Juliana Sofia Estudos da reacção de Heck de Gomes da Silva ... · Soares da Silva, Professor...

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Universidade de Aveiro 2008 Departamento de Química Juliana Sofia Gomes da Silva Estudos da reacção de Heck de cinamilidenoacetofenonas com iodobenzenos

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Universidade de Aveiro 2008

Departamento de Qumica

Juliana Sofia Gomes da Silva

Estudos da reaco de Heck de

cinamilidenoacetofenonas com iodobenzenos

Universidade de Aveiro 2008

Departamento de Qumica

Juliana Sofia Gomes da Silva

Estudos da reaco de Heck de

cinamilidenoacetofenonas com iodobenzenos

dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Qumica Orgnica e Produtos Naturais, realizada sob a orientao cientfica da Doutora Diana Cludia Gouveia Alves Pinto, Professora auxiliar e do Doutor Artur Manuel Soares da Silva, Professor catedrtico do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro

o jri

presidente Prof. Doutor Augusto Costa Tom

Professor Associado com Agregao do Departamento de Qumica da

Universidade de Aveiro

Prof. Doutor Artur Manuel Soares da Silva

Professor Catedrtico do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro

Prof. Doutora Maria Alice Gonalves Carvalho

Professora Auxiliar do Departamento de Qumica da Universidade do Minho

Prof. Doutora Diana Cludia Gouveia Alves Pinto

Professora Auxiliar do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro

agradecimentos

Doutora Diana Pinto, orientadora desta dissertao, desejo

expressar o meu mais profundo agradecimento. A valiosa orientao cientfica

e o apoio foram uma constante durante a realizao deste trabalho.

Ao Professor Doutor Artur Silva, co-orientador desta dissertao, agradeo a

orientao cientfica, o apoio, incentivo e amizade demonstrada durante estes

dois anos.

Universidade de Aveiro e ao seu Departamento de Qumica agradeo o

apoio financeiro que tornou possvel a realizao deste trabalho.

Ao Dr. Hilrio Tavares agradeo a disponibilidade que revelou na obteno de

espectros de RMN.

Aos colegas e amigos do laboratrio de Qumica Orgnica do Departamento

de Qumica da Universidade de Aveiro, agradeo a ajuda, amizade, boa

disposio e esprito de inter-ajuda demonstrada durante este perodo de

convivncia.

minha querida amiga Catarina pelo apoio, sugestes e conhecimentos de

carcter cientfico prestados ao longo da realizao deste trabalho, e ainda

pela amizade e bons momentos que tive o prazer de passar no laboratrio de

Qumica Orgnica do Departamento de Qumica da Universidade de Aveiro.

Agradeo tambm por me teres ajudado nesta minha nova etapa. A tua

oportunidade tambm chegar!

palavras-chave

(E,E)-cinamilidenoacetofenonas, (2Z,4E)-1,3,5-triaril-2,4-pentadieno-1-onas paldio, reaco de Heck, RMN

resumo

Esta dissertao consiste no estudo da reactividade de (E,E)-cinamilidenoace-

tofenonas em reaco de Heck com iodetos de arilo. Este estudo foi dividido

em duas partes: primeiro foram usadas as condies de adio desenvolvidas

por Cacchi e posteriormente testaram-se as condies desenvolvidas por

Jeffery para a reaco de Heck.

Este trabalho iniciou-se com o estudo da reaco de Heck nas condies de

Cacchi para dois sistemas carbonlicos ,- e ,,,-insaturados, as (E)-

calconas e as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas, respectivamente. A reaco da

(E)-calcona com iodobenzeno originou o produto de adio na posio e os

seus ismeros cis e trans, em bons rendimentos, no entanto, com as (E,E)-

cinamilidenoacetofenonas no se verificou a formao de qualquer produto.

A segunda parte do estudo consiste no estudo da reaco de Heck das (E,E)-

cinamilidenoacetofenonas com iodetos de arilo nas condies de Jeffery,

tendo-se obtido o produto de substituio na posio com rendimentos

baixos. A presena de diferentes grupos substituintes no anel B no mostrou

qualquer alterao nos rendimentos dos produtos obtidos. A presena de um

grupo dador de electres no iodoareno provoca um ligeiro aumento no produto

resultante da -substituio.

Na caracterizao estrutural dos compostos sintetizados recorreu-se a

tcnicas analticas actuais, em especial atravs de estudos de espectroscopia

de ressonncia magntica nuclear (RMN) [espectros de 1H, de

13C e estudos

bidimensionais de correlao espectroscpica homo e heteronuclear e de

efeito nuclear de Overhauser (NOESY)]. Os novos produtos obtidos foram

igualmente caracterizados por espectrometria de massa.

keywords

(E,E)-cinnamylideneacetophenones, (2Z,4E)-1,3,5-triaryl-2,4-pentadiene-1-ones, palladium, Heck reaction, NMR

abstract

This dissertation reports the reactivity study of (E,E)

cinnamylideneacetophenones in Heck reaction with iodoarenes. This study is

constituted by two parts: in the first part the Heck reaction under the Cacchi

conditions was studied, while in the second part the Jeffery conditions were

evaluated.

This work started by the study of the Heck reaction, under the Cacchi

conditions of ,- and ,,,-unsaturated carbonyl systems, (E)-chalcones and

(E,E)-cinnamylideneacetophenones.

The Heck reaction of (E)-chalcone with iodobenzene gives the product of

conjugate adition, in good yields, however with (E,E)-

cinnamylideneacetophenones there is no reaction.

The second part of this study consists in the study of the Heck reaction with

iodoarenes under Jeffery conditions, resulting in the substitution product at -

position of (E,E)-cinnamylideneacetophenone in low yields. The presence of

different groups on B ring didnt show any influence in the formation yields of -

substituted cinnamylideneacetophenones. The presence of an electron-

donating group in the iodoarene allows a slightly increase in the -substitution

product formation.

All the synthesised compounds were characterised using modern analytical

techniques, with special emphasis on exhaustive nuclear magnetic resonance

(NMR) spectroscopic studies [1H and

13C spectra, two dimensional

homonuclear and heteronuclear spectroscopy and NOESY]. All the new

compounds were also characterized by mass spectrometry.

ABREVIATURAS

acac Acetilacetonato

Bu Butilo

d Dupleto

dd Duplo dupleto

dba Dibenzilidenoacetona

DBU 1,8-Diazabiciclo [5.4.0]-undec-7-eno

DMA Dimetilacetamida

DMD Dimetildioxirano

DMF N,N-Dimetilformamida

DPPF Ferroceno de 1,1'-bis(difenilfosfina)

DPPP Propano de 1,3-bis(difenilfosfina)

Et Etilo

HMBC Correlao heteronuclear, a longa distncia, por deteco inversa

HMPA Hexametilfosforamida

HSQC Correlao heteronuclear por deteco inversa

NMP N-metil-pirrolidona

OAc Acetoxilo

OBn Benziloxilo

OTf Triflato

Ph Fenilo

Pr Propilo

Rf Factor de retardo

RMN Ressonncia magntica nuclear

s Singuleto

t.a. Temperatura ambiente

tlc Cromatografia de camada fina

NDICE

Captulo 1 Introduo

1.1 Qumica do paldio 5

1.2 Reaco de Heck 5

1.2.1 Alternativa de Jeffery para a reaco de Heck 7

1.2.2 A influncia dos substratos 7

1.2.3 Mecanismo da reaco de Heck 8

1.2.4 Reaco de Heck sob irradiao com microondas 13

Captulo 2 Estudos precedentes em compostos do tipo (E,E)-cinamilidenoacetofe-

nonas

2.1 Sntese de 3- e 2-estirilcromonas 15

2.2 Transformaes em pirazolinas e/ou pirazis 17

2.3 Sntese de 4-aril-2-estiril-2,3-di-hidro-1,5-benzotiazepinas

a partir da reaco da (E,E)-cinamilidenacetofenonas

com 2-aminotiofenol e a sua converso em 3-acetil-

2-aril-2,3-di-hidrobenzotiazis 2,2-disubstituidos 19

2.4 Estudos de epoxidao 20

2.5 Adio de nitrometano a (E,E)-cinamilidenoacetofenonas 24

2.6 Objectivos 27

Captulo 3 Reactividade de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas em reaces de Heck

3.1 Mtodo de sntese de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas 29

3.2 Estudos da reaco de Heck 30

3.2.1 Estudos da reaco de Heck usando o iodobenzeno 30

3.2.1.1 Consideraes mecansticas 37

3.2.2 Estudo da reaco de Heck com 4-iodoanisol 40

3.3 Consideraes finais 43

Captulo 4 - Caracterizao estrutural dos compostos sintetizados

4.1 Introduo 46

4.2 Caracterizao por ressonncia magntica nuclear (RMN) 46

4.2.1 Caracterizao da 1,3,3-trifenil-1-propanona 46

4.2.2 Caracterizao da (2Z, 4E)-1,3,5-trifenil-

2,4-pentadieno-1-ona 49

4.2.3 Caracterizao da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-

2,4-pentadieno-1-ona 53

4.2.4 Caracterizao da (2Z,4E)-1-fenil-3,5-(4-metoxifenil)-

2,4-pentadieno-1-ona 58

4.3 Caracterizao por Espectrometria de massa (EM) 61

4.3.1 Caracterizao da (2Z, 4E)-1,3,5-trifenil-

2,4-pentadieno-1-ona 61

4.3.2 Caracterizao da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-

2,4-pentadieno-1-ona 62

Captulo 5 Parte Experimental

5.1 Solventes, slicas e equipamentos utilizados 66

5.2 Sntese dos percursores 67

5.2.1 Sntese de cinamaldedos 67

5.2.2 Sntese de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas 69

5.2.3 Sntese de (E,E)-nitrocinamilidenoacetofenona 70

5.3 Estudos da reaco de Heck 71

5.3.1 Sntese de 1,3,3-trifenil-1-propanona 71

5.3.2 Sntese de (2Z,4E)-1,3,5-triaril-2,4-pentadieno-1-onas 71

5.3.3 Sntese de (2Z,4E)-1,5-diaril-3-(4-metoxifenil)-

2,4-pentadieno-1-onas 72

Captulo 5 Bibliografia 75

Captulo 1

Introduo

Captulo 1

Pgina | 5

1.1 Qumica do paldio

A qumica do paldio, apesar de recente, rapidamente tornou-se uma ferramenta

indispensvel em sntese orgnica. Actualmente, as reaces de acoplamento catalisadas

por paldio so o mtodo escolhido para a sntese de vrios tipos de compostos biarlicos e

heterobiarlicos. O nmero de aplicaes da qumica do paldio para a sntese de

compostos heterocclicos tem crescido exponencialmente.1

As caractersticas mais importantes so a versatilidade de estratgias que o paldio

oferece para a formao de ligaes carbono-carbono e a tolerncia dos reagentes de

paldio a vrios grupos funcionais, tais como os grupos hidroxilo e carbonilo. Algumas

reaces catalisadas por paldio ocorrem sem a proteco destes grupos funcionais e para

alm disso, os reagentes de paldio so pouco sensveis ao ar, humidade e at mesmo a

cidos.2

No entanto, apesar de o paldio ser um metal nobre e caro, comparando com outros

metais, tais como o rdio, platina ou smio, muito mais barato e, para alm disso, ainda

no foram relatados casos de toxicidade.

1.2 Reaco de Heck

A reaco de Heck uma das reaces catalisadas por paldio mais conhecidas e,

actualmente, uma ferramenta indispensvel em sntese de orgnica. Os haletos de arilo ou

alcenilo reagem com alcenos na presena de quantidades catalticas de paldio, ocorrendo

a substituio do haleto pelo grupo alcenilo (Esquema 1).3 A reaco de Heck usada em

alcenos simples, alcenos aril-substitudos e em alcenos substitudos, tais como os acrilato

de alquilo ou arilo, teres vinlicos e N-vinilamidas.

Captulo 1

Pgina | 6

R1 X HR2

Pd(0)R1

R2HX

R1= alcenil, aril; R2= aril, alquil, OR, CO2R, etc; X= I, Br, OTf

Esquema 1

Convencionalmente a reaco de Heck consiste na combinao de um haleto de

arilo ou alcenilo, devidamente substitudo, com um ligeiro excesso de alceno e uma base,

geralmente uma amina, na presena do sistema cataltico Pd(0)/triarilfosfina, em atmosfera

inerte.4

A reaco de Heck catalisada por complexos de paldio com sistema de ligandos

de fsforo na esfera de coordenao ou fosfina livre. Os ligandos de fsforo so,

normalmente, usados para estabilizar os complexos de Pd(0) formados durante a reaco e

assim, prevenir a formao do paldio preto que considerado um catalisador inactivo.2

No entanto, em 1991, Cabri e colaboradores demonstraram que a utilizao de ligandos de

fosfina bidentados, tais como a DPPP e a DPPF, na reaco de triflatos de arilo com

olefinas deficientes em electres bem sucedida.5

Os catalisadores de paldio(0) necessrios neste tipo de reaco so obtidos

comercialmente ou ento, so preparados in situ a partir do precursor paldio(II). Como

exemplos de reagentes temos o PdCl2, Pd(OAc)2, Pd(acac)2, PdCl2(PPh3)26 que esto

disponveis comercialmente e so frequentemente usados como catalisadores na reaco de

Heck. No entanto, pode-se partir tambm, de fontes de Pd(0) tais como, Pd(dba)3,

Pd(PPh3)4 ou ainda o Pd em carvo.

Na reaco no necessria a presena de uma base muito forte, podendo ser a

Et3N, NaOAc, K2CO3 ou uma soluo aquosa de Na2CO3, sendo a Et3N a mais usada. Esta

base tem como funo neutralizar os protes acdicos resultantes do acoplamento e para

alm disso, tem um papel importante na diminuio da velocidade de reaco no passo

correspondente adio oxidativa. A temperatura de reaco varia consoante o haleto de

Captulo 1

Pgina | 7

arilo usado na reaco, sendo que os menos reactivos necessitam de temperaturas

superiores a 120C, sendo este o caso dos cloretos de arilo.7

Num estudo pioneiro, para a elucidao das possibilidades de promover a

actividade cataltica e a produtividade na reaco de Heck, Spencer8 em 1980, mostrou que

a arilao das olefinas com haletos de arilo activados pode ocorrer com menores

quantidades de catalisador se forem usados solventes aprticos, tais como, a DMF, HMPA,

DMA e NMP.7,9

1.2.1 Alternativa de Jeffery para a reaco de Heck

Em 1996, Jeffery determinou uma alternativa s condies convencionais da

reaco de Heck, que consistia num procedimento de transferncia de fase, onde a adio

de sais quaternrios de amnio levou a um aumento da reactividade e da selectividade,

quando comparado com o mtodo convencional de Heck.11-14

So necessrias condies

apropriadas para uma maior eficincia dos sais de tetralquilamnio. Estas condies

variam consoante a natureza da base usada. Assim, quando so usadas bases inorgnicas,

tais como KOAc e NaOAc, necessria a presena de gua, enquanto bases orgnicas, tais

como as aminas, requerem um meio anidro.10,12,13

O mecanismo proposto para explicar o

aumento da velocidade de reaco consiste no facto dos sais de tetralquilamnio

acelerarem a regenerao da espcie de paldio(0).10

1.2.2 A influncia dos substratos

Os substratos usados neste tipo de transformaes so compostos halogenados em

que a sua reactividade segue a seguinte ordem: I > Br >>> Cl. Podendo ser usada uma

grande variedade de haletos, necessrio ter em ateno que haletos de alquilo com

hidrognios na posio podem sofrer processos de eliminao e que os arenos fluorados

e clorados no so substratos usados com sucesso, uma vez que possuem reactividades

mais baixas que os respectivos derivados iodados e bromados.6,14,15

Captulo 1

Pgina | 8

Quando so usados haletos de arilo menos reactivos, como o caso dos cloretos, as

condies de reaco so mais agressivas, sendo necessria a presena de ligandos de

fosfina ricos em electres e estereamente impedidas, tais como, a P(t-Bu)3 e a P(ciclo-

hexil)3. Este aumento da reactividade deve-se a uma maior facilidade da adio oxidativa

do haleto de arilo ao centro de paldio rico em electres.15,16

Alguns estudos demonstraram que as reaces de iodetos de arilo catalisadas por

Pd(0) podem ocorrer na ausncia de ligandos de fosfina, uma vez que em alguns casos

ocorre a diminuio da velocidade da reaco ou ento, os rendimentos obtidos so

inferiores. No entanto, a reaco com brometos de arilo requer, geralmente, a presena de

ligandos de fosfina. Nestes tipos de reaco so formados sais de fosfnio pela reaco da

trifenilfosfina com este tipo de derivados iodados e bromados.17,18,19

Quando ambos os substituintes, iodo e bromo esto presentes no grupo arilo, a

catlise por Pd(OAc)2 selectiva para a posio iodada. O bromo pode reagir

subsequentemente com mais uma molcula de alceno se uma triarilfosfina for adicionada

ao catalisador Pd(OAc)2.20,21

A utilizao de triflatos de arilo e vinilo como substratos em reaces de Heck tem

sido cada vez mais frequente e uma vasta gama de reagentes tm sido estudados.

1.2.3 Mecanismo da reaco de Heck

Desde que foi desenvolvido por Heck, o mecanismo proposto para a reaco entre

um haleto de alquilo ou arilo e um alceno tem sido objecto de vrios estudos. No entanto, o

mecanismo normalmente aceite o representado no Esquema 2.22,23,24,25

Captulo 1

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R1X

R2

R1 R2

PPh3

Pd(II)

PPh3

X R1

Adio oxidativa

Coordenao e insero

Eliminao

Eliminao redutiva

Pr-activao

[Pd(PPh3)2]

[Pd(PPh3)3]

[Pd(PPh3)4]

-PPh3

-PPh3

PPh3

R2

H

R1PdPPh3X

R1Pd(PPh3)X

H

H

R2H

HPd(PPh3)X

H

R1R2

H

rotao interna

R2

R1

HPdPPh3X

[HPd(PPh3)2X]

base

base.HX

Esquema 2

O mecanismo inicia-se com a pr-activao do complexo de paldio, havendo a

reduo de Pd(II) a Pd(0). Esta uma espcie cataliticamente activa, insaturada com 14

electres e geralmente coordenada com ligandos deficientes em electres, que

normalmente gerada in situ.23

Os ligando mais eficientes nas reaces de Heck so os

ligandos de fosfina monodentados e bidentados e os derivados de 1,10-fenantrolina.23

Os catalisadores mais frequentemente usados em reaces de Heck so o Pd(OAc)2

e o Pd(Cl2)(PPh3)2, sendo estes reduzidos no meio reaccional a partir da oxidao dos

substratos, aminas, fosfinas, compostos organometlicos, etc.

Captulo 1

Pgina | 10

Quando utilizado um complexo de Pd(0), tal como, o

tetraquis(trifenilfosfina)paldio(0) este cataliticamente activado atravs de nova perda de

um ligando de fosfina ficando na forma de bis(trifenilfosfina)paldio(0) passando

directamente adio oxidativa sem sofrer reduo.

A reduo de Pd(II) a Pd(0) normalmente acompanhada pelo ciclo cataltico da

fosfina. A reduo acompanhada por nuclefilos duros, tais como os ies hidrxido,

alcxido e, em alguns casos ies fluoreto, na presena de gua.7 Assim, provavelmente o

nuclefilo ataca a fosfina coordenada, que pode ser vista como uma substituio

nucleoflica a um tomo de fsforo. Contrariamente ao que seria esperado, fosfinas dadoras

de electres seriam mais susceptveis a oxidao, neste processo, a presena de grupos

sacadores de electres na fosfina aumenta a velocidade da reaco, possivelmente porque o

ataque nucleoflico a um tomo de fsforo mais electroflico facilitado.7

Aps a formao in situ da espcie activada de Pd(0) ocorre ento a segunda etapa

do ciclo cataltico, que corresponde adio oxidativa do haleto de arilo ao complexo de

Pd(0). Existem vrias formas desta transformao ocorrer.

Excepto para o caso de alguns iodetos de arilo, a presena de ligandos necessria

para a adio oxidativa de RX ao complexo de paldio(0). Esta espcie tem carcter

nucleoflico e rica em electres e possui locais livres para que o electrfilo orgnico R-X

sofra adio oxidativa para originar o complexo intermedirio trans RPdXL2 onde o grupo

R (arilo ou vinilo) est ligado por uma ligao ao Pd(II). O ismero trans forma-se a

partir do ismero cis termodinamicamente menos estvel.26

A terceira etapa do ciclo cataltico a coordenao do alceno e a insero na

ligao Pd-arilo. Este passo determinante para a regio- e estereoqumica do produto

resultante. O processo de insero requer que o complexo metlico, o alceno e o

hidrognio constituam uma geometria co-planar. Assim, o processo de insero

estereosselectivo, ocorrendo uma adio-syn.23

O paldio forma um complexo com

alceno, aps a dissociao de trifenilfosfina e posteriormente por adopo de orientao cis

do alceno e dos ligandos arlicos ocorre a insero migratria. Assim, o alceno insere-se na

Captulo 1

Pgina | 11

ligao aril-paldio atravs de adio syn originando o complexo -alquilpaldio.2 A

adio de paldio ao alceno ocorre no carbono mais rico em electres sendo o grupo arilo

ligado ao carbono menos substitudo.23

Esta adio-syn pressupe a rotao da ligao

carbono-carbono da espcie -alquilpaldio, antes de ocorrer a eliminao .

O mecanismo de Heck normalmente aceite para a coordenao e insero sofreu

vrias alteraes a partir dos estudos desenvolvidos por Ozawa et al.27

e por Cabri e

Candiani.23

Estes estudos mostram um alargamento para o mecanismo (Esquema 3)

correspondente a esta transformao que consiste em duas vias, a via A e via B.25

PdPR3R3P

XAr

Pd+PR3R3P

ArPd+

PR3R3P

ArX-

R1

R3

R2

X-

PdPR3

PR3

XAr

PdPR3

XAr

PdPR3R3P

X

R3

R2 R1

PR3R1

Ar

R2R3

via A

via B

I II

Esquema 3

A via A envolve uma espcie catinica. Esta via consiste na dissociao do haleto

(triflato) do complexo ArPdL2 originando o complexo de Pd(II) catinico tri-coordenado

com 14 electres (I) e o contra-io X-. Posteriormente, por coordenao da olefina na

posio livre do complexo ArPdL2 resulta o complexo com 16 electres (II). Por insero

da olefina na ligao Pd-R1

ocorre o restabelecimento da ligao Pd-X originando o

complexo pretendido. Atravs desta via os ligandos bidentados quirais de fosfina

permanecem coordenados ao centro de paldio maximizando a sntese assimtrica na

formao do produto.23,25,28

No entanto, se for seguida a via B, inicialmente ocorre a dissociao de um dos

ligandos de fosfina resultando numa espcie neutra, a associao e complexao da olefina

Captulo 1

Pgina | 12

na posio livre origina o complexo neutro. Este, por insero do alceno na ligao Pd-R1 e

re-complexao do ligando de fosfina, origina tambm o complexo pretendido. A sada do

ligando de fosfina diminui a induo assimtrica.23,25

A natureza do halognio (ou triflato) no complexo de paldio pode ter tambm uma

funo determinante no mecanismo que seguido. Alguns estudos demonstraram que a

reactividade dos complexos catinicos e do complexo neutro so dependentes da natureza

electrnica do substrato alceno. Alcenos ricos em electres reagem mais rapidamente com

complexos de paldio catinicos e contrariamente, a reaco de substratos deficientes em

electres mais rpida quando so usados complexos de paldio neutros. Assim, devido

instabilidade da ligao Pd-OTf, as reaces que contm triflatos de arilo seguem a via

catinica uma vez que o triflato dissocia-se mais facilmente que a fosfina.23,29

A adio de

agentes removedores de halogneos, tais como sais de prata, leva captao dos haletos

formados possibilitando a substituio da ligao Pd-X por uma mais lbil. Assim, desde

que o X- seja removido do complexo de paldio temos o mecanismo catinico. Quando um

excesso de ies haleto adicionado espcie Pd-OTf seguida a via B desde que os ies

haletos retirem o triflato do centro do paldio, formando uma ligao mais forte Pd-X.23,25

O grupo de kermark30

tambm investigou o efeito do contra-io na

regiosselectividade da reaco de Heck. A reaco de uma espcie catinica de paldio

com alcenos ricos em electres resultou principalmente na formao de produtos de -

substituio, enquanto a -substituio predominante na reaco de Heck com substratos

pobres em electres.

A quarta etapa do ciclo cataltico consiste na eliminao de hidrognio , em

posio relativamente ao paldio, com formao de um novo complexo de paldio. A

eliminao do hidrognio estereosselectiva e ocorre de forma syn, e a sua eficincia

est relacionada dissociao da olefina do complexo hidrognio-paldio(II). A

eliminao um processo reversvel e a dissociao lenta pode determinar a formao de

vrios produtos devido isomerizao da dupla ligao. Pode-se evitar esta desvantagem

em reaces entre olefinas e haletos de arilo, adicionando sais de Ag(I) ou Tl(I).23

Captulo 1

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Como ltima etapa do ciclo cataltico temos a eliminao redutiva que consiste no

processo de regenerao do paldio(0). A presena de uma base necessria para a

transformao de L2Pd(H)X no complexo Pd(0)L2 inicial. A base diminui a velocidade de

reaco da adio oxidativa com R-X estabilizando o complexo aninico e acelerando o

passo determinante do ciclo cataltico, ou seja, a reaco da olefina com o complexo

RPd(OAc)(PPh3). Este duplo efeito da base favorece um ciclo cataltico mais eficiente uma

vez que faz com que todos os passos ocorram mesma velocidade. As bases mais usadas

so as trialquilaminas, tais como, a Et3N, iPr2NEt ou ento os sais inorgnicos AcONa,

K2CO3, etc. No entanto, tm sido obtidos bons resultados com as esponjas de protes e

os sais Ag(I) e Tl(I).23

1.2.4 Reaco de Heck sob irradiao com microondas

Du e Wang31

demonstraram que a irradiao com microondas pode promover

eficientemente a reaco de Heck usando o sistema cataltico Pd(OAc)2/K3PO4. O uso da

tecnologia de microondas tem como vantagens o facto de no ser necessria a presena de

um ligando ou de aditivo; a obteno de bons rendimentos;31

a reduo do tempo de

reaco (20-25min);32

e evita-se o uso de solventes txicos,33

podendo usar-se gua e no

sendo necessria uma atmosfera inerte. Em alguns casos possvel a reciclagem do

catalisador empregue.34

Captulo 2

Estudos precedentes em compostos do tipo (E,E)-cinamilidenoacetofenona

Captulo 2

Pgina | 15

As (E,E)-cinamilidenoacetofenonas so conhecidas como cetonas insaturadas e em

1895 foi reportada a sntese da cinamilidenoacetofenona no substituida.35

Desde ento,

tendo sido descrita a sntese e transformaes qumicas de vrios derivados,

nomeadamente pelo grupo de investigao do Prof. Silva.

2.1 Sntese de 3- e 2-estirilcromonas

Um dos primeiros estudos desenvolvidos data de 1997 e foi desenvolvido por Silva

et al36

e consiste na sntese de (E)-3-estirilcromonas a partir da oxidao das 4-alquil-2-

hidroxi-2-cinamilidenoacetofenonas. As (E,E)-4-alquil-2-hidroxi-2-cinamilidenoacetofe-

nonas (3) so obtidas a partir da condensao aldlica da 2-hidroxiacetofenona (1) e de

cinamaldedos (2) adequadamente substitudos. Posteriormente, sofrem rearranjo oxidativo

na presena de trinitrato de tlio(III), originando as 3-estirilcromonas (4) por tratamento do

intermedirio obtido com cido clordrico (Esquema 4).

OH O

CHO

R1

R2 OOH

R1R2

O

O

R1R2

+

a) R1=Me, R2=H b) R1=Me, R2=Cl c) R1=Et, R2=Cl

A: MeOH; NaOH/H2O; t.a.

B: 1. TTN; MeOH/TMOF; t.a.

2. HCl (aq.), refluxo

A B

(1) (2)(3) (4)

Esquema 4

Um ano depois o mesmo grupo conseguiu desenvolver um novo mtodo de sntese

de (E)-2-estirilcromonas (8m, 8n) a partir da ciclizao oxidativa de (E,E)-

cinamilidenoacetofenonas no substitudas nas posies vinlicas. No entanto, quando

temos um grupo alquilo na posio (5f-h) so obtidas as (E)- e (Z)-2-estirilcromonas (6f-

h) e (7f-h), respectivamente (Esquema 5).37

Captulo 2

Pgina | 16

O

O

O

O

O

O

OOH

R2R5 R4

R3

R1

R4

R2

R7

R6

R1

R2R5

R3 R4

DMSO/I2

(5)

(6) (7)

(8m) R6 = I; R7= H

(8n) R6 = H; R7 = I

R1 R2 R3 R4 R5 R1 R2 R3 R4 R5

a) H H H H H g) H Me H Cl H

b) H H Cl H H h) H Et H Cl H

c) H H H Cl H i) OBn H H H H

d) H H Cl Cl H j) OBn Me H H H

e) H H Cl H Cl k) OBn Hexil H H H

f) H Me H H H l) OBn Me H t-Bu H

Esquema 5

Ambos os estudos demonstram a importncia das (E,E)-2-hidroxicinamilidenoa-

cetofenonas como precursores na sntese de anlogos das (E)- e (Z)-2- e (Z)-3-estirilcro-

monas. As 2-estirilcromonas encontram-se na natureza e tm sido intensamente estudados

devido s suas potenciais aplicaes na indstria farmacutica, principalmente como

agentes citotxicos, anti-cancergenos, antitumorais e anti-alrgicos.38,39,40

Captulo 2

Pgina | 17

2.2 Transformaes em pirazolinas e/ou pirazis

Para alm das transformaes anteriores, tambm foi estudada a cicloadio 1,3-

dipolar de diazometano s (E,E)-cinamilidenoacetofenonas para a sntese de 2-pirazolinas

(10) que depois por oxidao originam 3(5)-benzol-4-estirilpirazis (11) (Esquema 6). A

sntese destes compostos importante uma vez que podem ser usados como precursores na

sntese de anlogos de cizorlitina. A cizorlitina um analgsico forte obtido como mistura

racmica a partir da reduo do 3-benzopirazol apropriado.41

O O

NHN

O

NHN

(9) (10)(11)

A B

A: CH2N2, CH2Cl2/ ter dietlico

B: Cloranil, tolueno

40-58% 60-95%

Esquema 6

Para alm dos pirazis, tambm as pirazolinas apresentam actividade biolgica, tal

como actividade antitumoral, antifngica, antiviral, antituberculose e tambm como um

agente insecticida42

, o que torna a sua sntese um objecto de estudo importante.

Silva et al43

desenvolveram tambm um novo mtodo de sntese de 1-acetil-3-aril-

5-estiril-2-pirazolinas (13a-j) e 3-aril-5-estiril-1-fenil-2-pirazolinas (14a-j) a partir da

reaco de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas com hidrato de hidrazina e fenil-hidrazina,

respectivamente (Esquema 7). Posteriormente, estes compostos foram oxidados com

cloranil originando os respectivos pirazis, mtodo desenvolvido anteriormente pelo

mesmo grupo.

Captulo 2

Pgina | 18

O

R3

R2

R1

R1

R2R3

N N

O

HH H

R1

R2R3

N N

HH H

H2NNH2MeCOOH

PhNHNH2MeCOOH

a: R1=R2=R3=H; b:R1=R3=H, R2= Me; c: R1=R3=H, R2= OMe;

d: R1=R3=H, R2=F; e: R1=R2=H, R3=Cl; f: R1=R3=H, R2=Br;

g: R1=OH, R2=R3=H; h: R1=OH, R2= Me, R3=H;

i: R1=OH, R2= H, R3=F; j: R1=OH, R2=H, R3=Cl;

(12a-j)

(13a-j)

(14a-j)

Esquema 7

Como continuao dos estudos efectuados anteriormente, Lvai44

verificou que a

reaco de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (15-21) com hidrato de hidrazina em cido

propinico origina a 3-aril-5-estiril-1-propionil-2-pirazolinas (22-28) em bom rendimento

(Esquema 8).

O

R

N N

Et

O

RH H

H2NNH2EtCOOH

15, 22: R=H

16, 23: R=4-Me

17, 24: R=4-OMe

18, 25: R=4-F

19, 26: R=4-Cl20, 27: R=2-OH21, 28: R=2OH, 5-Cl

(15-21)

(22-28)

Esquema 8

No entanto, as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (29-33) reagem tambm com a 4-

carboxifenil-hidrazina originando as 3-aril-1-(4-carboxifenil)-5-estiril-2-pirazolinas (34-

38), em bons rendimentos (Esquema 9).44

Captulo 2

Pgina | 19

O N N

H H

COOH

R R

HOOC-Ph-NHNH2MeCOOH

29, 34: R=H

30, 35: R=Me

31, 36: R=OMe

32, 37: R=F

33, 38: R=Cl

(29-33)

(34-38)

Esquema 9

2.3 Sntese de 4-aril-2-estiril-2,3-di-hidro-1,5-benzotiazepinas a partir da

reaco da (E,E)-cinamilidenacetofenonas com 2-aminotiofenol e a sua

converso em 3-acetil-2-aril-2,3-di-hidrobenzotiazis 2,2-disubstituidas

Em 2004 Lvai45

estudou a reaco das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas com 2-

aminotiofenol (39), em etanol e cido actico, tendo obtido as 4-aril-2-estiril-2,3-di-hidro-

1,5-benzotiazepinas (46-51). Estas, por sua vez, em condies de acetilao sofrem

contraco do anel originando os 3-acetil-2-aril-2,3-di-hidrobenzotiazis 2,2-disubstitudos

(52-57) (Esquema 10).

As benzodiazepinas apresentam uma importante actividade biolgica, um dos

exemplos a clozapina que usada como agente anti-psictico, tal como a quetiapina e a

clotiapina.46

Captulo 2

Pgina | 20

SH

NH2

O

R

N

S

N

S

Ac

+

40, 46, 52: R=H41, 47, 53: R=Me42, 48, 54: R=OMe43, 49, 55: R=F44, 50, 56: R=Cl45, 51, 57: R=Br

(39) (40-45) (46-51)(52-57)

A

A: anidrido actico (10 mL), piridina (5 mL), 80C, 7h

R

R

Esquema 10

2.4 Estudos de epoxidao

A epoxidao das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas tambm tem sido estudada pelo

grupo nosso grupo de investigao. Assim, durante os estudos de epoxidao verificaram

que as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (58a-f) sofrem oxidao originando misturas

diastereomricas de ,:,-diepxidos (59a-f) quando usado um excesso de

dimetildioxirano.47

No entanto, quando usado um equivalente de DMD podem ser

obtidos os ,-monoepxidos (60c,d) como compostos minoritrios (Esquema 11).

O

O

O

O O

O

R

R

R

DMD

DMD

(58a-f)

(59a-f)

(60c,d)

a) R=H b) R=Me c) R=OMe d) R=F e) R=Cl f) R=Br

Esquema 11

Captulo 2

Pgina | 21

A oxidao de (E,E)-2-hidroxicinamilidenoacetofenonas (61a-d) com o

dimetildioxirano leva formao de uma mistura diastereomrica dos diepxidos ,:,

(63a-d) e tambm como produtos minoritrios os monoepxidos , (62a-d). Os

diepxidos so depois transformados nos derivados de cumaranonas (64a-d) (Esquema 12)

durante a sua purificao por cromatografia em slica provavelmente devido ao carcter

acdico da slica. Este facto deve-se labilidade destes epxidos que facilmente ciclizam.

Apenas se verifica a formao dos monoepxidos (62a-d) a parir das (E,E)-2-

hidroxicinamilidenoacetofenonas uma vez que a ligao de hidrognio aumenta a

reactividade da ligao , com DMD.47

O

OHR1

R2

O

OHR1

R2

O

O

OH

OR2

R1

O

OHR1

R2O O

O

DMD

DMD

DMD

(61a-d)(62a-d)

(63a-d) (64a-d)

a) R1 = R2 = H; b) R1 = Me, R2= H; c) R1 = H, R2 = F; d) R1 = H, R2 = Cl

Esquema 12

Posteriormente, Silva et al48

verificaram a epoxidao assimtrica das (E,E)-

cinamilidenoa- cetofenonas na presena do catalisador de Jacobsen (65) e dos oxidantes

perxido de hidrognio e iodosilbenzeno. As (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (66a-g) so

epoxidadas, sendo obtidos os ,-monoepxidos (67a-f) e uma mistura diastereomrica de

,:,-diepxidos (68a,c-g). A formao dos monoepxidos pode dever-se ao carcter

electroflico da ligao dupla :, uma vez que os complexos de salen-MnIII

demonstram

maior afinidade para ligaes com elevada densidade electrnica.

Captulo 2

Pgina | 22

N

Mn

N

OO Cl

tBu

But tBu

But

H H

(65)

No entanto, para o caso da (E,E)-4-nitrocinamilidenoacetofenona (66d) verifica-se

a formao do ,-monoepxido (69d), que no isolvel devido ao efeito do sacador de

electres do grupo nitro que sobrepe o efeito do grupo carbonilo tornando a ligao dupla

, mais nucleoflica (Esquema 13).

O O

O O

O

R1 R2

R1 R2 R1

R1 R2

R1 R2

O

H

H

O OH H

H H

O

H

H

O

H

H O

H

H

A

B

(68a,c-g)

diasteremero B(68a,c-g)

diasteremero A

A: catalisador 4, 1 MeIm, H2O2, MeOH/CH2Cl2 (1:1)

B: catalisador 4, PyNO, MeCN

a: R1=R2=H; b: R1=H, R2=OMe; c: R1=H, R2=Me; d: R1=H, R2=NO2e: R1=OMe, R2=H; f: R1=Me, R2=H; g: R1=NO2, R

2=H; h: R1=H, R2=OH;

(66a-g)(67a-f)

(69d)

Esquema 13

Captulo 2

Pgina | 23

O mesmo grupo estudou a epoxidao das (E,E)-2-hidroxicinamilidenoacetofeno-

nas, tendo obtido os ,-monoepxidos e tambm as (E)-2,3-trans-3-hidroxi-2-estiril-4-

cromanonas, que resultam da ciclizao in situ da 2,3-epoxi-1-(2-hidroxifenil)-5-fenil-4-

penteno-1-onas (Esquema 14).

No estudo de epoxidao de (E,E)-4-metilcinamilidenoacetofenonas verificaram,

que a presena do grupo metilo na unidade vinlica permite a formao dos diasteremeros

dos ,-monoepxidos (73) e (74) (Esquema 14).48

OR1

R2

OOH

OH

H O

O

OH

OR1

OMe

H O

H

R1

OMe

O

O

OH

Me

OOH

O

H

H R2

R1=OH, R2=H

+

+ +

(75) (apenas quando

R1=OH)

R1=H, OH

R2=Me

(70)

(71)(72)

(73)(74)

(76)

Esquema 14

Captulo 2

Pgina | 24

2.5 Adio de nitrometano a (E,E)-cinamilidenoacetofenonas

As (E,E)-cinamilidenoacetofenonas j foram sujeitas a estudos de adio conjugada

com diferentes nuclefilos, tendo sido os resultados estendidos a outros tipos de sistemas

conjugados.49

Esta literatura refere que a adio conjugada ocorre sempre num processo de

adio 1,4. Kohler e Butler49b

tambm demonstraram a importncia do grupo carbonilo na

selectividade 1,4.

Salvador50

realizou um estudo de adio conjugada de nitrometano a derivados de

(E,E)-cinamilidenoacetofenonas (77a-f) na presena de DBU obtendo o produto resultante

da adio conjugada, as (E)-1,5-diaril-3-nitrometil-4-penteno-1-onas (78a-f) (Esquema

15).

O

R

R1

R2R3

O

R

R1

R2R3

NO2

CH3NO2

DBU

(77a-f)(78a-f)

a: R=R1=R2=R3=H

b: R=R1=R3=H; R2=Me

c: R=R1=R2=H; R3=OMe

d: R=R1=R2=H; R3=NO2

e: R1=R2=R3=H; R=Me

f: R=R2=R3=H; R1=OH

Esquema 15

As condies de reaco usadas permitiram a obteno dos compostos (78a-f) em

rendimentos moderados. A reaco totalmente regiosselectiva e apenas os produtos

resultantes da adio 1,4 so obtidos, mesmo no caso dos substratos (77d) que apresentam

grupos sacadores de electres na posio 4 do anel B. Apenas a 2-hidroxicinamilidenoa-

cetofenona (77f) se mostrou pouco reactiva nestas condies.50

Como continuao do estudo anterior, Pereira51

optimizou as condies

desenvolvidas anteriormente por Salvador50

, obtendo assim, melhores rendimentos de

Captulo 2

Pgina | 25

(80a-f) na presena de 20 mol% de DBU e usando como solvente a mistura

MeCN/CH3NO2 (1:1), temperatura ambiente (Esquema 16). Estas condies foram

tambm aplicadas aos derivados de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas incluindo as 2-

hidroxicinamilidenoacetofenonas.

OR1

R2

OR1

R2

NO2

DBU (20mol %)

MeCN/CH3NO2, t.a. (97%)

(79a-f)(80a-f)

a: R1=R2=H

b: R1=OH; R2=H

c: R1=H; R2=OMe

d: R1=H; R2=NO2

Esquema 16

Embora, as cetonas ,,,-insaturadas originem exclusivamente produtos

resultantes da adio 1,4, as caractersticas electrnicas destes sistemas policonjugados

podem ser modulados alterando a funo cetnica com um grupo sulfonilimina. Neste caso

a regiosselectividade da reaco alterada e a adio de nitrometano, catalisada por base,

origina o produto da adio-1,2 (81a, 82a, 83a) (com perda do grupo sulfonamida), o

produto da adio 1,4 cetona insaturada (80a, 80c, 82d), o produto da bis-adio 1,2- e

1,4- (81b, 82b, 83b) (com perda do grupo sulfonamida) e a ena-mina resultante da adio

1,6 (81c, 82c, 83c) numa razo 12:14:14:60 (Esquema 17).

Captulo 2

Pgina | 26

NN

OS

O

R1 R2

R1 R2

NO2

R1 R2

NO2O

R1 R2

NO2 NO2

NH

R1 R2

O

SONO2

DBU (4 x mol %)

CH3NO2 (50 eq.)

THF, t.a., 2h

81: R1=R2=H

82: R1=CN, R2=H

83: R1=H; R2=OCH3

84: R1=H; R2=NO2

(81a, 82a, 83a)

(80a, 80c, 82d)

(81b, 82b, 83b)

(81c, 82c, 83c)

Esquema 17

O estudo do efeito dos substituintes na regiosselectividade desta reaco

demonstrou que substratos com substituintes arilo mais electroflicos no grupo sulfonilo

(2-piridilo e 8-quinolilo em vez de p-tolilo) aumenta ligeiramente o rendimento dos

produtos resultantes da adio 1,6 mas no se verifica o aumento da regiosselectividade.51

Captulo 2

Pgina | 27

2.6 Objectivos

Considerando o interesse das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas como precursores na

sntese de compostos com potencial actividade biolgica, tais como as (Z)- e (E)-2-

estirilcromonas, o objectivo geral deste trabalho estudar a reactividade das (E,E)-

cinamilidenoacetofenonas nas condies da reaco de Heck tendo em conta o efeito de

grupos substituintes no anel B das dienonas; o efeito de grupos dadores de electres no

iodobenzeno; o efeito de diferentes condies de aquecimento: condies clssicas e

irradiao com microondas e comparar as condies gerais da reaco de Heck com as

condies de Jeffery.

Captulo 3

Reactividade de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas em reaces de Heck

Captulo 3

Pgina | 29

3.1 Mtodo de sntese de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas

Em termos de nomenclatura os compostos do tipo (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9)

tm sido considerados como derivados de acetofenonas. O anel A numerado de 1 a 6 e

o anel B de 1 a 6 e o sistema de numerao o indicado na estrutura (9).40

O

1'2'

3'

4'5'

6'

12

3

4

56

A B

(9a-d)

R

As (E,E)-cinamilidenocetofenonas (9a-d) usadas como reagentes de partida do

presente estudo foram sintetizadas atravs da condensao aldlica do cinamaldedo,

apropriadamente substitudo, com acetofenona em metanol, temperatura ambiente,

atravs do mtodo anteriormente optimizado (Esquema 18).52,53

As dienonas foram obtidas

como slidos cristalinos amarelos em bons rendimentos.

CHO

O O

1 ou 2

1. MeOH, NaOH/H2O, 20 h, t. a.2. THF seco, NaH, 12 h, t. a.

(9a-d)

a) R=H, b) Me, c) OMe, d) NO2

R

+

R

Esquema 18

Os cinamaldedos usados na sntese das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (9b-d) no

esto comercialmente disponveis e tm de ser preparados pelo mtodo descrito por Cacchi

et al.54

Os p-metil, p-metoxi e p-nitrocinamaldedos foram obtidos em bons rendimentos

atravs da reaco do bromobenzeno apropriadamente substitudo com a acrolena diacetal,

catalisada por Pd(OAc)2, em DMF a 90C (Esquema 19).

Captulo 3

Pgina | 30

R

Br

O

O H

O

R

+

n-Bu4NOAc, K2CO3, KCl

Pd(OAc)2 (3 mol%)

DMF, 90C

b) R= Me, c) OMe, d) NO2

Esquema 19

3.2 Estudos da reaco de Heck

Nas ltimas dcadas, a reaco de olefinas com haletos de arilo ou vinilo catalisada

por paldio (reaco de Heck) tornou-se um mtodo eficiente em sntese orgnica para a

formao de ligaes carbono-carbono (ver Captulo 1). No presente trabalho, esta envolve

a utilizao de catalisadores de paldio, em reaces do tipo Heck, em que as olefinas so

as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas (9a-d) e o derivado iodado o iodobenzeno.

Cacchi9 fez estudos da reaco de Heck em compostos carbonlicos ,-

insaturados, tendo verificado que ocorria a adio do grupo arilo ao carbono mais

deficiente em electres. Assim, decidiu-se aplicar a mesma metodologia a sistemas mais

complexos, que possuem duas duplas ligaes conjugadas.

3.2.1 Estudos da reaco de Heck das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas com

o iodobenzeno

Comeou-se ento por aplicar o mtodo de Cacchi et al9 para a adio conjugada

(E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a), em que se utiliza o acetato de paldio(II) e

trietilamina na presena de cido frmico (Tabela 1).

Captulo 3

Pgina | 31

Tabela 1 Estudo de adio conjugada de iodobenzeno a (E,E)-cinamilidenoacetofenonas

nas condies desenvolvidas por Cacchi9

Catalisador Base Solvente cido T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

1 Pd(OAc)2 Et3N NMP 100 Condies

clssicas 24h

2 Pd(OAc)2 Et3N MeCN HCOOH 100 Condies

clssicas 72h

3 Pd(OAc)2 Et3N MeCN HCOOH 100 Microondas 1h

4 Pd(Cl2)(PPh3)2 Et3N MeCN 100 Microondas 1h

Iniciou-se este estudo utilizando a (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a) e um

excesso de iodobenzeno, na presena de acetato de paldio(II) e trietilamina e usando a N-

metil-2-pirrolodona (NMP) como solvente. Aps 24 horas a 100C no foi possvel isolar

qualquer produto (entrada 1, tabela 1), recuperando alguma quantidade da dienona de

partida. Decidiu-se ento adicionar ao meio reaccional cido frmico e aps mais 24 horas

de aquecimento no se detectou qualquer alterao. Como a dienona permanecia inalterada

no meio reaccional, fez-se uma nova adio do derivado iodado, catalisador, base, cido

frmico e tambm de ligando de fosfina. No entanto, ao fim de 72 horas de reaco no se

verificou nenhuma alterao. A alterao das condies de aquecimento no provocou,

tambm nenhuma alterao nos resultados anteriormente obtidos.

De forma a completar o estudo da reactividade das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas

(9a-d) nestas condies fez-se a reaco da calcona (84) nas condies de Cacchi et al9,

excesso de iodobenzeno na presena de acetato de paldio(II) e fosfina, trietilamina, cido

frmico e usando como solvente a DMF, a 80C (Esquema 20). Aps 6 horas de reaco

analisou-se o meio reaccional por tlc, tendo-se verificado a presena de trs compostos

distintos. Terminou-se ento a reaco e purificou-se a mistura reaccional por

cromatografia em coluna de slica gel, tendo sido obtidos trs compostos distintos. A

anlise de RMN de 1H, HSQC e HMBC demonstrou que se estava na presena do produto

resultante da reaco de adio na posio (25%) (85) e dos ismeros cis e trans da

calcona (86) (Esquema 20).

Captulo 3

Pgina | 32

O

I

OO O

+

Et3N, Pd(OAc)2(PPh3)2HCOOH, DMF, 80C

(84)

(85) (84) (86)

+ +

Esquema 20

Este resultado permitiu-nos concluir que as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas,

compostos carbonlicos ,:,-insaturados, no so compostos reactivos em condies de

adio quando comparados com compostos carbonlicos ,-insaturados uma vez que no

obtido nenhum produto de reaco. Uma possvel explicao para esta diferena de

reactividade ser o facto de as (E,E)-cinamilidenoacetofenonas possurem um sistema

vinlico conjugado que as torna mais estveis nestas condies reaccionais. Assim,

decidiu-se alterar as condies reaccionais e estudar a reactividade destes compostos (9a-

d) em condies de substituio a partir da reaco de Heck.

Um estudo realizado por Jeffery10

com as reaces de Heck, utilizando sais de

tetrabutilamnio para alcenos semelhantes, demonstrou que este sal permite um aumento

da reactividade atravs da acelerao da regenerao da espcie de paldio(0). Assim,

desenvolveu-se um estudo em que se utilizou o catalisador de paldio e o sal de amnio em

meio bsico (Tabela 2).

Assim, a uma soluo de (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a) em NMP adicionou-

se um equivalente de iodobenzeno, 0.05 equivalentes de catalisador de paldio, 2.5

equivalentes de acetato de potssio e um equivalente de brometo de tetrabutilamnio. Aps

40 horas de reaco a 60C analisou-se a reaco por tlc e verificou-se que ainda havia

reagente de partida e um produto de maior Rf (Tabela 2, entrada 1). No entanto, como no

Captulo 3

Pgina | 33

meio reaccional ainda se encontrava reagente de partida decidiu-se adicionar ao meio

reaccional iodobenzeno, catalisador, base e sal de amnio. Aps 105 horas em refluxo

terminou-se a reaco e purificou-se a mistura reaccional por cromatografia em placa de

slica gel e obteve-se exclusivamente a cinamilidenoacetofenona -substituda (87a), com

um rendimento de 4% (Esquema 21).

O

I

O

+

(9a) (87a)

Esquema 21

A anlise dos espectros de RMN de 1H, HSQC e HMBC permitiram concluir que se

estava na presena do produto resultante da substituio na posio (87a).

Ao alterar a temperatura da reaco para 170C (Tabela 2, entrada 2) verificou-se

que ao fim de 4 horas havia a formao do produto da substituio (87a), no entanto, a

dienona e o iodobenzeno continuavam a ser os constituintes maioritrios do meio

reaccional. Assim, adicionou-se 0.025 equivalentes de acetato de paldio(II) e 0.5

equivalentes de brometo de tetrabutilamnio, na tentativa de consumir o restante material

de partida ainda presente no meio reaccional. Aps 43 horas de reaco verificou-se, por

tlc, que o meio reaccional permanecia inalterado. Terminou-se ento a reaco,

verificando-se a formao do produto pretendido com rendimento de 13%. O aumento do

tempo de reaco e as alteraes das condies de aquecimento levaram a rendimentos

mais baixos, provavelmente devido degradao dos reagentes de partida e do produto da

reaco (Tabela 2, entrada 3 e 4).

Posteriormente, repetiu-se a reaco na ausncia do sal de tetrabutilamnio. Ao

contrrio dos resultados obtidos por Jeffery,10

os rendimentos obtidos foram superiores,

uma vez que, para alm da recuperao do material de partida, obteve-se o produto da

substituio (87a) com rendimento de 20% (Tabela 2, entrada 5), no se verificando a

Captulo 3

Pgina | 34

proporcionalidade do sal de amnio em relao quantidade de produto obtido.

Complementando a anlise anterior, verificou-se que os rendimentos obtidos aps 24 horas

de reaco so superiores e consegue-se recuperar maior quantidade de material de partida.

Tabela 2 Estudo da reaco de Heck da (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a) com

iodobenzeno nas condies desenvolvidas por Jeffery

Catalisador/

ligando Base Solvente

Sal de

amnio T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(87a) %

1 Pd(OAc)2 KOAc NMP n-BuNBr 60 Condies

clssicas 105h 4

2 Pd(OAc)21 KOAc NMP n-BuNBr 170

Condies

clssicas 43h 13

3 Pd(OAc)22 KOAc NMP n-BuNBr 170

Condies

clssicas 96h 0,3

4 Pd(OAc)2 KOAc NMP n-BuNBr 170 Microondas 2h 9

5 Pd(OAc)2 KOAc NMP 60 Condies

clssicas 24h 20

1 Foram adicionados mais 0.025 equivalentes de catalisador e 0,5 equivalentes de brometo

de tetrabutilamnio durante a reaco.

2 Foram adicionados mais 0.025 equivalentes de catalisador no decorrer da reaco.

Posteriormente, foram utilizados outros catalisadores e outros ligandos (Tabela 3)

de forma a melhorar o rendimento da sntese de (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-

ona (87a) mas revelaram-se menos eficientes do que as condies apresentadas na tabela 2,

sendo que no caso dos catalisadores com ligandos de fosfina no ocorre a formao do

produto pretendido ( Tabela 4, entradas 2 e 3).

Captulo 3

Pgina | 35

Tabela 3 Efeito dos diferentes catalisadores na sntese de (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a)

Catalisador/ligando Base Solvente T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(87a) %

1 Pd(OAc)2/KCl KOAc NMP 60 Condies

clssicas 24h 20

2 Pd(OAc)2/(PPh3) KOAc NMP 60 Condies

clssicas 24h -

3 Pd(OAc)2(p-toluil) KOAc NMP 60 Condies

clssicas 24h -

Estes resultados esto de acordo com os estudos efectuados por Heck,17

que

verificou que a presena de ligandos de fosfina, tais como, trifenilfosfina e p-tolilfosfina

diminui a velocidade de reaco e inibe a formao do produto pretendido. Uma possvel

explicao ser o impedimento estereoqumico provocado pelos grupos volumosos de

fosfina. Posteriormente, fez-se o estudo da influncia do solvente no produto obtido

(Tabela 4).

Tabela 4 Optimizao da sntese de (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona (87a)

usando DMF como solvente

Catalisador/ligando Base Solvente T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(87a) %

1 Pd(OAc)2 KOAc DMF 60 Condies

clssicas 24h 22

2 Pd(OAc)2 KOAc DMF 100 Condies

clssicas 24h 14

3 Pd(OAc)21 KOAc DMF 60

Condies

clssicas 24h 8

4 Pd(OAc)2 KOAc DMF 60 Microondas 2h 13

5 PdCl2 KOAc DMF 60 Condies

clssicas 24h 8

6 Pd(PPh3)4 KOAc DMF 60 Condies

clssicas 24h 4

7 PdCl2(PPh3)2 KOAc DMF 60 Condies

clssicas 24h 5

1 0,1mmol de Pd(OAc)2 iniciais.

Captulo 3

Pgina | 36

Verificou-se ento que a reaco em DMF origina a (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a) (Tabela 4, entrada 1) com rendimento de 22%, superior ao obtido

com NMP (Tabela 2, entrada 5). De seguida fez-se um novo estudo dos catalisadores,

verificando-se novamente que o mais eficiente o acetato de paldio(II), sendo que

catalisadores com ligandos de fosfina se mostraram novamente menos eficientes.

Para alm dos catalisadores com ligandos de fosfina estudou-se o efeito do

catalisador com diferente anio coordenado ao metal, tendo-se verificado que tambm este

no origina o produto de substituio com melhores rendimentos (Tabela 3, entrada 1).

Este resultado vem corroborar os estudos efectuados por Amatore,18

onde concluram que a

reactividade dos complexos aninicos de paldio(0) na adio oxidativa com iodetos de

arilo depende fortemente do anio ligado ao paldio(0). Assim, uma vez que o complexo

resultante do catalisador de PdCl2, ArPdICl-, mais estvel que o complexo resultante do

Pd(OAc)2, ArPdI(OAc)-, vai originar mais lentamente o complexo trans-ArPdI,

diminuindo assim, a velocidade da reaco catalisada por PdCl2. Alm disso, os ies

acetato podem participar no passo de eliminao, favorecendo a sada do paldio do

intermedirio da adio complexo -alquilpaldio atravs do simples ataque intramolecular

do io acetato, ligado ao paldio, ao hidrognio .55

Captulo 3

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3.2.1.1 Consideraes mecansticas

O mecanismo proposto para esta transformao o representado no Esquema 22.

Pd(0)

Adio oxidativa

Coordenao e insero

Eliminao

Pr-activao

[Ph-Pd(II)-I]

I Ph

O

PhR

R

Ph

O

[Ph-Pd(II)-I]

Ph

Ph

O

R

Pd(II)-I

H

HH

Ph

O

Ph

Pd(II)-I

R

H

Ph

O

R

Ph

[HPd(II)-I]

Ph

O

R

Ph[HPdI]

rotao interna

Pd(OAc)2

KOAcKOAc + HI

R: -CH=CH-Ph

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

(F)

(G)

Esquema 22

O mecanismo inicia-se com o passo da pr-activao, onde a espcie de paldio(II)

reduzida a paldio(0). Posteriormente, ocorre a adio oxidativa do paldio na ligao

Ph-I, formando a ligao carbono-paldio (intermedirio B), uma vez que estamos a usar

Captulo 3

Pgina | 38

um iodeto como haleto no necessria a presena de fosfinas no meio reaccional. De

seguida, o paldio forma um complexo com a (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a),

intermedirio C. Este intermedirio, por rotao interna, adopta a orientao cis necessria

para a insero migratria. Aqui, a (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a), por adio syn

insere-se na ligao arilpaldio originando o intermedirio D. Na adio dupla ligao

o paldio liga-se ao carbono mais rico em electres, neste caso o carbono , e o grupo

fenilo ao carbono mais deficiente em electres (carbono ), ocorrendo sempre de forma

sinestrea. Esta insero-syn pressupe uma rotao interna da ligao carbono-carbono da

espcie -alquilpaldio entretanto formada originando o intermedirio E, antes que possa

ocorrer a eliminao do hidrognio . Seguidamente, ocorre a eliminao de um

hidrognio que se encontra em posio relativamente ao paldio com formao de um

novo complexo paldio-carbono, intermedirio F. Este processo ocorre de forma syn,

sendo muito eficiente devido dissociao da olefina (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a)

do complexo paldio(II)-hidrognio. O complexo F devido sua instabilidade colapsa

dando origem nova olefina, (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona (87a), e ao

complexo HPd(II)I, intermedirio G. Para terminar o ciclo, ocorre eliminao redutiva do

composto de Pd(II) para a regenerao da espcie de paldio(0) (intermedirio A).

Como continuao do nosso estudo, depois de encontradas as condies ptimas

para a sntese de (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona (87a), estudou-se o efeito de

substituintes dadores e sacadores de electres no anel B da (E,E)-cinamilidenoacetofenona

(9a) (Esquema 23). Assim, aplicando as condies ptimas encontradas anteriormente aos

outros derivados de (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9b-d) obtiveram-se os resultados

apresentados na Tabela 5.

O

I

O

+

(9b-d) (87b-d)

RR

Esquema 23

Captulo 3

Pgina | 39

Tabela 5 Efeito dos grupo substituintes no anel B da (E,E)-cinamilidenoacetofenona

(9b-d) na reaco de Heck com iodobenzeno

Catalisador Base Solvente

Sal de

amnio T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(87b-d) %

1 9b Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 80 Condies

clssicas 24h 4

2 9c Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 100 Condies

clssicas 24h 7

3 9d Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 60 Condies

clssicas 24h -

Iniciou-se este estudo usando a (E,E)-4-metilcinamilidenoacetofenona (9b) com um

equivalente de iodobenzeno, 0.05 equivalentes de acetato de paldio(II) e 2.5 equivalentes

de KOAc. Aps 24 horas de reaco a 60C fez-se um tlc da reaco e verificou-se a

presena de um novo composto. No entanto, aps vrias tentativas de purificar o composto

verificou-se que o rendimento do produto obtido era muito baixo, no permitindo a sua

caracterizao. Assim, numa tentativa de melhorar os resultados anteriores decidiu-se

aumentar a temperatura de reaco. Repetiu-se ento, as mesmas condies reaccionais

mas a 80C, no se tendo verificado nenhuma alterao. Numa nova tentativa testou-se a

presena do sal de amnio. Aps 24 horas terminou-se a reaco e purificou-se por

cromatografia em slica gel tendo-se obtido a (E,E)-4-metilcinamilidenoacetofenona

substituda (87b) com rendimento de 4%. A anlise do espectro de RMN de 1H permitiu-

nos concluir que tnhamos o produto resultante da substituio na posio (87b).

Aplicando o mesmo procedimento aos restantes derivados verificmos que os

resultados obtidos eram diferentes. Na reaco da (E,E)-4-metoxicinamilidenoacetofenona

(9c) verifica-se a formao do produto da substituio (87c) com rendimento

ligeiramente superior (Tabela 5, entrada 2), indicando que o aumento da densidade

electrnica na zona aliftica resultante da presena do grupo dador de electres no anel B

da (E,E)-cinamilidenoacetofenona favorece a reaco de substituio.

Captulo 3

Pgina | 40

O mesmo procedimento foi aplicado (E,E)-4-nitrocinamilidenoacetofenona (9d),

no entanto, no final de 24 horas de reaco verificou-se que o meio reaccional apenas

continha reagente de partida, o aumento de temperatura e o aumento do tempo de reaco

no alteraram os resultados obtidos. Pode-se ento dizer que a presena do grupo sacador

de electres nitro diminui a densidade electrnica da zona aliftica da molcula tornando a

(E,E)-4-nitrocinamilidenoacetofe-nona (9d) ainda menos reactiva.

3.2.2 Estudo da reaco de Heck das (E,E)-cinamilidenoacetofenonas com

4-iodoanisol

Depois de estudado o efeito dos substituintes no anel B da dienona, fez-se o estudo

do efeito de um substituinte dador de electres no iodobenzeno (Esquema 24), os

resultados esto expressos na Tabela 6.

Refluxou-se, ento a (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a) com um equivalente 4-

iodoanisol em DMF a 60C na presena 0,05 equivalentes de Pd(OAc)2 e 2,5 equivalentes

de acetato de potssio. Passadas 24 horas de reaco terminou-se a reaco, e por tlc

verificou-se que no meio reaccional havia reagente de partida e um novo composto, no

entanto decidiu-se terminar a reaco. Aps vrias tentativas de purificao verificou-se

que no era possvel isolar o produto da reaco (Tabela 6, entrada 1), uma vez que o

rendimento obtido era muito baixo.

Assim, repetiu-se o mesmo procedimento na presena de um equivalente de acetato

de tetrabutilamnio durante 24 horas. Depois de purificado o resduo obtido isolou-se o

produto, e por anlise de RMN de 1H, HSQC e HMBC verificou-se a presena do produto

resultante da substituio na posio (88a). Comparando os resultados obtidos (Tabela 6)

com os da Tabela 4, no se verifica nenhuma alterao no rendimento obtido. Este

resultado contraria o estudo efectuado por Cacchi9, onde se verificou que a presena de

grupo substituintes dadores de electres no iodobenzeno provoca um aumento no

rendimento obtido do produto da substituio.

Captulo 3

Pgina | 41

O

I

O

+

(9a) (88a)OMe

OMe

Esquema 24

De forma a completar o nosso estudo, experimentaram-se vrios catalisadores no

sentido de optimizar as condies de reaco, tais como, PdCl2(PPh3)2, PdCl2 e o

tetraquis(trifenifosfina)paldio(0), no entanto, no se verificou nenhuma alterao nos

resultados obtidos.

Tabela 6 Estudo da adio conjugada de iodoanisol em reaces de Heck com (E,E)-

cinamilidenoacetofenona (9a)

Catalisador/

ligando Base Solvente

Sal de

amnio T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(88a) %

1 Pd(OAc)2 KOAc DMF - 60 Condies

clssicas 24h -

2 Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 60 Condies

clssicas 24h 18

3 PdCl2(PPh3)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 60 Condies

clssicas 24h 10

4 Pd(PPh3)4 KOAc DMF n-Bu4NBr 60 Condies

clssicas 24h 18

5 PdCl2 KOAc DMF n-Bu4NBr 60 Condies

clssicas 24h 15

Uma vez encontradas as condies reaccionais ptimas para a reaco de Heck de

(E,E)-cinamilidenoacetofenona com o 4-iodoanisol estudou-se essa mesma reaco com os

restantes derivados de (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9b-d) (Tabela 7) (Esquema 25).

Fez-se reagir a (E,E)-4-metilcinamilidenoacetofenona (9b) com 4-iodoanisol na

presena de acetato de paldio(II), acetato de potssio, brometo de tetrabutilamnio em

Captulo 3

Pgina | 42

DMF, a 60C. Ao fim de 24 horas de reaco analisou-se a reaco por tlc e verificou-se

que o meio reaccional era constitudo, maioritariamente, por material de partida. Decidiu-

se ento aumentar a temperatura de forma a melhorar o rendimento de formao do

produto pretendido. Fazendo a reaco a 80C verificou-se a formao do produto da

substituio pretendido (88b), com rendimentos muito baixo, 4% (Tabela 7, entrada 1).

Uma vez que o aumento da temperatura demonstrou um efeito positivo na formao

do produto pretendido, repetiram-se as mesmas reaces com os restantes derivados, a

(E,E)-4-metoxicinamilidenoacetofenona (9c) e (E,E)-4-nitrocinamilidenoacetofenona (9d).

Para o derivado com o grupo metoxilo verifica-se um melhoramento no rendimento,

contudo, continua muito baixo (Tabela 7, entrada 2). Para o derivado com o grupo

substituinte sacador de electres no se verificou a formao de nenhum produto, tendo-se

verificado que no meio reaccional apenas existia material de partida (Tabela 7, entrada 3).

O

I

O

+

(9b-d) (88b-d)

OMe

OMe

RR

Esquema 25

Tabela 7 Resultados obtidos na reaco de Heck de derivados da (E,E)-

cinamilideacetofenona (9b-d) com o 4-iodoanisol

Catalisador Base Solvente

Sal de

amnio T (C)

Condies de

aquecimento

Tempo de

reaco

Rendimento

(88b-d) %

1 9b Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 80 Condies

clssicas 24h 4

2 9c Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 80 Condies

clssicas 24h 12

3 9d Pd(OAc)2 KOAc DMF n-Bu4NBr 80 Condies

clssicas 24h -

Captulo 3

Pgina | 43

Analisando os resultados obtidos na reaco de (E,E)-cinamilidenoacetofenonas

com iodobenzeno (Tabela 5) e com o 4-iodoanisol (Tabela 7) verifica-se que a presena

do grupo metoxilo, dador de electres, no anel benznico do haleto de arilo leva a um

aumento, mesmo que ligeiro, no rendimento do produto resultante da substituio. Deve

notar-se que os baixos rendimentos permitem ter indicaes sobre o efeito dos substituintes

mas no tirar concluses definitivas.

3.3 Consideraes finais

Em termos de concluses gerais podemos dizer que:

1 As condies de Jeffery permitem a obteno da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a) com baixo rendimento (22%), mas com recuperao de grande

quantidade de reagente de partida.

2 As melhores condies para a formao do produto da substituio (87a)

consistem na reaco da (E,E)-cinamilidenoacetofenona com iodobenzeno na presena de

acetato de paldio(II), acetato de potssio em DMF. A presena ou ausncia do sal de

tetrabutilamnio no influencia o produto obtido nem o rendimento final.

3 A anlise dos espectros de RMN de 1H, HSQC, HMBC e de massa permitiram

concluir que a substituio ocorre no carbono da (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a),

uma vez que este o carbono mais deficiente em electres.

4 Quando usado o 4-iodoanisol verifica-se um aumento da formao do produto

resultante da substituio (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona (88a-

c) quando comparado com o produto (87a-c). As condies ptimas consistem na reaco

da (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a-c) com 4-iodoanisol na presena do catalisador

acetato de paldio(II), acetato de potssio, brometo de tetrabutilamnio em DMF.

Captulo 3

Pgina | 44

5 Verificou-se que a presena de grupos sacadores de electres inibem a reaco

de substituio no sistema conjugado independentemente do iodeto de arilo possuir um

grupo activante em posio para relativamente ao iodo.

6 Por fim, pode-se concluir que o sistema vinlico conjugado das (E,E)-

cinamilidenoacetofenonas (9a-d) pouco reactivo quando comparado com sistemas

vinlicos do tipo da (E)-calcona (84), nas condies desenvolvidas por Cacchi.

Captulo 4

Caracterizao estrutural dos compostos sintetizados

Captulo 4

Pgina | 46

4.1 Introduo

Um dos aspectos mais importantes da Qumica Orgnica est na elucidao

estrutural dos compostos, quer sejam produtos obtidos por sntese, quer sejam extrados de

plantas. Para isso so usadas vrias tcnicas espectrocpicas entre elas a ressonncia

magntica nuclear (RMN) e a espectrometria de massa (EM). Assim, a identificao e

caracterizao estrutural dos compostos sintetizados foi efectuada recorrendo

espectrometria de ressonncia magntica nuclear e espectrometria de massa.

4.2 Caracterizao por ressonncia magntica nuclear (RMN)

4.2.1 Caracterizao da 1,3,3-trifenil-1-propanona

O

12

31'

2'3'

4'

5'

6'1''

2''

3''

4''

5''

6''

1'''

2'''

3'''

4'''

5'''

6'''

(85)

A partir da anlise do espectro de RMN de 1H (Figura 1) pode-se identificar

facilmente os sinais correspondentes aos protes da zona aliftica da 1,3,3-trifenil-1-

propanona, a 3.74 ppm surge o sinal, na forma de dupleto, correspondente ressonncia

do proto H-2 e a 4.83 ppm surge o sinal, na forma de tripleto, correspondente

ressonncia dos protes H-3, os mais protegidos da molcula. Os protes H-2 surgem a

este valor de frequncia devido ao efeito mesomrico desprotector do grupo carbonilo.

Captulo 4

Pgina | 47

Figura 1 Ampliao do espectro de RMN de 1H da 1,3,3-trifenil-1-propanona (85).

Na zona aromtica pode-se identificar o sinal correspondente ressonncia dos

protes H-2,6, que surge a 7.94 ppm. Estes protes so quimicamente equivalentes uma

vez que o anel a que pertencem apresenta um eixo de simetria.

A interpretao do espectro de RMN de 13

C (Figura 2) foi facilitada pela anlise

dos espectros bidimensionais de correlao heteronuclear (1H/

13C), o HSQC (Anexo I, pg.

79) e HMBC. Estes espectros permitem a correlao carbono-proto em 1J e

2J/

3J,

respectivamente. Assim, a partir destes espectros foi possvel fazer a identificao da

ressonncia dos carbonos da molcula.

ppm (t1)

4.05.06.07.08.0

1.0

0

0.5

6

1.1

4

5.4

5

1.0

4

1.0

4

0.4

7

H-2,6

H-3

H-2

Captulo 4

Pgina | 48

Figura 2 Ampliao do espectro de RMN de 13

C da 1,3,3-trifenil-1-propanona (85).

No espectro de RMN de 13

C pode-se identificar o sinal correspondente

ressonncia do carbono carbonilo que surge a 198.0 ppm, o carbono mais desprotegido

da molcula uma vez que estabelece uma dupla ligao com o tomo de oxignio. Sendo o

tomo de oxignio electronegativo, este vai promover a deslocalizao da densidade

electrnica no carbono tornando-o mais desprotegido.

Os carbonos mais protegidos da molcula so os carbonos C-2 e C-3 que surgem,

respectivamente a 44.7 e 45.0 ppm, sendo os carbonos mais protegidos da molcula, uma

vez que apresentam hibridao sp3.

Atravs do espectro de HMBC (Figura 3) pode-se identificar os sinais

correspondentes a carbonos aromticos, tais como, C-1, C-1, C-1, que surgem a,

respectivamente, 133.1, 137.0 e 144.1 ppm.

ppm (t1)

50100150

C-1 C-1

C-1

C-1

C-3

C-2

Captulo 4

Pgina | 49

Figura 3 Ampliao do espectro de correlao espectroscpica heteronuclear (HMBC

1H,

13C) da 1,3,3-trifenil-1-propanona (85).

4.2.2 Caracterizao da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona

O

1'2'

3'

4'

5'

6'

12

3

4

5

6

1''2''

3''

4''

5''

6''

(87a)

A B

C

Captulo 4

Pgina | 50

A partir da anlise do espectros de RMN de 1H da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a) pode-se identificar os sinais correspondentes ressonncia dos

protes H- e H-, a desvios de 8,50 e 6,73 ppm, respectivamente, com uma constante de

acoplamento de 16,2 Hz. Esta constante de acoplamento indicativa que este sistema

vinlico possui configurao trans. Ambos os sinais surgem na forma de dupletos.

Figura 4 Ampliao do espectro de RMN de 1H da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a).

O proto H- surge a 6,88 ppm na forma de singuleto no acoplando com

nenhum outro proto, o que nos permite dizer que a reaco de substituio ocorre na

posio da (E,E)-cinamilidenoacetofenona (9a).

Na zona aromtica identifica-se o sinal correspondente ressonncia dos protes

H-2,6. Estes protes so quimicamente equivalentes, uma vez que o anel aromtico

possui um eixo de simetria tornando o ambiente qumico em torno destes protes

semelhante. Assim, estes protes surgem ento a um desvio qumico de 8,00 ppm e com

uma constante de acoplamento de 7,2 Hz. O sinal surge na forma de dupleto devido ao

acoplamento com os protes H-3,5.

Os restantes protes dos anis A, B e C no nos foi possvel identificar, surgem na

forma de multipleto a desvios qumicos de 7,25-7,34 e 7,45-7,55 ppm.

ppm (t1)7.007.508.008.50

1.0

0

2.0

6

0.9

4

0.8

9

H- H-2, 6

H-

H-

Captulo 4

Pgina | 51

A interpretao do espectro de RMN de 13

C (Figura 5) foi facilitada pela anlise

dos espectros bidimensionais de correlao heteronuclear (1H/

13C), o HSQC e HMBC

(Anexo II, pg. 82). Estes espectros permitem a correlao carbono-proto em 1J e

2J/

3J,

respectivamente. Assim, a partir destes espectros foi possvel fazer a identificao da

ressonncia dos carbonos da molcula.

Figura 5 Ampliao do espectro de RMN de 13

C da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-

pentadieno-1-ona (87a).

A principal caracterstica de um espectro de RMN de 13

C da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-

2,4-pentadieno-1-ona (87a) a ressonncia do carbono carbonlico, que surge a elevados

valores de frequncia a 190,9 ppm.

O assinalamento dos sinais correspondentes ressonncia dos carbonos da cadeia

olefnica s foi possvel recorrendo anlise dos espectros de HSQC (Figura 6). Assim,

identificaram-se os sinais a valores de frequncia correspondentes aos carbonos C-, C- e

C-, a 122,4, 126,9 e 141,1 ppm, respectivamente.

O espectro de HMBC (Anexo II, pg. 82) permite identificar o carbono uma vez

que mostra a correlao deste com o proto e o proto (Figura 7). O sinal surge a uma

ppm (t1)

130140150160170180190

C=O

C- C-

C-1

C-

C-2,6

O

1'2'

3'

4'

5'

6'

12

3

4

5

6

1''2''

3''

4''

5''

6''

(87a)

A B

C

Captulo 4

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frequncia de 155,9 ppm. Este carbono surge a desvio qumico superior ao do carbono ,

devido ao efeito mesomrico desprotector do grupo carbonilo e presena do substituinte

-fenilo.

Figura 6 Ampliao do espectro de correlao espectroscpica heteronuclear (HSQC 1H,

13C) da (2Z,4E)-1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona (87a).

Para alm do carbono , tambm se pode confirmar a identificao do carbono

com o auxlio da mesma tcnica, uma vez que permite verificar a correlao com o proto

H-, surgindo assim, a 122.4 ppm. O C-1 surge a frequncia de 140,5 ppm, com

baixa intensidade indicando a presena de um carbono com hibridao sp2 e no estar

ligado a protes.

Captulo 4

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Figura 7 Principais conectividades observadas nos espectros de HMBC da (2Z,4E)-

1,3,5-trifenil-2,4-pentadieno-1-ona (87a).

Comparando os espectros de RMN de 1H dos vrios derivados de -

fenilcinamilidenoacetofenonas (87a) com (87b, 87c) (Anexos III, pg. 86 e Anexo IV, pg.

89, respectivamente) verifica-se que a nica alterao consiste na presena do sinal

correspondente ressonncia dos grupos metilo e metoxilo no anel B das -

fenilcinamilidenoacetofenonas. Sendo que o valor de ressonncia correspondente aos

protes do grupo metoxilo ligeiramente superior do grupo metilo devido ao efeito

sacador de electres do tomo de oxignio surgindo, assim, a 3.86ppm enquanto o sinal

correspondente ressonncia dos protes do grupo metilo surgem a 2.41ppm. Podemos

assim concluir que todos os derivados apresentam estrutura semelhante indicada para a -

fenilcinamilidenoacetofenona (87a).

4.2.3 Caracterizao da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-

pentadieno-1-ona

O

1'2'

3'

4'

5'

6'

12

3

4

5

6

1''

2''

3''

4''

5''

6''

A B

C

H

H

H

(87a)

O

1'2'

3'

4'

5'

6'

12

3

4

5

6

1''2''

3''

4''

5''

6''

OMe

(88a)

Captulo 4

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O espectro de RMN de 1H da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-pentadieno-

1-ona (88a) apresenta alguns sinais caractersticos (Figura 6).

Figura 8 Ampliao do espectro de RMN de 1H da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-

metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona (88a).

Uma das principais caractersticas do espectro de RMN de 1H da (2Z,4E)-1,5-

difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona (88a) a presena de um sinal na forma de

singuleto correspondente ressonncia dos protes do grupo metoxilo, que surge a 3,89

ppm (Figura 8). Estes so os protes mais protegidos da molcula uma vez que esto

ligados a um carbono com hibridao sp3.

Os protes vinlicos tambm so facilmente identificados uma vez que o sinal

correspondente ressonncia dos protes H- e H- surge a 6,77 e 8,47 ppm,

respectivamente, na forma de dupletos, enquanto o proto H- surge na forma de singuleto

a 6,88 ppm. A constante de acoplamento 3JH-H 16,2 Hz permite estabelecer a

configurao deste sistema vinlico como configurao trans.

Na zona aromtica para alm do sinal correspondente ressonncia dos protes H-

2,6, do anel A, que surgem a 8,00 ppm na forma de duplo dupleto com as constantes de

acoplamento J 1,6 e 7,0 Hz, temos o sinal correspondente ressonncia dos protes H-

ppm (t1)4.05.06.07.08.0

1.0

0

2.6

9

2.7

0

1.6

1

1.3

3

4.1

2

OCH3

H-

H-

H-3,5 H-2,6

H-

Captulo 4

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3,5 a desvio 6,99 ppm. Estes protes so os protes aromticos mais protegidos da

molcula uma vez que esto a sofrer o efeito protector do grupo metoxilo em posio orto.

O espectro de RMN de 13

C (Figura 9) permite identificar inequivocamente o

carbono do grupo carbonilo, que surge a 190,9 ppm e o carbono do grupo metoxilo que

surge a 55,4 ppm.

Figura 9 Ampliao do espectro de RMN de 13

C da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-

metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona (88a).

O carbono do grupo metoxilo o mais protegido da molcula pois possui

hibridao sp3, no entanto, surge ligeiramente desprotegido uma vez que est directamente

ligado a um tomo electronegativo, sofrendo assim o seu efeito indutivo desprotector.

A interpretao do espectro de RMN de 13

C (Figura 9) foi, no entanto, facilitada

pela anlise dos espectros bidimensionais de correlao heteronuclear (1H/

13C), o HSQC

(Figura 10) e HMBC (Figura 11).

ppm (t1)

120130140150160170180190

C-1 C-4 C-

C- C- C-

C-2,6 C-2,6

C-1

C-1

C-1

O

1'2'

3'

4'

5'

6'

12

3

4

5

6

1''2''

3''

4''

5''

6''

OMe

(88a)

Captulo 4

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Figura 10 Ampliao do espectro de correlao espectroscpica heteronuclear (HSQC

1H,

13C) da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona (88a).

O espectro de HSQC da (2Z,4E)-1,5-difenil-3-(4-metoxifenil)-2,4-pentadieno-1-ona

(88a) (Figura 8) permitiu a identificao da ressonncia dos carbonos olefnicos C-, C-

e C- que surgem, respectivamente, a 121.6, 140.9 e 127.4 ppm. Podemos tambm

identificar os sinais correspondentes ressonncia de alguns carbonos aromticos, tais