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OBSERVA OBSERVA MAGAZINE 10 / DEZEMBRO EDIÇÃO 12 MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT

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OBSERVA

O B S E R V A M A G A Z I N E

1 0 / D E Z E M B R O

E D I Ç Ã O

12

M A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

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OBSERVAM A G A Z I N E

EDITORIAL Madalena Pires de Lima. Congratulação por 12 edições da OBSERVA Magazine

OBRAS DE CAPA Mestre Carlos Farinha.Quem é este «pintor-historiador»?

GRANDE ENTREVISTA: LUÍS FARO RAMOS Presidente do Camões, Instituto da cooperação e da língua, I.P

MIGRAÇÕES, POR GILDA PEREIRA O reencontro e a união familiar no Natal

PORTUGAL PELO MUNDO Luís Costa Pires.O jornalista português mais «americano»

CURIOSIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA Jorge Amado e a sua obra-prima cómica «o Quincas»

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28

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PATRIMÓNIO DA LUSOFONIA António Manuel PereiraMais convívio e comilança. O chorincar do porco

O CÉU QUE NOS ÚNE Inês BernardesJúpiter em Capricórnio

À ESPREITA CÁ DENTRO ÓbidosUm dia de férias de Natal em família

DA ALMA: Sabores lusos em estado líquidoA espuma dos dias

DA ALMA: Sabores lusos em estado sólidoConcurso dos galos de Barcelos

INFORMAÇÕES FISCAIS Philippe FernandesÚltimos passos para poupar no IRS

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OBRAS DE CAPA

O MADEIRO DE NATAL

Nesta última obra de capa decidi represen-

tar uma fogueira, que ainda se incendeia

na noite de consoada, sobretudo no centro

e norte de Portugal. Inicialmente, símbolo

pagão, que acompanhava a celebração

do solstício de inverno em adoração ao

sol (um pouco como os Yézidis), passou

naturalmente, para o mundo cristão,

acesa nessa noite tão especial, no seio

da tradição religiosa da nossa sociedade.

Muitas vezes, fui com rapazes e homens

da aldeia em busca de troncos e galhos

para criar o «lenho» e a noite era regada

com um medronho. Unidos: todos juntos,

ao calor do lume. Nesses momentos, as

zangas e arrufos de vizinhos derretiam e

davam lugar à Paz entre todos, guiados por

um sentimento de pertença ao grupo dos

rapazes apaziguados pelo Natal.

Bem haja OBSERVA Magazine!

Carlos [email protected]

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MENSAL

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EDIÇÃO

Dezembro 2019, Edição 12 - GRATUITA

R E V I S Ã OJG Consulting

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

Wonderpotential Lda, NIF 514077840

D I R E T O R

Jorge Vilela

E D I T O R E S

António Manuel Monteiro, Carlos Farinha, Catarina dos Santos, Cristina Passas, Gilda Pereira, Gui Abreu de Lima, Hernâni Ermida, Inês Bernardes, Jorge Mendes Constante, José Governo, Marco Neves, Maria Coelho, Philippe Fernandes, Pedro Guerreiro, Tiago Robalo

D I R E T O R A C O M E R C I A L

Gilda Pereira

D E S I G N G R Á F I C OColors Design - https://colorsdesign.eu

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Aproxima-se mais um Natal e completamos 12 edições desde que iniciamos este projeto. É tempo de nos des-pedirmos do nosso mestre Carlos Farinha. Assim foi combinado: um ano de capas inéditas e uma exposição a rematar. Anunciaremos a data e local. Nesta última obra de capa, decidiu oferecer-nos uma fogueira que arde na noite de consoada, ainda, nos dias de hoje, sobretudo, no centro e norte de Portugal. Inicialmente de índole pagã, passou naturalmente, para o mundo cristão, nessa noite tão especial. O «lenho», à volta do qual pela noite den-tro bebia um medronho junto ao calor do lume com os homens da aldeia. Nesse momento, as zangas e arrufos de vizinhos gelavam para dar a todos um sentimen-to de pertença e de paz. Em janeiro, abrimos as capas a um novo talento lusodescendente. Destacamos a con-sagração do dia 5 de Maio, como dia Mundial da língua portuguesa, por parte da UNESCO. A língua portuguesa é uma das nossas razões de existir, e a provar essa nossa missão, oferecemos-vos a nossa grande entrevista com o Presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. I.P., Luís Filipe Ramos. São imensos os motivos para nos orgulharmos das mais variadas revelações que este Diplomata nos desvendou. Não perca por nada a oportunidade de saber de que modo pode ser um embai-xador da nossa viva língua! Gilda Pereira, da «EI!» em «Migrações», não podia deixar de nos falar da chega-da do natal, da época do reencontro e da união familiar das tantas famílias que ajuda. Aproveitamos uma visi-ta a Portugal de Luís Pires, do jornal Luso – America-no, sediado em Newark, e estivemos à conversa com ele sobre os mais variados temas, inclusive, sobre medidas de combate à violência doméstica nos EUA. Também estivemos à conversa com Miguel Costa Coelho, Bioquí-mico, Cientista, Investidor e Consultor de Biotecnologia, que lançou um grupo de Investimento em Biotecnologia (Beacon VP), que usa métodos científicos para apostar

na bolsa de valores, saindo do mundo académico para Wall Street. Ainda no rescaldo das eleições legislati-vas de outubro passado, pode ler, na coluna de autor, a opinião de Manuel Machado, Conselheiro das Comuni-dades Portuguesas, eleito pelo círculo eleitoral do Nor-te da Alemanha. Na senda de autores e livros lusófonos, continuamos em território brasileiro e levantamos o véu sobre Jorge Amado, autor que chegou aos portugueses, também, através da primeira telenovela brasileira que passou em Portugal, Gabriela Cravo e Canela, ainda no tempo na televisão a preto e branco. No Património, António Manuel Monteiro, descreve-nos o chorincar do porco numa romaria às borralhadas. Pedro Guerrei-ro, nos sabores lusos em estado líquido, investe o seu engenho a explicar-nos a «espuma dos dias» no espu-mante, que tanto usamos na época que se avizinha. Inês Bernardes, no «Céu que nos une» fala-nos da ingressão do planeta Júpiter no signo de Capricórnio. Em tempos preocupantes e indecisos nas respostas aos problemas do Ambiente e sustentabilidade, vamos continuando com os diagnósticos dos moradores de Montalegre, em Trás - os - Montes, onde querem extrair lítio para as ba-terias de carros elétricos. As crianças e os jovens podem satisfazer as primeiras curiosidades sobre Política e a sua génese. Desta vez fomos a Óbidos, onde pode ir com a família neste Natal. Em Barcelos, espreitamos o con-curso de Galos, supervisionado pelo nosso chef Hernâni Ermida. Natal é também a cidade de Belém, onde nasceu Jesus Cristo, acarinhado pela família e por um Presépio, à volta do qual muitos portugueses se reúnem em todo o Mundo, na tolerância por outros credos. Nas Infor-mações Fiscais, saiba quais os últimos passos a dar para poupar no seu IRS, com a ajuda de Philippe Fernandes.Um Santo Natal!Uma esperançada Passagem de Ano! Até 10 de janeiro!

EDITORIAL

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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OBSERVATÓRIO

Desde o dia 4 de novembro, Cal-

das da Rainha - Cidade Criativa

do Artesanato e Artes Populares

e Leiria - Cidade Criativa da Mú-

sica, tomam parte da Rede de

Cidades Criativas da UNESCO.

“O reconhecimento de Caldas

da Rainha como Cidade Criativa

de Artesanato e Artes Populares,

é mais uma etapa na afirmação

da cidade no contexto mundial,

graças ao valioso e insubstituível

contributo dos artesãos, cera-

mistas e todos os artistas das

Caldas da Rainha do passado e

do presente”, afirma Fernando

Tinta Ferreira, presidente da

Câmara Municipal das Caldas

da Rainha. “Esta nomeação, irá

implicar uma maior responsabi-

lidade no trabalho internacional,

em parceria com a rede UNESCO

e em colaboração com as outras

cidades criativas, afirmando o

seu potencial social, cultural e

turístico, para o qual temos vin-

do a trabalhar em parceria com

as entidades do sector nomeada-

mente, a ESAD (Escola Superior

de Arte e Design)”, acrescenta

ainda Tinta Ferreira.

Gonçalo Lopes, presidente da

Câmara de Leiria, considerou

que Leiria ser um concelho

que integra a rede de Cidades

Criativas da Unesco da música

aumenta a responsabilidade

nesta área. “Hoje é um dia muito

importante para a cultura de

Leiria”, pois, “vê reconhecido

a importância da música a um

nível internacional”.

A Rede de Cidades Criativas, foi

criada pela UNESCO em 2004, e

procura desenvolver a coopera-

ção internacional entre cidades

que identificaram a criatividade

como um fator estratégico para

o desenvolvimento sustentá-

vel. A Rede tem por objetivos

fortalecer a criação, produção,

distribuição e fruição dos bens

culturais e serviços a nível local;

promover a criatividade e ex-

pressões criativas.

Portugal, já contava com sete

cidades inscritas na Rede de

Cidades Criativas da UNESCO:

Idanha-a-Nova - Cidade Criativa

da Música; Óbidos - Cidade

Criativa da Literatura; Amaran-

te - Cidade Criativa da Música;

Barcelos - Cidade Criativa do

Artesanato e das Artes Popula-

res e Braga - Cidade Criativa das

Artes Digitais.

Na lista do Património Mundial

da Unesco, Portugal conta com

vários monumentos situados no

seu território, como por exem-

plo: Zona Central da Cidade de

Angra do Heroísmo nos Açores;

Mosteiros dos Jerónimos e Torre

de Belém em Lisboa; Convento

de Cristo em Tomar; no Brasil,

Centro Histórico de Olinda; na

Argentina, Missões Jesuítas dos

Guaranis; em Goa, Igrejas e

Conventos de Goa, entre muitos

outros.

Portugal, vê-se igualmente

representado no Património

Imaterial da Humanidade pelo

Fado, pela Dieta Mediterrânica,

Canto Alentejano, Falcoaria, pela

manufatura de chocalhos entre

outros exemplos.

Rede de Cidades Criativas da UNESCO

O que aconteceu?

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O L D I A N O S D O M Ê S

Natàlia FORDELONE PEREIRA, filha de pais de Viana do Castelo, administra na sua qualidade de adjunta do Presidente da Câmara as delegações dos assuntos escolares, extracurriculares, ação social, é Vice-Presidente do Centro Municipal de Ação Social da sua cidade Pomponne en Seine et Marne. Cidadã ativa na vida intelectual da sociedade francesa e por-tuguesa, intervindo também na defesa dos direitos do Homem no Irão ao lado do Conselho Nacional para a Resistência Iraniana. Em 2009, criou a sua empresa de reabilitação urbana, trabalhando com a ADP (Aéroport de Paris) e outros clien-tes de renome.

Ricardo Almeida, 28 anos, residente na Suíça, na área consular de Genebra, con-tabilista de formação e a trabalhar no departamento financeiro da Sociedade Suíça de Autores – SSA. Membro ativo da comunidade portuguesa local, assumindo a responsabilidade da gestão contabilís-tica da Missão Católica de Língua Portu-guesa no Cantão de Vaud, instituição que reúne várias comunidades desse mes-mo cantão. Amante do desporto, des-de muito novo joga futebol em equipas amadoras na região de Lausanne, com a particularidade e agradável experiência de jogar em equipas com jogadores de várias nacionalidades. Um apaixonado por Portugal e promotor de Portugal na Suíça, acrescentando ser adepto e sócio do Sport Lisboa e Benfica.

N atà l i a F O R D E L O N E P E R E I R A

R i c a r d o A l m e i d a

5 de maio Dia Mundial da Língua Portuguesa

No dia 25 de novembro de 2019, os Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, vêm os seus esforços serem bem-sucedidos ao tomarem conhecimento da ratificação em Paris, a decisão que estipula o dia 5 de maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa, promovido pela Organiza-ção das Nações Unidas para a Educa-ção, Ciência e Cultura. Mais uma vez estamos perante um património que já não é só do povo português, mas tam-bém de mais povos amigos dos portu-gueses.O dia 5 passará a não ser uma festa da Comunidade dos Países de Língua Por-tuguesa, mas de toda a humanidade.“É a primeira vez que a UNESCO toma uma decisão destas em relação a uma língua que não é uma das línguas ofi-ciais da UNESCO. Por unanimidade, as pessoas reverem-se na ideia de que é importante um dia mundial da língua portuguesa é muito importante”, afir-mou António Sampaio da Nóvoa, em declarações à agência Lusa.Na proposta apresentada ao conselho executivo, os países lusófonos argu-mentaram que a língua portuguesa é a mais falada do hemisfério Sul e que foi

também, a língua da primeira vaga de globalização, deixando palavras e mar-cas noutras línguas no mundo.“No Instituto Camões já apoiamos a ce-lebração do Dia da Língua Portuguesa, mas este reconhecimento vai ajudar-nos a dar mais força às celebrações e o próximo ano será de comemoração renovada e ainda mais forte porque vai despertar consciências”, afirmou Luís Faro Ramos, que assistiu à aprovação do dia mundial, na sede da UNESCO, em Paris.A língua Portuguesa está de parabéns, sendo falada na Europa, América, Áfri-ca e Ásia e estando mais viva do que nunca.

Philippe Fernandes Observatório dos Lusodescendentes

[email protected]

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Observa Magazine: É com imensa honra que lhe dedicamos este nosso espaço.

Carlos Farinha: A honra é minha. Um agradecimento muito especial à equi-pa da Observa Magazine pelo convite e confiança na criação das 12 obras de capas, uma responsabilidade alician-te que me fez pensar e criar sobre um mundo que é o nosso. Observa Magazine: Onde nasceu e quando? Conte-nos um pouco da sua ligação à emigração na sua família.

CF: Nasci em Santarém em 1971, mas passados poucos meses, a minha mãe comigo ao colo e a segurar a minha Irmã de 1 ano e meio deu o salto para se juntar ao meu pai que se encontrava numa aldeia do norte da França. Pas-sámos 14 anos em França e o mês de agosto sempre em Portugal.Viajávamos de caro com reboque e ainda me recordo bem das várias pe-ripécias que vivemos. Dos engarrafa-mentos até a guarda civil armada com metralhadoras e sobretudo, das ava-rias. Na altura ainda não pertencíamos à união europeia e passar a fronteira era algo de muito especial.

OM: Em casa era estimulado a pintar? Lembra-se da primeira vez que pin-tou? Que materiais utilizou?

CF: Realmente a minha relação com a pintura, foi muito particular embora tivesse um familiar artista. O Ribeiro Farinha, um homem que lutou muito e que adoro a sua pintura. Foi o facto de voltar para Portugal que me fez pintar. Tinha alguns problemas de comuni-cação e era através da pintura que me sentia bem e comunicava. Pintava com tudo, em todo os tipos de suportes, até usei corantes alimentares e rímel.A minha família nunca se opôs e apoiou-me em todas as minhas decisões.

Carlos Farinha

OBRAS DECAPA

Nasceu em Santarém, Portugal, a 09/03/1971. Possui Atelier em Lisboa. É licenciado em Artes Plásti-cas, vertente escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Está representado em diversas coleções publicas e privadas e participa regularmente em várias exposições. Obrigado Mestre por ter iniciado connosco o caminho da OBSERVA Magazine!

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 9

O B R A S D E C A PAC A R L O S FA R I N H A

OM: Onde fez o seu ensino pré-pri-mário e primário? Que liberdade tinha para experimentar a criatividade na pintura?

CF: Todo o meu ensino pré-primário e primário foi feito em França. Tive uma infância muito criativa e ao ar li-vre. Brinquei muito mas não posso di-zer que fosse experimental ao nível da pintura.

OM: Que pintores o inspiram? Que es-critores o inspiram? Quem mais o ins-pira?

CF: Gosto muito de artistas que de alguma forma marcaram a sua épo-ca, Goya, Picasso, tantos e tão bons...,

mas sobretudo gosto da irreverência do Duchamp e da praxis utópica do Jo-seph Beuys. Enquanto escritores vários me marcaram consoante a época que vivia mas, sobre-tudo autores franceses Perec, Beaudelai-re, Vian, etc. portugueses admiro o Eça de Queiroz.Mas tinha muito para escrever sobre influências que vão desde Mandela, Mujica ou Gandhi.Adoro história e sobretudo, perceber o contexto de cada época para perceber a forma como as sociedades evoluíram.

OM: Necessita de algumas circuns-tâncias especiais para criar ou cria em qualquer situação, alheando-se do ex-terior?

CF: De facto para mim qualquer as-sunto ou circunstância são pertinentes para criar. O que importa é o processo, esse mecanismo que permite ganhar uma distância sobre aquilo que se re-presenta e voltar a representar com uma nova visão ou contexto.

OM: Tendo formação académica em Escultura, porque se expressa mais na Pintura?

CF: Bem, a Pintura começa muito an-tes da Escultura e sinceramente não me sentia bem na Faculdade de Belas Artes em Pintura. Achei que estudar Escultura permitiria compreender melhor o peso das coisas e a sua tridi-mensionalidade.

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OM: Qual o peso que tem França na sua arte?

CF: Muita egalité, fraternité, liberté. Va-lores que sempre segui e que fazem parte do meu DNA.

OM: A sua pintura está também repleta de ícones portugueses. Apercebemo-nos de autênticas pinceladas históri-cas, às vezes completas e complexas «páginas» descritivas e narrativas, que nos obrigam a uma «leitura» de-morada. Como surgiu essa paixão?

CF: Sou fã de história e não só. Vou fa-zer uma confidência. O pedagogo Pau-lo Freire, tem uma grande importância na forma como vejo o mundo e escolho

o que pinto.A estética e a ética foram elementos que me forjaram a criar uma narrativa que permite uma transversalidade de leitura do meu trabalho. Porque a mi-nha paixão são as pessoas.

OM: Importava-se que lhe chamas-sem «pintor-historiador»? As críti-cas social e política obrigam-no quase sempre a exposições guiadas por si no sentido de acrescentar legenda ao que pinta. Isso dá-lhe um gosto acrescido?

CF: Bem, perceber o meu trabalho não é difícil, porque procuro que ele seja legível. O título (a palavra) tem tanta importância como a própria pintura. E as visitas guiadas fazem elas próprias

parte de todo o processo.Se as vanguardas artísticas se tornam cada vez mais elitistas e onde a sua única preocupação é o mercado, algo vai mal.

OM: O «mundo feminino» é uma constante na sua obra, em forma de força e coragem das mulheres. De-monstra um grande respeito pela mu-lher. Qual a importância das mulheres na sua vida?

CF: As mulheres têm uma força e to-lerância à dor muito maior que os ho-mens. Respeito muito as mulheres da minha vida que me fizeram perceber as várias dificuldades e preconceitos a que são sujeitas.

OBRAS DE CAPAC A R L O S FA R I N H A

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Em 2020, vamos levar as nossas “Obras de Capa” para a República Democrática de São Tomé e Príncipe.Ismaël Sequeira, o artista convidado, nasceu em 1969, na cidade de São Tomé. A não perder a partir de janeiro do próximo ano.

OM: Não poucas vezes, nos seus quadros, é retratado o es-forço humano: alguém que puxa, alguém que carrega. Que cruzes são essas?

CF: Não os chamarei de cruzes, mas sim metáforas da nossa condição humana e de todas as barbaridades e crueldades que a Humanidade consegue criar mas, também retrato o outro lado a entreajuda, o amor pelo próximo e o respeito pelo nosso habitat. Sou otimista e adepto fervoroso dos di-reitos humanos, por isso pinto o que sinto.

OM: Que cores assumem as suas raízes portuguesas?

CF: Uma paleta colorida que não cabe apenas numa gama cromática.

OM: Que povo português é este que se diferencia de todos os outros?

CF: Quem usa um Poeta como a sua maior referência, é des-de logo um sinal de diferenciação. Espero que continuemos

a perceber que a língua, a cultura e a viagem fazem parte da nossa definição. Não a glorificação de uma pseudo-identi-dade cultural criada através de um super-homem que é o português.

OM: Existe algum local especial onde gostaria de expor?

CF: Sim muitos. É difícil chegar a alguns dos locais onde gostaria de expor porque essencialmente não depende de mim, mas ao fim e ao cabo, o que acho de especial é poder continuar a criar e a pintar.

OM: Foi uma grande honra para nós que tivesse acedido ao nosso desafio de nos proporcionar 12 capas inéditas no nosso primeiro ano de existência. Ficamos expectantes para saber onde nos poderemos encontrar na exposição destes 12 trabalhos. Muito obrigado e até lá!

OBRAS DE CAPAC A R L O S FA R I N H A

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GRANDE ENTREVISTA

L U Í S F I L I P E M E L O E FA R O R A M O S

P R E S I D E N T E D O C A M Õ E SI N S T I T U TO D A C O O P E R A Ç Ã O E D A L Í N G U A , I . P.

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PAG 14 | OBSERVA - MAGAZINE

Diplomata, casado, com dois filhos. Licenciado em Direito pela Universidade de Lis-boa, ingressou no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 1987. Esteve colocado em diversas representações portuguesas no estrangeiro, nomeadamente: Atenas (1993), Macau (1998), Genebra (1999), Bruxelas (2004), Tunes (2012) e Hava-na (2015), as duas últimas como Chefe de Missão. Desempenhou também funções como Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar (2008-2009) e Diretor-Geral de Política de Defesa Nacional (2010-2012). Foi representante das categorias de secretário de embaixada e conselheiro de em-baixada no Conselho Diplomático, entre 1996-1998 e 2008-2010. A 24 de outubro de 2017 foi nomeado Presidente do Camões – Instituto da Coope-ração e da Língua, I.P. por despacho do Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Vanda de Mello e Alma Ang

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GRANDE ENTREVISTAL U Í S FA R O R A M O S

Observa Magazine: Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista.

Luís Faro Ramos: O gosto é todo meu.

OM: A nomeação do Senhor Embaixador a 24 de outubro de 2017 para presidir ao Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. por despacho do Ministro dos Negócios Es-trangeiros, foi uma surpresa, foi algo que ambicionava ou é apenas mais um desafio na sua extensa carreira?

LFR: Não ambicionava e foi uma surpresa total. Eu era em-baixador em Havana, estava no decurso habitual da minha carreira diplomática. Iria estar mais um ano em Cuba. Nor-malmente, transitaria de posto depois de três anos - como

embaixador - quando o Ministro dos Negócios Estrangei-ros me convidou para presidir ao Instituto Camões. Ante-riormente, tinha sido embaixador na Tunísia. Foi, então, uma surpresa total, que manifestei. O Senhor Ministro ex-plicou que a valência de um funcionário diplomático seria útil nas atividades que o Instituto desenvolve. O Instituto Camões assume como responsabilidades a de coordenar a promoção da língua e a cultura portuguesas pelo mundo e também, a de executar a cooperação para o desenvolvi-mento. Assim, foi entendido que um diplomata, por força da sua formação, poderia dar uma resposta eficaz a essas áreas chave, que estão no centro de toda a política externa de Portugal. Penso que até agora as coisas têm corrido bem, mas o desafio é permanente.

Vanda de Mello e Alma Ang

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OM: … esta será «a Embaixada»…

LFR: Prefiro utilizar outra expressão, diria que é o centro de várias ramificações, o centro da plasticidade da própria língua. Sendo importantíssima a interação com a rede di-plomática e consular por todo o mundo, atrevo-me a di-zer que é uma mais valia ter no Camões um diplomata que possa promover a cultura portuguesa nessas redes. Alguém que interage, diariamente, com uma rede vasta de grupos e de pessoas: não apenas embaixadas e consulados, mas também leitores, investigadores, professores, entre mui-tos outros, que todos os dias promovem a língua e cultura portuguesas.

OM: O Camões, I.P. é um instituto público, sob a tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros, integrado na admi-nistração indireta do Estado, dotado de autonomia admi-nistrativa, financeira e património próprio, o que lhe per-mite alguma liberdade de ação. Quais os grandes desafios que abraçou quando assumiu funções em 2017?

LFR: O Ministro dos Negócios Estrangeiros, quando me deu posse, foi muito claro naquilo que esperava do Instituto e do seu Presidente. O que tenho que salientar, desde logo, é que existe muito e bom trabalho para trás. Há uma con-tinuidade naquilo que temos feito. Obviamente, existem sempre novos desafios, prioridades, mas a grande marca que queremos que fique é a continuidade. Essa marca é um reflexo de um consenso que existe em Portugal em termos de política externa, que é posteriormente transmitido pelas dinâmicas que são as nossas atividades. Sendo o Camões um Instituto Público, na dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é normal que as políticas públicas que executa tenham em consideração e sejam um refle-xo daquilo que são as orientações políticas do país, nestas áreas. É isso que fazemos. O desafio principal é um desafio de crescimento. Nós vemos os números de pessoas que têm interesse pela nossa língua e cultura a crescer muito, pelo que é um desafio constante e nos obriga a estar, com a nos-sa oferta, à altura dessa procura cada vez mais acentuada. É um desafio que enfrentamos todos os dias. Nós promove-mos o ensino do português, os executores são os docentes, os leitores... Estamos cada vez em mais áreas geográficas, com números que são públicos. Sendo o Camões uma en-

tidade pública, que utiliza dinheiros públicos, faço muita questão de partilhar, publicar, apresentar o que fazemos e os números do nosso trabalho, assim como também é nos-so dever justificar o investimento, os apoios e os fundos económicos de que dispomos ou que nos foram atribuídos a todos que se interessam pelo que faz o Instituto, nomeada-mente as nossas comunidades.

OM: Como avalia a herança deixada pela Prof. Dra. Ana Paula Laborinho?

LFR: A minha resposta vai na linha do que afirmei ante-riormente. Há muito e bom trabalho feito. A Profª. Paula Laborinho fez um trabalho notável à frente do Instituto, durante um período alargado de mais de sete anos. Teve de enfrentar uma fusão, que nunca é fácil, pois, como sabem, o Camões Instituto da Cooperação e da Língua, na sua de-signação atual existe desde 2012, antes era Camões «língua e cultura» e existia o IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento. Ainda hoje há um trabalho a desem-penhar, que me compete como Presidente do Instituto, de apresentar sempre o que fazemos numa perspetiva inte-grada, que tenta tirar o melhor proveito possível do facto de - sob a alçada do Instituto – estarem as áreas de coo-peração, da cultura e da língua. E existem muitos pontos comuns. Se pensarmos nos países de língua portuguesa em África e Timor Leste, onde a nossa cooperação para o desenvolvimento é muito forte e muito ativa, temos vindo a ganhar escala, consistência e densidade na nossa inter-venção precisamente por conseguimos olhar duma forma integrada para essas questões da cooperação, da língua, e da cultura.

OM: Volvidos 2 anos à frente do Instituto Camões, como avalia os desafios que agarrou quando assumiu funções? Quais foram as maiores dificuldades e constrangimentos?

LFR: O maior desafio é o de tentarmos fazer corresponder a nossa oferta à procura. Lançamos mão de várias possibili-dades de intervenção, no seio destas redes que fazem par-te de uma rede mais vasta, temos chamado cada vez mais gente a colaborar connosco, na promoção da nossa língua e cultura: portugueses que estão espalhados pelo mundo; a nossa diáspora, que nos tem ajudado bastante, são fun-

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damentais na promoção da nossa língua e cultura; asso-ciações de cientistas; a nossa rede diplomática e consular, como referi anteriormente, entre outros. Também quere-mos e devemos lançar mão, de modo cada vez mais con-sistente, de outros falantes de língua portuguesa, que não portugueses, atuando mais em conjunto com diásporas por exemplo de Cabo Verde, Angola, Moçambique e Brasil, que são países que têm uma diáspora forte, porque o que esta-mos a fazer é a divulgar a nossa língua comum. O português - digo isto frequentemente - não é propriedade de Por-tugal. O português começou por ser a língua de Fernando Pessoa e de Camões; é hoje - porque a geografia da Língua é mais numerosa na América Latina – sobretudo, a língua de Clarice Lispector, Jorge Amado ou Chico Buarque; mas será no futuro - porque a geografia da Língua se vai deslo-car da América Latina para África - a língua de Mia Couto, Ondjaki ou Pepetela. Portanto, tudo que pudermos fazer em conjunto é bom para a promoção da nossa língua, que mais forte fica. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para di-zer que estamos muito satisfeitos pelo facto da UNESCO ter declarado o dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Por-tuguesa. Até agora, o dia 5 de maio era comemorado como

dia da língua portuguesa somente nos países lusófonos. A partir de 2020, a escala muda e isto é fundamental para que a nossa língua se consolide e cresça em todo o mundo: há muitas iniciativas que tomamos em conjunto com os nos-sos amigos brasileiros, angolanos, cabo-verdianos. É uma forma eficaz para que nos apropriemos de uma língua que é de todos, falada em todo o mundo e por mais de 280 mi-lhões de pessoas.

OM: O Camões, I.P. pretende ser um organismo de refe-rência na coordenação e articulação da política externa do governo, nas áreas da cooperação internacional, promoção da língua e da cultura. Considera que estes 3 vetores têm conseguido atingir os objetivos traçados enquanto estraté-gia da política externa do Governo e da tutela?

LFR: Penso que sim. Referi atrás que estas áreas de respon-sabilidade - a cooperação para o desenvolvimento, a língua e a cultura - são encaradas como estando de um modo rele-vante no centro da política externa de Portugal. Na verdade, o Camões, mais do que um ponto de referência, é o Instituto que está encarregue de executar as políticas públicas nes-

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tas três áreas. Fazemo-lo de acordo com as orientações da tutela, nem de outra maneira poderia ser. Sei que a legisla-tura que está a começar ratifica e continua com as mesmas prioridades em termos daquilo que interessa ao Camões e portanto, nós continuaremos a executar - e penso que te-mos feito bem – as políticas públicas nestas três áreas. É evidente que isto requer um esforço concertado por par-te de toda a administração pública, sobretudo na área da cooperação, porque há muitos atores em Portugal, desde a sociedade civil até atores institucionais com responsabili-dades noutros ministérios que executam cooperação para o desenvolvimento. Isso é muito positivo mas, de facto, o esforço de coordenação aí é superior. Na área da língua, por exemplo, temos um ator de primeira grandeza a atuar lá fora que é o ministério da educação através das escolas portuguesas. E há outros ministérios que executam ações de cooperação, que têm incidência em áreas que nos são muito caras como a saúde, justiça e outros. Dentro daquilo que são as prioridades nestas três áreas, Camões tem um papel central que lhe é atribuído pela tutela, e penso que o tem desempenhado a contento.

OM: Que ferramentas, meios de atuação, modalidades e políticas ativas o Instituto Camões tem atualmente no ter-reno (pelo mundo), para a promoção da língua portugue-sa no estrangeiro? Quantos países são abrangidos por esta rede de promoção da língua portuguesa no estrangeiro?

LFR: Há que distinguir, aqui, vários níveis de intervenção. Na promoção da língua portuguesa temos, desde logo, a chamada rede oficial e apoiada pelo Camões: e estamos a falar do ensino do português, sobretudo, em países onde existe uma forte diáspora. Nesses países o ensino é nor-malmente do português como língua de herança: uma in-tervenção em 18 países, com uma rede de professores de ensino básico e do secundário, neste momento, com 317 professores que são diretamente responsáveis perante o Instituto Camões e pagos pelo Instituto, que intervêm nes-tes 18 países. Onde existem também coordenações de ensi-no. Temos, neste momento, 11 coordenadores de ensino e 9 adjuntos. Os países também, é fácil enumerá-los: Espanha, Andorra, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Bélgica, Países Baixos, França, EUA, Canadá, Venezuela, Austrália, Áfri-

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ca do Sul, Zimbabué, Namíbia e Swatini (ex-Suazilândia). Estes são os países em que temos o ensino do português como língua de herança. Depois há países onde o portu-guês é ensinado como língua estrangeira, a nível do bási-co e do secundário, alguns dos quais já ensinam o portu-guês no currículo público. Neste momento, temos 33 países nesse registo. O número tem vindo a crescer e esperemos que cresça ainda mais nos próximos tempos. Acresce que existem alguns países onde não existe diáspora significati-va, mas onde há muita gente a aprender português ao nível do secundário, como por exemplo, o Senegal com mais de 40.000 pessoas a aprender português a nível do secundário, e onde o português é uma língua curricular no ensino pú-blico. Temos ainda, agora no ensino superior, centenas de protocolos de apoio à docência com estabelecimentos uni-versitários, em todos os continentes. Docentes portugueses que - mediante protocolos que o Camões assina - ensinam português nessas Universidades. Temos mais de 400 do-centes, atualmente. Há que assinalar também as Cátedras apoiadas pelo Camões, que são centros de excelência de in-vestigação em estudos portugueses ou lusófonos que têm

normalmente, uma direção ou de um professor de portu-guês ou de um professor da universidade, onde a Cátedra se insere. Neste momento, temos 50. Estive há três dias a inaugurar a Cátedra nº. 50, um número muito simbólico, na Bulgária, que tem o nome de José Saramago. Portanto, temos uma diversidade de instrumentos de atuação que nos fazem, neste momento estar presentes, através destas várias redes, em mais de 80 países. Temos também 80 centros de língua portuguesa espalhados por todo o mundo. Na área da ativi-dade cultural, temos mais de 1 400 atividades por ano, que promovemos, através da ação cultural externa, em estreita colaboração com o Ministério da Cultura. Estamos presentes com estas atividades em mais de 80 países, de A a Z.

OM: De acordo com os índices e indicadores que dispõe, considera que esta vertente da promoção da língua portu-guesa no estrangeiro tem um saldo positivo, tem alcançado bons resultados? Fica surpreendido com esses resultados?

LFR: Quando aqui cheguei, há pouco mais de dois anos, não fazia ideia da magnitude e da extensão do que se fazia no

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Instituto. Tinha contribuído, por exemplo em Cuba e na Tunísia, para a criação de leitorados, mas na verdade não tinha uma perceção completa do formidável instrumen-to de promoção das nossas língua e cultura que o Camões constitui. Fiquei surpreendido com o alcance da nossa rede. Continuo a surpreender-me com o interesse na aprendiza-gem da língua em todo mundo. Vou dar-lhe dois exemplos, muito recentes. Recebi há dias os embaixadores do Caza-quistão e do Irão em Lisboa. São dois países interessados em aprender português. Estas são manifestações de inte-resse que me agradam muito. Outra grata surpresa é o que constatamos nos resultados práticos daquilo que é nosso investimento em bolsas. Temos depoimentos de bolsei-ros ou ex-bolseiros que nos dizem que a vida deles mudou graças a uma bolsa do Camões, e é muito gratificante ou-vir isso. Gostava de realçar o trabalho notável de empenho de toda a equipa do Camões, seja aqui na sede, seja lá fora.

Estão entre os grandes promotores dos nossos valores e da nossa atuação pelo mundo fora.

OM: em 2018, afirmou que “a língua é um ativo económico muito importante”. Como comenta esta sua afirmação? O que tem sido feito para promover esse ativo?

LFR: De facto é um ativo muito importante, não só do ponto de vista económico, mas também como língua de comuni-cação de organizações internacionais, de ciência, de heran-ça (no que diz respeito à passagem de geração em geração). Do ponto de vista económico, não só as economias dos países da CPLP, juntas, representam um ativo muito im-portante em termos mundiais, como o facto de existir uma possibilidade de entendimento na mesma língua facilita muito a realização de negócios entre empresários e outros agentes de fora do mundo que fala português, com o mundo

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que fala português. A nossa língua é um ativo económico e essa valência tem tendência para crescer no futuro.

OM: Enquanto diplomata, tem naturalmente, bem presen-te a importância e responsabilidade que a rede diplomáti-ca (embaixadas e consulados) espalhada pelo mundo tem no âmbito das boas relações bilaterais e multilaterais, no âmbito da defesa e promoção de Portugal no mundo, no âmbito do apoio às nossas comunidades portuguesas da Diáspora, na promoção da diplomacia económica, tão em destaque na última década, no fundo, na implementação da nossa política externa. Conhecendo os dois lados, considera que a diplomacia económica deve andar de mãos dadas com a diplomacia cultural?

LFR: Eu preferiria usar a expressão: «as várias valências da diplomacia». Isto é: a diplomacia tem, obviamente, uma dimensão política importante, aliás essa foi a sua primei-ra dimensão na aceção clássica da diplomacia; tem uma dimensão consular também muito importante (a prote-ção dos cidadãos portugueses nos países onde a rede atua); tem uma dimensão económica também muito importan-te e cada vez assumida como uma valência significativa e substancial para dar densidade à nossa diplomacia, e tem

obviamente, - e esta é área que me diz respeito atualmen-te - uma dimensão cultural e de língua e de cooperação também muito relevante. Penso que muito do “soft power” de Portugal passa pela força, pujança, da nossa língua e da nossa dimensão cultural e do que mostramos no exterior. Mais do que falar em diplomacia cultural, económica ou de ciência (que é promovida pelas Cátedras que visam concor-rer e contribuir para valorização dessa dimensão de ciência em língua portuguesa, através da investigação e de vários projetos), a diplomacia de hoje, do século XXI, é uma di-plomacia muito atenta a todas essas vertentes e valências que acabei de referir.

OM: Além da rede do ensino do português no estrangeiro e das diferentes outras modalidades de ensino do português no estrangeiro, de que forma o Instituto Camões interage com as nossas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo? Que relações o Instituto Camões mantém com o movimento associativo da Diáspora, enquanto espaços de promoção de cultura e da língua portuguesa?

LFR: Começo por referir a importância da diáspora nesta prossecução duma das atividades principais do Instituto, que é precisamente a promoção da nossa língua e cultura.

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Também na cooperação para o desenvolvimento podemos assinalar um papel importante para a diáspora, mas gos-taria de me concentrar no aspeto da promoção da língua e no papel que a diáspora vem desempenhando. Tive oportu-nidade, nestes dois anos de mandato, de participar com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas em va-riadíssimas viagens pela diáspora. Deslocámo-nos a Fran-ça, Suíça, Luxemburgo, Austrália, África do Sul, Venezuela, Estados Unidos, e em todas essas viagens houve a preocu-pação de dizer às nossas comunidades que o Camões conta muito com elas na promoção da língua portuguesa, e esse desafio tem sido correspondido. Um exemplo, que tem a ver com um instrumento que se chama «empresa promotora de língua portuguesa», que existe desde há dois anos, e que se traduz genericamente num protocolo entre empresas e o Camões. Mediante esses protocolos, as empresas efetuam uma contribuição financeira que se pode traduzir numa bolsa, apoio a uma Cátedra ou outra. Neste momento há empresas que funcionam na Austrália ou em Macau que são promotoras da língua portuguesa. A diáspora não só atua de uma maneira muito positiva nos países onde se insere na área da promoção da nossa língua, como também nos ajuda a promover a nossa língua através de instrumentos como o da «empresa promotora da língua portuguesa». Por outro lado, temos verificado que o número de lusodescen-dentes e dos falantes de língua portuguesa que se inscre-vem nas nossa rede de ensino nos países da diáspora está bastante aquém do número da dimensão dessas comuni-dades. Por isso, um dos nossos apelos constantes é que os nossos coordenadores e nossos professores desta rede dos 317 que eu referi, façam uma campanha de sensibilização e consciencialização junto dos encarregados de educação e dos pais desses jovens, para que se inscrevam nas aulas de português, porque para além do valor da língua, como meio de comunicação entre varias gerações - que gostaríamos que não se perdesse - há esta nova dimensão da língua por-tuguesa em relação à qual vale a pena investir, quer como língua de comunicação, língua de ciência, língua de traba-

lho, mas também como possibilidade ou «passaporte» para o mercado de trabalho. Hoje em dia, existem múltiplas va-lências da nossa língua relativamente às quais os encarre-gados de educação devem estar atentos pois, é um conheci-mento que acrescenta valor. E é uma oportunidade que não lhes deve ser negada. Trata-se de uma vantagem para os jovens e uma oportunidade que deve ser aproveitada. É um esforço que Portugal faz e que deve ser mais valorizado.

OM: Estamos a terminar o ano de 2019. Que balanço faz deste último ano?

LFR: Foi um ano muito positivo. Todos os números cres-ceram. Cresceu o número de alunos, tanto na rede apoiada como na rede oficial do Camões, cresceu o número de alu-nos fora da rede do Camões, cresceu o número de países que têm o português como língua curricular no ensino público, o número de docentes, cresceu o número de protocolos de apoio à docência, o número de cátedras. Também temos feito um esforço para comunicar publicamente as nossas atividades. Institui uma conversa mensal que se chama «Camões dá que falar». Já tivemos como oradores vários prémios Camões: Manuel Alegre; Mia Couto; Germano de Almeida; pessoas da área da Cooperação; o escritor e mú-sico angolano Kalaf Epalanga. Inaugurámos recentemente, uma emissão semanal na RDP INTERNACIONAL intitulada «O mundo numa língua», no qual damos a conhecer parte das nossas atividades na rede. Espero que haja mais no-ção por parte do público em geral, tanto aqui em Portugal, como os que no exterior seguem o nosso trabalho, sobre modo como o Camões investe os fundos públicos que lhe são atribuídos. Os índices das consultas dizem que cada vez mais gente segue a atividade do Camões. Claro que temos o objetivo de subir a fasquia. A equipa é fantástica e motiva-da, apesar das dificuldades. Os bons resultados são o que mais nos motiva. Em breve, revelaremos quais as priorida-des para o próximo ano.

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OM: Dentro do que pode revelar, quais os grandes desafios do Instituto Camões para 2020?

LFR: É um pouco cedo para isso. Tendo acabado uma legis-latura e iniciado outra, o tempo é especialmente de balanço, e ao mesmo tempo perspetivamos os próximos anos. Que-remos continuar o nosso percurso e aumentar todos os nú-meros que referi atrás. Desejamos mais protocolos de apoio à docência, mais cátedras, mais países que integram o por-tuguês como língua curricular, mais comunicação pública. Mais ambiciosos, mas com realismo. Quanto às priorida-des, estão definidas, e o rumo está traçado.

OM: Após cerca de dois anos e dois meses a presidir ao Ins-tituto Camões, sente-se motivado nestas funções ou tem saudades das missões lá fora?

LFR: É muito motivador e muito desafiante. É uma etapa muito diferente de tudo que fiz até ao momento. Mas não deixa de ser uma fase. Tenho uma carreira diplomática, mas não a deixei de exercer aqui. Como profissional, encaro todas funções com determinação. Esta etapa é certamente

uma da qual vou ter saudades quando transitar para a se-guinte.

OM: Deseja fazer uma saudação especial dirigida aos leito-res da Observa Magazine espalhados por todo o mundo, que vão ter o gosto de ler a sua entrevista?

LFR: Quero manifestar o meu enorme apreço por toda a ajuda e trabalho, inestimáveis e fundamentais, que as nos-sas Comunidades, um pouco por todo o mundo, nos têm prestado na promoção da língua e cultura portuguesas. O desafio é que nos ajudem a aumentar os números e a es-tarem ainda mais presentes em mais latitudes. Dizer-lhes que gostávamos de contar com todos e adiantar que todos esses podem contar connosco. E Boas Festas!

OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a hon-ra desta entrevista.

LFR: O gosto foi todo meu. Desejo-vos muita sorte para a vossa publicação.

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Q U I N T A D A R I B E I R I N H A . P T

i n f o @ q u i n t a d a r i b e i r i n h a . p t

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M I G R AÇ Õ E SC H E G A O N ATA L

A É P O C A D O R E E N C O N T R O E D A U N I Ã O FA M I L I A R

Por esta altura do ano, as ruas de imensos países à volta

do globo já estão iluminadas com os tradicionais tons de

vermelho, branco, verde e azul. As grandes praças já têm

instaladas pistas de patinagem no gelo ou feiras onde se

vendem bebidas quentes, produtos tradicionais e doces da

época. As principais avenidas enchem-se de músicas tão

familiares. As lojas, os restaurantes e os centros comer-

ciais estão enfeitados com bonecos de neve, trenós, renas

e embrulhos. E das janelas e varandas das casas podem

ver-se penduradas luzes ou bonecos de um senhor de bar-

bas brancas, vestido de vermelho, com um saco de pren-

das ao seu ombro.

O Natal está quase aí e em todo mundo se sente uma at-

mosfera inconfundível. As crianças são os principais

agentes destas festividades, andando em constante estado

de felicidade e entusiasmo, contagiando a sua alegria aos

pais, avós e qualquer familiar já adulto com quem estejam.

Já os mais graúdos vêem-se empolgados e em correria

para os planos do Réveillon, preparando as suas resolu-

ções, procurando os locais preferidos para passarem a úl-

tima noite do ano e celebrar a entrada no Ano Novo.

A época natalícia é uma época que deve ser repleta de ale-

gria e de união. É a época de lembrar tudo o que nos une e

o porquê de dizerem que a família é a “célula básica” da

sociedade, o único “porto de abrigo” seguro. Se há nem

que seja uma oportunidade por ano para o reencontro e

o reconcilio (mesmo que em época festiva), porquê não a

aproveitar?!

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M I G R AÇ Õ E SC H E G A O N ATA L

A É P O C A D O R E E N C O N T R O E D A U N I Ã O FA M I L I A R

Trabalhando com as matérias de e(i)migração há 5 anos,

e tendo sido eu própria uma migrante, sei como para es-

tes “navegantes do globo” esta época traz o sentimento da

saudade, das memórias de casa e das pequenas tradições

familiares. O Natal e a Passagem de Ano, enquadram-se

numa época que sempre nos relembra a família e os ami-

gos mais próximos e falo por mim quando digo isto, ainda

para mais tendo o meu coração dividido por dois países –

Angola e Portugal.

Por saber o quão difícil é decidir mudar de país de residên-

cia, Portugal oferece um tipo específico de Autorização de

Residência simbolicamente chamada de reagrupamento

familiar.

Muitos dos nossos clientes fazem os seus planos migrató-

rios justamente visando a possibilidade de poderem pas-

sar as festividades desta altura do ano com os seus entes

queridos, criando as condições de trazerem as suas famí-

lias para passarem o Natal e o Ano Novo em Portugal. Nós

redobramos os esforços para que isto possa acontecer pois

no nosso entendimento, a família é um pilar fundamental

de qualquer sociedade e para quase todo o ser-humano,

motivo pelo qual os processos de Reagrupamento Familiar

merecem de nós uma atenção muito especial. Ainda para

mais, considerando que mais de metade dos migrantes,

quando fazem a sua mudança de país, fazem-na sozinhos.

O Natal está quase aí e chegou a época dos reencontros e da

união das famílias. Chegou a altura de celebrar o conjun-

to de pessoas em que podemos depositar mais confiança,

que nos apoia quando mais ninguém chega a nós e que nos

adora incondicionalmente.

A todos os cidadãos do mundo, a equipa da Ei! Assessoria

Migratória deseja-vos um Feliz Natal e um próspero Ano

Novo! Que todos possam estar juntos daqueles que amam.

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

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P O RT U G A L P E L O M U N D OL U Í S P I R E S

Observa Magazine: Obrigado, Luís, por nos conceder esta pequena entrevista à OBSERVA Magazine.

Luís Pires: O gosto é todo meu.

OM: Conte-nos, por favor, quando iniciou os seus primei-ros contactos com as comunidades portuguesas nos EUA.

LP: Comecei a ter logo que emigrei para os Estados Uni-dos, em 1980/1981. Iniciei o meu trabalho num jornal: «Portuguese Times», em Massachusetts, e também numa estação de rádio, a WJFD, estação de rádio em FM. Foi a primeira e a que eu gostei mais de fazer. Depois, veio o convite da RTP, já numa altura em que estava a estudar, na New York University, e continuei na RTP, como corres-pondente. Fui correspondente durante cerca de 10 anos, e depois regressei a Portugal, 1993, onde permaneci cerca

de quatro anos e meio, onde fiz três programas: «crimes», «histórias da noite» e «coisas da vida». Depois, pensei em regressar, uma vez que precisava de produzir mais, e as-sim, regressei para o Luso-Americano. Com a SIC INTER-NACIONAL, tenho um contacto direto com as comunida-des portuguesas, que é uma oportunidade que me agradou sempre muito. Agora, estou reformado, mas continuo a trabalhar, pois não consigo parar. Quando temos esse gosto dentro de nós é difícil parar.

OM: Como eram as comunidades portuguesas quando chegou aos Estados Unidos?

LP: As comunidades não eram bem o que são hoje. Não ti-nham muito acesso a informação portuguesa, àquilo que se passava em Portugal. Hoje, as pessoas lêem na internet. No entanto, hoje, como nessa altura, as pessoas promo-

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P O RT U G A L P E L O M U N D OL U Í S P I R E S

vem Portugal, pois, os emigrantes são os principais em-baixadores de Portugal. Por exemplo, confecionam-se, nos EUA, mais de um milhão de pastéis de nata por dia, e os americanos gostam imenso, assim, como também, apreciam muito a nossa gastronomia e as nossas belezas naturais e travam conhecimento com elas através das fo-tografias que os emigrantes mostram. Não só, os america-nos começam a perceber que Portugal é um país que tem um brilho e azul, únicos, como também, é um país seguro. Daí que tenhamos os aviões para Portugal sempre cheios.

OM: Com qual dos canais informativos portugueses gos-tou mais de colaborar e lhe deixou mais saudades?

LP: O primeiro amor é sempre o mais importante e o que marca mais, a RTP. Foi a oportunidade de estar em direto com as pessoas e o convívio com as grandes equipas, não apenas a nível profissional, mas, especialmente, humano. Por exemplo, a Dina Aguiar e a Alexandra Borges - gente que ainda está no ativo - e que me marcou e com quem ainda mantenho uma grande amizade.

OM: Quando iniciou a sua atividade no jornal Luso-amer-cicano quais os assuntos que mais interessavam aos por-tugueses?

LP: As regiões, pois, são importantes para as pessoas. Não era fácil saberem notícias das regiões de Portugal. Es-sas duas páginas, dedicadas às Regiões, estão mantidas

no Luso-americano, mas não são tão importantes, pois, as pessoas actualmente, deslocam-se mais vezes a Por-tugal, muitas mais vezes, e nessa altura não. À altura, a informação era muito importante, pois, era a mais difícil de encontrar. Hoje em dia, a informação tornou-se mais importante para as segundas e terceiras gerações de lu-sodescendentes: a política americana tem mais procura e, nesse sentido, temos a edição de duas páginas bilingue, pois, é fundamental para alguns lusodescendentes que não falam português ou pelo menos tão fluentemente. Te-mos também a edição digital, que começou há dois ou três anos, que tem de ser ainda mais dinamizada em termos de real time, e nesse sentido, estamos a acelerar a forma como fornecemos as notícias ao minuto, tanto em termos de política americana, como em termos de atualidade e política portuguesa. O Luso-americano é um jornal com 90 anos, que mantém um vínculo muito grande à filan-tropia, a bolsas de estudo, no apoio as comunidades e por estes motivos, mantem-se a grande ligação às comunida-des portuguesas.

OM: Hoje em dia já existem muitos lusodescendentes nos EUA. Quem são estes jovens, estes lusodescendentes de segunda e terceira gerações que vivem nos Estados Unidos e qual o interesse que eles revelam em ler em português e sobre Portugal?

LP: Eu fui professor numa universidade, que tem cerca de 29 mil alunos, muitos dos quais portugueses e eles a certa

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altura, perceberam da importância que assume ser-se bi-lingue e até trilingue: saber inglês, português e espanhol. Hoje em dia, temos portugueses muito bem colocados nos EUA: na política, temos presidentes da câmara, autarcas, senadores; temos gente ligada à Biologia e à Medicina, como por exemplo, colaboradores em grandes laborató-rios luso-americanos e ainda em grandes empresas, de vários ramos. O interessante de tudo isto, é que este in-teresse na ligação às suas raízes, começa nos ranchos fol-clóricos e no futebol. É importante que todos os pais falem português com os filhos em casa. É importante que conti-nuem a falar português, e essa é a grande preocupação dos professores que ensinam português nos EUA.

OM: Esta nova geração tem um maior interesse pela cul-tura erudita ou popular?

LP: Pela cultura popular. Por isso é que eu falei do folclore. Por exemplo, em New Jersey há muitos minhotos e essa cul-tura popular está muito enraizada nesses portugueses. Nesta zona, existem cerca de 100 grupos folclóricos e cada um de-les movimenta entre 60 a 100 pessoas, que se reúnem, exac-tamente, pela cultura e pelo convívio. Os miúdos ensaiam à sexta-feira, mas ao sábado e ao domingo saem, e durante a semana também se encontram. Essa cultura é a base, o ponto de partida; não propriamente a música popular.

OM: Os luso-americanos mostram interesse pela política e pelas eleições portuguesas? Pensam em regressar a Por-tugal?

LP: Eu diria que não. Não têm. O que existe no seio, do fim da segunda e início da terceira geração, na faixa etária en-tre os 35 e os 40 anos, a vontade de investir em Portugal, aplicando ideias de negócio ligadas à hotelaria e a outras áreas empresariais, de diversos outros sectores de ativi-dade, no sentido de aplicar em Portugal o que aprenderam nos EUA.

OM: Do ponto de vista turístico o que procuram os ameri-canos ao visitar Portugal?

LP: Comer. Dizem que a comida é fantástica. Dizem mara-vilhas do peixe, do marisco, da pastelaria e outros.

OM: Tendo vivido em várias cidades antes de se instalar em Newark, porque se fixou em Newark?

LP: Aqui existem 90 restaurantes portugueses; as tripu-lações da TAP jantam em bons restaurantes portugueses; temos jornais diários, espetáculos, entre muitas outras atrações. A comunidade portuguesa de Newark, é a mais viva. Temos também uma rede de supermercados que

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importam mais de 500 milhões de dólares em produtos portugueses, os Seabra. Conheço o António Seabra, des-de que ele era pequeno e ele deve ser hoje o homem de negócios português mais influente dos EUA. Chegamos a um supermercado, e encontramos o bacalhau português, os enchidos, a pastelaria e tudo quanto é português. Os americanos, como gostam desses produtos portugueses, também procuram esses supermercados. Relativamente à segurança, Newark, é tao segura como Lisboa, tenho boas e más experiências nos dois locais.

OM: Newark pertence ao Estado de New Jersey e tem uma legislação de Direito de Família que protege muito as crianças e as mulheres no âmbito da violência doméstica. Considera que esta legislação devia existir em Portugal?

LP: Sem dúvida. Quem agride nos EUA é imediatamen-te preso. O que existe em Portugal é quem agride tem um mandato de identidade e residência e os polícias portu-gueses a trabalhar nos EUA «riem-se» disso. Aqui a vio-lação ou a violência doméstica é punida imediatamente, confrontando-se a pessoa que agride com uma ordem de prisão imediata. A justiça em Portugal é muito e branda e muito demorada, pelo que devemos exportar ideias dos EUA, sim, para evitarmos o que lemos e vemos todos os dias.

OM: O que tem a dizer aos leitores da OBSERVA Magazine que estão a pensar vir para os EUA? Continua a ser o país de todas as oportunidades?

LP: Infelizmente, neste momento a emigração está con-gelada. Ainda é possível arranjar contratos de trabalho, um emprego que lhe seja oferecido nos EUA. Existe ain-da a emigração invisível. Estamos a exceder largamente o chamado “Visa Waiver Program”, que é um Programa de Isenção de Vistos, que é no fundo a autorização para via-jar para os EUA, sem necessidade de um visto. Estamos a exceder largamente, como disse, esse programa. O normal são viagens de turismo ou negócios, até 902 dias. Um jo-vem sai de Lisboa com um tablet e 150 dólares na algibei-ra. Chega a Chicago, Miami ou Boston e emprega-se como empregado de mesa, lava-pratos, ou outra coisa parecida e vive com mais dois ou três colegas; faz os depósitos do seu ordenado através do tablet e não se integra nas comu-nidades.

OM: Deseja deixar uma mensagem aos portugueses ou lu-sodescendentes que sonhem com os EUA?

LP: Este país não tem muitos problemas sociais. Da saúde diz-se mal, que não é pública. Não é bem assim. Quem está legalizado tem acesso à saúde pública, e quem não está também o tem, ainda que de outra forma. Há emprego para toda a gente. Se for possível uma emigração legal de pessoas com categorias profissionais definidas; um bom cozinheiro; um bom diretor hoteleiro, ou um jornalista, encontra nos EUA um país que continua a ser um país de futuro e de todos os sonhos.

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Bioquímico, pela Universidade de Lisboa. Associado do departamento de Biologia Ce-lular e Molecular de Harvard. Viajante multi-lingual. Cientista, Investidor e Consultor de Biotecnologia, nas áreas do Cancro, Envelhecimento e Terapias. Assistente de Inves-tigação e Doutor em Biologia (Instituto Gulbenkian de Ciência/ Instituto Max-Planck, em Dresden, Alemanha). Pós-doutorado pela universidade de Harvard, no grupo do Andrew Murray, Boston, Estados Unidos. Aí, lançou um grupo de Investimento em Bio-tecnologia (Beacon VP), que usa métodos científicos para apostar na bolsa de valores, saindo do mundo académico para Wall Street, em Nova Iorque, num golpe de judo na sua carreira. Desta forma, pode canalizar o seu conhecimento científico para oportuni-dades de investimento em biotecnologia, criando valor científico e financeiro.

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Observa Magazine: Com que idade surgiu o interesse pela pesquisa científica em Biologia? Como surgiu esse interesse?

Miguel Costa Coelho: Comecei por estudar paleontologia desde os 6 anos de idade – onde também reparei na diversi-dade do reino animal e fui um ávido colecionador de animais de estimação e enciclopédias. Mais tarde, continuei interes-sado em química e biologia e acabei por isso por escolher bioquímica – sabendo que queria mergulhar mais na área de genética e evolução.

OM: Que tipo de incentivos e apoios teve por parte do ensino em Portugal?

MC: Pessoais e financeiros. A nível pessoal tive professo-res fantásticos na Universidade, como o Miguel Castanho, a Margarida Amaral, a Luisa Cyrne ou o Fernando Antunes, en-tre outros que contribuíram com entusiasmo, e foram além do que é necessário para nos ensinar. O Instituto Gulbenkian de Ciência foi a minha “casa” durante 3 anos, onde no grupo da Helena Soares, aprendi o que era fazer ciência e pude in-teragir com diversos cientistas, onde se destacam o Miguel Godinho Ferreira, um dos grandes cientistas portugueses que tiveram de emigrar por falta de melhores condições, e a Mónica Bettencourt-Dias, atual diretora. Quando obtive a

posição de estudante de doutoramento no Max-Planck na Alemanha, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), ga-lardoou-me com uma bolsa bastante generosa para 4 anos. OM: Saiu do país para perpetuar a sua formação académica?

MC: No final do meu estágio no IGC, participei na minha pri-meira conferência internacional em Itália, onde conheci cien-tistas que estavam nos Estados Unidos e na Alemanha. Fiquei impressionado com a qualidade e as condições técnicas da ciência feita nesses países, e dois anos mais tarde, motivado pelas trajetórias da Mónica e do Miguel, decidi candidatar-me a vários programas doutorais. Acabei por ser convidado pelo EMBL e pelo Max-Planck, e escolhi o segundo, uma vez que o MPI-CBG, em Dresden, era inovador e único na rede de institutos Max-Planck, e também, gostei bastante da Iva Tolic, a minha supervisora.

OM: Como foi descobrir que é possível estar vivo sem enve-lhecer?

MC: Muito difícil. Há uma verdade em ciência que diz: “Des-cobrir que algo “não existe” é impossível”. Nos primeiros dois anos de doutoramento, por mais que tentasse seguir moléculas e sinais de envelhecimento e usar manipulações

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para fazer as células envelhecer, elas simplesmente se re-cusavam a manifestar qualquer indício. O artigo demorou vários anos a ser aceite, pela novidade e contrariedade dos resultados, e também, pela morosidade e pouca eficácia do processo de revisão: os artigos científicos são escrutinados minuciosamente, é o normal, e a descoberta só ser publicada 2 anos depois de ser efetuada – no meu caso foram 4 anos. Mas no final, os resultados parecem ser a “prova de bala”, uma vez que recentemente, dois outros grupos tentaram descobrir envelhecimento nestas células, e falharam, confir-mando o meu resultado. Acho que foi o quebrar de um dogma de que tudo o que é vivo “envelhece”.

OM: Pensa que em Portugal há um grande desfasamento en-tre as Universidades e o mundo laboral?

MC: Enorme, especialmente na Europa. Na universidade, so-mos treinados para executar exames e manusear alguns apa-relhos de laboratório, mas o pensamento crítico e a desco-berta ficam para o estágio (agora mestrado). Pouco contacto com empresas e institutos de investigação, e mesmo com os grupos de investigação da própria faculdade. Nos Estados Unidos o mecanismo é diferente: vários workshops e feiras de emprego, juntamente com recrutadores e eventos de net-working, facilitados pelas companhias, ajudam a semear o talento intelectual desde o bacharelato até ao pós-doutora-mento. Quanto mais se progride na carreira científica, mais difícil se torna sair do ambiente académico, muitas vezes por pressão dos pares ou dos supervisores que só conseguem ad-mitir sucesso no foro académico.

OM: Em Portugal ser-se velho é uma espécie de ser-se doen-te? O que propunha aos decisores políticos para sanar essa triste realidade?

MC: Acho que nos últimos 10 anos, muito devido a melho-res hábitos desportivos e alimentares, há uma reversão dessa tendência. A velhice é ao mesmo tempo genética e o compor-tamental, se conseguirmos convencer os decisores políticos a encontrar uma solução para por um ênfase na reforma ativa, inclusiva, onde os sexagenários, septuagenários e afins con-sigam contribuir para a sociedade, sentirem-se úteis, ampa-rados e mais saudáveis, e houver mais investimento em te-rapias “senolíticas”, vamos chegar mais perto da nossa hora com saúde, alegria e com um sentimento de plenitude. Velhi-ce não tem de ser doença e sofrimento, e eu acredito que nos próximos 10-20 anos vai haver uma melhoria tecnológica e comportamental, onde a saúde mental e física acima dos 60 anos vai melhorar substancialmente.

OM: O que tem a dizer sobre a correlação entre o excesso de medicação e a velhice em Portugal?

MC: Tem de ser analisada com cuidado, atendendo ao histo-rial dos pacientes e ao seu perfil genético, nutricional/com-portamental. Muita atividade física, como caminhar 2h por dia, para além de prevenir problemas cardíacos e motores, ajuda ao equilíbrio mental. Noutras situações, medicação cuidada e que deve ser revisitada de 6 em 6 meses, poderá ajudar. Tem de haver uma componente de psicologia e psi-quiatria, que contribua para mudar comportamentos, para poder haver uma janela para baixar as doses ou o número de medicamentos – um exemplo clássico são as dores muscu-lares e os tremores, muitas vezes evitados com um uso mais ativo e alguma fisioterapia. O mesmo com algumas doenças neuro-degenerativas, como Alzheimer, onde o isolamento e a falta de estimulação intelectual aceleram a doença.

OM: De que modo está disposto a contribuir para que em Por-tugal se envelheça com saúde?

MC: Se precisarem de mim, estou disposto a aconselhar de-cisores políticos e a reunir com a Ordem dos Médicos, para ajudar a implementar terapias direcionadas para os próxi-mos 20 anos, tendo em mente os avanços de biotecnologia que consigo analisar com precisão. Seria excelente e inovador pensar além da formação dos jovens e pensar em como usar a “pirâmide etária invertida”, característica das sociedades modernas, onde a experiencia e a capacidade de trabalho dos cidadãos seniores, é muitas vezes descartada, mas para isso tem de haver saúde, incentivos financeiros e sociais.

OM: Que formatos de habitação aponta, para quem já está re-formado mas saudável?

MC: Evitar os lares de idosos e a concentração de cidadãos se-niores em blocos habitacionais – ao invés, espalhar a expe-riência e aptidões para aconselhar jovens e ensinar técnicas de vida que muitas vezes falham na nossa educação básica: como manter uma casa, educação e planeamento financeiro, relacionamentos e situações de vida, cozinhar, entre outras. Aqui tem de haver um fator de “marketing”, em que ser ve-lho significa ser “cool”, para atrair os jovens para estas opor-tunidades. Estamos a criar uma geração de indivíduos alta-mente tecnológicos e de consumo rápido que não conseguem olhar outros seres humanos nos olhos, quanto mais tentar compreendê-los ou ouvi-los. Sedes sociais, igrejas, escolas e universidades – e também não esquecer o papel das univer-sidades sénior.

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OM: Qual a importância da alimentação nesse processo sau-dável de envelhecimento?

MC: Extrema. Muitos anos de experiências científicas em animais e humanos revelam dois pontos importantes: comer pouco, comer equilibradamente para o nosso perfil genético. Recentemente, o papel do microbioma, as bactérias e leve-duras que vivem no nosso intestino, vem sendo elucidado e juntamente com a predisposição genética, para certas con-dições, como obesidade e hipertensão, serão certamente um ponto de destaque para análise de nutricionistas - um pro-blema ainda em Portugal, onde o excesso de sal abunda. No fundo, é importante evitar o excesso de álcool e fumo de ta-baco, já que degradam rapidamente órgãos sistémicos vitais e podem acelerar o cancro. Usar gordura saudável, não pro-cessada, café sem açúcar e uma tarde de jejum por semana, são os meus conselhos pessoais.

OM: Que novidades tem sobre a cura do cancro?

MC: Que nunca será possível, uma vez que o cancro faz parte da biologia básica de como somos construídos. Não porque os teoristas da conspiração acham que as farmacêuticas per-deriam dinheiro com isso, mas sim porque o cancro é uma doença extremamente complexa, que evolui para se escapar das terapias, e que acontece maioritariamente de forma alea-tória, salvo com algumas exceções, onde, como no caso do cancro da mama, testes genéticos podem ajudar a diagnos-ticar. Mas, numa nota mais positiva, a tecnologia de edição genética e de imunoterapia está a avançar exponencialmen-te, e hoje em dia, é possível atrasar a maioria dos cancros até uma década, mantendo uma qualidade de vida bastante boa do paciente. O problema é que o cancro evolui, e que quan-to mais agressiva a terapia, maior a probabilidade de se criar instabilidade genética, que torna o cancro reincidente vir-tualmente impossível de tratar. A melhor arma continua a ser o diagnóstico precoce, aliado a testes genéticos e de despiste.

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Depois da alteração á lei eleitoral, onde todos os portugueses residentes no estrangeiro passaram a ser recenseados automaticamente, passou-se de 300 mil para 1,4 milhões de eleitores.Esta lei veio contribuir e muito para um aumento muito significativo da participação dos emigrantes na vida política portuguesa e, de facto, nestas eleições legislativas, houve um grande aumento na participação, tendo a votação triplicado face a 2015.Este aumento de votos poderia e, teria sido ainda muito maior, não fosse a forma e o processo caótico de votação fora do território nacional, face a um formato que não funcionou, cheio de erros e deficiências de forma e de conteúdo.Não menos importante, refletir também,

no “porquê”, do grande número de votos nulos e brancos?1º - A necessidade e forma complicada de ter de “construir-se” um envelope para devolver o voto, fazendo lembrar as aulas de trabalhos manuais do tempo de escola;2º - O porquê da necessidade de ter de colocar uma fotocópia do Cartão de Cidadão, já que todas as informações necessárias estavam introduzidas nesse “envelope”? Até porque a utilização da cópia do Cartão de Cidadão como identificação, fere, a meu ver, a nova lei de proteção de dados;3º - Outro dos problemas, foi ter de se fazer um pedido prévio para poder votar presencialmente (consulados que tiveram de abrir por causa de um eleitor);

4º - O porte pago para devolver o voto, parece-me que também não foi feito da melhor maneira, porque houve muitos votos que foram devolvidos por causa do não reconhecimento do porte pago por muitos postos dos correios, dos mais diversos países do mundo, inclusive, a Alemanha. Caso mais preocupante, a África do Sul;5º - E não menos importante, o grande número de votos nulos foi, em muitos casos, uma forma de protesto dos próprios eleitores, pois, muitos dos eleitores indignados encontraram as mais variadas e imaginárias formas de mostrarem o desagrado e protesto pela obrigatoriedade de inserir uma fotocópia do Cartão de Cidadão no envelope (estes substituíram a fotocópia do cartão de cidadão por

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faturas de água, recibos de restaurante, comentários escritos, etc…). Depois a contagem….outra desgraça!Duas semanas depois das eleições e de já estar o governo formado e indigitado, é que os votos da emigração foram contados. Isso quer dizer que, os votos dos emigrantes não contam para nada, pois, seja qual for o resultado, o governo já está formado, indigitado e só não tomou posse porque, legalmente, não podia. Uma grande falta de respeito e consideração!Não esquecer ainda que esta contagem demorou quase 24 horas. Isto num país da união europeia, que quer passar uma imagem aos portugueses e ao mundo de um país sofisticado e tecnologicamente avançado.A minha sugestão…O voto por correspondência:Os eleitores receberem o voto em casa.Dentro da carta o boletim de voto, um envelope para introduzir o voto, um envelope de cor diferente e com os dados pessoais para mandar o voto.Este deveria ser enviado para as embaixadas ou consulados dos respetivos países.Via presencial:A contagem feita de todos os votos

“presenciais e por correspondência” no dia das eleições e pela vias normais como se faz por exemplo, nas eleições presidenciais.A tudo isto criar condições para que o voto eletrónico venha a ser implementado em segurança e a partir de então mais uma solução credível e sem receios de manipulações ou coisa de género. Uma outra reflexão, que sei que é incómoda para o “status quo” instalado e que mexe com os interesses de todas as bancadas parlamentares, tem a ver com a necessidade da alteração do número de deputados a serem eleitos pela emigração.Se no passado, num universo eleitoral da emigração de 300 mil eleitores, elegíamos 2 deputados pelo círculo da europa e 2 deputados pelo círculo fora da europa, num universo de 1,4 milhões de eleitores, não faz sentido, continuar a eleger e sermos representados pelos mesmos 4 deputados? Dá que pensar!E por fim, se é verdade que tivemos maior participação e votação (triplicou face a 2015), também, tivemos uma percentagem de abstenção, acima dos 88 %. É preciso refletir, de forma séria e consequente, deixando duas propostas para essa reflexão, no senti-

do de inverter essa tendência e reali- dade:

1º- É preciso fazer um inquérito pós-eleitoral aos procedimentos e erros que não correram nada bem no processo eleitoral da emigração, considerando novos procedimentos e implementação de boas práticas, nomeadamente, algumas das soluções aqui apontadas, que estou certo levará mais gente a votar e uma redução do número de votos nulos e bancos;2º- Por outro lado, deverá ser considerado o aumento da nossa representatividade, através do aumento do número de deputados da emigração, não só por uma questão de equidade e justiça, face ao aumento significativo do universo eleitoral e do número que compõe a nossa Diáspora Portuguesa, mas também, porque este facto levará a um aumento considerável da participação e votação dos nossos emigrantes, pois, sentir-se-ão mais representados e envolver-se-ão mais intensamente no processo eleitoral.Mas, não tenho a menor dúvida, que para todas estas mudanças é preciso muita vontade e coragem política de todos os partidos.

Manuel MachadoConselheiro das Comunidades Portuguesas.

Eleito pelo círculo eleitoral, Norte da [email protected]

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AJ O R G E A M A D O

Jorge Amado, nasceu em 1912 e morreu em 2001. Foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o chamado «Segundo Tempo Modernista». A sua obra literária baseia-se na exposição e análise realista das vivências quotidianas rurais e urbanas da Bahia, mas também, numa forte crítica político-social, que denuncia, num tom «seco», lírico e muitas vezes humorístico, a pobreza e a opressão dos trabalhadores rurais e urbanos das classes populares a nível global.

Infância e AdolescênciaJorge Amado de Farias, nasceu na Fazenda Auricídia, em Ferradas, no município de Itabuna, Bahia. Filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, fazendeiros de cacau. Em janeiro de 1914, mudou-se com a família para a cidade de Ilhéus, onde passou a infância. Com 11 anos, foi estudar

no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, onde aprendeu o gosto pela leitura com o padre Cabral. Aos 12 anos, fugiu do internato e foi para Itaporanga, em Sergipe, onde morava o seu avô. Depois de alguns meses, seu pai mandou buscá-lo e como não desejou voltar à escola, foi plantar cacau. Depois de passar alguns meses no seio do povo, tomou consciência da luta entre fazendeiros e exportadores de cacau, tema que marcou a sua obra de romancista. Em Salvador, inscreveu-se no Ginásio Ipiranga, onde fez o curso secundário. Ligou-se à “Academia dos Rebeldes”, um grupo de jovens, que tinha o objetivo da renovação literária.

Primeiros RomancesEm 1930, Jorge Amado muda-se para o Rio de Janeiro e em 1931 ingressa na Faculdade de Direito. Em 1932, publicou seu primeiro romance “O País do Carnaval”, que narra

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AJ O R G E A M A D O

a tentativa frustrada de um intelectual brasileiro, de formação europeia, de participar da vida política e cultural brasileira. Tendo fracassado, regressa à Europa. Em 1933, lança seu segundo livro Cacau, que teve vários exemplares apreendidos. Em 1936, Jorge foi preso, por pertencer à Aliança Libertadora Nacional, junto com outros intelectuais. Em 1937, publica Capitães de Areia, que retrata a vida de menores delinquentes da Bahia. A obra é apreendida pela censura do Estado Novo, e é novamente preso. Em 1941, refugia-se na Argentina e começa a redigir “O Cavaleiro da Esperança”, que relata a vida de Luiz Carlos Prestes.

Deputado FederalDe volta ao Brasil, em 1945, e ligado ao Partido Comunista, Jorge Amado foi eleito deputado federal por São Paulo. Em 1948, vê o seu mandato cassado e ruma a Paris. Em 1950, muda-se para a Checoslováquia, onde escreve “O Mundo da Paz”. Em 1951, recebe, em Moscovo, pela sua obra, o Prêmio Internacional Stalin. Em 1956, retorna ao Brasil. Em 1958 escreve o livro mais famoso de sua obra: “Gabriela, Cravo e Canela”, que se imortalizou em forma de telenovela, também, passada em Portugal, ainda a preto e branco, fazendo as delícias dos portugueses não habituados a belezas expostas como as de Sónia Braga. Era o início da segunda fase de sua obra, caracterizada pelo tratamento satírico e humorístico dos textos, não obstante nunca ter abandonado a crítica social.

A desilusão com o comunismoCom os assassinatos e a exploração dos trabalhadores promovidos por Joseph Stálin, na União Soviética, Amado desiludiu-se com a ideologia comunista e nunca quis rever os documentos que transportava numa mala para produzir mais uma obra.

AcademiasEm 1961, Jorge Amado candidata-se à Academia Brasileira de Letras. É eleito por unanimidade, onde ocupou a cadeira n.º 23. Jorge Amado, também fez parte da Academia de Ciências e Letras da República Democrática da Alemanha; da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Paulista de Letras e membro especial da Academia de Letras da Bahia.

Destacamos na sua obra, a obra-prima cómica: «A morte e a morte de Quincas Berro d’Água»Tudo se passa depois da morte de Quincas, quando o seu corpo é descoberto por uma amiga, num cômodo imundo, vestindo farrapos e calçando uma meia rasgada que revela o dedo grande do pé. Algum tempo antes, porém, ele já tinha morrido moralmente, para os seus familiares. A sua primeira morte, portanto, dá-se quando ele decide deixar de ser um cidadão venerável para se transformar em Quincas Berro d’Água, boêmio errante que abandona o seu papel de marido e pai e se lança de corpo e alma na vadiagem, particularmente no álcool, daí o novo nome pelo qual passa a ser conhecido. Com sua segunda morte, a família pode finalmente, viver seu luto, embora apenas na aparência, pois, no fundo, estão aliviados com os novos acontecimentos. Agora a filha Vanda, o genro Leonardo, a tia Marocas e o seu irmão caçula, Eduardo, não precisam mais carregar, diante da sociedade, o fardo da desonra.Como uma prestação de contas perante a sociedade, eles resolvem enterrar o que já passou e providenciam uma máscara de dignidade para Joaquim, fazendo-lhe um velório e um enterro dispendiosos. Mas, os seus companheiros de farra, ao perceberem no rosto do morto um sorriso cínico e debochado, acreditam que Quincas está vivo e sequestram o defunto para uma noitada inesquecível…(de chorra a rir).

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Quando o frio aperta e os grunhidos se ressentem, a geada e o sincelo ocupam as manhãs seguintes, e os gélidos pin-gueis assomam dos beirais – a carambina que bem pende das árvores [!] – quando o chiasco é barbeiro e as falme-gas espirram das chaminés, está bem de ver que vamos ter matadela de reco, e claro está, convívio e comilança. Há pouco que fazer nos campos [!]

finou-se a apanha da castanha

(que este ano até não foi nada má), ainda não acabou a trapalhada dos azeitoneiros mas, embora o frio de esprei-ta não seja o ideal para conservação das carnes, as cevas já se aprontam para o golpe certeiro […] A tradição, que acentuadamente se incomoda com os pressentimentos das modernidades e as ameaças da mudança, agarra-se, no entanto, ao preceito que engorda é obra de todo santo ano, o acabamento é perfeição outonal e o chorincar é pura

ciência dos frios invernais. Artes do sustento! Talentos ru-rais! No dizer dos historiadores mais inábeis ou no instinto dos camponeses mais entendidos nos sabores

admitem que estes costumes remontam

à orgulhosa era pós-diluviana, quando se iniciou uma espécie de segunda Criação, em que foi permitido ao ho-mem comer carne das vítimas do sacrifício público e onde o porco se transformou no «rei» dos animais e logica-mente na base da nova alimentação. Todavia, neste [sobe-rano] achado não ficámos sozinhos, ou seja, o gosto pelas carnes tornou-se prática comum a muitos outros animais e de preferência – para nós – carne cozinhada. Mas a história, complexa e intrigante como ela é, ditou opções alimentares diversas para os diferentes povos que polvi-lham esta festiva casula universal, admitindo vegetaria-nos, herbívoros, lunáticos e proibitivos, que sem míticas

PAT R I M Ó N I O DA L U S O F O N I A O C H O R I N C A R D O P O R C O

N U M A R O M A R I A À S B O R R A L H A D A S

Real Confraria da Matança do Porco

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explicações não reconhecem ao prolífico porco a fartura da mesa e a abastança da despensa. Contudo

a arte de degustação da carne arrepiou caminhos tais

que um japonês entende que a melhor maneira de ser-vir a «chicha» de um peixe fresco é servi-la crua (…) um esquimó prefere a carcaça da foca encruada, meia-de-composta e cortada em pequenas fatias, e um piemontês aventura-se nos vários tipos de carpaccio (…) por sua vez, um latino não prescinde de carne bem cozinhada mas não regateia novos hábitos […] Vamos é falar de carne-carne que é tempo de porco. Deste animal que [já] em tempos pré-históricos era pleno suporte das alimentações mais tradicionais, ao contrário de bovinos, caprinos e ovinos, que, também, tinham de fornecer trabalho, ou leite, ou couros e lã. Não foi por acaso, que, noutros tempos idos, nos tempos da daimosa Cleópatra, o porco tivesse utili-

zação total – quase irrestrita – e aparecesse para suprir deficiências dietéticas sazonais ou a ignorância dos azeites nas frituras e nos temperos. Ou, mais tarde, resultado da hegemonia político-militar-económica dos romanos, o porco tivesse honras de imperantes quando o mandavam distribuir gratuitamente com pão, não só para manter a ordem pública como para reafirmar o estatuto privilegia-do da urbanidade. Deram-lhe, por isso, atenções fiscais com o levantamento de tributos importunos e de carregos escusados. Aceitaram com saber os ensinamentos dos po-vos também costumeiros aos prazeres que não tem lugar na boca, mas na indispensabilidade de que para saborear é preciso ingerir. Foi assim que sacaram a arte das carnes fumadas e dos presuntos aos gauleses e fizeram dos ma-milos de porca – símbolo da fecundidade – uma entrada lambisqueira dos banquetes burgueses. Bem! Como de ro-manos chega, ficou o que ficou e o porco deixou de ser um

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Real Confraria da Matança do Porco

Real Confraria da Matança do Porco

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simples animal mas «carne» sobre patas. Transformou-se rapidamente na despensa ambulante e na personifica-ção da poupança das civilizações mais evolutivas […] Além da facilidade de domesticação e de criação à porta de casa, além da versatilidade alimentar, do tempo de gestação das fêmeas que não chega às quatro luas, pelo número de crias que pode andar em redor da dúzia, o porco come de tudo

a fruta caída das árvores, cascas de batatas

rapa a rama mais dura das couves, os beldrejos velhos, até suga o rezulho dos caldos, emporcalha nabos, abóbo-ras, graduras, castanhas folecras (…) tudo que vai direi-tinho para um caldeiro a que se junta a primeira água de enxaguar pratos, panelas e potes, as águas da cozedura das hortaliças e as côdeas do pão borneiro. No fim do dia, para a vianda ficar completa e de bom despacho, põe-se o cal-deiro ao lume e engrossa-se com farelos e alguma cevada. O cortelho ficava [sempre] perto de casa e as pias de pedra eram os comedouros mais vulgarizados. E como atributo de aforro que era, o destino do larego quando não servia os desígnios alimentares da família, ia ajudar no paga-

mento de rendas, prover a governança da casa, presentear alguém por um grande favor, substituir um qualquer dote de filha casadeira, desencalacrava aflições de momento e acima de tudo servia para amealhar uns patacos com a sua venda na feira mais próxima. Claro que o porco tinha que ser bísaro, porque os outros medravam depressa de mais e o povo sempre desconfiou de esmolas fartas […] Voltemos, então, à festa da matança e do fumeiro porque os chichos feitos da carne do lombo utilizada para encher os salpicões e a ornamentar o espeto já me arrepiam o apetite

[E] os garrotes preparados com a ponta das costelas

as molejas fritas, o fígado assado, a passarinha e outras pontas de carne, tudo refogado em azeite de aparto, ce-bola choradeira, alho de salteio e com acertos de colorau queimoso, louro e sal areoso, desinquietam o mais ordeiro dos mortais [!] Mas a ladroeira destes dias – que vai da matança à pendura no chambril, à desmancha no dia se-guinte, até à consumação do fumeiro e do enchouriçar – é uma aventura de rojões, o destino numa sopa de torres-mos, uma sorte de charricos, namoricos às assaduras do

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lombo, derriços disto e daquilo, uma peripécia de cozidos, a proeza das sopas de alheiras e as inevitáveis bocheiras que são os primeiros enchidos a adobar, a pôr ao fumo e a consumir, abonadas do bofe, coração, de carnes ensan-guentadas, riladas e gorduras esponjosas. O que ficou vai adereçado para a salgadeira da adega da casa ou para os al-guidares de preparo aos enchidos que são quantos a patroa quiser, as variedades necessárias para o sustento do cor-rer do ano ou os hábitos e costumes de cada local. Podem ser só de chichas, pão e sangue, doces com mel e amên-doa, agros e chavianos, com vinho ou com água, e até para adultos ou crianças — é o caso dos reizinhos, resultado do aproveitamento das tripas que se romperam no enchi-mento das chouriças. Preferências são várias, individuais e temporais. Pessoalmente, enquanto os deuses me ajuda-rem, os nutricionistas ciumentos não desatarem a fabricar papers e a massificar culturas em simpósios de ocasião, e as mezinhas do meu amigo padre Fontes me permitirem gozar daqueles prazeres gastrófilos que ele próprio não descuida, escolherei [primeiro] os salpicões feitos com as melhores carnes e de surças dionisíacas, também umas linguiças pouco gordas

chouriças mesmo que sejam feitas com o espinhaço

ou o bucho recheado com a carne que estas lhe em-prestam. Naturalmente não cedo à gulodice do enchido mais envolto em mistério – as lendárias alheiras, que nas receitas mais antigas, pelo menos em Freixo de Espada-à-Cinta e independentemente dos imaginários religiosos, as carnes de porco eram substituídas por coelho ou caçapo, perdigotos, pato e um chichado de vaca gorda – aos aze-dos que sendo tão pãozeiros passaram por ser alheirões ou alheiras de pobres, às históricas tabafeias que, por não terem um pedacinho de pão, quiseram ser alheiras de gen-te rica, às laronas de Rebordelo que, por não levarem um cibinho de alho, não deveriam ser alheiras, até às aldeãs farinhotas que, por artes da farinha, foram as alheiras dos [nossos] moleiros. Fantasias! Talvez! Também não me acanho aos absurdos renascentistas da ápoca áurea das especiarias que deixaram nos chouriços de mel, ou nas morcelas amendoadas, os rastos do fumeiro conventual. E como não tenho nada contra

admito nos cozidos, moiras e umas tais mômas mur-censes

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chavianos, sangueiras ou agros chouriços ensanguenta-dos. Com menor frequência desafio os propósitos lunares para uns rijões do folhelho estufados à mistura com na-cos da figadeira, uns chouriços de botelhoco – sabiamente amanhados nos termos da mornegra – umas larotas bra-gançanas, [e porque não?] morcelas de alho ou ainda uns folianos valpacenses acompanhados por pispernos, pelo menos para lhe testar a diferença […] Quando a ousadia é merecida e se procuram milagres perfeitos

é a hora de desfraldar a bandeira da vitória

ferrar o galho em sonhos de princesas encantadas, de-senferrujar e afiar os gumes dentários, excomungar dietas e reclamar: cascas com botelo! Para que os de além-fron-teiras não julguem precipitadamente imprudências res-tauradoras, outras denominações se vulgarizam para esta cinderela do receituário transmontano: cozido de casulas, vasas com bulho, palhada com salpicão d’ossos, e por aí adiante. As ditas «cascas» não são mais que vagens secas de feijão [apropriado] cortadas em pequenos pedaços e o botelo das terras frias é o bulho dos mogadourenses, o pa-laio ou chouriço de ossos para os durienses, o bucho ou gaiteiro dos freixenistas (…) Antes de arrumar esta pro-sa e desterrar proibições, louvo para já, entre outras, es-tas fumadas iniciativas — da Feira de S. Braz ou Feira dos Presuntos (a Feira do Fumeiro de S. João de Corveira), a primogénita das feiras temáticas, com referências a mea-dos do século XIX, às bem-sucedidas afilhadas Feira do

Fumeiro de Vinhais, agora a matriarca delas, Feira do Fu-meiro e do Presunto de Barroso e Feira Gastronómica do Porco de Boticas. [Diz-se] já que as uvas não morrem ao invés do porco, porque reencarnam no vinho e o vinho é um ser vivo com o qual o homem tem que se debater, res-ta-me aguardar que os presuntos fiquem solícitos. Pois! Que assim seja!

A matança é dia de festa e o porco é o bombo da festa!

Não admira por isso o colorido e a infinidade de sabores porcinos – de matança a matança, de lado a lado da região, de norte a sul do país, das carnes verdes aos fumados, do focinho à ponta do rabo, do sangue ao unto da barriga […] Na marrã servida na Feira do Naso às sopas da matança mi-randelenses

o cozido dos ossos de suã das aldeias montesinas

presunto afiambrado de Lamego, presunto do correge-dor - pelos vistos - de Bragança, cozido de cristão velho da moncorvense Açoreira, lombo de porco com pasta de azei-tonas [Esta emblemática receita já fazia parte do elencado de manjares propostos no livro do médico freixenista An-tónio Franco Pimentel, no séc. XIX], nispo no forno à vila-realense, arroz de forno de enchidos de Pitões das Júnias ou o arroz de fumeiro da Dona Ilda Lobo [Restaurante Carva-lho – em Chaves, desde 1992], sopas de lombo de preparo à moda dos abastados beirões durienses

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colocava-se o lombo do porco em molho de vinho d’alhos durante dois a quatro dias. Após este meritório repouso ia direitinho da sorsa à assadura e de seguida esfatiava-se finamente. Num tabuleiro de ir ao forno, bem untado com uma bica de manteiga, acamavam-se fatias de pão com mais de um dia e sobre elas fatias de queijo molengo o mais delgadas possíveis, e por cima destas as postas do lombo. Cobriam-se com miolo de pão esfarelado e tanti-nho de açúcar até fazer o pleno do tacho, sempre por esta ordem. A findar, com meia dúzia de ovos batidos quando os comensais andassem também pela meia dúzia, rega-vam-se homogeneamente as sopas que iam directamente para uma cozedura de forno já bem aquecido. Comida de fidalgo!

sopas de torresmos e sopas de sangue mirandesas

moadas - “filhoses” - de sangue de porco dos lagoa-çeiros, bexiga carnavalesca de Lebução, bucho com arroz de Favaios (…) às tripas de matança durienses

A sopa de tchis… tchis… tchis!

[sopa de sarrabulho, sopa de sangue de porco ou sopa rijada] É uma receita de matança – a eleita por mim de to-das as receitas de dias de mata-reca – muito vulgar por todo o Planalto Mirandês, sempre acostumada às agruras

de momento.

Faz-se assim. Num tacho [preferencialmente] de barro, com alguns dentes de alho esmagados, amoleça umas fatias de pão trigo com o caldo da cozedura das carnes para o enchimento das alheiras. De seguida, deite por cima uma boa quantidade de pingue quente e azeite ri-jado nuns dentes de alho picado e uma colher de colorau doce, até sentir-se o tchis… tchis…tchis… no tacho. Entre-tanto coza o sangue do porco e tempere a gosto de sal, folhas de louro e dentes de alho laminados. Depois de co-zido, esfarele-o por cima das sopas rijadas, cobrindo-as com fatias de maçã e/ou laranja, nozes e/ou azeitonas […] Acompanham-na, lá p’ras bandas de Angueira, com garrotes assados na brasa.

Bazulaque… Comer aquiliniano!

É receita de saber cisterciense (?) e termo de origem cas-telhana (!), muito comum nas festas de S. Miguel, em Ta-rouca. Até poderia ser designada por guisado de fressuras, caldeirada de carneiro, por sarapatel, sarrabulho, cabidela ou chanfana — porém, sempre bem adobada de presunto, chouriça gorda e moira de compostura — mas o povo só a conhece por bazulaque e, às vezes, por “badulaque” que,

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José Luís AraújoJosé Luís Araújo

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António Manuel MonteiroEngenheiro Agrónomo

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em certos locais, como Valpaços ou Chaves, quer dizer ho-mem baixo, agordalhado e viandeiro. O bazulaque de For-nelos [Santa Marta de Penaguião], comida de jeirante ou de pagamentos laborais, é mais uma massada com batatas e carnes de porco que o ancestral guisado de fressuras ta-rouquense. Também faz parte das tradições de Armamar a Baião, de Cinfães e Resende a Mesão Frio, como comer festivo (…) Como sarrabulhada de miudezas, carnes e san-gue de cordeiro, com fumados a ajudar nos temperos, so-bre pão trigo esmigalhado – comia-se de adianto o anho assado e a seguir o bazulaque – ou como miolada de reco em vinagre num arraial de especiarias. Os chichados do reco tinham que estar sempre presentes!

Outra forma popularizada de preparar miolos

[apenas de porco], é através de um ensopado embrulha-do em ovos batidos, mais usual como petisco de matança que como prato principal [por exemplo, os miolos ensopa-dos de Bragança ou as açordas de Medrões]. E as milharadas da montanha de carnes variadas? [milhos escorneados ou esfumados, consoante o domínio das carnes - vaca e vitela ou porco e fumeiro, que ainda se fazem de Chaves a Sabro-sa ou de Vila Real a Valpaços]. Quando sobravam, depois de esfriados e sem as carnes, a milharada, agora “milhos dos pobres”, era frita em azeite bem quente.

Uma milharada. Faça um refogado de azeite com cebola às rodelas, dentes de alho fatiados, pedaços de tomate se for tempo deles, míscaros de época ou couve tronchuda,

salpicão ou linguiça e carne de vitela para dar outro gos-to. À parte, em água temperada de sal, coza: a sanguei-ra, a orelheira do reco, chispe e mais um pouco de chicha de vitela. Junte-lhe o caldo desta cozedura ao refogado e deixe apurar. Entretanto, depois de bem demolhados (e sem as cascas dos “milheiros” que subiram à tona da água), acrescentam-se os milhos grumados ao caldo do refogado, mexendo de vez em quando… e temos milha-rada de zaburro que os durienses dizem ser “à moda dos da montanha” ou “à lavrador” quando as carnes do reco ficam de vinha-d’alhos.

Não muito diferentes destes retratos gastronómicos são os milhos que a petisqueira flaviense – Restaurante Aprígio, a partir de 1954, taberna desde a década de trin-ta – denomina de “à transmontana”. Gosto bem deles! Também os ribeira-penenses comemoram esta memória alimentar, referindo-os apenas como “milhos” — num cozido de carnes do porco a boiarem na milharada fina. Na Terra Fria do Nordeste Transmontano, os milhos servem apenas de acompanhamento a alguns pratos invernais e fazem-se com grelos ou espigos incorporados e – sempre – com um acerto de chouriça bem gorda […] Em jeito de desabafo

só lamento que do chorincar do porco

o povo não tenha tido arte nem engenho para aprovei-tar os grunhidos.

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Sensivelmente a cada 12 ou 13 meses, Júpiter muda de sig-no. Sempre que isso acontece, Júpiter aponta com fé para o que proporciona crescimento, satisfação e melhorias nos meses seguintes e amplia necessidades, oportunidades e desafios relacionados com o signo em que ingressa. No dia 2 de Dezembro, Júpiter entrou em Capricórnio, onde transitará durante um ano, por isso importa desco-dificar a proposta deste planeta.

PropósitoNa minha visão, o propósito geral deste trânsito pode ser sintetizado assim:• Acrescentar solidez e consistência ao progresso conse-guido no último ano.• À medida que velhos modelos entram em falência e rup-tura, há que desenvolver uma visão realista para os siste-mas e estruturas (pessoais e sociais) a construir.• Explorar capacidades e situações até ao limite. Depois do limite ser reconhecido julgar (como um juiz) se a liberda-de e satisfação encontrada dentro dessa fronteira é sufi-ciente. Se não é (provavelmente não será) há que planear e trabalhar arduamente para alcançar uma solução com limites mais confortáveis. • Questionar se as responsabilidades assumidas fazem sentido. Se fazem, abrir espaço para assumir mais; se não fazem, há que as soltar.

• Dar o devido valor à disciplina, à seriedade, ao rigor e à capacidade de implementar estratégias. Esta aprendiza-gem virá com o acréscimo de dificuldades por desorga-nização assim como através da recompensa pelo trabalho metódico.• Reconhecer o benefício de respeitar o passado, a tradição e a hierarquia.• Reconhecer a verdade das leis naturais que são intem-porais.

CaracterísticasO ingresso de Júpiter em Capricórnio conduz ao endeusa-mento do êxito social, ao aumento do peso de responsa-bilidades e à consequente diminuição de espontaneidade e liberdade. Positivamente, possibilitará grandes recom-pensas pelos esforços consistentes realizados no passado!

PerigosÉ importante estar alerta para não cair nas seguintes ar-madilhas: desalento, senso de estar numa prisão ou blo-queado por obstáculos inultrapassáveis, ingratidão, ava-reza, falta de inspiração, dificuldade em relaxar, excesso de exigência e de preocupação, ambição desmedida e ga-nância.

Atitudes a desenvolverÉ essencial moderar as expectativas e desconfiar de tudo que prometa soluções ou resultados rápidos e fáceis. Os

Júpiter em Capricórnio

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Inês BernardesAstróloga

[email protected]

desenvolvimentos serão lentos e morosos, nada está garantido, e em vez do optimismo cego, melhor será reforçar as garantias e a organização, ampliar as letras pequeninas dos contratos e confiar apenas no que pode ser verificado na prática e no tem por base uma estrutura sólida, uma estratégia clara e realista.Por esse motivo, neste período, é preferível conso-lidar as conquistas e avanços conseguidos no último ano e acrescentar-lhes credibilidade do que procu-rar expandir ou ir à aventura para novos cenários com base numa expectativa sem garantia. Não obstante, há que explorar as ambições pessoais e oportunidades dentro da hierarquia ou estrutura a que se pertence. É oportuno realinhar a função na sociedade com a dimensão pessoal que já se con-quistou; isto é, se nos últimos anos, desenvolves-te competências e condições que te tornaram mais capaz e disponível, então talvez devas assumir uma posição ou função que seja mais relevante, o que será muito satisfatório.Questiona também se a gestão do teu tempo, se as ordens a que obedeces e se os alvos para os quais te esforças estão de facto alinhados com a tua orienta-ção interna. Se não estão, considera começar a plas-mar a tua filosofia pessoal na marca que deixas no mundo.

Adota uma postura mais contida e séria. Se nos úl-timos meses com Júpiter em Sagitário eram as ati-tudes autoconfiantes e joviais que mais vendiam, com Júpiter em Capricórnio são as posturas mais protocolares e ponderadas que convencem e abrem portas. Este pode ser o ano em que finalmente ganhas apro-vação para um projecto já muito retrabalhado, ou o carimbo que falta para desbloquear uma situação. De igual forma, se tens um curso ou percurso ina-cabado, este ano é ideal para o concluir. Até porque uma das coisas que mais prazer te dará agora é con-quistar autoridade, um estatuto superior e um cer-tificado da tua sabedoria. Há mais desejo de espetares a tua bandeira no topo da montanha que ambicionas subir. Se a subida for correcta, lá em cima, acima do topo, um coro de an-jos entoará cânticos pela tua glória.

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D EQ U O VA D I S , M O N TA L E G R E ?

2 - I M PA C T E S S O C I A I S E A M B I E N TA I S ( PA RT E 1 )

Vitor AfonsoMestre em TIC

[email protected]

A exploração mineira a céu aberto pode impactar as comunidades locais, de um modo positivo e negativo. Há quem dê demasiada relevância aos impactes positivos, consubstanciados na eventual criação de emprego (que não será para os locais) e em prome-tidos investimentos de milhões. No entanto, essas promessas avulsas, além de pouco sustentadas, não com-pensam as potenciais perdas e con-sequências negativas, que se podem repercutir em vários campos. Importa destacar, a destruição da paisagem e do património arquitectónico cons-truído, como consequência das explo-sões; as limitações de acesso a água potável, para consumo e regadio; a dificuldade de acesso a solos aráveis não contaminados, usados na produ-ção de alimentos para a subsistência de pessoas e animais; o agravamento do estado de saúde das populações, com prevalência da silicose pulmonar e cancro; os impedimentos no acesso a propriedades confinantes com as explorações; a mudança nas dinâ-micas socias da comunidade, com o surgimento de posições antagónicas entre quem beneficia com as minas e quem se opõe; a perda de atractivida-de turística; o desinteresse por novos investimentos; a desvalorização dos imóveis (casas e terrenos); a degra-

dação da qualidade dos produtos locais de excelência; entre ou-tros. Em última instância, como consequência da rápida degra-dação das condições ambientais e sociais, haverá um inevitável abandono massivo das terras e das casas, agravando a já muito débil posição do município de Montalegre, em termos nacio-nais, no que ao despovoamento diz respeito! Em contraponto aos postos de trabalho prometidos, existirá perda real de centenas de postos de trabalho, porque deixará de haver condições para trabalhar nas aldeias próximas das minas. Havendo uma tomada de cons-ciência por parte das populações relativamente às consequências nefastas da mineração, pare-ce-nos lógico que as comuni-dades que vivem nesta região se organizem e estejam resistindo cada vez mais à imposição de um desenvolvimento assente num modelo para o qual não foram consultadas, não subscreveram e tampouco deram o seu consenti-mento. A mudança da focalização do nível de discussão do âmbito

local para o nacional, parece-nos positivo. Este é, de facto, um proble-ma de todos e, não apenas, de alguns (mais próximos das minas). Também a interposição de acções jurídicas para atrasar e travar os contratos de prospecção e exploração, procurando defender os direitos das populações e a defesa do ambiente, é louvável! Esta mudança de paradigma de uma pos-tura defensiva para uma postura mais ofensiva merece destaque e poderá servir para galvanizar os movimentos que se opõem ao extractivismo.Parece-nos lógico e não é aceitá-vel que as empresas de mineração queiram gerar grandes lucros, a curto prazo, à custa dos direitos sociais, ambientais e económicos das comu-nidades locais.

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç AN O Ç Õ E S B Á S I C A S S O B R E P O L Í T I C A E O R G A N I Z A Ç Ã O D A S S O C I E D A D E S

( PA R A C R I A N Ç A S E J O V E N S )

«A política é uma ciência que tem por objetivo a

felicidade humana, quer ao nível individual, quer

ao nível colectivo.

A palavra “política”, tem origem no tempo em

que os gregos estavam organizados em Cidades-

-Estado chamadas «pólis».

O termo política é derivado do grego antigo (po-

litéia), que indicava toda a actividade e acções re-

lativas à pólis ou Cidade-Estado. A pólis era tanto

a Cidade-Estado, significando a sociedade, a co-

munidade ou coletividade da vida urbana.

O termo política, expandiu-se graças a Aristóte-

les, um filósofo, para o qual a política significava

funções e divisão do Estado e as várias formas de

governo, mas também arte ou ciência do Gover-

no, ou seja, a forma de conhecimento sobre esse

mesmo conjunto de actividades. Mais tarde, o

termo política foi sendo substituído por outras

expressões como: ciência do Estado, doutrina do

Estado, ciência política e filosofia política.

Filósofo: é um «amigo do saber» e um curioso;

uma pessoa que se ocupa a estudar a natureza de

todas as coisas existentes e as relações que pos-

sam existir entre estas coisas, como valores, sen-

tidos, factos, entre outras. Os filósofos também se

ocupam com o estudo sobre a origem e o destino

do homem.

Estado: entidade responsável pela estrutura e

pela organização política e administrativa (go-

verno, tribunais, forças armadas e de segurança,

etc.), de um país confinado a um determinado es-

paço territorial. Essa entidade somos nós todos, a

população que garante a existência do nosso país

como um território soberano, reconhecido inter-

nacionalmente pelos outros Estados. Estamos

representados por esse conjunto de instituições

que asseguram a administração do país.

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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A vila de Óbidos é medieval e uma das mais pitorescas e mais

bem preservadas de Portugal. Pertence ao distrito de Lei-

ria e província da Estremadura, integrando a Comunidade

Intermunicipal do Oeste na região do Centro. O município

é limitado a nordeste e leste pelo município das Caldas da

Rainha, a sul pelo Bombarral, a sudoeste pela Lourinhã, a

oeste por Peniche e a Noroeste pela costa do oceano Atlân-

tico. Em 2007, o Castelo de Óbidos foi declarado pelo con-

curso “As Sete Maravilhas de Portugal”, o segundo dos sete

monumentos mais relevantes do património arquitetónico

português. A 11 de Dezembro de 2015, a UNESCO conside-

rou Óbidos como cidade literária, como parte do programa

“Rede de Cidades Criativas”. Historicamente, tornou-se

mais próspera a partir do momento em que o rei D. Dinis

a ofereceu a sua mulher, D. Isabel, no séc. XIII e, assim, fi-

cou a pertencer à Casa das Rainhas que, ao longo das várias

dinastias, a foram beneficiando e enriquecendo. É uma das

principais razões para se encontrarem tantas igrejas nesta

pequena localidade.

Dentro de muralhas, encontramos, então, um belo castelo

bem conservado e um labirinto de ruas e casas brancas que

encantam os visitantes. Entre pórticos manuelinos, janelas

floridas e pequenos largos, encontramos exemplos bonitos

da arquitetura religiosa e civil dos tempos áureos da vila.

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OÓ B I D O S

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A Igreja Matriz de Santa Maria, a Igreja da Misericórdia,

a Igreja de São Pedro, o Pelourinho e, fora de muralhas, o

Aqueduto e o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, de plan-

ta redonda e o Museu Municipal de Óbidos, são alguns dos

monumentos a não perder.

Qualquer altura é boa para visitar Óbidos: temos as his-

tórias de amor que aí se contam, o ambiente medieval, o

romantismo e a tranquilidade. Pode incluir uma noite de

alojamento no castelo e desse modo, sentir-se uma perso-

nagem histórica da Idade Média, no conforto do Sec. XXI.

Gastronomia

Não perca a caldeirada de peixe da Lagoa de Óbidos, acom-

panhada pelos vinhos da Região Demarcada do Oeste. Pro-

ve a Ginjinha de Óbidos, que se pode apreciar em vários lo-

cais, de preferência num copinho de chocolate.

Programa de eventos anual

. Festival Internacional do Chocolate,

. Mercado Medieval,

. Natal (quando se decora a vila com motivos alusivos à

época). O “Óbidos Vila Natal 2019”, abriu a 29 de novembro

e encerra a 5 de janeiro.

Nos espaços verdes do Castelo de Óbidos, o recinto está

repleto de divertimentos para mais pequenos e crescidos:

uma pista de gelo, onde pode deslizar e rodopiar em pa-

tins; Bumpers car, onde se fazem corridas na pista de gelo

sintético e uma rampa de gelo, para se escorregar em boias

gigantes. Também há espetáculos de Teatro, Magia, Hu-

mor Absurdo e Marionetas no palco “Cabeça na Lua” e no

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OÓ B I D O S

palco “Pés na Terra”. Também nos podemos divertir nos

simuladores de realidade virtual, onde se viaja no espaço

entre estrelas e planetas. O Pai Natal, como todos os anos,

é a figura principal da Vila, mas não faltarão os duendes, os

bonecos de neve e outras figuras de gelo, que embelezam e

animam a Cerca do Castelo. Para quem gosta de emoções

fortes, conta ainda com a Roda Gigante, na entrada da Vila

de Óbidos, que proporciona adrenalina e dá a oportunidade

de estar acima das muralhas e bem perto do céu.

Verão

Se não for agora no Natal, pode sempre visitar Óbidos no

verão e nessa época poderá assistir a mais atividades:

. Temporadas de Música Clássica Barroca e de Cravo

. Festival de Ópera

(Todos estes festivais de música concedem uma atmosfe-

ra especial a Óbidos, com espetáculos ao ar livre nas noites

quentes de verão).

Perto, fica o extenso areal da Praia d’El Rey, onde os golfis-

tas podem usufruir de um campo de golfe com vista para o

mar atlântico. Passando a cidade das Caldas da Rainha, cuja

história também está ligada à Casa das Rainhas, encontra-

se a praia da Foz do Arelho, ligando a Lagoa de Óbidos ao

mar. Aí pode optar por um bom marisco ou um bom pei-

xe fresco ou por um simples fim de tarde ao pôr-do-sol, à

beira-mar. O importante é não deixar de conhecer Óbidos

e a sua envolvente. Óbidos goza de uma localização privi-

legiada, estando situada a cerca de 80 quilómetros a norte

de Lisboa.

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 55

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OÓ B I D O S

Como chegar a Óbidos:

Por automóvel – Em direção Lisboa – Leiria, tome a A8 e

deixe a auto-estrada na saída 15. O tempo de viagem demo-

ra cerca de 40 a 50 minutos. De Santarém, tome a Auto-es-

trada A15. Do Porto, tome a A1 até Leiria. Em Leiria tome a

A8.

Autocarro – Em média, um bilhete de autocarro (Lisboa –

Óbidos) terá o preço de €8,00. Consulte o seguinte endereço

para detalhes e horários: http://www.rodoviariadooeste.pt

Comboio – Existe paragem de comboio em Óbidos. No en-

tanto, a estação não se encontra no centro da vila, sendo

esta afastada do seu centro. Para mais informações relati-

vamente a preços e horários, por favor consulte: www.cp.pt

Táxi – Uma viagem de táxi (Lisboa – Óbidos) poderá variar

em termos de preço. Normalmente, uma viagem poderá

custar cerca de €90,00. Em Óbidos, encontra uma praça de

táxis junto à Porta da Vila (entrada principal de Óbidos).

Parques de Estacionamento

Chegando a Óbidos, existem Parques de Estacionamento,

devidamente assinalados na parte exterior do Centro His-

tórico. Três destes Parques são pagos (parques asfaltados

junto ao Posto de Turismo), e Parque junto ao Aqueduto,

presentemente, sobre a gerência da Associação Humani-

tária dos Bombeiros Voluntários do Concelho de Óbidos.

Existe igualmente um Parque adicional para Auto-carava-

nas (também pago).

Posto de Turismo

O Posto de Turismo de Óbidos encontra-se junto ao Parque

de Estacionamento principal, a cerca de 200 metros da en-

trada da vila de Óbidos.

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Belém é uma cidade da palestina localizada na parte central

da Cisjordânia, com uma população de cerca de 30 000 pes-

soas. É a capital da província de Belém, no Estado da Pales-

tina, e um centro de cultura e turismo no país. Localiza-se a

cerca de 10 quilômetros ao sul de Jerusalém.

Belém é, para a maior parte dos cristãos, o local onde nasceu

Jesus de Nazaré. A cidade é habitada por uma das mais an-

tigas comunidades cristãs do mundo, embora seu tamanho

tenha vindo a diminuir nos últimos anos, devido à emigração.

Belém foi conquistada pelo califado árabe de Omar, em 637,

que garantiu a segurança para os santuários religiosos da

cidade. Em 1099 os cruzados capturaram e fortificaram Be-

lém, e trocaram o seu clero, ortodoxo grego, por outro, lati-

no; estes, no entanto, foram expulsos depois que a cidade foi

capturada pelo sultão aiúbida do Egito e Síria Saladino. Com

a chegada dos mamelucos, em 1250, as muralhas da cidade

foram destruídas, sendo reconstruídas apenas durante o do-

mínio do Império Otomano.

Os otomanos perderam a cidade para os britânicos durante

a Primeira Guerra Mundial, e ela foi incluída numa zona in-

ternacional, sob o Plano de Partilha das Nações Unidas para

a Palestina.

A Jordânia ocupou a cidade durante a guerra israelo-árabe de

1948, ocupação esta seguida pela de Israel, durante a Guer-

ra dos Seis Dias, em 1967. Atualmente, Belém é uma cidade

estrangulada pelo muro de segurança israelense. Israel con-

trola as entradas e saídas de Belém, embora a administração

cotidiana esteja sob a supervisão da Autoridade Nacional Pa-

lestina desde 1995, após a realização dos acordos de paz de

Oslo.

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A população de Belém é constituída de cristãos e muçul-

manos, que têm coexistido pacificamente durante a maior

parte de sua história. Atualmente, a população é maiorita-

riamente muçulmana, mas a cidade ainda abriga uma das

maiores comunidades de cristãos palestinos. O contingente

de cristãos, que correspondia a cerca de 90% do total em

1948, tem decrescido drasticamente e hoje corresponde a

30%. Esse declínio é atribuído à falta de perspetivas da eco-

nomia, dado que muitas famílias de agricultores cristãos

perderam as suas terras. As maiores religiões em Belém,

são o Cristianismo (principalmente o catolicismo) e o Isla-

mismo, com alguns poucos grupos de Judeus.

A principal atividade económica da cidade é o turismo, que

cresce sobretudo, durante o período do Natal, quando a

Igreja da Natividade, supostamente construída sobre o lo-

cal de nascimento de Jesus, torna-se um centro de peregri-

nação cristã. Também a tumba de Raquel, um importante

local sagrado para o judaísmo, encontra-se na entrada de

Belém. A cidade tem mais de trinta hotéis e 300 lojas de ar-

tesanato, que empregam boa parte dos residentes da cida-

de. A economia de Belém sempre esteve ligada à de Jerusa-

lém, que está a cerca de 10 km de distância. Mas o grande

muro de cimento, com 9 metros de altura construído por

Israel passa por dentro da província de Belém, e assim, os

habitantes de Belém já não vão a Jerusalém para trabalhar

ou fazer compras. Sem terras para cultivar, eles estão ago-

ra quase totalmente dependentes do dinheiro gasto pelos

peregrinos. Fugindo do desemprego de mais de 50% e pri-

vados das liberdades fundamentais, mais cerca de 3.000

cristãos emigraram nos últimos anos para os EUA e o Chile.

Património Mundial da UNESCO, a estrela de prata marca

o local onde Jesus teria nascido, de acordo com a tradição

cristã. Dois relatos do Novo Testamento descrevem Jesus

como tendo nascido em Belém. De acordo com o Lucas 2:4,

os pais de Jesus viviam em Nazaré, porém viajaram para

Belém para o censo de 6 d.C., e Jesus teria nascido ali antes

que a família voltasse para Nazaré. O relato do Evangelho

de São Mateus porém, mencionando que Jesus fora nas-

cido em Belém de Judá (Mat 2, 1), sem menção explícita a

qualquer condição especial, como viagem, a que reporta o

Evangelho segundo Lucas, admite o entendimento (todavia

não descartando, de todo, a circunstância de permanência

temporária por ocasião do nascimento), de que a família já

vivia em Belém quando Jesus nasceu, e posteriormente, se

mudou para Nazaré (Mat 2, 1-23).[18] Mateus ainda rela-

ta que Herodes, o Grande, ao receber a notícia de que um

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“Rei dos Judeus” acabara de nascer em Belém, ordenou que

todas as crianças com dois anos ou menos na cidade e nas

redondezas fossem mortas. O pai terreno de Jesus, José, é

alertado sobre isto num sonho, e foge com sua família ao

Egito, retornando apenas depois da morte de Herodes. Ao

receber outro aviso, em outro sonho, no entanto, José, foge

novamente com sua família, desta vez para a Galileia, para

viver em Nazaré.

A antiguidade da tradição do nascimento de Jesus em Belém

é atestada pelo apologista cristão Justino, o Mártir, que de-

clarou em seu Diálogo com Trifão (c. 155-161) que a Sagra-

da Família teria se refugiado numa caverna nos arredores

da cidade. Orígenes de Alexandria, escrevendo por volta do

ano 247, referiu-se a uma caverna na cidade de Belém, que

os habitantes locais acreditavam ser o local de nascimen-

to de Jesus. Esta caverna poderia ser uma que foi anterior-

mente local destinado ao culto de Tammuz.

Domínio islâmico e Cruzadas

A Mesquita de Omar, única mesquita da cidade, foi cons-

truída em 1860, para celebrar a visita do califa Omar a Be-

lém, após sua captura pelos muçulmanos

Em 637, pouco tempo depois da captura de Jerusalém pelos

exércitos islâmicos, Omar, o segundo califa, visitou Belém

e prometeu que a Basílica da Natividade seria preservada

para o uso dos cristãos. Uma mesquita dedicada a Omar

foi construída sobre o local da cidade onde ele orou, nas

proximidades da igreja. Belém passou então para o con-

trole dos califados islâmicos dos Omíadas, no século VIII,

e dos Abássidas, no século IX. Um geógrafo persa registou,

no meio deste século, que uma igreja muito bem preser-

vada e extremamente venerada existia na cidade. Em 985,

o geógrafo árabe Mocadaci visitou a cidade, e referiu-se à

sua igreja como “Basílica de Constantino, à qual não existe

igual em qualquer outro lugar do país.” Em 1009, durante

o reinado do sexto califa fatímida, Aláqueme Biamir Alá, a

Basílica da Natividade foi demolida, sob suas ordens; sua

reconstrução foi autorizada pelo seu sucessor, Ali Azair,

como forma de consertar as relações entre os fatímidas e o

Império Bizantino.

Em 1099, Belém foi capturada pelos cruzados, que a forti-

ficaram e construíram um novo mosteiro e um claustro no

lado norte da Basílica da Natividade. O clero ortodoxo grego

foi removido das suas sedes, e substituído por clérigos lati-

nos; até aquele ponto a presença oficial cristã na região era

ortodoxa grega. No dia de Natal de 1100, Balduíno I, primei-

ro rei do reino franco de Jerusalém, foi coroado em Belém,

e naquele ano um bispado latino também foi estabelecido

na cidade.

Belém, na visão do pintor Vasily Polenov

Em 1187, o sultão aiúbida do Egito e Síria Saladino liderou

suas tropas que capturaram Belém dos cruzados. Os cléri-

gos latinos foram obrigados a fugir, o que permitiu o re-

torno do clero ortodoxo grego. Saladino concordou com o

retorno de dois padres latinos e dois diáconos, em 1182; a

cidade, no entanto, sofreu com a perda do comércio gerado

pelos peregrinos, com o declínio de visitantes europeus.

Mas, a história desta cidade não fica por aqui. Foi e continua

a ser palco de guerras religiosas.

A UNESCO, inscreveu-a como Local do nascimento de Je-

sus, nomeadamente, a Igreja da Natividade e a Rota de Pe-

regrinação, como Patrimônio Mundial por “ser um local

identificado com a tradição Cristã como o local de nasci-

mento de Jesus Cristo, desde o século II. O local ainda inclui

conventos e igrejas Latinas, Gregas Ortodoxas, Francisca-

nas e Armênias”.

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À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R AB E L É M , A C I D A D E B E R Ç O D E J E S U S C R I S TO

O parecer comum dos estudiosos contemporâneos, consi-

dera que não há argumentos fortes para contradizer o que

afirmam os evangelhos e o que assegura a tradição: Jesus

nasceu em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes.

Mateus não especifica o lugar, mas Lucas ressalta que Ma-

ria, depois de dar à luz a seu filho, “envolvendo-o em fai-

xas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para

eles na hospedaria” (Lc 2,7). O “presépio” indica que, no

local onde nasceu Jesus, guardava-se o rebanho. Lucas in-

dica também, que o menino no presépio será o sinal para

os pastores reconhecerem o Salvador (Lc 2,12.16). A palavra

grega que o evangelista emprega para designar hospedaria

é katályma. Este termo, designa o cômodo espaçoso das ca-

sas, que servia de salão ou quarto de hóspedes.

A evidência mais marcante é a respeito da estrela que pai-

ra sobre Belém. Em Mateus, lemos: “Homens sábios do

Oriente vieram a Jerusalém, dizendo: ‘Onde está aquele que

nasceu rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no Oriente, e

viemos adorá-lo’” (2: 1-2).

Belém já foi e será visitada por muitos portugueses e luso-

descendentes cristãos, católicos ou não. O importante e o

que mais nos caracteriza é a nossa atitude agregadora das

diferentes sensibilidades à volta de seres «humanos» mais

ou menos divinos que nos convidam a tratar os outros como

gostaríamos que nos tratassem a nós. Independentemen-

te dos nossos credos e não apenas no Natal. Ser português

também é isto: ajudar a erguer pontes de Paz e tolerância!

Jesus Cristo não nasceu para dividir os Homens.

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

A expressão é usada, mas descreve na perfeição tudo aquilo que se perde por não ter essência, por não ter nervo, ou estrutura. O mar perde-se na espuma, ao invadir a areia das praias. O espu-mante perde-se na mousse, nas bolhas delicadas e elegantes que conquistam a boca ao atacar o palato. E a maior parte do tempo que investimos no trabalho,

nas relações, nos pensamentos, dissi-pa-se também sem fazer perdurar uma marca, um rasto que fique na memória. A espuma dos dias é tudo aquilo que pa-rece fazer evaporar o tempo – o nosso tempo.Numa época de vertigem, de proces-sos rápidos e decisões impensadas, não deixa de ser metafórico que o ano ter-

mine invariavelmente ao som de bolhas a invadir os flutes, junto de amigos e fa-mília, num balanço que junta um pouco do passado e um mar de perspectivas e de esperança sobre o futuro. Se por um lado somos incapazes de suster a eva-poração dos dias, por outro não desis-timos nunca de tentar compreender, melhorar, evoluir. Essa é a essência do

A espuma dos dias

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

Homem – que tantas vezes brinda a humanidade com actos heroicos e des-cobertas improváveis. Foi assim com a criação do espumante.Reza a história que foi Dom Pérignon a descobrir, por mero acaso, o vinho espumante; seria difícil controlar a se-gunda fermentação do vinho, que cria-va bolhas e fazia explodir os recipientes. A História é mais do que o mito e Dom Pérignon terá contribuído voluntaria-mente para a criação de lotes (com vi-nhos de várias regiões circundantes, para melhorar o resultado final) e do método, em tudo semelhante ao que é usado hoje.Hoje, o processo inicia-se com a colo-cação de vinho tranquilo, o vinho base, numa garrafa. A esse vinho são adicio-nadas leveduras, que consomem o açú-car residual, não transformado em ál-

cool durante a primeira fermentação. A garrafa, deitada, fechada com uma cáp-sula, fica em descanso por um ano (Re-serva), por dois anos (Super Reserva) ou por mais de três anos (Velha Reser-va). Nesse período as leveduras entram em decomposição, libertando aromas e provocando uma fermentação contro-lada, que proporciona o gás – a nossa espuma. As células mortas das levedu-ras formam depósito, junto às paredes da garrafa. A retirada dessas células inertes é iniciada com o processo da re-moagem, que consiste num conjunto de movimentos que vão inclinando a gar-rafa para empurrar as leveduras até à capsula. Findo esse processo, que pode ser manual ou automático, as garrafas são depositadas na vertical, com o gar-galo para baixo, num circuito de con-gelação. Num novo processo, o dégor-

gement, as leveduras, junto ao gargalo, são congeladas em conjunto com uma pequena porção do vinho já espuman-tizado. Essa porção de gelo é retirada e é adicionado o licor de expedição, que pode conter vinho e açúcar (consoan-te pretendamos um espumante bruto, seco, meio seco ou doce). A garrafa é ro-lhada e fica finalmente preparada para ser capsulada, rotulada e expedida. E depois degustada, em momentos de ce-lebração ou apenas de sublime prazer.Como se vê, uma simples garrafa de es-pumante produzida através do Método Tradicional é submetida a um processo longo, trabalhoso e dispendioso. O que nos deixa uma boa mensagem para o ano que vem: há sempre muito a inves-tir para podermos ter o privilégio de de-dicar tempo à espuma dos dias. Bom ano!

Pedro GuerreiroGestor

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Teve lugar, em Barcelos, entre os dias 11 a 13 de Outubro de 2019, o XIV Concurso do Galo Assado, promovido pelo Turismo de Barcelos, cidade Criativa da Unesco. Concorreram, este ano, 13 restaurantes espalhos pelo concelho. Esta é uma iniciativa de louvar. Puxando a brasa á minha sardinha, quando se trata de cozinha Portuguesa eu estou sempre atento, pois, o Minho é uma região onde ainda se mantêm vivas muitas iniciativas gastronómicas ao longo do ano, ligadas a muitas iguarias típicas regio-nais, como são: as papas de sarrabulho, a foda à moda de monção, o arroz de pica no chão, o cozido e a lampreia. Voltando a Barcelos e ao galo assado, tive a honra, mais uma vez, de ter sido convidado a integrar o júri com o chef Feliciano Silva. José Vinagre, este ano não esteve presente, por motivos profissionais. Em novembro, foi eleito Pro-fissional de Turismo do Minho. Foi, sem dúvida, um fim

de semana gratificante. As provas foram realizadas nos restaurantes concorrentes. Deixo aqui a minha admiração por todos, pelo trabalho que fazem em defesa da gastro-nomia local.O espírito do concurso que espelha o seu regulamento não se traduz em encontrar um vencedor, mas em entregar o maior número de galos de ouro e também, de prata. Não merecendo ouro leva prata! Distinguimos muitos galos de ouro e apenas dois de prata.Felizmente, a escolha foi muito difícil, pois, as iguarias estavam deliciosas. Havia galo com recheio e sem recheio, mas sempre acompanhado com os vinhos da região. Des-taco a categoria de inovação, que se vem tornando habi-tual nesta nova geração de chefs, que com muito traba-lho e dedicação tenta fazer sempre diferente, respeitando os produtos da época e da região. Alguns apresentavam o

Da lenda ao pratoConcurso do galo assado, Barcelos

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

galo empratado como diz a lenda: de corda ao pescoço! A procura do galo assado, nestes dias, é enorme, chegando alguns restaurantes a não conseguirem aceitar todas as reservas solicitadas. Tenho de confessar que temo, com os novos tempos, que este tipo de gastronomia acabe pela falta de produtos ori-ginais. Cada vez mais encontramos os galos criados de outra forma e não como autênticos «pica- no chão»! Um galo caseiro demora bastante tempo a criar e a sua ali-mentação é à base de milho, couves e ervas. O seu habitat natural, solto, no meio de um quintal, também lhe confere o sabor e a textura únicos, seja qual for a forma de o cozi-nhar: assado, cabidela, estufado e outras. Penso, contudo, que ainda podemos desenvolver um trabalho no sentido de proteger os nossos produtos da ganância de grupos económicos que acabam por transformar uma iguaria tão nobre em algo corriqueiro e sem autenticidade.

Quero acreditar que a qualidade vence, sempre! Passado o concurso, pode sempre passar por Barcelos, em qual-quer altura do ano, e provar esta deliciosa iguaria. É mais seguro encomendar no mínimo com três dias de antece-dência, levar consigo sete ou mais amigos ou a família e garanto que se vai livrar da forca, como diz a lenda. Se tiver dúvidas, pode sempre pedir ajuda na loja do Tu-rismo, mas de um modo geral todos os restaurantes pre-param devidamente o seu repasto. Fico a aguardar que me contem a experiência gastronó-mica. Até breve.

Hernâni ErmidaChef

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Portugal - França

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04 91 47 06 18

www.mclavocats.fr

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N Ã O H A B I T U A I S R E S I D E N T E S ( R N H ) E M P O R T U G A L

Jorge Mendes ConstanteAdvogado MCL Avocats

[email protected]

04 91 47 06 18

Infelizmente, alguns dos residen-tes não habituais que se estabe-leceram em Portugal nos últimos dez anos e que beneficiaram deste estatuto privilegiado não evita-rão que o seu processo sucessório ocorra em benefício dos seus her-deiros. “c’est la vie”, como dizem os franceses quando falam sobre a morte.É verdade que em Portugal não há praticamente imposto sobre he-rança. Isso não significa que todos os herdeiros de um residente não habitual não paguem imposto su-cessórios sobre a herança recebida.De facto, a lei aplicável a uma su-cessão é a do país de que o falecido tinha a nacionalidade no momen-to da sua morte. Se um residente fiscal português de nacionalidade

francesa morrer, sua sucessão será aberta de acordo com a lei france-sa. Em França, diferentemente de Portugal, os impostos sobre he-rança não apenas existem, mas são substanciais (20% para 500.000, 30% para 600.000, até 45% acima de 1,8 milhão).Assim, quando os beneficiários da herança residem em França, to-dos os bens do falecido, em França e em Portugal, são tributáveis em França.Como resultado, os herdeiros fran-ceses de um residente não habitual de nacionalidade francesa terão de pagar o imposto sucessório em França, incluindo os bens que o fa-lecido detinha em Portugal.Por outro lado, os herdeiros resi-dentes em Portugal não serão tri-butados pelo Estado Português na propriedade situada em Portugal do falecido. Se o falecido deixar a propriedade em ambos os países, o herdeiro residente português será tributado pela França na parte da propriedade que lhe pertence, lo-calizada em França.Esta observação deverá convidar os residentes não habituais a ins-talar-se em Portugal para anteci-par a sucessão.

Os pais podem dar seus filhos - por exemplo, “nue-propriété” ou seja, a posse de bens (imóveis ou financeiros), onde o proprietário não goza do gozo da propriedade, também chamado de usufruto, es-pecialmente de bens localizados em França. Além disso, a França prevê para cada criança um aba-timento de 100.000 euros de cada um dos progenitores, renovável a cada quinze anos.A doação aos herdeiros (nomeada-mente em “nue-propriété”) deve ser a solução preferida para os re-sidentes não habituais franceses estabelecidos em Portugal. Lem-bramos que os impostos sobre he-rança cobrados pelo Estado fran-cês sobre a herança transmitida às crianças podem chegar a 45%. Essa taxa será de 60% para os não--parentes herdeiros do falecido.

A D O A Ç Ã O A O S H E R D E I R O S ( N O M E A D A M E N T E E M “ N U E - P R O P R I É T É ” ) D E V E

S E R A S O L U Ç Ã O P R E F E R I D A P A R A O S R E S I D E N T E S N Ã O H A B I T U A I S

F R A N C E S E S E S T A B E L E C I D O S E M P O R T U G A L

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I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I SÚ LT I M O S PA S S O S PA R A P O U PA R C O M O S E U I R S

O ano de 2019 está a chegar ao seu fim e muitos de nós começam a olhar o ano em perspetiva, pensando nas despesas e ganhos do ano, imaginan-do como será a próxima declaração de IRS, quais as poupanças que ainda se poderão fazer e que desperdícios po-derão evitar.A subscrição de um PPR ou de um Re-gime Público de Capitalização, antes do final do ano, além de outras van-tagens, dependendo da idade, poderá levar a uma poupança até 400 euros de imposto. Só pensando no efeito fiscal da subscrição de um PPR, beneficia-se de uma taxa de retorno 20%, o que nos nossos dias é bastante motivador.Infelizmente, nem todos poderão be-neficiar deste efeito, caso já tenha despesas de saúde ou educação, pois, a dedução total de 1.000 euros, abrange

os PPR, as despesas de saúde ou edu-cação.Outra medida a ter em conta, é validar as faturas que estão pendentes no por-tal e-fatura, que se aconselha a fazer desde já, apesar do prazo ir até 15 de fevereiro, a manutenção deste estado pode levar o contribuinte a pagar mais IRS e a perder reembolso de IVA. Du-rante este processo, verificamos como foi importante dar o número de con-tribuinte aquando da emissão de cada fatura. Não esquecer de fazê-lo tam-bém com as faturas dos dependentes menores que temos a cargo. Este pro-cedimento deve, portanto, estender-se a toda a família.Os encargos suportados com a reabi-litação urbana também podem levar a uma poupança fiscal até aos 500 euros.

Portanto, para maximizar o valor do reembolso a receber no próximo ano ou minimizar o pagamento de im-postos, referente aos rendimentos de 2019, existe duas estratégias: uma in-vestir num PPR ou instrumento equi-valente, outra garantir que as despesas estejam validadas e bem documenta-das, sobretudo, as despesas com edu-cação, juros de crédito de habitação (nalguns casos), saúde, lares,… .O contribuinte poderá ainda receber um reembolso de parte do IVA, pago ao longo do ano, relativo a despesas com cabeleireiros, oficinas de reparação de veículos, restaurantes, veterinários e transportes.Acabe portanto, o ano da melhor for-ma, e em caso de dúvidas não hesite em falar com um contabilista certifi-cado.

Philippe FernandesBusiness Adviser

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