O Diabetes No Contexto Familiar

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O Diabetes no Contexto Familiar 31/8/2008 - Portal Diabetes O desenvolvimento da psicologia, da sociologia, da medicina preventiva, entre outras, salientou a relevância do homem ser visto de forma holística, isto é: corpo, mente e emoções — formando uma unidade. O ser humano passou a ser interpretado e compreendido como um todo, inserido num contexto ambiental que o influencia diretamente. Daí a importância das atitudes familiares como representante fundamental do ambiente em que se desenvolve uma criança. A primeira aprendizagem social da criança ocorre em casa e as experiências iniciais com a família, sobretudo os elos com a mãe, que são antecedentes decisivos para as relações posteriores. Identificando-se com os pais, as crianças adquirem muito dos seus modos de pensar e sentir. Além disso, como os pais são representantes de sua cultura, a identificação fornece a elas habilidades, atitudes, motivos, ideais, valores, tabus e princípios morais. Durante o processo de amadurecimento, a criança continua a identificar-se com seus pais e adquire, cada vez mais, as características dos mesmos. No entanto, ela vai descobrindo novos modelos de identificação como, por exemplo, colegas, professores, profissionais de saúde, figuras públicas, etc — ampliando seu mundo social. É sabido que, tanto no momento do diagnóstico, quanto no decorrer do tratamento, os sentimentos dos pais frente ao diabetes irão desempenhar importante papel nas reações da criança com a doença. Isto quer dizer que as atitudes familiares irão influenciar de maneira direta e decisiva no comportamento da aceitação, ou não, do diabetes pelo jovem. A família vive intensos ajustes emocionais, situação que ativa os sentimentos de ambivalência, gerando angústia e culpabilidade, o que resulta em uma atitude freqüente de excessiva permissividade para com a criança, o que eventualmente poderá ser explorada por ela para manipular situações em seu benefício. Os pais superprotetores que se mostram demasiadamente preocupados com o bem estar do filho, fechando-o em casa, impedindo-o de exercer as atividades naturais de sua idade, representam, também, a expressão indireta de sentimento de culpa e ansiedade, podendo acarretar em prejuízo para o desenvolvimento normal da criança, gerando ansiedade, medo e insegurança no jovem, o que contribui para a formação de uma personalidade passivo-dependente. Adotar uma atitude de controle perfeccionista frente ao diabetes do filho poderá acarretar na criança um comportamento obsessivo-compulsivo ou, pelo contrário, de rebeldia contra os planos terapêuticos que envolvem o adequado tratamento do diabetes. Existe, ainda, famílias que negam o diabetes a ponto de se recusarem a contar que o filho é portador. A atitude de rejeição ao diabetes gera, muitas vezes, o descuido com a criança, o desinteresse pelo tratamento, criando um ambiente no qual o jovem se sente rejeitado, inferiorizado — resultando em comportamentos de revolta e fracasso em relação ao tratamento.

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o impacto da diabetes no contexto da família do doente

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O Diabetes no Contexto Familiar

31/8/2008 - Portal Diabetes   

O desenvolvimento da psicologia, da sociologia, da medicina preventiva, entre outras, salientou a relevância do homem ser visto de forma holística, isto é: corpo, mente e emoções — formando uma unidade.  O ser humano passou a ser interpretado e compreendido como um todo, inserido num contexto ambiental que o influencia diretamente. Daí a importância das atitudes familiares como representante fundamental do ambiente em que se desenvolve uma criança.

A primeira aprendizagem social da criança ocorre em casa e as experiências iniciais com a família, sobretudo os elos com a mãe, que são antecedentes decisivos para as relações posteriores.

Identificando-se com os pais, as crianças adquirem muito dos seus modos de pensar e sentir. Além disso, como os pais são representantes de sua cultura, a identificação fornece a elas habilidades, atitudes, motivos, ideais, valores, tabus e princípios morais.

Durante o processo de amadurecimento, a criança continua a identificar-se com seus pais e adquire, cada vez mais, as características dos mesmos. No entanto, ela vai descobrindo novos modelos de identificação como, por exemplo, colegas, professores, profissionais de saúde, figuras públicas, etc — ampliando seu mundo social.

É sabido que, tanto no momento do diagnóstico, quanto no decorrer do tratamento, os sentimentos dos pais frente ao diabetes irão desempenhar importante papel nas reações da criança com a doença. Isto quer dizer que as atitudes familiares irão influenciar de maneira direta e decisiva no comportamento da aceitação, ou não, do diabetes pelo jovem.

A família vive intensos ajustes emocionais, situação que ativa os sentimentos de ambivalência, gerando angústia e culpabilidade, o que resulta em uma atitude freqüente de excessiva permissividade para com a criança, o que eventualmente poderá ser explorada por ela para manipular situações em seu benefício.

Os pais superprotetores que se mostram demasiadamente preocupados com o bem estar do filho, fechando-o em casa, impedindo-o de exercer as atividades naturais de sua idade, representam, também, a expressão indireta de sentimento de culpa e ansiedade, podendo acarretar em prejuízo para o desenvolvimento normal da criança, gerando ansiedade, medo e insegurança no jovem, o que contribui para a formação de uma personalidade passivo-dependente.

Adotar uma atitude de controle perfeccionista frente ao diabetes do filho poderá acarretar na criança um comportamento obsessivo-compulsivo ou, pelo contrário, de rebeldia contra os planos terapêuticos que envolvem o adequado tratamento do diabetes.

Existe, ainda, famílias que negam o diabetes a ponto de se recusarem a contar que o filho é portador. A atitude de rejeição ao diabetes gera, muitas vezes, o descuido com a criança, o desinteresse pelo tratamento, criando um ambiente no qual o jovem se sente rejeitado, inferiorizado — resultando  em comportamentos de revolta e fracasso em relação ao tratamento.

Parece que tanto para os pais, como para a criança, faz mais sentido ver que o diabetes não desequilibrou a estrutura familiar, mas, sim, pôde permitir que a família se adaptasse gradualmente.

Concluímos, portanto, que a posição dos pais em relação ao diabetes do filho irá desenvolver semelhante postura, seja de aceitação ou não aceitação. Assim, podemos observar que o diabetes é mais bem aceito e melhor controlado por crianças e adolescentes cujos pais desenvolveram uma conduta positiva em relação à rotina imposta pelo tratamento, pois souberam lidar com o sentimento de culpa e administraram de forma real suas ansiedades. 

Cabe aos pais se mostrarem compreensivos, ajudando seus filhos a resolver as dificuldades que vão surgindo, com naturalidade, sem transformar o diabetes em um “bicho de sete cabeças” e,  logo que possível, ir transferindo para a criança a  responsabilidade pelo seu

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tratamento, facilitando, desta forma, o processo de independência inerente a todo ser humano.

Rosana ManchonPsicóloga Clinica com experiência de 21 anos em Diabetes.Membro do Conselho Consultivo da ADJ - Associação de Diabetes Juvenil.Pós-Graduação em Psicologia Aplicada à Nutrição.Especialização em atendimento ao adolescente.

Consultório: Rua Itapeva, 500 – 10º andar conjunto 10 C – Bela Vista.- São Paulo.