SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

8

description

edicao de 26082013

Transcript of SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

Page 1: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA
Page 2: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA
Page 3: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PÁGINA 3¦Domingo, 05/08/2012SABER

Expediente

SABER é registrado como estabeleceo artigo 122, inciso I da Lei 6.015/73; Publicado pela RN Comunicação e Jor-nalismo Ltda MeE-mail:[email protected]

Contato: (16) 8176-0825Rua Martinho Prado Jr, 1754Centro - S Simão SP

Jornalista Editor: André Luiz R. RecheMTb nº 66.105/[email protected]

Tiragem: 3000 exemplares Imagens: Planeta Vida e Saber Ima-gem

A opinião emitida por colaboradores e/ou

leitores é de sua inteira responsabilidade.Cartas enviadas à redação serão publicadas

de acordo com a disponibilidade de espaço e

poderão ser resumidas.

OPINIÃO

A importância dos bons modos....Welson Gasparini*

Os bons modos, a meuver, são fundamentais e ca-bem em qualquer lugar: emcasa, na escola, na rua, noambiente de trabalho e nasrodas sociais. Durante o período eleito-ral estou substituindo omeu filho Maurício Gaspa-rini – que é candidato a ve-reador – na apresentação doquadro “Dedim de Prosa”no programa “MarceloGasparini” que vai ao ar nasnoites de terças-feiras nocanal 20 da NET-RibeirãoPreto. É uma oportunidadeque estou aproveitandopara difundir minhas ideiassobre o modo como con-ceituo o relacionamento fa-miliar e social. Algumas palavras muitosimples, acredito, deveriamser escritas pelos pais (e atépelos professores na sala deaula) para serem entreguese decoradas pelos filhos oupelos alunos: “bom dia”,“boa tarde”, “boa noite”.Quantas pessoas não pas-sam o dia todo sem fazerqualquer saudação a quemquer que seja? Os pais deveriam ensinaros filhos a, antes mesmo docafé da manhã, dirigir-lhesuma saudação também mui-to simples mas, infelizmen-te, em desuso: “à benção,

meu pai”; “à benção, minhamãe”. Seria um modo dos paisdesenvolverem nos filhos ohábito de invocarem a bençãode Deus para enfrentarem asagruras de cada dia. Outra frase, a meu ver, es-sencial: “posso ajudar?”. Nãoé bonito a gente ver uma pes-soa socorrendo alguém queestá carregando um embrulhopesado? Mesmo que a pessoanão aceite a ajuda, dizendo“não precisa”, esse “não pre-cisa” terá o sentido de agrade-cimento. Também considero funda-mental, próprio das pessoasbem educadas, o respeito – nosshopppings ou em quaisqueroutros lugares – às faixas pre-ferenciais para idosos, grávidasou deficientes físicos. É tristever gente que não é idosa, de-ficiente físico ou grávida ocu-pando essas faixas com a mai-or desfaçatez. O respeito aosmais velhos, entendo, é uma re-gra elementar para definir atémesmo o caráter de quem mal-trata, humilha ou agride verbal-mente um idoso. Tudo isto eu chamo de “edu-cação” bem como, igualmen-te, num ônibus urbano pesso-as jovens cederem os lugaresque eventualmente ocupempara idosos, deficientes físicosou grávidas. Seria um compor-tamento usual se esse jovemtivesse sido orientado na esco-la ou na sua casa a respeitar os

mais velhos e os portadoresde deficiências mas tal, la-mentavelmente, não aconte-ce. A educação, como umprocesso continuado, deve-ria começar dentro de casaonde o ensinamento inicialdeveria ser, justamente, odo respeito aos mais ve-lhos... Vivemos uma época dedesrespeitos que exige umareação e ela pode vir na for-ma do uso de expressõestriviais do tipo “posso aju-dar?”, “obrigado”, “descul-pe”, “faz favor” etc. Se po-demos sorrir quando cum-primentamos ou somoscumprimentados por al-guém, por que fecharmos acara? Gentileza, bons modos,cordialidade e educaçãonão ocupam espaços.... ca-bem, portanto, insisto, emtodo lugar!

*deputado estadual, advoga-

do e ex-prefeito de Ribeirão

Preto

Novo projeto ressuscitareforma da previdência

Quem está pensando emse aposentar tem que ficarmuito atento às reformas daprevidência social. Está emdiscussão, mais uma vez, aalteração dos requisitos ne-cessários para obtenção daaposentadoria por tempo decontribuição e, por tabela,da forma do cálculo do va-lor do benefício. O que estáescondido por traz destapossível mudança é a inser-ção da idade mínima paraaquisição da aposentadoria,tal como aconteceu com osservidores públicos. No ce-nário de inclusão social bra-sileiro isso é uma brincadei-ra de mau gosto.

Mulher (85). Homem (95). Com a nova regra, se apro-vada, homens somente seaposentarão quando soma-rem 95 pontos entre idade etempo de contribuição, ouseja, além dos 35 anos deserviços atualmente exigi-dos precisarão ter também60anos de idade. A mulher,além dos 30 anos de servi-ços, precisará ter pelo menos55 anos de idade. Esta regrajá existe no serviço públicoe pretende-se estendê-la aoprivado. É saudável a equi-paração dos direito entre oscidadãos, mas tratar igual-mente empregados públi-cos e privados somente se-ria concebível se ambos ti-vessem os mesmos direitose garantias. Falta ainda aosservidores públicos o reco-nhecimento de alguns di-

reitos dos empregados pri-vados. A estes, quanto àsregras da aposentadoria,para equipará-los aos pú-blicos, falta a garantia deemprego: a estabilidade.

Instabilidade socialA sociedade está cansadade viver em ambiente ins-tável. Não se pode conceberum modelo de aposentado-ria com instituição de pon-tos num país em que gran-de parte da população eco-nomicamente ativa está de-sempregada ou trabalhan-do na economia informal. Eo Governo sabe disso, aliás,ostenta com maestria os"auxílios sociais" que pres-ta àqueles que não conse-guem se aposentar. Por ou-tro lado, a imposição deidade mínima para aposen-tadoria prejudica justamen-te aqueles que começarama trabalhar mais jovens. Umabsurdo. Quanto ao valordo benefício, até 1991 o li-mite máximo da aposenta-doria era 10 salários míni-mos. Hoje é difícil achar al-guém que ganha 5. Em2020, se repetida a mesmaredução do valor dos bene-fícios, ninguém receberámais que três mil reais; e oque é pior, TODOS, em2049, estarão recebendoapenas o salário mínimo. Adica é fazer um "Raio X"previdenciário para teruma visão do que ocorrerácom seus recursos financei-ros no futuro. Sobre esseassunto trataremos na pró-xima semana.

Page 4: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

SABER¦ Domingo, 26/08/2012PÁGINA 4

Quatro anos depois, amulher que denunciou oex-prefeito Jayme Leonel de

Assis, o “Carinha”, de tercometido crime de pedofi-lia, às vésperas da eleiçãode 2008, abre o jogo e afir-ma estar disposta a enfren-tar a mesma justiça para es-clarecer os fatos que podemdar início a um novo pro-cesso para apurar a ocor-rência de outros crimes. Ana Maria Alves, caboeleitoral do então candida-to Daércio, afirma, em de-talhes, ter sido vítima deuma armação preparadapelo atual secretário de ad-ministração da Prefeiturade Santa Cruz da Esperan-ça, José Mauro Baltazar.

Durante a campanha po-lítica passada, José Mauro,

segundo os relatos de Ana,pediu que ela fosse até suaresidência no período no-turno. Acompanhado docandidato Daércio, que se-gundo ela assistiu todo oepisódio, José Mauro Balta-

zar fez com que ela assinas-se vários documentos semque conhecesse a gravida-de daquilo que assinava.“Você não confia emmim?”, teria perguntadoJosé Mauro, quando ela de-

PEDOFILIA:

COMEÇO, MEIO E FIM.

monstrou certo receio emassinar. A denunciante salientaque veio saber do que setratava quando a equipe do“O Jornalzão”, de Cajuru,bateu em sua porta para di-vulgar a notícia. “A gente é

pobre, não sabe nada de

nada, a gente não tem muita

informação. Eles me usaram,

me fizeram de idiota e me

trataram como cachorro a

minha revelia, porque até

então eu não sabia”, co-menta.

Ana Alves (acima) acusa José MauroBaltazar (ao lado) de ser o mentor

de toda farsa da pedofilia.O homem forte do prefeito Daércio,segundo ela, propôs que assinasseos “papéis” que incriminavam o ex-

prefeito. José Mauro teria dito queaquilo ajudaria “eles” a ganharem aeleição. Em troca ela receberiaR$ 10 mil e uma casa que seriaconstruída pela prefeitura.

Nada foi cumprido, ela diz.

Prefeito Daércio é

“blindado” pelos

assessores

A reportagem do Sabertambém procurou peloprefeito Daércio Lopes da Sil-

va (PPS) na sede da Prefei-tura, na última sexta-feira,para participá-lo dos fatos. Daércio é citado por Ana

Alves por estar presente nomomento em que ela assi-nou “os papéis” queJosé Mauro lhe apresentou eque deram origem à de-núncia de pedofilia contraseu adversário políticoJayme Leonel, o “Carinha”. O Saber também pretendia ouvir a posição do prefeitoem relação às graves acusações que Ana apresenta con-tra José Mauro Baltazar, um dos seus principais assessoresna administração. Uma outra questão que nossa reportagem abordar, eraem relação ao telefone de José Mauro. Se o celular queele utiliza for da prefeitura, o próprio prefeito poderásolicitar o extrato de ligações da linha para ajudar noesclarecimento dos fatos. O José Mauro que falou com Ana, e

o José Mauro que falou com este repórter, por telefone, possuem

a voz idêntica.

O prefeito Daércio estava presente na sede da prefeitu-ra, mas dois de seus assessores preferiram “blindá-lo” esugeriram que era melhor a reportagem falar com osdois - prefeito e secretário - de forma em conjunta. Um dos assessores fez questão de citar sobre a retidãoe integridade de caráter do prefeito. O outro assessortambém endossou as palavras do primeiro sobre o pa-trão. Os dois não usaram as mesmas palavras para de-fender o colega José Mauro Baltazar.

Mesmo na Prefeitura,

Daércio não atendeu a

reportagem

Fonte leva a reportagem do Saber até a mulher que fez a acusação contra o

ex-prefeito Jayme Leonel de Assis. Após detalhada apuração jornalística,

provas podem dar elementos para a justiça apurar a existência de possíveis

crimes por trás daquele que pode ter sido o maior golpe eleitoral

já visto em nossa região

Page 5: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PÁGINA 5¦Domingo, 26/08/2012SABER

Para a reportagem, um

José Mauro ameaçador:

“toma muito cuidado”

POR TELEFONE

A reportagem do Saber ligou para José

Mauro Baltazar depois de não encontrá-

lo na prefeitura na última sexta-feira . Ao

ser informado de que nossa reportagem

queria ouvir-lhe sobre os fatos denuncia-

dos por Ana, José Mauro se irrita: "Ah...

meu Deus do céu. Essa nojeira de política?".

José Mauro muda o tom de voz ao ser

informado das acusações que foram fei-

tas contra ele: "Não tenho nada a ver com

isso. Nada a ver com isso. Quem falou algu-

ma coisa vai ter que provar, senão vai tomar

um processo na cara".

O homem forte da prefeitura de Santa

Cruz da Esperança negou qualquer liga-

ção telefônica para Ana. Perguntado sobre

a existência de depósitos bancários feitos

por ele na conta da filha dela, ele preferiu

ameaçar o jornalista de processo, caso pu-

blique alguma coisa sobre ele.

É o caso da pedofilia.

José Mauro: Quem que meacusa?Repórter: É a própria testemu-nha que fez a acusação no pro-cesso. Ela diz que você criouuma situação em que ela assi-nou os documentos sem saber oteor, de manter um contato comela permanente, de prometerdinheiro e não cumprir. Eu gos-taria de ouvi-lo para que vocêpudesse esclarecer esses fatosque ela narra contra você.

José Mauro: Não tenhonada a ver com isso. Nada aver com isso. Quem falou al-guma coisa vai ter que pro-var, senão vai tomar um pro-cesso na cara.Repórter: Ela diz que você falapor telefone com ela constante-mente, isso procede?

José Mauro: Não procede.Repórter: Em relação a depósi-to de dinheiro que frequente-mente você manda pra ela...

José Mauro: Cara, eu nãotenho nada pra falar sobreisso. Eu não quero tocar nes-se assunto, entendeu? Nãotenho nada a ver com isso e

toma muito cuidado com oque vocês vão colocar nojornal porque se falar algu-ma coisa de mim eu vouprocessar todo mundo. En-tendeu?Repórter: Você está me amea-çando? Eu estou vindo atrás devocê para lhe dar o direito deesclarecer os fatos...

José Mauro: Eu não tenhonada a ver com isso. Se al-guma coisa for colocada,vocês coloquem com provana mão.Repórter: Ela me disse, inclu-sive, que você fez uma ligaçãopara ela esta semana, enquan-to estava em reunião num ban-co, esta semana. Tem proce-dência?

José Mauro: Eu não tenhonada a ver com isso, meuamigo. Eu não quero maisfalar nesse assunto. Eu nãovou te dar corda para vocêficar inventando matéria,não tô afim de falar sobreisso. Se alguém colocar al-guma coisa vai ter que pro-var. Se não vai virar umprocesso. É só isso que eu tefalo.

A CONVERSA DOJORNALISTA COM

JOSE MAURO

EM 24/08/2012

José Mauro: Alô.Repórter André: Zé Mauro?

José Mauro: Eu...Repórter: Zé Mauro, é o An-dré quem está falando, do jor-nal Saber, tudo bem?

José Mauro: Tudo e você?Repórter: Tudo, graças a Deus.Eu estive na prefeitura agora eo Vicente me disse que vocêfoi para Ribeirão.

José Mauro: Isso.Repórter: Eu fiz um protocolona recepção... nós estamoscom uma denúncia em quevocê é citado e eu quero lheparticipar para ter a oportuni-dade de se esclarecer...

José Mauro: Ah... meuDeus do céu. Essa nojeira depolítica?Repórter: é um fato que acon-teceu na cidade e a principalpersonagem do processo lheacusa de ter organizado todauma situação que não era real.

A região de Ribeirão Preto ficou perplexa com a divul-

gação da notícia de um prefeito acusado da prática de

um dos crimes mais bárbaro e inaceitável: a pedofilia.

As revelações de Ana chamam a atenção pela coerência e

pelas provas que esta reportagem conseguiu levantar ao longo

de mais de 30 dias. Segundo ela, José Mauro teria dito que os

"papéis" que ela estava assinando ajudaria "eles a ganharem

a eleição", como de fato aconteceu. Em situação de desespe-

ro por iniciar uma batalha contra um câncer, a mulher conta

ter recebido de José Mauro Baltazar a promessa de uma casa

de Cohab, além de R$ 10 mil.

Na mesma edição de "O Jornalzão" que propagou o

escândalo da pedofilia, uma pesquisa eleitoral foi

divulgada e trazia o então candidato Daércio com 54%

dos votos, 24 pontos à frente do então prefeito Jayme

Leonel. O resultado das urnas, após o escândalo, mostra

uma enorme divergência entre os números: a diferença

de Daércio para o ex-prefeito foi de apenas 7 pontos.

A reportagem do Saber apurou que a vítima da su-

posta "pedofilia", uma menina de 13 anos de idade,

desmentiu toda a história em depoimento à justiça.

Segundo apuramos, a adolescente negou a

ocorrencia dos fatos. O ex-prefeito, após sofrer o

impacto eleitoral da denúncia com a derrota na elei-

ção, teve a acusação arquivada.

PEDOFILIAUma grave denúncia

"para ganhar a eleição"

Após deixar a Prefeitura deSanta Cruz da Esperança, naúltima sexta-feira, nossareportagem procurou o ex-prefeito Jayme Leonel de Assispara ouvir sua opinião sobre asdeclarações da mulher que háquatro anos lhe acusou depedofilia. Jayme Leonel não foiencontrado na cidade.

Page 6: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

SABER¦ Domingo, 26/08/2012PÁGINA 6

Para Ana, liga um José Mauro

atencioso que retorna sua

ligação, explica como ela

deve agir e chega a chamá-la

de "meu anjo"

POR TELEFONE

Ana: Alô?Ze Mauro: oi

Ana: quem?Ze Mauro: ã.

Ana: ou, deixa eu te falaruma coisa. Tão falando láem Santa Cruz que me pro-curaram, que a polícia foime procurar lá onde eu mo-rava. Sobre aquele negóciolá... vai feder hein?Ze Mauro: Eu não tôouvindo direito, faladevagar.

Ana: Falaram que foramme procurar lá onde eu mo-rava e vão vir atrás de mim.O que eu vou fazer?Ze Mauro: Mas quem tefalou isso?

Ana: Me ligaram lá, os vizi-nhos.Ze Mauro: Eu não tô sa-bendo de nada não, vouprocurar saber. Atéporque o Carinha foi

DIÁLOGO E CUMPLICIDADE

Depois de várias ligações para o celular de José Mauro Baltazar e de

uma ligação a cobrar em que Ana deixou um recado para a filha dele,

um número restrito retorna a ligação no celular dela. Ela o chama de

“Zé Mauro?” - ele segue a conversa. Aconselhada pela reportagem, ela

menciona o caso da pedofilia e diz estar com medo. Ele tenta acalmar

Ana e se cala ante às cobranças e promessas não cumpridas por ele.

Chega a dizer que “não depende só dele”.

José Mauro Baltazar, por telefone à reportagem do Saber,assegura que jamais ligou para Ana.

ESTE É O TEOR DA CONVERSA DO SUPOSTO "JOSÉ

MAURO" COM ANA ROSA, A MULHER QUE ASSINOU A

DENÚNCIA DE PEDOFILIA CONTRA O EX-PREFEITO

JAYME LEONEL DE ASSIS E AGORA, QUATRO ANOS DE-

POIS, DIZ ESTAR DISPOSTA A ENFRENTAR A JUSTIÇA

PARA RELATAR A VERDADE.

cassado.

Ana: Deixa eu te falar umcoisa: eu tô precisando dedinheiro pra mim fazer mi-nha mudança, vou emborapara Minas, não vou ficaraqui mais não, não vou cor-rer risco mais. Eu não que-ro ficar aqui. Tem jeito devocê me ajudar?Ze Mauro: Uai, vou ver,o que você precisa?

Ana: Uai, eu preciso de se-tecentos reais pra fazer amudança.Ze Mauro: Preciso ver.Eu tô numa reunião naCaixa agora, me ligaamanhã de manhã.

Ana: Mas é certeza que vocêvai fazer? Por que toda vezque eu preciso você me viraas costas.Ze Mauro: Posso fazerué...

Ana: Porque eu não vou

correr risco mais não, o ne-gócio vai ficar feio. Porquefoi a polícia me procurar.Falaram até do que que era,falou pra vizinha, daquelenegócio da pedofilia lá.Ze Mauro: É, não sei,não acredito não, masvou procurar saber. Aí,amanhã cedo você meliga que eu te dou umretorno.

Ana: Você vai me ajudar?Ze Mauro:Eu vou ver oque eu posso fazer...viu.

Ana: Ah... eu quero só ver,porque das outras vezes, né,eu só tomei no nariz, meabandonou e você falou quenão ia me abandonar né,meu bem?Ze Mauro: Ah... vocêsabe que não dependesó de mim, meu anjo.

Ana: Nosso trato foi esseZé, agora eu tô apavorada.

O número do telefone celular que Ana liga para José

Mauro é o mesmo que o jornalista do Saber usou para

falar com ele. Ele não atendeu as ligações de Ana. Ela

deixou recado com a filha dele, através de chamada a cobrar,

além de ligar outras seguidas vezes para o celular. Minutos

depois, um número restrito liga para Ana e diz que estava

numa reunião, num banco.

A reportagem do Saber apurava a veracidade da suposta

relação de Ana com José Mauro - acusado por ela de organi-

zar a denúncia de pedofilia contra o ex-prefeito.

O Saber tentou entrevistar José Mauro Baltazar pessoal-

mente, na Prefeitura de Santa Cruz da Esperança, na última

sexta-feira (24). Ele havia acabado de sair para Ribeirão Pre-

to.

Um José Mauro gentil, educado, quase que submisso liga

para Ana na presença de nossa reportagem. Ana toca no

assunto que gerou “tal acordo” entre ambos e diz que está

preocupada com a reabertura do caso da pedofilia, tudo ori-

entado por esta reportagem. Ela pergunta caso alguém lhe

procure para tratar do assunto da pedofilia: “eu falo o quê?”.

O tal José Mauro, do outro lado da linha, responde: “Nada...

a mesma coisa que sempre falou”. Ana diz estar com

medo. José Mauro tenta lhe acalmar: “Não tem que ter

medo de nada. Não tem que mudar discurso, não tem

que preocupar com isso não”.

José Mauro que fala com Ana tenta acalmá-la novamente.

Diz que não está sabendo de nada e que vai procurar saber,

“até porque o Carinha foi cassado”.

Ana pede ajuda em dinheiro para ele e diz que das outras

vezes “tomou no nariz” porque ele teria lhe abandonado.

José Mauro, todo educado, responde que não depende só

dele. Submisso, ele chega a chamar Ana de “meu anjo”.

José Mauro Baltazar nega que tenha ligado para Ana.

Apesar do José Mauro que ligou para Ana ter realizado a liga-

ção com número restrito [ligação em que o número do tele-

fone não aparece], a voz do Jose Mauro de ambas as ligações

são idênticas.

Page 7: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PÁGINA 7¦Domingo, 26/08/2012SABER

continuação

Ze Mauro: Amanhãvocê me liga, deixa euver o que tá acontecen-do.

Ana: Zé Mauro... Zé Mau-ro...Ze Mauro: Oi...

Ana: Você procura saber,me dá notícias. E se elesaparecer (sic) aqui, eu faloo que?Ze Mauro: Nada... amesma coisa que sem-

pre falou.

Ana: Eu tô com medo...Ze Mauro: Não tem queter medo de nada. Nãotem que mudar discur-so, não tem que preo-cupar com isso não.

Ana: E se a polícia vir? elesforam lá?Ze Mauro: Eu acho queé boato isso aí, mas euvou procurar saber.Amanhã você me tele-

fona, amanhã você meliga.

Ana: Então você vê o quepode fazer da outra coisa.Ze Mauro: Eu vou pro-curar saber, amanhãeu te ligo.

Ana: Então tá, amanhã eute ligo.Ze Mauro: tá bom,tchau.

Ana: Eu tô com medo...Jose Mauro: Não tem que ter medo de nada.Não tem que mudar discurso, não tem que pre-ocupar com isso não.

Ana: Nosso trato foi esse Zé, agora eu tô apavorada.Jose Mauro: Amanhã você me liga, deixa euver o que tá acontecendo.

Ana: Eu tô com medo...

Jose Mauro: Não tem que termedo de nada. Não tem quemudar discurso, não tem quepreocupar com isso não.

Ana liga para outroassessor do prefeito Daércio

Ana: Dr. Homero?

Ligação: Alô.

Ana: Dr. Homero, é a Ana.

Ligação: Qual Ana?

Ana: Ana de Santa Cruz.

Ligação: Oi Ana, tudo bem?

Ana: Tudo. deixa eu te falar uma coisa. Acabei de

falar com o Zé Mauro, tô num desespero só.

Ligação: Ah...

Ana: Eu pensei em ligar para alguém, lembrei de

você. Foram me procurar lá em Santa Cruz, sobre a

história da pedofilia. O que eu faço?

Ligação: Oh bem, primeiro, porque não tá tudo

certo? Tá tudo certo. Eu posso ver pra você, se

quiser eu posso dar uma olhadinha na polícia e

ver se tem alguma coisa pra você.

Ana: Eles vão me procurar, né?

Ligação: Não vai te prejudicar. Mas um outro

motivo que não vai te prejudicar porque o

Carinha acabou de ser impugnado pela justiça

eleitoral, entendeu. Vamos fazer o seguinte. A

gente podia combinar de se encontrar

pessoalmente. É melhor do que ficar

conversando desse jeito por telefone, viu.

Ana: Tá, como é que a gente faz? Eu te ligo, você me

liga?

Ligação: Procura o Zé Mauro, marca com ele e

fala pra ele passar pra mim.

Ana: então tá bom.

Ele diz que assunto da pedofilia "tá tudo certo",pede para ela procurar José Mauro. "É melhor do

que ficar falando desse jeito por telefone".

O Saber também não encontrou na Prefeitura o

assessor com o qual Ana teria conversado. O jornal

abrirá espaço para todos os envolvidos se

manifestarem na próxima edição.

DIÁLOGO E CUMPLICIDADE

Page 8: SABER _ SANTA CRUZ DA ESPERANÇA

SABER¦ Domingo, 25/08/2012PÁGINA 8

Saber: Ana, o que leva você a que-rer relatar estes fatos tão graves queaconteceram há quatro anos em San-ta Cruz da Esperança? Ana Rosa Alves: ... arrependimen-to, justiça... Saber: ...Vontade de dizer a verda-de? Ana Rosa: Isso... eu errei, eu fuienganada na verdade. É uma coisagrave, que nem era verdade. Saber: Você mudou para Santa Cruzda Esperança quando? Ana Rosa: Em 2006. Saber: Por quê você foi morar emSanta Cruz? Ana Rosa: Eu vim de Minas procu-rando melhora, trabalho, melhorar devida. Saber: Como foi sua chegada? Ana Rosa: Um inferno... discrimi-nação, passei muita dificuldade.Muita dificuldade, muita mesmo. Saber: Que tipo de dificuldade? Di-nheiro? Necessidades dentro de casa? Ana Rosa: Necessidade de tudo,de comida... eu mudei pra lá e logofiquei grávida, tive o neném e logodepois descobri que estava comcâncer. Saber: Naquele momento foi um cho-que receber a notícia da doença? Ana Rosa: Foi. Saber: O que motiva você a quererrevelar esses fatos, depois de ter sidodenunciante de um crime supostamen-te praticado pelo então prefeito da ci-dade, Jayme Leonel de Assis, o "Cari-nha". O que você tem a dizer sobreessa história? Você foi a pessoa que odenunciou por um crime. E aí, Ana? Ana Rosa: é... foi nas eleições de2008.Saber: É verdade este fato que foi vei-

ACUSAÇÃO. ARREPENDIMENTO.

CORAGEM DE DIZER A VERDADE.

O QUE ESTAVA POR TRÁS DAHISTÓRIA DA PEDOFILIA QUE

CHOCOU SANTA CRUZDA ESPERANÇA.

ENTREVISTA Por trás da pedofilia

culado na época? Ana Rosa: Não. Saber: Por quê você fez esta denún-cia entao? Ana Rosa: Eu nem sabia do quese tratava na verdade. Saber: Você foi induzida? Ana Rosa:Eu trabalhava na cam-panha do Daércio, no comitê dele.A campanha já estava em andamen-to. Eu trabalhei um mês em trocade R$ 300 por mês. Aí, um dia o ZéMauro chegou no comitê e deixouum recado que era para eu ir nacasa dele à noite. Saber: José Mauro é o que é as-sessor da prefeitura? Ana Rosa: Isso, isso. A gente pa-rava sete e meia da noite, a hora queeu parasse era para ir na casa dele.Naqueles dias foi quando eu tirei oprimeiro tumor no rosto, eu tavanuma fase difícil. Eu passava ne-cessidade mesmo. Eu fui na casadele a noite. Chegando lá estava meesperando, na hora marcada, ele, oDaércio. Saber: Na casa do Zé Mauro? Ana Rosa: Na casa do Zé Mauro. Saber: Você imaginava o que elesqueriam falar com você? Ana Rosa: Eu imaginei que SantaCruz é muito pequena, todo mundoficou sabendo da doença. Eu pen-sei até que eles souberam e iamfazer alguma coisa porque o pes-soal tava reclamando que eu nãopodia ficar no sol... que muitas coi-sas eu não fazia, começou uma bri-ga dentro do comitê. Saber: Você não tinha nem condi-ção de fazer o trabalho normal? Ana Rosa: Não..., não, não tinha.

Aí, o Zé Mauro falou: você não pre-cisa mais trabalhar no comitê. Eu te-nho uma proposta pra você, a gentetrouxe uns documentos e você vaiajudar a gente nas eleições. Tavatudo pronto. Eu assinava (sic) e emtroca disso ele me dava R$ 10 mil,que não existiu, que fique bem cla-ro, e que quando saísse a casa daCOHAB eu ia ter direito a uma. Saber: Então ele te prometeu R$ 10mil e mais uma casa da COHAB quesupostamente eles iriam construir? Ana Rosa: Isso. Saber: O Zé Mauro, na presença doDaércio? Ana Rosa: Isso. Saber: O Daércio avalizou toda essaconversa? Ana Rosa: É... ele sempre fingiuque não sabia de nada, a verdade éessa, mas assistiu tudo. Todo mun-do participou. Saber: Você tinha noção do que es-tava assinando? Ana Rosa: Não... eu não tinha nemcondições de pensar muito ali nahora. Eu fui pega assim... eles mesentaram e foi assim... sabe? Ai eufalei bom, de certo eu vou ganharalguma coisa. Falei - vou ler, só queera um monte de papel. Não Ana,você não confia em mim??? Atéentão, sim, né? Bom, até então sim,né... Você não precisa ir mais nocomitê. Você vai ganhar os R$ 500parada. Eu ganhava R$ 300 no co-mitê. Saber: Te pagaram dois meses? Ana Rosa: Dois meses. Saber: E os R$ 10 mil? Ana Rosa: Não, nunca existiu.Não, nunca existiu. Saber: Quando você soube da gra-vidade dos fatos? Ana Rosa: Foi quando o jornal ba-teu em minha porta, que eu quasemorri do coração, foi quando eu li-guei assustada, e agora? nossa!...e aí? vou presa!. Não, você não des-mente, você não pode desmentir. Saber: quem falou isso pra você? Ana Rosa: O Zé Mauro... Se vocêdesmentir, você vai presa. Saber: Foi uma armação, então? Ana Rosa: Me usaram, na verda-de, para ganhar a eleição, pra atin-gir o outro candidato e me lascar,né? A verdade é uma só. Saber: A idéia disso tudo você temnoção de quem possa ser? Ana Rosa: Zé Mauro... Zé Mauro... Saber: E esse dinheiro que eles iri-am te pagar, você sabe de onde viria?

Ana Rosa: Não tenho nem idéia...não iriam pagar é nada. Eles só usa-ram. Viram que eu tava precisando,passando necessidade dentro decasa... aí conseguiram uma cestabásica na assistência social - nemera deles - foi a assistência. Eu tavapassando uma fase muito difícil. Eutava precisando muito de qualquercoisa. Filho pequeno, doente... Saber: Qual é o sentimento que vocêtem, depois de quatro anos, de estarnos procurando para esclarecer estafarsa que você diz ter sido armada? Ana Rosa: Culpa. Injustiça. Porqueeu não tinha nada contra a pessoa[Jayme, o ex-prefeito]. E eu nãopude desmentir também. Medo. Sevocê contar você vai presa. A genteé pobre, não sabe nada de nada, agente não tem muita informação.

Saber: A própria menor nunca afir-mou essa história? Ana Rosa: Não... não, ela tambémestava sendo manipulada. Não per-to de mim, porque aí eles fizeramtudo para ela afastar de mim. Saber: Você está disposta enfrentartodas as consequências para esclare-cer esses fatos? Ana Rosa: Sim, porque eu já es-tou enfrentando as consequências.Olha que coisa mais triste para umpobre que sempre ralou na roça etrabalhou, estudou para tentar umavida melhor e ser processado peloEstado. É muito feio isso. Então, seé pra ser processado, que seja poruma coisa que seja correta. Eles meusaram, me fizeram de idiota e metrataram como cachorro a minha re-velia, porque até então eu não sa-bia. Saber: Na época, as pessoas próxi-mas a você, souberam disso que vocêviveu? Ana Rosa: algumas sim. Saber: E desse pessoal, José Mau-ro, Daércio, quando eles ganharam aeleição, você não teve apoio nenhum? Ana Rosa: Nenhum, nenhum. Saber: Você se sentiu ameaçada al-guma vez? Ana Rosa: Muitas vezes, muitasvezes. Saber: A última pergunta que eu lhefaço, Ana: você está disposta a enfren-tar e até ir à justiça para esclareceresse fato? Ana Rosa: Eu acho que é o quevai acontecer na verdade. Saber: Você se sente vítima? Ana Rosa: Somos duas pessoas

usadas. Eu não tava em muitas con-dições de fazer escolha e eu não tiveescolha. Eu não sabia do que se tra-tava. Eu soube a hora que o jornalbateu na minha porta e o que eu voufalar? e agora? Ou eu falo ou eu voupresa? Porque no telefone me fala-va um monte. "oh, não abre a boca,a sua família inteira ta aí". Eu tenhofilho pequeno, eu tenho minha filha,e a gente mãe não pensa na gente,pensa neles. Até eu sair de SantaCruz eu tive que ficar bem quietinha. Saber: Você chegou a temer algu-ma represália, alguma ação pior parasua família? Ana Rosa: Quando eu ficava meiarebelde, ficava brava e ia lá [na pre-feitura] reivindicar alguma coisa, atémesmo o direito de usar a ambulân-cia, que eu sempre precisei muito,aí já acontecia de jogar um tipo deameaça, aí eu tinha que ficar quieta,bem quietinha. Saber: O José Mauro sempre ligavapara você ou usava pessoas paramandar recado? Ana Rosa: Não, ligava mesmo.Quando ele precisava de mim ele meligava. Sempre me ligou da prefei-tura, do celular, trocou de celular, dooutro, do outro, sempre. Saber: Faz quanto tempo que vocênão tem contato com ele? Ana Rosa: Uns três meses. Saber: O que ele queria? Ana Rosa: Ele sempre tenta melembrar que eu tenho que ficar bem"de boa". Inclusive ele me ligou ummonte de vezes e aqui não pega [ocelular]. Aí eu vi a ligação, era umnúmero diferente. Eu dei um toqueà cobrar e não sabia se era CTBCou Vivo. Aí ele me ligou e eu vi queera ele. Ele: e aí tudo bem? A gentevai ver o que pode fazer... Tipo melembrando que eu tenho que ficarsossegada. Vai ficar tudo bem oque? Saber: A presença do Daércio no mo-mento dessa proposta que o JoséMauro lhe fez, teve influência para paravocê assinar? Ana Rosa: Eu achava que ele eramuito correto, um homem correto.Até que te provem o contrário, paramim você presta. Você não tem no-ção do que eu passei naquela cida-de e passo, porque eu não tenho di-reito de ir e vir assim tão fácil. Euando sempre com medo, semprecom medo. Ele é perigoso.

André Luiz R. Reche