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CADERNOS DA EDITORIAL A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER EM LEIRIA ABRIL 2017 Cáritas Editorial Po

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CADERNOSDA EDITORIALA ALIANÇA DO PENSARE DO FAZER EM LEIRIA

ABRIL 2017

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ÍNDICEA ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER EM LEIRIA 3

HOMILIA DO SANTO PADRE 5

ENTREVISTA A JÚLIO MARTINSPresidente da Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima 8

APRESENTAÇÃO DO LIVRO «SERVIÇO SOCIAL E DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO»Cristóvão Margarido 10

ENTREVISTA A RUI MATOSDiretor da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais 15

APRESENTAÇÃO DO LIVRO «A INSTITUCIONALIZAÇÃO NO FEMININO – QUE REPERCUSSÕES NA REINTEGRAÇÃO»Cristina Ferra 10

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER EM LEIRIA

No passado dia 20 de abril, decorreu no auditório da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), a apresenta­ção de 3 obras publicadas pela Editorial Cáritas, numa sessão dinamizada pela Cáritas Diocesana de Leiria, onde estive­ram presentes mais de 100 pessoas, na sua maioria estudantes das licenciaturas de educação e de serviço social.Na sequência de um trabalho que tem sido desenvolvido pela Editorial Cáritas, em parceria com as Cáritas Diocesanas e

Instituições de Ensino Superior, foi assina­do um protocolo que pretende promover a investigação realizada em mestrados da área social e que prevê a atribuição de um prémio e a publicação da melhor tese de mestrado da ESECS no próximo ano.Na sessão de abertura, estiveram presentes o Presidente, à data, da ESECS, Rui Matos, o Presidente da Cáritas Diocesana de Leiria­­Fátima, Júlio Martins, e o Secretário ­Geral da Cáritas Portuguesa, João Pereira.A primeira obra foi apresentada pelo Pe. José Nuno Ferreira da Silva, que na

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sua apresentação destacou a importân­cia do cuidar, numa reflexão que partiu da sua experiência enquanto Capelão do Hospital de São João, no Porto, onde es­teve durante cerca de 18 anos.Tendo por por base o amor e a nossa capacidade de, enquanto seres sociais, nos darmos ao outro, apontou a neces­sidade de recebermos o outro antes de cuidarmos dele, afirmando que “aqueles de quem cuidamos são um caminho para uma consciência mais lúcida e clara sobre quem somos e quem queremos ser”. Para o agora Capelão do Santuário de Fátima, o livro O Cuidar Como Relação de Ajuda, é um “contributo decisivo para ler teologi­camente esta causa”.Serviço Social e Desemprego de Longa Duração foi a segunda obra apresentada nesta sessão, pelo Professor Cristóvão Margarido, que fez um percurso sobre aquele que tem sido o desenvolvimen­to destas temáticas em Portugal. Para o docente da ESECS, a investigação realiza­da pela autora, que tem como objetivo compreender a intervenção do serviço social com desempregados de longa du­ração em Marvila, tendo em vista a sua reinserção social, levanta questões muito pertinentes ao longo de 4 capítulos que se debruçam sobre o serviço Social pós anos 80; as causas e teorias explicativas do desemprego e esquemas de proteção social; a análise das respostas sociais locais

e sua eficácia; e a intervenção do Serviço Social ao nível da Reinserção Social das pessoas em situação de Desemprego de Longa Duração.Por fim, Cristina Ferra, autora da terceira obra apresentada ­ A Institucionalização no Feminino: que repercussões na Reintegração ­ fez uma viagem pela sua experiência ao longo da investigação que realizou, no âmbito da Dissertação de Mestrado em Serviço Social no ano de 2010, para analisar as trajetórias de vida de mulhe­res que durante a sua infância estiveram acolhidas na Casa da Infância e Juventude de Castelo Branco (CIJE) e cuja desins­titucionalização ocorreu no período de 1995 a 2000.

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«Apareceu no Céu (…) uma mulher revestida de sol»: atesta o vidente de Patmos no Apocalipse (12, 1), anotando ainda que ela «estava para ser mãe». Depois ouvimos, no Evangelho, Jesus dizer ao discípulo: «Eis a tua Mãe» (Jo 19, 26 ­27). Temos Mãe! Uma «Senhora tão bonita»: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos atrás. E, à noite, a Jacinta não se con­teve e desvendou o segredo à mãe: «Hoje vi Nossa Senhora». Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram. A Virgem Mãe não veio aqui, para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu.Mas Ela, antevendo e advertindo ­nos para o risco do Inferno onde leva a vida – tantas vezes proposta e im­posta – sem ­Deus e profanando Deus nas suas criaturas,

HOMILIA DOSANTO PADREFÁTIMA, 13 DE MAIO DE 2017

«Apareceu no Céu (...) uma mulher revestida de sol»

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veio lembrar ­nos a Luz de Deus que nos habita e cobre, pois, como ouvíamos na Primeira Leitura, «o filho foi levado para junto de Deus» (Ap 12, 5). E, no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus que irradiava de Nossa Senhora. Envolvia ­os no manto de Luz que Deus Lhe dera. No crer e sentir de mui­tos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra quando nos refugia­mos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir, como ensina a Salve Rainha, «mostrai ­nos Jesus».Queridos peregrinos, temos Mãe, temos Mãe! Agarrados a Ela como filhos, viva­mos da esperança que assenta em Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura, «aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo» (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai celeste a humanidade – a nossa humanidade – que tinha assumido no seio da Virgem Mãe, e nunca mais a largará. Como uma âncora, fundeemos a nossa esperança nessa humanidade colo­cada nos Céus à direita do Pai (cf. Ef 2, 6). Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos sus­tente sempre, até ao último respiro.Com esta esperança, nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem con­

ta que o Céu concedeu nestes cem anos, passados sob o referido manto de Luz que Nossa Senhora, a partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os quatro cantos da Terra. Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a adorá ­Lo. Daqui lhes vinha a força para superar contrariedades e sofrimentos. A presença divina tornou ­se constante nas suas vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar junto a «Jesus Escondido» no Sacrário.Nas suas Memórias (III, n. 6), a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que beneficiara duma visão: «Não vês tanta estrada, tantos cami­nhos e campos cheios de gente, a chorar com fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja, diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com ele?» Irmãos e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui venerar a Virgem Mãe e confiar ‑lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto, não se perdem; dos seus braços, virá a esperança e a paz que necessitam e que suplico para todos os meus irmãos no Batismo e em huma­nidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandona­dos. Queridos irmãos, rezamos a Deus

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com a esperança de que nos escutem os homens; e dirigimo ­nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus.Pois Ele criou ­nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e reali­zável segundo o estado de vida de cada um. Ao «pedir» e «exigir» o cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia, 28/II/1943), o Céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada! A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. «Se o grão de trigo, lança­do à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24): disse e fez o Senhor, que sempre nos precede. Quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou antes. Assim, não subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as tre­vas do mal e trazer ­nos para a Luz.Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amo.

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Créditos da fotografia: L’Osservatore Romano

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Editorial Cáritas (EC): Pela primeira vez em Leiria, a Editorial Cáritas e a Cáritas Diocesana de Leiria juntam ‑se para pro‑mover a apresentação de três obras da Editorial na diocese. Como vê esta colaboração?

Júlio Martins (JM): Eu considero que esta colaboração é muito útil. Por um lado, podemos ajudar na divulgação das obras publicadas, mas por outro lado oferece­mos alguns elementos novos às pessoas. É um veículo para podermos, junto da população, nomeadamente no caso des­te grupos muitos concretos, que são os jovens no Instituto Politécnico de Leiria, divulgar obras e estudos que poderão ter interesse para eles.

EC: Sendo uma das Cáritas Diocesanas que mais aposta no trabalho com os jovens, e estando numa escola que só este ano conta com 2000 alunos inscritos, um número que

nunca foi tão alto, como olha para o interes‑se crescente destes jovens nas áreas do ser‑viço e da educação social? Quais considera que serão os seus principais desafios quando ingressarem no mercado de trabalho e lida‑rem com a realidade social do nosso país?

JM: Eu penso que logo o primeiro de­safio será encontrarem colocação no mercado de trabalho, numa área que vá ao encontro das suas legítimas aspi­rações e expectativas. Por outro lado, tendo consciência de que este campo de ação vem ganhando foros de im­portância para a nossa sociedade, uma vez que há 30 ou 40 anos, falar ­se do serviço social era quase uma raridade, acredito que hoje em dia praticamente todas as instituições, nomeadamente as que trabalham com a população mais carenciada, têm necessidade absoluta de todos estes agentes que poderão em muitos casos fazer a diferença.

ENTREVISTA AJÚLIO MARTINSPRESIDENTE DA CÁRITAS DIOCESANA DE LEIRIA

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EC: No seguimento do protocolo que hoje se celebra, que outras iniciativas ligam a Cáritas Diocesana de Leiria ao Instituto Politécnico de Leiria?

JM: Ao longo do tempo, já têm havido outras iniciativas, mas de caráter di­ferente. O IPL tem organizado alguns eventos em que há angariação de fundos ou bens que revertem para a Cáritas, mas sempre numa lógica do IPL doar alguma coisa à Cáritas de Leiria, ainda que sempre numa lógica de envolvi­mento e de estarmos presentes. Todos os anos dois dos nossos técnicos são, a título de exemplo, convidados a ir a uma aula, para partilharem com os alu­nos a sua experiência de trabalho de ação social desenvolvido na Cáritas. Portanto, existe colaboração e um mú­tuo reconhecimento da ação de ambos, onde agradecemos ao IPL o empenho a favor da Cáritas e o reconhecimento da Cáritas como interlocutor válido para colaborar na ação formativa dos seus alunos. A iniciativa de hoje permite ­nos reforçar ainda mais essa participação e reconhecimento.

EC: O prémio a atribuir à melhor tese de mestrado na área social no próximo ano tem sempre o nome de alguém com destaque na diocese. No caso de Leiria, explique ‑nos

como surgiu o nome do Dr. Luís António Roda?

JM: Este homem era comerciante, ti­nha um estabelecimento aqui no cen­tro da cidade de Leiria e já por si era um homem extremamente respeitado que sempre se interessou pela ação sócio ­caritativa, não apenas com a ajuda direta, as esmolas, mas também com a criação de estruturas que pu­dessem ajudar as pessoas e exemplo disso é a criação da casa da colónia de férias na praia, para as crianças mais carenciadas, o bairro S. Francisco, que é um bairro destinado às famílias mais vulneráveis, o lar de S. Francisco, dirigido também para pessoas com mais dificuldades financeiras, mas ele próprio era conhecido na cidade por ter entregue a gestão de alguns dos seus estabelecimentos, que depois se desenvolveram, aos seus empregados. Um homem de uma generosidade extraordinária. A determinada altura, o Sr. Roda tinha mais do que um es­tabelecimento “pronto ‑a ‑vestir” em Leiria e quando começou a diminuir a sua atividade, foi passando os mesmos para os empregados que tinha nas lojas. Um homem que é um exemplo, pela sua ação sócio ­caritativa e ajuda ao próximo, para a diocese de Leiria.

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Inicio, frisando o quanto importante é para a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, receber este ciclo de conferên­cias tão importantes para os nossos alunos dos curso das áreas sociais como o Curso Técnico Superior em Intervenção Social e Comunitária, Mestrado em Mediação Intercultural e Intervenção Social e Licenciaturas em Educação Social e Serviço Social.Gostaria de enquadrar brevemente este tema, que é um dos fatores que coloca pessoas e por vezes famílias inteiras em situação de grande vulnerabilidade social e muitas vezes em situações de exclusão social pois, por não terem a possibilidade de aceder a determina­dos bens e serviços, acabam por ver diminuídas as suas chances de vida. Tal como refere Bruto da Costa “Estar desempregado não é só estar privado da fonte normal de

APRESENTAÇÃO DO LIVRO«SERVIÇO SOCIAL E DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO»CRISTÓVÃO MARGARIDODOCENTE NA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS

«Mas quais as razões que levam a que o trabalho ocupe um “lugar” tão importante nas nossas vidas?»

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rendimento. Também é perder um dos víncu‑los mais importantes de ligação à sociedade, à rede de relações interpessoais que o emprego proporciona e, ainda, ao sentimento, que do mesmo advém, de participar na vida econó‑mica do país.” (Costa, 2001: 57).Em 2016, em média, 11.1% da população ativa em Portugal esteve em situação de desemprego. Estamos a falar de 573 mil pessoas. Destes 62.1% estavam em situa­ção de desemprego de longa duração. Sendo a população portuguesa cerca 10.5 milhões, não é assim tanto, dirão alguns mais otimistas e desconhecedores de como estes cálculos são feitos... Os cálculos são feitos sobre a População ativa que é, em 2016, de 5.178,3. Destes, 2.652,4 são homens e 2.525,9 são mulhe­res. (Fontes/Entidades: INE, PORDATA Última actualização: 2017 ­02 ­08)Convém perceber que a população ativa é a população com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, con­stituía a mão de obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no circuito económico (população em­pregada e desempregada).Desta forma, Portugal em 2016 foi o 2º País da OCDE com o melhor resultado em ter­mos de descida da taxa, só superado pela Espanha. No entanto Grécia 23%, Espanha 18,4%, Itália 12% e Portugal 11.1% conti­nuam com os piores resultados globais. A título de exemplo: A Alemanha tem 3.9%.

O desemprego de longa duração é, regra geral, ainda mais complicado de ultra­passar. O conceito de desemprego de longa duração engloba os trabalhadores disponíveis para o trabalho e à procura de emprego que há mais de doze meses se encontrem desempregados e inscritos nos centros de emprego, assim como as pessoas com idade não inferior a dezoito anos, disponíveis para o trabalho e em situação de procura de primeiro emprego, que se encontrem inscritas nos centros de emprego há mais de doze meses.Mas quais as razões que levam a que o trabalho ocupe um “lugar” tão importan­te nas nossas vidas?A própria organização social, pois o traba­lho funciona como uma forma de reconhe­cimento através da produtividade. É através do trabalho que o indivíduo sente que de­sempenha um papel importante para a so­ciedade que o rodeia, desenvolvendo a con­fiança em si próprio e nas suas capacidades. A lógica de produção e de consumo que no é incutida no dia a dia e de que os pró­prios ditados populares são um exemplo:1 ‑ “Quem não trabuca, não manduca” 2 ‑ “Quem não tem dinheiro, não tem vícios” 3 ‑ “O trabalho enriquece, a preguiça empobrece”4 ‑ “Com trabalho e perseverança tudo se alcança” 5 ‑ “O trabalho é a fonte de todas as riquezas” 6 ‑ “A melhor cura para o desgosto é o trabalho” 7 ‑ “Sem trabalho, não há descanso”

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8 ‑ “O trabalho não mata ninguém” 9 ‑ “Quem trabalha, aquece” 10 ‑ “O trabalho mostra o que o homem é”11 ‑ “Trabalhar não é vergonha, é honra”12 ‑ “Quem não trabalha, não mantém casa farta” 13 ‑ “O trabalho é a fonte de todas as alegrias” 14 ‑ “Quem trabalha, goza verdadeiramente a vida”Esta lógica é incutida desde tenra idade, a título de exemplo:À questão: Menino(a) o que queres ser quando fores grande? Temos a resposta es­perada e socialmente convencionada:“Médico”; “Professora”; “Polícia”; “Costureira”; “Bombeiro”E quando a criança responde a profissão do pai ou da mãe, logo a sabedoria pop­ular afirma: “Filho de peixe sabe nadar!!!” ou“Quem sai aos seus não degenera”.O problema é quando a criança responde:“Não sei…”Preocupação terrível ­ “Não queres ser nada?” Nada de positivo se augura para esta criança, vai ser um miúdo sem futuro, cheio de problemas... A profissão assume assim a categoria social do “ser” alguma coisa ou “alguém”.No entanto, ninguém espera que a criança responda: “Feliz”; “Saudável”; “Simpático”; “Jovem outra vez”; ou como eu respon­dia: “Quando for grande? Quero ser out­ra vez pequeno…”.

A construção da identidade dá ­se numa dinâmica quase antagónica de que são exemplo: trabalhador – desempregado; ativo – inativo; útil – inútil; contribuinte – não contribuinte, como se para além do preto e do branco não existissem mais cores. É desta forma que se corta a au­tonomia e se contribui para a criação de desempregados profundamente infelizes e desmotivados com a sua situação de serem “nada”. Não é por isso de estran­har que as consequências do desemprego sejam muito graves:A nível individual: Baixa autoestima; ansie­dade; depressão; estigma; frustração; des­motivação; desqualificação; insatisfação com a vida…A nível social: criminalidade; pobreza “envergonhada”; desorganização familiar; violência; alcoolismo; pressão social…A nível económico: menos receitas­­contribuições ­impostos para o esta­do e maior despesa Pública através das prestações/apoios sociais…A Doutora Aida Ferreira escreveu uma obra extraordinária. Gostaria de salientar, em primeiro lugar, a foto de capa em que é visível uma pessoa que embora esteja “no mundo” luta para se manter à tona. Um simbolismo forte a lembrar o dia ­a ­dia de muitos desempregados. Uma escolha de capa feliz para dar conta de um tema infeliz...A sua pesquisa tem como objetivo a com­preensão da intervenção do serviço social

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com desempregados de longa duração, num espaço territorial delimitado (Marvila), ten­do em vista a sua reinserção social e levanta questões muito pertinentes como:Será que os DLD após a perda dos direi­tos resultantes do trabalho, permanecem “dependentes” da ação social?Como se articula a situação de DLD com os valores e princípios de direitos humanos e de Justiça social inerentes ao Serviço Social?Qual a intervenção do Serviço Social quando há redução de políticas de apoio ao desemprego?Que apoios existem na comunidade e como se articulam?Como definem os Assistentes Sociais as estratégias de relação de ajuda em ordem a uma maior eficácia na sua ação, quando há uma aumento constante de utentes?Como vivenciam os desempregados de longa duração a experiência de exclusão do mundo do trabalho e coo percepcionam a intervenção social dos Assistentes sociais?Para responder a estas questões a autora recorre a pesquisa qualitativa com recurso a fontes bibliográficas variadas tais como artigos, livros, documentos e legislação.A escolha de Marvila assenta basicamente no número elevado de processos sociais da freguesia e utentes DLD. Das 8 fregue­sias de Lisboa com mais de 2000 utentes esta era a que apresentava maior número de diagnósticos de DLD (81 processos).

Selecionada a freguesia marcaram ­se entrevistas com Assistentes sociais e Utentes. Analisaram ­se 41 processos re­lativamente a idade, sexo, profissão, agre­gado familiar e capitação mensal. Destes entrevistaram ­se 11. Os Assistentes so­ciais entrevistados foram os que se mos­traram disponíveis, dos 18 da Freguesia de Marvila foram entrevistados 10 e tam­bém a coordenadora do serviço.Foram feitas no total 23 entrevistas que corresponderam a 18,37 horas de grava­ção e transcrição para análise de conteúdo.A obra foi organizada em 4 capítulos:O Cap.1 – Aborda o serviço Social pós anos 80, como uma profissão que se ocu­pa de problemas globais; Apresenta os tipos de Welfare State. O Cap.2 – Contextualiza teoricamente o desemprego e o desemprego de longa duração; Apresenta as causas e teorias explicativas do desemprego e esquemas de proteção social.

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O Cap.3 – Dá voz dos Assistentes Sociais e aos Utentes; Apresenta a análise das respostas sociais locais e sua eficácia.O Cap. 4 – Dá conta da intervenção do Serviço Social ao nível da Reinserção Social das pessoas em situação de Desemprego de Longa Duração, o plano de Inserção Social a as facilidades e constrangimentos do posto de vista da intervenção socialConcluindo:O Serviço social aparece como o principal “motivador” de grupos para o regresso ao mercado de trabalho, mas há 2 formas distintas de modus operandi1 – Preocupação pela autonomia.2 – Punição pela dependência/Policiamento das medidas adotadas.É importante salientar o reconhecimento (pelas entrevistadas) da importância das medidas, mas também da insuficiência destas face às necessidades primárias e básicas dos desempregados. É notória a acomodação e falta de motivação de que o melhor exemplo é o “RSI visto como pen‑são vitalícia e não como situação transitória”É um trabalho em que podemos “ouvir” a voz das pessoas e em que alguns excertos nos chocam pelo drama que comportam:“A gente por exemplo não come uma bifana, come um prato de sopa. Faço uma panela de sopa, congelo. Não se pode comer um bife, come ‑se um ovo. Há sempre comer e os meus filhos sempre foram habituados assim.”(Utente 5)

Os apoios públicos e privados permitem uma cobertura quase total das necessida­des básicas da população. No entanto as relações de vizinhança são quase inexis­tentes, a pobreza é generalizada e o apoio estatal é que vai permitindo manter a coe­são social,. São identificadas as seguintes fases relativas ao desemprego: revolta – desmotivação – adaptação/acomodaçãoNa generalidade trata ­se de uma interven­ção de ordem mais paliativa de resposta a necessidades básicas, pois os problemas são estruturais e não “apenas” de Marvila.De salientar ainda a dedicatória do trabalho:Aos excluídos do mundo do trabalho, vítimas do totalitarismo lucrativo.Aos que lutam pela dignidade de um emprego.Aos que contam os cêntimos “da autonomia.”Aos que mantêm a esperança de justiça social.Às (aos) Assistentes Sociais que resistem no trabalho de intervenção direta.Lutam pela sobrevivência dos pobres e excluídos.Lutam pela inclusão social em tempos de exclusão.Promovem a igualdade de Direitos Humanos.Preservam a dignidade humanaAida Ferreira

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Bibliografia:COSTA, Alfredo Bruto da (2001). Exclusões sociais, Lisboa: Gradiva.

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Editorial Cáritas (EC): A investigação é uma das vertentes em que mais apostam aqui na vossa escola, e isso é comunicado em todas as vossas plataformas. Na área social, mais especificamente, qual tem sido o trabalho desenvolvido a este nível?

rui Matos (rM): Como instituição do ensino superior é nossa obrigação, embora o façamos com gosto, intervir em diversas áreas. Para além da mais tradicional, que é a educação, tam­bém a investigação e isso tem ficado expresso no processo de acreditação dos cursos, feito por uma agência na­cional, a A3ES, e é algo que eles tentam sempre verificar e avaliar, com grande pormenor, se as instituições estão a realizar investigação em quantidade, mas sobretudo com qualidade.Até há alguns anos, essa não era uma preocupação no ensino superior politéc­nico, porque não era essa a sua vocação,

mas com o avançar dos tempos, passou a não haver diferenciação entre o ensi­no superior politécnico e universitário no que diz respeito à questão da inves­tigação. Poderá ser uma investigação um pouco diferente, há quem diga que é investigação aplicada, mas é esta a área de maior investimento, na investigação de coisas concretas. A investigação no terreno com coisas para o terreno, daí ser pertinente a instituição deste prémio, para uma tese que resulta des­ses trabalhos de mestrado, mas numa perspectiva aplicativa, ou seja, partir do terreno, encontrar problemas no ter­reno, e dar resposta a esses problemas no terreno. Isto faz ­se noutras escolas do Instituto Politécnico de Leiria, numa relação mais próxima com as empre­sas, aqui mais com instituições, muitas de cariz social, às quais tentamos dar resposta com as investigações de terre­no que vão sendo feitas. Temos alguns

ENTREVISTA ARUI MATOSDIRETOR DA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS (À DATA)

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mestrados já nesta área que nos permi­tem começar a fazer esta produção, te­mos feita a apresentação e edição, pela própria escola, de livros que resultam dessa investigação, um dos mais recen­tes, da Professora Tânia sobre a ques­tão da terceira idade e dos sistemas de descontos para a segurança social nos países europeus, nomeadamente em Portugal. É um processo em cresci­mento, daí o nosso interesse em aderir a este protocolo que agora se celebra com a Cáritas.

EC: Na sua perspetiva, em que medida estão os jovens envolvidos e comprome‑tidos com as temáticas da área social?

rM: Essa questão é muito interessante, porque até eu próprio me tenho de­batido com ela e fico algo hesitante na resposta a dar. O que nós vemos à nossa volta é um mundo completamente tu­multuoso, basta ligar a televisão e só nos apetece desligar porque não há notícias boas, só há notícias más, sobretudo neste âmbito social. Contudo, o discurso pre­dominante é o discurso da inovação, da tecnologia, e não das pessoas. Ficamos com a ideia de que é a tecnologia que vai salvar o mundo, mas não. A tecnolo­gia vai matar o mundo, sendo um pouco radical, porque é a tecnologia que nos

permite criar mísseis balísticos inter­continentais que destroem o mundo. A tecnologia por si só não é boa, depende do uso que se faz desta. Mas quem é que faz uso da mesma? São as pessoas. Antes de qualquer tecnologia estão as pessoas e eu tenho a convicção de que no futu­ro esta área vai voltar a ter a dignidade que deveria ter, porque infelizmente o discurso não tem sido esse.As escolas superiores de educação, em particular, foram muito atacadas no passado, porque se dizia que a sua edu­cação não era de qualidade, e os resul­tados da A3ES vieram confirmar o con­trário, e que as áreas não interessariam, mas felizmente vemos que a procura continua, nunca tivemos tantos alunos como este ano na escola, temos perto de 2000 alunos, e eu espero que isso seja sinónimo de esperança no futuro, porque para mim o futuro só tem es­perança se nos empenharmos cada vez mais na questão das relações entre as pessoas. Não é a tecnologia, e não que­rendo dizer que a mesma não é impor­tante, mas não é a tecnologia que salva o mundo, são as pessoas que salvam o mundo com as suas ideias e com a sua vontade. A falta de respeito pelo outro, que se vê em todas as manifestações sociais, seja no âmbito desportivo, cul­tural ou religioso, está a matar o mundo,

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e penso que nós somos uma esperança para esse mundo, e quando digo nós, digo os alunos, as escolas, estas áreas. Tenho visto como sinal positivo, por exemplo, os jovens com muito interes­se no voluntariado, cada vez a aderirem mais a estas causas e, portanto, espero que eles sejam capazes de, com a nossa ajuda, dar um empurrão e promover uma modificação neste mundo onde os valores aparentemente desapareceram ou se alteraram radicalmente, em que aparentemente o que é importante já não é o ser, mas é o parecer, já não é a realidade, mas a imagem dessa reali­dade, e isso é muito mau. Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar isso e para que os jovens se de­diquem a esta área que é uma das mais importantes e que devemos preservar.

EC: O protocolo hoje celebrado prevê a atribuição de um prémio à melhor tese de mestrado na área social. Como olha para esta iniciativa da Cáritas e para a colabo‑ração que agora se inicia?

rM: Olho com muita satisfação. Como eu disse na apresentação, nós desde há uns anos para cá, decidimos começar a apoiar de forma clara a produção cien­tífica dos nossos docentes, mas não propriamente dos nossos alunos. Até

há uns anos era muito difícil, porque apesar de existirem coisas publicadas, custa muito publicar. Nós apostámos em fazer a publicação das obras dos nossos docentes, e são já várias de­zenas as obras publicadas. Surgir uma proposta para a publicação, em livro, da investigação feita por alunos de mestrado da nossa escola, é a cereja no topo do bolo. Os docentes já pu­blicam, mas agora podemos ver o re­sultado da sua intervenção junto dos alunos. Da maneira como está previs­to, garantimos que só serão publicadas obras se tiverem qualidade e esse é também mais um desafio para a escola, para que a investigação tenha cada vez mais qualidade de forma a justificar a sua publicação. É ao mesmo tempo um desafio e um reconhecimento, por isso só podemos olhar com bons olhos.

EC: Ao longo do ano, são várias as inicia‑tivas em que a Cáritas Diocesana de Leiria se cruza com o Instituto Politécnico. Como avalia esta colaboração? Gostaria que houvesse mais envolvimento?

rM: Todo o envolvimento é bem ­vindo e podemos sempre olhar para o copo como estando meio vazio ou meio cheio. Há sempre espaço para mais co­laboração. Agradecemos muito tudo o

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que já é feito, e hoje é mais um marco, mas estamos disponíveis e com von­tade para mais, quer por iniciativa da nossa parte, quer por parte da Cáritas Diocesana de Leiria.

EC: Dos três títulos que hoje vão ser apre‑sentados, que aspectos gostaria de destacar?

RM: Passando os olhos pelos três, eu diria que numa sociedade cada vez mais envelhecida, no bom sentido desse envelhecimento, com qualidade de vida, é decisivo. Sabemos que viver mais anos é um desafio à qualidade de vida, e ninguém quer viver mais tempo sem qualidade, e há uma pessoa que é muito importante neste processo – o intermediário. É preciso cuidar das pes­soas e é preciso cuidar dos cuidadores, porque são pessoas que sofrem muito, por vezes no silêncio, porque é difícil para quem cuida. Este não será o foco do livro, que será o cuidar posto nessa tónica de um voluntariado e de um im­perativo quase kantiano de “vamos aju­dar” e isso compete ­nos a todos. Todos nós, mais cedo ou mais tarde, vamos ser confrontados com esta situação e portanto este é sem dúvida um livro importante para dar a conhecer.“Serviço Social e Desemprego de Longa Duração” – ontem tivemos

a oportunidade de ver que nunca o desemprego esteve tão baixo, pelo menos de acordo com os dados que são publicados. É um bom sinal, e ainda bem que assim é, mas há muita gente que tem dificuldade em ter emprego e nesta área social é bom que se mos­trem resultados, dados e perspectivas de como atuar. Nós felizmente te­mos tido conhecimento de ex ­alunos nossos que têm sido capazes de ter empreendedorismo na área social e ajudar a diminuir este desemprego. É com muita satisfação que o vemos.Por fim, a “Institucionalização no Feminino” é uma temática que nos diz muito, é amplamente estudada aqui na escola, nomeadamente nos cursos de serviço e de educação social, nos mes­trados de mediação intercultural, in­tervenção social e de desenvolvimen­to comunitário, e nunca é de mais falar do feminino, até que haja verdadeira igualdade, que ainda não há, e neste sentido saíram notícias boas recen­temente, onde no sector do calçado os ordenados vão passar a ser iguais para homens e mulheres. Felizmente vão havendo estes bons exemplos, e aqui vamos tentar perceber as reper­cussões que existem quando há esta reintegração no feminino.

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O livro que hoje aqui venho apresentar enquanto au­tora foi apresentado em primeira mão no passado dia 09 de janeiro de 2017 no Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra, com a presença e pela voz do Dr. Armando Leandro, que assinou o prefácio.Cabe ­me hoje a mim tal tarefa, o que farei de forma in­tencionalmente simples, despretensiosa e breve, tanto quanto possível. E começo exatamente pela história do livro: Como é que ele surgiu?... Em que contexto temporal e espacial?... No ano letivo de 2008/2009 iniciei a frequência do VI cur­so de mestrado de serviço social no Instituto Superior Miguel Torga – Escola Superior de Altos Estudos.Enquanto assistente social do Centro Distrital de Castelo Branco, para além do acompanhamento a ní­vel de RSI, Ação Social e Cooperação, exerci a função

APRESENTAÇÃO DO LIVRO«A INSTITUCIONALIZAÇÃO NO FEMININO – QUE REPERCUSSÕES NA REINTEGRAÇÃO»CRISTINA FERRAAUTORA DA OBRA

«O objeto deste trabalho centrou-se na análise das trajetórias de vida de mulheres que durante a sua infância estiveram acolhidas na Casa da Infância e Juventude de Castelo Branco.»

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de presidente na CPCJ de Idanha ­a ­Nova e pertenci igualmente ao grupo de for­madores da então Comissão Nacional de Crianças e Jovens em Risco, o que me levou a optar por realizar a investigação social na área de crianças e jovens em perigo.A minha preocupação pela área da Institucionalização remonta à minha ado­lescência, altura em que fui responsável por um grupo de catequese (1.º /2.º ano) e tive o apoio de duas adolescen­tes, que se encontravam acolhidas numa Instituição da área da minha residência (precisamente um Lar de Infância). Eu era convidada para as festas de aniversário das adolescentes na Instituição e, nessa altura, questionava o motivo de ser a úni­ca “amiga” fora da instituição que tinha acesso à mesma.Ao ingressar no Curso de Mestrado em Serviço Social, considerei impor­tante a realização da investigação na área das crianças e jovens em perigo, e solicitei autorização à CIJE de Castelo Branco; contudo, tive como referencial a minha experiência vivenciada na minha adolescência.A Professora Doutora Alcina Martins e a Professora Doutora Rosa Tomé con­tribuíram desde o primeiro momento para a realização da investigação social e consideraram sempre a pertinência da divulgação da investigação social, através da publicação de um livro.

A dissertação de Mestrado foi elaborada com a colaboração de algumas pessoas a quem é justo tributar públicos agradecimentos:Aos meus pais e restante família, pelo apoio. À minha prima Liliana Reis pelo apoio que me deu na revisão do trabalho.Ao Dr. Carlos Catarino pelo seu contri­buto na revisão do texto do livro.Ao meu amigo Paulo Mesquita da M_Design & Marketing, de Cantanhede pela escolha da imagem para a capa deste livro.À Professora Doutora Maria Rosa Tomé, agradeço o seu empenho, bem como a sua disponibilidade e apoio, que suscitou sistematicamente o despertar do sentido crítico imprescindível na prossecução do meu trabalho de investigação. Agradeço igualmente todo o seu empenho e dedi­cação a esta causa que culminou na publi­cação deste livro.À Professora Doutora Alcina Martins, pela sua determinação na divulgação da Investigação Social, como marco referencial na afirmação do Serviço Social.À Editorial Cáritas pela possibilidade que me foi dada na divulgação da investigação que culminou na publicação deste livro.Ao Dr. Fernando Dias de Carvalho, pre­sidente da direção da Casa da Infância e Juventude de Castelo Branco, cuja dispo­nibilidade permitiu a consulta dos pro­cessos individuais, obtendo, dessa forma, a recolha de dados que constituíram o ponto de partida para esta investigação.

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Agradeço igualmente à assistente so­cial da referida instituição, Dra. Laura Mendonça, pela disponibilidade e infor­mações prestadas.Ao Dr. José Joaquim Gonçalves Antunes, então diretor do Centro Distrital de Castelo Branco, por ter autorizado a consulta de dados no Sistema Informação da Segurança Social.Ao Dr. António de Melo Bernardo, atual di­retor do Centro Distrital de Castelo Branco, pelo seu incentivo para esta publicação.À Dra. Helena Simões da Unidade de Infância e Juventude do Departamento de Desenvolvimento Social e Programas do I.S.S., IP, pelo seu contributo na revisão da presente publicação.Aos seguintes dirigentes do Centro Distrital de Castelo Branco, pela colaboração prestada: Dra. Verónica Pedrosa ­ Diretora de Unidade Desenvolvimento Social e Programas; Dra. Patrícia Ventura ­ Diretora de Núcleo de Respostas Sociais; e Dr. Nuno Maia ­ Diretor do Núcleo de Infância e Juventude.Às jovens que prontamente colaboraram no trabalho que agora se publica, o meu profundo reconhecimento pela forma calorosa com que me receberam e pelo incentivo à presente publicação, como se quisessem trazer a público a sua “voz”.Por último, quero agradecer a todas as colegas do VI Curso do Mestrado em Serviço Social, pela colaboração e parti­lha de conhecimentos.

De acordo com o Resumo apresentado no livro ­ A Institucionalização no Feminino: que repercussões na Reintegração – foi um trabalho realizado no âmbito da Dissertação de Mestrado em Serviço Social no ano de 2010. Em Portugal, e à seme­lhança de outros países europeus, verifica‑­se uma forte tradição no que se refere à institucionalização das crianças. Trata ­se de um tema muito debatido atualmente, onde se questiona de forma permanente o motivo inerente ao acolhimento institu­cional, tornando ­se igualmente pertinente suscitar a questão sobre a forma como se vivencia esse mesmo acolhimento e qual a sua implicação na integração das crianças e jovens na comunidade.O objeto deste trabalho centrou ­se na análise das trajetórias de vida de mulhe­res que durante a sua infância estiveram acolhidas na Casa da Infância e Juventude de Castelo Branco (CIJE) e cuja desinstitu­cionalização ocorreu no período de 1995 a 2000, considerando como critério a re­sidência das jovens à data da realização do estudo no distrito de Castelo Branco.A presente investigação permitiu ­nos co­nhecer as trajetórias de vida das jovens para a obtenção de dados sobre a experiência de vida, o seu processo de autonomização e para perceber de que forma a medida de institucionalização se repercutiu nos seus descendentes, e se estes constavam igual­mente das crianças e jovens com medida

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de proteção, nomeadamente de acolhi­mento institucional, agora designado por acolhimento residencial, de acordo com a Lei n.º 142/2015, de 8 de setembro.Relativamente aos objetivos, pretendemos: analisar o percurso de vida das jovens com medida de acolhimento institucional; anali­sar a sua experiência de vida e a avaliação que fazem sobre o seu processo de ins­titucionalização; identificar a forma como estas jovens se relacionam com a perceção do conceito formal de criança e jovem em perigo; analisar a sua autonomia de vida face à família, a sua inserção profissional e eventual ligação aos sistemas de proteção social; e analisar a situação e as expectati­vas das jovens sem filhos.No primeiro capítulo é apresentado um enquadramento teórico sobre ­ a criança como sujeito de direito, sendo apresentada a história da proteção à infância, o conceito de criança e jovem em perigo nas diferen­tes leis, a evolução das medidas direcionas as crianças e jovens, e as medidas de acolhi­mento institucional. Segue ­se um segundo capítulo subordinado ao tema – o processo de institucionalização e desinstitucionaliza­ção, versando sobre a temática da vida na instituição e sobre a Desinstitucionalização. Posteriormente são apresentados os pro­cedimentos metodológicos.Para a prossecução destes objetivos, ado­támos uma metodologia qualitativa. Para o efeito foi utilizada a análise documental,

através da consulta dos processos das jovens na instituição supracitada, saídas entre 1995 e 2000, mediante a prévia au­torização dos elementos da Direção.A referida análise documental foi seguida de uma estratégia metodológica de análi­se de conteúdo, seguindo ­se a utilização da técnica de entrevista semidiretiva, me­diante um guião de entrevista (de elabo­ração própria) dirigida a nove jovens.Após a realização das entrevistas, estas foram devidamente submetidas a uma leitura exaustiva, que culminou na ela­boração de uma grelha de análise para a qual foram definidos os temas bem como as categorias e subcategorias com vista à sistematização do tratamento da informação recolhida, respeitando desta forma os procedimentos éticos inerentes à realização da presente investigação. Os referidos temas compreendem: o período que antecede o acolhimento institucional; a instituição; a vida na comunidade; e a situação à data da realização do estudo.Relativamente aos objetivos definidos para a presente investigação, considerou ­se que os mesmos foram atingidos, permitindo responder à pergunta de partida: Quais foram as estratégias para a reintegração social das jovens e que entendimento fa­zem do risco/perigo na sua história e na geração seguinte/nos seus filhos?De salientar que no presente estudo, po­demos constatar ainda que:

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­ O acolhimento residencial das jovens está associada a situações de pobreza, ne­gligência, e orfandade e violência familiar; e suscitou um conjunto de sentimentos, agravados de as jovens, então crianças, não terem sido esclarecidas do motivo da rutura com a sua família de origem; ­ As jovens manifestaram uma conscien­cialização da vivência e das circunstâncias que estiveram na origem do seu acolhi­mento institucional; ­ As jovens evidenciam a atuação técnica da assistente social da Casa de Acolhimento Residencial bem como outros profissionais de referência da Instituição; ­ As jovens eram visitadas pela família, principalmente os seus pais; ­ Foi determinante o papel da instituição no investimento da educação das jovens e no encaminhamento das mesmas para cursos de formação profissional, que se traduziu na preparação das crianças e jovens aco­lhidas na integração na comunidade após a saída da Casa de Acolhimento Residencial; ­ À saída da CIJE, as jovens foram confron­tadas com o receio e a angústia de rea­daptação a uma nova fase das suas vidas, iniciando ­se um processo de adaptação ao seu espaço familiar e à própria comunidade.Dos resultados obtidos na presente in­vestigação, podemos concluir que, após a medida de acolhimento institucional (de­signado na nova lei por ‘acolhimento re­sidencial’), a maioria das jovens integrou

a família de origem. Algumas valorizam este regresso, ressalvando as dificuldades de adaptação à sua família e à própria comunidade.A maioria das jovens constituíram agre­gado próprio, revelando capacidades parentais na educação dos seus filhos, e proporcionando ­lhes uma infância segura e feliz, satisfazendo de forma responsável as suas necessidades tendo em vista a sua segurança, saúde, formação, educação e desenvolvimento. No que concerne à presente investigação, e face à temática que nos propusemos estudar, e aos resultados obtidos, julga­mos que a mesma poderá suscitar um incentivo e contributo a outros estudos de investigação sobre a medida de acolhi­mento residencial.Considero que, independentemente da área profissional, é muito importante dar continuidade ao processo da aquisição de conhecimentos ­ desiderato que nunca será alcançado em plenitude ao longo da vida. Ainda assim, neste contexto, posso exemplificar que o facto de ter concluído o Mestrado permitiu ­me desempenhar a função de docência como assistente convi­dada na Unidade Curricular “Intervenção do Serviço Social da Justiça” no Instituto Politécnico de Castelo Branco ­ Escola Superior de Castelo Branco.

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