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    Revista Digital de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Campinas, v. 4, n. 1, p. 38-50, jul./dez. 2006 ISSN: 1678-765X.38

    TRAJETRIA DA BIBLIOTECA PUBLICA NO MARANHO

    PROVINCIAL

    Csar Augusto CastroAna Luiza Ferreira Pinheiro

    ResumoAnlise da trajetria da Biblioteca Pblica do Maranho desde a sua criao em 1829, no Conventodo Carmo, at 1889. Formada inicialmente com o apoio dos homens da elite e de populares, desde asua gnese at o advento da Repblica, a Biblioteca Pblica passou por diversas situaes, ora depleno abandono e ora de apogeu. Nesse particular, resgata-se o ofcio do bibliotecrio e diretoresque fizeram brotar as iniciativas para a socializao do livro e da leitura no Maranhooitocentista. A partir desta pesquisa histrica, pode-se compreender o papel que a mesma assumiuna formao da intelectualidade maranhense e na constituio do campo educacional, sendo oespao privilegiado de convergncia de idias e saberes de professores, jornalistas, polticos o que

    ensejou na fundao da Oficina dos Novos, Sociedade Cvica das Datas Nacionais, AcademiaMaranhense de Letras, jornais, revistas e outras aes que favoreceram a So Luis ser denominadade Atenas Brasileira. Para o resgate dessa trajetria pesquisou-se em fontes como jornais, relatriose falas de Presidentes de Provncia, legislao, iconografias entre outros documentos quepossibilitaram traar os seus caminhos e descaminhos, na constituio do seu acervo e da suaestrutura fsica. Conclui-se que esta pesquisa ao revisitar o passado revela as contradies naformao das bibliotecas pblicas e abre-se um debate para a necessidade de investigaes quebusquem fazer emergir a histria e memria dessas instituies no Brasil.

    Palavras-chaveBiblioteca pblica do Maranho; Maranho provincial; Biblioteca Pblica Benedito Leite.

    PATH OF THE PUBLIC LIBRARY IN PROVINCIAL MARANHO

    AbstractAnalysis of the path of Public Library of Maranho since its creation in 1829, in Carmo Convent, to1889. It was formed initially with the support of the elite and the ordinary people, since its genesisuntil the advent of Republic, the Public Library has been put under different situations, sometimesof complete abandon and others of peak. In this matter, it is rescued the work of librarians anddirectors that have created the initiatives for the socialization of the book and reading in Maranhoin the 80s. From this historical research it is possible to comprehend the role that it has taken in thebackground of maranhense intelectuality and in the constitution of the educational field, it has beenthe privileged space of convergent ideas and knowledge of teachers, journalists and politicians that

    encouraged the foundation of the Oficina dos Novos (Workshop of Novice), Sociedade Civica dasDatas Nacionais (Civic Society of National Dates), Academia Maranhense de Letras ( MaranhenseAcademy of Letters), newspapers, magazines and other actions which helped So Luis to be namedas Brazilian Athens. For the rescue of this path, it was made researches on sources as such:newspapers, reports and speeches of Presidents of the Province, legislation, iconography amongother documents that made possible to find its ways and non-ways, in the constitution of its heritageand its physical structure. It is concluded that this research by looking back to the past reveals thecontradictions in the formation of public libraries and it also opens a debate to the necessity ofinvestigations that bring out the history and memory of these institutions in Brazil.

    Key-wordsPublic library of Maranho; Provincial Maranho; Benedito Leite Public Library

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    1 INTRODUO

    Ao longo da vida, armazenamos cenas e fatos que marcaram e ficaram para trs e nem

    sempre fazemos o seu resgate, ao contrrio, a cada instante que vivemos o presente,

    deixamos de lado fatos, contextos, instituies, relaes de vida e de trabalho. Um olhar

    para o passado permite-nos entender o que somos. No mbito deste texto, a nossa proposta

    foi resgatar a histria da biblioteca pblica na Provncia do Maranho, no perodo de 1838,

    quando da sua criao at o advento da Repblica em 1889, descrevendo seu cotidiano e os

    enfretamentos econmicos, sociais, culturais, educacionais e polticos pelos quais a mesma

    passou neste perodo. A busca pela descoberta daquilo que teria acontecido com essainstituio foi um processo de urdidura, montagem, seleo e excluso (PESAVENTO,

    2003, p. 53) de fontes que propiciam a emerso da Biblioteca Pblica no Maranho

    oitocentista. Ao mesmo tempo em que este estudo, em uma perspectiva ampla, traz para o

    campo da Biblioteconomia a possibilidade de preencher uma lacuna histrica sobre as

    instituies bibliotecrias no Brasil.

    Portanto, para realizao deste estudo, mergulhamos na documentao primria manuscrita,

    nos jornais, na legislao, nos livros e outras fontes armazenadas no Arquivo Pblico do

    Estado do Maranho e na Biblioteca Pblica Benedito Leite. Os relatrios de Presidente de

    Provncia e os ofcios dos bibliotecrios e dos diretores que estiveram frente da

    biblioteca representam a espinha dorsal do estudo. Por fim, ressaltamos que esta pesquisa

    integra um conjunto de investigaes acerca da Histria, memria das instituies de

    educao e das prticas de leituras desenvolvidas no Departamento de Biblioteconomia da

    Universidade Federal do Maranho, sob a Coordenao do Prof. Csar Augusto Castro.

    2 A CRIAO DA BIBLIOTECA PBLICA DA PROVNCIA DO MARANHO

    A criao de uma biblioteca para a Provncia do Maranho foi proposta na Assemblia

    Legislativa na sesso de 08 de julho de 1826 por Dr. Antonio Pedro da Costa Ferreira,

    Membro do Conselho Geral de Provncia, mas somente em 1829, foram tomadas as

    medidas para concretizao dessa idia, que contaria apenas com um oitavo das sobras do

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    oramento dos cofres do governo; entretanto, D. Pedro I no autorizou por achar a idia

    extravagante. Para realizar seu intento, Costa Ferreira buscou apoio dos intelectuais locais

    como Antonio Ennes de Souza e a soluo encontrada foi empreenderem [...] umasubscrio popular e voluntria, para obteno dos meios necessrios [...] (MORAES,

    1973, p. 16). Para isso, contaram a princpio com a Cmara Municipal de So Lus, que

    ficou com a misso de tornar concreta a idia de se ter uma biblioteca na Provncia do

    Maranho. Com esta finalidade nomeou uma comisso [...] composta pelos vereadores

    Joo Gualberto da Costa e Manoel Pereira da Cunha, a qual, com o auxlio do Municpio,

    deu execuo s ordens do Governo (VIVEIROS, 1960, p. 151).

    Situada em uma das salas da parte superior do Convento do Carmo, em 1829, foi

    inaugurada a Biblioteca Pblica do Maranho e aberta ao pblico em 1831 com 1.448

    volumes adquiridos com o dinheiro arrecadado da subscrio popular e com doaes dos

    ilustres ludovicenses, cuja guarda e conservao do acervo estaria a cargo do diretor, de

    um guarda e de um servente que juntos estabelecem o seu primeiro Regulamento que

    dispunha sobre o horrio do funcionamento e as condies de admisso de pessoas. Em

    relao ao horrio, a Biblioteca estaria aberta todos os dias das 8 s 14 horas, exceto

    domingos e feriados. Eram proibidas conversas em voz alta e os passeios no seu interior,quem infringisse esse artigo poderia ser expulso. Assim, como pessoas adequadamente

    vestidas poderiam freqent-la.

    Sero admitidas todas as pessoas que se apresentarem decentemente vestidas, franqueado-se-lhes os livros, que pedirem, pennas e tinta; nenhuma das pessas admitidas poder tiraros livros das Estantes ou restituilos ellas, devendo para isso dirigir-se ao Contnuo, quem pelo Art.3 incumbe esse trabalho. Tambm no se poder emprestar livro algumpara fora da Biblioteca. (MARANHO, 1835, grifo nosso).

    Fica evidente, portanto, que a biblioteca, assim, como outras instituies maranhenses, era

    restrita aos homens brancos de poder aquisitivo e, principalmente, que soubessem ler e

    escrever. Privilgios de poucos em todas as provncias, mesmo as mais desenvolvidas,

    como a do Maranho.

    O material de leitura colocado disposio dos poucos leitores era vigiado e controlado por

    ordem de Vicente Tomaz Pires de Figueiredo Camargo, Presidente da Provncia, que

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    julgava que em sendo uma instituio dedicada a educao dos jovens os livros deveriam

    preservar os princpios religiosos e contribuir na formao de homens bons e probos. Os

    contrrios deveriam ser expurgados por uma comisso criada com esta finalidade. Isso sedava pelo fato da Biblioteca funcionar contgua ao Liceu Maranhense, servindo como

    auxiliar s aulas nele ministradas.

    O controle sobre as materialidades de leitura e as dificuldades para ampliar o acervo ou

    fazer as reformas precisas na Biblioteca esbarravam na crise econmica, poltica e social

    desencadeado com a Balaiada e, principalmente com o empobrecido da sociedade

    endinheirada local com a desvalorizao do algodo maranhense no mercado internacional.

    Neste quadro, calavam-se os comentrios sobre a Biblioteca ou qualquer apoio financeiro,

    fsico e material a mesma. Na dcada de 40, continuava como um lugar sombrio, paredes

    escuras, estantes abarrotadas de livros que dividiam espao com outros objetos escolares,

    como lousas e carteiras. Situao agravada com a instalao do museu de histria natural,

    que tambm funcionava no interior da Igreja do Carmo. Sob um ponto de vista social era de

    grande importncia para a provncia possuir uma biblioteca e um museu, entretanto,

    nenhum dos dois tinha significado, muito pelo contrrio, estavam fadados runa.

    Em 1850, a Biblioteca teve alguns reparos em seu prdio. Para Herculano Ferreira Pena,

    Presidente da Provncia, as providncias para melhoria da Biblioteca eram simples e fceis,

    e uma delas seria coloc-la sob a responsabilidade da Inspetoria Pblica, fato que propiciou

    a Biblioteca ser anexada ao Liceu Maranhense. Esta anexao no significou que a mesma

    tivesse um papel de destaque para o ensino secundrio, muito pelo contrrio, continuou sem

    estrutura, faltava-lhe um bom edifcio, estantes e livros, ou seja, faltava-lhe vida, ou seja,

    [...] nenhum augmento tem tido no nmero de volumes, a no ser o de alguns livretes e

    coleces de leis geraes, achando-se trancadas muitas obras que possue, por haverem

    sido separados os volumes arruinados[...] (RELATRIO, 1859, p. 14, grifo nosso).

    Para Ambrosio Leito da Cunha (1865), de nada adiantaria suprir a Biblioteca com livros e

    embelez-la com a valiosa doao de dezesseis retratos a leo, doados pela viva de

    Antonio Gonalves Dias, se ela continuava no mesmo lugar, era necessrio mud-la para

    outro edifcio que pudesse lhe proporcionar conforto, alm disso, o horrio de

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    funcionamento precisava ser revisto, do contrrio de nada adiantaria ter essa instituio na

    Provncia.

    [...] duas so as causas, que tem contribudo para isso; a primeira o tempo em que estaberta a biblioteca das 9 horas da manh as 2 da tarde, e que no convida a concorrncia

    por que a maior parte das pessoas amigas da leitura esto nas suas ocupaes dirias; asegunda a pouca ventilao, que h na sala do estabelecimento, do que resulta a

    propagao dos insectos, que tem destrudo grande parte dos livros variados e excellentes,que a principio foro alli collecionados (CUNHA, 1865, p. 15).

    O que a Biblioteca no imaginava que estava preste a mudar de endereo, pois a sua runa

    era evidente [...] com o decorrer do tempo essa situao no mudou para melhor, seno

    que se agravou consideravelmente. Pelo que se conclui de consulta a diversas fontes,

    continuou para a Biblioteca uma poca de franca decadncia e abandono [...] (MORAES,1973, p. 17). Desse modo, durante o governo de Lafayette Rodrigues Pereira, em 1866, a

    Biblioteca transferida do Convento do Carmo para o Instituto Literrio Maranhense.

    Com o regulamento que tem, no edifcio em que est desprovida de livros, como seacha, a biblioteca continua a ser de prefeita inutilidade para o pblico. Urge, pois, mud-la para casa apropriada, enriquec-la de grande cpia de obras de todos os ramos deconhecimento humanos e dar-lhe regimem, de maneira que esteja ella aberta nas horas,em que pode ser maior a afluncia dos estudiosos (RELATRIO, 1866, p. 23).

    O Instituto Literrio, como a Biblioteca, ocupava o Convento do Carmo, e fora criado em

    25 de maro de 1865, sendo dirigido por Antonio Henrique Leal e Antonio Rego com o

    objetivo de realizar estudos em histria, geografia, etnografia do Maranho e expandir a

    instruo; alm disso, uma das suas funes seria [...] criar bibliotecas e promover

    publicaes de obras teis (VIVEIROS, 1957, p. 153).

    Com esta mudana ocorre um aumento considervel do seu acervo, fruto de compras e

    doaes e alguns remanescentes da antiga biblioteca como a 950 volumes e pinturas aleo de Antonio Gonalves Dias e 300 volumes doados pela viva de Raimundo Teixeira

    Mendes, alm das doaes dos intelectual-protetores Antonio Henrique Leal e Antonio

    Rego, que deram uma nova feio e procedeu a primeira catalogao regular deste

    estabelecimento[...] (PERDIGO, 1915, p. 5). Por conta destas doaes, a Biblioteca

    passou a dispor de um acervo composto de obras literrias e cientficas colocadas a

    disposio no salo de leitura. Este salo funcionava na antiga sala onde esteve a Biblioteca

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    quando da sua criao. No h registros que expressem a freqncia no local, o que se sabe

    que ele permaneceu at a extino do Instituto, em 1873. Entretanto, esse perodo de

    prosperidade no se estenderia por muito tempo, pois:

    Infelizmente, durante essa organizao, adquirido o Dr. Henrique Leal atroz enfermidade,que o obrigou a abandonar sua obra antes de terminada, e dahi em diante, a Bibliothecafoi sendo esquecida e caindo em decadncia at que passou novamente a ser administrada

    pelo governo da provncia, com o que tambm no prosperou muito (PERDIGO, 1915,p. 5).

    Com a doena de Henrique Leal, a Biblioteca perdeu um de seus protetores e voltou ao

    poder do governo, que, sem demora, tratou de isentar-se da responsabilidade e procurou

    outra instituio que pudesse assum-la, como a Sociedade Onze de Agosto. Tratava-se de

    uma sociedade protetora da instruo pblica que tinha como objetivo principal favorecer a

    educao do povo gratuitamente, principalmente a dos operrios maranhenses, atravs de

    cursos noturnos em que se ensinavam primeiras letras, aritmtica, geometria, mecnica,

    desenho linear aplicado indstria e s artes, fsica, qumica, economia, poltica econmica

    e agricultura.

    Essa Sociedade, atravs da Lei N 991, recebeu a Biblioteca Pblica, deixando-a permanecerat 1880, um perodo que correspondeu h oito anos. Nesse perodo foi estabelecido um

    outro regulamento que determinava que em caso da destituio da Biblioteca todas as

    doaes seriam repassadas aos doadores e seus herdeiros. No caso de alguma sociedade

    querer unir o seu acervo ao da Biblioteca, teria que obedecer ao seguinte artigo e incisos:

    Art. 9 Se alguma sociedade possuidora de livros quizer unil-os aos da Biblioteca, poderfazel-o sob as seguintes consideraes: 1 Os livros sero restitudos em qualquer tempo.

    2 A reunio dos livros s dara o direito de votar aos membros directores da sociedade. 3 A sociedade contribuir para a Bibliotheca com a anuidade de dez mil reis. 4 Se a sociedade no cumprir o disposto no 3, seus representantes ficaro suspensosdo direito de votar (MARANHO, 1872 apud ALMEIDA, 1872, p. 374).

    Este Regulamento estabelece pela primeira vez uma sistemtica para emprstimo domiciliar

    de livros, que se constitua ao mesmo tempo, em uma forma de lucro financeiro

    Biblioteca, posto que, o leitor ao tomar um livro deveria assinar um recibo e fazia um

    depsito junto ao bibliotecrio no valor equivalente ao preo do livro, esse valor seria

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    resgatado no ato de devoluo. Para isso, todas as obras continham os seus respectivos

    valores. Por cada livro emprestado o leitor pagaria uma quantia a ser revestida para compra

    de outros livros.

    Entretanto, essa boa fase da Biblioteca no durou muito, posto que, a Sociedade Onze de

    Agosto, existiu por dez anos, pois foi acometida por dificuldades financeiras que

    culminaram na venda do prdio para o governo, nica soluo encontrada para saudar sua

    dvida. Alm do que este prdio era cobiado pela Assemblia Provincial que se reunia na

    Catedral da S, devido falta de uma sede e [...] a escola Onze de Agosto, porm, a seu

    tempo mostrava-se um edifcio nobre e grandioso. Era muito para a Biblioteca e aulas de

    primeiras letras. No era demais para um parlamento (FERNANDES, 1929, p. 333).

    Parece que o destino da Biblioteca era ser errante, pois, por duas vezes havia mudado de

    lugar e se preparava para mais uma mudana, para a Catedral da S, entretanto, esta parecia

    ser a pior de todas, [...] o comeo da destruio (ARANHA, 1886, p. 4). Era difcil a sua

    situao depois de ter passado por uma fase prspera na Sociedade, estava outra vez a

    revelia sem poder imaginar seu prprio destino, alm disso, a maneira como foi feita a

    transferncia mostrou que a nova fase que viveria no parecia ser benfica.

    Durante trs ou quatro dias assistio a populao desta cidade um espetculo contristador.Ao mesmo tempo em que uma dzia de calcetas, guardadas por soldados, carregava emcestos. cofos e caixes, sem ordem nem methodo, os livros da bibliotheca, e outros tantos

    pedreiros metiam o alvio nas paredes e arrancavam as estantes, carapinas levantavam osestrados, deslocavam as mesas e preparavam a sala para receber os representantes da

    provncia. Os carregadores dos livros muitas vezes deixavam os caixes nas portas dasquitandas, e, emquanto faziam sua libaes, o moleque que passava subtraia um volume

    para divertir-se ou vender mais adiante. As ruas comprehendidas entre os dois edifcios, oque era despojado dos livros e os que os recebia, ficavam lastradas de estampas, mappas,

    jornaes e folhas de livros (ARANHA, 1886, p. 4).

    Esta mudana no agradou aos administradores da S, pois seria a oportunidade de reinar a

    paz no prdio, pois durante muitos anos, tinham alojado a Assemblia Provincial e no

    lhes era agradvel receber os que chegavam, embora silenciosos e incapazes de perturbar o

    socego que naquelle jogar deve reinar (ARANHA, 1886, p. 4). Por isso, solicitam, em

    1884, que a mesma fosse transferida para o Convento do Carmo, lugar onde a sua histria

    comeou. Esta transferncia no significou que o governo a quisesse de volta, ao contrrio,

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    desde que foi criada sempre esteve sob a responsabilidade de outras instituies e as poucas

    vezes que a foi includa no oramento provincial, a quantia no era suficiente para sua

    manuteno. Instalada nesse local, seu estado era de incerteza, a Assemblia Provincial nolhe destinava recursos e no havia pessoas para abrir as suas portas, permaneceu, ento,

    dois anos fechada. Em 1886, Joo Capistrano Bandeira de Mello, Presidente da Provncia,

    designou o engenheiro Francisco Antonio Brando, o inspetor de Instruo Pblica e o

    Comendador Themistocles da Silva Maciel Aranha para providenciarem a guarda dos

    livros, bem como o remanejamento para outro lugar, antes que ficassem totalmente

    arruinados.

    Nesse ano o Tesouro Provincial despendeu 23:553$00 reis para a compra de livros e

    assinatura de jornais e para outros servios necessrios para que fosse aberta ao pblico.

    Com a finalidade de avaliar o seu estado Themistocles Aranha ao visit-la assim descreve o

    seu estado:

    Mas, oh! que decepo o commendador, como pleno nipotenciario do governo, ahichegando, nada encontrou do quer procurava nem Bibliotheca, nem biliothecario, nemmesmo porteiro. Guiado pelo porteiro do Lyceu na ausncia do porteiro da Bibliotheca,Temstocles Aranha penetrou nos claustros do velho convento do Carmo, onde viuestantes e mezas da antiga Biblliotheca e, em quarto escuro, amontoados confusamente,uma grande poro de livros ( FERNANDES, 1929, p. 333).

    O Convento do Carmo ainda guardava, nos seus claustros, vestgios da antiga biblioteca,

    onde haviam velhos livros depositados em prateleiras e espalhados pelo cho. Parece que a

    sua histria repetia-se. O comendador Temstocles da Silva Maciel Aranha no seu relatrio

    ao descrever o seu estado, afirma que [...] ainda mais precipitada do que a anterior, pois as

    salas, (si salas so esses quartos), que deviam receber os livros, nem sequer estavam

    caiadas e ladrilhadas (ARANHA, 1886, p. 4). Todavia, por mais que fossem feitasreformas a sala onde funcionaria no passaria de um quarto escuro, sem ventilao e sem a

    menor condio de conservar um acervo. Diante disso, sugere ao governo o que lhe parecia

    uma soluo mais sensata:

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    Testemunhando diariamente a solicitude de V. Exc. empregada em todos os ramos doservio pblico, animo-me a pedir a V.Exc. que faa uma visita esse logar. Ver V, Exc.que em tudo que tenho dito no h menor exagerao. No se tendo faitro na Escola

    Onze de Agsoto as obras precisas para transformal-a em casa de parlamento, seria maisacertado adquirir uma casa para a Assemblia Provincial e voltar a Bibliotheca para aEscola, donde nunca deveria ter sahido. Mas, como para taos despezas no h verba nooramento provincial e nem auctorizao, pois no meu humilde parecer, devem serentregues inspectoria da instruo publica os restos dos 3812 volumes com que em 4 deabril de 1883 foi reaberta a malfadada bibliotheca provincial. (ARANHA, 1886, p. 4).

    A inteno do comendador ao sugerir ao Presidente da Provncia que visitasse a Biblioteca

    era pertinente, pois achava que se o governo visse a situao poderia sensibilizar-se a fazer

    alguma coisa para salv-la das traas, do desprezo, que desde a sua criao vinha passando.

    Uma outra soluo seria a construo de um prdio para a Assemblia Provincial e elaretornaria para local onde havia funcionado a Sociedade Onze de Agosto, porm isso era

    uma utopia de entusiasta, pois a Assemblia no iria abrir mo do conforto de suas novas

    instalaes. Outro empecilho foi a falta de verba do governo para construir um prdio

    altura de um parlamento, dessa forma, no havia o que fazer, a situao continuaria a

    mesma.

    Da em diante, a Biblioteca foi esquecida completamente, a Provncia deixou de contempl-

    la em suas leis oramentrias e os presidentes nem a mencionavam em seus relatrios. A

    histria da Biblioteca Pblica Provincial do Maranho chegava ao fim, pois com o seu

    acervo jogado na parte inferior do Convento do Carmo, aos poucos se deteriorava e a falta

    de verbas para restaur-la, comprar novas obras, manter-se em funcionamento, deixava

    pouco a pouco de existir, at chegar o momento em que iria desaparecer por completo, e ao

    que tudo indica, no faria falta.

    Com a proclamao da repblica, houve mudana na Biblioteca digna de nota que foi a sua

    denominao de Biblioteca Pblica Provincial para Biblioteca Pblica Estadual.

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    REFERNCIAS

    CUNHA,. A Biblioteca pblica no cenrio da sociedade da informao.Revista Biblos.

    v.15, n.4,p.67-76,abril, 2003.

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    Maranho: Typographia J.M.C. de Farias,1859.

    RELATRIO que o Exmo. Snr. Presidente da Provncia do Maranho, o Doutor Lafayette

    Rodrigues Pereira apresentou Assemblea Legislativa Provincial no dia 3 de maio de

    1866. Maranho: Typographia J.M.C. de Farias,1866.

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    Revista Digital de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Campinas, v. 4, n. 1, p. 38-50, jul./dez. 2006 ISSN: 1678-765X.48

    VIVEIROS, J. Benedicto Leite: um verdadeiro republico. 2. ed. So Lus: Departamento

    de Imprensa Nacional,1960.

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    Revista Digital de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Campinas, v. 4, n. 1, p. 38-50, jul./dez. 2006 ISSN: 1678-765X.49

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    Revista Digital de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Campinas, v. 4, n. 1, p. 38-50, jul./dez. 2006 ISSN: 1678-765X.50

    Csar Augusto Castro

    Professor Adjunto do Departamento de Biblioteconomia e do Programa de ps-graduao emEducao da Universidade Federal do Maranho.Doutor em Educao pela Faculdade de Educao da Universidade de So [email protected]

    Ana Luiza Ferreira Pinheiro

    Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Maranho.Bibliotecria da Faculdade Atenas [email protected]

    Recebido em: 01/03/2006Aceito para publicao em: jun. 2006