ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the...

17
ALEX CERVENY . MAR INTERIOR

Transcript of ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the...

Page 1: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

ALEX CERVENY . MAR INTERIOR

Page 2: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Pinturas Patrióticas - Margem Esquerda, 2013 / óleo sobre linho / 35,5 x 40,5 cmPatriotic Paintings - Left riverside / oil on linen / 35,5 x 40,5 cm

Pinturas Patrióticas - Margem Direita, 2013 / óleo sobre linho / 35,5 x 40,5 cmPatriotic Paintings - Right riverside / oil on linen / 35,5 x 40,5 cm

Page 3: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Três Terras, 2012 / aquarela, tinta caligráfica e tinta dourada sobre papel / 28,5 x 37 cmThree Lands, 2012 / watercolor and ink on paper / 28,5 x 37 cm

Alexandria, Roma, Constantinopla e Atenas, 2012 / aquarela, tinta caligráfica e folha de ouro sobre papel / 28,5 x 37 cmAlexandria, Rome, Constantinople and Athens, 2012 / watercolor, ink and gold sheet on paper / 28,5 x 37 cm

Feeling, falling and fooling, 2012 / aquarela, tinta caligráfica e tinta dourada sobre papel / 28,5 x 37 cmFeeling, falling and fooling, 2012 / watercolor and ink on paper / 28,5 x 37 cm

Page 4: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Faraó, 2008 - 2013 / aquarela e folha de alumínio sobre papel / 45 x 54 cmPharao, 2008-2013 / watercolor and ink on paper / 45 x 54 cm

Page 5: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Os Louros, 2013 / aquarela, guache e grafite sobre papel / 90 x 125 cmThe Laurels, 2013 / watercolor, gouache and graphite on paper / 90 x 125 cm

Page 6: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Miranda Maravilha e Mato-Grosso, 2013 / aquarela, guache, grafite e folha de ouro sobre papel / 90 x 125 cmMiranda Maravilha e Mato-Grosso, 2013 / watercolor, gouache, graphite and gold sheet on paper / 90 x 125 cm

Page 7: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Órgãos Internos, 2013aquarela, grafite e folha de prata sobre papel125 x 90 cmInternal Organs, 2013watercolor, graphite and silver sheet on paper125 x 90 cm

Page 8: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Mergulho, 2013 / aquarela, grafite e folha de prata sobre papel / 90 x 125 cmDiving, 2013 / watercolor, graphite and silver sheet on paper / 90 x 125 cm

Page 9: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Oriente e Acidente, 2013 / aquarela, guache e grafite sobre papel / 90 x 125 cmOrient and Accident, 2013 / watercolor, gouache and graphite on paper / 90 x 125 cm

Page 10: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Jóse interpretando os sonhos do Faraó [Pico da Neblina], 2013 / aquarela e grafite sobre papel / 90 x 125 cmJosé interpreting the pharaoh’s dreams [Pico da Neblina], 2013 / watercolor, gouache and graphite on paper / 90 x 125 cm

Page 11: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

da Série Hidrográficos, 2013aquarela sobre papel36,5 x 34,5 cm e 36,5 x 41 cm cadafrom the Series Hidrográficos, 2013watercolor on paper36,5 x 34,5 cm and 36,5 x 41 cm each

Page 12: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

da Série Hidrográficos, 2013 / aquarela sobre papel / 36,5 x 34,5 cmfrom the Series Hidrográficos, 2013 / watercolor on paper / 36,5 x 34,5 cm

Page 13: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

da Série Hidrográficos, 2013 / aquarela sobre papel / 36,5 x 34,5 cmfrom the Series Hidrográficos, 2013 / watercolor on paper / 36,5 x 34,5 cm

Page 14: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

da Série Hidrográficos, 2013aquarela sobre papel36,5 x 34,5 cm e 36,5 x 41 cm cadafrom the Series Hidrográficos, 2013watercolor on paper36,5 x 34,5 cm and 36,5 x 41 cm each

Page 15: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

Como as cheias do Pantanal mato-grossense, a exposição Mar interior contou quase com um ano para estar inteiramente formada. Nesta mostra, Alex Cerveny exibe por volta de cinquenta trabalhos, entre pinturas e desenhos, realizados sob forte inspiração acerca do que é a pujança visual da bacia do rio Paraguai, essa localidade ilhada entre o Brasil e a Bolívia, região de infinitas áreas alagadiças, um mar sem costa, maré-cheia nem vazante, mas de margens que borram lenta e constantemente o mapa do centro sul-americano. Na busca talvez de um oceano, o Atlântico, vê-se como sobrevoadas de monomotor marcaram o artista durante o período de intenso trabalho, no qual barqueou por sistemas hidroviários, deu aulas de arte para crianças em um projeto socioeducativo e explorou a cavalo um pouco da região da serra do Amolar, nas proximidades de Corumbá (MS).

São dois grupos de obras de dimensões variáveis que compõem a mostra – os “hidrográficos”, que, na ponta do pincel da associação poética, apresentam gestos rápidos, baseados em registros de memórias, pessoas, lugares e momentos ali vividos no entorno pantaneiro, finas aquarelas negras sobre papel branco levíssimo; e desenhos que reavivam fluxos de navegação do caminho fluvial Paraguai-Paraná, esse corte hidrográfico ao longo de 3.500 quilômetros, símbolo do programa de integração continental, que atravessa ao meio a América do Sul. Despontam nessa série figuras de seres metamorfoseados em homem-peixe e duelos de animais complementares – contraditórios, como os do homem versus jacaré –, firmando, assim, pela imaginação do artista, o caráter da exposição. Com a intuição na mira de certos aspectos da cosmogonia guarani, Cerveny evoca com Mar interior a origem do mundo e os fenômenos do surgimento da condição humana em meio à natureza selvagem.

O segundo agrupamento é constituído de cinco desenhos maiores, nos quais aguadas de fundo azul mancham o peso da gramatura do suporte em papel. Uma fina tinta preta de traços suavemente delineados e o uso das folhas de prata caracterizam a série, como se houvesse sido criada por delicados acordes ancestrais de uma harpa cosmológica, ao extroverter em sua grandeza e fragilidade uma rara visão interior sobre a gênese do Universo, na qual estrutura e evolução parecem ser respostas diretas às tentativas de apreensão dos métodos para o estudo dos sonhos.

As the floods of the Pantanal in Mato Grosso, the exhibition Mar interior [Inland Sea] counted on nearly the number of months in a year to be fully formed. In this exhibition, Alex Cerveny displays around fifty works, including paintings and drawings, having been done under strong sensitive inspiration about what is the visual strength of the Paraguay River basin, this isolated location between Brazil and Bolivia, endless wetlands region, shoreless sea, without high or low tide, but of margins that blur slowly and steadily the South American map. In search of perhaps an ocean, the Atlantic, one sees here, therefore, how single-engine airplane flights over a period of intense work—in which the artist navigated through waterway complexes, gave art lessons to children in an socio-educational project, and explored some of the region of Serra do Amolar mountain range, near Corumbá (Mato Grosso do Sul) on horseback—left their mark on the artist.

There are two groups of works, of varying dimensions, that make up the exhibition: the “hydrographics,” which in the brush tip’s poetic association, feature quick gestures based on records of memories, people, places, and moments there lived around the pantaneiro locale, thin black watercolors on light white paper; drawings that rekindle navigation flows of the Paraguay-Paraná waterway system, this hydrographic path over 2,175 miles, symbol of the continental integration program, that runs through the middle of South America. In this series, figures metamorphosed into man-fish and duels of complementary-contradictory animals—like man versus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of the Guarani cosmogony, Cerveny evokes with Mar interior, instinctively, the origin of the world and the phenomena of emergence of the human condition amid wilderness.

The second group is made up of five larger drawings where blue background washes stain despite the paper’s thickness. A thin black ink, with softly outlined strokes, and the use of silver leaves mark the series, as if they had been created by delicate ancestors chords of a cosmological harp, revealing, in its grandeur and frailty, a rare inner vision about the genesis of the Universe, in which structure and evolution seem to be direct answers to the attempts of apprehension of methods for dream interpretation.

ALEX CERVENYGUARÂNIA DA BAÍA VERMELHA

ALEX CERVENYGUARANIA OF THE RED BAY

Page 16: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

No conjunto de obras em exibição ainda estão incluídas duas pinturas fortes de paisagem noturna, feitas a óleo sobre a semitransparência do linho. A sós, em meio à natureza, uma índia e um índio, representando em oposição as duas margens de um mesmo rio, como figuras deslocadas e postas na contraordem do tempo cronológico, sugerem repensarmos a impossibilidade real dos encontros, principalmente aqueles que têm sido mediados por toda sorte de anteparos digitais, o que faz a vida desembocar na falta de espontaneidade a que estamos absolutamente sujeitos nos dias de hoje.

Mar interior suscita os antigos conhecimentos a respeito do significado da “Terra sem mal”(Ivy marãey); nas tradições tupi-guarani, indivíduos e grupos que abandonam suas aldeias e saem em busca de uma superação ambivalente, rejeitando a ordem do convívio social, sem precisar de fato da morte como passagem para tal feito, alcançam essa força de transformação pela prática de exercícios migratórios e de caminhadas sem rumo. Ao deixarem para trás a coletividade da aldeia e o peso de ser homem, sofrem de uma transmutação de homens em deuses, conquistando sua entrada para habitar, enfim, a “Terra sem mal”.

Among the works on display, there are two strong paintings of nocturnal landscapes, made with oil paint on translucent linen. Alone, in the midst of nature, a pair of South American Indians, man and woman, represent, in separate opposition, each of the two banks of the same river, being suggested as displaced figures and put on counterorder of chronological thinking, making us reevaluate the actual impossibility of meetings, especially those that have been mediated by all manner of digital apparatuses, which make life result in a lack of spontaneity, to which we are absolutely subject these days.

Mar interior raises the ancient knowledge regarding the meaning of “Land without evil” (Ivy marãey), in which, in Tupi-Guarani traditions, individuals and groups searching to overcome, rejecting the collective order, and practicing migratory exercises have abandoned their villages to go against the grain, without need of death as passageway for becoming gods themselves, therefore winning their entry, at last, to the “Land without evil.”

Page 17: ALEX CERVENY . MAR INTERIOR - Casa Triânguloversus alligator—stand out confirming, by the artist’s imagination, the character of this exhibition. Aiming at certain aspects of

%HermesFileInfo:C-4:20131123:

C4 Caderno 2 SÁBADO, 23 DE NOVEMBRO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO

Literatura Lançamentos

EDITORA - 1ChegadasCompassagens por editorascomo aÁtica, onde ficou duran-te 12 anos e atuou na área deparadidáticos, a jornalista Clau-diaMorales assume a gerênciaeditorial daMelhoramentos.Até então, Breno Lerner, 24anos de empresa, acumulavaessa função com a de superin-tendente, que elemanteve.

EDITORA - 2E partidasContratada emsetembro de2011 comodiretora editorial deobras estrangeiras daEdiouro,SandraEspilotro deixa o grupocarioca. Renata Sturm, entãoeditora de aquisições, assume afunção e responderá ao novopublisher –KaíkeNanne.

COPAPara além dos estádiosOs fotógrafos FernandoClarke Ricardo Feres percorreram20mil quilômetros e registran-do a natureza – como osmaca-cos da Amazônia (acima) – aoredor das 12 cidades que vãosediar os jogos da Copa doMundo. A história e a geografiados lugares e a cultura de seupovo completam o livroBrasilda Copa, da Cultura Sub. O lan-çamento – impresso e digital –será no fimdomês.

DIGITALNo smartphoneA IBA lança na primeira quinze-na de dezembro seu aplicativode leitura de e-books parasmartphones – ela só tinha pa-ra tablets e computador.

NÃO FICÇÃONovo jeito de viverOaustraliano RomanKrzna-ric, cofundador da The Schoolof Life, de Londres, e autor deSobre a Arte de Viver, teráEmpa-tia editado na Inglaterra emfevereiro. Aqui, sairá, sem pre-visão, pela Zahar. Na obra (Ou-trospection, em inglês), ele pro-põe umamudança social pormeio de uma revolução das re-lações humanas e da descober-ta do outro. Um vídeo, no blogBabel,mostra a ideia do autor.

ALMANAQUECorreio sentimentalOMuseudaPessoa fez expedi-çõespelas cinco regiões paragravarhistórias de vidadebrasi-leiros.AproximandoPessoas, queserádistribuídopara bibliote-cas, trazo resultadodesse traba-lho comumrecorte: o impactodosCorreiosnodia adia da po-pulação. Sãohistórias de anôni-mos e famosos, comoomédicoMoacyrViggiano, ex-carteiro eamigode infância deZiraldo equevirouo jabuti carteirodaTurmadoPererê (abaixo).

Babel

estadao.com.br/e/cerveny

Maria Fernanda Rodrigues

NAWEB

REPRODUÇÃO

FERNANDO CLARK/DIVULGAÇÃO

Exposiçãodo artistamarca os seus 30 anos de carreira

Cincovolumes inauguram, estemês, a Biblioteca Textos Funda-mentais, coleção coordenadapor João Cezar de Castro Ro-cha, professor de literatura daUERJecolaboradordoCaderno2, para aÉRealizações. Apro-posta é publicar livrosintrodutórios – sem-pre escritospor espe-cialistas –dedicadosaoestudodeobrasdeliteratura,história e filo-sofia, peças, óperas efilmes.Osprimeiros títu-los tratamdeCasa-Grande&Senza-la,Esaú e Jacó,GrandeSertão:

Veredas, Iracema eOFilhoEter-no. Para 2014 e2015, estãopre-vistos volumes sobreViva oPo-voBrasileiro, de JoãoUbaldoRi-beiro (foto);OEstrangeiro, deAlbertoCamus;ARepública dosSonhos, deNélidaPiñón;Cora-çãodasTrevas, de JosephCon-

rad;Deus e oDiabo naTerradoSol, deGlauberRocha;Vestido deNoiva, deNel-sonRodrigues;Relato deumCertoOriente, deMil-tonHatoum;Eles Eram

MuitosCavalos,deLuizRuffa-to,entreoutrasobras.

ALEX CERVENYCasa Triângulo. Rua Paes deAraújo, 77, Itaim Bini, 3167-5621.3ª a sáb., das 11 às 19h. Até21/12. Abertura hoje, às 12 h.

Decameronemdobro

!OriginalAcima, grupo dos dez jovensque contam histórias doDecameron, numa ilustraçãode Boccaccio emmanuscritoconservado na Biblioteca de Paris

blogs.estadao.com.br/babel

Clássico escritopara exorcizara peste na IdadeMédia ganha duasnovas versões

Galeria. Vejamais ilustraçõesde Alex Cerveny

CRÍTICA

Alex Cerveny fazia obraspequenas em plena eradas telas gulliverianas daGeração 80, continuandona mesma trilha em 2013

Antonio Gonçalves Filho

Nos700anosdonascimentodeBoccaccio, suaobramais popu-lar, Decameron, ganha duas tra-duçõesnoBrasil.Aprimeira,pu-blicada pela Cosac Naify, temilustrações delicadas do artistapaulistano Alex Cerveny, quetambémdesenhouosornamen-tos das dez novelas seleciona-daspelotradutorMaurícioSan-tana Dias, entre as 100 narrati-vas do Decameron. A segunda,publicada pela L&PM, é umaedição sem ilustrações comno-va tradução de Ivone C. Bene-detti, especialista na obra deBoccaccio. É a versão integraldesse clássico absoluto, escritoentre 1349 e 1351 (ou 53), quan-do a peste negra devastou a Eu-ropa. É também uma traduçãofeita para fazer rir o leitor brasi-leiro, segundo a tradutora, damesma forma como Boccacciodivertiu os leitores florentinosno século 14, compensando-ospela perda de parentes e ami-gos levados pela epidemia.Foi exatamente com esse ob-

jetivo em mente que Boccaccioreuniu 100 narrativas que exor-cizam a peste negra, estabele-cendo com sua coleção de his-tórias – algumas picantes, ou-tras nem tanto – o marco zeroda prosa ficcional realista noOcidente. Como bônus, eleabriu caminho para a liberdadedos renascentistas. O amor es-piritualizado da Baixa IdadeMédia baixava à terra para assu-mir uma dimensão mais huma-nista no século 14, quando a co-municação oral, até então pre-dominante, começa a perderterreno para a escrita. Grandeparte dessa centena de narrati-vas veio do meio do povo parao deleite da burguesia mercan-til. A perenidade de Decameron,como escreveu a tradutora Ivo-

ne C. Benedetti, resultou da“perfeita comunhão entre o es-critor e seu público”.São vários os exemplos de

apropriação das narrativas po-pulares, de jovens que se hospe-dam na casa de um homem eabusam da sua filha à históriade Masetto, que se finge de mu-do, entra como jardineiro deum convento e vira amante detodas as freiras. Essas históriassão contadas por dez jovens (se-te moças de origem nobre e

três rapazes) que buscam abri-go nas montanhas, fugindo dascidades dizimadas pela peste. Anarrativa de Bocaccio não omi-te o flagelo. Ao contrário. Ao la-do de cenas picarescas como as

descritas anteriormente con-vive o fantasma da praga,da morte, do temor religio-so. Ele reconta essas histó-rias usando a linguagemde seu tempo.Por fidelidade a ela,

Alex Cerveny foi buscarinspiração nos manus-critos que se encontramna Biblioteca Nacionalde Paris e na Bibliotecado Estado em Berlim. Asduas edições foram usadas

como referências para ilustrar aedição parcial do Decameron. Aencomenda da Cosac Naify pre-via intervenções gráficas em to-das as páginas. A influência dotraço de Boccaccio, que ilus-trou a própria obra, é notávelem cada uma delas, mas Cer-veny avança no tempo e emulatambém o estilo dos artistas doRenascimento, principalmentePiero della Francesca. Seu retra-to do duque de Urbino serve demodelo para o artista brasileirocriar um dos personagens daprimeira novela da primeira jor-nada, que conta comoCepparel-lo engana um padre e é tomadopor santo quando morre.Outras fontes visuais in-

cluem o filme que Pier PaoloPasolini fez baseado no clássi-co. O jardineiroMasetto, flagra-do pelas freiras em plena açãoonanista, é um exemplo. Outroé o trio formado por Peronella,seu amante e o marido. Ela es-conde o primeiro num tonel,mente para omarido que o ven-deu e o faz entrar dentro delepara examinar seu estado, en-quanto o amante se livra dascalças e avança sobre ela. Pre-domina no desenho o mesmoerotismo campesino do filmede Pasolini, que abjurou sua re-criação de Boccaccio ao ver aobra consumida pelo públicocomo pornografia.Nenhuma das 44 ilustrações

de Cerveny corre o risco de serclassificada da mesma forma.Elas conservam a inocência dasilustrações dos livros infantisfeitas pelo artista, que comple-ta 50 anos de idade e 30 de car-reira com uma exposição de

pinturas e desenhos na CasaTriângulo (leia abaixo). O exem-plo máximo desse segmento li-terário dedicado às crianças é oconjunto de ilustrações produ-zidas para Pinóquio, o clássicode Collodi, também publicadopela Cosac Naify.Ao contrário dos desenhos

de Pinóquio, monocromáticos,os de Decameron são multicolo-ridos. Para o primeiro, Cervenypesquisou uma técnica da gra-vura usada no século 19, o cli-ché verre (clichê em vidro), emque o artista chamusca uma pla-ca de vidro com uma vela e de-senha sobre a superfície, comose fosse um negativo fotográfi-co. Em Decameron, ele dispen-sou instrumentos e confiou natécnica pessoal. Fez bem.

Coleção pretende ser guia deleitura de textos fundamentais

Destino.Ohomem quegastou suafortuna eficou apenascom umfalcão, vistopor Cerveny

AlexCerveny completa 50anoscom uma exposição que marcaseus 30 anos de carreira, naCa-sa Triângulo, que o representadesde2001.Amostra será aber-ta hoje e reúne pinturas e dese-nhos do artista paulistano. Emtodas essas obras é possível no-tar a influência que a narrativaliterária exerce sobre sua arte.Compreensível.Filhodeumar-quiteto e de uma professoraqueensinavacegos,Cervenyfoiestimulado desde criança a veromundosegundoumaconcep-çãomuitoparticular,queestru-tura o espaço do papel e da tela

comumprojetoracional,arqui-tetônico, logo desmontado pe-lo imaginário sensual desse ar-tista ligado à tradição. Ele dizque se sente até mais narradorque artista visual, um cronistaque vai buscar nos muros assí-rios sua inspiração.Outra fonte de referência é o

circo–e,nessesentido,osdese-nhosdeCervenynãoseasseme-lham por acaso aos do cineastaitaliano Federico Fellini. Eleaté criou um personagem cir-cense quando estudava na Aca-demia Piolin, o Elvis Elástico,umbonecoquefaziacontorcio-

nismoacrobático.Esse homemde plástico remete às figurasmasculinas longilíneas dasobras de Cerveny, que fez suaprimeira exposição numa gale-ria de Belém do Pará, em 1983.Em plena ebulição da Geração80,detelasgigantescas,matéri-cas, neoexpressionistas, ele in-sistia na pequena dimensão,produzindo um trabalho gráfi-co detalhista, liliputiano.Cerveny aponta as duas pe-

quenas telas (35 x 40) logo àentrada da exposição, doisexemplos que andam na con-tramãodo gulliverianismoquedominou as pinturas dos anos1980 – e ainda dá as cartas nomercado de arte. “São traba-lhos que fiz depois de uma via-gem pelo Pantanal, quandocheguei à fronteira boliviana efui tomadoporumsentimentopatriótico, para logo perceber

que aquele território indefini-do era, de fato, de ninguém.”Numasdastelas,umnativobra-sileiro surge, altivo, sob a letrado Hino à Bandeira. Na outra,

umaboliviana, separadadoan-típoda, traz sobre sua cabeçaasmarcas de umpassado colo-nialista. A associação fica porconta do espectador.

Os desenhos são mais enig-máticos, até porque inspiradospelo episódio bíblico de Joséanalisando os sonhos do faraó.Cerveny pediu a um amigo quelhe trouxesse da Alemanhauma gravura de 1512 feita peloholandêsLucas de Leyden, querepresenta a mesma cena. To-mou-a como exemplo.Cerveny fazautoanálise com

ela.Arte-educador,eleseautor-retrata como formade autoen-tendimento (e nunca é demaislembrar que Rembrandt fez is-soavida toda).Numdesses so-nhos de faraó, uma figuramas-culinaservedeponteentreOci-dente e Oriente, estendendopernas e braços ao limite. Éumpouco o próprio Alex, que cir-cula entre dois mundos e lin-guagens com desenvoltura.Nummomento, ele pode ouviruma ópera de Bellini, No ou-tro, jáestáapaixonadopelacan-tora boliviana Abencia Mesa,personagem, aliás, de uma sé-rie inédita. /A. G. F.

DECAMERONAutor:Boccaccio.Tradução:MaurícioSantana Dias.Ilustração:Alex Cerveny.Editora: CosacNaify (128págs., R$ 89)

DECAMERONAutor:BocaccioTradução:Ivonne C.Benedetti.Editora:LP&M (632págs., R$ 74)

FOTOS REPRODUÇÕES

FABIO MOTTA/ESTADÃO

[email protected]

Enigmático.Desenhos falam da interpretação dos sonhos

DIVULGAÇÃO

%HermesFileInfo:C-4:20131123:

C4 Caderno 2 SÁBADO, 23 DE NOVEMBRO DE 2013 O ESTADO DE S. PAULO

Literatura Lançamentos

EDITORA - 1ChegadasCompassagens por editorascomo aÁtica, onde ficou duran-te 12 anos e atuou na área deparadidáticos, a jornalista Clau-diaMorales assume a gerênciaeditorial daMelhoramentos.Até então, Breno Lerner, 24anos de empresa, acumulavaessa função com a de superin-tendente, que elemanteve.

EDITORA - 2E partidasContratada emsetembro de2011 comodiretora editorial deobras estrangeiras daEdiouro,SandraEspilotro deixa o grupocarioca. Renata Sturm, entãoeditora de aquisições, assume afunção e responderá ao novopublisher –KaíkeNanne.

COPAPara além dos estádiosOs fotógrafos FernandoClarke Ricardo Feres percorreram20mil quilômetros e registran-do a natureza – como osmaca-cos da Amazônia (acima) – aoredor das 12 cidades que vãosediar os jogos da Copa doMundo. A história e a geografiados lugares e a cultura de seupovo completam o livroBrasilda Copa, da Cultura Sub. O lan-çamento – impresso e digital –será no fimdomês.

DIGITALNo smartphoneA IBA lança na primeira quinze-na de dezembro seu aplicativode leitura de e-books parasmartphones – ela só tinha pa-ra tablets e computador.

NÃO FICÇÃONovo jeito de viverOaustraliano RomanKrzna-ric, cofundador da The Schoolof Life, de Londres, e autor deSobre a Arte de Viver, teráEmpa-tia editado na Inglaterra emfevereiro. Aqui, sairá, sem pre-visão, pela Zahar. Na obra (Ou-trospection, em inglês), ele pro-põe umamudança social pormeio de uma revolução das re-lações humanas e da descober-ta do outro. Um vídeo, no blogBabel,mostra a ideia do autor.

ALMANAQUECorreio sentimentalOMuseudaPessoa fez expedi-çõespelas cinco regiões paragravarhistórias de vidadebrasi-leiros.AproximandoPessoas, queserádistribuídopara bibliote-cas, trazo resultadodesse traba-lho comumrecorte: o impactodosCorreiosnodia adia da po-pulação. Sãohistórias de anôni-mos e famosos, comoomédicoMoacyrViggiano, ex-carteiro eamigode infância deZiraldo equevirouo jabuti carteirodaTurmadoPererê (abaixo).

Babel

estadao.com.br/e/cerveny

Maria Fernanda Rodrigues

NAWEB

REPRODUÇÃO

FERNANDO CLARK/DIVULGAÇÃO

Exposiçãodo artistamarca os seus 30 anos de carreira

Cincovolumes inauguram, estemês, a Biblioteca Textos Funda-mentais, coleção coordenadapor João Cezar de Castro Ro-cha, professor de literatura daUERJecolaboradordoCaderno2, para aÉRealizações. Apro-posta é publicar livrosintrodutórios – sem-pre escritospor espe-cialistas –dedicadosaoestudodeobrasdeliteratura,história e filo-sofia, peças, óperas efilmes.Osprimeiros títu-los tratamdeCasa-Grande&Senza-la,Esaú e Jacó,GrandeSertão:

Veredas, Iracema eOFilhoEter-no. Para 2014 e2015, estãopre-vistos volumes sobreViva oPo-voBrasileiro, de JoãoUbaldoRi-beiro (foto);OEstrangeiro, deAlbertoCamus;ARepública dosSonhos, deNélidaPiñón;Cora-çãodasTrevas, de JosephCon-

rad;Deus e oDiabo naTerradoSol, deGlauberRocha;Vestido deNoiva, deNel-sonRodrigues;Relato deumCertoOriente, deMil-tonHatoum;Eles Eram

MuitosCavalos,deLuizRuffa-to,entreoutrasobras.

ALEX CERVENYCasa Triângulo. Rua Paes deAraújo, 77, Itaim Bini, 3167-5621.3ª a sáb., das 11 às 19h. Até21/12. Abertura hoje, às 12 h.

Decameronemdobro

!OriginalAcima, grupo dos dez jovensque contam histórias doDecameron, numa ilustraçãode Boccaccio emmanuscritoconservado na Biblioteca de Paris

blogs.estadao.com.br/babel

Clássico escritopara exorcizara peste na IdadeMédia ganha duasnovas versões

Galeria. Vejamais ilustraçõesde Alex Cerveny

CRÍTICA

Alex Cerveny fazia obraspequenas em plena eradas telas gulliverianas daGeração 80, continuandona mesma trilha em 2013

Antonio Gonçalves Filho

Nos700anosdonascimentodeBoccaccio, suaobramais popu-lar, Decameron, ganha duas tra-duçõesnoBrasil.Aprimeira,pu-blicada pela Cosac Naify, temilustrações delicadas do artistapaulistano Alex Cerveny, quetambémdesenhouosornamen-tos das dez novelas seleciona-daspelotradutorMaurícioSan-tana Dias, entre as 100 narrati-vas do Decameron. A segunda,publicada pela L&PM, é umaedição sem ilustrações comno-va tradução de Ivone C. Bene-detti, especialista na obra deBoccaccio. É a versão integraldesse clássico absoluto, escritoentre 1349 e 1351 (ou 53), quan-do a peste negra devastou a Eu-ropa. É também uma traduçãofeita para fazer rir o leitor brasi-leiro, segundo a tradutora, damesma forma como Boccacciodivertiu os leitores florentinosno século 14, compensando-ospela perda de parentes e ami-gos levados pela epidemia.Foi exatamente com esse ob-

jetivo em mente que Boccaccioreuniu 100 narrativas que exor-cizam a peste negra, estabele-cendo com sua coleção de his-tórias – algumas picantes, ou-tras nem tanto – o marco zeroda prosa ficcional realista noOcidente. Como bônus, eleabriu caminho para a liberdadedos renascentistas. O amor es-piritualizado da Baixa IdadeMédia baixava à terra para assu-mir uma dimensão mais huma-nista no século 14, quando a co-municação oral, até então pre-dominante, começa a perderterreno para a escrita. Grandeparte dessa centena de narrati-vas veio do meio do povo parao deleite da burguesia mercan-til. A perenidade de Decameron,como escreveu a tradutora Ivo-

ne C. Benedetti, resultou da“perfeita comunhão entre o es-critor e seu público”.São vários os exemplos de

apropriação das narrativas po-pulares, de jovens que se hospe-dam na casa de um homem eabusam da sua filha à históriade Masetto, que se finge de mu-do, entra como jardineiro deum convento e vira amante detodas as freiras. Essas históriassão contadas por dez jovens (se-te moças de origem nobre e

três rapazes) que buscam abri-go nas montanhas, fugindo dascidades dizimadas pela peste. Anarrativa de Bocaccio não omi-te o flagelo. Ao contrário. Ao la-do de cenas picarescas como as

descritas anteriormente con-vive o fantasma da praga,da morte, do temor religio-so. Ele reconta essas histó-rias usando a linguagemde seu tempo.Por fidelidade a ela,

Alex Cerveny foi buscarinspiração nos manus-critos que se encontramna Biblioteca Nacionalde Paris e na Bibliotecado Estado em Berlim. Asduas edições foram usadas

como referências para ilustrar aedição parcial do Decameron. Aencomenda da Cosac Naify pre-via intervenções gráficas em to-das as páginas. A influência dotraço de Boccaccio, que ilus-trou a própria obra, é notávelem cada uma delas, mas Cer-veny avança no tempo e emulatambém o estilo dos artistas doRenascimento, principalmentePiero della Francesca. Seu retra-to do duque de Urbino serve demodelo para o artista brasileirocriar um dos personagens daprimeira novela da primeira jor-nada, que conta comoCepparel-lo engana um padre e é tomadopor santo quando morre.Outras fontes visuais in-

cluem o filme que Pier PaoloPasolini fez baseado no clássi-co. O jardineiroMasetto, flagra-do pelas freiras em plena açãoonanista, é um exemplo. Outroé o trio formado por Peronella,seu amante e o marido. Ela es-conde o primeiro num tonel,mente para omarido que o ven-deu e o faz entrar dentro delepara examinar seu estado, en-quanto o amante se livra dascalças e avança sobre ela. Pre-domina no desenho o mesmoerotismo campesino do filmede Pasolini, que abjurou sua re-criação de Boccaccio ao ver aobra consumida pelo públicocomo pornografia.Nenhuma das 44 ilustrações

de Cerveny corre o risco de serclassificada da mesma forma.Elas conservam a inocência dasilustrações dos livros infantisfeitas pelo artista, que comple-ta 50 anos de idade e 30 de car-reira com uma exposição de

pinturas e desenhos na CasaTriângulo (leia abaixo). O exem-plo máximo desse segmento li-terário dedicado às crianças é oconjunto de ilustrações produ-zidas para Pinóquio, o clássicode Collodi, também publicadopela Cosac Naify.Ao contrário dos desenhos

de Pinóquio, monocromáticos,os de Decameron são multicolo-ridos. Para o primeiro, Cervenypesquisou uma técnica da gra-vura usada no século 19, o cli-ché verre (clichê em vidro), emque o artista chamusca uma pla-ca de vidro com uma vela e de-senha sobre a superfície, comose fosse um negativo fotográfi-co. Em Decameron, ele dispen-sou instrumentos e confiou natécnica pessoal. Fez bem.

Coleção pretende ser guia deleitura de textos fundamentais

Destino.Ohomem quegastou suafortuna eficou apenascom umfalcão, vistopor Cerveny

AlexCerveny completa 50anoscom uma exposição que marcaseus 30 anos de carreira, naCa-sa Triângulo, que o representadesde2001.Amostra será aber-ta hoje e reúne pinturas e dese-nhos do artista paulistano. Emtodas essas obras é possível no-tar a influência que a narrativaliterária exerce sobre sua arte.Compreensível.Filhodeumar-quiteto e de uma professoraqueensinavacegos,Cervenyfoiestimulado desde criança a veromundosegundoumaconcep-çãomuitoparticular,queestru-tura o espaço do papel e da tela

comumprojetoracional,arqui-tetônico, logo desmontado pe-lo imaginário sensual desse ar-tista ligado à tradição. Ele dizque se sente até mais narradorque artista visual, um cronistaque vai buscar nos muros assí-rios sua inspiração.Outra fonte de referência é o

circo–e,nessesentido,osdese-nhosdeCervenynãoseasseme-lham por acaso aos do cineastaitaliano Federico Fellini. Eleaté criou um personagem cir-cense quando estudava na Aca-demia Piolin, o Elvis Elástico,umbonecoquefaziacontorcio-

nismoacrobático.Esse homemde plástico remete às figurasmasculinas longilíneas dasobras de Cerveny, que fez suaprimeira exposição numa gale-ria de Belém do Pará, em 1983.Em plena ebulição da Geração80,detelasgigantescas,matéri-cas, neoexpressionistas, ele in-sistia na pequena dimensão,produzindo um trabalho gráfi-co detalhista, liliputiano.Cerveny aponta as duas pe-

quenas telas (35 x 40) logo àentrada da exposição, doisexemplos que andam na con-tramãodo gulliverianismoquedominou as pinturas dos anos1980 – e ainda dá as cartas nomercado de arte. “São traba-lhos que fiz depois de uma via-gem pelo Pantanal, quandocheguei à fronteira boliviana efui tomadoporumsentimentopatriótico, para logo perceber

que aquele território indefini-do era, de fato, de ninguém.”Numasdastelas,umnativobra-sileiro surge, altivo, sob a letrado Hino à Bandeira. Na outra,

umaboliviana, separadadoan-típoda, traz sobre sua cabeçaasmarcas de umpassado colo-nialista. A associação fica porconta do espectador.

Os desenhos são mais enig-máticos, até porque inspiradospelo episódio bíblico de Joséanalisando os sonhos do faraó.Cerveny pediu a um amigo quelhe trouxesse da Alemanhauma gravura de 1512 feita peloholandêsLucas de Leyden, querepresenta a mesma cena. To-mou-a como exemplo.Cerveny fazautoanálise com

ela.Arte-educador,eleseautor-retrata como formade autoen-tendimento (e nunca é demaislembrar que Rembrandt fez is-soavida toda).Numdesses so-nhos de faraó, uma figuramas-culinaservedeponteentreOci-dente e Oriente, estendendopernas e braços ao limite. Éumpouco o próprio Alex, que cir-cula entre dois mundos e lin-guagens com desenvoltura.Nummomento, ele pode ouviruma ópera de Bellini, No ou-tro, jáestáapaixonadopelacan-tora boliviana Abencia Mesa,personagem, aliás, de uma sé-rie inédita. /A. G. F.

DECAMERONAutor:Boccaccio.Tradução:MaurícioSantana Dias.Ilustração:Alex Cerveny.Editora: CosacNaify (128págs., R$ 89)

DECAMERONAutor:BocaccioTradução:Ivonne C.Benedetti.Editora:LP&M (632págs., R$ 74)

FOTOS REPRODUÇÕES

FABIO MOTTA/ESTADÃO

[email protected]

Enigmático.Desenhos falam da interpretação dos sonhos

DIVULGAÇÃO