Estudos Complementares P1
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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
CAMPUS IV – CABO FRIO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
DISCIPLINA: ESTUDOS COMPLEMENTARES (CULTURA DE MASSA)
PROFESSOR: GUILHERME MOTA
ALUNO: DANIEL SANTANNA LIMA
MATRÍCULA: 052170160
ATIVIDADE AVALIATIVA (P1)
“O ideal de felicidade que nos embala é formatado pelos
‘intelectuais’ do presente: os publicitários. Eles legitimam a superioridade
do modo de vida burguês, nos fazendo crer que o que resta à sociedade é
buscar no consumismo desenfreado o seu ideal de cidadania”.
Guilherme Mota
QUESTÕES PROPOSTAS:
1) Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta escrevendo um artigo
(mínimo 5 laudas), fazendo uma conexão com os seguintes conceitos:
VERDADE
CULTURA DE MASSAS
INDÚSTRIA CULTURAL
SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
2) Utilize e comente autores (no mínimo 2 citações) dentro do seu artigo.
3) Coloque um título e referências bibliográficas ao final do texto.
Castelo de Ilusões: A alienação da consciência no “Reino do Espetáculo”.
* Palavras Chave: Verdade, Cultura de Massas, Indústria Cultural, Sociedade do Espetáculo.
É inegável o fato de vivermos em uma sociedade onde são constantes os lamentos de
homens e mulheres endividados e esgotados em função do desejo compulsivo (para não dizer
obsessivo) de consumir.Uma sociedade na qual as pessoas gravitam em torno de “verdades”
produzidas por uma classe dominante, dentro de um sistema perverso onde independentemente de
sua condição material, o indivíduo vê-se obrigado (ainda que de forma inconsciente) a aderir a
estas verdades e torná-las diretrizes para sua vida, em um processo “alienante”, que o leva a
abstrair-se de sua realidade e furta sua consciência. A estas verdades, Debord (1992) chama de
espetáculos, sendo, portanto, esta sociedade “que se baseia na indústria moderna,
fundamentalmente espetaculoísta” 1. Vemos, segundo Debord, que vivemos em uma sociedade
do espetáculo, onde há uma inversão da realidade e onde “a verdade é um momento do que é
falso”2, ou parafraseando Feuerbach, onde há um predomínio da “representação à realidade, da
aparência ao ser...”3 Ainda dialogando com Debord, encontramos que “o espetáculo constitui o
modelo atual da vida dominante na sociedade”4, o que nos leva a perguntar quem produz esse
modelo, e conseqüentemente, o impõe como dominante. Para respondermos a esta questão,
devemos observar que a sociedade em questão é a sociedade moderna na qual vivemos, onde o
modo de produção é capitalista e o consumo é condição sine qua non para que possamos integrá-
la, e que segundo Karl Marx , a classe dominante neste tipo de sociedade chama-se burguesia,
cuja dominação possui uma base de caráter econômico, pelo fato desta classe deter os meios de
produção, enquanto a classe antagônica (o proletariado), vende a sua força de trabalho para se
manter no sistema. Portanto, podemos dizer que a burguesia produz e impõe um modelo de vida
consumista ao restante da sociedade, o que é um processo típico das sociedades,
1 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo, 5ª ed. Rio: contraponto, 1997.2 Idem, p.163 Idem, p.134 Idem, p.14
cujo resultado chamamos de ideologia.5 Debord confirma nosso raciocínio, quando afirma que “o
espetáculo é a imagem da economia reinante”6, ou ainda, que “ele nada mais é que a economia
desenvolvendo-se por si mesma, é o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos
produtores”7.
Agora que já esclarecemos o tipo de sociedade da qual estamos falando, bem como a
classe dominante que impõe seu modelo de vida às outras classes, surge uma nova questão
relativa à veiculação deste modelo, à forma ou instrumentos que possibilitam a sua apreensão
pelos indivíduos. O próprio Debord já deixa uma pista, quando aponta que “os meios de
comunicação de massa ... ...são sua (do espetáculo) manifestação superficial mais esmagadora”8,
embora não diga exatamente quais são esses meios. Felizmente, o historiador Eric Hobsbawm em
sua obra9, nos mostra que meios são estes, como eles são utilizados e quais os efeitos produzidos,
utilizando como exemplo, a cultura jovem nas sociedades urbanas. Hobsbawm cita como
veículos de difusão (transmissão) cultural, a indústria cinematográfica, a televisão, o rádio, a
moda, entre outros, os quais formam um conjunto que poderíamos chamar de indústria cultural
ou cultura de massas. Aponta também que estes veículos são tão poderosos que são capazes de
transformar a cultura de uma dada sociedade em algo de alcance global. Há ainda algo muito
interessante que o trabalho de Hobsbawm traz para nós, que é a face psicológica do processo de
alienação da realidade nas classes “dominadas”, quando mostra a questão do crescimento do
individualismo na sociedade moderna industrial em detrimento dos antigos valores morais e
vínculos afetivos (familiares), baseados nas tradições. Há agora um predomínio do indivídual
sobre o coletivo, um isolacionismo que tende a se acentuar com a evolução do sistema vigente. O
próprio Debord, já citado anteriormente, ataca esta questão do individualismo, atribuindo à
“separação generalizada entre o trabalhador e o que ele
5 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, 7ª ed. São Paulo: Ática, 20006 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo, 5ª ed. Rio: contraponto, 1997, p.177 Idem, p.188 Idem, p.209 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. 2ª ed. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
Cap 11 “Revolução Cultural”.
produz”10 a causa deste problema.. Aponta a industria cultural como instrumento consolidador
desta separação, dizendo que:
“Do automóvel à televisão, todos os bens
selecionados pelo sistema espetacular são também suas
armas para o reforço constante das condições de isolamento
das ‘multidões solitárias’”.11
Um outro ponto importante é que a classe dominante pode absorver o que lhe interessar da
cultura dos dominados e transformar isso em produto, estando ela mesma sujeita a incorporar
traços e valores desta cultura, adicionando-os ao seu modo de vida. Parece paradoxal a princípio,
mas se observarmos pela lógica econômica e enxergarmos valores e posturas como produtos
vendáveis, não nos parecerá tão estranho, embora nos seja claro que em diversos casos, o modo
de vida disseminado e, em virtude dessa disseminação, amplamente desejado, não seja
compatível com a realidade vivenciada por quem o está desejando. O processo possui uma
dinâmica tal, que o aparente se confunde com o real a ponto de tornar-se o próprio real, tamanha
a alienação promovida pelo espetáculo, ou como diria Debord, “ a alienação do espectador em
favor do objeto contemplado...”.12 Assim, nos parece que o espetáculo busca alienar o espectador
para que este se abstraia de sua existência real e perca o controle sobre sues pensamentos e ações
e seja representado por outro o tempo todo, sendo levado a desejar uma ilusão de existência que
não é sua. Em suma, a idéia do espetáculo é encastelar o indivíduo em um mundo ilusório, do
qual não consegue se libertar simplesmente porque não tem consciência de que este mundo
existe, e tudo lhe parece natural. Isto fica claro na colocação de Debord:
“O homem separado de seu produto produz, cada vez mais e com
mais força, todos os detalhes de seu mundo. Assim vê-se cada vez mais
separado de seu mundo. Quanto mais sua vida se torna seu produto, tanto
mais ele se separa da vida”.13
10 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo, 5ª ed. Rio: contraponto, 1997, p.2211 Idem, p.23 – (grifo do autor)12 Idem, p.2413 Idem, p.25
Enquanto contempla o espetáculo, o indivíduo tem sua produção alienada no sentido
literal do termo, ficando cada vez mais imerso nesse reino de desejo desenfreado, onde sua vida é
transformada em produto e ele fica cada vez mais isolado e distante de sua realidade. Poderíamos
dizer que ocorre uma forte identificação do espectador com a “imagem” do espetáculo,
identificação essa que o faz estranhar o seu próprio espaço e tudo o mais que não estiver
vinculado à imagem projetada pelo espetáculo.
Este é o artifício da classe dominante para “expropriar” os dominados e mantê-los
“anestesiados”, para que não percebam a realidade como ela é. Não se trata de criar um mundo
paralelo e sim mascarar o real, projetar nele o ilusório, ludibriar a consciência do espectador,
enclausurando-a em um castelo de ilusões no “Reino do Espetáculo”.
Daniel Santanna Lima
BIBLIOGRAFIA
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo, 5ª ed. Rio: contraponto, 1997
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. 2ª ed. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, 7ª ed. São Paulo: Ática, 2000.