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Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 ISBN: 978-85-7014-048-7 309 O Lúdico contemplando aspectos da sustentabilidade ambiental como proposta para aderência do conteúdo de Química Orgânica: um estudo exploratório Débora Barni de Campos Marcos Flávio Pádua Góes de Moraes Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro Renato de Mello Resumo O presente artigo propõe uma inovação da praxis para a disciplina de química orgânica em concordância e congruência com o mote hodierno de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). O jogo de tabuleiro utilizado nesse estudo exploratório teve como alvo o conjunto CTS e o professor que caminha a favor das recentes ementas curriculares, possibilita os discentes a aprenderem de maneira a tornarem-se cidadãos críticos, cientes, responsáveis e co-participadores da sociedade que estão inseridos e das relações ambientais, do dinamismo econômico e cultural que a humanidade atravessa. Com este intuito, utilizou-se de um jogo educativo de cunho experimental e qualitativo que, se equilibrado entre as funções lúdica e edificante, apresenta a capacidade de instruir por meio de diferentes facetas, instigou o conhecimento do aluno através do entusiasmo que naturalmente é despertado com aulas e atividades lúdicas. Palavras-chave: Lúdico, Química Orgânica, Ciência – Tecnologia – Sociedade (CTS). Abstract The playful aspects of environmental sustainability as a proposal for adherence to the contents of Organic Chemistry: an exploratory study This paper proposes an innovation of practice for the discipline of organic chemistry in agreement and congruence with the motto of modern Science, Technology and Society (CTS). The board game used in this exploratory study was to target the entire CTS and teacher who goes for the recent menu curriculum

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O Lúdico contemplando aspectos da sustentabilidade ambiental como proposta para aderência do conteúdo de Química Orgânica: um

estudo exploratório

Débora Barni de Campos

Marcos Flávio Pádua Góes de Moraes

Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro

Renato de Mello

Resumo

O presente artigo propõe uma inovação da praxis para a disciplina de química orgânica em concordância e congruência com o mote hodierno de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). O jogo de tabuleiro utilizado nesse estudo exploratório teve como alvo o conjunto CTS e o professor que caminha a favor das recentes ementas curriculares, possibilita os discentes a aprenderem de maneira a tornarem-se cidadãos críticos, cientes, responsáveis e co-participadores da sociedade que estão inseridos e das relações ambientais, do dinamismo econômico e cultural que a humanidade atravessa. Com este intuito, utilizou-se de um jogo educativo de cunho experimental e qualitativo que, se equilibrado entre as funções lúdica e edificante, apresenta a capacidade de instruir por meio de diferentes facetas, instigou o conhecimento do aluno através do entusiasmo que naturalmente é despertado com aulas e atividades lúdicas.

Palavras-chave: Lúdico, Química Orgânica, Ciência – Tecnologia –

Sociedade (CTS).

Abstract

The playful aspects of environmental sustainability as a proposal for

adherence to the contents of Organic Chemistry: an exploratory study

This paper proposes an innovation of practice for the discipline of organic chemistry in agreement and congruence with the motto of modern Science, Technology and Society (CTS). The board game used in this exploratory study was to target the entire CTS and teacher who goes for the recent menu curriculum

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allows the students to learn in order to become critical citizens, aware, responsible and co-participate in society that are inserted and relations environmental, economic and cultural dynamism of that humanity through. To this end, it was used for an educational game experimental nature and quality that is balanced between fun and edifying functions, has the ability to educate through different facets, urged the student's knowledge through the enthusiasm that is naturally attracted with classes and recreational activities.

Keywords: Playful, Organic Chemistry, Science, Technology and Society

(CTS).

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Introdução

Os problemas na educação científica são evidenciados quando as didáticas para o ensino

de ciências são averiguadas. De acordo com Pozo & Gomez-Crespo (2001, p.111) “os alunos

aprendem cada vez menos e interessam-se pouco pelo que aprendem. Não aprendem as ciências

que se ensinam, ou que se tem intenção de ensinar, apresentado dificuldades e detectando-se

problemas de aprendizagem ao nível de concepções, de procedimentos e de atitudes.”

Esse fato suscita um problema comum em sala de aula que depende de um conjunto de

fatores para ser sanado: a falta de entusiasmo e atitude pró-ativa da maioria dos discentes. Além

da evidente falta de interesse da grande maioria dos alunos, formando uma situação quase

endêmica na educação brasileira, percebe-se uma certa alienação de questões importantes e

pertinentes às realidades sócio-político-cultural dos estudantes recém ingressos nas

Universidades. A causa dessa alienação, acredita-se ser multi-fatorial e de gênese de toda uma

estrutura educacional e comportamental, que não será levantada no presente artigo. Uma vez

que os alunos chegam aos educadores despreparados, sem ou com pouca consciência

responsável, é papel soberano do professor elucidar de forma crítica as questões que cercam a

sociedade e com isso formar pessoas capazes de serem atuantes e que saibam analisar as

situações da sociedade quando lhes chegarem ao conhecimento. Esse link entre ensino de

ciências dentro da sociedade tecnológica é papel discutido e difundido que o contexto Ciência,

Tecnologia e Sociedade se propõe a analisar/ensinar.

Autores de estudos de investigação nesta área defendem que modelos de ensino e de

aprendizagem que envolvam os alunos em percursos de investigação genuínos e privilegiem

integração de interrelações CTS, promovem o desenvolvimento de capacidades, competências e

atitudes que dificilmente se desenvolveriam em abordagens baseadas em modelos de ensino

tradicional (MATOS et al, 2006 p. 113)

O enfoque voltado para a importante relação de educar com vistas no ementário

aplicando referências de forma a adequar o ensino com CTS, permite uma reflexão para as

práticas de educação científica ajudando a compreender a moldura do papel das ciências e

tecnologias dentro do mundo globalizado e se apresenta como objetivo deste estudo exploratório

que fez uso do lúdico para ensinar Ciências.

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Docência e Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)

O currículo de CTS pode ser apresentado através de uma correlação interdisciplinar entre

a educação científica, tecnológica e social, de forma a trabalhar em comunhão com as propostas

curriculares científicas e tecnológicas e, com o estudo concomitante dos aspectos de política

pública, história, ética e sócio-econômicos. (LÓPEZ e CEREZO, 1996).

A ementa CTS admite, por estar próximo ao mundo escolar real, a criação de material

versátil, que se adapte às questões escolares peculiares. A química orgânica, como parte

integrante das ciências naturais, possibilita uma abordagem contextualizada para o discente com

um forte apelo CTS. Quando o professor produz o seu material ele tem autonomia e flexibilidade

para trabalhar com os temas interdisciplinares, mesmo seguindo corretamente as diretrizes

programáticas.

Com a expectativa de educar um sujeito que tenha uma visão crítica acerca da sociedade

que está inserido, faz-se necessário que se possa alcançar a compreensão de como a tecnologia

pode influir nas relações humanas comportamentais e que possuam uma visão de

desenvolvimento tecnológico sócio-responsável. Assim o aluno é habilitado para uma discussão

de valores, uma vez que solicitados nas tomadas de decisões. Parafraseando HOFSTEIN,

AIKENHEAD e RIQUARTS (1988, p.358), “CTS pode ser caracterizado como o ensino do conteúdo

de ciências no contexto autêntico do seu meio tecnológico e social, no qual os estudantes

integram o conhecimento científico com a tecnologia e o mundo social de suas experiências do

dia-a-dia.”

Com o resgate de valores é que se pode haver julgamento de questões éticas para o uso

responsável de tecnologia, por exemplo. Instigando assim a contextualização sensata do discente,

seu papel como cidadão e a busca por descoberta de sustentabilidade econômica, social e

científica.

Para isso, a abordagem dos temas trabalhados em química orgânica pode ser realizada

através do levantamento deste problema: o nível de conhecimento muito aquém do esperado

dos discentes da primeira fase de Tecnologia Mecânica. Algumas soluções exeqüíveis são

apresentadas em sala de aula após o debate de várias possibilidades, despontadas a partir do

exame do conteúdo científico, de empregos tecnológicos e conseqüências público-sociais.

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O Jogo e a Educação

O jogo na atividade humana

Em princípio deve-se entender o jogo como uma atividade que obedece ao impulso

mais profundo e básico da essência animal. Esta atividade inicia-se em nossas vidas com os

mais elementares movimentos, complicando-se até dominar a enorme complexidade do

corpo humano.

Os primeiros jogos que a criança faz são chamados de jogos de exercício, utilizando

como principal objetivo o seu próprio corpo. Os bebês chupam suas mãos, emitem sons e

repetem diversos movimentos sem finalidade utilitária (BROUGÈRE, 1998).

A transição dos jogos de exercícios para os simbólicos marca o início de percepção de

representações exteriores e a reprodução de um esquema sensório-motor fora de seu

contexto. Pode-se dizer que o jogo simbólico é um jogo de exercício sendo o que exercita é a

imaginação.

De acordo com os estudos de KISHIMOTO (1993), ao chegar o período das operações

concretas (por volta dos sete anos de idade) a pessoa, pelas aquisições que fez, pode jogar

atendendo-se a normas. Surgem então os jogos de regras, que fará com que abandone a

arbitrariedade que governava seus jogos para adaptar-se a um código comum, podendo ser

criado por iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar limites porque a

violação das regras traz consigo um castigo. Isso ajudará o indivíduo em formação a aceitar o

ponto de vista dos demais, a limitar sua própria liberdade em favor dos outros, a ceder, a

discutir e a compreender.

Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece já que a sociabilidade

é agregada à vida da pessoa, surgindo assim os primeiros sentimentos morais e a consciência

de grupo.

Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz para passar o

tempo. Pode-se dizer que o jogo é o labor da infância ao qual o infante dedica-se com prazer.

Percebe-se através do que foi exposto o valor educativo que a prática lúdica possui.

Muitos psicólogos afirmam que os primeiros anos são os mais importantes na vida do

homem, sendo que a atividade central é manifestada é o jogo. É notável o que se pode

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aprender construindo seus próprios jogos, utilizando conceitos de, por exemplo, plano

inclinado, polias, velocidade, etc., temas que só seriam abordados, ensinados muito depois, no

período escolar.

Um equívoco que por vezes alguns docentes cometem é o da não valorização em toda

sua extensão desta atividade lúdica, extraindo o que ela contém de educativo. E avaliando

essa importância do lúdico no desenvolvimento sócio-cognitivo do ser humano é que se

propõe fazer um resgate do entusiasmo e exercício da cognição propostos pelo jogo,

adaptando para a realidade de jovens e adultos na disciplina de química orgânica, do

primeiro semestre do curso de Tecnologia Mecânica.

Ensinado com Jogos

O jogo, a partir do momento que exercita a imaginação do aluno, passa a ajudá-lo a

desenvolver sua capacidade de não só resolver problemas, mas também de encontrar várias

maneiras de resolvê-los.

Do ponto de vista intelectual, a transposição favorecida pelo jogo desempenha uma

função primordial, uma vez que ações simuladas para experiência fazem a passagem do fato e

o símbolo, elemento essencial das funções mentais. A aprendizagem deve despertar o

interesse, estimulando a curiosidade e a criatividade. Logo, o interesse relacionado à

atividade lúdica na escola tem-se mostrado cada vez maior por parte de pesquisadores e,

principalmente, de professores que buscam alternativas para o processo ensino-

aprendizagem (PEDROZA, 2005).

A partir do jogo coligado à disciplina que está sendo exposta a eles, os alunos ampliam

suas habilidades conceituais, ocorre um processo interpessoal e um intrapessoal. O lúdico

exige tanto nas ciências exatas quanto nas não exatas, atenção. Sendo assim, o jogo passa pelo

caminho das regras, idéias, estratégias, exceções e análise das probabilidades, constituindo

um atrativo para as disciplinas que o professor desejar implementar uma atividade prazerosa

como aliada à aprendizagem.

Segundo Jean Piaget (1978), faz-se necessário que também essa atividade represente

um desafio, que seja capaz de gerar conflitos cognitivos que são fundamentais para o

desenvolvimento intelectual do sujeito.

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A competição garante dinamismo, movimento e propicia interesses que contribuem

para o desenvolvimento social e é um facilitador da matéria lecionada. Ainda faz com que o

aluno elabore estratégias, e com o tempo, aprimore essas estratégias, a fim de superar uma

eventual deficiência. A busca pela competição instiga o aluno a sempre buscar desafios

maiores, a fim de sempre se superar, pois é por meio da competição é que se propicia uma

constante auto-avaliação da pessoa, de suas competências, habilidades e raciocínio.

A Sustentabilidade Ambiental no ensino da química orgânica

A química orgânica, enquanto componente das ciências naturais e disciplina integrante do

currículo dos cursos da área tecnológica, pode contribuir com muitos conceitos inerentes à

própria ciência para o entendimento dos sistemas ambientais. Além disso, a disciplina, aliada à

educação ambiental, exerce o papel formador de pessoas conhecedoras e aptas para influenciar

na sociedade, na promoção do bem-estar de todos.

Assim o professor que se utilizar do lúdico como uma ferramenta de ensino, ao assumir

um papel de educador responsável e preocupado com a questão ambiental contemporânea, não

deve se furtar da sustentabilidade ambiental.

A economia ecológica preocupa-se com a igualdade intergeracional, em razão dos efeitos

que a atividade econômica tem sobre o meio natural e de suas conseqüências em relação ao

futuro. A economia caracteriza-se pela sustentabilidade, caso não haja degradação do meio

natural em suas diversas funções. Uma definição de sustentabilidade nesses termos é a que se fez

famosa no Informe de Brundtland de 1987 apud Philippe et al (2004): “satisfazer as necessidades

das gerações presentes sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as

suas próprias necessidades”.

De acordo com Philippe et al (2004), a idéia central é de manter o patrimônio natural,

considerando a natureza como um legado que deve ser conservado e desfrutado de modo que se

mantenha a capacidade de desempenho de suas diferentes funções. A primeira contradição que

essa idéia comporta é a do consumo, por menor que fosse, seria incompatível com a

sustentabilidade.

O patrimônio natural é o provedor de recursos para as atividades econômicas. Para os

recursos renováveis, ainda que potencialmente esgotáveis, pode-se definir um critério de

sustentabilidade, que é usá-lo somente no ritmo de sua renovação. No entanto, isso não resolve

qual deverá ser o estoque ótimo de recursos. Esse critério não propõe que se mantenha

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inalterado qualquer bosque ou campo de cultivo, e sim o compromisso de não diminuir o

conjunto da superfície florestal ou área fértil.

A sustentabilidade requer o cuidado com os elementos essenciais diretamente

proporcionados pela natureza. Trata-se, em primeiro lugar, de não produzir, nos ecossistemas,

alterações que afetem profundamente a vida no planeta – por exemplo, a manutenção de lençóis

freáticos livres de poluição -, ou que possam conduzir a situações potencialmente catastróficas.

Trata-se também, de se ter o máximo respeito pela conservação de espaços naturais que, no

futuro, sejam considerados cada vez mais importantes para a qualidade de vida.

Metodologia

Para Costa (2006), quando se faz uso do método indutivo a abordagem principal é

caracterizada pela percepção de que o homem é o responsável por descobrir a verdade das coisas

e com conhecimento direcionado pode produzir, construir sua pesquisa científica. Do mesmo

modo, nesta pesquisa mostra-se uma experiência em sala de aula e suscita questões para

solucionar algumas deficiências existentes no ensino de química orgânica.

O presente estudo é de natureza aplicada porque foi dirigido, por meio da utilização de

um jogo de tabuleiro, para 30 alunos de Tecnologia Mecânica da Universidade do Estado de Santa

Catarina – Centro de Educação do Planalto Norte (São Bento do Sul/SC). O lúdico foi utilizado para

operacionalizar os conteúdos de química orgânica e vincular com situações e demandas

contemporâneas, além de auxiliar na fixação dos assuntos já abordados em sala de aula.

Entusiasmo, espírito de coletividade, caráter competitivo, domínio dos conteúdos

programáticos são elementos que, quando analisados e interpretados podem caracterizar uma

pesquisa qualitativa e estão presentes neste estudo. As abordagens qualitativas em pesquisa são

aquelas “capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos

atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu avento, quanto

na sua transformação, como construções humanas significativas” (MINAYO, 2000, p. 47)

De acordo com a problemática da educação e no propósito de preparar os alunos para

serem cidadãos críticos e responsáveis, o artigo é conduzido como uma pesquisa exploratória

porque proporciona maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito bem

como faz análise de exemplo quando se utiliza o lúdico para estimular a compreensão.

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Uma proposta do uso do lúdico para a Química Orgânica

Quando colocado o problema com estratégias e os alunos passam a resolvê-lo, aparecem

diversas situações que constantemente desafiam os jogadores. Em função disso, favorecem a

construção e a verificação de hipóteses. Permite que as estratégias sejam elaboradas, avaliadas,

testadas e postas em prática.

Se os objetivos do jogo forem claros, adequados e constantemente representarem um

desafio, os alunos podem estabelecer uma “lógica e uma ação”. Isso representa uma atividade

dinâmica que desafia e motiva os alunos.

É inegável o papel central da criatividade no desenvolvimento da Ciência. Assim, é

possível e importante, pensar-se em um projeto pedagógico transformador, renovando o ensino

das ciências através da arte, que enfatize essa dimensão maior do pensamento criativo para o

homem (CARUSO et al, 2008).

A associação do lúdico com a questão CTS pode representar uma favorável união se

colocada para os discentes de forma apropriada e pode ter o intento de desenvolver uma

consciência de responsabilidade social e ambiental. A Química Orgânica por ser integrante das

Ciências Naturais propicia esse feliz encontro entre o ensinar consciente e o jogo.

A sugestão a seguir foi utilizada nas aulas para a 1ª fase do curso de Tecnologia Mecânica

em São Bento do Sul/SC e consiste em um jogo de tabuleiro onde há perguntas e situações que

levem os discentes a uma reflexão sobre a sociedade que se encontram inseridos e suas

responsabilidades enquanto indivíduos pertencentes a uma comunidade. O tabuleiro tem um

número de “casinhas”, representadas por quadrados em confeccionados em EVA e colado em

cartolina. Faz-se uso de dados, um dado por equipe e é possível dividir a sala de aula em seis

equipes, representando o número de tabuleiros disponíveis. Quando, o jogador, neste caso

representado pela figura do discente, pára em cima de um quadrado com um P (de parada) tem

as seguintes “penitências” que fazem parte do jogo apresentado, conforme mostram as figuras 1

e 2.

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Figura 1 – O Jogo de Tabuleiro

(Fonte: Os autores, 2008)

Figura 2 – O Jogo de Tabuleiro com destaque para a parada “P” em

vermelho.

(Fonte: Os autores, 2008)

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As caminhadas e paradas, dentro do tabuleiro, são executadas para cada jogador de

acordo com o número obtido ao lançar o dado. A seguir as “paradas” com os significados

delas abrangendo o lúdico com enfoque CTS, conforme elucida a tabela 1.

Tabela 1 – Paradas do jogo com respectivas instruções

PARADAS INSTRUÇÕES

Parada (A) Você foi pego trabalhando com

benzeno sem EPI (Equipamento de Proteção

Individual) e este produto é muito tóxico.

Volte duas casas para tratamento médico.

Parada (B) Você preferiu utilizar gasolina ao

invés de álcool no seu carro flex. A gasolina é

hidrocarboneto muito mais poluente que o

etanol, logo vá trabalhar hoje de bicicleta e

fique uma rodada sem jogar para contribuir

com nossa camada de ozônio.

Parada (C) As vacas de sua fazenda estão

emitindo muito CO2 (gás carbônico) com seus

dejetos, contribuindo para o aquecimento

global e destruição da camada de ozônio.

Volte três casas.

Parada (D) Você não separou o lixo orgânico do

lixo reciclável. Fique duas rodadas sem jogar

para se lembrar de sempre separar o lixo.

Parada (E) O óleo comestível utilizado por sua

empresa foi jogado na terra e contaminou

um lençol freático. Fique uma rodada sem

jogar.

Parada (F) Você decidiu parar de se alimentar

com alimentos orgânicos e preferiu a

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alimentação pronta, industrializada. Com

isso, seu lixo quadruplicou ao final de um

mês. Volte quatro casas.

Parada (G) Seu bebê só usa fraldas descartáveis

que não são passíveis de reciclagem. Fique

duas rodadas sem jogar para pensar em

começar a utilizar fraldas retornáveis, pelo

menos uma vez por semana.

Parada (H) Sua empresa não faz tratamento da

água antes de devolvê-la aos rios e o mote de

sua empresa é a tinturaria de toalhas. Volte

três casas.

Para os alunos avançarem no jogo e cumprirem o objetivo –que é chegar em primeiro- há

outros quadrados a serem passados e o desenrolar se dá com um dado que os alunos jogam para

saberem onde vão parar. As demais “casinhas” ou paradas são perguntas sobre o conteúdo de

química orgânica já ensinado e quando acertam a resposta, avançam no tabuleiro, se não acertam

tentam na próxima rodada.

À medida que se avança neste jogo de tabuleiro os alunos vão exercitando os

conhecimentos que adquiriram e quem chegar ao final em primeiro lugar é recompensado com

1,0 ponto na prova.

Acreditamos que o momento lúdico, como espaço de descontração, na escola, deve ser

visto como constituinte do sujeito, o qual, a partir de vivências que experimenta, constrói suas

relações interpessoais. O sujeito é desenvolvimento e processualidade permanente sem nunca

ficar estático em sua condição subjetiva atual. Então, a escola, ao oferecer espaços como esse,

possibilita novas oportunidades para o desenvolvimento da subjetividade (PEDROZA, 2005, p. 75).

Os alunos mostraram-se entusiasmados e relataram que gostariam de “brincar” mais

vezes. Discutiram entre eles as questões ambientais que foram propostas no jogo, suscitaram

outras questões promovendo um enérgico debate e disseram que o método, além de divertir,

ajuda a fixar o conteúdo outrora já passado. “O equilíbrio entre as duas funções, lúdica e

educativa, é o objetivo do jogo educativo, ressaltando ainda que a corrente que trata de uma

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função educativa defende que, através do jogo, se apresentam possibilidades de ensinar por meio

de diferentes aspectos.” (ROMERA et al., 2007, p. 137)

Considerações Finais

A ciência pode ser fonte de prazer caso possa ser concebida como atividade criadora. A

imaginação deve ser pensada como a principal fonte de criatividade. Explorar esse potencial nas

aulas de ciências deveria ser atributo essencial e não periférico nas aulas de ciências. A

curiosidade é o motor da vontade de conhecer que coloca nossa imaginação em marcha. Assim, a

curiosidade, a imaginação e a criatividade deveriam ser consideradas como base de um ensino

que possa resultar em prazer (PIETRECOLA, 2004).

Concorda-se com Aberastury (1992) onde a intenção da utilização do lúdico nas aulas de

Química Orgânica além de ensinar, contribui para despertar e ampliar o atrativo dos alunos para

juntos, discentes e docentes construam o conhecimento. Há uma perspectiva que quando

estimulado o educando aperfeiçoe suas competências e atos cooperando concomitantemente, na

formação de cidadãos cientifica e tecnologicamente atuantes, esclarecidos e aptos para opinar e

participar nas questões hodiernas que os envolvem.

Elucidando a proposta do jogo relatado neste artigo, na figura 3 observa-se o momento

dos alunos e a interação deles entre si e com o jogo de tabuleiro aventado para incrementar as

atividades educativas da disciplina de Química Orgânica do curso de Tecnologia Moveleira na

UDESC – Planalto Norte.

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Figura 3: Alunos fazendo uso do jogo de tabuleiro em sala de aula.

(Fonte: Os autores, 2008)

Os alunos que fizeram uso do jogo mostraram-se bastante animados e relataram que a

idéia é muito boa para a fixação de conteúdo, bem como sentiram apreço por serem

recompensados com 1,0 ponto na prova para o primeiro lugar de cada tabuleiro distribuído em

sala. Um ambiente harmônico contribui para o aprendizado e facilita a prática do professor que,

vendo a participação dos alunos sente-se estimulado a dar o melhor de si estimulando e

resgatando sua própria criatividade.

A demanda contemporânea que procurou ser resgatada com essa experiência em sala de

aula é a busca por características de ensino de CTS que pode ser gerido de maneira a co-

responsabilizar os alunos por suas aprendizagens permitindo uma participação crítica do discente

que, de acordo com Matos (2006), o processo de ensino-aprendizagem neste contexto se

caracteriza através de assuntos prudentemente escolhidos para contextualizar as aulas de

ciências com abordagens transdisciplinares.

O professor que assume a pesquisa em suas aulas, que se dispõe a dialogar na expectativa

de um feedback, se propõe possivelmente a aprender e ensinar além daquilo que já possui de

conhecimento como também o que desconhece, com alicerce na bagagem cultural, social,

cognitiva e informativa dos seus alunos. Com isso torna-se mediador e instigador dos seus

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discentes, encaminhando sua reconstrução e superação à medida que contextualiza as demandas

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Débora Barni de Campos: aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciência e Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Ponta Grossa.

[email protected] ou [email protected]

Marcos Flávio Pádua Góes de Moraes: professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

– Ponta Grossa. [email protected]

Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro: professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

Ponta Grossa. [email protected]