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8/18/2019 O_valor_semântico_das_preposições
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O valor semântico das preposições
Chico Viana
A preposição estabelece uma relação de subordinação entre dois termos. O segundotermo, ou consequente, é um substantivo, um pronome ou um verbo no infinitivo.
Exemplos
Gosto de cinema .
Espero por você .
Penso em viajar .
Poucos atentam para o fato de que esses conectivos têm valor semântico. Embora
sejam vocábulos relacionais, preservam um discreto conteúdo significativo e exigem
rigor em seu emprego.
Quando “se conversa com alguém”, a ideia de contato entre os interlocutores
(presente no prefixo) se confirma ou reitera no uso da preposição “com”, queintroduz o objeto indireto – ninguém conversa “em alguém” ou “por alguém” . O
mesmo ocorre com o verbo “concordar”. Já em “discordar”, o prefixo significa
“afastamento”, que é um dos valores da preposição “de”. Então, discorda-se
“de alguém” ou “de alguma coisa”.
Ninguém precisa saber etimologia para usar bem as preposições. Basta ficar atento à
regência, ou seja, ao tipo de conectivo que os verbos transitivos indiretos “pedem”
antes de seus complementos. Por vezes, mais de uma preposição é possível; por
vezes, não.
Exemplo: Luta-se com / contra alguém.
Alguns problemas frequentes na escolha das preposições aparecem nas seguintes
passagens, retiradas de redações:
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1. Discordo plenamente com seu ponto de vista .
É inadequado, como vimos, dizer que alguém “discorda com alguém ou alguma
coisa”. Certamente, o engano se deve à influência do verbo “concordar”, cujocomplemento é introduzido por essa preposição (curiosamente, ninguém diz
“concordo de alguém ou algo”).
2. É preciso refletir em cima das razões que levam nossa educação a ser tão ruim .
Na construção “refletir em cima de”, em vez de “sobre”, ocorre uma tradução
errônea deste último conectivo. Ele tem, entre seus sentidos, o de “posição
superior”, mas esse valor só aparece quando a preposição introduz adjuntoadverbial. Exemplo: O livro está sobre a mesa. (= “em cima da mesa”). Não tem
cabimento estendê-lo a construções com objetos indiretos.
3. Nietzsche critica o fato de as pessoas basearem a autoestima de acordo com a
imagem que os outros têm de nós .
O verbo “basear” rege complemento com a preposição “em”. Sendo assim, baseia-se
a autoestima “na imagem” – e não “de acordo com a imagem” – que os outros
têm de nós.
4. A prova foi adiada em função do alto número de candidatos .
Semelhantemente ao caso anterior, é inadequado trocar “em razão de” por “em
função de”. A primeira locução tem valor causal. Por isso, ajusta-se melhor à frase
do aluno: A prova foi adiada por causa do alto número de candidatos . A segunda,
que significa “na dependência de”, seria pertinente em uma construção do tipo: Ele
vive em função do dinheiro dos pais .
5. Papai sempre deu valor ao estudo. Essa herança foi herdada por meu avô .
O uso da preposição “por” – e não “de” – sugere que o hábito do estudo se
transmitiu, hereditariamente, do pai ao avô. Isso mostra que o emprego indevido das
preposições não apenas infringe a norma culta mas também pode afetar a coerência.
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Usar corretamente esses e outros conectivos – como as conjunções e os pronomes
relativos – concorre para conferir unidade ao texto ou, como diz Umberto Eco, para
lhe dar “beleza lógica” .
FonteREVISTA Língua Portuguesa. Blog Na Ponta do Lápis. Disponível em:
. Acesso em: 21 jul. 2015.
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