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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE 

TALES WELLINGTON CUNHA FELIXVALQUÍRIA LIZANDRA MONJARDIM CÉZAR 

(DES)INTERESSE ESCOLAR EM GEOGRAFIA:O QUE DIZEM ALUNOS DO 7º E 8º ANOS DA E.E.E.F.

MANOEL LOPES, EM SERRA-ES 

VITÓRIA2013

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 TALES WELLINGTON CUNHA FELIXVALQUÍRIA LIZANDRA MONJ ARDIM CÉZAR

(DES)INTERESSE ESCOLAR EM GEOGRAFIA:O QUE DIZEM ALUNOS DO 7º E 8º ANOS DA E.E.E.F. MANOEL

LOPES, EM SERRA-ES 

VITÓRIA2013

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Educação, da Universidade

Federal do Espírito Santo, como requisito parcial

 para a obtenção do grau de Licenciado em

Geografia.

Orientador: Profª. Dra. Marisa Terezinha Rosa

Valadares. 

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TALES WELLINGTON CUNHA FELIX

VALQUÍRIA LIZANDRA MONJARDIM CÉZAR 

DESINTERESSE ESCOLAR EM GEOGRAFIA:

O QUE DIZEM ALUNOS DO 7º E 8º ANOS DA E.E.E.F. MANOEL LOPES, EM

SERRA-ES 

 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia,

Centro de Ciências Humanas e Naturais, da Universidade Federal do Espírito Santo,

como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Geografia.

Aprovada em ______/_______ / 2013

COMISSÃO EXAMINADORA

 ________________________________________ 

Profª. Drª. Marisa Terezinha Rosa Valladares

Universidade Federal do Espírito Santo

 ________________________________________ Profº. Msc. Carlos Alberto Nascimento

 ________________________________________ 

Profº. Msc. Regina Célia Frigério Ferreira

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 AGRADECIMENTOS 

Agradeçoa Deus por tudoepor todos.

Agradeçoa minha família eaos meus pais por todoincentivo, emespecial minha mãeLuzia Cunha, fontede

inspiração.

Á umgrupodeamigos quemeajudou muitoemummomentodecisivo. Alessandra Morgan, FrancineNunes,

I zabela Bassani, JackscileneNascimentoeRenatoBrito.

Á minha querida professora eorientadora Marisa Valladares ea todos os mestres quefizeramefazemparteda

minha formação.

 Tales WellingtonCunha Felix

 

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 AGRADECIMENTOS 

Primeiramente, a Deus por seu amor eonipotência.

Aomeu esposo, Carlos Magno, pelocarinhoecompreensão. E ainda, por suportar as grandes turbulências, emque

por medebati, devidoa algumas dificuldades desta pesquisa. Agradeçosua tolerância pelas noites desono

perdidas, enquantoeu medebruçava sobrelivros, emquenãomesolicitou queapagassea luz! AoNick por ser esse

ser tãoespecial epeloimensocarinho!

Aos meus pais (inmemoriam).

Aos meus pais (quemecriaram) enãomenegaramodireitodechegar atéaqui, pelocontrário, meincentivaramanunca desistir!

Aos meus irmãos eamigos quesempresemostraramgrandes conselheiros efiéis motivadores emperíodos difíceis ou

tranquilos. Especialmente, gostaria decitar minha irmã Rafaela eminha amiga irmã Geliane: senãofosseo

carinhoeo abraçosemprefortecomos quais mefortaleceram, muitas vezes teria desfalecidoemvárias batalhas.

À minha querida professora e orientadora Marisa, quesuportou minhas indagações, e, todas as vezes, se

apresentou a mimdeforma serena eamiga, sempremetranquilizandoemotivando.

À minha querida sempre professora Regina Frigério, que, por muitos momentos, sefez amiga, irmã emuitoinfluenciou emminha formaçãoacadêmica, profissional ecomoser humano- quesou hoje.

Aomeu queridocolega eparceirodestetrabalho, Tales, quesetransformou emumgrandeamigoeirmão. Foram

poucos os momentos de divergências de opiniões, mas que suscitaram, com toda certeza, em uma grande

aprendizagem.

Aos meus colegas docursodegeografia, quenodecorrer desses quasecincoanos, setransformaramemamigos para

toda a vida, gostaria decitar duas emespecial, (Alana eVania).

Aos meus colegas detrabalho(equipeGEAC) quesetornaramgrandes amigos, emotivadores.

“Cantarei aoSenhor, porquantometemfeitomuitobem”. (Salmos –cap.13, Vs.6).

Valquíria Lizandra MonjardimCézar

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“A escola é...O lugar onde se faz amigos

Não se trata só prédios, salas, quadros,Programas, horários, conceitos...

Escola é sobretudo, gente,Gente que trabalha, que estuda, que se

alegra, se conhece, se estima.O diretor é gente,

O coordenador é gente, o professor é gente,O aluno é gente,Cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhorNa medida em que cada um se comporte

como colega, amigo, irmão.Nada de ilha cercada de gente por todos os

lados.Nada de conviver com as pessoas e depoisdescobrir que não tem amizade a ninguém

Nada de ser como o tijolo que forma aparede,

Indiferente, frio, só.Importante na escola não é só estudar,não é só trabalhar

É também criar laços de amizade,É criar ambiente laços de amizade,é criar ambiente de camaradagem,

é conviver, é se ‘amarrar nela’!Ora, é lógico...

Numa escola assim vai ser fácil!Estudar, trabalhar, crescer,

Fazer amigos, educar-se,Ser feliz”

Paulo Freire

Elaine SaesFonte: http://amorpelascores.blogspot.com.br/2011/05/planeta-terra-escola.html 

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RESUMO 

Esta pesquisa investiga o (des)interesse dos alunos do ensino fundamental,

buscando, como objetivo geral, identificar e compreender fatores que produzemesta situação escolar. Provocou-nos a aparente normalidade com que é tratada a

evasão e o fracasso escolar, por parte de muitos professores que se consideram

impotentes diante dos problemas. Escolhemos como metodologia o estudo de caso

e, como universo da pesquisa, um grupo de alunos do ensino fundamental que

apresentava, como característica marcante, uma incidência de reprovação e de

evasão, seguida de retorno à escola. A escola-parceira neste trabalho é pública e se

localiza em bairro residencial de médio-baixo padrão econômico de vida. A base

teórica estudada nos apontou elementos que podem causar o interesse, tais comodiversidade metodológica, relação afetiva do professor, apoio da família, aplicação e

tratamento de conteúdos considerando faixa etária, dentre outros. A pesquisa em

campo, feita por meio de um questionário, aplicado na turma, nos mostrou coerência

com o que dizem autores Bossa e Patto. Foi possível verificar que alunos querem

autoridade do professor, admitem que a indisciplina em aula desvia o interesse, que

não é suficiente a família obriga-los a ir à escola, que reconhecem o apoio dos pais,

gostam da aula fora da sala e de diferentes recursos e metodologias. A Geografia

escolar, colocada sob o foco da pesquisa, foi reconhecida como interessante. As

pistas fornecidas pelos alunos sobre o que um professor de Geografia pode fazer

para criar e manter o interesse dos alunos pela disciplina são contribuições que

 justificam os esforços despendidos nesta pesquisa, que estimula novas buscas e

muitas reflexões.

Palavras-Chaves: 1. (Des)Interesse escolar, 2. Fracasso e evasão escolar, 3.

Ensino de Geografia.

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SUMÁRIO

1. GENTE QUE TRABALHA, QUE ESTUDA, QUE SE ALEGRA SE

CONHECE, SE ESTIMA ............................................................................... 10

1.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA NO BRASIL .................................................... 10

1.2 COMO TEM SIDO A APRENDIZAGEM/MOTIVAÇÃO/INTERESSE ............ 17

2. NÃO SE TRATA SÓ PRÉDIOS, SALAS, QUADROS,PROGRAMAS, HORÁRIOS, CONCEITOS... .......................................................... 21

2.1 DESESTIMULO ESCOLAR. ELE GERA O FRACASSO? COMO ISSO SEDÁ? ............................................................................................................... 21

2.2 ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL MANOEL LOPES .......................... 26

2.3 METODOLOGIA ........................................................................................... 29

2.4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 31

3. O PROFESSOR É GENTE, O ALUNO É GENTE, CADA FUNCIONÁRIO É

GENTE. E A ESCOLA SERÁ CADA VEZ MELHOR .................................... 403.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 45

3.2 ANEXOS

3.2.1 QUESTIONÁRIO

3.2.2 CARTA DE AUTORIZAÇÃO

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INTRODUÇÃO 

Esta pesquisa surgiu de um questionamento realizado dentro da sala de

professores, em que todos se perguntavam porque os alunos eram tão

desinteressados e não comprometidos com a escola. Os professores citavam vários

possíveis fatores, entretanto, nenhum com o devido estudo ou embasamento. Além

disto, os professores comentavam, mas não produziam um movimento no sentido de

mudarem a situação. Isentavam-se de culpa ou de responsabilidades, atribuindo ao

outro a necessidade de um esforço que provoque real mudança da/na situação.

Ao constatarmos dentro da sala de aula esse desinteresse, tomamos como objetivo

tentar analisar e compreender fatores provocadores da situação e suas relações

com fatores externos ao aluno, objetivando contribuir com os colegas de profissão e,

sobretudo, com nossos alunos.

Com a pesquisa teórica, constatamos que o desinteresse escolar não é de

responsabilidade única da escola ou da família ou do professor, sequer do aluno.

 Todos estes agentes possuem responsabilidade sobre a formação escolar.

Buscamos, no decorrer dos registros de aprendizagens desta pesquisa, apontar

particularidades de fatores e de aspectos relativos ao interesse, que convergem ou

que se contrapõem.

Para situarmos e compreendermos criticamente o papel da Geografia na formação

do individuo, resgatamos de forma sucinta, o ensino da Geografia escolar no Brasil,

seus paradigmas e sua importância no contexto da escola. Buscamos enfatizar

como o interesse/desinteresse/motivação se intercruzam a todo momento, em

função de metodologias de ensino, da estrutura psicossocial individual, institucional

e familiar. Investigamos a questão do desestímulo escolar, se ele de fato gera o

fracasso escolar, e a que fatores ele está atrelado.

Para compreender estes processos do desinteresse escolar, necessitamos

compreender alguns processos psicológicos e para isso utilizamos autores

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consagrados neste assunto, como Patto e Bossa. Foi preciso, também, interligar os

processos de ensino/aprendizagem de geografia. Para isto, utilizamos autores como

Lívia de Oliveira e Kaercher, por exemplo. A partir desses estudos pôde-se discutir

de forma mais clara e concisa os diversos âmbitos do desestímulo.

Utilizamos dois âmbitos de pesquisa: a pesquisa bibliográfica-documental e a

pesquisa em campo. A abordagem foi qualitativa nos dois casos, embora a

tabulação dos dados tenha um sentido numérico, necessário à compreensão dos

dados produzidos.

Na pesquisa em campo valemo-nos do questionário para identificar os principais

pontos que deveríamos abordar e na segunda parte da pesquisa, realizamos

entrevistas.

Após analisados os dados obtidos com o questionário aplicado e com as entrevistas

feitas, tratamos os resultados obtidos. Articulamos os principais fatores considerados

interligados com o desinteresse e tecemos algumas possibilidades para o ensino de

Geografia, com base em autores que discutem sobre o ensino desta disciplina. Os

apontamentos realizados pelos alunos foram de extrema importância para a

construção das possibilidades, já que, esta pesquisa tem por perspectiva principal o

intuito de dar voz a esses sujeitos na escola.

É importante destacar que o fator determinante para a decisão de pesquisar com os

alunos é de que, quando falamos em fracasso escolar, logo procuramos professores

e dados de instituições oficiais. Numa outra direção, acreditamos que devemos

valorizar o que nos dizem aqueles que mais podem contribuir, os alunos.

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CAPÍTULO 1

1. GENTE QUE TRABALHA, QUE ESTUDA, QUE SE ALEGRA SE CONHECE, SE ESTIMA

1.1 O ENSINO DA GEOGRAFIA NO BRASIL

A Geografia é uma ciência que estuda o espaço, a natureza, o homem e, tudo aquilo

que nos rodeia e que, podemos modificar e exercer influência. De acordo com

SILVA,

“[...] as categorias fundamentais do conhecimento geográfico são,entre outras, espaço, lugar, área, região, território, habitat, paisageme população, que definem o objeto da geografia em seurelacionamento. [...] De todas, a mais geral – e que inclui as outras éo espaço”. (1986, p. 28-29).

 Trata-se, do espaço em que vivemos, o qual devemos conhecer e no qualprecisamos agir, problematizando em como podemos transformá-lo ou não.

Conhecer o espaço geográfico proporciona saberes para identificar categorias de

análise dele. É fundamental resgatar conhecimentos prévios para elaborar novos

conhecimentos sobre aquilo que nos rodeia. Isto é fundamental para nossa

aprendizagem em qualquer disciplina, entre elas a Geografia.

A Geografia sofreu diversas transformações no decorrer de sua sistematização.

Pode-se perceber que o surgimento da Geografia, como ciência, deu-se devido à

necessidade dos povos, em determinado período, analisarem o território, e fazerem

melhor aproveitamento dele. Outro motivo forte na constituição da Geografia foi a

busca de expansão territorial, sob diferentes aspectos: comercial, religioso, político,

entre outros .

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A organização científica da Geografia ocorreu inicialmente, sob as bases do

positivismo. Foi nessa concepção filosófica e metodológica que os geógrafos

buscaram suas orientações gerais. Para o positivismo, os estudos devem restringir-

se ao visível, real, mensurável e palpável; como se os fenômenos se

demonstrassem diretamente ao cientista, que seria um simples observador

(MORAES,1987). Assim, foi possível utilizar a nova ciência para necessidades

imperialistas de expansão territorial.

Na Geografia tradicional, desenvolveu-se o paradigma do possibilismo que iniciou

discussões sobre relações do homem com o meio natural, não tratando mais a

natureza como fator determinante do comportamento humano. (CORRÊA, 2003).

No determinismo de Ratzel, concebe-se que o espaço influencia ou define o ser,ligado fortemente a fisiologia e psicologia humana. As diferenças do meio imbricam

na construção de um ente que, sob influencia externa, reproduz o que vivenciou em

seu modo de vida. Com esta perspectiva, entendia-se ser possível explicar as

relações de causa e efeito que se estabelecem na interação do homem com o meio.

Se aplicada à situação da escola hoje, esta concepção levaria a crer que o aluno só

poderá se desenvolver de acordo com seu ambiente cotidiano, dificilmente

exercendo atitudes e construções mais complexas do que aquelas do seu modo de

vida, estando fadado a um futuro determinado. Concordando com Laraia,

acreditamos que:

“As diferenças existentes entre os homens, não podem serexplicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seuaparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade daespécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: umanimal frágil provido de insignificante força física dominou toda anatureza e se transformou no mais terrível dos predadores. Semasas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias,conquistou os mares. Tudo isto por que difere dos outros animais por

ser o único que possui cultura”. (LARAIA, 2005, p. 24).

Após o período da segunda guerra mundial, a Geografia foi marcada por

transformações ocorridas no meio cientifico, em especial, após os anos de 1950. De

acordo com Moraes (1983), a renovação surgiu de elucubrações de geógrafos em

relação aos paradigmas tradicionais. O movimento de renovação foi denominado

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gerando um espaço degradado, e de certa forma mal organizado, especialmente na

América Latina, África e Ásia. (COSTA e ROCHA, 2010)

Costa e Rocha, concordando com Marx (2010) afirmam que esta geografia estaria

marcada pelo materialismo histórico e dialético, que consiste na análise das grandes

contradições do sistema capitalista e da produção de espaços desiguais. Passou-se

a compreender o homem como ser social e as relações políticas e econômicas são

introduzidos no debate com o objetivo de compreender as profundas desigualdades

espaciais existentes.

Em contrapartida, na geografia humanística, as noções de espaço e lugar surgem

como conceitos chaves, uma vez, que o lugar é tido como aquele em que o individuo

se encontrada integrado. O lugar não é toda e qualquer localidade, mas aquele quetem significância afetiva para uma pessoa especifica, ou para um grupo de pessoas.

(CAVALCANTE, 1998).

Na geografia cultural, no final do século XIX e inicio do século XX, segundo Costa e

Rocha (2010), sobressaem-se estudos sobre paisagem, posteriormente retomados

com o movimento de renovação da geografia na década de 1970. Atualmente, a

renovação dos estudos culturais, estuda a relações entre a cultura e a vida social, a

transmissão dos conhecimentos e regras de conduta, as relações do individuo com asociedade e também as articulações e relações de cultura e poder. (COSTA E

ROCHA, 2010).

A concepção da geografia crítica, surgida no movimento da teoria crítica,

diferentemente de outras abordagens, traz uma valorização das questões políticas e

econômicas..Nesta vertente, analisa-se o embate entre as classes sociais. As

categorias geográficas assumem plano de destaque em diferentes estudos dessa

concepção, estando presentes neles os elementos históricos, culturais e aidentidade; que materializam as contradições da globalização, conforme

particularidades e possibilidades (CAVALCANTE, 1998)

Sendo assim,

“O estudo do espaço supõe a analise da sociedade e da natureza,não isoladas, mas como parte integrante de uma totalidade a qual se

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organiza e relaciona configurando-se em diferentes feições(paisagens), de acordo com os diferentes tipos de sociedade emdeterminado território”. (CASTROGIOVANNI e GOULART, 1990,p.111).

A Geografia escolar envolve, além de estudos de aspectos físicos do espaço, oensino da política social e ambiental de um país e do mundo. A disciplina adquire

grande importância devido ao poder de investigação, estudo, discussão e

socialização sobre pensamentos e práticas dos indivíduos e das sociedades, assim

como sobre a organização e o funcionamento da vida no planeta Terra.

Há que se considerar, ainda, que ao tratar do ensino de uma ciência que trabalha

com a localização de fatos, fenômenos e fatos físicos e sociais, permite conhecer e

situar como eles acontecem em diferentes locais do mundo. Para isto, é preciso

saber como usar métodos e formas pertinentes ao seu conhecimento como ciência.

A geografia se expandiu e vem interagindo cada vez mais com as outras ciências,

desenvolvendo práticas interdisciplinares, o que é uma proposta desejável na

escola.

No âmbito escolar, a Geografia passou por grandes modificações, no século

passado e também nos tempos atuais. A partir da década de 1960, o Brasil passou

por uma ditadura militar, que tinha interesse em reduzir o potencial das duas

disciplinas, Geografia e História, em aprendizagens críticas do viver em sociedade.

A Geografia como disciplina escolar foi substituída pela área de estudo denominada

“Estudos Sociais”, que se tornou uma espécie de História e Geografia juntas,que

seria ministrada para crianças de ensino fundamental com a intenção de fazer da

geografia uma disciplina inexpressiva e ainda diminuir ainda mais o acesso desses

estudantes aos conhecimentos especificamente geográficos. (PONTUSCKA,

PAGANELI e CACETE, 2000.)

Ainda neste período, o currículo da Geografia escolar passou por alterações e foramfeitos alguns movimentos no sentido de enfrentamento para ajustes considerados

importantes, pela Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) e por diversos autores

da Geografia. Os professores da rede estadual de ensino básico, de todo o país,

apoiaram as críticas referentes à ineficiência dos conteúdos propostos por

orientações curriculares para o ensino da disciplina na formação do estudante, às

orientações didático-pedagógicas, que se apresentavam de acordo com os

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interesses das editoras elegendo o uso do livro didático como única fonte de estudo,

fornecendo conceitos incompatíveis com o movimento vivido pela ciência geográfica,

e por fim, a desvinculação da geografia ensinada nas universidades daquela

ensinada nas escolas de ensino fundamental e médio. (PONTUSCKA; PAGANELI E

CACETE, 2000.)

Um dos grandes problemas enfrentado, historicamente, pelos docentes

ministradores dessa disciplina, desde aquele período, referia-se à grande carga

horária que se viam obrigados a cumprir, em diferentes escolas, para alcançar um

salário, que não condizia com a necessidade básica e de sobrevivência , e ainda de

continuidade de formação do profissional de educação. Além disto, havia uma

grande insatisfação em relação ao grande número de alunos em sala de aula, o que

dificultava a eficácia do ensino. Essas questões ainda podem ser observadas em

nossos dias no ambiente escolar.

O ideal de escola produtiva, passa pelo que afirma FONSECA,

“O papel da educação assim como as metas para o setor,estabelecidas pelo Estado Brasileiro a partir de 1964, estiveramestritamente vinculados ao ideário de segurança nacional e dedesenvolvimento econômico. O projeto delineado nos Planos eProgramas de Desenvolvimento, na legislação e nas diretrizes

governamentais representa o ideário educacional de diversos setoresinternos e externos.”(FONSECA apud PLAZZA E PRIORI, A, Acessoem 05 de março de 2013)

Com esta perspectiva, é possível pensar que professores mais atentos, pela

condição de trabalho na escola organizada de acordo com o ideal discutido, farão

com que o aluno formule uma visão crítica de sociedade e se tornará um cidadão

pensante e questionador daquilo que o circunda. Sua formação se fará coerente

com o conhecimento geográfico escolar, entendido como, [...] “Uma disciplina

cientifica que trabalha com o espaço, quer em termos absolutos, quer relativos e

relacionais, de um ponto de vista horizontal, ambiental e social” (OLIVEIRA, 2012,

p.218).

Presume-se que esta proposta exige um pensar crítico e criativo, tal como se

aprende na dialética. Oliveira (1999, p.22) afirmou:

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“O método dialético é inquietante e agitador, pondo em xeque comoserá o futuro e refletindo sobre qual será o futuro que queremos.Através desse método não se transmite o conceito ao aluno, mas apartir da realidade concreta de sua vida, o conceito vai sendoconstruído.”

Esse é de fato um método da geografia que deveria ser seguido como objetivo

principal no ensino. Com ele, os educandos assimilarão, sem dúvida, com maior

facilidade, o ensino voltado para aquilo que vivenciam. Não se deve rejeitar aquilo

que o aluno possui, mas sim levá-lo a trabalhar seu histórico, seu espaço, de forma

que organize e reformule as aprendizagens como um ser pensante, autor dinâmico

de sua história.

É preciso lembrar-se de OLIVEIRA (2012, p. 217) quando afirma que “Ensina-se

aprendendo e aprende-se ensinando [...]”. Este processo de aprendizagem não seorigina do nada, todo conhecimento é o resultante de uma condição que implica o

ensino em fases distintas.

Ao se considerar que a aprendizagem é um processo continuo de assimilação, é

preciso, também, se enfatizar que os conhecimentos/ conteúdos devem ser

trabalhados numa perspectiva de espiral: aprofundando-se, ampliando-se e se

tornando cada vez mais complexos. As aprendizagens dentro e fora da escola são

continuas, sendo assim, cabe não só a instituição de ensino mas também ao alunobuscar validar suas aprendizagens por intermédio das situações escolares trazidas e

trabalhadas pelo professor.

De acordo com OLIVEIRA (2012, p.217), “Ensinar é provocar situações,

desencadear processos e utilizar mecanismos intelectuais requeridos pela

aprendizagem, que permitirá aos professores empregarem métodos ativos [...]”. Os

métodos ativos são aqueles que buscam fazer com que o aluno se interesse cada

vez mais pelo que está sendo tratado, tornando-se, assim, “sujeito praticante dacidadania” (FREIRE, 1979). Isto significa juntar o saber que o aluno possui ao que o

professor leva para a discussão em sala de aula. Esta questão não é especifica da

geografia, está presente em várias situações de conhecimento escolar. Todavia, é

de suma importância à compreensão do mundo que o rodeia, como por exemplo nas

aprendizagens que envolvem diferentes culturas: a do professor, a do aluno, a da

comunidade escolar...

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nunca está na escola. Com esse tipo de explicação a gente se eximeda culpa, mas a gente também não pode fazer nada [...].”(CARVALHO, 2003)

Para um bom professor, é necessário formação continuada, pois fortalece seu

compromisso com o saber. Para Oliveira: 

“[...] talvez a principal tarefa de um professor de Geografia não seja ade ensinar Geografia, mas realçar um compromisso que a ultrapassaou seja, fortalecer os valores democráticos e éticos, a partir denossas categorias centrais (espaço, território, Estado...) eexpandirmos cada vez mais o respeito ao outro, ao diferente.(OLIVEIRA, 2012, p. 224)

É importante ressaltar que encontramos, atualmente, uma grande gama de

possibilidades e tessituras de estudos docentes dentro dos espaços escolares, que

também são utilizados como lócus de formação dos professores, através da

interação que estes profissionais realizam entre si. É estimulante poder afirmar, hoje,

que o professor de escola, mesmo estando, muitas vezes, longe da academia,

também produz conhecimentos, tornados práticas que não podem - de maneira

alguma - serem colocadas em posição aquém da produção realizada pela academia.

A prática aperfeiçoa o processo de ensinagem, como Alves (apud OLIVEIRA 2008,

p. 46) reconhece: “a formação se dá, também no espaço das ‘culturas vividas’, entre

as quais referências especiais devem ser feitas às práticas políticas coletivas”.

O papel de professores, em especial o professor de geografia, deve ser despertar no

aluno a capacidade de argumentação, criticidade para que se torne um cidadão mais

cônscio de seus direitos e menos alienados. Queremos aqui produzir

questionamentos a respeito do que podemos fazer para contribuir para um ensino de

qualidade.

De acordo com OLIVEIRA, entendemos que,

“O ensino/aprendizagem da Geografia deveria ser planejado no todo,compreendendo os diferentes níveis de ensino, atendendo àsdiferenças, aos interesses às necessidades das diversas clientelas,considerando o desenvolvimento intelectual e visando a formação deuma cidadania responsável, consciente e atuante.” (OLIVEIRA, 2012,p. 218).

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Seria esse afinal o papel da geografia escolar? Acreditamos que não só do ensino

da geografia escolar, mas como também de toda uma sociedade de relações que

vivenciamos em nossos dias. 

Segundo Kaercher (2012), é necessário que haja uma mudança significativa nas

metodologias de ensino de Geografia, para que aconteça modificação das relações

entre professores e alunos. Ele afirma que, corriqueiramente, a aula mecanicamente

trabalhada cria distância entre aluno e professor, entre estes dois sujeitos e o

conhecimento, estabelecendo uma relação cheia de percalços, que impede um

contato entre aluno e professor mais aprofundado.

O desejo de mudança anunciado a todo tempo por professores e pela sociedade

não resolve os problemas da educação. Estamos imersos em um contingente deinformações muita vezes contraditórias, verdades relativas que se tornam absolutas

e que nos circundam formando pensamentos ou reflexos.

A grande pergunta do professor a todo instante seria: Como ensinar geografia? e,

como alunos aprendem geografia? Será que todos aprendem? Acreditamos que

todos são capazes de aprender ou excluímos por não se adaptarem ao nosso

método? É essa a função do professor? Segregar?

Para Rubem Alves (apud GADOTTI, 1995, p. 50) o educador tem duas funções

básicas:

Função crítica: os dogmas têm de ser transformados em dúvidas, as

respostas em questionamento, os pontos de chegada em pontos de partida.

Função criativa: o educador é um criador de utopias concretas, um indicador

de “horizontes utópicos” novas formulações e novas sínteses.

É necessário que, acima de tudo, o professor esteja comprometido e engajado naarte de ensinar. É preciso que esteja comprometido com aqueles que mais precisam

de seu auxílio, mas não apenas para transmitir conteúdos: é preciso que despertem

o ser cidadão nos jovens. A criticidade não é tão difundida em nossas salas de aula

porque, muitas vezes, acreditamos que alunos quietos e sem manifestação de suas

vontades são melhores para nós professores...

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A reprodução também tem sido mais valorizada em nas práxis cotidianas do que a

criatividade. São mais frequentes, em sala de aula, práticas reprodutoras, que

valorizam a reprodução.

Para Castellar (2011, p. 38):O conhecimento é visto não como mera cópia do mundo

exterior, mas como um processo de compreensão da realidade, a partir das

representações que as pessoas tem dos objetos e fenômenos (significados), em

consonância com seus próprios conhecimentos e experiências (ações). Portanto, a

aprendizagem, nessa perspectiva, consiste em conjugar, confrontar ou negociar o

conhecimento entre o que vem do exterior e o que há no interior delas.

A aprendizagem então, seria algo que você possui, um conhecimento pré-existente

para enriquecer um novo, reformular um conhecimento sobre determinada coisa. Elaadvém de uma pré-concepção que acarretará uma assimilação e assim se

concretizará em aprendizagens.

Bossa ressalta como “É curioso observar o modo como os educadores, sentido-se

oprimidos pelo sistema, acabam por reproduzir essa opressão na relação com os

alunos.” Para ela, “Trata-se, portanto de refletir sobre uma escola ideal, quando, na

verdade a grande preocupação deveria ser o ideal da escola”. (BOSSA, 2002, p.19)

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CAPÍTULO 2

2. O QUE É O DESESTÍMULO ESCOLAR? ELE GERA O

FRACASSO? COMO ISSO SE DÁ?

Por muito tempo, o fracasso escolar foi estudado com lógicas e enfoques diferentes,

no campo da medicina. Vial (apud BOSSA, 2002) aponta que as dificuldades deaprendizagens, quando não eram entendidas como uma lesão cerebral, eram

tomadas por disfunções neurológicas ou retardos de maturação, imputados a um

equipamento genético defeituoso. Os médicos foram os primeiros a se preocuparem

com os problemas de aprendizagem. Após desenvolvimento dos trabalhos de Binet,

em 1904, na França, quando foram criados testes de inteligência, o fracasso escolar

foi atribuído ao déficit intelectual, baixo Quociente Intelectual (QI).(BOSSA, 2002)

Isto, parece-nos, caracterizar um método determinista de enxergar que o ser é

limitado à sua forma fisiológica. Assim, o que não aprende é porque não consegue,devido suas limitações orgânicas.

Para BOSSA (2002), a escola exerceu um papel além da responsabilidade de

‘transmitir’ conhecimento: exerceu o papel de geradora de sofrimento psíquico e,

infelizmente, ainda podemos constatar em algumas escolas, esta prática de

professores no trato com os alunos, ao lhes impingir a culpa por não aprenderem,

como se fora uma determinação defeituosa do seu organismo.

É importante ressaltar que, nesta pesquisa, se evidencia o termo fracasso escolar.

 Todavia, seu significado não é tomado como sinônimo de desestímulo escolar e sim

um aspecto associado ao desestímulo, ou seja, o desestímulo é tomado como um

dos responsáveis pelos fracassos que assumem diferentes contextos.

O fracasso está associado tanto à repetência, quanto à evasão escolar. Tomaremos

por base o fracasso dentro de sala de aula como fenômeno processual e não como

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um único fenômeno pontual, como um fim. Compreendemos que o fracasso não se

resume apenas aos péssimos resultados dos alunos nas avaliações e evasões.

 Tomamos também como fracasso, o processo de ensino e de avaliação deste aluno

pela escola e seus diferentes atores. Evidenciamos que não é apenas o professor

que avalia os alunos e, sim, toda a estrutura social, bem como coordenadores,

pedagogos, colegas de classe [...] (BOSSA, 2002).

Como seres humanos, possuímos um caráter de avaliadores: gostamos de avaliar e

avaliamos a todo o momento. Existe uma questão importante, sabemos avaliar?

Este não seria o maior dos problemas, caso esta avaliação não repercutisse na vida

de outrem e trouxesse um intenso significado para os avaliados. A avaliação, em

especial, a escolar, pode assumir diferentes tessituras na forma de uma pessoa se

enxergar e de socializar com outros. Pensando na forma mais simples de

repercussão, a avaliação sobre uma pessoa pode influir na sua tomada de decisões

em como agir com o outro, podendo até mesmo obstruir todo potencial para a

relação com o outro. Isto inclui o poder de uma avaliação do professor. Muitas

vezes, atitudes de separar “bons” alunos de “maus” alunos, “inteligentes” dos “não-

inteligentes” pode resultar em sérios prejuízos para quaisquer dos tipos assim

caracterizados.

Na modernidade, a partir da concepção de criança e de escola, como período e

lugar preparação para vida adulta, instituem-se parâmetros de normalidade e de

anormalidade, que passam a ser mensuradas, treinadas e classificadas, sem o

devido cuidado.

“As crianças que não conseguiam adaptar-se às regras estabelecidas e atender a

um ideal de obediência, de disciplina, de eficiência e de racionalidade passaram a

serem vistas como fora da norma, isto é, de anormais.” (BOSSA, 2002, p.45).

No período moderno a fragmentação familiar foi caracterizada como uma das

principais causas do fracasso escolar, já que a família era a principal estrutura

organizacional, ou seja, subentende-se que estrutura familiar falida, gera fracasso

escolar evidente. Acreditamos que há de se analisar este fenômeno com cuidado,

para não se incorrer numa postura de causa/efeito determinista, extremamente

perigosa, em especial sobre a identidade do aluno, de seu amor próprio, de sua

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visão de si mesmo, prejudicial à manutenção de estímulos importantes ao seu

desempenho escolar e de seu interesse pela aprendizagem.

Um dos grandes problemas, é que não há muita reflexão e simpouco conhecimento

docente sobre como se sentem crianças/adolescentes que não conseguem

acompanhar a turma, considerados inaptos para a escola, alegando-se que

possuem deficiência ou insuficiência neurológica. O perigo é que professores podem

reafirmar, cada vez mais, que a escola não é para todos, que a escola é para

aqueles que se adaptam e conseguem acompanhar o ritmo.

De acordo com Oliveira,

“[...] Cada estudante constrói (independentemente dos diferentesníveis), cada conteúdo que é construído (neste caso o geográfico),prioritariamente, em sua própria dimensão dos significados e níveisde abstração, sua própria visão de mundo e de homem, seu próprioconhecimento social e ambiental e, por fim, atinge sua cidadania”.(OLIVEIRA, 2012, p.219)

O mundo moderno, ao idealizar a criança ideal, acabou por a negar as diferenças e

a subjetividade de toda. As crianças acabaram por tornarem-se objeto da ação dos

homens que vêm nelas possibilidades, acabam por refletir nelas aquilo que

desejavampara si, entretanto, seus desejos estão associados a um pensamento

moderno capitalista que não valoriza qualquer coisa que não seja lucrativo, o ser

criança deixou de ser algo bom para tornar uma responsabilidade, um momento de

preparação para uma vida futura repleta de alienações que visam apenas o

materialismo. (BOSSA, 2002).

“(...) quando se postula um ideal, acaba-se por impedir a emergênciado singular, daquilo que, como diferença, distancia- se do ideal. Se osujeito está para além dos ideais, se sua objetividade está naquiloque escapa para o existir da criança no mundo atual, não resta outrasolução senão a de fazer sujeito por meio de seu sintoma”. (BOSSA,

2002, p.54-55).

Muitas vezes, o desestímulo é posterior ao anunciado,fracasso escolar.

 Transformado em sintoma, sinaliza que algo não está indo bem. Todavia, este

sintoma passa despercebido por professores e pelos pais. Associar este sintoma – o

desinteresse - a problemas de ordem cotidiana do aluno pode mascarar outros

problemas, como a forma de tratamento do processo de ensino, tornado mecânico,

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reprodutivo, alienado da capacidade de envolvimento do aluno, desvinculado do seu

cotidiano e de suas demandas.

Lembrando Freire (1979, p.32), podemos perceber que “A educação deve ser

desinibidora e não restritiva. É necessário darmos oportunidade para que os

educandos sejam eles mesmos” mostrando para a sociedade, e até mesmo dentro

do ambiente escolar, seu potencial. Como professores podem contribuir para que

isso ocorra?

Levando-se em consideração em não incorrer no perigo de culpabilizar o professor

de maneira perversa, é preciso destacar que professores necessitam de um

envolvimento maior ou um tempo maior de convivência com seus alunos para que

notem este sintoma do desestímulo escolar.

BOSSA alerta sobre a necessidade de atenção sobre o desinteresse, como sintoma

e como consequência:

“Em nossa vida profissional, vimos crianças que, durante anos,manifestavam determinados sintomas, como enurese, obesidade,anorexia, enxaqueca, alergia, hiperatividade e vários outros.Contudo, somente quando começaram a fracassar na escola é quese fizeram ouvir.” (BOSSA, 2002, p. 59)

É importante ressaltar que, talvez, se houvesse um maior comprometimento da

família com o trabalho docente e vice-versa, esses sintomas seriam mais

perceptíveis. Porém, muitas vezes as famílias se encontram em grandes lutas para

sobreviverem e não conseguem sequer observar se seus filhos estão bem. O

trabalho de educação ou preparação para a vida adulta como é a proposição da

escola, requer um trabalho conjunto entre escola e família. Este trabalho, algumas

vezes, têm sido ampliado em algumas instituições escolares, alcançando os

resultados positivos quando realizado em conjunto.Com estas reflexões, ousamos

elaborar conceitos e realizar a distinção entre alguns aspectos que já abordamos

aqui. Falamos de sintomas, de desestímulo, desinteresse e fracasso que estamos

considerando aqui como processos e resultantes destes processos. Para sintetizar,

os sintomas são processos que ocorrem no comportamento do aluno, quando estão

em situação pouco confortável. Podem ser reconhecidos como sinais de que algo

está errado. Podem resultar em sérios prejuízos, cognitivo, quanto social.

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Os desestímulos podem ser entendidos como obstáculos que impedem o interesse,

podendo causar o desinteresse escolar que é uma situação momentânea resultante

de vários desestímulos. Não estamos considerando o desestímulo como algo imóvel

e imutável, mas também um processo que pode ser revertido se detectado. O

problema é que, se essa situação permanecer durante muito tempo, poderá

comprometer o futuro do aluno, visto que, a permanência durante grande período

nessa situação causará efeitos psicológicos difíceis de serem revertidos ou quase

impossíveis, como sugere BOSSA, “A função que a escola tem em nossa cultura faz

dessa instituição o lugar privilegiado na formação de um sintoma; ela não só gera o

sintoma, como também o denuncia.” (BOSSA, 2002, p. 59-60)

 Temos então, o fracasso escolar como resultado de todo esse processo que

acontece com o educando e, que, na maioria das vezes, não é percebido antes que

seja declarado como tal: fracasso escolar. Este fracasso pode-se manifestar de

diferentes maneiras, uma vez que a personalidade interfere nos resultados, com

uma singularidade que pode intensificar, amenizar ou atenuar resultados.

Consideramos como o ápice do fracasso a evasão, que é a forma mais evidente do

fracasso escolar, visto que, o aluno abandona a instituição escolar por não se

‘enquadrar’ nos processos manifestos dentro deste ambiente.

“[...] quando se trata de pensar a questão do fracasso escolar, nãopodemos ignorar o paradigma emergente e reproduzir um discursoque se fundamenta na análise do social e nega a dimensãoindividual, ou seja, as condições de possibilidade de uma forma desubjetividade suscetível de fazer sintoma na aprendizagem escolar.”(BOSSA 2002, p. 66)

Sendo assim, deve-se considerar que o fracasso escolar envolve vários fatores que

partem das particularidades do individuo além de refletir as condições dos agentes

externos, bem como, a estrutura familiar, estrutura institucional e o ensino escolar

em sala de aula.

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2.1 ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTALMANOEL LOPES (UNIVERSO DE PESQUISA)

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Manoel Lopes,selecionada para este

estudo, encontra-se localizada em um bairro periférico do município de Serra –

Região Metropolitana da Grande Vitória. Esta escola atende a alunos do ensino

fundamental de séries iniciais e finais, nos turnos matutino e vespertino. No turno

matutino atende cerca de 300 alunos de 1º ano a 4ª série, no turno vespertino cerca

de 280 alunos do 4º ano a 8ª série do ensino público regular, sendo formada em sua

maioria por alunas. A escola ainda encontra-se em processo de transição do ensino

fundamental de 8 anos (série) para o ensino fundamental de 9 anos de acordo com

a nova legislação - Lei nº. 11.274/2006 que institui o ensino fundamental de nove

anos de duração com a inclusão das crianças de seis anos de idade.

Localiza-se no bairro Taquara II e está inserida em uma comunidade de baixo poder

aquisitivo. A maior parte dos alunos mora próximo à escola e nas mediações.

Existem também alunos que são do bairro vizinho, Taquara I, e que estudam na

escola Manoel Lopes.

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O bairro está a menos de um quilômetro de distância da BR 101 norte.Ao lado da

escola há uma creche e uma praça, a única do bairro onde crianças e jovens se

encontram para jogar bola, bater papo, se distrair e passar o tempo. Localiza-se

ainda, próxima ao posto de saúde do bairro, e uma mercearia que é o principal

estabelecimento comercial do bairro, local em que, a comunidade e professores

utilizam para suas compras. Em frente à escola, também, encontra-se uma loja de

doces na qual os alunos utilizam como cantina no horário do intervalo, através das

grades da escola, já que, segundo nova regra de comercialização dentro de

instituições de ensino, impedem a comercialização de produtos não benéficos a

saúde dos alunos.

MAPA I – Localização da Escola “Manoel Lopes”FONTE: SESP – Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social – Elaboração: Valquíria e Tales (2013).

A escola possui um grande entrosamento com os pais dos alunos e procura sempre

participar da vida social dos educandos. Essa possui alguns programas com o intuito

de evitar que as crianças e adolescentes permaneçam muito tempo na rua, a fim de

propiciar uma melhor convivência da comunidade com a escola, e até mesmo umaocupação para os estudantes, como por exemplo, o Programa Mais Tempo na

Escola e Escola Aberta.

Segundo o documento diretriz do Programa Mais Tempo na Escola da Secretaria de

Estado da Educação do Espírito Santo – SEDU/ES - tem por objetivo “...ampliar o

tempo de permanência do aluno na escola, criando novas oportunidades de

aprendizagem, contribuindo para a melhoria do desempenho escolar e ampliação do

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universo de experiências socioculturais, esportivas e de iniciação científica”

(ESPÍRITO SANTO/ SEDU, 2009).

O Programa Escola Aberta é uma cooperação entre Ministério da Educação,

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO –ea SEDU e “...visa estreitar os laços entre escola e comunidade, ampliar as

oportunidades de acesso a espaço de promoção da cidadania, possibilitar a criação

de espaços alternativos de lazer, educação, esporte , cultura e formação inicial para

o trabalho e contribuir para a melhoria da qualidade de educação, a inclusão social e

a construção de uma cultura de paz.” (ESPÍRITO SANTO/ SEDU, 2012).

A E.E.E.F Manoel Lopes é a única escola do bairro, possui uma estrutura de

pequeno porte, com a finalidade de atender a demanda desse bairro. Os jovens que

cursam o Ensino Médio têm que se deslocar para bairros vizinhos. A escola possui

um espaço físico deteriorado e aquém das necessidades dos alunos e funcionários.

A estrutura deficitária do espaço físico da escola é motivo de reclamações dealunos. Contudo, não pode ser notada no arranjo quantitativo de salas, como

descrito a seguir, que pode ser interpretado como um conjunto arquitetônico

vantajoso para instalação de uma escola:

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Tabela I - ESPAÇO F SICODESCRIÇÃO QNT

Sala de aula 11Sala de professores 1Sala de pedagogo 1Sala do Diretor  1Sala da coordenadora 1Secretaria 1Biblioteca 1Sala de vídeo 0

Sala de Recursos 1Sala de informática 1Refeitório 1Quadra pol iesportiva 1Banheiro de funcionários 3Banheiros dos alunos 2Banheiro para Deficientes 1 Almoxar ifado 3Cozinha 1

2.2 METODOLOGIA

Para este estudo, na Instituição de ensino “Manoel Lopes”, fez-se necessário a

utilização de autorizações para a pesquisa, bem como, para a permanência dos

pesquisadores na escola, realizando a pesquisa individual com os alunos, assim

como efetuando as gravações das entrevistas. Essas autorizações estão

devidamente anexadas, no final deste trabalho.

Com as autorizações em mãos retornamos à escola para levantar dados voltados ao

desenvolvimento deste estudo.

Utilizamos de dois métodos de pesquisa: a pesquisa bibliográfica-documental e a

pesquisa em campo. A abordagem foi qualitativa nos dois casos, embora a

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tabulação dos dados tenha um sentido numérico, necessário à compreensão dos

dados produzidos.

Na pesquisa em campo valemo-nos do questionário para identificar os principais

pontos que deveríamos abordar e na segunda parte da pesquisa, realizamosentrevistas, para aprofundamento das compreensões, em especial, devido a

pressupostos que trazíamos conosco.

O questionário foi aplicado em uma turma de 8º. ano, para vinte e quatro alunos, e

continha questões objetivas, enquanto a entrevista foi realizada com três alunos de

7º e 8º anos, orientada por perguntas abertas, no estilo entrevista não-estruturada

(DEMO, 1995).

Utilizamos para definir as questões, alguns pressupostos para direcionar o

questionário e não negligenciar assuntos importantes para a compreensão do

desinteresse escolar. Consideramos aspectos que, segundo alguns autores

(OLIVEIRA, 2012; PONTUSCKA, 2012, BOSSA, 2002, PATTO, 1999, AQUINO

1997, ROBINSON 1978), seriam importantes para compreender o

interesse/desinteresse escolar dos discentes. Dentre fatores que propiciam o

desinteresse escolar, destacam-se

a família, se são motivados ou se a família não os auxilia;

a escola, se a escola propicia uma boa aprendizagem no meio educacional,

não apenas com relação aos professores;

a relação biopsicossocial;

a atitude dos próprios alunos, com relação à sua postura escolar.

A partir de embasamento teórico sobre o tema e graças às constatações em estágio

supervisionado, escolhemos dentre várias questões antes elaboradas, duas ou trêsque abordassem cada fator, para que pudéssemos preencher lacunas do nosso não-

saber-ainda (ESTEBAN, 2002) sobre o tema. Assim, constituímos a entrevista não-

estruturada, a fim de esclarecer as dúvidas a partir do questionário e corroborar ou

não as afirmações constatadas nele.

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Na escola em que foi realizada a pesquisa, pôde-se perceber que muitos alunos se

mostraram seguros com relação às respostas fornecidas e demonstraram que

apesar de possuir dificuldades assumidas na disciplina de Geografia, se interessam

em aprender. Porém, apontam outros fatores que, segundo eles, interferem em suas

aprendizagens, fatores esses que abordaremos mais a frente.

 Três alunos foram selecionados pelo professor ministrante da disciplina, que

considerou o desempenho deles na disciplina, no dia a dia de sala de aula. Eles

aceitaram colaborar conosco, apontando o que percebem e o que vivem em sala de

aula. Com esses educandos, foi realizada uma entrevista sobre o ensino de

Geografia e o desinteresse escolar. A partir daí, analisamos o que disseram e o que

apontaram nos dois instrumentos de pesquisa. Eles expuseram suas opiniões e até

mesmo fizeram propostas relativas ao ensino da Geografia em sala de aula.

2.3 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Considera-se que o fator gênero não interferiu no resultado da pesquisa, uma vezque na turma em que foi aplicado o questionário, há equilíbrio no gênero dos

estudantes: feminino 54% e masculino 46%. Um estudante não respondeu.

A idade predominante é de 13 anos, entretanto, a faixa encontrada foi de 12 a 17

anos, o que reforça a ideia de fracasso escolar, visto que, a repetência é algo

recorrente dentro da escola, pois seis alunos estão acima da faixa etária regular.

Além disto, segundo conversas com a pedagoga, no ano anterior houve um grande

registro de repetência, principalmente nas turmas de 5ª e 6ª séries.

A questão de distancia ou dificuldade para acessar a escola, como um fator do

desestímulo é desconsiderada, pois 71% dos alunos diz morar no bairro que localiza

a escola, outros 21% diz morar no bairro vizinho (porém, mesmo sendo outro bairro

seu acesso não é considerado difícil ou mesmo longe) e 8% dos alunos não

responderam.

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Na elaboração do questionário, a partir da base teórica estudada, considerou-se

necessário entender qual era a visão do aluno sobre escola. A partir daí, decidiu-se

criar duas questões que pudessem ser contrapostas para identificar como o aluno

via a escola:

“de que forma você considera a escola? um lugar onde você vai...

O que mais interessa a você na escola?

Os resultados foram, de certo modo, surpreendente, pois não se esperava que 75%

dos alunos assumissem a escola como um local onde se vai para aprender , pois

mesmo que seja comum afirmar que as crianças e jovens não veem escola como

deveriam, elas reconhecem a intencionalidade da escola.

Na outra questão vinte dois educandos disseram que mais lhes interessa são as

aprendizagens, enquanto quatorze alunos entre os vinte e quatro entrevistados

afirmaram que a as amizades são, também, um dos grandes interesses do

ambiente escolar. Embora estes jovens afirmem a importância da aprendizagem,

reconhecem também que a escola é um lugar de variados interesses e de

possibilidades, dentre as quais a socialização, merenda (nenhuma indicação), outro

interesse (nenhuma indicação).

É importante destacar que um dos alunos reconhece que vai à escola por obrigação.

Esta resposta repousa no que normalmente acreditamos, que eles vão apenas por

obrigação. Todavia, fazendo a análise sócio-espacial da comunidade escolar, nos

questionamos sobre a situação da escola em uma localidade economicamente

limitada, o que torna a escola, para muitas crianças que ali estudam, um dos poucos

lugares de interação e diversão. É na escola que interagem, fazem trocas de

saberes e vivencias culturais de todo tipo e toda forma. Estas crianças valorizam a

escola como seu espaço, seu lugar de vivências e experiências, valorizam os

momentos que vivem dentro da escola mesmo que não demostrem contentamento.

A princípio, nossa principal associação ao desinteresse escolar era que o trabalho

estivesse diretamente associado aos desestímulos e a evasão escolar, porém,

constamos que apenas três alunos dentre os entrevistados trabalham fora de casa e

a maioria diz que possuem algumas responsabilidades em casa, porém afirmam que

o trabalho não interfere nos estudos e ainda enfatizam que é necessário e

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Tem a ver indisciplina e aulachata?

Ah, (risos e afirmação)...Muito ou pouco?

Acho que uns 90%.Aluna S.

“[...] professor tem que ter autoridade, não precisa

ficar ameaçando, se você fazer você ganha se não

fizer..., isso é coisa de criança pra mim [...].”

Aluna S.

“Tipo, geografia e história é diferente as

matéria, fala sobre o mundo fala dos negócios

do tempo [...].”

Eu gosto de geografia porque fala dos planetas... das coisas da Terra [...] geografia também acho legal porque fala dos países tudo

que a gente deve saber, acho legal geografia por isso, porque fala

bastante do que a gente vive e o que tipo a gente..., mostra muito

naquele globinho alí ó (apontando para o globo terrestre) que

vocês (professores) levam para sala e tal, mostram os países,

porque a gente num... a gente mora no Brasil não sabe direito o

que acontece né [...].”

importante estudar. Segundo um aluno “[...] ir pro colégio pra mim aprender, pra ser

melhor pra mim lá na frente. [...] porque vou ter um serviço melhor, vai ser melhor

pra minha família.”

É importante observar que metade dos alunos considera-se, às vezes interessados,às vezes desinteressados, ou seja, esses alunos podem estar interessados em

determinadas aulas e desinteressados noutras.

A questão que aborda a indisciplina recebe deles, como resposta, uma visão

surpreendentemente conservadora: 30% considera que ela

atrapalha a aula e 28%dos alunos afirma que o controle da

disciplina depende do professor, o que torna a

(in)disciplina diretamente ligada ao (des)interesse. Ementrevistas, os alunos afirmaram, categoricamente, que o

professor necessita ter autoridade,por eles denominadas

como “moral” em sala de aula, caso

contrário, a aula torna-se “chata” e

favorece a indisciplina. A ênfase que

dão a esta compreensão pode ser

percebida em outra questão, quando

afirmam que a aula é “chata” quandoo professor não tem autoridade

(14%). Em contrapartida, a

seriedade do professor

(33%), também torna a aula

monótona, pois, segundo

eles, embora a seriedade do professor seja necessária para o desenvolvimento de

uma boa aula,

quando o

professor

é muito

sério, não ri, eles

não têm abertura

para dialogar e

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tirar dúvidas. Tem medo? .

Quando se pergunta sobre as aulas de geografia, a grande maioria afirma ser uma

aula interessante, pois aborda diversos temas. Entre eles, a idéia mais recorrente é

o que se refere- a uma disciplina da natureza e isso os leva a ter um maior interesse.Isto também pode ser reflexo da linha de estudos de seus professores quando

enfatizam mais este tipo de conteúdo em sala de aula.

 As au las de geografia servem para:

nada; 0

entender como funciona a Terra; 14

passar de ano; 3

conhecer os planetas; 8

entender o que se passa no mundo; 6

saber como é a vida em diferentes lugares do planeta Terra; 9

saber respeitar o meio ambiente; 6

conhecer as características dos lugares do Brasil e do Mundo; 12

localizar lugares, países, rios, montanhas etc.; 11

fazer e entender mapas; 8

Outra coisa 0

Não respondeu 1

Grande parte dos alunos também afirmou que acha as aulas de geografia

interessantes (53%), descontraídas e animadas (33%). Diante disso, podemos

associar a necessidade que essas crianças demonstram de conhecer mais sobre o

mundo que vivem.

Em meio a tantas informações, entretanto, não sabem o que realmente significam

algumas informações. Nesta zona de fronteira, entre o socialmente aceito e oque

está a se instituir, se constrói uma possibilidade de trabalho do professor: promover

o estímulo a novas aprendizagens através do aguçamento da curiosidade.

Podemos arriscar em dizer que os professores de Geografia que passaram por esta

escola nos últimos anos, podem ter tido uma preocupação com as aulas tradicionais,

 já que, apresentam grande interesse pela disciplina.

Quando se trata dos assuntos da Geografia, os alunos se saíram muito bem, pois,

como podemos ver na tabela abaixo, a variedade de respostas foi grande. Dentre

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elas destacaram-se ‘entender como funciona a Terra’ e ‘conhecer as características

dos lugares do Brasil e do Mundo’. Ainda nota-se que a cartografia tradicional tem

sido difundida pelos professores, já que, 11 responderam que serve para localizar e

8 responderam que serve para fazer e entender mapas.

Tabela 2 - As aulas de geografia servem para:  

nada; 0

entender como funciona a Terra; 14

passar de ano; 3

conhecer os planetas; 8

entender o que se passa no mundo; 6

saber como é a vida em diferentes lugares do planeta Terra; 9

saber respeitar o meio ambiente; 6

conhecer as características dos lugares do Brasil e do Mundo; 12

localizar lugares, países, rios, montanhas etc.; 11

fazer e entender mapas; 8

Outra coisa 0

Não respondeu 1

Compreendemos ainda, a partir dessas questões que os alunos ainda encontram na

geografia uma forma de buscar ver o mundo de uma forma mais ampla e que cabe oprofessor leva-los a este universo.

Como foi abordado, no primeiro capitulo, a geografia tradicional , mais descritiva,

pode não ser a tônica que eles assimilam com maior facilidade. A Geografia que

estimula a conhecer o espaço geográfico para poder analisa-lo, exige- ser

trabalhada a partir das vivencias cotidianas, como o simples modo de observar as

estações do ano e demarcar territórios com agrupamentos de turmas vestidas

alegremente com cores abusadas, circulando com bicicletas, skates, bonés e

gírias...

Conforme já foi analisado nos capítulos anteriores, o educando terá mais facilidade

em aprender a partir daquilo que ele vivencia, uma vez que ele trará para discussão

seus pontos de vista, favorecendo a construção de seu conhecimento e postura

crítica.

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Segundo Kaercher (apud Souza, 2009, p. 06):

“Mostrar que sabemos geografia não é sabermos dados ouinformações compartimentadas, mas sim, relacionarmos asinformações ao mundo cotidiano de nossos alunos (...) Se ajudarmos

nossos alunos a perceberem que a geografia trabalha com asmaterializações das práticas sociais, estaremos colocando-a no seucotidiano.”

Alguns alunos, quando questionados sobre como aprendem mais, reforçaram em

sua maioria que aprendem mais quando o professor explica a matéria e utiliza

recursos interativos. E acrescentam ainda, que quando o professor é muito sério, ou

chato inibe os educandos de possíveis questionamentos sobre o conteúdo a ser

trabalhado. Afirmam que aprendem mais quando o professor é animado, pois assim

entendem que serão atendidos quando solicitado. E acrescentam ainda que achamnecessário o professor saber dosar brincadeiras com as aulas, pois captam melhor a

atenção dos discentes. Segundo eles, a aula é mais interessante quando o professor

é divertido nas explicações e é legal.

È interessante analisar que a palavra ‘legal’ soa tão bem para um aluno em sua

relação com seu professor, quanto o seu julgamento do professor... mas por que ele

fica mais interessado na aula quando o professor é legal? A palavra traz consigo um

tem paciência;

1904ral; 16%

Série1; é legal;;

1900ral; 27%

é bonito (a);;

1904ral; 0%

é divertido(a) nas

explicações;;

1904ral; 34%

explica; 1904ral;

14%

é bravo(a);;

1904ral; 0%

é alegre.; 1904ral;

9%

outro motivo;

1904ral; 0%

Você fica mais interessado na aula

quando o professor:

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sentimento, uma identificação pessoa com a pessoa, logo o professor não é

interessante apenas por saber o conteúdo ou saber explicar. O “legal” envolve

muitas outras dinâmicas do cotidiano tais como saber ensinar e aprender, falar e

ouvir, lidar com a subjetividade de cada sersob sua responsabilidade.

Segundo J odelet (apud Santos, 2011, p. 313):

“As representações sociais devem ser estudadas articulandoelementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado dacognição, da linguagem e da comunicação, as relações sociais queafetam as representações e a realidade material, social e ideal sobreas quais elas intervirão.”

No geral, os alunos demonstraram uma boa tolerância e até mesmo interesse na

disciplina geográfica, afirmando que a disciplina é muito importante para o homem

no mundo. E ainda por que é importante e interessante conhecer o “planeta, as

culturas, as diversas populações [...]”.

 As aulas de geografi a servem para:

nada; 0

entender como funciona a Terra; 14

passar de ano; 3

conhecer os planetas; 8

entender o que se passa no mundo; 6saber como é a vida em diferentes lugares do planeta Terra; 9

saber respeitar o meio ambiente; 6

conhecer as características dos lugares do Brasil e do Mundo; 12

localizar lugares, países, rios, montanhas etc.; 11

fazer e entender mapas; 8

Outra coisa 0

Não respondeu 1

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O que sua mãe acha de você estudar?Acha melhor.Mora com seu pai?NãoCom seu irmão?Com meu irmão moro.O que sua mãe acha de você estudar?Fala que é melhor pra mim estudar que é

melhor.Por que melhor.Pra não ficar atrapalhando os outros em

casa.

O que você acha de estudar? Precisa?Precisa.Por quê?É melhor, que arrumar casa e fazer osnegócios dentro de casa.Mas, porque é melhor estudar?Melhor ue ficar em casa sem fazer nada

Observa-se através das entrevistas que, mesmo os familiares não tendo uma boa

formação educacional, eles incentivam seus filhos e se esforçam em lhes dar uma

boa instrução escolar. Os próprios alunos reconhecem isso e quando questionadosse seus pais os acompanham na escola, todos responderam que sim e que os pais

sempre os estimulam a estudar. A

exemplo, uma aluna, que no ano

anterior havia desistido de estudar,

afirmou que seu pai a matriculou e

propôs-se a pagar um curso extra, para

que ela retornasse à escola para

completar os estudos. Os alunos

reconhecem que é importante e necessário

estudar, porém ainda que os pais os

estimulem, alguns afirmaram que vão à

escola apenas porque não querem ficar em

casa. Há, contudo, felizmente, alguns

afirmam estudar porque pretendem

conseguir algo melhor na vida. Um aluno1 

(do grupo entrevistado) acredita ser necessário “estudar para aprender e ser mais

importante”.

Esse desejo do aluno nos sensibilizou. Todavia, o aguçamento desta sensibilidade

se fez mais forte quando, na mesma entrevista, ele alega que a escola serve pra ele

não ficar em casa atrapalhando quem lá está. Em sua conversa, indagado como e

porque atrapalha em casa, ele nos deixa entrever como a família introjeta nele essa

sensação.

Isso pode nos fazer pensar em que escola as famílias tem imaginado? Um local para

assegurar aos filhos segurança, enquanto estão trabalhando ou, pior, a escola

representa um momento de descanso para quem fica em casa?

1Os alunos do grupo de entrevistados não serão identificados, sequer por gênero, garantindo-se assim seu

anonimato.

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A reflexão seguinte é: como suprir o desinteresse que a família expressa pelas

possibilidades das aprendizagens propiciadas aos seus filhos, se o jovem é

considerado estorvo? Que interesses podem ser despertados em adolescentes que

parecem não receber interesses por si próprios em casa? Como a escola pode

substituir isto? Que Geografias atravessam essas condições?

É preciso entender a importância da relação agradável de parceria com as famílias

dos educandos, promovendo reflexões sobre a responsabilidade que deve existir

quanto à formação do jovem no lar. Estimular a auto-estima do aluno na família e

desta por si mesma deve ser princípio da ação da escola. A parceria da escola

com a comunidade é ação imprescindível para que os alunos sejam plenamente

atendidos em suas demandas.

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CAPÍTULO 3

3. E A ESCOLA SERÁ CADA VEZ MELHOR... NADA DESER COMO TIJOLO QUE FORMA A PAREDE,

INDIFERENTE, FRIO: NUMA ESCOLA ASSIM VAI SERFÁCIL ESTUDAR, TRABALHAR, CRESCER, FAZER

 AMIGOS, EDUCAR-SE, SER FELIZ 

A Geografia reúne saberes de inúmeras áreas do conhecimento, por isso viabiliza otrabalho docente em sala de aula, além de contar com possibilidades de encontrarno cotidiano esse ponto entre o real e o saber a ser ensinado. Todavia, nem sempreessas possibilidades têm sido exploradas.

Como vimos, na pesquisa, a geografia é uma disciplina que gera interesse nosalunos pelo fato de falar de mundo e de trabalhar com o que acontece na vidadeles.. Os alunos reconhecem que a Geografia é uma matéria que trata também davida que eles vivem, é nesse momento que entra a necessidade de reflexão doprofessor para explorar essa curiosidade esse encantamento. É necessário sairmosdo discurso tradicional e mergulharmos em novas possibilidades, Geografia não éapenas a descrição desse mundo físico, vai além, tece oportunidades grandiosas detrabalhar com o real e o que está próximo ao aluno.

Vamos partir do principio básico para a construção de uma aula que suscita

questionamentos, envolvimento, comprometimento dos alunos e professores. Para aprática do ensino é necessário a reflexão sobre o ensino, caso contrario nãochegaremos a lugar algum e essa reflexão envolve o planejamento escolar doprofessor. Acreditamos que, se o professor trabalhar no planejamentoempenhadamente, certamente ela não despenderá tanto tempo em sala de aulacom a organização e o desenvolvimento de sua aula, pois despertará o interesse doaluno em participar das aprendizagens.

E é exatamente o que queremos tratar aqui, despertar o interesse desse aluno que,como vimos, está ora interessado, ora desinteressado. Sobre o planejamentoescolar, Libâneo (apud STEFANELLO, 2009, p. 60) afirma:

“[...] é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividadesdidáticas em termos de organização e coordenação em face dosobjetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrerdo processo de ensino. O planejamento é um momento de pesquisae reflexão intimamente ligado à avaliação.”

É importante que o professor seja um pesquisador e planejar é pesquisar. Oplanejamento é uma tarefa difícil, mas não tanto quanto encarar o desinteresse dosalunos em sala de aula que nos reflete mais diversos modos de expressão,

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indisciplina, falta de responsabilidade, de comprometimento, notas baixas, evasãoescolar, repetência, e tantos outros.

Outro aspecto muito importante que cabe ao professor é conhecer seus alunos, suasparticularidades para que assim possa desenvolver um trabalho efetivo com cada

um. É necessário envolvimento na prática docente, esse envolvimento geraidentificação com o professor, a partir do momento que o aluno sabe que podecontar com o professor, que pode conversar, perguntar, propor alternativas... otrabalha docente fica mais fácil.

Para Ornellas (apud SANTOS, 2011, p. 317) “Cabe à escola a tarefa de escutar ascrianças e jovens no sentido de reconhecer a singularidade de cada um, buscandoentre autoridade e o afeto um jeito novo de educar”. É esse afeto que geracumplicidade, interesse do aluno com o professor, pois sentem-se seguros.,

Somos seres sociais e não podemos negar isto dentro de sala de aula. O

conhecimento é muito mais que aquilo que está no livro. O conhecimento do outro, oconhecimento das relações podem despertar o interesse no que o outro têm acontribuir.

Os sentimentos estão a todo o momento determinando nosso modo de agir, e não édiferente em sala de aula, por isto é necessário explorar aquilo que pode contribuircom nosso trabalho.

“O pensamento se constitui na relação com o outro e, segundo Lacan(1991, p. 51), ‘[...] o inconsciente é estruturado como linguagem’. Apartir da aquisição da linguagem pela criança, os conceitos se

expressam através das palavras, que representam associações deobjetos, eventos ou fenômenos. Pode ser marcado pela linguagem eexpresso pelo registro simbólico, o conhecimento pode ser ampliadoe até modificado.” (SANTOS, 2011, p. 318)

Queremos deixar claro aqui, a importância das relações, considerando-se que, por

muito tempo, acreditou-se que, para ser um bom professor era necessário apenas

domínio do conteúdo e domínio de classe.. Os alunos pós-modernos tem

necessidades diferentes, leituras diferentes de mundo então é necessário que o

professor esteja atento a essas necessidades para que desenvolva um bom trabalho

com estes alunos que, cada vez mais, requerem atenção e envolvimento dodocente.

Segundo Stefanello (2009, p. 49) “A criança organiza e reorganiza o pensamento e a

afetividade em estágios sucessivos [...] desenvolvidos para a construção do

conhecimento.” Acreditamos que são essas organizações que tornam o

conhecimento crescente.

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O professor não é mais considerado o transmissor do conhecimento, ele é mediador

do conhecimento que é construído pelo aluno, porém, essa construção não indica

que construirá o conhecimento tal como foi intermediado pelo professor, suas

construções são subjetivas e dependem das particularidades do indivíduo. O

professor de Geografia tem o papel de contribuir para a “formação de sujeitos que

reconheçam a dimensão social de sua participação na apropriação do espaço”

(OLIVEIRA, 2006, p. 11).

Nas entrevistas, percebeu-se a necessidade que o aluno tem de variar as atividades

na escola, eles reconhecem que a explicação do professor é essencial para o

aprendizado, entretanto, as formas lúdicas e dinâmicas contribuem muito para seu

interesse, bem como, o uso didático de vídeos, música, teatro, e várias outras

possibilidades que podem ser utilizadas em sala de aula para incrementar o

conhecimento do aluno e acima de tudo despertar seu interesse.

O ensino deve ser estratégico, utilizando-se das mais variadas formas de interagir os

alunos com o conteúdo para que os mesmos sintam-se importantes dentro do

espaço escolar, e além de tudo valorizar o conhecimento que ele constrói. Essa

construção torna-se mais fácil e eficiente se estiver atrelada ao que o aluno vive, “O

professor pode tornar o conteúdo interessante para o aluno criando um elo entre o

fenômeno (conteúdo) a ser e a realidade do educando” isso torna o aluno

responsável também pelo que acontece no espaço em que vive. (STEFANELLO,

2009, p. 67)

Para Stefanello (2009), a escola deve realizar um trabalho de construção de

autonomia , ou seja, , favorecer o desenvolvimento dos sujeitos que estudam no

intuito de torna-los independentes na forma de agir , aprendendo a não depender

de um sistema ou de não se submeter a qualquer força hegemônica dominadora .

Caso a escola não realize esta politica, certamente será mais uma instituição

contraditória, pois será silenciada por politicas externas que a colocam como lócus 

de produção de dominados.

A Geografia deve servir como meio de formação crítica para que o aluno não se

torne objeto ou sujeito de dominação.: “[...] o aluno precisa sentir que pode fazer

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algo para melhorar o seu cotidiano, o seu país, o seu planeta.” (STEFANELLO,

2009, p. 67) Então é necessário cultivarmos na escola essa criticidade para que

resulte na “libertação individual e coletiva” (VISENTINI, apud STEFANELLO, 2009,

p. 61).

É importante explorar todas as possibilidades que a escola oferece para desenvolver

o interesse pelo aprender: as salas de informática, salas de vídeo, bibliotecas, pátio,

laboratórios.

Valorizar o espaço escolar como todo e não apenas as salas de aula, significa tirar o

aluno de sala de aula e leva-lo ao cotidiano que se estende para além das paredes e

muros da escola. Esta prática, tão especial para a aprendizagem de uma Geografia

que propõe a leitura de mundo, pode envolver os jovens no estudo e na aplicação doque é estudado.

Quando o aluno percebe que existem várias oportunidades nas aulas ele verá e

efetuará a leitura de mundo desejada com outros olhos: olhos mais abertos pelo

interesse e mais atentos pelo desejo de aprender.

 Talvez seja esta a falta que provoca outra falta: a falta de interesse. De ambos os

lados e inexoravelmente atreladas entre si: o professor desinteressado, esmagado

pela opressão do sistema, e o aluno desinteressado pelas diferentes implicações

que discutimos neste trabalho.

Romper este ciclo é necessário.

A Geografia nos convida a fazê-lo: explorar o território escolar junto com os alunos,

ensinar com e sobre a natureza, fantasiar sobre cultura num ensaio de como vive-las

por prazer , agir e intervir na produção de espaços, chamar a turma para olhar pela

 janela da sala de aula e dizer de paisagens já vistas, sonhar com paisagens queainda será possível ver....

Roubar o interesse que nasce das falas juvenis e que percorrem redes sociais,

contando das populações como nossos grupos, discutindo fatos como laços que

amarram e desatam nosso dia a dia..., Resgatar de nossos antepassados suas

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vivências desconhecidas para forjar outras formas de viver num futuro que também

não conhecemos...

...é preciso mesmo interessarmo-nos e provocarmos interesse pelo que ensinamos,

que parece ser tecido mais por coisas muito distantes e que, no entanto, estão mais

próximas que imaginamos: a vida!

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADECURSO DE GEOGRAFIA

Pesquisadores: Tales Felix e Valquíria Monjardim

QUESTIONARIO PRÁTICO SOBRE O INTERESSE ESCOLAR PARTICULAR AOENSINO DE GEOGRAFIA

Gênero: ( ) Masculino ( ) FemininoIdade: ________Local onde mora:____________________

  De que forma você considera a escola? Um local onde você vai...( ) passar o tempo; ( ) aprender; ( ) por obrigação. ( ) outra coisa: __________________________________ 

  O que mais interessa a você na escola?( ) amizades; ( ) aprendizagens; ( ) merenda. ( ) outro interesse: _______________________________ 

  Você trabalha fora de casa?( ) sim;( ) não.

  Suas responsabilidades com o trabalho interferem nas suas atividades escolares?

( ) um pouco;

( ) muito;

( ) normal.

  Você possui responsabilidades dentro de casa?( ) poucas;

( ) algumas

( ) muitas.

  Como você se considera na escola? ( ) interessado;( ) desinteressado;

( ) às vezes interessado, às vezes desinteressado;( ) mais interessado do que desinteressado;

( ) mais desinteressado do que interessado.

  Na sua opinião, a INDISCIPLINA:( ) atrapalha a aula; ( ) acontece porque a aula é chata; 

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( ) depende do professor; ( ) é comum em todas as aulas; ( ) é coisa de jovens; ( ) outra coisa _________________________________________  

  Você gosta das aulas quando:( ) são vagas;

( ) aprende de forma divertida ;( ) há explicação que você entende;

( ) os alunos participam;

( ) tem atividade/dever;

( ) a turma pode fazer o que quiser 

( ) o assunto é interessante;

( ) aprende coisas sobre a vida;

( ) tem substituto;

( ) faz trabalho em grupo;

( ) tem filme vídeo;

( ) é na sala de informática;( ) não se faz nada;

( ) tem aula de campo.

  Você fica mais interessado na aula...

  ...quando o professor ou professora:( ) tem paciência

( ) é legal;( ) é bonito (a);

( ) é divertido(a) nas explicações;( ) explica

( ) é bravo(a);

( ) é alegre.

 ...quando a matéria:( ) é legal;

( ) vai ser prova na próxima aula;

( ) está no livro;

( ) é usada na atividade para nota;

( ) outra: _________________________ 

  A aula é chata quando o(a) professor(a):

( ) explica;( ) é serio(a);( ) é brincalhão/brincalhona;

( ) não tem autoridade;( ) mantém autoridade;

( ) dá aula na sala;( ) passa dever;

( ) trabalha com música;( ) é desanimado(a);

( ) Outro motivo: ______________________ 

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7/28/2019 Tcc Final Tales e Valquiria

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  Você acha que aprende mais:( ) fazendo dever;

( ) ouvindo o professor falar;( ) participando da aula;

( ) quando os colegas ficam quietos;( ) fazendo resumo;

( ) anotando o que o professor fala;( ) Outra forma:________________________ 

  O que você acha das aulas de geografia?( ) interessantes;

( ) chatas;

( ) diferentes;

( ) descontraídas/ animadas;

( ) comuns;

( ) Outra forma:______________________________________________ 

  As aulas de geografia servem para:( ) nada;

( ) entender como funciona a Terra;

( ) passar de ano;( ) conhecer os planetas;

( ) entender o que se passa no mundo;( ) saber como é a vida em diferentes lugares do planeta Terra;

( ) saber respeitar o meio ambiente;( ) conhecer as características dos lugares do Brasil e do Mundo;

( ) localizar lugares, países, rios, montanhas etc.;( ) fazer e entender mapas;

( ) Outra coisa:____________________________