O Comércio Justo no Contexto da Globalização · Comércio justo, globalização, motivação dos...
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MESTRADO
ECONOMIA E GESTÃO INTERNACIONAL
O Comércio Justo no Contexto da
Globalização
Mafalda Sousa Costa Ferraz Alves
M 2018
O COMÉRCIO JUSTO NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO Mafalda Sousa Costa Ferraz Alves
Mestrado em Economia e Gestão Internacional
Orientado por Professora Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos
2018
i
Resumo
Na conjuntura atual da dicotomia Norte-Sul, onde de um lado estão os países do
Norte que desfrutam das externalidades positivas do comércio internacional e veem a sua
qualidade de vida aumentar, e do outro lado encontram-se os países do Sul sem acesso às
vantagens da globalização, nem ao comércio internacional e sofrendo cada vez mais as
consequências do seu atraso, o estudo do comércio justo é fundamental. Este apresenta-se
como um movimento social cujo objetivo é reduzir estas diferenças e promover a
prosperidade das populações dos países em desenvolvimento.
Como a importância do comércio justo tem aumentado, tem também aumentado o
número de artigos e estudos sobre este assunto. No entanto, nenhum se debruçou sobre os
motivos que levam produtores, que não têm acesso ao comércio internacional ou que, se o
têm, é em condições muito desiguais e injustas, a aderir ou não ao comércio justo. É a este
aspeto do comércio justo que esta dissertação se vai dedicar, tentando perceber as motivações
por detrás da adesão ao comércio justo, estimulado também pelas críticas a este movimento
que alegam, nomeadamente, que os ganhos das vendas através do comércio justo são diluídos
na burocracia do mesmo.
Palavras-chave:
Comércio justo, globalização, motivação dos produtores, desenvolvimento Norte-
Sul
ii
Abstract
In the current reality of the North-South dichotomy, where, on the one side, we can
find the northern countries that benefit from the positive externalities of international trade
and see their quality of life increase, and, on the other side, we may find the countries of the
South, without access to the advantages of globalization or international trade and
increasingly suffering the consequences of their lag, fair trade is fundamental. Fairtrade is as
a social movement whose purpose is to reduce these differences and promote the prosperity
of the populations of developing countries.
As the importance of fair trade has increased, the number of articles and studies on
this subject has also increased. However, none so far has considered the motives that lead
producers (who do not have access to international trade or who, if they have, are in very
unequal and unfair terms) to join or not fair trade. It is to this aspect of fair trade that this
dissertation is dedicated: trying to understand the motivations behind the adhesion to the
fair trade, also stimulated by the critics to this movement that, in particular, argue that the
sales gains through the fair trade are diluted in their own bureaucracy.
Key-words:
Fairtrade, globalization, producers’ motivations , development
iii
Índice
Resumo .............................................................................................................................. i
Abstract ............................................................................................................................ii
Índice ............................................................................................................................. iii
Índice de gráficos ........................................................................................................... iv
Índice de tabelas .............................................................................................................. v
1. Introdução: motivações, objetivos e questão de investigação .......................... 1
2. Revisão de literatura ............................................................................................ 3
Globalização, sustentabilidade, responsabilidade social .............................................. 3
Comércio justo .............................................................................................................. 5
Origem .......................................................................................................................... 5
Funcionamento .............................................................................................................. 7
Limitações ..................................................................................................................... 9
Apreciação .................................................................................................................. 12
Possíveis alternativas .................................................................................................. 14
Benefícios ................................................................................................................... 15
Síntese ......................................................................................................................... 17
3. Metodologia ........................................................................................................ 20
4. Análise de dados ................................................................................................. 25
5. Conclusão ............................................................................................................ 35
6. Referências ......................................................................................................... 37
7. Anexos ................................................................................................................. 40
Anexo 1 – Questionário .............................................................................................. 40
Anexo 2 – Respostas ................................................................................................... 42
Anexo 3 – Gráficos ..................................................................................................... 58
iv
Índice de gráficos
Gráfico 1 – Percentagem vendida na rede do Comércio Justo ................................................ 26
Gráfico 2 – Motivos que originaram a adesão ao comércio justo ............................................ 28
Gráfico 3 – Distribuição por área melhorada pela existência de Comércio Justo ................. 30
Gráfico 4 – Distribuição pelas principais vantagens do Comércio Justo ................................ 31
Gráfico 5 – Distribuição por género ............................................................................................ 58
Gráfico 6 – Distribuição por continente ...................................................................................... 58
Gráfico 7 – Distribuição por pertença a uma cooperativa ........................................................ 59
Gráfico 8 – Distribuição por considerar se o Comércio Justo tem ou não aspetos negativos
............................................................................................................................................................ 59
v
Índice de tabelas
Tabela 1 – Teste de normalidade Amostra: Número de anos de adesão; Organização em
cooperativa; Percentagem vendida ................................................................................................ 22
Tabela 2 – Teste de normalidade Amostra: Motivos de adesão ao comércio justo ............... 23
Tabela 3 – Caracterização da amostra por género ...................................................................... 25
Tabela 4 – Caracterização da amostra por continente ............................................................... 26
Tabela 5 – Quadro-resumo dos aspetos negativos ..................................................................... 27
Tabela 6 – Distribuição por motivo que originou a adesão ao comércio justo ...................... 29
Tabela 7 – Quadro-resumo das áreas a melhorar ....................................................................... 32
Tabela 8 – Coeficiente de Correlação de Spearman entre Percentagem vendida através do
comércio justo e a Longevidade .................................................................................................... 33
Tabela 9 – Coeficiente de Correlação de Spearman entre Percentagem vendida através do
comércio justo e a Participação ou não em cooperativas .......................................................... 33
Tabela 10 - Respostas às perguntas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 .................................................................... 44
Tabela 11 - Respostas às perguntas 7, 8 e 9 ................................................................................. 46
Tabela 12 - Respostas à pergunta 10 ............................................................................................. 48
Tabela 13 - Respostas à pergunta 11 ............................................................................................. 50
Tabela 14 - Respostas à pergunta 12 ............................................................................................. 52
Tabela 15 - Respostas às perguntas 13 e 13.1 .............................................................................. 54
Tabela 16 - Respostas à pergunta 14 ............................................................................................. 57
1
1. Introdução: motivações, objetivos e questão de investigação
O tema desta dissertação é “O Comércio Justo no contexto da globalização”, e a
questão a investigar será: “Quais os motivos que originam a adesão ao comércio justo por
parte dos produtores do Sul?”1.
No momento em que vivemos, e como consequência da evolução dos últimos anos
(que se pode caracterizar por uma melhoria geral do bem-estar da população, nos países
ocidentais), como mencionado por Stiglitz (2013), seria de esperar que por todo o mundo se
atravessasse uma fase de desenvolvimento que permitisse uma melhoria global do nível de
vida das populações. No entanto, a prosperidade esperada não está a ser sentida da mesma
forma em todas as regiões do mundo, podendo ser identificadas zonas do globo onde este
desenvolvimento ainda não se fez sentir. Em 2013, de acordo com o Banco Mundial (2016b),
10% da população mundial vivia em condições de extrema pobreza (sendo que, na África
Subsariana, era de 41% a percentagem da população que se encontrava nesta situação). O
Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos países de Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) baixo corresponde a menos de metade do PIB per capita dos países de IDH médio e a
menos de um décimo do PIB per capita dos países de IDH muito alto, encontrando-se, em
2016, de acordo com o Banco Mundial (2016a), aproximadamente nos USD 979. Por último,
e recorrendo a um indicador de caráter qualitativo, em 2015, quase 40% da população da
África Subsariana não tinha acesso aos serviços básicos de fornecimento de água, como
apresentado pelo Banco Mundial (2017). Apesar destes dados se referirem mais
especificamente ao continente africano, as disparidades entre Norte e Sul também se fazem
sentir na Ásia e na América Latina.
É verdade que esforços têm vindo a ser feitos no sentido de procurar fazer chegar o
progresso a um nível global. Ainda assim, em 2013, e de acordo com as Nações Unidas
(2017), 767 milhões de pessoas viviam abaixo do limiar da pobreza e a percentagem de
exportações de bens no comércio mundial dos países menos desenvolvidos era de,
aproximadamente, 1% como apresentado pela Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento (2015). Tendo em conta que a participação no comércio
1 Por produtores do Sul pretende-se referir os produtores nomeadamente dos países em desenvolvimento onde o comércio justo é praticado, que aderiram ao comércio justo.
2
internacional é encarada como um meio fundamental para alcançar o crescimento económico
e, consequentemente, melhorar o bem-estar da população, esta realidade afigura-se
preocupante.
É neste contexto que surge o comércio justo: como forma de permitir o acesso dos
produtores do Sul a alguma desta prosperidade. É importante, neste ponto, explicar que se
pode estar a falar de dois conceitos de comércio justo: um, no âmbito da Organização
Mundial do Comércio (OMC), e outro ao abrigo das organizações de comércio justo, como
a Fairtrade International.
Ao nível da Organização Mundial do Comércio (2017), fala-se de comércio justo
porque esta organização tem como propósito que todos os países possam aceder ao mercado
internacional (com os mesmos direitos e deveres), de preferência com o menor número de
barreiras possíveis, e ainda visa ajudar a promover o desenvolvimento nos países mais
necessitados.
Já as organizações do comércio justo, como explicado pela Fairtrade International
(2017), pretendem incrementar os rendimentos dos produtores do Sul, através de uma
parceria com os consumidores de todo o mundo, em que estes últimos concordam em pagar
um preço premium em troca da melhoria da qualidade de vida dos primeiros.
Apesar de existirem diversos artigos que se debruçam sobre o comércio justo, até ao
momento nenhum analisou direta e empiricamente o que leva os produtores do Sul a
aderirem a esta forma alternativa ao comércio convencional. Sendo assim, a questão a
investigar será: “Quais os motivos que originam a adesão ao comércio justo por parte dos
produtores do Sul?”.
Esta questão surge depois da análise da literatura existente, a qual aponta para a
existência de reduzidos benefícios para os produtores, visto que o custo da certificação é
elevado, e esta não garante o escoamento da produção através da rede de comércio justo.
Como consequência, as vendas no âmbito do comércio justo podem não chegar para cobrir
os custos de produção.
Dentro da questão de investigação apresentada, tentar-se-á ainda verificar quais os
requisitos do comércio justo que estão efetivamente a ser aplicados; e quais os principais
benefícios percebidos pelos produtores do Sul como sendo originados pela sua presença
nesta rede de comércio alternativo.
3
2. Revisão de literatura
Globalização, sustentabilidade, responsabilidade social
A globalização que se vive atualmente com a abertura das fronteiras e o aumento do
comércio internacional devia traduzir-se em melhores condições de vida para toda a
população mundial, no entanto não é esta a realidade mundial dos dias de hoje.
Como demonstrado por Dollar e Kraay (2004), a abertura da economia de um país
ao comércio internacional potencia a melhoria das condições de vida da população desse
país. Mas, como referido anteriormente, esta teoria não se verifica na maioria dos países em
desenvolvimento. De acordo com Allee e Scalera (2012) este caso deve-se ao facto do
processo de abertura ao comércio internacional divergir de país para país – através dos
diferentes processos de adesão à OMC, para estes autores os efeitos diferentes que a abertura
comercial tem tido nos diversos países em desenvolvimento deve-se ao facto de a uns ter
sido concedido a adesão automática à OMC porque eram antigas colónias dos países-
membros da OMC e assim não terem feito nenhuma mudança ou reforma nas instituições
dos seus países. Já os países que passaram por todos os passos do processo de adesão à OMC
e tiveram de diminuir taxas alfandegárias e reformar as suas instituições alcançam maior
desenvolvimento e melhoria das condições de vida, pois as mudanças impostas pela OMC
representaram inovações e potenciaram o desenvolvimento das suas economias.
Como mencionado por Mobariz (2016), e explicado em profundidade por Stiglitz e
Charlton (2009), a participação na OMC não é equitativa para países desenvolvidos e países
em desenvolvimento, tendo os primeiros mais poder do que os segundos: onde os países
desenvolvidos exigem que os países em desenvolvimento diminuam as suas tarifas e não
apoiem as suas indústrias; o que para os últimos significaria não incentivar o desenvolvimento
do seu país e apenas importar bens de outros países, pois as tarifas mais baixas significariam
para muitas indústrias que os produtos importados ficariam mais baratos do que os bens
produzidos nacionalmente, o que teria como consequência no longo prazo o abandono de
várias indústrias e o não desenvolvimento dos países. A Ronda de Doha, como também
explicado por Stiglitz e Charlton (2009) e por Tadem (2016), tinha como objetivo tornar as
regras do comércio internacional à luz da OMC mais justas para os países em
desenvolvimento, potenciando o seu desenvolvimento e, idealmente, possibilitando que estes
começassem o processo de “catch-up”. No entanto, por causa das ambições dos países
4
desenvolvidos, não foi possível chegar a acordo e a Ronda de Doha acabou por ainda não
ter sido concluída.
Podemos assim concluir que a OMC não tem conseguido garantir que o comércio
internacional promova os mesmos benefícios para todos os países, nomeadamente por causa
do poder que os países desenvolvidos detêm. Apesar deste facto, a população mundial está
cada vez mais preocupada com a sustentabilidade da globalização, a qual está sustentada em
três pilares, como apresentado por Beumer et al. (2018): sustentabilidade económica, social e
ambiental, o que significa garantir uma economia capaz e estável, condições de vida para toda
a população e que a utilização dos recursos hoje não prejudique a sua utilização no longo
prazo.
De acordo com a Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globalização
(2005), tal realidade não se está a concretizar: as alterações climáticas e o aquecimento global,
bem como o número de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, são dois indicadores de
que a sustentabilidade da globalização ainda não está garantida. Para esta comissão, a solução
passa, por um lado, pela criação de um organismo internacional com capacidade de legislar
e decidir sobre assuntos globais que não esteja dependente dos partidos nacionais e de
eleições cíclicas, e, por outro lado, pela maior consciencialização e consequente ação dos
governos nacionais para aspetos que é preciso serem alterados para garantir o futuro da
globalização.
Numa perspetiva mais microeconómica, a preocupação da sociedade com a
sustentabilidade da globalização tem tido efeitos positivos nas empresas, que, como
apresentado por Fernández et al. (2015), estão a ser obrigadas a adaptar a sua produção e o
seu modo de agir de acordo com as regras da responsabilidade social, umas porque se
preocupam efetivamente com a sustentabilidade da globalização, outras porque perceberam
que os consumidores valorizam este aspeto das ações da empresa enquanto membro de uma
sociedade, o que se traduz em maiores vendas para a empresa.
É neste contexto que se insere o comércio justo: como forma de fazer chegar os
benefícios da globalização aos produtores marginalizados do Sul que, sozinhos, não
conseguem participar no comércio internacional de forma a garantir o seu próprio sustento.
É assim que o comércio justo lida com todos os pilares da sustentabilidade da globalização:
permitindo através do pagamento do preço justo que os produtores continuem a produzir e
a melhorar as suas condições de vida, potenciando o desenvolvimento destes produtores e
das suas comunidades através do pagamento do premium, e garantindo uma produção
5
ambientalmente sustentável, não permitindo o uso de áreas naturais protegidas nem de
pesticidas. Como será explicado mais detalhadamente de seguida.
Comércio justo
O comércio justo, como apresentado pelas diversas organizações de comércio justo
internacional, nomeadamente a Fairtrade International (2017) e a World Fair Trade Organization
(2017), é uma parceria estabelecida entre produtores do Hemisfério Sul e consumidores do
Hemisfério Norte cuja finalidade é a melhoria das condições de vida dos produtores do Sul
através do pagamento de um preço premium por parte dos consumidores.
“Fair Trade is a trading partnership, based on dialogue, transparency and respect, that seeks
greater equity in international trade. It contributes to sustainable development by offering better
trading conditions to, and securing the rights of, marginalized producers and workers – especially in
the South. Fair Trade Organizations, backed by consumers, are engaged actively in supporting
producers, awareness raising and in campaigning for changes in the rules and practice of conventional
international trade.” (World Fair Trade Organization e Fairtrade Labelling Organizations
International, 2009)
Esta forma de comércio é promovida por diversas instituições internacionais de
comércio justo, as quais garantem que são cumpridos os requisitos estipulados por estas para
a comercialização dos produtos das empresas que estão associadas às diferentes organizações
no âmbito do comércio justo. Para tal, e de acordo com De Janvry et al. (2015), exigem que
os produtores sejam certificados pela FLO-CERT, a qual verifica o cumprimento das regras
e emite posteriormente o selo de comércio justo.
Alguns dos produtos vendidos sob o selo do comércio justo são: bananas, café, cacau,
algodão, flores, açúcar, chá, mel, artesanato, joias e bolas de futebol. Relativamente aos
produtores, estes encontram-se na África e Médio Oriente, na América Central e do Sul e na
Ásia. Já os compradores são, principalmente, da Europa, da América do Norte e da Oceânia.
Origem
Este movimento surgiu, de acordo com nomeadamente Wielechowski e Roman
(2012), com a perceção por parte da população do Norte de que a prosperidade que se estava
a sentir no Norte, decorrente do desenvolvimento do comércio internacional e da
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globalização, não estava a chegar aos produtores dos países pobres do Sul. Como tal,
desenvolveu-se uma nova forma de comércio que tem como objetivo promover o
desenvolvimento dos produtores do Sul e garantir que estes tenham acesso a melhores
condições de comércio, nomeadamente, mais justas e mais equitativas.
O movimento por trás do comércio justo, ou seja, o movimento que mais tarde se
materializaria no comércio justo começou na Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
Este teve a sua origem, como referido, na preocupação existente no Norte pelas condições
de vida dos produtores do Sul onde a prosperidade não estava a ser sentida. Esta
preocupação originou, como descrito por Doherty et al. (2015), um movimento político e
social que apoiava os produtores do Sul ao apresentar-se como uma alternativa ao comércio
regular, oferecendo melhores condições comerciais a estes e vendendo em igrejas e lojas
especiais. Mais tarde, em 1988, na Holanda, surgiu o primeiro selo de comércio justo: Max
Havelaar. O sucesso desta iniciativa espalhou-se a toda a Europa, onde várias organizações
de comércio justo nacionais surgiram. Em 1997, 17 organizações de comércio justo europeias
juntaram-se para formar a Fairtrade Labelling Organizations International (FLO).
Este tipo de comércio não teria surgido em primeiro lugar se, como apontado por
Samuel et al. (2014), houvesse concorrência perfeita – situação em que todos os produtores
disporiam das mesmas condições de acesso aos mercados internacionais – e se as instituições
fossem suficientemente fortes para conseguirem eliminar os monopólios, ou, pelo menos,
conseguissem reduzir os seus poderes e promover condições básicas de vida para as suas
populações. No entanto, estas condições não se verificam nos países em desenvolvimento,
onde se encontram os criadores de produtos sob o selo de comércio justo. É neste contexto
que surge o comércio justo: como forma de dar uma oportunidade aos produtores que,
sozinhos, não conseguem alcançar o comércio internacional, e de promover o
desenvolvimento social e as condições de vida destas populações.
O crescimento e a sustentabilidade deste movimento são justificados pela perceção
de valor por parte dos consumidores que adquirem estes produtos. Este valor, como
explicado por Dammert e Mohan (2015), não é tangível, nem se deve à qualidade superior
destes bens, mas sim ao sentimento de um “warm glow” originado pela noção de que, ao
comprá-los, se está a ajudar alguém.
7
Funcionamento
Para que um produtor possa vender os seus produtos na rede de comércio justo e
com isso garantir a venda a um preço justo e o recebimento de um preço premium, as
organizações internacionais de comércio justo obrigam à observância de vários requisitos.
Os principais requisitos são, de acordo com Mann (2008) e Adriani e Becchetti
(2014), a organização em cooperativas por parte dos pequenos produtores, a promoção da
democracia e a não discriminação em relação a qualquer raça ou grupo social, a proibição do
trabalho forçado e da utilização de mão-de-obra infantil (crianças com menos de 15 anos).
As preocupações ambientais estão igualmente presentes nesta forma de comércio,
nomeadamente através da proibição da utilização de químicos nocivos à saúde dos
trabalhadores e da interdição de colheita de flora em áreas protegidas.
As relações entre produtores e compradores devem ser de longo prazo, através de
contratos anuais, sendo que idealmente deveriam ter duração superior a um ano, e os
compradores devem pagar uma parte do contrato adiantado (normalmente 60%),
promovendo assim a estabilidade financeira dos produtores do Sul e reduzindo a sua
exposição às flutuações dos mercados internacionais, como apontado por Arnould et al.
(2009), Doherty et al. (2013) e Dragusanu et al. (2014).
Os produtos transacionados na rede de comércio justo têm de ser vendidos a um
preço superior ao preço mínimo estabelecido pela organização de comércio justo em que se
inserem, ao qual acresce o premium. O preço mínimo, de acordo com Adriani e Becchetti
(2014), Doherty et al. (2013) e Dragusanu et al. (2014), é determinado tendo em consideração
as condições económicas locais, o custo da produção e a intenção de proporcionar condições
de vida dignas. Os compradores têm de pagar aos produtores do Sul o preço mínimo ou o
preço de mercado, consoante o que for mais elevado. Por sua vez, o preço premium deve ter
como destino o investimento no desenvolvimento da comunidade onde os produtores estão
inseridos. Dammert e Mohan (2015) e Bäthge (2016) explicam que a sua aplicação deve ser
decidida por uma assembleia representativa de todos os produtores que a constituem. De
acordo com as organizações de comércio justo internacional, este deverá ser aplicado,
nomeadamente, nas seguintes áreas: promoção da escolaridade, de habitação com condições
mínimas e do acesso a cuidados gratuitos de saúde.
As organizações de comércio justo funcionam como intermediários, ligando os
produtores do Sul aos consumidores do Norte através de compradores certificados que vão
8
aos países em desenvolvimento buscar os produtos para posteriormente os venderem no
Norte.
Pelo lado dos consumidores, o comércio justo só é possível existir porque estes
reconhecem que estes produtos são diferentes dos produtos “normais”, conforme indicado
por Hayes (2008), motivo pelo qual estão dispostos a pagar um preço mais elevado para
adquiri-los. Como explicado por diversos autores – Arnould et al. (2009), Bäthge (2016),
Darko et al. (2017), Dragusanu et al. (2014), LeClair (2002) e Renard (2005) – as características
dos produtos vendidos sob o selo de comércio justo que levam os consumidores do Norte
a vê-los como produtos distintos não são físicas nem tangíveis, mas sim intrínsecas: são a
noção de que ao pagar um preço mais alto estão a aumentar os rendimentos dos produtores
do Sul e a potenciar a melhoria das condições de vida dos mesmos, bem como a certeza de
que os produtos representam os seus próprios valores sociais como a proibição do trabalho
infantil, a igualdade de género e a produção sustentável. É esta consciência que acrescenta
valor a estes produtos do ponto de vista dos consumidores do Norte, pois a compra destes
bens gera um sentimento de “warm glow” – sentem-se bem consigo mesmos – porque estão
a ajudar os outros. Em suma, e de acordo também com Richardson e Stähler (2014), este
“warm glow” não surge apenas pela transferência de rendimentos para os produtores do Sul
(através do pagamento do premium), mas também, e principalmente, pelo sentimento de que,
ao adquirirem estes produtos, estão a promover o desenvolvimento das condições de vida
destes produtores, em aspetos que os consumidores consideram importantes.
A certificação é importante neste processo, como mencionado por Renard (2005),
porque é a única maneira de garantir aos consumidores que o motivo que os leva a pagar um
valor mais alto pelos produtos está efetivamente a acontecer. Daí a credibilidade da
certificação ser vital para o comércio justo, pois é apenas a confiança dos consumidores no
que a certificação transmite que os leva a adquiri-los. Para tal, a certificação de todos os atores
envolvidos neste processo é feita por uma organização independente criada só para este fim
– a FLO-CERT – que por sua vez é certificada pela norma ISO-65 que estabelece a não-
discriminação e a independência.
Dragusanu et al. (2014) explicam que o processo de certificação começa quando os
produtores submetem uma candidatura. A FLO-CERT envia posteriormente profissionais
para verificarem a observância dos requisitos, sendo estes técnicos que, depois de validarem
as informações e o cumprimento das regras, emitem o certificado em como são produtores
que produzem de acordo com os valores do comércio justo, permitindo-lhes, assim, vender
9
os seus produtos neste mercado, e através desta rede. Tanto a certificação inicial como as
posteriores renovações são pagas pelos produtores, o que originou diversas críticas como
será apresentado posteriormente. Para os consumidores do Norte, esta certificação
materializa-se num selo – símbolo do comércio justo – que aparece nas embalagens dos
produtos como tal criados, de forma a diferenciá-los dos bens produzidos “normalmente”.
Como se pode perceber pelo descrito anteriormente, e sublinhado por Renard (2005),
a certificação acaba por se revelar, de certa forma, uma barreira ao mercado do comércio
justo, pois só tem acesso a este os produtores e os compradores certificados.
Hayes (2006) aponta duas outras formas em que as organizações de comércio justo
atuam: por um lado, como exportadores, ajudando os produtores do Sul a conseguirem
alcançar os mercados do Norte, sem necessitarem de recorrer aos intermediários
monopolistas; por outro lado, fornecendo aos produtores do Sul acesso a matérias-primas a
preços acessíveis, nos casos em que o único fornecedor das mesmas aproveita o seu
monopólio para vender os bens essenciais à produção por parte destes produtores a preços
muito elevados.
Importa ainda fazer uma referência a um aspeto menos estudado do comércio justo:
o seu marketing. Como Doherty et al. (2015) demonstram, este varia de acordo com o local
para onde está a ser dirigido. Enquanto que o marketing do comércio justo no Norte aposta
numa visão de solidariedade e da promoção do desenvolvimento dos países pobres, nos
países do Sul o marketing concentra os seus esforços na promoção dos produtos e da cultura
nacional.
Limitações
As principais limitações que o comércio justo enfrenta, de acordo com a revisão de
literatura, são: a oferta excessiva (há menos quantidade procurada do que quantidade
oferecida), o aparecimento de novos selos com critérios mais flexíveis, não conseguir alcançar
os trabalhadores contratados das cooperativas, a cultura de cada país em relação às mulheres
e, por último, os consumidores passivos.
O aumento do rendimento dos produtores torna o comércio justo muito atrativo
para estes; no entanto, não há procura suficiente para todos os bens produzidos sob o selo
do comércio justo. O elevado número de produtores certificados para vender sob o selo do
comércio justo cria mais oferta e mais opções de compra para os consumidores, diluindo
10
assim o benefício para cada produtor, visto que existe o mesmo número de consumidores –
procura – para um maior número de produtores – oferta. Uma solução para mitigar este
problema, de acordo com De Janvry et al. (2015), seria a criação de requisitos mais restritivos,
tentando diminuir o número de produtores habilitados a participar nesta rede. No entanto,
e devido à existência de muitos produtores pobres no Sul, esta opção colidiria com os
princípios do comércio justo, e de acordo com Dragusanu et al. (2014) tolheria o alcance do
desenvolvimento que esta forma de comércio potencia.
Uma dificuldade enfrentada pelas diversas organizações internacionais de comércio
justo, como exposto por diversos autores, entre os quais Renard (2005), é o surgimento de
novos selos de comércio justo criados pelas diversas redes de distribuição multinacionais que
têm como principal objetivo o próprio lucro. A criação de outros selos não é negativa em si
mesma, podendo até ter um impacto positivo, se isto significar que mais produtores estão a
receber um preço justo pelos seus produtos e que mais pessoas estão a ter acesso a melhores
condições de vida. Porém, pode assumir uma feição negativa se acontecer pelo menos uma
das duas situações seguintes, como também é apontado por Dragusanu et al. (2014): confusão
por parte dos consumidores devido à existência de diversos selos e a consequente
desconfiança quanto a estes produtos, duvidando da sua real origem e do cumprimento do
seu objetivo; ou a eventual existência de critérios mais leves para a comercialização sob os
selos das diversas redes de distribuição, os quais não garantem em si o desenvolvimento das
populações mas que atraem os consumidores, não chegando aos produtores o benefício do
preço premium pago pelos consumidores.
Doherty et al. (2013) encontraram evidências de que os receios de Renard se estão a
concretizar. O aparecimento de novos selos de comércio justo criados por multinacionais
que vendem os produtos certificados pelos seus próprios selos está a ser acompanhado pelo
abandono de alguns dos requisitos característicos do comércio justo, nomeadamente a
organização democrática e a existência de relações entre produtores e compradores de longo
prazo. Esta situação torna-se crítica porque os consumidores adquirem estes produtos
convictos de que estão a auxiliar os produtores do Sul, mas na realidade só estão a aumentar
os lucros destas empresas, sem que estas tenham de fazer algum esforço para isso.
As normas estabelecidas pelas organizações internacionais de comércio justo
relativamente aos trabalhadores contratados por produtores inseridos em cooperativas são
ambíguas, não lhes conferindo proteção significativa. Esta realidade traduziu-se nos dias de
hoje no facto de que os trabalhadores contratados das cooperativas não estarem a receber
11
parte dos benefícios do comércio justo: como Dragusanu et al. (2014) encontrou em
cooperativas de café, e a Fairtrade Foundation (2012) em cooperativas de algodão; e mesmo
em plantações de bananas onde os requisitos das organizações internacionais de comércio
justo são mais rígidos e mais dirigidos aos trabalhadores contratados, Darko et al. (2017)
encontraram as mesmas evidências. Apesar desta realidade, num estudo levado a cabo por
Dragusanu et al. (2014), estes descobriram que os trabalhadores reconheciam que o comércio
justo contribuiu para a melhoria das suas condições de vida. Isto demonstra que as
organizações de comércio justo internacionais precisam de analisar a situação dos
trabalhadores contratados por produtores certificados de comércio justo para garantir que
todos os agentes envolvidos nesta rede beneficiam de fazê-lo.
Relativamente à igualdade de géneros e ao papel da mulher, as evidências encontradas
são dispares. Enquanto que a Fairtrade Foundation (2012) encontrou evidências de que, com
o surgimento do comércio justo, as mulheres têm sido capazes de se envolver no processo
produtivo e com isso contribuir para o rendimento familiar, a mesma organização (Fairtrade
Foundation, 2012) aponta, por outro lado, para o facto de ainda lhes ser barrado o acesso aos
meios de produção. E juntamente com Darko et al. (2017) indicam que a sua
representatividade nas assembleias é apenas simbólica. Como resposta a esta realidade a
Fairtrade Foundation (2012) admite que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca à
igualdade de géneros, principalmente devido às características culturais de cada país que
fazem com que uma abordagem única para todos as cooperativas não seja possível.
Associado ao fenómeno do aparecimento de novos selos, estão os meios de vendas
dos produtos de comércio justo: online, loja física e grandes superfícies. A compra online e em
lojas físicas, de acordo com Doherty et al. (2013), é feita por consumidores “radicais” que
acreditam que só através deste meio chegam efetivamente os benefícios aos produtores e que
esta é a única maneira de efetivamente mudar o mundo, nomeadamente, a redistribuição da
riqueza. Já as compras de produtos “justos” em grandes superfícies são feitas por dois tipos
de consumidores: pragmáticos e passivos. Os primeiros querem contribuir para o
melhoramento das condições de vida dos produtores do Sul, mas não estão dispostos a
alterar a sua rotina para tal; enquanto que os últimos não percebem que estão a comprar
produtos “especiais”, só os compram porque são os únicos disponíveis. À partida, a
existência de consumidores passivos não é negativa em sim mesma, porque, apesar de não
terem noção do que estão a fazer, estes estão efetivamente a contribuir para o aumento das
vendas do comércio justo e consequentemente para a melhoria das condições de vida dos
12
produtores do Sul. No entanto, é a consciencialização das pessoas para os problemas do
mundo que provoca mudanças, logo seria mais vantajoso para os produtores do Sul que os
consumidores passivos soubessem da existência do comércio justo, estivessem cientes do
facto de que estão a ajudar e que tivessem vontade de se envolverem efetivamente neste
movimento.
Apreciação
Como Wielechowski e Roman (2012) expõem, o comércio justo tem sido alvo de
várias críticas, podendo ser destacadas entre elas: a inexistência de valor acrescentado que
justifique o pagamento de preços mais altos por parte dos consumidores; o facto de a
componente premium do preço ter muitas vezes como destino a obtenção da certificação, e
não o investimento no desenvolvimento da comunidade, e, por último, o incentivo à
concentração da produção dos mesmos produtos, diminuindo assim a diversificação da
produção do país (fator fulcral para a mitigação de riscos como o choque em alguns
mercados).
Ainda que vários autores critiquem o comércio justo pela existência de um preço
mais elevado sem a existência de valor acrescentado, Adriani e Becchetti (2014) defendem
uma nova teoria: que o preço pago pelos produtos sob o “guarda-chuva” do comércio justo
seria o preço para o produto se não houvesse monopólios e todos os intervenientes
económicos tivessem o mesmo poder negocial. Richardson e Stähler (2014) vai ainda mais
longe sugerindo que, ao adquirir-se este produto, não se adquire apenas o bem como também
um serviço, ou seja, o bem fixo e a doação para apoiar os produtores desfavorecidos do Sul.
Há ainda, como referido anteriormente, quem contraponha a falta de justificação do
pagamento de preços mais altos com a existência de um “warm glow” nos consumidores que
adquirem estes produtos. Sendo que Mann (2008) encontrou evidências de que estas
características são consideradas pelos consumidores como atributos que acrescentam valor
ao produto tangível. A valorização deste tipo de produto por parte dos consumidores do
Norte é ainda provada por Arnot et al. (2006) – e apoiada por Doherty et al. (2013) – que
demonstraram a menor sensibilidade ao preço por parte dos consumidores destes produtos,
do que a sensibilidade ao preço por parte dos consumidores de produtos convencionalmente
produzidos, ou seja, de acordo com Arnot et al. (2006), o “efeito negativo na procura de café
com o selo do comércio justo do aumento do seu preço é menor do que o efeito do mesmo
13
acontecimento no café normal” (p. 9). O que vai de encontro às teorias que apontam para a
existência de valor nestes produtos para os consumidores que os compram através do “warm
glow”, pois mostra que os consumidores estão mais interessados na parte ética do produto do
que no preço do mesmo.
Apesar de o surgimento do preço premium ser justificado pela necessidade de ajudar
ao desenvolvimento de zonas mais pobres do mundo, Mann (2008) demonstra que o
cumprimento das condições inerentes ao comércio justo obriga os produtores que vendem
neste âmbito a ter custos mais elevados do que os produtores que não se preocupam com
estas questões sociais e ambientais, fazendo com que o premium seja em parte absorvido pela
observância dos requisitos.
Uma outra crítica muito presente nos artigos sobre o comércio justo, e como
apresentado por De Janvry et al. (2015), é o facto de a certificação ser suportada pelos
produtores, através do seu pagamento, constituindo um custo elevado para os próprios. Se
a certificação garantisse o escoamento de todos os produtos produzidos de acordo com as
regras do comércio justo, o peso do pagamento da certificação poderia ser reduzido. No
entanto, a certificação não garante a venda de todos os produtos fabricados, fazendo com
que o premium pago pelos consumidores não chegue aos produtores e acabe na agência de
certificação.
Relativamente ao aparecimento de novos selos de comércio justo criados por
multinacionais, como explicado anteriormente, as organizações de comércio justo estão a ser
severamente criticadas por não impedirem o surgimento dos mesmos. No entanto, estas
organizações são não-governamentais, não dispondo, por conseguinte, de poderes para se
imiscuírem nos negócios e na forma de agir destas empresas. Uma possível solução seria a
existência de campanhas publicitárias a explicar quais os “verdadeiros” selos de comércio
justo que asseguram a observância dos requisitos, mas esta situação provavelmente levaria os
consumidores a duvidarem de todos os produtos vendidos sobre o “guarda-chuva” do
comércio justo.
Associada às vendas em grandes superfícies, está a crítica à circunstância de os
trabalhadores das mesmas não saberem explicar em que condições foram adquiridos estes
produtos, nem qual é a sua origem. Apesar das críticas apontadas, Doherty et al. (2013)
encontraram evidências de que a ausência deste canal de distribuição compromete o
crescimento do mesmo, e consequentemente, chegam menos benefícios aos produtores do
14
Sul, pois alcança-se um número muito mais reduzido de consumidores, logo vendem-se
menos produtos.
A maioria das críticas a esta forma alternativa de comércio prende-se com o facto de
incentivar a insistência por parte dos produtores do Sul na produção de bens cujo valor
acrescentado é muito reduzido e cujo fabrico não ajuda no desenvolvimento do país, como
apontado, nomeadamente, por LeClair (2002, 2008). Esta crítica, no entanto, assume o pleno
emprego e que os produtores podem facilmente abandonar a produção destes produtos para
começarem a criar bens de elevado valor acrescentado. No entanto, como salientado por
Hayes (2008), esta não é a realidade dos países onde se localizam estes produtores – países
em desenvolvimento, tecnologicamente atrasados e com níveis de desemprego elevados.
Sendo ainda de referir que a questão da diversificação é mais macroeconómica do que
microeconómica, havendo pouca margem de manobra para o que os produtores do Sul
conseguiriam fazer para alterar a situação se não houvesse leis e infraestruturas preparadas
para a exportação de produtos tecnologicamente mais avançados. Hayes (2008) defende que
é, portanto, uma questão mais governamental do que individual, o que continua a não ser
uma solução, porque os países onde vivem os produtores visados pelo comércio justo são,
geralmente, países pobres com governos deficitários.
Dentro das cooperativas de café, Dragusanu et al. (2014) apontam para a existência
de desvio de fundos e o não surgimento de melhorias salariais e de condições de trabalho
para os trabalhadores, apesar de os produtores receberem preços mais altos por produzirem
bens dentro desta rede. No entanto, nas plantações “91% dos trabalhadores diz que
pertencer a esta rede melhorou as suas condições de vida” (Dragusanu et al., 2014, p. 232).
Doherty et al. (2013), citando Bacon, refere a crítica deste às organizações
internacionais de comércio justo – nomeadamente à Fairtrade International – de que os
aumentos do preço mínimo não são adequados nem suficientes, pois não tiveram em conta
a inflação e o aumento nos custos de produção e de vida, ou seja, o preço mínimo
estabelecido não está a acompanhar a realidade económica mundial.
Possíveis alternativas
As bases inerentes ao comércio justo têm dado origem a diversas críticas,
nomeadamente pela aparente falta de valor acrescentado e pelo incentivo à produção dos
mesmos produtos, como demonstrado anteriormente. É neste contexto que diversos autores
15
decidiram apresentar alternativas ao comércio justo com o objetivo de promover as mesmas
mudanças, mas utilizando outros mecanismos: restrições éticas às importações ou o não
consumo de bens “não justamente” produzidos.
Uma alternativa ao comércio justo apresentada por Mann (2008), e que também é
defendida por diversos outros autores, poderia ser a existência de restrições éticas às
importações, impostas pelos governos dos países desenvolvidos como forma de mitigar as
desigualdades sentidas entre estes e os países em desenvolvimento. Desta forma evitar-se-
iam algumas das críticas que são apontadas ao comércio justo, como a promoção da
ineficiência – o critério para comprar produtos sobre o selo de comércio justo por parte das
organizações de comércio internacional não é o preço mais baixo possível, o qual, desde que
os requisitos sejam cumpridos, seria a forma mais eficiente de os escolher – e as barreiras à
entrada (certificação) que impedem alguns produtores de alcançarem o comércio justo,
continuando assim fora do comércio internacional e dos benefícios inerentes. Estas
restrições poderiam ser, por exemplo, a proibição da importação de bens produzidos com
mão-de-obra infantil ou trabalho forçado ou a interdição à importação de bens cuja produção
envolve a utilização de determinados pesticidas prejudiciais à saúde e ao ambiente. No
entanto, esta alternativa tem recebido diversas críticas, porque assume que todos os
consumidores dos países desenvolvidos reconhecem valor na melhoria das condições de vida
da população dos países em desenvolvimento, o que pode não ser verdade, fazendo com que
estes paguem um preço mais alto levando a uma perda no bem-estar destes consumidores.
Outra alternativa, apresentada por Adriani e Becchetti (2014), seria a recusa por parte
dos consumidores em comprar produtos que não fossem produzidos de uma maneira
socialmente responsável. No entanto, esta solução não resolveria o problema, pois não
aumentaria os rendimentos dos produtores do Sul, apenas agravaria a situação e não levaria
as empresas que não produzem de acordo com estes princípios a fazê-lo, pois continuaria a
haver consumidores a comprar os produtos.
Benefícios
Dragusanu et al. (2014) encontraram os seguintes benefícios derivados da
participação na rede de comércio justo: maiores rendimentos, mais vendas, maior
estabilidade e acesso a financiamento. Já Hayes (2006) aponta, ainda, a redução do risco como
benefício derivado da produção de acordo com os princípios do comércio justo.
16
Os produtores que não comercializam os seus produtos sob o comércio justo
beneficiam também da existência destes na sua região, através do desenvolvimento dos
sistemas de saúde e de educação promovidos pela aplicação do preço premium na comunidade;
e “pela redução do poder dos intermediários gerada pela existência do comércio justo”
(Dragusanu et al., 2014, p. 233).
Apesar de não promover diretamente a diversificação da produção nos países em
desenvolvimento do Sul, o comércio justo potencia o seu desenvolvimento através do
incentivo à produção, como apontado por Hayes (2006), por parte das pessoas que, antes do
surgimento do comércio justo, produziam para consumo próprio, mas que, com o
aparecimento do mesmo e a existência do preço mínimo, consideram que produzir para
vender é mais rentável do que produzir para autoconsumo. O que significa, e como
defendido por Samuel et al. (2014), que a existência do comércio justo incentiva também o
abandono da economia paralela e a produção através da economia formal, pois só através
desta é possível participar no comércio justo e com isso receber preços mais altos pelos
mesmos bens.
Promove também o desenvolvimento das gerações futuras ao aumentar o
rendimento do agregado familiar, deixando de ser necessário que as crianças participem na
produção para alcançar o rendimento necessário para a sobrevivência da família, permitindo–
lhes assim estudar. O aumento do rendimento familiar é, de acordo com Adriani e Becchetti
(2014), essencial para a não existência de trabalho infantil nestes países, circunstância sem a
qual tal não seria possível. O facto de o comércio justo recompensar a inexistência de
trabalho infantil apoia ainda mais a adesão a este tipo de produção. Arnould et al. (2009)
encontraram evidências de que é muito mais provável uma criança de uma família que produz
sob o selo do comércio justo estar a estudar, do que uma criança de uma família que produz
para o comércio regular (não comércio justo).
Importa ainda referir que a participação nesta forma de comércio traz vários
benefícios ao nível do desenvolvimento dos seus produtos para os produtores do Sul. Por
um lado, a organização em cooperativas permite-lhes aprender novas e melhores técnicas
com os outros produtores da região através da partilha de know-how; a estabilidade das
relações de longo prazo permite-lhes planear e tirar melhor proveito das suas terras, bem
como desenvolver os seus produtos e a qualidade dos mesmos com a ajuda dos compradores
que têm interesse em fazê-lo para terem acesso aos melhores produtos; o acesso ao mercado
internacional permite-lhes conhecer os seus consumidores e adaptar os seus bens à procura.
17
Por outro lado, as próprias organizações fornecem diversos serviços como marketing,
desenvolvimento do produto e distribuição.
Schiesari e Grüninger (2014) no seu estudo do comércio justo do Brasil encontrou
um exemplo em como o comércio justo promove a diversificação: uma cooperativa de
agricultores de laranjas que vende os seus bens para a produção de sumo de laranja utilizou
o premium por eles recebido para construir uma fábrica de processamento de laranjas,
passando assim para o próximo nível da cadeia de valor.
Um benefício menos falado, mas derivado da aplicação das normas de comércio justo
por parte dos produtores é a produção ambientalmente sustentável, que, no Brasil, para dar
um exemplo, e referido por Schiesari e Grüninger (2014), teve como consequência o
reaparecimento de aves que tinham abandonado determinada zona.
Por último, apesar de ser verdade que a existência do preço premium pode encorajar
o comodismo, não incentivando estes produtores a diversificarem a sua produção como
indicado por LeClair (2002, 2008) – meio reconhecido como essencial para o crescimento
económico de um país e para reduzir a sua vulnerabilidade a flutuações no mercado
internacional –, este é também um meio que as organizações têm para investir em novas
indústrias.
Síntese
Como evidenciado por diversos autores e defendido pelas duas principais
organizações internacionais de comércio justo – a World Fair Trade Organization e Fairtrade
Labelling Organizations International (2009) – na sua carta conjunta sobre o comércio justo, os
principais objetivos deste são: “acesso ao mercado por parte dos produtores marginalizados”,
“relações comerciais equitativas e sustentáveis”, “preparação e qualificação dos produtores”,
“consciencialização dos consumidores” e a “promoção dos direitos dos trabalhadores”.
Este tipo de comércio teve a sua origem – por parte dos consumidores – nos
objetivos sociais da população do Norte, que queria proporcionar as mesmas condições em
que vive e nas quais participa no comércio internacional à população do Sul. Sendo
sustentada, atualmente, pelo “warm glow” que os consumidores do Norte continuam a sentir
ao adquirir produtos produzidos de acordo com os princípios do comércio justo. Por parte
dos produtores do Sul, a origem deste movimento deve-se às condições precárias e desiguais
em que conseguiam participar no comércio internacional. Atualmente, o comércio justo foca-
18
se em alcançar produtores em países em desenvolvimento que se caracterizam pela existência
de governos fracos, corrupção elevada, economia paralela muito significativa e a existência
de monopólios em áreas essenciais para o desenvolvimento.
Apesar das diversas críticas de que é alvo – que estão referidas acima – o comércio
justo contribui para a melhoria das condições de vida das populações onde se encontra, como
evidenciado anteriormente; e como, nomeadamente, a Fairtrade Foundation (2012) aponta,
permite que as famílias consigam suportar os custos para garantir que as suas necessidades
básicas sejam satisfeitas.
Por último, esta forma de comércio assume que os produtores do Sul têm os mesmos
valores e ambições que a população ocidental, que pretendem que os seus filhos tenham uma
educação como nos países do Norte e que estão interessados em melhorar as suas condições
de vida. Esta presunção parece estar certa, pois a adesão ao comércio justo é voluntária, e o
número de produtores a aderir está sempre a aumentar.
É importante referir que a Fairtrade International e a World Fair Trade Organization não
são as únicas organizações a trabalhar para melhorar as condições de vida da população
mundial e para fazer chegar os benefícios da globalização a todo o mundo.
O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2018a) é a organização das
Nações Unidas que tem como missão potenciar o desenvolvimento sustentável e equitativo
de todos os países (tanto desenvolvidos como em desenvolvimento), e ajudar estes últimos
a desenvolverem-se para alcançarem a prosperidade que já se vive nos primeiros. É através
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que este organismo contribui para
levar os benefícios da globalização a todo o mundo, sendo 4 os objetivos que se dirigem a
áreas onde o comércio justo também se foca:
“8 – Promover o crescimento económico sustentado, inclusivo e sustentável,
emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e
sustentável e fomentar a inovação
10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles
17 – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável” (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, 2018d)
Os três primeiros objetivos percebem-se apenas pela leitura do objetivo. O último
(17º) é mais difícil de perceber, mas pretende, entre outras, que os países consigam atingir os
19
ODS através dos seus próprios meios. Para tal, apostam em ajudar a fomentar o comércio
internacional originado nos países em desenvolvimento.
Esta organização apoia a participação no comércio internacional através de vários
projetos que têm como objetivo melhorar as práticas comerciais nas diversas regiões e países
do mundo, como por exemplo, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2018b)
tem um projeto que tem como objetivo facilitar as exportações nos países da Ásia Central e
o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2018c) tem também um projeto que
pretende reduzir o comércio ilegal ligado à vida selvagem na Indonésia através da capacitação
das organizações e do governo local e do desenvolvimento de um comércio legal e
sustentável de vida selvagem.
Ao contrário da OMC que, como apresentado por Stiglitz e Charlton (2009), não
consegue aplicar regras justas no comércio internacional, porque os países que fazem parte
da OMC têm mais poder do que os países que pretendem aderir, o que significa que podem
impor regras com vista a fomentar as suas próprias economias e indústrias, o que tem como
consequência o não desenvolvimento dos países em desenvolvimento, o Programa de
Desenvolvimento das Nações Unidas tem a vantagem de não estar sujeita a estas pressões, e
ser assim capaz de criar projetos dirigidos às áreas que precisam de desenvolvimento em cada
país/região para tentar assegurar o cumprimento dos ODS até 2030.
A nível nacional, o Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral
(CIDAC) (2018) tem, tal como a Fairtrade International e a World Fair Trade Organization, o
comércio justo como missão. Para tal, tem a Loja do Comércio Justo, local onde vende não
só bens produzidos de acordo com as regras do comércio justo em países em
desenvolvimento, como produtos portugueses produzidos por pequenos produtores cuja
participação no comércio convencional não era suficiente para garantir condições básicas de
vida e para assegurar que conseguiam cobrir os custos de produção com os valores que
recebiam pela venda dos seus produtos.
20
3. Metodologia
O método de investigação utilizado é a investigação quantitativa cujo objetivo é “a
generalização dos resultados (…), o estabelecimento de relação causa-efeito e a previsão de
fenómenos” (Ferreira e Carmo, 2015, p. 159). Para tal, e como característica deste método,
a revisão de literatura foi fundamental para a definição das variáveis e foram definidos
objetivos claros. A escolha deste método deve-se ao facto de ser o método que permite “a
identificação e apresentação de dados” (Sousa e Baptista, 2011, p. 53), e foi possível porque
havia a perspetiva de se conseguir recolher dados sobre a questão de investigação diretamente
da fonte.
A metodologia escolhida para efetuar o estudo será a realização de inquéritos por
questionário, devido ao facto de o público-alvo deste estudo se encontrar fisicamente
distante, tornando a realização de entrevistas pouco realista. No entanto, apresenta a
desvantagem de ser um método que não permite uma maior exploração e aprofundamento
das respostas.
O público-alvo deste inquérito, como sugerido anteriormente, é constituído pelos
produtores do Sul. Como o contacto com este público-alvo será difícil, pois são pessoas que
se encontram fisicamente longe, em países em desenvolvimento onde o acesso a
computadores não é garantido, o método de amostragem será a amostra por conveniência,
ou seja, a amostra será composta pelos produtores que responderem ao questionário.
Os questionários foram enviados por e-mail, pelas redes sociais (nomeadamente
Facebook) e através dos formulários de contacto embutidos no website dos diversos produtores
identificados. Para identificar os produtores, e garantir que se encontram certificados de
acordo com as regras do comércio justo, recorreu-se aos membros apresentados nos websites
das duas organizações internacionais de comércio justo: Fairtrade International e World Fair
Trade Organiatizon. Foram encontrados 545 produtores.
Escolheu-se contactá-los através de todos os métodos que disponibilizavam: e-mail,
Facebook e formulários de contacto. Isto significa que há organizações contactadas pelos três
métodos, tendo-se, no caso do e-mail, optado por enviar um e-mail para todos os endereços
apresentados. Esta decisão ficou-se a dever ao facto de o objetivo ser perceber o que leva os
produtores como indivíduos a juntar-se ao comércio justo e não as motivações da
organização. Sendo assim, foram enviados 726 e-mails, preenchidos 238 formulários de
21
contacto e entrou-se em contacto via Facebook com 291 organizações. Importa referir que se
assumiu que, se fosse a mesma pessoa responsável por responder aos três métodos de
contacto, esta só responderia uma vez ao questionário. Por último, há que referir que, uma
semana antes da recolha final das respostas, enviou-se um novo e-mail na esperança de se
obter mais respostas.
A construção do questionário teve por base a literatura, tendo-se decidido pela
elaboração de um questionário estruturado, constituído principalmente por perguntas
fechadas, cujo objetivo é validar as evidências encontradas na literatura e a recolha de dados
diretamente da fonte. Sendo assim, as respostas aos questionários já se encontraram pré–
codificadas, através das opções colocadas como respostas a cada pergunta.
Os questionários estão disponíveis em português, espanhol, inglês e em francês, pois
os países onde se encontram estes produtores são essencialmente ex-colónias de países
desenvolvidos. Como não foi possível a realização de um teste preliminar (pré-teste) antes
do envio dos questionários, como indicado por Ferreira e Carmo (2015) como sendo útil
para o sucesso do questionário, e para se garantir que os inquiridos interpretavam as questões
da mesma maneira, cujo objetivo é assegurar que o que é perguntado é o mesmo que é
respondido, em todas as formas de envio dos inquéritos para os produtores foi manifestada
a disponibilidade para esclarecer qualquer dúvida que surgisse e facultado um método de
contacto. Como, apesar de poucos, houve contactos para clarificar perguntas, considera-se
que o risco de as perguntas não estarem a ser interpretadas corretamente foi minimizado.
Para aumentar o número de respostas aos questionários, e como sugerido por Quivy
e Campenhoudt (2008), o questionário tem poucas perguntas e apenas contém as perguntas
necessárias para a realização deste estudo, não fazendo perguntas originadas apenas pela
curiosidade ou pela oportunidade que dispersariam a atenção dos inquiridos. Mais, e como
sugerido por Hill e Hill (2016), o inquérito foi dividido em secções que têm “tema
homogéneo” de forma a permitir um preenchimento mais claro. A divisão em secções
contribui também para que os inquiridos não tivessem uma sensação de sobrecarga ao verem
diversas perguntas, o que poderia fazer com que desistissem de responder ao questionário,
seguindo assim a sugestão de Hill e Hill (2016) de que um layout “esteticamente atraente”
potencia a obtenção de respostas.
Do questionário pretendia-se concluir quais os principais motivos que originam a
adesão ao comércio justo por parte dos produtores, como mencionado anteriormente. E
22
perceber se existe alguma relação entre os anos de adesão ao comércio justo e da organização
em cooperativas com a percentagem de bens vendida através deste canal.
Uma primeira análise dos dados recolhidos é feita com recurso à estatística descritiva,
tendo como objetivo, essencialmente, organizar os dados recolhidos por forma a demonstrar
ao leitor da dissertação as respostas dadas de uma forma resumida e pouco exaustiva.
A análise profunda das respostas é muito influenciada pelos dados recolhidos, como
será explicado de seguida. No entanto, importa referir que a intenção é utilizar métodos para
estudar relações e correlações quando os dados o permitirem.
Começando pelo segundo objetivo (estudar como é afetada a percentagem de bens
vendidos através do comércio justo pelo número de anos de adesão e pela organização em
cooperativa), e através dos estudos de Hill e Hill (2016) e de Howell (2007), a regressão linear
múltipla seria o melhor modelo estatístico para analisar a relação entre estas três variáveis e
permitiria até encontrar uma fórmula que permitisse prever – com relativa confiança – a
percentagem vendida sabendo os outros dois valores. No entanto, esta técnica tem como
pressuposto a distribuição normal da amostra: como se pode concluir pela análise da Tabela
1 conseguida através do SPSS que apresenta o Teste de Shapiro-Wilk para verificar a
normalidade de uma amostra cujo N<50, tal não se verifica. O facto de a amostra não ter
uma distribuição normal compromete a utilização de qualquer outra técnica paramétrica.
Teste de normalidade: Teste de Shapiro-Wilk
H0: amostra segue distribuição normal vs H1: amostra não segue distribuição normal
Como p < 0,05 rejeita-se H0, pelo que se rejeita a normalidade da amostra
Tabela 1 – Teste de normalidade Amostra: Número de anos de adesão; Organização em cooperativa; Percentagem vendida
23
Sendo assim, recorreu-se ao Coeficiente de Correlação ρ (Rho) de Spearman para
concluir se estas variáveis teriam alguma relação entre si – importa ressalvar que este teste só
estuda a relação entre duas variáveis de cada vez.
Relativamente ao principal objetivo desta dissertação – perceber quais os motivos
que levam à adesão ao comércio justo por parte dos produtores do Sul – a sua análise é
dificultada porque, para além dos obstáculos acima mencionados como o tamanho da
amostra e a falta de distribuição normal (ver a Tabela 2), o facto de serem apenas variáveis
qualitativas reduz ainda mais o número de modelos estatísticos que estudam relações entre
variáveis que se podem utilizar para analisar estes dados.
Teste de normalidade: Teste de Shapiro-Wilk
H0: amostra segue distribuição normal vs H1: amostra não segue distribuição normal
Como p < 0,05 rejeita-se H0, pelo que se rejeita a normalidade da amostra
Tabela 2 – Teste de normalidade Amostra: Motivos de adesão ao comércio justo
24
A análise loglinear que “é uma teoria não paramétrica que analisa as relações entre
duas ou mais variáveis nominais” (Hill e Hill, 2016, p. 209) permitindo analisar, por exemplo,
a motivação por detrás da adesão ao comércio justo por parte dos produtores do Sul (variável
dependente), seria a única opção viável; no entanto, depois de se recorrer ao SPSS para testar
esta técnica, conclui-se que os dados recolhidos não cumprem os pressupostos para se obter
resultados fiáveis, de acordo com Howell (2007).
25
4. Análise de dados
Para analisar quais são as razões que motivam a adesão ao comércio justo por parte
dos produtores, como mencionado anteriormente, optou-se por utilizar inquéritos por
questionário enviados por meios eletrónicos. Conseguiram-se obter 46 respostas aos
mesmos. De seguida, procede-se à análise dos dados recolhidos. Este número comprova a
dificuldade em contactar o público-alvo – produtores do Sul – pois dos 545 produtores
contactados, 10 demonstraram a impossibilidade de participar no estudo, uns por falta de
tempo e outros por falta de interesse e apenas se obtiveram 46 respostas. Nos Anexos,
encontram-se o Anexo 1 – Questionário enviado (Anexo 1) e as Anexo 2 – Respostas obtidas
(Anexo 2 – Respostas.
Obteve-se um número aproximadamente equivalente de respostas por género: 59%
dos respondentes eram homens e 41% eram mulheres (ver Gráfico 5 em Anexos). Todos os
4 continentes onde há comprovadamente comércio justo estão representados na amostra,
sendo a Ásia o continente de onde se conseguiu obter mais respostas (52%), seguido da
América com 26%, e, por fim, África e Europa ambas com 11% (ver Gráfico 6 em Anexos).
Optou-se por agrupar a análise por continente, visto que a maior parte dos países dos
inquiridos era diferente, sendo o Bangladesh o país de onde se obteve maior número de
respostas (6), seguido da Índia, da Indonésia e do Nepal, países representados com 3
respostas cada.
As tabelas que se seguem – Tabela 3 e Tabela 4 – servem para apresentar aos leitores
uma caracterização da amostra. Importa referir que os dados foram agrupados e que a
informação detalhada se encontra nos Anexos: Tabela 10 e Tabela 11Anexo 2 – Respostas.
Género Nº de respostas
Média de idades
Média de anos desde adesão ao comércio justo
Quantos estão inseridos numa cooperativa
Feminino 19 45 12 6
Masculino 27 41 14 20
Tabela 3 – Caracterização da amostra por género
26
Produto
Continente Artesanato Bens Alimentares Roupa Serviços Outros Total
África 1 1 1 0 2 5
América 3 5 3 1 0 12
Ásia 15 2 4 0 3 24
Europa 1 1 1 0 1 42
Tabela 4 – Caracterização da amostra por continente
Dos produtores de comércio justo que responderam aos questionários, 57% fazia
parte de uma cooperativa, enquanto que os restantes 43% não estavam inseridos em
nenhuma cooperativa (consultar Gráfico 7 em Anexos). Como se pode concluir através da
análise do Gráfico 1, a percentagem de bens vendidos através do comércio justo varia
significativamente de produtor para produtor, sendo importante referir que há produtores
que escoam 100% da sua produção através deste canal, mas também há produtores que não
vendem nada através desta rede.
Gráfico 1 – Percentagem vendida na rede do Comércio Justo
2 Obteve-se 5 respostas de produtores europeus, no entanto um respondente não especificou o produto
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 10 20 30 40 50
27
Para aferir se as críticas mencionadas nos diversos artigos sobre o comércio justo são
motivo de descontentamento por parte dos produtores certificados, perguntou-se aos
mesmos se a participação no comércio justo teria aspetos negativos. Apesar de a maioria das
respostas (78% – consultar Gráfico 8 em Anexos) negar a existência de aspetos negativos,
22% afirma que sim, existem aspetos negativos e as principais causas apontadas são a elevada
concorrência, o facto de os preços elevados não permitirem alcançar um mercado maior
(encontrarem-se num nicho de mercado), o custo da certificação – como apresentado por
De Janvry et al. (2015) – e a desadequação dos standards com a realidade dos produtores –
como apresentado na Tabela 5, as respostas completas dos produtores encontram-se nos
Anexos.
Aspetos negativos Nº de respostas
Custo da certificação 2
Standards 4
Dimensão do mercado 3
Falta de promoção 1
Tabela 5 – Quadro-resumo dos aspetos negativos
Relativamente à questão de investigação: “Quais os motivos que originam a adesão
ao comércio justo por parte dos produtores do Sul?”, apresenta-se de seguida o Gráfico 2
com as respostas obtidas a esta questão. Como mencionado no capítulo da metodologia, as
opções de respostas tiveram origem na revisão de literatura conduzida para a elaboração da
presente dissertação.
28
Gráfico 2 – Motivos que originaram a adesão ao comércio justo
Como se pode ver a partir da análise do Gráfico 2, “Responsabilidade social” foi o
principal motivo que originou a adesão ao comércio justo. Esta realidade apresenta novos
dados à investigação sobre o comércio justo, visto que na literatura a responsabilidade social
é maioritariamente referida apenas como sendo a razão que leva os consumidores a comprar
bens a um preço justo (mais elevado que os bens “normais”), não relacionando produtores
e responsabilidade social. Por outro lado, a “Obtenção do premium” tantas vezes referida na
literatura como o potencial motivador dos produtores é um dos dois motivos menos
selecionados, juntamente com a “Promoção de democracia”.
A Tabela 6Tabela 6 – Distribuição por motivo que originou a adesão ao comércio
justoTabela 6 apresenta os motivos assinalados pelos produtores de acordo com a sua ordem
de importância (medida pelo número de vezes em que a razão foi selecionada).
29
1º Responsabilidade social 22,63%
2º Melhoria das condições de vida 21,17%
3º Relação de longo prazo com compradores 12,41%
4º Acesso a novos mercados
10,22% Garantia do pagamento do preço mínimo
6º Partilha de conhecimento 8,76%
7º Organização em cooperativas 5,84%
8º Pagamento em avanço
2,92% Outra
10º Obtenção do premium 2,19%
11º Promoção da democracia 0,73%
Tabela 6 – Distribuição por motivo que originou a adesão ao comércio justo
A importância dada à “Melhoria das condições de vida” vai de encontro à missão
central do comércio justo enquanto movimento social, e demonstra que a visão dos
produtores e das organizações sobre o comércio justo e o seu propósito estão alinhadas.
As 3ª e 4ª motivações mais escolhidas pelos produtores – “Relação de longo prazo
com compradores” e “Acesso a novos mercados” - vão de encontro às evidências
encontradas aquando da revisão de literatura – nomeadamente Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (2015) – de que estes produtores não têm acesso
ao comércio internacional e, se o têm. não conseguem tirar o melhor proveito do mesmo
por causa do poder dos monopólios. Estas opções indicam que os produtores veem o
comércio justo como uma forma de se internacionalizarem, potencialmente pensando em
alcançar mercados onde o poder de compra é elevado, e de minorarem os efeitos de serem
pequenos e dos consequentes poderes dos monopólios.
É também de referir que os resultados obtidos pelas opções “Organização em
cooperativas” e “Partilha de conhecimento” são um sinal de que os produtores percebem
que estes dois fatores podem potenciar o seu crescimento e o seu avanço para o próximo
nível da cadeia de valor, como aconteceu no caso do Brasil apresentado por Schiesari e
Grüninger (2014) e referido na revisão da literatura, indo assim contra as críticas, de por
30
exemplo LeClair (2002, 2008), de que o comércio justo incentiva o comodismo e o não
desenvolvimento dos países em desenvolvimento.
Alguns inquiridos assinalaram a opção “Outra” como uma das 3 principais
motivações para a sua adesão ao comércio justo – consultar o Anexo 2 – Respostas, mais
especificamente a Tabela 12. Este facto parece indicar que há uma lacuna na investigação
sobre o comércio justo e que ainda não se conhecem todas as motivações dos produtores, o
que indica que o próximo passo nesta investigação deveria ser a utilização de métodos
qualitativos, nomeadamente, e como sugerido por Ferreira e Carmo (2015), a utilização de
entrevistas em profundidade com produtores do Sul para explorar com maior pormenor as
suas motivações.
No que concerne às áreas melhoradas do ponto de vista dos produtores, não houve
nenhuma que se destacasse particularmente – ver Gráfico 3. Sendo a área mais votada o
“Acesso ao comércio internacional”, seguida de “Igualdade de géneros”, “Qualidade de vida”
e “Desenvolvimento da produção”.
Gráfico 3 – Distribuição por área melhorada pela existência de Comércio Justo
O facto de o “Acesso ao comércio internacional” e o “Desenvolvimento da
produção” terem sido duas das áreas mais escolhidas pelos produtores, vai de encontro ao
mencionado anteriormente, o que constitui uma boa notícia para os países em
desenvolvimento que participam no comércio justo através dos seus produtores, pois são a
participação no comércio internacional e a produção de produtos tecnologicamente mais
avançados que contribuem para o desenvolvimento e o crescimento económico de um país.
12%
7%4%2%
10%
14%13%
14%
8%
14%2%
Educação
Saúde
Infraestruturas
Democracia
Ambiente
Igualdade de géneros
Desenvolvimento da produção
Qualidade de vida
Condições financeiras
Acesso ao comércio internacional
Outra
31
Da análise do Gráfico 3 conclui-se que “Saúde”, “Infraestruturas” e “Democracia”
foram as áreas que menos inquiridos consideraram como terem sido melhoradas pela
existência do comércio justo. Estas áreas também não são particularmente referidas na
literatura como áreas melhoradas pelo comércio justo; aparecem sim como áreas que o
comércio justo pode ajudar a melhorar. É assim importante que as organizações
internacionais de comércio justo percebam como é que o comércio justo pode efetivamente
contribuir para desenvolver as infraestruturas e a saúde nestes países em desenvolvimento
onde a melhoria destas áreas é essencial para o crescimento do país. Relativamente à área da
democracia, é preciso analisar se foi a democracia no país que não melhorou ou se tal se
verificou apenas dentro das cooperativas.
Por fim, relativamente às principais vantagens identificadas pelos produtores, é muito
alentador verificar que a principal missão do comércio justo é a opção mais selecionada
(consultar Gráfico 4) – “Melhoria efetiva das condições de vida”.
Gráfico 4 – Distribuição pelas principais vantagens do Comércio Justo
Verifica-se também que as principais vantagens assinaladas pelos produtores vão de
encontro às evidências apresentadas na literatura, como é possível verificar contrapondo o
Gráfico 4 e os benefícios apresentados na revisão de literatura, defendidos nomeadamente
por Dragusanu et al. (2014) e Hayes (2006): “Melhoria efetiva das condições de vida”,
“Relacionamento com outros produtores”, “Estabilidade de rendimentos” e a “Capacidade
de planear o futuro”.
13%4%
15%
9%
23%
2%4%
14%
13%3%
Garantia do pagamento de um preçomínimoObtenção do premium
Relacionamento com outros produtores
Aumento da procura
Melhoria efetiva das condições de vida
Disponibilidade financeira para poupardinheiroAcesso a melhores condições de crédito
Estabilidade de rendimentos
Capacidade de planear o futuro
Outra
32
No entanto, demonstra também áreas onde o comércio justo deve investir, como por
exemplo, contribuir para permitir que estes produtores consigam poupar, visto que esta
opção só foi selecionada por dois produtores. Dos produtores que selecionaram a opção
“Outra”, a principal vantagem por estes apontados é a credibilidade que a certificação lhes
concede.
Ainda não mencionado diretamente nos artigos que estudaram o comércio justo está
o “Aumento da procura”, focando-se apenas no facto de nem sempre a percentagem vendida
ser suficiente para pagar os custos da certificação. Como é possível ver no Gráfico 1, a
percentagem vendida através desta rede varia muito. Aliando o facto desta não ser apontada
como uma das principais vantagens desta alternativa ao comércio convencional ao facto de
ser um aspeto que vários produtores mencionaram como sendo uma área onde o comércio
justo pode melhorar, pode-se concluir que é importante estudar a quantidade de bens escoada
por esta rede e os fatores que a influenciaram.
Ao contrário do referido na literatura – e tal como acontece no caso das motivações
da adesão ao comércio justo – a “Obtenção do premium” não é considerado pela larga maioria
dos produtores como sendo uma vantagem da participação no comércio justo.
Relativamente aos aspetos que podem ser melhorados – como apresentado na Tabela
7, as respostas completas dos produtores encontram-se nos Anexos – as principais áreas
apontadas pelos produtores foram: o custo da certificação, a adequação e adaptação dos
standards à realidade das pequenas cooperativas tendo regras mais específicas para os diversos
produtos e tamanhos de cooperativas, maior promoção do comércio justo junto dos
consumidores e possíveis importadores/compradores, e a necessidade de apoiar e orientar,
dar formação e capacitar os produtores certificados.
Áreas a melhorar Nº de respostas
Certificação e standards 9
Apoio aos produtores 8
Operacionalização 6
Divulgação 7
Outros 4
Tabela 7 – Quadro-resumo das áreas a melhorar
33
Como mencionado na Metodologia, recorreu-se ao Coeficiente de Correlação ρ
(Rho) de Spearman para analisar a possível relação entre a percentagem vendida através da
rede do comércio justo e a organização ou não em cooperativas e a longevidade de
participação no comércio justo (medida pelo número de anos a que aderiram a esta forma de
comércio). Este coeficiente não indica exatamente quanto é que uma variável varia quando
a outra variável varia, ou seja, não apresenta uma medida de quanto é que uma variável
influencia a outra – como explicado por Howell (2007)– mas permite concluir se estas
variáveis têm alguma correlação e, em caso de resposta afirmativa, se esta é forte ou não
(valores absolutos do coeficiente de correlação menores do que 0,4 indicam uma correlação
fraca).
Relação entre percentagem vendida através do comércio justo e a longevidade (medido através do Coeficiente de Correlação ρ (Rho) de Spearman)
Tabela 8 – Coeficiente de Correlação de Spearman entre Percentagem vendida através do comércio justo e a Longevidade
Relação entre percentagem vendida através do comércio justo e a participação ou não em cooperativas
(medido através do Coeficiente de Correlação ρ (Rho) de Spearman)
Tabela 9 – Coeficiente de Correlação de Spearman entre Percentagem vendida através do comércio justo e a Participação ou não em cooperativas
34
Como é possível concluir pelas duas tabelas apresentadas (Tabela 8 e Tabela 9), os
valores do coeficiente correlação são baixos, sugerindo assim que a relação entre as variáveis
é fraca. É importante mencionar que estes valores devem ser interpretados com cautela
porque podem ficar a dever-se ao tamanho da amostra e não necessariamente à falta de
relação entre elas.
Estes valores podem também ser explicados pelo facto de a procura (os
consumidores) não ser particularmente influenciada pela história por detrás do produto, mas
sim pelo facto de ser um produto vendido de acordo com as regras do comércio justo. Aliado
ao facto de que a realidade do produtor não influencia os gostos dos consumidores, e este
ser provavelmente o fator que maior influência tem na percentagem vendida através deste
canal – os gostos dos consumidores. No entanto, como estas relações ainda não foram
abordadas na literatura, não é possível, de momento, retirar uma conclusão mais assertiva
dos dados. Por último, referir que estes valores (correlação fraca) significariam que o número
de anos a que se aderiu ao comércio justo e o facto de se pertencer ou não a uma cooperativa
(respetivamente) não têm grande influência na percentagem de bens vendidos através deste
canal.
35
5. Conclusão
Através da revisão da literatura pode-se concluir que o comércio justo é um tema
onde os diversos investigadores não chegam a uma conclusão comum. De um lado,
encontramos os autores que defendem que esta forma de comércio apenas prolonga a
situação dos produtores não a melhorando e, do outro lado encontramos os autores que
acreditam que esta rede comercial não convencional melhora a vida dos produtores e cria
condições para estes prosperarem na era da globalização que se vive.
Apesar dos países em desenvolvimento onde o comércio justo está presente
continuarem a ser países em desenvolvimento ainda que o comércio justo já exista há muitos
anos, a verdade é que para um país crescer e desenvolver-se precisa de ter instituições fortes,
o que não é a realidade destes países. Neste contexto, o comércio justo parece atuar de forma
a levar aos produtores que vivem nestes países as vantagens que os produtores que vivem
em países desenvolvidos têm, permitindo-lhes beneficiar da globalização.
Esta forma de comércio de acordo com os autores potenciará o desenvolvimento do
país no longo prazo através da aplicação do premium em áreas essenciais como a educação, a
saúde e as infraestruturas; a organização em cooperativas permite a partilha de know-how e
com esta potencia o desenvolvimento da produção; e, por fim, a melhoria das condições de
vida permite que as crianças estudem.
Relativamente à questão de investigação é importante referir – que ao contrário do
sugerido pelos diversos autores que se debruçaram sobre o tema – não parece ser a obtenção
do premium nem a garantia do pagamento do preço mínimo que têm mais influência no
momento de decidir aderir ao comércio justo por parte dos produtores do Sul.
É também relevante notar que estes produtores sentem que as organizações de
comércio justo deveriam dar formação aos produtores e capacitá-los em todos os aspetos do
seu negócio, sendo este um aspeto a melhorar. Os standards, de acordo com os respondentes,
também deveriam ser melhorados porque são muito genéricos e não permitem acomodar as
características das diversas cooperativas.
Ao nível da certificação seria importante trabalhar numa solução para o pagamento
da certificação por parte dos produtores: área identificada tanto pelos investigadores como
pelos produtores como sendo um aspeto menos conseguido desta rede.
36
Em suma, pelas respostas obtidas é possível concluir que o comércio justo está a
cumprir a sua principal missão: melhorar as condições de vida dos produtores do Sul;
potenciando-o, nomeadamente, através do acesso ao comércio internacional e o
desenvolvimento da produção.
Por último, referir que a análise de dados e as conclusões desta dissertação devem ser
analisados com cautela, porque a amostra foi construída por conveniência o que significa que
é possível estar-se a analisar uma secção homogénea da população, uma vez que é exequível
que os produtores que não responderam não o fizeram porque não têm acesso a
computadores o que se traduziria num nível de vida mais baixo do que o nível vivido pelos
respondentes e consequentemente teriam outras prioridades, se este fosse o caso. Bem como
o facto de a amostra representar, apenas, aproximadamente 8,4% da população.
Seria interessante na investigação futura sobre o comércio justo realizar-se entrevistas
que permitiriam uma análise aprofundada das motivações e esclarecer tanto as respostas
“Outra” como o aparecimento e relevância da motivação “Responsabilidade Social” que não
é referida na literatura sobre o comércio justo. Como o nível de percentagem vendida sob o
selo do comércio justo varia significativamente de produtor para produtor seria interessante
perceber quais os fatores que a influenciam, nomeadamente se é o bem produzido, se é o
importador/comprador que vende o produto aos consumidores do Norte, se é o país para
onde os bens são exportados, ou uma outra opção.
No campo da economia e gestão internacional muito há ainda a fazer para
melhorar/desenvolver a pesquisa sobre o tema do comércio justo no contexto da
globalização.
37
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40
7. Anexos
Anexo 1 – Questionário
Este questionário foi desenvolvido no âmbito de uma dissertação do Mestrado em
Economia e Gestão Internacional da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, em
Portugal. Este tem como objetivo perceber os motivos que originaram a adesão ao comércio
justo por parte dos produtores do Hemisfério Sul.
O preenchimento do mesmo não demorará mais do que três minutos e é essencial
para que seja possível a conclusão da referida dissertação. O questionário é anónimo e os
dados recolhidos serão apenas utilizados para a concretização deste estudo.
Qualquer dúvida que surja pode esclarecê-la através do envio de um e-mail para:
1) País: (em que país se encontra) *
2) País: (de origem) *
3) Idade: *
4) Género: *
Feminino
Masculino
5) Nível de escolarização: *
6) Produto: (que bem produz sob o selo de comércio justo) *
7) Há quantos anos aderiu ao comércio justo? *
8) Está organizado/inserido numa cooperativa? *
Sim
Não
9) Qual a percentagem de bens certificados como comércio justo que efetivamente vende por este canal? *
41
10) Quais são os motivos que o levaram a aderir ao comércio justo? (selecione as 3 opções que mais se adequem) *
Garantia do pagamento de um preço mínimo
Obtenção do premium
Acesso a novos mercados
Pagamento em avanço
Partilha de conhecimento
Relação de longo prazo com compradores
Melhoria das condições de vida
Promoção da democracia
Organização em cooperativas
Responsabilidade social
Outro(s):
11) Quais são as principais vantagens da adesão ao comércio justo? (selecione as 3 opções que mais se adequem) *
Garantia do pagamento de um preço mínimo
Obtenção do premium
Relacionamento com outros produtores
Aumento da procura (mais quantidades vendidas)
Melhoria efetiva das condições de vida
Disponibilidade financeira para poupar dinheiro
Acesso a melhores condições de crédito
Estabilidade de rendimentos
Capacidade de planear o futuro
12) Selecione as áreas onde sente que o comércio justo contribuiu para a sua melhoria: *
Educação
Saúde
Infraestruturas (como, por exemplo, estradas e armazéns)
Democracia
Ambiente
Igualdade de géneros
Desenvolvimento da produção/dos bens produzidos
Qualidade de vida
Condições financeiras
Acesso ao comércio internacional
Outra(s):
13) Considera que ser certificado pelo comércio justo apresenta aspetos negativos? *
Sim
Não
13.1) Se sim, quais?
14) O que poderá ser melhorado?
* Respostas obrigatórias
42
Anexo 2 – Respostas
Nº
1. País (em que se encontra)
2. País (de origem)
3. Idade 4. Género 5. Nível de escolarização
6. Produto
1 Equador Equador 30 Masculino Nível 2 Chocolates e lacticínios
2 Equador Equador 50 Masculino Ensino Superior Chocolates e chás
3 Perú Perú 53 Masculino Ensino Secundário Tecelagem
4 Bolívia Bolívia 43 Masculino Mestrado Roupa e artesanato
5 Brasil Brasil 39 Feminino Mestrado e MBA Serviços de apoio às organizações de comércio justo
6 Quénia Quénia 33 Masculino Diploma Flores
7 Paquistão Paquistão 58 Masculino Ensino Profissional Frutos secos e condimentos
8 Indonésia Indonésia 56 Feminino Universidade Produtos reciclados
9 Índia Índia 44 Masculino Mestrado Fragâncias para casa e produtos de beleza
10 Bangladesh Bangladesh 38 Masculino MBA Roupa
11 Nepal Nepal 59 Masculino Graduado Sacos de papel, caixas de papel, cartões, papel de embrulho
12 Camboja Camboja 24 Masculino Licenciado Tecelagem, artigos decoração da casa, roupa
13 Bangladesh Sul da Ásia 62 Masculino Licenciado Artigos feito com juta
14 Indonésia Indonésia 54 Feminino Graduado Universidade
Artigos para casa e joalharia
15 Quénia Alemanha 55 Feminino Nível A Roupa
16 África do Sul África do Sul
42 Feminino Diploma Chá de Rooibos
17 Palestina Palestina 56 Feminino Licenciado Produtos religiosos e seculares de madeira de oliveira - Cerâmica, vidro soprado; bordado, papel reciclado e produtos de lã reciclada
43
18 Índia Índia 24 Masculino Ensino Superior Sacos
19 Nepal Nepal 23 Masculino Ensino Secundário Feltro, cerâmica, tecidos
20 Bangladesh Bangladesh 49 Masculino Mestrado Vários
21 Índia Índia 28 Masculino Mestrado Artesanato indiano
22 EUA EUA 31 Feminino Licenciado Roupa
23 Tailândia Tailândia 54 Feminino Licenciado Artigos de madeira, cerâmica; tecido de tingimento natural, velas, incenso
24 Holanda Holanda 32 Masculino Universidade Telemóveis
25 Holanda Alemanha 31 Feminino Universidade Joalharia
26 Palestina EUA 38 Masculino Universidade Artesanato tecido e bordado
27 Escócia Escócia 66 Feminino Grammar -
28 Alemanha Alemanha 44 Feminino Universidade Chá e café
29 Uganda Uganda 37 Feminino Graduado Artesanato
30 Indonésia Indonésia 49 Masculino Strata Artesanato
31 EUA EUA 28 Feminino Licenciado Joalharia
32 Etiópia EUA 47 Feminino Mestrado Vários
33 Costa Rica Costa Rica 35 Feminino Universidade Café
34 República Dominicana
República Dominicana
50 Masculino Ensino Profissional Cacau
35 Bangladesh Bangladesh 35 Masculino Mestrado Brinquedos
36 Sri Lanka Sri Lanka 58 Masculino Nível 10 Brinquedos de madeira; Artesanato
37 Nepal EUA 33 Masculino Licenciado Tops, Bolsas, Chapéus de Malha; Produção Personalizada para Várias Marcas
38 Bangladesh Bangladesh 28 Masculino Licenciado Cestas, Artigos de papelaria, Produtos sari reciclados, Papel artesanal, Decorações de Natal, Decoração de interiores, entre outros
44
39 Camboja Camboja 23 Masculino Licenciado Tinta de tingimento natural; Tecido de tecelagem manual
40 Tailândia Tailândia 49 Feminino Mestrado Sabonete artesanal
41 Bangladesh Bangladesh 66 Masculino 14 Classes Produtos têxteis
42 Sri Lanka Sri Lanka 26 Masculino Licenciado Chás, Especiarias, Cocos, Ervas
43 Bósnia e Herzegovina
Bósnia e Herzegovina
45 Masculino Universidade Vestuário de malha
44 Perú Perú 57 Feminino Universidade Artesanato
45 Perú Perú 51 Feminino - Cintos
46 Colômbia Colômbia 26 Feminino Profissional Bananas
Tabela 10 - Respostas às perguntas 1, 2, 3, 4, 5 e 6
45
Nº 7. Há quantos anos aderiu
8. Está inserido numa cooperativa
9. Percentagem vendida
1 45 Sim 50
2 4 Sim 20
3 10 Sim 30
4 10 Não 50
5 19 Não -
6 20 Não 40
7 14 Sim 100
8 7 Sim 0
9 7 Não 100
10 12 Sim 100
11 16 Sim 50
12 2 Sim 17,5
13 2 Sim 50
14 18 Não 100
15 4 Não 100
16 7 Não 10
17 10 Sim 70
18 3 Sim 100
19 15 Não -
20 28 Sim 45
21 23 Não 100
22 9 Não 80
23 10 Não 100
24 3 Sim 100
25 5 Não 100
26 1 Sim 100
27 36 Sim 100
28 14 Não 52
29 12 Sim 50
30 10 Sim 100
31 8 Não 100
32 9 Não 100
33 30 Sim 80
34 23 Sim 85
35 13 Sim 100
36 42 Sim 100
37 2 Não 10
38 2 Não 0
39 2 Sim 0
46
40 2 Não 0
41 19 Sim 25
42 20 Sim 100
43 26 Sim 100
44 16 Não 90
45 5 Não 100
46 10 Sim 90
Tabela 11 - Respostas às perguntas 7, 8 e 9
47
10. Quais são os motivos que o levaram a aderir ao comércio justo? (Selecione
as 3 opções que mais se adequem) N
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Tabela 12 - Respostas à pergunta 10
Resposta 4 (Outra): Pagamento justo do artesanato
Resposta 5 (Outra): Contribuir para um mundo melhor para todos
Resposta 12 (Outra): Atrair compradores
Resposta 18 (Outra): Comunicação
49
11. Quais são as principais vantagens da adesão ao comércio justo? (selecione
as 3 opções que mais se adequem) N
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44
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45
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Tabela 13 - Respostas à pergunta 11
Resposta 15 (Outra): Dá credibilidade
Resposta 28 (Outra): Método de marketing
Resposta 37 (Outra): Dá credibilidade
Resposta 45 (Outra): Ter uma certificação que reflita as práticas comerciais
51
12. Selecione as áreas onde sente que o comércio justo contribuiu para a sua
melhoria N
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20 X X
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X X X
X
45 X
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46 X X X
Tabela 14 - Respostas à pergunta 12
Resposta 5 (Outra): Contribuir para o desenvolvimento pessoal
Resposta 28 (Outra): Não medido
Resposta 40 (Outra): Ter ganho a confiança dos consumidores, ter se tornado uma
empresa mais credível
53
Nº 13. Tem aspetos negativos?
13. 1. Qual é o motivo?
1 Não
2 Não
3 Sim Muita concorrência
4 Não
5 Não
6 Não
7 Não
8 Não
9 Não
10 Não
11 Não
12 Não
13 Não
14 Não
15 Não
16 Sim Os standards não estão preparados para os pequenos produtores que não cumprem a 100%
17 Não
18 Não
19 Sim Eu acho que, embora seja justo com os trabalhadores, às vezes é um desafio dar-lhes bons salários, porque os compradores não são capazes de pagar a quantia necessária para negócios de longo prazo em países em desenvolvimento.
20 Não
21 Sim Mercado limitado
22 Não
54
23 Não
24 Não
25 Não
26 Não
27 -
28 Sim Difícil para os produtores pequenos juntarem-se
29 Sim Não vender em grande escala por causa dos preços
30 Sim Não conformidade da realidade dos produtores e da certificação
31 Não
32 Não
33 Sim Mais promoção dos produtos do comércio justo junto dos consumidores finais
34 Não
35 Não
36 Não
37 Sim O custo da certificação
38 Não
39 Não
40 Não
41 Não
42 Não
43 Sim O custo da certificação está a aumentar
44 Não
45 Não
46 Não
Tabela 15 - Respostas às perguntas 13 e 13.1
55
Nº 14. O que poderá ser melhorado?
1 Apoio em formação comercial
2 Troca de produtos entre produtores de comércio justo
3 Menos empresas intermediárias
4 Comércio mais justo. As empresas europeias pedem preços baixos, o que faz com que os produtores do Sul não consigam sair da pobreza
5 Dar mais acesso a certificação a produtores com menor capacidade financeira. Linhas de crédito específicas para certificação
6 Mais pesquisa de mercado, aumentar a percentagem vendida
7 Maior contacto com os produtores, consultar os produtores quando se constroem os standards
8 Mais apoio e aconselhamento
9
10
11
12
13 Os canais de mercado da WFTO devem ser mobilizados de forma eficaz para apoiar os artesãos que precisam deles
14 Mais campanhas
15 Maior apoio e orientação aos produtores
16 Ter standards mais específicos para cada caso
17
18 O processo de obtenção do selo deve tornar-se mais fácil e as auditorias após a obtenção da certificação devem aumentar para manter o controlo. Desta forma, mais pessoas podem entrar no comércio justo
19 Ou os compradores devem conseguir pagar, o que depende do nível de concorrência que enfrentam nos seus mercados. Ou as compras aos produtores de comércio justo devem ser vistas como um projeto, para ser executado em 3 anos, de maneira a conseguirem suportar os custos
20 Os compradores de comércio justo que já compram há muito tempo, continuam a comprar aos mesmos produtores, devia-se tentar mudar a mentalidade para que também comprem aos novos
21 Convidar novos membros para serem certificados
22 Critérios mais transparentes sobre o que é o comércio justo para os trabalhadores e empregadores
56
23 Mais apoio no marketing
24
25
26 Mais consciencialização sobre o comércio justo
27
28 Custo da certificação para os produtores pequenos
29 Sim, pode
30 Formação e promoção
31
32
33 Divulgação
34 O sistema de monitorização, as auditorias de monitorização foram deixadas nas mãos de terceiros (FLO-Cert), que nem sempre agem com base no entendimento de que o comércio justo é realizado principalmente por pequenas organizações com dificuldades para tratar da burocracia para o cumprimento dos standards. Este facto obriga a gastar uma grande parte do premium em consultoria e aconselhamento para garantir que mantém a certificação. Sem mencionar que os standards também limitam a interação comercial entre pequenas organizações certificadas, e obriga-as a recorrer a um "Exportador Certificado" que nem sempre oferece as melhores condições de negócios
35 Fortalecer a rede de comércio justo local
36 Promoção e consciencialização dos consumidores sobre o comércio justo
37 Quando nos juntamos à WFTO, não se abriram novos mercados, e os nossos atuais clientes não estão dispostos a pagar mais pelos nossos produtos. O que para mim significa que o nosso mercado (ou a sociedade como um todo) pode gostar da ideia de "ética" ou "justa", mas não está necessariamente disposto a pagar mais do que nos modelos de negócios tradicionais. Isto pode ter a ver com o facto de o nosso mercado ser principalmente a América do Norte! Seria ótimo se, como grupo, pudéssemos de alguma forma incentivar os consumidores a estarem dispostos a pagar mais por um produto socialmente mais consciente. Nós fazemos produtos personalizados para outras marcas. A maioria de nossos clientes opta por não usar a etiqueta WFTO por causa da taxa de 1%. Como a taxa é relativamente pequena, para mim isto significa que as marcas não acreditam que os seus clientes valorizam o selo WFTO. É preciso continuar a educar a sociedade sobre o porquê de o Comércio Justo ser melhor
38 A WFTO devia criar uma base de dados que acompanhe e registe as melhorias nas condições de vida dos artesãos
57
39
40 Reduzir o valor pago para se ser certificado
41 Incluir as cooperativas pequenas e apoiá-las. É preciso dar mais atenção, assistência e formação para capacitar as cooperativas pequenas
42 Ligação direta entre os produtores e os importadores
43 Custo da certificação, criação de uma plataforma e-commerce exclusivamente para o comércio justo
44 Avaliação do sistema por parte dos produtores
45 Promoção
46 O conhecimento das características específicas de cada região do mundo, uma vez que as condições são diferentes e existem aspetos culturais muito importantes que afetam a maneira pela qual os trabalhadores concebem ou percebem o Comércio Justo e sua finalidade.
Tabela 16 - Respostas à pergunta 14
58
Anexo 3 – Gráficos
Gráfico 5 - Distribuição por género
Gráfico 6 - Distribuição por continente
59%
41%
Masculino
Feminino
26%
11%
52%
11%
América
África
Ásia
Europa
59
Gráfico 7 - Distribuição por pertença a uma cooperativa
Gráfico 8 - Distribuição por considerar se o Comércio Justo tem ou não aspetos negativos
57%
43%
Sim
Não
22%
78%
Sim
Não