Geomorfologia Complexo Laguna

55
MARI ANGELA MACHADO Mapa Geomorfológico preliminar do Complexo Lagunar Sul Catarinense e análise paleoambiental da Lagoa do Imaruí apoiada em furos de sondagem FLORIANÓPOLIS, SC 2008

Transcript of Geomorfologia Complexo Laguna

Page 1: Geomorfologia Complexo Laguna

MARI ANGELA MACHADO

Mapa Geomorfológico preliminar do Complexo Lagunar Sul Catarinense e análise paleoambiental da Lagoa do Imaruí apoiada

em furos de sondagem

FLORIANÓPOLIS, SC

2008

Page 2: Geomorfologia Complexo Laguna

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO -

CCE/FAED

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

MARI ANGELA MACHADO

Mapa Geomorfológico preliminar do Complexo Lagunar Sul Catarinense e análise paleoambiental da Lagoa do Imaruí apoiada

em furos de sondagem

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de Geografia como requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientadora: Profª Drª LÚCIA AYALA

FLORIANÓPOLIS, SC

2008

Page 3: Geomorfologia Complexo Laguna

"Diante da vastidão do tempo e da imensidão do espaço é uma alegria para mim compartilhar uma época e um planeta com você."

Carl Sagan

Page 4: Geomorfologia Complexo Laguna

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus pais, Magali e Bráulio, que sempre

me apoiaram, me incentivaram e orientaram meus passos em todas as

etapas da minha vida.

À minha avó Darcília, pelo seu jeito ímpar, por quem tenho

enorme carinho.

Aos Amigos, que longe ou perto sempre se mantiveram presentes.

À Lúcia, que como professora me acompanhou desde o primeiro

semestre do curso, sempre passando seu conhecimento de forma lúdica.

Agradeço pela orientação na iniciação científica e neste trabalho.

Ao Ricardo e Graciana, também presentes desde o primeiro

semestre do curso, meus ídolos como pessoas e como geógrafos.

Ao Ricardo, novamente, pela grande contribuição neste trabalho e

por ter aceitado fazer parte da banca.

À Graciana, pela ajuda desde o projeto deste trabalho até sua

etapa final, agradeço pela esforço e ajuda para que tudo desse certo.

À Professora Maria Paula, por passar seus conhecimentos em sala

de aula, na iniciação científica, pela ajuda neste trabalho e por aceitar ser

banca examinadora.

Ao Professor Pimenta, Professora Mariane e Professor Chico pela

ajuda em diversos momentos da confecção deste trabalho.

A todos os professores do curso, aos quais eu devo meu

aprendizado nesses quatro anos. Em especial ao Professor Fábio, a quem

eu não poderia deixar de agradecer o apoio em diversos momentos e

expressar o meu carinho.

Agradeço ao Professor Eduardo Soriano-Sierra, pelo auxílio e

empréstimo de materiais.

Page 5: Geomorfologia Complexo Laguna

Aos colegas dos outros cursos, pelos momentos de troca e

amizade.

Agradeço aos colegas de pesquisa Heron e Helô, meus

companheiros de questionamentos e resoluções, agradeço a ajuda em

tantos momentos, em especial na execução deste trabalho. A Helô, pelo

empréstimo de material e pela co-orientação e ao Heron, pela grande

ajuda na confecção dos desenhos da secção geológica.

Aos colegas da geografia, da minha turma e das outras fases, que

participaram dessa etapa da minha vida acadêmica, dos trabalhos, dos

campos e dos momentos de descontração.

Aos colegas do Laboratório de Geoprocessamento Getúlio, João,

Guilherme e Ronan pela boa vontade e disposição em elucidar minhas

dúvidas durante a confecção do Mapa.

À Ana, Elisa e Júlia, que mais que colegas de curso tornaram-se

grandes amigas.

Ao Gilvan, pelo apoio e incentivo, e por estar sempre presente nos

momentos em que mais precisei.

Page 6: Geomorfologia Complexo Laguna

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo realizar o mapeamento geomorfológico do complexo lagunar Santo Antônio dos Anjos da Laguna, entre as áreas municipais de Laguna e Imbituba, e desvendar a evolução dos ambientes costeiros, em parte da Lagoa do Imaruí, entre Laguna e Imaruí. Estes ambientes encontram-se na planície costeira, construída e transformada durante as drásticas variações paleoclimáticas ocorridas no período que compreende o Pleistoceno Superior e o Holoceno. Para a execução deste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica considerando os trabalhos já executados relacionados ao tema e à área de estudo, com a finalidade de obter dados sobre os fenômenos ali ocorridos. Para diagnosticar os ambientes atuais de superfície foi realizada a interpretação das fotografias aéreas da área de estudo em escala 1:60.000, e confeccionado um mapa do Complexo Lagunar em escala 1:100.000. A última etapa foi a análise dos boletins dos furos de sondagem realizados durante os estudos para a duplicação do trecho sul da BR-101, onde pudemos encontrar informações sobre os sedimentos, suas características físicas e seu conteúdo fossilífero. Dessa forma obteve-se uma secção de subsuperfície e determinou-se os ambientes pretéritos dessa porção do complexo lagunar.

4. Palavras-chave: Lagoa do Imaruí, Complexo Lagunar Sul

Catarinense, Evolução Paleoambiental, Variação do Nível do Mar,

Glaciações Pleistocênicas.

Page 7: Geomorfologia Complexo Laguna

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapas: Mapa Geomorfológico do Complexo Lagunar Sul Catarinense

47

Figura 1: Coluna Geológica Simplificada 11

Figura 2: Concheiro em Laguna, SC (próximo à localidade de Perrixil)

14

Figura 3: Modelo Evolutivo da Curva de Variação do Nível do Mar ( alterada de Martin & Suguio, 1986)

15

Figura 4: Localização da área de estudo. 17

Figura 5: Comunidade pesqueira: Porto da Vila 18

Figura 6: Mapa geológico de Santa Catarina 20

Figura 7: Planície do Rio Tubarão 24

Figura 8: Vegetação de influência flúvio-lacustre 28

Figura 9: Morro Grande Vista depois da Ponta de Cabeçudas, sentido Norte-Sul

30

Figura 10: Granito Serra do Tabuleiro 31

Figura 11 Delta do Rio Tubarão, na cidade de Laguna, SC. 32

Figura 12: Planície lagunar da Lagoa do Imaruí 33

Figura 13: Direção das feições deposicionais do terraço lagunar e do terraço marinho/eólico, localizado próximo à foz do Rio Tubarão, Município de Laguna, SC.

34

Figura 14: Antigas cristas praiais, na localidade entre Laguna e Pedra do Frade.

36

Figura 15: Campo de Dunas de Imbituba 37

Figura 16: Seção Geológica esquemática da área da Lagoa de Imaruí, Laguna, SC.

438

Page 8: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 16: Localização dos pontos de sondagem

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. 1

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA.......................... 3

1.2 OBJETIVOS ........................................................ 5

1.3 JUSTIFICATIVA ................................................... 6

1.4 METODOLOGIA.................................................... 8

2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR DURANTE O HOLOCENO..............................

10

3 CARACTERIZAÇÃO da AREA DE ESTUDO ................. 16

3.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA................................. 16

3.2 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA............................. 18

3.3 CLIMA................................................................ 24

3.4 COBERTURA VEGETAL.......................................... 27

4 CARACTERIZAÇÃO DOS AMBIENTES QUE COMPÕEM O ENTORNO DO COMPLEXO LAGUNAR SANTO ANTONIO DOS ANJOS DA LAGUNA.........................

29

4.1 SERRAS DO LESTE CATARINENSE.......................... 29

Page 9: Geomorfologia Complexo Laguna

4.2 UNIDADE COLUVIAL............................................ 31

4.3 DEPÓSITOS FLUVIO-DELTALAGUNARES.................. 32

4.4 PLANÍCIE LACUSTRE ........................................... 33

4.5 TERRAÇO LAGUNAR PLEISTOCÊNICO ..................... 34

4.6 TERRAÇO MARINHO PLEISTOCÊNICO..................... 35

4.7 DEPÓSITO ARENOSO PLEISTOCÊNICO.................... 35

4.8 DEPÓSITO MARINHO HOLOCÊNICO........................ 35

4.9 CAMPOS DE DUNAS MÓVEIS................................. 36

4.10 DEPÓSITO MARINHO/EÓLICO SUB ATUAL............... 37

4.11 DEPÓSITO MARINHO ATUAL (atual linha de costa).....

37

5. ANÁLISE PALEOAMBIENTAL...................................... 38

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................... 41

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................ 44

Page 10: Geomorfologia Complexo Laguna

1 INTRODUÇÃO

A Lagoa de Imaruí localiza-se no litoral Sul do Estado de Santa

Catarina, entre as áreas municipais de Imaruí e Laguna. A Lagoa faz parte

do Complexo Lagunar Santo Antônio dos Anjos, Imaruí e Mirim, o maior

do Estado de Santa Catarina, localizado nas áreas municipais de Imbituba,

Imaruí e Laguna. Está situado na planície costeira, construída a partir das

flutuações do nível relativo do mar resultantes das modificações

paleoclimáticas ocorridas no final do período Quaternário.

Este trabalho apresenta o resultado de duas abordagens de estudo

da área em questão: a classificação dos ambientes que compõem o

Complexo Lagunar Sul Catarinense, através de um mapeamento

geomorfológico, e a análise paleoambiental de uma seção dentro dessa

macro-área de estudo, na Lagoa de Imaruí.

O relevo é o cenário das inter-relações entre geologia e clima de

uma região. É forma resultante- e também condicionante- dos processos

que atuam em uma dada região. A caracterização do ambientes costeiros,

ou seja, o conhecimento dos fatores que controlam a evolução

geomorfológica e paleoambiental da área, permite identificar as

potencialidades e peculiaridades da região em questão. Essas informações

são de grande importância para a gestão do uso e da ocupação do solo

Com o estudo da evolução paleoambiental da Lagoa de Imaruí

pretende-se responder às questões sobre a evolução ambiental da área e

seu entorno, decorrentes dos eventos de transgressão e regressão

marinhos, que ocorreram durante o Pleistoceno Superior e o Holoceno, no

Page 11: Geomorfologia Complexo Laguna

período Quaternário, como já citado.

Assim, através da verificação da evolução dos ambientes

quaternários na área, ou seja, a evolução do nível do mar e a conseqüente

sedimentação local, este estudo visa fornecer informações que auxiliem o

planejamento da ocupação humana na área, levando em conta as

características geológicas, geomorfológicas e as fragilidades deste

ecossistema costeiro. Este estudo vem ao encontro do principal objeto de

estudo da Ciência Geográfica a relação entre sociedade e natureza.

No desenvolvimento do trabalho seguiu-se a metodologia clássica

de pesquisa geológica, qual seja, primeiramente, foi realizado o

levantamento bibliográfico pertinente ao tema e ao local de estudo com o

intuito de levantar e analisar todos os trabalhos anteriormente

desenvolvidos na área, e os seus respectivos resultados. A segunda etapa

do trabalho consistiu na interpretação das fotografias aéreas para

identificar e delimitar as diferentes feições geomorfológicas na superfície

da área de estudo, mapeando e classificando os ambientes ali

encontrados. Para estudar os diferentes ambientes pretéritos que se

estabeleceram na área da Lagoa de Imaruí, e para a confecção da seção

geológica desses paleoambientes, foram utilizados os boletins descritivos

dos testemunhos de sondagem obtidos durante os estudos para a

duplicação do trecho Sul da BR-101 que acompanha o litoral de Santa

Catarina, com orientação aproximada Norte Sul: a análise dos boletins

pretende extrair informações sobre os sedimentos de subsuperfície, tais

como coloração, granulometria e conteúdo fossilífero que apóiam a

interpretação paleoambiental

Page 12: Geomorfologia Complexo Laguna

1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

Assim como tantos outros elementos da Planície Costeira, o

Complexo Lagunar Santo Antônio dos Anjos, Imaruí e Mirim é fruto da

dinâmica costeira no decorrer de importantes variações do nível do mar

durante o Quaternário, associadas às drásticas modificações

paleoclimáticas ocorridas durante este período.

Os ambientes litorâneos são caracterizados como ambientes

geológica e geomorfologicamente inconsolidados. Segundo Suguio (2003),

são regiões que se mantêm sob condições de equilíbrio dinâmico e não de

equilíbrio estático. Configuram áreas muito suscetíveis a mudanças,

podendo ser afetadas em diversas escalas temporais e espaciais, sofrendo

importantes transformações, que podem ou não ser reversíveis.

A ocupação humana na zona costeira, caracteristicamente suscetível

a fenômenos naturais, faz com que esses eventos se intensifiquem ou

sejam considerados catastróficos:

A presença do Homem constitui a razão da existência dos perigos naturais (natural hazards) e dos riscos, já que os fenômenos naturais constituem eventos normais e freqüentemente até previsíveis. Porém, a maior dificuldade no enfrentamento destas questões relaciona-se à ocupação indevida, de regiões com potenciais perigos naturais , muitas vezes por razões essencialmente políticas e /ou sócio-econômicas. (SUGUIO, 2003, p. 30)

Dessa forma, a ocupação antrópica em áreas litorâneas deve ocorrer

mediante bom planejamento, que possa determinar e levar em conta os

Page 13: Geomorfologia Complexo Laguna

impactos ambientais para a região e os riscos para as populações ali

fixadas.

O Complexo Lagunar Imaruí, Mirim e Santo Antonio é um típico

conjunto ambiental costeiro, que necessita de planejamento para uma

ocupação racional.

Page 14: Geomorfologia Complexo Laguna

1.2 OBJETIVOS

a) Objetivo Geral

- Caracterizar as feições geomorfomológicas da lagoa e seu entorno,

decorrentes, em grande parte, dos eventos de transgressão e regressão

marinhos, durante o Pleistoceno superior, período Quaternário.

b) Objetivos Específicos

Determinar a sedimentação quaternária da área, através do

mapeamento geomorfológico;

Verificar a evolução dos ambientes quaternários na Lagoa de

Imaruí;

Produzir um mapa geomorfológico que, além da informação

científica que aportará, fornecerá informações que auxiliarão a gestão

costeira na definição de uma melhor forma de ocupação do solo levando

em conta as características geológicas, geomorfológicas e as fragilidades

deste ecossistema costeiro;

Fazer um estudo da geologia de subsuperfície e produzir um

levantamento preliminar dos paleoambientes estabelecidos nessa área

durante o Quaternário superior.

Page 15: Geomorfologia Complexo Laguna

1.3 JUSTIFICATIVA

O estudo e caracterização dos fatores geológicos e geomorfológicos

que comandam a dinâmica das zonas costeiras é um importante

instrumento para a gestão dessas áreas de transição entre o oceano e o

continente, já que permite identificar os pontos mais suscetíveis aos

impactos e aos estressores decorrentes do adensamento populacional e da

exploração não planejada dos recursos naturais.

os fatos geomorfológicos constituem uma das bases para o conhecimento de espaços ambientais, com fins aos estudos de organização das paisagens costeiras. Estão, em escala menor, baseados em formações geológicas, topografia, formas de relevo e bacias fluviais, cuja drenagem atua com a ação do escoamento fluvial, pluvial e subterrâneo. Unido aos processos de intemperismo e pedogênese, o escoamento trabalha as linhas litotectônicas, fazendo o relevo modificar suas formas. (CRUZ, 1998)

Também devemos lembrar que as zonas costeiras representam

áreas de grande importância econômica, congregando atividades

pesqueiras, turísticas, portuárias, entre outras.

O estudo das variações do nível do mar mostra-se de alta

relevância, visto que dois terços da população do planeta vive no litoral

(SUGUIO, 2003). Do ponto de vista da geografia humana e econômica,

temos que questionar o que ocorreria com a possibilidade da transferência

da linha de costa para um nível abaixo ou acima do atual.

Page 16: Geomorfologia Complexo Laguna

O desaparecimento possível de cidades costeiras constitui um assunto de preocupação suficientemente importante para justificar os esforços desenvolvidos para estudar esta eventualidade, mesmo que a probabilidade de tal cataclisma venha a ocorrer seja muito remota. (MARTIN, 1986, p. 72)

O afogamento de rios, ou a transferência de seus deltas para níveis

mais baixos, ou o afogamento de lagoas e lagunas, ou seu enxugamento,

alteram consideravelmente a dinâmica regional e a paisagem e,

conseqüentemente, terão impacto nas atividades antrópicas ali realizadas.

Do ponto de vista científico e prático, a reconstrução das antigas

linhas de costa pode ser de grande ajuda na pesquisa para ocupação e

gestão da zona costeira. Além disso, o estudo de antigas situações pode

talvez nos permitir fazer algumas previsões sobre a evolução da situação

atual (MARTIN, 1986).

Neste estudo, portanto, será apresentado o mapeamento

geomorfológico do Complexo Lagunar Sul Catarinense e a análise

paleoambiental da Lagoa do Imaruí, com o intuito de gerar subsídios para

serem utilizados na preservação e no planejamento do uso do solo da área

específica de estudo, e/ou de quaisquer outros ambientes costeiros de

desenvolvimento semelhante.

Page 17: Geomorfologia Complexo Laguna

1.4 METODOLOGIA

Primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica pertinente ao

tema e ao local de estudo com o intuito de coletar dados sobre fenômenos

ocorridos num passado geológico, procurando elementos para a

compreensão do presente. Outros documentos de apoio, como o mapa

geológico do sudeste catarinense (CARUSO, 1995), fotografias aéreas e

registros fotográficos também foram utilizados com este fim.

A segunda etapa do trabalho consistiu na interpretação das

fotografias aéreas para caracterizar a sedimentação quaternária e sua

relação com o embasamento cristalino na superfície da área de estudo e

seu entorno, classificando os ambientes ali encontrados mediante a

confecção de mapa geomorfológico, escala 1:100.000, utilizando Sistemas

de Informações Geográficas (ARCGIS).

A área de interpretação fotogramétrica foi ampliada, incluindo todo

o sistema lagunar, para respeitar a continuidade física das unidades

geomorfológicas da Lagoa do Imaruí ao longo de seu entorno.

A interpretação das fotografias aéreas foi feita utilizando

estereoscópios de mesa da marca Carl Zeiss. Foram utilizadas as

fotografias aéreas da cobertura do Estado realizada em 1964, em escala

1: 60 000, gentilmente cedidas pelo DNPM/SC. A razão para a utilização

das fotografias aéreas de 1964 é a pouca antropização da área em estudo

nessa época, além de que a escala desse levantamento, 1:60.000, é

adequada e suficiente para a realização das análises. Para algumas

Page 18: Geomorfologia Complexo Laguna

faixas, por ausência de fotografias, foram utilizada imagens do programa

Google Earth.

O mapeamento geomorfológico foi realizado partindo da elaboração

da base de dados, que consistiu na construção de um mosaico, utilizando

as fotografias e as imagens. O mapa preliminar, produto da

fotointerpretação, foi escaneado, e depois sobreposto às imagens do

Google, no programa ArcView 9 da ESRI. O mosaico final foi

georreferenciado, usando uma base cartográfica 1:60.000. Foram

escolhidos em média 5 pontos de cada foto para fazer o

georeferenciamento, tomando como referência estradas e feições

geológicas conspícuas da área de estudo.

Para estudar os ambientes pretéritos e para a confecção da secção

paleoambiental da Lagoa de Imaruí foram utilizados os boletins dos furos

de sondagem realizados durante os estudos de duplicação do trecho Sul

da BR-101, onde podemos encontrar informações sobre os sedimentos

como coloração e granulometria, relações estratigráficas e conteúdo

fossilífero.

Através da análise destes boletins, foi possível determinar a

sedimentação quaternária da região e a evolução dos ambientes que ali se

desenvolveram e, conseqüentemente, reconstruir a evolução histórica do

nível do mar local, usando como recorte de trabalho a parte da Lagoa

onde os estudos para a duplicação foram concebidos.

Este trabalho de Conclusão de Curso originou-se a partir do projeto

de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório de Geologia e Mineralogia da

UDESC, denominado Evolução Paleoambiental da Costa Sul Catarinense .

Tendo definido o tema do TCC, as observações de campo e a pesquisa

bibliográfica já foram iniciadas nessa época.

A última etapa do trabalho foi a confecção de uma secção geológica

paleoambiental da Lagoa de Imaruí, utilizando programas de desenho

gráfico.

Page 19: Geomorfologia Complexo Laguna

2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR

DURANTE O QUATERNÁRIO

A origem das variações paleoclimáticas é complexa e resulta da

interação de diversos fenômenos astronômicos, geofísicos e geológicos.

Sendo assim, não existe uma única causa para uma mudança climática,

mas sim a interação de duas ou mais causas (MARTIN, 1986).

De acordo com Ayoade (1991) os mecanismos suscetíveis de

provocar variações paleoclimáticas estão associados a diversos

fenômenos, entre os quais podemos destacar a três categorias:

- causas terrestres;

- causas atronômicas;

- causas extraterrestres.

Na categoria das causas terrestres as mudanças climáticas são

associadas às variações nas condições terrestres, como migração polar e

deriva continental, mudanças na topografia da terra, variações na

composição atmosférica, mudanças na distribuição das superfícies

continentais hídricas e variações na cobertura de neve e gelo

Na categoria das causas astronômicas as mudanças climáticas

baseiam-se nas mudanças da geometria da terra, como alteração da

excentricidade da órbita, mudanças na precessão dos equinócios e

mudanças na obliqüidade do plano da eclíptica.

Por fim, a categoria das causas extraterrestres relaciona as

mudanças climáticas à atividade solar, como as variações da quantidade

Page 20: Geomorfologia Complexo Laguna

de energia solar que chega à terra e as variações na absorção da

radiação solar exterior à atmosfera terrestre (AYOADE, 1991).

Os dados acerca do clima mundial cós mais tornam-se mais

confiáveis à medida que consideramos períodos geológicos mais recentes.

Desta forma, sabe-se mais a respeito das variações climáticas durante o

Pleistoceno (Figura 1) que durante o período Terciário (AYOADE, 1991).

O Quaternário foi um período de grandes oscilações climáticas, com

intervalos de glaciação, onde as temperaturas eram muito baixas, e

intervalos de interglaciação, com temperaturas mais amenas (SALGADO-

LABOURIAU, 1994).

Era Período Época Duração em m.a. Milhões de anos atrás

Holoceno Últimos 11 mil anos Quaternário

Pleistoceno 1,8 1,8 Plioceno 6 7 Mioceno 19 26 Oligoceno 12 38 Eoceno 16 54

Cenozóica Terciário

Paleoceno 11 65

Cretáceo 71 136 Jurássico 54 190 Mesozóica Triássico 35 225

Permiano 55 280 Carbonífero 65 345 Devoniano 50 395 Siluriano 35 430 Ordoviciano 70 500

Paleozóica

Cambriano 70 570

Pré-Cambriano 4030 4600 Figura 1: Coluna Geológica Simplificada

Nos estádios glaciais, há expansão das geleiras, ocorre retenção de

grandes volumes de água sobre os continentes, e verifica-se a descensão

do nível relativo do mar. Este fenômeno recebe o nome de regressão

marinha. De maneira oposta, nos estádios interglaciais há retração das

Page 21: Geomorfologia Complexo Laguna

geleiras, e conseqüente ascensão do nível relativo do mar, a chamada

transgressão marinha (SUGUIO, 2003).

As variações do nível relativo do mar ocorridas durante o

Quaternário, no Holoceno Superior, são responsáveis pela construção e

constante transformação das planícies costeiras.

O avanço e recuo da linha de costa, através da ação das ondas, marés, correntes marinhas e ventos, associados aos efeitos das mudanças do nível do mar, em contato com uma diversidade de conjuntos morfológicos e ecodinâmicos existentes em ambientes continentais, mistos e marinhos, produziram como resultado extensas planícies costeiras ao longo do litoral brasileiro. MEIRELES, 2002, p.79).

Portanto, além dos fatores como energia das ondas, amplitudes de

marés e cargas fluviais (SUGUIO, 1999), as variações de nível relativo do

mar também desempenham papel considerável na sedimentação costeira.

A integração dos processos morfogenéticos - fluxos de sedimentos e ação

dos ventos, ondas, marés e correntes marinhas e os processos

transgressivos e regressivos é o que caracteriza a planície costeira

quaternária.

A dinâmica costeira se comporta de formas distintas durante os

eventos de subida e descida do nível relativo do mar. Nos períodos

interglaciais, onde ocorre aumento do nível marinho, os sistemas ilhas-

barreira/lagunas são dominantes, a linha de costa adentra o continente,

assim como os rios, que têm seus deltas afogados e constroem deltas

intralagunares ou intra-estuarinos. Durante os eventos de descida do nível

do mar o processo de construção e manutenção dos sistemas ilhas-

barreira/lagunas (Figura 3) é desfavorecido. Os rios avançam sobre a área

que até aquele momento constituía a plataforma continental, e seus deltas

deslocam-se proporcionalmente em direção a borda da plataforma e ao

oceano. As áreas que hoje constituem lagunas e baías faziam parte, nesse

momento, do continente interior, isto é, encontravam-se emersas

(SUGUIO, 1999).

Page 22: Geomorfologia Complexo Laguna

Estes processos transgressivos e regressivos, então, são

responsáveis, em grande parte, pela origem e desenvolvimento de uma

série de geoelementos: terraços marinhos, sistemas estuarinos, lagoas e

lagunas costeiras, gerações de dunas, paleoplataformas de abrasão,

paleomangues, rochas de praia, antigos corais e linha de praia atual

(MEIRELES, 1999).

Essas formações testemunham as oscilações do nível marinho e as

influências paleoclimáticas durante o Quaternário, e classificam-se como

evidências que podem ser de natureza geológica, biológica ou pré-

histórica.

Os exemplos de indicadores geológicos são as rochas praiais e os

terraços marinhos (de construção ou de abrasão). Os indicadores

biológicos, por sua vez, são representados por restos biogênicos de

animais ou vegetais marinhos e restos de vegetais típicos de manguezais

encontrados atualmente em posição não compatível com seus hábitos de

vida. Os principais indicadores pré-históricos, no Brasil, são os sambaquis,

quando localizados distantes (emersos ou submersos) das posições atuais

de linha de costa (SUGUIO et al, 1985).

Em grande parte do litoral catarinense podemos encontrar diversas

ocorrências de depósitos de conchas calcárias (sambaquis). O Complexo

Lagunar Sul Catarinense impressiona pela quantidade e dimensões desses

concheiros (Figura 2) que, além de representar valor pré-histórico

(GIANNINI, 2002), são amplamente utilizados como mineral destinado ao

uso nos setores das indústrias agrícolas, de celulose, cerâmica e para a

produção de ração para animais (CARUSO, 1995).

Page 23: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 2: Concheiro em Laguna, SC (próximo à localidade de Perrixil)

O fato de algumas evidências não serem encontradas

generalizadamente ao longo do litoral possivelmente está relacionado com

a erosão provocada durante a última transgressão (MEIRELLES, 1999).

De acordo com esses indicadores de níveis marinhos pretéritos,

citados anteriormente, Martin & Suguio (1986, apud CARUSO, 1993)

construíram um modelo evolutivo (Figura 3) para a Planície Costeira

Catarinense. Embora as reconstruções de antigas oscilações do nível do

mar não tenham sido satisfatórias, obtiveram-se dados capazes de

fornecer um modelo dos últimos sete mil anos, que mostra as curvas de

flutuação do nível relativo do mar no período considerado. Utilizando

essas informações e combinando-as com o modelo de Villwock et al

(1986), Caruso (1995) sugere sete estágios evolutivos para a costa Sul

Catarinense. Deste modelo, registramos resumidamente os estágios em

que encontramos testemunhos na área de estudo:

O Estádio IV corresponde à Trans-Regressão do Pleistoceno III .

Seus depósitos constituem Terraços arenosos que podem atingir a altura

de 10 metros.

O Estádio V representa o máximo da Transgressão holocênica. Neste

momento a subida no nível marinho afogou o Sistema Lagunar antigo, das

Page 24: Geomorfologia Complexo Laguna

lagoas Mirim, Imaruí, Santo Antônio e Garopaba do Sul. Afogou os baixos

curso fluviais e erodiu antigos terraços marinhos. É nesse estágio que se

formam as ilhas barreiras que mais tarde isolaram novos sistemas

lagunares.

O sexto (VI) estágio construiu o delta intra-lagunar do Rio Tubarão,

na lagoa de Santo Antônio, formada na transgressão anterior.

Por fim, o Estádio VII representa o início do abaixamento do nível do

mar após o máximo transgressivo de 5.150 anos A.P. Este evento resultou

na construção de terraços marinhos, na progradação da linha de costa,

deixando como registro as planícies de cordões litorâneos.Deste ponto em

diante o nível mar entrou em fase predominantemente regressiva,

apresentando somente pequenos episódios transgressivos. Deste ponto

em diante, deu-se início à secagem das lagunas.

Figura 3: Modelo Evolutivo da Curva de Variação do Nível do Mar para a região Sul (alterada de Martin & Suguio, 1986, apud Caruso, 1993)

Page 25: Geomorfologia Complexo Laguna

3 CARACTERIZAÇÃO da ÁREA DE ESTUDO

3.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:

O Complexo Lagunar Sul Catarinense está localizado ao Sul do estado de

Santa Catarina, entre as áreas municipais de Imbituba e Laguna. Constitui

um corpo lagunar compartimentado em três setores, onde podemos

distinguir a Lagoa do Mirim, Lagoa de Imaruí e Lagoa de Santo Antônio.

A Lagoa de Imaruí, possuindo uma área de 86,42 km², é a maior do

complexo.Lagunar Sul Catarinense. Localiza-se parte no município de

Laguna e parte no município de Imaruí.

É margeada a oeste pelos contrafortes da Serra do Tabuleiro, a leste pelos

cordões litorâneos arenosos, e ao norte e ao sul faz contato,

respectivamente, com a Lagoa do Mirim e com a Lagoa de Santo Antônio

Page 26: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 4: Localização da área de estudo Fonte : Imagem de satélite retirada do GoogleEarth; escala aproximada 1: 113 000.

Page 27: Geomorfologia Complexo Laguna

Ao longo da Lagoa se distribui grande número de comunidades

pesqueiras (Figura 5), como Cabeçudas, Ponta da Laranjeira, Bentos, Sítio

Novo, Pescaria Brava, Porto da Vila, Siqueira, Perrixil, Samambaia, Ponta

Grossa. Como atividade econômica na Lagoa, os moradores exercem a

pesca artesanal, a carcinicultura e o turismo.

Figura 5: Comunidade pesqueira: Porto da Vila Foto: Wagner Figueiredo

3.2 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA REGIONAL

Representando 4,35% da superfície do Estado (ROSA & HERRMANN,

apud SANTA CATARINA, 1986), o litoral catarinense apresenta a

característica contrastante entre amplas planícies costeiras, constituídas

de cobertura sedimentar quaternária, interrompidas pela presença de

rochas do embasamento cristalinos próximo a linha de costa, na forma de

promontórios, pontais, penínsulas e ilhas (CARUSO, 1993 e VILLWOCK,

1994 ).

Page 28: Geomorfologia Complexo Laguna

Sua largura é condicionada pela presença do embasamento

cristalino e constituída por depósitos sedimentares emersos da Planície

Costeira, depósitos litorâneos praiais e sedimentos submersos da

plataforma continental adjacente, relacionados às variações do nível do

mar ocorridas no período quaternário (VILLWOCK, 1994).

Page 29: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura

6:

Map

a geo

lógic

o d

e San

ta C

atar

ina

Fo

nte

: SAN

TA C

ATARIN

A,

1986

Page 30: Geomorfologia Complexo Laguna

Os domínios estruturais são a instância que organiza a causa dos

fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia, como os

elementos geotectônicos, os grandes arranjos estruturais e,

eventualmente a predominância de uma litologia conspícua. Regiões

geomorfológicas são uma compartimentação reconhecida regionalmente e

essencialmente ligadas a fatores climáticos atuais ou passados e/ou a

fatores litológicos. E, por fim, as unidades geomorfológicas são o arranjo

de formas de relevo fisionomicamente semelhantes em seus tipos

modelados (SANTA CATARINA, 1986).

Segundo Caruso Jr (1995), podemos encontrar dois domínios

morfoestruturais na área de estudo. O primeiro, o domínio dos

Embasamentos em Estilos Complexos, é representado pela região

geomorfológica das Serras do Leste Catarinense, com sua unidade

geomorfológica denominada Serras do Tabuleiro/Itajaí. O segundo

domínio morfoestrutural dos Depósitos Sedimentares abrange a região

geomorfológica das Planícies Costeiras, onde se destacam a unidade

geomorfológica das Planícies Aluvionares-deltáicas e a unidade

geomorfológica das Planícies Litorâneas.

A unidade geomorfológica Serras do Tabuleiro/Itajaí é

caracterizada por um relevo de encostas íngremes e vales profundos, com

intensa dissecação. As áreas com maiores elevações ocorrem na Serra do

Tabuleiro, com até mais de 1200 metros em alguns pontos e, ao se

aproximar da linha de costa, assume altitudes gradativamente menores,

atingindo menos de 100 metros junto ao litoral. Na parte leste, esta

unidade é encontrada na forma de pontais onde se apóiam os sedimentos

recentes. Conforma ainda, na região litorânea, praias, penínsulas e ilhas.

Na parte leste os relevos desta unidade estão dispostos em meio às planícies litorâneas. Esses relevos antigamente constituíam ilhas que posteriormente foram ligadas ao continente pelos sedimentos marinhos. (CARUSO JR, 1995)

Page 31: Geomorfologia Complexo Laguna

As unidades geológicas que compõem a Serras do Leste

Catarinense fazem parte do chamado Escudo Catarinense, e estão

parcialmente recobertas, a oeste, por rochas vulcânicas e sedimentares da

Bacia do Paraná. As rochas sedimentares preenchem vales entalhados nos

corpos graníticos, e as rochas vulcânicas da região costeira se apresentam

na forma de diques de diabásio ao longo de falhas e fraturas.

Geomorfologicamente, segundo Caruso Jr (1995, p.11) as Serras

constituem-se de:

Terrenos Cristalinos, cujas escarpas chegam até o mar sob a forma de promontórios, na qual costões rochosos se alternam com reentrâncias, quase sempre controlados pela tectônica onde, associadas ou não à desembocadura dos principais cursos fluviais, ocorrem pequenas planícies costeiras construídas por sedimentos acumulados em sistemas deposicionais continentais, transicionais e marinhos. Estas terras baixas constituem a porção mais proximal, emersa, da plataforma de Florianópolis que se estende em direção ao oceano.

A unidade geomorfológica das Planícies Fluviais, ou Planícies

Aluvionares-deltáicas são as áreas planas situadas junto aos cursos d água

e sazonalmente e/ ou periodicamente inundadas. Constitui-se de um

sistema acumulativo de origem marinha e flúvio-marinha, composta de

manguezais, aluviões e terraços arenosos (SANTA CATARINA, 1986).

A unidade geomorfológica Planícies Litorâneas corresponde a uma

estreita faixa localizada a oeste do Oceano Atlântico constituída de praias

arenosas e sistemas de dunas construídos por processos marinhos e

eólicos. É uma unidade bastante diversificada, composta por baías,

pontais, penínsulas, enseadas, lagoas e lagunas, entre as quais se

desenvolvem baixadas litorâneas descontínuas e planícies arenosas que

abrigam inúmeras praias.

No primeiro segmento do litoral esses depósitos encontram-se

recortados por pontas, enseadas, baías, enquanto que no segundo

segmento mostram-se mais contínuas, inicialmente estreitas, alargando-

se progressivamente para o sul até a divisa com o Rio Grande do Sul.

Page 32: Geomorfologia Complexo Laguna

(BORTOLUZZI, 1997). Nessa região surgem diversas formações lacustres,

onde as áreas municipais de Garopaba e Imbituba representam o início da

zona fisiográfica das lagunas do Sul do Brasil (Martin et al, 1988b, apud

GIANNINI 2002) e o marco da mudança nas características da costa é

representado pelo Cabo de Santa Marta:

As planícies largas e contínuas a sul do cabo dão lugar rumo norte a paisagem dominada por baías, pequenas lagunas, ilhas e praias recortadas pelo embasamento proterozóico. Paralelamente, a plataforma continental interna torna-se mais estreita e íngreme. Nesse contexto o Cabo de Santa Marta tem sido adotado como fronteira geográfica natural entre o litoral Sul e o litoral Sudeste do país. (GIANNINI 2002, p. 214)

Outra singularidade desta região, do ponto de vista

geomorfológico, é a desembocadura do Rio Tubarão (Figura 7), com o

maior exemplo de delta lagunar ativo da costa brasileira (GIANNINI, 2002,

p. 214):

O delta encaixa-se como uma das peças de um complexo mosaico de processos eólicos, lagunares e marinhos interdependentes. Esta situação confere aos depósitos quaternários da área uma diversidade faciológica maior que a da costa paranaense e sul-paulista, e comparável a do Rio Grande do Sul, da qual se difere, porém, pelo contexto de costa mais recortada pelo embasamento proterozóico. Uma conseqüência deste último aspecto é o maior desenvolvimento de dunas e paleodunas eólicas sobre elevações do embasamento.

O Rio Tubarão é um dos principais sistemas fluviais que drenam a

planície costeira catarinense. A bacia lagunar recebe a carga clástica

trazida pelos rios que, além de assorear antigos vales criados em período

de regressão marinha, fazem com que o sistema deltaico progrida para o

interior da Lagoa de Santo Antônio (CARUSO, 1995).

Page 33: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 7: Planície e desembocadura do Rio Tubarão, Laguna, SC Fonte: Google Earth

3.3 CLIMA

O clima de uma determinada região é formado pela dinâmica dos

sistemas atmosféricos com seus respectivos tipos de tempo e pela

influência de fatores como a latitude, a altitude, o relevo, o solo, a

cobertura vegetal, a continentalidade e a maritimidade (MONTEIRO,

2001).

O clima da região em estudo é influenciado por dois fatores

principais: sua posição latitudinal, localizada fora dos trópicos, recebendo,

por isso, menos quantidade de radiação solar (SANTA CATARINA, 1986);

e o relevo, onde os sistemas atmosféricos aliados às diferenças de

altitudes da planície litorânea, das serras cristalinas e do planalto resultam

em variações climáticas ao longo do estado (MONTEIRO, 2001).

De acordo com Monteiro (2001), o relevo também contribui para a

precipitação distinta existente nas diversas áreas do Estado de Santa

Page 34: Geomorfologia Complexo Laguna

Catarina. Nas localidades mais próximas às encostas das montanhas (do

lado do barlavento), onde a elevação do ar quente e úmido favorece a

formação de nuvens cumuliformes, as precipitações são mais abundantes.

Sendo assim, é possível encontrar na zona costeira, em cidades como

Laguna e Araranguá, índices de pluviosidade com porcentagem inferior a

50% em relação às localidades próximas à escarpa da serra.

Das classificações climáticas mais utilizadas, a mais indicada é a de

Strahler, onde o tipo climático da região Sul se enquadra no Grupo II:

Clima das Latitudes Medias Tipo Subtropical Úmido .

Os climas correspondentes a este grupo se encontram em uma

área de intensa interação entre massas de ar de diferentes propriedades,

as polares e as tropicais. Esta classificação também é utilizada pela equipe

do projeto RADAMBRASIL e GAPLAN/SC (SANTA CATARINA, 1986), ao

analisar o clima do Estado:

O Brasil Meridional está associado ao Grupo dos Climas Controlados por Massas de Ar Tropicais e Polares, filiando-se ao Tipo dos Climas Úmidos das Porções Orientais e Subtropicais dos Continentes Dominadas por Massas Tropicais Marítimas.

A vantagem desse sistema é que ele é genético, isto é, a origem

das massas de ar é levada em consideração, condição básica para

conhecer o clima de uma região:

Para a compreensão da dinâmica atmosférica a nível local faz-se necessária a observação dos anticiclones polares, centros de ação das massas polares, e do Anticiclone Semi-fixo do Atlântico Sul, centro de ação da Massa Tropical Atlântica. (MONTEIRO, 1995, p. 123)

Os sistemas atmosféricos que atuam na região Sul, segundo equipe

do projeto RADAMBRASIL e GAPLAN/SC (SANTA CATARINA, 1986), são

controlados pela ação das massas de ar intertropicais (quentes) e polares

(frias), sendo estas últimas responsáveis pelo caráter mesotérmico do

clima.

As condições de chuvas e temperaturas têm relação imediata com

as atuações da Massa Tropical Atlântica e da Massa Polar Atlântica. A

Page 35: Geomorfologia Complexo Laguna

Massa Tropical Atlântica é originada no anticiclone semifixo do Atlântico,

que atua ao longo de todo o ano na região Sul. Nos dias de verão, as

condições de tempo sob o domínio desta massa de ar são de dias com

pouca nebulosidade, ventos fracos, umidade relativa do ar máxima

durante o período matutino, diminuindo relativamente durante a tarde. A

amplitude térmica varia entre 22°C e 30°C. Freqüentemente forma

nebulosidade e chuva rápida, os chamados aguaceiros (Monteiro, 1995).

Outra massa de ar que atua na região sul é a Massa Tropical

Continental, caracterizada por possuir baixa umidade, altas temperaturas

(superiores entre 22°C e 33°C), ventos de pouca intensidade e por

dificultar a formação de nuvens.

A terceira massa de ar que atua principalmente no verão é a Massa

Equatorial Continental (mEc), caracterizada pela alta porcentagem de

umidade do ar e a intensa formação de nuvens, trazendo chuvas fortes e

trovoadas. É a responsável pelos elevados níveis de pluviosidade

registrados nessa estação, no litoral catarinense (Monteiro, 1995).

Além dessas massas, que fazem parte da circulação normal,

existem sistemas de baixa pressão, que atuam, sobretudo, no verão. São

zonas de convergência de ventos úmidos, que trazem chuvas. A região Sul

sofre influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). As

ZCAS correspondem às linhas de instabilidade tropicais (IT), formam uma

longa e larga faixa de nebulosidade, orientada de NW/SE, que se estende

desde o sul da Amazônia até o centro do Atlântico Sul. São comuns no

verão, trazendo chuvas no fim da tarde, as chamadas chuvas de verão

(MONTEIRO, 1995).

Page 36: Geomorfologia Complexo Laguna

3.4 COBERTURA VEGETAL

Segundo Klein (1978), nas áreas de sedimentação marinha e

terrestre, como a planície quaternária, encontramos uma floresta bem

característica, adaptada às condições edáficas destas planícies úmidas: a

Floresta Tropical das planícies quaternárias.

Nesses locais de água doce, como lagoas, lagoinhas, beira de rios

da zona litorânea aparecem espécies vegetais de influência flúvio-lacustre,

adaptadas às condições de excesso de água. (REITZ, 1961, p. 47).

No entorno da Lagoa de Imaruí, podemos encontrar os dois tipos

de mata representantes da Floresta tropical das planícies quaternárias do

Sul.

Na planície da lagoa, ou seja, na área que se mantém sazonal ou

permanentemente encharcada, encontramos um tipo de vegetação

característica de solos úmidos. A maior quantidade dessa vegetação,

(NEMAR, 1993), pode ser encontrada nas proximidades e áreas de

influência dos rios (Figura 8) que deságuam no complexo lagunar em

decorrência do aporte de água doce, e também do grande volume de

sedimentos trazidos através dos cursos d água.

Como exemplos desses indivíduos podemos citar o ipê amarelo

(Tabebuia umbellata), a figueira de folha miúda (Ficus orgamensis), o

araçazeiro (Marlierea parviflora) e os guaramirins (Myrcia dichrophyla e

Myrcia glabra), considerados as espécies que caracterizam esta mata.

Page 37: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 8: Vegetação de influência flúvio-lacustre. Rio das Garças, Imaruí, SC.

Nas áreas mais secas, chamadas planícies de solos enxutos,

encontramos uma floresta que se torna mais densa e mais exuberante

que a encontrada nas planícies úmidas. Dentre as árvores que se

destacam estão o baguaçu (Talauma ovata) e a peroba vermelha

(Aspidodperma olivaceum)( REITZ, 1961).

Em direção às encostas essa mata se torna mais densa, devido às

condições edáficas e climáticas.

LAGOA DE IMARUÍ

Page 38: Geomorfologia Complexo Laguna

4 CARACTERIZAÇÃO DOS AMBIENTES QUE COMPÕEM O ENTORNO

DO COMPLEXO LAGUNAR SANTO ANTÔNIO DOS ANJOS DA LAGUNA

O Complexo Lagunar está situado na Planície Costeira de Santa

Catarina, que é composta de depósitos eólicos (de diversas gerações),

depósitos turfáceos, depósitos deltáicos intralagunares, depósitos

lagunares e cordões litorâneos de diversas idades (CARUSO, 1993). A

seguir, a descrição das feições analisadas no mapeamento geomorfológico

do entorno do corpo lagunar:

4.1 SERRAS DO LESTE CATARINENSE (Ambiente de elevações cristalinas)

Dispostas em meio à planície litorânea, constituíam, no passado,

ilhas que hoje estão ligadas ao continente através dos processos de

sedimentação marinha (SANTA CATARINA, 1986).

Esta unidade é intensamente dissecada pelo sistema de drenagem, que

por sua vez, é controlado estruturalmente pelas fraturas do

embasamento. Dessa forma, o relevo se apresenta caracterizado por

encostas íngremes e vales profundos.

Na área de estudo esta unidade geomorfológica está estruturada sobre

duas unidades geológicas distintas:

a) Granitóide Pedras Grandes: encontrados na área de estudo

nas pontas, nos costões, aflorando em meio aos depósitos quaternários e

terciários e entre as lagoas de Santo Antônio e Imaruí (Figura 9). Segundo

Page 39: Geomorfologia Complexo Laguna

Caruso (1995), são rochas graníticas de coloração rósea constituídas por

minerais como o quartzo, plagiolásio, feldspato potássico e a biotita.

Figura 9: Morro Grande, constituído pelo Granitóide Pedras Grandes Vista depois da Ponta de Cabeçudas, sentido Norte-Sul Fonte: Foto Mari Angela Machado

b) Granito Serra do Tabuleiro: situado a oeste das lagoas, esta

feição geológica apresenta rochas mesoscopicamente homogêneas,

equigranulares grossas a médias. Os principais minerais são feldspato

alcalino, quartzo e plagioclásio

Page 40: Geomorfologia Complexo Laguna

Figura 10: Granito Serra do Tabuleiro. Na área molhada identifica-se melhor a boa cristalização dos feldspatos. Fonte: Foto Maria Paula Casagrande Marimon

4.2 UNIDADE COLUVIAL

Consistem em depósitos de base de encosta gerados pelo

transporte de materiais, através de processos gravitacionais e aluviais.

Apresentam-se na forma de rampas e devem sua geomorfologia aos

vários pontos de afluxo de sedimentos que favorecem a coalescência dos

leques, e também ao efeito de retrabalhamento e erosão posteriores.

Estes ambientes colúvio-aluvionares fazem parte do Sistema

Deposicional Continental. Trata-se de depósitos inconsolidados e mal

classificados, sendo constituídos por cascalhos, seixos, areias e argilas

(CARUSO, 1995). Esse material é normalmente de origem continental, às

vezes com contribuição fluvial, compostos por areias de granulometria

grosseira, com seixos esparsos e matriz síltico-argilosa. Em muitos locais,

Page 41: Geomorfologia Complexo Laguna

esses depósitos de encostas aparecem interdigitados com terraços

marinhos pleistocênicos (CARUSO, 1993).

4.3 DEPÓSITOS FLUVIO-DELTALAGUNARES

Relacionados aos rios que deságuam nos corpos lagunares atuais,

são encontrados próximo aos canais de drenagem, como nos cursos do rio

Aratingaúba (Imaruí, SC), Tubarão e em suas desembocaduras.

Composto por areias síltico-argilosas, silte e argilas com restos orgânicos

vegetais (CARUSO, 1993), este depósito é formado por fácies fluviais,

deltáicas e lagunares interdigitadas, no tempo, entre si.

Na área de estudo o depósito mais expressivo é o do delta intra-lagunar

do Rio Tubarão (Figura 11), que desemboca na Lagoa de Santo Antônio,

no Município de Laguna, aportando seus sedimentos fluviais ao ambiente

lagunar.

Figura 11: Delta do Rio Tubarão, na cidade de Laguna, SC

O Rio Tubarão foi retificado em 1978, na figura 11 podemos observar os

meandros abandonados na planície de inundação.

Page 42: Geomorfologia Complexo Laguna

4.4 PLANÍCIE LACUSTRE

A Planície Lacustre é a zona de influência do corpo lagunar que,

com o decorrer do tempo tende ao ressecamento, em função da regressão

do nível marinho e da deposição de sedimentos. Freqüentemente

encontra-se interdigitada com sedimentos de origem marinha e fluvial.

Caracteriza-se pela exposição e inundação dos sedimentos do substrato

lacustre, pelo rebaixamento ou aumento do nível do corpo lagunar

(SUGUIO, 1998). A figura 12 mostra a planície da Lagoa do Imaruí. Entre

as localidades de Pescaria Brava e Laranjeiras, em Laguna.

Figura 12: Planície Lagunar da lagoa do Imaruí Fonte: Foto Maria Paula Casagrande Marimon

Page 43: Geomorfologia Complexo Laguna

4.5 TERRAÇO LAGUNAR PLEISTOCÊNICO

Esta feição foi esculpida durante os estágios de regressão e

transgressão marinha. Caruso (1995) classifica essa unidade como fácies

eólica/praial marinha, no entanto, nas fotografias aéreas de 1964,

utilizadas para a confecção do mapa presente neste trabalho, é possível

observar a distinção do padrão de deposição (Figura 13) entre a feição

considerada no presente trabalho como sendo Terraço Lagunar e as que

consideramos depósito marinho/eólico (provavelmente de idade

Pleistocênica).

Figura 13: Direção das feições deposicionais do terraço lagunar e do terraço marinho/eólico, localizado próximo à foz do Rio Tubarão, Município de Laguna, SC.

Page 44: Geomorfologia Complexo Laguna

4.6 TERRAÇO MARINHO PLEISTOCÊNICO

Proveniente de um momento de nível do mar mais alto, as feições

mapeadas são depósitos que se encontram em cotas acima da planície

marinha atual. Segundo Caruso (1995) esta feição está relacionada com o

Sistema III e constituem corpos arenosos de proveniência eólica e praial.

Ainda segundo Caruso (1995), as características desses depósitos lhe

atribuem idade aproximada de 120.000 anos, estando relacionados ao

evento interglacial desse Sistema.

Na área de estudo, segundo boletins de furo de sondagem, os

terraços pleistocênicos estão, aproximadamente, em cotas 6 metros acima

do nível do mar.

Os depósitos estão em um estágio onde é possível observar grande

processo de retrabalhamento pelo vento tendo, sendo, em alguns pontos,

recobertos por expressivo campo de dunas fósseis.

4.7 DEPÓSITO ARENOSO PLEISTOCÊNICO

Este depósito, encontrado nas proximidades da localidade de

Perrixil, está relacionado ao final da regressão holocênica, evento

regressivo subseqüente ao máximo da transgressão holocênica

(5.150 anos A.P.) Este evento é responsável pelo sistema ilha/barreira IV,

segundo Caruso (1995). Na área de estudo esta feição tem suas bordas

laterais envolta em depósitos mais finos, provenientes da atual dinâmica

lagunar.

4.8 DEPÓSITO MARINHO HOLOCÊNICO

Provenientes de um momento de nível do mar mais alto, as feições

mapeadas são depósitos que se encontram em cotas acima da planície

marinha atual. Na região entre a Pedra do Frade e a sede municipal de

Page 45: Geomorfologia Complexo Laguna

Laguna é bem clara a percepção das antigas linhas de costa (Figura 14),

representadas pelo alinhamento dessas antigas cristas.

Figura 14: Antigas cristas praiais, na localidade entre Laguna e Pedra do Frade.

4.9 CAMPOS DE DUNAS MÓVEIS

Os depósitos eólicos mapeados na área encontram-se sob a forma

de dunas móveis parcialmente recobrindo outras dunas fósseis e/ou

depósitos marinhos Holocênicos. São compostos de areias quartzosas

finas a médias, bem arredondadas e selecionadas e de coloração

esbranquiçada. A fonte sedimentar para esses imensos ambientes eólicos

é a plataforma continental interna.

Essas formações podem alcançar, segundo Guerra (1950), de 20 a

30 metros de altura, como no caso das dunas móveis próximas a

Imbituba.

Page 46: Geomorfologia Complexo Laguna

Além da região Sul do Estado, podemos encontrar exemplos destes

depósitos na Ilha de Santa Catarina, como os campos de dunas da Praia

da Joaquina (CARUSO, 1995).

Figura 15: Campo de Dunas de Imbituba Fonte: Foto de

Rodrigo Alex Oderden

4.10 DEPÓSITO MARINHO/EÓLICO SUB ATUAL

Mais antigos que os campos de dunas atuais e que o depósito

praial atual, estes depósitos foram retrabalhados e encontram-se

parcialmente fixados por vegetação característica de restinga.

4.11 DEPÓSITO MARINHO ATUAL (ATUAL LINHA DE COSTA)

Esta feição é dominada pela hidrodinâmica marinha. É limitada a

leste pela linha de arrebentação e a oeste pelos sedimentos eólicos,

sobrepostos a depósito marinho recente. São depósitos inconsolidados,

compostos por areias quartzosas finas, claras e bem selecionadas.

Page 47: Geomorfologia Complexo Laguna

5 ANÁLISE PALEOAMBIENTAL

A secção da BR-101, sentido norte-sul, considerada neste trabalho,

inicia-se no primeiro ponto do Lote 25 (km 300), junto ao Município de

Imbituba, e termina próximo à localidade de Praia do Sol (km 305,08), na

entrada da Rua Fernando Antônio dos Santos. Esta secção, constituída de

6 furos de sondagem, locados conforme se pode observar na figura 13,

corta, no sentido norte-sul, os cordões arenosos que margeiam, a oeste, a

Lagoa de Imaruí.

Foram analisados seis furos de sondagem profundos, sendo que

foram realizados dois furos em cada estaca, um a leste de BR 101 e outro

a oeste. No entanto, por ser difícil representá-los no espaço, decidiu-se

trabalhar apenas com um furo de cada estaca, totalizando três.

Figura 16: Localização dos pontos de sondagem Fonte: Google Earth

Page 48: Geomorfologia Complexo Laguna

Foram identificados, através da análise dos sedimentos de cada

perfil, cinco paleoambientes distintos ao longo da secção geológica:

Paleoambiente Marinho com energia, Marinho Raso, Praial, Lagunar e

Lagunar Parálico.

No primeiro perfil da secção (S2), os sedimentos de característica

praial dominam da profundidade de 25,45 m (onde a sondagem alcança o

embasamento) até a profundidade de 11,60 m. Desta altura até 10,90 m

cede lugar a sedimentos que indicam um ambiente com menor dinâmica,

possibilitando a deposição de finos, determinado aqui como ambiente

Lagunar Parálico. Desta medida até 8,90 m ocorre uma mudança na

dinâmica do ambiente, uma provável transgressão marinha, e sedimentos

mais grosseiros passam a indicar um ambiente não mais lagunar, mas

marinho com certa energia. Este ambiente se mostra contínuo até o

próximo perfil, localizado a aproximadamente 2 km de distância, no Km

303,17. Nesse perfil, denominado SP1, a sedimentação marinha

correspondente a esse ambiente é mais espessa, com uma deposição de 4

m e 20 centímetros, da profundidade de 10,70 m até 6,50 m. Desta altura

até a superfície passa a apresentar sedimentação característica de

ambiente praial. Esta deposição, interrompida pelo ambiente Marinho com

energia, continua da profundidade 10,70 m até 12 m, onde

aparentemente encontra o embasamento (ponto onde a sondagem foi

interrompida).

Voltando ao perfil S2, da profundidade de 8,90 m até a superfície

os sedimentos indicam um ambiente de menor energia que o anterior,

configurando um ambiente marinho raso.

O terceiro perfil encontra o embasamento na profundidade de

22 m. Deste ponto, em direção à superfície, até 12 m apresenta

característica de ambiente marinho com certa energia, já que contém

fragmentos de conchas. De 12 a 11 m demonstra que, neste momento o

nível relativo do mar baixou, e neste ponto desenvolveu-se um corpo

lagunar de baixa dinâmica, denominado lagunar parálico. Segue-se uma

Page 49: Geomorfologia Complexo Laguna

possível subida do nível do mar, já que o ambiente passa a ter

característica de fácies praial de 11 a 5 m de profundidade. Deste ponto

até a superfície os sedimentos descritos indicam a presença pretérita de

uma laguna, demonstrando uma descida do nível marinho à época.

Em toda a secção é nítida a percepção da evolução, através das

oscilações do nível marinho, dos ambientes característicos da planície

costeira, quer sejam marinhos, praiais ou lagunares. Analisando-se os três

furos, a partir do S2 (que é o que apresenta o maior número de

ambientes) é possível verificar quatro momentos distintos da evolução

ambiental da área em estudo. Começando com ambiente praial, evoluindo

para ambiente lagunar parálico, ambiente marinho com energia e

ambiente marinho raso. Em dois momentos, pelo menos, é possível inferir

um nível marinho mais alto que o atual, nas profundidades 10,90 m e

8,90 m, momento em que a área onde atualmente corresponde a um

terraço marinho pleistocênico, esteve submersa, dando lugar a deposição

de sedimentos em ambientes marinhos.

Essas informações demonstram a intensa dinâmica ambiental das

planícies costeiras.

Page 50: Geomorfologia Complexo Laguna

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lagoa do Imaruí, localizada entre as áreas municipais de Imaruí

e Imbituba, em Santa Catarina, faz parte do Complexo Lagunar Sul

Catarinense, o maior do Estado. O segmentado corpo lagunar e seu

entorno estão situados na Planície Costeira catarinense, que é resultado e

testemunho das variações do nível do mar ocorridas no Período

Quaternário, no decorrer de importantes variações climáticas mundiais.

Do ponto de vista da geologia e da geomorfologia, a planície

quaternária é constituída por ambientes recentes, inconsolidados e em

constante transformação, caracterizando-se, dessa forma, em áreas

suscetíveis a intensas mudanças. Sendo assim, o planejamento de uso das

zonas costeiras não pode deixar de considerar os fenômenos que deram

origem e que mantém a dinâmica desses ambientes.

O estudo da geomorfologia se mostra de grande importância no

que diz respeito ao diagnóstico dos ambientes para a elaboração do

planejamento e gestão da Zona Costeira. É através desta ciência de

caráter dinâmico que podemos caracterizar os ambientes de uma região e

identificar suas potencialidades, peculiaridades e fragilidades.

Tendo a planície costeira como delimitação da área de estudo, o

mapeamento geomorfológico dividiu a área em fácies geomorfológicas:

- a unidade Serras do Leste Catarinense é representada na área de

estudo pelos morros do entorno do complexo lagunar, estruturados sobre

o Granitóide Pedras Grandes e o Granito Serra do Tabuleiro;

Excluído: .

Page 51: Geomorfologia Complexo Laguna

- as feições mapeadas na Unidade Coluvial se apresentam na forma

de rampas, localizadas na base das encostas dos morros;

- os Depósitos fluvio-deltalagunares estão dispostos próximo ao

curso dos rios e em suas desembocaduras. São formados por fácies

fluviais, deltáicas e lagunares interdigitadas, no tempo, entre si.

- as áreas mapeadas como planície lacustre são regiões que ainda

sofrem influência da dinâmica do nível de água da lagoa. Podem ser

identificadas como área paleolagunar, já que a tendência dos corpos

lagunares é o ressecamento;

- o Terraço Pleistocênico Lagunar faz parte do antigo complexo

lagunar que foi afogado durante o máximo da Transgressão Holocênica;

- o Terraço Marinho Pleistocênico está representado por um cordão

arenoso interno, localizado em cotas acima da atual planície marinha. É

testemunho de um nível marinho mais alto que o atual;

- o Depósito arenoso Pleistocênico é um cordão arenoso construído

pela dinâmica marinha, eólica e lacustre (em um momento de maior

dinâmica);

- as feições mapeadas como Depósitos marinhos de diferentes

idades são depósitos trabalhados e retrabalhados pela dinâmica marinha e

pelos ventos. Alguns já se encontram parcialmente recobertos por

vegetação;

- campos de dunas móveis são feições relacionadas à dinâmica

eólica costeira que deposita e remobiliza esses sedimentos, que têm por

fonte sedimentar principal a plataforma continental contígua.

Complementar a este mapeamento, a análise paleoambiental da

Lagoa do Imaruí, nos mostra a evolução de diversos ambientes na área de

estudo, em função da subida e descida do nível marinho.

A secção geológica foi construída a partir de um número pequeno

de furos de sondagem, no entanto comprovou a vulnerabilidade dos

Page 52: Geomorfologia Complexo Laguna

ecossistemas costeiros, mostrando a rapidez da evolução dos

paleoambientes da área de estudo.

Tanto o mapeamento geomorfológico do Complexo Lagunar Sul

Catarinense quanto à análise dos paleoambientes da área da Lagoa do

Imaruí foram executados com o intuito de fornecer ferramentas para

auxiliar na preservação e no planejamento do uso do solo da área

específica de estudo, e, como já dito anteriormente, de quaisquer outros

ambientes costeiros de desenvolvimento semelhante.

Page 53: Geomorfologia Complexo Laguna

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYOADE, J. O. Introdução a climatologia para os trópicos. 1 ed. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. 332 p.

BORTOLUZZI, C. A. Esboço geomorfológico de Santa Catarina. In:

SILVA, L. C.; BORTOLUZZI, C. A., (ed.) Texto explicativo para o mapa

geológico do Estado de Santa Catarina: Escala 1: 500 000. Florianópolis:

DNPM: Secr. Ciência Tecnol. Minas e Energia, 1987. p.205-217. (Textos

Básicos de Geologia e Recursos Minerais de Santa Catarina, 2)

CARUSO Jr, F. Mapa geológico da Ilha de Santa Catarina: Escala

1: 100 000. Notas Técnicas. Porto Alegre: CECO-UFRGS, n.6, p.1-28,

1993. (Texto Explicativo e Mapa)

CARUSO Jr, F. Geologia do Cenozóico de Santa Catarina, In. SILVA, L.

C.; BORTOLUZZI, C. A., (ed.) Texto explicativo para o mapa geológico do

Estado de Santa Catarina: Escala 1: 500 000. Florianópolis: DNPM:

Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Minas e Energia, 1987.

216p. (Série textos básicos de Geologia e Recursos Minerais de Santa

Catarina, 2).

CARUSO Jr., F. Mapa geológico e de recursos minerais do sudeste de

Santa Catarina. Brasília: DNPM, 1995. 52p (Programa Cartas de Síntese e

Estudos de Integração Geológica), mapa, escala 1: 50.000.

Page 54: Geomorfologia Complexo Laguna

CRUZ, Olga. A ilha de Santa Catarina e o continente próximo: um estudo

de geomorfologia costeira. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1998. 280p. ISBN

(Broch.)

DILLEMBURG, S. R. Oscilações holocênicas do nível relativo do mar,

registradas na sucessão de fácies lagunares na região de Tramandaí, RS.

Pesquisas, Porto Alegre, v. 23, n.1/2, p.17-24, 1996.

MARTIN L.; SUGUIO K.; FLEXOR J.M.; AZEVEDO A.E.G. Mapa geológico

do Quaternário costeiro dos estados do Paraná e Santa Catarina. Texto

explicativo e mapa. Brasília. Bol. DNPM, Serie Geologia, n. 28; Série

Geologia Básica n.18, 40p. mapas.

MARTINS, L. R.; TOMAZELLI, L. J.; VILLWOCK, J. A.; MARTINS, I. R.

Influência das variações holocênicas do nível relativo do mar na costa

leste, sudeste e sul do Brasil. In: OEA- ORGANIZATION OF AMERICAN

STATES. El manejo de ambientes y recursos costeros en America Latina y

el Caribe. Washington: OEA, 1993. v.2, p.97-111.

MONTEIRO, M.A. Caracterização climática do estado de Santa Catarina:

uma abordagem dos principais sistemas atmosféricos que atuam durante

o ano. Geosul, Florianópolis, V.16, n31, 1995. p 69-78.

MONTEIRO, M.A.; FURTADO, S.M.A. O clima do trecho Florianópolis

Porto Alegre: uma abordagem dinâmica. Geosul, Florianópolis, V.10,

n19/20, 1995. p 117-133.

SALGADO-LOBOURIAU, M. L. História ecológica da terra. 2. ed., rev. São

Paulo: E. Blucher, 1994. 307 p.

SANTA CATARINA. Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral -

Subchefia de Estatística, Geografia e Informática. Atlas de Santa

Catarina. Rio de Janeiro: Aerofoto Cruzeiro, 1986. 173p.

Page 55: Geomorfologia Complexo Laguna

SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais: passado +

presente = futuro ?. São Paulo: Paulo s Comunicação e Artes Gráficas,

1999. 366p.

SOUZA, C. R. G.; SUGUIO, K.; OLIVEIRA, A. M. S.; OLIVEIRA, P. E. Eds.

Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. 382p.

SUGUIO, K. Dicionário de Geologia Marinha. São Paulo: T. A. Queiroz,

1992.

SUGUIO, K. Dicionário de Geologia Sedimentar e áreas afins. Rio de

Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

SUGUIO, K. Tópicos de geociências para o desenvolvimento sustentável:

as regiões litorâneas. São Paulo. Bol. Geologia USP: Série Didática, v. 2,

n. 1, 2003 p. 1-40

SUGUIO, K.; MARTIN. L.; BITTENCOURT, A. C. S. P.; DOMINGUEZ, J. M.

L.; FLEXOR, J. M.; AZEVEDO, A. E. G. Flutuações do nível relativo do

mar durante o Quaternário superior ao longo do litoral brasileiro e suas

implicações na sedimentação costeira. Revista Brasileira de Geociências,

Rio de Janeiro, v.15, n.4, p.273-286, 1985.

VILLWOCK, J. A. A costa brasileira: geologia e evolução. Notas Técnicas

Porto Alegre: CECO- UFRGS, n.7, p.38-49, 1994.