião; Introdução Bíblica; Direito Canônico (introdução); Patrologia (pós-nicena); Teologia da Liturgia; Fé e Revelação; Grego Bíbli-co; Comunicação Pastoral; Evangeli-zação e Catequese; Escritos Joaninos; Espiritualidade Franciscana; Penitên-cia e Unção dos Enfermos; Pecado e Conversão; Direito Canônico (Povo de Deus); Mariologia; Livros Sapienciais; História da Igreja Medieval.

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A Faculdade de Teologia – ITF pelo terceiro ano consecutivo pro-move o “Master em Evangelização” (pós-graduação latu sensu). Durante este triênio de existência, passaram pelo curso alunos de diversos paí-

ses da América Latina e Caribe, tais como: Brasil, México, República Do-minicana, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Argentina.

O curso tem por objetivo ajudar a compreender os cenários contem-

porâneos e refletir sobre a prática evangelizadora no interior destes cenários, no contexto da tradição eclesial latino-americana e caribe-nha, na perspectiva evangélico-fran-ciscana, ecumênica e inter-religiosa. Para tanto, o curso adota uma meto-dologia transdisciplinar e interativa, integrando teoria e prática. Neste curso atuam docentes do Brasil, do México, da Itália e da Argentina.

Neste ano de 2011, o Master em Evangelização conta com a presença de cinco estudantes, Frei Raúl Os-valdo Danielli (Argentina), Frei Raúl Eguía Hernández (México), Frei Jit Manuel Castillo de La Cruz (Repúbli-ca Dominicana), Frei Leonel Moisés da Silva (Brasil – Rio Grande do Sul) e Frei Valnei Brunetto (Brasil – São Paulo). A partir de agora conhecere-mos cada um e seus anseios em re-lação à evangelização e às contribui-ções que o Master lhes oferece.

Master em Evangelização:“Cenários Contemporâneos:Interpelações e Perspectivas”

OBJETIVOSRefletir, de maneira sistemática, sobre a prá-tica evangelizadora no contexto da tradição pós-conciliar latino-americana, na perspectiva evangélico-franciscana, ecumênica e inter--religiosa.Favorecer a compreensão dos “cenários con-temporâneos” como desafios, interpelações e possibilidades para a evangelização.Qualificar as práticas evangelizadoras, em vista de uma específica contribuição eclesial.

METODOLOGIAA orientação metodológica constitui um dife-rencial do Master em Evangelização.O curso adota uma metodologia transdiscipli-nar e interativa, integrando teoria e prática.São oferecidos instrumentos para compreen-der a realidade atual, avaliar práticas evangeli-zadoras ou missionárias e discernir itinerários alternativos.

DISCIPLINASReflexão sobre práticas evangelizadorasCenários contemporâneos I: Globalização e pluralismo cultural e religiosoCenários contemporâneos II: Temas específicosEvangelização e novos paradigmasPressupostos bíblicos da evangelizaçãoFundamentos e métodos da leitura popular da BíbliaPressupostos cristológicos e pneumatológicos da evangelizaçãoEvangelização e diálogo ecumênico e inter-religiosoEvangelização na história da América Latina e CaribeHistória da evangelização franciscana na Améri-ca Latina e CaribeEvangelização nas fontes franciscanasEvangelização franciscana: perspectivasMetodologia de estudo e pesquisa

DESTINATÁRIOSPessoas comprometidas em práticas evange-lizadoras ou missionárias.

DURAÇÃOMarço a outubro de 2011

PRÉ-REQUISITOSCurso universitário e experiência em práticas evangelizadoras ou missionárias

LÍNGUAPortuguês e espanholPossibilidade de curso intensivo para os interessa-dos

HOSPEDAGEMInformações na secretaria do Instituto Teológico Franciscano (ITF).

INVESTIMENTODez parcelas de R$ 350,00

INFORMAÇÕESInstituto Teológico FranciscanoFACULDADE DE TEOLOGIATel. (24) [email protected]

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-8Entrevista | Frei Raúl Eguía Hernández, OFM

Entre os estudantes do Master em Evangelização deste ano está o mexicano Frei Raúl Eguía Hernández com 36 anos. Professou seus votos religiosos na Ordem Franciscana há oito anos, junto à Província do San-to Evangelho do México. Frei Raúl, de espírito sempre alegre, irradia jovialidade a todos quantos se apro-ximam e fala-nos agora um pouco mais acerca de sua visão sobre a evangelização e o curso do Master.

Site ITF: Em que área de evangeliza-ção você atuava quando foi convi-dado a participar deste Master?Frei Raúl Eguía: Eu atuava como co-ordenador da evangelização em mi-nha Província e assistente regional da JUFRA (Juventude Franciscana). No início deste triênio, morava no convento de São Francisco, traba-lhando como formador de novos frades. Depois, fui transferido para a

Sede Provincial para traba-lhar diretamente com os do-cumentos da evangelização.

Site ITF: Como ficou saben-do deste curso?Frei Raúl Eguía: Frei Felipe Ortíz Domínguez, que cursou

o Master há dois anos, faz parte

da mesma província a que pertenço. Ele foi o primeiro a ter esta oportu-nidade de vir participar deste proje-to. O Master em Evangelização ofe-recido pelo ITF já é conhecido por lá, e, com a propaganda de Frei Felipe, acabei sendo indicado para vir dar continuidade a esse projeto, como um compromisso de nossa província de enviar ao menos um de seus fra-des para estudar aqui.

Site ITF: Já se passou um semestre de estudos. Como você avalia este curso?Frei Raúl Eguía: O curso está sendo interessante, porque os professores seguem uma linha mais aberta ao diálogo. Eu acredito que estamos vivendo um período em que a ins-tituição eclesiástica e até mesmo a nossa Ordem encontra dificuldades em seu relacionamento com a rea-lidade atual, e é interessante abrir diálogo com estes cenários que se nos apresentam para que no futuro haja algumas mudanças necessá-rias para superar esta crise. É claro para mim que nosso carisma deve caminhar junto aos novos tempos. É imprescindível que aprendamos a estabelecer um diálogo aberto entre nossa instituição e o mundo,

para encontrar a clareza do que se espera ser no futuro. Nossos dis-cursos estão dissociados da prática evangelizadora. Há um verdadeiro abismo entre nossa palavra e a ação. Tudo que estamos estudando – a globalização, o liberalismo e outras dimensões relacionadas à realidade contemporânea – são importantes para ampliarem nosso horizonte evangelizador.

Site ITF: Diante de tantas possibili-dades e um tema tão amplo, qual será a questão abordada em seu trabalho de conclusão do Master?Frei Raúl Eguía: Minha monografia abordará o tema da figura Institui-ção Eclesiástica. Acredito que a rele-vância deste assunto esteja na crise que a instituição vive com a realida-de contemporânea, por não se abrir e dialogar com ela. Acredita-se que a crise nas vocações seja algo passa-geiro. Infelizmente, isso não é ver-dade. Esta crise está estreitamente ligada ao abismo entre prática e a palavra cristã. Esta é uma realidade de fundo da qual não se quer falar. Quero tratar deste tema com o de-vido respeito.

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-9Entrevista | Frei Jit Manuel Castillo de La Cruz, OFM

Frei Jit Manuel Castillo de La Cruz, frade franciscano (OFM) da Custódia Franciscana del Caribe Santa Maria de la Esperanza, com 37 anos, é um dos es-tudantes deste ano do Master em Evan-gelização do Instituto Teológico Francis-cano. Sua Custódia abrange Porto Rico, República Dominicana (de onde Frei Jit é natural) e Cuba. Antes de vir ao Brasil, era guardião (superior da fraternidade), mestre de postulantes (jovens vocacio-nados à vida consagrada) e pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Nesta entrevista, Frei Jit Manuel con-ta como está sendo sua experiência no Curso do Master.

Site ITF – Frei Jit Manuel, como você foi escolhido dentre seus irmãos de Custódia para cursar o Master, no ITF?Frei Jit Manuel: A Custódia se inte-ressa e apoia este projeto da Ordem

Franciscana que é o Master em Evangeli-zação e estimula os frades para que es-tudem. Minha vinda para o Curso foi uma coincidência entre meu querer e o da Custódia, pois eu desejava um apro-fundamento nesta área tão desafiado-ra. Por ser um Cur-so mais breve, de poucos meses (8), é interessante para nossa Custódia en-

viar seus frades para cursá-lo, pois não somos muitos irmãos por lá, e é difícil que alguém possa sair para estudos de longa duração.

Site ITF – Que avaliação você faz, até o momento, do Master em Evangeli-zação?Frei Jit Manuel: Em geral, estou gos-tando. O Master está sendo uma ótima experiência. Por isso, farei propaganda junto a meus irmãos da Custódia. E o farei, principalmente, pela possibilidade de estudar e refletir com maior profundidade as práticas pastorais que o Curso proporciona, além de fundamentar e enriquecer o conhecimento em diversas áreas da evangelização e da pastoral. Os profes-sores que mais me chamaram a aten-ção foram: Marcelo González, argen-tino, pela amplitude e atualidade de sua bibliografia; (ele trabalha com os Cenários Contemporâneos, e perce-bi que ele expandiu meus horizontes de fontes bibliográficas; o Pe. Medoro de Oliveira, pela ótima sistematização de sua disciplina acadêmica, que ofe-rece uma perspectiva bastante atual dos assuntos; e, por fim, Frei Volney Berkenbrock, pela atualidade do con-teúdo e por sua mente aberta. Site ITF – Que contribuição oferece o

Master para sua prática pastoral?Frei Jit Manuel: De maneira geral, o Curso me oferece a possibilidade de aprofundar mais esta temática. Por ser um tempo dedicado exclusivamente ao estudo, pode-se desenvolver uma melhor perspectiva das coisas. Esta perspectiva, para mim, seria a maior contribuição, ou seja, a de propiciar reflexão sobre nossa prática de evan-gelização. Muitas ideias vão surgindo no processo. Vou pensando em como colocá-las em prática, em meus traba-lhos com a Leitura Orante da Palavra e os Círculos Bíblicos. Além disso, este estudo contribui para minha função de formador ou educador.

Site ITF – Além disso, o Master po-deria oferecer alguma contribuição para a ação pastoral de sua Custódia?Frei Jit Manuel: Queremos elaborar um projeto de evangelização para nossa Custódia. Ela se empenhou muito na formação e na pastoral voca-cional, tendo dado menos ênfase na missão/evangelização. Agora, a ideia é dar maior destaque à missão neste próximo triênio, elaborando um pro-jeto de evangelização custodial. Para isso, o Master pode ajudar.

Site ITF – Qual o tema que você esco-lheu para seu trabalho de conclusão?Frei Jit Manuel: A Interculturalidade. Estamos vivendo uma mudança de época, uma mudança de paradigma, ou seja, uma mudança na forma de se ver o mundo, de pensar nossas ques-tões. Este processo implica também uma mudança na forma de se fazer pastoral, pois ela está intimamente relacionada à corrente cultural pela qual estamos passando. A questão que tento desenvolver é a de propor uma tentativa de diálogo mais efetivo entre o pro-cesso evangelizador e as diver-sas culturas, superando nossa longa tradição colonial.

Page 10: Revista ITF nº2

-10Entrevista | Frei Fernando Uribe Escobar, OFM

Discípulo de Frei Caetano Esser, Frei Fernando Uribe Escobar, OFM, é professor no Instituto Franciscano de Espiritualidade da Pontifícia Universi-dade Antonianum (PUA), em Roma. Ele se dedica ao estudo sistemático e profundo das chamadas Fontes Fran-ciscanas onde tem a cátedra “Bio-grafias e Legendas de São Francisco e Santa Clara”. Nasceu em Medellín, Colômbia, no dia 13 de agosto de 1939, e pertence à Província Francis-cana São Paulo Apóstolo, na Colôm-bia. Já publicou grande número de livros e artigos traduzidos para vários idiomas.

Neste ano, Frei Fernando retorna ao ITF, em Petrópolis, para lecionar aos alunos do Master em Evangeli-zação, em uma semana de estudos intensivos, entre os dias 22 e 27 de agosto. Nesta entrevista, ele comen-ta sobre a temática abordada em sua disciplina, suas últimas pesquisas, a sua terceira experiência no Master em Petrópolis e outros assuntos.

Site ITF – Frei Fernando, as Fon-tes Franciscanas só foram dadas ao acesso mais amplo há poucas dé-

cadas. Como este acesso foi encarado pela comunidade acadêmica, positiva ou nega-tivamente?Frei Fernando Uribe: Pode-se dizer que o fenômeno da divul-gação das fontes franciscanas encontrou um bom suporte na “Comunidade acadêmica”, to-

mada em sentido geral. Graças a esse suporte, há muitas insti-tuições acadêmicas do mundo franciscano que oferecem pro-gramas de estudo adequados às necessidades de seus usuá-rios; alguns destes programas são muito completos e rigoro-sos.

Site ITF – A temática que você aborda nesta semana diz so-bre o modo franciscano de evangelizar. Essa distinção já

chama muito a atenção de quem lê. Que ideias ou intuições perpassaram sua pesquisa para propor este tema?Frei Fernando Uribe: Creio que a ideia dominante que atravessa meu estudo neste tema é a união estreita que há entre a “evangelicidade” e a “evange-lização”. Tudo parte da experiência de Francisco de Assis, que chegou a ser um grande evangelizador, porque foi um homem profundamente evangé-lico.

Site ITF – Em sua opinião, o modo franciscano de evangelizar ainda en-contra resposta na sociedade?Frei Fernando Uribe: Creio que sim, precisamente pelo caráter testemu-nhal que tem.

Site ITF – As ordens religiosas, atual-mente e de forma bastante generali-zada, estão em um tempo de “crise”, e já se fala muito em “redimensio-namento”, “reestruturação” ou até mesmo “refundação”. Que contribui-ção este modo franciscano de evan-gelizar pode trazer neste sentido?Frei Fernando Uribe: Entendo que a “crise” da vida religiosa se deva em grande parte à falta de autenticidade. Se isto é verdade, então é apenas ló-gico que a grande contribui-ção do modo franciscano de evangelizar se deduz de seu caráter testemunhal, que não é outra coisa que viver auten-ticamente.

Site ITF – O “Master em E v a n g e l i z a -ção”, há três anos, está formando e acompanhando discípulos e discípu-las de Cristo Evangelizador. Em sua opinião, depois deste tempo de ma-turação, que perspectivas novas este curso pode oferecer?Frei Fernando Uribe: O curso “Master em Evangelização” é uma iniciativa louvável do Instituto Teológico Fran-ciscano de Petrópolis. Como todas as obras boas, também esta passou por dificuldades no seu início, espe-cialmente por causa da não suficien-te resposta por parte das entidades franciscanas da América Latina. Com vistas ao futuro, parece-me indispen-sável que o Instituto continue com a mão firme no timão, quer dizer, man-tendo a oferta deste espaço educati-vo, de modo que se consolide e pos-sa em breve transformar-se em uma verdadeira Faculdade de Ciências da Evangelização.

Site ITF – Quais são suas impressões deste ano e as perspectivas para o próximo ano?Frei Fernando Uribe: É opinião co-mum que o grupo de estudantes que frequentou o curso neste ano se dis-tinguiu por seu interesse e aplicação. Este fato os qualifica positivamente não somente a eles, mas também à Instituição. É de se esperar que o fe-nômeno se repita em maior medida no próximo ano.

Page 11: Revista ITF nº2

-11Pós-Graduação

Espiritualidade, Ecologia, Educação:Uma abordagem transdisciplinar

O Instituto Teológico Franciscano (ITF) oferece o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu “Espiritua-lidade, Ecologia e Educação – uma abordagem transdisciplinar”. O curso tem a duração de três anos (360 horas/aula), sendo que a primeira eta-pa foi realizada de 10 a 29 de janeiro do deste ano; a segunda etapa, de 9 a 28 de janeiro de 2012 e a última etapa, de 8 a 26 de janeiro de 2013.

Segundo o coordenador do curso, o teólogo e pro-fessor do ITF, Frei Sinivaldo Silva Tavares, embora existam vários cursos que se ocupam da questão ambiental, faltava uma abordagem dessas três áreas do conhecimento, a Espiritualidade, a Eco-logia e a Educação, interconectando-as mediante um viés inter e transdisciplinar.

“Acredito que ainda hoje o nosso Curso é o úni-co, em nível de pós-graduação, que se proponha esta abordagem. Seu diferencial consiste na arti-culação entre as dimensões constitutivas da Eco-logia concebida como novo paradigma, a saber: a ecologia ambiental, a ecologia social, a ecologia mental e a ecologia integral/espiritual”, explica Frei Sinivaldo.

Além de aulas expositivas, serão oferecidas ofici-nas temáticas (workshops). Tanto as aulas quanto as oficinas acontecerão de segunda a sexta-feira (7 aulas cada dia: 4 de manhã e 3 à tarde). Aos sábados, serão programadas visitas a experiências ecológicas alternativas.

ProfessoresDr. Inácio Neutzling – UNISINOSDr. José Augusto Pádua – UFRJDr. Ludovico Garmus – ITFDr. Luis Carlos Susin – PUC-RSMs. Maristela Barenco C. de Mello – UERJDr. Pedro Demo - UnBDr. Sinivaldo S. Tavares – ITFMs. Valesca B. B. Fernandes – C. Mendes/EstácioMs. Vitório Mazzuco – ITFConteúdo1ª Etapa: ECOLOGIA, CIÊNCIA E NOVO PARADIGMA1. A Ecologia: novo paradigma2. O Estado da Terra: perspectiva histórica3. A Transdisciplinaridade: nova perspectiva4. A Eco-espiritualidade: nova perspectiva5. Gaia: a perspectiva biológica da Ecologia6. A educação numa perspectiva ecológica7. A Carta da Terra2ª Etapa: ECOLOGIA SOCIAL1. Sociedades sustentáveis2. Economia solidária3. Ética planetária4. O caso do Brasil: perspectiva histórica5. A educação para a cultura da Paz6. Eco-espiritualidade e ecologia social7. A ecologia na Legislação Brasileira3ª Etapa: ECOLOGIA INTEGRAL1. Eco-espiritualidade e cultura da Paz2. Eco-espiritualidade indígena3. Eco-espiritualidade afro-brasileira4. Eco-espiritualidade budista5. Eco-espiritualidade judeu-cristã6. Eco-espiritualidade e cultura da Paz na ótica franciscana7. Relação entre corpo e saúde8. Eco-espiritualidade e Educação

Valor da Inscrição R$ 50,00 (cinquenta reais)Investimento: 24 parcelas de R$ 190,00 (cento e noventa reais)Mais informações:(24) 2243-9959 e 2231-6409e-mail: [email protected]

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-12Curso de Extensão

Entrevista | Frei Antônio EveraldoNo dia 16 de agosto (terça-feira),

começou no Instituto Teológico Fran-ciscano o Curso de Extensão: “A Pa-lavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”, coordenado pelo Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho, OFM, que é doutor em Exegese Bíblica e profes-sor de Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia - ITF.

Neste segundo semestre de 2011, o ITF oferece às terças-feiras à noite o curso de extensão “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Os par-ticipantes terão oportunidade de ter uma boa introdução ao livro sagrado e de perceber sua atualidade. Nesta entrevista Frei Antônio Everaldo P. Ma-rinho apresenta o curso.

Site ITF – Como surgiu a ideia deste curso de extensão?Frei Everaldo: A ideia deste curso surgiu em reuniões feitas junto com alguns estudantes da Faculdade de Teologia - ITF, no primeiro semestre deste ano. A temática, desde o início, era a Palavra de Deus, codificada no li-vro da Bíblia. Como ponto de partida nós tomamos a Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Palavra de Deus, intitulada “Verbum Domini”, que foi publicada em 2010, portanto, bastante recente, e que está servindo de refe-rência para a ação evangelizadora da Igreja Católica, pois propõe a redesco-berta da Palavra de Deus como fonte de constante renovação. Neste intuito,

este curso foi dividido de tal forma que contempla tanto a formação do conjunto de livros sagrados como as diversas in-terpretações.

Site ITF – Quais são as perspec-tivas para este curso?Frei Everaldo: É um curso bas-

tante inusitado, pois, além de trazer um pouco da base histórico-crítica que perpassa a Bíblia, portadora da Palavra de Deus, vai reportá-la ao nosso tem-po, através da questão interpretativa nos primeiros séculos e na atualidade, tendo como referência a Exortação Apostólica “Verbum Domini”. Através deste curso, os participantes terão oportunidade de ter uma boa introdu-ção ao livro da Bíblia e de perceber sua atualidade.

Site ITF – Por que este título: “A Pala-vra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”?Frei Everaldo: Porque a primeira inten-ção era fazer um curso de Introdução à Bíblia. Ora, a Bíblia é portadora da Pala-vra de Deus. E viver e difundir a Palavra de Deus é missão da Igreja. Enquanto assim pensávamos, tínhamos em mão a Exortação Apostólica “Verbum Do-mini”, fruto do Sínodo dos Bispos de 2008. Ora, o subtítulo da Exortação – A Palavra de Deus de Deus na Vida e na Missão da Igreja – veio justamente ao encontro daquilo que tentávamos ima-ginar: Bíblia, Palavra de Deus, Missão da Igreja. Por isso, o título.

Site ITF – Como se desenvolverá o cur-so?Frei Everaldo: A programação reserva um primeiro bloco ao Livro da Bíblia: seu contexto, sua origem, formação e inspiração. Os cinco primeiros temas serão apresentados e coordenados por professores do ITF, juntamente com estudantes do curso de gradua-ção da Faculdade de Teologia, culmi-nando com a abordagem da Exortação Apostólica “Verbum Domini” por Dom Filippo Santoro, bispo da Diocese de Petrópolis-RJ. Em seguida, será ofereci-da uma oportunidade de dialogar com

nossos irmãos da Igreja de Confissão Luterana do Brasil, através do Pastor Elton Pothin. Num terceiro momento, o diálogo se estenderá às seguintes tradições não cristãs: com o judaísmo, através do Dr. Saul Stuart Gefter (dire-tor executivo da Sinagoga P’neiÓ), jun-tamente com uma estudante do curso de graduação do ITF; com a tradição muçulmana, através de Frei Volney J. Berkenbrock e do missionário Wassim Ahmad Zafar, da comunidade muçul-mana Ahmadia do Brasil. Um quarto bloco diz respeito à interpretação da Bíblia nos primeiros séculos do cristia-nismo e na Igreja Católica hoje. Para este bloco, o curso contará novamente com a participação de professores do ITF e de estudantes do curso de gradu-ação. No quinto momento, a temática abordada será a Palavra de Deus na Sagrada Liturgia. E, por último, será abordada a relação entre a Sagrada Es-critura e algumas expressões artísticas.Enfim, optou-se por um formato o mais amplo e abrangente possível, a fim de oferecer um curso aberto, com a participação de professores, estu-dantes e convidados especiais. Assim, será abordado de modo dialogal o cen-tro da vida cristã, a Palavra de Deus.

Site ITF – No programa consta a par-ticipação de diversos palestrantes, inclusive de outras religiões. Qual o objetivo ao incluir este aspecto?Frei Everaldo: Justamente por causa da metodologia adotada para o curso

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-13e por este querer ser uma introdução abrangente, a participação de tradi-ções cristãs e não cristãs é de suma importância, visto que devemos dialo-gar, inclusive com o diferente, para se poder, de forma coerente, anunciar a grande alegria que brota do encontro com a Palavra de Deus.Site ITF – Em sua opinião, este curso elabora um conteúdo de interesse e relevância para a sociedade?

Frei Everaldo: Embora o curso se dirija àqueles que buscam aprofundar-se na Palavra de Deus e em sua relação com a vida e com a missão da Igreja Cató-lica, na verdade, ele pretende mais: quer resgatar, recuperar, redescobrir e recordar a Palavra de Deus como fon-te essencial e primeira pela qual toda a vida humana acontece. Por motivos históricos, às vezes, à Palavra Divina não foi dada a devida importância, ou

ela foi tomada como um conjunto de livros sujeito a uma interpretação sub-jetiva. Mas, longe de qualquer extre-mismo, o curso se propõe uma ampla introdução à Bíblia e ao que brota e jorra desta fonte viva, que é a própria Palavra de Deus.Portanto, convidamos todos os inte-ressados para redescobrirem o valor da Palavra Divina em nossa vida.

O Instituto Teológico Fran-ciscano deu início, na noite de terça-feira (16/08), ao Curso so-bre A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, com o tema: Terra Santa e Bíblia Sagrada. Frei Antônio Everaldo P. Marinho* e Frei Rodrigo da Silva Santos* apresentaram uma Introdução à Sagrada Escritura.

Nesta introdução foram abordados temas básicos relacio-nados à Bíblia, como: origem da denominação “Bíblia” e a relação com a textura material utilizada: o papiro, o porquê da existência de dois Testamentos e sua inter--relação, problemática da leitura fundamentalista e apresentação de diversas edições da Bíblia, aconselhando quais são as mais indicadas para um estudo apro-fundado dos textos sagrados.

Destacou-se que é à luz do Antigo Testamento que o Novo entende a vida, a morte e a glo-

rificação de Jesus (1Cor 15,3-4). Por outro lado, o Novo convida a ler o Antigo à luz de Jesus Cristo (Lc 24,45). É necessário tomar distância de uma leitura ao pé da letra (fundamentalista), a fim de se conhecer o contexto histórico em que a Bíblia foi redigida e as-sim levar a sério a mediação hu-mana do texto inspirado.

Na segunda parte desta noi-te, os olhos dos participantes se encheram de luz com a apresen-tação através de mapas e fotos sobre a Terra Santa. Destacando e contextualizando os locais onde se passaram os fatos narrados na Bíblia, as cidades mais famosas e as igrejas cristãs construídas nos lugares santos, pode-se entender melhor a mediação humana nos escritos bíblicos. Uma verdadeira viagem pela Terra Prometida e pelos lugares onde Jesus viveu e por onde caminhou.

ITF dá inícío ao Curso sobre Sagrada Escritura

“Terra Santa e Bíblia Sagrada”

* Frei Antônio Everaldo P. Marinho é doutor em Exegese Bíblica e professor de Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia – ITF.* Frei Rodrigo da Silva Santos é frade franciscano, graduado em Filosofia e estudante do Curso de Teologia – ITF.

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-14

O “Papiro P52” é o mais antigo papiro cristão, datado de 125 d.C., é um frag-mento do Evangelho de S. João encon-trado no Egito; atesta que esse escrito já estava difundido desde aquela épo-ca, longe de seu lugar de origem. Fren-te e verso contêm, respectivamente, Jo 18,31-33 e 18, 37-38. Este papiro está preservado na Biblioteca John Rylands, em Manchester, Inglaterra. Cf. ALAND K., ALAND B., Il Texto del Nuovo Testa-mento, Genova: Marietti, 1987, p.93.

Curso de Extensão

“Bíblia Sagrada”1. A Origem do termo Bíblia - ta/ Bibli/a

palavra Bíblia na nossa lín-gua vem do termo grego ta/ Bibli/a (plural neutro de to/ Bi-

bli/on) que significa os livros.1 A Bíblia deve o seu nome ao pa-

piro. Os gregos chamavam os rolos de papiro de Bíblia por causa do por-to marítimo de Bíblos, na região da Fenícia, que era um dos maiores ex-portadores de papiro do Egito. Aos poucos, a palavra acabou designan-do “livro” e mais tarde “o Livro”.

O papiro foi o primeiro material leve, de baixo custo e durável para escrita. Isso lhe garantiu uma posição importante na história da Bíblia. Mui-tas das cópias mais antigas dos livros da Bíblia, incluindo alguns dos rolos do Mar Morto de mais de 2000 mil anos de idade, sobreviveram em pa-pel feito de caniço de papiro2.

Os Padres gregos já usavam a pa-lavra Bíblia para indicar todos os livros

juntos, do Antigo Testamento e Novo Testamento (2Clem 14,2 em torno de 150 dC), em imitação, aliás, de semelhantes denominações, dadas muito antes aos livros sagrados pelos judeus helenistas para indicar livro ou livros; esses termos se encontram na Bíblia geralmen-

te com o artigo, e nem sempre com o adjetivo i(era/ ou i(erai/ ou a(gi/oj (sagra-do/santo):

bi/bloj ( 2Mc 8,23; Mt 1,1)livro/rolo

e)n toi=j bi/bloij (Dn 9,2 –LXX)livros/rolos

To/ Bibli/on (Lc 4,1)livro/rolo

e)n grafaij a(gi/ai=j (Rm 1,2)Santas Escrituras

i(era/ gra/mmata (2Tm 3,15; Jo 5,47)Sagradas letras/Escrituras

O nome grego Bibli/a foi também adotado, com o mesmo sentido, no latim, mas na época do latim tardio a palavra Bíblia, originalmente neu-tra, plural, tornou-se uma palavra fe-minina, singular. Essa denominação passou assim para as línguas moder-nas3.

2. Os dois TestamentosA Bíblia divide-se em Antigo Tes-

tamento (Primeiro)4 e Novo Testa-mento. O termo testamento traduz o grego diaqhkh e o hebraico tyir:B (berît) = pacto, contrato, aliança5. No Novo Testamento, o Antigo Testa-mento é citado como autoridade (Lc 10,25ss), como “Escritura inspirada pelo Espírito de Deus” (2Tm 3,16). O AT também é considerado “a Escri-tura” ou “as Escrituras” pura e sim-plesmente (Lc 4,21; 24,27ss.). Esta designação reflete o alto conceito de que goza e que, em certo sentido, é singular6.

“São estas as palavras que eu vos falei, quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. En-tão abriu-lhes a mente para que enten-dessem as Escrituras. (Lc 24,44-45)

A partir desta compreensão, E. Zen-ger, adverte que hoje precisamos supe-rar o ‘marcionismo’7 latente e sutil que

opera quando se lê e prega por princípio o Antigo Testamento com óculos neo-testamentário cristãos de “cumprimen-to” ou “superação”8. No Documento da Pontifícia Comissão Bíblica, “O povo Judeu e as Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã”, procura-se, de vários modos, demonstrar que o AT e o NT são inse-paráveis. Neste sentido se afirma que: “às Escrituras do povo judeu, recebidas como autêntica Palavra de Deus, a Igreja cristã acrescentou outras Escrituras, que exprimem a sua fé em Jesus, o Cristo. Em consequência disso, a Bíblia cristã não compreende um Testamento úni-co, mas dois Testamentos, o Antigo e Novo... Portanto é à luz do Antigo Testa-mento que o Novo compreende a vida,

A

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Cerimônia do Bar mitzvá que esta-belece os treze anos para os meninos (e aos doze para as meninas) como idade do acesso à maioridade reli-giosa e ao cumprimento dos precei-tos, e outras tradições judaicas .Bar mitzvá origina-se parcialmente do aramaico, a língua do Talmud. “Bar” significa literalmente “filho de”, e “mitzvá” significa “manda-mento” = “Filho do mandamento”.

a morte e a glorificação de Jesus (1Cor 15,3-4). Mas a relação pode ser recípro-ca: de um lado, o Novo Testamento exi-ge ser lido à luz do Antigo, mas de outro, convida a reler o Antigo à luz de Cristo Jesus (Lc 24,45)”9.

“São estas as palavras que vos falei, quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moi-sés, nos Profetas e nos Salmos”.

3. O Estudo da Bíblia“Até que período da vida a pessoa deve estudar a Torá (Lei)? Até o dia da sua morte, como está escri-to: “E para que ela não seja remo-vida de seu coração em todos os dias de sua vida” (Dt 4,9). Quando se para de estudar se esquece10.

No percurso de nossa vida, mui-

tas vezes, só acordamos para a ne-cessidade da leitura e do estudo da Sagrada Escritura quando já atin-gimos a idade adulta, mas, mesmo assim, não reservamos para Ela um espaço suficiente para o aprofunda-mento assíduo e ordenado. Neste sentido, é sempre bom lembrar a respeito da seriedade e importância que as palavras dos livros da Sagra-da Escritura ocupavam e ocupam na vida de nossos irmãos judeus e, ao mesmo tempo, o cuidado com a lei-tura e o aprendizado de seus filhos. Este cuidado aparece de um modo claro no livro do Deuteronômio (6,20-25):

“Amanhã, quando o teu filho te per-guntar: “que são estes testemunhos e estatutos e normas que Iahweh nos-so Deus vos ordenou?”, dirás ao teu filho: “Nós éramos escravos do Faraó no Egito, mas Iahweh nos fez sair do Egito com mão forte. Aos nossos olhos Iahweh realizou sinais e prodígios grandes e terríveis contra o Egito, con-tra o Faraó e toda a sua casa. Quanto a nós, porém, fez-nos sair de lá para nos introduzir e nos dar a terra que, sob ju-ramento, havia prometido aos nossos pais. Iahweh ordenou-nos então cum-prirmos todos estes estatutos, temen-do Iahweh nosso Deus, para que tudo nos corra bem, todos os dias; para dar-nos a vida, como hoje se vê. Esta será a sua justiça: cuidarmos de pôr em prática todos estes mandamentos diante de Iahweh nosso Deus, confor-me nos ordenou” (Dt 6,20-25).

Neste pequeno texto, observa-mos que a memória histórica e reli-giosa de um povo é transmitida para os seus filhos11, ajudando-os a atua-lizar o passado, situar se no presente e a encontrar o caminho da vida.

4. A perspectiva dos escritores bíblicosNo estudo da Sagrada Escritura,

devemos ter bem presente que na perspectiva dos escritores bíblicos, a ‘história’ se restringia a um meio para uma finalidade mais importan-te, e nunca era um fim em si mesma. Em sua concepção, a verdade de um

acontecimento não residia no fato de ele ocorrer, mas no significado de que se revestia. Esperar que a Bíblia nos diga “o que de fato aconteceu” é esperar algo que os seus escritores nunca pretenderam que ela fizesse12.

A falta de esclarecimento, mui-tas vezes, poderá levar-nos a uma leitura funtamentalista. Esta leitura parte do princípio de que a Bíblia, sendo Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deva ser lida e inter-pretada literalmente em todos os seus detalhes. Mas por interpreta-ção literal ela entende uma inter-pretação primária literalista, isto é, excluindo todo esforço de compre-ensão da Bíblia que leve em conta seu crescimento histórico e seu de-senvolvimento. Ela se opõe assim à utilização do método histórico-críti-co, como de qualquer outro méto-do científico, para interpretação da Escritura. [...] Também o fundamen-talismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ele coloca na vida uma falsa certeza, pois ele confunde inconscientemen-te as limitações humanas da mensa-gem bíblica com a substância divina dessa mensagem13.

“A verdadeira resposta a uma leitura fundamentalista é a ‘leitura crente da Sagrada Escritura, praticada desde a antiguidade na Tradição da Igreja. [Tal leitura] procura a verdade salvífi-ca para a vida do indivíduo fiel e para a Igreja. Esta leitura reconhece o valor histórico da tradição bíblica. Precisa-mente por este valor de testemunho histórico é que ela quer descobrir o significado vivo das Sagradas Escritu-ras destinadas também à vida do fiel de hoje’, sem ignorar, portanto, a me-diação humana do texto inspirado e os seus gêneros literários”14.

Por isso, temos que ter a consciência de que a Bíblia, para se formar, levou mais de um milênio, e sua redação final aconteceu há dois mil anos. Assim, os leitores/estudantes atuais são impelidos a voltar

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-16no tempo para alcançar uma compreen-são apropriada, a partir do conhecimen-to do contexto vital, pois “não se trata de uma palavra sem importância para nós: é nossa vida” (Dt 32,47).

5. A introdução à BíbliaA Bíblia, na sua materialidade de livro

palpável, que pode ser tomado, aberto e lido, leva-nos, em algum momento ou em outro, a nos interrogarmos sobre a forma pela qual foi elaborada nessa mesma ma-terialidade, ainda que seja forte em nosso espírito a convicção de que ela foi “inspi-rada, de que é “obra divina” ou Palavra de Deus”15.

Do que trata a introdução à Bíblia? A in-trodução à Bíblia aborda elementos funda-mentais para a compreensão da constituição da Sagrada Escritura, por exemplo: a terra da Bíblia: elementos de geografia e arqueologia bíblica, história de Israel e a formação dos livros bíblicos do AT e NT, Sagrada Escritura, inspiração e verdade, a interpretação da Bí-blia e línguas bíblicas (grego e o hebraico), etc.

Esta introdução é uma etapa de prepara-ção ao estudo mais detalhado de cada livro bíblico, isto é, seus aspectos particulares , ou seja, quem foi seu autor, em que circuns-tâncias (de tempo e lugar, etc.) foi ele escrito e principalmente qual o conteúdo da obra, seus textos mais significativos e os dados ca-racterísticos de sua mensagem divina16.

Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho, OFM

1. Cf. BALZ H., “Bili/on”, in: Dic-cionario Exegetico del Nuevo Testamen-to vol.I, Balz H; Schneider G., Ediciones Sigueme, Salamanca 2001, p.651-655. Grossouw W., “Bíblia”, in: Dicionário En-ciclopédico da Bíbila, Born A.V.D (org.), Petrópolis: Vozes, 2004, p.181.

2. Miller S M; Huber R. V; A Bíblia e sua História - O surgimento e o impac-to da Bíblia , São Paulo: SBB, 2006, p.20.

3. Grossouw W., “Bíblia” in: Di-cionário Enciclopédico da Bíbila, Born

A.V.D (org.), p.181.4. “Hoje em alguns ambientes, tende-se a usar o título Primeiro Testa-mento, para evitar a conotação negativa que se poderia atribuir ao Antigo Testa-mento. Mas “Antigo Testamento” é uma expressão bíblica e tradicional que não tem em si nenhuma conotação nega-tiva: a Igreja reconhece plenamente o valor do Antigo Testamento”. “O Título Antigo Testamento, dado ao conjunto de escritos, é uma expressão cunha-da pelo Apóstolo Paulo para indicar os escritos atribuídos a Moisés (cf. 2Cor 3,14-15). O seu significado foi ampliado mais tarde, no decorrer do século II, e aplicado a outras Escrituras do povo ju-deu, em hebraico, aramaico e grego. O título “Novo Testamento” provém, por sua vez, de um oráculo de Jeremias que anuncia uma nova aliança (Jr 31,31), expressão que se tornou, no grego dos Setenta, nova disposição, Novo testa-mento (kainh\ diaqh/kh)... Também é chamado de “ Novo Testamento” um conjunto de escritos que exprime a fé da Igreja na sua novidade. Já por si só este título manifesta a existência de re-lações com o Antigo Testamento”. Cf. O Povo Judeu e as Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã, PCB, Coleção Documentos da Igreja nº 8, São Paulo: Paulina, 2001, n. 2, p.52; 18.

5. Deus quer levar os homens a uma vida de comunhão com Ele. É esta ideia, fundamental para a doutrina da salvação, que se expressa no tema da Aliança. Para um aprofundamento do tema “aliança”, cf. Leon-Dufour X. (org.)., Vocabulário de Teologia Bíblica, Petrópolis: Vozes, 2002, p.26-33; Cf. também Hegermann H., “diaqh/kh”, in: Diccionario Exegetico del Nuevo Tes-tamento vol. I, Balz H; Schneider G. , p.901-910.

6. SCHMIDT W. H. Introdução ao Antigo Testamento, São Leopoldo: Sino-dal/IEPG, 2002, p.12.

7. Marcião (teólogo romano, +160 d.C), partindo da ideia que S. Paulo foi o verdadeiro intérprete e pregoeiro do pensamento de Jesus, rejeitou inte-gralmente os livros do AT, cujo Deus (um ser justo que em suas promessas visa-va apenas o bem temporal dos judeus) não pode ser considerado o Pai de Jesus Cristo. Dos Evangelhos Marcião mante-ve só o Evangelho de Lucas e das epís-tolas paulinas conservou apenas dez. As

teorias de Marcião aceleraram a formu-lação do cânon do NT pela Igreja. Irineu (+202) e Tertuliano (+220) afirmam que Marcião mutilou livros em larga escala e tomou a ideia de uma lista de livros da própria Igreja. Pode-se, pois, afirmar que já em meados do séc. II dC. havia uma lista de livros inspirados, embora persistissem dúvidas sobre os livros.

8. ZENGER E., “A Sagrada Escritu-ra de Judeus e Cristãos”, in: Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo: Loyo-la, 2003, p.21.

9. O Povo Judeu e as Sagradas Es-crituras na Bíblia Cristã, PCB, p.51-53.

10. Cf. Maimôndes Rambam (1135-1204), Mishné Torá – O Livro da Sabedoria, Rio de Janeiro: Imago, 2000, p.185.

11. Para elucidar a transmissão do saber aos filhos, citamos um trecho das Leis sobre o estudo da Torá:“Quando um pai deve começar a ins-trução de seu filho na Torá? Tão logo a criança começe a falar, o pai deve insi-nar-lhe o texto: “Moisés nos ordenou a lei” (Dt 33,4) e o primeiro verso da She-má (6,4). Mais tarde, segundo a capaci-dade da criança, o pai deve ensinar-lhes versos de cada vez, até que ela atinja a idade de seis ou sete anos. Então, de-pendendo da saúde da criança, ela de-verá ser levada a um professor de crian-ças”. “O ensinamento para as meninas é praticamente igual ao dos meninos”.Cf. Maimôndes Rabam, Mishné Torá – O Livro da Sabedoria, p.184.206.

12. GABEL, J.B; WHEELER, C.B., A Bí-blia como Literatura –Uma Introdução, vol.10, São Paulo: Loyola 1993, p. 57.

13. Cf. A Interpretação da Bíblia na Igreja, Pontíficia Comissão Bíblica, DP. 260, Petrópolis: Vozes, 1994, p.62.65.

14. BENTO XVI, Exortação Apos-tólica Pós-Sinodal – Verbum Domini – Sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, Doc. 194, Paulinas: São Paulo, 2011, p.87-88.15. Cf. Gibert P., Como a Bíblia foi escrita - Introdução ao Antigo e ao Novo Testa-mento, São Paulo: Paulinas, 1999, p.6.

16. Ballarini T. (org.)., Introdução à Bíblia, vol.I, Petrópolis: Vozes, 1968, p.23-24.

Notas:

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-17COMO FAZER PAPEL DE PAPIRO

Como mostram algumas pintu-ras egípcias antigas em paredes, os homens colhiam os caniços de pa-piro, arrancando-os de dentro do rio, fazendo feixes e carregando-os nas costas. Artífices cortavam, en-tão, os caules em pedaços meno-res de cerca de trinta centímetros ou pouco mais longos. Em seguida, eles cortavam fora a camada exter-na do caule, deixando exposto o cilindro da medula branca e mole que ficava do lado de dentro.

A medula, ainda úmida, era, então, fatiada no comprimento em tiras mais finas, normalmente de cerca de um a três centímetros de largura. Essas tiras podiam ser se-cadas e guardadas para uso poste-rior ou podiam ser imediatamente aproveitadas para a fabricação de folhas de papiro.

Para se fazer uma folha, as tiras eram colocadas lado a lado em uma superfície dura como, por exemplo, uma tábua. As tiras paralelas ape-nas se encostavam ou levemente se sobrepunham. Então, uma segun-da fileira era colocada por cima da primeira, com suas tiras posiciona-das de forma transversal à primeira

Em seguida, os ar-tífices martelavam e pressionavam as tiras úmidas até as fibras da medula se entrelaçarem unindo as duas fileiras. Depois disso, as folhas fi-cavam secando ao sol, formando um material de escri-ta de um branco cremoso. Esse ma-terial era flexível e durável

Os escribas po-diam escrever em folhas individuais de papiro. Mas as folhas eram, muitas vezes, cola-das umas às outras com uma pasta de farinha para formar um rolo, ge-ralmente, de 20 folhas. Os escribas preferiam usar o lado com as tiras horizontais, porque assim eles po-diam movimentar a pena no senti-do fibras. Mas muitos rolos antigos de papiro apresentam a escrita dos dois lados. Cf. MILLER, S.M.; HU-BER, R.V.; A Bíblia e sua História - O surgimento e o impacto da Bíblia, São Paulo: SBB, 2006, p.21.

Papiros plantados no pátio do ITF - Petrópolis, RJ

Duas figuras e hieróglifos de-coram uma folha de papiro. Segurando a folha na frente da luz, é possível ver que ela foi feita pela sobreposição de tiras do caule de papiro dis-postas em ângulos retos umas em relação às outras.

Page 18: Revista ITF nº2

-18Curso de Extensão

O Curso de Extensão “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igre-ja” em seu segundo encontro contou com a maestria do doutor em Exe-gese Bíblica, Frei Ludovico Garmus, que, sob o tema: “Bíblia Judaica e a formação do cânon”, abordou a for-mação do Livro Sagrado desde sua origem até a Bíblia que possuímos hoje.

Frei Ludovico partiu da seguinte pergunta: o que teria sido necessá-rio, segundo os judeus, para que um livro bíblico tivesse sido considera-

do “revelado pelo Senhor” e, assim, fosse incluído entre os textos sagra-dos? Em resposta, disse ele que o livro deveria contemplar as imagens de Deus condizentes com o modo re-ligioso judaico e representar sua fé e seus costumes; só então poderia ser lido nas sinagogas.

A história da elaboração do câ-non judaico, por seu turno, está inti-mamente ligada à fé do povo judaico na presença e na ação de Deus em sua história, desde sua formação inicial, passando pelo Êxodo, até a

Terra Prometida, incluídos, pois, suas lutas, vitórias, derrotas, pe-ríodos de exílio e retorno à terra. Atendendo a estes requisitos, aos poucos, a Bíblia Judaica foi sendo estruturada em suas três grandes partes: a Lei (Torá – Pentateuco), os Profetas (Nebî’ím) e os Escritos (Ketûbîm). Ela só contém os livros escritos em hebraico e em aramai-co, excluindo os chamados livros deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e 1-2 Macabeus.

*Frei Ludovico Garmus, reli-gioso franciscano, é doutor em Exegese Bíblica, coor-denou a nova tradução da Bíblia Vozes, é o editor res-ponsável pela revista “Es-tudos Bíblicos” e leciona Sagrada Escritura na Facul-dade de Teologia do ITF.

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No terceiro encontro do curso “A Palavra de Deus na Vida e na Mis-são da Igreja” (30/08), a respeito da Formação do Cânon do Antigo Testa-mento da Bíblia Cristã. Frei Antônio Everaldo P. Marinho* e Frei Douglas Paulo Machado* apresentaram de que forma a estrutura da Bíblia Ju-daica, tema do encontro anterior, foi adaptada para a formação do cânon do Primeiro Testamento da Bíblia Cristã. Sabe-se que, para os judeus, a Bíblia está dividida em três grandes blocos: a Torá, os Profetas e os Escri-tos. No Antigo Testamento Cristão, esses livros, 39 ao todo, estão re-es-truturados em quatro partes: o Pen-

t a t e u c o , os Livros Históricos, os Livros Sapienciais e os Livros Proféticos. Com ex-ceção do pr imeiro, houve al-terações em todos os blocos. A sequ-ência, portanto, dos livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã é dife-rente dos da Bíblia Judaica.

Entre os cristãos também há di-ferença em relação ao cânon do An-

tigo Testamento. Os evangélicos, em geral, possuem os mesmos 39 livros da Bíblia Judaica, mas em outra ordem, a mesma da Bí-blia Católica. A Igreja Católica, por sua vez, considera mais 7 livros também divinamente inspira-dos, os chamados deuterocanô-nicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1Macabeus e 2Macabeus. Alguns desses livros foram escritos em grego, outros, embora escritos em outra língua, só se conservaram em língua gre-ga. Além desses livros, há alguns acréscimos, também em grego, nos livros de Ester e Daniel. Outra diferença nas Bíblias Católicas e Evangélicas é o Livro de Jó, con-siderado livro Sapiencial, no caso de católicos, e livro Histórico, no caso dos evangélicos.

O processo de formação do câ-non da Bíblia Judaica encontra-se quase completamente ultimado

em meados do século II a.C., porém a lista definitiva não se estabelece senão nos finais do século II dC. Já o estabelecimento do cânon cristão do Antigo Testamento ocorreu num período tardio, no século VI dC. É inegável que o Cristianismo tenha surgido no interior do Judaísmo, pois Jesus de Nazaré era filho do povo judeu, tal como eram os doze que ele escolheu como apóstolos. No início, a pregação apostólica se dirigia somente aos judeus e proséli-tos (pagãos associados à comunida-de judaica). O Cristianismo nasceu, portanto, no interior do Judaísmo. Depois, foi progressivamente se se-parando, mas a Igreja não pôde ja-mais esquecer as suas raízes judai-cas, claramente atestadas em várias passagens do Novo Testamento. Como que uma abertura do Novo Testamento, no último livro do Anti-go Testamento, Malaquias, na visão cristã, profetiza a vinda de João Ba-tista:

* Frei Antônio Everaldo P. Marinho é doutor em Exegese Bíblica e professor de Sagrada Escritura na Faculdade de Teologia – ITF.* Frei Douglas Paulo Machado é frade franciscano, graduado em Filosofia e estudante do Curso de Teologia – ITF.

“A Bíblia Cristã: o AntigoTestamento e a Formação do Cânon”

“Eu vou enviar o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim” (Ml 3,1).

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Curso de Extensão

No dia 11 de agosto (quinta-feira), começou no Instituto Teológico Fran-ciscano em Petrópolis (RJ) o Curso de Extensão: “Espiritualidade para uma Vida Virtuosa”, com Frei Vitório Ma-zzuco, OFM, que é mestrado em Teo-logia com especialização em Teologia Espiritual no Pontificium Athenaeum Antonianum, Roma, Itália. Frei Vitó-rio fez a profissão solene na Província da Imaculada Conceição e é natural de Campo Limpo Paulista, São Paulo. Nasceu em 1953 e ingressou no ano de 1973 na Ordem dos Frades Meno-res, foi ordenado sacerdote em 1979. Estudou Filosofia e Teologia no Insti-tuto Teológico Franciscano, Petrópo-lis.

Compreender a existência huma-na é um constante desejo do coração das pessoas para esta busca o ser hu-mano é auxiliado por luzes que irra-diam o caminhar. Dentre estas luzes, encontra-se a espiritualidade e ainda mais quando esta palmilha para uma vida virtuosa. Nesta entrevista, Frei Vitório nos fala um pouco sobre o cur-so que dará.

Site ITF - A convite da Faculdade de Teologia – ITF, o senhor aceitou com-partilhar um pouco de sua sabedoria conosco. Conte-nos qual é o objetivo deste curso.Frei Vitório: Retorno com alegria à sala de aula do ITF. Fiquei imensa-mente feliz com o convite de Frei

Sandro (diretor do ITF) para dar este curso. O objetivo do curso é despertar no humano dons naturais e virtudes conquista-das para qualificar a vida e le-var à uma transformação.

Site ITF - Aqueles que vierem participar do curso o “Espiri-

tualidade para uma Vida Virtuosa” o que encontrarão?Frei Vitório: Na pergunta anterior aparece a afirmação que aceitei par-tilhar a minha sabedoria; a bem da verdade vou partilhar não a minha sabedoria, mas sabedoria dos gran-des Mestres. De Jesus aos grandes Mestres do Oriente ao Ocidente. Os que vão participar não encontrarão apenas uma aula acadêmica, mas um momento de iluminação da exis-tência.

Site ITF - Hoje se ouve falar muito em qualidade de vida. Em que uma vida virtuosa colaboraria para tal?Frei Vitório: A vida virtuosa coloca a existência num patamar elevado. A pessoa virtuosa é naturalmente um modelo vivo, um referencial para que o humano saia da mediocridade e viva a vida com um diferencial muito grande: ser uma pessoa forte, convic-ta, fecunda, que tem o que dizer e dá brilho ao fazer.

Site ITF - O sr. lançou pela Editora Vozes o livro “Francisco de Assis e o Amor Cortês-Cavaleiresco”. Nele encontram-se muito vivo os aspec-tos do código da cavalaria medieval, aspectos que Francisco abraçou for-temente. Na sociedade atual como poderíamos ter um olhar sobre as virtudes a partir do modo francisca-no e ser o diferencial como foi Fran-cisco e Clara? Frei Vitório: Este livro chegou à 5ª edição, porque tem algo a dizer. Fran-

cisco e Clara são arquétipos humanos. Duas almas santas que puxam a his-tória da humanidade para frente. São sempre atuais e fascinantes. A crise atual não é apenas uma crise conjun-tural política e social, econômica e técnica; é uma crise de valores, uma crise ética. Se o período medieval ti-nha uma cultura de amor bem con-creta para oferecer, o que temos para oferecer hoje? Qualificar a vida atra-vés das virtudes é oferecer uma pre-sença que encante. A pessoa virtuosa não passa despercebida. A mídia hoje não destaca pessoa virtuosa, destaca o antivalor como atração sensaciona-lista. O antivalor é gritado; a virtuosi-dade é gritante!

Site ITF - Certamente, no decorrer de sua vida muitos lhe pediram uma ex-plicação sobre as virtudes. Agora, nes-te curso, o sr. propõe uma espirituali-dade para uma vida virtuosa. Dê-nos uma canja sobre o que seria isso.Frei Vitório: A palavra virtude significa força, vigor, decidida abertura para ser plenamente humano. É buscar a quali-dade essencial de ser humano. É qua-lificação conquistada; ninguém nasce virtuoso, torna-se virtuoso. É exercitar valores numa aprendizagem bem diri-gida e digerida pela vontade: eu quero, eu posso, eu desejo! É a busca livre e criativa da maturação e perfeição do ser humano. Despertar as qualidades que se tem, buscar qualidades que ain-da não se tem e conquistá-las!

Entrevista | Frei Vitório Mazzuco

“A crise atual não é apenas uma crise conjuntural política e so-cial, econômica e técnica; é uma crise de valores, uma crise ética”.

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-21ITF dá início ao Curso de Extensão

“Espiritualidade para uma Vida Virtuosa”No dia 11 de agosto, iniciou-se

um dos cursos de extensão do ITF deste segundo semestre de 2011. “Espiritualidade para uma Vida Virtu-osa” é o tema que o ministrante Frei Vitório Mazzuco, OFM, desenvolverá com os participantes.

Frei Vitório Mazzuco iniciou este primeiro encontro com um momento que ele chamou de motivação neces-sária. Segundo ele, “a Humanidade não está em crise; é que ela não evo-luiu muito”. A crise da pós-moderni-dade, que Frei Vitório assim denomi-na, é crise de valores.

Para garantir a evolução espiri-tual, é necessária uma vida virtuosa. Para isso, é preciso, antes de tudo, olhar a interioridade, que comporta o religioso e o místico/espiritual. A religião é norma, manual, teologia, estrutura, fé professada entre muitas outras coisas. Porém, acima de tudo, a religião liga céu e terra, Deus e Ho-

mem. Deve-se ter diante dos olhos esta compreensão de religião para não cair no extremo dos “ismos”. A religião une a alma ao espírito, e es-tes formam a identidade. Sem essa relação, a espiritualidade se perde, e a fé deixa de ser um caminho e se torna um tropeço.

A grande questão que se deve acordar é a questão da identidade: “quem sois vós e quem sou eu?”. Colocar-se esta questão e procurar respondê-la é caminho de perfeição, caminho que une a dimensão divi-na do ser humano com Deus. Mas, para tanto, é necessário ainda “suar e transpirar a alma”. É trabalho para a vida toda, pois a casa está desar-rumada. É necessário despertar as forças sagradas dos valores e das vir-tudes para uma evolução, não tecno-lógica, mas espiritual.

“O mundo é especialista em ne-cessidades, mas faltoso em desejo”.

A mentalidade consumista, movida pela necessidade, impera. Porém, para entender a motivação que será cultivada no percurso da vida virtuo-sa, é preciso recuperar a mística do desejo, onde a espiritualidade acolhe e a mística recolhe. A força e o vigor que se engendram no termo virtu-de traduzem esse desejo, que, por sua vez, é força e disposição do ser humano para “assumir plenamente a responsabilidade de tornar-se, em tudo, ele mesmo no que tem de mais próprio, a saber, a humanidade”.

O objetivo deste curso de exten-são não é o de ser uma aula ou uma conferência, mas, sim, uma instância de discussão e de conversa, em que a preocupação pelo exato é descartada. “Baseado na mística e na espirituali-dade franciscana, o curso quer ajudar na reta compreensão, na reta aspira-ção, no reto falar, no reto agir, nas vi-vências e nas práticas diárias.”

* Frei Vitório Mazzuco cursou Teologia e Filosofia, em Petrópolis, e fez pós-gradu-ação em Teologia Espiritual, na Pontificia Università Antonianum, em Roma, ob-tendo o mestrado. Sua tesina, publicada em forma de livro, leva por título: “Fran-cisco de Assis e o modelo de amor cortês--cavaleiresco: elementos cavaleirescos na personalidade e espiritualidade de Francisco de Assis” (Vozes 1994). Atual-mente, ele é reitor do Santuário de Santo Antônio, no Largo da Carioca, na cidade do Rio de Janeiro, professor de Francisca-nismo, em Piracicaba, no Rio de Janeiro e em Petrópolis. Também é pesquisador do IFAN (Instituto Franciscano de Antropolo-gia), entidade ligada à Universidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista, e dedicada às áreas de Franciscanismo, Teologia e Ciências da Religião, Estudos Humanísticos, Estudos da Cultura Moder-na e Pastoral.

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Curso de Extensão

objetivo destas nossas reflexões é recuperar valores para qualificar a vida. Precisamos re-encantar

em nós o entusiasmo, alegria, verdade, perseverança, paciência, cuidado, mino-ridade e todo um conjunto de virtudes que iremos propor. Virtudes são as nos-sas forças interiores. O enfoque sobre as virtudes será sob o filtro da Espirituali-dade.

O que é Espiritualidade? O conceito de espiritualidade tem a sua raiz na pala-vra “spiritus” que quer dizer: respiração, sopro (ruah), energia vital, hálito, vida, purificação. É o movimento de inspirar, isto é, trazer para dentro (uma grande inspiração) e expirar, soltar para fora, lançar em determinada direção, projeta (uma grande prática). É vida segundo o ritmo do espírito. É viver no espírito e para o espírito. É um modo de ser, viver e fazer sob uma grande inspiração.

Espiritualidade, mística, inspira-ção são um Caminho e não uma doutri-na. O franciscanismo, por exemplo, não é uma religião, é uma espiritualidade. É uma família que há 800 anos respira o mesmo Espírito! São Francisco descobriu que o Espiritual é mais forte que qualquer força material e, por isso, se fez desapegado, de-sapropriado, pobre. Filho de uma época, de buscas e ambição, misturou-se ao povo com sua inspiração, e o povo de sua época e em todas as épocas, aprendeu com ele a respirar e reconhecer a presença do espí-rito em todas as coisas.

Espiritualidade é conhecimento, ex-periência, vivência e prática, ca-minho de empenho, de todos os meios que conduzem à Via Perfec-tionis. Este nosso encontro aqui, chamado Curso, nos recorda exata-mente isto: curso, percurso, via, es-trada, senda que devemos percorrer no “per+facere”, isto é, no por fazer--se, no trabalhar-se, no moldar-se a si

mesmo. A Via da Perfeição não é o pronto, o acabado, o definido, mas é a arte de es-culpir um humano pleno a cada instante de nossa vida. O Papa Paulo VI dizia que “a Espiritualidade é a arte das artes”. É viver a vida com cuidados de artista, como aquele que em cada estrutura de sua existência, em cada detalhe da sua jornada, percebe e dá espaço para a profundidade.

Espiritualidade também é matéria de estudo enquanto Teologia Espiritual, ciên-cia da fé que procura compreeender com os olhos do Espírito; que vê e conhece a vida de santos e santas, que bebe nas fon-tes da Sagrada Liturgia e nas Escrituras, que lê literatura de edificação, que estu-da Espiritualidade como estamos fazendo neste momento.

Espiritualidade é empenho ativo, um esforço de traduzir em ato o conheci-mento do sagrado. É trabalho de buscar a

perfeição cristã, ou a espiritualidade pre-sente em todas as experiências religiosas. Podemos buscar a floração magnífica dos dogmas, das doutrinas, da moral , dos en-sinamentos e colher daí o melhor para a vida para traduzir numa prática.

Espiritualidade é respirar o Evange-lho. A Boa Nova é plena de preceitos e conselhos. Os Conselhos Evangélicos. O caminho da perfeição cristã liga-se à estes conselhos. A Perfeição é essencialmente observar de um modo (per-feito) os pre-ceitos (especialmente o Amor, Fé, Espe-rança, Caridade, Pobreza, Obediência e Pureza de Coração) que são a síntese para todos os outros conselhos que brotam do Evangelho. A perfeição é superar obstácu-los que se oponham ao seu exercício. O Anônimo Perusino, uma legenda medieval franciscana, diz em seu capítulo 6: “que é preciso opor aos vícios virtudes”.

Espiritualidade aqui em nosso en-contro é o exercício de aprofundar a Vida Espiritual como uma ciência espi-ritual. O Espírito tende ao aperfeiçoa-mento. Deus não se basta, está sempre dando um acabamento íntimo a todo Ser Criado. Quando alguém é verdadei-ro, é plasmado de Amor e se torna ne-

“Para a Espiritualidade o órgão do conhecimento não é o intelecto, mas o coração”.

1º Encontro | “O que é Espiritualidade?”

O

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2º Encontro “Virtuosidade”

Espiritualidade érespirar o Evangelho.

cessariamente uma central de energia. A Espiritualidade é esta força que deve brotar e transmitir luz. O mundo inteiro iluminou-se da Presença de Deus em Francisco de Assis. Deve se iluminar tam-bém a partir da nossa vida. Espiritualida-de é caminho de Iluminação!

Como dizíamos, Espiritualidade é Ca-minho. Cada experiência é um passo. Na vida espiritual, tudo começa por um pas-so. É a mística de Santiago de Composte-la. É busca. Cada experiência de buscar Deus é uma peregrinação à Casa do Pai e poder dizer um dia: “ finalmente che-

guei!” Esta não é uma viagem feita com as pernas, mas sim com o coração. O que falta na formação espiritual é trabalhar bem o afeto. Cada um se torna aquilo que ama e busca. A escolha fundamental que cada um faz é que o caracteriza. O Amor edifica sempre. Depois que Francisco des-cobre que o Amor não é amado, começa a reconstruir a casa da civilização do amor. Quanto maior o Amor e a Espiritualidade, maior é a obra completa.

Neste nosso per-Curso vamos traba-lhar a Espiritualidade como Palavra que é permanente presença; vamos refletir a

Palavra como nítida imagem diante de nós. E que tudo isto tome forma em nosso co-ração. O que toma conta do nosso coração toma conta do corpo inteiro. Para a Espi-ritualidade o órgão do conhecimento não é o intelecto, mas o coração. Nós somos o que colocamos no coração. Cada vez que você ama esta busca e a traz para o cora-ção, você se torna uma Fonte.

Frei Vitório Mazzuco, OFM

pessoa humana vale não pelo que acumula de material, mas pelos princípios, valores e vir-

tudes que possui, que cultiva e que deixa transparecer em sua vivência e práticas. A finalidade desta nossa re-flexão, neste nosso percurso é des-pertar para a constante motivação em alcançar o desenvolvimento es-piritual e humano; elevar a uma reta compreensão, uma reta aspiração, a um reto falar e o reto agir. A retidão é colocar novamente o humano em pé; torná-lo forte, convicto; espécie muito diferenciada; re-encantar o “homo erectus”, aquele que não ras-teja, não decai e não perde a sua vi-talidade. A pessoa virtuosa vive a re-construção diária da sua vida, e, por isso, a sua alma virtuosa está acima de tudo.

Como dizíamos na introdução desta reflexão, é preciso buscar uma original qualidade pessoal (ética), despertar a cada momento a força divina que adormece em nós (espi-ritualidade) e viver uma transforma-ção (a evolução do humano). Esta é a função da Virtuosidade: acordar, provocar, fazer crescer na busca in-cansável do bem. É transmitir vida intensamente! Gosto demais da fala do Mestre Hindu, Bhagwan Shree

Rajneesh, quando diz: “Se você colo-ca uma rosa num aposento... aquele aposento nunca mais será o mes-mo; porque a rosa tem a sua aura, o perfume, o seu vigor próprio, a forte presença”. Assim também é a permanência da pessoa virtuosa. A pessoa virtuosa é uma presença qualificada e especial; ela é uma res-posta de que é possível o humano, ao buscar virtudes que elevam a sua vida, subir para o patamar mais ele-vado da sua existência, tornando mais potente a sua energia e mais intenso o seu brilho e o ensinamen-to que pode oferecer. A virtuosidade faz a pessoa florescer por dentro, e a sua beleza interior salta para fora, mudando pessoas e o ambiente.

Quando você encontra e vive a virtude, ela aparece em todos os escritos, em todos os exemplos, em todos os ensinamentos e em todas as pessoas que marcam sua histó-ria. Quando você se mede com as virtudes, percebe que nem sempre esteve no melhor caminho; porém, não existe virtude que não se reerga sem que tivesse havido um ex-travio, uma perambulação, um perder-se. É no perder-se que se dá uma forte experiência do encontro. O prefácio pas-cal tem seu brado: “Feliz culpa que mereceu um Salvador!” A busca virtuosa traz a beleza do re-encontro com a experi-ência do melhor. Tudo é belo!

A

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As experiências são bem-vindas. Até o pecado tem a sua expressividade, porque dá profundeza para voltar às trilhas da santidade. Grandes santos e santas sempre se julgaram grandes pecadores. Nos seus limites, busca-ram a sabedoria do caminho virtu-oso e tornaram-se mestres da pu-reza original e da beleza única. Não se detiveram na culpa, mas fizeram dela trampolim para um grande sal-to, o salto qualitativo, o mergulho no esvaziamento de si, para deixar que o Divino tomasse conta do ser. Não criaram barreiras para a qualidade da vida entrar no mais íntimo e saís-se pelos poros onde suaram as boas obras. Para que a luz das virtudes e o conjunto delas, que cria a virtuo-sidade, se derrame no ser, é preciso exercício, esforço, persistência, bus-ca incansável da constante atenção aos valores maiores. É a ascese de quem quer se superar. É a discipli-na focada em moldar o melhor do humano. Este esforço traz um pro-fundo conhecimento, e este modo de conhecer traz um modo de ser. A virtuosidade encarna-se em pes-soas reais. O humano é um espírito que se fez carne, como a Carne do Verbo que se fez carne na carne do humano. Por isso, só podemos co-nhecer verdades encarnadas, virtu-des encarnadas em alguém. Há no

ser humano uma represen-tação concreta do Divino que trouxe para ele uma proposta de boa nova, de mudança das estruturas, da beleza do “Eu sou!”

Não precisamos desespe-rar ,se não conseguirmos che-gar de imediato à virtuosida-de, isto é, a um conjunto ideal

de virtudes. Basta viver uma virtude para vivermos todas. É preciso estar numa virtude e, através dela ouvir e abraçar todas as outras. O dom é natural; a virtude é conquistada. A virtude é sempre o dom de uma conquista, de um lançar-se, de uma disciplina determinada. As virtudes fortalecem-nos. Enfraquecemos, quando não temos o vigor de bus-car o melhor. Não podemos nivelar a nossa vida por baixo. Não podemos viver na mediocridade. Betinho, o grande profeta da cidadania, o nosso eterno Hebert de Souza, dizia pouco antes da sua morte: “Se aprendi algo com os cristãos, é que a vida cristã não é para medíocres”.

O tema de hoje é a Virtuosida-de. Mas o que é a Virtuosidade? É aprender a ser; é criar uma persona-lidade moral; é ter bases sólidas para formular um juízo de valor. A virtuo-sidade ajuda a construir uma identi-dade honesta e leal que leva a uma conduta fundamentada em valores. A virtuosidade dá força ao indivíduo e brilho à sua singularidade.

A virtuosidade encarnada nas pessoas transborda e energiza o so-cial. Individualidades fortes criam grupos humanos fortes; indivíduos criam uma moral social. A virtuosi-dade leva-nos a perguntar: Qual o critério fundamental da nossa vida? Qual é o fundamento do nosso exis-tir? Não estamos prontos ainda. Existe ainda uma verdade, uma vir-tude não conquistada e não realiza-da. A virtuosidade é a fome e a sede de ser. É a tecitura onde vamos mol-dando a vida e o vigor de existir que nos leva a ser mais humanos. É dina-mismo de uma conquista diária; um impulso de amor que faz viver numa determinada direção.

A legenda medieval franciscana,

conhecida como o Anônimo Perusi-no, no Capítulo 6,27, diz: “E assim se esforçavam por contrapor aos vícios cada uma das virtudes”. Cada virtu-de combate vigorosamente os vícios. É a força moral diante das forças contrárias. Como diz São Francisco de Assis, nas suas Admoestações 27, cujo título é “A virtude que afugenta o vício”:

“Onde há caridade e sabedoria, aí não há temor nem ignorância. Onde há paciência e humildade, aí não há nem ira nem perturbação. Onde há pobreza com alegria, aí não há ganância nem avareza. Onde há quietude e meditação, aí não há pre-ocupação nem divagação. Onde há o temor do Senhor para guardar seus átrios, aí o inimigo não tem lugar para entrar. Onde há misericórdia e discernimento, aí não há nem super-fluidade nem rigidez”.

Voltemos mais uma vez à per-gunta: O que é a Virtuosidade? É caminho em busca da identidade humana; ter um ideal humanista na construção da qualidade. É a manei-ra de dominar a quantidade em favor da qualidade. É criar uma personali-dade espiritual e social; é construir uma estética de sensibilidade, leve-za, delicadeza, gentileza nas atitudes e relações. O que faz alguém feliz? É o seu modo de proceder em conso-nância com as virtudes abraçadas. Ser feliz e realizado é uma necessi-dade moral. É a liberdade de agir a partir do princípio do melhor. Quem age a partir do princípio do melhor é eticamente bom.

É preciso semear virtudes na horta da virtuosidade para colher os melhores frutos do humano bom; e através da detalhada semente, bus-car a semente da inteireza. Temos que trabalhar com a semente inteira que somos; assim ela pode crescer frondosa, buscar as alturas, revelar--se na aridez do mundo do antivalor. Uma vez que abraçamos a virtuosi-dade como caminho para buscar a riqueza interior, não há nada com-parável no mundo exterior. “Se você

“A virtuosidade encarnada nas pessoas transborda e energiza o social”.

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“A virtudeafugenta o vício!”

negar a semente, como aplaudir a árvore?” A pessoa humana é uma semente que pode ser uma grande árvore. Ela tem que desabro-char divinamente. Pelos caminhos da virtuo-sidade, cada ser humano pode ser sagrado. Não podemos sufocar a semente; temos que dar a ela a oportuna chance e cuidado para o crescimento. Ser semente é já ser uma força! Como diz um provérbio árabe: “Ser semente já é o gosto de ser árvore!”

Frei Vitório Mazzuco, OFM

3º Encontro | “Dons do Espírito”emos sempre saudades daquele momento bom que criou em nós a permanência na casa. A casa foi

e é o fundamento da nossa cultura, da nossa fé, da nossa educação, das nossas vivências e convivências, lugar de onde partimos para a vida e para onde sem-pre retornamos. O que aprendemos ali colocou em ação a beleza da vida. Casa é dom. A palavra dom pode ser associa-da a domus. Os dons são valores natu-rais da nossa casa; nascemos e fomos naturalmente formados nestes valores. Dominus é o Senhor da casa. Donna, Domina, a Senhora da casa.... Duomo de Milão... a imponente e gótica casa de Deus.

Toda atividade que fazemos é a nos-sa concreta resposta ao Dom da Vida. O mundo da vida provoca e cria em nós os conceitos. Por isso, chegou o momento de refletirmos sobre o Dom da Vida, os Dons e Frutos do Espírito. O que signi-fica esta reflexão? Ela nos recorda que é preciso a valorização da experiência das profundezas e da plenitude da exis-tência. A nossa existência é fatual, isto é, uma real soma de acontecimentos, mas não se esgota nos fatos. Ela é ne-cessariamente a experiência de alguém buscando os sentidos de existir. O dom

da vida e os dons do Espírito são os ar-ranjos mais belos da nossa casa.

Vale lembrar aqui um texto budista que diz:

Dons e Frutos do Espírito precisam ser buscados e cultivados. Há sempre uma verdade ainda não realizada, uma virtude ainda não vivida em nós. Dons e Frutos propõem um elenco de vir-tudes que são como uma escada que precisamos para entrar e sair da casa. A nossa casa nos coloca no mundo, mas com qualidade. Quem pode formular os mais belos juízos, ter as mais pelas aproximações e os mais maduros rela-cionamentos? Quem esteve na escuta cuidadosa das virtudes, no observar a vida das pessoas virtuosas e na prática pessoal da virtuosidade. A nossa casa (o Dom) permite as virtudes. A nossa casa faz a festa do humano e nos leva para a festa da convivência humana com qualidade. Dons e Frutos preparam-nos

para sermos apóstolos do humano. O que caracteriza o estar em casa, o que dá sentido a cada momento da casa, é a virtude. Se não cultivar a virtude, a casa não fica arrumada, a vivência se atrofia.

Temos sempre a tendência de rotu-lar as pessoas como boas ou más. Isto não é correto. Pelo fato de pertencer a espécie humana e estar sob o domínio do Dominus (o Senhor da Casa), ela é sempre um valor. Em vez de julgarmos se alguém é bom ou mau, devemos cul-tivar um contato verdadeiro e ajudar a pessoa a buscar o Dominus (o Senhor da Casa e seus Dons), ajudar a pessoa a ter um Mestre. Ajudar alguém a cul-tivar a realização, a felicidade. Tirá-la do medo e do investimento no pouco e no limitado. O que muitos chamam de feli-cidade é apenas 5% do que é realmente a felicidade. Temos que perguntar: Você tem plena certeza de que o sentimento que coloca você perto de alguém é o caminho virtuoso de Amor, ou é o medo de ficar só? Você tem certeza de que a felicidade é só qualquer relação, ou apenas sexo, ou apenas bem-estar? Não podemos duvidar que as pes-soas queiram amar, busquem o amor e saibam amar; porém,

“Não crie sofrimento.Pratique virtude!Seja senhor de sua mente e de seu lugar.Eis o ensinamento:Que todos de sua casaPossam se beneficiar!”

T

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muitos amam com medo. Medo da solidão. Medo de não dar uma satisfa-ção para a sociedade ou para grupos humanos, inclusive grupos religiosos; um medo que cria uma dependência: tenho que estar ali e justificar como e com quem estou. Medo de parceiros, amigos, familiares. Um medo que não cria naturalidade, mas transforma a pessoa numa sanguessuga, uma espon-ja de carências.

Dons e Frutos são elementos ne-cessários para construir e reconstruir a casa forte e ideal. Quem disse que não existe pessoa ideal? Pessoa ideal tem um ideal de busca virtuosa. Está sempre buscando o aperfeiçoamento espiritual, emocional, físico. Busca e cultiva um desenvolvimento. Em quantas pessoas, homens e mulheres, não encontramos a confiança, força, liderança, proteção, sustento, objetividade, flexibilidade, sensibilidade, carinho, sinceridade, sa-bedoria, suavidade, afetividade, sexu-alidade... Pessoas que tem objetivos claros. Quanto mais alto o objetivo, mais alto chega ao patamar de sua vida vivida com inspiração. Quantas pessoas que encontramos que tem o prazer em viver, tem prazer em cada inspiração, sorriso leve e fácil, e que não despreza nada e ninguém.

Falemos dos Dons do Espí-rito um tema não muito traba-lhado. Hoje quando se fala de Espírito Santo se restringe à for-ça dos movimentos. Invoca-se o Espírito Santo, mas se reflete pouco sobre os Sete Dons, que já estiveram mais presentes na pie-dade e devoção. A reflexão teoló-

gica do ocidente concentra-se mais em Jesus Cristo; é na reflexão teológica do oriente que o Espírito Santo está mais presente. Quando se fala da Santíssima Trindade e do envolvimento amoroso das Três Pessoas Divinas, o Espírito San-to é o mais desconhecido. Será que não sabemos bem o que fazer com esta for-ça?

No oriente o Espírito Santo é sem-pre buscado e percebido como uma força interior, uma interioridade pes-soal que se manifesta no comum; tem a sua invocação priorizada na liturgia e faz do cristianismo um cristianismo de contemplação. No ocidente o Espírito Santo é invocado para fazer funcionar atividades, reuniões, decisões, assem-bléias, sínodos, hierarquia; e torna-se a prece necessárias para um cristianismo de ação. O Espírito Santo não é uma oposição ao corpo e à matéria, mas sim um deixar-se animar pelo Espírito que movimenta a realidade em seu todo. Ele é a luz e o ar que a casa respira, está no espaço infinito que preenche o fini-to das paredes da casa; é a casa e seu interior.

Quando olhamos a Bíblia, vemos que o Antigo Testamento coloca o Espí-rito como o absoluto, o sopro, o vento, a brisa, um sentido cósmi-co ( cfr. Am 4,13; Sl 51,13; Is 63,10; Sab 1,5; 9,17) É o espírito de Deus, o Elohim. No AT o Espírito do Senhor aparece como YHWH. No NT é sempre um valor teológi-co e tem uma aproximação cristológica: Espírito do Filho (Gl 4,6) , Espírito de Cristo ( Fl 1,19; At 16,7; 1Pd 1,11). Mas tanto no AT como no NT é o Espírito que traz a sabedoria

(Dt 34,9), a verdade (Jo 14,17), a vida (Rm 8,2), a adoção (Rm 8,15). Tem suas ações e seus efeitos. No AT sopra, cai so-bre, toma conta, espalha, empurra, con-duz preenche, desce, vem, entra, fala, guia, vivifica, testemunha (cfr Nm 24,2; Ez 11,5; 1Sm 16,14; Is 32,15; Gd 13,25; Ez 8,3; Dt 34,99; Mt 3,16; Jo 15,26; At 2,4; Ap 11,11, Mt 10,20; Gal 4,6 ; Jo 6,63; At 5,32). A Bíblia coloca o Espírito Santo em movimento, numa atmosfe-ra de espaço vital entre o humano e o mistério, impalpável e invisível, que põe sempre o humano numa dependência de seu sopro.

Quais são os Sete Dons do Espírito Santo? Eles aparecem nesta forma vir-tuosa:

Sabedoria, Inteligência, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade, Temor de Deus (ou Reverência). Vamos elencar os Sete Dons para que nos dê um caminho de virtuosidade:

SABEDORIA: Não vem de saber, mas de sabor. O sábio é aquele que sente o gosto de todas as coisas, que saboreia as experiências. Vai com sede e fome na busca intensa do querer ser e conhecer. É a arte de saborear a expe-riência da vida. O sábio oferece um co-nhecimento mais saboroso da verdade, pois a apresenta com mais afinidade, com mais tempero. A via é o paladar, no plano sutil. É ver, sentir, criar gosto sob os olhos do Bem Amado. Como diz Mestre Eckart: “ Deus degusta-se nos meus sentidos”.

O conhecimento passa pelos senti-dos e forma o Mestre.

“O Espírito Danto é a luz e o ar que a casa respira, está no espa-ço infinito que preenche o finito das paredes da casa; é a casa e seu interior”.

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INTELIGÊNCIA: O caminho é o in-telecto, o plano mental e intelectual. Intelectual vem do latim: “intelligere”, que quer dizer: estar na força da inteli-gência. Inter+legere: ler entre as coisas, ler na evidência exterior de tudo o seu interior. Legere significa colher, ajuntar, acolher. É o conhecer, o estudar, o pes-quisar. É o aprendizado e ensinamento. O discipulado. A conquista do saber que vem do pensamento lógico e racional. Usar a mente para o conhecimento e o esclarecimento. Instaurar uma cons-ciência que leve a escolher o melhor e mergulhe numa profunda compreen-são da existência. O conhecimento pas-sa pela grande bagagem de informação e assimilação e forma o Professor.

CONSELHO: É a palavra precisa na hora oportuna. O direcionamento es-piritual, moral, ético e virtuoso. Mostra o caminho. É a troca de experiências como testemunho de vida e apoio. Faz parte da prudência e ajuda a tomar decisões oportunas sem insegurança. Sugere o que fazer nas dificuldades da vida, ensina o como falar, a quem falar e quando falar.

FORTALEZA: É não alinhar-se ao lado da fraqueza. É o ideal da força pre-sente nas virtudes. É a força do ânimo diante das adversidades da vida. A vida não é uma luta só contra as contrarie-dades externas, mas é a luta diária para vencer-se. É não fugir das dificuldades. O forte abraça a grandeza da vida. Para o filósofo Platão as virtudes baseiam-se

nestas que considera as virtudes cardeais: forta-leza, temperança, pru-dência e justiça. Para o mundo Bíblico é a força de Deus com quem o humano pode sempre contar (Dt 4,32-39). A força salvífica que Israel experimenta provém da força de um Deus que ama seu povo. Para os povos bíblicos, a for-taleza vem da fé e da esperança. No NT, a fortaleza é ser como

Jesus Cristo, ”sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).Firmeza, estabilidade e fortaleza devem caracterizar um cami-nho de fé e de amor ((Jo 15, 4-9). São Tomás de Aquino fala da fortaleza como o “bonum arduum” que remete à con-tínua superação das contrariedades; é a obrigação de ser forte. É a superação da vulnerabilidade. O anjo não precisa ser forte, pois não é vulnerável, porém, o humano tem que ser, porque possui limitações. A fortaleza é superar a fra-gilidade. Para Paul Tillich, a fortaleza é a superação das angústias existenciais na vida moral. O humano deve superar seus grandes medos: angústia diante da morte (a ameaça de perder o ser); a angústia da culpabilidade (a psicose de que tudo é pecado); e não senso, a falta de noção (o desafio ao ser espiritual). A tarefa da fortaleza é sustentar o ser hu-mano na defesa da sua dignidade, em tudo o que pode ameaçá-lo. É o passo necessário para a via da per+feição; o ser humano como um contínuo fazer--se (ens contingens), é o caminho da realização. Fortaleza é combater o mal com a mesma força de realizar o bem. Fortaleza é resistência: dizer não ao medo, não retroceder, agarrar-se ao Sumo Bem. Fortaleza é empenho em empregar todas as suas energias na construção do humano e de um mundo melhor.

CIÊNCIA: é o conhecer (con+naitre= nascer junto com a experiência); é o estar ciente do ser e dos seres. É bus-

car compreender. Sondar o universo e seus fenômenos (con-siderar). Entrar na realidade de tudo sob a luz de Deus. A verdadeira ciência vê cada criatura como reflexo da sabedoria e bondade do Criador. É dar o devido valor à todas as coisas, às pessoas, aos fatos e as rea-lidades da vida e do mundo.

PIEDADE: Não queremos ligar esta virtude a questão devocional. O devoto que reza com piedade, mas sim a pieda-de como o modo de ser sensível na arte de relacionar-se. Apiedar-se. Procurar um relacionamento reto e justo que tenha soluções para as dores do outro. Não ter dó, mas orientar o outro para a sua força. É o interesse fraterno que visa o melhor. A piedade capacita-nos a enxergar e não camuflar a essência das pessoas.

TEMOR DE DEUS (REVERÊNCIA ): Esta virtude é totalmente diferente do medo, do pavor, da paúra, ou como qui-sermos chamar; também não é “respei-to humano”, ou bajulação subserviente e nem uma mera admiração ou respei-to de fã. A Sagrada Escritura chama de Temor de Deus o que é a base da sa-bedoria: uma profunda reverência. Na concepção franciscana, reverência é a abertura límpida, disposição para per-ceber a grandeza de Deus e do Mestre. É uma humilde resposta cheia de grati-dão, docilidade, cordialidade, benque-rança, doação livre, amor e respeito pela imensidão, grandeza, nobreza, humildade e bondade do Criador e to-das as suas obras (cfr. Dn 3,57-88.56). É um louvor que se abre com admiração, simpatia e respeito à suave força origi-nária. É reconhecer a nossa pequenez diante da Grandeza do Criador. É evitar a presunção e o orgulho, reconhecendo a grandeza e a bondade de Deus. Esta virtude torna a alma delicada, fiel, respeitosa (Eclo13). É admiração, maravilhamento, encantamento, caminho de reconhecimento e conquista da verdade do ser e de todos os seres.

Frei Vitório Mazzuco, OFM

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4º Encontro“Frutos do Espírito”

alemos dos Frutos do Espírito Santo. Os Frutos são a visibilida-

de da semente. As virtudes levam-nos primeiro a amadurecer e florescer por dentro, esta fecundidade salta para fora e tem seus frutos. É a colheita de um paciente cultivo; o que cada um tem feito e semeado com tudo o que a vida tem feito e ofertado na cami-nhada. Frutos são a transformação do natural; frutos são o cultivo do melhor. É melhor passar fome do que comer qualquer coisa. Vida verdadeira, pro-fissão verdadeira, religião verdadeira é quando se faz uma viagem de cultivo e transformação. Temos que trabalhar com a semente interna que somos; as-sim ela pode crescer a tais alturas que o mundo do vazio e do sem sentido deixa de existir.

Na tradição cristã, a inspiração dos Frutos do Espírito Santo vem da Carta de São Paulo aos Gálatas, capítulo 5, versículos 13 a 26. Anselm Grun diz: “O apóstolo Paulo nos mostra a fonte do Espírito Santo que fertiliza a nos-sa vida a partir dos frutos do espírito divino que ele apresenta na carta aos Gálatas. Paulo compreende o Espírito Santo como uma fonte da qual nas-cem vários frutos. Trata-se, em última instância, de virtudes que ele assume segundo a ética da filosofia grega (...). Podemos compreender estas virtudes como fontes das quais podemos nos abastecer porque nos ajudam a en-frentar a nossa vida. Quando tomamos

consciência de tais valores, es-tes conferem valor a nossa vida. Em latim se fala das virtutes, ou seja, forças ou fontes de força das quais nos abastecemos para viver bem. Essas virtudes nos conectam com o potencial da nossa alma, potencial este que está à nossa disposição para rea-lizarmos a nossa vida. O objetivo

de Paulo é que nossa vida tenha êxito. E ao mesmo tempo considera impor-tante o Espírito Santo causar efeitos visíveis em nós. Podemos conhecê-los através de seus frutos. Mas o fruto do Espírito Santo é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão, domínio de si (Gl 5,22-23) Paulo fala do fruto do Espírito no sin-gular, pois pensa em uma única fonte. O Espírito Santo é a fonte, através da qual o fruto do espírito se torna visí-vel no ser humano” (GRÜN, Anselm. Fontes da Força Interior. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 90-105).

Na carta aos Gálatas, em tom exor-tativo e doutrinal, Paulo empenha-se em apresentar o verdadeiro rosto da liberdade cristã e sua retidão: ela vem das qualidades libertadoras de Cris-to: libertar-se do egoísmo, do carnal, da idolatria, das forças negativas. Os frutos do Espírito Santo levam-nos a aderir às forças fundamentais da vida, a abrir-nos à Deus e à humanidade, orientando a existência segundo os critérios do amor ( Gl 5, 13-15). A car-ta aos Gálatas especifica e concretiza a condição fundamental para que isto se realize: caminhar segundo o Espíri-to (v.16), deixar-se guiar pelo Espírito (v.18), possibilitar uma intervenção do Espírito, que com seus frutos nos dá os

princípios ativos e determinantes da li-berdade cristã.

Pela inspiração da Carta aos Gála-tas, a tradição cristã fala dos Doze Fru-tos do Espírito Santo. Quais seriam e o que são estes Doze Frutos do Espírito Santo? Vamos elencar e tecer um bre-ve comentário:

CARIDADE: É o Amor transforma-do em prática, em obras, é o Ágape. Caridade é o conceito cristão paulino para a prática do Amor. É o Amor feito gestos concretos de atuação. É o pri-meiro e grande fruto do Espírito Santo, porque é de fato a fonte e a quintes-sência de todos os dons e de todas as virtudes. A caridade contém a alma da vida cristã. Como diz o apóstolo Thia-go: a fé sem obras é morta. Segundo Gálatas 5, 14, a Caridade vivida realiza toda a lei e toda a vontade de Deus a nosso respeito. Este é o dom por ex-celência que o Espírito dá ao creden-te (Rm 5,5). É o Amor com que Deus ama e o qual é cheio do Espírito Santo, com a sua presença ativa em nós. Faz jorrar em nós o amor como resposta ao amor com que Deus nos ama. A caridade faz-nos respirar, inspirar e expirar Deus! (Rm 8,15 e Gl 4,6). A ca-ridade remete-nos para fora, nos leva ao encontro do humano (1Cor 12,31 e 13,13).

F

Page 29: Revista ITF nº2

-29PRAZEROSIDADE (ALEGRIA, JO-

VIALIDADE): é fazer valer o desejo, a orientação mais íntima do coração, da vontade bem trabalhada, o prazer de querer, a paixão da vontade. É escu-tar mais os desejos; se escuto mais os desejos, atravesso os medos e atinjo uma identidade pessoal mais tranqüi-la. É desatar os nós para que as ener-gias da vida possam circular. É focar o coração nas práticas, deixar que tudo atravesse o coração; o que passa pelo coração se transforma em Amor. A prazerosidade, a alegria e jovialidade são produzidas e tem a participação do Espírito ( Rm 14,17; 1Ts 1,6). Não é simplesmente uma reação psicoló-gica à consistente e inata disposição de uma alma feliz, mas é a expressão conquistada com a plenitude do Espí-rito, como diz H. Schlier: “ é a explosão da esperança e o eco vital da situação escatológica do cristão”.

PAZ: É a busca da inteireza. Vem das tradições pré-cristãs e está conti-das nas saudações namaskar, namas-tê, shalom, pax. A inteireza do ser é trabalhar em si e passar para fora o melhor do divino e o melhor do huma-no que habita a casa da interioridade. Para o cristianismo é a saudação do Ressuscitado: a paz esteja convosco!. Dizer a paz esteja convosco é a mesma coisa que dizer: “Sê inteiro!”, “Sê intei-ra!”; é deixar-se moldar pelo sagrado e transformar-se em protagonista desta força divina que age dentro. A prece atribuída a Francisco de Assis tem em seu refrão o pedido: “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz!”. A paz está intimamente ligada à alegria, à se-renidade, à leveza como um dom do Espírito (Rm 14,17; 15,13). No sentido Bíblico e mesmo em seu sentido mais primordial, a paz não é dizer e viver a ausência de inimizade, conflito e guer-ra, mas é a invocação da integridade, da plenitude da vida em contraposição a uma situação em que a existência e as convivências estão ameaçadas, ou reduzidas a mecanismos de morte. A paz, como dom e fruto do Espírito, diz da situação de cuidado amoroso e sal-

vífico para aquele que crê e que é colocado sob tranquilidade que vem das forças interiores (Rm 8,6; Fil 4,7).

PACIÊNCIA: É encontrar o ritmo próprio do respeito. É estar no domínio próprio da própria ansiedade. É descobrir uma sabedoria implícita na hora, no instante, e curtir bem o momento sem precipitações, sem ansiedade. Ser tolerante e ter a capacidade de suportar conflitos sem sair dos lugares dos desafios. Não é submissão, mas a coragem de dialogar com situações adversas. A palavra paciência vem do latim: patio, pati. Pa-tior = padeço; passus sum = padeci . É padecer, deixar acontecer. Não é sofri-mento, mas é atuar com o vigor de es-tar ali, com um ânimo, com uma força que até então desconhecemos.

BENIGNIDADE: Vem do latim me-dieval, bene + igneo = estar bem no fogo. Estar bem no fogo da experiên-cia. Incendiar, acender, iluminar. É a chave de ignição que produz a faísca fazendo funcionar o motor. É a força do entusiasmo. Ser benigno é ter a conduta de quem carrega dentro de si uma grande força, uma grande convic-ção; tem a conduta do Espírito. Flores-ce a partir da sua interioridade e se en-trega com generosidade ( Rm 15,14).

BONDADE: A grandiosidade da

vida, a grandiosidade do mundo e das pessoas só é dada para quem tem os olhos voltados para a Beleza e a Bon-dade de tudo. É o brilho das pessoas e das coisas. O transparente e o trans-cendente. O que faz a pessoa bonita é a bondade. A virtuosidade é a beleza maior e a mola propulsora de todos os gestos de amor. O que faz o mun-do bonito é a bondade e a generosi-

dade esparramada de todas as coisas. A beleza e a bondade dizem respeito ao verdadeiro. A beleza pertence à verdade, à autenticidade. A bondade é como um quadro de mãe amamen-tando o filho. Quem age a partir do princípio do belo e do bom é etica-mente bom. A bondade leva-nos à um relacionamento muito positivo com o próximo e com a vida. A bondade gera as virtudes da cortesia, fineza e cordia-lidade.

LONGANIMIDADE (A GRANDE-ZA DE ALMA ): É a mesma coisa que magnanimidade. É a virtude daquele que tem uma grande alma. Abertura e força para vencer os limites. É benevo-lência. Aceita situações mais pesadas e difíceis sem se desconcertar. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena” ( Fernando Pessoa ). A alma é a força que comanda as emoções do corpo. De seu forte amor subjetivo passa à objetividade de acolher a todos com a força de sua capacidade de amar. Tem uma disposição psicológica e espiritu-al natural, flui, esparrama uma índole boa e acolhedora.

(1Cor 13,4; Col 3,12 ).BRANDURA: Diz o biógrafo

São Boaventura, na sua Legenda Maior sobre a Vida de São Fran-cisco de Assis: “ Mansidão, genti-leza, paciência, afabilidade mais que humana, liberalidade que ultrapassa seus recursos, eram

“A PAZ está intimamente ligada à alegria, à sereni-dade, à leveza como um

dom do Espírito”.

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sinais de sua natureza privilegiada que enunciavam já uma efusão mais abundante da graça divina nele” ( LM 1,1). Brandura é maleabilidade, suavi-dade, mansidão, doçura, flexibilidade, maciez, afabilidade. A vida aninha-se mais no brando, no flexível. Brandura é evitar a rigidez. No relaxamento, na serenidade, no distensionamento, na soltura é que habita o sadio. O muito rígido, o indevassável tem a patologia, a tensão e a contensão; tem uma vida cheia de nãos. Quando você se levan-ta pela manhã na virtude da brandura, acorda para a vida com muito mais disposição, todas as coisas estão mais ensolaradas, mais claras, estão mais leves. É preciso estar dentro deste sen-timento de leveza; a leveza é o tom do ser.

FÉ: É o princípio da esperança, o devir, o já é do ainda não; a dinâmica de acreditar no Divino, na vida e nas pessoas. Fé é ter uma saudade infinita de Deus, uma aproximação rara com o divino. Como diz Erik Erisson, a fé é “a confiança originária”. Fé é crer e deixar ser. Para Anselmo de Cantuá-ria” a fé capacita a razão a chegar a um conhecimento mais profundo” (fides quaerens intellectum). É abandono e confiança. Diz Anselm Grun: “Fé é crer em alguém em vez de um simples acreditar em alguma coisa. Ter fé sig-

nifica que eu confio em Deus. Quem confia em Deus tem um chão seguro sob seus pés” ( GRÜN, Anselm. Virtu-des que nos unem a Deus. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 9).

MODÉSTIA: É a ausência de qual-

quer tipo de vaidade, de narcisismo, de exaltação da pessoalidade e culto à personalidade. É desambição, despre-tensão... enfim uma simplicidade pura. É uma presença de doçura não força-da em contraposição à presunção. É um estado de abandono à única força: a força do Espírito. A raiz do modesto está em Deus.

CONTINÊNCIA: É ser uma pessoa contida, isto é, aquela que vive a jus-ta medida de todas as coisas. Nem mais nem menos, mas o pronto, o bem acabado. É a virtude que traz a virtude da Temperança, que é a gran-de virtude que auxilia na arte de con-trolar e moderar apetites e paixões desenfreadas. É a sobriedade. Do-mínio de si, ou auto-domínio como a virtude que vence as contrarieda-des. É a vitória sobre os vícios, alguns

enumerados em Gl 5, 20-21.PUREZA DE CORAÇÃO (CASTIDA-

DE): O modo de pensar franciscano chama a Castidade de Pureza de Co-ração. Puritas é a Fonte, a transpa-rência cristalina do ser. É o que jorra naturalmente do coração; o que está no esplendor do natural, a essência da naturalidade (virgindade). São as fontes da energia do amor, do afeto, da corporeidade (corpo, mente, alma e coração). Castidade é não jogar estas energias fora, mas espalhar em tudo o que se faz.

Assim podemos terminar aqui a re-flexão sobre os Doze Frutos do Espírito Santo. São forças para os nossos pas-sos na marcha impregnada de Espírito, que dá consistência e brilho ao nosso comportamento. Viver em harmonia com o Espírito é opor-se às tensões que a vida oferece. Os Dozes Frutos do Espírito Santo não são um elenco auto-mático de virtude que recebemos por imposição. Mas fruto é a aceitação da seiva da vida. É meta, é ponto de par-tida, é abrir-se à força do Espírito para uma maturação (fruto) . Paulo (Gl 5, 16-25) convoca-nos para um estado de maturidade, uma vida dinâmica de busca de valores e virtudes para uma evolução rumo a eternidade.

Frei Vitório Mazzuco, OFM

“Fé é ter uma saudade infinita de Deus, uma aproximação rara com o divino”.

Declarações de quem estuda conosco:

“O Instituto Teológico Franciscano é um ambiente perfeito para o desenvolvimento espiritual e intelectual de uma pessoa! Ro-deados de cultura, de verde e de pessoas preocupadas com nosso bem-estar, o ITF deixa em nós sua marca. Ao chegar à casa para cursar Teologia, foi inevitável o envolvimento com os demais cursos; haja vista a preocupação do Instituto com a ética, com o ensino e com a troca que há entre as pessoas. Há uma preocupação com cada indivíduo que aqui se encontra.

Estar no ITF é mais do que estar conectado

ao estudo... É estar conectado a tudo o que nos leva ao divino, ao transcendente! Deixo aqui, nessas breves linhas, meu entu-siasmo em estudar nessa instituição e ain-da mais, meu convite a todos, para que se unam a nós!Venham fazer parte da família ITF!”

(Semyramys Frossard)(aluna do Curso de Teologia e do Curso de Extensão)

“Sou aluno do primeiro ano de teologia, sou leigo. O ITF tem como objetivo formar teólogos aptos para o exercício do santo ma-gistério, na função pastoral, e oferece vários subsídios e contribuições para o aperfeiço-amento em nível acadêmico, doutrinal e o despertar de uma fé consciente”. (Fabiano Nogueira)

Família ITF

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-31Artigo Online

“Ser ministro é ser Servo”Vocação Sacerdotal

“Celebrando o dia dos ministérios ordenados no primeiro domingo, lembra--se que os diáconos, os padres e os bispos recebem um ministério especial através do Sacramento da Ordem, pelo qual a missão confiada aos apóstolos por Cristo se mantém em realização contínua na Santa Igreja. Esses ministros recebem, segundo a doutrina da Igreja, um poder sagrado em nome e com a autoridade de Cristo, a serviço do povo de Deus.” [...]Leia em www.itf.org.br/artigos

“Fonte de Vida”Vocação Matrimonial

“A Vocação Matrimonial é fonte de vida. A vocação para o casamento é algo muito especial, pois dela deriva a formação de todas as outras vocações, sacerdotal, reli-giosa, laical e matrimonial. A partir da vocação matrimo-nial é que podemos dizer que surge toda a sociedade. É dos laços matrimoniais que brotam a vida humana, é destes laços que surge a família, a primeira instituição pela vida.” [...]Leia em www.itf.org.br/artigos

“Maneiras específicas de produzirfruto na Igreja”

Vocação Religiosa“Sem dúvida, a vocação religiosa deve ser compreendi-da entre os inúmeros carismas com que o Espírito San-to enriquece a Igreja e, por extensão, a humanidade. De fato, a ação do Espírito suscita carismas não somen-te no âmbito da Igreja, mas também fora dela, pois o Espírito sopra onde quer (cf. Jo 3,8).” [...]Leia em www.itf.org.br/artigos

“Dar Vida pela nossa Vida”Vocação Laical

Certa vez estava Jesus a ensinar em público quando alguém se aproximou e o indagou: “Senhor, é verda-de que são poucos os que se salvam?” A resposta de Cristo veio como uma incógnita: “Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita”. Perguntamos: Será que aquele que havia indagado conseguiu enten-der a resposta do messias? E nós, entendemos?[...]Leia em www.itf.org.br/artigos

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Biblioteca Frei Constantino Koser

TYERMAN, Christopher. A guerra de Deus: uma nova história das Cruzadas. [tradução de Alfredo Barcelos Pinheiro]. Rio de Janeiro: Imago, 2010. 587p., il. ISBN 978-85-312-1070-9.

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O acervo da Biblioteca Frei Constantino é composto em sua maioria por obras teológicas, mas também nas diversas áreas de educação, filosofia, ecologia, psicologia, antropo-logia e públicações antigas e recentes da Editora Vozes.

NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. São Paulo: Leya, 2009. 319p., il. ISBN 978-85-62936-06-7.

GIRARDI, Armelino. Desa-posentado, melhor agora: Saiba como transformar a aposentadoria na melhor fase da sua vida. 2.ed. Curi-tiba: Clube dos Desaposen-tados, 2009. 199p., il. ISBN 978-85-62924-00-2.

JOHNSON, Paul. Jesus: uma biografia de Jesus Cristo para o século XXI. [tradução de Alexandre Martins]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. 167p. ISBN 978-85-209-2659-8.

BOTTÉRO, Jean. No começo eram os deuses. Tradução de Marcelo Jacques de Mo-rais. Rio de Janeiro: Civiliza-ção Brasileira, 2011. 317p. ISBN 978-85-200-0900-0.

LEONE, Alexandre. Mís-tica e razão: dialética no pensamento judaico de Speculis Heschel. São Paulo: Perspectiva, 2011. 171p. (Estudos, 289). ISBN 978-85-273-0912-7.

Horário de FuncionamentoSegunda à Sexta-feira7h30 às 12h | 13h às 17h30

MENDONÇA, Carlos Bruno de Araújo; OLIVEIRA, José Lisboa Moreira de. Antropo-logia da formação inicial do presbítero. São Paulo: Loyo-la, 2011. 166p. ISBN 978-85-15-03811-4.

ARRUDA, Lúcia. Mulheres na vida de Jesus: A his-tória das primeiras discí-pulas. São Paulo: Paulus, 2011. 199p. ISBN 978-85-349-2585-3.

Revistas: 1.100 títulos | 500 correntesObras: +100.000 livros

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HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Mé-dia: estudo sobre as formas de vida e de pensamento dos séculos XIV e XV na França e nos Países Baixos. Ensaio de Peter Burke, Anton van der Lem; iconografia de Anton van der Lem; tradução de Francis Petra Jans-sen; revisão técnica de Tereza Aline Pereira de Queiroz. São Paulo: Cosac & Naify, 2010. 652p., il. ISBN 978-85-7503-756-0T.

Aviso:As publicações existentes no acervo da biblioteca que já são de domínio público podem ser fotografados ou fotocopiados de acordo com consulta.

CASTELLANO CERVERA, Jesús. Li-turgia e vida espiritual: Teologia, celebração, experiência. [tradução de Antonio Efro Feltrin]. São Pau-lo: Paulinas, 2008. 455p. (Liturgia fundamental, 4). ISBN 978-85-356-2140-2.

SOUZA, Carlos Frederico Bar-boza de. A mística do coração: a senda cordial de Ibn’Arabi e João da Cruz. São Paulo: Pau-linas, 2010. 302p. (Interfaces, 1). ISBN 978-85-356-2643-8.

FERRY, Luc; JERPHAGNON, Lucien. A tentação do cris-tianismo: de seita a civili-zação. Tradução de Véra Lu-cia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. 111p. ISBN 978-85-390-0245-0.

MOLINER FERNÁNDEZ, Albert. Pluralismo religioso e sofrimento eco-humano: A contribuição de Paul F. Knitter para o diálogo inter--religioso. [tradução de Pedro Lima Vasconcellos. São Paulo: Paulinas, 2011. 271p. (Questões em debate, 7). ISBN 978-85-356-2682-7.

LÓPEZ, Julián. A liturgia da Igreja: Teologia, história, espiritualidade e pastoral. [tradução de Antonio Efro Feltrin]. São Paulo: Pauli-nas, 2006. 567p. (Liturgia fundamental, 3). ISBN 85-356-1869-4.

Setembro07 - Feriado Independência do Brasil08 - Reunião Ordinária do Conselho Diretor19 a 22 - Congresso Internacional “Evangelização em Diálogo”22 Noite CulturalOutubro04 - Recesso Dia de São Francisco06 - Reunião Ordinária do Conselho Diretor12 - Feriado N. Srª Aparecida15 - Recesso: Dia do Professor26 a 28 - SEMANA TEOLÓGICA (IFITEPS)Novembro02 - Feriado Finados

03 - Reunião Ordinária do Conselho Acadêmico10 - Reunião Ordinária do Conselho Diretor14 - Recesso Feriado da Proclamação da República15 - Feriado da Proclamação da República16 - Prazo de Entrega do texto da Monografia ao Orientador24 - Início das exposições das Monografias30 - Exame Oral para a PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE “ANTONIANUM”Dezembro01 e 02 - Exposições das Monografias 03 - Entrega das Notas junto à secretaria 03 - Colação de Grau – Encerramento do Ano Letivo** Algumas datas estão sujeitas a mudanças no decorrer do ano letivo **Ag

enda

do IT

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Estimular a expressão da potenciali-dade da comunidade, desenvolvendo a capacidade crítica e transformadora de crianças, jovens e adultos, diante de sua missão comunitária e social.

O Projeto Gente Viva surgiu em 2005, a partir da atuação dos frades es-tudantes franciscanos no complexo que abrange a Comunidade Oswaldo Cruz e adjacências, como resposta à situação de violência, pobreza e degração social a que estavam submetidas crianças e jo-vens daquela comunidade de Petrópolis.

A partir de um esforço por colocar em prática a teoria aprendida no curso de teologia e buscando atualizar o ca-risma franciscano, os frades estudantes que moravam no bairro Oswaldo Cruz (Fraternidade Nossa Senhora de Guada-lupe) foram se envolvendo com os pro-blemas, e percebendo as situações ex-tremas a que a falta de consciência dos próprios direitos e da cidadania podem levar.

Por meio de reuniões de conscienti-zação com adolescentes do bairro, que aconteciam a princípio na casa dos fra-des e nas casas dos moradores, foi sur-gindo o Projeto Gente Viva. Com o pas-sar do tempo, sentiu-se a necessidade de conseguir um espaço mais adequa-do para estes encontros e mesmo para outras demandas que foram surgindo. O local escolhido foi uma creche aban-donada, que acabou se tornando um ponto de referência para os moradores

do bairro, com oficinas que bus-cam, acima de tudo, tornar as crianças, adolescentes e jovens, protagonistas de sua própria existência.

O nome escolhido não é mero acaso: Gente Viva é uma resposta positiva à proximidade do Cemitério que, de certo modo, estigmatiza os moradores daque-

la região. Em 2007, o Projeto Gente Viva foi incorporado ao Sefras (Serviço Franciscano de Solidariedade). No mes-mo ano, passou a ser coordenado pelo Instituto Teológico Franciscano. Isso se explica pela necessidade e importância de uma entidade acadêmica contar com um espaço para que seus alunos pos-sam colocar em prática as teorias apre-endidas, além de ser um importante ins-trumento para despertar a consciência da responsabilidade social.

No momento, o coordenador do Pro-jeto Gente Viva é o Diretor do ITF, Frei Sandro Roberto da Costa. No início deste ano, o Projeto Gente Viva assumiu tam-bém um espaço na Comunidade Vila São José. Assim, as oficinas foram am-pliadas, podendo atender a um número cada vez maior de crianças e jovens.

As oficinas oferecidas, nas duas uni-dades, são: balé, capoeira, ginástica olímpica, ginástica localizada, judô, jazz, inglês, caratê. A oficina “Coisas e Tre-cos”, que funciona diariamente, tem por objetivo disponibilizar aos participantes o acesso a livros e brinquedos educa-tivos, fazendo, do espaço Gente Viva, um local de convivência e sociabilidade onde, através do lúdico, dos desenhos, das brincadeiras, os educadores possam passar os valores que alicerçam o Proje-to.

São oferecidas palestras e oficinas al-ternativas durante o ano, tais como pin-tura, contação de história, construção de brinquedos com materiais reciclá-veis. Também são organizados passeios temáticos e, no fim do ano, o Projeto organiza um evento, num teatro da ci-

dade, onde os alunos têm a oportunidade de apresentar o que aprenderam durante o ano. No mês de setembro, alguns alu-nos da oficina de balé puderam participar de uma apresentação do balé Kirov, no Teatro Municipal, no Rio de Janeiro (RJ). Uma das alunas da oficina faz, a cada ano, o exame da Real Academia de balé, de Londres.

O Projeto conta com educadores e uma assistente social, que busca envolver os pais e responsáveis no processo educa-tivo das crianças e jovens. A coordenação, os colaboradores e voluntários do Projeto Gente Viva têm consciência de que o Pro-jeto não existe para formar atletas olím-picos ou grandes bailarinos. Mais impor-tante do que isso é, através da construção e partilha de saberes, do esforço na vi-vência de valores franciscanos, humanos e cristãos, como o diálogo, a defesa de toda forma de vida, a promoção da paz, o respeito mútuo, dar uma contribuição, por pequena que seja, para transformar aqueles que participam do Projeto Gente Viva em cidadãos e protagonistas de sua própria história.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM

Nossa Missão

Projeto Gente Viva

Page 35: Revista ITF nº2

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Todos que conhecem a história do Centro Educacional Terra Santa de Petrópolis sabem que esta obra iniciada por Franciscanos vin-dos de Valparaíso, no Chile, marca a história da própria cidade de Petrópolis. Instalado no que era a chácara de KOELER, que projetou a cidade, ao longo de seus quase cem anos de existência, esta benemérita instituição pas-sou por várias gestões, todas caracterizadas por um empenho em acolher pessoas, so-bretudo crianças e jovens, para ajudá-las a se desenvolverem sob todos os aspectos.

Foi assim que, ao longo dos tempos, jun-tamente com a Capela Imaculada Conceição, de 1888, foram sendo construídos vários prédios, com várias finalidades. Hoje o Cen-tro Educacional pode ser entendido como um centro de evangelização e educação, que apresenta 4 fisionomias: uma comunidade de fé, uma escola conveniada com a Prefei-tura, uma creche com uma centena de crian-ças e dois projetos complementares “Cultura pela paz” e “Aquarela”, com 170 crianças.

Diante das dificuldades de manter todo aquele complexo com uns 8 mil metros cons-truídos, num terreno de 34 mil metros qua-drados, dificuldade mais do que visível no aspecto precário dos prédios, em 2005 não só a assistência espiritual, mas também a administração do Centro passou para a nossa Provincia Franciscana da Imaculada Concei-ção do Brasil.

Em 2007, o Centro passou a fazer parte do SEFRAS, e sua manutenção era garantida pelos recursos oriundos da condição filan-

trópica da Província. Terminada a filantropia colocou-se a questão do que fazer com aquele grande, mas pesado patrimônio. O governo pro-vincial decidiu que fosse assumido, de maneira autônoma, por um grupo de frades associados: Frei Antônio Moser, como Presidente, Frei César Külkamp, Frei Luiz Flávio Adami Loureiro e Frei Jorge Schia-vini. Além disso, através de uma As-sembleia foi eleita uma Comissão executiva de leigos, presidida por Frei Antônio Moser. Além disto, prestam valioso serviço vários fra-des estudantes de teologia.

A partir de maio de 2010, o Centro Edu-cacional deixou de receber recursos financei-ros da Província, devendo buscar recursos em outras fontes. De início, foram obtidos alguns recursos na Europa. Entretanto, por razões conhecidas, esses recursos vão se tornando escassos, e já se tem que trabalhar com a pressuposição de que todas aquelas torneiras irão secar em breve.

Diante disto, foi estabelecida uma estra-tégia de resgate que pode ser resumida nos seguintes pontos:

1) Aproximar comunidade de fé, escola, creche e atividades complementares, de tal forma que todos tenham os mesmos objeti-vos básicos e a mesma inspiração franciscana.

2) Fazer um estacionamento junto da ca-pela (com recursos da Missionszentrale); ade-quar o salão de festas; e fazer uma maquia-gem no todo das construções para dar uma fisionomia mais alegre ao conjunto.

3) Urgir junto da Prefeitura Municipal a reforma da creche e da escola.

4) Criar uma série de parcerias que ocu-pem os espaços vazios, mas com a mesma fi-losofia, e colaborem para a manutenção, que chega a 30.000,00 por mês.

Nesta altura, inícios de setembro, pode-mos dizer que todos estes objetivos já foram praticamente atendidos, de tal forma que não só os prédios apresentam cara nova, mas que há uma grande vitalidade. Como obser-vou o Prefeito no dia da reinauguração da es-cola, totalmente reformada, e com material da melhor qualidade, agora “aqui tem vida, com movimentação de dia e de noite”.

E, de fato, além da educação formal e in-

formal ministrada a um total de 600 crianças e seus respectivos pais, há uma série de ati-vidades provenientes de uma série de parce-rias. Eis algumas delas: cursos de inglês, fran-cês, italiano e espanhol; danças de salão e de rua; fisioterapia; fonoaudiologia; artes mar-ciais; esgrima; tênis; salão de cabelereiro; consul-tório odontológico, mantido pela Prefeitura....

Entre as parcerias merecem desta-que: convênio com a Universidade Católica de Petrópolis para um curso de pós gradua-ção em Medicina alternativa; projeto de ini-ciação à higiene oral para 200 crianças, proje-to financiado pela Universidade de Nova York e supervisionado por profissionais da saúde.

Em suma, embora o Centro Educacional não seja ainda totalmente autônomo, já está muito próximo de chegar lá. E, o que é mais importante, a expressão de alegria de pais e crianças diz tudo: o Centro Educacional está cumprindo sua missão: à luz do Evangelho e da espiritualidade franciscana abrir novos ca-minhos de vida. Assim, juntamente com a Pa-róquia do Sagrado, a Editora Vozes, a Paróquia Santa Clara, Bom Jesus Canarinhos e o Instituto Teológico Franciscano, vai flo-rescendo sempre mais em Petrópolis aquilo que nossos antecessores plan-taram: uma presença significativa na Igreja e na sociedade.

Frei Antônio Moser, OFM

Centro Educacional Terra SantaEM RITMO DE MUDANÇA

Page 36: Revista ITF nº2

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