AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

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AGRICULTURA FAMILIAR

NO AMAZONASCONSERVAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS

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AGRICULTURA FAMILIAR

NO AMAZONASCONSERVAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS

OrganizadOres:HIROSHI NODA

LUIZ AUGUSTO GOMES DE SOUZADANILO FERNANDES DA SILVA FILHO

nerUa – Csas – inPaneTnO – FCa – UFaM

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Copyright © 2013 Hiroshi Noda

Comissão EditorialDanilo Fernandes da Silva Filho (INPA/CSAS/NERUA)Edivania dos Santos Schropfer (UFAM/FCA/DEAS)Hiroshi Noda (INPA/CSAS/NERUA)Luiz Augusto Gomes de Souza (INPA/CSAS/NERUA)Marco Antonio de Freitas Mendonça (UFAM/FCA/DEAS)Rosalee Albuquerque Coelho Netto (INPA/CSAS/NERUA)Sandra do Nascimento Noda (Coordenadora)

FotosArquivo NERUA

Projeto GráficoWega Comunicação

Capa e DiagramaçãoHugo Furtado

Revisão: Epifânio LeãoIvaneide LimaJesua Maia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Agricultura familiar no Amazonas: conservação dos recursos ambientais, volume 1 / organizadores Hiroshi Noda, Luiz Augusto Gomes de Souza, Danilo Fernandes da Silva Filho. – Manaus, AM: Wega, 2013.

Bibliografia“NERUA/NETNO”ISBN 978-85-66808-02-5

1. Agricultura familiar– 2. Agricultura – Aspectos ambientais 3. Agricultura sustentável 4. Agricultura sustentável – Amazônia5. Brasil – Amazônia – Aspectos socioambientais 6. Desenvolvimentosustentável I. Noda, Hiroshi. II. Souza, Luiz Augusto Gomes de. III. Silva Filho, Danilo Fernandes da.

13-06798 CDD-630.275

Índices para catálogo sistemático:

1. Agricultura familiar no Amazonas: Conservação dos recursos ambientais 630.275

NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos AmazônicoE-mail: [email protected]: http://nerua.inpa.gov.br

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPACoordenação de Sociedade, Ambiente e Saúde – CSASAv. Efigênio Sales, 2239 – AleixoCEP: 69060-020 – Caixa Postal: 478Manaus-Amazonas-BrasilFone: (92) 3643-1859

NETNO – Núcleo de Etnoecologia na Amazônia BrasileiraE-mail: [email protected]

Universidade Federal do Amazonas – UFAMFaculdade de Ciências Agrárias – FCAAv. Gal. Rodrigo Otávio, 6200, Coroado I,Campus Universitário, Setor Sul, FCA Bloco 1, 2º andar, Salas 19 e 20 CEP: 69077-000 – Manaus-Amazonas-BrasilFone: (92) 3305-1797

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Sumário

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

CaPÍTULO 1Tomate Yoshimatsu – uma cultivar adaptada ao trópico úmido brasileiro . . . . . . . . . . . . 15Lúcia Helena Pinheiro MARTINS, Hiroshi NODA, Maria Silvesnízia Paiva MENDONÇA, Francisco Manoares MACHADO

CaPÍTULO 2Caracterização físico-química do tomate (Solanum lycopersicum Mill . cv . “Yoshimatsu”) in natura e produção de tomate seco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Jerusa Souza ANDRADE, Natasha Veruska dos Santos NINA, José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO

CaPÍTULO 3Seleção de populações de espécies alternativas para uso na olericultura da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES, Arthur Antunes de Souza CARDOSO

CaPÍTULO 4Tecnologias para secagem do cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Jerusa Souza ANDRADE, Francisca Marta Nascimento de Oliveira FREITAS, Luty Gomez CACERES, José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO

CaPÍTULO 5Potencial agronômico e nutricional de clones de ariá (Calathea allouia (Aubl .) Lindl .)avaliados em Manaus, Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Jaime Lopes de PAIVA, Jorge Emídio de Carvalho SOARES, Hiroshi NODA, Francisco Manoares MACHADO, Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA

CaPÍTULO 6Couve-brócolis: uma nova opção para a olericultura na Amazônia Central . . . . . . . . . . . . 87Ariel Dotto BLIND, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Hiroshi NODA

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CaPÍTULO 7Caracterização e avaliação de pimentas crioulas não pungentes do gênero Capsicum spp . da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND, Jose Nilton Rodrigues FIGUEIREDO, Hiroshi NODA, Francisco Manoares MACHADO

CaPÍTULO 8Caracterização e avaliação de variedades crioulas de abóboras da região do Alto Solimões, AM, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121Pedro Chaves da SILVA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND, Manoel de Freitas MENDONÇA NETO, Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA

CaPÍTULO 9Produção participativa de hortaliças com o uso da técnica de hidroponia, na área urbana de Manaus, AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Fábio Sebastião ARAÚJO, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Júlio César Delfino RIBEIRO

CaPÍTULO 10Germinação de sementes de araçá-boi em diferentes substratos e regimes de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153Sidney Alberto do Nascimento FERREIRA, Elizabeth Rodrigues REBOUÇAS

CaPÍTULO 11Métodos para superação da dormência de sementes de quatro espécies do gênero Peltogyne (Fabaceae, Caesalpinioideae) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161Manoel Paulino da COSTA FILHO, Luiz Augusto Gomes de SOUZA

CaPÍTULO 12Efeito da escarificação ácida na superação da dormência das sementes de faveira-d’anta (Dimorphandra coccinea Benth ., Fabaceae, Caesalpinioideae) . . . . . . . . 181Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Adilson Rodrigues DANTAS

CaPÍTULO 13Efeito do substrato na formação de mudas de flemíngia (Flemingia macrophylla) e tefrósia (Tephrosia candida) sob enviveiramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197Ednilson da Silva ALBUQUERQUE, Luiz Augusto Gomes de SOUZA

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CaPÍTULO 14Efeito da inoculação com rizóbios na formação de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana var . thibaudiana) em dois solos da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219Marco Antônio de Freitas MENDONÇA, Edilingles Pinto VIEIRA, Luiz Augusto Gomes de SOUZA

CaPÍTULO 15Uso de manipueira de mandioca (Manihot esculenta) e extrato de erva-de-rato (Palicourea marcgravii) sobre o pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida) . . . . . . . . 237Adriana Dantas GONZAGA, Victor PY-DANIEL, Silas Garcia Aquino de SOUZA, Joana D’Arc RIBEIRO

CaPÍTULO 16Diversidade de Fabaceae utilizadas como plantas medicinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Angélica Maria Cortês e São Paulo AGUIAR

CaPÍTULO 17Plantas ornamentais nativas da Amazônia: uma boa opção para uso sustentável na agricultura familiar da região . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267Júlio César Delfino RIBEIRO, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND

CaPÍTULO 18A expansão da pecuária nas várzeas: estratégias de produção pecuária nas regiões do Baixo Solimões e Médio Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281Janaína Paolucci Sales de LIMA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO

autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297

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Prefácio

Por uma agricultura agroecológica amazônica

A agricultura voltada à produção de “commodities” e alimentos para consumo de massa baseada na industrialização ou exportação vem evoluindo por cami-nhos perigosos. Os padrões atuais de procedimentos e técnicas utilizados nessa modalidade de agricultura são determinados pela procura da lucratividade cres-cente e essa racionalidade tem conduzido o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias dependentes do uso, também crescentes, de insumos industrializados (fertilizantes químicos, agrotóxicos, combustíveis fósseis), resultando com frequên-cia na poluição e exaustão dos recursos ambientais, principalmente da água e do solo e empobrecimento da agrobiodiversidade. As consequências são socialmen-te desastrosas quando levadas em conta a qualidade e a sanidade dos alimentos produzidos. As pesquisas realizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mostram níveis alarmantes de contaminação dos produtos hortícolas por agrotóxicos. Nos resultados das análises realizadas em 2010, 63% das amostras de frutas, hortaliças e legumes estavam contaminadas por agrotóxicos e, desses, 28% apresentavam ingredientes ativos não autorizados para uso nos cultivos das espécies contaminadas e/ou ultrapassaram os limites máximos de resíduos consi-derados aceitáveis. Na França, um decreto que entrou em vigor em maio de 2012, reconhece o Mal de Parkinson como doença ocupacional e estabelece explicita-mente um nexo de causalidade entre essa doença neurodegenerativa – que tem maior ocorrência naquele país depois do Alzheimer – e a utilização de pesticidas (Angela Bolis, Le Monde, 09/05/2012).

As pesquisas em Ciências Agronômicas no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia foram iniciadas com a fundação da Divisão de Ciências Agronômicas pelo então diretor-geral professor Warwick Estevam Kerr. Desde sua origem, os pesquisadores vêm dedicando especial atenção à agricultura familiar como des-tinatária principal dos conhecimentos científicos e das tecnologias geradas pelo INPA, não somente por se tratar do maior contingente das unidades produtivas na Região Norte e no Brasil (85% do total dos estabelecimentos), mas, sobretudo, pela imensa contribuição que a herança cultural e os etnoconhecimentos dos agriculto-res tradicionais da Amazônia, incluindo as indígenas, oferecem para a reconstrução de uma agricultura com base no conhecimento agroecológico. Trata-se, portanto, de resgatar a agricultura derivada da cosmovisão indígena da “Mãe Terra”, o sítio sagrado, acolhedor e provedor de todas as necessidades humanas. Pois, se assim for, a Terra deixará de ser uma mercadoria ou apenas um fator no processo produ-

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tivo. Ao contrário, nela a agricultura será praticada mediante o conhecimento de todos os elementos, energias e sinergias que constituem a sua múltipla natureza, a consciência do significado e necessidade de cada individualidade e pela observân-cia das regras e procedimentos que garantam a continuidade da vida, integrada a estratégias de conservação e preservação dos recursos naturais.

No último trimestre de 1975, os professores Warwick Estevam Kerr e Alejo von der Pahlen implantaram, no INPA, um avançado programa de pesquisas, a ser de-senvolvido pela recém-criada Divisão de Ciências Agronômicas, baseado nos fun-damentos da agroecologia. A abordagem científica adotada pelo INPA, naquela época avaliada como “extremamente acadêmica”, permitiu que as possibilidades para o desenvolvimento da agricultura sustentável no trópico úmido brasileiro fos-sem mantidas e que ultrapassassem os limites da academia, amparada nos valores éticos e conhecimentos ancestrais em que se sustenta.

A importância atualmente atribuída aos recursos genéticos vegetais da Ama-zônia Ocidental, como por exemplo, a pupunha, o mapati, a sapota, o abiu, o ca-mu-camu, o araçá-boi, o cubiu, o ariá, o cupuaçu e o feijão-macuco, é resultado direto dos trabalhos pioneiros iniciados pelo INPA. Por outro lado, um programa de melhoramento genético de plantas visando à criação de variedades adaptadas ao cultivo no ambiente amazônico gerou conhecimentos e produtos, hoje, dispo-níveis aos agricultores desta região. No que tange aos recursos genéticos da Ama-zônia, os estudos com espécies de leguminosas nativas capazes de fixar nitrogênio atmosférico e microrganismos solubilizadores de fósforo vêm contribuindo para a manutenção dos níveis de matéria orgânica e nutrientes nos agrossistemas, além de permitir a diversificação das opções de escolha de espécies estrategistas na re-cuperação de áreas degradadas, como um contraponto aos distúrbios antrópicos que impactam os sistemas naturais. Os estudos sobre os sistemas agroflorestais ampliaram os horizontes de possibilidades para a formulação de propostas tec-nológicas consistentes de manejo dos solos amazônicos, especialmente os que apresentam acidez elevada e baixa fertilidade natural. Na área de fitossanidade, os estudos sobre ecologia e dinâmica de populações de microrganismos fitopatogê-nicos nos agrossistemas bem como de seus antagonistas, pela detecção e teste de princípios ativos naturais, vêm abrindo perspectivas para o desenvolvimento de tecnologias de controle agroecológico das doenças de plantas cultivadas.

Os conteúdos dos artigos apresentados neste livro estão relacionados, também, com o processo de formação de profissionais nas áreas de Ciências Agronômicas no Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido – PPG ATU/INPA, estabelecido em Manaus, AM. Trata-se de uma proposta direcionada à formação de recursos humanos capazes de enfrentar os desafios, extremamente complexos, da

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agricultura familiar nesta região. A face humana contida na formulação da propos-ta de criação do PPG-ATU/INPA foi construída a partir da contribuição fundamen-tal da professora Sandra do Nascimento Noda, pesquisadora do NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos/Coordenação de Sociedade, Ambiente e Saúde/INPA e docente e coordenadora do Núcleo de Etnoecologia da Amazônia Brasileira/Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas. A partir do reconhecimento da necessidade em se conhecer, efetivamente, as comu-nidades rurais, as populações humanas, os ribeirinhos, os indígenas, suas culturas e as relações sociais estabelecidas no processo produtivo, foi possível, nesta emprei-tada, construir um patamar de conhecimento social sobre o mundo rural amazôni-co e sua importância global. Ainda hoje, contamos com sua imprescindível contri-buição acerca dos conhecimentos científicos, métodos e técnicas de extensão rural e, por isso, os pesquisadores do NERUA estão seguros que a atuação do INPA junto à população rural ocorre a partir da visão e ética defendidas pelo professor José de Souza Martins: “a sociologia rural poderá contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais se recuperar a dimensão crítica da tradição sociológica; se puder ver-se criticamente na relação investigativa e na relação educativa com as populações que estuda; se abrir mão de suas certezas para assimilar as incertezas que ajudou a disseminar e fazer dessas incertezas uma mediação cognitiva essencial na relação entre a teoria e a prática”.

Assim, os temas tratados nas pesquisas e as atividades relacionadas devem envolver os professores e estudantes, e as atividades acadêmicas e as disciplinas oferecidas devem propiciar a formação de um profissional com a visão muito próxi-ma da realidade a ser encontrada no seu trabalho: as sociedades amazônicas, suas culturas e etnoconhecimentos, a importância da conservação dos ecossistemas e recursos naturais, as tecnologias adequadas, enfim, a possibilidade concreta da produção sustentada na Agricultura no Trópico Úmido, como já haviam propos-to, originalmente, os professores Kerr e von der Pahlen na criação da Divisão de Ciências Agronômicas do INPA. Portanto, reafirmamos os dizeres da nossa fala na solenidade do seu lançamento: “o Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido está politicamente engajado em uma missão. A missão de que a ciência deve ser praticada e destinada à construção de um mundo melhor. Um mundo imagi-nado por dois outros grandes inspiradores da concepção de nossa proposta, professor Darrell Posey e professor Paulo Sodero Martins, recentemente falecidos. O profundo respeito que ambos nutriam para com as populações tradicionais e seus etnoconhe-cimentos e, sobretudo, a firme convicção da essencialidade da preservação da socio-diversidade para a conservação da biodiversidade, refletem, também, o engajamento pedagógico deste programa”.

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Finalmente, gostaria de ressaltar as importantes contribuições de colegas pesquisadores das instituições parceiras do INPA na execução de atividades do subprojeto “Conservação e Melhoramento de Recursos Genéticos Vegetais Apli-cados à Sustentabilidade da Agricultura Familiar – CONGEV”: a Universidade Fe-deral do Amazonas, por meio do Núcleo de Etnoecologia da Amazônia Brasileira – NETNO e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA/Amazônia Ocidental. Agradecemos também pelos apoios financeiros das agências: Financia-dora de Estudos e Projetos – FINEP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM e Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI-AM, que viabilizaram sua execução. E para a sociedade amazônica, os tra-balhos aqui publicados têm o propósito de somar na construção de conhecimen-tos e tecnologias que baseiem a produção sustentável de alimentos nas condições tropicais, explorando suas melhores possibilidades e adaptando-se às limitações e adversidades que tal ambiente impõe.

Hiroshi NodaCoordenador do NERUAJaneiro de 2013

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Apresentação

Esta obra, para além dos estudos organizados sob a égide de abordagens empí-ricas e sob a orientação de modelos de produção agrícola voltados à conservação de recursos ambientais na Amazônia, aponta, como estímulo indutivo no conjunto dos estudos, para questões prementes e balizadoras das dinâmicas agrícola e agrá-ria regionais, com registro de soluções técnicas e econômicas viáveis para estabe-lecimentos rurais inseridos em contextos sociais com grandes mudanças tecno-lógicas, legais e normativas. É possível verificar que, se por um lado, os resultados apresentados tendem a perceber o corte da categoria agricultura familiar como de pequena produção, sem entrar nas controvérsias do tema, por outro lado, explici-tam a heterogeneidade dos modelos produtivos, dos cultivares com potencial comer-cial, dos eixos de diferenciação de renda (combinada ou não com outras atividades não rurais), do conjunto de condicionantes da produtividade de múltiplas variedades agrícolas regionais e sistemas de produção específicos relacionados à agropecuária.

As particularidades territoriais da Amazônia têm uma relação direta com a via-bilidade econômica de determinados modelos de agricultura. Com o enfoque em uma agricultura sustentável e diversificada, produtora de alimentos, acomodada (como mostram as pesquisas sobre novas varietais e técnicas de produção) a con-textos apropriados de logística, a condições edafoclimáticas específicas, acesso a mercados, proteção de variedades de sementes crioulas, adaptação e domestica-ção de espécies, resguardo a agrobiodiversidade, seleção genética, técnicas de manejo, infraestrutura e acesso a crédito e assistência técnica, os resultados das investigações publicadas neste livro revelam o esforço de grupos e instituições de pesquisa e ensino em prover soluções a diversos gargalos e limites da viabilidade econômica e agronômica, que determinam, para além dos fatores terra e trabalho, os resultados das atividades agrícolas e rurais.

A criteriosa seleção dos textos deste livro, por parte dos organizadores, eviden-cia um panorama analítico que ultrapassa os temas específicos de cada artigo, pois há a costura, através de pesquisas e ações estritas de diversas disciplinas e aborda-gens, de um conhecimento aprofundado que relaciona espécies nativas ou exóti-cas, mas adaptadas ao bioma amazônico, e suas respectivas ou potenciais cadeias produtivas.

Os trabalhos apresentados são encadeados, também, pelo cuidado em valori-zar técnicas de cultivo e preparo de produtos baseados em sistemas de produção locais, indicando desafios e soluções de ordem técnica, ambiental, sanitária e eco-nômica. Existem diversas instituições e empresas regionais, nacionais e internacio-nais com interesses em produtos amazônicos, mas que encontram restrições na es-

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truturação da cadeia produtiva (plantio, coleta, processamento, transporte, venda) de muitos dos produtos demandados pelo mercado. Do efeito de produzir dados científicos, existe a potencialidade, nestes estudos, de utilizá-los para elaborar po-líticas públicas setoriais em diferentes níveis, inovar arranjos sociotécnicos e orga-nizacionais, processos de produção e qualidade de serviços para, assim, concorrer em experiências de agregação de valor, criação e regularização de mercados, com menor dependência de insumos externos e, principalmente, contribuir para a me-lhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas que constroem, diariamente, a agricultura familiar na região amazônica. Enfim, o leitor encontrará, no conjunto dos resultados destas pesquisas, respostas encorajadoras para diversas iniciativas de apoio e diversificação da agricultura familiar na Amazônia.

Adriano PremebidaDiretor Técnico-científico da FDB

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CAPÍTULO 1

Tomate Yoshimatsu – uma cultivar adaptada ao trópico úmido brasileiroLúcia Helena Pinheiro MARTINS1; Hiroshi NODA2; Maria Silvesnízia Paiva MENDONÇA3; Francisco Manoares MACHADO2

1 Doutoranda em Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão, Campus Universitário – Setor Sul,

Manaus, AM. E-mail: [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

3 Núcleo de Etnoecologia na Amazônia Brasileira – NETNO-UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão, Campus Universitário

– Setor Sul, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras-chave: Olericultura; Melhoramento genético; Solanum lycopersicum; Ralstonia solanacearum; Amazônia.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Introdução

Estima-se que as sociedades humanas passaram, há dez milênios, por uma revolução social e cultural com a descoberta da agricultura. O processo de do-mesticação de plantas ocorreu simultaneamente com o desenvolvimento da agricultura. As sociedades humanas passaram a observar e escolher plantas inte-ressantes para diversos usos e reproduziam essas características nas gerações se-guintes para garantir alimentos, remédios, fontes de fibras etc. Nas terras baixas da América Tropical, as espécies alimentícias (mandioca, batata-doce, ariá, cará, taioba, entre outras) foram domesticadas no mesmo espaço de tempo, como ocorreu com outras espécies, em diferentes regiões do planeta. A domesticação de plantas e a agricultura possibilitavam o surgimento de sociedades humanas complexas.

O melhoramento genético de plantas é uma atividade derivada da domes-ticação e o seu ponto alto acontece quando, por ocasião das guerras napole-ônicas, Vilmorin, um melhorista de plantas francês, consegue elevar o teor de açúcar da beterraba a ponto de tornar possível o seu processamento industrial. O melhoramento genético de plantas é fundamentado nos dois princípios uni-ficadores da biologia: organização dos elementos constituintes dos seres vivos, nos seus diferentes níveis de complexidade e continuidade da vida por meio da hereditariedade e da evolução. Sua base científica é multidisciplinar envolvendo, particularmente, conhecimentos das áreas da genética mendeliana, populações quantitativa e evolucionária e, de maneira geral, as demais disciplinas das ciên-cias agronômicas.

Os programas brasileiros de melhoramento genético de hortaliças tiveram iní-cio no final da década de quarenta do século passado, por iniciativa do professor Marcílio de Souza Dias da Escola Superior de Agricultura “Luiz da Queiroz” da Uni-versidade de São Paulo – ESALQ-USP. A partir de suas pesquisas, o Brasil pratica-mente alcançou, três décadas após, a autossuficiência na produção das principais hortaliças consumidas por sua população, com variedades melhoradas genetica-mente pelo apoio a políticas públicas de Estado desenvolvidas nas universidades e instituições de pesquisas brasileiras. A produção e comercialização de sementes dessas variedades por empresas nacionais passaram a constituir um importante segmento da economia. Nesse processo, deve-se ressaltar a importante contribui-ção de olericultores imigrantes, principalmente de origem japonesa e italiana, aos programas de melhoramento genético, não somente por meio da disponibilização à pesquisa de suas variedades, como também, pela participação na avaliação das novas variedades.

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CAPíTULO 1

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Programa de melhoramento e conservação de recursos genéticos

de hortaliças do INPA

Nos anos 1970, foi criada, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em Manaus, AM, uma divisão para a realização de pesquisas em agricultura nos Trópicos Úmidos. Em especial, na área de olericultura, os pesquisadores ligados ao melhoramento de plantas pensaram na concepção de programas de melhoramento genético de hortaliças. Estas ações de pesquisas priorizaram dois eixos principais: o primeiro constituído por espécies olerícolas não con-vencionais, como o ariá (Calathea allouia), as espinafres tropicais, como celósia (Celosia argentea) e bertalha (Basella alba), as aráceas comestíveis (Colacasia sp. e Xanthosoma sp.) e o feijão-macuco (Pachyrhizus tuberosus). Essas espécies apresentam valor nutricional já pesquisado e podem contribuir estrategica-mente para a agricultura familiar amazônica por suas características genéticas de adaptação às condições ambientais da região. O outro eixo foi constituído por espécies olerícolas convencionais, com papel na alimentação humana, mas com baixo rendimento nas condições de cultivo nos trópicos úmidos, como o tomateiro (Solanum lycopersicum), o pimentão (Capsicum annuum), algumas folhosas (couve, alface, repolho) etc.

O programa de melhoramento genético de hortaliças desenvolvido pelo INPA dedicou especial atenção à agricultura familiar na Amazônia e, ainda hoje, mantém os eixos iniciais de investigação, contribuindo para a conser-vação de recursos genéticos e para o avanço da ciência na região. Para isso, uma equipe, constituída por pesquisadores das áreas agronômicas, estabe-leceu como meta inicial dos estudos em melhoramento genético de plantas, inicialmente, conhecer solidamente a região de tal modo que os resultados das pesquisas científicas estivessem ao alcance das populações amazônicas. Um dos principais resultados obtidos por esse grupo de pesquisa foi o desen-volvimento de uma variedade de tomate para cultivo nos trópicos úmidos (Figura 1).

Interação tomate x R. solanacerum x ambiente

O tomate é uma hortaliça consumida em todo o território nacional. É origi-nário dos países andinos, desde o norte do Chile até a Colômbia, e sua domesti-cação ocorreu no México. O gênero Solanum pertence à família das Solanáceas,

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assim como o pimentão, a batata, o jiló, as diferentes variedades de pimentas, a berinjela e o cubiu. Entretanto, por se tratar de uma espécie geneticamente adaptada originalmente aos ambientes de clima temperado, o seu cultivo nos trópicos úmidos torna-se um desafio agronômico. Nessas condições climáticas adversas ao cultivo do tomateiro devem ser considerados, também, os proble-mas de fitossanidade decorrentes, entre os quais, a alta susceptibilidade ao pató-geno Ralstonia solanacearum Smith, causador da doença conhecida como “mur-cha bacteriana”, um fator limitante ao cultivo na região tropical de baixa altitude, onde a bactéria ocorre mesmo em solos não cultivados. O processo infeccioso é sistêmico e os sintomas na parte aérea da planta (caracterizados especialmente pelo murchamento gradual) são decorrentes da obstrução dos feixes vasculares, pelo crescimento bacteriano, ou por ação de metabólitos lançados na seiva. Os sintomas iniciais caracterizam-se por escurecimento da região vascular, mais vi-sível na região próxima ao colo, murchamento dos folíolos e epinastia foliar, po-dendo haver recuperação das plantas, na fase inicial da doença, nas horas mais frescas do dia. Com a progressão da doença, esse quadro de murcha afeta to-talmente a planta acabando por causar a sua morte. De acordo com Patrício et al. (2005) o R. solanacearum é natural dos solos tropicais e sobrevive por longos períodos independendo da presença de plantas de tomateiro. Essa bactéria en-contra-se amplamente distribuída nas regiões tropicais e subtropicais, podendo atacar um grande número de espécies cultivadas.

Figura 1. Frutos de tomate cultivar Yoshimatsu. Programa de Melhoramento Genético do Tomateiro,

INPA.

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CAPíTULO 1

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Digat e Derieux (1968) atribuíam a resistência ao R. solanacearum ser de contro-le oligogênico. Entretanto, Russel (1978) e Villareal (1980) preconizaram ser a he-rança complexa e sua expressão influenciadas pelas condições ambientais. Assim, para o melhoramento do tomateiro cultivado em ambientes de alta umidade, alta temperatura, baixa fertilidade dos solos e baixa intensidade de luz, situação típica nos trópicos úmidos, são imprescindíveis o conhecimento das características po-pulacionais do patógeno e a interpretação do processo epidemiológico da doença.

As pesquisas na área de melhoramento genético do tomateiro na Amazônia requerem tempo e trajetórias próprias. E, ainda, conceber um material genetica-mente adaptado aos ambientes amazônicos implica em desenvolver métodos e técnicas preocupadas com uma realidade onde os fatores ambientais influenciam fortemente a expressão de resistência da planta ao patógeno. É necessário con-siderar as características climáticas dos ecossistemas amazônicos (temperatura e umidade elevadas) e a baixa fertilidade natural dos solos da terra firme, que são fa-tores desfavoráveis ao desenvolvimento do tomateiro e favoráveis ao patógeno e, por conseguinte, à ocorrência da doença. Por outro lado, as pesquisas na região de-vem considerar, também, o principal usuário da variedade melhorada, que é o agri-cultor familiar, bem como, a necessidade em contribuir para a segurança alimentar e diversificação da oferta de espécies alimentícias às populações amazônicas.

Programa de melhoramento genético do tomateiro do INPA

Na Amazônia, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA iniciou um programa de melhoramento genético do tomateiro em 1976 e, naquele momento, os produtores locais utilizavam algumas alternativas técnicas para o cultivo desta hortaliça na presença da bactéria R. solanacearum. Entretanto, aquelas alternativas de produção implicavam em um alto custo para a atividade agrícola. Por exemplo, a prática recomendada no sistema de produção era a de esterilizar o solo com um produto conhecido como brometo de metila. Esta aplicação do produto viabilizava os ciclos iniciais de produção, mas dependia de novas aplicações, demandando no-vos gastos a cada novo ciclo de cultivo devido à reinfestação do solo pelo patóge-no. Outra opção técnica utilizada era a enxertia, com o uso de porta-enxerto com espécies resistentes do gênero Solanum sp., como a jurubeba, mas que também não garantia uma boa produtividade.

Os resultados de pesquisa publicados por Noda et al. (1986), Noda e Machado (1992) e Noda et al. (1997) levaram em conta uma abordagem que considerava o patógeno em sua essência como um componente da biodiversidade do solo,

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adotando uma linha metodológica onde a interação hospedeiro x patógeno, que ocorre em níveis populacionais, é mediada pelas contingências ambientais. Assim, a resistência genética a ser incorporada deve ser poligênica, de modo a oferecer uma proteção estável ao hospedeiro, no espaço e tempo, frente ao nível de variabi-lidade genética do patógeno e das condições dos ambientes de cultivo.

Nessas condições, a estabilidade da resistência genética do hospedeiro ao pa-tógeno, no tempo e no espaço, é expressa na medida em que o tomateiro interage com populações do patógeno em condições ambientais contrastantes. Ou seja, nos ensaios de avaliação da resistência é essencial que os genótipos de tomateiro interajam com a diversidade genética do patógeno e em condições diversificadas de ambiente, o que pode ser verificado em ensaios multilocais. Nesses experi-mentos, a estabilidade da resistência é estimada pela capacidade do hospedeiro completar um ciclo reprodutivo quando cultivado em ambientes desfavoráveis e heterogêneos (temperaturas e umidades elevadas) e na presença de solos natural-mente infestados pelo patógeno.

Coelho Netto et al. (2004) também seguiram essa linha metodológica de co-nhecer e avaliar a variabilidade de R. solanacearum proveniente de diversas espé-cies hospedeiras, no estado do Amazonas, e compreender a estrutura populacional do patógeno na região. O trabalho visou ao fornecimento de subsídios para estu-dos de resistência varietal, origem e disseminação do patógeno.

Em 1976, o Programa de Melhoramento Genético do Tomateiro do INPA introdu-ziu germoplasmas procedentes do Brasil e de outros países como Colômbia, Estados Unidos, França, Formosa, Guiana Francesa, Holanda e Japão que foram avaliadas em experimentos do tipo screening com o intuito de detectar genótipos resistentes ao patógeno. Os genótipos considerados resistentes foram cruzados entre si ou com va-riedades tropicais ou nacionais. Os híbridos obtidos foram conduzidos até às gerações F3 e F4 e, em 1983, realizou-se um ensaio para identificar os cruzamentos que apre-sentassem níveis de resistência suficiente para fazerem parte da seleção genealógi-ca. O cruzamento mais promissor foi o resultante das introduções IH-40 (Inra/Caiena, Guiana Francesa) e UH-7976 (Havaí, Estados Unidos). A partir daí, a decisão foi avançar as gerações e a seleção dentro deste cruzamento pelo método genealógico. Em 1988, obteve-se um material com resistência poligênica ao patógeno (NODA et al., 1997).

Os ensaios para avaliação e seleção são realizados em solos naturalmente infes-tados pelo patógeno, ao contrário da metodologia empregada para incorporação de resistência vertical (triagem em casas de vegetação e inoculação artificial de plantas na fase juvenil) com inóculo do patógeno. Presume-se que os ensaios em solos naturalmente infestados são uma simulação mais próxima do processo de infecção e epidemiologia da doença, além de possibilitar a estimativa do grau de

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associação entre os níveis de doença na população de plantas e os danos econômi-cos decorrentes (NODA et al., 1997).

No processo de avaliação da resistência das progênies utiliza-se o método des-crito por Kuriyama (1975), onde plantas com pouco ou sem sintomas da doença, ao término do ciclo produtivo são consideradas resistentes. A constatação da pre-sença do patógeno nos feixes vasculares é realizada pelo método preconizado por Király et al. (1974) examinando a exsudação de pus bacteriano em lâmina de vidro e os dados para a análise epidemiológica da doença são obtidos semanalmente, planta a planta, com a anotação de indivíduos doentes e sua posição na parcela experimental.

A avaliação dos genótipos é realizada tendo como referência um padrão cons-tante para reação de resistência (cultivar Caraíba) e outro para reação de susceti-bilidade (variedade Santa Cruz Kada). Então, nos ensaios para avaliação e seleção, além das gerações de Yoshimatsu, tem-se uma cultivar que representa a confirma-ção da presença do patógeno no solo e outra que é a referência científica de mate-rial resistente. Essa metodologia empregada mostrou-se importante para a avalia-ção do nível de contaminação do solo com o patógeno sendo valiosa para estimar o ganho genético ocorrido no processo de seleção das progênies (PENA, 2010).

O método segue a fórmula de Plank (1963) para doenças sem multiplicação para a obtenção da taxa de infecção (QR):

QR = 1t2 - t1

(loge

11 - ID2

- loge

11 - ID1

, onde

t1: número de dias entre a data do transplante e a data da 1ª avaliação;t2: número de dias entre a data do transplante e a data da última avaliação;ID1: índice de Doença na 1ª avaliação;ID2: índice de Doença na última avaliação.

Os valores do índice de Doença (ID) são estimados pela fórmula:

ID = PDPT , onde

PD: número de plantas na parcela com sintoma de murcha bacteriana;PT: número total de plantas na parcela.

A análise dos resultados em todos os experimentos realizados permitiu a Noda et al. (1986), a inferência que a evolução da doença apresenta características epi-

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demiológicas bem definidas, onde o genótipo com níveis elevados de resistência corresponde a baixos níveis de velocidade do progresso da doença na população hospedeira. No decorrer do processo de seleção para resistência, observou-se que seria importante considerar, também, a tolerância do material selecionado a temperaturas elevadas. Isso porque o tomateiro, quando cultivado em locais com temperaturas elevadas, apresenta a tendência de abortamento das flores, com-prometendo a frutificação e, por conseguinte, a produção. Por isso, os genótipos selecionados para resistência foram avaliados, também, para tolerância ao calor. A temperatura ótima de pegamento de frutos varia de 15o C-20o C à noite, que são temperaturas incomuns no ambiente tropical. Em altas temperaturas a polinização do tomateiro é prejudicada porque o estilete alonga-se ultrapassando o cone de anteras da flor (VILLAREAL, 1980). O pólen não atinge o estigma receptivo, impe-dindo a polinização e os demais processos seguintes, fecundação e formação do fruto (Figura 2). Noda e Machado (1992) constataram que progênies obtidas a par-tir do cruzamento HT-16 possuíam variabilidade genética para a seleção do caráter de tolerância a altas temperaturas para o pegamento dos frutos.

Figura 2. Evolução da longitude do estilo. (A) espécies selvagens ancestrais; (B) L. esculentum cerasufirne

e cultivares primitivas; (C) cultivares locais dos Estados Unidos e Europa e (D) cultivares modernas.

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Situação atual e próxima etapa das pesquisas

Os resultados de estudos realizados por Menezes (1998) confirmam a resis-tência da cultivar Yoshimatsu em avaliações realizadas no estado de Pernambuco, sendo obtidas, também, evidências do controle da expressão de resistência como sendo governada por poligenes ou bloco gênico. No exterior, Prior et al. (1996), estimando os níveis de severidade da doença por meio da colonização dos feixes vasculares das plantas pelo patógeno, encontraram, também, elevado nível de re-sistência da cultivar Yoshimatsu.

Os trabalhos posteriores realizados no período de 1997 a 2009 apontaram para a linhagem Y-95-3 (Yoshimatsu), como promissora para resistência à murcha bacteria-na, com produtividade (38,40 t/ha) e qualidade do fruto (NODA, 2009). Atualmente, a prioridade das pesquisas é selecionar, dentro do cruzamento HT-16, genótipos ca-pazes de produzir frutos de melhor qualidade, como a resistência à podridão estilar e menor índice de rachadura (NODA, 2009). Os pesquisadores consideram que um dos grandes desafios enfrentados pelos programas de melhoramento do tomateiro para incorporação da resistência genética ao patógeno R. solanacearum, é associar esta característica à produtividade, além de quantidade (peso) e qualidade (forma-to, tolerância a rachadura, resistência à podridão estilar) dos frutos (Figura 3).

Figura 3. Cultivo em solos infestados por R. solanacearum. Protegido (esquerda) e campo aberto (direi-

ta). Estação Experimental de Hortaliças “Dr. Alejo Von der Pahlen”, Manaus.

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No processo de seleção para o desenvolvimento da cultivar Yoshimatsu foram levados em conta, também, a adaptabilidade e a estabilidade dos genótipos pe-rante ambientes heterogêneos. Os ensaios foram realizados nas estações experi-mentais do INPA em ecossistemas de terra firme e várzea da Amazônia Central, respectivamente, a Estação Experimental de Hortaliças e a Estação Experimental do Ariaú, nos municípios de Manaus e Iranduba. A pesquisa concluiu que duas pro-gênies avançadas do cruzamento HT-16: L-1-2002 e L-2-2002 são adaptadas para o cultivo em ambientes de terra firme e várzea, evidenciando a capacidade desses genótipos em produzir nas diferentes condições estabelecidas pelos testes multi-locais. As progênies avançadas L-3-2002 e L-4-2002 foram consideradas estáveis, rústicas e produtivas em qualquer ambiente e pouco responsivas à melhora am-biental, quanto aos caracteres produtivos (NODA, 2009; PENA et al., 2010).

As pesquisas devem seguir a orientação inicial da concepção do material geneti-camente melhorado. Isso significa continuar avaliando as progênies avançadas do ma-terial desenvolvido, quanto à estabilidade e à adaptabilidade ao ambiente, resistência, produção e qualidade do fruto (Figura 4). Outro ponto importante é o compromisso social de continuar na perspectiva do melhoramento genético vegetal onde o seu pro-duto possa ser usado de forma generalizada pelas populações locais. Ou seja, a susten-tabilidade da agricultura familiar praticada na região amazônica em base agroecológica, mais independente de insumos comerciais e contribuir para o aumento da produção e disponibilidade de cultivos agrícolas indispensáveis para a alimentação da população.

Figura 4. Planta de tomateiro cultivar Yoshimatsu em início de frutificação. Cultivo protegido. Estação

Experimental de Hortaliças “Dr. Alejo Von der Pahlen”, Manaus.

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VILLAREAL, R. L. 1980. Tomatoes in the Tropics. Wetview, Boulder. 174p.

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CAPÍTULO 2

Caracterização físico-química do tomate (Solanum lycopersicum mill . Cv . ‘Yoshimatsu’) in natura e produção de tomate secoJerusa Souza ANDRADE1; Natasha Veruska dos Santos NINA2;José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO2

1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, Av. André Araújo,

2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

2 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, PPG-ATU, Manaus, AM. E-mail: nina.natashavs@

gmail.com e [email protected]

Palavras-chave: Olericultura; Tecnologia de alimentos; Solanaceae.

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Introdução

O processamento de alimentos é um grande desafio, principalmente quando praticado em pequena escala. Os consumidores buscam por alimentos saudáveis e acessíveis e os produtores procuram minimizar os custos, suprir alimentos com regularidade e atender às exigências dos padrões de qualidade. Considerando a importância dos produtos produzidos na Amazônia, sobretudo dos procedentes da agricultura familiar, o processamento do tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) apresenta-se como uma estratégia para impulsionar a produção agrícola e o seu processamento industrial, reduzir as perdas dos frutos in natura e diversificar as formas de consumo (SANTOS et al., 2006; NODA, 2007).

No Brasil, o tomate é amplamente usado na indústria de alimentos e no consu-mo in natura. Em 2010, foram colhidos cerca de 200 milhões de toneladas de toma-te pelos 20 maiores países produtores, com destaque para a China que produziu 47,11 milhões de toneladas. O Brasil ficou na 9ª posição, com produção de 4,11 milhões de toneladas (FAO, 2012), havendo um aumento de 19,82% em relação a 2007. Da produção nacional, a região Norte participou com apenas 0,9%, cabendo ao estado do Amazonas 0,2%. De janeiro de 2011 a janeiro de 2012, o consumo do tomate teve um aumento expressivo no Brasil, elevando o consumo per capta nacional para 3,65 kg. Na região Norte, o consumo per capta de tomate é 3,30 kg, valor muito próximo desta média (IBGE, 2012).

Contudo, a produção do tomate no Amazonas ainda é pequena em decorrência da incidência de pragas e doenças. Assim, o tomate passou a ser a mais importante hortaliça convencional que vem sendo estudada no Instituto Nacional de Pesqui-sas da Amazônia – INPA e o foco principal das pesquisas foi direcionado na incor-poração da resistência genética ao patógeno Ralstonia solanacearum, causador da doença “murcha bacteriana”, um dos principais fatores limitantes ao cultivo nos trópicos úmidos (NODA et al., 1986).

Em 1976, o INPA iniciou um programa de melhoramento genético do toma-teiro, cuja abordagem considera a presença do patógeno R. solanacearum como um elemento da biodiversidade dos solos agrícolas. Como resultado, obteve uma variedade de tomateiro, denominada ‘Yoshimatsu’ (fruto do grupo salada, com for-mato redondo), que tem boa adaptação ao estado do Amazonas com resistência poligênica ao patógeno causador da murcha bacteriana. Atualmente, as pesquisas de seleção genética vêm sendo conduzidas para melhorar as características agro-nômicas relacionadas à qualidade do fruto (NODA, 2007).

Em função da alta perecibilidade do fruto in natura, a desidratação do toma-te pode ser uma estratégia de conservação (BARONI, 2004; SANTOS et al., 2006;

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CAPíTULO 2

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GOMES et al., 2007), mas também de comercialização e capitalização do produtor, estimulando a expansão de seu cultivo.

O tomate seco foi introduzido no Brasil por imigrantes espanhóis e italianos e pode ser conservado por um longo tempo se produzido e armazenado seguindo as normas das boas práticas de fabricação de alimentos (ABREU, 2010). Esse produto apresenta aumento no consumo, valor de mercado, facilidade de conservação e pode ser obtido por desidratação convectiva ou por osmo-convectiva (LENART, 1996).

A desidratação é um dos métodos mais antigos de conservação de alimentos, no qual o calor do fogo e a energia solar são usados para remover a água e pre-servar os alimentos. Atual e mundialmente, a desidratação por convecção ainda é um dos métodos mais utilizados, porém, com o uso de equipamentos modernos, formulações balanceadas, coadjuvantes de tecnologia, aditivos químicos, embala-gens adequadas e os necessários cuidados com a higiene.

A desidratação osmótica é usada para a remoção parcial da água, pelo contato do alimento com solutos, ocasionando dois fluxos simultâneos e opostos, ou seja, a migração de solutos para o interior do alimento e a saída de água para o meio externo. O processo consiste na imersão do alimento em soluções hipertônicas ou no contato do alimento com os solutos secos.

Os solutos mais usados são o sal, o açúcar, ou a mistura de ambos (KOWALSKA; LE-NART, 2001; TONON et al., 2006). Porém, com a desidratação osmótica os alimentos ain-da permanecem com umidade intermediária, sem atingir a faixa de atividade de água que dispensa técnicas adicionais para a conservação. Assim sendo, tem sido usada a combinação das desidratações por osmose e por convecção. Essa combinação, deno-minada de desidratação osmo-convectiva propicia produtos de melhor qualidade (sen-sorial e nutricional) e estáveis para o armazenamento (LENART, 1996). Assim, foi iden-tificada uma necessidade de maiores pesquisas para avaliar as características físicas e físico-químicas do fruto e testar a produção de tomate seco a partir da cv. ‘Yoshimatsu’.

Obtenção e preparo do tomate

A matéria-prima utilizada para a pesquisa foi o fruto maduro de tomate da cv. Yoshimatsu, colhidos de tomateiros que integravam experimentos do Programa de Melhoramento Genético do INPA. A colheita foi realizada no final da safra de 2006 e os frutos foram transportados, no mesmo dia da colheita, para o Departamento de Tecnologia de Alimentos do INPA, onde o trabalho foi conduzido.

Os frutos passaram por um processo de seleção, permanecendo apenas os sa-dios. O aspecto dos frutos in natura é mostrado na Figura 1. A lavagem foi feita com

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água corrente e a sanitização por imersão, durante 15 minutos, numa solução de hipoclorito de sódio a 0,02% (RIEDEL, 2005). O enxágue também foi feito em água corrente e a secagem foi obtida pela permanência dos frutos sobre peneiras em temperatura ambiente. Uma amostra aleatória de 30 frutos foi usada nas análises físicas do peso e diâmetro.

Figura 1. Frutos de tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) colhidos no final da safra de

2006 e utilizados no processamento do tomate seco, em Manaus, AM.

Com uma faca de aço inoxidável, os tomates foram cortados ao meio, no sen-tido longitudinal, e as sementes e a região da inserção do pedúnculo foram reti-radas. Em seguida, os tomates foram lavados em água corrente e drenados sobre peneiras. Uma parte dos frutos (± 500 g) foi utilizada nas análises físico-químicas e o restante foi empregado no processamento.

Desidratação do tomate

Para a obtenção do tomate seco, a remoção da água foi conduzida em duas etapas, ou seja, a desidratação osmótica e a subsequente desidratação por convecção. A pri-meira etapa consistiu na desidratação osmótica e os solutos utilizados foram sacarose (açúcar) e cloreto de sódio (sal) na forma seca (sem o emprego de soluções hipertôni-cas). Os tomates foram distribuídos sobre bandejas, em monocamada e com as partes cortadas voltadas para cima. Para a desidratação osmótica foi preparada uma mistura com a proporção de 70 g de açúcar e 20 g de sal por quilo de tomate sem as sementes. Essa mistura foi polvilhada sobre os tomates e esses tomates polvilhados (Figura 2A)

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foram armazenados por 12 horas (uma noite) em geladeira (7º C) para a concomitante liberação da água e incorporação dos solutos. Na manhã do dia seguinte, a água libe-rada durante a noite foi escorrida, os tomates foram invertidos (parte cortada para bai-xo) sobre a bandeja e permaneceram (± 30 minutos) em temperatura ambiente para completar a drenagem da água liberada durante a desidratação osmótica (Figura 2B).

Figura 2. Frutos de tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) durante (A) e após (B) a desi-

dratação osmótica.

A segunda etapa consistiu na secagem por convecção, utilizando-se dois sistemas, estufa e fogão doméstico, com tempos e temperaturas diferentes. Os tomates foram distribuídos sobre várias bandejas de alumínio, em monocamada e com as partes cor-tadas voltadas para cima. Metade das bandejas foi mantida por apenas 1 hora e 30 mi-nutos, em forno doméstico com temperatura de 180º C (T1). As demais foram mantidas durante 10 horas em estufa com circulação forçada de ar e temperatura de 65º C (T2).

Condimentação e estocagem

Após a secagem (saída do forno ou da estufa), o tomate seco foi mantido em temperatura ambiente por curto tempo até o resfriamento. Para condimentar foi preparada uma mistura com 100 mL (± uma xícara) de azeite de oliva, 4 g (± uma colher de chá) de orégano desidratado e oito dentes de alho (descascados e cor-tados em fatias finas). Essa mistura foi distribuída sobre o tomate seco, seguida de cuidadosa homogeneização para obter o completo contato dos condimentos com o produto. Em seguida, o tomate seco foi acondicionado em recipientes de plástico e armazenado em geladeira (± 7º C).

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Avaliações físico-químicas do tomate

Um total de 30 frutos foi avaliado, individualmente, quanto às características físicas. O peso foi obtido com balança semianalítica. Os diâmetros (longitudinal e transversal) foram medidos com paquímetro (Stainnless – Helios®) e os dados (em polegadas) foram transformados para cm. O formato foi avaliado pela relação (longitudinal/transversal) entre os diâmetros. Para as análises químicas o tomate sem sementes (± 500 g) foi triturado em liquidificador formando uma amostra ho-mogênea e todas as análises foram realizadas em triplicata. O teor de umidade foi obtido por dessecação (até peso constante) em estufa a 105° C e o de sólidos totais foi calculado por diferença.

Os sólidos solúveis foram determinados em refratômetro (Bellingram & Stan-ley®) e as leituras realizadas fora da temperatura padrão (20° C) foram corrigidas. A acidez foi obtida por titulação com solução de NaOH 0,01 M (fenolftaleína como indicador), a relação Brix/acidez foi calculada e o pH foi medido em pHmetro (Mi-cronal®).

Os carotenoides totais foram determinados pelo método colorimétrico de Higby (1962). O ácido ascórbico foi extraído com ácido oxálico a 0,5% e quan-tificado por titulação com 2,6-diclorofenolindofenol (RANGANNA, 1986). Os sólidos insolúveis em álcool (AIS) foram quantificados por gravimetria (AHMED e LABAVITTCH, 1977). Os açúcares foram extraídos com água e quantificados pelo método de Somogyi Nelson utilizando glicose como padrão (SOUTHGATE, 1991).

Os lipídios foram extraídos com hexano utilizando-se de aparelho Soxhlet. O teor de proteína foi calculado utilizando-se os dados de nitrogênio total (deter-minado pelo método micro-Kjeldahl) e o fator de conversão 6,25. A fração fibra alimentar foi determinada por hidrólise ácida (H2SO4 a 0,255 N) e alcalina (NaOH a 0,313 N). O resíduo mineral fixo (cinza) foi quantificado por incineração em mufla a 550° C. Os carboidratos foram obtidos por diferença e o valor energético foi calcu-lado utilizando-se os seguintes fatores de conversão de Atwater: 4 kcal/g proteínas; 9 kcal/g lipídios e 4 kcal/g de carboidratos (RANGANNA, 1986).

Rendimento e características sensoriais do tomate seco

No decorrer do processamento foram tomados os pesos dos frutos inteiros, dos tomates em metades (sem sementes) e dos tomates secos. Os dados dos tomates em metades (sem sementes) foram utilizados no cálculo das quantidades dos so-

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lutos empregados. O rendimento foi calculado considerando os pesos dos frutos inteiros e do tomate seco e os resultados foram expressos em percentagem. Os tomates secos foram avaliados sensorialmente, observando-se a aparência geral, o encolhimento, a integridade dos tecidos, o enrugamento da superfície, a aderência da cutícula, a maciez, a coloração, o aroma e o sabor.

Características físico-químicas do tomate

Na Tabela 1 são apresentadas as características físico-químicas do tomate ‘Yoshi-matsu’ in natura. Foi verificado que embora esta variedade apresente resistência à “murcha bacteriana”, o tamanho dos frutos é relativamente pequeno (19,02 a 77,43 g) e apresenta grande variação. Além das características inerentes da variedade, é possível que a colheita, realizada no final da safra, pode também, ser apontada como uma das causas do pequeno tamanho e da variação observada no peso do fruto. Durante o processamento do tomate seco, os frutos de tamanho padroni-zado são desejáveis para que a translocação de solutos e de líquidos em todos os tecidos seja uniforme. No entanto, como a desidratação remove a água, o que modifica o tamanho e a aparência, o que de certo modo reduz a desuniformidade, essa irregularidade no tamanho pode ser desconsiderada como um fator limitante para a aceitação do produto final.

As medidas dos diâmetros (longitudinal e transversal) e, principalmente, a re-lação entre ambos mostram que predominam frutos de formato achatado. Apesar das variações no tamanho dos frutos, certa uniformidade é observada no formato, principalmente no diâmetro longitudinal. Os diâmetros verificados indicam serem frutos maiores do que o Yoshimatsu cultivado em condições controladas de casa de vegetação, em Roraima que apresentaram, respectivamente, 3,6 e 3,4 cm de diâmetro longitudinal e transversal (SOUSA et al., 2011).

Uma característica inerente ao tomate é a suculência, indicada pelo baixo conteúdo dos constituintes sólidos. Os resultados indicam que 88,58% dos só-lidos totais presentes no tomate, são constituídos por substâncias solúveis em água que são classificadas como sólidos solúveis. A acidez e o grau de doçura, evidenciados pela relação Brix/acidez são, respectivamente, importantes para a industrialização e o consumo do fruto in natura. Os resultados da acidez e do pH, e, sobretudo, da relação Brix/acidez indicam que esse Yoshimatsu é mais ácido quando comparado com o lote de frutos da mesma variedade estudado por Sou-sa et al. (2011).

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Tabela 1. Características físico-químicas do tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’).

Características Valores e desvio padrão (Matéria fresca)

Peso (g) 45,55 ± 16,67

Diâmetro longitudinal (cm) 3,89 ± 0,40

Diâmetro transversal (cm) 4,29 ± 0,79

Relação longitudinal/transversal 0,9068 ± 0,11

Sólidos totais (%) 4,84 ± 0,36

Sólidos solúveis (ºBrix) 3,90

Acidez titulável (% ácido cítrico) 0,38 ± 0,01

Relação Brix/acidez 5,13

Açúcares redutores (%) 1,27 ± 0,16

pH 4,01

Os dados da composição química e do valor energético do tomate var. ‘Yoshi-matsu’ in natura são mostrados na Tabela 2. Os resultados mostram que o elevado conteúdo de umidade do produto, o que é característico do tomate, implica em: baixo conteúdo de substâncias sólidas e, consequentemente, de componentes re-lacionados com o valor nutritivo e funcional; maior tempo para completar a desi-dratação; e menor rendimento do produto final.

Os teores de lipídios, proteínas e carboidratos verificados são baixos, porém, se-melhantes ao de outras variedades e indicam que esse tomate é um alimento pouco calórico (18,79 kcal) e com valor inferior ao reportado (20,60 kcal) para o tomate salada (TACO, 2011). A quantidade de cinza, indiretamente indica a quantidade total de mi-nerais. O teor de ácido ascórbico mostrou-se superior ao reportado (12,8 mg %) para o tomate tipo salada (TACO, 2011) e inferior ao encontrado (35,19 mg %) no tomate Yoshimatsu (SOUSA et al., 2011). Essa variação é considerada normal, pois, além dos tratos culturais e das variedades, a metodologia utilizada na quantificação dessa vita-mina pode ser sugerida como uma das causas dessa diferença.

O teor de carotenoides totais mostra que essa variedade assemelha-se com as demais variedades de tomate. A importância dessas substâncias decorre do fato de que, incluídos nesse total, estão também, os carotenoides com atividade vita-mínica (pro-vitamina A) e o licopeno (substância bioativa). Além de contribuir para o valor nutricional e funcional esses, juntamente com os demais carotenoides, são

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responsáveis pela coloração atrativa dos frutos influenciando positivamente na aceitação do tomate processado (ABREU, 2010).

Tabela 2. Constituintes de interesse nutricional e valor energético do tomate (So-lanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’).

Constituintes Valores e desvio padrão (Matéria fresca)

Umidade (%) 95,16 ± 0,36

Lipídios (%) 0,31 ± 0,01

Cinza (%) 0,11 ± 0,02

Proteínas (%) 0,61 ± 0,01

Fibra alimentar (%) 0,42 ± 0,05

Carboidratos (%) 3,39

Valor energético (kcal) 18,79

Carotenoides totais (μg%) 119,54 ± 9,61

ácido ascórbico (mg%) 23 ± 0,06

Sólidos insolúveis em álcool (%) 1,69 ± 0,05

Rendimento do tomate seco

Os rendimentos dos tomates secos obtidos após a desidratação osmótica e subsequente secagem por convecção na estufa e no forno foram de 17,4% e 15,8%, respectivamente. A diferença de apenas 1,6% é insignificante quando se considera as diferenças de tempo (10 h estufa e 1 h e 30 min no forno) e temperatura (65º C na estufa e 180º C no forno) nos sistemas de secagem convectiva.

Em se tratando de uma matéria-prima com alto teor de umidade (determinada em 95,16%), e de um produto final seco, o rendimento do tomate seco pode ser considerado bom. Além da água removida durante a desidratação, as perdas de tecidos durante a retirada das sementes durante o processo de preparo dos frutos também influem no rendimento. A umidade inicial, as perdas de polpa durante a retirada de sementes e a umidade do produto final são os principais fatores relacio-nados com o rendimento na produção do tomate seco.

Apesar de não determinar o teor de umidade após o processamento, o tomate seco em forno apresentou aspectos visualmente indicativos de um produto mais seco. Na secagem de qualquer alimento o uso de temperaturas mais baixas combi-

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nadas com a circulação forçada de ar é o indicado. O emprego do forno doméstico, cuja temperatura é elevada e sem condições de controle foi feito para mostrar que, com equipamento disponível ao produtor rural, é possível desidratar o excedente da produção, diminuindo as perdas da produção e disponibilizando um produto processado ao consumidor.

A desidratação osmótica empregada na fase inicial colabora para a eliminação parcial da água. A composição e a concentração da solução têm influência no pro-cesso de osmose. Maior quantidade aumenta a força motriz que provoca a saída de água do produto, promove maior perda de água e diminui a atividade de água. A presença do sal inibe a formação de uma camada de açúcar na superfície, fa-vorecendo maiores taxas de desidratação. O uso de soluções ternárias resulta em níveis maiores de perda de água (LENART, 1996). Além de aumentar o teor de açú-cares do produto, a sacarose forma uma barreira na superfície impedindo a saída de substâncias nutritivas. Assim, essa desidratação consegue melhorar as caracte-rísticas organolépticas e suavizar o sabor dos frutos ácidos (GOMES et al., 2007).

Na secagem por convecção, a maior perda de peso ocorre nas primeiras horas de tratamento. Perdas de 40% do peso inicial foram detectadas aos 120 minutos no araçá-boi (MAIA, 2010) e aos 180 minutos no cubiu (GOMEZ CACERES, 2010) quando ambos foram submetidos à desidratação em estufa com circulação de ar e temperatura a 65º C. Esse comportamento decorre da evaporação do resíduo da solução na superfície e também, pela umidade superficial ainda ser maior do que a interna, facilitando a perda de água no processo. Posteriormente, a perda de peso continua, porém, com tendência à estabilização. Assim, o tempo de secagem por convecção é variável.

Características sensoriais dos tomates secos

A aparência do produto final (Figura 3) sugere o melhor aspecto do produto obtido em estufa. Como não houve diferenças no tempo e nas quantidades de sal e açúcar utilizadas na desidratação osmótica, a aparência do produto decorre do sistema utilizado na desidratação convectiva.

A coloração do produto final é uma das características importantes no tomate seco, pois indica: o tipo e a quantidade dos pigmentos presentes na matéria-prima empregada; a estabilidade frente ao processamento empregado e permite uma es-timativa visual do valor nutricional e funcional; induz positivamente no momento da aquisição e traz beleza ao compor uma preparação alimentícia. Comparando os dois tipos de processamento aplicados, todos exibiram coloração muito atrativa, porém, com vermelho mais intenso e ausência de escurecimento quando o proces-

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so de secagem foi conduzido em estufa de circulação de ar e temperatura de 65º C por 10 horas. Com o uso apenas da secagem convectiva e temperaturas na faixa de 55 a 85° C, a maior retenção da cor no tomate seco foi observada nas temperaturas mais baixas (CRUZ et al., 2012).

Figura 3. Aparência dos tomates secos obtidos do tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’)

por desidratação osmótica com solutos (sal e açúcar) secos e posterior desidratação por convecção

em forno de fogão doméstico a 180º C por 1 hora e 30 minutos (A) e em estufa com circulação de ar e

temperatura de 65º C por 10 horas (B).

A Figura 3B também sugere uma melhor aparência geral, maior maciez, cor mais intensa, menos encolhimento e enrugamento, película com maior superfície aderida à polpa e integridade dos tecidos. O sabor e o aroma agradáveis e carac-terísticos do produto não apresentaram diferenças perceptíveis entre as duas téc-nicas avaliadas. A migração do sal e do açúcar para o interior do tomate durante a desidratação osmótica é favorável, pois mascara o sabor ácido e a presença dos sabores doce e salgado é desejável no tomate seco. A incorporação dos solutos durante a desidratação osmótica foi detectada sensorialmente, mostrou-se equili-brada e contribuiu positivamente no sabor do tomate seco.

Analisando-se os resultados, e, em especial o rendimento e as características sensoriais do tomate seco, o melhor processo foi o uso da secagem em estufa. No entanto, mesmo com diferenças nos equipamentos, custos, temperatura e tempo de secagem, os tomates secos resultantes de ambos os processos apresentaram boa aparência, sabor agradável e característico, coloração próxima ao vermelho intenso indicando que o tomate seco obtido da cv. ‘Yoshimatsu’ pode ser obtido por ambos. Considerando o tempo de secagem, os custos do equipamento e da energia elétrica e, principalmente, as condições do pequeno produtor, a secagem em forno pode também, ser considerada a mais viável no âmbito do processamento artesanal.

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Conclusões

O tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) apresentou fruto relati-vamente pequeno, formato achatado, suculento e composto principalmente por substâncias solúveis em água. Os baixos teores de lipídios, proteínas e carboidratos implicam no baixo valor calórico do tomate seco que foi processado.

A secagem convectiva em estufa proporcionou ao tomate seco melhor aparên-cia, maciez, coloração, integridade dos tecidos e rendimento quando comparada com a secagem em fogão. No entanto, as semelhanças nas características senso-riais e no rendimento do produto final e, principalmente, as condições existentes no âmbito da agricultura familiar na Amazônia permitiram que ambos os proces-sos pudessem ser recomendados.

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CAPÍTULO 3

Seleção de populações de espécies alternativas para uso na olericultura da AmazôniaManoel Ronaldo Aguiar BATISTA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO1; Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES2; Arthur Antunes de Souza CARDOSO2

1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected], [email protected];

2 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, Manaus, AM. E-mail: chelzeamara@yahoo.

com.br, [email protected].

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Introdução

As espécies olerícolas tradicionais sempre estiveram disponíveis para o consumidor final, entretanto, não era percebida a sua importância tanto nutricional como histórico-cultural. Os produtores rurais quando os produziam o faziam, essencialmente, para o autoconsumo, ou disponibilizavam os excedentes da produção somente para os consu-midores locais. Mesmo que fossem considerados tradicionais, no sentido de que eram cultivados em um determinado lugar, com técnicas e saberes transmitidos de geração a geração, na maioria dos casos, não eram percebidos e valorizados pelo mercado consu-midor (ZUIN e ZUIN, 2008), o que restringia o seu potencial de geração de renda.

Esses produtos, antes desconsiderados em sua importância alimentar e nutriti-va, agora estão sendo valorizados graças ao seu potencial econômico, destacando-se como alternativa de renda em algumas regiões do Brasil, especialmente pelo seu potencial de comercialização e industrialização. Recentemente, esse tipo de alimento foi descoberto pelos consumidores, estimulando o aumento da sua área de cultivo e vendas. É possível que a redescoberta dos produtos tradicionais te-nha se dado pela tendência atual de busca do consumidor por um alimento mais saudável, natural e nutritivo. Os estudos de Zuin e Zuin (2008) indicam que o con-sumidor se dispõe a pagar mais caro pela aquisição de produtos tradicionais ou produzidos de maneira sustentável, sem o emprego de agrotóxicos.

Geralmente, para o cultivo de espécies vegetais amazônicas, as variedades usadas pelos agricultores tradicionais são populações resultantes do processo de domestica-ção, que são caracterizadas pela ampla variabilidade genética e, portanto, ainda sus-cetíveis a processos de seleção e aprimoramento genético para fins de cultivo. Entre-tanto, a persistência do processo de conservação in situ, especialmente na agricultura familiar, depende da reafirmação da valorização qualitativa dos recursos genéticos dentro das comunidades. Adicionalmente, o reconhecimento, pelo público consumi-dor externo, em geral, tem papel importante, sob a forma da aquisição dos produtos gerados. Igualmente, cabe a ação dos órgãos governamentais no sentido de identificar e reconhecer, naqueles sistemas de produção, um importante papel na conservação dos recursos genéticos (SILVA FILHO, 2009), o que deve nortear as políticas públicas.

Na agricultura familiar, as formas de produção tradicionais na agricultura de subsistência, mesmo com sua importante contribuição para a segurança alimen-tar, não são capazes de atender a todas as demandas das famílias dos produtores. Portanto, é necessário criar alternativas econômicas capazes de gerar renda aos agricultores, permitindo complementar o acesso aos produtos e serviços a serem adquiridos no mercado. Neste caso, o germoplasma de cubiu (Solanum sessiliflo-rum), das pimentas do gênero Capsicum e do ariá (Callathea alouia) pode se consti-

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CAPíTULO 3

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tuir em uma importante base de sustentação como fonte de matéria-prima voltada para a produção de alimentos in natura e de conservas agroindustriais, de doces, condimentos, medicamentos e cosméticos, na Amazônia.

Por outro lado, as ações que visem incentivar o consumo de variedades locais são fundamentais para a diversidade e riqueza da dieta das populações humanas, para a perpetuação de bons hábitos alimentares e para a valorização do patrimô-nio sociocultural do povo brasileiro. Assim, as estratégias de conservação in situ nos agrossistemas têm uma importante contribuição na manutenção, conservação e preservação da variabilidade genética de plantas cultivadas, o que é uma estraté-gia voltada para o futuro. Neste sentido, há a necessidade de novas pesquisas para a caracterização e avaliação de populações de ariá, cubiu e pimentas do gênero Capsicum, para o uso imediato na olericultura familiar e em programas de melhora-mento genético dessas espécies, nas condições edafoclimáticas da Amazônia.

Características de espécies olerícolas alternativas

Ariá (Calathea allouia)

O ariá (Calathea allouia) é uma espécie olerícola semiperene originária da Amé-rica tropical, que é propagada vegetativamente por meio de rizomas e cuja parte comestível é constituída pelas raízes tuberosas (Figura 1). Os trabalhos desenvol-vidos no INPA com o ariá priorizaram a caracterização e a seleção de genótipos de vários clones dessa espécie procedentes de diferentes partes da região amazônica, para identificação de germoplasma com potencial produtivo e nutricional para o cultivo nas condições edafoclimáticas da Amazônia. Nestas pesquisas, 20 clones do Banco Ativo de Germoplasma do INPA foram caracterizados e avaliados com base na produtividade, forma e composição química das raízes.

Na condução da pesquisa, um experimento foi instalado na Estação Experimen-tal de Hortaliças – EEH, do INPA, localizada no quilômetro 14 da rodovia AM-010, em Manaus, AM, nos anos de 2009-2010. O solo dessa área é classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico, de textura arenosa. O clima local é do tipo “Afi” no sistema de Köppen, registrando 2.450 mm de chuva, com uma estação seca no período de julho a setembro. O germoplasma utilizado no experimento foi 17 clones de ariá, procedentes de diversas partes da Amazônia e três de Uberlândia, MG, assim identificados: 2082 de Manaus, AM, 2216 de Atalaia do Norte, AM, 2400 de Pauini, AM, IH-6 de Manaus, AM, 2083 de Manaus, AM, 2217 de Manaus, AM, 2070 de Coari, AM, 2190 de Benjamin Constant, AM, 2221 de Manaus, AM, 2220 de

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Manaus, AM, 2395 de Manaus, AM, 2398 de Benjamin Constant, AM, 2396 de Iran-duba, AM, 2369 de Pauini, AM, 2365 de Gurupá, PA, 2389 de Uberlândia, MG, IH-3 de Manaus, AM, 2219 de Manaus, AM, 2387 de Uberlândia, MG e 2385 de Uberlândia, MG. Como parte do desenho experimental, cada clone constituiu um tratamento.

Figura 1. Aspecto geral do desenvolvimento de plantas de ariá (Calathea allouia) cultivadas experimen-

talmente (A); raízes tuberosas comestíveis (B).

Um mês antes do plantio dos rizomas, o solo da área de cultivo recebeu 2 tonela-das de calcário, incorporados por meio de aração e gradagem. As covas foram aber-tas em um espaçamento de 0,80 m x 1,00 m e adubadas no momento do plantio com 3 kg de composto orgânico, 50 g de superfosfato triplo e 30 g de cloreto de potássio. Para a semeadura foram selecionados dois rizomas de cada clone, livres de sintomas e defeitos provocados por pragas ou doenças. No início da emergência das folhas, foi feita uma adubação em cobertura com 10 g de ureia por planta, repetindo-se essa prática a cada 30 dias, até o sexto mês do desenvolvimento das plantas. Durante o ciclo vegetativo das plantas foram aplicadas práticas fitotécnicas relacionadas com a limpeza regular de plantas pioneiras, irrigação e controle fitossanitário.

A colheita dos tubérculos foi realizada sete meses após o plantio, quando foram observados sintomas de murchamento e secamento da parte aérea das plantas, fase fisiológica que geralmente ocorre entre 10 e 12 meses após o plantio. Essa característica é comumente empregada como um indicador da colheita, quando o desenvolvimento das raízes tuberosas é ideal para o consumo.

Os resultados experimentais permitiram constatar a alta variabilidade genética entre os clones de ariá, que manifestaram diferenças significativas para 90% dos ca-racteres avaliados. A emergência das plântulas aconteceu entre 18 e 33 dias após o plantio. A altura média das touceiras formadas variou de 32,0 a 73,5 cm. O número médio de rizomas foi expressivo e foram produzidos, em média, de 15 a 25 rizomas por touceira, sendo o mais prolífero o clone 2217, originário de Manaus, AM (Tabela 1).

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CAPíTULO 3

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Tabela 1. Valores médios de caracteres morfológicos quantitativos avaliados em clones de ariá (Calathea allouia), cultivados em solo Argissolo Vermelho-Amarelo na Estação Experimental de Hortaliças, em Manaus, AM.*1

Acessos EMP (dias) NF

CF LF DC ATNR NRT

PR PRT

------------------------------- cm ------------------------------ ----------- ton/ha -----------

2082 (1) 30 a 20 b 28,2 b 9,8 a 56,2 a 46,1 b 22 a 22 a 24,00 a 12,00 a

2216 (2) 29 a 17 b 22,0 c 6,3 b 44,9 b 40,4 b 21 a 17 a 25,33 a 9,33 a

2400 (3) 32 a 26 a 29,5 b 11,2 a 65,8 a 54,5 a 15 b 12 a 18,66 b 7,33 a

IH-6 (4) 24 b 33 a 39,7 a 12,8 a 72,4 a 73,5 a 19 a 23 a 29,33 a 10,00 a

2083 (5) 21 c 29 a 29,1 b 9,8 a 60,0 a 58,7 a 20 a 35 a 28,66 a 16,00 a

2217 (6) 28 a 30 a 33,9 a 11,7 a 73,4 a 65,9 a 25 a 28 a 33,33 a 12,66 a

2070 (7) 29 a 30 a 34,9 a 11,3 a 68,0 a 63,5 a 18 a 18 a 24,66 a 6,00 a

2190 (8) 29 a 24 a 29,7 b 8,8 b 53,1 a 47,7 b 21 a 17 a 23,33 a 8,66 a

2221 (9) 23 b 24 a 30,6 a 10,2 a 55,2 a 49,6 b 19 a 21 a 22.66 a 9,33 a

2220 (10) 33 a 35 a 37,6 a 12,5 a 73,0 a 65,7 a 20 a 16 a 28,00 a 6,00 a

2395 (11) 20 c 21 b 28,3 b 9,8 a 58,2 a 62,3 a 16 b 22 a 19,33 b 10,66 a

2398 (12) 27 a 21 b 26,1 c 7,8 b 59,9 a 47,7 b 17 b 19 a 20,00 b 10,00 a

2396 (13) 30 a 25 a 31,7 b 11,9 a 66,3 a 62,9 a 16 b 30 a 22,00 a 12,66 a

2369 (14) 22 b 16 b 19,0 c 7,1 b 33,8 b 32,7 b 15 b 25 a 12,66 c 10,00 a

2365 (15) 18 c 19 b 23,6 c 7,1 b 46,3 b 40,8 b 15 b 29 a 22,00 a 12,66 a

2389 (16) 27 a 18 b 25,0 c 8,4 b 42,4 b 40,7 b 16 b 16 a 17,33 b 8,00 a

IH-3 (17) 31 a 30 a 31,1 b 10,7 a 66,2 a 61,9 a 22 a 23 a 26,66 a 12,00 a

2219 (18) 24 b 24 a 30,8 b 9,7 a 41,4 b 54,7 a 18 a 24 a 28,00 a 8,66 a

2387 (19) 20 c 10 b 17,0 c 6,7 b 33,4 b 32,1 b 10 b 20 a 6,66 c 5,33 a

2385 (20) 24 b 25 a 24,9 c 9,7 a 58,3 a 46,5 b 15 b 28 a 13,33 c 9,33 a

Média 27 24 25,1 9,6 56,4 52,4 18 22 22,77 9,83

CV (%) 7,84 26,35 15,49 20,56 18,48 14,94 19,30 33,33 23,06 34,11

*1 EMP – Emergência das Plântulas; NF – Número de Folhas; CF – Comprimento das Folhas; LF – Largura

das Folhas; DC – Diâmetro da Copa; AT – Altura da Touceira; NR – Número de Rizomas por Touceira;

NRT – Número de Raízes Tuberosas por Touceira; PR – Peso Médio dos Rizomas; PRT – Peso Médio das

Raízes Tuberosas.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

O número médio de raízes tuberosas variou de 12 a 35 por touceira. Como pro-cedências menos e mais produtivas foram considerados os acessos 2400 e 2083 procedentes de Pauini, AM e Manaus, AM, respectivamente.

As estimativas obtidas para a produção total de raízes tuberosas entre os 20 clo-nes variaram entre 5,33 e 16 ton ha-1. Esse resultado se aproxima daquele verificado por Martin e Cabanillas (1976) quando obtiveram produtividade entre 2 e 12 ton ha-1, muito próximo da produtividade de 10 ton ha-1 conseguida experimentalmen-te por Kay (1973).

O delineamento experimental deste experimento foi o de blocos inteiramente casualizados, com 20 tratamentos (os clones de ariá) e três repetições, com par-celas constituídas por cinco plantas. O tratamento estatístico dos dados obtidos serviu para determinar as diferenças existentes entre os seguintes caracteres: EMP – Emergência das Plântulas; NF – Número de Folhas; CF – Comprimento das Folhas; LF – Largura das Folhas; DC – Diâmetro da Copa; AT – Altura da Touceira; NR – Nú-mero de Rizomas por Touceira; NRT – Número de Raízes Tuberosas por Touceira; PR – Peso Médio dos Rizomas; e, PRT – Peso Médio das Raízes Tuberosas, pelos testes F e de Scott-Knott, no nível de 5% de probabilidade.

Cubiu (Solanum sessiliflorum)

O cubiu é uma solanácea nativa da Amazônia com alta capacidade de produção de frutos (Figura 2), adaptada aos sistemas agrícolas convencionais, com potencial econômico para a agricultura familiar e o agronegócio de alimentos, medicamen-tos e cosméticos. Considerando a necessidade de prosseguir nas pesquisas com vários materiais genéticos procedentes de várias regiões da Amazônia brasileira, este trabalho avaliou 30 populações de cubiu originárias de cinco municípios lo-calizados na calha do Rio Negro, sendo avaliados seis acessos de cada município: Manaus (MAO), Novo Airão (NA), Barcelos (BAR), Santa Isabel do Rio Negro (SIRN) e São Gabriel da Cachoeira (SGC).

O experimento também foi realizado na Estação Experimental de Hortaliças do INPA, em Manaus, AM. As mudas de cubiu foram formadas em tubetes preenchidos com composto orgânico peneirado. O preparo do solo da área experimental, da classe Argissolo Vermelho-Amarelo, foi constituído por uma aração e uma grada-gem. O plantio nas covas foi feito quando as plântulas apresentavam 45 dias após a semeadura nos tubetes, em covas com dimensões de 0,20 m de altura, 0,30 m de largura e 0,20 m de profundidade. O espaçamento adotado foi de 1,00 x 1,50 m, suplementado pela seguinte adubação orgânica-mineral: 2 kg de composto orgâ-

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CAPíTULO 3

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nico e 30 g de NPK (10-10-10) por cova. Aos 30, 60 e 90 dias foram aplicados 10 g de ureia por planta.

Figura 2. Aspecto típico da planta de cubiu cultivada experimentalmente evidenciando o seu elevado

potencial de produção de frutos.

Adotou-se um delineamento experimental de blocos ao acaso com 30 trata-mentos (os acessos de cubiu) e três repetições. A unidade experimental foi cons-tituída por cinco plantas úteis de cada população. Os tratos culturais referentes a limpezas, irrigações, adubações foliar ou em cobertura, além do controle fitossa-nitário foram realizados, quando necessário, de acordo com as recomendações de Silva Filho (1998).

A colheita iniciou quando os frutos apresentavam a coloração amarela. Os frutos foram colocados em sacolas plásticas identificadas e, posteriormente, le-vados ao Laboratório de Genética do INPA, em Manaus, AM, para avaliação das

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suas características. Foram avaliados os caracteres quantitativos da planta e dos frutos: Diâmetro do Caule (DC); Altura da Planta (AP); Diâmetro da Copa (DCOP); Largura (LFOL) e Comprimento (CFOL) da Primeira Folha (no início da floração); Comprimento do Fruto (CFRU) e Largura do Fruto (LFRU); Espessura da Polpa (ESP); Número de Lóculos no Fruto (NLF); Número de Frutos/Planta (NMF) e Mas-sa Média de Frutos/Planta (MFP). Para identificação das diferenças estatísticas entre estes caracteres procederam-se análises de variância com teste F e com-paração das médias, pelo teste de Tukey, no nível de 5% de probabilidade. As divergências genéticas entre as POPs foram estimadas por meio das Distâncias Generalizadas de Colle Rodgers (DGCR) e o método hierárquico de agrupamento pelo Vizinho Mais Próximo (VMP), usando o programa de informática GENES de-senvolvido por Cruz (2006).

Os resultados experimentais permitiram verificar que a produção de frutos va-riou de três a 47 por planta. Foram evidenciadas que as plantas com menor tama-nho de frutos são as mais produtivas. Houve ampla variação na forma e tamanho dos frutos entre as POPs e esta variação fenotípica entre frutos pode ser importante para fins de melhoramento genético do cubiu, selecionando-se as melhores varie-dades de acordo com os interesses potenciais de mercado. Sabe-se que os frutos de menor tamanho (20-30 g) são mais usados pelos consumidores na forma de molhos picantes para acompanhar churrascos de qualquer tipo de carne (SILVA FILHO, 1998). Nos acessos avaliados, o peso médio dos frutos variou entre 49,6 e 197,3 g. A POP que produziu os frutos mais pesados (197,3 g) é procedente de Santa Isabel do Rio Negro. Esse tipo de fruto tem característica indicada ao proces-samento de compotas.

Por meio das distâncias DGCR e método de agrupamento hierárquico pelo VMP, as 30 POPs formaram oito grupos distintos, considerando-se o corte no eixo x a 50% de distância relativa entre as POPs (Figura 3). Pela estimativa das distâncias de Cole-Rodgers observaram-se os valores máximo (11,59) e mí-nimo (0,97), de BAR5 e SGC1 e MAO3 e SGC3, respectivamente. Por isso, as POPs BAR5 e SGC1 são consideradas mais divergentes e MAO3 e SGC3 as mais similares. Pela localização geográfica das POPs, as divergências para as mais similares são mais incoerentes, considerando-se a localização geográfica de procedência das sementes. Entretanto, não se descarta a hipótese de que as sementes de cubiu tenham sido levadas de uma região para outra pelos habi-tantes da região do Rio Negro, já que a prática de intercâmbio de germoplas-ma é uma prática muito tradicional na agricultura familiar. Com esta análise de agrupamento de populações para seleção de plantas pode-se reforçar as afirmações de Sudré et al. (2005), na confiabilidade e eficácia que o método

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hierárquico do VMP possui em agrupar materiais genéticos com pequenas dis-tâncias genéticas entre si.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

5429123611231327

4201816

28

177

169

19543

30262824102122

1

Figura 3. Dendrograma do padrão de dissimilaridade estabelecido pelo método hierárquico do Vizinho

Mais Próximo, com base em 19 características entre 30 populações de cubiu procedentes de cinco mu-

nicípios da calha do Rio Negro, AM.

As pimentas do gênero Capsium

Nos últimos anos, a demanda de mercado e interesse científico pelas pimen-tas condimentares tem aumentado em grande escala e, na Amazônia Central, a área cultivada tem se expandido na mesma proporção, na Região Metropolitana de Manaus. Tal fato desperta a preocupação científica em identificar e caracterizar populações de pimenteiras do gênero Capsicum spp., não pungentes, com base em caracteres fenológicos, morfológicos e agronômicos, em busca de germoplas-ma de qualidade superior para uso comercial imediato e em programas futuros de melhoramento das espécies.

Como parte destas iniciativas, 30 populações de Capsicum spp. de diferen-tes localidades da Amazônia brasileira, colombiana e peruana foram avaliadas em um viveiro coberto com plástico transparente na Estação Experimental de Hortaliças do INPA em Manaus, AM. Os acessos pesquisados foram procedentes

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dos municípios amazonenses de Anamã, Apuí, Benjamin Constant, Canutama, Carauari, Codajás, Eirunepé, Envira, Humaitá, Iranduba, Itapiranga, Manicoré, Novo Airão, Novo Aripuanã, Novo Remanso, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga e Urucará, e também de Iquitos (Peru) e Letícia (Colômbia).

Para estabelecimento do ensaio experimental, as mudas foram formadas em bandejas de isopor com 72 células, preenchidas com partes iguais de solo arenoso e composto orgânico peneirado, previamente autoclavado a 120° C à pressão de 0,5 atm por 2 horas. Foram colocadas três sementes em cada célula e, após 20 dias, procedeu-se um desbaste, mantendo nas bandejas, apenas a planta com o melhor desenvolvimento vegetativo.

As plântulas com 15 cm de altura e quatro folhas definitivas foram transplan-tadas para vasos com capacidades para 7,5 kg de substrato, constituído de partes iguais de solos argilosos e arenosos e 3 kg de composto orgânico elaborado na EEH. O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com 30 tratamentos (as POPs de Capsicum) e cinco repetições. A unidade experimental consistiu de uma planta útil de cada população.

Durante a condução do experimento as atividades de limpeza de plantas pio-neiras e irrigações regulares foram realizadas sempre que houve necessidade. O controle fitossanitário foi realizado com pulverizações em caráter preventivo, com inseticidas e fungicidas recomendados para controle das principais pragas e doen-ças que atacam as Solanaceae na Amazônia. As avaliações para identificação das espécies, observações fenológicas e mensurações da parte vegetativa e dos frutos seguiram as recomendações do International Plant Genetic Resources Institute (IP-GRI, 1995).

Na caracterização morfoagronômica das POPs foram utilizados 13 descritores: Tempo para Florescimento (TF); Tempo para a Frutificação (TFR); Altura da Planta (AP); Largura da Copa (LC); Diâmetro do Caule (DC); Comprimento do Fruto (CF); Diâmetro do Fruto (DF), Peso do Fruto (PF); Espessura da Parede do Fruto (EPF); Número de Frutos por Planta (NFP); Peso de Frutos por Planta (PFP); Número de Sementes por Fruto (NSF); e Peso das Sementes (PMS);. Os dados quantitativos de cada descritor foram submetidos à análise de variância para verificar as diferenças entre as POPS, pelo teste F e comparação das médias pelo teste de Scott-Knott (1974), no nível de 5% de probabilidade. As análises multivariadas foram emprega-das como medidas de dissimilaridades, com base nas Distâncias Generalizadas de Mahalanobis (D2) (Mahalanobis, 1936). Para o agrupamento das POPs empregou-se o método de agrupamento pelo Vizinho Mais Próximo, com auxílio do programa Genes, desenvolvido por Cruz (2006).

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Das 30 POPs avaliadas, 28 foram identificados como C. chinense Jacq. e uma como C. frutescens L. Não foi possível identificar a POP 13A com os recursos das chaves botânicas, sendo somente reconhecida como Capsicum sp.

Considerando-se a produtividade do germoplasma avaliado, as maiores médias para número de frutos por planta foram observadas na população 20A (pimenta do grupo das malaguetas), oriunda de São Gabriel da Cachoeira, corroborando a afirmação de Silva Filho et al. (2001) de que quanto menor o tamanho do fruto, maior a quantidade de frutos produzidos por uma pi-menteira, uma constatação que também já havia sido verificada para o cubiu. Os frutos mais pesados foram das POPs de C. chinense 21D, 21C, 21B, 13A e 13C, procedentes da região do Alto Solimões (Tabatinga, AM e de Letícia, na Colômbia). A POP 13A se destacou entre todas as POPs com 843 g planta-1, rendimento de 80% superior em relação à segunda maior média atingida por outra população.

Na avaliação da produção de sementes, considerando-se a variável do número de sementes por fruto, as POPs com as maiores médias foram as 13C, 21D e 21C, todas com mais de 70 sementes. Com relação ao peso médio das sementes a am-plitude de variação foi de 2,5 a 4,5 g. Foi constatada muita variação no peso das sementes nos frutos de várias POPs de pimenta. Observou-se que duas POPs pro-cedentes de Urucará foram identificadas como produtoras de frutos com sementes menos pesadas. Os acessos com maior e menor PMS são procedentes de regiões geograficamente distintas e foram desenvolvidos em diferentes ambientes do es-tado do Amazonas.

Por meio do método de agrupamento do Vizinho Mais Próximo as POPs de pi-mentas se agruparam em onze grupos diferentes, considerando-se o corte a uma distância genética de, aproximadamente, 47% (Figura 4). O grupo I foi subdividido em dois subgrupos. O subgrupo IA, POPs 14 e 22A, foi constituído por plantas que possuem altura mediana e largura da copa com arquitetura em forma de “quadra-do” que é uma característica importante para uso artesanal. O subgrupo IB reuniu as POPs de plantas da microrregião do Alto Solimões (13C, 21C, 21B e 21D) e mais outros seis acessos de C. chinense (9, 6, 12, 18, 1 e 2) de regiões diferentes. Essas 10 POPs produzem frutos mais largos e pesados, com maior espessura da parede do fruto e com maior número de sementes, características importantes para o consu-mo in natura, na indústria de frutos desidratados e como bons disseminadores do genótipo.

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Método de agrupamento: Ligação simples – Vizinho Mais Próximo

Grupo IA

Grupo IB

Grupo II

Grupo III

Grupo IV

Grupo V

Grupo VIGrupo VII

Grupo VIII

Grupo IX

Grupo XGrupo XI

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000 304 608 912 1216 1520 1824 2128 2432 2736 3040

1422A13C21C

96

21B1218

121D

23

1015A

1116

754

13B21A15B22B13A20A

820B

1917

Figura 4. Dendrograma de dissimilaridades genéticas entre 30 acessos de Capsicum spp. obtidos pelo

método hierárquico do Vizinho Mais Próximo, com base em 13 descritores quantitativos, utilizando-se a

distância generalizada de Mahalanobis.

O grupo II foi formado apenas pela POP 3, cujas plantas produzem frutos compridos medindo até 4,9 cm e peso médio/planta em torno de 470,5 g. O grupo III concentrou as POPs 10 e 15A, espécies C. chinense, com característi-cas similares às POPs dos grupos IV e V em relação aos descritores altura da planta, peso dos frutos, espessura da parede dos frutos, número de frutos por planta, tempo para frutificação e tempo para floração (Figuras 5). Observou-se que a semelhança pode estar relacionada com as origens das POPs na região do Alto Solimões: a população 13B é procedente da cidade de Letícia, na Co-lômbia, e a 21A veio do município brasileiro fronteiriço de Tabatinga no estado do Amazonas.

Os grupos VI e VII foram representados pelos acessos 15B e 22B, respecti-vamente. A POP 15B é uma planta desenvolvida em altura e largura da copa, mas com médias baixas em número e peso dos frutos. Por outro lado, a po-pulação 22B foi caracterizada como uma planta de pequeno porte (a menor entre todas as POPs avaliadas), com frutos pequenos e poucas sementes por

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CAPíTULO 3

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fruto, um tipo de planta muito promissora para uso ornamental, que é uma po-tencialidade importante das variedades de pimentas, que alcança mercados nacionais e externos.

Figura 5. Frutificação abundante em plantas de pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense) cultivadas ex-

perimentalmente (A); variações de coloração no processo de maturação dos frutos (B).

O grupo VIII reuniu as POPs 13A, 20A e 8. Essa formação, sob o ponto de vista taxonômico, se tornou muito confusa, pela presença de POPs de duas espécies distintas: C. chinense, POP 8; C. frutescens, POP 20A; e Capsicum sp., POP 13A. As características de diferenciação mais marcantes entre elas são a forma e tamanho dos frutos. Por fim, os grupos Ix, x e xI são formados, respectivamente, pelas POPs 20B, 19 e 17. Em suas características, o que parece mais comum entre elas é o peso de 1000 sementes e a frutificação tardia, em torno de 120 dias observado nas plantas da população 17, originária de Novo Remanso, área rural do município de Itacoatiara.

Pelas características fenológicas, morfológicas e dos componentes de pro-dutividades presentes nas POPs avaliadas, constatou-se, com base na concep-ção de Costa et al. (2002) de que a heterose nessas POPs do Gênero Capsicum será positiva na maioria dos caracteres estudados. Por outro lado, a possibi-lidade de se cruzar indivíduos menos similares e com melhores característi-cas desejadas, será muito útil na obtenção de descendentes com excelentes qualidades, para o progresso do melhoramento das POPs de Capsicum, na Amazônia.

Com base nas principais características agronômicas desejáveis nas POPs den-tro dos grupos acima analisados, o melhoramento das pimenteiras para fins co-merciais, pode iniciar com o cruzamento de indivíduos da POP 19 com os das POPs 13C, 21B, 21C e 21D, para obtenção de progênies com frutos maiores, pesados, boa

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espessura de polpa e um bom número de sementes por fruto, que são padrões relevantes para o agronegócio de frutos para consumo in natura e comercialização de sementes.

Sabe-se também que, nesta última década, o mercado de pimentas do gênero Capsicum para fins ornamentais (para vasos, jardins) revelou-se muito promissor para geração de renda e emprego aos agricultores familiares, em todo o território brasileiro. As POPs 22A, 22B e 14 são indicadas para fins ornamentais, porque são representadas por plantas baixas, com menor largura da copa (com forma qua-drada), frutos triangulares, cônicos e campanulados amarelos, amarelos pálidos, amarelos-laranja e vermelhos.

Considerações finais

Os resultados das pesquisas com os clones e as populações de ariá, cubiu e pimentas, respectivamente, demonstram que estes representantes de cultivos não-convencionais podem ser de grande utilidade para a olericultura da Amazô-nia, permitindo opções para a geração de renda e emprego na região, tanto para processamento agroindustrial quanto para a agricultura familiar.

Quatro clones de ariá 2070 e 2083, procedentes de Coari, AM e Manaus, AM, serão multiplicados para uso imediato pelos agricultores familiares da Amazônia, porque se sobressaíram em relação aos demais na produção de raízes tuberosas, respectivamente.

Entre as populações de cubiu com potencial para exploração na agricultura co-mercial foi detectada variabilidade genética ampla para selecionar genótipos com características desejáveis nas formas, tamanho, número e peso dos frutos para quaisquer finalidades de uso da espécie na Amazônia.

Considerando que a heterose no gênero Capsicum é positiva para a maio-ria dos caracteres que se pretende explorar, é plenamente possível se cruzar indivíduos de populações com similaridades mais distantes e melhores ca-racterísticas desejadas tais como: frutos com formas, tamanho e coloração variados, produtividade satisfatória, boa espessura de polpa e maior número de sementes por fruto, para obtenção de progênies com padrões relevantes para o agronegócio de frutos para consumo in natura e comercialização de sementes.

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Referências bibliográficas

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CAPÍTULO 4

Tecnologias para secagem do cubiu (Solanum Sessiliflorum Dunal)Jerusa Souza ANDRADE1; Francisca Marta Nascimento de Oliveira FREITAS2; Luty Gomez CACERES3; José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO4

1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, Av. André Araújo,

2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

2 Universidade Nilton Lins, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

3 Departamento de Engenharia Industrial, Faculdade de Engenharia, Corporación del Caribe, Sincelejo, Colômbia,

E-mail: [email protected];

4 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, PPG-ATU, Manaus, AM. E-mail: nina.natashavs@

gmail.com e [email protected].

Palavras-chave: Tecnologia de alimentos; Olericultura; Amazônia; Solanaceae.

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Introdução

Os frutos desidratados vêm apresentando profundas mudanças no comércio brasileiro, pois são produtos que se encaixam em um nicho de mercado em cres-cimento. Os frutos secos apresentam alto valor agregado quando comparados aos frutos in natura e possuem vantagens como a conveniência e o aproveitamento integral. Eles também apresentam vantagens aos produtores, uma vez que pro-porcionam a adição de valor ao produto, possibilitando a eliminação de perdas em épocas de safra e o uso dos frutos fora do padrão de exportação (CODEVASF, 2008).

A desidratação é um dos métodos de conservação mais antigos dos alimentos (GAVA, et al., 2008). Em frutos, geralmente utiliza-se a desidratação osmo-convec-tiva, que se constitui na desidratação por osmose, seguida da desidratação con-vectiva (LENART, 1996). Com este processo, se obtém o fruto desidratado, ou fruto-passa, que também é denominado de fruto cristalizado ou fruto glaceado. O fruto cristalizado corresponde ao fruto cuja superfície externa é recoberta por cristais de açúcar. Já no fruto glaceado, a superfície externa também é recoberta por açúcar, só que, com cristais pequenos, tipo açúcar de confeiteiro (JACKIx, 1988).

O fruto submetido à desidratação osmótica, desidratado, cristalizado ou gla-ceado, é um fruto do qual parte da água de sua composição foi substituída por açúcares. As principais características desejáveis neste produto é que o fruto cris-talizado ou glaceado seja translúcido, túrgido, com consistência uniforme, isento de granulosidade, com superfície seca e não áspera e de cor e sabor agradáveis e característicos do fruto. O fruto para ser cristalizado e glaceado deve apresentar tamanho e forma regulares, elevado rendimento em pedaços de tamanho unifor-me, textura firme, ausência de fibrosidade, uniformidade na composição química e “flavor” acentuado (JACKIx, 1988).

A desidratação osmótica é um método de remoção parcial da água dos alimen-tos. Baseia-se na imersão dos alimentos em soluções hipertônicas de um ou mais solutos, originando dois fluxos simultâneos e opostos: saída de água do produto para a solução e migração de solutos da solução para o produto. A saída de sólidos naturais do alimento é quantitativamente desprezível, embora possa ser impor-tante no que diz respeito às características sensoriais e nutricionais (TONON et al., 2006).

Nesse contexto, o processo de desidratação osmótica pode garantir um pro-duto final com maior teor de açúcar, o que significa uma melhora da qualidade sensorial, um aumento de vida de prateleira e características mais uniformes no produto, devido, principalmente, à retirada parcial da água e ao efeito protetor do soluto utilizado (GOMES et al., 2007). É uma técnica viável e de aplicação relativa-

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CAPíTULO 4

59

mente simples, podendo ser realizada por pequenas indústrias ou até mesmo nas propriedades rurais (MOTA, 2005).

Os pré-tratamentos, como o branqueamento e a fermentação natural, acar-retam modificações, em diferentes graus, na resistência da parede celular para o fluxo de água e na integridade das membranas, podendo ser utilizados antes dos processos osmóticos para favorecer a incorporação dos solutos (JACKIx, 1988; LE-NART, 1996).

O branqueamento é um pré-tratamento que propicia o cozimento parcial do tecido vegetal. Ele também promove mudanças nos polímeros de pectina da pare-de celular e lamela média, tornando a membrana celular mais permeável à passa-gem de vapor de água, induzindo, no caso de secagem posterior, em maiores taxas de secagem e melhor textura do produto, além de inativar enzimas cuja atividade implica no desenvolvimento de cor, sabor e odor indesejáveis (CANET et al., 2005).

A fermentação de frutos rígidos é um pré-tratamento que causa a hidrólise das pectinas pela ação das enzimas bacterianas, favorecendo ao açucaramento, a per-da da firmeza e uma parcial desidratação dos frutos, evitando assim, o enrugamen-to durante um posterior processo de secagem e proporcionando ao produto final uma desejável plasticidade e translucidez (JACKIx, 1988).

A desidratação do cubiu pode ser uma alternativa para a pequena indústria. Além da rusticidade, alta produtividade e fácil cultivo (SILVA FILHO et al.,1999), o cubiu, independente do estádio de maturação, apresenta altos teores de pectinas (ANDRA-DE JÚNIOR, 2006). O fruto do cubiu apresenta grande variação na forma, tamanho e peso. Essa variação também ocorre na composição química dos tecidos, no qual o te-cido locular é macio, suculento e com acidez muito alta, o que dificulta seu consumo como fruto in natura, enquanto o mesocarpo ou polpa é firme e com baixa acidez.

Para preservar os atributos físicos e sensoriais, diversificar a forma de uso e melhorar a aceitação do cubiu é necessário o emprego de tecnologias de proces-samento, observando as características do fruto e as disponibilidades regionais. Assim, o uso do branqueamento para inativação enzimática (OLIVEIRA, 2002), o emprego de lixívia, água fervente e vapor de água para o descasque (CACERES GOMEZ et. al., 2012) e o uso da fermentação para facilitar a incorporação de solu-tos (FREITAS, 2011) foram pré-tratamentos testados para o cubiu. A desidratação osmótica rápida com solução ternária (CACERES GOMEZ, 2010) ou a lenta com so-lução binária (FREITAS, 2011) para a incorporação de solutos e remoção parcial da água também foram avaliadas e são indicadas para anteceder a desidratação por convecção. Assim, foram realizadas pesquisas para mostrar que processos simples e factíveis no âmbito da agricultura familiar são essenciais para o preparo do cubiu desidratado.

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Aquisição dos frutos para desenvolvimento da pesquisa

Os frutos de cubiu foram adquiridos em estádio de amadurecimento comercial em feira livre do município de Manaus, AM. Durante a compra, procedeu-se a pri-meira seleção para não adquirir frutos danificados, imaturos e/ou muito maduros. Quando os frutos são recebidos no local de processamento e não podem ser pro-cessados no mesmo dia, podem ser mantidos por curto tempo, em local fresco e ventilado. Assim, os frutos adquiridos permaneceram por uma noite em sala com temperatura de ± 20º C.

Para o início do processo de desidratação, a lavagem foi feita com água cor-rente, seguida de rápida imersão e nova aspersão, empregando-se esponjas e detergente apropriados. Após a lavagem, procedeu-se a sanitização que foi feita por imersão durante 15 min em solução de hipoclorito de sódio a 0,02%. Após a sanitização os frutos foram enxaguados. A boa qualidade da água é essencial nesta etapa e todo o processo foi feito com água de poço artesiano do campus do INPA, em Manaus, AM.

A seleção e a classificação são essenciais para obter um produto uniforme. Na seleção, foram descartados os frutos muito maduros. Após a seleção, geralmente realiza-se a classificação, em que os frutos são agrupados em lotes com o mesmo tamanho, textura (firmeza) e coloração. Os frutos de tamanhos e texturas diferentes podem ser processados em separado, pois o tempo de cocção é variável e assim, de acordo com o estádio de maturação, os frutos foram separados e processados em lotes.

O descasque depende da quantidade de fruto e das condições disponíveis, po-dendo ser manual com o uso de facas, com emprego do vapor ou de soluções de hidróxido de sódio fervente. O cubiu foi descascado com faca de aço inoxidável. Após o descasque, o fruto foi cortado em quatro partes, no sentido longitudinal e o tecido locular foi retirado. O corte pode ser variável, obtendo-se metades, fatias ou cubos, porém, para o mesmo lote os pedaços têm que ter o tamanho ou a es-pessura uniforme. A retirada das sementes também foi feita manualmente com o auxílio de faca. Para evitar o esmagamento ou quebra dos pedaços, todas as etapas do processamento foram realizadas com cuidado. Na Figura 1 são mostrados o des-casque (A), corte (B) e as fatias com (C) e sem o tecido locular (D).

As fatias foram divididas em lotes, os quais foram processados separadamente. No processo de obtenção do cubiu desidratado foram testados os usos do bran-queamento, da fermentação natural e da desidratação osmótica rápida e lenta. Após a aplicação desses pré-tratamentos o processo foi concluído com a desidra-tação convectiva.

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Figura 1. Descasque (A) e corte (B) do cubiu (Solanum sessiliflorum) e fatias antes (C) e após (D) a retirada

do tecido locular.

O branqueamento, empregado para a inativação enzimática, consistiu na imer-são das fatias durante um minuto em água a 95° C e imediatamente em banho de água com gelo (OLIVEIRA, 2002). Em seguida, as fatias permaneceram por curto tempo sobre peneiras para a drenagem da água.

A fermentação natural foi conduzida por imersão em soluções com concentra-ções crescentes de 2, 4, 6 e 8% de NaCl. O tempo de permanência em cada con-centração foi de 24 horas e, após esse período, eram transferidas para a salmoura de concentração maior. A proporção fatias:salmoura foi de 1:10 e a temperatura média do ambiente foi mantida em ± 26° C (FREITAS, 2011). Embalagens flexíveis (sacos de plásticos) cheias de água e hermeticamente fechadas foram colocadas sobre as fatias na superfície do recipiente de fermentação, para garantir a total e permanente imersão das fatias durante todo o processo. Na Figura 2 é ilustrado o sistema empregado para a fermentação natural do cubiu. Decorrido o tempo de fermentação, as fatias foram lavadas em água corrente para eliminar a salmoura da superfície. Como o processo de fermentação causa a hidrólise da pectina, a partir das etapas seguintes, o manuseio foi cuidadoso para não danificar os pedaços.

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Figura 2. Sistema de fermentação natural mostrando as fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) acondi-

cionadas em sacos plásticos do tipo rede e mantidas imersas na salmoura com auxílio do peso feito com

saco plástico contendo água.

Imediatamente após a lavagem, as fatias foram submetidas ao tratamento térmico de cozimento rápido por poucos minutos para evitar o amolecimento excessivo. Assim, foram imersas em água fervente onde permaneceram até atingir a temperatura de for-ma uniforme. Nesse ponto, o fruto subiu à superfície, apresentando-se quase transpa-rente, porém, firme. Se o cozimento for excessivo o fruto fica amolecido e se for insufi-ciente fica duro e com tendência ao enrugamento quando imerso no primeiro xarope. O tempo de cozimento das fatias de cubiu foi cerca de três minutos na água em ebulição.

Após a cocção, as fatias foram imediatamente imersas em banho de água com gelo para resfriar e devolver o turgor perdido durante o cozimento. Após o resfria-mento foram cuidadosamente transferidas para peneiras onde permaneceram até a completa drenagem da água. Essa etapa constitui na incorporação gradativa do açúcar e, simultaneamente, na remoção da água. Essa desidratação pode ser lenta feita com concentrações crescentes e por vários dias, ou rápida com uma única concentração, porém, elevada e por um tempo fixo.

Na desidratação osmótica lenta o processo consiste na imersão do fruto em um xarope de baixa concentração, onde permanece até atingir o equilíbrio osmótico,

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quando então, aumenta-se a concentração, permitindo um novo equilíbrio. Assim se prossegue sucessivas vezes, até atingir o nível de açucaramento desejado e a remoção da água. Na desidratação osmótica do cubiu foi utilizada uma sequência de soluções de sacarose preparada com açúcar comercial nas concentrações de 30, 40, 50, 60 e 70º Brix. O tempo de permanência foi de 24 horas em cada solução. A imersão permanente das fatias na solução foi obtida pela pressão na parte superior do recipiente. Neste caso, um saco plástico, contendo água e com a abertura vedada por um nó foi colocado sobre o recipiente. Com peso e com característica maleável, este saco se moldou à su-perfície superior e manteve as fatias submersas na solução (Figura 3).

Figura 3. (A) Fatias imersas na solução de sacarose com o peso (saco plástico contendo água) durante

a desidratação osmótica e (B) fatias distribuídas sobre bandejas durante a desidratação por convecção.

Após a desidratação osmótica, com retirada parcial da água e incorporação do açúcar, foi feita a drenagem do xarope e as fatias foram lavadas. Nesse processo, as fatias foram colocadas em uma peneira submetida a jatos de água obtidos com a torneira aberta. Se necessário, após a lavagem com água fria, o fruto pode ser rapi-damente lavado com água levemente aquecida para retirar o xarope que, eventu-almente, fique cristalizado na superfície. A lavagem do cubiu foi feita em água fria e a drenagem pela permanência, por curto tempo, sobre peneiras.

Dependendo do fruto, das quantidades de açúcar incorporado e da água remo-vida, a secagem pode ser feita em temperatura ambiente, em salas com baixa umi-dade relativa, no sol ou em estufas. Os melhores resultados são obtidos usando-se secadores ou estufas com temperaturas de 45 a 65o C. A secagem deve ser feita até que o fruto não esteja mais pegajoso. Para o cubiu, a desidratação convectiva foi iniciada imediatamente após a lavagem e foi conduzida em estufa com circulação forçada de ar e temperatura de 65o C. O tempo de secagem foi de 21 horas. Na Figu-ra 3 também são mostrados os sistemas empregados na desidratação por osmose e na desidratação por convecção.

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Após a secagem, o processamento foi concluído, obtendo-se assim o cubiu de-sidratado. Com fatias de tamanhos diferentes em função da variação dos frutos, para facilitar o acondicionamento, foi feito o corte com auxílio de tesoura. O cubiu seco e em pedaços pequenos foi acondicionado em embalagem de plástico semi-flexivel e armazenado em local fresco e seco.

Tecnologias para secagem do cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal)

Na Figura 4 podem ser visualizadas as aparências das fatias de cubiu antes (A) e após a fermentação natural (B). A fermentação natural em frutos rígidos, ricos em celulose e pectina, se mostra como um pré-tratamento, capaz de favorecer a incor-poração do açúcar e a remoção da água, devido à hidrólise das pectinas ocasiona-da pela ação das enzimas bacterianas e, também, pelas pectinases naturalmente presentes no fruto. A fermentação é empregada para frutos rígidos e com elevada concentração de pectinas, pois além de conferir rigidez ao fruto, as pectinas são substâncias gomosas que dificultam a entrada dos açúcares. Durante a fermenta-ção, ocorrem trocas que se traduzem numa perda da firmeza, parcial desidratação, e numa desejável translucidez do produto final, adquirindo o fruto, através desse processo, uma plasticidade adequada, o que evita o enrugamento durante o pro-cesso de desidratação osmótica (JACKIx, 1988).

Figura 4. Aspecto das fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) antes (A) e após a fermentação natural (B).

O processo de fermentação consiste em colocar o fruto cortado em fatias ou em cubos, submerso em salmoura, cuja concentração deve ser incrementada. A fermentação é um processo utilizado para cascas de citros, cujas concentrações são específicas. Como o sal elimina o sabor amargo da casca, em muitos casos, há a necessidade de prosseguir a fermentação até a concentração de 10%, podendo

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também, aumentar o tempo de fermentação. O tempo e a taxa de incremento de sal na fermentação variam de acordo com o tipo de fruto.

Na Figura 5 são mostrados o aspecto interno (A) e o externo (B) das fatias após a desidratação osmótica pela permanência das fatias durante 24 horas em soluções de sacarose. No final, o fruto deve estar entumecido e firme. A textura deve ser tenra, sem estar rija ou enrugada.

A velocidade do açucaramento representa a quantidade de açúcar incorporada ao fruto por unidade de tempo. Quanto maior a temperatura, maior a velocidade de açucaramento. O aumento da temperatura atua favoravelmente, reduzindo a viscosidade do xarope, porém, temperaturas muito altas ocasionam escurecimen-to devido à caramelização do açúcar. O ideal é manter os recipientes dentro de estufa com temperatura de ± 50° C (JACKIx, 1988).

Figura 5. Aspecto interno (A) e externo (B) das fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) após a desidrata-

ção osmótica.

A superfície do fruto também tem efeito na velocidade de açucaramento e o ideal é que ele seja cortado em pequenos cubos. O xarope deve permanecer líqui-do, ou seja, sem cristais, mesmo no final do processo quando atinge concentrações elevadas e é importante que seja claro e sem sinais de caramelização.

O tempo em cada tratamento e o número de tratamentos pode variar. Quando o fruto é duro, necessita-se de uma concentração menor no primeiro xarope e de tem-po maior para a troca osmótica, para evitar o enrugamento. O número de tratamentos pode ser reduzido quando o fruto é cortado em pequenos cubos. Esse corte pode ser feito em qualquer etapa, mas o ideal é que seja feito antes de iniciar a fermentação. Quanto mais lento o processo, melhor a aparência e o rendimento do produto acabado.

Na Figura 6, pode ser observado que o cubiu não submetido ao branqueamen-to não apresenta indicativo de escurecimento que possa comprometer a aparência do produto final. O não escurecimento pode ser atribuído à rapidez do processo,

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uma vez que, logo após o descasque e corte, as fatias foram imersas na solução hipertônica de sacarose, evitando assim, a participação do oxigênio na atividade das enzimas oxidativas.

(A) Cubiu não branqueado, não fermentado, com desidratação osmótica rápida seguida pela convectiva;

(B) Cubiu branqueado, não fermentado, com desidratação osmótica rápida seguida pela convectiva.

Figura 6. Aspecto do cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado obtido com e sem o branqueamento do

fruto, sem fermentação natural das fatias e seco por desidratação osmo-convectiva.

O branqueamento de vegetais visa inativar as enzimas, tais como a peroxidase e a polifenoloxidase, responsáveis pelo desenvolvimento de cor, sabor e odor inde-sejáveis durante o processamento. O branqueamento também contribui para um cozimento parcial do tecido vegetal, tornando a membrana celular mais permeável à passagem de vapor de água e, consequentemente, favorecendo a secagem pos-terior, com maiores taxas de secagem e melhorando a textura do produto.

Os efeitos da fermentação e do tipo de desidratação osmótica na aparência in-terna e externa do cubiu desidratado são mostrados na Figura 7. A preservação do aspecto natural do fruto foi obtida com o uso da fermentação e da desidratação osmótica lenta. Com o uso da fermentação, obteve-se um produto final com colo-ração amarela e com maior semelhança com a cor do cubiu in natura.

Outro aspecto importante foi a hidrólise da pectina durante a fermentação, que permitiu as trocas de eliminação da água e incorporação do soluto proporcionan-do plasticidade e diminuindo o enrugamento. A remoção da água provoca o enru-gamento dos tecidos, o que é característico nos frutos desidratados. Assim, esses pré-tratamentos são empregados com a finalidade de prevenir este enrugamento.

Por outro lado, a hidrólise da pectina durante a fermentação influi negativa-mente na qualidade nutricional, uma vez que, a importância funcional do cubiu decorre do alto teor de pectina. Assim, sugere-se a necessidade de condução de experimentos para aperfeiçoar o processo e para obter o mínimo de degradação

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da pectina e de enrugamento, pois a qualidade do produto final exige equilíbrio entre os atributos nutricionais e sensoriais.

(A) Cubiu com fermentação – desidratação osmótica rápida; (B) Cubiu com fermentação – desidratação

osmótica lenta; (C) Cubiu sem fermentação – desidratação osmótica rápida; (D) Cubiu sem fermentação

– desidratação osmótica lenta.

Figura 7. Efeito da fermentação e do tipo de desidratação osmótica na aparência interna e externa do

cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado pelo sistema osmo-convectivo.

Após a desidratação osmo-convectiva, o cubiu desidratado apresentou textu-ra firme e maleável. A incorporação do açúcar, além de melhorar a palatabilidade mascarando o sabor ácido contribuiu para um produto com textura não quebra-diça. O brilho mais evidente na superfície interna (Figura 5A) do que na externa (Figura 5B), visualizado logo após a desidratação, indica a presença do açúcar ex-travasado durante a secagem em estufa. Quando em grande quantidade e, em decorrência da estocagem pós-processamento, esse açúcar tende a cristalizar e permanece aderido à superfície.

Na exposição para a comercialização, os frutos desidratados geralmente são acondicionados em embalagens plásticas e mantidos em local limpo, fresco, ventila-do e protegido da umidade. Apesar de a umidade ser baixa e do teor de açúcar ser alto, existe a possibilidade de deterioração, ocasionada por microrganismos que se desenvolvem em produtos com baixa atividade de água. Para uniformizar e reduzir o tamanho, as fatias desidratadas foram cortadas com auxílio de tesoura e acondicio-nadas em embalagens de plástico. Na Figura 8, são exibidas diversas amostras acon-dicionadas de cubiu desidratado em embalagens com a tampa aberta e fechada.

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Figura 8. Aparência de várias amostras de cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado após o corte e o

acondicionamento em embalagens de comercialização.

As diferenças de coloração decorrem de variações nos processos de obtenção, tais como emprego do branqueamento, a rapidez da desidratação osmótica, a con-centração da solução de sacarose, o uso do branqueamento, o tempo de desidrata-ção em estufa e, principalmente, do estádio de maturação do fruto. A presença de sacarose cristalizada na superfície do fruto seco também pode ser visualizada em algumas amostras. Apesar das diferenças na coloração, todas apresentaram textura e sabor característicos do cubiu e de um produto desidratado.

Quanto ao uso, o cubiu desidratado pode ser consumido ao natural ou utilizado em confeitarias, compondo panetones, tortas, bolos, pães especiais, coberturas de sorvetes etc. A incorporação do açúcar ameniza a acidez e o balanço entre o sabor ácido e doce é essencial para a aceitabilidade e consumo do cubiu desidratado. A Figura 9 mostra os aspectos do cubiu in natura e do cubiu após a desidratação osmo-convectiva. Observou-se também que, nessa transferência de sólidos a es-trutura física foi mantida evitando-se o enrugamento e conferindo plasticidade.

Figura 9. Aspecto da fatia de cubiu in natura e do cubiu (Solanum sessiliflorum) após a desidratação

osmo-convectiva.

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CAPíTULO 4

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Conclusões

As estratégias para a remoção da água até atingir um patamar cuja atividade de água é restritiva ao desenvolvimento de microrganismos deteriorados são efi-cazes para manter as características do produto final o mais próximo do natural. A desidratação do cubiu não se restringe apenas à remoção da água e à obtenção de uma matéria seca, pois, mesmo com o apelo nutricional e funcional, sem as carac-terísticas sensoriais preservadas e/ou melhoradas, não se atinge a aceitabilidade indispensável para a viabilidade técnica do processamento do cubiu. As caracte-rísticas sensoriais das fatias de cubiu sofreram modificações durante o processo de fermentação natural, sendo mais acentuadas nas fatias pré-tratadas pelo bran-queamento. Independente da forma de desidratação, os pré-tratamentos contri-buíram para o ganho de sacarose. Os maiores percentuais de aceitação do produto final foram obtidos pelo tratamento prévio com branqueamento e fermentação natural, seguido por desidratação osmótica rápida, isoladamente.

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CAPÍTULO 5

Potencial agronômico e nutricional de clones de ariá (Calathea allouia (Aubl .) Lindl .) avaliados em Manaus, AmazonasChelzea Mara Mota Cabral MARQUES1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2;Jaime Lopes de PAIVA2; Jorge Emídio de Carvalho SOARES2; Hiroshi NODA2;Francisco Manoares MACHADO2; Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA2

1 Bolsista da FAPEAM/PPG/ATU. E-mail: [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected], [email protected], emidio@inpa.

gov.br, [email protected], [email protected], [email protected].

Palavras-chave: Hortaliças não convencionais; Propagação vegetativa; Produtividade; Amazônia.

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Introdução

O ariá é uma espécie que pertence à família Marantaceae, onde o gênero Calla-thea é formado por mais de 100 espécies, algumas delas desenvolvendo-se natu-ralmente no sub-bosque de florestas tropicais, onde as condições do ambiente são caracterizadas por baixos níveis de radiação e solos contendo alto teor de matéria orgânica e adequada disponibilidade de água, na maior parte do ano (JOLY, 2002). Os representantes da família são populares como plantas ornamentais e algumas espécies, como Maranta arundinacea L. e Callathea allouia Lindl., podem ser utiliza-das como alimento (BRAGA, 2002). Na América do Sul, os índios e caboclos usam as folhas frescas das plantas para confeccionar roupas para bebês. A tintura das folhas é usada na medicina tradicional como agente diurético e para tratamento de cistite (LEITE e OLIVEIRA, 2007).

No estado do Amazonas, o ariá cresce bem em solo argiloso friável com boa drenagem e adição de adubação orgânica e química associadas. O sombreamen-to parcial favorece o desenvolvimento adequado da planta. Entretanto, o melhor crescimento ocorre sob pleno sol e fornecimento de água. O rendimento de uma planta, dependendo do clone cultivado pode variar de 0,20 a 2,2 kg (SILVA FILHO et al., 1997). Não há registro na literatura sobre o uso de cultivares de ariá, melho-radas para a exploração comercial. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA mantém desde os anos 1970, um banco de germoplasma com mais de 50 acessos de diversas origens e, parte deles, foi caracterizado e avaliado.

Os agricultores tradicionais da Amazônia são os que ainda cultivam e con-somem as raízes do ariá. Com a introdução de hortaliças exóticas e o avanço da agricultura voltada para o mercado competitivo, gradualmente, estão caindo em desuso, mesmo em áreas onde se pratica a agricultura tradicional (SILVA FILHO et al., 1997). É evidente que o abandono do cultivo das hortaliças não convencio-nais pelos agricultores tradicionais representa um risco muito grande que poderá conduzir a uma redução da variabilidade genética ou, até mesmo, à extinção de espécies. Diante disso, postula-se que a aquisição de conhecimentos mais consis-tentes sobre as espécies olerícolas não convencionais do trópico úmido poderia contribuir para o melhoramento genético de suas características agronômicas e nutricionais, a fim de torná-las mais adequadas ao processo produtivo e consumo humano (NODA, 1994).

É conhecido que as plantas do ariá, em condições muito favoráveis, podem atingir até 1 m de altura e que a parte comestível são as raízes tuberosas constitu-ídas por 13 a 15% de amido, 1,5 a 2,0% de conteúdo protético e 6% de aminoáci-dos. Diante da necessidade urgente de avançar nos estudos sobre a variabilidade

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CAPíTULO 5

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genética desses clones, torna-se viável o aprofundamento nos conhecimentos so-bre o potencial agronômico e nutricional. Dessa forma, o agricultor familiar poderá dispor de novas opções de cultivo, com materiais genéticos adaptados, ampliando o leque de produtos disponíveis para o mercado consumidor do estado do Ama-zonas. Em decorrência dessa necessidade foram realizadas pesquisas para avaliar o potencial produtivo e nutricional de 20 clones de ariá do Banco de Germoplasma do INPA, originários de diferentes localidades da Amazônia.

Avaliação de clones de ariá do banco de germoplasma do INPA

Foi conduzido um estudo experimental na Estação Experimental de Hortaliças – EEH, do INPA, localizada no quilômetro 14 da rodovia AM-010, em Manaus, nos anos de 2009 e 2010. O solo dessa área é do tipo Argissolo Vermelho-Amarelo álico, textura arenosa, de baixa fertilidade natural. O clima local é caracterizado como “Afi” no sistema de Köppen, registrando 2.450 mm de chuva, com uma estação seca pronunciada, no período de julho a setembro.

Um mês antes do início da pesquisa, foi feita a coleta de amostras de solo da área experimental seguindo as recomendações de Santos et al. (2005). Procedeu-se, também, uma calagem, aplicando-se 2 ton ha-1 de calcário dolomítico que foi incorporado ao solo após o preparo mecanizado por aração e gradagem. As aná-lises do solo local apresentaram os seguintes resultados: pH de 5,14; C de 10,91 g kg-1; matéria orgânica de 18,79 g kg-1; N de 0,44 g kg-1; P de 100,04 mg kg-1; K de 10,01 mg kg-1; Ca de 1,06 cmolc kg-1; Mg de cmolc kg-1; Fe de 198 mg kg-1; Mn de 6,4 mg kg-1 e Zn de 5,3 mg kg-1.

Para instalação do ensaio foram construídas leiras com 0,5 m de largura e 0,2 m de altura, onde as covas foram abertas em um espaçamento de 0,5 m entre as covas e 1 m entre as fileiras. As covas foram adubadas com 3 kg de composto orgâ-nico, 50 g de superfosfato triplo e 30 g de cloreto de potássio.

O germoplasma utilizado no experimento consistiu de 20 clones de ariá, sendo dezesseis originários do Estado do Amazonas, três de Minas Gerais e um do Pará (Tabela 1). O plantio foi realizado em dezembro de 2009. Os rizomas de cada clone foram inspecionados, visualmente, para evitar o uso de propágulos com defeitos provocados por pragas ou doenças. Dois rizomas de cada clone foram colocados nas covas para germinar. A Figura 1A mostra um exemplo da morfologia típica de um rizoma de ariá.

No início da imersão das folhas, foi feita uma adubação de cobertura com 10 g de ureia por planta, repetindo-se essa prática a cada 30 dias, até o sexto mês do de-

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senvolvimento das plantas. Durante o ciclo vegetativo das plantas, foram aplicadas práticas fitotécnicas relacionadas com a limpeza, irrigação e controle fitossanitário.

Tabela 1. Número de registro, local de origem e identificação dos tratamentos dos 20 clones de ariá (Calathea allouia) avaliados experimentalmente em Manaus, AM.

Clones Local de origem Tratamento

2082 Manaus, AM T1

2216 Atalaia do Norte, AM T2

2400 Pauini, AM T3

IH-6 Manaus, AM T4

2083 Manaus, AM T5

2217 Manaus, AM T6

2070 Coari, AM T7

2190 Benjamin Constant, AM T8

2221 Manaus, AM T9

2220 Manaus, AM T10

2395 Manaus, AM T11

2398 Benjamin Constant, AM T12

2396 Iranduba, AM T13

2369 Pauini, AM T14

2365 Gurupá, PA T15

2389 Uberlândia, MG T16

IH-3 Manaus, AM T17

2219 Manaus, AM T18

2387 Uberlândia, MG T19

2385 Uberlândia, MG T20

A colheita foi realizada no mês de julho de 2010, sete meses após o plantio, bem antes do previsto que seria de 10 a 12 meses após o plantio. Aos sete meses, as plantas de alguns clones atingiram a fase fisiológica ideal do desenvolvimento de suas raízes tuberosas para o consumo, estádio em que as folhas murcham e secam (Figura 1B).

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As seguintes características das plantas foram avaliadas em campo: Emergên-cia das Plântulas (EMP); Número de Folhas por Touceira (NF); Comprimento (CF) e Largura das Folhas (LF); Diâmetro da Copa (DC) Formada pela Touceira; Altura da Touceira (AT); Forma da Raiz Tuberosa (FRT); Número de Raízes Tuberosas da Tou-ceira-1 (NRT); Número de Rizomas/Touceira (NR); Massa Média de Raízes Tuberosas da Touceira-1 (MRT) e Massa Média Estimada dos Rizomas/Touceira-1 (MR). Com ex-ceção da emergência das plântulas, as outras variáveis foram avaliadas aos 90 dias após a emergência das plântulas.

Figura 1. Fenótipo de rizomas de ariá (Callathea allouia, Marantaceae) (A) e características naturais de

uma planta de ariá, indicando o ponto de colheita das raízes (B).

No Laboratório de Genética do INPA, de cada clone, foram coletadas amostras das raízes tuberosas para determinar a composição centesimal (umidade, cinzas, proteínas, lipídios, carboidratos e energia) e mineral (potássio, zinco, manganês, ferro, magnésio, cobre, sódio e cálcio). As análises químicas das raízes foram reali-zadas no Laboratório de Nutrição e Físico-Química de Alimentos da Coordenação de Sociedade Ambiente e Saúde – CSAS/INPA. O procedimento para o preparo das amostras de raízes do ariá que foram analisadas ocorreu da seguinte forma: foram selecionadas raízes inteiras e sem defeitos. Em seguida, estas foram lavadas em água corrente, cortadas em pequenos discos para facilitar a secagem e pesadas em balança eletrônica com capacidade para 1 kg. Posteriormente, foram secadas em estufa a uma temperatura de 52o C e trituradas em moinho manual, formando uma farinha com pequena granulometria.

As determinações dos teores de minerais foram realizadas em triplicatas pela técnica de espectrometria de absorção atômica, preconizada pelo Instituto Adol-fo Lutz (IAL, 2005) do manual da Varian (2000). A digestão das amostras foi rea-lizada via micro-ondas no digestor MARS – xpress marca CEM Corporation, MD

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– 2591, na mineralização da matéria orgânica com a utilização de ácido nítrico concentrado, seguido do resfriamento e diluição com água deionizada e leitura. A leitura foi realizada diretamente nas soluções diluídas em espectrofotômetro de absorção atômica – Spectra AA, modelo 220 FS (VARIAN, 2000), com lâmpa-das específicas conforme o manual do fabricante. Os elementos minerais quan-tificados foram: Ca, K, Na, Mg, Fe, Zn, Mn, Cu. Para o controle das análises desses elementos tiveram como material de referência o certificado Peach leaves (NIST-SEM 1547). Para a determinação da composição centesimal das amostras foram seguidas as normas da AOAC (1995).

Para a análise das amostras adotou-se um delineamento experimental de blo-cos inteiramente casualizados, com 20 tratamentos (os clones de ariá), três repeti-ções e parcelas constituídas por cinco plantas (touceiras) de cada clone. Os dados foram submetidos a análises de variância e as diferenças existentes entre médias foram complementadas pelo teste de comparação múltipla de Scott-Knott, em ní-vel de 5% de probabilidade, usando os recursos de informática do programa GE-NES (CRUZ, 2001).

Caracterização de clones de ariá (Calathea allouia) preservados

no banco de germoplasma do INPA

Com exceção das variáveis do número de raízes tuberosas e massa de raízes tuberosas, as análises estatísticas detectaram diferenças significativas entre os clo-nes de ariá nos caracteres morfológicos e químicos estudados. Os coeficientes de variação estimados para os caracteres da composição centesimal foram os mais baixos (2,07 a 13,14%). Para os caracteres morfológicos e químicos oscilaram na faixa de 7,84 a 34,11%.

Ao analisar o comportamento da parte vegetativa das plantas nos clones de ariá avaliados (Tabela 2), observou-se que a emergência das plântulas, altura média da touceira, o número médio de folhas, o comprimento da folha, a largura da folha, o diâmetro da copa variaram, respectivamente, de 17,9 a 32,7, 32,1 a 73,5 cm, 10,3 a 34,9, 17,0 a 39,7 cm, 6,3 a 12,8 cm e 33,4 a 73,4 cm, indicando a presença de va-riabilidade genética para estas características. A Figura 3 mostra detalhes de uma touceira formada por plantas de ariá com uma vistosa inflorescência que evidencia o seu potencial para fins ornamentais.

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Tabela 2. Valores médios de caracteres morfológicos quantitativos avaliados em clones de ariá (Calathea allouia). Manaus, INPA, 2011.*1

Clones EMP(dias) NF CF

(cm)LF

(cm)DC

(cm)AT

(cm) NR NRT MR(ton. ha-1)

MRT(ton. ha-1)

1 30,00 a 20,03 b 28,20 b 9,80 a 56,20 a 46,13 b 21,86 a 21,93 a 24,00 a 12,00 a

2 29,28 a 17,40 b 21,96 c 6,33 b 44,88 b 40,40 b 21,40 a 17,33 a 25,33 a 9,33 a

3 32,10 a 25,67 a 29,48 b 11,24 a 65,77 a 54,46 a 14,76 b 12,36 a 18,66 b 7,33 a

4 24,48 b 33,45 a 39,73 a 12,83 a 72,41 a 73,46 a 18,65 a 23,20 a 29,33 a 10,00 a

5 20,81 c 29,48 a 29,13 a 9,85 a 60,00 a 58,66 a 20,53 a 34,83 a 28,66 a 16,00 a

6 28,22 a 29,97 a 33,95 a 11,66 a 73,45 a 65,86 a 24,70 a 28,00 a 33,33 a 12,66 a

7 28,83 a 30,02 a 34,86 a 11,28 a 68,00 a 63,46 a 17,96 a 17,68 a 24,66 a 6,00 a

8 29,52 a 24,41 a 29,73 b 8,77 b 53,11 a 47,66 b 21,36 a 16,88 a 23,33 a 8,66 a

9 23,26 a 23,87 a 30,63 a 10,22 a 55,22 a 49,60 b 19,03 a 20,80 a 22,66 a 9,33 a

10 32,69 a 34,95 a 37,60 a 12,47 a 73,00 a 65,66 a 19.73 a 16,43 a 28,00 a 6,00 a

11 20,25 c 21,21 b 28,26 b 9,76 a 58,22 a 62,33 a 16,03 b 21,83 a 19,33 b 10,66 a

12 27,45 a 20,64 b 26,15 c 7,77 b 59,88 a 47,73 b 17,20 b 18,60 a 20,00 a 10,00 a

13 30,44 a 25,50 a 31,73 b 11,88 a 66,30 a 62,86 a 16,00 b 30,00 a 22,00 a 12,66 a

14 22,52 b 15,87 b 19,00 c 7,10 b 33,83 b 32,66 b 14,73 b 24,63 a 12,66 c 10,00 a

15 17,92 c 18,56 b 23,60 c 7,07 b 46,31 b 40,80 b 14,76 b 28,87 a 22,00 12,66 a

16 26,97 a 18,52 b 25,01 b 8,41 b 42,38 b 40,73 b 16,12 b 16,29 a 17,33 b 8,00 a

17 31,35 a 29,94 a 31,11 b 10,67 a 66,22 a 61,93 a 21,93 a 23,46 a 26,66 a 12,00 a

18 23,56 b 23,71 a 30,83 b 9,66 a 41,44 b 54,73 a 18,43 a 24,32 a 28,00 a 8,66 a

19 20,18 c 10,34 b 16,98 c 6,66 b 33,44 b 32,06 b 9,65 b 19,93 a 6,66 c 5,33 a

20 24,46 b 24,77 a 24,95 c 9,72 a 58,26 a 46,46 14,70 b 27,81 a 13,33 c 9,33 a

Média 26,65 23,91 25,08 9,65 56,41 52,38 17,97 22,20 22,77 9,83

CV (%) 7,84 26,35 15,49 20,56 18,48 14,94 19,30 33,33 23,06 34,11

*1 Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%

de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.*2 EMP – Emergência das Plântulas; NF – Número de Folhas; CF – Comprimento das Folhas; LF – Largura das

Folhas; DC – Diâmetro da Copa; AT – Altura da Touceira; NR – Número de Rizomas por Touceira; NRT – Número

de Raízes Tuberosas por Touceira; MR – Massa Média de Rizomas; MRT – Massa Média das Raízes Tuberosas.

Em número médio de raízes tuberosas, a variação foi de 12 a 35 raízes de touceira-1. O clone procedente de Pauini, AM, destacou-se entre os demais. Este resultado é inte-ressante porque indica a possibilidade de trabalhar este clone em futuras pesquisas voltadas ao melhoramento genético do ariá nas condições ambientais da Amazônia.

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A variável de massa estimada das raízes tuberosas dos clones embora não tenha apresentado diferença significativa, variou de 6 a 16 ton ha-1. O clone 2083 procedente de Uberlândia, MG foi superior em rendimento em relação aos outros clones, em até 167%. Em pesquisas realizadas por Martin e Cabanillas (1976) foram informadas que clones de ariá atingiram produtividade de raízes tuberosas entre 2 e 12 ton ha-1. Fican-do claro que alguns clones estudados por estes pesquisadores apresentaram valores muito abaixo da média e/ou semelhantes aos apresentados nesta pesquisa recente.

Com relação às variáveis da parte subterrânea das plantas, o número médio de rizomas mostrou-se muito produtivo. Em média, cada touceira produziu de 15 a 25 variáveis. Destacou-se como mais produtivo o clone 2217 procedente de Manaus, AM. Esta procedência apresentou potencialidade para plantios em grandes áreas.

Figura 3. Plantas de ariá (Callathea allouia – Marantaceae) apresentando floração em pêndulos ascen-

dentes, evidenciando um potencial de aproveitamento para fins ornamentais.

A boa produtividade de raízes tuberosas é refletida pelo bom preparo do solo, indispensável à cultura do ariá, uma vez que da mesma planta são exploradas prin-cipalmente as raízes tuberosas. O adequado preparo do solo facilita a aeração e drenagem, reduzindo os riscos de podridão radicular. Facilita, também, a penetra-ção radicular, permitindo assim a exploração de um maior volume de solo e, conse-quentemente, aumentando as chances de absorção de nutrientes por intercepta-

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ção radicular. Na Figura 4 está ilustrada uma touceira de um clone de ariá exibindo suas raízes tuberosas comestíveis.

Figura 4. Plantas de ariá (Callathea allouia – Marantaceae) exibindo produção elevada de raízes comestíveis.

Com base nos resultados da composição centesimal das raízes tuberosas dos 20 clones (Tabela 3), observa-se que em 100 g de massa integral a umidade, proteí-na, lipídios, cinzas, carboidratos e energia (valor calórico) variam, respectivamente, de 81,65 a 88,03%, 0,53 a 1,07%; 0,53 a 1,07%; cinzas 0,65 a 1,12%; 10,06 a 15,58%; e 47,96 a 75,25 kcal. O teor de umidade (Tabela 5) das raízes dos clones de ariá é mais alto do que outras espécies cujas partes comestíveis são as raízes. Paiva (1993) informou teores de umidade para cultivares de taioba e feijão-macuco em torno de 62,53 e 66,10%, respectivamente. Padonou et al. (2005), Grizoto e Menezes (2003), Borges et al. (2002) relataram teores de umidade em matéria integral em raízes de mandioca mansa variando de 57,6 a 80%.

A concentração de proteína encontrada nas raízes tuberosas dos clones de ariá oscilou de 0,53 a 1,07% (Tabela 3). Esses valores são considerados baixos. Entretan-to, se comparados com os apresentados por Quadros et al. (2009) e Gomes (2010), obtidos com cultivares de batata portuguesa e batata doce essa diferença parece não ser tão representativa (2,00% e 2,11%). Villachica (1996) apresentou resultados de análises da matéria seca de raízes tuberosas em clones de ariá com 6,6% de pro-

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teína. Este conteúdo proteico é considerado baixo, mas os aminoácidos essenciais presentes (lisina e metionina) são importantes na dieta alimentar humana.

Tabela 3. Determinações da composição centesimal das raízes tuberosas de 20 clo-nes de ariá (Calathea allouia – Marantaceae) cultivados em Manaus, AM.*1

Clones Unidade Proteina(%)

Lipídios(%)

Cinzas(%)

Carboidratos(%)

Energia(kcal. 100g-1)

1 85,66 a 0,75 a 0,74 c 0,76 c 12,06 b 58,00 b

2 88,03 a 0,54 b 0,54 d 0,65 c 10,22 b 47,96 b

3 82,19 a 0,88 a 0,88 b 0,95 b 15,08 a 71,83 a

4 81,65 b 0,91 a 0,91 b 0,93 b 15,58 a 74,17 a

5 84,11 b 0,60 b 0,60 d 0,79 c 13,86 a 63,36 b

6 87,92 a 0,64 b 0,64 d 0,71 c 10,06 b 48,66 b

7 81,60 b 1,07 a 1,07 a 0,92 b 15,32 a 75,25 a

8 87,26 a 0,54 b 0,54 d 0,71 c 10,92 b 50,81 b

9 84,68 a 0,72 b 0,72 c 0,68 c 13,18 a 62,09 b

10 85,43 a 0,78 a 0,78 c 0,77 c 12,22 b 59,11 b

11 83,29 a 0,93 a 0,93 b 0,81 c 14,03 a 68,23 a

12 86,81 a 0,86 a 0,86 b 0,80 c 10,64 b 53,83 b

13 86,59 a 0,70 b 0,70 c 0,75 c 11,24 b 54,12 b

14 81,80 b 0,89 a 0,89 b 0,88 b 15,51 a 73,73 a

15 85,88 a 0,70 b 0,70 c 0,76 c 11,94 b 56,91 b

16 86,13 a 0,53 b 0,53 d 0,87 b 11,92 b 54,61 b

17 84,50 a 0,65 b 0,76 c 0,95 b 13,12 a 61,92 b

18 82,20 b 0,80 a 0,81 b 1,02 a 15,14 a 71,17 a

19 83,11 b 0,87 a 1,00 a 1,12 a 13,88 a 68,10 a

20 82,40 b 0,83 a 0,98 a 1,08 a 14,68 a 70,98 a

Média 84,56 0,75 0,77 0,84 13,03 62,24

CV (%) 2,07 13,14 10,79 11,08 11,46 11,33

*1 Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%

de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

Quanto ao conteúdo de lipídios (Tabela 3), o maior percentual dessa substância (1,07%) foi encontrado nas raízes tuberosas do clone 2070, originário de Coari, AM. Esse valor é superior ao relatado por Aguiar (1996) para o ariá que foi de 0,30%.

Os teores de carboidrato encontrados nas raízes dos clones de ariá, neste estu-do, variaram de 10,06 a 15,58 (Tabela 3). O clone de ariá que apresentou teores de carboidrato mais elevado foi o IH-6, oriundo de Manaus, AM, com valor de 15,58%.

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Este valor é considerado baixo para uma raiz tuberosa. Talvez por isso, as plantas de ariá produzem poucas raízes se for considerada a vigorosa parte vegetativa da planta. Para Carvalho (2009), raízes menos calórica em função da presença de car-boidratos na fase inicial do desenvolvimento das plantas, influenciam o número de raízes formadas. Uma vez estabelecido o número de raízes de reserva, essas vão aumentando de tamanho, não havendo, porém, o surgimento de novas raízes. Por outro lado, considerando os carboidratos como fonte de alimento energético estima-se que cada grama de carboidrato fornece 4 calorias. Quando consumimos quantidades suficientes, os carboidratos poupam a proteína na função energética, mantendo-a em suas funções construtoras dos tecidos (PACHECO, 2006).

As raízes tuberosas de ariá, neste estudo, mostraram-se bastante energéticas, visto que apresentaram teores médios de energia (valor calórico) de 62,24 kcal em 100 g de raízes tuberosas ingeridas. Villachica (1996) descreveu a composição quí-mica do ariá com valor energético de 40 kcal.

Na análise da composição química das raízes dos clones de ariá (Tabela 4), o potássio destacou-se entre os outros macronutrientes avaliados. A amplitude de variação deste mineral foi de 167,70 a 352,83 mg 100g-1. O potássio é um elemento largamente distribuído nos alimentos, porque é um dos principais constituintes es-senciais das células vegetais. Nos seres humanos, ele é responsável, dentre outras funções, pela contratilidade do músculo cardíaco humano, além de fazer a síntese proteica e o metabolismo dos carboidratos (PACHECO, 2006).

As raízes tuberosas de ariá mostraram uma variação de 119,66 a 183,19 μg.100g-1 nos seus teores de Zn. Os clones com níveis mais altos de Zn foram o 2082 e 2387 oriundos de Manaus, AM e Uberlândia, MG, respectivamente. Esses valores são in-feriores aos encontrados por Ferreira et al. (2002) em batatas (portuguesa e doce), macaxeira, beterraba, cenoura e inhame. Essas espécies podem atingir até 650 μg 100g-1 desse elemento. No organismo humano, o Zn tem função antioxidante atu-ando, também, no crescimento e replicação celular e cicatrização (Pacheco 2006).

Dentre os micronutrientes determinados nas raízes de ariá, o Mn foi encontrado em menor quantidade. Os maiores conteúdos desse elemento foram registrados nos clones 2082 (20,67 μg 100g-1), 2216 (15,49 μg 100g-1) e 2400 (20,01 μg 100g-1). Geralmente, frutas e hortaliças são boas fontes de manganês, entretanto, a sua pre-sença nesses alimentos, depende da disponibilidade desse mineral no solo. Esse elemento é essencial para o metabolismo do colesterol, crescimento corpóreo e reprodução (PACHECO, 2006).

Entre os micronutrientes analisados nos clones de ariá, o Fe foi o que ocorreu em maior concentração, com uma amplitude de variação de 649,58 a 2.383,14 μg 100g-1. O clone 2082, oriundo de Manaus, AM, destacou-se como mais rico em fer-

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ro. Esse valor é superior ao encontrado em batata inglesa (800 μg.100g-1), comenta-do pelo IBGE (1999). Pacheco (2006) comentou que a maior parte do ferro corporal está ligada à hemoglobina no sangue ou à mioglobina dos músculos, daí a impor-tância desse mineral na alimentação humana.

Tabela 4. Teores médios de macro e micronutrientes em 100 g de raízes tuberosas frescas de 20 clones de ariá (Calathea allouia – Marantaceae), cultivadas em Ma-naus, AM.*1

ClonesZinco Cobre Ferro Manganês Potássio Sódio Cálcio Magnésio

mg. 100g-1 mg. 100g-1

1 119,66 b 421,28 b 2383,14 a 20,67 a 264,67 b 0,01 e 18,61 b 1,32 c

2 30,55 b 238,32 c 1806,02 b 15,49 b 280,40 b 0,01 e 7,94 e 1,48 c

3 40,67 b 366,49 b 1149,23 c 20,01 a 342,52 a 0,01 e 10,81 d 8,67 b

4 156,19 a 167,72 c 925,78 d 0,01 c 345,59 a 2,39 b 13,57 c 10,09 a

5 153,37 a 245,66 c 1137,34 c 0,01 c 298,66 b 0,01 e 3,80 f 10,69 a

6 154,06 a 220,33 c 1358,09 c 0,01 c 285,24 b 0,01 e 7,97 e 9,48 b

7 164,84 a 341,52 b 1824,86 b 0,01 c 352,83 a 0,01 e 5,53 f 12,23 a

8 107,24 b 334,53 b 1164,61 c 0,01 c 263,74 b 1,96 c 8,19 e 9,14 b

9 147,63 a 388,67 b 823,40 d 0,01 c 282,41 b 0,01 e 8,18 e 10,40 a

10 122,75 b 392,53 b 1732,10 b 0,01 c 284,52 b 1,08 d 11,17 d 10,18 a

11 141,28 b 389,33 b 1476,08 b 0,01 c 309,58 a 0,01 e 6,86 e 9,61 b

12 130,80 b 406,95 b 976,86 d 0,01 c 290,62 b 0,01 e 4,53 f 8,64 b

13 154,56 a 359,65 b 1641,61 b 0,01 c 267,43 b 0,01 e 12,75 c 9,52 b

14 164,38 a 579,18 a 887,60 d 0,01 c 320,00 a 0,01 e 8,03 e 8,72 b

15 142,08 b 528,49 a 827,14 d 0,01 c 167,70 d 0,01 e 14,79 c 9,22 b

16 126,16 b 514,29 a 815,44 d 0,01 c 180,62 d 0,91 d 11,97 c 8,33 b

17 158,09 a 500,64 a 1314,35 c 0,01 c 198,36 d 3,74 a 13,29 c 9,35 b

18 170,52 a 235,34 c 649,58 d 0,01 c 216,51 c 0,01 e 22,97 a 11,29 a

19 183,19 a 197,,80 c 1676,76 b 0,01 c 246,57 c 0,01 e 14,35 c 11,69 a

20 182,57 a 197,57 c 1672,36 b 0,01 c 250,09 c 0,01 e 14,68 c 11,00 a

Média 147,52 351,31 1312,11 2,80 272,40 0,49 10,99 9,05

CV (%) 11,79 16,48 12,10 14,69 12,26 25,32 11,65 13,07

*1 Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%

de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.

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CAPíTULO 5

83

Dentre os minerais mais consumidos pelos animais, o sódio se destaca. En-tretanto, o conteúdo desse mineral nestes clones estudados foi baixo. Os valores médios desse mineral variaram de 0,09 a 3,47 mg 100g-1 (Tabela 4). O clone proce-dente de Coari, AM, foi o que se destacou, com maior concentração desse mineral. Esses valores são muito baixos quando comparados com outros vegetais que con-centram teores acima de 1.000 mg (amêndoas, bananas, favas, entre outras).

O conteúdo de Ca presente nas raízes tuberosas nos clones de ariá variou de 3,80 a 22,97 mg 100g-1. O clone 2070 procedente de Coari, AM foi considerada a fonte mais rica desse mineral entre os 20 clones pesquisados. Este valor é superior do que os mencionados para batata inglesa (6 mg 100g-1) e batata doce (31 mg 100g-1) pelo IBGE (1999). Pacheco (2006) afirma que o cálcio é o nutriente essencial para a saúde dos ossos, sendo necessário durante toda a vida para manter a massa óssea forte e saudável. O ariá, a partir dos resultados obtidos, pode ser indicado como boa fonte de cálcio na alimentação humana (MARTIN e CABANILLAS, 1976).

Por outro lado, a concentração dos nutrientes nos alimentos é influenciada pela concentração do mineral no solo, inclusive minerais, pH e pela compactação e ae-ração do solo etc. (SILVA FILHO, 2009). Em alguns casos, são fatores que favorecem, enquanto em outros são fatores que reduzem os teores de nutrientes específicos (MALAVOLTA et al., 1997). Em estudo realizado por Revilla (2001), dependendo das condições de cultivo, os rendimentos de raízes tuberosas de ariá variam entre 100 e 200 g por planta e as estimativas de rendimentos são de 2 a 40 ton.ha-1.

Conclusões

Foi detectada ampla variação fenotípica nos 20 clones de ariá na forma, tama-nho, número e massa das raízes. O clone que produziu maior número de raízes (35 raízes touceira-1) e se destacou com maior produtividade (16 ton ha-1) foi o 2083, originário de Manaus, AM. Este clone será avaliado em sistemas de cultivo, multiplicados e distribuídos aos agricultores familiares do estado do Amazonas. O conteúdo da composição centesimal das raízes tuberosas discriminou bem os clones de ariá. A divergência entre teores de carboidrato foi evidente. Os clones de ariá são menos calóricos do que a batata inglesa, batata doce e cará roxo. Portanto, uma boa opção para uma dieta alimentar com baixo teor calórico. Os minerais que ocorreram em maior quantidade nas raízes dos clones de ariá foram o potássio, cálcio e ferro. Com maiores concentrações desses minerais se desta-caram os clones 2070, procedente de Coari, AM; e 2219 e 2082, procedentes de Manaus, AM.

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CAPÍTULO 6

Couve-brócolis: uma nova opção para a olericultura na Amazônia CentralAriel Dotto BLIND1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2; Hiroshi NODA2

1 Doutorando do curso de Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I,

Manaus, AM. E-mail: [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected]; [email protected].

Palavras-chave: Hortaliças; Brassica oleracea var. italica; Seleção de cultivares; Amazônia.

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Introdução

As brassicáceas, em geral cultivadas como plantas alimentícias, têm importân-cia proeminente na olericultura brasileira. No estado do Amazonas, o repolho e a couve-manteiga destacam-se pela maior relevância econômica associada à prefe-rência e facilidade de cultivo pelos olericultores. A couve-brócolis está classificada entre as dez espécies olerícolas mais consumidas no Brasil. Esta hortaliça produz inflorescências comestíveis com grande expressão econômica em várias regiões do país. Para Nielsen (1997), o couve-brócolis possui elevado valor nutricional e é eficiente na absorção de boro, elemento essencial para o homem por atuar no metabolismo de nutrientes e de substratos energéticos, no funcionamento do cé-rebro e no desempenho psicomotor e cognitivo. Em adicional aos seus benefícios nutricionais, o couve-brócolis também fornece substâncias nutricionais antioxi-dantes tais como: as vitaminas C e E, betacaroteno, outros elementos minerais (Ca e Mg), aminoácidos e consideráveis quantidades de flavonoides, que são metabóli-tos considerados, pelo conhecimento científico atual, indispensáveis para uma boa saúde (GALAN et al., 2004).

No Amazonas, a couve-brócolis ainda é pouco consumida, possivelmente por ser uma hortaliça mais cultivada na região subtropical ou devido ao hábito alimen-tar das populações tradicionais que, muitas vezes, a desconhecem e ao custo da importação de outras regiões do País, o que encarece sua aquisição quando ofer-tada nas feiras e mercados. Nos últimos anos, esta espécie ganhou espaço na culi-nária local, sendo oferecida como guarnição de alguns pratos servidos em restau-rantes de Manaus, especialmente preparado como “arroz com brócolis”. Todavia, é imprescindível que a cultura da couve-brócolis e o seu consumo se torne mais popular na região, pelos seus valores nutricionais, seleção de cultivares mais adap-tadas ao ambiente tropical e possibilidade de consumo de formas variadas, como em sucos verdes, saladas, empadões, refogados etc.

Recentemente, as pesquisas participativas em campo evidenciaram que os ole-ricultores de alguns municípios do Amazonas estão se interessando pelo cultivo da couve-brócolis, incentivados pelos resultados obtidos com o manejo da cultura, favorecendo a adaptabilidade e desempenho produtivo das cultivares da espécie do tipo ramoso: Santana e Piracicaba, especialmente no município de Presidente Figueiredo, AM (Figura 1A-B). Essas cultivares que mostraram adaptação às condi-ções locais foram melhoradas geneticamente em Santana, BA e Piracicaba, SP, e são tolerantes a temperaturas elevadas.

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Figura 1. Aspecto das plantas de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) apresentando inflorescên-

cias comerciais (A, B), após o cultivo em Presidente Figueiredo, AM (foto e cultivo: A. D. Blind).

O recente estabelecimento da Região Metropolitana de Manaus, que envolve vários municípios em seu entorno, desperta a preocupação científica pela busca de alternativas para diversificar a produção de hortaliças com alta aceitação em Manaus, especialmente aquelas cuja comercialização é dependente quase que exclusivamente da importação dos produtos de outras regiões. Com o desenvol-vimento de sistemas de cultivo tradicionais e sustentáveis para a comercialização no Amazonas, abre-se uma importante oportunidade para ampliar o número de espécies de hortaliças com alto valor econômico para gerar emprego e contribuir para o aumento da renda dos agricultores familiares da região.

Aspectos importantes sobre a couve-brócolis (Brassica oleracea

var . italica)

Botânica e cultivares de couve-brócolis

A couve-brócolis (Brassica oleraceae var. italica L.) é uma espécie morfologica-mente semelhante à couve-flor, diferenciando-se dela por produzir uma inflores-cência central de coloração verde, compacta (tipo cabeça) ou então inflorescências laterais bem menores e menos compactas, por isso, denominadas ramoso. As inflo-rescências são formadas na extremidade de brotações por pequenos botões florais fechados em pedúnculos tenros, considerado assim o estádio ideal para colheita, consumo e/ou beneficiamento.

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No centro-sul do Brasil, concentra-se quase toda a produção desta hortaliça, predominando cultivares do tipo ramoso tais como: ‘Santana’, ‘Florida’, ‘Condor’, ‘Pi-racicaba-precoce’, ‘Brasília’ e ‘Piracicaba’. Em diversas regiões do Brasil, a possibili-dade de exploração comercial da espécie devido à sua tolerância ou resistência às oscilações climáticas favorece o cultivo durante as estações do ano.

As cultivares do grupo ramoso, em geral, primeiramente produzem uma inflo-rescência central bem desenvolvida e numerosas inflorescências laterais, assegu-rando várias colheitas, de acordo com o manejo da cultura. As plantas são vigoro-sas, possuem porte ereto, botões florais verde-intenso com pedúnculos mais finos e alongados.

As principais cultivares, do tipo inflorescência única ou conhecidas como ninja, são: ‘Baron’, ‘Hana-Midori’, ‘Domador’, ‘Marathon’ e ‘Legacy’, cujo cultivo ocorre em regiões restritas de clima predominantemente frio, produzidas em escala comer-cial nos meses de abril a outubro (DINIZ et al., 2004). As cultivares de brócolis de inflorescência única têm importância crescente no mercado brasileiro, por serem adequadas ao congelamento e relativamente resistentes na conservação em bal-cões frigoríficos. Em geral, as boas cultivares devem apresentar características de interesse econômico, associada à boa produtividade, qualidade e viabilidade da implantação da cultura em escala comercial nas mais diversas regiões agroclimá-ticas do país.

Exigências de clima, solo e nutrição mineral do couve-brócolis

O crescimento do couve-brócolis é limitado quando as temperaturas médias excedem 30° C por períodos prolongados. Essa temperatura causa injúrias no de-senvolvimento da planta, no processo de iniciação floral ou na formação de cabeça (BJöRKMAN e PEARSON, 1998; TREVISAN et al., 2003), que é o termo usado para a evolução das inflorescências na parte terminal das ramas.

Por meio do melhoramento genético e da introdução de híbridos e variedades de brócolis do tipo ramoso resistentes ao calor, tornou-se possível viabilizar o seu cultivo durante o ano todo, em várias regiões do território brasileiro (GOTO e COS-TA, 1999; TREVISAN et al., 2003; BLIND et al., 2010). A espécie tolera bem oscilações na temperatura, preferindo clima ameno, com médias em torno de 22° C, para as cultivares do tipo ramoso e 18° C para as cultivares que produzem inflorescências únicas (BJöRKMAN e PEARSON, 1998; TREVISAN et al., 2003; MELO, 2007).

Os resultados de pesquisas obtidos por Tavares (2000) revelaram que o couve-brócolis pode iniciar o desenvolvimento dos seus primórdios florais em tempe-

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raturas relativamente altas. Contudo, o mantimento continuado de temperaturas elevadas por períodos prolongados aumenta as desordens fisiológicas na planta. A cultivar ‘Calabrês’ de inflorescência única, plantada no município de Presidente Figueiredo, AM, no mês de dezembro de 2010, apresentou produção inviável para a comercialização. Embora tenha sido observado que as plantas tivessem apresen-tado bom crescimento vegetativo e ausência de problemas fitossanitários, a inflo-rescência única e central apresentou dimorfismo na granulação dos botões florais e diferenciação nos botões em minúsculas folhas e descoloração. Para Melo e Gior-dano (1995) e Melo (2007), no Brasil, um dos principais problemas para o cultivo de couve-brócolis de inflorescência única, é a falta de cultivares e/ou híbridos adapta-dos ao clima tropical.

Na concepção de Trevisan et al. (2003) e Melo (2007) as principais regiões pro-dutoras de couve-brócolis do tipo ramoso no Brasil, são o nordeste e o centro-sul, concentrando as maiores áreas de produção da cultura nas regiões serranas dos es-tados de Pernambuco, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. O cultivo de couve-bró-colis de inflorescência única é mais significativo na região Sudeste do Brasil, sendo favorecido nas regiões com microclimas com temperaturas mais amenas (VARGAS et al., 2002; MELO, 2007). Filgueira (1982) observou que o couve-brócolis se com-porta como as outras variedades botânicas da espécie Brassica oleracea, com as quais é estreitamente aparentado, quanto às condições agroclimáticas e época de cultivo. Desse modo, é possível concluir que o fator físico que mais compromete a expansão deste cultivo na região tropical é a temperatura elevada verificada em quase todas as estações do ano.

Considerando-se as características do solo mais favoráveis para o cultivo da couve-brócolis, o cultivo desta olerícola alcança suas maiores produções em so-los argilo-arenosos, com boa retenção de umidade e bem drenados (FILGUEIRA, 1982). Na concepção de Alves et al. (2006) e Kano et al. (2008), considerando a disponibilidade de micronutrientes essenciais nos solos, as brássicas estão no gru-po das hortaliças mais exigentes em boro e molibdênio. A deficiência de boro nos solos onde as brássicas são cultivadas determina o aparecimento do sintoma de coloração escura no caule, que se torna também oco na parte central já na fase vegetativa. Alves et al. (2006) observaram, na cultura da couve-brócolis, a quebra do pecíolo, encurtamento de caule e enrugamento de folhas formando quase uma supressão do limbo foliar caracterizando-a como ‘ponta de chicote’ em função da deficiência de Mo. Para evitar sintomas típicos de deficiência de Boro e Molibdênio, podem-se disponibilizar os elementos por meio de duas pulverizações preventivas aos 20 e 45 dias de cultivo na concentração de 1g L-1 de Bórax e Molibdato de Só-dio, respectivamente, que são fertilizantes ricos nestes micronutrientes.

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Os agricultores sabem que, em sua maior parte, as hortaliças são cultivos agríco-las exigentes em nutrientes e este fato é em parte explicado pelo ciclo de produção relativamente curto destas espécies. Assim, a atenção à adubação orgânico-mine-ral destes cultivos decorre da constatação de que nem sempre o solo selecionado é capaz de fornecer todos os nutrientes que as plantas exigem para um adequado crescimento e desenvolvimento, o que reflete diretamente na produção (MALA-VOLTA, 1980). Por isso, as características e quantidade de adubos a aplicar em um dado cultivo dependerão das necessidades nutricionais da espécie, da fertilidade do solo e suas práticas de manejo, da forma de reação dos adubos com o solo, da eficiência dos adubos e de fatores de ordem econômica.

As exigências nutricionais do couve-brócolis são similares às do repolho e o pH do solo ótimo para a cultura pode oscilar entre 6,0 e 6,8 (TREVISAN et al., 2003; DINIZ et al., 2004; PIZETTA et al., 2005; MELO, 2007), e esta não é uma característica química dos solos tropicais. A combinação de fertilizantes químicos e/ou orgânicos é uma prática de adubação recomendável para a cultura. Mas é bom considerar a eficiência do adubo e os preços dos insumos no mercado local, como uma estraté-gia para minimizar os custos de produção. Em geral, para solos de baixa fertilida-de, pode-se aplicar a formula 4-14-8 no sulco de plantio, na dosagem de 50-80 g por muda plantada, juntamente com fontes orgânicas de nitrogênio (FILGUEIRA, 1982).

As doses de fertilizantes e/ou compostos orgânicos incorporadas ao solo no sulco de plantio são sempre adequadas para um melhor condicionamento do solo e para o suprimento de outros nutrientes essenciais. Durante o desenvolvimento das plantas, podem-se praticar o parcelamento da adubação mineral com nitrogê-nio, com 4 a 6 aplicações de 10g a15g de nitrocálcio por planta, considerando-se que o N, eleva a produtividade do couve-brócolis significativamente (FILGUEIRA, 1982).

Sistema de cultivo

Propagação

O couve-brócolis é propagado por sementes. Em média, 1 g contém 200 se-mentes que, quando bem conservadas, mantêm o padrão mínimo de 70% de via-bilidade. Podem ser semeadas em bandejas de isopor, copos plásticos e outros re-cipientes que permitam a formação das mudas de boa qualidade. Para manter um bom padrão de formação das mudas, são recomendadas semeaduras em bandejas

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de 128 e 200 células preenchidas convenientemente com substratos comerciais, composto orgânico curtido ou terriço peneirado enriquecido.

Tratos culturais

Para cultivar qualquer espécie olerícola, os tratos culturais são necessários para que a cultura possa manifestar o seu melhor potencial de produção, quali-dade e rentabilidade. Os principais tratos culturais determinantes para o cultivo de couve-brócolis, segundo Filgueira (2000), Albuquerque (2005) e Melo (2007) são: o controle de plantas invasoras durante o desenvolvimento da planta, as quais competem por água, luz e nutrientes do solo; a disponibilidade de água, fornecida por irrigação, seja por aspersão ou fita gotejadora durante todas as fases de cultivo; o emprego de espaçamentos apropriados que permitam uma melhor distribuição espacial do sistema radicular, proporcionando melhor explo-ração do perfil do solo; e o controle de pragas e/ou doenças que podem com-prometer a lavoura em qualquer fase de desenvolvimento. Blind et al. (2011) relataram a ocorrência de podridão mole causada pela bactéria Pectobaterium carotovorum em plantios de couve-brócolis na Amazônia Central. Os sintomas típicos desta doença inicialmente são: o aparecimento de murcha e amareleci-mento com degradação vascular e odor típico, observados em todos os estágios de desenvolvimento das plantas inclusive na colheita. É importante proceder-se inspeções periódicas na lavoura a fim de identificar, diagnosticar e erradicar pos-síveis incidências e/ou vetores de doenças, para evitar o comprometimento da produção. As adubações desequilibradas e os solos excessivamente encharcados podem favorecer o aumento populacional de bactérias pectinolíticas que, em geral, são prejudiciais à cultura (KIMATI et al., 2005)

Em condições favoráveis, as cultivares do ‘tipo ramoso’ podem produzir, por até três meses, desde a primeira colheita praticada semanalmente, sempre em declínio tanto na produtividade quanto na qualidade. A cultivares do ‘tipo inflorescência única’ produzem uma única vez e desenvolvem uma inflores-cência larga, única e terminal, porém a colheita pode ser alternada visto que estas podem manifestar acentuada oscilação do ponto ideal da colheita (VAR-GAS et al., 2002). Em geral, as colheitas podem ter intervalos de 5-10 dias com a inflorescência, no ponto ideal, apresentando cor verde intenso e os botões florais bem fechados, de modo que se evite a aparência das pétalas amarelo vivo decorrentes de uma colheita tardia que torna o produto desvalorizado para o mercado.

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Pesquisa com brócolis na Amazônia Central: um caso de sucesso

Considerando os preceitos agronômicos da cultura do couve-brócolis e anali-sando economicamente a viabilidade de produção para suprir a demanda do mer-cado consumido, Blind et al. (2010) avaliaram experimentalmente a possibilidade do cultivo e pesquisaram o comportamento e o desempenho produtivo das culti-vares de brócolis ‘ramoso Santana’ e ‘ramoso Piracicaba’. O estudo foi realizado na BR 174, Km-120, no Ramal Boa Esperança, Km-7, município de Presidente Figuei-redo, AM, em solo Latossolo Amarelo distrófico, textura argilosa. Na classificação de Köppen (1948) o clima do local é do tipo “Afi”, com precipitação anual média de 2.500 mm (JAYORO, 2008). A temperatura média anual é de 26° C ± 1° C. No local de implantação das cultivares, uma amostra de solo foi analisada quimicamente no Laboratório Temático de Solos e Plantas do INPA, em Manaus, AM (Tabela 1).

Tabela 1. Características químicas do solo selecionado para implantação das culti-vares de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica), no município de Presidente Figueiredo, AM.*1

Amostra pH (H2O)P K Ca Mg Al H + Al SB T V M.O

mg/kg cmol/kg (%)

Solo 6,2 35 19 5,10 0,80 0,20 2,10 5,95 8,05 74 3,25

*1 H+Al – Acidez Potencial; SB-Soma de Bases; T – Capacidade de Troca Cátions (CTC total); V – Saturação

em Bases; M.O – Matéria Orgânica.

Após a realização da análise química do solo, considerando os níveis ótimos de fertilidade para a cultura do couve-brócolis foram aplicados os seguintes tra-tamentos de fertilização: T1 - 114 g NPK 4-14-8 + 2 kg cama de frango curtido/planta; T2 - 127 g NPK 10-10-10/planta; T3 - 2 kg cama de frango curtido/planta; e, T4 - sem fertilizante/planta (controle). No tratamento controle as plantas foram beneficiadas apenas pelos níveis de fertilidade residual de outras culturas, eviden-ciados na analise química, já que a área selecionada apresentava histórico regular de cultivo de hortaliças, conforme demonstra a Tabela 1. Os tratamentos de ferti-lização foram incorporados ao solo com microtrator 10 dias antes do plantio das mudas. Para formação das mudas, sementes adquiridas em Manaus foram seme-adas em bandejas de isopor de 128 células, preenchidas com substrato topstrato hortaliças HT® e mantidas em viveiro por 35 dias. Após atingirem 12 cm e/ou três folhas definitivas foi realizado o transplante no mês de novembro/2009, em fileiras

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com espaçamentos de 70 x 60 cm intercaladas contendo 36 plantas por parcela. Nas avaliações foram consideradas somente 16 plantas úteis, excluindo-se o efeito bordadura (Figura 2A-B).

Figura 2. Aspecto da qualidade das plântulas de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) (A), e da

distribuição das mudas dos respectivos espaçamentos e tratamentos aplicados (B), em cultivo estabele-

cido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.

O ensaio envolveu um total de 1152 plantas das duas cultivares de couve-bró-colis, e ocupou uma área de 616 m2. Após a implantação, foi utilizada irrigação por aspersão e capinas de plantas espontâneas em todas as parcelas. (Figura 3A-B).

Figura 3. Sistema de irrigação por aspersão de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) (A), e plântu-

las após 20 dias de transplante competindo com plantas daninhas, fase em que foi efetuado a 1a capina

(B), em cultivo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.

Durante o ciclo da cultura, após 45 dias, foi efetuada uma adubação de cobertu-ra, com 30 g do formulado 15-5-10 sobre a superfície do solo (na saia das plantas)

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e duas adubações foliares com 30 e 60 dias de boro e molibdênio na concentração de 1 g L-1.

A primeira colheita foi realizada entre 80-90 dias após a semeadura, consideran-do-se o critério visual (inflorescência totalmente desenvolvida com as flores com-pletamente fechadas), seguindo-se de novas colheitas praticadas uma vez por se-mana durante um mês, efetuando-se o corte 15-20 cm de inflorescência comercial. Após a colheita, as inflorescências foram contadas, pesadas em balança comum de prato e analisadas (Figura 4A-B).

No processamento estatístico dos dados, o delineamento utilizado foi de blo-cos casualizados, em esquema fatorial 2 x (duas cultivares) x 4 (adubação), com 4 repetições. Para comparações, os dados foram submetidos à análise de variância e nas comparações de médias, após detectar diferenças significativas pelo teste F, aplicou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Figura 4. Aspecto das inflorescências comerciais de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) por

ocasião da colheita (A) e determinações de biomassa fresca feitas em condições de campo (B), em culti-

vo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.

Os dados obtidos permitiram constatar que nas condições pesquisadas os tratamentos de adubação influenciaram a produção do couve-brócolis em solo Latossolo Amarelo avaliados pelo número e peso das inflorescências co-merciais das cultivares ‘ramoso Piracicaba’ e ‘ramoso Santana’, conforme pode ser verificado na Tabela 2. Portanto, torna-se indispensável a utilização de incrementos férteis para a cultura, quando o solo não possui condições na-turais de suprir a necessidade requerida pela espécie, uma vez que agregam níveis de rendimento e, neste estudo experimental, o melhor tratamento de

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fertilização foi a aplicação de 114 g NPK 4-14-8 + 2 kg de cama de frango curtido/planta.

Os resultados de pesquisa demonstraram que na Amazônia Central, o cultivo de couve-brócolis em solo Latossolo Amarelo apresenta produtividade abaixo da média nacional que é de 20-30 ton./ha, quando comparado com outras regiões produtoras. Outrossim, ressalta-se que o preço de venda do produto em feiras e supermercados de Manaus é lucrativo traduzindo-se em uma eficiente margem de lucro para o olericultor, especialmente pelo menor custo de transporte para supri-mento da demanda dos consumidores. Desse modo, a confirmação da capacidade desta olerícola produzir no microclima da Amazônia Central reforça a necessidade de novas pesquisas que possam incrementar a produção aqui identificada. Res-saltando-se, ainda, que é possível obter níveis maiores de produção, desde que se atenha melhor às exigências agronômicas da cultura. Em teste de cultivo na ca-sa-de-vegetação em Presidente Figueiredo, AM/2010 utilizando a cultivar “ramoso Santana” constatou-se média da produtividade por planta em torno de 800 g em período de colheita e condições edafoclimáticas semelhantes ao experimento re-alizado a campo aberto.

Durante o período de estudo, a temperatura média foi 27,1o C, com média das mínimas de 21,4o C e média das máximas de 35,0o C, o que é considerada alta para o desempenho agronômico desse cultivo. Foi demonstrado que as cultivares de brócolis tipo ramoso não são tão exigentes em relação às temperaturas elevadas, tolerando variações que extrapolam a faixa ideal sem comprometer todo o seu po-tencial produtivo.

Considerando-se a produção comercial e o número de inflorescências produ-zidas durante um mês, o tratamento NPK 4-14-8 + cama de frango curtido, reve-lou-se a melhor opção, por proporcionar maior produção média comercial, com 0,490 kg e 9 inflorescências/planta (Tabela 2). Comparativamente, a produtivida-de obtida por Trevisan et al. (2003) para as mesmas cultivares avaliadas em culti-vo estabelecido em clima temperado, demonstra que o índice de produtividade foi considerado menor comparando-se a oferta de insumos com o rendimento de inflorescências.

Pela formação de inflorescências comerciais, aspecto vegetativo e quanto à coloração dos botões florais, notadamente as plantas da cultivar “ramoso Pi-racicaba”, apresentaram um comportamento desejável de cultivo em relação à cultivar “ramoso Santana”, nos quesitos: arquitetura – porte ereto, coloração das inflorescências – verde escura – e resposta no desenvolvimento vegetativo em função dos fertilizantes aplicados no desenvolvimento de plantas vigorosas (Fi-gura 5A-B).

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Tabela 2. Avaliação da produtividade de duas cultivares de brócolis ramoso duran-te um mês, em função de diferentes sistemas de adubação, em cultivo estabeleci-do em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.

Tratamentos

Produção média massa/planta

Produção média de inflorescências/planta

Estimativa de um mês de produção

B. R. Piracicaba

B. R. Santana

B. R. Piracicaba

B. R. Santana

B. R. Piracicaba

B. R.Santana

(kg) (no) (ton/ha)

1 – NPK 4-14-8+Esterco curtido de frango 0.490 a 0.440 a 9,5 a 8,1 a 11.66 10.5

2 – NPK 10-10-10 0.410 b 0.350 b 8,8 b 7,1 b 9.73 8.28

3 – Esterco curtido de frango 0.330 c 0.290 c 7,1 c 6,1 c 7.69 7.09

4 – Testemunha 0.180 d 0.160 d 4,6 d 5,2 cd 4.3 3.76

CV % 4.5 6.4 – –

*1 Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 0,5% de

probabilidade.

Figura 5. Ilustração das diferenças fenotípicas da inflorescência primária comercial das cultivares

“ramoso Piracicaba” (A) e “ramoso Santana” (B) avaliadas em função do fornecimento de adubos quí-

micos e orgânicos em cultivo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figuei-

redo, AM.

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Considerações finais

A diferença de produtividade denotou a importância da escolha da cultivar e da utilização de fertilizantes para plantios em escala comercial. Neste ensaio experi-mental, o melhor desempenho médio produtivo foi da cultivar “ramoso Piracicaba”. A melhor fonte de adubação para a produtividade das duas cultivares foi 114 g NPK 4-14-8 + 2 kg de cama de frango curtido por planta.

As avaliações do potencial de cultivares em diferentes regiões agroclimáticas além de proporcionar sustentabilidade a pesquisas posteriores são indispensáveis para o aumento da rentabilidade das culturas, o qual está diretamente relaciona-do ao uso de cultivares geneticamente superiores em termos de produtividade e outras características agronômicas relevantes. A cultivar “ramoso Piracicaba”, atual-mente, é a mais difundida entre os olericultores da região, em virtude de apresen-tar melhor comportamento frente às condições climáticas do município, favore-cendo o seu cultivo durante o ano todo.

Nas observações feitas em lavouras dos produtores de brócolis a campo, no município de Presidente Figueiredo, constatou-se que a produção des-sa espécie nos meses de fevereiro, março e abril (época em que ocorrem os mais elevados índices de precipitação pluviométrica no Amazonas) apresenta maior incidência de problemas fitossanitários nas plantas, refletindo na baixa produtividade e qualidade do produto comercial. Por isso, é recomendável, nesta época do ano, o plantio do couve-brócolis em sistema de cultivo pro-tegido.

No município de Presidente Figueiredo, atualmente, existe uma área cultivada com, aproximadamente, 3 hectares de brócolis em rotatividade com outras cultu-ras. Mas a oferta do produto, ainda é inferior à demanda. O preço pago aos pro-dutores dessa hortaliça oscila nas feiras de Manaus entre R$ 5,50 a R$ 7,00 não havendo variações sazonais ao longo do ano. Dependendo da oferta, são raras as vezes que o preço pago cai para R$ 5,00.

Agradecimentos

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e ao Programa de Pós-Gra-duação em Agricultura no Trópico Úmido pela contribuição à formação de pro-fissionais para o Brasil.

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CAPÍTULO 7

Caracterização e avaliação de pimentas crioulas não pungentes do gênero Capsicum spp . da AmazôniaManoel Ronaldo Aguiar BATISTA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO1; Ariel Dotto BLIND2; Jose Nilton Rodrigues FIGUEIREDO3;Hiroshi NODA1; Francisco Manoares MACHADO1

1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. An-

dré Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected], [email protected], hnoda@

inpa.gov.br;

2 Doutorando do curso de Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I,

Manaus, AM. E-mail: [email protected];

3 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras-chave: Agronomia; Genética; Solanaceae; Olericultura.

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Introdução

O conceito de variedades crioulas se estende às espécies vegetais cultivadas em pequenas áreas, para o consumo na propriedade e comercialização em merca-dos locais. Para estas espécies, geralmente, os agricultores realizam a própria sele-ção de frutos, utilizando as sementes para o cultivo do ano seguinte. Por usarem suas próprias sementes, as quais são resultantes de uma seleção continuada, os agricultores obtêm tipos de frutos muito diversos, que constituem recursos genéti-cos de grande valor (SILVA FILHO, 2012). Esse processo de seleção genética resulta em populações adaptadas às condições locais de cultivo, que são fonte de genes para tolerância a estresses bióticos e abióticos. Como os agricultores geralmente cultivam mais de uma variedade crioula de pimentas na mesma propriedade, pró-ximas umas das outras, há a possibilidade de ocorrerem cruzamentos entre elas, ampliando ainda mais a variabilidade genética existente (REIFSNEIDER, 2000).

As espécies de pimentas do gênero Capsicum classificam-se na família Solana-ceae, onde estão incluídas hortaliças tradicionalmente cultivadas, como o toma-te (Lycopersicon esculentum), a batata (Solanum tuberosum) a berinjela (Solanum melogena) e o jiló (Solanum gilo). Dentre as espécies do gênero Capsicum, cinco são domesticadas e largamente cultivadas, e utilizadas pelo homem: Capsicum an-nuum (pimentão), C. baccatum (pimenta-de-passarinho), C. chinense (pimenta-ver-melha), C. frutescens (pimenta-malagueta) e C. pubescens (rocoto). Destas, apenas a C. pubescens não é cultivada no Brasil (LOPES et al., 2007).

O Brasil é um grande centro de diversidade genética do gênero Capsicum, pos-suindo, uma grande variedade de pimentas que estão difundidas em todas as re-giões do Brasil e as principais áreas de cultivo estão localizadas nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste. O seu cultivo é realizado por pequenos, médios e grandes produtores individuais ou integrados a agroindústrias (FURTADO et al., 2006). Ma-lagueta, dedo-de-moça, doce-americana, chapéu-de-bispo, cumari-amarela, bode, cheiro, tabasco murupi e biquinho são apenas algumas das inúmeras pimentas cul-tivadas no Brasil (LOPES et al., 2007).

A pimenta (Capsicum spp.) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pun-gência, flavor e como conservante alimentar, assim como por suas propriedades fisiológicas e farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes como a capsaicina e a dihidrocapsaicina. Alguns estudos têm apontado que as pi-mentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C, vitamina E, carotenoides e compostos fenólicos (CISNEROS-PINEDA et al., 2006).

O Brasil é o segundo maior produtor de pimenta do mundo e centro da diver-sidade do gênero Capsicum. Essa hortaliça está difundida em todas as regiões bra-

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sileiras, sendo cultivada principalmente nas regiões sudeste, centro-oeste e nor-deste, contemplando quatro espécies domesticadas, são elas: Capsicum annuum var. annuum (pimentão, pimenta-americana-doce, jalapeño), Capsicum bacccatum var. pendulum (dedo-de-moça e cambuci), Capsicum chinense (pimenta-de-chei-ro, bode, cumari-do-pará e murupi), Capsicum frutescens (malagueta) (EMBRAPA, 2009). Dentre estas se destacam a pimenta-de-cheiro, a pimenta-malagueta e a dedo-de-moça, bastante apreciadas e utilizadas na culinária do nordeste brasileiro, especialmente no estado do Piauí (DONALD, 2009).

O cultivo de pimenta tem grande importância socioeconômica, pois contribui para a geração de renda na pequena propriedade e para fixação de pessoas na área rural. As grandes agroindústrias do ramo das pimentas possuem extensas áreas de cultivo, próprias ou em parceria, e empregam um número significativo de pes-soas, principalmente na época da colheita. Por outro lado, o mercado é bastante diversificado, indo desde a comercialização de pimentas para consumo in natura e conservas caseiras até a exportação de produtos processados e industrializados (FURTADO et al., 2006).

O mercado para as pimentas é muito segmentado e diverso, podendo ser divi-dido em dois grandes grupos: o consumo in natura e as formas processadas, atra-vés de molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de alimentos processados (LOPES et al., 2007). O consumo de pimenta é fortemente influencia-do pelos hábitos alimentares de cada região do Brasil. Os estados da região Sul são os que menos consomem pimentas in natura no País e há uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas desidratadas. Na região Sudeste consome-se, principalmente, a pimenta-doce-do-tipo-americana, pimen-ta-cambuci, malagueta e cumari-vermelha. Na região Nordeste, predominam as pimentas malagueta e de cheiro. Na região Norte, as pimentas mais apreciadas são a murupi, cumari-do-Pará e a de cheiro, na região Centro-Oeste, tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas bode, malagueta, cumari-do-Pará, dedo-de-moça e, mais recentemente, a de cheiro, anteriormente importada do Pará e, atualmente, já cultivada em Goiás (LOPES, et al., 2007).

Para atender tanto ao mercado interno quanto ao externo, há um interesse crescente no cultivo de Capsicum, principalmente para o processamento na forma de conservas ou molhos líquidos. O mercado externo é exigente em qualidade e são poucas as informações sobre o manejo adequado das culturas, a qualidade da matéria-prima e os genótipos mais adaptados ao processamento agroindustrial (FURTADO et al., 2006).

A pimenta é um condimento popular em todo o mundo, conhecido por conter capsaicina e dihidrocapsaicina como os maiores ingredientes pungentes (OGISO et

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al., 2008). A capsaicina é o composto mais pungente das pimentas vermelhas e tem sua estrutura formada por um grupo de amida ácida de vanililamina com C8 a C13 ácidos graxos (OCHI et al., 2003). As pimentas também contêm muitas substâncias fisiológicas ativas como ácido ascórbico, tocoferol, carotenoides etc. (DEEPA et al., 2006). Estas substâncias são importantes na proteção contra danos oxidativos pro-duzidos pelos radicais livres. No corpo humano, os vários mecanismos de defesa que controlam os radicais livres iniciam seu declínio quando as pessoas se tornam mais velhas. Então, os antioxidantes são cruciais na nutrição humana para que eles possam compensar ou minimizar este declínio (OGISO et al., 2008).

Segundo Kozukue et al. (2005), capsaicinoides são relatados por possuírem uma variedade de propriedades biológicas que, provavelmente, afetam a saúde humana. Estas incluem atividade antimicrobiana contra bactérias patogênicas; atividade antioxidativa; potencial anticâncer e larga bioatividade contra estrutu-ras neuronais que contêm substâncias associadas com nocicepção e inflamação neurogênica. Os estudos também revelam que as pimentas inibem o crescimento do patógeno gástrico Helicobacter pilori, exercem atividade bactericida, promovem ainda inibição da agregação plaquetária, efeitos estimulantes neurais e diuréticos, além de aumentar a atividade adrenocortical e a produção de cortisol. Topicamen-te, é usada para alopecia, neuralgia, pleurite e artrite reumatoide. As folhas são usadas como curativo em locais feridos e inflamados, ocorrendo, porém, contro-vérsias na literatura quanto ao uso do fruto em casos de inflamações aguda (PIRES et al., 2004).

Na Amazônia, existe uma grande diversidade de pimentas do gênero Capsicum mantidas pelos agricultores tradicionais e em Bancos de Germoplasma de algumas instituições de ensino e pesquisa da região. Estes materiais são resultantes do pro-cesso de domesticação, com ampla variabilidade genética, suscetíveis, portanto, a processos de aprimoramento genético para fins de cultivo (NODA e NODA, 2004).

Tais bancos de germoplasma, integrados aos sistemas de produção tradicio-nais e aos centros de melhoramento, serviriam igualmente ao propósito de con-servação das espécies (SILVA FILHO, 2009). Por isso, o emprego de características morfoagronômicas em associação a técnicas multivariadas, tem sido amplamente utilizado na quantificação da divergência genética, tomando como exemplos as culturas do trigo (BERTAN et al., 2006), pimenta (MONTEIRO, 2008); feijão-vagem (PEIxOTO et al., 2002); aveia (KUREK et al., 2002) e milho (COIMBRA et al., 2010). A pesquisa realizada objetivou caracterizar e avaliar 30 variedades de pimentas crioulas do Capsicum spp. não pungentes cultivadas na Amazônia.

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CAPíTULO 7

107

Desenvolvimento da pesquisa com pimentas crioulas não

pungentes

Os trabalhos realizados abrangeram a avaliação de 30 variedades crioulas de pimentas do gênero Capsicum do acervo do Banco de Germoplasma da Coordena-ção de Sociedade, Ambiente e Saúde do Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-zônia – CSAS/INPA, conforme apresentado na Tabela 1.

Uma pesquisa experimental foi conduzida em viveiro com cobertura plástica transparente na Estação Experimental de Hortaliças – EEH Dr. Alejo von der Pahlen, do INPA, localizada no km 14 da Rodovia AM-010, em Manaus, AM (02º 59’ S e 60º 01’ W), com altitude de 60 m acima do nível do mar. O clima local é caracterizado como “Afi” no esquema de Köppen, registrando 3.555,7 mm de chuva (com varia-ção mensal de 106,7 mm em julho, mês mais seco, e 467,9 mm em novembro, mês mais chuvoso), com uma estação seca no período de julho a setembro, temperatu-ra média anual de 26,5º C (com variação mensal de 19,0º C a 36,6º C, entre a menor mínima e a maior máxima) e umidade relativa do ar de 80,9% (ANTôNIO, 2009).

A semeadura dos acessos de pimenta foi feita em bandejas de isopor com 72 células, preenchidas com partes iguais de solo arenoso e composto orgânico pe-neirado e previamente autoclavado a 120° C à pressão de 0,5 atm durante 2 horas. Foram colocadas três sementes em cada célula e, após 20 dias, procedeu-se um desbaste, mantendo nas bandejas, apenas a planta com o melhor desenvolvimen-to vegetativo.

No momento em que as mudas atingiram qualidade para o plantio definitivo (15 cm de altura ou quatro folhas definitivas), foram transplantadas para vasos com capacidades para 7,5 kg de substrato, constituído por uma mistura 2:2:3 de solo argiloso, solo arenoso e composto orgânico (v:v). Uma amostra do substrato foi co-letada para análise de sua composição química, no Laboratório Temático de Solos e Plantas (LTSP) do INPA. A mistura apresentou as seguintes características: pH em H2O de 5,7, matéria orgânica de 53 g kg-1, relação C/N de 12, K+ de 124 mg kg-1, Ca++ de 2416 mg kg-1, Mg++ de 35,10 mg kg-1, Al+++ de 1,7 mg kg-1, Fe de 6 mg kg-1, Zn de 21,1 mg kg-1 e Mn de 44 mg kg-1.

O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com 30 tratamentos (os acessos de Capsicum) e cinco repetições. A unidade experimen-tal foi constituída por uma planta útil de cada acesso, cultivadas em vasos com espaçamento de 0,80 m entre si.

Page 110: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

108

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Tabela 1. Número de registro do acesso, data da armazenagem e localidade geo-gráfica das pimentas utilizadas no experimento. Manaus, AM, 2011.

Número de Registro Data da Armazenagem Local de Origem

1 08/2008 Anamã, AM

2 12/2007 Apuí, AM

3 12/2008 Benjamin Constant, AM

4 12/2008 Canutama, AM

5 12/2007 Carauari, AM

6 08/2008 Codajás, AM

7 12/2007 Eirunepé, AM

8 12/2007 Envira, AM

9 08/2008 Humaitá, AM

10 08/2008 Iranduba, AM

11 10/2009 Iquitos, Peru

12 08/2008 Itapiranga, AM

13A 10/2009 Letícia, Colômbia

13B 12/2008 Letícia, Colômbia

13C 10/2009 Letícia, Colômbia

14 10/2009 Manicoré, AM

15A 08/2008 Novo Airão, AM

15B 08/2008 Novo Airão, AM

16 12/2007 Novo Aripuanã, AM

17 08/2008 Itacoatiara, AM

18 08/2008 Presidente Figueiredo, AM

19 08/2008 Rio Preto da Eva, AM

20A 11/2009 São Gabriel da Cachoeira, AM

20B 08/2008 São Gabriel da Cachoeira, AM

21A 10/2009 Tabatinga, AM

21B 10/2009 Tabatinga, AM

21C 10/2009 Tabatinga, AM

21D 10/2009 Tabatinga, AM

22A 04/2009 Urucará, AM

22B 04/2009 Urucará, AM

Page 111: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 7

109

Durante a condução do teste, quando foram observados sintomas de defi-ciências nutricionais nas plantas foram aplicadas, via foliar, doses de 60 mL/20 L de H2O do produto Ouro Verde líquido, fórmula 6 x 6 x 8 , até que os sintomas de carência nutricional desaparecessem. As práticas de limpeza e irrigação foram realizadas sempre que houve necessidade. O controle fitossanitário foi realizado com pulverizações em caráter preventivo contra pragas e doenças durante a con-dução do experimento.

No viveiro, foram registradas as mudanças fenológicas dos acessos e mensura-ções da parte vegetativa das plantas. No Laboratório de Genética e Etnobiologia do INPA, foram feitas avaliações das características qualitativas e quantitativas dos frutos, baseadas em descritores recomendados pelo International Plant Genetic Resources Institute (IPGRI, 1995).

Na caracterização morfoagronômica das variedades de pimenta crioulas foram utilizados treze descritores. Como descritores quantitativos foram considerados a altura da planta e a largura da copa, medidos em sua maior distância, quando as plantas da parcela apresentaram frutos maduros e o diâmetro do caule, medido na parte média da haste abaixo da primeira bifurcação após a primeira colheita. Com dez frutos maduros de cada variedade selecionados ao acaso, foi medido o comprimento e o diâmetro do fruto, mensurados na maior distância; o peso do fruto, que foi feito a partir da segunda colheita; espessura da parede do fruto, na segunda colheita, no ponto de maior largura; e o número de sementes por fruto. Foi também determinado o número de frutos por planta pela somatória dos fru-tos obtidos em todas as colheitas, o peso de frutos por planta pelo somatório da massa de todos os frutos, a massa de 1000 sementes, pela contagem e pesagem em balança analítica de, aproximadamente, 250 sementes, sendo posteriormente calculada a massa equivalente para 1000 sementes, o tempo para florescimento correspondente ao número de dias entre o transplante e até o ponto em que, pelo menos, uma planta apresentou uma flor aberta e o tempo para a frutificação pela contagem do número de dias do transplante até o estádio de maturação dos frutos na primeira ou segunda bifurcação dos ramos das plantas.

Os dados de cada descritor foram submetidos à análise de variância para com-paração das médias pelo teste F. As análises de variância foram complementadas pelo teste de comparação de médias de Scott-Knott (1974), em nível de 5% de probabilidade. Sobre os caracteres quantitativos procederam-se análises multiva-riadas, usando como medidas de dissimilaridades, as Distâncias Generalizadas de Mahalanobis (D2) (MAHALANOBIS, 1936) e o método de agrupamento pelo Vizi-nho Mais Próximo.

Page 112: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

110

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Caracterização e avaliação de pimentas crioulas não pungentes

do gênero Capsicum spp . da Amazônia

Os acessos de Capsicum spp. apresentaram alta variabilidade e foram detec-tadas diferenças significativas para todos os descritores quantitativos avaliados (Tabela 2). Foram verificados que em dezenove variedades de pimenta crioula os diâmetros dos caules foram diretamente proporcionais ao desenvolvimento da planta em altura. Em relação às características dimensionais do fruto, observou-se que o comprimento dos frutos variou de 2,2 a 6,0 cm. A largura distribuiu-se entre 0,8 e 3,9 cm e a espessura da parede do fruto de 0,8 a 2,3 mm. Geralmente, os frutos com maiores diâmetros são mais pesados e possuem maiores espessu-ras da polpa. Os resultados encontrados concordam com Silva Filho (2012), que pesquisou a variabilidade genética em populações de cubiu (Solanum sessiliflo-rum), o que pode sugerir uma relação similar no comportamento das espécies de Solanaceae.

Nos componentes de produtividade, o maior número de frutos por planta foi verificado na variedade VPC 20A (pimenta do grupo das malaguetas), oriunda de São Gabriel da Cachoeira. Os resultados concordam com Silva Filho et al., (2001) que considerou que quanto menor o tamanho, maior a quantidade de frutos pro-duzida por uma pimenteira.

Os frutos mais pesados foram das variedades de pimenta crioula de C. chinense 21D, 21C, 21B, 13A e 13C, procedentes da região do Alto Solimões, os três primeiros do município de Tabatinga e os últimos de Letícia (Colômbia). O acesso 13A (Capsi-cum sp.) se destacou dos demais em relação ao peso dos frutos com 843 g por plan-ta, desempenho 80% superior à segunda maior média atingida por outra varieda-de. As maiores médias para número de sementes/frutos foram das variedades 13C, 21D e 21C, todas com mais de 70 sementes. As variedades 20A e 22B produziram os menores números de sementes. A primeira C. frutescens e a segunda C. chinense, ambas com em torno de 10 sementes por frutos. O peso de 1000 sementes variou de 2,5 a 4,5 g. Duas variedades crioulas, originárias do município de Urucará, estão entre os frutos com sementes menos pesadas. As variedades com maior e menor massa de 1000 sementes são procedentes de regiões geograficamente distintas em diferentes ambientes do estado do Amazonas.

Page 113: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 7

111

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Page 114: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

112

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

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Page 115: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 7

113

Para formação do dendrograma pelo método hierárquico do Vizinho Mais Próximo considerou-se a maior distância obtida pela D2 (3040) como 100% de distância. No eixo das abscissas foram representadas as porcentagens das dis-tâncias entre os acessos e no eixo das ordenadas as 30 variedades de pimentas crioulas (Figura 1).

Método de agrupamento: Ligação simples – Vizinho Mais Próximo

Grupo IA

Grupo IB

Grupo II

Grupo III

Grupo IV

Grupo V

Grupo VIGrupo VII

Grupo VIII

Grupo IX

Grupo XGrupo XI

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1917

Figura 1. Dendrograma de dissimilaridade genética entre 30 variedades de pimentas crioulas do gênero

Capsicum obtido pelo método hierárquico do Vizinho Mais Próximo, com base em 13 descritores quan-

titativos, utilizando-se a distância generalizada de Mahalanobis.

Nos métodos hierárquicos, os indivíduos são agrupados por um processo que se repete em vários níveis, até que seja estabelecido o diagrama de árvores ou dendrograma. Nesse caso, não houve preocupação com o número ótimo de gru-pos, uma vez que o interesse maior está na árvore e não nas ramificações obtidas. As delimitações foram estabelecidas por um exame visual do dendrograma, em que foram avaliadas pontos de alta mudança de nível, tomando-os como deli-mitadores do número de genótipos que determinaram a formação dos grupos (CRUZ, 2008).

Page 116: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

114

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Foram formados onze grupos, considerando-se o corte a uma distância ge-nética de, aproximadamente, 47% (Figura 1). O grupo I foi subdividido em dois subgrupos. O subgrupo IA foi composto pelas variedades de pimenta crioula 14 e 22A, cuja altura e largura da copa das plantas apresentam médias de 80,6 x 78,6 cm para a variedade de 14 e de 74,6 x 75,8 cm para a variedade 22A. Estas plantas apresentaram características da copa na forma quadrada, que é uma ar-quitetura de planta com potencial para uso artesanal. O subgrupo IB foi formado pelos quatro acessos da microrregião do Alto Solimões (13C, 21C, 21B e 21D) e mais outros seis acessos de C. chinense (9, 6, 12, 18, 1 e 2). Esse grupo reuniu os acessos mais largos e pesados, com maior espessura da parede do fruto e com maior número de sementes, características que são importantes para o consu-mo in natura, na indústria de frutos desidratados e como bons disseminadores do genótipo.

O grupo II é formado apenas pela variedade 3. Estas plantas que produzem frutos compridos, medindo até 4,9 cm, com massa média em torno de 470,5 g. O grupo III conteve as variedades de pimenta crioula 10 e 15A que são de C. chinense. As plantas desse grupo foram similares, em função das características: largura da copa, diâmetro do fruto, número de frutos por planta e número de sementes por fruto. O grupo IV agrupou as espécies C. chinense 11, 16, 7, 5 e 4 com valores das médias iguais para largura da copa e diâmetro do caule.

O grupo V reuniu as variedades 13B e 21A, cujas plantas apresentam semelhan-ças nos caracteres: altura da planta, massa dos frutos, espessura da parede dos fru-tos, número de frutos por planta, tempo para frutificação e tempo para floração. A grande similaridade pode ser explicada em função de suas origens geográficas na microrregião do Alto Solimões: a variedade 13B da cidade de Letícia, na Colômbia, e a variedade 21A do município brasileiro fronteiriço de Tabatinga, no Estado do Amazonas.

Os grupos classificados como VI e VII foram representados pelas variedades de pimenta crioula 15B e 22B, respectivamente. A variedade 15B é uma planta robusta com médias altas para altura da planta e largura da copa, mas com médias baixas para o número de frutos por planta e peso de frutos por planta. Destaca-se que a variedade 22B é uma planta de pequeno porte (a menor entre todas), com frutos pequenos e com pouca semente por fruto. É pimenteira promissora para uso ornamental.

O grupo VIII concentrou as variedades de pimenta crioula 13A, 20A e 8, repre-sentado por diferentes espécies: C. chinense (8), C. frutescens (20A) e Capsicum sp. (13A). Elas possuem médias similares para altura da planta e largura da copa (acesso 8 e 20A), diâmetro do caule, comprimento do fruto e massa de mil se-

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mentes (13A e 20A), número de frutos por planta, tempo de floração e tempo de frutificação (acessos 8 e 13A). Nesse grupo, surgiram plantas com menor diâme-tro do fruto, da espessura da parede do fruto, massa do fruto, número de semen-tes por fruto e maior produção de frutos por planta (acesso 20A). A variedade de pimenta crioula 13A apresentou maior média para a massa média de frutos por planta.

Os grupos Ix, x e xI são formados, respectivamente, pelas variedades de pi-menta crioula 20B, 19 e 17. A variedade de pimenta crioula 20B tem uma das me-nores médias para massa de 1000 sementes. O acesso 19 apresentou oito valores de médias intermediários: comprimento do fruto, diâmetro do fruto, massa do fru-to, espessura da parede do fruto, número de frutos por planta, peso de frutos por planta, número de sementes por fruto e massa de 1000 sementes. A variedade 17 é considerada como de frutificação tardia (120 dias), mas que apresentou maior distância entre os pares formados com as demais variedades. Por isso, pode ser usada como progenitora para criação de híbridos e linhagens superiores, por meio de cruzamentos entre as variedades com potenciais características morfoagronô-micas encontradas nas pimenteiras avaliadas.

Considerando que a heterose no gênero Capsicum é positiva para a maioria dos caracteres estudados e a análise multivariada possibilita a predição dessa heterose (COSTA et al., 2002) a partir dessas premissas e seguindo as recomendações de Sudré et al. (2005) de que a doação do princípio de se cruzar acessos com dissimila-ridades mais distantes e melhores características desejadas, produzem descenden-tes de excelentes qualidades.

Analisando resultados sobre alguns caracteres quantitativos, tem-se como opção para produção de pimentas mais comerciais, o cruzamento da variedade de pimenta crioula 19 com as variedades 13C, 21B, 21C e 21D do grupo IB. Nessa ação de melhoramento estão sendo consideradas as distâncias genéticas aceitá-veis, com as características das plantas que produzem frutos maiores e pesados, com boa espessura da polpa e bom número de sementes por fruto, para explorar o agronegócio de sementes. Outro cruzamento factível seria entre as variedades de pimenta crioula 21D e 20A. O VPC 20A – C. frutescens (malagueta-doce), com maior média para o número de frutos por planta e que apresentou frutos com peso médio de 0,73 g e espessura da parede do fruto com média de 0,8 mm. O acesso 21D (C. chinense) mostrou frutos com peso médio de 12 g e espessura da parede do fruto com 2,36 mm, demonstrando assim a grande diferença entre as variedades de pimenta crioula avaliadas.

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Conclusões

Para caracterizar as diferenças genotípicas de 30 acessos de pimentas crioulas, o uso do método hierárquico do Vizinho Mais Próximo mostrou-se eficiente em di-ferenciar os acessos, a partir de descritores morfoagronômicos. Os genótipos 13C, 21B, 21C e 21D cruzados com genótipo 19 e o genótipo 20A cruzados com 21D são promissores para incremento de variabilidade genética e indicados para a seleção de progenitores com características comerciais favoráveis. Os 30 acessos analisados foram divergentes, possuindo variabilidade genética, o que potencializa seu uso em programas de melhoramento genético das pimentas não pungentes da Amazônia.

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CAPÍTULO 8

Caracterização e avaliação de variedades crioulas de abóboras da região do Alto Solimões, AM, BrasilPedro Chaves da SILVA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2; Ariel Dotto BLIND3; Manoel de Freitas MENDONÇA NETO; Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA2

1 Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM;

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

3 Doutorando em Agronomia Tropical, Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Amazonas – FCA-UFAM,

Manaus, AM;

4 Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da Amazônia – NERUA, Manaus, AM.

Palavras-chave: Olericultura; Curcubitaceae; Amazônia.

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Introdução

O gênero Cucurbita é nativo das Américas com, aproximadamente, 25-27 espécies. Dentro da família Cucurbitaceae, a abóbora (Cucurbita spp.), chuchu (Sechium edule), me-lancia (Citrullus lanatus), melão (Cucumis melo), pepino (Cucumis sativus), maxixe (Cucumis anguria), melão-de-cheiro (Sicana odorifera) e melão-de-são caetano (Momordica cha-rantia), entre outras, são cultivados no Brasil para fins alimentares, ornamentais ou como fonte de matérias-primas. As abóboras e abobrinhas cultivadas pertencem às espécies Cucurbita argyrosperma, C. ficifolia, C. maxima, C. moschata e C. pepo (HEIDEN et al., 2007).

A abóbora (Curcubita spp.) é uma espécie americana com significativa partici-pação na alimentação em muitos países. Possui ampla distribuição no sudeste do México, América Central, Colômbia e Peru. Existem relatos de descobertas arqueoló-gicas de sementes desenterradas de até 7 mil anos, na região do México. Silva (2006) assegura que a espécie C. pepo foi encontrada há mais de 10 mil anos na Flórida, 7-9 mil anos a.C. no México e 5 mil anos a.C. em Illinois, Estados Unidos. Ela fazia parte da dieta inca, maia e asteca, junto com milho e feijão. Não se conhece seu ancestral, mas supõe-se que a domesticação ocorreu separadamente nos Estados Unidos e no nor-te da América do Sul. O Brasil apresenta ampla variabilidade genética de abóbora, es-pecialmente nas variedades crioulas mantidas pelos agricultores (PRIORI et al., 2012).

A EMBRAPA Recursos Genéticos, conserva na coleção base de germoplasma 510 acessos de C. maxima, 1173 acessos de C. moschata, 14 acessos de C. pepo, 2 acessos de C. ficifolia e 5 híbridos de C. moschata x C. máxima (FERREIRA, 2009). Nos bancos ativos de germoplasma da EMBRAPA semiárido em Petrolina, IAC/APTA em Campinas, Universidade Federal de Viçosa, EMBRAPA Clima Temperado em Pelotas e CNPH) são conservados 1330 acessos de C. maxima, 2754 acessos de C. moschata, 90 acessos de C. pepo e 1 acesso de C. ficifolia (CABRAL, 2007).

Para a Food and Agriculture Organization of The United Nations (2009), os paí-ses que mais plantam abóbora e moranga são: China – com 353 mil ha, Camarões – com 110 mil ha, Cuba – com 66 mil ha, Rússia – com 54 mil ha, e Egito – com 40 mil ha. A área de cultivo destas espécies totaliza, mundialmente, 1556 mil ha. Ferreira (2009) ressaltou que, além dos frutos e sementes, as flores masculinas e os talos também são consumidos. Na península de Yucatan são consumidas flores de C. argyosperma e C. pepo. As plantas de C. moschata, C. maxima e C. ficifolia têm sido usadas como porta-enxerto na produção de pepino e melancia.

Rodrigues-Amaya (2008), estudando as fontes brasileiras de carotenoides, des-tacou as abóboras como importantes fontes de betacaroteno. Mencionou, tam-bém, que as plantas têm valor medicinal para os indígenas, os quais usam as se-mentes como diurético, anti-helmíntico e antipirético. Na alimentação, os frutos

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das espécies C. maxima e C. moschata são consumidos como abóbora madura, en-quanto que os de C. pepo e também C. moschata são consumidos como abobrinha.

Martin (2002) indicou que as abóboras possuem poucas calorias e carboidratos, mas são uma boa fonte de ferro, cálcio, magnésio, potássio, além de vitaminas A, C e B e ácido fólico. Por outro lado, Ferreira (2009) relatou que as sementes de abóbora pos-suem alto teor de óleo (mais de 39%), proteína (mais de 44%) e fósforo (mais de 1%).

Embora a abóbora seja uma hortaliça de expressão no mercado nacional, os trabalhos de melhoramento genético para o desenvolvimento de variedades de alta produtividade ainda são incipientes, predominando o uso de cultivares tradi-cionais locais mantidas pelos próprios produtores (no Nordeste e Rio Grande do Sul há preferência por frutos grandes) e que a preferência do mercado consumidor em São Paulo é por frutos menores com polpa espessa (CAMARGO FILHO & MAZ-ZEI, 2002; BEZERRA NETO et al., 2006).

Os frutos das espécies de Cucurbita são conhecidos como abóbora, abóbora-crioula, abóbora-de-pescoço, abóbora-gigante, abóbora-de-vaca, abóbora-meni-na, moranga, entre outros. Estes nomes populares variam conforme a região e não é possível associá-los a um determinado tipo específico de fruto, com exceção das abóboras-de-pescoço que, por vezes, recebem denominações adicionais relacio-nadas ao tamanho (pequena, grande), à coloração externa (amarela, branca, verde, laranja, rajada) ou ao aspecto do pescoço (curto, comprido, reto, torto, dobrado). Popularmente, a porção maciça destas abóboras é denominada pescoço e a por-ção que contém as sementes é chamada de bojo (HEIDEN et al., 2007).

A diversidade morfológica entre as espécies cultivadas de Cucurbita é muito grande. Esta variação fenotípica tem se mantido dessa maneira graças à atuação da fauna de abelhas nativas para polinização. Nascimento et al. (2011) constataram que o aumento da quantidade de pólen aplicada do progenitor masculino (C. moschata) nos estigmas do progenitor feminino (C. maxima) aumentou a produção de semen-tes por fruto na produção de sementes híbridas. No território brasileiro, existe uma quantidade imensa de abóboras e pouco se sabe sobre as espécies de Cucurbita em todas as regiões. Com as espécies de etnovariedades nativas da Amazônia, não é di-ferente. Por isso, estudos mais profundos sobre as variações genéticas são importan-tes para definir descritores qualitativos e quantitativos que permitam o melhor co-nhecimento da biologia e constituição gênica dessas populações, para implantação de um banco de germoplasma, visando à conservação do material para utilizá-lo em um programa de melhoramento da espécie, para múltiplas finalidades. Desse modo, foi identificada a necessidade de desenvolver novas pesquisas para caracterizar e se-lecionar biótipos de variedades crioulas de abóboras para subsidiar o programa de melhoramento de espécies do gênero Cucurbita para o estado do Amazonas.

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Avaliação de biotipos de variedades crioulas de abóboras

Foram avaliadas 13 Variedades Crioulas (VCs), que constituem o conjunto de genes/genótipos que receberam pressões seletivas semelhantes e que são mantidas por grupos étnicos de índios e caboclos, da mesma região geográfica. Este germoplasma foi registrado no livro de introdução de espécies da Coorde-nação de Pesquisas em Sociedade Ambiente e Saúde do INPA, em Manaus, e é oriundo de diferentes localidades da região do Alto Solimões (Figura 1), com as seguintes identificações de procedências: VC1 e VC2 (Tonantins), VC3 e VC4 (Tabatinga), VC5 e VC6 (Benjamim Constant), VC7 e VC8 (Atalaia do Norte), VC9 e VC11 (São Paulo de Olivença), VC14 e VC16 (Amaturá) e VC20 (Santo Antônio do Içá).

O experimento foi conduzido no período de agosto de 2005 a fevereiro de 2006, na Estação Experimental de Hortaliças – EEH “Dr. Alejo von der Pahlen” do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, localizada no quilômetro 14 da Rodovia AM-010, em Manaus. O solo dessa área é um Argissolo Vermelho-Amarelo álico, de textura arenosa, de baixa fertilidade natural. O clima local é ca-racterizado como “Afi” no esquema de Köppen, registrando 2.450 mm de chuva, com uma estação seca pronunciada no período de julho a setembro (EMBRAPA, 1982).

A semeadura foi conduzida no mês de agosto de 2005, em copos plásticos com capacidade para 500 g de substrato constituído por solo e matéria orgânica (na proporção de 1:1), previamente esterilizada com uma solução de hipoclorito na proporção de 1 L de água sanitária para 10 L de água.

O preparo da área experimental foi feito na segunda quinzena do mês de agos-to, consistindo de uma aração e uma gradagem do solo. Foram abertas covas com 0,30 m de largura e 0,20 m de profundidade. O transplantio foi realizado no último dia de agosto de 2005. As plantas foram irrigadas quando houve necessidade, prin-cipalmente quando o regime de chuvas foi considerado baixo. A adubação na cova consistiu da aplicação de 1,0 kg de composto orgânico, 50 g de superfosfato triplo, 50 g de cloreto de potássio e 20 g de ureia e uma adubação em cobertura feita no final do mês de setembro que consistiu de 50 g de sulfato de amônia aplicado na planta.

Para o desenho experimental, adotou-se o delineamento de blocos casualiza-dos com 13 tratamentos (Variedades Crioulas – VCs) e 3 repetições. A unidade ex-perimental consistiu de 5 plantas por parcela, num espaçamento de 1,5 m entre plantas e 2,0 m entre fileiras.

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ManausSto. Antônio de Içá

Tabatinga

Atalaia no Norte Benjamin Constant

S. Paulo de OlivençaAmaturá

Tonantins

Figura 1. Localização geográfica dos locais de coleta de etnovariedades crioulas de abóboras na região

do Alto Solimões, AM, Brasil.

As avaliações das etnovariedades de abóbora foram efetuadas no campo e no Laboratório de Genética e Etnobiologia da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas – CPCA, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Os estudos morfológicos foram baseados nas evidências de caracteres constantes nas etnovariedades. A terminologia adotada seguiu as orientações de alguns trabalhos recomendados para a caracterização das várias estruturas de Cucurbitaceae (FERRI et al., 1981; RADFORD, 1986; STERN, 1992; BARROSO et al., 1999). Foram avaliadas as seguintes características qualitativas e quantita-tivas das etnovariedades de abóbora: identificação das espécies, tempo de ger-minação das sementes (dias), tempo de florescimento (dias), frutificação (dias), forma dos frutos, maturação dos frutos (dias), diâmetro transversal dos frutos, comprimento dos frutos, massa média dos frutos, espessura da polpa, massa da placenta/fruto, massa média de sementes/fruto e cor da polpa dos frutos. As análises de variância sobre os caracteres quantitativos nas 13 variedades criou-las foram analisadas utilizando-se os recursos do programa estatístico Genes (CRUZ, 2006).

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Caracterização e avaliação de variedades crioulas de abóboras

da região do Alto Solimões

Das treze variedades crioulas avaliadas, doze foram identificadas como Cucur-bita moschata e uma como Cucurbita maxima. Na Figura 2, são mostrados detalhes dos frutos dessas duas espécies.

Figura 2. Aspecto vegetativo e morfológico de Etnovariedades crioulas de Curcubita moschata e C. ma-

xima procedentes da região do Alto Solimões, Amazonas, Brasil.

Nas avaliações fenológicas das variedades crioulas, observou-se que a germi-nação das sementes ocorreu entre três e quatro dias, com maior percentual (84%) em três dias. A fase de floração das plantas aconteceu aos 35 dias entre as mais precoces e aos 58 dias entre as mais tardias. Entretanto, sete variedades, possivel-mente afetadas pelo fotoperíodo, tiveram floração tardia, o que pareceu afetar a produção de frutos. A frutificação ocorreu após a antese floral, aos 44 dias, em plantas mais precoces e aos 70 dias nas mais tardias. A maturação dos frutos con-centrou-se em um intervalo compreendido entre 68 e 115 dias pós-semeadura (Tabela 1).

As características registradas são muito importantes para os melhoristas na programação de suas atividades voltadas para o melhoramento da espécie. Sob o ponto de vista socioeconômico, podem ser analisadas pelo agricultor, como uma possibilidade de utilizar as cultivares, levando em consideração o seu ciclo vegeta-tivo compatibilizando-o com épocas mais favoráveis para o seu cultivo.

Entre as variedades crioulas de abóboras avaliadas, foram observadas mui-tas variações nas diferentes estruturas das plantas e dos frutos. As folhas das plantas apresentaram coloração predominantemente verde com pigmenta-

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ções espaças de tonalidades escuras e claras. A pigmentação verde foi predo-minante no caule de todas as variedades crioulas. Entre e dentro das varieda-des pesquisadas, foram encontradas diferentes formas de frutos: arredondados (30%), globulares (30%), bojudos (23%), alongados (8%) e globular-achatados (8%). Essa variação indica que essas etnovariedades podem ser meio-irmãs provenientes de cruzamentos abertos. Portanto, podem ser aproveitadas ime-diatamente em programas de melhoramento, utilizando a sua base genética, com metodologia de seleção recorrente para plantas alógamas (FERRIOL et al., 2004).

Tabela 1. Caracteres fenológicos e morfológicos avaliados em etnovariedades de abóboras procedentes da região do Alto Solimões. INPA, Manaus, AM. 2005/2006.

VC Espécie*1

Ger

min

ação

(d

ias)

Flor

ação

(d

ias)

Frut

ifica

ção

(dia

s)

Mat

uraç

ão

(dia

s)

Cor d

o Ca

ule

Forma dos Frutos Cor dos Frutos

1 CMO 3 35 44 68 Verde Bojudo Alaranjada

2 CMO 4 37 46 72 Verde Bojudo Alaranjada

3 CMO 3 49 58 89 Verde Arredondado Amarela

4 CMO 3 49 59 91 Verde Globular Alaranjada

5 CMO 3 53 63 90 Verde Globular Alaranjada

6 CMA 3 41 50 78 Verde Glob. Achatado Alaranj. Creme

7 CMO 3 53 65 110 Verde Bojudo Alaranjada

8 CMO 4 58 64 104 Verde Globular Amarela

9 CMO 3 48 60 95 Verde Globular Alaranjada

11 CMO 3 52 64 109 Verde Alongado Alaranjada

14 CMO 3 54 70 115 Verde Arredondado Alaranjada

16 CMO 3 54 65 102 Verde Arredondado Alaranjada

20 CMO 3 52 64 102 Verde Arredondado Alaranjada

*1 VC = Variedades Crioulas; CMO = Curcubita moschata; CMA = Curcubita maxima.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Com relação à polpa dos frutos, três tonalidades de cores foram encontradas: laranja intensa (77%), polpa laranja-creme (8%) e polpa amarela (15%). A colo-ração laranjada da polpa é uma característica importante a ser considerada na seleção em Cucurbita moschata e Cucurbita maxima, visando tanto ao consumo doméstico quanto ao uso de produtos industrializados. Além de ser um indicador de qualidade comercial do fruto, esta característica é positivamente correlacio-nada com o teor de beta caroteno existente na polpa das abóboras (RODRIGUE-Z-AMAYA & AMAYA-FARFAN, 2008). Estes carotenoides são compostos poliênicos, lipossolúveis responsáveis pelas cores atraentes, características de muitos alimen-tos, que se estendem desde a cor amarela ao roxo (RODRIGUEZ-AMAYA & AMAYA-FARFAN, 2008). As análises de variância e os testes de médias sobre os caracteres quantitativos avaliados nas variedades crioulas de abóboras estão apresentadas na Tabela 2.

Com exceção do caráter peso dos frutos, foram detectados contrastes significa-tivos no nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, nos demais caracteres avaliados. Os coeficientes de variação estimados para todos os caracteres avalia-dos variaram de baixos a altos. Os mais altos foram observados nas características número e peso dos frutos (56,91 e 39,19%) respectivamente, considerados des-critores complexos diretamente afetados com o desenvolvimento das plantas em ambientes desfavoráveis.

A maior parte dessas variedades crioulas de abóbora produziu, em média, entre 1 e 3,3 frutos (Tabela 2), o que é uma produção considerada muito baixa. As varie-dades crioulas 1 e 2 oriundas de Tonantins foram as que produziram mais frutos por planta (17,3 e 11,7) respectivamente.

Os valores médios do diâmetro e comprimento dos frutos, variando de 9,8 a 20,5 cm e de 9,0 a 28,7 cm, respectivamente, demonstram que os frutos pro-duzidos por essas variedades crioulas são relativamente pequenos. É possível que no processo de seleção praticado pelos índios e caboclos, eles tenham dado preferência para aquelas que produziam frutos menores Figura 3. Mas, não se pode descartar que essa prática seletiva pode ter sido feita para atender às exi-gências do mercado consumidor da região, onde os compradores manifestassem preferências por frutos (de pequeno porte) inteiros, em vez de frutos (grandes) cortados.

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CAPíTULO 8

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Tabela 2. Valores médios dos caracteres quantitativos avaliados em etnovarieda-des de abóboras da região do Alto Solimões. Manaus, 2006.*1

VC N˚ de Frutos

Diâmetro dos frutos

(cm)

Comprimento dos Frutos

(cm)

Massa dos Frutos

(kg)

Espessura da Polpa

(mm)

Massa da Placenta

(g)

Massa das sementes

(g)

1 17,3 a 10,2 c 12,7 cd 0,79 16,2 d 68,47 bc 35,29 de

2 11,7 ab 9,8 c 13,4 cd 0,66 17,2 cd 60,69 c 31,83 e

3 3,3 bc 15,5 ab 15,6 bcd 1,63 26,2 ab 190,53 abc 94,55 ab

4 7,0 bc 16,9 ab 14,8 cd 2,19 29,0 a 207,97 abc 52,31 bcde

5 6,7 bc 17,2 ab 12,8 cd 1,96 25,5 ab 187,75 abc 63,84 bcde

6 7,7 bc 20,6 a 9,0 d 2,12 28,7 a 183,87 abc 48,63 cde

7 5,0 bc 14,7 bc 28,7 a 2,28 25,1 abc 288,58 a 75,25 abcde

8 1,0 c 18,4 ab 15,5 bcd 2,4 30,7 a 168,91 abc 113,74 a

9 2,0 c 18,2 ab 22,1 ab 1,97 23,4 abc 325,25 a 77,30 abcd

11 1,0 c 14,2 bc 17,4 bc 1,67 19,5 bcd 241,30 ab 73,70 abcde

14 1,0 c 16,3 ab 15,6 bcd 1,9 28,6 a 179,88 abc 71,74 abcde

16 1,0 c 19,2 ab 26,5 a 3,02 29,7 a 342,74 a 113,25 a

20 1,0 c 19,3 ab 18,3 bc 2,02 24,2 abc 218,15 abc 81,17 abc

*1 Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de

5% de probabilidade.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Figura 3. Aspecto morfológico e do tamanho de frutos de Curcubita moschata e C. maxima procedentes

da região do Alto Solimões, Amazonas, Brasil.

A espessura da polpa é uma característica muito importante em quase todas as hortaliças/frutos. Através dela, se pratica a seleção para os vários fins de utilização do fruto. Sobre o ponto de vista de transporte é fato notório que, quanto mais espessa seja a polpa, mais resistente é o fruto ao transporte. Nestas variedades crioulas, existe variabilidade genética para a espessura da polpa. Portanto, será possível, a partir des-sas populações, se fazer melhoramento para uso dessas abóboras na agroindústria. As variedades crioulas originárias de Tabatinga, Atalaia do Norte, Amaturá, Benjamim Constant, foram as que apresentaram a melhor espessura de polpa. A VC, de Cucur-bita maxima, originária de Benjamim Constant, localizada geograficamente no Baixo Rio Javari, foi a que apresentou o maior diâmetro dos frutos (20,5 cm). Esse tipo de fruto também é conhecido em diversas regiões brasileiras como moranga. Houve diferença significativa entre as variedades crioulas, no peso das sementes por fruto. O conhecimento desta característica permite estimar a produção de sementes por área, baseando-se no número de frutos produzidos, o que se torna uma informação importante para o produtor de sementes (PEIxOTO et al., 1990).

Quanto ao peso dos frutos, não houve diferença significativa. Entretanto, os valores médios variando de 0,66 kg a 3,02 kg nas variedades crioulas, se enqua-dram nos padrões recomendados por Ramos et al. (1997b), porque a tendência comercial atual é para frutos com peso variando de 1,0 a 2,0 kg. Alguns pesquisa-dores admitem que os frutos pequenos sejam preferidos, porque além da facili-dade de acondicionamento e transporte, podem ser armazenados em condições naturais pelo consumidor, podendo cada fruto ser preparado numa única refeição (CABRAL, 2007). Entre as variedades crioulas foram encontradas importantes varia-ções fenotípicas nos frutos: arredondados (30%), globulares (30%), bojudos (23%), alongados (8%) e globular-achatados (8%) Figura 4.

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CAPíTULO 8

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Figura 4. Detalhes dos frutos inteiros e cortes transversais e longitudinais em C. moschata e C. maxima

(A, B, C, D), procedentes da região do Alto Solimões, Amazonas, Brasil.

Conclusões

Das treze procedências de abóboras avaliadas, doze variedades crioulas foram identificadas como Cucurbita moschata e uma Cucurbita maxima. Nas observações fenológicas observou-se que a germinação das sementes, a frutificação e a matu-ração dos frutos ocorreram, respectivamente entre três e quatro dias, 44 e 70 dias e 68 e 115 dias, após a semeadura.

O tamanho dos frutos, levando em consideração os valores médios do diâmetro e comprimento, variou de 9,8 a 20,5 cm e de 9,0 a 28,7 cm, respectivamente, portanto, fo-ram considerados pequenos. A variabilidade genética encontrada no peso das semen-tes permitirá a produção de frutos em função do uso de sementes por área cultivada.

A variabilidade fenotípica detectada nos frutos das variedades crioulas permi-tiu a seleção de vários materiais genéticos que poderão ser imediatamente utiliza-

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dos para fins comerciais e em programas de melhoramento genético de abóboras para a região do Alto Solimões, no estado do Amazonas.

Agradecimentos

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, pela oportunidade de estágio que ao longo dos anos tem oferecido aos estudantes universitários do es-tado do Amazonas, para que eles possam aumentar seus conhecimentos técnicos e científicos; à equipe de trabalho da Estação Experimental de Hortaliças – EEH/CPCA “Dr. Alejo von der Pahlen”, na manutenção em campo e nas atividades de ava-liação do experimento em laboratório; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela concessão da bolsa de estudo remunerada e o incentivo ao estudante universitário na Iniciação Científica.

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CAPíTULO 8

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CAPÍTULO 9

Produção participativa de hortaliças com o uso da técnica de hidroponia, na área urbana de Manaus, AMFábio Sebastião ARAÚJO1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2; Luiz Augusto Gomes de SOUZA2; Júlio César Delfino RIBEIRO1

1 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA,

Av. André Araújo, 2396, Petrópolis, 69011-970, Manaus, AM. E-mail: [email protected], [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde – CSAS-INPA, Manaus, AM. E-mail: [email protected], [email protected].

Palavras-chave: Agricultura urbana; Olericultura; Educação ambiental; Amazônia.

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Introdução

O que torna a agricultura urbana um objeto de interesse é o contraste observa-do nesta atividade em relação ao processo de urbanização. Por isso, a urbanização constitui a mais importante transformação social da atualidade. Miguel e Grando (2002) estimaram que no ano 1800 somente 3% da humanidade vivia nas cidades. Atualmente, cerca de 50% da população mundial é urbana, mesmo que ainda per-sistam contradições do que seja uma sociedade rural ou urbana.

Quanto mais o processo de urbanização avança, mais importantes se tornam as iniciativas de práticas agrícolas em áreas urbanas. Baseados em um dos relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2011, Vinholi e Martins (2012) registraram que o planeta Terra atingiu a marca de 7 bilhões de seres humanos e, nesta fase, cerca de 78 milhões de pessoas nasciam a cada ano. O estudo fez um balanço do crescimento desde que o contingente mundial chegou a 1 bilhão de habitantes, por volta de 1800, em apenas duzentos anos. Segundo a ONU-HABI-TAT: a população urbana da América Latina atingirá 89% desse número em 2050. Seguindo a tendência mundial, a população brasileira terá 80% da sua população vivendo nas grandes cidades.

Diante da desafiadora missão de alimentar essa população urbana é que a FAO, órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, criou, em 2001, o progra-ma de horticultura urbana e periurbana, salientando a importância de práticas sus-tentáveis, como a inserção da agricultura urbana na produção de alimentos para as cidades. A agricultura urbana é definida como a produção alimentar, vegetal ou animal, que ocorre dentro dos limites da zona urbana ou do seu entorno (periur-bano) praticada em quintais, jardins, hortas, pomares, casas, escolas, em cima de tetos, espaços públicos, entre outros. Inserida neste contexto, a horticultura urba-na já é uma das mais importantes fontes produtoras de hortaliças frescas (VINHOLI e MARTINS, 2012), o que é feito com menor dispêndio energético no transporte e escoamento, reduzindo o consumo de petróleo pela proximidade do mercado consumidor.

Muitas técnicas de cultivo alternativo têm sido empregadas no desenvolvimen-to da agricultura urbana mundial. O cultivo de hortaliças em áreas urbanas é pra-ticado em diversos países no mundo, para a melhoria da qualidade alimentar e da geração de renda. A área de produção limitada no perímetro urbano estimula o desenvolvimento de práticas que otimizem a produção como é a hidroponia. Des-considerando-se o entendimento generalizado de que a produção de hortaliças em sistema hidropônico é onerosa, por necessitar de equipamentos sofisticados e de mão de obra altamente especializada, a formação de cooperativas ou microem-

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presas hidropônicas, em nível urbano e periurbano, mostra resultados de caráter socioeconômico no combate à pobreza e à marginalidade nos grandes centros ur-banos de muitos países (VINHOLI e MARTINS, 2012).

A adoção de técnicas de cultivo hidropônico no Brasil é ainda recente e tem crescido, principalmente, nos cinturões verdes das capitais, interior e em regi-ões próximas aos grandes centros consumidores. Entre as hortaliças mais culti-vadas com o uso dessa técnica, as espécies folhosas se destacam e, dentre elas, a alface (Lactuca sativa) é a mais cultivada (SEDIYAMA et al., 2000; Martinez, 2005).

De maneira geral, a Agricultura Urbana e a Periurbana contemporânea vêm ga-nhando destaque no cenário mundial e nacional e reafirmando-se como um fator permanente nos processos de desenvolvimento sustentável. Em Manaus, há a pos-sibilidade de avançar no conhecimento e domínio desta técnica de produção em projetos participativos de estudantes e donas de casa, para subsidiar uma nova formulação de políticas públicas para produção de alimentos no município. Assim, torna-se um desafio técnico a produção de hortaliças com a participação em geral usando a técnica de hidroponia.

Técnicas de hidroponia aplicadas na produção de hortaliças

Em algumas regiões brasileiras, a hidroponia funciona como instrumento so-cioeconômico. No município de Eusébio, CE, onde foi criado o projeto Hidroponia Social, além do caráter pedagógico para alunos e professores, tem o objetivo de fornecer alimentos saudáveis às escolas do município. A área explorada é de 140 m2, com o cultivo de alface, com produção anual de 60.000 pés de alface ano-1. Em Teresina, PI, um projeto nos mesmos moldes, usa garrafas PET de 2 L para produ-ção de hortaliças folhosas com uso de hidroponia em sistema de ferti-irrigação. Esse sistema depois de implantado em escolas foi introduzido em centros de rea-bilitação para presos (VINHOLI e MARTINS, 2012), tornando-se parte da estratégia ocupacional deste contingente.

Na região do cinturão verde, nas proximidades da capital do estado de São Pau-lo, os municípios de Mogi das Cruzes, Biritiba Mirim, Salesópolis e Suzano são os maiores produtores paulistas de alface. No ano de 2000, estes municípios apresen-taram uma produção diária de 1,5 milhão de pés, alcançando 141.000 t ano-1 e uma produtividade média de 30 t ha-1 (CARDOSO, 2000).

Pesquisas realizadas com hortaliças usando sistemas de cultivo hidropônico conduzidas em escolas têm mostrado uma excelente produção em um curto espa-

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ço de tempo, tornando essa técnica uma ótima alternativa para cultivos de hortali-ças, permitindo, inclusive, a geração de renda e emprego para pequenos produto-res da área urbana (ABRANTES, 2004).

No ambiente escolar de área urbana, as pesquisas participativas realizadas com estudantes do ensino fundamental, mostraram aos alunos que as plantas não necessitam necessariamente do solo para produzir com qualidade, visto que nos sistemas de produção hidropônico o fornecimento de nutrientes essenciais aos ve-getais é balanceado e controlado.

A hidroponia consiste em uma técnica de cultivo sem o uso de solo, sendo que a demanda de nutrientes requerida para o desenvolvimento normal da planta é su-prida pelo fornecimento de uma solução aquosa que contenha todos os nutrientes necessários, conhecida como solução nutritiva. Por possibilitar um maior controle sobre as condições de cultivo, a tecnologia hidropônica tem como vantagem mi-nimizar alguns dos problemas relacionados com os modelos predominantes de produção, tais como a redução no desperdício de água, energia, insumos, dentre outros (MENEZES et al., 2004).

Tipos de hidroponia

Há diversos tipos de sistemas hidropônicos. Estes variam de acordo com a es-trutura, substrato e fornecimento de oxigênio. Os três sistemas mais usados em escala comercial, são:

1 . Sistema com substratos

Os sistemas com substratos são mais utilizados em locais com pouca dispo-nibilidade de água. São adequados para a produção de hortaliças, frutos, flores e culturas com o sistema radicular e parte aéreas bem desenvolvidas (Figura 1). Neste sistema, podem-se utilizar vasos preenchidos com materiais inertes, tais como: areia, pedras diversas (seixos, brita), vermiculita, perlita, lã-de-rocha, es-puma fenólica, espuma de poliuretano e outros. O material selecionado deve ser capaz de sustentar as plantas, facilitando que a solução nutritiva seja percolada e drenada pela parte inferior dos vasos, permitindo o seu retorno ao tanque de solução nutriente.

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CAPíTULO 9

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Figura 1. Plantas de beterraba (Beta vulgaris) cultivadas em sistema hidropônico com substrato poroso.

As unidades hidropônicas em substratos são de uso simples e prático, podendo ser estabelecidas em residências, escolas e em locais onde não há disponibilidade de energia elétrica, nem a necessidade de uma cobertura plástica. O método tam-bém pode ser recomendado para agricultores principiantes, uma vez que não usa equipamentos complicados, reduzindo as dificuldades aos usuários. Um exemplo desse sistema de cultivo com alface a céu aberto é mostrado na Figura 2.

Figura 2. Plantio de alface (Lactuca sativa) em sistema hidropônico de substrato.

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Características de uma unidade hidropônica em substrato

A) Recipiente

Como recipiente podem ser usados vasos cerâmicos ou plásticos, caixas de ma-deira de diversos tamanhos e formas, garrafas e até mesmo pneus usados, o que contribui para a reciclagem de materiais nas cidades. Um cuidado importante com relação ao uso de recipientes é evitar que eles sejam feitos de materiais que pos-sam causar toxidez às plantas. É importante, também, que os recipientes tenham orifícios em suas bases, para que possam drenar o excesso de solução nutritiva, para que não ocorra a morte das plantas por falta de oxigenação das raízes. A so-lução drenada pode ser coletada em um recipiente e ser novamente aproveitada. Na Figura 3, está apresentado um esquema de uma unidade simples dessa moda-lidade de cultivo.

GotejadoresAjustáveis

Vaso com Substrato

RedePrincipal

Registro

SoluçãoNutritiva

Microtubos

Reservatório

Reservatóriode Coleta

Figura 3. Esquema demonstrativo de uma unidade simples de hidroponia com o emprego de

substrato.

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B) Substrato

O substrato de preenchimento dos recipientes pode ser definido como grânu-los colocados com a função de dar suporte às plantas. O substrato selecionado deve ter alta resistência ao desgaste e, preferencialmente, não ser constituído de minerais solúveis, para não alterar o equilíbrio químico da solução nutritiva a ser aplicada. Ressalta-se que o material deve ser limpo previamente para não ser por-tador de qualquer forma de vida de macro ou microrganismo, para reduzir o risco de propagação de doenças ou causar danos às plantas e às pessoas ou animais que comerem as plantas cultivadas neste sistema. Os substratos mais utilizados neste sistema hidropônico são: areia, preferencialmente areia grossa de rio, vermiculita, turfa e fibra-de-coco etc. (DOUGLAS, 1987; MARTINEZ, 1999).

C) Solução salina

Nos cultivos hidropônicos, a solução salina é chamada de solução nutritiva. Esta solução nutriente é composta de água e sais minerais, que são os nutrientes essen-ciais que alimentam as plantas. Esses sais minerais podem ser adquiridos em casas especializadas para agricultura, onde podem ser encontrados separadamente ou vendidos em kits. Os kits mais comuns trazem uma mistura de nutrientes essenciais, que depois de diluídos em água formarão uma solução nutritiva para mil litros. Quan-do adquiridos isoladamente, entretanto, é possível preparar uma solução nutritiva a partir dos sais adquiridos em comércios especializados em produtos agrícolas. Neste caso, há a necessidade de utilizar uma formulação para que não haja desequilíbrio entre os nutrientes que constituirão a solução. A Tabela 1 apresenta a composição da solução nutritiva formulada pelo Instituto Agronômico de Campinas – IAC, para diversas hortaliças folhosas em sistemas de cultivo hidropônico.

2 . Sistema com técnica de Fluxo Laminar de Nutrientes ou NFT

(Nutrient Film Technique)

Este sistema é composto basicamente de um tanque de solução nutritiva, de um sistema de bombeamento, dos canais de cultivo e de um sistema de retorno ao tanque. A solução nutritiva é bombeada aos canais e escoa por gravidade, formando uma fina lâmina de solução que irriga as raízes. Esse sistema foi desenvolvido nos anos 1960 pelo Dr. Allen Cooper e é o sistema mais utilizado no Brasil. Na Figura 4 está detalhado um esquema operacional de uma bancada em sistema de fluxo laminar de nutrientes.

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Tabela 1. Sais minerais e quantidades recomendadas para o preparo de 1.000 L de solução nutritiva. IAC. Campinas, SP, 1999.

Sal ou fertilizante g/1.000L

Nitrato de cálcio 750

Nitrato de potássio 500

Fosfato monoamônio 150

Sulfato de magnésio 400

Sulfato de cobre 0,15

Sulfato de zinco 0,5

Sulfato de manganês 1,5

ácido bórico 1,5

Molibdato de sódio 0,15

Tenso-Fe® (Fe EDDHMA-6%) 30

Solução Nutritiva

Bomba

Bancada de um Sistema Hidropônico NFT

Figura 4. Esquema de funcionamento de uma bancada de cultivo em sistema de fluxo laminar de nu-

trientes.

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143

Neste sistema de fluxo laminar de nutrientes é importante entender que os ca-nais de cultivo, por onde escoa a solução nutritiva, são determinantes para o suces-so do sistema. A conformação do canal, sua profundidade e a largura influenciam na qualidade da espécie cultivada. Há diversos tipos de canais que podem ser utili-zados. As telhas de cimento amianto com ondas rasas (2,5 cm de altura e espaçadas a 7,5 cm) são indicadas para a produção de mudas ou para algumas culturas de pe-queno porte: rúcula (Eruca sativa) e agrião (Barbarea verna) ou com ondas maiores (5 cm de altura e espaçadas a 18 cm) podem ser utilizadas para o cultivo de plantas de ciclos curtos: alface (Lactuca sativa), salsa (Petroselium sativum) e couve (Brassica oleracea). Outro material alternativo apropriado são os tubos de PVC de diversas bitolas de 50 a 150 mm e tubos de polipropileno, vendidos em lojas especializadas em hidroponia.

No cultivo em sistema de fluxo laminar de nutriente é necessário o uso de co-bertura. Geralmente, uma casa de vegetação pode ser construída para proteger as plantas e a qualidade da solução nutritiva (Figura 5). A incidência de chuvas no sistema pode resultar em alterações na solução nutritiva.

Figura 5. Modelo estrutural de uma casa de vegetação aberta, com cobertura plástica apropriada para

o cultivo hidropônico em sistema de fluxo laminar de nutrientes.

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Componentes de um sistema hidropônico com fluxo laminar

de nutrientes

O sistema NFT é composto das seguintes estruturas básicas: a) Um sistema hidráulico, que compreende as tubulações que alimentam e recolhem a solução nutritiva dos perfis hidropônicos, um reservatório de solução nutritiva e um sis-tema moto-bomba; b) as bancadas ou mesa de cultivo que servem de suportes para os canais de cultivos; c) os canais de cultivos, que são os locais do sistema onde as plantas permanecerão até a sua colheita.

O material utilizado na confecção dos canais deve ser impermeável ou imper-meabilizado para não reagir com a solução nutritiva. Como já mencionado, po-dem-se usar telhas de cimento amianto, tubos de PVC e tubos de polipropileno de formato semicircular; d) um sistema elétrico, composto por um timer ou regulador de tempo, que é responsável por acionar a bomba que circula a solução nutritiva. Esse equipamento permite que o tempo de irrigação e drenagem ocorra de acordo com a programação desejada.

3 . Técnica de cultivo na água

A técnica de cultivo na água, também é chamada de “floating” ou flutuante. Neste sistema, a solução nutritiva forma uma lâmina de 5 a 20 cm, onde as raí-zes das hortaliças cultivadas ficam submersas. Neste sistema, não se estabelecem canais e sim uma bancada plana onde é colocada a solução nutritiva, oxigenada através de um sistema de entrada e drenagem ou simplesmente por injeção de oxigênio por meio de compressores de ar. Desse modo, durante todo o cultivo ou em horários programados, a solução líquida enche-se de bolhas no processo de oxigenação do sistema.

Como no sistema com fluxo laminar de nutrientes, no cultivo na água as raízes das plantas permanecem submersas na solução nutritiva, por todo o período de cultivo. Neste sistema, a oxigenação da solução merece atenção: essa oxigenação pode ser feita por um “venturi” (bomba que produz ar comprimido), por compres-sores de ar ou até mesmo por um sistema manual, desde que haja uma eficiente oxigenação na lâmina de solução nutritiva (Figura 6).

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CAPíTULO 9

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Figura 6. Sistema hidropônico de cultivo na água, empregando oxigenação manual (é usada quando

não se dispõem de oxigenadores elétricos, podendo ser realizada duas vezes ao dia, uma pela manhã e

outra à tarde pelo tempo de um minuto).

Componentes de um sistema hidropônico na água

O sistema é muito simples e pode ser constituído por um recipientes, que po-dem ser baldes ou bacias de diversos tamanhos, até uma piscina grande com mais de 20 m2 (Figura 7). Esse sistema é dependente de um oxigenador, que pode ser um compressor de ar, com a função de manter a solução nutritiva oxigenada, evi-tando assim a morte das plantas por falta de oxigênio.

Figura 7. Sistema hidropônico para produção de alface (Lactuca sativa) conduzida na água, em escala

comercial.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Produção participativa de hortaliças no sistema de hidroponia

em área urbana de Manaus, AM

No ano de 2010, foi desenvolvida uma pesquisa participativa com moradores da área suburbana de Manaus, AM, para estabelecimento de cultivos hidropônicos de hortaliças. Os trabalhos foram conduzidos na Escola Municipal Helena Augusta Walcott, localizada no bairro Jorge Teixeira, zona leste da cidade de Manaus. Os sujeitos sociais da pesquisa foram 108 alunos, 22 pais de alunos e 22 professores. Durante seis meses, os agentes envolvidos receberam orientação teórica e prática para a construção do sistema de produção hidropônico para hortaliças. Os estudos teóricos e práticos foram baseados no método de estudo de caso (YIN, 2005).

A primeira etapa da condução do experimento compreendeu a aplicação dos questionários aos alunos, professores e aos pais dos alunos, com a finalidade de obter informações sobre a escolaridade, moradia, a existência de hortas ou jar-dins em suas residências, conceitos do ecossistema urbano e educação ambiental, agricultura orgânica, hidroponia e dos produtos hidropônicos e da importância de uma horta escolar. A segunda etapa consistiu na montagem do sistema hidropôni-co, formação das mudas e cultivo das hortaliças de forma participativa.

Formação das mudas

Para o início dos trabalhos práticos, foram selecionadas quatro espécies de hor-taliças folhosas: cariru (Talinum triangulare), cebolinha (Allium fistulosum), chicó-ria (Eryngium foetidum) e alface (Lactuca sativa). As mudas de cariru foram feitas a partir de estacas, com 10 cm de comprimento. Após o corte das estacas, elas fo-ram colocadas na sombra por um período de 24 horas para cicatrizar o corte. Após esse procedimento, as estacas foram dispostas em um recipiente contendo 1 cm de água pura por três dias para promover o enraizamento e posterior transplante para o sistema hidropônico.

As espécies alface e chicória foram propagadas por meio de sementes em copi-nhos plásticos descartáveis usando vermiculita como substrato, onde permanece-ram até a fase que emitiram quatro folhas definitivas. As mudas de cebolinha foram propagadas a partir de pseudobulbos, seguindo a técnica semelhante ao do cariru. Na Figura 8, estão apresentados detalhes do sistema de cultivo das quatro espécies acima especificadas.

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CAPíTULO 9

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Figura 8. Ciclo vegetativo em sistema hidropônico para as espécies olerícolas cariru – Talinum triangu-

lare (A), alface – Lactuca sativa (B), chicória – Eryngium foetidum (C) e cebolinha – Allium fistulosum (D).

1 - Ramo retiradode planta

matriz

1 - Sementes 2 - Muda crescendo em copinhos descartáveis

1 - Sementes 2 - Muda crescendo em copinhos descartáveis

3 - Alface emcrescimento

4 - Alface no pontode colheita

3 - Chicória em crescimento, no

sistema hidropônicode substrato

4 - Chicória no pontode colheita

1 - Pseudobulbosde cebolinha

2 - Pseudobulbosenvolvidos

pela espuma

3 - Pseudobulbosno copinho descartável

4 - Cebolinha emponto de colheita

5 - Mudas em crescimentono recipientehidropônico

2 - Corte de estaca para germinação

3 - Estaca após três dias com a base

em água pura

6 - Estaca emcrescimento

7 - Planta de cariru em ponto de

colheita

4 - Estaca envolvida pela

espuma

5 - Estaca pronta para ser

transplantada

A

B

C

D

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Montagem do sistema hidropônico

Foi utilizada uma casa de vegetação com uma área de 20 m2,, com 5 m de com-primento por 4 m largura, com pé direito de 2,50 m, coberta com telha plástica transparente e laterais cercadas com tela plástica com malhas de ½ polegada.

Na instalação do sistema hidropônico em minifloating foram utilizados os se-guintes materiais e equipamentos: floreiras com capacidade para 8 L, baldes com capacidade para 20 L, oxigenadores de aquário, pedras porosas, garrafas PET com capacidade de 2 L, mangueiras plásticas para aquários e desviadores de ar usados em aquários. Foram também utilizados copos plásticos descartáveis com capacida-de de 50 mL, esponjas para dar sustentação às plantas; kit de sais para hidroponia, calcário agrícola, provetas de 10 e 100 mL, indicador universal de pH tipo fita e condutivímetro eletrônico de bolso (Figura 9).

Figura 9. Materiais e equipamentos usados na montagem das unidades de hidroponia no sistema na

água, usando minirrecipientes.

Preparo da solução nutritiva

Após a compra do kit de sais para a solução nutritiva, foram separadas cinco embalagens com capacidade de 5 L cada, enumeradas de 1 a 5. Cada embalagem

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CAPíTULO 9

149

foi dissolvida em 3 L de água. Cada saquinho com sais minerais foi dissolvido em um recipiente, formando cinco recipientes com solução concentrada, que depois foi completada com água até atingir 5 L de solução. A Figura 10 apresenta o esque-ma de preparo da solução concentrada. A diluição dos sais em embalagens de 5 L teve por objetivo facilitar o preparo da solução nutritiva em menores quantidades, bastando utilizar as proporções equivalentes de cada embalagem (5 mL de cada solução concentrada para um litro de solução nutritiva).

1 - Kit de sais para solução nutritiva

2 - Cinco saquinhos com sais minerais

3 - Diluição de cada saquinho separadamente em um determinado recipiente

4 - Recipiente com solução concentrada

5 - Cada 5 ml de cada recepientede solução concentrada forma

1 litro de solução nutritiva

6 - Reservatório desolução nutritiva

Figura 10. Esquema de preparo da solução nutritiva a partir do kit de sais de hidroponia que são comer-

cializados nas lojas especializadas.

Manejo participativo da horta hidropônica

O manejo da horta hidropônica durante o cultivo das hortaliças consistiu em repor a água consumida, manter o pH equilibrado, verificar o funcionamento dos oxigenadores e manter a produção das mudas e o desenvolvimento das plantas até a colheita. Além das atividades citadas, os alunos desenvolveram apresenta-ções para outras turmas, explicando a técnica de cultivo hidropônico e as hortali-ças cultivadas (Figura 11).

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Figura 11. Alunos apresentando os resultados da prática de produção de hortaliças em sistema hidropônico.

A terceira etapa da pesquisa foi conduzida com a reaplicação dos questionários, para saber quais foram as mudanças ocorridas durante os seis meses de atividades práticas com o cultivo hidropônico de hortaliças folhosas.

Difusão participativa da técnica de hidroponia para produção

de hortaliças na agricultura urbana de Manaus, AM

Das quatro hortaliças folhosas cultivadas em sistema de produção hidropôni-co, o cariru, a alface e a chicória apresentaram respostas excelentes em termos de qualidade para ser utilizado como alimento e fins comerciais. A cebolinha não deu a resposta esperada. O pseudobulbo propagado produziu propágulos raquíticos e com folhas muito finas com tendências ao tombamento ao atingir 20 cm de altura. É possível que o material propagado já estivesse em uma fase de perda de vigor vegetativo. Esta é uma situação fisiológica apresentada por clones de plantas pro-pagadas vegetativamente por várias vezes.

O envolvimento dos alunos e seus pais no projeto de hidroponia foi avaliado por entrevistas semiestruturadas. Considerando o nível de escolaridade, 82% dos pais dos alunos tinham cursado o ensino fundamental e somente 5% o ensino superior. Como

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CAPíTULO 9

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as atividades foram desenvolvidas na escola, 100% dos alunos cursavam o ensino fun-damental e 100% dos professores eram portadores do título de ensino superior.

Com relação ao tipo de moradia que habitam, 91% dos pais moravam em casas, 9% em apartamentos. Já os alunos, 96% moravam em casas e 4% em apartamentos e os professores 64% moravam em casas e 36% em apartamentos. Observou-se que 83%, 38% e 72%, respectivamente, dos pais, alunos e professores declararam que possuíam espaço para hortas e jardins em suas moradias.

Nenhum dos pais tinha conhecimento do conceito de hidroponia antes do pro-jeto. Entre os alunos e professores, respectivamente, 3% e 19% sabiam defini-la bem, enquanto 11% e 14% dos alunos e professores tinham somente leve noção. Na avalia-ção do conhecimento dos pais, alunos e professores sobre o conceito de agricultura orgânica, somente 14%, 21% e 77%, respectivamente, responderam corretamente o conceito. No início do projeto, 82% dos pais não sabiam definir o que era meio ambien-te e os 18% restante responderam que se relacionava a questões como: preservar a na-tureza; plantas e animais ou a floresta. O mesmo foi aplicado ao conceito de educação ambiental. Todos os participantes acham importante que os filhos aprendam sobre o meio ambiente e agricultura. Isso demonstra que os atores envolvidos nesta atividade são favoráveis ao modelo de educação participativa e interativa para seus filhos.

Considerações finais

No desenvolvimento do projeto piloto “Hidroponia na Escola: Uma proposta para aprendizagem de práticas agrícolas e educação ambiental”, foi verificado que uma horta hidropônica serviu de instrumento metodológico de ensino e aprendi-zagem aos pais, alunos e professores. Nos testes preliminares com quatro espécies de hortaliças folhosas, a alface, a chicória e o cariru apresentaram ótimo desenvol-vimento no sistema de cultivo hidropônico. A condução da pesquisa participativa teve papel de difusão do conhecimento técnico para despertar o interesse para os cultivos hidropônicos como uma forma alternativa de produzir hortaliças no espa-ço limitado do ambiente urbano.

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CAPÍTULO 10

Germinação de sementes de araçá-boi em diferentes substratos e regimes de temperaturaSidney Alberto do Nascimento FERREIRA1; Elizabeth Rodrigues REBOUÇAS2

1 Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CBIO-INPA, Av. André Araújo, 2936,

69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected];

2 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I, Manaus, AM.

E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Fruticultura; Myrtaceae; Eugenia stipitata; Propagação.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Introdução

A Amazônia possui inúmeras espécies frutíferas nativas que constituem um grande potencial para o desenvolvimento socioeconômico da região. Dentre estas espécies, encontra-se o araçá-boi (Eugenia stipitata ssp. sororia McVaugh), perten-cente à família Myrtaceae que, nos últimos anos, tem despertado interesse pelas qualidades organolépticas e possibilidade de aproveitamento agroindustrial dos frutos, além do alto índice de produção por planta (FERREIRA e GENTIL, 1999). O araçá-boi possui frutos suculentos, com aroma e sabor agradáveis que podem ser consumidos na forma de refrescos, doces, néctares, geleias, licores, iogurtes etc. (ANDRADE et al., 1997; FERREIRA e GENTIL, 1999).

A propagação do araçá-boi via sementes é a mais comum, entretanto o proces-so germinativo é lento e desuniforme (CHáVEZ e CLEMENT, 1984; ANJOS e FERRAZ, 1999), evidenciando-se a presença de dormência. Pinedo et al. (1981), Anjos e Ferraz (1999), além de Gentil e Ferreira (1999) afirmaram que a dormência nas sementes des-sa espécie pode ser devido à resistência tegumentar, ausência de eixo embrionário ou presença de substâncias químicas inibidoras da germinação. Gentil e Ferreira (1999) constataram que a destegumentação parcial ou total da semente de araçá-boi reduz, em parte, o período de germinação, contribuindo para a superação da dormência.

A germinação natural das sementes pode ser influenciada pela disponibilidade de água, grau de temperatura e taxa de oxigênio, além de, algumas vezes, quando da pre-sença de dormência, sofrer influência da luz (CARVALHO e NAKAGAWA, 1983), o que ocorre especialmente em espécies pioneiras. Tendo em vista que o substrato onde a germinação se processa pode alterar estes fatores, devido a sua estrutura, aeração e ca-pacidade de retenção de água, dentre outros, pode-se dizer que este também favorece ou prejudica a germinação das sementes (WAGNER JÚNIOR et al., 2006).

Especificamente para o araçá-boi, Chavez e Clement (1984) verificaram que o carvão vegetal quebrado e fino permite a expressão de 100% de taxa de germina-ção, entre 80 e 90 dias após a semeadura, enquanto a média da espécie em outros substratos fica entre 80-90% de germinação, distribuída em períodos mais longos. Conforme Anjos apud Ferreira e Gentil (1999), as temperaturas classificadas como mínima, ótima e máxima, para emergência da raiz primária de araçá-boi foram 15º C, 30º C e < 35º C, respectivamente. A escassez de informações sobre a germinação de sementes de araçá-boi aliada ao crescente interesse de cultivar essa espécie, evidenciam a necessidade de pesquisas para avaliar a composição do substrato adequado para a boa germinação, bem como o estabelecimento do processo ger-minativo em diferentes regimes de temperatura.

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CAPíTULO 10

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Obtenção de sementes e condução da pesquisa

Foram coletados frutos maduros de araçá-boi, com o epicarpo completa-mente amarelo, de um pomar constituído por 41 plantas, estabelecido em solo Latossolo Amarelo textura argilosa, no Campus do INPA-V8, em Manaus, AM (3º05’30,1”S; 59º59’34,7”O). Após a coleta, as sementes foram extraídas manual-mente e imersas em água, por três dias, com troca diária de água, a fim de facilitar a retirada dos restos de polpa aderidos às sementes. Em seguida, as sementes foram friccionadas com areia e lavadas com água corrente até ficarem completa-mente limpas.

Após o beneficiamento, as sementes foram expostas à secagem, em condi-ções de ambiente, por dois dias, para eliminar o excesso de água, superficialmen-te. A partir daí, com grau de umidade de 49,3% (com base no peso da amostra úmida), as sementes foram acondicionadas em sacos de polietileno preto con-tendo os seguintes substratos: areia; serragem de madeira; carvão moído; areia + serragem (1/1, v/v); areia + carvão (1/1, v/v); serragem + carvão (1/1, v/v); serra-gem + areia + carvão (1/1/1, v/v/v), com volume equivalente a duas vezes o das sementes e umedecimentos com água o equivalente a 50% da capacidade de retenção.

Após cada abertura dos sacos para aferição da germinação foram feitos borrifos com água a fim de compensar eventual perda de umidade do substrato. Os sacos contendo as diferentes misturas de sementes e substratos, devidamente fechados, foram dispostos em dois regimes de temperatura: 1) Sala com temperaturas míni-ma e máximas média de 26 ± 0,9º C e 30 ± 1,5º C, respectivamente; 2) Viveiro com sombreamento de 50% de luz incidente e temperaturas mínima e máxima médias de 24 ± 0,9º C e 34 ± 2,7º C, respectivamente. O experimento também considerou um tratamento testemunha, cujas sementes foram semeadas, convencionalmen-te em canteiro de semeadura, em caixas plásticas, contendo como substrato uma mistura areia + serragem (1/1, v/v), em viveiro com sombreamento de 50% (mes-mas condições de temperaturas acima descritas).

A partir da semeadura, a germinação foi avaliada a cada 10 dias, registrando o número de sementes com emissão de, pelo menos, 5 mm da raiz primária. Para as sementes semeadas em canteiro de semeadura, registrou-se o número de plântu-las emergidas do substrato que apresentavam epicótilo com, aproximadamente, 5-10 mm.

A partir da contagem de germinação, foram calculados a germinação em valor percentual, o tempo médio de germinação em dias (EDWARDS, 1934) e o índice de velocidade de germinação (MAGUIRE, 1962). O delineamento experimental foi

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 7 (substratos) x 2 (regimes de tempera-tura) + tratamento adicional (testemunha), com quatro repetições de 50 sementes. Após análise de variância, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizando o programa ESTAT (v. 2.0), desen-volvido na UNESP-FCAV.

Efeito do substrato e do regime de temperatura na germinação

Nenhuma das variáveis estudadas (germinação, índice de velocidade de ger-minação e tempo médio de germinação) apresentou diferença significativa entre a testemunha (semeadura convencional) e o fatorial (combinação dos diferentes substratos com os regimes de temperaturas) (Tabela 1). Isto significa que não hou-ve perda ou ganho com a associação de substratos e regimes de temperatura em relação à semeadura tradicional (testemunha). Por outro lado, todas as variáveis tiveram efeito significativo com relação ao regime de temperatura e tipo de subs-trato de semeadura, quando analisados separadamente, sem ter sido observado efeito de interação entre estes dois fatores.

Analisando o efeito isolado do fator regime de temperatura, no método do saco plástico fechado (Tabela 2), foi possível observar a maior taxa de germinação das sementes (17,7% superior) sob as temperaturas mínima e máxima de 26º C e 30º C, respectivamente, em relação às taxas sob condições de viveiro, cujas temperaturas mínima e máxima foram de 24º C e 34º C, respectivamente. Foi verificado também que o índice de Velocidade de Germinação (IVG) e o Tempo Médio de Germinação (TMG) foram mais satisfatórios sob o mesmo regime de temperatura (mínima e máxima de 26º C e 30º C, respectivamente), sendo maior o valor do IVG e menor o TMG.

Com isto, foi possível inferir que as condições do viveiro foram menos favoráveis ao desempenho germinativo das sementes de araçá-boi acondicionadas em sacos plásticos fechados. É possível que a temperatura máxima média alcançada neste ambiente (34º C) tenha contribuído para este resultado. Este valor está muito pró-ximo ao da temperatura máxima de 35º C proposta como limite para a emergência da raiz primária de araçá-boi (ANJOS apud FERREIRA e GENTIL, 1999). Outrossim, devido à dispersão dos dados, houve expressiva frequência de temperaturas acima do valor máximo médio: em 51% dos registros efetuados as temperaturas situa-ram-se entre 35-38º C.

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CAPíTULO 10

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Tabela 1. Teste F das análises de variância da germinação, do índice de Velocidade de Germinação (IVG) e do Tempo Médio de Germinação (TMG) das sementes de araçá-boi acondicionadas em sacos plásticos fechados em diferentes substratos e regimes de temperatura.

Fonte de Variação G.L. Germinação IVG TMG

Testemunha x Fatorial 1 0,28ns 1,01ns 1,2ns

Substrato (A) 6 3,76** 4,09** 3,79**

Regime de Temperatura (B) 66,14** 65,38** 22,00**

Interação A x B 1,48ns 1,34ns 1,17ns

C.V. (%) 26,3 30,6 8,4

ns Não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.

Tabela 2. Germinação, índice de Velocidade de Germinação (IVG) e Tempo Médio de Germinação (TMG) das sementes de araçá-boi acondicionadas em sacos plás-ticos fechados sob diferentes substratos e regimes de temperatura, ou semeadas convencionalmente.

Fator Germinação (%) IVG TMG (dias)

Semeadura convencional 29,0ns 0,140ns 109,3ns

Regime de temperatura

Mín. e Máx. de 26º C e 30º C 40,1 a 0,221 a 98,8 b

Mín. e Máx. de 24º C e 34º C 22,4 b 0,112 b 109,8 a

Substrato

Areia 24,5 b 0,130 bc 102,6 b

Serragem 25,0 b 0,119 c 116,4 a

Carvão moído 36,3 ab 0,195 abc 99,9 b

Areia + Serragem 28,5 ab 0,148 abc 107,0 ab

Areia + Carvão 36,3 ab 0,200 ab 99,5 b

Serragem + Carvão 30,3 ab 0,164 abc 104,9 ab

Serragem + Areia + Carvão 38,0 a 0,210 a 99,7 b

ns A testemunha não diferiu significativamente do conjunto dos tratamentos, pelo teste F, a 5% de pro-

babilidade; As médias seguidas de mesma letra na vertical, dentro de cada fator, não diferem significa-

tivamente entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

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Comparando os diferentes substratos, foi observado que para todas as variáveis (germinação, IVG e TMG) a mistura serragem + areia + carvão mostrou uma ten-dência de melhores resultados, mesmo que não tenha diferido significativamente dos demais substratos que também utilizaram carvão moído na sua composição. Inclui-se neste grupo, de comportamento intermediário, o substrato areia + serra-gem (Tabela 2). Os substratos contendo apenas areia ou apenas serragem foram os que proporcionaram menores taxas de germinação e índices de vigor, sugerindo que a combinação de diferentes componentes na mistura substrato de semeadura melhora as suas propriedades.

Dentre os tratamentos testados, a combinação serragem + areia + carvão pa-rece ter oferecido as melhores condições de umidade e aeração, favoráveis à ger-minação das sementes de araçá-boi, provavelmente pelo adequado equilíbrio da relação entre os constituintes (serragem/areia/carvão/água) utilizados. Adicional-mente, o carvão moído pode ter funcionado como um adsorvente, retendo subs-tâncias prejudiciais à germinação, como compostos fenólicos (SCHNEIDER, 2008), que poderiam estar presentes tanto nas sementes quanto na serragem.

De um modo geral, os valores de germinação foram baixos, mesmo nas me-lhores condições de germinação. Isto, provavelmente, deve-se ao curto período de observação da germinação neste experimento (150 dias). Conforme Chávez e Clement (1984), a germinação de araçá-boi, normalmente, tem início entre 45 e 90 dias após a semeadura e é concluída depois de 180 a 270 dias, podendo alcançar valor de germinação entre 80 e 90%. Esses autores afirmam que o uso do carvão vegetal quebrado e fino, permitiu taxa de 100% de germinação já aos 80-90 dias após a semeadura, o que diverge do resultado do presente trabalho (Tabela 2), onde a média de 36% para o carvão moído foi atingida aos 150 dias após a seme-adura. Considerando que a germinação pode ser acelerada com a destegumenta-ção (descascamento) das sementes, sugere-se avaliar a combinação destes dois procedimentos, vislumbrando-se a possibilidade de sucesso.

Conclusões

O substrato composto de serragem de madeira + areia + carvão moído (1/1/1, v/v/v), umedecido com água o equivalente a 50% de sua capacidade de retenção, sob o regime de temperaturas mínima e máxima médias de 26 ± 0,9º C e 30 ± 1,5º C, respectivamente, foi a condição mais adequada para a germinação de sementes de araçá-boi em sacos plásticos fechados.

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CAPíTULO 10

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CAPÍTULO 11

Métodos para superação da dormência de sementes de quatro espécies do gênero Peltogyne (Fabaceae, Caesalpinioideae)Manoel Paulino da COSTA FILHO1; Luiz Augusto Gomes de SOUZA1

1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected]; [email protected].

Palavras-chave: Leguminosae; Pau-roxo; Semeadura; Tratamentos pré-germinativos.

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Introdução

Os estudos sobre germinação de sementes são indispensáveis para o aproveita-mento de espécies nativas e podem ser importantes para a silvicultura de espécies florestais da Amazônia, cuja madeira tem valor comercial. Das famílias de plan-tas numericamente dominantes na flora amazônica, as Fabaceae (Leguminosae), constituem-se em um grupo natural abundante com morfologia variada de frutos e sementes (SILVA, 1976). Por esta razão, os estudos de germinação das sementes tais como, a determinação de métodos para a superação de dormência, definem a melhor técnica a ser empregada no processo de germinação rápida e eficiente para muitas espécies.

As pesquisas sobre características silviculturais e de germinação de sementes de Fabaceae vêm sendo desenvolvidas na região amazônica. Considerando-se a biodiversidade local, esses estudos são de pequena escala, existindo, ainda, mui-tas espécies que precisam ser avaliadas quanto ao método pré-germinativo mais eficiente. As informações agronômicas e silviculturais precedem todos os outros estudos, para cultivo comercial das espécies, que apresentam potencial econômi-co ou ecológico. Os estudos sobre a germinação natural de sementes das espécies de Fabaceae (Leguminosas) da Amazônia efetuados por Silva et al., (1988), indica-ram que sete, dentre dez espécies enquadravam-se nos padrões de germinação rápida (menos de 60 dias). Souza et al. (1997) reuniram informações sobre resul-tados experimentais obtidos em estudos desenvolvidos sobre a germinação das sementes de 25 espécies de interesse agrosilvicultural na Amazônia, dentre elas, espécies que apresentam mecanismos consistentes de dormência das sementes. Geralmente, com as Leguminosas, o mecanismo mais importante de dormência é a dureza e impermeabilidade do tegumento, o que requer métodos para superar essa impermeabilidade permitindo a embebição, etapa inicial do processo fisioló-gico que precede a germinação do embrião.

Diante da elevada biodiversidade vegetal da Amazônia, alguns grupos de pes-quisa têm desenvolvido estudos sistemáticos para gerar informações agronômicas e silviculturais para as espécies que apresentam potencial econômico. No INPA, o grupo do Laboratório de Microbiologia do Solo pesquisa a propriedade da fixação biológica de nitrogênio em leguminosas nativas da Amazônia e conduz ensaios experimentais para esclarecer as técnicas agronômicas adequadas para a boa ger-minação, preparo das mudas e adaptação das espécies para o plantio definitivo. No elenco das espécies estudadas, quatro pertencem ao gênero Peltogyne. As es-pécies de Peltogyne possuem sementes duras e impermeáveis. As pesquisas reali-zadas envolveram a aplicação de métodos pré-germinativos para a superação das

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causas de dormência em pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae), pau-roxo (P. paniculata subsp.), mulateiro (P. venosa subsp. densiflora) e pau-roxo-do-igapó (P. gracilipes).

Condução dos testes para superação da dormência das sementes

de espécie do genero Peltogyne

Os estudos foram conduzidos em área de sementeira, construída na Coordenação de Sociedade Ambiente e Saúde – CSAS-INPA, em Manaus, AM. A sementeira é cons-tituída por um galpão aberto, com cobertura de telhas, com bancadas de madeiras abrigando caixas de germinação. Estas caixas têm dimensões de 80 x 60 x 20 cm.

Os propágulos provenientes de quatro espécies de Peltogyne foram coletados em atividades de prospecção de Fabaceae em municípios dos estados do Amazonas e de Roraima. Por ocasião da coleta, foram obtidos frutos ou sementes diretamente na copa das plantas, ou na área de projeção da copa, com o preparo de exsicatas botâni-cas e identificação dos táxons no herbário do INPA em Manaus, AM. Os frutos coleta-dos foram secos naturalmente e beneficiados para obtenção de sementes puras que foram preservadas em recipientes não permeáveis no banco de sementes ortodoxas, na temperatura de 8-10º C.

As quatro espécies selecionadas para este estudo foram: pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae) Ducke, pau-roxo (Peltogyne gracilipes Ducke), mulateiro (Pelto-gyne paniculata Benth. subsp. pubescens (Benth.) M. F. Silva.) e pau-roxo-do-igapó (Peltogyne venosa (M. Vahl.) Benth. subsp. densiflora (Spruce ex Benth.) M. F. Silva). As espécies de Peltogyne apresentam hábito de crescimento exclusivamente arbó-reo, variando somente o porte (árvores pequenas, medianas ou grandes). Algumas informações sobre a data da coleta, local de coleta, ambiente ecológico da espécie, tipo de solo e o número de registro no herbário estão apresentadas na Tabela 1.

Para algumas das espécies foram feitas determinações sobre a porcentagem de pureza dos frutos, número de sementes por quilo e peso de 1000 sementes, empre-gando-se três repetições com número igual de frutos. Após a obtenção de sementes puras e limpas estas foram fotografadas e, posteriormente, foi realizado o registro das medidas biométricas das sementes, para as medidas de comprimento, largura e espessura, bem como seu peso individual, com 10 repetições. As medidas do volume das sementes foram determinadas pela multiplicação do seu comprimento, largura e espessura.

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Tabela 1. Informações sobre a data de coleta, local, ambiente, tipo de solo e núme-ro de registro em herbário de quatro espécies de Peltogyne, coletadas na Amazônia.

Espécies Data da coleta Local da coleta Ambiente*1 Classe de solo No de herbário

P. catingae 04/04/2008 São Gabriel, AM C Espodossolo 223.869

P. gracilipes 12/02/1988 Amajari, RR MR Argissolo 156.621

P. paniculata pubescens 14/04/1989 Novo Airão, AM I Argissolo 156.622

P. venosa densiflora 10/02/2000 Novo Airão, AM I Argissolo 156.585

*1 C – campinarana; MR – mata ribeirinha, I – Igapó.

A determinação do teor de umidade das sementes foi realizada pela determina-ção do peso inicial do lote e o final da secagem em estufa a 105º C por 24 horas (BRASIL, 1992). O cálculo do conteúdo de umidade é feito pela fórmula Pi – Pf /Pi x 100, onde Pi é o peso inicial e Pf é o peso final de cada lote. Para a instalação dos expe-rimentos de germinação, as sementeiras foram preenchidas com areia peneirada em malha de 2 cm para remoção de partes grosseiras e impurezas, até a profundidade de 15 cm. Os tratamentos pré-germinativos aplicados para todas as espécies foram:

1. Testemunha – Germinação natural das sementes sem tratamentos pré-germinativos.

2. Escarificação mecânica manual de 10% do tegumento no lado oposto ao hilo, feito em pedra de esmeril.

3. Escarificação ácida com H2SO4 por 5 minutos.4. Escarificação ácida com H2SO4 por 15 minutos.5. Escarificação ácida com H2SO4 por 25 minutos.

Para a escarificação com ácido sulfúrico, as sementes foram depositadas em um becker de 100 mL e expostas ao ácido no tempo estabelecido. A quantidade de ácido foi suficiente para recobrir as sementes. Em seguida, foram lavadas em água corren-te, em peneira de arame, até completa extração dos resíduos do ácido no tegumen-to. A escarificação mecânica foi em pedra de esmeril atritando-se a parte da semente a ser escarificada até produzir um desgaste evidente. Após a aplicação de todos os tratamentos, estas foram embebidas em água por 24 horas antes da semeadura. A semeadura foi em linhas, na profundidade de 0,5 cm. Empregou-se a casca de arroz como cobertura de semeio, previamente autoclavada a 1,5 atm por 30 minutos.

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O critério adotado para considerar uma semente germinada foi a emergência do caulículo. Para algumas espécies, a altura de emergência foi registrada com ré-gua, anotando-se também o tipo de germinação. A contagem das sementes ger-minadas foi realizada diariamente, assim como a irrigação do substrato com auxílio de regadores. Registraram-se também as ocorrências de mortalidade. Quando as plântulas apresentaram dois pares de folhas definitivas, foram medidas em compri-mento do caule e diâmetro do colo e transplantadas para sacos com solo, inician-do-se a fase de produção das mudas.

Cada espécie constituiu um experimento empregando-se o delineamento in-teiramente casualisado, cujos detalhes experimentais estão apresentados na Ta-bela 2. O período de acompanhamento variou entre 35 e 80 dias e o número total de sementes utilizadas em cada ensaio dependeu da sua disponibilidade, variando entre 150-300 sementes.

Tabela 2. Informações sobre os experimentos desenvolvidos para superação da dormência de sementes de quatro espécies do gênero Peltogyne.

Espécies Data do experimento Delineamento Total de sementes

Período do ensaio (dias)

P. catingae 23/04/2008 3 x 10 150 48

P. gracilipes 18/02/1988 4 x 15 300 80

P. paniculata pubescens 14/04/1989 3 x 10 150 75

P. venosa densiflora 13/04/2000 3 x 20 300 35

Os parâmetros aplicados para avaliação dos efeitos dos tratamentos foram: o nú-mero de sementes germinadas, a germinação (%), o índice de Velocidade de Emer-gência (IVE) e o período germinativo, determinado para cada espécie. As determina-ções do IVE foram efetuadas segundo Popinigis (1977), conforme a expressão abaixo:

IVE = Σ Número de sementes germinadas por diaNúmero de dias após a semeadura

No cálculo do IVE, consideraram-se os registros diários de germinação, dividin-do-se o número de sementes germinadas por dia, pelo número de dias transcorri-dos após a semeadura. As somatórias dos índices resultam no valor do IVE. Como período germinativo, foi definido o número de dias entre a primeira e a última con-tagem da germinação em cada parcela.

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Para efeito de análise, os dados da percentagem de germinação foram transformados para arco seno √x+0,01. Dados de contagem do número de sementes germinadas, IVE e pe-ríodo germinativo foram transformados para √x+0,01, conforme Centeno (1990). Para duas das espécies, Peltogyne paniculata pubescens e Peltogyne venosa densiflora, foram feitas correlações de variáveis da germinação para sementes tratadas com ácido sulfúrico.

Medidas biométricas, do peso e volume de sementes de Peltogyne

As sementes das espécies de Peltogyne são muito semelhantes e as cores va-riam de acinzentada, marrom claro, marrom escuro a bege (Figura 1). As formas vão de arredondadas a ovaladas e compressas lateralmente. Externamente apresen-tam aspecto brilhoso, que, segundo Carvalho e Nakagawa (1980), em sementes de Fabaceae são atribuídas à presença de uma superfície cuticular cerosa revestindo o tegumento. Com Fabaceae, segundo Bianchetti (1981), a estrutura responsável pela impermeabilidade do tegumento são células empaliçadas com paredes es-pessas. O hilo é pequeno, escuro e pouco evidente (BIANCHETTI, 1989).

Figura 1. Aspectos da morfologia das sementes de pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae) (A), pau-ro-

xo (P. gracilipes) (B), mulateiro (P. paniculata pubescens) (C) e pau-roxo-do-igapó (P. venosa densiflora) (D).

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Assim como na morfologia das sementes, os registros biométricos apresenta-ram valores muito próximos, mesmo com as diferenças de habitat ecológico de cada espécie (Tabela 3).

Tabela 3. Valores médios do comprimento, largura, espessura, peso e volume determi-nados em sementes de quatro espécies de Peltogyne, coletadas na Amazônia. (n = 10)

EspéciesComprimento Largura Espessura

Peso (g) Volume (cm3)------------------------------------- cm ------------------------------------

P. catingae 1,4 1,1 0.4 0,46 0,6

P. gracilipes 1,8 1,3 0,3 0,50 0,7

P. paniculata pubescens 1,4 1,1 0,3 0,44 0,6

P. venosa densiflora 1,5 1,3 0,4 0,77 0,8

Dentre as espécies estudadas, a Peltogyne venosa densiflora foi a que apresen-tou a maior massa média individual, com 0,77 g, e a menor foi a de P. paniculata pubescens, com peso médio muito próximo da P. catingae, com médias de 0,44g e 0,46g, respectivamente. As sementes com 1 cm de comprimento são mais fa-cilmente manipuláveis para escarificação mecânica por atrito, favorecendo o em-prego desta técnica de baixo risco, como método pré-germinativo. As medidas de espessura, comparando a largura e o comprimento, indicam que a posição de se-meadura, para essas espécies é horizontal ou deitada.

Superação da dormência das sementes de pau-roxo-da-caatinga

(Peltogyne catingae)

A porcentagem de pureza dos frutos de Peltogyne catingae foi de 56,7%, o nú-mero de sementes por quilo foi de 2.405 sementes e o peso de 1.000 sementes foi 416,53 g. O conteúdo de umidade do lote foi de 13,33%. Loureiro et al. (1979a,b) des-crevem os frutos desta espécie como um legume curto, estipitado, mais ou menos elíptico, arredondado. As sementes de pau-roxo-da-caatinga apresentaram germi-nação do tipo epígea criptocotilar, comprovando-se a existência de dormência nas sementes não tratadas onde somente uma semente germinou (Tabela 4). A média de altura de emergência das plântulas foi de 5,0 cm (3,4-6,2 cm).

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A germinação verificada no tratamento sem escarificação foi de somente 3,33% e a primeira emergência das sementes foi atrasada e deu-se aos 43 dias após a semeadura. Foi observado que o lote de sementes coletadas apresentava baixa viabilidade e a média geral de germinação neste experimento foi de 15,33%. Dois dos tratamentos pré-germinativos avaliados favoreceram a germinação da espé-cie: a escarificação mecânica do tegumento e a embebição em ácido sulfúrico por 5 minutos, que não diferiram entre si, com taxas de germinação de 46,67% e 26,67%, respectivamente. Com a escarificação mecânica das sementes, o início da germi-nação ocorreu 13 dias após a semeadura e com a aplicação de ácido sulfúrico por 5 minutos o início da germinação deu-se aos 20 dias após a semeadura. Os valores do IVE para estes dois tratamentos foram significativamente diferentes dos demais e o período germinativo entendeu-se por 11 e 7 dias, respectivamente, para o tra-tamento mecânico e químico.

Foi verificado que o tempo de exposição das sementes ao H2SO4 por 15 e 25 minutos prejudicou a germinação de pau-roxo-da-caatinga, possivelmente por provocar danos nas estruturas internas da semente que resultaram na morte do embrião. Foi evidenciado que a dormência das sementes desta espécie pode ser superada por métodos escarificadores de baixa intensidade. Outras espécies flo-restais como a catingueira (Caesalpinia pyramidalis), respondem a métodos pré-germinativos mecânicos como a escarificação manual com lixa (ALVES et al., 2007). Com o paricá (Schizolobium amazonicum), a promoção da germinação das semen-tes foi obtida quando estas foram tratadas com esmeril elétrico, seguido de seme-adura imediata em substrato de areia e serragem (CRUZ et al., 2006).

Ressalta-se que os métodos pré-germinativos com H2SO4, embora comuns na superação de dormência de sementes de Fabaceae (FOWLER & BIANCHETTI, 2000) deve ser conduzido em condições controladas e por técnicos capacitados. Nas propriedades agrícolas, a aplicação de métodos pré-germinativos alterna-tivos como a escarificação mecânica torna-se uma alternativa tecnológica de pouco risco e fácil adoção. Deste modo, como não havia significativos entre os métodos de escarificação mecânica e imersão em H2SO4/5 minutos, o mais con-veniente é adotar o método mecânico, que também resultou nas maiores médias de germinação da espécie.

No encerramento do ensaio, o substrato foi escavado e as sementes inteiras foram encontradas somente no tratamento controle onde 3,3% das sementes ger-minaram, 60,0% permaneceram intactas e 36,7% estavam apodrecidas. As semen-tes inteiras do lote foram escarificadas mecanicamente e novamente semeadas e somente uma semente germinou, após 41 dias, demonstrando que mesmo as se-mentes inteiras não estavam mais viáveis.

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Tabela 4. Efeito da aplicação de métodos pré-germinativos nas médias de variáveis da germinação das sementes de pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae).1 (Mé-dia de 3 repetições).

Tratamentos No de sementes germinadas

Germinação (%)

Índice de Velocidade de

Emergência

Período germinativo

(dias)

Testemunha 0 b 3,33 b 0,01 b 1 b

Escarificação mecânica 5 a 46,67 a 0,27 a 11 a

ácido sulfúrico/5 minutos 3 a 26,67 a 0,11 a 7 a

ácido sulfúrico/15 minutos 0 b 0,0 b 0,0 b 0 b

ácido sulfúrico/25 minutos 0 b 0,0 b 0,0 b 0 b

Coeficiente de variação (%) 37,10 42,52 27,63 53,75

Teste F 25,65** 23,64** 24,60** 14,47**

1 As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-

de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.

Superação da dormência das sementes de pau-roxo (Peltogyne

gracilipes)

As sementes de pau-roxo, coletadas no pico da dispersão, apresentavam alta viabilidade e não haviam dessecado suficientemente para expressar mecanismos atuantes de dormência. Assim, mesmo sem escarificação, 100% delas germinaram (Tabela 5). Por outro lado, a escarificação mecânica manual por atrito do tegumen-to em pedra de esmeril e o emprego de H2SO4/5min também não prejudicaram a germinação da espécie, embora tenham sido desnecessários. Contrariamente, a imersão em H2SO4 por 15 e 25 minutos prejudicou a germinação das sementes desta espécie.

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Tabela 5. Efeito da aplicação de métodos pré-germinativos nas médias de variá-veis da germinação das sementes de pau-roxo (Peltogyne gracilipes).1 (Média de 4 repetições).

Tratamentos No de sementes germinadas

Germinação (%)

Índice de Velocidade de

Emergência

Período germinativo

(dias)

Testemunha 15 a 100,0 a 0,94 a 1 a

Escarificação mecânica 15 a 100,0 a 0,94 a 5 a

ácido sulfúrico/5 minutos 14 a 96,7 a 0,90 b 1 a

ácido sulfúrico/15 minutos 0 b 0,0 b 0,0 c 0 b

ácido sulfúrico/25 minutos 0 b 0,0 b 0,0 c 0 b

Coeficiente de variação (%) 1,44 7,34 1,14 39,14

Teste F 14708,27** 607,84** 17934,55** 16,86**

1 As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-

de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.

É possível que também para esta espécie a escarificação ácida por 15 a 25 minu-tos tenha permitido a corrosão de estruturas internas, afetando a sobrevivência do embrião. Para outras espécies de Fabaceae, como o pau-ferro (Caesalpinia ferrea), a escarificação das sementes com H2SO4 por 15 a 30 minutos é recomendada para a superação da dormência (CREPALDI et al., 1998).

A dormência das sementes atribuída à impermeabilidade do tegumento, carac-terística muito comum em Fabaceae, é adquirida após a maturação, decorrente de processos de dessecação. O hilo da semente é uma membrana semi-impermeável que permite a perda de água para o meio externo, mas não o seu retorno para o interior da semente (CARVALHO & NAKAGAWA, 1980). Assim, na medida em que aumenta a dureza e a impermeabilidade do tegumento, o hilo não permite que a semente seja reidratada demandando a aplicação de um tratamento escarificador para reverter a impermeabilidade da semente. No ambiente natural, os impactos mecânicos, deterioração microbiana ou de insetos, algumas vezes, quebram o pro-cesso de dormência que foi instalado, entretanto seu impacto é específico para a unidade de semente susceptível ao dano.

A germinação de pau-roxo é do tipo epígea. O início da germinação ocorre aos 16 dias após a semeadura e o período germinativo foi de somente um dia nas se-mentes não escarificadas ou tratadas com H2SO4/5min. O período germinativo foi de 5 dias nas sementes escarificadas mecanicamente estendendo-se do 16º ao 21º

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dia pós-semeadura. Como as sementes apresentaram germinação rápida e homo-gênea as plântulas foram transplantadas para sacos com solo para a fase de viveiro, aos 26 dias após a semeadura.

Após a dessecação, as sementes duras de Fabaceae mantêm baixos teores de umidade, que não é afetada pelas flutuações da umidade relativa do ar. Este grau de dessecação é atribuído à combinação da intensa impermeabilidade da testa com a ação valvular do hilo (CARVALHO & NAKAGAWA,1980). Possivelmente, no momento da dispersão das sementes do pau-roxo as sementes ainda não haviam completado as etapas de dessecação, resultando em alta germinabilidade e ausên-cia de dormência.

Algumas espécies de Peltogyne, após a maturação do fruto os mantêm presos à copa da planta por um longo prazo e a dessecação das sementes ocorre na própria planta, no interior do fruto. Na sementeira, no lote de sementes não escarificado, registrou-se a morte de duas plântulas (3,3%) e no lote onde se aplicou escarifica-ção mecânica a mortalidade foi de 5,0%.

Superação da dormência das sementes de mulateiro (Peltogyne

paniculata pubescens)

Os frutos de mulateiro apresentaram 58,72% de pureza, o número de se-mentes por quilo foi de 2.243 sementes e o peso de 1.000 sementes alcançou 445,76 g. Para esta espécie, a constatação da dormência foi observada e atri-buída à impermeabilidade do tegumento à água, constatada pela ausência de embebição, demandando, em decorrência, a aplicação de um método pré-ger-minativo. As sementes de mulateiro apresentavam 13,71% de umidade e foram classificadas como ortodoxas. Foi verificado que as sementes não submetidas a métodos escarificadores apresentaram somente 3,33% de sementes germina-das (Tabela 6).

Foi verificado que a maior resposta germinativa do mulateiro ocorreu quando as sementes foram tratadas com H2SO4/5min, o que resultou em 100,0% de germi-nação. Os métodos de escarificação mecânica manual e exposição das sementes ao H2SO4/15min, embora não diferissem do método de imersão por 5 minutos, tam-bém contribuíram para a superação da dormência e, nestas condições, a germina-ção variou entre 70-80%. Por outro lado, a exposição mais prolongada ao ácido, como no método H2SO4/25min, declinou a germinação das sementes por ser mais invasiva.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

O menor período germinativo, correspondente a um único dia, foi verificado em sementes não escarificadas. Nos métodos escarificadores, o período germinati-vo variou entre 19 e 48 dias, indicando que o transplantio para a formação de mu-das de mulateiro pode ser feito aos 60 dias pós-semeadura. A germinação é do tipo epígea criptocotilar, iniciada aos 8 dias após a semeadura. A altura de emergência das plântulas foi de 6,7 ± 0,9 cm. Por ocasião da repicagem, estas apresentavam comprimento do caule de 7,9 ± 3,1 cm, com diâmetro do colo de 1,8 ± 0,6 mm. Silva et al. (1988) estudaram a germinação das sementes de mulateiro e verificaram que esta ocorreu entre 18-20 dias e aos 30 dias não foram mais registradas novas emer-gências. A taxa de germinação verificada foi de 26,0% e o índice de Velocidade de Emergência de 0,14, valores considerados baixos e atribuídos ao tegumento rígido.

Tabela 6. Efeito da aplicação de métodos pré-germinativos nas médias de variá-veis da germinação das sementes de mulateiro (Peltogyne paniculata subsp. pubes-cens).1 (Média de 3 repetições).

TratamentosNo de

sementes germinadas

Germinação (%)

Índice de Velocidade de

Emergência

Período germinativo

(dias)

Testemunha 0 b 3,33 c 0,01 b 1 c

Escarificação mecânica 8 a 80,00 ab 0,67 a 23 ab

H2SO4 por 5 minutos 10 a 100,00 a 0,81 a 48 a

H2SO4 por 15 minutos 7 a 73,33 ab 0,51 a 19 ab

H2SO4 por 25 minutos 5 ab 46,47 bc 0,37 ab 16 bc

Coef. de Var (%) 32,55 30,90 28,23 32,78

Teste F 7,41** 11,53** 9,39** 10,00**

1 As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-

de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.

Na Figura 2, encontra-se a evolução da germinação das sementes de mulateiro em respostas aos métodos avaliados. Nota-se uma baixa germinação nas sementes não escarificadas, onde o início da germinação deu-se aos 40 dias após a semeadu-ra. No tratamento com H2SO4/25min a germinação iniciou-se aos 12 dias da seme-adura e manteve-se inferior a 50,0% mesmo após 75 dias de acompanhamento. A escarificação ácida por 5 e 15 minutos e a escarificação mecânica manual, resulta-ram em curvas germinativas muito próximas, com efeito favorável. Outras espécies de Fabaceae como a chuva-de-ouro (Senna macranthera) respondem com efici-

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CAPíTULO 11

173

ência a tratamentos mecânicos e de escarificação com ácido, que podem resultar em respostas germinativas similares para a espécie (LEMOS FILHO et al., 1997). O declínio das taxas de germinação com o incremento dos tempos de exposição ao ácido sulfúrico sugeriu uma correlação significativa entre o tempo de embebição ácida e a taxa de germinação das sementes. Desse modo, identificou-se uma rela-ção linear negativa, significativa (Teste F 14,27**, p<0,01), apresentada na Figura 3.

120

100

80

60

40

20

08 12 14 16 19 23 33 37 40 56

Dias após a semeadura

TestemunhaH2SO4/15 minutos

Escari�cação mecânicaH2SO4/25 minutos

H2SO4/5 minutos

Ger

min

ação

acu

mul

ada

(%)

Figura 2. Efeito de métodos pré-germinativos na superação de dormência das sementes de mulateiro

(Peltogyne paniculata subsp. pubescens) em sementeiras com areia.

A resposta à germinação de sementes com dormência pode ser, inicialmente, fa-vorecida pelo aumento de intensidade de um método escarificador, até o momento em que os efeitos favoráveis e crescentes são atenuados, seguindo-se de uma fase em que o impacto progressivo do método contribui para o declínio dos indicadores da germinação (SANTOS et al., 1996). A relação inversa entre as variáveis indepen-dentes da germinação e do tempo de imersão em H2SO4 (igualmente com R2 de 0,54) demonstra o efeito prejudicial do ácido sobre a germinação das sementes de mula-teiro a partir do tempo de exposição por 5 minutos. A aplicação prática da equação de regressão demonstrou que para manter a porcentagem de germinação de 100%, como já observada no método de escarificação com H2SO4/5min, o tempo de 4 min também seria, teoricamente, aceitável (Figura 3).

As árvores de mulateiro nas matas de igapó do Arquipélago das Anavilhanas, no Baixo Rio Negro, podem apresentar até 15 m de altura, com fuste baixo e copa aberta

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

e muito esgalhada. O diâmetro do tronco da matriz cujos frutos foram coletados foi de 20 cm, com circunferência à altura do peito de 62,8 cm. São árvores tolerantes às inundações regulares do rio Negro. Na dispersão, os frutos marrons permanecem na copa da árvore por algumas semanas. Ao cair, flutuam na água, dispersando por hidrocoria. Trata-se de uma espécie madeirável de importância econômica residindo aí seu principal potencial de aproveitamento silvicultural.

120

100

80

60

40

20

0

0 5 10 15 20 25 30

Ger

min

ação

(%

)

Tempo de imersão em ácido sulfúrico

y = -2.67x + 111.11R2 = 0.54

n = 9

Figura 3. Correlação entre o tempo de imersão em H2SO4 e a taxa de germinação das sementes de mu-

lateiro (Peltogyne paniculata pubescens) semeadas em areia (n = 9).

Superação da dormência das sementes de pau-roxo-do-igapó

(Peltogyne venosa densiflora)

Aos 9 dias após a coleta, os frutos de pau-roxo-do-igapó apresentaram 48,30% de pureza, o número de sementes por quilo foi determinado em 1.839 sementes e o peso de 1.000 sementes foi de 544,00 g. O teor de umidade das sementes foi de 14,22% de água (variando entre 13,79 e 15,09%).

As sementes de Peltogyne venosa apresentaram demarcados mecanismos de dormência e, na ausência de um método escarificador, nenhuma das sementes germinou (Tabela 7). Foi verificado que a escarificação mecânica das sementes e o tratamento de imersão em H2SO4/5min promoveram a germinação da espécie em taxas superiores a 80,0%. Nota-se, como em mulateiro, um declínio progressivo da germinação com o aumento do tempo de imersão em ácido, evidenciando que os

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tempos de 15 e 25 minutos não favoreceram o processo de superação da dormên-cia. Esse declínio fica mais evidente para o índice de Velocidade de Emergência, onde o tempo de 5 minutos foi significativamente maior que 15 minutos e este, por sua vez, também superou significativamente o tempo de 25 minutos (P<0,01). Nos tratamentos onde houve germinação eficiente, o período germinativo do pau-ro-xo-do-igapó variou entre 10 e 13 dias.

Tabela 7. Efeito da aplicação de métodos pré-germinativos nas médias de variáveis da germinação das sementes de pau-roxo-do-igapó (Peltogyne venosa subsp. den-siflora).1 (Média de 3 repetições).

Tratamentos No de sementes germinadas

Germinação (%)

Índice de Velocidade de

Emergência

Período germinativo

(dias)

Testemunha 0 d 0,0 c 0,0 d 0 b

Escarificação mecânica 16 a 81,7 a 1,00 a 10 a

H2SO4 por 5 minutos 16 a 81,7 a 0,95 a 13 a

H2SO4 por 15 minutos 10 b 48,3 b 0,58 b 10 a

H2SO4 por 25 minutos 4 c 20,0 b 0,20 c 4 a

Coef. de Var (%) 11,81 17,33 11,34 28,10

Teste F 84,31** 46,85** 78,34** 13,03**

1 As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-

de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.

O primeiro registro de germinação de Peltogyne venosa densiflora deu-se aos 13 dias pós-semeadura e esta é do tipo epígea fanerocotilar. A média da altura de emergência foi de 9,6 cm e o transplantio para a formação de mudas pode ser feito aos 35 dias após a semeadura. A taxa de mortalidade de plântulas na sementeira foi de 3,6%. Para espécies florestais, a doença mais comum nas sementeiras é co-nhecida como “damping-off” ou “tombamento das mudinhas”, causada por fungos do solo dos gêneros Pythium, Fusarium, Rhizoctonia e Sclerotium (LIMA & COSTA, 1982).

Na Figura 4, pode ser observada a evolução da germinação das sementes de pau-roxo-do-igapó para os métodos pré-germinativos testados. Ao contrário das sementes escarificadas que não germinaram, as curvas obtidas para os métodos de escarificação mecânica manual por atrito em pedra de esmeril e a imersão em H2SO4/5min mostraram-se muito próximas, ao passo que o incremento do tempo de exposição por períodos de 15 e 25 min resultou em curvas diferenciadas e me-

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nos eficientes. A exposição das sementes ao H2SO4/25min, dentre outros efeitos, retardou a germinação da espécie, que só foi iniciada aos 18 dias pós-semeadura. As pesquisas já realizadas com outras espécies florestais da Amazônia, como a su-cupira-preta (Bowdichia virgilioides), concluíram que o tratamento com H2SO4 por tempos de exposição de 4, 8 e 12 min beneficiou a porcentagem e velocidade de germinação desta espécie (ALBUQUERQUE et al., 2007).

90

80

70

60

50

40

30

20

10

013 14 15 16 18 19 20 21 22 24 25 26 27 32

Dias após a semeadura

TestemunhaH2SO4/15 minutosn = 400

Escari�cação mecânicaH2SO4/25 minutos

H2SO4/5 minutos

Ger

min

ação

acu

mul

ada

(%)

Figura 4. Efeito de métodos pré-germinativos na superação de dormência das sementes de pau-roxo-

do-igapó (Peltogyne venosa subsp. densiflora).

O efeito danoso do incremento do tempo de exposição ácida das sementes de pau-roxo-do-igapó pode ser comprovado pela correlação significativa encontrada entre os períodos de exposição ao ácido e as taxas de germinação (Figura 5). Nota-se uma alta correlação entre as variáveis com índice de R2 de 0,89 (Teste F 57,38**, p<0,01). Teoricamente, para a equação gerada, o tempo de escarificação ácida ne-cessária para promover 100,0% de germinação desta espécie em um lote viável de sementes seria de 1 minuto.

O tamanho das sementes de pau-roxo-do-igapó não impede a aplicação de méto-dos pré-germinativos manuais. Assim, nas pequenas propriedades agrícolas, a escari-ficação mecânica das sementes em pedra de esmeril pode ser recomendada pelo seu baixo risco (MALAVASI & MALAVASI, 2004). É necessário lembrar que a adoção de mé-todos químicos, como o H2SO4/5min requer mão de obra especializada e instalações adequadas, por envolver riscos de manipulação de substâncias químicas e/ou tóxicas.

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100908070605040302010

00 5 10 15 20 25 30

Ger

min

ação

(%

)

Tempo de imersão em ácido sulfúrico concentrado (minutos)

y = - 3,08x + 96,25R2 = 0,89

n = 9

Figura 5. Relações entre o tempo de imersão em H2SO4 e a germinação das sementes de pau-roxo-do-iga-

pó (Peltogyne venosa subsp. densiflora) (n = 9).

As árvores de pau-roxo-do-igapó, como a matriz produtora das sementes em-pregadas nesta pesquisa, ocorrem no Arquipélago das Anavilhanas e são árvores pequenas de 7 m de altura, com fuste baixo de somente 3 m, e podem apresentar 94,0 cm de circunferência à altura do peito. A copa da planta é esgalhada e os fru-tos apresentavam-se em cachos secos indeiscentes e, como para as outras espé-cies, permanecem na copa da planta alguns meses após a maturação plena.

Conclusões

As espécies de Peltogyne catingae, P. gracilipes, P. paniculata pubescens e P. ve-nosa densiflora, embora apresentem diferenças no seu ambiente ecológico de origem, mostraram pouca variação nos aspectos morfológicos da semente, com relação a suas dimensões e coloração, e também quanto à dureza, brilho e imper-meabilidade do tegumento após a maturação da semente. Foi confirmada a exis-tência de mecanismos atuantes de dormência em espécies de Peltogyne catingae, P. paniculata pubescens e P. venosa densiflora. A escarificação de baixa intensidade, tal como a escarificação mecânica manual das sementes por atrito em pedra de esmeril e a exposição ao ácido sulfúrico concentrado por 5 minutos promoveram

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e uniformizaram a germinação das sementes destas espécies. Para P. gracilipes, a baixa resposta aos métodos pré-germinativos foi relacionada ao seu conteúdo de umidade após a dispersão. O aumento da exposição das sementes ao ácido sulfú-rico por 15 a 25 min foi prejudicial ao processo germinativo e não é recomendada para a quebra da dormência das sementes destas espécies.

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CAPÍTULO 12

Efeito da escarificação ácida na superação da dormência das sementes de faveira-d’anta (Dimorphandra coccinea Benth ., Fabaceae, Caesalpinioideae)Luiz Augusto Gomes de SOUZA1; Adilson Rodrigues DANTAS1

1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected]; [email protected].

Palavras-chaves: Silvicultura; Tecnologia de sementes; Propagação; Leguminosas arbóreas.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Introdução

O gênero Dimorphandra é exclusivo do neotrópico e pertence à família Fabace-ae, subfamília Caesalpinioideae, tribo Dimorphandreae, onde estão abrigadas 26 espécies reconhecidas pela ciência (ROSKOV et al., 2007), todas elas apresentan-do porte arbóreo. A fava-d’anta (Dimorphandra coccinea Benth.) é uma árvore de grande porte nativa da região amazônica sendo, até o momento, somente regis-trada no estado do Amazonas (SILVA et al., 1989). Neste gênero, as espécies mais conhecidas são a D. mollis e D. gardneriana, que são cultivadas para a produção de frutos, explorados pela presença de um glicosídeo – a rutina, por suas proprie-dades farmacológicas (MATOS, 1982). Dentre os usos medicinais citados estão o tratamento de afecções escorbúticas, blenorragia, diarreia, hemorragia, hemopti-ses, leucorreias etc., conforme Vieira (1992). Embora as espécies deste gênero não sejam muito conhecidas como madeireiras, a anatomia do lenho de sete espécies de Dimorphandra foi estudada por Loureiro (1984), fornecendo informações sobre o seu uso e propriedades tecnológicas. A casca das árvores, rica em tanino, tem uso corrente na indústria do couro e as vagens são tóxicas para o gado, excluindo o seu uso forrageiro (LORENZI, 2002).

Sabe-se que a dormência de sementes é um processo caracterizado pelo atraso da germinação, quando as sementes mesmo em condições favoráveis de umidade, temperatura, luz e oxigênio, não germinam (FLORIANO, 2004). O fenômeno de dormência em sementes advém de uma adaptação da espécie às condições ambientais em que ela se reproduz. É, portanto, um recurso utilizado pelas plantas para germinarem na estação mais propícia ao seu desenvolvi-mento, buscando, através disto, a perpetuação da espécie ou colonização de novas áreas (VIEIRA e FERNANDES, 1997). Portanto, quando nos deparamos com este fenômeno há a necessidade de se observar como as espécies supe-ram o estado de dormência em condições naturais para buscar alternativas para obtenção de uma germinação rápida e homogênea, facilitando a fase de formação das mudas. Este processo é chamado de superação de dormência ou quebra de dormência.

A dormência pode ser tegumentar ou exógena e embrionária ou endógena, podendo ocorrer independentemente uma da outra ou simultaneamente na mes-ma semente (FOWLER e BIANCHETTI, 2000), neste caso chamado de dupla dor-mência (KRAMER e KOZLOWSKI, 1972). A dormência exógena é devida à imperme-abilidade do tegumento à água ou gases e a endógena pode ser relacionada com a imaturidade do embrião, ou à inibição fisiológica que o impede de se desenvolver, etapa que caracteriza o início dos processos germinativos.

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CAPíTULO 12

183

Nas Fabaceae a dormência das sementes pode ser relacionada a fatores físicos quando é caracterizada pela impermeabilidade do tegumento à água e gases e é superada através da escarificação. Em muitas espécies, os mecanismos de dor-mência podem ser relacionados a fatores químicos, algumas vezes devido à pre-sença de inibidores no pericarpo ou mesmo mecânicos, provocados pela resistên-cia do tegumento ao crescimento do embrião, devendo-se remover o pericarpo para superá-la. Há ainda a influência de características morfológicas e fisiológicas (FOWLER e BIANCHETTI, 2000).

A escarificação ácida pode ser o método mais adequado para superar a dor-mência do tipo tegumentar ou exógena. Neste processo, as sementes são imersas em ácido sulfúrico, por um determinado tempo, que varia em função da espécie, à temperatura entre 19º C e 25º C, sendo então lavadas em água corrente e coloca-das para germinar. Outros tratamentos aplicados para a superação de dormência em sementes são imersões em água quente ou fria e a escarificação mecânica do tegumento.

Frente à necessidade urgente da reposição da vegetação nativa ou recupe-ração de áreas desmatadas na Amazônia ou em outras partes, a compreensão da biologia reprodutiva das essências nativas, permitida pelos estudos auto-ecológicos, é importante para que esta recomposição florestal possa ser feita de forma racional. Conforme Araújo Neto et al. (2003), nos últimos anos tem se intensificado o interesse na propagação de espécies florestais nativas, devi-do à ênfase atual nos problemas ambientais, ressaltando-se a necessidade de recuperação de áreas degradadas, recomposição da paisagem ou mesmo de produção mais intensiva de madeira ou outros subprodutos não madeireiros de origem florestal. As espécies de Dimorphandra tornam-se importantes para o reflorestamento, por já terem sido descritas como plantas nodulíferas e fixa-doras de nitrogênio (FARIA e SPRENT, 1994). Entretanto, diante da megabio-diversidade em espécies arbóreas da floresta amazônica, não há conhecimen-to disponível para a tecnologia de sementes da maioria dessas espécies. Há, também, a necessidade de se obter informações básicas sobre a germinação, cultivo e potencialidade das espécies nativas, visando sua utilização para os mais diversos fins.

Os objetivos deste estudo foram: confirmar a ocorrência de dormência nas se-mentes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea); pesquisar um método adequado para a superação da dormência das sementes de fava-d’anta e obter informações silviculturais sobre a fase sementeira para a formação de mudas de fava-d’anta sob enviveiramento.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Desenvolvimento da pesquisa experimental

Foi conduzido um experimento na Coordenação de Pesquisas em Sociedade Ambiente e Saúde do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CSAS/INPA, no Campus do INPA V-8, em Manaus, AM. A espécie selecionada para o estudo foi a faveira-d’anta (Dimorphandra coccinea Ducke, Fabaceae – Caesalpinioideae), cujas sementes foram coletadas de árvores que crescem naturalmente no estado do Amazonas. Por ocasião da coleta, as matrizes, encontradas nos municípios de Manaus e São Gabriel da Cachoeira, foram identificadas no Herbário do INPA e al-gumas características das espécies estão registradas na Tabela 1. A coleta das se-mentes procedentes de Manaus foi feita no chão, sob a copa da matriz, no mês de março, após a deiscência e dispersão dos frutos e, diretamente na copa de plantas submersas, para a procedência de São Gabriel da Cachoeira, no mês de julho.

Tabela 1. Informações sobre a coleta de frutos de duas matrizes de fava-d’anta (Di-morphandra coccinea), procedentes do estado do Amazonas.

Características registradasProcedências

Manaus São Gabriel da Cachoeira

Data da coleta 31/05/2007 07/07/2007

Número de coleta 03/07 47/07

Coordenadas geográficas 02º37’ S e 60º02’ W 00º09’S e 67º03’ W

Habitat Mata Primária Igapó

Número de registro no herbário 221.373 221.368

Altura da planta (m) 25 13

Altura do fuste (m) 20 7

Circunferência à altura do peito (cm) 224,6 155,5

Diâmetro de tronco (cm) 71,5 49,5

Classe de solo Latossolo Amarelo Argissolo Verm. Amarelo

Textura do solo Muito argilosa Arenosa

Após a obtenção dos frutos, estes foram secos ao ar por 72 horas e, posterior-mente, as sementes foram extraídas mecanicamente com o auxílio de um martelo. Para as sementes coletadas após a dispersão dos frutos foi feita uma limpeza dos lotes e estas foram secas ao ar. Um teste de pureza dos frutos foi efetuado com

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185

dois frutos inteiros da procedência de São Gabriel da Cachoeira, para determinar a porcentagem de pureza, o número de sementes por quilo e o peso de 1000 semen-tes. Para as duas procedências estudadas, foram tomadas medidas biométricas, do peso e volume das sementes, com 25 repetições para cada matriz.

Precedendo os trabalhos, foi conduzido um teste de embebição das semen-tes empregando-se três repetições de dez sementes. Nesta avaliação, as sementes foram imersas em água por 24 horas, seguindo-se da contagem do número de se-mentes embebidas. No teste de umidade das sementes estas foram submetidas à secagem em estufa a 105º C por 24 horas, determinando-se o peso inicial e após a secagem para o cálculo dos valores de umidade correspondentes (BRASIL, 1992).

Métodos para quebra da dormência das sementes de fava-d’anta

Os testes de germinação foram feitos em sementeiras mantidas em um galpão de madeira aberto, com cobertura de telha de barro, sobre bancadas de madeira, empregando-se areia como substrato de semeadura. As sementeiras foram cons-tituídas por caixas de plástico grandes, com dimensões de 60 x 40, com 20 cm de profundidade, devidamente drenadas.

Devido à maior disponibilidade de sementes, o experimento foi instalado so-mente com as sementes da procedência Manaus, quando estas apresentavam 5,8 meses de armazenamento em recipientes vedados mantidos a 8º C. Os seguintes tratamentos pré-germinativos foram avaliados:

1. Testemunha ou controle (sementes não escarificadas).2. Escarificação ácida com ácido sulfúrico concentrado por 10 minutos.3. Escarificação ácida com ácido sulfúrico concentrado por 15 minutos.4. Escarificação ácida com ácido sulfúrico concentrado por 20 minutos.

Na escarificação com ácido sulfúrico, as sementes foram depositadas em um becker de 125 mL e imersas em ácido pelo tempo considerado, agitando-se regu-larmente com bastão de vidro, durante a escarificação. Posteriormente, estas foram lavadas em água corrente até a remoção completa de resíduos do ácido aplicado.

Para todos os tratamentos, as sementes permaneceram imersas em água por 24 horas antecedendo a semeadura. Na superfície da sementeira, foram delimitadas parcelas e a semeadura foi feita em linhas a 1 cm de profundidade. Durante o expe-rimento, o nível de umidade do substrato foi mantido diariamente. A emergência do caulículo acima do nível da areia foi adotada como critério para considerar uma

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semente germinada. O tipo de germinação também foi registrado nesta ocasião. A partir da semeadura, foi feita a contagem diária de sementes germinadas, perfa-zendo um período de 30 dias.

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, constituído por quatro tratamentos, arranjados em três repetições de 20 sementes, totalizando 60 sementes por tratamento e 240 sementes no total. As variáveis consideradas para avaliação foram: o número de sementes germinadas, a porcentagem de ger-minação, o índice de Velocidade de Emergência (IVE) e o período germinativo. Ao encerrar o estudo, foram feitas escavações na superfície da areia para retirada e contagem do número de sementes inteiras. Como índice de Velocidade de Emer-gência, considerou-se o conceito de Popinigis (1977), correspondente à somatória da razão entre o número de sementes germinadas por dia pelo número de dias após a semeadura. O período germinativo foi o número de dias transcorridos entre o primeiro e o último registro de germinação.

Uma semana após a instalação do ensaio, quando uma expressiva emergência de plântulas foi verificada no tratamento de 20 minutos de imersão em ácido sul-fúrico concentrado, este tratamento escarificador foi aplicado nas sementes dis-poníveis da procedência de São Gabriel da Cachoeira, que estavam armazenadas por quatro meses após a coleta. Neste teste, 27 sementes foram semeadas em um lote único, empregando-se a mesma metodologia já descrita, para a elaboração de uma curva da germinação.

Para a procedência de Manaus, aos 38 dias após a semeadura e para a proce-dência de São Gabriel da Cachoeira aos 31 dias após a semeadura foi feita uma ava-liação das plântulas desenvolvidas na sementeira, amostrando-se dez delas para determinação do comprimento do caule e da raiz, diâmetro do colo, biomassa total fresca e seca da planta inteira. A secagem foi conduzida em estufa a 65º C por 72 horas, antecedendo a pesagem.

Para avaliação dos resultados os dados obtidos foram submetidos à análise de variância empregando-se o programa estatístico Estat (UNESP, versão 2000). As medidas obtidas na avaliação biométrica das sementes foram submetidas à análise de variância, para permitir comparações entre as duas procedências e for-necer subsídios sobre a variabilidade genética desta espécie, que ainda não foi domesticada. Para efeito de análise, os dados da porcentagem de germinação fo-ram transformados para arco-seno √x+0,01 e o IVE, período germinativo e número de sementes germinadas foram transformados para √x+0,01, conforme recomenda-do por Centeno (1990).

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187

Características autoecológicas de Dimorphandra coccinea

Para as duas procedências de fava-d’anta avaliadas nesta pesquisa, consta-tou-se que a matriz de Manaus, encontrada em fenofase de plena dispersão no mês de março, apresentava frutos abertos, deiscentes, com comprimento médio de 18,5 cm e largura de 7,6 cm e continha oito sementes por fava. Os frutos imaturos são favas esverdeadas e tornam-se pretos quando amadurecem. Silva (1986) descreve os frutos de D. coccinea coletados no mês de fevereiro, como um legume plano suborbicular (ou ainda jovem), lenhoso, curto-estipitado de superfície reticulado-venosa, mas que ainda não apresentou suas dimensões. Lorenzi (1991) estimou o comprimento de frutos de Dimorphandra mollis entre 10-20 cm. A cor das sementes é marrom com superfície lustrosa. Os frutos são naturalmente deiscentes, abrigando 8-9 sementes, e estas se depositam sob a copa da árvore por barocoria. As flores são avermelhadas. As folhas são compos-tas por muitos folíolos. Com os frutos inteiros coletados na matriz de São Gabriel da Cachoeira, as dimensões verificadas foram de 22,4 cm de comprimento, 5,6 cm de largura, 7,9 mm de espessura e peso individual de 38,53 g, com média de sete sementes por vagem. A porcentagem de pureza dos frutos inteiros foi de 8,34%. O número de sementes por quilo foi de 2.972 sementes e o peso de 1.000 sementes foi de 344,49 g. Uma ilustração dos frutos e sementes de Dimor-phandra coccinea e das plântulas germinadas em sementeira está apresentada na Figura 1.

Figura 1. Frutos e sementes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) e plântulas germinadas em semen-

teira com areia.

Loureiro (2002) registrou para Dimorphandra mollis, que o número de sementes por quilo correspondeu a 3700 unidades. Foi feita uma comparação das medidas

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

biométricas, peso e volume das sementes para as duas procedências de faveira-d’anta, para obter subsídios sobre a variabilidade genética da espécie, encontrada em seu habitat natural. Estas comparações são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2. Medidas biométricas das sementes de fava-d’anta (Dimorphandra cocci-nea) para duas procedências do estado do Amazonas (n = 25).

ProcedênciasComprimento Largura Espessura

Peso (g) Volume (cm3)---------------------------------- cm ----------------------------------

Manaus 1,9 a 1,1 a 0,3 a 0,44 a 0,58 a

São Gabriel 1,9 a 0,8 b 0,3 a 0,36 b 0,45 b

Teste F 0,08ns 101,19** 3,49ns 22,55** 18,60**

*1 Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilidade (P

< 0,01); ns – não significativo.

Na avaliação do potencial de embebição das sementes de fava-d’anta verifi-cou-se que, 100% das sementes da procedência Manaus não embeberam e estas apresentavam 18,05% de conteúdo de umidade. Para a procedência de São Gabriel da Cachoeira a taxa de embebição encontrada foi de 16,67%, com teor de umidade de 10,31%.

Efeito do tratamento pré-germinativo com ácido sulfúrico na

quebra da dormência das sementes de Dimorphandra coccinea

Os estudos experimentais aqui desenvolvidos para sementes procedentes de Manaus demonstraram a ocorrência de mecanismos de dormência atuantes nas sementes de fava-d’anta e a aplicação de tratamentos pré-germinativos favore-ceu a emergência das plântulas desta espécie, conforme apresentado na Tabela 3. Quando as sementes foram semeadas sem escarificação não germinaram no perí-odo de 38 dias de acompanhamento, desfavorecendo os trabalhos de viveiro com esta espécie.

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Tabela 3. Efeito de aplicação de tratamentos pré-germinativos na quebra de dor-mência das sementes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) sobre variáveis da germinação.*1

Tratamentos NSG Germinação (%) IVE

Período germinativo

(dias)

Nº de sementes inteiras

Testemunha 0 b 0 b 0 c 0 c 20 a

H2SO4 /10 min 7 a 33,3 a 0,79 b 14 a 10 b

H2SO4/15 min 12 a 61,7 a 1,80 a 9 ab 5 bc

H2SO4/20 min 12 a 58,3 a 1,88 a 3 b 3 c

Teste F 42,63** 29,86** 39,90** 24,19** 17,29**

*1 NSG – Número de Sementes Germinadas; IVE – índice de Velocidade de Emergência.

Para todos os tempos de imersão em ácido sulfúrico testados, a primeira emer-gência das plântulas foi registrada aos seis dias após a semeadura. Loureiro (2002) registrou o início da germinação de Dimorphandra mollis entre 10 e 30 dias, suge-rindo um tratamento de escarificação, sem, entretanto detalhá-lo. O tipo de ger-minação observado para esta espécie foi epígea criptocotilar e a altura de emer-gência foi de 6,0 ± 1,1 cm acima do nível do substrato. Como pode ser observado, não houve diferenças significativas entre os tratamentos de escarificação ácida por períodos de imersão de 10, 15 e 20 minutos para o número de sementes germina-das e a correspondente porcentagem de germinação, embora a maior média tenha sido encontrada quando as sementes permaneceram por 15 minutos em H2SO4. Entretanto, para o índice de Velocidade de Emergência, verificou-se que as maio-res taxas foram determinadas quando as sementes de fava-d’anta permaneceram imersas em ácido sulfúrico por 15 a 25 minutos, superando significativamente (P<0,01) o IVE das sementes tratadas por 10 minutos.

De maneira geral, o período germinativo da fava-d’anta abrangeu o intervalo entre os seis e vinte e dois dias após a semeadura. Foi observado que as semen-tes imersas por 10 minutos apresentaram uma germinação mais prolongada na sementeira, compreendendo um período de 14 dias. A escarificação com ácido sulfúrico por 20 minutos abreviou o período germinativo para somente três dias, favorecendo a uniformidade das plântulas e, por conseguinte, as atividades de vi-veiro. Ao final do experimento, todas as sementes do tratamento testemunha per-

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

maneciam intactas na areia e este número de sementes inteiras declinou significa-tivamente entre tratamentos, com o incremento do tempo de imersão em ácido sulfúrico concentrado. Os dados permitem considerar que a escarificação ácida das sementes de fava-d’anta por tempos de imersão de 15 a 20 minutos pode ser em-pregada como um método pré-germinativo eficiente para a quebra da dormência das sementes desta espécie.

A evolução da germinação diária e acumulada da fava-d’anta está ilustrada na Figura 2. O gráfico da germinação diária demonstra que aos seis dias após a seme-adura ocorreu um pico de germinação para todos os tratamentos de escarificação ácida e este pico foi mais elevado para o tempo de imersão por 20 minutos quando 48,3% das sementes germinaram. Depois do sétimo dia após a semeadura os in-crementos na germinação diária foram pequenos comparados ao efeito verificado aos seis dias, estendendo-se de modo variado entre os tratamentos até o 22º dia de observações.

A diferença de respostas entre tratamentos na evolução da germinação pode ser claramente observada na curva de germinação acumulada que foi apresentada (Figura 2). Observa-se um resultado pouco diferenciado na resposta germinativa da fava-d’anta quando as sementes foram escarificadas por tempos de imersão de 15 a 20 minutos, que claramente favoreceram a germinação comparada ao trata-mento de 10 minutos de exposição ao ácido sulfúrico.

Amaro et al. (1997) estudaram a germinação de Dimorphandra gardneriana e estas responderam ao tratamento pré-germinativo de escarificação mecânica (ras-pagem de uma parte do tegumento) seguido da embebição em água por 24 horas. Para Dimorphandra mollis, o tratamento de escarificação com ácido sulfúrico por 15 minutos, feito por Noleto et al. (1998), não foi eficiente para quebrar a dormên-cia das sementes desta espécie, que só alcançaram 16% de germinação, o que foi atribuído à ausência de ruptura do tegumento.

A porcentagem final de germinação e o IVE foram correlacionados com os tem-pos de embebição em ácido, registrando-se uma resposta linear positiva para es-tas variáveis, o que permitiu estabelecer uma equação de regressão, apresentada na Figura 3. Os dados demonstraram que a relação entre a porcentagem final de germinação e os tempos de imersão em ácido foi altamente significativa (Teste F 36,39**, R de 0,88).

Geralmente o mecanismo de dormência mais comum em leguminosas é a im-permeabilidade do tegumento e a resposta germinativa de cada espécie frente a um tratamento escarificador, que permite a entrada de água na semente e início dos processos germinativos, manifesta-se inicialmente de modo linear em respos-ta ao aumento da intensidade do tratamento escarificador aplicado.

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191

Para a escarificação ácida, entretanto, a elevação crescente dos tempos de expo-sição, atinge um limite que varia entre as espécies, onde o incremento progressivo da exposição ao ácido torna-se prejudicial à germinação por atingir as estruturas internas da semente, afetando o cotilédone ou mesmo o embrião (FOWLER, 2000). Para a favei-ra-d’anta, os tratamentos corresponderam somente à fase crescente e linear, conforme

50

45

40

35

30

25

20

15

10

5

06 7 8 9 10 13 15 17 20 21 22

Dias após a semeadura

Testemunhan = 60 10 minutos 20 minutos

Ger

min

ação

acu

mul

ada

(%)

15 minutos

70

60

50

40

30

20

10

06 7 8 9 10 13 15 17 20 21 22

Dias após a semeadura

Testemunhan = 60 10 minutos 20 minutos

Ger

min

ação

acu

mul

ada

(%)

15 minutos

Figura 2. Efeito do tempo de imersão em ácido sulfúrico concentrado para superação da dormência de

sementes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) sobre a porcentagem diária e acumulada de semen-

tes germinadas.

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apresentado na Figura 2. Nestas condições, como a maior porcentagem de germinação verificada foi de 61,7%, quando as sementes foram tratadas por 15 minutos de exposi-ção ao ácido, é possível que tempos de imersão superiores a 20 minutos possam ainda produzir um efeito favorável, o que carece de confirmação experimental. Zpevak e Pe-rez (1995) pesquisaram a escarificação de sementes de Dimorphandra mollis e verifica-ram que, após 60 minutos de escarificação em H2SO4, 96% das sementes germinaram, o que concorda com os resultados experimentais aqui obtidos. Para outras espécies de leguminosas, como Parkia pendula (BARBOSA et al., 1984), Apuleia leiocarpa (BIAN-CHETTI et al., 1995) e Senna occidentalis (FOWLER e CARPANEZZI, 1997), o tratamento de escarificação em ácido sulfúrico por 20 minutos de imersão é o recomendado.

Figura 3. Correlações entre o período de imersão em ácido sulfúrico concentrado e a porcentagem de

germinação de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea), aos 30 dias após a semeadura.

Para avaliar a reprodutibilidade do método selecionado de 20 minutos de ex-posição ao ácido sulfúrico para a fava-d’anta, este tratamento foi aplicado em se-mentes da procedência de São Gabriel da Cachoeira e a curva de germinação veri-ficada está apresentada na Figura 4. Possivelmente, havia diferenças na qualidade fisiológica das duas procedências de fava-d’anta empregadas neste estudo, já que a taxa de germinação para a procedência de São Gabriel da Cachoeira foi de 96,3%, o que indica sua maior viabilidade. Como pode ser verificado, o início da germina-ção deu-se também aos seis dias após a semeadura e o IVE foi de 3,87 (n = 27). Nes-te teste, o período germinativo foi de nove dias, estendendo-se do 6º ao 15º dia.

80

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25

Ger

min

ação

(%

)

Tempo de imersão em ácido sulfúrico (minutos)

y = 3,2x + 2,33R2 = 0,78

n = 12

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193

A avaliação de características das plântulas das duas procedências na semen-teira, quando atingem o ponto adequado para o transplantio estão apresenta-das na Tabela 4, onde são observadas somente pequenas variações entre as duas procedências consideradas nesta pesquisa. Os resultados experimentais aqui ob-tidos apresentam informações silviculturais básicas importantes para o conheci-mento da autoecologia de Dimorphandra coccinea, evidenciando que a fase de germinação das sementes não é um obstáculo para o cultivo desta espécie em maior escala.

100

80

60

40

20

06 7 8 9 10 13 15

Diária Acumulada

Ger

min

ação

(%

)

Figura 4. Curva de germinação das sementes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) procedentes de

São Gabriel da Cachoeira, AM, escarificadas com ácido sulfúrico concentrado por 20 minutos.

Tabela 4. Características das plântulas de duas procedências de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) no ponto de transplantio para a fase de produção de mudas.

Procedências Idade (dias)

Comprimento do caule

Comprimento da raiz Diâmetro

do colo (cm)

Biomassa fresca

Biomassa seca

----------------------------- cm ----------------------------- -----------mg-----------

Manaus 38 7,5 6,8 2,0 636 178

São Gabriel 31 7,3 8,0 1,9 587 109

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Conclusões

Foi comprovada a existência de mecanismos atuantes de dormência em se-mentes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) e a escarificação química com H2SO4 por 15 a 20 minutos favoreceu a quebra de dormência das sementes desta espécie. Para os tratamentos empregados, a correlação entre a porcentagem final de germinação e IVE, com o período de exposição ao ácido, foi linear e positiva. Foi também demonstrada a eficiência do tratamento escarificador com H2SO4 por 20 minutos de exposição para mais de uma procedência de sementes desta espécie.

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CAPÍTULO 13

Efeito do substrato na formação de mudas de flemíngia (Flemingia macrophylla) e tefrósia (Tephrosia candida) sob enviveiramentoEdnilson da Silva ALBUQUERQUE1; Luiz Augusto Gomes de SOUZA2

1 Secretaria do Meio Ambiente, Prefeitura de Parintins, Parintins, AM;

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras-chave: Silvicultura; Viveiros; Mistura-substrato; Adubação verde.

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Introdução

A tecnologia agrosilvicultural, tradicionalmente empregada para a implantação de cultivos perenes não pode abdicar da fase de formação de mudas, geralmente conduzida nos viveiros florestais. A pesquisa tecnológica na fase de viveiro geral-mente está relacionada com: o tamanho do recipiente, a nutrição mineral das mu-das, a seleção de genótipos – especialmente de espécies não domesticadas – e também a composição da mistura substrato empregada para a obtenção de mu-das de boa qualidade para o plantio. Os componentes mais frequentes nas mistu-ras incluem um solo argiloso, areia e a suplementação de nutrientes por meio de matéria orgânica mineralizada na forma de composto orgânico.

Os substratos empregados na produção de mudas possuem características físi-cas, químicas e biológicas que são consideradas na sua escolha. Assim, prioriza-se o preparo de misturas substratos, em detrimento do uso de solos puros ou compo-nentes isolados (SOUZA e RIBEIRO, 2007). Entre as características físicas mais im-portantes das misturas substratos estão: textura, estrutura, porosidade, densidade aparente, higroscopicidade e compactação (LANDIS, 1990). Por outro lado, para as características químicas considera-se: a disponibilidade de nutrientes, a composição da fração coloidal, o teor de matéria orgânica, o percentual e tipos de minerais de argila, a capacidade de troca catiônica, o pH e a relação Carbono/Nitrogênio. Por fim, para as características biológicas, que também influenciam o substrato ideal para a formação das mudas, estão as relacionadas à presença de patógenos, de organismos decompositores, de rizóbios e de micorrizas (CARNEIRO, 1995; LANDIS, 1990).

Os substratos têm função de: servir de suporte para a formação da muda agro-florestal, favorecer o desenvolvimento do sistema radicular, possibilitar a formação de um torrão firme e ter uma boa capacidade de retenção de nutrientes e de umi-dade. Alguns estudos experimentais sobre a composição da mistura substrato para produção de mudas já foram realizados, mas há poucas recomendações tecnológi-cas a serem implementadas nos viveiros florestais (NAPPO et al., 2001).

Um substrato adequado é o que permite uma boa formação das mudas num tempo pré-determinado. Para tanto, este deve ser de fácil manuseio, permitindo rápido enchimento dos recipientes; ser de fácil assepsia, para evitar problemas fi-tossanitários; reter umidade e nutrientes suficientes para as mudas; e permitir ae-ração adequada para o desenvolvimento do sistema radicular das mudas florestais. A formação de um torrão resistente ao manuseio reduz a perda no transporte das mudas até as áreas de plantio definitivo. Adicionalmente, os componentes da mis-tura devem ser de baixo custo, fácil obtenção e garantia de suprimento regular (STURION et al., 2000; NAPPO et al., 2001).

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A composição do substrato também é influenciada pelo tamanho e tipo de re-cipiente, bem como pelo processo adotado para a produção das mudas. Na maio-ria dos viveiros, ele é constituído por matéria orgânica decomposta, vermiculita, fertilizantes, terra argilosa ou areia, combinados em diferentes proporções (NAPPO et al., 2001). O componente argiloso, algumas vezes constituído por terra de sub-solo, tem papel na consistência da mistura do substrato. Para este componente da mistura, pode-se usar solo da área onde será realizado o plantio, de modo a ir gradualmente adaptando as mudas às condições de campo que encontrarão. O componente orgânico pode ser produzido por compostagem no próprio viveiro ou adquirido (MALAVOLTA et al., 2002).

Entre as Fabaceae de múltiplo uso introduzidas na Amazônia, a flemíngia (Fle-mingia macrophylla) e a tefrósia (Tephrosia candida) são plantas arbustivas de pe-queno porte, introduzidas na região pelos órgãos de fomento, inicialmente para cultivo em plantios de cacau (Theobroma cacao). Devido a sua boa adaptação aos solos ácidos e de baixa fertilidade da terra firme e habilidade fixadora de N2, são recomendadas como plantas para a adubação verde, favorecendo os cultivos asso-ciados com a contribuição de sua biomassa fresca, que possui baixa relação C/N, o que favorece processos de mineralização e transfere nitrogênio para esses cultivos. Na região do Baixo Amazonas, a seleção de espécies rústicas adaptadas às condi-ções locais com potencialidade de fornecimento de N aos agrossistemas pode ser uma medida técnica importante em busca de maior produtividade.

Algumas informações sobre a flemíngia (Flemingia macrophylla)

A flemíngia (Flemingia macrophylla (Willd.) Merr., Fabaceae-Faboideae) é uma planta bem espalhada na região tropical. É uma espécie nativa do sul da ásia e dis-tribuída desde o sul desse continente até a Indonésia. Foi introduzida nas regiões tropicais da áfrica, Austrália e América Latina, onde demonstrou adaptação aos novos ambientes de cultivo (CORPOICA, 1998).

A flemíngia é uma planta lenhosa, que apresenta enraizamento profundo, porte arbustivo de até 2,5 m de altura (Figura 1), geralmente com muitos esgalhamentos a partir da base. Suas folhas são trifoliadas e os folíolos são de textura fina, com a super-fície superior glabra. As flores estão dispostas em racemos de bases esverdeadas com manchas ou listras vermelhas e, após o cultivo, florescem aos 3 meses pós-plantio (ASARE e SHEHU, 1984). As vagens são pequenas, deiscentes, tornando-se marrons quando maduras, contendo duas pequenas sementes pretas, cilíndricas, brilhantes. É uma espécie nodulífera e fixadora de N2 em simbiose com rizóbios.

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Figura 1. Planta de flemíngia (Flemingia macrophylla) cultivada na Estação Experimental de Olericultura

do INPA (A) Floração (B), Maturação dos frutos (C) e Morfologia foliar (D).

A flemíngia é uma planta rústica, robusta, tolerante à seca, capaz de sobreviver em solos pouco drenados e, ocasionalmente, encharcados. É apta a se estabelecer ao longo de cursos d’água em florestas secundárias e também em solos lateríticos e argilosos. É levemente tolerante à sombra e moderadamente resistente ao fogo (ASARE, 1985; CORPOICA, 1998). Quando cultivada, produz muita biomassa adap-tando-se satisfatoriamente nos solos ácidos (pH 4,5-4,6), distróficos e álicos (BINH et al., 1998). A propagação é feita por sementes e 1 kg de sementes tem entre 50.000-68.000 sementes (BULLDEMAN, 1989). A germinação inicia aos 7 dias após a semeadura. O plantio pode ser direto ou pela introdução de mudas. No plantio direto há a necessidade de maiores cuidados até que as plantas se estabeleçam.

Nas condições da Amazônia (CANTO, 1992) a flemíngia tem desenvolvimento inicial lento, porém apresenta alta capacidade de rebrota em resposta a cortes su-cessivos, suportando até sete cortes por 3 anos. A planta forma uma copa densa e a taxa de decomposição das folhas é lenta, mas, possui habilidade de propaga-ção vegetativa. É uma espécie útil nos agrossistemas como planta para cobertura morta, controle de plantas pioneiras, proteção do solo e planta adubadora, fonte importante de matéria orgânica e de nutrientes ao solo.

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A relativa resistência de suas folhas à decomposição é atribuída à alta con-centração de taninos condensados, desse modo, a liberação de nutrientes é mais bem distribuída, o que é interessante para cultivos perenes pela sua alta relação C/N, determinada em 21 (BUDELMAN, 1989). Segundo este autor, a produção de cobertura morta com folhas de flemíngia pode alcançar 7 t ha-1 e 40% desta bio-massa fresca permanece no solo após 7 semanas. Desse modo, a cobertura morta com flemíngia previne a germinação de plantas pioneiras, regula a temperatura superficial do solo, aumenta a disponibilidade de água e incorpora matéria orgâ-nica no sistema reciclando, especialmente, N e K, e esta proteção se estende por até 3 meses.

Algumas informações sobre a tefrósia (Tephrosia candida)

A tefrósia (Tephrosia candida (Roxb.) DC. – Fabaceae-Faboideae) é uma espécie nativa da índia, sudoeste da ásia e Madagascar (ILDIS, 2005). A planta é um arbusto ereto lenhoso, que cresce de 1,2 a 2,5 m. As folhas são compostas por 13-27 folíolos elípticos. A floração é precoce e as flores são brancas. As vagens possuem colora-ção acinzentada e medem 8-9 cm de comprimento, sendo densamente cobertas com uma penugem ferrugínea. As sementes são pretas e manchadas apresentan-do hilo saliente (STANLEY & ROSS, 1983).

É uma leguminosa tropical perene adaptada a locais onde a precipitação plu-viométrica pode variar de 700 a 2.500 mm. Sua propagação é feita por semente. Apresenta rápido crescimento, porém com baixa capacidade de rebrota após os cortes (BRASIL, 1992). Todas as partes da planta contêm “rotenona”, um dos mais poderosos biocidas naturais, e a tefrósia é utilizada como planta de cobertura con-tribuindo para o controle de pragas (LAPOINTE et al., 2003).

A planta de tefrósia possui raízes profundas, com potencial de reciclagem su-perior ao das gramíneas e sobrevivência de três a quatro anos. É uma espécie ade-quada para áreas com relevos acentuados e pode resistir a solos ácidos e condições hídricas limitantes. Entretanto, é suscetível à “podridão das raízes” e também aos nematoides. Além de sua boa capacidade de produzir biomassa favorecida pela habilidade de fixa N2, mas não é uma espécie adequada à alimentação humana e animal (DEON & SOUZA, 1989).

É cultivada nos agrossistemas como adubo verde e na recuperação de solos degradados, controle da erosão, como pastagem e na produção de lenha (MAFON-GOYA & KUNTASHULA, 2005). Na Figura 2, está ilustrado o hábito de crescimento da tefrósia, bem como a floração, frutificação e morfologia foliar da planta.

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Figura 2. Planta de tefrósia (Tephrosia candida) cultivada na Estação Experimental de Fruticultura Tropi-

cal do INPA (A) Floração (B), Maturação dos frutos (C) e Morfologia foliar (D).

Efeito do substrato na formação de mudas de flemíngia e tefrósia

Uma pesquisa foi realizada na comunidade de Santa Luzia do Macurani, de Parin-tins, AM, na 9ª sub-região, do Baixo Amazonas, no “Sítio Macurani”, Estrada do Macu-rani km 1, localizado na área suburbana de Parintins (02º40’14’’S e 56º44’36’’W). Na propriedade pratica-se a agricultura familiar, com produção de hortaliças e formação de mudas de espécies arbóreas para reflorestamento, além do cultivo de frutíferas.

O experimento foi instalado em viveiro de 2 m de altura, tamanho de 8 x 12 m, constituído por uma estrutura de madeira, com cobertura de sombri-te 50% de luz incidente, incluindo a proteção das laterais. No viveiro, foram definidas áreas para recepção e peneiragem dos substratos, bem como uma estrutura de sementeira suspensa com 1,2 m de altura, empregando-se areia como substrato de semeadura e serragem curtida como cobertura de semeio. As sementeiras foram constituídas por caixas de madeira com 60 x 80, com 15 cm de profundidade.

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As sementes de tefrósia e flemíngia foram fornecidas pela CSAS-INPA, de Ma-naus, AM, procedentes de matrizes cultivadas nas Estações Experimentais. Após a colheita e beneficiamento dos frutos, estas foram preservadas em recipientes ve-dados na temperatura de 8º C. Foram semeadas 500 sementes de flemíngia e de tefrósia nas sementeiras. Antes da semeadura, as sementes tefrósia foram manti-das 24 horas em água e as de flemíngia foram atritadas entre lixas no 80 por 1 min, seguido da embebição em água por 24 horas.

A semeadura foi entre linhas a 0,3 cm de profundidade. A contagem da germinação e irrigação das sementeiras foi diária. Aos 20 dias pós-semeadura para a tefrósia e aos 24 dias para a flemíngia, as plântulas foram transplantadas para sacos com diferentes misturas substratos. O recipiente utilizado foi saco de polietileno preto, devidamente perfurado, com capacidade de 2 kg, com 27 x 16 cm.

Para a composição da mistura substrato um solo argiloso foi coletado na co-munidade de Santa Luzia, em área de platô, até a profundidade de 15 cm. A areia foi obtida em área de baixio no próprio sítio. O componente orgânico foi na for-ma de composto, preparado em pilhas de 1,5 m, nas dependências da Universi-dade do Estado do Amazonas, de Parintins, empregando-se material misto com restos de capina, esterco bovino, folhas de ingá, sangue bovino, macrófitas aquá-ticas, carcaça de mapará, resíduos de castanha-do-Pará triturados e sementes de açaí. O período de incubação do composto foi de 70 dias. Antes da mistura de materiais cada componente foi peneirado em malha de 1 cm.

As seguintes misturas substratos foram definidas na forma de tratamentos:

T-1 – Mistura substrato 3:2:0 (solo argiloso e areia v:v).T-2 – Mistura substrato 3:2:0,5 (v:v:v), com solo argiloso, areia e 9,1% de com-

posto orgânico.T-3 – Mistura substrato 3:2:1 (v:v:v), idem com 16,7% de composto orgânico.T-4 – Mistura substrato 3:2:1,5 (v:v:v), idem com 23,1% de composto orgânico.

Os diferentes componentes foram misturados homogeneamente. Cada espé-cie constituiu um experimento. Foram transplantadas 100 plântulas para os sa-cos, pela técnica das raízes nuas, 20 plântulas por tratamento. A cada 20 dias, o crescimento das plantas foi monitorado, determinando-se o diâmetro do colo e o comprimento do caule com auxílio de paquímetro e régua ou trena metálica. Como comprimento do caule, foi considerada a medida entre o colo e meristema principal de crescimento da muda (BENINCASA,1988). Para a tefrósia, as avaliações de crescimento foram feitas aos 1, 21, 41, 61 e 79 dias pós-transplantio e a colheita

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realizada aos 87 dias. Para a flemíngia as medidas foram feitas aos 1, 21, 41, 61 e 81 dias e a colheita aos 92 dias. A velocidade mensal de crescimento em compri-mento do caule e diâmetro do colo das plantas foi calculada pela fórmula VC = h2-h1/t2-t1 x 30, considerando-se dois intervalos de medição, onde VC corresponde à velocidade de crescimento, h1 e t1, comprimento do caule no tempo 1, e h2 e t2, comprimento do caule no tempo 2. O mesmo cálculo foi efetuado para o diâmetro do colo. (BENINCASA, 1988).

Na condução do ensaio, as mudas foram irrigadas diariamente e as plantas espontâneas foram removidas manualmente, quando necessário. Na colheita, 8 mudas por tratamento foram extraídas inteiras e seccionadas em parte aérea e raízes, determinando-se o peso seco da parte aérea, raízes e nódulos, após se-cagem em estufa a 65º C/72h. Antes da secagem, os nódulos foram contados. A matéria seca total das plantas correspondeu à soma da parte aérea e das raízes. A relação raiz/parte aérea foi o produto do peso das raízes sobre a parte aérea. O peso específico dos nódulos foi a razão entre a massa nodular e o número de nódulos.

Uma amostra de cada substrato foi analisada no Laboratório Temático de Solos e Plantas – LTSP/INPA, em Manaus, AM. O desenho experimental foi o inteiramen-te casualisado (DIC), com quatro tratamentos e 20 repetições, para as medidas de crescimento e 8 repetições para os dados obtidos com a colheita. Na análise dos dados, foi empregado o programa ESTAT, da UNESP, versão 2002, determinando-se o Teste F e comparando-se as médias pelo modelo de Tukey.

Avaliação do desenvolvimento de flemíngia e tefrósia em dife-

rentes substratos

Durante o ensaio, as condições técnicas do experimento revelaram-se apro-priadas. Ao redor de três meses pós-transplantio as mudas de flemíngia e tefrósia apresentavam qualidade adequada para o plantio definitivo. A sobrevivência da tefrósia foi de 100,0% e as de flemíngia 99,0%, evidenciando rusticidade das espé-cies e boa capacidade de sobrevivência na formação das mudas.

As características químicas dos substratos e do composto orgânico empregado nas misturas substrato estão apresentadas na Tabela 1. Verificou-se que a adição de composto ao substrato elevou progressivamente os níveis de K, Ca, Mg, P, Fe, Zn e Mn, entretanto o pH manteve-se sob forte tamponamento, fortemente ácido para todas as misturas substrato. Mesmo neste ambiente ácido, os níveis de alumínio

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em todas as misturas foram baixos, o que foi atribuído à neutralização do Al+++ pela matéria orgânica adicionada aos substratos.

Tabela 1. Características químicas e da fertilidade de quatro substratos emprega-dos para a produção de mudas de tefrósia e flemíngia, sob enviveiramento.

Misturas substrato*1 pH (H2O)

K Ca Mg Al P Fe Zn Mn

------------------------ cmolc kg-1 ------------------------ ------------------------ mg kg-1 ------------------------

3:2:0 4,10 0,08 1,76 0,21 0,03 10,0 26,0 2,5 2,4

3:2:0,5 4,93 0,11 2,43 0,28 0,02 17,29 31,0 4,6 3,2

3:2:1,0 4,70 0,13 2,83 0,32 0,02 25,49 31,0 5,2 3,8

3:2:1,5 4,55 0,18 3,56 0,43 0,01 35,17 37,0 5,2 5,4

Composto 6,12 1,37 19,74 1,54 0,03 233,96 109,0 11,0 42,0

*1 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

Na ausência do composto (mistura 3:2:0), os níveis de K, Ca e Mg foram defi-cientes, os níveis de P e Fe foram baixos, muito baixos para Mn, porém altos para o Zn, evidenciando um substrato com poucas reservas nutricionais para o desen-volvimento das mudas. Os teores de Fe se mantiveram medianos em todos os substratos que receberam composto, assim como os teores de Zn foram altos em todos os tratamentos. O incremento dos níveis do composto no substrato, para a mistura 3:2:0,5 e outras subsequentes mantiveram os níveis de K somente bai-xos. Para o cálcio, os níveis progressivamente aumentaram de teores baixos para medianos, alcançado somente com a maior proporção de composto na mistura substrato.

O P incrementou progressivamente com o aumento do composto no substrato, sendo, inicialmente, baixo passando a mediano nos demais substratos que recebe-ram o composto. A análise isolada do composto, demonstrou sua alta disponibili-dade de nutrientes, com pH de acidez fraca. Os níveis de K, P, Ca, Mg, Fe, Mn e Zn foram altos. Os teores elevados de P no composto podem estar relacionados com a presença de resíduos de peixe na composição de materiais empregada em seu preparo.

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Efeito da adição de composto na mistura de substrato de produção

de mudas de tefrósia

As informações sobre o crescimento em comprimento do caule das mudas de te-frósia estão apresentadas na Tabela 2. Após a repicagem as plântulas de tefrósia mos-traram uma ligeira desuniformidade, variando entre 7,6-8,5 cm. As diferenças iniciais no comprimento do caule foram atenuadas aos 61 dias quando as plantas da mistu-ra 3:2:0,5 destacaram-se com a maior média de altura e se mantiveram aos 79 dias, de modo que a melhor resposta da tefrósia aos tratamentos empregados deu-se no menor nível de matéria orgânica da mistura substrato, ou seja, a mistura 3:2:0,5, su-perando significativamente as plantas crescidas nas misturas substrato 3:2:1 e 3:2:1,5. O comprimento do caule de plantas que cresceram em substrato sem composto não diferiu significativamente da maior média obtida nas plantas que cresceram no subs-trato 3:2:1. Esta espécie apresentou crescimento rápido no viveiro e o incremento em comprimento do caule variou entre 19,8 cm mês-1 na mistura substrato 3:2:1 e 27,2 cm mês-1 no substrato 3:2:0,5. Ao final de 79 dias, as mudas apresentavam mais de 70 cm sugerindo que a fase de produção de mudas pode ser abreviada, e, possivel-mente, com 60 dias estas já possuem qualidade suficiente para o plantio definitivo.

Tabela 2. Medidas do comprimento do caule (cm) de mudas de tefrósia (Tephrosia candida) desenvolvidas em diferentes substratos, sob condições de enviveiramen-to. (n = 20)*1

Tipo de mistura substrato*2

Dias após o transplantio

1 21 41 61 79

3:2:0 8,5 a 9,6 c 18,7 c 40,0 ab 74,4 ab

3:2:0,5 8,0 a 12,0 b 28,0 ab 47,3 a 78,7 a

3:2:1 7,0 b 10,9 b 25,4 b 37,3 b 58,6 c

3:2:1,5 7,6 ab 13,3 a 29,8 a 42,0 ab 63,2 bc

Teste F 6,30** 26,46** 19,22** 3,59* 6,38**

Coef. var. (%) 13,96 11,93 19,38 24,07 24,20

*1 Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey no nível de 1 ou

5% de probabilidade (P<0,01; P<0,05).

*2 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

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O diâmetro do colo inicial das plantas variou entre 0,9-1,0 mm. Aos 21 e 41 dias pós-transplantio, o desenvolvimento diamétrico das mudas foi favorecido nos substratos 3:2:0,5 e 3:2:1,5 comparado aos outros substratos. Os dados também demonstraram que aos 61 dias o diâmetro do colo das mudas não diferia significa-tivamente, evidenciando o grau de rusticidade da espécie. Aos 79 dias, as maiores médias de diâmetro do colo foram alcançadas nos substratos 3:2:0,5 e 3:2:0, que foram maiores que o das plantas que cresceram na mistura 3:2:1,0, concordando com os dados de comprimento do caule. As taxas de incremento mensal do diâme-tro do colo das mudas de tefrósia alcançaram 1,4 e 1,5 mm mês-1, respectivamente, para as misturas 3:2:0 e 3:2:0,5, sugerindo que o desenvolvimento diamétrico do colo das plantas foi pouco influenciado pelos níveis de composto adicionados ao substrato.

Foi verificado que a tefrósia, ao contrário de muitas plantas exigentes em nu-trientes, adaptou-se muito bem à ausência de composto na mistura substrato e produziu o seu maior desenvolvimento em parte aérea na mistura 3:2:0, contra-riando o que se espera quando o pequeno produtor se preocupa com a suplemen-tação nutricional das plantas na fase de formação das mudas (Figura 3). As plan-tas que cresceram na ausência do composto produziram 32,8% mais biomassa da parte aérea seca que as plantas da mistura substrato 3:2:1,5, embora não diferirem significativamente (Figura 3A). Houve um menor desenvolvimento da parte aérea da tefrósia nas misturas 3:2:0,5 e 3:2:1,5.

O desenvolvimento radicular das plantas de tefrósia correspondeu com o da biomassa da parte aérea, de modo que o sistema radicular melhor estabe-lecido foi encontrado no substrato sem composto orgânico e o menor desen-volvimento radicular foi verificado na mistura substrato 3:2:1,0 (Figura 3B). Um sistema radicular bem estabelecido favorece a sobrevivência das mudas após o plantio definitivo, aumentando sua resistência a fatores ambientais que não são mais controlados quando ultrapassada a fase viveiro. As plantas que cresceram no substrato 3:2:0,5 apresentaram 26,4% mais raízes que as que cresceram na mistura 3:2:1,5, embora elas não tenham diferido significa-tivamente (P<0,05).

Os valores de matéria seca total concordaram com as respostas obtidas para a biomassa da parte aérea e das raízes secas (Figura 3C). Os dados sugerem que o desenvolvimento das mudas de tefrósia pode ser conduzido em substrato sem matéria orgânica. Entretanto, a presença de composto no substrato pode ter im-portância em etapas posteriores como o plantio definitivo em solos de baixa fer-tilidade, mas isso não foi avaliado. É possível que a combinação de solo argiloso e areia tenha favorecido as propriedades físicas da mistura substrato, promovendo a

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porosidade e reduzindo a compactação, o que também contribui para o desenvol-vimento da planta nesta fase.

Figura 3. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de tefrósia (Te-

phrosia candida) sobre a biomassa da parte aérea seca (A), raízes secas (B), matéria seca total (C) e rela-

ção raiz/parte aérea (D), aos 87 dias pós-transplantio. (n = 8)*1

*1 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

A relação raiz/parte aérea (Figura 3D) é empregada algumas vezes nos vi-veiros como um parâmetro capaz de aferir a qualidade da muda formada. Tra-balhando com espécies florestais Sturion (1981), estabeleceu a faixa da relação raiz/parte aérea compreendida entre os valores de 0,25-0,40, como as indica-doras de alta qualidade das mudas formadas. Por esse critério, observa-se que em nenhum substrato à relação raiz/parte aérea da tefrósia enquadrou-se den-tro da faixa prescrita e variaram entre 0,17 e 0,24. Por outro lado, considera-se que a tefrósia não é uma leguminosa lenhosa para produção de madeira, apre-sentando pequeno porte, e seu valor agroecológico deve-se muito mais a uma biomassa tenra e facilmente mineralizável, capaz de transferir nitrogênio para cultivos associados.

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As informações sobre o estabelecimento de nódulos nas raízes da tefrósia por rizóbios presentes naturalmente nas misturas substratos avaliadas estão disponí-veis na Figura 4. O maior número de nódulos formados foi verificado na ausência de composto na mistura substrato, média de 6 nódulos. A presença de composto inibiu o estabelecimento dos nódulos e na mistura 3:2:1 de solo argiloso, areia e composto orgânico a nodulação foi muito baixa (Figura 4A). Nos níveis 3:2:0,5 e 3:2:1,5, somente um nódulo, em média, foi observado nas plantas. O nitrogênio no solo encontra-se predominantemente na matéria orgânica. Marschner (1990) esti-ma que 98% do N no solo estão na matéria orgânica e a presença de N disponível inibe o estabelecimento de nódulos nas leguminosas. A maior nodulação obser-vada em mistura substrato sem composto também foi relacionada com o maior desenvolvimento da planta. As Fabaceae nodulíferas estão adaptadas a ambien-tes com baixa disponibilidade de N e a simbiose com rizóbios é uma estratégia evolutiva contra essa deficiência nutricional, ou seja, trata-se de um mecanismo natural do ecossistema para repor os estoques de N no sistema solo x planta x animal (FREIRE, 1992). O efeito desfavorável de níveis excessivos de composto de lixo urbano na mistura substrato de formação de mudas de leguminosas arbóreas foi demonstrado por Souza (1992) e relacionado à maior mineralização de N nestes substratos.

O desenvolvimento dos nódulos também foi maior (P<0,01) no substrato sem a presença de composto orgânico (Figura 4B). Sabe-se que o plantio definitivo de leguminosas com nodulação estabelecida favorece sua sobrevivência no campo e retomada do crescimento das plantas. Desse modo, há interesse que o plantio das mudas tenha nódulos estabelecidos e bem desenvolvidos para que os benefícios da simbiose se estendam ao sistema de produção. Para a formação de mudas de tefrósia, é possível que o uso de composto na mistura substrato possa ser dispen-sado, já que as plantas que cresceram na mistura 3:2:0 evidenciaram um bom cres-cimento e desenvolvimento geral, indicando uma boa qualidade para o plantio definitivo.

Concordando com as informações registradas para o número e biomassa seca de nódulos, na mistura 3:2:0, de solo argiloso e areia foram também verificadas as maiores médias do seu peso específico (Figura 4C). A baixa nodulação observada nas misturas substrato com níveis de composto pode resultar na introdução no campo de mudas sem nodulação plena. Nos solos distróficos, a nodulação só se estabelecerá quando as reservas do composto presentes no substrato forem esgo-tadas e isso pode, possivelmente, ser relacionado com um retardamento do cresci-mento das plantas (DOBEREINER, 1984).

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Figura 4. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de tefrósia (Te-

phrosia candida) sobre o número (A), biomassa seca (B) e peso específico de nódulos (C), aos 87 dias

após o transplantio. (n = 8)*1

*1 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

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CAPíTULO 13

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Efeito da adição de composto na mistura de substrato de produção

de mudas de flemíngia

As plantas de flemíngia apresentaram um bom desenvolvimento geral no pe-ríodo experimental e, ao final de 92 dias apresentavam qualidade adequada para o plantio definitivo. Ao contrário da tefrósia, a flemíngia mostrou maior exigência quanto à fertilidade do substrato. Um dia após a repicagem o tamanho das plân-tulas variou entre 4,4-6,2 cm e durante o crescimento das mudas foram encontra-das diferenças significativas entre os substratos avaliados em todas as avaliações (Tabela 3).

Tabela 3. Medidas do comprimento do caule (cm) de mudas de flemíngia (Flemin-gia macrophylla) desenvolvidas em diferentes substratos, em condições de envivei-ramento. (n = 20)*1

Tipo de mistura substrato*2

Dias após o transplantio

1 21 41 61 81

3:2:0 5,2 a 7,0 b 11,8 c 20,2 c 37,7 b

3:2:0,5 4,4 c 8,0 b 14,6 bc 37,3 b 72,9 a

3:2:1 4,7 bc 7,7 b 15,7 b 43,1 ab 81,3 a

3:2:1,5 6,2 a 10,0 a 19,5 a 45,9 a 80,1 a

Teste F 20,19** 18,00** 17,02** 38,69** 29,04**

Coef. Var. (%) 14,53 16,91 22,51 22,59 25,06

*1 Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey no nível de 1%

de probabilidade (P<0,01).

*2 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

Aos 21 dias pós-transplantio, as plantas que cresceram na mistura 3:2:1,5 já apresentavam comprimento do caule significativamente maior que os demais tratamentos e esta tendência se estendeu aos 41 e 61 dias, onde o menor cresci-mento em altura deu-se no substrato sem composto. Na colheita das plantas, aos 81 dias, o maior crescimento das plantas em comprimento do caule progrediu

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com o incremento do nível de composto no substrato. Assim como para tefrósia, a média de comprimento do caule de 80,1 cm observada aos 92 dias de trans-plantio no substrato 3:2:1,5 indica que o período de enviveiramento da flemíngia pode ser encurtado para 60 dias. Na ausência de composto na mistura substrato (mistura 3:2:0), o incremento mensal da flemíngia foi calculado em 12,2 cm mês-1. A maior velocidade de crescimento foi verificada nos tratamentos com compos-to orgânico e na mistura 3:2:1 obteve-se a maior taxa, de 28,7 cm mês-1. O cres-cimento rápido é uma característica considerada em plantas selecionadas para adubação verde.

Um dia após o transplantio, o diâmetro do colo das mudas de flemíngia era de 0,9-1,0 mm. Com o andamento do ensaio, aos 61 e 81 dias, verificou-se que as plantas que cresceram em qualquer nível de composto orgânico apresentavam di-âmetro do colo superior àquelas desenvolvidas na mistura sem composto, concor-dando com as informações registradas para o comprimento do caule das plantas. A velocidade de incremento diamétrico das mudas mensal de crescimento diamétri-co das mudas foi de 1,0 mm mês-1, para as que cresceram na mistura 3:2:0, e de 1,8-1,9 mm mês-1, nas plantas desenvolvidas em qualquer nível de composto. Todas as evidências são de uma menor rusticidade desta espécie comparada à tefrósia e uma resposta favorável na formação das mudas com o incremento da fertilidade do substrato.

O desenvolvimento das mudas de flemíngia no período experimental também foi favorecido pela presença de composto no substrato (Figura 5). O incremento progressivo do composto orgânico na mistura também resultou em um maior de-senvolvimento da parte aérea das mudas, de modo que as plantas que cresceram nas misturas 3:2:1 e 3:2:1,5 acumularam significativamente mais parte aérea que as crescidas em substrato sem composto (Figura 5A). As evidências são de que para formação de mudas de flemíngia não se pode abdicar do emprego de alguma fon-te de composto orgânico no substrato.

O desenvolvimento radicular das mudas foi similar ao da parte aérea, ob-servando-se uma maior resposta nos tratamentos que receberam composto no substrato (Figura 5B). Na ausência do composto verificada na mistura 3:2:0 as mudas de flemíngia não apresentaram qualidade suficiente para o plantio de-finitivo, já que um sistema radicular bem desenvolvido é importante para o es-tabelecimento das plantas após o plantio definitivo. As mudas de flemíngia na mistura substrato 3:2:1,5 desenvolveram 57,8% mais biomassa radicular que as que cresceram na ausência de composto. No desenvolvimento da biomassa seca total (Figura 5C), nota-se que, em qualquer nível de composto aplicado, as plan-tas não diferiram significativamente entre si. Desse modo, em termos práticos, o

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CAPíTULO 13

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emprego de menores quantidades de composto no substrato reduz os custos de produção.

Considerando-se o conceito de Sturion (2000), que aferiu a faixa da relação raiz/parte aérea entre 0,25-0,40 para avaliar a qualidade das mudas (Figura 5D), somen-te as plantas crescidas com a presença de composto no substrato classificaram-se dentro destes limites, não diferindo significativamente entre si. Os valores de rela-ção raiz/parte aérea abaixo de 0,50 significam que uma muda bem estabelecida deve ter um desenvolvimento da parte aérea maior que o de raízes, já que é na parte aérea que as plantas obtêm sua energia no processo de fotossíntese. Por ou-tro lado, não se espera que, crescendo em um espaço limitado pelo recipiente de formação da muda, a planta expresse completamente o seu potencial de desen-volvimento radicular.

Figura 5. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de flemíngia

(Flemíngia macrophylla) sobre a biomassa da parte aérea seca (A), raízes secas (B), matéria seca total (C)

e relação raiz/parte aérea (D), aos 92 dias após o transplantio. (n = 8)*1

*1 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

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Figura 6. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de flemíngia

(Flemíngia macrophylla) sobre o número (A), biomassa seca (B) e peso específico de nódulos (C), aos 92

dias após o transplantio. (n = 8)*1

*1 As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).

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CAPíTULO 13

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Quanto à nodulação das plantas de flemíngia, foram verificadas menores influ-ências de níveis de matéria orgânica no substrato comparado à tefrósia, revelando o seu padrão de infecção promíscuo (Figura 6). Aos 92 dias, o número de nódulos nas raízes de flemíngia variou entre 13 e 20 nódulos por planta, independente do substrato (Figura 6A). Isso evidencia a boa capacidade da espécie em nodular na-turalmente em diferentes condições de solo, o que é uma característica valorizada em espécies introduzidas para fornecimento de nitrogênio ao sistema de produ-ção por via biológica.

A Figura 6B apresenta também as informações sobre o peso dos nódulos secos, não tendo sido identificadas igualmente diferenças significativas entre os trata-mentos, entretanto, foi evidenciada uma queda do peso dos nódulos no substrato com maior nível de composto orgânico (mistura 3:2:1), de modo que as plantas que cresceram no nível 3:2:1 apresentavam 79,1% mais massa nodular que as formadas em mistura 3:2:1,5, constituída por solo argiloso, areia e composto orgânico.

O desenvolvimento individual dos nódulos, avaliados pelo seu peso especí-fico foi melhor na mistura 3:2:0,5, evidenciando que essa menor proporção de composto na mistura pode perfeitamente ser adotada na formação de mudas de flemíngia (Figura 6c). Em todos os substratos, ressalvando-se um menor desen-volvimento de plantas na combinação sem composto (3:2:0), a flemíngia apre-sentou nódulos e as possibilidades de introduzir em condições de campo mudas com nodulação estabelecida são bem mais factíveis para esta espécie quando comparadas à tefrósia.

Conclusões

A formação de mudas de flemíngia e tefrósia foi afetada pelos níveis de com-posto orgânico presentes nas misturas substrato. A tefrósia apresentou rusticidade e, para bom desenvolvimento e nodulação natural, a formação das mudas pode ser conduzida sem emprego de composto, com uma mistura 3:2 de solo argiloso e areia. A flemíngia respondeu favoravelmente ao incremento de composto orgâ-nico na mistura substrato e, para o plantio de mudas com nodulação estabelecida, recomenda-se a mistura 3:2:0,5, de solo argiloso, areia e composto orgânico. Os re-sultados sugerem que a formação das mudas de flemíngia e tefrósia pode ser feita em 60 dias, uma vez que, nesse período, as mudas já apresentam altura superior a 70 cm.

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CAPÍTULO 14

Efeito da inoculação com rizóbios na formação de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana var. Thibaudiana) em dois solos da AmazôniaMarco Antônio de Freitas MENDONÇA1; Edilingles Pinto VIEIRA1; Luiz Augusto Gomes de SOUZA2

1 Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Amazonas – FCA/UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão,

Campus Universitário – Setor Sul. E-mail: [email protected], [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras chave – Fabaceae; Microbiologia do solo; Fixação de Nitrogênio; Agroecologia.

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Introdução

A fixação simbiótica de N2 entre rizóbios e leguminosas representa um bene-fício importante em termos econômicos, ou seja, sob condições adequadas essa propriedade pode complementar o suprimento de adubos químicos nitrogenados na agricultura, contribuindo, desta forma, para a redução de custos. No Brasil, a cultura extensiva da soja em grandes áreas tem sido a principal beneficiária desta tecnologia biológica, com correspondente aumento de produtividade.

Existem espécies de leguminosas com habilidades nodulíferas, que são capazes de prosperar em solos ácidos e de baixa fertilidade, porém, sob condições naturais, esta nodulação com rizóbios nem sempre se manifesta quando a população de bac-térias do solo não apresenta compatibilidade com a planta (BALA et al., 2003). Na au-sência de um dos simbiontes eficientes, torna-se necessária a inoculação das plantas com estirpes selecionadas a partir de isolados obtidos de nódulos coletados em solos de diferentes locais. O termo inoculação significa a multiplicação de microrganismos em condições controladas, seguida da disponibilização para o cultivo de interesse. No Brasil, a turfa é o veículo mais empregado no preparo de inoculantes de bacté-rias diazotróficas e há nas coleções microbianas nacionais bactérias fixadoras de N2 classificadas em 13 gêneros distribuídos em 8 famílias de bactérias (MOREIRA, 2008).

Os estudos da nodulação de leguminosas lenhosas têm sido ampliados, nos úl-timos anos, devido à demanda por espécies de rápido crescimento, para produção de madeira e lenha, e habilidade fixadora de nitrogênio. Entretanto, na Amazônia estima-se que somente 33% das espécies foram avaliadas quanto a sua habilidade de nodulação e fixação de N2 e não há registro de nodulação para 22 dos gêneros de Fabaceae encontrados na região (SOUZA, 2010).

Sob o prisma da agroecologia, buscam-se modelos tecnológicos para sistemas sustentáveis de produção. Entende-se, assim, sob o enfoque deste novo paradig-ma, o sistema de produção agrícola como um ecossistema próprio em que compo-nentes importantes, como a variedade de espécies combinadas no tempo ou no espaço, a decomposição e a ciclagem de materiais, a redução dos impactos nega-tivos da mecanização e do uso de agrotóxicos possam ser mais bem manipulados. Dentre os processos biológicos, as simbioses, comensalismos e associações entre componentes do sistema são valorizados. Recomendam-se processos biológicos economicamente compensadores, como a simbiose rizóbio-leguminosa (FRANCO e FARIA, 1997), complementada pela inoculação com fungos micorrízicos vesicula-res-arbusculares, com o propósito de aumentar a captação de nutrientes essenciais pelas culturas. Na Amazônia, entretanto, ainda há muito questionamento sobre que espécies de leguminosas podem ser selecionadas para suprimento de nitro-

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CAPíTULO 14

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gênio aos agroecossistemas via fixação biológica de N2, especialmente em solos ácidos e de baixa fertilidade natural do ambiente da terra firme.

A família Fabaceae (Leguminosae) é caracterizada em termos agronômicos como constituída por plantas de múltiplo uso, e, são inúmeras as espécies de in-teresse econômico, produtoras de alimentos, forrageiras, madeiráveis, medicinais, produtoras de óleos e resinas, tanino, cortiça, lenha e carvão (NAS, 1979), forne-cendo um produto e, portanto, existindo a possibilidade de cultivo econômico. Complementarmente, a eficiência da fixação biológica de N2 passa a fornecer um serviço também ao sistema produtivo, algumas vezes transferindo nitrogênio para outros cultivos econômicos de interesse.

Pouco se conhece sobre a resposta de leguminosas arbóreas quando inocula-das com rizóbios específicos ou homólogos. Assim, muitas espécies nativas foram pouco pesquisadas quanto à eficiência da simbiose (SPRENT, 2000), e o avanço des-ses estudos potencializaria a expansão de seus cultivos. Especialmente no gênero Inga muitas espécies têm sido pesquisadas para a recuperação de solos, sendo de-monstrado, experimentalmente, que o cultivo de Inga edulis em solos degradados aumenta a mineralização de nitrogênio e exerce ação de controle de plantas inva-soras (LODKA et al., 2012). Neste gênero das Fabaceae, o Brasil é, particularmente, rico em biodiversidade registrando-se, pelo menos, 127 espécies (52 endêmicas), 10 subespécies (3 endêmicas), 2 variedades (1 endêmica) (LIMA, 2010). As evidên-cias sugerem que outras espécies de Inga poderão ser aproveitadas em cultivos em maior escala por suas propriedades, dentre elas, a habilidade fixadora de N2.

A ingá-barata (Inga thibaudiana DC.) é uma espécie nativa do Brasil, muito co-mum em áreas de terra firme no estado do Pará e também no Amazonas. O táxon é dividido em duas subespécies russotomentella (Malme) T.D. Penn. endêmica da Amazônia e do Cerrado e thibaudiana não endêmica da Amazônia, Caatinga, Cerra-do e Mata Atlântica (LIMA, 2010). Nos agroecossistemas amazônicos há ainda uma necessidade de selecionar espécies com boa capacidade de estabelecimento nos solos distróficos que recobrem a maior parte da região. Para atender a esta deman-da por informações foi pesquisado o efeito da inoculação com rizóbios em mudas de ingá-barata em dois solos da Amazônia Central.

Desenvolvimento da pesquisa

Os estudos foram feitos em Manaus, no Laboratório de Microbiologia do Solo e no viveiro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA. As se-mentes de ingá-barata (Inga thibaudiana DC. var. thibaudiana) foram coletadas em

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árvores que cresciam na vegetação secundária da Província Petrolífera de Urucu, Coari, AM. O registro da espécie no Herbário do INPA foi o número 234.667.

Após o beneficiamento dos frutos, as sementes foram semeadas em caixas de plás-tico drenadas, preenchidas com areia. A semeadura foi feita a 2 cm de profundidade. O acompanhamento da germinação e a manutenção da umidade do substrato foi feito diariamente, até que o processo de germinação das sementes se completasse.

Dois solos foram selecionados para a pesquisa: um Argissolo Vermelho-Amarelo, coletado em área com sistemas agroflorestais, na Estação Experimental de Olericul-tura do INPA e o solo Latossolo Amarelo, coletado em área de pastagem na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas, ambos no município de Ma-naus, AM. Após a coleta, os solos foram peneirados em malha de 5 cm e, em seguida, distribuídos nos recipientes com capacidade para 2,0 kg de solo. Uma amostra de cada solo foi separada para análise, que foi efetuada no Laboratório Temático de So-los e Plantas – LTSP/INPA, e os resultados estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Características químicas dos solos Argissolo Vermelho-Amarelo e Latos-solo Amarelo utilizados no experimento com ingá-barata (Inga thibaudiana).

Classe de solo pH (H2O)

Ca Mg K Al P Fe Zn Mn

---------------------- cmolc kg-1 ---------------------- ------------------------ mg kg-1 ------------------------

Argissolo 4,31 1,86 0,37 0,11 0,65 8,5 192,0 5,7 2,9

Latossolo 4,62 0,35 0,13 0,10 1,00 1,5 313,0 2,6 2,6

Os solos selecionados receberam uma adubação básica constituída por 0,91 g kg-1 de superfosfato triplo, 0,33 g kg-1 de cloreto de potássio e 1,9 g kg-1 de calcário dolomítico, para o Argissolo e 0,70 g kg-1 de superfosfato triplo, 0,25 g kg-1 de clo-reto de potássio e 1,5 g kg-1 de calcário dolomítico para o Latossolo. Os cálculos da adubação foram baseados no peso dos sacos preenchidos com os solos seciona-dos que foram de 1,91 e 1,48 kg para o solo Argissolo e Latossolo, respectivamente. Em seguida, foi aplicada solução líquida de micronutrientes para solo, 1 mL kg-1 , conforme recomendado por Halliday, 1984. A solução líquida de micronutrientes foi preparada de acordo com Eira et al., 1972.

Na condução dos experimentos foram adotadas três condições de suprimento de N:

1 – Controle (plantas sem inoculação e sem N mineral); 2 – Adubação com ureia (TN), 80 kg ha-1;3 – Inoculação com rizóbios 5 mL planta-1.

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CAPíTULO 14

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No tratamento com inoculação foram utilizadas estirpes homólogas da Coleção de Rizóbios do INPA. No preparo do inoculante líquido, em meio YMA sem agar, foram utilizadas onze estirpes: 832, 852, 842, 833, 836, 848, 847, 835, 837, 846 e 850, misturadas em coquetel (v:v). O período de incubação foi de doze dias, em agita-dor mecânico horizontal. No tratamento TN, houve parcelamento aos 3 e aos 33 dias do transplantio, incorporando-se a cada aplicação o fertilizante diretamente no solo, com o auxílio de um bastão de vidro. Com base no peso do saco preenchi-do com solo a cada aplicação foi empregado 0,17 g de ureia no Argissolo e 0,13 g de ureia no Latossolo. Durante o experimento, as plantas foram irrigadas nos dias sem chuva, extraindo-se manualmente as plantas invasoras que colonizavam a su-perfície dos sacos.

O delineamento experimental empregado foi o inteiramente casualizado, com arranjo fatorial 2 x 3, constituído por 2 solos e 3 condições de suprimento de nitro-gênio, em um total de 6 tratamentos e 9 repetições. Um total de 54 mudas consti-tuiu o ensaio.

Foi efetuado um acompanhamento do crescimento das plantas em compri-mento do caule e diâmetro do colo a partir de um dia após a repicagem e aos 32, 62, 90, 121 e 165 dias. Como comprimento do caule foi definida a medida do ní-vel do solo até o meristema principal da muda. Ao final do experimento, a taxa de incremento mensal para as médias de crescimento das mudas foi estimada pela fórmula (h2-h1/t2-t1 x 30), onde h2 e h1 correspondem ao comprimento do caule no t2 e t1, respectivamente. Do mesmo modo, foram estimadas para o diâmetro do colo.

A colheita das plantas foi efetuada aos 165 dias. Nesta fase, foi extraída a planta inteira de cada vaso, separando-se a parte aérea das raízes, para determinação do peso da matéria seca das raízes, caule, folhas e dos nódulos, efetuando-se tam-bém a contagem do número de nódulos. A secagem do material vegetal foi feita a 65º C, por 72 horas. As folhas foram separadas e moídas em moinho de facas para determinação do teor de N foliar no Laboratório Temático de Solos e Plantas do INPA. A concentração de N foliar foi determinada pelo método de destilação ácida e titulação de Kjeldhal, estimando-se em seguida o N-total (mg/planta), com base na biomassa foliar seca.

Como variáveis adicionais consideraram-se a matéria seca total, a relação raiz/parte aérea e o peso específico dos nódulos (peso seco dos nódulos/número de nódulos). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey. Na análise, os dados da contagem dos nó-dulos foram transformados em √x+0,01 (CENTENO, 1990) e os valores de N-foliar (%) foram transformados para arco-seno √x+0,01. A eficiência do processo simbiótico foi

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avaliada pela correlação entre variáveis de desenvolvimento, nodulação e absor-ção de nitrogênio nas plantas.

Efeito da inoculação com rizóbios na formação de mudas de

ingá-barata (Inga thibaudiana var . Thibaudiana)

As mudas de ingá-barata desenvolveram-se satisfatoriamente no período ex-perimental e, aos 165 dias, apresentaram qualidade adequada para o plantio de-finitivo. Foi verificado que, nos primeiros três meses de acompanhamento, o cres-cimento inicial das plantas em comprimento do caule não diferiu entre os solos avaliados, conforme pode ser observado na Tabela 2. A partir dos 121 dias as plan-tas que cresceram em solo Argissolo apresentaram maior comprimento do caule que o Latossolo (P<0,01), refletindo uma média mensal de crescimento de 4,7 cm mês-1 e 3,9 cm mês-1, respectivamente para o Argissolo, comparado ao Latossolo. Quanto às medidas do diâmetro do colo, verificou-se uma desuniformidade inicial das plantas após a repicagem e, aos 32 dias de acompanhamento, com as maiores médias sendo observadas em solo Argissolo. Essa diferença no diâmetro do colo entre as plantas foi não significativa aos 62 e 90 dias e, posteriormente, passou a ser maior em solo Argissolo comparado ao Latossolo, refletindo as tendências ve-rificadas para o comprimento do caule. O incremento mensal no diâmetro do colo do ingá-barata nos dois solos foi calculado em 0,5 mm mês-1.

O tipo de suprimento de nitrogênio para as plantas também afetou o seu cres-cimento, conforme pode ser verificado na Tabela 3. Até os 90 dias de enviveira-mento, não havia diferença entre os tratamentos aplicados para avaliar a forma de absorção de nitrogênio pelas plantas para o comprimento do caule. Aos 121 dias de viveiro, as plantas supridas com N mineral apresentavam comprimento do caule superior ao do tratamento testemunha (P<0,01), não diferindo das plantas inocu-ladas. Entretanto, esta vantagem relativa foi amenizada na avaliação final aos 165 dias e as mudas inoculadas apresentavam a maior média de comprimento do caule superando as plantas testemunhas, não diferindo das que receberam N-mineral. Embora respostas de crescimento das plantas sejam pouco relacionadas ao nitro-gênio, os dados evidenciam o potencial da inoculação com rizóbios como uma al-ternativa ao uso de adubos químicos nitrogenados. Quanto ao incremento mensal de crescimento em comprimento do caule, as plantas testemunhas apresentavam média de 3,5 cm mês-1, as que receberam N-mineral 4,6 cm mês-1 e as plantas ino-culadas com rizóbios 4,9 cm mês-1.

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Tabela 2. Evolução do crescimento em comprimento do caule e diâmetro do colo de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana) em dois solos da Amazônia Central, sob enviveiramento.*1

SolosDias após o plantio

1 32 62 90 121 165

-------------------------------------------------- Comprimento do caule (cm) ---------------------------------------------------

Argissolo 8,9 a 10,0 a 13,7 a 21,0 a 28,2 a 34,5 a

Latossolo 7,7 a 10,1 a 14,8 a 18,0 a 23,5 b 29,2 b

Teste F 3,67ns 0,03ns 0,60ns 3,03ns 4,56* 4,17*

-------------------------------------------------------- Diâmetro do colo (mm) -------------------------------------------------------

Argissolo 1,1 a 1,6 a 1,9 a 2,6 a 3,3 a 4,1 a

Latossolo 0,7 b 1,3 b 1,7 a 2,3 a 2,8 b 3,4 b

Teste F 48,49** 6,34* 1,10ns 2,96ns 7,30** 12,61**

*1 Para cada variável, as médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 5%

e 1% de probabilidade; ns não significativo.

Tabela 3. Evolução do crescimento em comprimento do caule e diâmetro do colo de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana) em resposta à adubação nitrogenada e inoculação com rizóbios, sob enviveiramento.*1

TratamentosDias após o transplantio

1 32 62 90 121 165

----------------------------------------------- Comprimento do caule (cm) ------------------------------------------------

Testemunha 7,6 a 8,9 a 12,4 a 17,3 a 20,9 b 26,6 b

N-mineral 8,8 a 10,9 a 15,5 a 21,5 a 30,1 a 33,9 ab

Inoculação 8,3 a 10,4 a 14,8 a 19,8 a 26,5 ab 35,0 a

Teste F 1,27ns 1,88ns 1,70ns 2,13ns 5,86** 4,14*

---------------------------------------------------- Diâmetro do colo (mm) ----------------------------------------------------

Testemunha 1,0 a 1,3 a 1,9 a 2,2 b 2,7 b 3,4 b

N-mineral 1,0 a 1,6 a 1,9 a 2,6 ab 3,4 a 4,1 a

Inoculação 0,8 b 1,5 a 1,7 a 2,7 a 3,1 ab 4,0 ab

Teste F 6,40** 2,68ns 1,35ns 4,13* 5,86** 4,64*

*1 Para cada variável, as médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 5%

e 1% de probabilidade; ns não significativo.

Avaliando-se o diâmetro do colo em resposta aos tratamentos aplicados, veri-ficou-se que, após a repicagem, as mudas de ingá-barata apresentavam diâmetro

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do colo entre 0,8-2,0 mm e até os 60 dias de acompanhamento não diferiram significativamente. Aos 90 dias, as plantas inoculadas apresentavam uma média de diâmetro do colo superior ao das plantas não inoculadas e não adubadas com N-mineral. Entretanto, a partir dos 121 dias, as plantas supridas com ureia apre-sentavam as maiores médias desta variável, comparável às plantas inoculadas e superiores àquelas do tratamento testemunha. As evidências são de que nos solos estudados o fornecimento de nitrogênio, por via biológica ou com fertili-zantes, favorece o crescimento em diâmetro do colo das plantas. As estimativas de incremento mensal de diâmetro do colo das mudas de ingá-barata foram de 0,4 cm mês-1 para plantas do tratamento controle e 0,6 cm mês-1 para plantas supridas com N-mineral ou inoculadas com rizóbios. Em muitos estudos silvicul-turais, na fase de produção de mudas, o diâmetro do colo da planta tem sido con-siderado como um indicador da qualidade da muda para o plantio (ATIK, 1992; ARCO-VERDE; MOREIRA, 1998).

Quanto ao desenvolvimento das plantas, foi verificado que o peso da biomassa seca do caule e a relação raiz/parte aérea das mudas de ingá-barata tiveram dife-renças significativas na comparação dos dois solos testados aos 165 dias após o plantio (Figura 1), entretanto o peso das folhas e raízes secas não diferiu significa-tivamente entre os solos.

A relação raiz/parte aérea das plantas tem sido empregada como uma caracte-rística relacionada com a qualidade da muda formada. Os dados evidenciam um melhor desenvolvimento radicular das plantas no solo Latossolo comparado ao Argissolo, resultando em uma relação raiz/parte aérea de 0,28, bem próxima da fai-xa recomendável para a produção de mudas florestais e frutíferas. Segundo Sturion (1981), as mudas que apresentam relação raiz/parte aérea na faixa compreendida entre 0,30-0,40 são as mais adequadas ao plantio definitivo. Em decorrência, as plantas que cresceram em solo Argissolo apresentaram uma relação abaixo desse valor de referência, embora na média o peso de raízes secas do ingá-barata nos dois solos tenha sido equivalente. Foi considerado que o maior peso médio do caule em plantas que cresceram em solo Argissolo refletiu o seu maior desenvol-vimento em parte aérea e este fator afetou a relação raiz/parte aérea das plantas que cresceram neste solo. A forma de suprimento de nitrogênio afetou as plantas de ingá-barata no desenvolvimento das raízes, caule, folhas e relação raiz/parte aérea das plantas, conforme pode ser verificado na Figura 2. As mudas inoculadas acumularam 84,9% mais biomassa seca nas folhas, comparadas ao tratamento con-trole (p<0,01), sendo também superiores aos valores observados nas plantas que receberam N-mineral em 25,4%.

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Figura 1. Efeito do tipo de solo sobre o desenvolvimento em biomassa seca de mudas de ingá-barata

(Inga thibaudiana) sobre o peso das folhas (A), caule (B), raiz (C) e relação raiz/parte aérea (D), aos 165

dias de enviveiramento.

De fato, espera-se que a autonomia de nitrogênio no desenvolvimento vegetal se reflita, principalmente, na biomassa foliar já que é nesta parte da planta que ocorre o maior acúmulo deste elemento, estocando-se reservas que serão inves-tidas nos processos de floração e frutificação de plantas adultas (MARSCHNER, 1990). Foi verificado que o peso da biomassa seca do caule aumentou com a ino-culação, sendo 47,9% maior que no tratamento controle, sugerindo que a prática de inoculação pode resultar em mudas com caule mais vigoroso. Entretanto, a adu-bação com N mineral resultou nas maiores médias do peso do caule, não diferindo do tratamento inoculado.

O desenvolvimento radicular das mudas de ingá-barata foi favorecido pela adubação com ureia e, em resposta ao fertilizante, apresentou valores signifi-cativamente maiores que nas outras formas de suprimento de nitrogênio para as plantas. Outras pesquisas têm demonstrado que a fertilização mineral com nitrogênio favorece o desenvolvimento radicular dos cultivos. Avaliando-se a relação raiz/parte aérea, as plantas inoculadas com rizóbios apresentaram a me-nor média, refletindo um expressivo desenvolvimento na parte aérea da planta

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e diferindo significativamente das outras formas de suprimento de nitrogênio. Entretanto, a faixa de 0,15 está bem abaixo da recomendada para classificar a qualidade das mudas (STURION, 1981).

Figura 2. Efeito da adubação com N-mineral e inoculação com rizóbios sobre o desenvolvimento em

biomassa seca de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana) sobre o peso das folhas (A), caule (B), raiz (C)

e relação raiz/parte aérea (D), aos 165 dias de enviveiramento.

O exame do sistema radicular das plantas de ingá-barata identificou nódulos esféricos e ramificados do tipo astragaloide na classificação de Corby (1981), de cor marrom claro, em raízes marrons. Na comparação entre os solos testados, no Argissolo as mudas apresentaram resultados significativamente superiores aos observados para o Latossolo (p<0,01), considerando-se o número e a biomassa seca de nódulos e na concentração de nitrogênio foliar e N-total nas folhas aos 165 dias após o plantio (Figura 3). Os resultados obtidos demonstram um am-biente mais favorável para a nodulação em solo Argissolo, onde a média de nódu-los formados ultrapassou os 100 nódulos, ao passo que em Latossolo os valores foram até 4 vezes menores. O desenvolvimento nodular avaliado pela biomassa seca dos nódulos também foi significativamente superior em solo Argissolo com-parado ao Latossolo.

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Figura 3. Efeito do tipo de solo sobre o número de nódulos (A), peso da biomassa seca dos nódulos (B),

nitrogênio foliar (C) e nitrogênio total nas folhas (D) em mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana), aos

165 dias de enviveiramento.

A melhor nodulação das plantas em solo Argissolo também refletiu nas con-centrações de N-foliares, que superaram significativamente o solo Latossolo. Entre-tanto, os valores abaixo de 3,0% de nitrogênio nas folhas não são tão expressivos como os verificados para outras espécies. Ao apresentar o teor de nitrogênio fo-liar em folhas de leguminosas arbóreas fixadoras de N2, Moreira (1994) relacionou plantas com teores de N-foliar variando entre 3,18 e 5,60% de N e algumas espécies podem apresentar valores ainda mais elevados. Os valores observados nas análises do Nitrogênio Total nas Folhas também mostram resultados superiores para o Ar-gissolo, com média de 113,5 mg planta-1 enquanto o Latossolo obteve média 78,3 mg planta-1 aos 165 dias de enviveiramento.

A inoculação com rizóbios favoreceu os indicadores relacionados à nodulação das mudas, especialmente o desenvolvimento dos nódulos de ingá-barata (Figura 4). Foi verificado que o número de nódulos formados não variou significativamente entre as diferentes formas de suprimento de nitrogênio, refletindo a característica de promiscui-dade simbiótica de espécies do gênero Inga, que caracteristicamente apresentam baixa especificidade quanto à capacidade de se deixar infectar por uma estirpe hospedeira. Outros resultados de pesquisas com leguminosas arbóreas consideram que a aplicação de N-mineral inibe os indicadores da nodulação (GOI, SPRENT; JABCOB-NETO, 1997).

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O desenvolvimento nodular foi favorecido pela inoculação das mudas de ingá-barata que superou significativamente, duplicando a biomassa seca dos nódulos formada em plantas não inoculadas e que não receberam N-mineral (P<0,01). Entretanto, não foram verificadas diferenças significativas na biomassa dos nódulos secos entre plantas inoculadas e plantas supridas com fertilizante nitrogenado. Mais uma vez, fica evidenciado o potencial alternativo dos processos biológicos em relação ao fornecimento de N para a planta, na fase de formação de mudas.

Os teores de N-foliares não diferiram significativamente entre as diferentes formas de suprimento de N (Figura 4), mas para o N-total acumulado nas folhas das mudas de ingá-barata as plantas inoculadas com rizóbios apresentaram valores significativa-mente superiores que as do tratamento não inoculado e que também não foram ferti-lizadas com N-mineral. Refletindo os dados de biomassa de nódulos secos, as plantas inoculadas também não diferiram significativamente nos valores de N-total daquelas que foram supridas com N-mineral. Maiores estoques de nitrogênio acumulados na biomassa foliar das mudas podem ser importantes nas etapas subsequentes de desen-volvimento, que se processam após o plantio definitivo das espécies. O interesse em efetuar o plantio definitivo de mudas de leguminosas arbóreas com nódulos estabele-cidos baseia-se em resultados de pesquisa experimental que concluíram que há uma maior tolerância às condições adversas nos locais onde são implantadas retomando, logo em seguida, o seu crescimento (RIBEIRO JÚNIOR et al., 1987). Galiana et al. (1998) verificaram que a inoculação com rizóbios na fase viveiro tem efeito positivo no cresci-mento de Acacia mangium aos 39 meses após o plantio, em solos africanos.

Figura 4. Efeito da adubação com N-mineral e inoculação com rizóbios sobre o número de nódulos (A),

biomassa seca dos nódulos (B), nitrogênio foliar (C) e N-total nas folhas (D) de mudas de ingá-barata

(Inga thibaudiana), aos 165 dias de enviveiramento.

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Os resultados experimentais também demonstraram uma interação significa-tiva entre o tipo de solo e as formas de suprimento de nitrogênio nas mudas de ingá-barata para o número de nódulos formados, conforme pode ser verificado na Figura 5. Nas plantas dos tratamentos testemunha e que receberam N-mineral o número de nódulos formados em solo Argissolo foi significativamente superior que em solo Latossolo. Entretanto, quando as plantas receberam inoculante não houve diferença significativa no número de nódulos formados nestes dois solos, sugerindo que a inoculação promoveu a formação de nódulos em Latossolo equi-parando o número de nódulos formados entre estes solos.

Figura 5. Interação entre solos e tratamentos de inoculação sobre o número de nódulos de ingá-barata

(Inga thibaudiana), aos 165 dias após o transplantio.*1

*1 Médias seguidas de mesma letra minúscula para solos e de mesma letra maiúscula para tratamentos não diferem entre si no nível de 1% de probabilidade (P<0,01).

Considerando-se a forma de suprimento de nitrogênio, o número de nódulos for-mados nas mudas não diferiu no solo Argissolo, entretanto no solo Latossolo foi de-monstrado que a inoculação com rizóbios condicionou o número de nódulos forma-dos que foi significativamente superior que nas plantas do tratamento controle ou que receberam N-mineral. Os dados evidenciam que para incremento dos processos de infecção radicular e iniciação nodular das mudas de ingá-barata a inoculação das plantas no solo Latossolo mostrou-se fundamental, confirmando a eficiência desta técnica. O passo inicial para a formação dos nódulos é o aumento da população de rizóbios na rizosfera das plantas. Os processos decorrentes da inoculação antecipam essa etapa que ocorre naturalmente, quando milhares de células de rizóbios são for-necidas ao solo alcançando a área da rizosfera (FRANCO; NEVES, 1992).

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Sabe-se que a tecnologia de inoculação com rizóbios é de baixo custo e adequada para espécies florestais encontradas em países como o Brasil (DOBEREINER, 1984). Gros-sman et al. (2005) trabalhando no México com Acacia koa, A. mangium e Gliricidia sepium demonstraram que a média de biomassa de mudas inoculadas foi significativamente maior do que em plantas supridas com N-mineral, apoiando a hipótese de que a prática de inoculação de leguminosas arbóreas pode favorecer o desenvolvimento da planta.

Na planta, o nitrogênio acumula-se principalmente na biomassa foliar, onde ocorre a síntese de proteínas, fotossíntese e duplicação celular (MARSCHNER, 1990). Para avaliar a eficiência da inoculação com rizóbios foram feitas correlações entre variáveis da nodulação e o peso da parte aérea seca de ingá-barata nas mu-das do tratamento que recebeu o coquetel de estirpes. Aos 165 dias de enviveira-mento, observou-se a correlação positiva entre as variáveis do número de nódulos e a biomassa seca da parte aérea e também entre a biomassa dos nódulos e a bio-massa seca da parte aérea de ingá-barata, conforme pode ser verificado na Figura 6. Os valores de R2 de 0,99 e R2 0,97, respectivamente para estas duas relações, evidenciam uma alta contribuição dos indicadores da nodulação no desenvolvi-mento da parte aérea das mudas, confirmando a eficiência da fixação biológica nas condições experimentais, evidenciando a eficiência da simbiose fixadora de N2.

Figura 6. Correlações entre a matéria seca total e o nitrogênio total nas folhas de ingá-barata (Inga thi-

baudiana) em solo Argissolo Vermelho-Amarelo.

Faria et al. (1995) inocularam mudas de Albizia lebbeck em Latossolo Vermelho Escu-ro distrófico e verificaram que, embora a inoculação com rizóbios tenha proporcionado o desenvolvimento das mudas, foi menos eficiente que a adubação nitrogenada de 175 mg kg-1 de N por planta. Rodríguez-Echeverría e Pérez-Fernández (2005) consideram que a inoculação de leguminosas com estirpes de rizóbios selecionadas maximiza a pro-

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babilidade de sobrevivência das plantas após o plantio e reintroduz, nos solos muitas vezes degradados, rizóbios nativos benéficos ao desenvolvimento das plantas. Souza et al. (2007) correlacionaram a biomassa seca dos nódulos e o N-total na parte aérea das plantas de palheteira (Clitoria fairchildiana) crescendo em solos da Mata Atlântica de Pernambuco e encontraram correlação significativa de R2 0,84. Vieira e Souza (2011) também correlacionaram estas variáveis em saboarana (Swartzia laevicarpa), inoculada com coquetel de estirpes em solo Latossolo Amarelo e obtiveram um R2 de 0,86.

As pesquisas já conduzidas com solos de várias partes do mundo, como a reali-zada por Bala et al. (2003), concluíram que quando uma leguminosa é introduzida em uma área fora de seu centro de origem, dependendo de seu padrão de infec-ção, promíscuo ou específico, só formará nódulos eficientes se rizóbios compatí-veis estiverem presentes na população natural do solo do local onde é introduzida. Desse modo, a contribuição da fixação biológica de N2 em plantas não inoculadas deve-se aos rizóbios nativos e, naquelas que são expostas a estirpes selecionadas, trata-se de uma somatória dos rizóbios nativos e inoculados. Os resultados de-monstram que leguminosas arbóreas da Amazônia, como a ingá-barata, respon-dem à técnica da inoculação aumentando seu suprimento de nitrogênio obtido por via simbiótica.

Várias espécies do gênero Inga são caracterizadas como plantas de múltiplo uso e têm sido usadas tradicionalmente pelo homem ao longo das gerações, e con-tinuam até o presente, incrementadas pelo reconhecimento de seu potencial de restaurar o solo e compor sistemas agroflorestais, indicando um melhor aproveita-mento futuro (PENNINGTON, 1997). Dentre os diferentes tipos de aproveitamento estão: o fruto comestível para a fauna e para o homem, como árvores de sombra, para produção de lenha ou madeira e para a recuperação de solos e agrosilvicultu-ra. A adaptação de ingá-barata a solos de terra firme e sua eficiência fixadora de N2, evidencia o seu potencial de aproveitamento nos sistemas de produção praticados na Amazônia Central.

Conclusões

Foi comprovada a eficiência da inoculação de plantas de ingá-barata (Inga thi-baudiana var, thibaudiana) inoculada com um coquetel de estirpes de rizóbios nos solos Latossolo amarelo e Argissolo Vermelho-Amarelo procedentes da Amazônia Central. As mudas de ingá-barata mostraram melhor adaptação ao solo Argissolo vermelho amarelo, comparado ao Latossolo. Evidenciou-se que a técnica de inocu-lação com rizóbios tem potencialidade alternativa para suprimento de nitrogênio para as plantas, comparado a fertilização nitrogenada.

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CAPÍTULO 15

Uso de manipueira de mandioca (Manihot esculenta) e extrato de erva-de-rato (Palicourea marcgravii) sobre o pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida)Adriana Dantas GONZAGA1; Victor PY-DANIEL2; Silas Garcia Aquino de SOUZA3; Joana D’Arc RIBEIRO4

1 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Estrada Coari Mamiá,

305, bairro Espírito Santo – CEP: 69.460-000, Coari, AM. E-mail: [email protected] / adrianadantas1@

gmail.com;

2 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Nacional de Brasília, ICB-UNB, Brasília, DF. E-mail: [email protected];

3 Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ociden-

tal – EMBRAPA-CPAA. E-mail: [email protected];

4 In memorian.

Palavras-chave: Agronomia; Controle biológico de insetos; Citricultura.

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Introdução

No início dos anos 1940, o controle de pragas na agricultura, obtido com os novos inseticidas foi marcante: as áreas de produção agropecuária tornavam-se territórios praticamente isentos de insetos, após a pulverização com os produtos. Com o passar do tempo, foi demonstrado que a erradicação total dos insetos pro-vocava sérias perturbações no ecossistema, como: a agressividade ao homem e a natureza e a resistência das pragas. Neste último, por exemplo, houve seleção de insetos resistentes aos inseticidas, surtos epidêmicos de pragas historicamente de importância secundária e a diminuição da população de insetos benéficos. No ecossistema, foram detectados efeitos deletérios indiretos em animais selvagens e domesticados e mesmo ao homem, assim como no acúmulo de resíduos tóxi-cos no solo, na água e nos alimentos. O controle químico de pragas, mesmo com produtos como o DDT, teve sua eficiência diminuída e seu custo aumentado até exceder níveis econômicos e socialmente aceitáveis (FLINT e VAN DEN BOSCH, 1981).

Atualmente, com a maior atenção ao equilíbrio ecológico e sustentabilidade dos agrossistemas, os métodos utilizados na proteção e defesa das culturas, e no controle de pragas vêm evoluindo consideravelmente. O conhecimento e a utili-zação de métodos de diagnóstico envolvendo a dinâmica populacional e a epide-miologia, em várias culturas, têm permitido prever a ocorrência de pragas e doen-ças (ZAMBOLIM, 1999), contribuindo para o seu controle.

A adoção de medidas de controle que causem menor impacto ambiental é de primordial importância, o que vem estimulando o ressurgimento do interesse no uso de plantas inseticidas como uma promissora ferramenta para controle de in-setos (KOCKE, 1987). Villalobos (1996) ressalta que o princípio ativo de inseticidas botânicos são compostos resultantes do metabolismo secundário das plantas, sendo acumulados em pequenas proporções nos tecidos vegetais. Tais substân-cias podem ser encaradas como um modelo para síntese estrutural de pesticidas mais eficientes, menos tóxicos e menos persistentes no meio ambiente (SAITO e LUCHINI, 1998).

O emprego de metabólitos secundários extraídos de plantas silvestres como inseticidas tem inúmeras vantagens quando comparado ao emprego de produ-tos sintéticos. Os inseticidas naturais são obtidos de recursos renováveis e rapida-mente degradáveis (PENTEADO 2001; ALTIERI et al., 2003). O desenvolvimento da resistência dos insetos a essas substâncias compostas da associação de vários prin-cípios ativos é um processo lento. Alguns pesticidas são de fácil acesso e obtenção pelos agricultores e apresentam baixa toxicidade, não deixando, por sua vez, resí-

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CAPíTULO 15

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duos nos alimentos (PENTEADO, 2001; ALTIERI et al., 2003), com a vantagem de apresentarem baixo custo de produção.

Os derivados botânicos podem causar diversos efeitos sobre os insetos, tais como repelência, inibição de oviposição, da alimentação e alterações no sistema hormonal. Como consequências, causam distúrbios no desenvolvimento, defor-mações e mortalidade nas diversas fases (KLOCKE et al., 1991; WRBA et al., 1992; AHN et al., 1998), contribuindo para a redução da população dos insetos-pragas e dos danos nos cultivos que comprometem a produção.

Os estudos para o controle de pragas e doenças por meio de inseticidas de origem vegetal são realizados principalmente nas culturas de grande importância no Brasil, onde se destacam os citros. As plantas cítricas são bastante predadas pe-las moscas das frutas (Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus), pelas cochonilhas (Selenaspidus articulatus, Chrysomphalus aonidum, C. dictyospermi, Unaspis citri, Pla-nacoccus citri, Cerya purchasi, e Orthezia praelonga) e, também, pelos pulgões como Toxoptera citricida, conhecido popularmente como pulgão-preto ou pulgão-preto-dos-citros (KOLLER, 1994).

A citricultura no estado do Amazonas está suscetível a uma grande incidência do pulgão-preto-dos-citros, que são insetos que geram anualmente grandes per-das econômicas aos citricultores, por meio de danos diretos e indiretos (SILVA et al., 2004). A alta incidência deste inseto, especialmente nos cultivos de laranja na Amazônia Central, afeta negativamente a produção citrícola regional.

O pulgão-preto é um inseto fitófago com formas aladas e ápteras. Adaptado ao clima tropical, quando suas populações atingem o nível de inseto-praga ata-cam, principalmente, os brotos novos das plantas cítricas, sugando-lhes a seiva. Nesta atividade, provocam encarquilhamento e atrofiamento das folhas e bro-tos e liberam uma substância açucarada expelida pela codícola que permite o desenvolvimento de um fungo negro conhecido como fumagina. Esse inseto também transmite o vírus da tristeza dos citros em plantas sadias (GALLO et al., 2002). Diante deste quadro, pode-se reafirmar que em programas de manejo integrado de insetos/pragas, a utilização de plantas com compostos bioativos de ação inseticida pode ser considerada como componente chave para a sus-tentabilidade da produção citrícola, reduzindo ou substituindo as práticas de uso de produtos químicos sintéticos (RIBEIRO et al., 2002). A necessidade de maiores pesquisas nesta área motivou a avaliação da manipueira da mandio-ca e da erva-de-rato no controle de pulgão-preto nas condições da Amazônia Central.

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Obtenção do material vegetal e condução da pesquisa

Foram realizados bioensaios em casa de vegetação rústica, telada (12 x 4 m), com uma cobertura de plástico permitindo 80% de luminosidade, nas dependên-cias do INPA, em Manaus, AM. As raízes de mandioca (Manihot esculenta Crantz, Euphorbiaceae) foram obtidas diretamente em uma agroindústria, estabelecida na rodovia AM–010, km 48, Ramal do Sossego. As folhas da erva-de-rato foram cole-tadas na rodovia BR-174, km 29, e encaminhadas ao Laboratório de Entomologia Agrícola (INPA), onde foram preparadas exsicatas para identificação do táxon, que recebeu o número 219508, no acervo do Herbário do INPA, classificada como Pali-courea marcgravii A. St.-Hill., Rubiaceae.

Coleta dos insetos

Para o estudo experimental, foram coletados indivíduos vivos de pulgão-preto em plantas de laranjeira (Citrus sinensis) cultivadas nos arredores de Manaus, na Fa-zenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas – UFAM na BR-174, km 38, na Fazenda Brejo do Matão, na BR-174, km 15 e na Embrapa Amazônia Ociden-tal, na rodovia AM-010, km 29. As amostras de insetos foram localizadas nos ramos de laranjeira, coletadas, armazenadas em sacos plásticos e transportadas até a casa de vegetação, onde os insetos foram repassados para as mudas de C. sinensis, que foram produzidas em recipientes drenados em garrafas PET. A progênie destes in-setos gerada na casa de vegetação foi utilizada nos bioensaios. Os insetos mortos no decorrer do experimento foram armazenados em álcool a 70% e identificados utilizando a chave de identificação de Stoetzel (1994).

Preparo das concentrações

Manipueira

As raízes de mandioca, das cultivares “Tucumã” e “Tracajá” foram, inicialmente, la-vadas, descascadas manualmente e trituradas. A massa pastosa obtida foi fortemente prensada, sendo assim extraída a manipueira. O extrato líquido da manipueira (refrige-rado) foi colocado em 32 placas de Petri, sendo 40 mL/placa, as quais foram mantidas por uma semana até a liofilização, que foi efetuada para obtenção do extrato em pó do produto. O extrato em pó foi diluído em diferentes concentrações em água destilada.

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Erva-de-rato

Após a coleta, as folhas da erva-de-rato foram separadas, pesadas e levadas à estufa de circulação de ar forçado a uma temperatura de 55o C, por cinco dias. Após a secagem, 500 g de folhas foram trituradas e peneiradas em malha de 1 mm, no Laboratório Temático de Solos e Plantas – LTSP-INPA. Para a extração das substân-cias contidas no material vegetal, foi utilizado o sistema Soxhlet, tendo como sol-vente água destilada. Após um período de extração de 6 horas, a solução aquosa foi submetida à liofilização por desidratação a frio, em um liofilizador marca Terro-ni, modelo Sauvel C3000, resultando também na obtenção do produto liofilizado.

Preparo dos extratos de mandioca e erva-de-rato

Para a obtenção dos extratos aquosos, os produtos liofilizados, na forma de ex-trato em pó foram diluídos em água destilada, em cinco concentrações: 10, 20, 30, 40 e 50 mg mL-1. Desse modo, a concentração de número 1 foi obtida com diluição de 1 mg do produto em pó por 1 mL de água destilada. O procedimento para a obtenção do extrato aquoso nas demais concentrações foi semelhante, variando somente na quantidade do produto em pó. Como tratamento testemunha ou con-trole, foi utilizada somente água destilada.

Instalação do bioensaio

Na casa de vegetação, foram colocados 10 pulgões adultos em cada muda de laranja, com auxílio de pinças entomológicas. Posteriormente, os vasos com as mu-das foram protegidos por tecido de filó, usando como suporte a parte superior do recipiente, a fim de evitar a fuga dos pulgões e outras influências externas. Após a colonização dos pulgões nas mudas foi realizada a pulverização dos extratos em suas respectivas concentrações, por contato, com auxílio de borrifadores manuais.

Para outro teste, chamado de translaminar, as mudas foram pulverizadas com borrifadores manuais, até o ponto de escorrimento, com as diferentes concentra-ções dos extratos. Em seguida, foram repassados 10 pulgões para cada muda, com auxílio de pincel entomológico. Os pulgões foram colocados na superfície das fo-lhas de citros. A testemunha foi pulverizada com água destilada. Na bancada da casa de vegetação, os vasos foram mantidos no espaçamento de 30 x 30 cm. Sobre a base de cada planta, foi colocado um disco de papel filtro branco do tamanho

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da borda dos vasos, para facilitar a visualização e a contagem de mortalidade dos insetos. As observações para quantificação da mortalidade dos pulgões foram rea-lizadas a cada 12 horas por 5 dias, perfazendo120 horas.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância – ANOVA (ZAR, 1984), utilizando-se delineamento inteiramente ao acaso, com onze tratamentos e cinco repetições, avaliando-se a mortalidade dos insetos. Os resultados foram expressos pelos parâmetros: CL50 (concentração letal mediana), TL50 (tempo letal mediano), menor concentração de efeito observado, concentração de nenhum efeito obser-vado, menor tempo de mortalidade observada e tempo de nenhuma mortalidade observada. Para avaliação da toxicidade aguda pelo teste de comparação múltipla (teste de Dunnett), os valores das taxas de mortalidade foram previamente trans-formados em arco-seno ϒx+0,01, para efeito de análise.

O método de Probit (FINNEY, 1971) foi usado para o cálculo dos valores da CL50 e dos respectivos intervalos de confiança 95% (IC-95%). O programa TOxRAT® foi utilizado para execução das análises de Probit e construção das curvas de dose-res-posta. Nos casos de mortalidade natural ocorrida no tratamento controle, antes do cálculo da CL50 os valores da mortalidade dos demais tratamentos foram corrigi-dos segundo a fórmula de Abbott. Para comparação da toxicidade entre os insetici-das biológicos, os valores dos intervalos de confiança de duas CL50 foram usados. Valores da CL50 foram considerados estatisticamente diferentes quando os seus IC-95% não se sobrepuseram.

Uso de manipueira e erva-de-rato sobre o controle do pulgão-

preto-do-citrus

Os valores percentuais referentes à mortalidade do inseto, nas concentrações de 10, 20, 30, 40 e 50 mg mL-1 de extrato aquoso de manipueira e erva-de-rato apresentaram uma mortalidade acima de 50% no intervalo de tempo de 120 horas. Observou-se que 100% da mortalidade de pulgão-preto ocorreu pela pulverização dos extratos aquosos de manipueira e de erva-de-rato na concentração de 50 mg mL-1.

Após 24 horas da aplicação dos extratos aquosos de manipueira e erva-de-rato observou-se mortalidade de, no mínimo, 10% da população de pulgão-preto-dos-citros, o que demonstra a ação imediata do produto, o que é um aspecto impor-tante a se considerar no processo de identificação do potencial de um inseticida biológico, já que há risco de perda do produto pela ação da chuva logo após a sua

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aplicação e as chuvas no ambiente tropical são muito frequentes e distribuídas na maior parte do ano. Os extratos aquosos de manipueira e de erva-de-rato, mesmo nas menores concentrações (10 mg mL-1), provocaram taxa de mortalidade acima de 50% sobre a população de pulgão-preto, contribuindo porém, para os meno-res índices de mortalidade registrados nesta pesquisa. Contudo, foi na concentra-ção de 40 mg mL-1, para ambos os produtos, que ocorreram taxas de mortalidade superiores a 80%. Essa taxa de mortalidade, obtida nas condições experimentais, pode ser considerada alta para princípios ativos de origem vegetal. Tal resultado agrega maior valor econômico e ecológico à obtenção de inseticidas naturais ob-tidos de plantas que podem ser encontradas na maioria das propriedades rurais, o que não limita etapas posteriores de industrialização destes princípios ativos em busca de produtos de origem biológica, e, portanto, menos tóxicos, que alcancem o mercado.

Os resultados de mortalidade de pulgão-preto utilizando o extrato da mani-pueira, confirmam os resultados obtidos por Ponte et al. (1988), que testaram esse produto contra o pulgão-preto em acerola. Estes autores verificaram também que apenas uma pulverização de manipueira foi suficiente para o controle de cochoni-lhas de carapaça (Orthezia praelonga).

Com referência ao extrato de erva-de-rato, Silva (2004) descreve que essa plan-ta é tóxica para insetos pragas, principalmente para a cigarrinha-das-frutíferas (Ae-talion sp.). Nesta pesquisa, foi verificado que todas as concentrações com aplicação por pulverização do extrato de erva-de-rato, proporcionaram mortalidade signi-ficativamente superior (p<0,05) à constatada na testemunha pelo teste Dunnett.

Para o extrato obtido das folhas de erva-de-rato, as concentrações superiores a 30 mg mL-1 proporcionaram mortalidade acima de 90% de pulgão-preto-dos-ci-tros, enquanto para o extrato aquoso de manipueira, a mortalidade superior a 80% ocorreu apenas a partir da concentração de 40%, o que indica a maior eficiência do princípio ativo obtido de erva-de-rato comparado ao de manipueira. Foi observado, entretanto, que mesmo nas menores concentrações (10 mg mL-1) das duas plantas, a mortalidade dos pulgões foi superior a 50%, ou seja, de 58% com a erva-de-rato e 54% com a manipueira. Os resultados obtidos evidenciam que esta tendência de maior toxicidade do extrato da erva-de-rato sobre o pulgão-preto-dos-citros, deve merecer maior atenção nos próximos estudos com extratos obtidos desta planta.

Foi verificado que a concentração de 50 mg mL-1 de extrato aquoso, tanto de manipueira como da erva-de-rato, provocou taxas de mortalidade de 100% de pul-gão-preto, após 120 horas de observação. Estes dados demonstram a capacidade de controlar esta praga com o extrato das plantas testadas. Ponte (1992) verificou que as doses de 1:1, 1:2, 1:3 de extrato de manipueira diluídas em água foram su-

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ficientes para controlar insetos-pragas de citros. Por outro lado, Silva (2004) descreve que a pulverização de extrato da erva-de-rato na concentração de 50 mg mL-1, pro-vocou mortalidade de 20% das cigarrinhas-das-frutíferas (Aetalion sp.), após 24 horas.

Nos ensaios para o controle de pragas na agricultura, a taxa média de mor-talidade para a testemunha não pode ser superior a 10%, pois resultados acima deste valor podem comprometer a avaliação dos produtos que estão sendo tes-tados e invalidar o trabalho científico. Na pesquisa realizada, observou-se a taxa de mortalidade no limite de 10% da população de pulgão-preto no tratamento testemunha, nos ensaios com os dois extratos. Essas mortes podem ser atribuídas, provavelmente, a fatores abióticos (estresse ou climáticos) e/ou bióticos (fisiológi-cos ou genéticos). Entretanto, foram considerados dentro da probabilidade de erro para este tipo de bioensaio.

Concentração letal mediana (CL50) no processo de exposição

por pulverização de contato

A concentração letal mediana (CL50) com extrato aquoso de manipueira foi de 12,25 mg mL1. Esta concentração não diferiu da CL50 de extrato da erva-de-rato, cujo valor foi de 10,61 mg mL1. Estes resultados reforçam as evidências de que mes-mo as menores concentrações utilizadas (10 mg mL-1) no processo de pulverização com manipueira e erva-de-rato foram capazes de controlar, pelo menos, 50% da população de pulgão-preto-dos-citros.

A mortalidade de 50% de insetos-pragas, com extratos de plantas, em baixa concentração é um fato importante na rotina da agricultura familiar e contribui para validar os princípios da agroecologia, pois esta mortalidade é encontrada na concentração de 10 mg mL-1. O extrato de manipueira é um produto encontrado comumente nas propriedades da agricultura familiar na Amazônia, onde o com-ponente de produção roçado é parte integrante das formas de uso da terra. A ma-nipueira é um resíduo da fabricação da farinha de mandioca que, na maioria das vezes, é descartado pelos produtores, quando obtido em altas quantidades e não é aproveitado como alimento na forma de mingau. Este descarte pode ser no solo ou nos cursos de água, entre outros.

Por outro lado, os insetos-pragas são um dos problemas enfrentados pelos agricultores familiares que cultivam, entre outros produtos: a laranja, a graviola, a acerola e o cupuaçu, que são culturas susceptíveis aos ataques de pulgões. Neste contexto, esses produtores poderiam utilizar o extrato de manipueira para con-

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trole desses insetos-pragas em suas plantações. O descarte da manipueira no solo pode, algumas vezes, causar acidentes aos pequenos animais e poluir os córregos d’água. Entretanto, é necessário investir em mais pesquisas para saber o efeito re-sidual avaliado pelo tempo de carência, níveis de toxidade, entre outros efeitos da manipueira sobre os vegetais e na fisiologia dos diferentes pulgões que atacam os cultivos econômicos.

Tempo letal mediano (TL50) no processo de pulverização via

contato

O tempo letal mediano (TL50) observado para os extratos da manipueira e da erva-de-rato foi de 39 horas e 43 horas, respectivamente. Isto quer dizer que em menos de dois dias as concentrações de extrato aquoso destas plantas foram capazes de provocar a mortalidade da metade da população de pulgão-preto, nas condições do ensaio. Estes resultados contribuem para demonstrar a eficiência destes produtos naturais no controle célere de insetos-pragas nas propriedades agrícolas. A aplicação de inseticidas é uma despesa que onera o custo de produção das culturas agrícolas e, em decorrência, os produtores preferem os produtos sistêmicos ou aqueles que agem rápido no controle da população de insetos-pragas, evitando assim a necessidade de reaplicações, considerando que é alta a probabilidade de perda do produto pulverizado pela ação da chuva.

Mortalidade do pulgão nas cinco concentrações testadas em

aplicação via translaminar

As pesquisas realizadas também permitiram verificar que a transferência do pulgão-preto-dos-citros para as mudas de laranja que foram submetidas à aplica-ção via translaminar do extrato de manipueira, sofreram uma taxa de mortalidade média de 78,6% em uma população de 250 indivíduos, após 120 horas. Dos 250 insetos transferidos para as câmaras com as plantas submetidas ao extrato de er-va-de-rato, morreram 205 pulgões, representando taxa de 82% de mortalidade. No grupo testemunha, apenas três insetos morreram, após 120 horas, represen-tando 6%, da população. Estes resultados aproximam-se dos valores encontrados

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por Corrêa (2006), que observou taxas de mortalidade similares (10%), com extra-to aquoso e etanólico de timbó (Lonchocarpus floribundus), contra o pulgão-pre-to-dos-citros e concordam com os observados por Yamamoto et al. (2000) contra a mesma praga, com mortalidade de, aproximadamente, 3% usando inseticidas sistêmicos. Adicionalmente, foi verificado que, de acordo com o teste Dunnett (p<0,05), observou-se efeito significativo sobre a mortalidade do pulgão-preto em todas as concentrações testadas de extrato aquoso de manipueira. No entan-to, foram as concentrações de 30, 40 e 50 mg mL-1 que garantiram as taxas de mortalidade maiores que 80%. Verificou-se que a aplicação de extrato aquoso de manipueira na concentração de 50%, resultou na ocorrência de mortalidade de 100% dos insetos.

A tendência de maior taxa de mortalidade de pulgão-preto em citros foi ob-servada tanto na aplicação via contato quanto na aplicação via translaminar com o extrato aquoso de erva-de-rato. Na concentração de 10 mg mL-1 do extrato de manipueira ocorreu a mortalidade de quase 50% dos insetos, na mesma concen-tração do extrato de erva-de-rato a mortalidade foi 60%. Os resultados obtidos são promissores para o prosseguimento das pesquisas avaliando-se a aplicação destes inseticidas biológicos no campo.

Concentração letal mediana (CL50) no processo translaminar

A aplicação do extrato de manipueira pelo processo translaminar nas folhas de citros indicou a concentração letal mediana (CL50) em 12 mg mL-1. Este valor não diferiu da CL50 por pulverização via translaminar do extrato da erva-de-rato que foi 9 mg mL-1. Os resultados obtidos no presente trabalho assemelham-se aos de Leonel e Cereda (1995), que descrevem que a aplicação de extrato de manipueira, na concentração de 70 mg mL-1, é eficiente para o controle de microrganismos, em condições de laboratório.

A aplicação dos extratos aquosos de manipueira e erva-de-rato destaca-se pelo fato de serem produtos facilmente encontrados na propriedade rural. Neste senti-do, outros produtos naturais disponíveis nas propriedades agrícolas, são os óleos vegetais, como o estudado por Estrela et al. (2006) que verificaram a concentração letal (CL50) de 0,51 e 2,87 mL cm-2 para óleo de pimenta-longa (Piper aduncum), no controle de Sitophilus zeamais. Entretanto, estes autores alertaram que estes va-lores irão depender da concentração e do método de exposição a que os insetos foram submetidos.

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Tempo letal mediano (TL50) no processo de pulverização via

translaminar

O tempo letal mediano (TL50) para o extrato aquoso de manipueira e de erva-de-ra-to foi de 33 horas, não sendo identificadas diferenças significativas entre os produtos no intervalo de observação de 120 horas. Os resultados mostraram que o tempo de ação letal mediano (TL50), de ambos os produtos, foi menos que um dia e meio para eliminar a metade da população de pulgão-preto submetida às condições deste bioensaio.

Considerações finais

Os extratos de manipueira (Manihot esculenta) e erva-de-rato (Palicourea mar-cgravii) aplicados por meio do pulverizações via contato direto e translaminar foram eficientes no controle do pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida), em condições de laboratório. As CL50 e TL50 mostraram uma tendência de maior ação dos extratos das duas espécies, quando aplicados via translaminar; a eficiência no controle de pulgão-preto com extratos de manipueira de mandioca e erva-de-rato necessita ser testada em ensaio de campo. Há também necessidade de investigar o efeito residual e o tempo de carência destes extratos vegetais e impactos sobre os inimigos naturais. A utilização de metabólitos secundários produzidos por estas es-pécies tem potencial como um inseticida biológico alternativo para o controle do pulgão-preto-dos-citros. Os extratos preparados com folhas de erva-de-rato foram mais eficientes em condições de laboratório no controle do pulgão-preto-dos-ci-tros que os preparados com manipueira de mandioca.

Agradecimentos

À FAPEAM e ao CNPq pela ajuda na pesquisa.

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CAPÍTULO 16

Diversidade de fabaceae utilizadas como plantas medicinaisLuiz Augusto Gomes de SOUZA1; Angélica Maria Cortês e São Paulo AGUIAR1

1 INPA-CPCA, Av. André Araújo, 2236, Petrópolis, Caixa Postal 478, 69011-970, Manaus, AM, [email protected];

[email protected].

Palavras chaves: Biodiversidade; Fitoterapia; Homeopatia.

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Introdução

As Fabaceae são um grupo de plantas extremamente numeroso, classificadas como a terceira maior família das Angiospermas depois de Orchidaceae e Astera-ceae (GENTRY, 1984), constituindo-se um grupamento tropical diversificado com 19.325 espécies abrigadas em 727 gêneros (LEWIS et al., 2005). As espécies desta família botânica compõem um grupo de importância econômica e social onde a maioria das espécies é classificada por seu múltiplo uso, podendo ser aproveitadas com mais de uma utilização.

Até recentemente, as plantas da família Fabaceae eram designadas de Legumi-nosae, por isso são conhecidas popularmente como “leguminosas”, relacionando-se esse nome à forma do fruto de muitas espécies que é a de vagem ou legume. Este co-nhecimento popular deve-se, principalmente, pelo uso de espécies da família como alimento, tais como o feijão (Phaseolus vulgaris), o amendoim (Arachis hypogaea), a lentilha (Lens esculenta), o grão-de-bico (Cicer arietinum), o feijão-de-asa (Psophocar-pus tetragonolobus), a ervilha (Pisum sativum), o feijão-de-corda (Vigna unguiculata), a soja (Glycine max), o feijão-macuco (Pachyrhizus tuberosus) etc. Entretanto, o legu-me não é o único tipo morfológico de fruto nas Fabaceae e existem, pelo menos, 13 diferentes morfologias relacionadas para as espécies que constituem essa família. Adicionalmente, o hábito de crescimento herbáceo é associado a esses alimentos e no conhecimento popular mais geral as leguminosas não são associadas ao hábito de crescimento arbóreo que as caracteriza a partir dos primeiros gêneros que dife-renciaram a família na região tropical. Nas Fabaceae, inúmeras espécies são usadas como medicinais, mas tais informações estão fragmentadas nos livros publicados.

Atualmente, a exploração comercial de produtos com fins fitoterápicos tem cha-mado a atenção de muitos pesquisadores e da população em geral em busca de medicamentos homeopáticos capazes de curar doenças sem as sequelas e efeitos colaterais advindos do uso de drogas alopáticas. Muitas plantas de diversas famílias são utilizadas popularmente como medicamento, existindo necessidade de aumen-to das informações disponíveis sobre as espécies para um público maior. Devido ao grande número de espécies existentes, Duhoux & Dommergues (1985) classificam as leguminosas quanto ao seu uso, de modo genérico como plantas utilizadas com fins madeireiros e outros subprodutos não madeireiros, plantas cultivadas para alimento do homem ou de animais e, por fim, plantas que auxiliam a fertilidade do solo. As leguminosas medicinais estão classificadas no primeiro grupo.

Inúmeras espécies de leguminosas são utilizadas como plantas medicinais, en-tretanto, as informações sobre as espécies citadas estão fragmentadas nos livros publicados sobre este tema. Grenand et al. (1978), ao listar plantas utilizadas tradi-

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cionalmente na farmacologia das Guianas, listou 527 espécies e, dentre estas, 7,4% eram leguminosas. Nos estudos feitos na Amazônia, as leguminosas também têm sido pouco representadas, Taylor (1988), efetuou um levantamento de espécies medicinais da Amazônia e descreveu 54 espécies, com somente 12,9% de legumi-nosas. Em outros trabalhos como o de Balbach (1992), foram citadas 411 espécies, porém somente 3,9% eram leguminosas. Na maioria dos livros de referência, as informações sobre leguminosas de uso medicinal estão fragmentadas na literatura técnica (ALMEIDA, 1993).

Algumas leguminosas são amplamente conhecidas da população e usadas ro-tineiramente com maior ou menor intensidade, dependendo da região do país. As mais comuns são mangerioba (Senna occidentalis), utilizada no tratamento de do-enças do fígado (VIEIRA, 1992) e contra malária (MILLIKEN, 1992; MILLIKEN, 1995), o jucá (Caesalpinia ferrea), que é utilizado contra infecções na garganta, afecções respi-ratórias e como cicatrizante (BRAGA, 1960) e a pata-de-vaca (Bauhinia forficata), que é empregada contra o diabetes e afeções renais de modo geral (VIEIRA, 1992).

Os trabalhos já conduzidos sobre o aproveitamento de Fabaceae como fitote-rápicos não têm enfatizado a gama de espécies com potencial de expansão de seu aproveitamento medicamentoso (GUARIM NETO e MORAIS, 2003). Assim, foi rea-lizada uma pesquisa para obter maiores informações sobre leguminosas utilizadas na medicina popular, explorando-se, a parte da planta utilizada, o uso fitoterápico e outras características relacionadas.

Desenvolvimento da pesquisa

Foi conduzido um levantamento para obter maiores informações sobre as espé-cies de leguminosas utilizadas na medicina popular explorando a parte da planta utilizada, uso fitoterápico e outras características de importância, visando aumen-tar as informações disponíveis sobre estas espécies e permitindo uma maior aten-ção para a exploração, cultivo e aproveitamento econômico e comercial. Os tra-balhos consistiram na consulta da literatura técnica pertinente, efetuando-se uma listagem preliminar das espécies e, consultando-se o banco de dados de Roskov et al. (2005), conhecido como ILDIS, International Legume Database & Information Service, Universidade de Missouri, USA, para esclarecer as duplicidades taxonômi-cas existentes e selecionar o nome científico atualmente aceito para cada espécie.

Algumas das espécies de Fabaceae que foram listadas já têm amplo emprego na composição de fitoterápicos e são comercializadas em diversos medicamentos, dentre elas estão: o carrapichinho (Desmodium adscendens), jucá (Caesalpinia fer-

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rea), mangerioba (Senna occidentalis) e dartrial (Senna alata). A ação medicamen-tosa destas plantas abrange um leque variado de males tais como: as doenças do sangue, como a hepatite; ações anti-inflamatórias; antifúngicas; e contra doenças em geral, cada espécie com suas propriedades exclusivas.

Os princípios ativos atuantes são bastante variados e, em alguns casos, já fo-ram detalhados pela ciência e pelas pesquisas farmacológicas, sendo esse co-nhecimento a base para a elaboração de novos medicamentos. Uma ilustração de espécies de Fabaceae aproveitadas como fitoterápicos cujos princípios ativos já foram comprovados e objetos de pesquisa sistemática está apresentada na Figura 1.

Figura 1. Espécies de leguminosas utilizadas como plantas medicinais e na constituição de fitoterápi-

cos. (A) Anil-bravo (Indigofera suffruticosa); (B) Carrapicho (Desmodium adscendens); (C) Dartrial (Senna

alata); (D) Maliça (Mimosa pudica); (E) Mamanguá (Senna quinquangulata); e, (F) Mangerioba (Senna

occidentalis).

O levantamento evidenciou um elenco de espécies onde os estudos etnobo-tânicos sugerem um incremento das pesquisas acerca de seus princípios medici-nais e medicamentosos tais como: a acapurana (Campsiandra comosa var. lauri-folia), cuja infusão concentrada dos frutos adicionada com sal e vinagre é usada contra empingem e a infusão da casca é usada no tratamento de feridas; a casca da árvore de arapari (Macrolobium acaciifolium), que é usada pelas populações tradicionais contra a diarreia; a gipoóca (Entada polyphylla), cujas raízes contêm saponina, servindo para lavar a cabeça contra a caspa. Os índios Maiongong de Roraima usam a casca macerada de cabari (Clathrotropis macrocarpa) como re-

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médio contra picadas de formigas tucandeiras. Já a faveira-de-empingem (Vatai-rea guianense) tem suas sementes piladas com banha ou vinagre na constituição de uma pomada usada contra empingem. Há registros de que as sementes de pacapeuá (Swartzia brachyrachis) são misturadas com a comida para eliminar pa-rasitas intestinais.

Há evidências de que os estudos sobre a diversidade vegetal de Fabaceae com potencial fitoterápico na Amazônia, considerando o potencial de aproveitamento das espécies como medicamentos podem ser mais bem subsidiados pelo conheci-mento diversificado do uso das plantas que as comunidades indígenas possuem. Não por acaso, esse conhecimento é alvo de interesse das empresas multinacionais que prospectam a presença de substâncias bioativas em plantas. A pesquisa feita com informações apropriadas das comunidades tradicionais quase sempre ofere-ce pouco risco e garantia de sucesso. Entretanto este levantamento só se ateve a registros já publicados e não abrangeu o diversificado patrimônio cultural etnobo-tânico dos diferentes povos amazônicos.

Biodiversidade de fabaceae empregadas como fitoterápicos

No levantamento efetuado, foram listadas 144 espécies de leguminosas, per-tencentes a 70 gêneros. O gênero mais numeroso foi Senna, com 9 espécies, segui-do por Caesalpinia, com 7, Andira, Inga e Mimosa com 6 espécies, Bauhinia com 5, Parkia com 4 e os demais gêneros com 3 ou menos espécies, conforme apresenta-do na Tabela 1.

Verificou-se que, das espécies listadas, 48,61% pertenciam à subfamília Papilionoideae, 27,78% às Caesalpinioideae e 20,83% às Mimosoideae. No nível tribal, as espécies foram agrupadas em 25 tribos, sendo que a maioria está agrupada nas tribos Phaseoleae e Dalbergieae, ambas com 16 espécies (11,11%), seguidas de Mimoseae (10,40%), Cassieae (8,33%), Detarieae (6,25%), Ingeae e Sophoreae (5,55%), com as demais se agrupando em números inferio-res a estes.

Realçando a complexidade do estudo desta importante família e para que melhor se compreenda o universo das leguminosas utilizadas como medicinais, a pesquisa considerou a sinonímia conhecida dos nomes botânicos das espécies, para evitar duplicidade de informações, constatando-se 555 sinônimos dos táxons encontrados. Este elevado número de sinônimos, especialmente para aquelas es-pécies que apresentam ampla distribuição geográfica, mostra que algumas delas foram descritas mais de uma vez, para diferentes locais e foram, em alguns casos,

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rearranjadas a nível infragenérico, constatando-se mudanças de gênero e, algumas vezes, de subfamília, o que de certo modo dificulta o entendimento desta família por um público mais amplo que envolve a população que se beneficia dos fitoterá-picos, mas também o meio empresarial que os produzem e comercializam. A maior parte das espécies citadas é nativa do neotrópico, especificamente do continente sul-americano, onde foram listadas 108 espécies. As 36 restantes foram introduzi-das no Brasil por sua importância fitoterápica.

Outro aspecto considerado foi o hábito de crescimento das plantas, consta-tando-se que a maioria das leguminosas utilizadas como planta medicinal tem o porte arbóreo, encontrando-se nesse grupo árvores de grande porte como o jatobá (Hymenaea courbaril) ou de portes menores como o ingá-cipó (Inga edulis) e a pata-de-vaca (Bauhinia forficata), que englobam 85 espécies, cor-respondendo a 59,72% das espécies. As ervas anuais e plurianuais formam o segundo grupo mais numeroso com 24,30% das espécies, seguido dos cipós ou lianas com 10,42% e dos arbustos 5,56%, estes últimos correspondendo a oito espécies.

No levantamento efetuado, procurou-se também avaliar a parte da planta uti-lizada por seus princípios medicinais. Para algumas espécies, mais de uma parte da planta é utilizada. Desse modo, verificou-se que, para ¼ das espécies listadas (63 espécies), a casca e/ou a entrecasca é explorada com este fim, seguindo-se das folhas ou brotos com 21,04% (53 espécies), sementes e raízes, com 35 espé-cies cada e as flores (21 espécies). Foram listadas ainda 19 espécies cuja parte utilizada classifica-se como óleo, bálsamo, seiva ou resina, 15 espécies onde a madeira ou o caule é aproveitado e 11 espécies cujo princípio bioativo encontra-se nos frutos.

A forma de uso dos princípios medicinais oriundos das plantas também foi ob-jeto deste trabalho, tendo sido verificado que a principal forma de preparo da par-te selecionada é por decocção (cozimento), agrupando-se nesta classe 40,17% das espécies, seguindo-se do preparo por infusão (ferve-se a água e coloca-se sobre o produto), onde constam 33,18% registros, porém para algumas espécies estas duas formas de preparo podem ser utilizadas da mesma forma (2,18%). Outras for-mas de preparo são também registradas como pó, raspa ou farinha (4,36%), banho (4,31%), cataplasma (3,93%) e sumo ou maceração (3,05%). Com quatro ou menos espécies citadas, os princípios medicinais são também usados como tintura ou ex-trato, aguardente, fricção, embebidos, torrados, in natura e compressas, dependen-do da aplicação recomendada.

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aeCo

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leo

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e c

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Page 261: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 16

259

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Page 262: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

260

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

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Page 263: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 16

261

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Page 264: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

262

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

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Page 265: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 16

263

Considerando-se que há espécies classificadas para mais de um tipo de uso fitoterápico, neste trabalho, verificou-se que 24,27% das espécies listadas podem ser utilizadas contra afecções intestinais, incluindo-se neste grupo remédios con-tra diarreia, disenteria, hemorroidas, flatulências, constipação, laxante, purgativa, vermífuga etc. Um grupo numeroso de leguminosas é também empregado con-tra afecções respiratórias, classificando-se nesta classe 11,61% das espécies, o que inclui o tratamento contra tosse, bronquite, asma, pneumonia, tuberculose, he-moptise, gripe, catarro etc. As plantas leguminosas recomendadas contra doenças sexualmente transmissíveis formam o terceiro grupo mais destacado, com 7,26% das espécies, empregadas contra blenorragia, leucorreia, infecções da próstata, hemorragias uterinas, sífilis etc. Uma síntese das aplicações medicinais de algu-mas das principais espécies de Fabaceae que foram listadas está apresentada na Tabela 2.

Neste levantamento, foram encontrados registros de espécies que são também utilizadas contra abcessos e afecções urinárias, com 34 espécies cada, dentre os princípios curativos contra abcessos, incluem-se tumores, furúnculos, feridas etc. Por outro lado, nas afecções urinárias inclui-se a cura contra nefrites, cistite, cálcu-los renais, poliúria etc.

A diversidade de leguminosas empregadas como plantas medicinais também se reflete em seu potencial curativo para inúmeras doenças, incluindo reumatismo (23 espécies), infecções da boca (18), antifebril (19), doenças no sangue (18), siste-ma nervoso (17), adstringentes (17), dermatoses (14), dores no corpo (14), tóxicas (13), cicatrizantes (10). Com menos de 10 espécies citadas, são classificadas plantas contra afecções hepáticas, doenças oftalmológicas, trauma corto-contuso, dores de ouvido, anti-inflamatórios e doenças da mulher.

Sabe-se, que uma das maiores riquezas da flora brasileira está em sua elevada biodiversidade, que tem trazido, inclusive, riscos de biopirataria – coleta e trans-porte ilegal das espécies por empresas que patenteiam seus produtos ativos em outros países (ALVES et al., 2008). Este trabalho objetivou trazer novas informações sobre o uso das leguminosas medicinais, para que este importante recurso seja di-vulgado, não como uma receita, mas, como recomenda o uso popular, para melhor aproveitamento pela população brasileira.

Page 266: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

264

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Tabela 2. Aplicações medicinais de espécies de leguminosas encontradas no Alto Rio Negro que já são exploradas por seu potencial na constituição de fitoterápicos.

NOME POPULAR/ESPÉCIE USO MEDICINAL

Anil-bravo (Indigofera suffruticosa)

Tem variadas aplicações como antiespasmódica, sedativa, estomáquica, febrífuga, purgativa e diurética. É reputada como um antídoto do arsênio e do mercúrio. A raiz é odontálgica, útil contra icterícia.

Carrapichinho (Desmodium adscendens)

Já é atualmente explorado na composição de fitoterápicos, em remédios contra a asma, problemas digestivos ou doenças do fígado como a hepatite B.

Dartrial (Senna alata)

As folhas, inflorescências e raízes têm propriedades diuréticas, febrífugas e laxantes, e são usadas contra anemia, blenorragia, congestão do fígado, hemorroidas, herpes, malária, pano branco, tratamento e prevenção da erisipela, sarnas, tumores, leucemia, tuberculose, câncer, inflamações etc.

Fava-de-anta (Dimorphandra coccinea)

Tem rutina nos frutos, um glicosídeo usado contra fragilidade capilar, que retarda o envelhecimento e melhora a circulação sanguínea aliviando as dores de varizes e hemorroidas.

Jatobá (Hymenaea courbaril)

A resina é excelente peitoral, hemostática e útil em afecções urinárias. A casca e a seiva são tônicas, estomacais, adstringentes, balsâmicas, vermífugas e hemostáticas. A resina em pó é utilizada contra a hemoptise. A polpa em gemadas passa por remédio específico nas afecções pulmonares.

Jucá (Caesalpinia ferrea)As favas têm ações medicamentosas de grande utilidade popular nos casos de úlcera, asma, afecções bronco-pulmonares, diarreia e no combate aos gases intestinais.

Maliça (Mimosa pudica)

É empregada em gargarejo no tratamento das anginas. O extrato fluído em cataplasma nas doenças cancerosas e do útero. A raiz e o suco das folhas são purgativos. O chá ou cozimento das raízes é tônico enérgico dos vasos seminais cujas funções acham-se enfraquecidas pela idade.

Mamangá (Senna quinquangulata)

As folhas, raízes e sementes são empregadas contra constipações, erisipela, inflamações supurativas e contra prisão de ventre. São também indicadas como calmantes e para problemas no sistema nervoso central.

Mangerioba (Senna occidentalis)

É empregada como anti-inflamatória, antiplaquetária, antitumoral, relaxante muscular, anti-hemolítica, usada contra hepatite B. É tônica, empregada contra febre, náuseas e dores de cabeça.

Tamarindo (Tamarindus indica)

As folhas têm ação anti-inflamatória e redutora dos níveis plasmáticos de colesterol. É indicado nos casos de gastrite e úlcera, seus componentes químicos são: ácido cítrico, málico e tartárico.

Page 267: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 16

265

Conclusões

Foram listadas 144 espécies de leguminosas utilizadas como fitoterápicos com 555 sinônimos, pertencentes a 70 gêneros. Constatou-se que a maioria das espé-cies é nativa do neotrópico, especificamente do continente sul-americano, onde foram listadas 108 espécies (75%). As 36 restantes são exóticas e foram introduzi-das no Brasil, possivelmente por sua importância econômica e/ou fitoterápica. A maioria das espécies tem porte arbóreo (85 espécies – 59,7%). As ervas anuais e pe-renes formam o segundo grupo mais numeroso com 24,3% das espécies, seguido dos cipós ou lianas com 10,4% e dos arbustos 5,6%, estes últimos, correspondendo a oito espécies.

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CAPÍTULO 17

Plantas ornamentais nativas da Amazônia: uma boa opção para uso sustentável na agricultura familiar da regiãoJúlio César Delfino RIBEIRO1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2; Ariel Dotto BLIND1

1 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Av.

André Araújo, 2396, Petrópolis, 69011-970, Manaus, AM. Email: [email protected], [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde – CSAS-INPA, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras–chave: Biodiversidade vegetal; Botânica econômica; Floricultura; Agrossistemas.

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Introdução

A Amazônia brasileira abrange uma área de cinco milhões de quilômetros quadrados, com cerca de 60% no território nacional. Este bioma apresenta nichos ecológicos de terra firme e de várzeas distribuídos, de maneira geral, em 38% de florestas densas, 36% de florestas não densas, 14% de cerrados e campos e, aproxi-madamente, 12% de terras exploradas (ALMEIDA e TERTULIANO, 2005).

As florestas primárias e secundárias foram o foco principal dessa pesquisa. A primeira, também conhecida como floresta tropical úmida, encontra-se ecologica-mente em clímax e é o ecossistema em que a composição da comunidade adqui-riu estabilidade, devido ao equilíbrio com as condições ambientais. Nela existem as espécies climáxicas, oportunistas e também numerosas espécies pioneiras. As espécies de clímax, que são as dominantes neste ambiente, têm um desenvolvi-mento lento e uma alta longevidade (ALMEIDA e TERTULIANO, 2005). O estabe-lecimento de florestas secundárias é relacionado com a sucessão vegetal, que é uma propriedade dos ecossistemas que lhes permite resiliência. Seu estabeleci-mento consiste na formação de vegetais predominantemente do grupo de plantas pioneiras abrigado no banco de sementes do solo, estabelecendo uma dinâmica de processos sucessionais após a remoção da cobertura vegetal das florestas pri-márias por ações antrópicas ou naturais. A composição florística de uma floresta secundária depende de fatores como histórico de uso da terra, caracterizado pelo número de ciclos de corte e queima, incidência de luminosidade e banco de se-mentes, condições climáticas, distância de fontes de biodiversidade e componen-tes estocásticos (SCHWARTZ, 2007).

No ambiente tropical, as florestas primárias e secundárias apresentam tipica-mente elevada biodiversidade vegetal com potenciais variados de aproveitamen-to bioeconômico. Destaca-se, entre esses potenciais, a demanda atual por plantas ornamentais e flores de corte dos países do primeiro mundo, que atinge US$ 90 bilhões por ano, com uma taxa de crescimento estimada da ordem de 12% ao ano (LAMAS, 2004). Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRA-FLOR, 2005), indicam que o Brasil movimenta, anualmente, cerca de US$ 1 bilhão no agronegócio de flores, em uma área cultivada de, aproximadamente, 5.250 hec-tares, gerando cerca de 200.000 postos de trabalho.

No momento atual, dentre as várias possibilidades de exploração no agrone-gócio, as plantas ornamentais se apresentam como importantes alternativas de investimento, porque demandam pouca área e o ciclo das plantas, geralmente, é considerado curto, permitindo rápido retorno do capital investido. A saturação do mercado mundial pelas plantas ornamentais tradicionais faz com que haja cres-

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CAPíTULO 17

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cente interesse por parte dos consumidores estrangeiros pelas espécies tropicais. Neste contexto, se destacam as flores e plantas tropicais, muito apreciadas em fun-ção das suas peculiaridades (CASTRO e GRAZIANO, 1997).

O excepcional potencial de comercialização no mercado interno e externo apresentado pelas bromélias, helicônias, orquídeas, entre outras, é caracterizado pela aparência selvática de suas flores. Outro fator importante é a grande variação de cores e formas, com produção contínua de flores, em grande quantidade e com alta durabilidade pós-corte, com perspectivas promissoras como plantas de corte e plantas para paisagismo (SANTOS et al., 2006).

Apesar do estado do Amazonas estar incluído entre os estados produtores de flores tropicais, com maior ênfase para as helicônias, a sua vocação produtiva tem sido explorada, de forma tímida, quando se considera a disponibilidade de espé-cies que ocorrem naturalmente na região. Já que a cultura de plantas ornamentais tropicais, no geral, tem um espaço muito importante a ser preenchido na agricul-tura familiar do estado do Amazonas, um levantamento para o conhecimento do potencial florístico dessas espécies, no município de Presidente Figueiredo é o pas-so inicial para o desenvolvimento dessa atividade agronômica considerada muito promissora em várias regiões brasileiras.

Identificação de espécies com potencial ornamental em florestas

primárias e secundárias do município de Presidente Figueiredo, AM

Para efetuar um levantamento de espécies com potencial ornamental no mu-nicípio de Presidente Figueiredo, AM, foi selecionada a área do Projeto de Assen-tamento Canoas, situada entre os paralelos 1° e 2° de latitude Sul e os meridianos 60°00’ e 61°30’ de longitude Oeste no estado do Amazonas. A localização deste assentamento fica a, aproximadamente, 40 quilômetros da sede do município de Presidente Figueiredo, na zona climática “Af”, no esquema de Koppen, em que “A” é definido como clima tropical cuja temperatura média dos meses nunca atinge valores abaixo de 18 °C e “f” corresponde à precipitação do mês mais seco nunca inferior a 60 mm (INDRUASK e SOUZA NETO, 2005).

Foram inventariadas três áreas de florestas: duas em florestas secundárias e uma em floresta primária. As florestas secundárias localizam-se, respectivamente, às margens dos ramais Canoas e Novo Progresso. A floresta primária localiza-se próxima ao Ramal da Terra Preta. Nas áreas dos ramais Canoas e Novo Progresso, foram delimitados transectos com 20 m de largura x 150 m de comprimento e na

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área floresta primária, com 20 m de largura e 200 m de comprimento. As amostras das plantas ornamentais que ocorriam no interior dos transectos foram coletadas, em subparcelas com dimensões de 10 x 25 m.

Os transectos foram delimitados, procedendo-se a abertura de picadas, que fo-ram feitas com terçado para minimizar impactos danosos à vegetação. Uma linha reta foi traçada com bússola no sentido norte sul e designada como eixo do “y”, sendo a largura denominada de coordenada “x”. A linha foi marcada a cada 25 m, com piquetes pintados e numerados. A coleta de amostras botânicas incluiu indi-víduos das espécies consideradas ornamentais, cuja identificação in loco, quando não era possível, recebia adicionalmente um registro fotográfico. O material botâ-nico coletado foram folhas e/ou inflorescências. O material foi acondicionado em sacos plásticos, etiquetados e levados para identificação no Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, em Manaus, AM.

Quanto aos procedimentos estatísticos adotados sobre o número de espécies ornamentais levantadas nas florestas primária e secundária de cada transecto fo-ram calculados a abundância e o índice de Valor de Importância (IVI) estimando o valor para a espécie em sua área de ocorrência, somando-se os valores relativos, para obtenção da frequência relativa e a abundância relativa das espécies em cada área inventariada.

Para estimar a magnitude do potencial ornamental das espécies das plantas inventariadas empregou-se o modelo matemático de Análise de Correspondên-cia Multivariada – ACM, baseado em uma técnica de análise exploratória capaz de mostrar as relações recíprocas, associações e oposições entre variáveis e amostras ou numa matriz de contingências, onde são cruzados dois caracteres qualitativos e as suas dependências, permitindo conhecer a similaridade e dissimilaridade en-tre as espécies de plantas ornamentais em função do uso (VALENTIN, 2000). As variáveis empregadas para caracterizar as plantas ornamentais que ocorriam natu-ralmente nas florestas estudadas foram construídas por faixa e classificadas como: pequena (I), média (II) e grande (III).

As dez variáveis e a definição das faixas de acordo com a escala de intensidade foram assim caracterizadas: 1) Tamanho da planta, variando de 0,60 a 1,50 m (I), de 1,51 a 2,00 m (II), com mais de 2 m (III); 2) Durabilidade da planta após o corte, variando de até 3 dias (I), de 4 a 10 dias (II), mais de 10 dias (III); 3) Quantidade de cores identificadas nas folhas e flores, variando de 1 cor (I), duas cores (II), mais de duas cores (III); 4) Parte da planta com potencial ornamental, sendo folha (I), flor (II), folha/flor (III); 5) Intensidade do brilho das folhas ou flores, variando de opaca (I), com brilho moderado (II), com brilho intenso (III); 6) Necessidade das plantas por luz conforme abertura do dossel, variando de 0,1 a 4,8% (I), de 4,9 a 39,6% (II), mais

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CAPíTULO 17

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de 39,7% (III); 7). Ocorrência das plantas em sua área pesquisada, variando de 1 a 10 (I), de 11 a 50 (II), mais de 50 (III); 8) Abundância relativa definida pela quantidade de plantas, por m2 em sua área pesquisada, em relação ao total de plantas, varian-do de 0,1 a 6,0% (I), de 6,1 a 10,0% (II), mais de 10,0% (III); 9) Frequência relativa da ocorrência das plantas em sua área em relação ao total de plantas, variando de 0,1 a 25,0% (I), 25,0 a 75,0% (II), mais de 75,0% (III); 10) Potencial de performance das plantas no mercado, variando de pouco comercial (I), comércio mediano (II) e comércio forte (III).

Análises fitossociológicas das espécies que ocorrem em florestas

primárias e secundárias

Nas análises fitossociológicas nos três transectos foram identificadas como ma-terial botânico com potencial ornamental seis famílias distribuídas em doze gêne-ros, 19 espécies e 710 indivíduos diferentes. A Tabela 1 apresenta a distribuição de famílias e espécies encontradas em floresta primária no Ramal Canoas/Rio Pardo. A Tabela 2 apresenta a análise da estrutura horizontal na floresta primária no Ra-mal Canoas/Rio Pardo em função da abundância e frequência e índice de Valor de Importância das espécies identificadas na área de pesquisa. A Tabela 3 apresenta a listagem de espécies encontradas em área secundária no Ramal Canoas, bem como dados de sua frequência na área pesquisada.

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos por família e espécies em floresta primária no ramal Canoas/Rio Pardo, município de Presidente Figueiredo, AM.

Famílias botânicas Espécies Nº de indivíduos

Araceae Dieffenbachia sp. 38

Costaceae Costus congestiflorus 07

Heliconiaceae Heliconia sp. 38

Marantaceae Calathea panamensis Rowlle ex Stand. 165

Marantaceae Monotagma sp. 02

Strelitziaceae Phenakospermun guianensis Aubl. 05

Total 255

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Tabela 2. Análise da estrutura horizontal da floresta primária no ramal Canoas/Rio Pardo em função da abundância e frequência (absolutas e relativas) e índice de Valor de Importância (IVI), no município de Presidente Figueiredo, AM.

Espécies Abundância absoluta/m²

Abundância relativa (%)

Frequência absoluta %

Frequência relativa % IVI*1

Dieffenbachia sp. 0,0095 14,89 68,50 26,20 41,09

Costus congestiflorus 0,0018 2,82 25,00 10,00 12,82

Heliconia sp. 0,0095 14,89 56,25 22,50 37,39

Calathea panamensis 0,0413 64,73 87,50 35,00 99,73

Monotagma sp. 0,0005 0,78 6,25 2,50 3,28

P. guianensis 0,0013 02,04 12,50 05,00 7,04

*1 IVI – índice de Valor de Importância.

Tabela 3. Listagem da família botânica, espécies ornamentais e número de indiví-duos encontrados em floresta secundária do ramal Canoas, em Presidente Figuei-redo, AM.

Família botânica Espécies Nº de indivíduos

Arecaceae

Genoma maxima var. Chelidonura (Spruce) Hend. 03

Socratea sp. 04

Syagrus inajai (Spauce) Becc 12

Costaceae

Costus lasins Loes 01

Costus arabicus L. 01

Costus sp. 03

Heliconiaceae

Heliconia acuminata 62

Heliconia chartacea Lane Ex. Barr. 57

Heliconia spathocircinata Aristig 80

MarantaceaeIschnosiphon obliquus (Rudge) Körn. 15

Calathea fragilis Gleas. 05

Strelitziaceae Phenakospermun guianensis 10

Total 253

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CAPíTULO 17

273

Levantamento de plantas ornamentais em floresta primária no

ramal da Terra Preta, em Presidente Figueiredo, AM

Na floresta próxima ao rio Pardo, em uma área de 4.000 m2, registrou-se 255 indivíduos que foram classificados em cinco famílias botânicas e seis espécies com potencial de exploração ornamental. A família Marantaceae destacou-se com o maior número de espécies (Tabela 1). No âmbito dessa família a espécie Calathea panamensis (Figura 1A) contribuiu com 165 indivíduos. Em seguida, aparecem as famílias das Araceae e Heliconiaceae, ambas com uma espécie e são plantas adap-tadas a ambientes de pouca luminosidade como é o chão da mata. As espécies Dieffenbachia sp. (Figura 1B) e Heliconia sp. (Figura 1C) apresentaram 38 indivíduos, cada uma. A espécie Heliconia sp. é uma planta rara muito formosa, conhecida po-pularmente como helicônia-branca e apresenta potencial para ornamentação de paredes.

Figura 1. Detalhes das plantas ornamentais Calathea panamensis (A), Dieffenbachia sp. (B) e Heliconia

sp., conhecida como helicônia-branca (C), encontradas em ambientes do município de Presidente Fi-

gueiredo, AM.

Os resultados da pesquisa também permitiram identificar que a espécie Cala-thea panamensis apresentou os maiores valores de abundâncias absoluta e relativa e IVI (0,0413 plantas/m2, 64,73% e 99,73), respectivamente. Considerando-se os pa-râmetros frequência absoluta, frequência relativa e índice de Valor de Importância, observou-se que, entre as espécies, a frequência absoluta variou de 6,25 a 87,50%, a frequência relativa de 2,5 a 35,0% e o índice de Valor de Importância de 3,28 a 99,73, respectivamente. A Monotagma sp foi a espécie que apresentou os maiores percentuais de frequência relativa (35,0%) e absoluta (87,5%) e o menor índice de valor de importância 3,28, conforme foi apresentado na Tabela 2.

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Levantamento de plantas ornamentais em floresta secundária do

ramal Canoas, em Presidente Figueiredo, AM

Na floresta secundária do ramal Canoas foram identificados 253 indivíduos, in-cluídos em cinco famílias e doze espécies. A família Heliconiaceae foi a melhor re-presentada: com três espécies e 199 (78,7%) dos indivíduos levantados nesta área (Tabela 3).

No âmbito da família Heliconiaceae, a espécie Heliconia spathocircinata (Figura 2A) com 80 indivíduos foi a mais populosa na área inventariada (Tabela 3). A espé-cie H. acuminata (Figura 2B) apresentou 62 indivíduos e a H. chartacea, 57 indivídu-os. A família Marantaceae com 20 indivíduos, foi representada por quinze dentro da espécie Ischnosiphon obliquus e cinco indivíduos na Calathea fragilis. A família Arecaceae com 19 indivíduos reuniu doze na espécie Syagrus inajai, quatro na So-cratea sp. e três na Geonoma maxima. Na família Strelitziaceae foi registrada a pre-sença de dez indivíduos e uma única espécie: Pernakospermun guyanense. Dentro da família Costaceae, foram registradas três espécies: Costus arabicus, Costus lasins e Costus sp. com um e três indivíduos, respectivamente. Na família Costaceae, foi encontrada a espécie Costus sp. (Figura 2C), conhecida popularmente por costus-amarelo, considerada como raridade entre as plantas ornamentais.

Figura 2. Detalhes das plantas ornamentais Heliconia spathocircinata (A), Heliconia acuminata (B) e Cos-

tus sp., conhecida como costus-amarelo (C), encontradas em florestas secundárias do ramal Canoas,

município de Presidente Figueiredo, AM.

Os mais elevados valores de abundâncias absoluta e relativa, em torno de 0,0267 plantas/m2 e de 31,67%, respectivamente, foram observados nas popula-ções de Heliconia spathocircinata (Tabela 4). Nesta floresta secundária, as espécies H. Spathocircinata e a H. acuminata apresentaram as maiores frequências (83,33% de frequência absoluta e 22,22% de frequência relativa) e o índice de Valor de Im-portância de 46,78 e 53,89, respectivamente.

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CAPíTULO 17

275

Tabela 4. Análise da estrutura horizontal de uma floresta secundária no ramal Ca-noas, em função de abundâncias e frequências absolutas e relativas e do índice de Valor de Importância, no município de Presidente Figueiredo, AM.

Espécies Abundância absoluta/m²

Abundância relativa %

Frequência absoluta %

Frequência relativa % IVI*1

Geonoma maxima 0,0010 1,19 8,33 2,22 3,41

Socratea sp 0,0013 1,54 16,67 4,45 5,99

Syagrus inajai 0,0040 4,74 16,67 4,45 9,19

Costus lasins 0,0003 0,36 8,33 2,22 2,58

Costus arabicus 0,0003 0,36 8,33 2,22 2,58

Costus sp 0,0010 1,19 16,67 4,45 5,64

H. acuminata 0,0207 24,56 83,33 22,22 46,78

H. chartacea 0,0190 22,54 41,67 11,11 33,65

H. spathocircinata 0,0267 31,67 83,33 22,22 53,89

I. obliquus 0,0050 5,93 33,33 8,89 14,82

Calathea fragilis 0,0017 2,02 33,33 8,89 10,91

P. guianensis 0,0033 3,91 25,00 6,67 10,58

*1 IVI – índice de Valor de Importância.

Levantamento de plantas ornamentais em floresta secundária

do ramal Novo Progresso, em Presidente Figueiredo, AM

Na floresta secundária do ramal Novo Progresso, em uma área de 3.000 m2 foram re-gistrados 203 indivíduos, dentro de cinco famílias e dez espécies. Dentre as famílias, a He-liconiaceae, com quatro espécies e 158 indivíduos, representou 77,83% do total de indi-víduos registrados. Nesta família, foram identificadas as seguintes espécies: H. chartacea, H. spathocircinata, H. acuminata e Heliconia sp. As quatro espécies estavam representadas no interior da floresta com 73, 72, onze e dois indivíduos, respectivamente (Tabela 5).

Outras famílias botânicas tais como Marantaceae, Arecaceae e Strelitziaceae estavam presentes na área inventariada. Na família botânica Marantaceae foram encontradas as espécies Lasiacis ligulata com 22 indivíduos, Calathea fragilis com onze indivíduos e Ischnosiphon obliquus com apenas um indivíduo. Na família

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botânica Arecaceae, uma única espécie Syagrus inajai estava presente no local pesquisado, representada por cinco indivíduos. Já a família botânica Strelitziace-ae foi representada pela espécie Phenakospermun guianensis, com o registro de um único indivíduo. Sob o ponto de vista econômico, a Heliconia chartacea é a mais importante devido ao seu valor comercial no mercado de flores (Figura 3).

Tabela 5. Distribuição dos indivíduos por família botânica e espécies em floresta secundária no ramal Novo Progresso, no município de Presidente Figueiredo, AM.

Família botânica Espécies Nº de Indivíduos

Araceae Philodendron solimoensis A.C. Smith. 04

Arecaceae Syagrus inajai (Spruce) Becc. 05

Heliconiaceae

Heliconia acuminata Rich. 11

Heliconia chartacea Lane ex. Barr. 73

Heliconia spathocircinata Aristeg. 72

Heliconia sp. 02

Marantaceae

Calathea fragilis Gleas. 11

Lasiacis ligulata (Hitchc.) Gleason & Chase 22

Ischinosiphon obliquus (Rudge) Korn. 02

Sterlitziaceae Phennakospermun guianensis Aubl. 01

Total 203

Figura 3. Detalhe de Heliconia chartacea, espécie de grande valor comercial, vegetando naturalmente

em floresta secundária do Ramal Novo Progresso, município de Presidente Figueiredo, AM.

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CAPíTULO 17

277

Como já apresentado, no ramal Novo Progresso ocorreram 203 indivíduos e a maior abundância absoluta foi de 0,0240 plantas/m2, verificada para representan-tes da espécie Heliconia spathocircinata (Tabela 6). A maior abundância relativa de 36,11% foi encontrada na espécie H. chartacea. As frequências absolutas, relativas e o índice de Valor de Importância das espécies variaram de 8,33 a 100,0%, 2,27 a 27,27% e de 2,72 a 63,38%. A espécie H. chartacea, com 27,27% de frequência rela-tiva e 63,38 de índice de Valor de Importância foi a que se destacou fitossociologi-camente entre todas as espécies encontradas, se constituindo, dessa forma, como aquela de maior potencial de exploração no local da pesquisa.

Tabela 6. Análise da estrutura horizontal da floresta secundária no ramal Novo Pro-gresso em função da abundância e frequência (absolutas e relativas) e índice de Valor de Importância (IVI) – no município de Presidente Figueiredo, AM. Manaus, AM, 2011.

Espécies Abundância absoluta/m²

Abundância relativa %

Frequência absoluta %

Frequência relativa % IVI*1

P. solimoensis 0,0013 1,93 16,67 4,45 6,48

Syagrus inajai 0,0017 2,53 16,67 4,55 7,08

H. acuminata 0,0037 5,50 33,33 9,09 14,59

H. chartacea 0,0243 36,11 100,00 27,27 63,38

H. spathocircinata 0,0240 35,66 100,00 27,27 62,93

Heliconia sp. 0,0007 10,40 16,67 4,55 5,59

Calathea fragilis 0,0037 5,50 50,00 13,64 19,14

Lasiacis ligulata 0,0073 10,85 16,67 4,55 15,40

I. obliquus 0,0003 0,45 8,33 2,27 2,72

P. guianensis 0,0003 0,45 8,33 2,27 2,72

*1 IVI – índice de Valor de Importância.

Seleção de espécies em função do seu potencial para fins orna-

mentais

A Tabela 7 apresenta o conjunto de valores numéricos considerados úteis para a seleção do potencial ornamental das espécies encontradas nos transectos es-tabelecidos em florestas primárias e secundárias no município de Presidente Fi-gueiredo, AM. Observa-se que, entre os caracteres que são úteis para a seleção de espécies para fins ornamentais, o tamanho da planta, parece ter menos influência

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AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

em relação aos demais. A durabilidade, que é um parâmetro importante para fins de conservação de uma planta, na maioria das espécies, mostrou que a maior parte das espécies inventariadas apresenta durabilidade variando de 2 a 3, valores consi-derados muito bons para quem comercializa essas plantas. Como era de se esperar, a ocorrência e a abundância das espécies apresentam uma relação discreta.

Levando-se em consideração as características relacionadas ao tamanho, durabili-dade, cor, uso, brilho, luz, ocorrência, abundância, frequência e comércio, que são fortes indicadores para a seleção de espécies para fins comerciais, as espécies Heliconia sp., H. acuminata, H. spathocircinata, H. chartacea e Calathea panamensis foram consideradas potencialmente importantes para a utilização imediata e em programa de manejo in situ e ex-situ em agrossistemas apropriados específicos estabelecidos para a agricultu-ra familiar, o que não invalida a sua conservação e multiplicação em maior escala.

Tabela 7. Valores numéricos considerados úteis para a seleção do potencial orna-mental de espécies que ocorreram em florestas primária e secundária no municí-pio de Presidente Figueiredo, AM.*1

Espécies Tam Dur Cor Uso Brilho Luz Ocor Abun Freq Pot

Dieffenbachia sp. I III I II II I III III I I

C. congestiflorus I I I II I I I I I 1

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C. panamensis I III II I III I III III II III

Monotagma sp. I III I I II I I I I I

P. guianensis III III I III I III II I I I

G. maxima II III I I II III I I I I

Socratea sp. III III I III II III I I I I

Syagrus inajai III III I III II III II I I I

Costus lasins I I I II II II I I I I

C. arabicus. I I I II II II I I I II

Costus sp. I I I II II II I I I III

H. acuminata II III II II II III III III I II

H. chartacea III III II II I III III III II III

H. spathocircinata III II II II II III III III III III

Calathea fragilis II II II I II III II III I I

P. solimoensis II III I I II III I III I I

Lasiacis ligulata II III I I II III II II I I

*1 Tam – Tamanho, Dur – Durabilidade, Ocor – Ocorrência, Abun – Abundância, Freq – Frequência, Pot – Potencial de comercialização.

Page 281: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 17

279

Considerações finais

Na Amazônia, o potencial de plantas ornamentais que ocorrem em florestas primária e secundária é grande e ainda pouco explorado. O potencial de merca-do para as helicônias, bromélias, orquídeas e antúrios tropicais é muito relevante. Lamentavelmente, o uso das espécies nativas da região é reduzido, pela falta de pesquisa e divulgação. Um fator importante com relação aos recursos genéticos ornamentais que ocorrem nas florestas primária e secundária da Amazônia é que eles vêm sofrendo o processo de erosão genética com as constantes ameaças pro-vocadas pela ação antrópica, como a expansão da agricultura e pecuária, extrati-vismo predatório, instalação de hidrelétricas e queimadas para o uso do solo para vários fins.

Nas áreas de florestas primária e secundária pesquisadas no ramal Canoas, mu-nicípio de Presidente Figueiredo, AM, foram inventariados 710 indivíduos distribu-ídos em 19 espécies e seis famílias botânicas. Dentre as espécies identificadas com potencial para fins comerciais a Calathea panamensis, Heliconia spathocircinata, H. chartacea, H. acuminata, Dieffenbachia sp. e Heliconia sp., podem ser manejadas imediatamente por agricultores familiares por terem potencial para gerar renda e emprego, nas propriedades agrícolas onde ocorrem naturalmente.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, R. J.; TERTULIANO, M. F. 2005. Diagnose dos sistemas ambientais: méto-dos e indicadores. In: Avaliação e perícia ambiental. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, Brasil. p. 115-171.

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IBRAFLOR. 2005. Análise conjuntural das exportações de flores e plantas orna-mentais do Brasil. (janeiro a dezembro de 2004). Disponível em <http:www.ibra-flor.com.br>. Acesso em: 07 de outubro de 2011.

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Page 282: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

280

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

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SANTOS, M. R. A.; TIMBó, A. L. O.; CARVALHO, A. C. P. P.; MORAIS, J. P. S. 2006. Estu-dos de adubos e substratos orgânicos no desenvolvimento de mudas micropropa-gadas de helicônia. Horticultura Brasileira, 24 (3): 273-278.

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VALENTIM, J. L. 2000. Ecologia numérica: uma introdução à análise multivariada de dados ecológicos. Interciências, Rio de Janeiro, 2000.

Page 283: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPÍTULO 18

A expansão da pecuária nas várzeas: estratégias de produção pecuária nas regiões do Baixo Solimões e Médio AmazonasJanaína Paolucci Sales de LIMA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2

1 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, Manaus, AM.

E-mail: [email protected];

2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André

Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: [email protected].

Palavras-chave: Agropecuária; Agrossistemas; Amazônia; Socioeconomia.

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282

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Introdução

A agricultura familiar é uma unidade de produção agrícola onde a apropriação e o acesso dos bens, principalmente a terra e o trabalho, estão intimamente ligados à família, distinguindo as relações do produtor com a terra. A história dessa prática na Amazônia está ligada aos povos indígenas detentores de uma herança social e botânica, com incorporação de novos grupos humanos, passando por um proces-so de adaptabilidade (BROCK, 2001).

Os sistemas de produção animal atuais são adaptados às peculiaridades das várzeas e têm perspectivas muito promissoras devido ao baixo grau de autossufi-ciência na produção da carne e leite na região Amazônica. No processo da cadeia produtiva observado por criadores ribeirinhos, Veiga et al. (2004) relatam os tipos de rede de comercialização dos vários produtos da pecuária de corte, descrevendo sobre uma rede fina de pequenos comerciantes de gado vivo distribuídas em todas as frentes pioneiras, próximo dos produtores.

Nas propriedades familiares, a produção de leite é uma atividade tradicio-nal, destinada, principalmente, para o consumo da família. Veiga et al. (2004) destacam que a produção leiteira é uma atividade típica da agricultura familiar, uma vez que 90% dos produtores usam a mão de obra familiar e menos de 10% têm empregados permanentes. A grande maioria das famílias mora nas propriedades.

Nas últimas décadas, o sistema de criação de gado nas áreas de várzeas sofreu modificações com a expansão e o crescimento da introdução do búfalo e a práti-ca de transferência dos rebanhos temporariamente para os campos de pastagens de terra firme durante o período de inundações das terras baixas. O sistema de exploração pecuária predominante nas várzeas é do tipo familiar, marcado pela presença da prática anual do uso de maromba durante as inundações periódicas. A busca por alternativas para a utilização dos recursos naturais deve considerar a conservação da biodiversidade regional, contribuindo para a proteção do meio e recuperação de áreas em via de degradação, para manter a capacidade produtiva da terra e, principalmente, para que os processos produtivos sejam acessíveis ao pequeno produtor.

Para que isso aconteça, é importante que se realize uma caracterização do siste-ma de produção da agricultura familiar de várzea, para compreender as formas de organização e manejo da pecuária, levando em consideração o produtor em seus aspectos produtivos, sociais e econômicos. A apropriação das informações deriva-das de estudos por parte das comunidades e órgãos gestores (locais, estaduais ou federais) poderia servir de elemento para a elaboração de políticas públicas e to-

Page 285: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 18

283

madas de decisões que fornecessem às famílias que vivem no ambiente de várzea das regiões pesquisadas.

Para entender melhor a dinâmica e relações estabelecidas nos sistemas de produção da várzea foi realizado um estudo ao longo da calha Solimões-Ama-zonas, nos municípios de Manacapuru, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara e Silves, no estado do Amazonas. Estas áreas selecionadas localizam-se em mi-crorregiões distintas: Manacapuru, Careiro da Várzea e Iranduba localizam-se na microrregião do Baixo Solimões e Itacoatiara e Silves na microrregião do Médio Amazonas.

O sistema de produção e suas diversidades nas áreas de várzea

Entre os fatores que garantem a sustentabilidade dos sistemas de produção em áreas de várzea, destacam-se a diversidade de produtos originados da produ-ção agropecuária. A manutenção desta diversidade favorece a adaptabilidade do sistema às incertezas resultantes das condições de mercado (preço e demanda), bem como das variações sofridas na produção em função das condições climáticas, culturais, sociais, econômicas, políticas, entre outras.

Cada componente possui seu grau de importância ao longo do calendário pro-dutivo, conferido pela sazonalidade da maioria dos produtos oriundos da agricul-tura, pecuária e extrativismo (Figura 1). Nas várzeas, esta peculiaridade do setor é ainda mais marcante e determinante na produção e oferta de determinados produtos, exigindo dos produtores habilidades para manejar os recursos naturais disponíveis, bem como para estruturar complexas redes de organização para a co-mercialização (SALES, 2005).

Os agricultores utilizam o solo para cultivar espécies anuais e perenes, sen-do a mandioca a cultura presente em maior parte da área cultivada, tendo em vista a sua importância como alimento e fonte de renda monetária dos agri-cultores. As espécies que servem de alimentos são cultivadas, geralmente, em forma de consórcios e monocultivos. Os produtos são diversificados (Tabela 1) e ocupam as áreas com cotas mais elevadas das unidades de produção e re-cebem diferentes denominações: restinga, lombada, vazante ou praia (SALES, 2005).

Page 286: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

284

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

Figura 1. Comparações da importância qualitativa dos componentes do sistema de produção na região

do Médio Rio Amazonas (A) e do Baixo Solimões (B), no estado do Amazonas.

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Page 287: AGRICULTURA FAMILIAR - IDAM

CAPíTULO 18

285

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286

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

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CAPíTULO 18

287

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288

AgriculturA FAmiliAr no AmAzonAs – conservAção dos recursos AmbientAis – vol. 1

O componente de criação animal tem viabilizado a existência da agricultura e do extrativismo regional. Esta atividade é responsável pela possibilidade de uma “poupança” (manutenção, nas mãos do produtor, de um bem de alto valor e liqui-dez) aos produtores rurais nas várzeas (Tabela 2). Sendo assim, tem-se a baixa fre-quência do consumo de carne bovina na dieta alimentar e este produto, basica-mente, é destinado à comercialização.

Tabela 2. Levantamento de atividades pecuárias e criações de diferentes espécies animais nos estabelecimentos rurais visitados em cinco municípios na várzea da microrregião do Baixo Solimões e do Médio Amazonas, AM.

Espécies

Municípios

Manacapuru Careiro da Várzea Iranduba Itacoatiara Silves

------------------------------------------------------------------------ % ------------------------------------------------------------------------

Bovina 33,30 75,00 25,00 47,83 83,33

Bubalina – – – 8,70 8,33

Equina – – – 13,04 –

Pequeno porte*1 55,50 50,00 25,00 82,61 83,33

*1 galinha, pato, peru e suíno.

Pecuária

Os agrossistemas estabelecidos nas várzeas, por serem inundáveis e pas-síveis de modificações em cada enchente, não podem ser titulados, existindo uma forma de domínio tradicional, rigorosamente respeitada, inclusive com campos de várzea negociados, mas que não têm titulação reconhecida pela legislação brasileira (MONTEIRO, 1981). Os pesquisadores Chaves (1996) e Lima (1986) descrevem a ocorrência da pecuária principalmente nas várzeas do Bai-xo Amazonas, no trecho entre a foz do rio Negro e a foz do xingu onde, pe-las características relacionadas com sua formação, predomina uma vegetação campestre entre a mata ciliar da margem do rio e a terra firme. As várzeas do Solimões e seus afluentes caracterizam-se pela presença dessa mata desde a

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margem dos rios até a terra firme. A pecuária é mais frequente nas localidades em que a terra firme é contígua à área inundável e não está muito distante da margem do rio.

Na composição histórica do processo de introdução da pecuária nas várzeas, Melo & Moura (1990) afirmam que do mesmo jeito que em relação à agricultura, foi pelas áreas de várzea que de modo mais significativo se iniciou, na região, o uso pecuário do solo. Também desta vez, as práticas adotadas constituem um tipo de adaptação das atividades humanas às condições ecológicas, em particu-lar ao ritmo de submersão e emersão das áreas de solos aluviais, regulado pelo regime fluvial, ou seja, pelo movimento do subir e descer das águas dos rios prin-cipais.

Veiga et al. (2004) descreveram que a contribuição da Amazônia Legal para o rebanho brasileiro passou de 10% para 30% entre 1980 e 2000. Nos últimos vinte anos foi observada uma mudança destacável na contribuição nacional da Amazô-nia no setor pecuário.

Aspectos que contribuíram para o desenvolvimento do manejo

da pecuária na várzea

É notório que as matas de várzea já vêm sofrendo com perturbações antropo-gênicas há algumas centenas de anos, sendo removidas para dar lugar a atividades como agricultura e a criação de animais, uma vez que, historicamente, o proces-so de colonização teve como seu maior impacto a margem dos rios (OHLY, 2000), especialmente pela facilidade de acesso permitida pelas águas. Notoriamente, os igarapés e seus afluentes, bem como o curso principal dos rios, são reconhecidos como as “estradas” de acesso a esses para a ocupação e estabelecimento de siste-mas de produção nestes ambientes.

Através do fenômeno da “pecuarização” a utilização da várzea se estabeleceu de forma diferenciada, tendo suas peculiaridades definidas pelos seus usuários. Diferindo das áreas de pecuária da terra firme, os atores (fazendeiros, pecuaristas, empresas agropecuárias etc.) passaram a fazer uso das áreas inundadas das várzeas nos períodos das secas, transportando seus rebanhos por meio de barcos ou balsas pela calha do rio Solimões-Amazonas. O rebanho passa grande parte do período de engorda nas várzeas e este fato passou a interferir nas formas de uso e manejo dos solos dessas áreas.

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As estratégias adaptativas adotadas, juntamente com as vantagens da cria-ção na várzea e a experiência dos criadores, lhes apontaram a prática da retira-da dos rebanhos, ou parte deles, para áreas adquiridas na terra firme, onde os animais encontram reservas de pastos previamente preparadas. Na época da enchente, com a diminuição dos espaços de pastagens, decresce a disponibili-dade de alimentos para os animais até chegar a uma fase crítica. Nessa fase, para se minimizar a escassez de alimentos é comum fazer apanha, com o uso de ca-noas, de tufos de capim canarana que flutuam nas águas em movimento. Outra prática típica, tradicional na pecuária das várzeas, consiste no confinamento dos animais em marombas onde são arraçoados, inclusive, com aquela gramínea. Mas isso não ocorre sem prejuízos devido ao emagrecimento do rebanho e às perdas de reses pela adversidade do ambiente, invariavelmente elevada (MELO & MOURA, 1990).

Na terra firme, o tempo de permanência dos rebanhos, de alguns meses, de-pende tanto da duração dessas reservas quanto do reaparecimento das pastagens nas várzeas, na fase de descida do nível das águas. Esse tipo de mobilização do gado tem, assim, o sentido de uma complementaridade entre os dois domínios ecológicos representando uma forma de adaptação às condições naturais sendo, ao mesmo tempo, um fator de conquista de espaços da terra firme. Isto implica na diminuição ou no desaparecimento do uso da maromba, significando uma mu-dança expressiva nos processos produtivos típicos da pecuária de várzea (MELO & MOURA, 1990).

Manejo em rebanhos bovinos

Existem lacunas sobre formas e estratégias de manejo dos espaços terrestre e/ou aquático. Os ambientes de produção da várzea para pecuária inserem-se em es-paços regionais estruturados de forma diferenciada. A diferença está no tempo em que a terra permanece sem utilização (período de descanso), para culturas, pastos ou matas, variando assim de localidade para localidade.

Durante as últimas décadas ocorreu uma mudança drástica na paisagem da várzea. A terra de pasto expandiu devido à retirada das florestas virgens e do uso da terra para cultivo de espécies agrícolas anuais e pastagens. A maioria das áreas foi transformada em pastagem, sendo que a pastagem natural representa a menor parte da área coberta (Tabela 3).

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Tabela 3. Informações sobre algumas das espécies vegetais mais encontradas no ambiente de várzea em cinco municípios da microrregião do Baixo Solimões e do Médio Amazonas, AM.

Nome cientifico Nome popular Ambiente preferencial

Frequência (%) Características

Não identificado Terra-água Campos de várzea 20,0 Pastagem cultivada

Não identificado Pipioca Campos de várzea 10,0 Pastagem cultivada

Não identificado Morinha Cacaia na várzea 10,0 Pastagem natural

Não identificado Tomate-bravo Campos de várzea 20,0 Planta invasora

Artemisia vulgares Artemísia Campos de várzea 20,0 Pastagem cultivada

Bachiaria brizantha Braquiária Campos de várzea 60,0 Pastagem cultivada

Borreria verticilata Vassourinha Campos de várzea 30,0 Planta invasora

Cynodon dactylon Grama Campos de várzea 30,0 Pastagem cultivada

Echinochloa spectabilis Caranana Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural

Eleusine indica Pé-de-galinha Campos de várzea 10,0 Planta invasora

Heliotropium sp. Crista-de-galo Campos de várzea 20,0 Planta invasora

Hymenachne amplexicaulis Bico-de-pato Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural

Mimosa camporum Malícia Campos de várzea 10,0 Planta invasora

Oryza suvulata Arroz-selvagem Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural

Panicum purpurascens Colônia Campos de várzea 20,0 Pastagem cultivada

Paspalum fasciculatum Murim Campos de várzea 30,0 Planta invasora

Paspalum repens Membeca Cacaia na várzea 30,0 Pastagem natural

Paspalum virgatum Navalha Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural

Senna reticulata Mata-pasto Campos de várzea 30,0 Planta invasora

Setaria geniculata Rabo-de-gato Campos de várzea 20,0 Pastagem cultivada

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O sistema extensivo de produção é predominante em todos os municípios ana-lisados, sendo caracterizado por possuir áreas de exploração demarcadas (corres-pondente aos estabelecimentos rurais) e áreas de uso comunitário. As pastagens cultivadas apresentam maior produtividade e resultam da reforma de pastagens degradadas, com espécies de Poaceae mais adaptados à região, principalmente o Brachiaria brizantha. Entretanto, há a necessidade de recuperação dos pastos, anualmente, após a época das cheias.

Na região do Baixo Solimões e do Médio Amazonas o rebanho bovino é representado principalmente por animais mestiços de raças zebuínas que, em média, possuem respectivamente entre 70 e 35 cabeças nas unidades de pro-dução destinadas ao corte. O rebanho bubalino é representado principalmen-te por animais mestiços de raças não identificadas que, em média, ficam em torno de 40 cabeças na unidade de produção e são destinados à produção leiteira.

As propriedades não utilizam estratégias para o melhoramento de seus reba-nhos bovinos. Os reprodutores são selecionados nos próprios planteis ou compra-dos e trocados com os criadores vizinhos. A cobertura das fêmeas ocorre de forma natural. Os animais não são separados por categorias e nem são realizadas práti-cas como castração e descorna. No manejo sanitário são realizadas atividades tais como: vacinação contra febre aftosa, controle das verminoses, combate ao piolho e carrapato ou controle de endoparasitas e ectoparasitas.

No período das chuvas foram identificadas duas estratégias diferenciadas. Os criadores que constroem marombas e/ou os que transportam os animais para campos não inundáveis da terra firme. A prática de transferência de animais na época seca é, particularmente, destacável no município do Careiro da Várzea, que é constituído por extensas terras baixas que ficam tomadas pela água no período do pico das cheias. A tomada de decisão para o deslocamento está di-retamente relacionada à intensidade da alagação e aos aspectos econômicos de cada criador.

No sistema de uso de maromba, os animais são arraçoados com canarana (Echinochloa spectabilis) e membeca (Paspalum repens), sendo também praticada a suplementação mineral da alimentação. Contudo, essa prática de manutenção é caracterizada por elevadas taxas de prejuízos relacionados ao emagrecimento do rebanho e perdas de reses.

No sistema de transporte para a terra firme, o deslocamento é realizado por bal-sa, ou caminhos, quando existentes, permanecendo na terra firme por quatro ou cinco meses, onde além da pastagem de braquiária (Brachiaria brizantha), também recebem a suplementação mineral. Os gastos para manejar na terra firme segundo

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a visão dos criadores entrevistados são maiores. Apesar das desvantagens econô-micas, a estratégia de deslocamento é a usada atualmente, poucos são os criadores que utilizam o sistema de maromba.

O retorno do rebanho da terra firme para a várzea, na maioria das vezes, não é diretamente para as pastagens cultivadas na várzea, sendo deslocado tempo-rariamente para cacaia na várzea (ou queimadas), as quais se formam, durante a vazante, considerados pastos adicionais (STERNBERG, 1998). É um ambiente de utilização comunitária dos criadores, os animais são criados no sistema ultraexten-sivo. Segundo o relato dos entrevistados, a utilização da cacaia no manejo bovino possibilita a transição entre os ambientes, auxiliando na manutenção das pasta-gens cultivadas na várzea.

Aspectos da comercialização

O estado do Amazonas é grande importador de animais, pois não possui um rebanho que atenda a todas as suas demandas internas de abastecimento das pe-quenas, médias e grandes cidades. Essa demanda é suprida, principalmente, por animais oriundos dos estados próximos como Rondônia, Acre, Roraima e Pará. O transporte de animais entre esses estados é feito com o uso de balsas nos rios Ma-deira, xingu, Amazonas, Negro e Branco.

Na comercialização relatada pelos entrevistados, têm-se diferentes possibili-dades, o que inclui compradores particulares, destacando-se o comerciante local como o mais importante, seguido dos comerciantes dos mercados, supermerca-dos, barcos de linha, donos de flutuantes e donos de açougue, especificamen-te na pecuária de corte, onde aparece a figura intermediária do marchante. Os agentes de comercialização compradores nas cidades e/ou que têm contatos com os pecuaristas, a partir das entrevistas, apontados como os principais para os produtos oriundos da pecuária, por ordem de importância de ocorrência nas citações, são os marchantes (70,0%), açougues (30,0%), queijeiros (20%) e consu-midores (10%).

O marchante tem como característica principal ser responsável pela com-pra dos animais de grande porte (gado bovino e bubalino). Muitas vezes, os marchantes são também produtores, grandes pecuaristas locais, por vezes as-sociados em cooperativas, e donos dos frigoríficos que comercializam carne nessas localidades ou importam o produto de outros estados. Estes têm relati-va facilidade de acesso aos produtores, seja através de embarcações e/ou cami-nhões. Existe uma rede de importadores e comerciantes de carne no estado do

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Amazonas associadas aos comerciantes de outras localidades e outros estados brasileiros alimentando e viabilizando essa atividade produtiva das áreas de várzea.

Considerações finais

A força de trabalho que sustenta as atividades agropecuárias das áreas rurais pesquisadas é constituída por pessoas de todas as idades (crianças, jovens, adultos e pessoas idosas). A mão de obra contratada é exclusivamente para executar servi-ços de limpeza das roças, sítios e transporte de animais da várzea para a terra firme e vice-versa, em épocas das enchentes e vazantes dos rios.

Entre os fatores que garantem a sustentabilidade dos sistemas de produção em áreas de várzea, destaca-se a diversidade de produtos originados na produção agropecuária. A adaptabilidade dos sistemas às incertezas relacionadas ao preço e à demanda pelas variações sofridas pela produção, em função das condições cli-máticas, culturais, sociais, econômicas e políticas, são decisivas. Cada componente possui seu grau de importância no calendário produtivo, conferido pela sazona-lidade na maioria dos produtos oriundos da agricultura, pecuária e extrativismo. Esta peculiaridade é mais marcante e determinante na produção e oferta de de-terminados produtos que exigem dos produtores habilidades para manejar os recursos naturais disponíveis e estruturar complexas redes de organização para a comercialização (SALES, 2005).

Entre os principais motivos que levam o agricultor familiar a optar pela atividade pecuária nas áreas de estudo constam: as características do gado, a proximidade da cidade de Manaus – o principal centro consumidor potencial, a liquidez, a garantia de preço dos produtos e subprodutos e a flexibilidade da época de venda. A pecuária praticada pela empresa familiar do Rio Solimões (Manacapuru, Iranduba e Careiro da Várzea) é focada para atender a um mer-cado mais exigente. Por essa razão, para melhorar a produtividade tem que aumentar a sua dependência por insumos modernos (animais geneticamente melhorados, emprego de herbicidas para controle de plantas pioneiras, dispo-nibilidade de produtos veterinários etc.). Neste caso, os processos envolvidos nessa atividade provocam transformações no uso tradicional do ambiente da várzea.

Na atividade pecuária em área de várzea, a aptidão que melhor se ajusta às ca-racterísticas ambientais locais que são consideradas mais sustentáveis para a pro-dução familiar é a criação de gado para a produção leiteira, podendo até ser uma

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pecuária com dupla finalidade (produção de leite e abate). Entretanto, é necessário avaliar a atividade em longo prazo, tendo em vista que, em âmbito nacional, a pe-cuária de leite de alta qualidade elimina, em longo prazo, os pequenos produtores da cadeia, exceto se tiver integrada à indústria de laticínios, o que já se verifica na região metropolitana da capital.

Referências bibliográficas

BROCK, E. 2001. Sistemas agroflorestais de cultivo e pousio: Etnoconhecimento de agricultores familiares do lago do Paru (Manacapuru-AM). Tese de Doutorado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Fundação Universidade do Amazo-nas, Manaus, Amazonas. 168p.

CHAVES, R. S. 1996. Utilização das várzeas Amazônicas. In: Workshop sobre as po-tencialidades do uso do sistema de várzeas da Amazônia. Manaus. Anais... Manaus: EMBRAPA-CPAA, 1996. p. 22-31.

LIMA, R. R. 1986. Várzeas da Amazônia Brasileira e sua Potencialidade Agropecu-ária. Simpósio do Trópico Úmido, Belém. Anais... Belém: EMBRAPA-CEPATU, 1986. p. 141-164.

MELO, M. L.; MOURA, H. A. 1990. Migrações para Manaus. Recife. FUNDAJ, Editora Massangana. p. 185-193.

MONTEIRO, S. T. 1981. Anotações para uma história rural do médio Amazonas. Manaus: EMATER-Amazonas, 98p.

OHLY, J. J. 2000 Artificial pastures on Central Amazonian Foodplains. In: JUNK, W. J.; OHLY, J. J.; PIEDADE, M. T. F.; SOARES, M. G. M. (Eds.): The Central Amazon foodplain: Actual use and options for a sustainable management, Leiden, p. 291-311.

SALES, J. P. 2005. Agricultura familiar de várzea: componentes do sistema de pro-dução pecuária. Dissertação de mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-zônia/Fundação Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 139p.

STERNBERG, H. O. 1998. A água e o homem na várzea do Careiro. Belém, 330p.

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VEIGA, J. B.; TOURRAND, J. F.; PIKETTY, M. G.; POUCARD-CHAPUIS, R.; ALVES, A. M.; THALES, M. C. 2004. Expansão e trajetória da pecuária na Amazônia: Pará, Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 161p.

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Listagem dos autores

Adilson Rodrigues DANTAS – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Institu-to Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Adriana Dantas GONZAGA – Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Progra-ma de Pós-Graduação em Biotecnologia, Coari, AM.

Angélica Maria Cortês e São Paulo AGUIAR – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Arthur Antunes de Souza CARDOSO – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

Ariel Dotto BLIND – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES – Programa de Pós-Graduação em Agri-cultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

Danilo Fernandes da SILVA FILHO – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Edilingles Pinto VIEIRA – Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas – FCA/UFAM, Manaus, AM.

Ednilson da Silva ALBUQUERQUE – Secretaria do Meio Ambiente, Prefeitura de Pa-rintins, Parintins, AM.

Elizabeth Rodrigues REBOUÇAS – Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas – FCA/UFAM, Manaus, AM.

Fábio Sebastião ARAÚJO – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Tró-pico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

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Francisca Marta Nascimento de Oliveira FREITAS – Universidade Nilton Lins, Ma-naus, AM.

Francisco Manoares MACHADO – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Ins-tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Hiroshi NODA – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Jaime Lopes de PAIVA – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Janaína Paolucci Sales de Lima – Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Ins-tituto de Educação Agricultura e Ambiente – IEAA, Manaus, AM.

Jerusa Souza ANDRADE – Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, Manaus, AM.

Joana D’Arc RIBEIRO – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – In memorian.

Jorge Emídio de Carvalho SOARES – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-IN-PA, Manaus, AM.

Júlio César Delfino RIBEIRO – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

Lúcia Helena Pinheiro MARTINS – Doutoranda em Agronomia Tropical – FCA-UFAM, Manaus, AM.

Luiz Augusto Gomes de SOUZA – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Ins-tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Luty Gomez CACERES – Faculdade de Engenharia, Corporación del Caribe, Since-lejo, Colômbia.

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Manoel de Freitas MENDONÇA NETO – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos, Coor-denação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô-nia – NERUA/CSAS/INPA, Manaus, AM.

Manoel Paulino da COSTA FILHO – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA – Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Manaus, AM.

Marco Antônio de Freitas MENDONÇA – Faculdade de Ciências Agrárias da Uni-versidade Federal do Amazonas – FCA/UFAM, Manaus, AM.

Maria Silvesnízia Paiva MENDONÇA – Núcleo de Etnoecologia na Amazônia Brasi-leira – NETNO-UFAM, Manaus, AM.

Natasha Veruska dos Santos NINA – Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – PPG-ATU-INPA, Manaus, AM.

Pedro Chaves da SILVA – Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM, Manaus, AM.

Sidney Alberto do Nascimento FERREIRA – Coordenação de Biodiversidade do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CBIO/INPA, Manaus, AM.

Silas Garcia Aquino de SOUZA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental – EMBRAPA-CPAA, Ma-naus, AM.

Victor PY-DANIEL – Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Nacional de Bra-sília – ICB-UNB, Brasília, DF.

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Este livro foi impresso em Manaus, em setembro de 2013.

Projeto gráfico, miolo e capa foram realizados pela Wega Editora.

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