Ecologia E Responsabilidade Humana

8
137 Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1º sem. 2004 Ecologia e responsabilidade humana Suzana dos Santos Gomes * SINTOMAS DA CRISE ECOLÓGICA O SER HUMANO desencadeou um processo de destruição da vida, que, nas últimas décadas, se acelerou perigosamente. Vive-se a síndrome da poluição, da extinção, da escassez, da miséria, da fome, da injustiça. Constata-se a progressiva destruição da vida em todas as suas manifestações. Dentre os principais problemas que denotam falta de respeito à vida destacam-se: a aplicação, sem discernimento dos progressos científicos e tecnológicos, o gradual esgotamento do ozônio e o conseqüente “efeito estufa”, que atinge dimensões críticas. Essa postura irresponsável em relação à natureza e os conseqüentes desastres ecológicos amea- çam a espécie humana. A leitura de alguns dados estatísticos 1 confirma a gravidade do problema ecológico. Nos últimos anos, foi intensa a redução da qualidade de vida. Percebe-se que o ser humano está inserido num sistema agressivo, de exploração e morte. A crise ecológica é a crise da vida. São inúmeros os desafios que ameaçam a huma- nidade. Estudiosos alertam, sobretudo, para os mais sérios: a su- perpopulação e a insuficiência de alimentos, o esgotamento dos recursos naturais, a poluição, a corrida armamentista e a crise ecológica. Dentre os inúmeros desafios, o maior problema está no aumento da riqueza e na não partilha dos bens produzidos. Os problemas ecológicos estão interligados. Eles oferecem uma sintomatologia que aponta para um mal profundo, que deve ser enfrentado com empenho. Revelam o mal presente na raiz do relacionamento desumano desenvolvido ao longo da histó- * Professora de Cul- tura Religiosa da PUC Minas e Mestre da Faculdade de Educação da UFMG. 1 O relatório sobre o Desenvolvimento Humano da ONU, de julho de 1996, classificou 174 países segundo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)., que inclui esperança es- colar e Produto In- terno Bruto real per capta. Dos 30 países que obtiveram as pi- ores classificações, segundo o IDH, 25 pertencem ao Conti- nente Africano. Se- gundo a ONU, entre 1991 e 1996, 6 mi- lhões de crianças morreram por causa de doenças de veicu- lação hídrica. O ex- termínio na América Espanhola, em três séculos, foi da ordem

description

Um artigo que coloca o homem no centro das questões ecológicas.

Transcript of Ecologia E Responsabilidade Humana

  • Ecologia e responsabilidade humana

    137Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    Ecologia e responsabilidade humana

    Suzana dos Santos Gomes*

    SINTOMAS DA CRISE ECOLGICA

    O SER HUMANO desencadeou um processo de destruio da vida,que, nas ltimas dcadas, se acelerou perigosamente. Vive-se asndrome da poluio, da extino, da escassez, da misria, dafome, da injustia. Constata-se a progressiva destruio da vidaem todas as suas manifestaes. Dentre os principais problemasque denotam falta de respeito vida destacam-se: a aplicao,sem discernimento dos progressos cientficos e tecnolgicos, ogradual esgotamento do oznio e o conseqente efeito estufa,que atinge dimenses crticas. Essa postura irresponsvel emrelao natureza e os conseqentes desastres ecolgicos amea-am a espcie humana.

    A leitura de alguns dados estatsticos1 confirma a gravidadedo problema ecolgico. Nos ltimos anos, foi intensa a reduoda qualidade de vida. Percebe-se que o ser humano est inseridonum sistema agressivo, de explorao e morte. A crise ecolgica a crise da vida. So inmeros os desafios que ameaam a huma-nidade. Estudiosos alertam, sobretudo, para os mais srios: a su-perpopulao e a insuficincia de alimentos, o esgotamento dosrecursos naturais, a poluio, a corrida armamentista e a criseecolgica. Dentre os inmeros desafios, o maior problema estno aumento da riqueza e na no partilha dos bens produzidos.

    Os problemas ecolgicos esto interligados. Eles oferecemuma sintomatologia que aponta para um mal profundo, que deveser enfrentado com empenho. Revelam o mal presente na raizdo relacionamento desumano desenvolvido ao longo da hist-

    * Professora de Cul-tura Religiosa daPUC Minas e Mestreda Faculdade deEducao da UFMG.

    1 O relatrio sobre oDesenvolvimentoHumano da ONU,de julho de 1996,classificou 174 pasessegundo o ndice deDesenvolvimentoHumano (IDH)., queinclui esperana es-colar e Produto In-terno Bruto real percapta. Dos 30 pasesque obtiveram as pi-ores classificaes,segundo o IDH, 25pertencem ao Conti-nente Africano. Se-gundo a ONU, entre1991 e 1996, 6 mi-lhes de crianasmorreram por causade doenas de veicu-lao hdrica. O ex-termnio na AmricaEspanhola, em trssculos, foi da ordem

  • Suzana dos Santos Gomes

    138 Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    ria. A tica ecolgica questiona o modelo poltico-econmicopresente em nossa sociedade globalizada pelo mercado. A criseambiental contempornea , pois, fruto da relao econmicaque se instaurou a partir do modo capitalista de organizao: dosaber cientfico, da vida em sociedade e da relao materialistacom a natureza. Coloca em evidncia a necessidade moral denova solidariedade, especialmente nas relaes entre os pasesem via de desenvolvimento e os industrializados. Assim, novosestudos e novas prticas devem promover o desenvolvimento deum ambiente natural, social, pacfico e salubre.

    Na tentativa de responder aos desafios ecolgicos atuais, necessrio instaurar novas relaes entre o homem e o meioambiente, desenvolvendo-se uma dialtica da incluso. No Bra-sil e na Amrica Latina, so significativos e numerosos aquelesque tm conscincia de que necessrio encontrar novos mode-los de desenvolvimento mais justos e solidrios. O desenvolvi-mento deve ser integral e no apenas econmico e, por isso,tambm social, cultural e religioso. Inclui, evidentemente, umrelacionamento novo com o meio ambiente.

    O desafio ecolgico complexo e chama a ateno para aproblemtica do desenvolvimento que tem a ver com a utilizaodos recursos naturais para o bem-estar, ou no, do homem. necessrio criar e impulsionar novos modelos de produo-con-sumo que respeitem o meio ambiente; reorientar as pesquisascientficas e as aplicaes da tcnica; enfrentar os poderes quese encontram hoje a servio da morte, desenvolvendo-se umatica que oriente para um novo relacionamento a servio da vida.

    A crise ecolgica conseqncia de uma crise profunda en-tre o ser humano e Deus. Ela resultado da crise humana devalores e de relao. Os empobrecidos, explorados, abandona-dos so vtimas desse sistema e gritam por justia, respeito eamor. humanidade pede-se converso. A vida do planeta de-pende de uma inter-relao harmoniosa. A redescoberta do Deusda vida tornaria possvel a superao dos desafios.

    Os problemas ecolgicos trazem tona o grande pecado hu-mano, no s de explorao indevida, desequilibrada e prepo-tente dos recursos naturais, mas denunciam a explorao sofri-da pelos mais fracos. Exige-se, conseqentemente, uma cinciaconsciente, tico-ecolgica, capaz de sustentar e restaurar a har-monia entre o ser humano, Deus e a natureza. A Ecologia convidaa humanidade a vivenciar uma tica da responsabilidade, que

    de 25 milhes depessoas. No Brasil,

    ainda se utilizamsubstncias cancer-geras, que j intoxi-cam 380 mil traba-

    lhadores rurais entre1990 e 1997. Esti-

    ma-se em 5 milhesa populao das na-

    es indgenas noincio da colonizaoportuguesa no Brasil.Em 1997, essa popu-lao era de 326 mil

    ndios, que lutam pe-la demarcao de

    suas terras e pelo re-conhecimento de

    seus direitos. Segun-do o Instituto Brasi-leiro de Geografia eEstatstica IBGE,

    em 1996, 40 milhode brasileiros no

    dispunham de guacanalizada e 70 mi-

    lhes no tinham es-goto encanado ligado

    s suas moradias(MINC, 1997).

  • Ecologia e responsabilidade humana

    139Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    movida pela conscincia da necessidade, e uma tica da gratui-dade, da ao de graas, da f, da esperana e do amor-justia.

    O COMPROMISSO TICO-ECOLGICO

    Nesse contexto, a Ecologia adquire importncia. necess-rio despertar na pessoa humana a conscincia ecolgica2 (VIEI-RA, 1999) que a ajude a compreender e viver na dinmica davida em busca da integrao e comunho plenas. A ecologia convite para recriar a vida, a exemplo de Francisco de Assis,arqutipo inspirador da vivncia ecolgica, a fim de construiruma nova cultura: a cultura da solidariedade.

    A verdadeira tica ecolgica relacional, inclusiva, aberta epromotora da vida, oposta crise ecolgica, que fruto do ego-smo individual e do sistema socioeconmico e poltico em quese est inserido. O ser humano convidado a questionar, rever esuperar o modelo de sociedade neoliberal que dilacera a vidahumana e destri a natureza3 (BOFF, 1993). O consumismo, acentralidade do mercado e do capital so armas que destroem avida. Necessita-se de uma tica ecolgica que seja expresso realde justia social e solidria.

    A perspectiva teolgica imprescindvel para a compreensodos problemas humanos, porque possibilita uma leitura da reali-dade luz da f. Busca-se entender o que significa a f em DeusCriador. A crise ecolgica reflete a crise entre os seres humanos.A teologia, com o discernimento que lhe prprio, pode ajudaras comunidades a se posicionarem de maneira construtiva e har-moniosa com o seu meio ambiente e a apoiar todos os esforoslocais, nacionais e internacionais que procuram responder aosdesafios ecolgicos dentro de uma perspectiva integral do homem.

    A misso do ser humano cultivar e guardar.4 Sua res-ponsabilidade consiste em, estando no mundo, viver em comu-nho e comunicao, tornando a Terra ambiente onde ele possaviver, trabalhar e organizar-se em sociedade, atuando mediantesua criatividade.

    A Teologia da Criao, de perspectiva ecolgica, ajuda-nos acompreender que a vida comunicao e comunho. Ela lana-nos dentro do grande mistrio do amor da Trindade. Dizer quesomos criados, significa afirmar que viemos de Deus, temos emns marcas de Deus e caminhamos para Deus.

    2 Ou ocorre um pro-cesso global de soli-dariedade, de frater-nidades universais,ou o convvio huma-no ser cada vezmais degradante. Fa-zer opo pelo amor um imperativo ti-co-teolgico-ecolgi-co. mister re-tecera teia das relaesprofundas do existirhumano.

    3 A tica da sociedadeatual dominante que utilitarista e antro-pocntrica. A novaordem tica deve serecocntrica, visandoao equilbrio da co-munidade terrestre. tarefa fundamentalrefazer a aliana des-truda entre o ser hu-mano e a natureza ea aliana entre aspessoas e povos paraque sejam aliadosuns dos outros emfraternidade, justiae solidariedade. Ofruto dessa relao a paz, harmonia domovimento e o plenodesabrochar da vida.

    4 A tarefa do ser hu-mano era cultivar eguardar a criaoque vai sendo criadapor Deus (cf. Gn2,15). Nessa pers-pectiva, ao ser huma-no dada a missode preservar, guar-dar e transformar acriao em cultura,em fonte de plena vi-da, cultivar. O serhumano torna-se,atravs de sua mis-so, co-criador comDeus.

  • Suzana dos Santos Gomes

    140 Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    Na sua tentativa de dilogo com o mundo moderno, a Teolo-gia da Criao tem procurado mostrar que a f em Deus Cria-dor no contrria ao progresso cientfico-tcnico. Criado imagem e semelhana de Deus, o homem responsvel pelomundo, chamado a domin-lo a servio da humanizao detodos os homens. Como criaturas imagem de Deus, o homem responsvel pela vida.

    A recuperao do equilbrio perdido, no sentido fraterno eecolgico, passa pelo corao do homem e pela renovao desuas relaes com a natureza e com seus irmos. Assim sendo, alibertao total da humanidade tem estreita ligao com a liber-tao da natureza, em que os novos cus e novas terras (Is65,17-25) revelaro o esplendor do prprio Deus.

    Percebe-se ento que a Ecologia, alm de ser uma cincia, uma questo profundamente humana e fraterna. Alm da con-jugao de esforo cientfico, tecnolgico e poltico, a contribui-o religiosa de suma importncia, pois ela trabalha com aconscincia humana, com seu referencial de valores e com suaresposta de vida ao Criador, mediada pela fraterna relao entretodos. Um grande desafio para os cristos e para todos os ho-mens que transcendem sua f no visvel unirem-se num grandemovimento pela promoo da vida.

    A nova tica fruto do amor humano, da sua capacidade decuidar5 (BOFF, 1999). Cuidado significa desvelo, solidarieda-de, ateno, zelo. uma atitude de sada de si para o encontrocom o outro. O cuidado a estrutura bsica que permite que ascoisas sejam humanas, carregadas de afeto, de significao. Aessncia do ser humano constituda pelo cuidado.

    Como promotora da justia relacional, a tica ecolgica apontacritrios para uma prxis libertadora de todas as formas de opres-so. Exige a capacidade de romper com a violncia e a opresso.A abertura ao processo crescente de humanizao um dos im-perativos ticos de que a pessoa humana mais necessita assimi-lar em sua vida.

    A mudana radical da forma de conceber o mundo e das ati-tudes diante da realidade que o cerca, faz do ser humano, na vi-so crist, um ser de esperana e reconciliao, que anuncia vi-da. A conscincia ecolgica impe um princpio tico de relao.O amor-servio-doao perpassa todo o ser e existir humanos,devendo ser inclusivo, aberto, verdadeiro.

    5 Que o cuidado aflo-re em todos os mbi-

    tos, que penetre naatmosfera humana eque prevalea em to-

    das as relaes. Ocuidado salvar a

    vida, far justia aoempobrecido e res-

    gatar a Terra comoptria e mtria

    de todos.

  • Ecologia e responsabilidade humana

    141Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    SOLIDARIEDADE CONSTRUINDO NOVAS RELAES

    A ecologia abriu um espao novo para a prtica e a vivnciada solidariedade. O princpio da solidariedade afirma que o serhumano responsvel por ele mesmo e co-responsvel pela vidae bem-estar de todos, incluindo a natureza. Exige que se queirao bem pessoal e coletivo. A libertao ecolgica se concretizar naprtica da genuna solidariedade, fundada no amor e no servio.

    O compromisso tico-ecolgico de reconstruo consiste emreaver o perdido, reanimar o sem-vida, alimentar o doente, amaro no-amado6 (SUNG, 1995). Um futuro melhor depende detodos. Nesse sentido, a tica ecolgica deve propor aes pre-ventivas. Parte da natureza, co-responsvel pelo equilbrio eco-lgico, o ser humano tem direito dignidade e o dever de garan-tir qualidade de vida s futuras geraes.

    A fome presente no mundo atesta que ele no ainda lugarde fraternidade. O crescente poder do homem e seu mau usoameaam destruir o prprio gnero humano. O amor que habitao corao do homem, permite-lhe superar os seus limites e agirno mundo, criando estruturas do bem comum tendo em vista acivilizao do amor. Assim, a pessoa humana chamada a criarnovas relaes mediante um movimento de todo o seu ser. Essatransformao humana radical na sua profundidade e nos seuscompromissos, envolve todos os estmulos da pessoa e seus meiosmateriais e espirituais.

    A converso do corao humano proposta de Deus podemudar profundamente a face da Terra. Convertei-vos e acredi-tai na Boa Nova (Mc 1,15) o imperativo que acompanha oanncio do Reino de Deus. Essa transformao profunda esti-mular o homem, no seu cotidiano, a olhar para alm do seu pr-prio interesse imediato, a mudar pouco a pouco o seu modo depensar, trabalhar e viver, para crescer na experincia solidria.

    No documento A Igreja e a questo ecolgica, a CNBB apre-senta alternativas para a soluo do problema ecolgico, queso: mudar hbitos de vida, superando o consumismo e o des-perdcio; denunciar o neoliberalismo, que insiste na manuten-o do sistema econmico, que gerou as desigualdades entre ospovos; acabar com o mecanismo da dvida externa, que instru-mento de implantao da morte; suspender os gastos blicos;democratizar o uso do solo agrrio e urbano, desenvolvendo fon-tes de energia no poluentes e renovveis; valorizar as iniciativas

    6 O ser humano vivemelhor quando re-nuncia ao estar sobrepara estar junto comos outros. Quandoimpe limites a seuprprio desejo emnome do equilbrio eda harmonia. Assim,descobre-se que no s um ser de dese-jos, mas tambm umser de solidariedade ecomunho.

  • Suzana dos Santos Gomes

    142 Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    populares e os movimentos sociais como experincias concretasde sustentabilidade sobrevivncia fsica, cultural e ambiental;respeitar as diferenas entre as pessoas e as culturas, portadorasde valores e caractersticas; promover a integrao e a solidarie-dade entre os povos visando comum responsabilidade na cons-truo da nova ordem; conhecer, respeitar e aprender com aexperincia dos povos indgenas, das comunidades afro-brasi-leiras, que souberam viver uma relao respeitosa com o meioambiente; e empenhar-se para que os seres humanos vivenciemas virtudes do zelo, da compaixo e da ternura, nas suas rela-es com os bens da criao.

    Sabe-se que a superao dos problemas ecolgicos ser fru-to de nova conscincia, de nova forma de viver, de pensar, derelacionar-se. A conscincia dever preceder a cincia e a racio-nalidade cientfica dever ser superada pelos critrios ticos dereverncia pela vida. Essa foi a postura ecologista de vrios ho-mens, tais como: Francisco de Assis, Thoureau, Tolstoi, Gan-dhi, Luther King, Chico Mendes, Hlder Cmara e outros. Essafoi a proposta de vida anunciada por Jesus de Nazar, encarna-da em seu modo-de-ser-cuidado7 (BOFF, 1999) e sintetizadaem sua palavra-programa de vida: Que todos tenham vida evida em abundncia(Jo 10,10).

    EDUCAO ECOLGICA A SERVIO DA VIDA

    Nesse contexto, a educao ecolgica um processo inadi-vel. O desafio promover a qualidade da vida das pessoas a par-tir do resgate da tica, da cultura e da poltica. A educao cha-mada a exercer o seu papel de formadora crtica, despertadorada conscincia. Pelizzoli (1999) afirma que somos responsveispela vida. A educao ambiental, a ecologia, os movimentos so-ciais aglutinam-se para fazer florescer o paradigma novo da soli-dariedade, profundamente revolucionrio e paciente, capaz deerguer a esperana e a utopia humana ineliminvel de construirno o cu na terra mas o ideal maior do homem: a promooda justia, o fazer florescer a dignidade de cada pessoa.

    A Escola pode contribuir estimulando a percepo e a refle-xo do educando sobre o seu entorno, orientando o estudo e aaprendizagem significativa dos nossos graves problemas socio-ambientais, promovendo a insero dos educandos em sua his-

    7 Revelou humani-dade o Deus-Cuida-do experimentando

    Deus como Pai eMe... Fez da miseri-crdia a chave de sua

    tica. pela miseri-crdia que os seres

    humanos chegam aoReino da vida (Mt

    25, 36-41).

  • Ecologia e responsabilidade humana

    143Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    tria, em seu meio, como sujeitos, tendo em vista a construode uma sociedade justa e fraterna.

    Educadores comprometidos podero contribuir para a for-mao de crianas e jovens conscientes, a fim de que, num futu-ro, sejam capazes de atuar e interferir na realidade socioambi-ental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estarde cada um e da sociedade, local e global.

    A educao ecolgica traz o direito vida como eixo centralda educao, promovendo um processo crtico de busca da auto-nomia comunitria. Reafirma a preocupao com os aspectosbiopsquicos e socioculturais, enquanto fundamento, sobre o qualse constroem as concepes de homem, de mundo e de socieda-de, abarcando a relao existente entre indivduo, sociedade, na-tureza e cultura, de modo a atingir um pensar global e um atuarlocal.

    necessrio, portanto, educar para a responsabilidade eco-lgica em relao a si, aos outros e ao ambiente. Trata-se de umaconverso, metania,8 que exige mudana de pensamento eao. Pela experincia profunda de Deus, o ser humano ser ca-paz de uma verdadeira reconciliao. A reorientao dos cami-nhos da humanidade se far em Deus. A coerncia crist exigecompromisso e engajamento. A f exige ao transformadora.Todo conhecimento, sentimento e ao devem promover a vida.A opo pela vida, a partir de uma nova concepo e de uma no-va conscincia ecolgica far o homem assumir uma prxis li-bertadora, de comunho e solidariedade.

    8 Metania: do gregometnoia. Conceitofilosfico-teolgicoque indica transfor-mao radical deuma pessoa. Seu ca-rter, seu pensamen-to, converso espiri-tual.

    Referncias

    BOFF, Leonardo. Ecologia, mundializao e espiritualidade. SoPaulo: tica, 1993.

    BOFF, Leonardo. Saber cuidar: tica do humano compaixo pelaterra. Petrpolis, R. J: Vozes, 1999.

    BOFF, Leonardo. tica da vida. Braslia: Letraviva, 1999.

    LEROY, Jean Pierre. Por uma conscincia ecolgica. Tempo e Presen-a, n. 305, maio/jun. de 1999, p. 23-24.

    MINC, Carlos. Como fazer movimento ecolgico. Petrpolis: Vozes/Ibase. 1985, p.57-62.

  • Suzana dos Santos Gomes

    144 Horizonte, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 137-144, 1 sem. 2004

    SCHWERZ, Nestor Incio; NETO, Osvaldo Portella Gomes. Ensinosocial da Igreja e ecologia. Petrpolis: Vozes, 1992.

    SUNG, Jung Mo. Conversando sobre tica e sociedade. Petrpolis:Vozes, 1995.

    VIEIRA, Tarcsio Pedro. O nosso Deus um Deus ecolgico: poruma compreenso tico-teolgica da ecologia. So Paulo: Paulinas,1999.