Artigo Carreiras RPM Revisto

download Artigo Carreiras RPM Revisto

of 30

Transcript of Artigo Carreiras RPM Revisto

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    1/30

    Gesto dos Novos Formatos de Carreira: O Foco na Identidade

    Joo Fontes da Costa - [email protected]

    Docente na Escola Superior de Tecnologia e Gesto de Oliveira do Hospital, InstitutoPolitcnico de Coimbra.

    Abstract

    Using the concepts of emerging career formats we discuss the relevance of the Organizational

    Career Management as complementary of the Individual Career Management. Decision-

    makers must build pathways in which individuals review themselves and foster both affective

    and continuance commitment. The establishment of durable links, favourable for deep

    structural identifications, along with getting more resources out of the organization, whether

    economic or symbolic, is closely linked to the perception that the individual has that he/she is

    "special", initiating a deeper iterative exchange cycle with the organization. The Human

    Resources Management will realign organizational identity and individual and professional

    identity promoting the ongoingness of the employment relationship.

    Keywords: Career Management, Mobility, Emerging Career Formats, Identity

    Resumo

    Recorrendo aos conceitos emergentes de carreira discute-se a pertinncia da Gesto

    Organizacional das Carreiras como complemento da Gesto Individual de Carreiras. Os

    decisores devem construir percursos em que os indivduos se possam rever e fomentar o

    comprometimento afectivo e de continuidade. A constituio de vnculos duradouros,

    favorveis s identificaes estruturais profundas, a par com a obteno de mais recursos da

    organizao, sejam econmicos ou simblicos, est intimamente ligada percepo que o

    indivduo tem de que especial, iniciando um ciclo iterativo mais aprofundado de trocas

    com a organizao. A Gesto de Recursos Humanos dever realinhar a identidade

    organizacional e as identidades individual e profissional favorecendo a continuidade da

    relao de emprego.

    Palavras-Chave: Gesto de Carreiras, Mobilidade, Modelos Emergentes de Carreira,

    Identidade

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    2/30

    1. Introduo

    A hegemonia do discurso econmico e a sua prevalncia sobre outros tpicos sociais

    reconhecida como uma caracterstica da modernidade, a par com a ascenso do

    individualismo [1]. Concomitantemente, as novas configuraes de carreiras plasmadas na

    literatura aportam uma maior responsabilidade da gesto dos percursos por trabalhadores mais

    proactivos e adaptativos [2, 3]. A flexibilizao dos vnculos laborais uma realidade,

    assumindo-se que o indivduo deve desenvolver o seu prprio projecto de carreira,

    estabelecendo uma relao aberta com a organizao; cria-se o espao para o crescimento de

    carreiras que fogem ao cnone clssico. Neste ambiente de valorizao das mobilidades,

    descritas no discurso poltico como positivas, redefine-se o papel das organizaes na criao

    ou adaptao de modelos ou ferramentas de gesto de carreiras. Mas far ainda sentido falar

    de Gesto Organizacional de Carreiras? Na verdade este pode ser o mais importante tpico na

    gesto e pessoas das organizaes actuais [4]. A procura de respostas adequadas no campo

    discricionrio das aces de gesto de recursos humanos obriga formulao de algumas

    hipteses de trabalho orientadoras: i) os modelos emergentes de carreira incorporam

    alteraes na relao identitria redefinindo a relao de emprego e recentrando a

    identificao em focalizaes extra-organizacionais; ii) as aces de gesto organizacional de

    carreira so importantes para a percepo de reconhecimento do empregado; iii) a gesto dos

    modelos emergentes de carreira assente no fit identitrio entre indivduo e organizao

    favorecer a identificao com a organizao, potenciando atitudes e comportamentos

    positivos. Neste artigo procuraremos obter uma primeira linha de anlise destes pressupostos

    (e no ainda a sua confirmao ou infirmao) pela leitura da produo acadmica e

    cientfica, potenciando bases para investigao futura assentes no edifcio terico j

    consolidado.

    A principal mudana recente na relao entre empregadores e empregados corporiza-se namudana dos contratos psicolgicos que teve lugar nas ltimas dcadas do sculo XX [5]. O

    conceito de promoo, enquanto ascenso vertical preencheria as descries da maioria das

    mobilidades intencionadas, conferindo-lhes uma noo praticamente unidimensional e linear,

    ao passo que actualmente as carreiras so multidireccionais [5]. Para a actividade de Gesto

    de Recursos Humanos equaciona-se a relevncia ou at o valor de algumas aces de gesto

    de percursos profissionais, porventura redefinindo-se permetros, prioridades e formas de

    interveno. Uma questo central enquadrada pelas teorias de carreiras proteanas e semfronteiras perceber que ao assumir-se um elevado nvel de autonomia entre o indivduo e a

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    3/30

    organizao na construo da carreira o quadro de formao identitria alterado. O

    indivduo apropria-se do planeamento e desenvolvimento da sua carreira, podendo investir em

    competncias como o Know-How (conhecimentos e tcnicas), Know-Why (motivaes para

    o exerccio do trabalho) e Know-Whom (redes de contactos e relacionamentos) [6]. Nesta

    lgica, que papel caber s organizaes e especificamente aos gestores na definio dos

    clssicos planos de carreira ou outras ferramentas de desenvolvimento de recursos humanos

    como a formao?

    A carreira liberta-se das regras tradicionais, no se sustentando necessariamente numa relao

    de emprego de longo prazo, nem em ascenses verticais continuadas ou aquisio cumulativa

    de benefcios e smbolos de estatuto. A carreira proteana presume o tomar de rdeas por parte

    do trabalhador, ainda que se possa manter o locus, ou seja, o contexto organizacional de

    actuao; no caso da carreira sem fronteiras no h necessariamente um locus nico e

    especfico, sendo a escolha dos contextos organizacionais de actuao feita na medida bvia

    das oportunidades e dos objectivos individuais.

    No presente artigo pretende-se uma reviso de literatura, no centrada apenas num conceito,

    visando a definio de fundaes para a operacionalizao de programas de gesto

    organizacional de carreiras e, mormente, contribuir para a consciencializao numa questo

    carente de investigao mais aprofundada no contexto nacional. Comearemos pela definio

    do conceito de carreira e sucesso de carreira que nos transportar para o conhecimento dos

    novos formatos dos percursos e que em conjunto definem o campo de trabalho para a gesto

    organizacional ou individual de carreiras. Reconhecendo a potencial dificuldade de integrao

    de objectivos individuais e organizacionais defende-se a focalizao na identidade, visando a

    identificao e comprometimento, como geradora desse processo que se pretende simbitico.

    Esta proposta assume importncia crucial na implementao de polticas de recursos humanosque possam potenciar o potencial de identificao de base organizacional, gerando vnculos

    duradouros e porventura potenciando os resultados do investimento nos projectos de carreira.

    2. Conceito de Carreira e Novos Formatos

    No caso concreto das carreiras, considerando as diferentes perspectivas tericas, podemos

    encontrar mltiplos enfoques, muitas vezes delimitados pelos diferentes paradigmas que

    informam diferentes cincias sociais [7]. A literatura existente fragmentada e no integrada[5, 8, 9]. A falta de uniformidade no conceito de carreira decorre, aparentemente, em larga

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    4/30

    medida, da noo diferenciada acerca da perenidade das escolhas e da internalidade ou

    externalidade da sua origem [8-10]. Podemos encarar as carreiras luz de nove metforas:

    carreira como herana, construo, ciclo, ajuste, viagem, encontros e relacionamentos, papis,

    recursos e histria [11-13]. Cada uma destas perspectivas oferece uma lente para analisar a

    carreira e accionar Estratgias (como a definio lata de objectivos e do caminho a seguir),

    Tcticas (escolha de uma ocupao) ou Operaes (procura de emprego) [12].

    A nossa opo conceptual recai sobre a carreira como sendo uma sequncia de experincias

    de trabalho de um indivduo ao longo do tempo, sublinhando-se a importncia da dimenso

    cronolgica opondo-se viso esttica de uma posio laboral em concreto [14]. John Arnold

    prefere uma definio diversa na formulao mas semelhante nos termos, em que se integram

    elementos subjectivos e objectivos externos ao emprego mas com ele relacionados: carreira

    uma sequncia de posies relacionadas com o emprego, papis, actividades e experincias

    encontradas pela pessoa [2]. No so assumveis constrangimentos de contexto, nem se limita

    a progresso na carreira s ascenses verticais, sendo estas ltimas consideradas apenas uma

    das hipteses de evoluo; outras, no menos importantes so a mobilidade horizontal ou

    mesmo movimentos descendentes dentro de contextos organizacionais, ocupacionais,

    industriais ou nacionais reconhecidos ou ainda entre qualquer um destes contextos [14, 15].

    As carreiras podem ento ser descritas de duas formas diversas: i) subjectiva, reflectindo a

    noo do indivduo acerca da sua prpria carreira e do seu futuro ou ii) objectiva - ou

    indirectamente subjectiva [16]- sustentada pelas posies ocupadas com maior ou menor

    exposio pblica, situaes, estatutos ou reconhecimento sociais [17]. Esta dualidade

    ontolgica j descrita na Sociologia, nomeadamente pela Escola de Chicago, sendo a

    componente objectiva identificada com as formas de participao institucional na sociedade, e

    a componente subjectiva corporizada nos significados que os indivduos atribuem sua

    carreira, que se alteram com o tempo na medida em que os indivduos redesenham o seu papelsocial e reconstroem o seu passado e futuro para se ordenarem com o presente [18]. A carreira

    pode ser entendida como um caleidoscpio em que, para alm de cada indivduo escolher o

    seu prisma, de acordo com os seus valores e objectivos, se assume como elemento dinmico e

    em movimento [19]. A carreira poder ser planeada previamente ou construda a posteriori

    para sustentar uma identidade e histria de vida coerente [20, 21]. De uma forma bsica

    podemos identificar dois grandes grupos tericos na anlise das carreiras: i) teorias da escolha

    de carreira, em que inscreveremos as teorias da compatibilidade, explicando as escolhas comfactores influenciadores da deciso (auto-identidade, interesses, personalidade e experincia

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    5/30

    social) e as teorias de processo, que explicam as escolhas como um processo dinmico e

    gradual que culmina na escolha de uma ocupao e ii) as teorias dos estdios de carreira que

    assumem que a carreira evolui tangencialmente ao indivduo e no decurso da sua vida [22].

    Na perspectiva da person-organization fit tm coexistido vrias correntes de investigao.

    Algumas linhas independentes de pesquisa nesta rea so assentes em pressupostos

    diferenciados: congruncia de valores, congruncia de personalidade, congruncia de

    ambiente de trabalho e congruncia de competncias relevantes [23]. As atitudes so de

    fulcral importncia enquanto preditoras da congruncia dos valores, personalidade, ambiente

    de trabalho e na inteno de permanncia, bem como na assuno de comportamentos de

    cidadania organizacional [23]. Conclui-se que as atitudes dos colaboradores medeiam a

    relao entre o ambiente de trabalho e a inteno de permanncia na organizao; A

    congruncia entre os valores individuais e o conjunto de valores da organizao, bem como a

    correspondncia entre as preferncias individuais no que diz respeito aos ambientes de

    trabalho e o existente/percepcionado ambiente de trabalho na organizao so preditores

    significativos e directos da inteno de permanncia do indivduo [23: 112-113]. Aponta-se

    para uma multidimensionalidade da adequao indivduo-organizao, transversal maioria

    das propostas tericas conhecidas.

    No que concerne aos novos olhares sobre a carreira assistimos hoje (pretensa) recomposio

    da relao sujeito-trabalho atravs dos modelos emergentes, usufruindo, antecipando ou

    forjando a desinstitucionalizao da relao de emprego:

    Modelo/Autores Proposies Sujeito Trabalho

    Carreira sem fronteiras[15, 24, 25]

    Pluralidade de contextos de trabalho;

    Transversalidade dos vnculos com as

    organizaes;

    Competncias (know-why, know-how

    e know-whom).

    Agente

    Campo privilegiado da aco

    individual;

    Arranjo instvel de trocas

    mtuas entre indivduo e

    organizao.

    Carreira Proteana [26-29]

    Mudana como um dado de realidade;

    Variedade de experincias;

    Adaptabilidade e resilincia;

    Identidade como ncora.

    Meio de externalizao da

    identidade pessoal;

    Sequncia de experincias

    pessoais.

    Craft Career Autonomia, criatividade, inveno e Trabalho como fluxo;

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    6/30

    [30, 31] reinveno do prprio trabalho;

    Sujeito e actividade como um nico

    conjunto;

    Trabalho e sensemaking.

    Modelo de organizao artesanal

    de trabalho.

    Carreira Portfolio [12, 32]

    Diversificao das actividades

    profissionais;

    Flexibilizao das identidades

    pessoais;

    Mltiplas zonas de expertise

    individual Ps-Moderno

    Trabalho como um elemento

    entre outros do espao de vida

    pessoal;

    Trabalho fragmentado, em

    tempo parcial.

    Carreira Multidireccional[5, 33, 34]

    No linearidade das experincias de

    trabalho;

    Contrato psicolgico transaccional;

    Comprometimentos mltiplos.

    Trabalho como um suporte para

    a construo da identidade

    pessoal;

    Flexibilidade do trabalho.

    Carreira Transicional [35]

    Interdependncia entre agncia

    individual e estrutura social;

    Carreira como mediao entre

    instituies e processos de interaco;

    Processo de contnua construo e

    reinterpretao de scripts.

    Reflexivo

    Trabalho-portflio;

    Desregulamentao institucional

    do trabalho.

    Carreira Narrativa [36, 37]

    Temporalidade e aco como

    processos narrativos;

    Interpretao de eventos da realidade e

    do self;

    Narrativa e projecto;

    Carreira entre histria colectiva e

    histria singular. Interaccional

    Trabalho como narrativa social e

    pessoal;

    Trabalho como facto objectivo

    apresentado interpretao (e

    reinterpretao).

    Carreira construcionista

    [38, 39]

    Carreira como um processo de

    construo social e de interaco;

    Identidade como metamorfose;

    Processos de negociao de

    significados no contexto de estruturas

    sociais.

    Trabalho como um processo

    discursivo;

    Partilha de valores e objectivos

    comuns.

    Tabela 1. Modelos Emergentes de Carreira [a partir de 40: 40]

    Independentemente dos contributos ulteriores, ou anteriores, de vrios autores na deteco de

    novos formatos de carreira, possvel identificar dois conceitos seminais: i) o de carreira sem

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    7/30

    fronteiras e ii) o de carreira proteana. descrita uma orientao de carreira em que o

    indivduo assume o controlo, em que os seus valores nucleares so os norteadores da deciso

    e onde os critrios de avaliao do sucesso so claramente subjectivos, estando ligados ao

    sucesso psicolgico [27]. O conceito de carreira proteana centra-se no indivduo, nos seus

    valores pessoais e no nas recompensas organizacionais e serve um todo pessoal, familiar e de

    propsito de vida [26]. H duas metacompetncias que ajudam o indivduo a ser mais

    proteano: adaptabilidade e identidade (auto-conscincia), fazendo com que a tnica na

    avaliao do perfil de competncias por parte de muitas organizaes esteja errada [26, p. 6-

    7]. A carreira pode ser entendida como um caleidoscpio em que, para alm de cada indivduo

    escolher o seu prisma, de acordo com os seus valores e objectivos, se assume como elemento

    dinmico e em movimento [19]. Por seu turno, a carreira sem fronteiras surge associada a

    competncias que diferem das necessrias para um carreira convencional [41, 42]: i) no que

    concerne ao Know-How fundamental percepcionar as mudanas, nomeadamente

    tecnolgicas, quer do ponto de vista organizacional, sectorial ou no contexto mais alargado,

    desenvolvendo-se conhecimento, habilidade e competncias no para uma organizao em

    concreto mas para o mercado de trabalho globalmente entendido; ii) o Know-Whom,

    correspondente a uma ampla e consistente rede de relacionamentos, essencial para que se

    possa manter um fluxo constante de trabalho; iii) quanto ao Know-Why assume-se uma

    relao transaccional, onde o trabalho trocado por uma remunerao adequada e onde o

    conceito de sucesso profissional se encontra enraizado em critrios pessoais, no

    necessariamente restrito a um contexto organizacional. O indivduo identificar-se- mais com

    o trabalho e com a sua profisso e, tendencialmente, menos com a organizao.

    verdadeiramente a dimenso do Know-Why que determina a maior diferenciao das carreiras

    sem fronteiras face s carreiras convencionais. A identificao do indivduo com a

    organizao no estar alheia a esta realidade, encarando-se os vnculos como provisrios,

    ainda que possam ser renovados e prolongveis no tempo [41, 42]. Relevam-se aqui possveisimpactos na contratao psicolgica. Os trabalhadores sem fronteiras desenvolvem as suas

    capacidades de acordo com a sua prpria vontade, aceitando compartilhar os valores da

    organizao onde se encontram uma vez que tal se revela importante para os seus objectivos;

    no obstante, identificam-se com a profisso exercida [41, 42].

    Uma questo que se impe se as carreiras sem fronteiras representam uma maior

    instabilidade, ainda que a opo de delinear um percurso com essas caractersticas possa serdo indivduo. Mirvis e Hall apontam no sentido positivo desta relao [43]. Os indivduos que

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    8/30

    agora iniciam as suas carreiras tero, provavelmente, mais hipteses de desenvolver carreiras

    sem fronteiras uma vez que os ambientes de actuao so mais ambguos e incertos [44, 45].

    As pessoas que iniciam carreiras sem fronteiras no desenvolvem, provavelmente,

    comportamentos como a lealdade ou identificao com o empregador, nem a expectativa de

    que este lhe trar o desenvolvimento de competncias e a evoluo de carreira que procuram

    [44]. As suas identidades profissionais so formadas num mercado que procura investimento

    contnuo em competncias e na prpria carreira, provocando um sentido de identidade mais

    coeso e de maior auto-eficcia, ainda que espraiado por mltiplos empregadores [44]. Alguns

    autores, contudo, salientam que uma carreira sem fronteiras pode determinar sensaes de

    falta de propsito, dvidas e fragmentao psicolgica [43]. Outros autores referem que as

    carreiras se encontram inevitavelmente condicionadas, logo com fronteiras, pela histria do

    indivduo, a sua identidade ocupacional e pelos constrangimentos institucionais de quem

    decide as seleces [46]. Por outro lado, as metforas de carreira proteana ou sem-fronteiras

    surgem para alguns autores como redutoras e muitas vezes at desorientadoras do verdadeiro

    conceito [11, 16]. Na realidade as metforas so utilizadas nas teorias formais de carreira mas

    tambm no pensamento e discurso dirio dos no especialistas, podendo ser identificadas

    como uma amlgama epistemolgica [11]. A riqueza explicativa de uma metfora encerra o

    perigo de diversidade objectiva, ou varincia subjectiva, sendo o significado simblico

    potenciador da multiplicidade de perspectivas de anlise.

    Uma carreira sem fronteiras no funo de uma relao de emprego convencional e pode

    assumir diversos significados: i) atravs do ultrapassar das fronteiras de diferentes

    empregadores (como em Silicon Valley); ii) quando uma carreira validada e ganha valor de

    mercado fora do presente empregador (como nas carreiras acadmicas); iii) quando uma

    carreira sustentada por redes de contactos ou informaes extra-organizacionais (como um

    agente imobilirio); iv) quando as fronteiras tradicionais de uma carreira so ultrapassadas,nomeadamente o reporte hierrquico e os princpios de progresso; v) quando uma pessoa

    rejeita as oportunidades de carreira existentes por razes pessoais ou familiares; vi) quando o

    actor da carreira interpreta o seu futuro como no tendo fronteiras, sendo independente de

    constrangimentos estruturais [24].

    3. Sucesso de Carreira

    Um conceito conexo fundamental o de Carreira de Sucesso- a este propsito Peter Heslinproduz uma excelente reviso da operacionalizao dos critrios objectivos e subjectivos de

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    9/30

    avaliao das carreiras [47, 48]. O sucesso pode ser definido como o cumprimento de metas

    esperadas relacionadas com o trabalho num determinando momento, mas considerando toda a

    experincia laboral ao longo do tempo [17]. De igual modo pode ser definido um sucesso de

    reconhecimento pessoal, subjectivamente considerado, e outra forma de sucesso,

    prosperidade, de reconhecimento alargado e centrado na lgica da comparao social [17]. O

    sucesso de carreira subjectivo pode ser definido como a apropriao e avaliao internas do

    sujeito acerca da sua carreira, segundo as dimenses que este considere relevantes [14, 49].

    Os diferentes actores sociais possuem aspiraes de carreira distintas e valorizam de forma

    diversa factores como vencimentos, segurana, localizao do trabalho, estatuto, progresso,

    acesso formao, a importncia do trabalho versus tempo pessoal e familiar entre outros

    [14]. O sucesso objectivo de carreira, pelo menos em termos salariais, pode ser influenciado

    por uma coleco de potenciais caractersticas e experincias pessoais e outros factores

    irrelevantes ou discriminatrios [16]. Contudo, a comprovar-se a ideia que os indivduos

    tendem a valorizar mais os salrios do que realmente esto dispostas a afirmar [50], no

    devemos perder esta noo de vista.

    O sucesso de carreira objectivo define-se como uma perspectiva externa com indicadores

    mais ou menos tangveis que podem incluir ocupao, situao familiar, mobilidade,

    atribuies de tarefa, rendimento e nvel profissional [51]. A carreira objectiva pblica e

    notria, englobando o papel social e a posio oficial, reflectindo um entendimento partilhado

    e no apenas um entendimento subjectivo [14]. A antropologia comparativa sugere seis

    indicadores de sucesso objectivos (utilitrios) que so recorrentes: a) estatuto e posio

    hierrquica, b) sucesso material (riqueza, propriedades, capacidade de ganho), c) reputao

    social, prestgio, influncia, d) conhecimentos e competncias, e) amizades, redes relacionais,

    contactos e f) sade e bem-estar [17]. O sucesso subjectivo, por seu lado, s identificvel

    pela introspeco e no pela observao e validao consensual; a lista de indicadores necessariamente mais exaustiva, sendo que podemos sempre adicionar novas dimenses,

    ainda que na literatura figurem consistentemente: a) orgulho nos resultados conseguidos, b)

    satisfao intrnseca com o trabalho, c) sensao de valia pessoal, d) comprometimento com o

    papel laboral na instituio, e) relaes satisfatrias e f) satisfao moral [17]. Schein chegou

    a pr em causa o prprio conceito de carreira organizacional, propondo o conceito de carreira

    interna como sendo um conjunto fragmentado de trabalhos que em comum tm a noo

    subjectiva de um rumo; por oposio a carreira externa o conjunto formal de estgios epapis definidos pelas polticas organizacionais e conceitos societais expectveis numa

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    10/30

    estrutura ocupacional [52]. A maioria dos indivduos produz um forte conceito, uma ncora

    de carreira, que enquadra a sua carreira interna, ainda que experiencie mudanas dramticas

    na carreira externa; Os actores organizacionais alinham-se frequentemente por uma das

    ncoras de carreira primrias e satisfazem as necessidades de outras ncoras de forma

    selectiva [52].

    Sucesso Objectivo Sucesso Subjectivo

    Carreira

    A carreira objectiva pblica e notria,

    englobando o papel social e a posio

    oficial, reflectindo um entendimento

    partilhado e no apenas um entendimento

    subjectivo (carreira externa segundo

    Schein)

    A carreira subjectiva a apropriao e

    avaliao internas do sujeito segundo as

    dimenses que este considere relevantes

    (carreira interna segundo Schein)

    Ponto Focal

    Centrado na lgica da comparao social

    e reconhecimento alargado. Valorizao

    por perspectiva externa com indicadores

    mais ou menos tangveis de vrias

    dimenses (e.g. ocupao, situao

    familiar, mobilidade, atribuies de

    tarefa, rendimento e nvel profissional)

    Centrado no reconhecimento pessoal

    (auto-conceito). Valorizao subjectiva de

    vrias dimenses (e.g. vencimentos,

    segurana, local de trabalho, estatuto,

    progresso, acesso formao, work-life

    balance)

    Exemplo de Indicadores

    Estatuto e posio hierrquica, sucesso

    material (riqueza, propriedades,

    capacidade de ganho), reputao social,

    prestgio, influncia, conhecimentos ecompetncias, amizades, redes

    relacionais, contactos e sade e bem-estar

    Orgulho nos resultados conseguidos,

    satisfao intrnseca com o trabalho,

    sensao de valia pessoal,

    comprometimento com o papel laboral nainstituio, relaes satisfatrias e

    satisfao moral

    Tabela 2. Resumo de Indicadores de Sucesso Objectivo e Sucesso Subjectivo e relao com a Carreira (construo prpria)

    O entendimento que os investigadores tm do conceito de carreira no pode ignorar a

    interdependncia entre o sucesso subjectivo e o sucesso objectivo, uma vez que s assim se

    entendem os processos sociais que lhe esto subjacentes [14]. No obstante, alguns

    pesquisadores continuam a assumir que o sucesso deriva da posio na organizao ou das

    promoes entre posies [14]. Esta circunstncia contrasta com a realidade relatada de que

    os veculos convencionais para determinao do sucesso organizacional, as hierarquias, esto

    a achatar-se [53] e os mercados de trabalho internacionais ganham uma influncia crescente

    [54]. Alguns autores enfatizam a concepo subjectiva do sucesso, uma vez que os

    indicadores objectivos so menos atingveis e menos relevantes na era das carreiras proteanas

    ou sem fronteiras [16]. Contudo, necessrio perceber que muitas organizaes ainda

    escolhem pessoas e determinam a alocao de recursos escassos, sendo inapropriado valorizar

    demasiado o subjectivo quando, por exemplo, se aconselham pessoas [16].

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    11/30

    A considerao de noes objectivas de sucesso pode levar ao sentimento subjectivo de

    sucesso, o que gerar uma motivao para comportamentos que possam levar ao sucesso

    objectivo, num ciclo de sucesso psicolgico [29]. Contudo, pode haver um custo associado

    tentativa de obteno do sucesso que se reflicta em falhas ou negligncia em dimenses da

    vida pessoal, levando quebra do referido ciclo [55]. Cinco critrios de anlise do

    envelhecimento com sucesso so reportados na literatura: adaptabilidade e sade, relaes

    positivas, crescimento ocupacional, segurana pessoal e um foco continuado nos objectivos

    pessoais e na sua prossecuo [56]. O crescimento ocupacional surge negativamente

    relacionado com a idade [56]. Tal como questionam John Arnold e Laurie Cohen, o sucesso

    de carreira depender mais do desempenho ou da posio social do indivduo [16]? Citando

    Judge et al. os mesmos autores respondem que h mais evidncia do impacto da posio

    social do que do desempenho [57]. Com esta considerao faz todo o sentido pensar na

    importncia do papel de Mentores, Redes Sociais e Capital Social, Orientadores de Carreira

    ou redes de Desenvolvimento Mltiplo [16]. As variveis preditoras do sucesso podem

    classificar-se em quatro tipos distintos: i) capital humano (como a centralidade do trabalho,

    horas trabalhadas, habilitaes e competncias); ii) apoio organizacional (como o apoio dos

    superiores ou recursos organizacionais); iii) scio-demogrficas (gnero, raa, estado civil,

    idade) e iv) diferenas individuais estveis (caractersticas de personalidade) [58]. O nvel

    salarial e as promoes foram considerados como medidas de sucesso objectivo, sendo o

    sucesso subjectivo representado pela satisfao com a carreira; o capital humano e variveis

    scio-demogrficas combinados demonstraram relaes mais fortes com o sucesso objectivo,

    enquanto que o apoio organizacional e diferenas individuais se relacionam fortemente com o

    sucesso de carreira subjectivo [58].

    O sucesso de carreira e a satisfao com a carreira no so semelhantes ao sucesso noemprego e satisfao no emprego, desde logo porque os ltimos podero ser momentneos e

    uma das definies de carreira a sua continuidade no tempo, o que permite a explicao de

    sacrifcios actuais para um desiderato futuro [12]. A mobilidade pode ser analisada a par do

    sucesso de carreira, considerando a lgica inter-organizacional e agregada a uma mudana no

    contrato psicolgico em que os actores percebem que a organizao no ser capaz de

    providenciar emprego para a vida, assumindo-se a noo de que uma relao de emprego no

    dura para sempre [54, 59]. A lgica de carreira sem fronteiras reflecte a procura deoportunidades que ultrapassam a lgica convencional de uma relao laboral e no se esgotam

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    12/30

    com o acto de mudana de empregador [6, 14, 15, 24]. A mudana fsica, com efectiva sada

    do indivduo da organizao, no o nico reflexo de mobilidade, podendo as competncias

    com elevado valor de mercado ser usadas para fortalecer a capacidade negocial interna do

    lado do empregado, transformando as meras oportunidades de mobilidade, mesmo sem

    efectiva sada, na outra face desta moeda [14]. Os indicadores de sucesso objectivos perdem

    gradualmente importncia para os indivduos quando comparados com os indicadores

    subjectivos, fruto especificamente da imprevisibilidade do emprego e do futuro das carreiras,

    provocando uma relao mais dinmica entre o sucesso objectivo e subjectivo [14]. Os

    indivduos mostram-se frequentemente preocupados com a gesto de certos aspectos das suas

    carreiras como a manuteno de um rendimento satisfatrio, ter tempo para a famlia e a

    procura de novos conhecimentos relevando para a multi-dimensionalidade do conceito de

    sucesso de carreira [14, 25].

    4. Gesto Organizacional de Carreira e Gesto Individual de Carreira

    A gesto de carreira pode definir-se como o conjunto de intervenes que moldam as carreiras

    nas organizaes, no somente pelos indivduos envolvidos, mas tambm formal e

    informalmente pelos seus gestores [60]. Com os novos formatos de carreira teremos

    necessidade de nos afastar dos modelos de gesto de carreiras altamente estruturados, de

    alguma forma mecanicistas, em favor de abordagens mais holsticas e integradas [61]. A

    motivao de carreira um constructo multidimensional, corporizado numa tipologia de trs

    domnios que explicam a propenso para a Gesto Individual de Carreira: i) resilincia de

    carreira, definida como a habilidade de adaptao a diferentes circunstncias e uma maior

    aceitao dos riscos; ii) realismo de carreira, definido por objectivos claros, baseados num

    auto-conhecimento das capacidades e desafios e iii) a identidade de carreira, o grau em que o

    indivduo se define pelo trabalho e pela organizao onde trabalha [62]. Segundo London a

    identidade de carreira composta por duas dimenses independentes: a identidadeprofissional e a identidade organizacional, sendo que os indivduos que possuem maior

    identidade organizacional sero menos visados no empowermentpelos seus supervisores [62].

    Percebemos assim o importante papel das chefias de enquadramento no processo identitrio e

    no desenvolvimento de carreiras [63]. O envolvimento do indivduo na gesto da sua carreira

    diverso e pode ser extremado em dois exemplos, avanados por Baruch: i) a pessoa portfolio

    de carreira, que gere de forma completamente autnoma a sua carreira, sem suporte

    organizacional e ii) o indivduo nas organizaes burocrticas (e.g. militares) em que ospercursos de carreira esto perfeitamente definidos [33: 8] Contudo, diremos ns, que este

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    13/30

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    14/30

    caractersticas podem ainda prevalecer. No quadro seguinte surge representada a comparao

    entre a carreira tradicional e a proteana:Tradicional Proteana

    Limites Uma Ou Duas Organizaes Mltiplas Organizaes

    Identidade Dependente Do Empregador Independente Do Empregador

    Relaes Segurana No EmpregoEmpregabilidade Para Performance E

    Flexibilidade

    Competncias Especficas Organizao Transferveis

    Medida de Sucesso Pelo/a Remunerao, Promoo E Estatuto Trabalho Psicologicamente Significativo

    Responsabilidade Pela

    Gesto De CarreirasOrganizao Individual

    Atitudes-ChaveCompromisso/Envolvimento

    Organizacional

    Satisfao No Trabalho E

    Compromisso/Envolvimento Profissional

    Tabela 3. Adaptado de DeFillipi & Artur (1996) e Hall (2004)

    Os tipos de interveno ao nvel da Gesto Organizacional de Carreiras podem ser analisados

    luz de uma perspectiva fenomenolgica acima dos modelos deterministas baseados na

    racionalidade do comportamento do actor social e na congruente adaptao das estruturas s

    contingncias do ambiente externo. Neste sentido, e considerando que a Gesto de Recursos

    Humanos no representar um universo paralelo da gesto em que estas presses para a

    conformidade, ainda que no consciente, cessem de existir, seria interessante estudar mais a

    fundo a problemtica da definio de prticas e ferramentas e da sua adaptao real

    contingncia especfica de actuao da organizao. A nova forma de Gesto de Carreiras no

    uma actividade bsica de Gesto de Recursos Humanos, antes estando integrada num

    conjunto de cinco prtica nucleares de gesto: i) Desenvolvimento de Capacidades e de

    Empregabilidade; ii) Integrao Estrutural e Estratgica; iii) Integrao Cultural; iv) Gesto

    da Diversidade e v) Comunicao [66]. Os comportamentos de auto-gesto de carreira podem

    ser de trs tipos: i) posicionamento, com a acumulao de contactos, competncias e

    experincias para produo de um determinado resultado; ii) influncia, destinada

    interferncia nas decises dos responsveis organizacionais e iii) gesto de fronteiras,

    operando a gesto das exigncias do trabalho e no-trabalho [68].

    Que soluo ser possvel adoptar? No entender de Doyle necessrio um entendimento

    superior, por parte dos tericos e gestores, dos padres e motivos de carreira bem como da

    forma como estes so transformados nos processos de troca da relao de emprego [61]. A

    carreira possui um valor econmico inegvel, quer para a organizao quer para o trabalhador[12]. A noo de que o indivduo um recurso potenciador de vantagem competitiva levar

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    15/30

    necessidade da sua proteco pela manuteno da continuidade da relao. O conceito de

    Capitalismo de Carreira (Career Capitalism) proporciona o entendimento de que o indivduo

    gerir os seus prprios recursos em seu benefcio, aplicando o capital de conhecimento

    adquirido pela carreira e outras experincias [12]. Ampliando o carcter explicativo da

    metfora, e entendendo as organizaes como um espao de aplicao do Capital de Carreira,

    interessar a estas atrair o melhor Capital e aos trabalhadores perceber qual o melhor local

    para a sua aplicao. o intuito de aumentar o Capital de Carreira que est na cogitao dos

    expatriados, conjuntamente com a noo de desenvolvimento e consideraes familiares,

    relegando para segundo plano o imediatismo da recompensa financeira proposta [69]. Esta

    ideia imbrica na noo de carreira porttil avanada por Kanter, uma vez que o sucesso do

    indivduo resulta da sua transferncia de competncias de organizao para organizao [70

    citado por Sturges, Conway et al., 2008].

    Num estudo de Lips-Wiersma e Douglas Hall [66] foi analisada uma empresa que reduziu os

    comportamentos de Gesto de Carreiras at ao momento em que os seus colaboradores

    percepcionaram a falta de estrutura e orientao como sendo negativa. Verifica-se um

    empowerment dos trabalhadores na gesto de carreiras, que por estes bem aceite, sendo

    contudo necessariamente supletivo do papel organizacional [66]. Sistemas de Carreiras

    demasiado estruturados no conseguiro acompanhar a diversidade e complexidade da gesto

    de carreiras no futuro [61]. A futura gesto de carreira passar por uma interveno indirecta

    na relao de troca com o trabalhador; em substituio das interaces didicas directas

    surgir espao para estratgias organizacionais menos intervencionistas direccionadas para os

    factores contextuais que influenciam as escolhas de carreira [61].

    Mais do que considerarem-se antagnicas a Gesto Organizacional de Carreiras e a Gesto

    Individual de Carreiras podem combinar-se, em organizaes bem geridas, num crculovirtuoso de actividades gestionrias [46, 68]. O paradoxo desta dinmica que quanto mais se

    investe nas competncias do trabalhador mais valor no mercado de trabalho se lhe confere

    [12]. No obstante, h evidncias recentes de que a Gesto Organizacional de Carreiras

    aumenta o comprometimento para a continuidade na organizao [64, 65, 67]. A existncia de

    suporte ao desenvolvimento de carreiras uma das dimenses do apoio percebido. O conceito

    de Apoio Organizacional Percepcionado (POS) captura o contedo da relao de troca

    empregador-empregado, corporizado na percepo da valorizao do contributo do indivduoe na preocupao da organizao com o seu bem-estar [71]. H fortes evidncias empricas

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    16/30

    entre o reconhecimento de um elevado Apoio Organizacional Percepcionado (POS), a par de

    uma alta relao de troca lder-membro (LMX), e o comprometimento organizacional,

    comportamentos de cidadania organizacional, elevada performance, desejo de ficar na

    organizao e uma mais baixa probabilidade de ter comportamentos como absentismo ou

    atrasos [71]. O suporte percebido por um trabalhador no que concerne gesto da sua carreira

    surge das actividades de Gesto de Recursos Humanos, desde a avaliao de desempenho,

    programas de desenvolvimento de competncias, entre outras [12]1.

    Uma investigao de Feldman e Leana sugere que os empregados alvo de lay-off, na

    eventualidade de encontrarem novos empregos, experienciam mais satisfao do que no

    trabalho anterior, sendo contudo o seu comprometimento e confiana na organizao reduzido

    pela experincia vivida [72]. Desta forma, percebemos que os efeitos de uma mobilidade

    negativa afectam as futuras relaes de emprego, complexificando o processo de troca de

    forma persistente. Adiciona-se a esta questo o facto de os trabalhadores, ainda que no

    vtimas directas das reestruturaes havidas nas suas organizaes, perderem os laos de

    lealdade e perceberem expectativas de promoo substancialmente reduzidas [73].

    H vrias possibilidades de interveno na Gesto de Recursos Humanos, nomeadamente

    recorrendo Mentoria, Outplacement, Aconselhamento, Centros de Desenvolvimento,

    Planeamento da Sucesso, Avaliao de Desempenho, Planos de Desenvolvimento Pessoal ou

    Networking [60]. Na verdade, com excepo da Mentoria, h frustrantemente poucas provas

    do bom resultado de qualquer uma das tcnicas por si, bem como da sua utilizao conjunta,

    resultando que apenas a conjugao destes processos com outras dimenses da organizao

    pode originar resultados [2, 60].

    Um dos problemas identificveis com os comportamentos de auto-gesto da carreira prende-se com o horizonte temporal a planear e a efectividade de cada aco. Na verdade para uma

    carreira que dure quarenta ou mais anos praticamente impossvel a antecipao das

    alteraes contextuais que possam impactar a direco pretendida. A racionalidade das

    escolhas limita-se em grande medida pela informao disponvel. O estabelecimento de uma

    estratgia de carreira individual muitas vezes centrado na deciso acerca da prxima

    1

    Para uma descrio mais pormenorizada das intervenes relacionadas com as carreiras, desenhadas para o beneficio das organizaes eoferecendo simultaneamente oportunidades para o indivduo pode ler-se, por exemplo, o livro Understanding careers: the metaphors ofworking lives de Kerr Inkson: 12. Inkson, K., Understanding careers: the metaphors of working lives. 2007, Thousand Oaks,California: Sage Publications, Inc..

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    17/30

    ocupao ou procura de emprego, assumindo-se como de curto prazo e redutora; o

    planeamento estratgico de carreira vai muito para alm destas tcticas pontuais [12]. O

    planeamento de carreira numa poca de descontinuidades obriga a um processo que passa por

    perodos de experincia/aprendizagem desenhados pelo prprio, perodos de auto-emprego,

    experincias cross-culturais entre outras que geram um capital de carreira que dinamiza a

    empregabilidade, hoje mais importante que o emprego [12]. A explorao da racionalidade do

    indivduo nas escolhas de carreira, atravs do uso da Teoria da Aco Planeada foi

    confirmada por vrios autores [3, 74], afirmando-se mesmo a possibilidade de induzir

    comportamentos auto-reguladores visando a gesto de carreira e que tal est positivamente

    relacionado com a satisfao com a carreira [3]. A pesquisa demonstrou que os indivduos

    que tomam mais iniciativas para gerir a sua prpria carreira esperam mais apoio da parte da

    sua entidade empregadora [75]; a auto-gesto da carreira tem um impacto positivo no

    comprometimento afectivo e na percepo do sucesso de carreira, enquanto a gesto

    organizacional da carreira est positivamente relacionada com o comprometimento afectivo e

    progresso na carreira [75]. A crena individual de auto-eficcia tem um impacto positivo no

    salrio e estatuto alcanados no mdio prazo (trs anos) e nas mudanas salariais e na

    satisfao com a carreira no longo prazo (sete anos) enquanto que os objectivos de progresso

    na carreira entrada impactam positivamente no salrio e estatuto aps trs anos e na

    mudana de estatuto aps sete anos, e negativamente na satisfao na carreira aps sete anos

    [76].

    5. Uma Possvel Soluo Integrativa: O Foco na Identidade

    O conceito de identidade nas cincias sociais no surge de forma intuitiva para um leigo,

    sendo vista como um enquadramento geral, porventura individualizado, para a compreenso

    do indivduo que formada e sustida pela interaco social [77: 19]. A identidade funciona

    como uma forma de auto-classificao distintiva e simultaneamente permite ver-me comosemelhante a uma classe de indivduos aos quais me associo ou gostaria de ser associado [77].

    Similarmente, ainda que a um outro nvel de anlise, a Teoria da Identidade Social reconhece

    a importncia do grupo na identidade do indivduo, com a demarcao do in-group e out-

    group ainda que baseado em critrios mnimos, ou seja, caractersticas artificiais de

    demarcao grupal, no necessariamente ligadas a critrios de interdependncia, interaco

    futura ou interesses materiais constrangimento de recursos [78-80]. As razes apontadas para

    este efeito so: i) a busca de auto-estima positiva; ii) o facto de uma parte do auto-conceitoderivar da pertena a determinado grupos (identidade social); iii) uma identidade social

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    18/30

    positiva poder ser mantida ou aumentada por comparaes com out-groups relevantes e iv)

    existir diferenciao entre Foci de Identificao. A pertena a uma organizao tem sido

    avanada por vrios autores como sendo uma das mais importantes afiliaes grupais que o

    indivduo tem, sendo a identificao social um determinante principal dos resultados [78-80].

    Quando uma identidade social insatisfatria o indivduo procurar sair do grupo e juntar-se

    a um outro mais positivamente distintivo ou, em concomitncia ou alternativa fazer com que

    o seu grupo actual de pertena se torne maispositivamente distinto [79].

    A pertena a uma organizao tem sido avanada por vrios autores como sendo uma das

    mais importantes afiliaes grupais que o indivduo tem, sendo a identificao social um

    determinante principal dos resultados [78, 79]. Quando uma identidade social insatisfatria

    o indivduo procurar sair do grupo e juntar-se a um outro mais positivamente distintivo ou,

    em concomitncia ou alternativa fazer com que o seu grupo actual de pertena se torne mais

    positivamente distinto [79]. John Turner apresenta a Teoria da Categorizao do Self,

    adicionando novas assunes sobre o comportamento intra-grupo Teoria da Identidade

    Social [81]. Os indivduos categorizam-se em vrios nveis: i) nvel pessoal (indivduo); ii)

    nvel intermdio ou de grupo (membro do grupo distinto de outros grupos) e iii) nvel

    superordinal (o ser humano em comparao com outras espcies) [81]. Estes nveis so

    salientados pelo contexto, nomeadamente por comparaes relevantes; no contexto

    organizacional cada nvel pode ser traduzido para componentes de anlise concretas: i) o nvel

    pessoal representando a carreira pessoal; ii) o nvel grupal representando as diferentes

    subunidades da organizao e iii) o nvel superordinal, considerando a organizao como um

    todo [81]. O afecto positivo pela organizao pode motivar os indivduos a investir mais na

    identidade organizacional, aumentando a identificao [82: 226]. Os diferentes investimentos

    num papel definem nveis diferentes de identificao, desde a i) pr-identificao, o nvel

    mais bsico e que se caracteriza por agir como um membro da organizao sem identificaocognitiva ou afectiva com a mesma, ii) um nvel de identificao cognitiva, em que o

    indivduo se considera um membro e iii) um nvel superior de envolvimento em que o

    indivduo inclui emoes, sendo a forte identificao organizacional caracterizada por

    investimentos em comportamentos, cognies e emoes [82: 228].

    A identificao pode ter vrios focus diferenciados [80, 83, 84]. Estes podem centrar-se na

    prpria carreira (nvel individual), na equipa, na organizao ou na profisso (nvel social)[80]. -nos sugerida uma taxinomia de diversas dimenses da identificao: i) cognitiva

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    19/30

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    20/30

    referido como a crena e aceitao dos valores organizacionais, bem como o desejo da

    manuteno da pertena organizao. A identificao organizacional algo mais especfico

    de uma organizao individualmente considerada. Nesta perspectiva um indivduo poder ter

    um elevado nvel de compromisso com a organizao numa lgica meramente instrumental,

    no se processando nenhuma perda psicolgica no caso de uma sada, desde que esta se

    verifique para uma outra organizao que partilhe os mesmos valores [85]. A identificao

    um processo de ligao psicolgica mais profunda, com razes na prpria auto-definio do

    indivduo, numa concepo de identidade partilhada. Numa interessante recenso de vrios

    contributos tericos, Asforth e Mael elencam 4 factores com relevncia directa na

    identificao com os grupos: 1) a distintividade dos valores e prticas do grupo com outros

    comparveis, 2) o prestgio do grupo, numa relao prxima com a auto-estima do indivduo;

    3) a salincia dos grupos externos (out-groups), num reconhecimento da importncia da

    comparao inter-grupos na definio de fronteiras sociais, 4) factores tradicionalmente

    associados formao de grupos (interaces interpessoais, similaridades, proximidade,

    partilha de objectivos ou ameaas, histrias comuns, entre outros), que, no sendo

    obrigatrios para que a identificao surja afectam normalmente esse processo [85, p. 24-25].

    Numa importante concluso adicional, Ashforth refere que quanto maior a identificao com

    a organizao, maior ser o compromisso com a mesma, apontando um nexo causal de

    variao positivamente correlacionada [85, p. 25]. Ainda segundo este autor, citando Turner, a

    maior contribuio da Teoria da Identidade Social o reconhecimento de que um grupo

    psicolgico muito mais do que uma extenso das relaes interpessoais: a identificao com

    um colectivo pode surgir mesmo na ausncia de coeso interpessoal, similaridade ou

    interaco e mesmo assim ter um impacto poderoso na modelao dos comportamentos [85,

    p. 26].

    A inteno de sada de um colaborador de uma organizao ser tendencialmente menor se otrabalhador desenvolver uma identificao forte [45, 85, 86]. A intensidade dessa

    identificao depender de aces organizacionais, sinalizando relaes duradouras e

    distribuindo recompensas em conformidade [45]. Este aspecto parece contrariar a gnese das

    carreiras sem fronteiras, mas alerta-nos para outra questo: qual a concreta conscincia dos

    decisores face a esta problemtica? Os gestores manipulam smbolos, tradies, mitos, rituais,

    heris para reforo do sentimento de pertena do indivduo [85]. Apesar das culturas

    organizacionais reclamarem um sentido nico, a verdade que tal acontece porque aidentidade especfica dos grupos; tacitamente compreendido pelos gestores que uma

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    21/30

    identidade organizacional positiva e distintiva atrai o reconhecimento, apoio e lealdade no

    somente dos membros da organizao mas tambm de accionistas, clientes e, genericamente,

    dos que procuram emprego [85]. Verifica-se a apropriao do simblico como veculo para a

    identificao [85]. Por outro lado, na esteira das teorias de fit entre indivduo e organizao

    Bocchino et al. [87] afirmam que a existncia de uma maior congruncia de valores entre

    indivduo e organizao implicar menores percepes de violao do contrato psicolgico.

    Esta questo assumir especial relevncia e poder ser testada na congruncia dos valores

    associados s vises de organizao e empregado no que se refere ao exerccio profissional.

    Numa carreira sem fronteiras a identificao do indivduo faz-se com o trabalho e a profisso,

    pressupondo uma escolha concreta e representativa do prprio [24, 41]. A identificao com a

    organizao pode assumir dois tipos: i) a situacional ou elementar e ii) a estrutural profunda

    [45]. A identificao situacional ocorre quando os interesses comuns entre indivduos e

    organizaes se conseguem sobrepor s suas divergncias; evidencia-se uma partilha de

    interesses na gnese da identificao, prolongando a ligao enquanto perdurar a consecuo

    dos interesses [45]. Esta forma de identificao surge com sucesso em relaes temporrias e

    em que o indivduo procura trabalhar com diferentes empregadores no seu percurso

    profissional [45]. Ao contrrio, a identificao estrutural profunda surge quando as

    interpretaes individuais em relao organizao so sistematizadas e devidamente

    ordenadas, contribuindo para uma percepo ou modelo mental estvel; as fronteiras entre os

    interesses individuais e organizacionais confundem-se e contribuem para uma atitude positiva

    [45]. Segundo Denise Rousseau a identificao profunda cada vez menos provvel no

    momento actual, devido s frequentes mudanas nas organizaes, nomeadamente processos

    de fuso e aquisio e reestruturaes [45]. A identidade pessoal possui duas dimenses: i) de

    regulao (prticas discursivas de definio identitria) e ii) produo de identidade

    (actividades interpretativas envolvidas na reproduo da identidade pessoal). Os aspectosregulatrios so vistos como uma forma de controlo normativo operando uma tentativa de

    comprometimento do trabalhador com a organizao via identificao, ainda que seja possvel

    a subverso ou resistncia [88].

    6. Concluso

    O tipo de carreira ser funo de um processo mediado por diversas variveis e com um papel

    fundamental da posio social e redes de relaes mantidas pelo indivduo. A avaliao doestado do contrato psicolgico potenciada pelos indicadores objectivos e subjectivos de

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    22/30

    sucesso, a par com as oportunidades de replicar as condies de contrato (formal ou

    psicolgico) consideradas cumpridas e melhorar as relevantes e no cumpridas, dinamizam

    todo o processo de escolhas. Esta lente terica poder sofrer desalinhos quando as opes so

    foradas por contextos de mobilidade negativa.Os novos formatos de carreira, nomeadamentea carreira sem fronteiras e a carreira proteana sugerem um recentramento da identidade

    individual potencialmente menos focalizado na identidade da organizao. A Gesto de

    Recursos Humanos dever operar um realinhamento da identidade organizacional e

    identidade individual e profissional favorecendo a continuidade da relao de emprego, ainda

    que apenas prioritariamente nos grupos do core-business.

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    23/30

    A investigao das carreiras tem procurado reflectir as conhecidas mudanas recentes nos

    contextos organizacionais. Este campo de trabalho tem sido frtil mas ainda no se consumiu

    todo o seu potencial. Os estudos futuros devero ser longitudinais, segundo John Arnold

    e Laurie Cohen, dada a natureza temporal das carreiras, devendo a investigao

    preocupar-se com os processos, mas tambm com os preditores e resultados [16]. A

    carreira em concreto surge como o resultado de um processo de escolhas, com

    comportamentos mais activos ou passivos, mas em que a avaliao do sucesso objectivo e

    subjectivo, mediadas pela avaliao do estado do contrato psicolgico, desempenham um

    importante papel. Na percepo do que valorizado pelos colaboradores, conjugado

    com os processos identitrios estar a direco de qualquer aco de gesto futura sobre

    as carreiras. Ao longo do tempo, a oportunidade de ter uma carreira numa organizao

    tornou-se num termo importante do contrato psicolgico; actualmente reconhece-se a

    identidade e a identificao como pontos focais dos comportamentos e atitudes

    relacionadas como o trabalho, e precisamente na relao de emprego a sua

    importncia se faz sentir pela noo de pertena, partilha e compromisso. O maior fluxo

    de investigao dos novos formatos de carreira tem sido proporcionado por pases Anglo-

    Saxnicos, nomeadamente Reino Unido e Estados Unidos da Amrica, sendo menos

    conhecido o impacto desta realidade em sistemas institucionais econmico-legais diversos,

    com vasta legislao laboral e fortes ndices de sindicalizao; este contexto pode

    proporcionar um ambiente de carreira mais estvel [64]. Torna-se indispensvel investigar a

    realidade das carreiras no contexto nacional e verificar o real impacto dos novos formatos,

    apoiando as decises de gesto. A implicao do enquadramento cultural nacional na

    generalizao dos resultados empricos conhecidos no se encontra explorada neste como

    noutros domnios da Gesto de Recursos Humanos [89].

    Os indivduos podem ter menos comportamentos estratgicos na gesto de carreira e maiscomportamentos tcticos ou operacionais. O horizonte temporal que informa as decises

    poder ser relativamente curto. Se verdade que os impactos da crise econmica, ou do

    normal funcionamento da economia com empresas que iniciam e outras que encerram, criam

    receios no indivduo, a dinmica do mercado de trabalho tambm o reflexo da dinmica

    econmica. Tal no implica necessariamente que o paradigma de carreira se tenha

    transformado no mapa mental dos trabalhadores. Conscientes da realidade contextual,

    concentram-se na empregabilidade. A noo do controlo de carreira poder existir naproporo do valor das competncias no mercado. Para alguns a flexibilidade funcional, com

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    24/30

    perfis no especializados ou com formaes de banda larga, favorece a capacidade do

    indivduo reinventar a sua carreira. Ainda que no tenhamos em Portugal suficiente

    confirmao ou infirmao emprica das formulaes tericas, que mascaradas de indutivas

    facilmente nos seduzem, podemos recorrer a uma fundao de pensamento estratgico para a

    aco com pressupostos que so disso independentes. Aqui se encontra uma dimenso de

    investigao fundamental e que merece ser explorada.

    A Gesto de Carreiras pode e deve ser uma preocupao da gesto. Na verdade a qualidade do

    alinhamento entre o Planeamento Estratgico de Recursos Humanos e a sua consequente

    operacionalizao ser um factor determinante do sucesso das prticas a implementar [90,

    91]. A proposta que avanamos de uma base estratgica que gere focos de identificao do

    indivduo com a organizao, a equipa ou o posto de trabalho, de locus interno, uma vez que o

    foco funo ou profisso se encontra desconexo de um contexto especfico e logo mais

    permevel a um planeamento individual que no tenha em conta as fronteiras organizacionais.

    A deciso de um indivduo permanecer numa determinada organizao em detrimento de

    outras pode ter evidentemente vrios suportes, nem sempre de compreenso fcil ou at

    sensvel para o prprio. O estudo das razes de permanncia , por si s, um universo de

    causalidades inter-cruzadas de leitura terica extremamente complexa. Por seu turno, a

    caracterizao do suporte do processo de formao identitria do indivduo na organizao,

    integrado com o seu processo de identificao poder fornecer um espao de compreenso

    para algumas atitudes e comportamentos.

    A segmentao dos pblicos internos permitir a melhor concentrao de esforos e recursos.

    Uma organizao pode diferenciar os seus colaboradores assumindo o impacto das carreiras

    sem fronteiras, catalogando-os como trabalhadores nucleares, contratados e temporrios,assumindo diferenas nas polticas de desenvolvimento e nvel de servio proporcionado a

    cada um destes pblicos [92]. Aos trabalhadores do ncleo proporcionar-se- um servio

    total, aos trabalhadores contratados proporciona-se um servio focalizado nas condies do

    contrato e aos temporrios apenas um suporte bsico [92]. Nesta lgica, a organizao no se

    mantm responsvel pelo desenvolvimento de todos os seus colaboradores, concentrando-se

    na gesto das competncias nucleares e gerindo as demais contribuies [92]. Contudo, deve

    salientar-se que as fronteiras entre o ncleo e a periferia so instveis e muitas vezes difceisde operacionalizar, impossibilitando uma gesto nesta lgica [93]. A diferenciao dos

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    25/30

    pblicos internos na distribuio de recompensas pode iniciar a criao de um lao pessoal,

    particular, podendo afectar a percepo da relao estabelecida com a organizao e gerando

    diferentes graus de identificao [45]. A constituio de vnculos duradouros, favorveis s

    identificaes estruturais profundas, a par com a obteno de mais recursos da organizao,

    sejam econmicos ou simblicos, est intimamente ligada percepo que o indivduo tem de

    que especial, iniciando um ciclo iterativo mais aprofundado de trocas com a organizao.

    A reconhecida especificidade da identidade organizacional enquanto cenrio de cruzamento

    de referncias individuais, grupais, internas e externas, continua a merecer uma dedicao

    acadmica profunda, correspondida empiricamente por uma riqueza de elementos para anlise

    que importa conhecer. Este artigo pretendeu dar mais um passo na explorao dos contornos

    da identidade e identificao e a sua relao com as carreiras em contexto organizacional. No

    se procurou um estudo na esteira da Sociologia ou Psicologia das Profisses, antes sim uma

    reflexo orientada para o domnio da Gesto de Recursos Humanos questionando o papel dos

    gestores na determinao das carreiras. O efeito ser, potencialmente, mais positivo se as

    intervenes forem planeadas de forma a corresponderem aos desejados focus ou dimenses

    que os gestores querem mudar e concomitantemente que faam sentido para os colaboradores.

    A ttulo de exemplo, se o gestor quer aumentar a identificao com a equipa, o foco optimal

    ser a equipa e no a organizao como um todo.

    A noo do controlo da carreira poder existir na proporo do valor das competncias no

    mercado. Para alguns a flexibilidade funcional, com perfis no especializados ou com

    formaes de banda larga, favorece a capacidade do indivduo reinventar a sua carreira. Por

    outro lado, torna-se necessria a avaliao das variaes culturais no contrato psicolgico, que

    ainda se encontram pouco estudadas apesar de se comear a reconhecer a sua importncia.

    Deve estudar-se os efeitos das aces de Recursos Humanos nas carreiras comparandosectores altamente institucionalizados contrapondo-os a sectores pouco institucionalizados.

    A pesquisa sobre carreiras proporciona uma ponte entre os nveis micro e macro de anlise e

    sua compreenso, bem como da forma como devem ser geridas fundamental em duas

    dimenses: i) pode ajudar os indivduos a gerir as suas carreiras de modo mais eficiente e ii)

    as organizaes podem beneficiar da compreenso das decises de carreiras e dilemas com

    que os seus empregados se confrontam no dia-a-dia. O estudo da noo de carreira, impactadapelos contornos institucionais da identidade organizacional, contribui para ajudar os decisores

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    26/30

    organizacionais na gesto de carreiras, com a construo de percursos em que os indivduos

    se possam rever e fomentar o comprometimento afectivo e de continuidade. As

    transformaes estruturais retiram a ascenso vertical do plano de sucesso de carreira, ainda

    que no esteja suficientemente claro que o mapa mental dos empregados tenha acompanhado

    essa tendncia; na realidade a potencial desadequao entre a expectativa individual e

    organizacional no que diz respeito s carreiras e oportunidades merece maior ateno. A

    sincronizao entre as necessidades individuais, as relativas funo e as da organizao so

    tema fundamental para o futuro da Gesto de Recursos Humanos.

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    27/30

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    1. Brun, J.-P. and N. Dugas, An analysis of employee recognition: Perspectives on human resources practices. The International

    Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 716-730.

    2. Arnold, J., Careers and career management, inHandbook of Industrial, work and organizational psychology, N. Anderson, et al.,

    Editors. 2001, Sage, Publications Inc.: Thousand Oaks. p. 115-132.

    3. Raabe, B., M. Frese, and T.A. Beehr, Action regulation theory and career self-management. Journal of Vocational Behavior,

    2007. 70(1): p. 297311.

    4. Herriot, P., P. Reilly, and W. Hirsch, Trust And Transition: Career Management For The Future. 1998, Chichester: John Wiley

    and Sons, Ltd.

    5. Baruch, Y., Career development in organizations and beyond: Balancing traditional and contemporary viewpoints. Human

    Resource Management Review, 2006. 16(2): p. 125-138.

    6. Defillippi, R.J. and M.B. Arthur, The boundaryless career: a competency-based perspective. Journal of Organizational Behavior,

    1994. 15(4): p. 307-324.

    7. Arthur, M.B., D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Generating New Directions in Career Theory: the case for a transdisciplinary

    approach, in Handbook of Career Theory, M.B. Arthur, D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Editors. 1989, Press Syndicate of the University ofCambridge: Cambridge. p. 7-25.

    8. Santos, G.M.G.d., O desenvolvimento de carreira dos acadmicos: Uma anlise centrada na relao entre o trabalho e a famlia ,

    inEscola de Economia e Gesto. 2007, Universidade do Minho: Minho. p. 451 pginas.

    9. Ferreira, A.P.V.G., Contedo e Quebra do Contracto Psicolgico e Comportamentos Individuais de Gesto de Carreira , in

    Escola de Economia e Gesto. 2007, Universidade do Minho: Minho. p. 212 pginas.

    10. Driver, M.J., Careers: A review of personal and organizational research, in Key reviews in managerial psychology: Concepts and

    research for practice, C.L. Cooper and I.T. Robertson, Editors. 1994, John Wiley & Sons: Chichester. p. 237-269.

    11. Inkson, K.,Images of career: Nine key metaphors. Journal of Vocational Behavior, 2004. 65(1): p. 96-111.

    12. Inkson, K., Understanding careers: the metaphors of working lives. 2007, Thousand Oaks, California: Sage Publications, Inc.

    13. Inkson, K., Protean and boundaryless careers as metaphors. Journal of Vocational Behavior, 2006. 69(1): p. 48-63.

    14. Arthur, M.B., S.N. Khapova, and C.P.M. Wilderom, Career success in a boundaryless career world. Journal of Organizational

    Behavior, 2005. 26(2): p. 177-202.

    15. Arthur, M.B. and D.M. Rousseau, The Boundaryless Career a new Employment Principle for a new Organizational Era. 1996,

    Nova Yorque: Oxford University Press.

    16. Arnold, J. and L. Cohen, The Psychology of Careers in Industrial and Organizational Settings: A critical but Appreciative

    Analysis. International Review of Industrial and Organizational Psychology, 2008. 23: p. 1-44.

    17. Nicholson, N. and W. de Waal-Andrews, Playing to win: Biological imperatives, self-regulation, and trade-offs in the game of

    career success. Journal of Organizational Behavior, 2005. 26(2): p. 137-154.

    18. Barley, S.R., Careers, Identities, and institutions: the legacy of the Chicago School of Sociology, inHandbook of Career Theory,M.B. Arthur, D.T. Hall, and B.S. Lawrence, Editors. 1989, Press Syndicate of the University of Cambridge: Cambridge. p. 41-65.

    19. Sullivan, S.E. and L.A. Mainiero, Kaleidoscope Careers: Benchmarking Ideas for Fostering Family-Friendly Workplaces.

    Organizational Dynamics, 2007. 36(1): p. 45-62.

    20. Young, R.A. and A. Collin,Interpreting Career. Hermeneutical studies of lives in context. 1992, Westpoint, London: Praeger.

    21. Young, R.A. and A. Collin, Constructivism and social constructionism in career field. Journal of Vocational Behavior, 2004.

    64(3): p. 373-398.

    22. Passos, A., Gesto e Desenvolvimento da Carreira Profissional, in Gesto de Recursos Humanos: contextos, processos e

    tcnicas, A. Caetano and J. Vala, Editors. 2000, Editora RH: Lisboa. p. 421-441.

    23. Westerman, J.W.,An Integrative Analysis of Person-organization Fit Theories: Effects on Individual Attitudes and Behavior, in

    Faculty of the Graduate School of Business Administration. 1997, University of Colorado.

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    28/30

    24. Arthur, M.B., The boundaryless career: a new perspective for organizational inquiry. Journal of Organizational Behavior, 1994.

    15(4): p. 295-306.

    25. Arthur, M.B., K. Inkson, and J.K. Pringle, The new careers: Individual action and economic change. 1999, London: Sage.

    26. Hall, D.T., The Protean Career: A quarter-century journey. Journal of Vocational Behaviour, 2004. 65(1): p. 1-13.

    27. Hall, D.T., Careers in organizations. 1976, Glenview: Scott, Foresman Co.

    28. Hall, D.T., Protean Careers of the 21st Century. Academy of Management Executive, 1996. 10(4): p. 8-16.

    29. Hall, D.T., Careers In and Out of Organizations. 2002, Thousand Oaks: Sage, Publications Inc.

    30. Poehnell, G. and N. Amundson, Career craft, in Career Creativity, M. Peiperl, M.B. Arthur, and N. Anand, Editors. 2002, Oxford

    University Press: Oxford. p. 105-122.

    31. Wrzesniewski, A. and J.E. Dutton, Crafting a job: revisioning employees as active crafters of their work. Academy of

    Management Review, 2001. 26(2): p. 179-201.

    32. Borgen, W.A., N. Amundson, and J. Reuter, Using portfolios to enhance career resilience. Journal of Employment Counseling,

    2004. 41(2): p. 50-59.

    33. Baruch, Y.,Managing Careers: Theory and Practice. 2004a, Edinburgh Gate: Pearson Education, Limited.

    34. Baruch, Y., Transforming careers: from linear to multidirectional careers paths. Career Development International, 2004b. 9(1):

    p. 58-73.

    35. Duberley, J., M. Mallon, and L. Cohen,Exploring career transitions: accounting for structure and agency. . Personnel Review,

    2006. 35(3): p. 281-296.

    36. Bujold, C., Constructing career through narrative. Journal of Vocational Behavior, 2004. 64(3): p. 470-484.

    37. Cochran, L.,Narrative as a paradigm for career research, inMethodological Approaches to the Study of Career, R.A. Young and

    N. Borkowski, Editors. 1990, Praeger: Nova York. p. 71-86.

    38. Blustein, D.L., S.D.E. P, and H. Flum, Toward a relational perspective of the psychology of careers and working: a social

    constructionist analysis. Journal of Vocational Behavior, 2004. 64(3): p. 423-440.

    39. Cohen, L., J. Duberley, and M. Mallon, Social constructionism in the study of career. Journal of Vocational Behavior, 2004.64(3): p. 407-442.

    40. Bendassolli, P.F.,Recomposio da Relao Sujeito-Trabalho nos Modelos Emergentes de Carreira. 2009. 49(4): p. 387-400.

    41. Arthur, M.B., P.H. Claman, and R.J. DeFillippi,Intelligent enterprise, intelligent careers. Academy of Management Executive,

    1995. 9(4): p. 7-20.

    42. De Vos, A. and N. Soens, Protean attitude and career success: The mediating role of self-management. Journal of Vocational

    Behavior, 2008. 73 (1): p. 449-456.

    43. Mirvis, P.H. and D.T. Hall, Psychological success and the boundaryless career. Journal of Organizational Behavior, 1994. 15(4):

    p. 365-380.

    44. Baker, T. and H.E. Aldrich, Prometheus Stretches: Building Identity and Cumulative Knowledge in Multiemployer Career, in The

    Boundaryless Career a new Employment Principle for a new Organizational Era, M. Arthur and D.M. Rousseau, Editors. 1996, OxfordUniversity Press: Nova Iorque. p. 132-149.

    45. Rousseau, D.M., Why workers still identify with organizations. Journal of Organizational Behavior, 1998. 19(3): p. 217-233.

    46. King, Z., S. Burke, and J. Pemberton, The bounded career: An empirical study of human capital, career mobility and

    employment outcomes in a mediated labour marketHuman Relations, 2005. 58(8): p. 981-1007.

    47. Heslin, P.A., Conceptualizing and evaluating career success. Journal of Organizational Behavior, 2005a. 26(2): p. 113-136.

    48. Heslin, P.A.,Experiencing Career Success. Organizational Dynamics, 2005b. 34(4): p. 376-390.

    49. Van Maanen, J. and E.H. Schein, Career development, in Improving Life at Work, J.R. Hackman and J.L. Suttle, Editors. 1977,

    Goodyear Publishing,: Santa Monica, California. p. 30-95.

    50. Rynes, S.L., B. Gerhart, and K.A. Minette, The Importance of Pay in Employee Motivation: Discrepancies Between What People

    Say and What They Do. Human Resource Management, 2004. 43(4): p. 381-394.

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    29/30

    51. Van Maanen, J.,Experiencing organization: notes on the meaning of careers and socialization. Organizational careers: Some new

    perspectives. 1977, New York: Wiley.

    52. Schein, E.H., Career anchors revisited: Implications for career development in the 21st century. Academy of Management

    Executive, 1996. 10(4): p. 80-88.

    53. Littler, C.R., W. R., and R. Dunford, The dynamics of delayering: changing management structures in three countries. Journal of

    Management Studies, 2003. 40(2): p. 225-256.

    54. Cappelli, P., The new deal at work: Managing the market-driven workforce. 1999, Boston: Harvard Business School Press.

    55. Hall, D.T. and D.E. Chandler, Psychological success: When the career is a calling. Journal of Organizational Behavior, 2005.

    26(2): p. 155-176.

    56. Robson, S.M., et al., Successful aging: Criteria for aging well in the workplace. Journal of Career Development, 2006. 33(2): p.

    156-177.

    57. Judge, T.A., J. Kammeyer-Mueller, and R.D. Bretz, A longitudinal model of sponsorship and career success: A study of

    industrial-organizational psychologists. Personnel Psychology, 2004. 57(2): p. 271-303.

    58. Ng, T.W.H., et al., Predictors of Objective and Subjective Career Success: A meta-analysis. Personnel Psychology, 2005. 58(2):

    p. 367-408.

    59. Ng, T.W.H., et al., Determinants of job mobility: A theoretical integration and extension. Journal of Occupational &

    Organizational Psychology, 2007. 80(3): p. 363-386.

    60. Arnold, J.,Managing Careers into the 21st Century. 1997, London: Paul Chapman.

    61. Doyle, M., Managing Careers in Organizations, in The Future of Career, A. Collin and R.A. Young, Editors. 2000, Cambridge

    University Press: Cambridge. p. 228-242.

    62. London, M., Relationships between career motivation, empowerment and support for career development. Journal of

    Occupational & Organizational Psychology, 1993. 66(1): p. 55-69.

    63. Dick, P. and R. Hyde, Line manager involvement in work-life balance and career development: can't manage, won't manage?

    British Journal of Guidance & Counselling, 2006. 34(3): p. 345 - 364.

    64. Sturges, J., N. Conway, and A. Liefooghe, What's the deal? An exploration of career management behaviour in Iceland. TheInternational Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 752 - 768.

    65. Sturges, J., et al., A longitudinal study of the relationship between career management and organizational commitment among

    graduates in the first ten years at work. Journal of Organizational Behavior, 2002. 23(6): p. 731-748.

    66. Lips-Wiersma, M. and D.T. Hall, Organizational career development is not dead: a case study on managing the new career

    during organizational change. Journal of Organizational Behavior, 2007. 28(1): p. 771-792.

    67. Sturges, J., et al., Managing the career deal: the psychological contract as a framework for understanding career management,

    organizational commitment and work behavior. Journal of Organizational Behavior, 2005. 26(7): p. 821-838.

    68. King, Z., Career self-management: Its nature, causes and consequences. Journal of Vocational Behavior, 2004. 65(1): p. 112-133.

    69. Dickmann, M., et al., Why do they go? Individual and corporate perspectives on the factors influencing the decision to accept an

    international assignment. The International Journal of Human Resource Management, 2008. 19(4): p. 731 - 751.

    70. Kanter, R.M., When Giants Learn to Dance: Mastering the Challenges of Strategy, Management and Careers in the 1990's 1989,

    London: Unwin.

    71. Coyle-Shapiro, J.A.M. and N. Conway, The Employment Relationship through the Lens of Social Exchange, in The Employment

    Relationship: Examining Psychological and Contextual Perspectives, J.A.M. Coyle-Shapiro, et al., Editors. 2004, Oxford University Press:

    Oxford. p. 5-28.

    72. Feldman, D.C. and C.R. Leana,A study of reemployment challenges after downsizing. Organizational Dynamics, 2000. 29(1): p.

    64-75.

    73. Goffee, R. and R. Scase, Organizational change and the corporate career: the re-structuring of managers' job aspirations.

    Human Relations, 1992. 45(4): p. 363-385.

    74. Arnold, J., et al., How well can the theory of planned behavior account for occupational intentions. Journal of VocationalBehavior, 2006. 69(1): p. 374390.

  • 8/6/2019 Artigo Carreiras RPM Revisto

    30/30