História_de_Vigo_Guia_PORTUGUES
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Vigo é uma cidade antiga, assim o testemunham as suas ruínas pré-históricas e romanas:
era uma importante aglomeração castreja e foi um pequeno porto de pesca e comercial
no séc. I d.C., na intricada rede comercial do Império Romano. Mas, paradoxalmente, é
considerada uma cidade sem história, moderna, por causa do crescimento desmedido que
teve no séc. XX.
Reside aí parte do preço que deve pagar por não ter um mito de fundação, de heróis e
deuses que lutaram antes da história, como a cidade de Roma ou como a Buenos Aires de
Borges.
Vigo teve que emergir das águas do Atlântico: deve tudo ao oceano. As suas divindades
são certamente marinhas, mas não nos esqueçamos da forja e do ferro, símbolos do seu
espírito industrial. Vigo seria, em termos de mitologia romana, o resultado da luta entre
Neptuno, deus das águas e dos mares, e Vulcano, deus do fogo e dos metais. Uma luta
para ganhar o patrocínio da cidade e a honra dos seus habitantes.
HISTÓRIA DE VIGOFundação mítica de Vigo
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E então, em plena Idade Média, chegou o bardo que tinha de cantar o nosso passado míti-
co: o grande trovador medieval Martim Codax, compôs as canções sobre Vigo: “Ondas do
mar de Vigo...”, “Quantas sabedes amar amigo, treydes comig’a lo mar de Vigo: E banhar-
nos-emos nas ondas!...”, unindo para sempre a poesia, a música, o amor e o mar de Vigo.
E trazendo Vénus, a deusa do amor e da beleza, ao nosso olimpo particular das ilhas Cíes
– antes ilhas dos deuses – para regozijo de todos os mortais.
E com estes três deuses crescemos e sulcamos os tempos e os mares.
Colossos metálicos marinhos partiam do porto no início do séc. XX, quando Vigo era a
porta de Espanha para a América, e colossos metálicos marinhos voltam hoje em dia car-
regados de turistas. Assim mudaram as coisas num século. Vigo é uma cidade fundada na
aliança do fogo, da água e da beleza, que esqueceu o seu passado mítico, mas que recor-
da para onde se dirige, a cada dia que passa. Somos uma cidade de viajantes que encon-
traram o seu porto. Como o capitão Nemo, aquele que Júlio Verne coloca na ria com o seu
Nautilus, muitos habitantes de Vigo chegaram à cidade e decidiram ficar. Não há melhor
mensagem para os visitantes que nos possam descobrir hoje.
VISITAS RECOMENDADAS:
Museu Quiñones de León e Jazida do Castro
Itinerário recomendado: Monte do Castro em 100 minutos
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1Pré-história
Vigo e o seu município foram povoados desde a antiguidade. Apesar de não ter sido
encontrada nenhuma jazida paleolítica, o Museu Municipal Quiñones de León conserva,
na sua abundante coleção arqueológica, meia centena de utensílios em quartzo e sílex
datados da Idade da Pedra.
Do Neolítico, foram encontradas várias machadinhas, algumas de caráter comemorativo.
Além disso, são inúmeras as construções funerárias, tumulus ou mamoas desse período que
estão dispersas pelos montes de Vigo, entre as quais se destaca a denominada Casa dos
Mouros, na subida ao parque de A Madroa.
Igualmente, também são abundantes, nos montes que rodeiam a cidade, os petróglifos,
entre os quais se destacam os de Fragoselo e das Millaradas. Na transição do III para o
II milénio a.C. há um vasto conjunto de gravuras rupestres com representações de motivos
geométricos, armas e fauna.
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1Pré-história
Vários achados de cerâmica, armas de bronze e mais gravuras rupestres assinalam a
existência de habitantes na chamada Idade do Bronze, entre os anos 1900 e 800 a.
C. E a cultura castreja, que abrange toda a Idade do Ferro e que se desenvolveu na
Galiza a partir do séc. VIII a.C. até ao final do séc. I d. C., deixou em Vigo vários vestígios
que demonstram a existência de 26 castros no território municipal. O maior de todos,
parcialmente reconstruído, pode ser visitado na ladeira do parque do Castro. Nessa época,
Vigo teve uma das maiores densidades populacionais de toda a Galiza.
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2Época romana
Em Vigo, denominada de Vicus Spacorum, o processo de romanização produziu-se de
forma precoce. As ruínas arqueológicas, das quais se conservam diversas amostras no
Museu Quiñones de León, mostram a existência de uma intensa atividade portuária e
comercial no litoral de Vigo desde o séc. II a.C. até ao séc. I d.C., quando é estabelecida a
pax romana.
Da época ainda existem vestígios relevantes: aldeamentos distribuídos pelo litoral, como
a Vila romana de Toralla, ruínas de instalações portuárias e de salga de peixe, ruas,
necrópole, assim como, a intensa romanização dos povoados castrejos pré-existentes.
As últimas escavações realizadas no bairro histórico e no Ensanche, entre as quais
se destacam as musealizadas de Salinae, revelam a existência de uma importante
aglomeração humana entre os sécs. III e VI d.C.
VISITAS RECOMENDADAS:
Museu Quiñones de León
Itinerário recomendado: Visita autoguiada do Vigo antigo
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3Idade Média
Durante este período, em que a Igreja dominava a sociedade galega, Vigo dependeu muitos
anos do mosteiro cisterciense de Melón. Foi uma época marcada por frequentes incursões de
piratas nórdicos que obrigavam a povoação a deslocar-se para o interior e a refugiar-se no
monte do Castro.
Na Idade Média, Vigo era conhecida pelos seus olivais e pelo seu próspero comércio de
pesca. Existem constâncias documentais de igrejas românicas que provam a existência de
aglomerados de povoação nos sécs. XI, XII e XIII em locais que coincidem com paróquias
atuais: Santiago de Bembrive, San Salvador de Coruxo e Santa María de Castrelos. Existem
ainda duas pontes românicas em Sárdoma e Fragoso e inúmeros objetos conservados no
Museu Quiñones de León.
A partir do séc. XII a cidade começa a recuperar povoação em torno da paróquia de
Santiago de Vigo e do bairro de pesca de Santa María, o que constitui atualmente o
bairro histórico que se pode conhecer através do Itinerário autoguiado Vigo antigo. Mas
o desenvolvimento de Vigo abrandou quando a Coroa limitou à vizinha vila de Baiona o
privilégio de comercializar por mar com outras cidades atlânticas.
4Do séc. XV ao XVIII
Com a pesca da sardinha como principal recurso económico e incentivo para o comércio,
Vigo ganha povoação apesar dos piratas. Ataques como os do inglês Francis Drake em
1585 e 1589, ou dos turcos em 1617, obrigaram à construção, em 1656, das muralhas
da cidade e do Castelo de San Sebastián.
Porém, é em 1702 que se acontece o episódio mais relevante da história da cidade, a
batalha de Rande. A frota anglo-holandesa persegue até à ria a frota espanhola da prata
procedente da América do Sul e os navios franceses que a escoltavam. Embora parte do
tesouro americano pudesse ser descarregado a tempo, os ingleses, vitoriosos, levaram
vários barcos e o seu conteúdo, e muitos outros foram afundados na enseada de San
Simón.
Em 1778, quebra-se o monopólio dos portos autorizados a comercializar com a América
e Vigo começa a beneficiar desse tráfego. São então melhoradas as defesas da cidade
com novos bastiões como o da Laxe, e a muralha é concebida com sete portas: Falperra,
Berbés, do Mar, Laxe, Gamboa, Sol e do Pracer são lugares que atualmente dão nome a
ruas que se podem visitar facilmente com o Itinerário autoguiado Vigo antigo.
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A cidade começa então a crescer pela mão de comerciantes e industriais catalães que
na segunda metade do séc. XVIII instalam fábricas de salga, de sabão e de produtos de
couro e linho. Através deles chegam também à cidade obras de arte de toda a Europa, que
ainda hoje estão conservadas no Museu Quiñones de León.
VISITAS RECOMENDADAS:
Arquivo Pacheco e Museu Liste
Itinerário recomendado: Visita autoguiada Vigo senhorial
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5O séc. XIX
Em 1809, o exército francês ocupa Vigo, mas a resistência popular resultou numa
libertação rápida, a popular Reconquista que ainda hoje se comemora. Este episódio, que
outorgou a Vigo o título de cidade “Fiel, leal e corajosa”, foi sucedido por uma série de
obras que melhoraram as dotações: em 1833 é preparado o caminho real até Madrid, um
ano depois é terminada a construção da nova Colegiada, em meados do século é criada
uma filial do Banco de Espanha e é construído um novo molhe de pedra. A cidade cresce e
os seus governantes decidem demolir as muralhas para facilitar a sua expansão.
Nesse tempo continuam a abrir-se fábricas de salga e de derivados marinhos, o que
provoca o crescimento da população assalariada e também de uma burguesia financeira.
Sem muralhas, Vigo abre novas ruas e ergue nobres edifícios de pedra que é possível
percorrer com o Itinerário autoguiado Vigo senhorial.
E Vigo expande-se também pelo mundo fora, especialmente graças às suas relações com a
América. A partir de 1855, estabelecem-se rotas periódicas para Havana, Buenos Aires e
Porto Rico. E em 1881, é inaugurada a via férrea até Ourense.
É uma nova cidade que, em 1899, acumula aos anteriores o título de “Sempre solidária”
por ter acolhido os militares feridos na Guerra Hispano-Americana. Uma nova cidade
captada nas imagens conservadas pelo Arquivo Pacheco, mas que não renunciava às
tradições nem à etnografia do seu meio rural, ainda hoje conservadas no Museu Liste.
VISITAS RECOMENDADAS:
Arquivo Pacheco, Museu Liste e MARCO
Itinerário recomendado: Visita autoguiada Vigo de ontem e de hoje
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6Sécs. XX e XXI
No primeiro terço do séc. XX, o porto de Vigo está unido à imagem de milhares de galegos
que embarcaram rumo à emigração, mas também ao desenvolvimento económico. As fotos
desse crescimento estão conservadas no Arquivo Pacheco, memória de uma época em
que começam a criar-se empresas importantes como os estaleiros Barreras e Vulcano ou a
Pescanova e uma multitude de firmas relacionadas com o mar que converteram o porto de
Vigo no principal porto de pesca da Europa.
Outro símbolo da cidade foi o elétrico, que começou a funcionar em 1914, na altura em
que despontava uma enorme atividade social com jornais, associações e organizações
de caráter político ou sindical. Foi um dinamismo que emudeceu com o golpe de Estado
fascista contra a República e com a posterior Guerra Civil.
Conforme o século avança, Vigo absorve os municípios de Bouzas (1904) e Lavadores
(1941), mas sem perder o seu perfil mais rural que ainda é possível contemplar na periferia
e que se conserva no Museu Liste.
Em meados do século é concebida a Gran Vía, são instaladas indústrias como a Citroën
e são criados novos bairros como o de Coia, o que permite um elevado crescimento
demográfico, passando dos 30.000 habitantes que havia em 1910 aos quase 300.000
atuais.
Atualmente, Vigo é uma cidade industrial mas também de serviços. Uma cidade
vanguardista que se pode examinar no Museu de Arte Contemporânea (MARCO) e nos
seus mais modernos edifícios e espaços urbanos, que é possível percorrer com o Itinerário
autoguiado Vigo de ontem e de hoje. A indústria automóvel, os estaleiros, a indústria
conserveira, a construção e a moda fazem de Vigo o motor económico da Galiza e um
ponto de referência também para o norte de Portugal.
Museus Itinerários
Paço
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