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Visita técnica ao Sistema Cooperativo da Alemanha Cooperativismo Financeiro Novembro de 2015 Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa - Cnac Antonio Alberto Sica Felipe Rodrigues Beiral Joelson de Siqueira de Souza Marcela Mies Laino O conteúdo deste relatório representa o entendimento e a percepção obtida pelos profissionais da Cnac durante as visitas de estudo realizadas, portanto não representa o conteúdo detalhado e minucioso sobre os assuntos relatados. Assim, a Cnac não assume qualquer responsabilidade sobre a utilização desse relatório e ele não deve ser utilizado para outros fins de divulgação, de estudos acadêmicos ou de pesquisas.

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Visita técnica ao Sistema Cooperativo da Alemanha Cooperativismo Financeiro Novembro de 2015 Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa - Cnac Antonio Alberto Sica Felipe Rodrigues Beiral Joelson de Siqueira de Souza Marcela Mies Laino

O conteúdo deste relatório representa o entendimento e a percepção obtida pelos profissionais da Cnac durante as

visitas de estudo realizadas, portanto não representa o conteúdo detalhado e minucioso sobre os assuntos

relatados. Assim, a Cnac não assume qualquer responsabilidade sobre a utilização desse relatório e ele não deve

ser utilizado para outros fins de divulgação, de estudos acadêmicos ou de pesquisas.

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Visita técnica ao Sistema Cooperativo da Alemanha Cooperativismo Financeiro

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Sumário

1. Agradecimentos ......................................................................................................... 3

2. Introdução .................................................................................................................. 4

3. Dados geográficos e econômicos ............................................................................... 5

4. Organização do sistema financeiro ............................................................................. 7

5. Organizações do cooperativismo ................................................................................ 9

6. O cooperativismo financeiro ..................................................................................... 12

7. Fundo garantidor dos bancos – BVR ........................................................................ 14

8. Entidades de auditoria do cooperativismo ................................................................ 19

9. Federação regional de auditoria - Genossenschaftsverband Bayern - GVB ............. 20

10. Visita técnica a três bancos ...................................................................................... 24

11. Auditoria interna e externa ........................................................................................ 28

12. Controles e gerenciamento de risco nos bancos ...................................................... 31

13. Percepções de oportunidades e de desafios do cooperativismo no Brasil ................ 33

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1. Agradecimentos

Agradecemos à diretoria da Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac pela

oportunidade de participarmos do programa de estudos do cooperativismo na Alemanha.

Também manifestamos nosso reconhecimento pela excelência da Confederação Alemã de

Cooperativas (DGRV) e da Federação Regional de Auditoria, Genossenschaftsverband

Bayern (GVB), na organização do programa de intercâmbio e na escolha das instituições

visitadas e dos profissionais que, de forma voluntária, e com grande cordialidade dedicaram

recursos financeiros, estruturas e logística para promover um ambiente favorável ao

compartilhamento de conhecimento e expertises sobre o cooperativismo na Alemanha.

“Was der Einzelne nicht kann, vermögen viele”. (Quando o indivíduo não é capaz, o conjunto é.)

Friedrich Willhelm Raiffeisen

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2. Introdução

A Deutscher Genossenschafts und Raiffeisenverband e.V. - DGRV (Confederação Alemã

de Cooperativas) é uma entidade de cúpula nacional do cooperativismo na Alemanha,

equivalente à Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB no Brasil, e está presente

no Brasil desde maio de 1996 apoiando o cooperativismo brasileiro.

A DGRV organizou um programa de intercâmbio para gerentes da Cnac no período de

27/9 a 7/10/2015 com visitas técnicas em sua própria sede localizada na cidade de Bonn,

na Federação Regional de Cooperativas da Baviera (GVB), situada na cidade de Munique,

e nos bancos Starnberg-Herrsching-Landsberg eG, Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg

eG e VR-bank Werdenfels eG, localizados na região da Baviera.

Os temas e os objetivos abordados estão relacionados com a estrutura do sistema

cooperativo na Alemanha, com o sistema de proteção dos bancos cooperativos (BVR),

com a auditoria externa da Federação Regional de Cooperativas da Baviera, a GVB, com a

atividade de auditoria interna e com o gerenciamento de riscos das cooperativas de

crédito, que, na Alemanha, utilizam a denominação “banco”, o que não é permitido no

Brasil.

A programação atendeu às seguintes abordagens no âmbito do cooperativismo:

Visão geral sobre a estrutura;

Atuação do sistema de proteção dos bancos cooperativos;

Entendimento da atividade de auditoria externa;

Procedimentos de auditoria interna;

Controle e gerenciamento dos principais riscos.

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3. Dados geográficos e econômicos

A Alemanha é a economia com maior Produto Interno Bruto (PIB) da Europa. A indústria

alemã é altamente desenvolvida, possuindo tecnologia empregada e eficiência produtiva.

Os setores de serviços e de finanças também merecem destaque. Embora o país tenha

sido atingido pela crise econômica mundial de 2008, os efeitos ocasionados por ela não

foram tão fortes quanto nos outros países europeus e a economia alemã tem apresentado

um crescimento gradual nos últimos anos. Cabe salientar que na crise de 2008, os bancos

cooperativos na Alemanha não precisaram de auxílio do governo.

Os setores econômicos que contribuíram para o PIB de 2014 da Alemanha são: serviços

(68,4% - tecnologia, finanças, construção civil e turismo), indústria (30,7% - automóveis,

química e medicamentos) e agricultura (0,9%).

Dados geográficos e econômicos em 2014

Referenciais Alemanha Brasil

Área territorial 356.733 km² 8.512.000 km²

População (milhões de habitantes) 82,70 202.76

Ranking das maiores economias do mundo em volume de PIB 4º lugar 7º lugar

PIB (US$) (*) 3,62 trilhões 1,73 trilhão

PIB per capita (US$) (*) 44.700 8.536

Taxa de desemprego 4,8% em fevereiro/2015 4,8% média anual de 2014

Taxa de Inflação 0,4% (2015 - abril) 6,41% (IPCA de 2014)

Saldo da balança comercial (US$) Superávit de 300 bilhões Déficit de 3,930 bilhões

Taxa básica de Juros do Banco Central (**) 0,05% 14,25% ao ano (Selic)

Ranking mundial de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) 6º lugar 79º lugar

Fontes: IBGE, Ministério de Minas e Energias, Banco Mundial, CIA The World Factbook. (*) taxa de câmbio utilizada - US$ 1,00 = R$ 3,19 (em 27/3/2015). (**) Banco Central Europeu e Banco Central do Brasil - data de referência setembro/2015.

A economia alemã está caracterizada por aproximadamente 3,3 milhões de pequenas e

médias empresas (PMEs) com até 500 funcionários que atuam no artesanato, comércio,

turismo, serviços e profissões liberais. As PMEs representam 99,3% de todas as empresas

alemãs e aproximadamente 60% do PIB do país. Além disso, aproximadamente 15 mil

empregados, sujeitos às contribuições para a segurança social, foram contratados pelas

PMEs da Alemanha e contribuem com 69,3% dos postos de trabalho. O volume de

negócios de exportação das PMEs corresponde a 18% do volume total das exportações da

Alemanha.

As cooperativas na Alemanha são importantes para o desenvolvimento econômico do país.

De acordo com a DGRV, uma em cada cinco pessoas é associada a uma cooperativa,

sendo que praticamente todos os agricultores são associados a uma ou mais cooperativas

(em torno de 0,9% da população com propriedades em média de 48,5 hectares). Além

disso, 60% de todos os artesãos, 75% de todos os comerciantes de varejo, 90% de todos

os padeiros e açougueiros, bem como mais de 65% de todos os consultores fiscais

independentes participam de cooperativas. As cooperativas de habitação incluem 3,2

milhões de associados e representam cerca de 10% dos imóveis na Alemanha. Todas as

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atividades cooperativas na Alemanha têm como foco o fomento do sócio e de suas

necessidades econômicas.

Cabe salientar que as cooperativas financeiras operam com associados e não associados,

ou seja, não há obrigatoriedade de associação para usufruir de seus serviços.

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4. Organização do sistema financeiro

A Alemanha é integrante do Banco Central Europeu (BCE) que é o responsável pela

condução da política monetária na área do euro. O Banco Central Europeu é responsável

pela supervisão prudencial das instituições de crédito, localizadas na área do euro, no

âmbito do Mecanismo Único de Supervisão, que compreende também as autoridades

nacionais competentes.

No país, além do BCE, a supervisão bancária é de responsabilidade conjunta do Deutsche

Bundesbank (Banco Central da República Federal da Alemanha) e da BaFin

(Superintendência Financeira Federal).

O Deutsche Bundesbank foi fundado em 1957 e executa a política monetária na Alemanha

com o objetivo de manter a estabilidade no sistema financeiro e de pagamentos, monitora

os mercados financeiros e trabalha em organismos e instituições internacionais, como o

Banco Central Europeu e o Comitê de Basileia, a fim de identificar prontamente os riscos e

evitar as crises financeiras.

A BaFin foi fundada em 2002 e possui escritórios nas cidades de Bonn e de Frankfurt. Ela

está vinculada ao Ministério da Fazenda da Alemanha, com autoridade administrativa

responsável pela supervisão das instituições e tem as missões de limitar os riscos,

assegurar a integridade e o correto funcionamento do sistema financeiro alemão. Essa

entidade tem atuação comparada às instituições que, de certa forma, exercem o papel de

supervisão no Brasil: CVM, Susep e Bacen.

Distribuição dos papéis do sistema financeiro alemão:

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O setor bancário na Alemanha é basicamente composto por três grandes categorias de

bancos: bancos privados (em sua maioria estabelecidos como sociedades anônimas),

caixas de poupança (de posse dos municípios e, portanto, públicas) e os bancos

cooperativos. Os três tipos de intermediários financeiros são bancos universais com uma

ampla gama de atividades permitidas.

Sistema Bancário Alemão

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5. Organizações do cooperativismo

A DGRV (Confederação Alemã de

Cooperativas) é a confederação nacional do

setor cooperativo alemão. Agrupa 5.643

cooperativas de base nas áreas de

agricultura, crédito, pequenos produtores,

comércio e serviços. Essa confederação

conta com uma sólida experiência no

estabelecimento e no apoio de sistemas

cooperativos em muitos países da Europa.

Além disso, a DGRV vem trabalhando há

muitos anos na América Latina, África e Ásia. DGRV - Bonn/Alemanha

A estrutura da DGRV conta com o apoio da Federação Alemã Raiffeisen (Deutscher

Raiffeisenverband e.V – DRV), da Associação Federal de bancos Populares e de bancos

Raiffeisen, da Federação Central dos Grupos Industriais Integrados, da Federação

Nacional de Cooperativas de Consumo, das federações regionais de auditoria, do banco

cooperativo de âmbito nacional DZ BANK AG, do banco cooperativo regional WGZ BANK,

dos institutos especializados (como companhia de seguros, Caixa Econômica para

Habitação, Union Investment etc.) e de muitas cooperativas de base e centros regionais.

Desse modo, a DGRV promove o desenvolvimento do cooperativismo e alcança know-how

de toda a estrutura.

Essa entidade também mantém relação com várias organizações internacionais, tais como

a União Internacional Raiffeisen (IRU), a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), a

Associação Europeia de Bancos Cooperativos (EACB), a Confederação Latinoamericana

de Cooperativas de Crédito (COLAC), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o

Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (WOCCU).

As atividades da DGRV contribuem com conhecimentos técnicos para toda a rede

cooperativista, além de manter assessoria para o desenvolvimento em mais de 30 países,

com participação do Ministério Federal, para a Cooperação Econômica e o

Desenvolvimento (BMZ) com os seguintes objetivos:

Incentivar que a ampla população participe do desenvolvimento econômico e social

do país;

Eliminar de modo permanente as causas e as consequências da pobreza e das

distorções estruturais;

Incentivar a prática da autoajuda e de autorresponsabilidade;

Criar estruturas para o desenvolvimento sustentável.

Para o alcance de seus objetivos, a DGRV realiza as seguintes atividades no âmbito do

cooperativismo:

Fomenta as cooperativas de todos os ramos: finanças, agricultura, manufatura,

comércio e pequenas indústrias;

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Apoia e assessora as federações regionais de cooperativas;

Incentiva a formação e a capacitação cooperativista;

Auxilia na implementação de sistemas de auditoria e dos processos de supervisão.

As atividades da DGRV são orientadas pelas seguintes diretrizes:

Necessidades das pessoas nos países parceiros;

Autoajuda com orientação empresarial;

Diretrizes e projetos do governo alemão e a sua política de cooperativa para o

desenvolvimento;

Instituições internacionais e da Alemanha do setor cooperativista.

Cooperativas no setor agrícola

No setor agrícola tem-se um total de 2.297 cooperativas e 19 cooperativas centrais que

trabalham pelo bem econômico dos 1,5 milhões de sócios.

A participação das cooperativas agrícolas no mercado alemão oscila entre 30% para a

carne e vinhos, e 50% para cereais, verduras etc. e alcançam até 60% para a indústria

leiteira. Em volume de negócio total no ano de 2014, chegou a 66 bilhões de euros.

Cooperativas que atuam no setor da pequena indústria, do comércio e de serviços

O terceiro e o quarto pilar das cooperativas na Alemanha são as 2.084 cooperativas nas

áreas da pequena indústria, do comércio e de serviços e suas 7 cooperativas centrais,

além de 285 cooperativas de consumo. Elas contam com 900 mil sócios. As cadeias de

supermercados cooperativos, as cooperativas de compra para padeiros e as cooperativas

de profissionais da saúde representam somente uma parte do segmento crescente de

atividades cooperativas.

Principais dados do sistema cooperativo alemão em 31/12/2014:

(a) Atuação em 3 setores:

Agricultura: 2.297 cooperativas de base, 19 cooperativas centrais e 1 federação

nacional. O volume de negócios é de 66 bilhões de euros;

Bancário: 1.047 cooperativas de base, 2 bancos centrais cooperativos, vários

institutos financeiros específicos e uma federação. O total de ativos totaliza 788

bilhões de euros;

Pequenas indústrias e setor de serviços: 2.084 cooperativas, 7 cooperativas

centrais e 2 federações nacionais. O volume de negócios é de aproximadamente

117 bilhões de euros.

(b) 19,5 milhões de sócios e de clientes que representam aproximadamente 24% da

população da Alemanha;

(c) 5 federações regionais de auditoria e 6 federações de auditoria especializada;

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(d) 9 centros de capacitação tanto de âmbito regional quanto de âmbito nacional;

(e) Nenhum tipo de interferência, nem financiamento público. As cooperativas não

possuem benefícios tributários na Alemanha.

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6. O cooperativismo financeiro

O grupo bancário cooperativo está organizado de maneira descentralizada. Todas as

instituições locais são autônomas. Todos os bancos e os institutos financeiros cooperativos

regionais e nacionais (por exemplo, o DZ BANK AG – Deutsche Zentral-

Genossenschaftsbank e o Banco Central Cooperativo) apoiam o nível local (princípio de

subsidiariedade).

O sistema de cooperativas de crédito, que na Alemanha são chamadas de banco, está

organizado em três níveis com ativos que totalizaram 788 bilhões em 2014. Sua forte base

é constituída por uma rede de 1.047 bancos cooperativos de base e de suas filiais, que são

os bancos Populares, os bancos Raiffeisen e os bancos cooperativos a serviço de

profissionais determinados, como funcionários públicos, pessoal administrativo e

profissionais da área da saúde. O grupo engloba também 125 cooperativas Raiffeisen com

transações comerciais (cooperativas mistas) que desenvolvem operações bancárias e

comerciais sob o mesmo teto. Hoje, os ativos totais de um banco cooperativo alcançam,

em média, 752 milhões de euros. Essa cifra aumentou visivelmente devido às fusões

realizadas no setor e no incremento geral de transações (1970: 7.100 bancos cooperativos

– 40 milhões de euros em média de total de ativos, 1990: 3.340 bancos cooperativos – 298

milhões de euros em média de total de ativos). As participações de mercado variam de

15% a 27,9% em crédito (dependendo do grupo de clientes – grandes firmas, PME) e de

16% a 29% em distintos tipos de depósitos.

O segundo nível do sistema bancário cooperativo é constituído por dois bancos regionais

(o WGZ BANK – Westdeutsche Genossenschafts-Zentralbank e o Banco Central

Cooperativo Regional do Oeste) e escritórios regionais do DZ BANK AG, dedicados, entre

outros, à gestão de liquidez, ao refinanciamento e às atividades de comércio internacional.

O número de bancos regionais, originalmente fundados por bancos locais, era maior, mas

para atender aos interesses dos seus sócios e clientes da melhor maneira possível e,

devido à necessidade de adaptação às mudanças gerais do setor bancário alemão, foram

realizadas fusões dos bancos regionais e dos bancos cooperativos de base, em um

processo que ainda persiste.

Os bancos cooperativos de base e o WGZ BANK também são os principais acionistas do

Banco Central Cooperativo DZ BANK AG - Deutsche Zentral-Genossenschaftsbank – que

representa o terceiro e o mais alto nível do sistema bancário cooperativo.

O sistema inclui também uma série de instituições que oferecem serviços financeiros

especiais ou outros serviços especializados. A maioria dessas “empresas integradas” é

filial de propriedade comum do WGZ BANK e do DZ BANK AG. Os serviços e os produtos

dessas empresas são precificados, dessa forma, é evitada a prática de rateios de custos

às cooperativas.

A soma dos ativos do sistema financeiro cooperativo do qual fazem parte também os

bancos cooperativos hipotecários, a cooperativa de habitação Bausparkasse Schwäbisch-

Hall (a maior cooperativa de habitação da Europa), a companhia de seguros R+V

Versicherung e a companhia de Asset Management Union Investment chegou a

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aproximadamente 1.322 trilhão de euros em 2014. Esse valor é equivalente a

aproximadamente 76% do PIB do Brasil.

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7. Fundo garantidor dos bancos – BVR

A Federação Nacional dos Bancos Cooperativos (BVR) é uma associação de proteção do

setor bancário cooperativo, constituída há mais de 80 anos com a finalidade de gerir e

aportar os recursos do fundo de proteção e administrar a marca única dos bancos

cooperativos na Alemanha. Os aportes realizados são basicamente para ações

preventivas, objetivando a recuperação econômica e financeira dos bancos cooperativos

em dificuldade, ou para a reorganização de cooperativas em processos de incorporação.

Esse “fundo garantidor” assegura 100% dos depósitos de seus clientes e associados,

sendo esse um dos diferenciais competitivos do cooperativismo na Alemanha, porque os

bancos privados não possuem o mesmo percentual de cobertura que atualmente é limitado

a 100.000 €.

Elementos do sistema de proteção da BVR:

Desde a constituição da Federação Nacional dos Bancos Cooperativos (BVR) não houve

falência de bancos cooperativos ou perda de recursos de seus cooperados e clientes. A

proteção dessa associação alcança 1.047 bancos cooperativos, 12.770 postos de

atendimento, 18 milhões de associados, 30 milhões de clientes e 788 bilhões de euros em

ativos, o que representa aproximadamente 20% do sistema financeiro da Alemanha.

A BVR mantém escritórios nas cidades de Berlim e de Bruxelas para a representação dos

interesses dos bancos cooperativos na Alemanha e na União Europeia, com atribuições de

organização de cúpula das instituições de crédito. Desde 2001, o estatuto da BVR permite

amplas possibilidades de intervenções nos bancos com o objetivo de afastar os riscos de

dificuldades econômicas iminentes ou existentes nas cooperativas de crédito, mediante as

seguintes atuações:

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Representações dos interesses das cooperativas em âmbito nacional e

internacional;

Coordenação e desenvolvimento da estratégia comum dos bancos cooperativos;

Assessoria e apoio para os bancos associados em matéria jurídica, fiscal, tributária

e de gestão;

Além de responsabilidade pela manutenção do sistema de proteção cooperativista

na Alemanha.

As principais possibilidades de intervenções da BVR no âmbito do sistema de proteção

são:

Incentivos para alterações de políticas de negócios que caracterizam elevado

apetite a riscos;

Exigências de projetos de reestruturação ou de saneamento;

Orientações para mudanças no nível técnico ou de pessoal;

Autoridade para excluir integrantes do sistema de proteção.

As decisões na BVR são adotadas com base em propostas emitidas pelo comitê central ou

pelo comitê regional de saneamento. Os comitês formulam propostas de apoio para as

medidas de cobertura e atuam com alçadas distintas. As propostas com valores até 25

milhões de euros são emitidas pelo comitê regional e os valores superiores são avaliados

pelo comitê central.

Os principais benefícios do sistema de proteção são caracterizados pelos seguintes

aspectos:

Prática da proteção das instituições financeiras cooperativas como fator

fundamental para a credibilidade e a manutenção da imagem do setor;

Defesa dos interesses comuns da rede cooperativista de crédito;

Manutenção do patrimônio líquido em situação de dificuldade econômica das

instituições;

Solvência das instituições filiadas;

Segurança no modelo de funcionamento descentralizado do cooperativismo de

crédito alemão;

Rating dos bancos cooperativos com ponderação baixa e adequada.

Na década de 90, e ainda no início do século XXI, o sistema de proteção realizou diversos

saneamentos em decorrência da reunificação da Alemanha Oriental e da Ocidental: fusões

de instituições, saneamentos de deficiências na estrutura interna de controles e gestão das

filiadas. Em consequência desse contexto, a BVR adotou um sistema de alerta preventivo

para detectar situações indesejáveis nas instituições, monitoramento da solvência e

procedimentos de intervenções preventivas nas instituições.

Nesse sistema, as federações regionais de auditoria são fundamentais para o sucesso do

modelo de proteção, porque atuam na segurança da integridade dos valores apresentados

nas demonstrações contábeis e, de forma preventiva, dos riscos mediante avaliações da

gestão e dos controles das entidades filiadas. Dessa forma, constituem importante linha de

defesa da BVR.

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O sistema de proteção da BVR não é um sistema de capitalização, porque sua

manutenção é por rateio. Possui as seguintes características e vantagens:

É capaz de superar crises, quando houver necessidade de saneamento;

Calcula e mantêm fixas as contribuições anualmente, considerando prováveis

riscos do ano subsequente;

É financiado pelas instituições filiadas e não recebe recursos públicos;

Dispõe de capital e de reservas para eventuais medidas de saneamento;

Possibilita às instituições filiadas pagarem somente as contribuições que são

julgadas necessárias para superar as crises;

Não é um fundo para o acúmulo de capital.

A base de cálculo das contribuições é determinada segundo os ativos ponderados pelo

risco, conforme os critérios definidos pelo comitê de Basileia II, e multiplicada pelo

indicador de contribuição básica, que é definido anualmente pela presidência da BVR,

podendo variar de 0,4% até 2% dependendo dos riscos esperados para o exercício

seguinte. O resultado dessa equação é ponderado por um método de “rating” com 9

categorias que resultam em 6 percentuais que variam de 80% até 140% do referencial de

contribuição. Os referenciais para os critérios mencionados consideram informações

contidas nas demonstrações contábeis auditadas.

Método de cálculo das contribuições da BVR:

O método de classificação de risco da BVR considera 8 indicadores referentes ao

patrimônio, às receitas e aos riscos, proporcionando um estímulo eficaz para fomentar uma

política de negócio das instituições filiadas orientadas ao risco. Também possibilita o

cálculo de probabilidade da instituição filiada de utilizar os recursos do fundo garantidor,

mediante critérios uniformes, transparentes e com elevado poder de discriminação dos

riscos.

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Indicadores de monitoramento das instituições financeiras utilizados pela BVR:

As ações de prevenção e de saneamento adotadas pela BVR estão estabelecidas no

estatuto do sistema de proteção. Para o gerenciamento dessa temática as instituições são

classificadas em três categorias:

Instituições com baixo risco: são entidades que não apresentam

desenquadramentos nos indicadores ou advertências sobre exposição a riscos em

relatórios da auditoria. Para essas entidades, não há procedimentos estabelecidos

no estatuto do sistema de proteção.

Instituições qualificadas para prevenção: são cooperativas que apresentam

políticas de negócios duvidosas, desenquadramentos em indicadores utilizados no

monitoramento da BVR ou advertências sobre exposição a riscos em relatórios da

auditoria. As medidas adotadas na fase de prevenção são calibradas conforme a

dimensão dos problemas e estão classificadas da seguinte forma:

Observação: são iniciativas para motivar a alteração da política de negócio que

apresenta elevada exposição ao risco. As exigências dessa medida

compreendem o envio de relatórios mais abrangentes e o controle periódico de

resultado e de risco.

Acompanhamento: nessa fase são aplicadas medidas específicas para

tratamento do risco, além daquelas previstas na fase de observação.

Reestruturação: essa medida requer a avaliação da diretoria da instituição com a

finalidade de verificar se os diretores apresentam condições de elaborar e de

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implementar um projeto de reestruturação, podendo ocorrer o afastamento da

diretoria.

Instituições qualificadas para saneamento: o processo de saneamento ocorre em

duas fases, detalhadas a seguir:

1ª fase: compreende um período de 3 a 6 meses e inclui solicitação de aporte

para saneamento, assinatura de contrato condicionado à aprovação da BVR,

compromisso de evitar novas perdas e eventual substituição dos dirigentes;

2ª fase: compreende um período de até 5 anos e estabelece metas para o banco

restabelecer a rentabilidade básica, elabora um projeto de reestruturação, realiza

o saneamento econômico, avalia os recursos humanos e controla,

periodicamente, a evolução do banco.

O processo de reestruturação inicia-se pela avaliação das causas que determinaram os

resultados negativos da instituição mediante avaliação da estratégia de negócios,

desempenho das vendas, estrutura de pessoal, governança e controle de riscos. Após

essas avaliações, são definidos os posicionamentos, as ideias para reorientação dos

administradores, as medidas centrais para alcançar as metas do projeto de reestruturação

e um plano de negócio contendo os efeitos das medidas planejadas em médio prazo. A

eficácia e a implementação do projeto de reestruturação são periodicamente

acompanhadas mediante relatórios padronizados.

O contrato de saneamento assinado pela administração da instituição que recebeu o

aporte de recursos e o sistema de proteção da BVR abrange, entre outros, os seguintes

compromissos:

A instituição é obrigada a utilizar todas as reservas para a recuperação econômica;

Há necessidade de o banco manter patrimônio líquido suficiente para satisfazer

todos os limites legais definidos pela BaFin e dar continuidade ao desenvolvimento

planejado para os negócios, caso contrário, teria que ocorrer a liquidação do banco;

A distribuição de dividendos é permitida e desejável;

A garantias devem ser suficientes para os riscos previstos no período de até 5

anos;

Os prejuízos em valores são compensados por aportes contabilizados na forma de

doação no resultado da instituição;

A instituição é obrigada a elaborar o projeto de saneamento e manter controle do

êxito no alcance das metas;

A obrigação de amortização dos aportes de saneamento possui base em lucros

futuros. Cabe salientar que a contabilidade das cooperativas na Alemanha é

realizada com base no código comercial alemão e a referida obrigação não é

refletida no passivo das demonstrações financeiras;

É obrigatória a verificação da possibilidade de processos judiciais contra os

diretores.

Em alguns casos, o saneamento ocorre mediante a sessão da carteira de crédito de difícil

liquidação para um “bad bank”. Essa instituição é controlada pela BVR e dedica-se ao

processamento de créditos com difícil recuperação.

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 19

8. Entidades de auditoria do cooperativismo

A Lei Geng obriga que todas as cooperativas na Alemanha sejam auditadas anualmente,

sendo que as cooperativas de crédito também estão sujeitas à auditoria da

Superintendência Federal (BaFin) e do Banco Central Europeu. O mandato de auditoria foi

outorgado à DGRV e é atribuição das federações cooperativas regionais de auditoria.

Dessa forma, as cooperativas estão sujeitas à auditoria estatutária obrigatória por parte

dessas federações. Outra atividade importante das federações regionais é a consultoria às

cooperativas, particularmente no que se refere à gestão de negócios, às questões jurídicas

e à organização de atividades e de treinamentos. Além disso, essas federações oferecem

uma ampla gama de serviços adicionais, tais como: assessoria específica em

processamento eletrônico de dados e sistemas de gestão de informação.

Os diretores, os executivos e os auditores das federações regionais são capacitados na

Academia de Cooperativas Alemã, ADG, com sede em Montabaur. Essa entidade atua

com instrumentos e métodos modernos de capacitação e oferece uma seleção ampla de

treinamentos, orientados pela demanda das cooperativas.

A seguir, elencamos as federações regionais filiadas à DGRV:

Baden-Württemberg Cooperative Federation – BWGV

Genossenschaftsverband – GV

Genossenschaftsverband Bayern – GVB

Genossenschaftsverband Weser-Ems – GVWE

Rheinisch-Westfälischer Genossenschaftsverband – RWGV

As federações são responsáveis pela prestação de serviços de auditoria e de consultoria

para as cooperativas associadas, que atuam nos segmentos bancário, de agricultura, de

comércio, de serviço, entre outras empresas não associadas de interesse do segmento

cooperativo.

Cabe salientar que os dois bancos cooperativos WGZ BANK e DZ BANK AG, com atuação

nacional, são auditados pela DGRV.

Federação - Genossenschaftsverband Bayern – GVB em Munique/Alemanha

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9. Federação regional de auditoria - Genossenschaftsverband Bayern - GVB

Área de atuação

A GVB é uma federação regional de auditoria localizada na cidade de Munique, no estado

da Baviera, ao sul da Alemanha, com responsabilidade pela auditoria externa de 1.300

cooperativas, que representam 2,9 milhões de associados e clientes, sendo 275

cooperativas de crédito.

Diretrizes para as atividades

O trabalho da federação GVB observa diretrizes da DGRV e tem caráter estratégico para o

sistema cooperativo, forte alinhamento com os interesses do sistema de proteção da BVR

(fundo garantidor) e coopera com a supervisão bancária do Banco Central alemão, além de

incentivar a intercooperação entre os diferentes setores do cooperativismo na Alemanha.

Essa atuação é considerada um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento e o

fortalecimento do cooperativismo no país.

Estrutura de recursos humanos

A diretoria executiva da Federação Regional GVB é composta por dois diretores executivos

com status de presidente, com mesmo nível hierárquico segundo o “princípio dos quatro

olhos”. Esses executivos são supervisionados por um conselho eleito em assembleia geral,

que exerce a função de nomeá-los e fiscalizá-los.

A estrutura operacional possui 204 funcionários, sendo 6 colaboradores alocados em um

departamento de normas, que é responsável pelo gerenciamento do conhecimento com

atividades de suporte às equipes de auditores, pela interpretação de legislações, pelo

desenvolvimento de modelos de papel de trabalho e de programas de auditoria, e pelos

treinamentos internos presenciais e “online”.

Papel e responsabilidades dos chefes de equipe

Os trabalhos, em média, possuem duração de 1 a 3 três meses e são coordenados por 17

equipes. As equipes são lideradas por um chefe de auditoria que é responsável pela

elaboração de cronograma de trabalho, participação em assembleias de associados,

participação em reuniões do conselho fiscal e da diretoria para tratamento de assuntos

críticos, além de supervisionar, desenvolver e motivar a sua equipe.

Os chefes de equipe assumem trabalhos em aproximadamente 25 bancos e têm o apoio

de equipes próprias compostas por assistentes de auditoria, auditores certificados

internamente na Academia de Cooperativas Alemã - ADG, auditores certificados na

Câmara de Contadores (certificação externa) e especialistas em TI e Tributos. Somente há

compartilhamento de auditores entre os chefes de equipes, em caráter de exceção. De

acordo com o Sr. Werner Schartel, chefe de equipe na GVB, o tempo de revisão de uma

auditoria, considerando relatórios e papéis de trabalho é de aproximadamente 3 dias.

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Precificação dos serviços de auditoria

Os custos da equipe de auditoria são calculados conforme a quantidade de dias

necessários para a realização do trabalho e o nível de qualificação dos profissionais

envolvidos na auditoria. O dia de trabalho dos auditores certificados na Academia de

Cooperativas Alemã custa aproximadamente 700 euros e o valor dos auditores certificados

na Câmara de Contadores alcança 1.000 a 1.200 euros/dia. As cooperativas podem optar

por duas formas de pagamento, sendo por projeto com valores prefixados ou pelo custo

variável conforme a quantidade de dias utilizados para o trabalho de auditoria.

No banco VR Starnberg-Herrsching-Landsberg eG, com ativos de aproximadamente 2

bilhões de euros, o custo da auditoria da federação corresponde a 200 mil euros, e a

auditoria interna a 600 mil euros, a soma desses custos representam aproximadamente

4% do resultado operacional anual.

Faturamento da federação regional da Baviera

Em 2014, o faturamento anual da GVB foi de 80 milhões de euros, sendo 40 milhões

referente a serviços de auditoria, e 40 milhões com atividades de assessoria e

treinamentos. As áreas de assessoria e de auditoria são segregadas para evitar conflito de

interesses, sendo a expertise dos auditores insumo para treinamentos.

Auditorias especiais

Além desses serviços, a federação realiza sob demanda dos bancos ou da BaFin,

auditorias especiais de prevenção ao crime de lavagem de dinheiro, avaliação de

instrumentos financeiros e trabalho de auditoria interna, especialmente quando o banco

não possui estrutura suficiente para cumprir o escopo da auditoria interna, como o banco

Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG, que contrata serviços pontuais na federação

regional de auditoria GVB para cumprir sua programação de auditoria interna anual.

Planejamento de auditoria

O planejamento de auditoria é plurianual, para o período de 5 anos, e apresenta

mapeamento de riscos, agenda de teste, avaliação do risco de continuidade mediante

simulação de efeito de possíveis cenários adversos baseados no risco país, taxa de juros,

taxa de desemprego e riscos setoriais relacionados à economia da área de atuação da

cooperativa.

A auditoria é orientada ao risco, dessa forma, os controles-chave e os fatores que

representam alto risco são anualmente examinados e mediante ciclo de até 3 anos são

avaliadas as demais áreas, consideradas de baixo risco.

Os novos funcionários que ocupam funções-chave nos controles da cooperativa são

incluídos na avaliação de risco e monitorados nos exames de auditoria com a finalidade de

mitigar os riscos de perdas relacionadas a erros.

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Etapas de auditoria

O escopo da auditoria está organizado em duas etapas: na primeira é executado o trabalho

de ínterim, no período de julho até dezembro, com a realização de exames das operações

de crédito, avaliação dos controles internos e avaliação da atividade de auditoria interna e

de normas estabelecidas pelos órgãos de supervisão bancária da Alemanha. A segunda

etapa da auditoria é realizada entre o período de janeiro até maio, e abrange a revisão das

demonstrações contábeis e a avaliação do risco de continuidade da cooperativa e da

atuação da diretoria e dos conselheiros fiscais.

Materialidade

As distorções nas demonstrações contábeis a débito e a crédito são somadas e quando o

valor supera a materialidade de auditoria, 1% do valor do ativo ou 10% do resultado

operacional, são comunicadas à Superintendência Federal (BaFin), juntamente com outros

fatos considerados relevantes.

Auditoria de gestão

De acordo com a federação, a auditoria de gestão é um desafio, porque nem sempre é

possível comprovar os assuntos. Nesses trabalhos, os indicadores de controle interno e de

resultado são comparados com o desempenho das demais cooperativas e constituem

importantes fontes de evidências para a auditoria de gestão.

Fatores de risco que influenciam no tamanho da amostra

A avaliação de risco influencia no tamanho das amostras e na época dos exames. O risco

pode ser aumentado em decorrência de flutuações no saldo da carteira de crédito em

valores acima do referencial de expectativa, no aumento de operações sem garantias, na

identificação de riscos setoriais da economia que possam afetar a capacidade de

pagamento dos devedores, entre outros assuntos.

Características da amostragem de operações de crédito

A seleção da amostra da carteira de crédito é direcionada e a quantidade de itens é

definida por julgamento. Não há aplicação de amostra estatística e extrapolação dos

ajustes. Dentre a seleção encontram-se os 5 maiores saldos devedores, as operações com

parcelas clean (sem garantia), 3 operações com parcelas menores do que 50 mil euros e 4

créditos com maior probabilidade de inadimplência. A representatividade da amostra

geralmente é de 5% a 10% da carteira. Os critérios de seleção da amostra não são

modificados para dar a oportunidade de qualquer operação da população ser selecionada.

Relatórios

A federação de auditoria emite relatórios no decorrer do exercício sobre a adequação do

relatório anual, a gestão da instituição, os controles de prevenção à lavagem de dinheiro e

as operações de títulos e valores mobiliários, totalizando 4 tipos de relatórios.

O formato dos relatórios é alinhado com a DGRV em conjunto com a Superintendência

Financeira Federal (BaFin) e parametrizado no sistema de auditoria, de forma que os

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auditores selecionam opções de textos pré-formatados para a elaboração dos relatórios e,

dessa forma, alcançam elevado nível de padronização, reduzem os custos de elaboração e

os esforços de revisão. Os principais usuários são os órgãos de supervisão bancária

(BaFin e Bundesbank), o sistema de proteção BVR e a administração das cooperativas.

Legislação contábil

Cabe salientar que, na Alemanha, somente as empresas de capital aberto, com ações na

bolsa de valores, são obrigadas a observar as normas internacionais de contabilidade. Por

isso, a contabilidade das cooperativas é realizada conforme o Código Comercial Alemão e

não observa as normas contábeis publicadas pelo IASB.

Nesse contexto de regulamentação, as cooperativas podem reter sobras do exercício

corrente, de forma prudencial, mediante o registro de provisão para ágio pago na aquisição

de títulos e valores mobiliários, além de constituir provisão de crédito de até 4% do total de

recebíveis, denominadas de “reservas invisíveis”, previstas no Código Comercial Alemão.

Essas reservas estão à disposição dos diretores das cooperativas e sua utilização deve

respeitar as normas previstas no Código Comercial Alemão.

Federação Genossenschaftsverband Bayern (GVB) em Munique/Alemanha

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10. Visita técnica a três bancos

Nos dias 1 e 2 de outubro de 2015, visitamos o banco VR Starnberg-Herrsching-Landsberg

eG e fomos recepcionados pelo Sr. Peter Geub, diretor, e pelo Sr. Peter Wilhelm, chefe da

auditoria interna. Nos dias 5 e 6 de outubro de 2015, visitamos o banco BR banco

Werdenfels EG e fomos recepcionados pelo Sr. Walter Beller, diretor, pelo Sr. Hans Peter

Fuchs, chefe da auditoria interna e pelo Sr. Robert Horl, chefe do gerenciamento de

negócios. No dia 7 de outubro, visitamos o banco Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG

e fomos recepcionados pelo Sr. Helmuth Lutz, diretor. Durante essas visitas, estávamos

acompanhados pelo Sr. Werner Schartel, chefe de auditoria da Federação Regional da

Baviera, GVB.

Apresentação do banco VR-Bank Starnberg-Herrsching-Landsberg eG

O banco VR Starnberg-Herrsching-Landsberg eG está localizado na cidade de Starnberg,

no estado da Baviera, e foi fundado em 1893. Atualmente, está em processo de fusão com

os bancos Raiffeisenbank Südöstl Lago Starnberg eG e Raiffeisenbank Lech Ammersee-

eG devido aos custos crescentes com a implementação de marcos regulatórios e à baixa

taxa de juros decorrente da política econômica do Banco Central Europeu.

Dados dos bancos VR Starnberg-Herrsching-Landsberg eG, Raiffeisenbank Südöstl Lago

Starnberg eG, Raiffeisenbank Lech Ammersee-eG na data base de 31/12/2014:

Referenciais

VR Starnberg-Herrsching-

Landsberg eG

Raiffeisenbank Südöstl. Lago Starnberg eG

Raiffeisenbank Lech Ammersee-

eG Total

Empregado 345 59 65 469

Estagiário 24 4 4 32

Postos de atendimento (PACs) 25 7 9 41

Clientes 64.977 12.005 14 76.996

Associados 19.682 3.887 4.592 28.161

Total de ativos (em Euros) 1.615.731.000 246.696.000 233.905.000 2.096.332.000

Depósitos incluindo obrigações (em Euros) 1.370.724.000 190 863.000 187.097.000 1.557.821.000

Operações de crédito (em Euros) 1.130.296.000 168.298.000 135.087.000 1.433.681.000

A equipe de auditoria interna é formada por 10 auditores e coordenada pelo Sr. Peter

Wilhelm, chefe da auditoria interna, o qual se reporta à diretoria.

VR-Bank Starnberg-Herrsching-Landsberg eG em Starnberg/Alemanha

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Apresentação do banco VR-Bank Werdenfels eG

O Banco VR Werdenfels eG, com sede na cidade de Garmisch-Partenkirchen, localizada

no estado da Baviera, conta com 350 funcionários, 36 postos de atendimento e 76.375

clientes sendo apenas 21.581 associados. Os ativos totalizam 1,3 bilhão de euros,

empréstimos em 1,1 bilhão de euros e depósitos administrados de 1,6 bilhão de euros.

A equipe de auditoria interna é formada por 6 auditores e coordenada pelo Sr. Hans Peter

Fuchs, chefe da auditoria interna com experiência de mais de 40 anos na atividade, o qual

se reporta à diretoria.

Esse banco passou por 3 fusões em virtude da necessidade de estrutura para a

implementação e a manutenção dos marcos regulatórios.

VR-Bank Werdenfels eG em Garmisch-Partenkirchen/Alemanha

Apresentação do banco Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG

O banco Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG, com sede na cidade de Eurasburg,

localizada no estado da Baviera, conta com 42 funcionários, 2 postos de atendimento,

6.500 clientes e 2.000 associados. Os ativos totalizam 190 milhões de euros. A equipe de

auditoria interna é formada por um auditor, o qual se reporta à diretoria.

A particularidade desse banco é o acúmulo de atividades financeiras e de comércio,

incluindo a administração de 2 supermercados (banco misto).

Esse banco realiza operações com derivativos, o que o torna peculiar entre as demais

cooperativas. O diretor da cooperativa explicou que essas operações foram questionadas

pela federação de auditoria da Baviera e as divergências de opinião sobre esse assunto

causaram descontentamento com o modelo de monopólio da atuação da auditoria. Perante

esse contexto é possível perceber que mesmo em um ambiente regulado, com governança

evoluída, o trabalho da auditoria está exposto a desgastes e que a sustentabilidade e a

independência dessas entidades somente são possíveis mediante a obrigatoriedade de

filiação.

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Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG em Eurasburg/Alemanha

Responsabilidades do conselho fiscal

O conselho fiscal é um colegiado de administração estratégica, com poder de convocar

assembleias quando houver necessidade, para tratar de qualquer assunto que careça da

apreciação e da decisão dos associados. Esse colegiado é responsável pela defesa dos

interesses dos associados na administração dos bancos, além da contratação, supervisão

e definição da renumeração dos diretores executivos. Também aprova a prestação de

contas anual, além de assegurar o cumprimento das decisões da Assembleia Geral

Ordinária e Extraordinária.

Eleições e política de remuneração do conselho fiscal

Os integrantes do conselho fiscal são eleitos em assembleia geral de delegados a cada

três anos, sendo obrigatória a renovação de no mínimo um terço. A remuneração desses

conselheiros ocorre mediante cédulas de presença com valor equivalente à ajuda de custo.

Representatividade da governança

Os conselheiros são integrantes do quadro social e escolhidos mediante critérios que

favorecem a participação dos diferentes grupos de interesses regionais, setoriais,

profissionais, de tomadores e de poupadores que participam da cooperativa.

Diferenciais competitivos

Os diretores dos bancos visitados destacaram que o preço não é um diferencial

competitivo dos bancos cooperativos em relação às entidades publicas e privadas que

atuam no mercado financeiro alemão, porém, os seguintes aspectos são relevantes para o

alcance de êxito nos negócios cooperativos na Alemanha:

Elevada rede de atendimento;

Agilidade no atendimento;

Relacionamento e participação na comunidade que atua com o intuito de fidelizar o

cliente;

Sistema de proteção da BVR que garante 100% dos depósitos;

Transparência com o associado.

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 27

Portfólio de produtos

O portfólio de produtos das cooperativas de crédito é amplo e competitivo no mercado

financeiro e consiste em diversos produtos desenvolvidos pelos bancos cooperativos

(WGZ BANK e DZ BANK AG) para atuar em negócios de seguros, crédito massificado,

leasing, financiamento imobiliário, poupança e investimento, planos de aposentadoria,

cartões de crédito etc.

Publicidade

As publicidades apresentam destaques para a atuação regional das cooperativas, inclusive

com divulgação de patrocínios em eventos comunitários na região em que atua. Em 2014,

o banco VR Starnberg-Herrsching-Landsberg eG divulgou doações regionais de 165.000

euros para a região com o objetivo de fidelização de seus associados e clientes. De acordo

com os bancos, o apelo regional é um importante diferencial dos bancos privados.

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11. Auditoria interna e externa

Diferenças fundamentais entre a auditoria interna e a auditoria externa da federação

A auditoria interna é considerada uma linha de defesa importante para o êxito da diretoria

na atividade de identificar, monitorar e mitigar riscos antes de ocorrer apontamentos pela

auditoria da federação e pelos órgãos supervisores do sistema financeiro,

Superintendência Financeira Federal (BaFin) e Banco Central da Alemanha (Bundesbank).

A federação é considerada uma linha de defesa das entidades externas, como o fundo de

proteção (BVR), o Banco Central da Alemanha e os associados. Nesse contexto, não há

elementos que caracterizem sobreposição de atividades.

Remuneração

A política de remuneração da auditoria interna está alinhada com os interesses do

cooperativismo com destaque para a continuidade do negócio. Há 9 categorias de faixas

salariais, balizadas nos critérios de formação, antiguidade e desempenho qualitativo. O

aumento de categoria ocorre quando o auditor assume maior responsabilidade,

normalmente após participar de cursos de especializações em assuntos específicos do

trabalho, como carteira de crédito, títulos e valores mobiliários e prevenção ao crime de

lavagem de dinheiro. Se não houver alteração de categoria, o aumento salarial do auditor

será pequeno e pelo critério de antiguidade.

Política para melhoria do clima organizacional

As equipes de auditoria interna e da federação também possuem programas individuais

voltados à melhoria do clima organizacional, com destaque para atividades esportivas,

passeios e encontros anuais.

Enfoque de auditoria

O enfoque da auditoria é baseado em três princípios orientados ao risco, à abrangência e à

progressividade. Com base nessas diretrizes, o planejamento dos trabalhos é plurianual,

com abrangência de três anos, e estabelece que todas as áreas devem ser auditadas

naquele período. As áreas de maior risco são examinadas anualmente e os processos com

baixo risco são analisados em até três anos.

Referencial para avaliação de controle

A avaliação dos controles em todo o processo de auditoria interna e também da Federação

de Auditoria, observa a regulamentação interna do país, de forma que não há adoção de

referencias como COSO (The Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway

Commission) ou COCO (Criteria of Control Committe of Canadian Institute of Chartered

Accountants). Todas as referências de controle estão no manual MaRisK, emitido pela

BaFin, ou em normativos específicos aplicáveis ao cooperativismo na Alemanha.

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 29

Fatores de risco que influenciam no tamanho da amostra

A auditoria na carteira de crédito inicia-se pela obtenção de informação nos sistemas de TI

com a finalidade de identificar os riscos do banco mediante a avaliação da segregação de

atividades, os níveis de autorização para acesso aos sistemas automatizados, as

operações sem garantia, o prazo médio da carteira, a concentração de crédito em

determinados setores de atuação dos tomadores do crédito, a situação econômica da área

de atuação da cooperativa e a taxa de desemprego por segmento de negócio.

Tamanho da amostragem de operações de crédito

Após o entendimento dos riscos da carteira de crédito, com base na avaliação dos

controles nos sistemas de TI, ocorre a seleção de amostragem de 5% a 10% da carteira de

crédito de forma direcionada para os riscos mapeados na fase inicial do trabalho.

Volume de horas alocadas para o exame de operações de crédito

Para o exame de cada item da amostra de operações de crédito são alocadas, em média,

de 10h a 15h para a análise da capacidade de pagamento do tomador, do fluxo de caixa

dos pagamentos, do ramo de atividade, do registro na junta comercial, do capital das

empresas, das propostas de crédito, das cláusulas do instrumento de crédito, da taxa e do

prazo da operação.

Premissas para o cálculo e a escrituração da provisão de crédito

A provisão de crédito é constituída para as perdas incorridas no fim do exercício, conforme

o Código Comercial Alemão. O valor das perdas esperadas é calculado com base no

histórico de inadimplência do setor de atuação do devedor, mediante modelos estatísticos.

Normalmente, esse valor é provisionado no ativo e compõe as “reservas invisíveis”

(provisões limitadas a 4% dos recebíveis).

Risco de inadimplência

Cabe salientar que o risco de inadimplência do crédito é pequeno e está diretamente

relacionado ao desempenho do setor de atuação do tomador do crédito. Em 2014, o banco

VRStarnberg-Herrsching-Landsberg eG provisionou 0,03% para um montante de

1.130.296.000 bilhão de euros em operações de crédito e informou que há 32 associados

em monitoramento que estão com dificuldade de realizar os pagamentos. O banco

Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG mencionou que em 17 anos foi necessário

executar apenas 3 garantias em pagamento de operações de crédito.

Processo de recebimento de bens não de uso

Outro diferencial é a forma que a legislação na Alemanha trata o recebimento de garantias

para pagamento de operações de crédito. De forma diferente do Brasil, onde o leilão

ocorre somente após o esgotamento do prazo regulamentar para alienação, na Alemanha,

as garantia oferecidas para pagamento de operações de crédito são primeiramente

leiloadas por empresas especializadas e o valor recebido é utilizado para a liquidação das

operações de crédito. A propriedade do bem somente é transferida para o banco e

contabilizada se não houver compradores interessados no processo de leilão.

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 30

Procedimentos de circularização

A federação regional de auditoria avalia se o processo de circularização de saldos foi

corretamente executado, entretanto, o processo de controle é responsabilidade da área de

TI com acompanhamento da área de auditoria interna. O tamanho da amostra é de

aproximadamente 10% dos associados. Esse percentual, no banco VR Starnberg-

Herrsching-Landsberg eG, é de aproximadamente 10 mil associados. As cartas são

enviadas de forma eletrônica contendo todos os saldos correspondentes ao associado e a

resposta é direcionada à auditoria interna somente se houver divergência nos dados, ou

seja, não há necessidade de confirmação positiva.

Cabe salientar que a circularização de bancos é atribuição da federação de auditoria e

ocorre mediante procedimento de confirmação positiva.

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 31

12. Controles e gerenciamento de risco nos bancos

O gerenciamento de riscos inicia-se no planejamento estratégico, com análise dos cenários

interno e externo, visando a compilar os pontos fortes, as fraquezas, as ameaças e as

oportunidades em uma matriz da Análise de SWOT.

O planejamento estratégico, a definição das metas e os planos de ações são realizados

por uma área especializada da cooperativa e apresentados aos colaboradores para

avaliação e contribuições. Após essa etapa, o planejamento é disponibilizado à diretoria

executiva e posteriormente ao conselho fiscal para aprovação.

A área de planejamento também é responsável pelo acompanhamento das metas e da

avaliação da necessidade de readequar as estratégias no decorrer do ano, se houver

cenários internos ou externos que justifiquem a modificação das metas.

A capacidade de resistência da cooperativa aos riscos é avaliada pelo saldo do patrimônio

líquido, mediante indicadores de requerimento de capital e índices de enquadramentos. O

equilíbrio operacional está fundamentado em quatro pilares:

Receita de operações de crédito;

Resultado da tesouraria;

Controles de custos;

Controle de riscos.

Os riscos são estimados por períodos de 5 anos, entre eles, o risco país, o risco de

liquidez, o risco das taxas de juros, o risco do tomador e o risco de inadimplência por setor

de atuação dos devedores.

Foi salientada a ameaça de redução no spread devido à baixa taxa de juros praticada pela

política do Banco Central Europeu e aos custos crescentes dos marcos regulatórios com

destaque para as normas da União Europeia e da Basileia III. A taxa de juros é uma

ameaça, especialmente, porque as operações de crédito são prefixadas com prazo médio

de 4 anos.

As receitas das operações de crédito representam aproximadamente 75% do resultado

operacional e 25% corresponde a tarifas e outros negócios com produtos do portfólio dos

bancos cooperativos (WGZ BANK e DZ BANK AG). Destaca-se ainda que, em média, 50%

da estrutura de pessoal é utilizada nas operações de negócios e 50%, nas operações de

retaguarda.

O financiamento dos custos da empresa de TI é calculado com base em dois critérios

sendo uma parte fixa e outra variável conforme a utilização. Os produtos do portfólio das

demais empresas sistêmicas são todos precificados e pagos mediante os negócios

realizados.

As metas incentivam a busca de solidez da cooperativa e não visam ao alcance de sobras

acumuladas para evitar políticas de exposição ao risco e políticas contrárias aos valores

preconizados pelo cooperativismo. Com essa visão, os associados que utilizam limite de

cheque especial por mais de 6 meses ou 75% do valor são orientados a contratarem

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outras linhas de crédito com menor taxa de juros. Cada gerente é responsável por até 400

associados e deve manter contato pelo menos uma vez no decorrer do ano.

As cotas de capital são de 50 euros para fins de associação e são contabilizadas no

Patrimônio Líquido. O pagamento de dividendos é de 2% a 5% do capital social. O saldo

remanescente é convertido em reservas para o aumento da solidez da instituição.

No banco VR-Bank Starnberg-Herrsching-Landsberg eG, com 501 funcionários, o índice de

turnover, utilizado para mensurar a rotatividade de pessoal, é de 1,28% e há uma meta

interna que limita esse percentual a 3%.

Também foi destacada no processo de gerenciamento de risco a existência de projeto

sucessório de longo prazo para os cargos estratégicos da cooperativa.

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13. Percepções de oportunidades e de desafios do cooperativismo no Brasil

A programação da visita técnica foi atendida e os objetivos alcançados mediante o

desenvolvimento de percepções sobre os benefícios que o cooperativismo pode oferecer

para a economia de um país, o entendimento dos pilares que sustentam o cooperativismo

na Alemanha e o conhecimento de processos relacionados às atividades de auditoria e à

gestão de riscos. Cabe destacar nesse contexto os seguintes aspectos que constituem

oportunidades e desafios para o cooperativismo no Brasil:

As estruturas do cooperativismo na Alemanha são orientadas pelo risco e atuam de

forma consistente e coordenada em âmbito nacional e internacional, demonstrando

grande capacidade da governança em superar interesses individuais para construir

alianças mais apropriadas em defesa dos interesses dos associados;

O cooperativismo é uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social

de um país. Esse potencial é evidenciado pela relevância do cooperativismo na

economia da Alemanha;

O cooperativismo de crédito, adequadamente estruturado, é uma opção importante

para o sistema financeiro nacional. Na Alemanha, o cooperativismo de crédito é um

dos pilares do sistema financeiro, com barreiras de proteção que asseguram

solidez ao modelo de negócio e à capacidade de gerenciamento de riscos;

A legislação pode contribuir para o desenvolvimento do cooperativismo mediante a

ampliação da responsabilidade e da abrangência da atuação de uma entidade de

cúpula do cooperativismo. O amplo alcance da atuação da Confederação Alemã de

Cooperativas - DGRV, estabelecida em lei, é fundamental para a integração do

sistema cooperativo, a representação em âmbito nacional e internacional, a eficácia

no gerenciamento de expertises, o desenvolvimento sustentável e a existência de

comunicação eficiente em todos os níveis do cooperativismo;

O grande diferencial competitivo do cooperativismo pode ser o relacionamento

regional com as comunidades, entretanto, esse modelo de negócio requer a

existência de estrutura centralizada para supervisão de riscos e capacitação dos

funcionários. As publicidades dos bancos cooperativos na Alemanha apresentam

destaques para a atuação regional das cooperativas, inclusive com publicidade de

patrocínios em eventos comunitários na região em que atuam. Porém, a solidez

dessas entidades é assegurada ao mercado mediante a obrigatoriedade de filiação

às federações regionais de auditoria, a participação ao fundo de proteção BVR e a

formação apropriada dos profissionais em academias mantidas pelo

cooperativismo;

Os produtos e os serviços dos bancos cooperativos WGZ BANK e DZ BANK AG,

negociados pelas cooperativas, tais como seguros, crédito massificado, leasing,

financiamento imobiliário, poupança, investimento, planos de aposentadoria e

cartões de crédito são precificados. Dessa forma, é evitada a prática de rateios de

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custos. Esse método incentiva a melhoria nos produtos, contribui para a

transparência nos processos e para a precisão nos controles de custo;

As metas de venda de produtos e de serviços dos bancos são orientadas para

atender às necessidades dos sócios e clientes, sendo as sobras uma consequência

da atividade, mas não o objetivo principal, para evitar políticas de alto risco e

contrárias aos valores preconizados pelo cooperativismo. De acordo com o Sr.

Helmuth Lutz, diretor do banco Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG, não é

praticada a “venda casada” (condicionada a contratação de qualquer produto ou

serviço à aquisição de outros produtos ou serviços). Além disso, os associados que

utilizam limite de cheque especial por mais de 6 meses ou 75% do valor são

orientados a contratarem outras linhas de crédito com menor taxa de juros;

O fundo garantidor, estruturado com apoio das federações regionais de auditoria, é

fundamental para a solidez das cooperativas de crédito, devido à proteção do

patrimônio dos associados e da imagem do cooperativismo. Desde a constituição

da Federação Nacional dos Bancos Cooperativos (BVR), há mais de 80 anos, não

houve falência de bancos cooperativos ou perda de recursos de seus cooperados e

clientes. Esse fundo de proteção BVR administra a marca única dos bancos

cooperativos na Alemanha e é responsável pela recuperação econômica e

financeira dos bancos cooperativos em dificuldade, além de garantir 100% dos

depósitos de seus clientes e associados, sendo esse um dos diferenciais

competitivos do cooperativismo na Alemanha, porque os bancos privados não

possuem o mesmo percentual de cobertura que atualmente é limitado a 100.000 €.

O fator crítico de sucesso dessa entidade é a capacidade de identificação e de

prevenção de riscos, alcançada com o apoio das federações regionais de auditoria;

A continuidade e a independência das federações de auditoria dependem da

obrigatoriedade de filiação, mesmo em um ambiente com a governança evoluída.

Na visita ao banco Raiffeisenbank Beuerberg-Eurasburg eG foi possível constatar

que os trabalhos da federação regional de auditoria não foram interrompidos, em

decorrência de divergências técnicas de opinião, devido à existência de legislação

que assegura a continuidade da atividade de auditoria;

As políticas de recursos humanos, orientadas pelo risco, com base no “princípio

dos quatro olhos” são consideradas necessárias para o equilíbrio de poder na

atuação da governança e na existência de estruturas com o mesmo nível

hierárquico para diretores de negócio e diretores responsáveis pelo gerenciamento

de riscos;

Os gestores de equipe possuem meta que limitam a rotatividade de funcionários em

3%, dessa forma, é possível constatar os esforços internos para a melhoria do

clima organizacional;

O processo de gerenciamento de risco inclui projeto sucessório de longo prazo para

os cargos estratégicos das entidades;

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O investimento em formação e na educação continuada de profissionais são pilares

fundamentais para o crescimento sustentável do cooperativismo. A Academia de

Cooperativas Alemã ADG, com sede em Montabaur, entre outras com atuação

regional, oferecem uma seleção ampla de programas de capacitação para o

atendimento da demanda das cooperativas;

Os principais fatores que contribuem para a percepção de valor agregado no

resultado dos trabalhos da federação de auditoria são a atuação alinhada com as

prioridades estratégicas das cooperativas, os interesses do fundo de proteção BVR

e a supervisão do sistema financeiro. Os métodos de trabalho que corroboram para

esses alinhamentos são a utilização do planejamento estratégico das cooperativas

para o desenvolvimento do plano de auditoria, os procedimentos de auditoria

orientados pelo risco e a existência de um canal de comunicação com as entidades

de representação do cooperativismo e de supervisão do sistema financeiro;

As fontes de financiamento dos custos das federações de auditoria são

fundamentais para a qualidade dos trabalhos de auditoria. O orçamento permite

alocação de profissionais especialistas nas equipes, utilização de software de

auditoria customizado, estrutura e volume significativo de horas para a execução

das auditorias e investimento relevante no programa de formação e educação

continuada dos auditores;

Os principais pilares de sustentação do orçamento das federações de auditoria são

a obrigatoriedade legal de filiação, o amplo portfólio de serviços de auditoria e

consultoria, e a atuação em todos os segmentos do cooperativismo, inclusive em

outras empresas não associadas de interesse do segmento cooperativo;

A independência das federações de auditoria está apoiada na obrigatoriedade legal

de filiação, no escopo de trabalho definido em lei, no apoio do fundo de proteção e

na integração com as atividades da Superintendência Financeira Federal (BaFin) e

do Banco Central da Alemanha (Bundesbank);

Os benefícios da padronização orientada por uma mesma diretriz, por risco, por

políticas, por processos e por métodos de trabalho alcançados pela atuação da

DGRV e das federações regionais resultam em simplificação de processos,

aumento da capacidade de controle, redução de custos e maior eficiência no

alcance de objetivos;

As academias regionais e nacionais são responsáveis pela capacitação e educação

continuada dos profissionais do cooperativismo. Essas entidades utilizam a

experiência dos auditores das federações de auditoria nos treinamentos, sendo

esse fator importante para aproximar a abordagem teórica das questões práticas

das cooperativas;

Os gerentes das federações de auditoria são responsáveis por aproximadamente

25 bancos, e coordenam equipes próprias, compostas por assistentes de auditoria,

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Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa – Cnac 36

auditores certificados internamente na Academia de Cooperativas Alemã - ADG,

auditores certificados na Câmara de Contadores (certificação externa) e

especialistas em TI e em Tributos;

A federação de auditoria possui áreas específicas para o gerenciamento do

conhecimento, do suporte às equipes de auditores, da interpretação de legislações,

do desenvolvimento de modelos de papel de trabalho e de programas de auditoria,

além de treinamentos internos presenciais e “online”;

Os relatórios emitidos pela federação de auditoria são padronizados para atender à

necessidade dos principais usuários e são emitidos em software de auditoria

customizado com formato parametrizado, de forma que os auditores selecionem

opções de textos pré-formatados para a elaboração dos relatórios;

O processo de prevenção de perdas considera fator relevante à avaliação do risco

setorial. Nessa avaliação, são considerados os fatores da economia que podem

influenciar no desempenho da atividade econômica de atuação do associado;

O processo de circularização de saldo de associados é avaliado pela federação de

auditoria, entretanto, é um controle de responsabilidade da área de TI com

participação da área de auditoria interna. As cartas são enviadas de forma

eletrônica contendo todos os saldos correspondentes ao associado e a resposta é

direcionada à auditoria interna somente se houver divergência nos dados, ou seja,

não há necessidade de confirmação positiva.

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