REVISTA AGRI PRIMAVERA 2013

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1 Jornada PATRIMÓNIO RURAL Entrevista CARLOS FRANCO Publicação GUIA DE OBSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO RURAL IMPACTO DA REGA CONTÍNUA ALELOPATIA O CASO DA RAÇA MIRANDESA revista de agricultura | primavera 2013

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Tema central: Património Rural Proprietário: CNJ - Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural Editor: Carlos Valentim Ribeiro Designer: Sofia Pepe

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JornadaPATRIMÓNIO RURAL

EntrevistaCARLOS FRANCO

PublicaçãoGUIA DE OBSERVAÇÃO

DO PATRIMÓNIO RURAL

IMPACTO DAREGA CONTÍNUA

ALELOPATIA

O CASO DA RAÇA MIRANDESA

revista de agricultura | primavera 2013

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APRESENTAÇÃO DA PUBLICAÇÃO “GUIA DE OBSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO RURAL” GUILHERME LEWES 6 | MÓNICA XAVIER “ESTUDAR O PATRIMÓNIO RURAL NO TERRITÓRIO CONCRETO” 7 | LUÍS AGOSTINHO “A FOTOGRAFIA REENCONTROU O PATRIMÓNIO RURAL” 7 | EMPREENDER NAS ALDEIAS APOIANDO-SE NO PATRIMÓNIO RURAL 8 | PROJECTOS LEADER - RUDE - VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO RURAL 10 | VEREADORA ALCINA CERDEIRA, “PATRIMÓNIO RURAL FORTALECE A COMPETITIVIDADE DO FUNDÃO E DA REGIÃO” 11 | NOTAS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DAS CULTIVARES DE CITRINOS 25 | COMO SERVIR UM VINHO VERDE 34 | POTENCIAL DOS RESÍDUOS DO BAGAÇO DA AZEITONA 35 |

PROPRIEDADECNJ - Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento RuralSEDE: Tapada da Ajuda 1349-018 Lisboa, NIPC 504936832Inscrição na ERC 126188

DIRECTOR -Luís Saldanha Miranda

DIRECTOR – ADJUNTO Carlos Alberto Franco

COORDENADOR EDITORIALCarlos Valentim Ribeiro

DIRECÇÃO E REDACÇÃOPraça da Alegria n.º 6, 2.º Dto., 1250-004 LisboaTelefone: 213153137 - 963402242 - 914630395 - 933531050; Linha Verde: 800100107Fax: 211550860Email: [email protected]: www.cnjap.pt

COLABORAÇÃO NESTA EDIÇÃOGuilherme Lewes, Mónica Xavier, Luís Agostinho, Cristina Santos Pinto, Celeste Valente, José Manuel R Nunes, António Lopes Piñero, Fernando Jorge Ruivo, Natália Gaspar, Amílcar Duarte, Fernando Nunes, Teresa Madureira, Carlos Franco

FOTOGRAFIACNJ, Rude, Carlos Valentim Ribeiro

DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃOSofia Pepe

IMPRESSÃO E ACABAMENTOKronos – Edições e Publicações, LdaTiragem – 5000 exemplares

Todos os artigos assinados são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as opiniões da Direcção da CNJ. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a Revista.

ÍNDICE

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Jornada sobre PATRIMÓNIO RURAL – Fundão

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Entrevista: CARLOS FRANCO – Apresentação da Publicação “Beira Serrana”

FICHA TÉCNICA

EDITORIAL

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CELESTE VALENTE “Empreender nas aldeias apoian-do-se no património rural”

IMPACTO DA REGA CONTÍNUA

Constrangimentos e oportunidades na produção da CARNE DE BOVINO

A ALELOPATIA e o seu potencial em agricultura

VINHO e mercados emergentes

Sensibilização para o Património em AMBIENTE ESCOLAR

Na última década o mundo rural perdeu 36% dos seus habitantes, representando actualmente 7% da população residente em Portugal. Apesar de recentemente se ter verificado o retorno à terra de muitos jovens, o decréscimo ocorrido contribuiu para o aumento significativo do processo de desertificação que tem vindo a ocorrer, principalmente nas regiões do interior.

Esta dinâmica negativa nos territórios tem provocado o desaparecimento de muitos dos saberes e das tradições locais, perda que não tem sido mais profunda e mais acelerada devido ao trabalho que muitas das associações de desenvolvimento local e autarquias têm desenvolvido ao longo destes anos, na preservação do património edificado assim como daquele

que é mais imaterial. Bom exemplo disso é o trabalho desenvolvido pela Junta de Freguesia de Souto da Casa no Concelho do Fundão.Mas não basta preservar o passado. É necessário criar condições de sustentabilidade para os que decidiram voltar à terra assim como para os que persistem em lá ficar. Por isso será difícil falar em agricultura sustentável e de manutenção do património se persistir, a contra corrente dos anos e anos de investimento, o movimento de redução e de encerramento dos equipamentos sociais como as creches, as escolas, os centros de saúde, entre outros, que são fundamentais para a uma mínima qualidade de vida dos que lá residem. Nestes termos, é nossa obrigação preservar o património, os saberes e as tradições para as gerações vindouras, mas também devemos esforçamo-nos para que o retorno e a fixação dos jovens nos territórios rurais não sejam transitórios mas duradouros porque, em nosso entender, o mundo rural tem futuro.

Luís Saldanha Presidente da CNJ Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural

O mundo rural tem futuro

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4 5TEMA CENTRALTEMA CENTRAL

CR: Como surgiu a ideia da elaboração desta publicação?CF: Como a CNJ assume uma visão mais integrada do mundo rural, temos um olhar sobre os factores identitários dos territórios, da sua radicalidade, entendida numa perspectiva daquilo que sendo intrínseco aos territórios e à sua história, lhes pode vir a dar um lastro para a sua sustentabilidade. Neste contexto julgámos pertinente elaborar uma publicação que desse destaque ao Património Rural desta região que designámos de Beira Serrana.CR: Que caminhos foram percorridos para a realizar?CF: Numa 1ª fase fizemos um levantamento do tipo de património que se pode encontrar na região, e depois fomos buscar exemplos desse património pela região, procurando os bons e os maus exemplos. Porque se aprende tanto com uns como com os outros. E procurando interagir com as populações locais, para que nos revelassem algo do que escapa normalmente aos olhos do comum dos viajantes. E isso foi uma experiencia muito interessante e conseguida. Finalmente fizemos uma reportagem fotográfica dos locais e preparámos os textos e o arranjo visual do livro. CR: Qual é a situação que, no entendimento dos autores, pode ser destacada do registo efectuado na publicação?CF: O facto que salientaria da publicação é a constatação

de que o Património Rural desta região, poderia ser uma importante mais-valia num processo de valorização e potenciação do território de um ponto de vista económico, numa perspectiva mais objectiva, mas também, numa visão mais subjectiva, um factor de coesão social e humana, firmado numa sensação de pertença a uma pátria que se foi construindo e da qual podemos ser agora os seus fautores.CR: Como vai esta publicação ser utilizada no futuro na valorização do património rural?CF: Queremos disseminá-la por um conjunto de entidades públicas e privadas para ajudar a sensibilizar e despoletar um debate em torno da importância do Património Rural e da sua recuperação e valorização. E como achamos que quando os desafios são de monta, não devemos desistir mas sim procurar concitar vontades e meter mãos à obra, estamos sempre dispostos e a todos questionamos, para em parcerias várias, metermos os pés ao caminho, porque as grandes viagens são feitas de pequenos passos.

Carlos Franco é co-autor da publicação Beira Serrana – Património Rural e simultaneamente dirigente da CNJ – Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e Desenvolvimento Rural . Apresentou à AGRI as razões da sua elaboração e adiantou os efeitos que prevê do processo da sua divulgação junto de entidades públicas e privadas ligadas à agricultura e ao desenvolvimento rural.Entrevista conduzida por Carlos Ribeiro

PROMOVER O DEBATE SOBRE PATRIMÓNIO RURAL

A CNJ – Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e Desenvolvimento Rural divulgou, numa sessão pública realizada no Fundão, uma publicação sobre o património rural da beira serrana. A iniciativa contou com o apoio da Câmara Municipal do Fundão e da Junta de freguesia de Souto da Casa, aldeia na qual foi realizada uma visita temática de valorização do património rural no quadro desta iniciativa.Carlos Ribeiro

FUNDÃO ACOLHEU JORNADA SOBRE PATRIMÓNIO RURAL

Trata-se de uma resenha de vários elementos representativos do mundo rural que, no entendimento da CNJ, constituem um recurso de elevado potencial para estratégias e iniciativas de desenvolvimento sustentável. Foi esta perspectiva de contribuir para a promoção de novas iniciativas em favor do património rural que justificou a organização de uma jornada temática que teve lugar no Fundão.Uma visita guiada à aldeia de Souto da Casa conduziu os participantes às Casas Museu que a Junta de Freguesia dinamiza com especial carinho e uma sessão pública levada a efeito na A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes no Fundão envolveu entidades como a Associação de Desenvolvimento Pinus Verde, a DGADR – Direcção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Câmara Municipal e a própria CNJ num debate sobre a importância da cooperação entre as diversas instituições nas acções de valorização do património rural.A DGADR apresentou o Guia para a Observação do Património Rural uma ferramenta de grande utilidade para os actores da intervenção local e regional e para os estabelecimentos de ensino de uma forma geral.No final da sessão a vereadora Alcina Cerdeira apontou vários quadros para a utilização futura da publicação que considerou útil e com qualidade temática e gráfica.Vários apontamentos sobre a iniciativa estão disponíveis em http://patrimoniorural.blogspot.com e na página www.facebook.com/vereolhar cujos animadores/fotógrafos acompanharam a visita a Souto da Casa.

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6 7TEMA CENTRALTEMA CENTRAL

SENSIBILIZAÇÃO PARA O PATRIMÓNIO EM AMBIENTE ESCOLARGuilherme Lewes da Direcção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural apresentou na Jornada realizada no Fundão o GUIA PARA A OBSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO RURAL. Dá-nos conta das acções dinamizadas nas escolas com o objectivo de sensibilizar os alunos para a importância do tema.

A fotografia reencontrou o património ruralAs tradições locais que ao longo dos tempos se foram perdendo designadamente com que a debandada da imigração para as metrópoles nos anos 60, tornaram-se nos nossos dias um tema apelativo para a fotografia. Uma base de redescoberta que é muito valorizada pelo potencial da imagem. Hoje ser um bom fotografo, e claro um bom observador, passa por relatar algo diferente, e num mundo onde já pouco muda, procurar as raízes nacionais e divulgar a nossa diversidade cultural pode ser uma boa aposta. Hoje, mais que nunca, a fotografia procura ângulos abstractos, muitos só possíveis graças ao orgulho renascido nas nossas tradições, nas nossas gentes. Tem sido um mundo novo com toda a imagem que nos últimos tempos tem surgido do meio rural. Nunca o país assistiu a tal procura e divulgação que podemos comprovar nas redes sociais tanto sobre este tema. A imagem será sempre um forte elo de ligação à terra. O grupo de fotografia “ver e Olhar” tem-se batido pela valorização das raízes culturais do nosso pais, enfatizando que cada terra tem sua beleza e as suas próprias especificidades. Tem sido um sucesso comprovado pelos os números de visitas no site que indicam o forte interesse pela cultura local. A imagem liga as pessoas, cria afectos e recorda tempos ancestrais. Será sempre a melhor maneira de tocar no coração, a forma mais bonita de nos ligar à terra que nunca esqueceremos. Luís Agostinhowww.vereolhar.pt

A mobilização para a participação dos atores locais no seu processo de desenvolvimento é um tema fulcral. Neste sentido, com vontade de explorar o território interno e suas ligações, estou a desenvolver a tese de mestrado sobre As Redes em Espaço Rural, tendo a aldeia de Souto da Casa aceitado o desafio de fazer parte do estudo de caso.

O nosso País possui um património, edificado, natural, paisagístico e cultural de grande riqueza, que é urgente valorizar e dinamizar, no quadro de uma abordagem interativa com outros factores de desenvolvimento local e numa perspectiva de real integração na estratégia de desenvolvimento adoptada para cada território. Esta necessidade de conhecimento, salvaguarda e valorização ganha mais significado quando se fala de património não classificado, que frequentemente é esquecido e subestimado tanto nalgumas zonas urbanas, como na maioria das zonas rurais.Dar a conhecer esse património, nomeadamente às camadas mais jovens da população, é fator indispensável para garantir a sua transmissão às novas gerações que irão ser o garante futuro da sua preservação, gestão e valorização. Entendendo esta ação como um desafio, a DGADR, tendo em conta as suas atribuições na área do desenvolvimento dos territórios e da valorização do património rural, celebrou, para o ano letivo 2012/2013 com a Escola EB 2/3 António Gedeão, de Odivelas (no próximo ano letivo fará o mesmo com a Escola EB 2/3 dos Pombais, da mesma cidade), um Acordo de Colaboração para pôr em prática o projeto piloto “Sensibilização para o Património em ambiente escolar”, que integra as seguintes acções: - conceção de conteúdos sobre património a inserir nos guiões das visitas de estudo da disciplina de Geografia, destinadas aos alunos dos 2º e 3º ciclos (Março e Abril de 2013)- elaboração e apresentação de 4 palestras (método participativo) de 90 minutos cada, em sala de aula, envolvendo cerca de 90 alunos do 3º ciclo e do Curso CEF de Cozinha (Abril de 2013)Os temas abordados foram os seguintes: conceitos de Património e de Patrimonialização; tipos de património; observação e identificação do património; formas de

intervenção no património; o património como fator de desenvolvimento; cidadania e património, entidades responsáveis.Foram definidas as seguintes metas para os alunos na sequência das palestras:• terem a noção do conceito de património e de patrimonialização• terem a ideia da grande diversidade do património existente• saberem identificar os diferentes tipos de património• saberem registar a informação sobre o património de um território (trabalho de campo)• compreenderem de que forma o património pode ser importante para o desenvolvimento de um território• terem a ideia de como se pode intervir no património e obter formação específica• saberem como se comportar perante o património.Guilherme lewes – DGADR/DDAAFA, 13/05/2013

Guia de Obsevação do Património Rural – DGADR, 20091. Como nasceu a ideia de conceber o Guia2. Principais objetivos do Guia3. Estrutura do Guia4. Capítulos5. Conceito de Património6. Tipos de património rural7. Identificação do património rural8. Formas de intervenção no património – como definir um projeto de intervenção9. Património, fator de desenvolvimento sustentável do território – cadeia de valor

Estudar o património rural no território concreto

TESTEMUNHO_ MÓNICA XAVIER

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8 9TEMA CENTRALTEMA CENTRAL

EMPREENDER NAS ALDEIAS APOIANDO-SE NO PATRIMÓNIO RURAL

No interior do país, encontramos uma diversidade paisagística deslumbrante acompanhada de uma matriz cultural e identitária única. Da imponente Serra da Estrela, com os picos mais elevados do país, consegue-se vislumbrar grande parte do nosso território. Percorrer esta região permite descobrir uma paisagem dinâmica que se modifica em cada estação do ano, bem como conhecer o vasto património rural, cultural, arquitectónico e natural existente, deixado por vários séculos de história, onde se destacam as Aldeias Históricas, as Aldeias do Xisto e as Rotas por Castelos Medievais. Com o seu microclima único, esta região possui solos de grande aptidão agrícola, dando origem à produção e comercialização de produtos endógenos de elevada qualidade.

Produção de cogumelosCom base nos recursos e potencialidades existentes, podem-se desenvolver diversas actividades e dinâmicas de desenvolvimento local, garantindo a sustentabilidade do território a longo prazo. Actividades ligadas ao turismo, lazer, agricultura, valorização e comercialização dos

produtos endógenos, artesanato e gastronomia.Ao percorrer o Souto da Casa, uma pequena freguesia do Concelho do Fundão, localizada na encosta da Gardunha, encontram-se empreendedores que se instalaram e souberam aproveitar as potencialidades locais: o conceito “Cogus Box” é um kit de produção de cogumelos que transforma borras de café e cartão em comida saudável e deliciosa! Projecto inovador que pretende valorizar os recursos desperdiçados.

Trabalhar a lãOutro exemplo localizado em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, onde a lã adquiriu um estatuto ímpar, sinónimo de identidade regional, a ECOLÃ, microempresa artesanal de origem familiar, tem como objectivo perpetuar e divulgar esta herança cultural de qualidade, preservando os métodos tradicionais de trabalhar transmitidos através de diversas gerações, trabalhando o burel em roupa e artigos para casa. O amor pele arte de trabalhar a lã, transforma-se quase numa filosofia de vida e já ultrapassou fronteiras.

Cristina Santos Pinto conhece bem a região. Participa e dinamiza, na Cova da Beira, projectos locais relacionados com a acção empreendedora das pessoas e das organizações. Para as aldeias, o património rural constitui um excelente ponto de partida para o empreendedorismo local e a comprová-lo estão os dois casos aqui destacados.

PATRIMÓNIO RURAL CONSTRUÍDO E AMBIENTE

Poderemos pensar o património rural e o ambiente como factores importantes para o desenvolvimento sustentável na área do Turismo em Espaço Rural, relacionados ao bem-estar do Homem e à sua qualidade de vida, mas também, como um factor importante para o desenvolvimento sustentável das zonas rurais.Desde 1991 que a RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural, tem incluído nas suas Estratégias e Objectivos Gerais, intervenções de requalificação urbanística dentro das freguesias rurais do Território de Intervenção, tendo em conta o vasto património edificado e paisagístico existente nos concelhos de Belmonte, Covilhã e Fundão e a sua importância cultural.Através dos apoios comunitários têm sido potenciados muitos projectos, nomeadamente de investimento privado, com especial referência para o Turismo em Espaço Rural, aproveitando-se a existência de edifícios particulares de elevado valor patrimonial, que de outra forma dificilmente seriam preservados e mantidos.Este tipo de intervenção tem garantido, que a par de toda a mudança e desenvolvimento ocorrido no Território de Intervenção, serão mantidos e, sempre que possível, recuperados os usos, costumes e tradições, ou seja, será preservada a identidade cultural das comunidades rurais, entendida como um potencial a aproveitar, designadamente, na área turística.A RUDE tem conciliado a recuperação do património edificado, utilizando os recursos naturais autóctones, nomeadamente, a pedra granítica, com o aparecimento no território ou na sua envolvente, de microempresas em diversas áreas sócio-económicas, potenciadoras de diversas iniciativas e actividades inovadoras, que isoladamente poderiam não ser exequíveis.A actividade desenvolvida pela RUDE neste domínio, tem funcionado como um verdadeiro incentivo para a Associação continuar a sua ligação ao mundo rural da Cova da Beira, nunca alheia da forte presença, dos cultos e rituais religiosos, das potencialidades endógenas, (recursos

hídricos para fins turísticos na óptica do desporto e de lazer, promoção de produtos locais), dos recursos sócio- económicos, naturais, e na reconstrução de imóveis numa base arquitectónica popular e tradicional. Celeste Valente(Coordenadora da ETL)RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural

Factores importantes para o desenvolvimento das zonas rurais

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10 11TEMA CENTRALTEMA CENTRAL

VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO RURAL

A RUDE - Associação de Desenvolvimento Rural, não tem descurado a importância das realidades culturais e da necessidade de intervir numa área onde o Património Histórico Arquitectónico e Ambiental constitui um dos principais vectores de identidade e especificidade do Território de Intervenção.Das várias intervenções que a RUDE teve neste domínio apresentamos os seguintes projectos aprovados no âmbito dos Programas LEADER I, LEADER II e LEADER +.

1) Projecto “Recuperação do Solar da Viscondessa” – Dominguiso (Covilhã)Caracterização:A intervenção física efectuada, permitiu que fosse garantida a traça identificadora de um imóvel de características regionais, fosse valorizado o património edificado no centro rural e fosse dado um contributo para o embelezamento local.As principais despesas elegíveis foram as seguintes: Limpeza de cantarias, pinturas, aquisição e instalação de portas e janelas, muros, vedações, cobertura do imóvel, aquisição de material de construção civil, aquisição de diverso equipamento.O simbólico contributo do Programa Leader I, traduziu bem a importância fundamental de intervenções desta natureza rural.

2) Projecto: “Recuperação de Património Histórico” – BelmonteCaracterização:A intervenção efectuada consistiu na recuperação, conservação e restauro das pinturas murais da Igreja de S. Tiago (Belmonte) e na Capela do Espírito Santo na Freguesia de Maçainhas.Os Frescos património de elevado valor artístico, apresentavam já grande falta de adesão à camada de suporte, com muitos sinais de fracturas e estavam em fase de grande fragilidade.Num projecto Co-Financiado pela RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural, no âmbito do Programa Leader II, foram recuperados os dois templos religiosos que testemunham a riqueza histórica e arquitectónica do concelho de Belmonte.Despesas elegíveis: Aquisição de material para conservação e restauro das pinturas e mão de obra especializada.

3) Projecto: “Recuperação de Casa Tradicional” – AlpedrinhaCaracterização:Possuidora de um rico e vasto património arquitectónico e histórico, a freguesia de Alpedrinha teve um amplo apoio do Programa Leader II em projectos Co-Financiados pela RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural.Tendo como principal objectivo a renovação e desenvolvimento das Zonas Rurais e o Património construído, foi recuperada a fachada tradicional de um imóvel particular, localizado no centro histórico da Vila de Alpedrinha, junto ao Chafariz D. João V, elemento de grande interesse paisagístico, que deu nome ao largo onde se situam os imóveis.A intervenção visou a remoção do reboco e pinturas exteriores da casa, substituição de portas e janelas, reparação de beirados, lavagens de cantarias.Despesas elegíveis: Aquisição de portas e janelas, material de construção civil e mão de obra.

4) Projecto: “Recuperação de Fonte Centenária” – TortosendoCaracterização:A RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural Co-Financiou o projecto no âmbito do Programa Leader + que, após a sua conclusão devolveu à vila do Tortosendo, (Covilhã), um pouco da sua história e um agradável espaço de convívio para os seus habitantes.Procedeu-se à recuperação da “Fonte da Cale”, imóvel centenário, cuja construção remonta ao ano de 1795 e à requalificação do espaço público envolvente que se encontravam muito degradados e desvirtuados pela construção de edifícios na sua proximidade.Foram elegíveis as seguintes despesas: Limpeza e recuperação da Fonte e muros laterais em pedra granítica; colocação de novo pavimento em granito; aplicação de mobiliário urbano; aplicação de iluminação e mão de obra.

Fonte: RUDE-Associação de Desenvolvimento Rural | Maio 2013

Destaque de Projectos LEADER acompanhados pela RUDE – Associação de Desenvolvimento Rural

PATRIMÓNIO RURAL FORTALECE A COMPETITIVIDADE DO FUNDÃO E DA REGIÃO

O património rural, no Fundão, é assumido estrategicamente como capital para o desenvolvimento. A utilização que dele é realizada resulta antes de mais do profundo respeito demonstrado pelas raízes culturais e pelo sentido identitário colectivo que induz a uma valorização espontânea da terra e da obra realizada pelo homem e pela natureza, ao longo dos anos, no meio rural.

Património cultural e históricoHá muito para descobrir no Fundão. Nas suas proximidades podem ser descobertos os grandes contrastes de uma paisagem natural de cortar a respiração. Existem percursos que integram os picos da Serra da Gardunha e as paisagens de xisto do Vale do Zêzere no Pinhal Interior. Outros que incluem o património cultural e histórico do conjunto de gravuras rupestres do Poço do Caldeirão, visitáveis durante os meses de estio. O Cabeço do Pião, antiga unidade de lavagem de minério do complexo das Minas da Panasqueira, actualmente desactivada e em processo de revitalização para parque temático, pode ser visitado com um olhar complementar ao do mundo rural.Os serpenteantes meandros do Zêzere e as cristas rochosas classificadas em Rede de Património Mundial com grande interesse geológico e educativo, Janeiro de Cima, a Casa das Tecedeiras são pontos de interesse, entre outros, imprescindíveis para quem visita a região.

Aldeias e reserva naturalO Fundão abre-se aos territórios de proximidade quando o tema do património rural prevalece. A “Grande Rota das Aldeias Históricas” une as dez aldeias históricas (Almeida, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão e Sortelha). Ao longo de toda a sua extensão (cerca de 540 Kms) percorre 17 concelhos da Beira Interior, abrangendo um total de 52 povoações. Num cenário de grande riqueza natural e atravessando três áreas protegidas (Parque Natural da Serra da Estrela, Parque Natural do Douro Internacional e a Reserva Natural da Serra da Malcata) esta grande rota não esquece os saberes e os valores de um vasto património que caracteriza esta região. Antes de mais, como percurso pedestre, a “Grande Rota das Aldeias Históricas” pretende ser o meio pelo qual é possível divulgar e dar a conhecer uma região que, pelas suas características naturais e valores patrimoniais, é merecedora de uma visita.Uma das melhores alturas para realizar a rota é certamente durante a floração, finais de Março, Abril e Maio, meses em que a paisagem apresenta um grande espectáculo visual. A apanha da cereja é outra forma de celebrar os sentidos. É um festim enriquecido com as diferentes texturas das variedades regionais de cereja. Serem vermelhas, carnudas e deliciosas é o seu denominador comum.

A vereadora Alcina Cerdeira destaca a importância do património rural na estratégia municipal de apoio ao desenvolvimento rural sustentável. Os percursos sugeridos e os locais apontados para visita constituem um convite irrecusável para actividades turísticas e culturais ligadas à natureza.

Tópicos recolhidos por Carlos Ribeiro

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12 13ACTIVIDADES AGRÍCOLASACTIVIDADES AGRÍCOLAS

IMPACTO DA REGACONTÍNUANA SEQUESTRAÇÃO DO CARBONO DOS SOLOS

Com a entrada em funcionamento de vários projectos hidroagrícolas, já concluídos ou em fase de conclusão, pensa-se que até 2020 a área regada em Portugal passe dos actuais 110.000 ha para cerca de 230.000 ha. O regadio, essencial para que os agro-sistemas mediterrânicos possam exprimir todo o seu potencial produtivo pode, dependendo das técnicas e sistemas culturais utilizados, contribuir para uma degradação sensível dos solos, conduzindo a problemas de sustentabilidade que se manifestam por um decréscimo acentuado da sua fertilidade e um aumento importante do risco de erosão. Entre este problemas surge à cabeça o decréscimo no teor de matéria orgânica, já naturalmente baixo neste tipo de solo. De facto, o teor de matéria orgânica do solo, e logo a quantidade de carbono aí sequestrada, depende do balanço de dois processos antagónicos: por um lado a formação de matéria orgânica (produção primária de um ecossistema) e, por outro lado, da destruição dessa mesma matéria orgânica, processo vulgarmente designado por mineralização (2). Num ecossistema mediterrânico natural a mineralização só sofre alguma inibição durante o Verão, época em que as altas

temperaturas e a falta de água no solo impossibilitam que os microrganismos aí existentes desenvolvam a sua actividade mineralizadora em pleno. Com a adição artificial de água durante o fim da Primavera e Verão, através do regadio, esta inibição à actividade microbiana desaparece e então passamos a ter uma mineralização contínua, e eventualmente acelerada, da matéria orgânica, em virtude da optimização das condições do meio para este processo (4).É inegável que se o regadio favorece a mineralização também favorece a produção de biomassa, fazendo variar no mesmo sentido os dois processos antagónicos que anteriormente referimos, contudo, e de acordo com os resultados obtidos por diversos autores, no clima mediterrânico, o processo de mineralização é particularmente favorecido relativamente com o que acontece com o processo de produção de biomassa, conduzindo necessariamente a um decréscimo nos teores deste importante componente do solo e logo da quantidade de carbono sequestrado neste tipo de ecossistema.Este aspecto é particularmente grave, sendo do conhecimento geral que o protocolo de Quioto, assinado por

José Manuel R. NunesC3I’s – Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação. Instituto Politécnico de Portalegre e UIQA – Unidade de Investigação Química Ambiental. Instituto Superior de Agronomia, Lisboa

Luís Loures C3I’s – Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação. Instituto Politécnico de Portalegre.

Antonio López-PiñeiroÁrea de Edafología y Química Agrícola. Universidad de Extremadura. Badajoz, Espanha.

1. Introdução

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14 15ACTIVIDADES AGRÍCOLASACTIVIDADES AGRÍCOLAS

Portugal, prevê uma redução efectiva das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, havendo uma forte vontade de incrementar o sequestro de carbono como forma de mitigar os efeitos do aumento das emissões deste gás devidas, principalmente, a um processo de industrialização nem sempre bem conduzido do ponto de vista ambiental.Foi com o objectivo de analisar o efeito do regadio nos teores de matéria orgânica presentes nos diferentes tipos de solo, representativos da maioria dos ecossistemas mediterrânicos, e a influência desta prática cultural na quantidade de carbono sequestrada no solo, que desenvolvemos o presente trabalho.

Recolhemos de forma georreferenciada 14500 amostras dos solos contidos no Perímetro de Rega do Caia (PRC – 12500 ha) – Elvas – Portugal (Figura 1). Utilizando Sistemas de Informação Geográfica foi-nos possível associar cada uma destas amostras a situações de sequeiro, regadio há menos de 15 anos, regadio por um período entre 15 e 25 anos e regadio há mais de 25 anos (quadro 1). Foi-nos igualmente possível associar as diferentes amostras a um dos tipos de solo mais frequente nos Ecossistemas Mediterrânicos (Fluvissolos, Luvissolos, Calcissolos, Vertissolos, Regosssolos e Cambissolos). As amostras de solo foram então uniformemente misturadas em grupos de 10, correspondendo a uma mesma realidade cultural (sistema cultural e tipo de solo), e em cada uma dessas amostras foi analisado o teor de carbono orgânico utilizando o método de oxidação por via húmida (1). Considerando uma densidade média aparente dos solos de 1,2 (3), calculou-se então a quantidade de carbono orgânico existente por m2 nos 20 cm superficiais do solo. Nos solos de

regadio analisou-se ainda a influência que diferentes culturas aí praticadas na quantidade de carbono orgânico existente no solo.

Dos resultados obtidos podemos verificar que o regadio conduz, para a maioria dos grupos de solos, nas condições mediterrânicas, a decréscimos significativos nos teores de carbono orgânico sequestrado no solo (quadro 2), particularmente evidentes nos solos dos grupos Fluvissolos (decréscimos de 33% entre as parcelas em sequeiro e as parcelas em regadio há mais 25 anos) e Calcissolos (decréscimos de 21% entre as parcelas em sequeiro e as parcelas em regadio há mais 25 anos). Estes

valores tornam-se particularmente preocupantes se fizermos as contas à quantidade de carbono orgânico perdido por ha, unidade de medida geralmente utilizada quando se trata de áreas de utilização agrícola. Assim, se compararmos uma vez mais as parcelas mantidas em sequeiro com as parcelas em regadio há mais 25 anos, podemos verificar que tal representa uma perda de carbono orgânico a partir do solo de 6.8, 3.1 e 5.2 Mg ha-1 para os solos dos grupos Fluvissolos, Luvissolos e Calcissolos, respectivamente (quadro 2).

Este resultado deve-se ao fomento da mineralização que a adição de água ao solo proporciona, tal como havíamos referido na introdução deste trabalho. De facto quando regamos, estamos a eliminar o principal constrangimento à actividade dos microrganismos responsáveis pela mineralização do carbono orgânico, a falta de água durante o período estival e, desta forma, promovemos a mineralização, o mesmo é dizer, a destruição da matéria orgânica do solo.O decréscimo na quantidade de carbono existente no solo que se verifica em regadio é particularmente preocupante nos primeiros anos de mudança do sistema cultural, havendo a partir daí uma tendência para que a quantidade de carbono orgânico existente no solo se mantenha aproximadamente constante (quadro 2). Este último resultado é consistente com o conhecido poder tampão dos solos para as alterações da sua composição.Existe contudo, no seio dos grupos de solos analisados uma excepção à tendência geral dos resultados apresentada anteriormente. De facto, nos solos do grupo Vertissolos constata-se a existência de um resultacontrário aos demais grupos de solos, possuindo as parcelas em

regadio (só possuímos resultados para Vertissolos à regadio por um período entre 15 e 25 anos) um maior poder de sequestro de carbono que as parcelas mantidas em sequeiro. A justificação para este resultado encontra-se no facto da argila, existente em grandes quantidades nos Vertissolos, estabelecer fortes ligações com a matéria orgânica existente no solo, tendo assim a capacidade de proteger este componente do solo do processo de mineralização que, inevitavelmente, conduziria à sua destruição.

Se analisarmos agora nas parcelas em regadio, independentemente do número de anos em que se verifica esta prática cultural, o efeito das diferentes culturas aí praticadas na capacidade do solo para sequestrar carbono, verificamos que existe uma clara tendência, estatisticamente significativa no caso dos solos do grupo Fluvissolos, para serem as culturas que consomem mais água, em que portanto o teor de água no solo é geralmente mais elevado, a apresentarem as menores concentrações de carbono orgânico (quadro 3).

MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE

ESTUDO

3. Resultados e Discussão

2.Delineamento Experimental

QUADRO1

Número de locais de amostragem em cada um dos binómios solo - sistema cultural

Tipos de solos Sequeiro

Regadio< 15 anos 15 a 25

anos> 25 anos

Fluvissolos 2180 2300 430 1180Luvissolos 1690 660 580 150Calcissolos 1430 70 700 100Vertissolos 150 0 100 0Regossolos 70 0 20 0Cambissolos 500 360 10 0

QUADRO 2

Influência do sistema cultural na quantidade de carbono orgânico existente no solo (kg m-2)

Tipos de solos Sequeiro

Regadio< 15 anos 15 a 25

anos> 25 anos

Fluvissolos 2.06 c 1.70 b 1.39 a 1.38 aLuvissolos 1.99 b 1.95b 1.68 a 1.68 aCalcissolos 2.45 c 2.44 c 2.06 b 1.93 aVertissolos 2.05 a -- 2.14 b --Regossolos 1.63 -- -- --Cambissolos 2.01 b 1.64 a -- --

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17MUNDO ANIMAL16 ACTIVIDADES AGRÍCOLAS

QUADRO 3

Influência da cultura praticada em regadio na quantidade de carbono orgânico existente no solo (kg m-2)

Com efeito são os solos ocupados pela cultura do tomate (parcelas em que o tomate aparece como cultura mais importante numa rotação de 3 ou 4 anos) a apresentarem, para quaisquer dos grupos de solo em análise, o menor teor de carbono orgânico (quadro 3). Esta cultura, caracterizada por um elevado consumo de água, aproximadamente 8.000 m3 ano-1, não deixa praticamente resíduos orgânicos no solo, à excepção das raízes, o que conduz inevitavelmente a um empobrecimento do solo neste importante componente. Segue-se, entre as culturas de regadio que nitidamente conduzem a um menor sequestro de carbono no solo, o milho. Esta cultura, igualmente consumidora de elevados volumes de água (8.000 a 10.000 m3 ano-1), cultivada principalmente em monocultura, possui inclusive um ciclo ligeiramente mais longo que o tomate, o que conduziria a uma maior mineralização no carbono orgânico do solo, acontece que, ao contrário desta última cultura, o milho deixa alguns resíduos orgânicos no solo (palha, que não possui valor económico relevante, e as raízes), mitigando assim parte do seu efeito negativo sobre o sequestro de carbono no solo.No polo oposto temos culturas como o trigo ou o olival que ao utilizarem volumes de água muito inferiores na sua rega (cerca de 2.000 a 3.000 m3 ano-1) e sobretudo no caso do trigo que por ter um ciclo vegetativo que termina

em finais de Junho não é sujeito a regadio durante o Verão, conduzem a um menor aumento da mineralização da matéria orgânica, levando assim a que a quantidade de carbono orgânico sequestrado no solo seja superior ao que se pode contabilizar para as demais culturas de regadio.De entre os resultados obtidos para as várias culturas de regadio, salienta-se ainda o resultado referente à cultura do girassol (rotações em que o girassol é cabeça de rotação e em que geralmente é cultivado de forma intercalada com cereais praganosos de Outono/Inverno). De facto, sendo uma cultura com baixo consumo de água (2000m3 ano-1) e pouco exigente em operações culturais, seria expectável que fosse das que menos propícia a mineralização e portanto mais contribuiria para o sequestro de carbono no solo. Este resultado contudo não se verifica, devendo-se quanto a nós ao facto do girassol ser uma cultura de baixo rendimento económico, sendo geralmente colocado em terrenos marginais (terrenos mais pobres dentro dos vários grupos de solos), logo entre os mais pobres e com menores teores de carbono orgânico no solo, conduzindo assim a este resultado que se prende, na nossa opinião, mais com as características intrínsecas dos próprios solos em que o girassol é geralmente cultivado, do que com o efeito desta cultura sobre o teor de matéria orgânica do solo.

4. Conclusões1. O regadio conduz, para a maioria dos grupos de solos com representatividade nos ecossistemas mediterrânicos, a uma diminuição significativa nas quantidades de carbono orgânico sequestrado no solo. Esta diminuição na quantidade de carbono orgânico sequestrado no solo provocada pelo regadio é dependente do grupo de solos em análise, sendo particularmente evidente nos solos dos grupos Fluvissolos e Calcissolos. No caso dos Vertissolos o resultado obtido é o oposto, devido a uma protecção da matéria orgânica contra o processo de mineralização promovida pela argila existente neste grupo de solos em grande quantidade; 2. O efeito do regadio no decréscimo da quantidade de carbono orgânico sequestrado no solo é particularmente importante nos primeiros anos desta prática, tendendo depois a atenuar-se; 3. São as culturas de regadio que usam maiores volumes de água de rega e cujo ciclo se prolonga mais ao longo do Verão que conduzem a uma diminuição mais evidente nas quantidades de carbono orgânico sequestrado no solo.

Bibliografia 1. Nelson, D. W & Sommers L. E. 1996. Total C, organic C and organic metter. In. Methods of soil analysis. Soil Science Society of America Book Series Nº 5, Part 3 - Chemical methods. D. L. Sparks; A. L. Page; P. A. Helmke; R. H. Loeppert; P. N. Soltanpour; M. A.Tabatabai; C. T. Johnston and M. E. Sumner. Eds. Soil Sience Society of America- America Society of Agronomy Publ. Madison, Wisconsin, USA. pp. 961-1011 2. Nunes, J. M. 2003. Los Suelos del Perimetro Regable del Caia: tipos, fertilidad e impacto del riego en sus propriedades químicas. Tesis Doctoral. Facultad de Ciencias da Universidad da Extremadura. Espanha 3. Santos, J. Q. 2003. Fertilização e Poluição. Joaquim Quelhas dos Santos Eds.. Lisboa, Portugal. 192 p. 4. Verennes, A. 2003. Produtividade dos solos e ambiente. Escolar Editora Eds. Lisboa. 490 pp.

CulturaTipos de solo

Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Milho 1.68 abc 1.68 a 2.06 a 2.09 a -- 1.61 aTrigo 2.06 cd 2.32 a 2.32 a -- -- --Beterraba 1.75 bc 1.81 a 2.14 a -- -- --Olival 2.31 d 2.39 a 2.23 a -- -- 1.87 aGirassol 1.45 ab 1.81 a 1.96 a -- -- 1.50Tomate 1.18 a 1.74 a 1.89 a -- -- --

CONSTRANGIMENTOS E OPORTUNIDADES NA PRODUÇÃO DA CARNE DE BOVINO: O CASO DA RAÇA MIRANDESA

O Reg CEE 2081/1992 criou uma possibilidade para a diferenciação da carne no mercado. Com a exploração das menções protegidas, os agrupamentos de produtores passaram a ter não só a oportunidade, mas também a responsabilidade, do seu uso porque a generalidade das menções apresentavam uma associação direta não só à região de produção, mas também, ao nome de uma raça.A Carne Mirandesa é uma Denominação de Origem Protegida (DOP) dos animais de raça Mirandesa, da categoria vitela e novilho, produzidos numa pequena região do Nordeste de Portugal. Na região de produção da DOP existem cerca de 400 criadores que exploram um efetivo de 4000 vacas de raça Mirandesa, do total de 5500 vacas que constituem a população desta raça.A organização social dos bovinos de raça Mirandesa integra duas organizações. Uma de cariz sócio profissional, que gere o Livro Genealógico e promove um serviço de

extensão junto dos criadores com o objectivo de promover a conservação/melhoramento genético, e outra de natureza sócio económica, Cooperativa, que constitui o Agrupamento de Produtores da Carne Mirandesa. As duas organizações representam os interesses de um conjunto muito significativo de criadores comuns. O Agrupamento de produtores foi reconhecido no ano de 1995 e, nos últimos anos, tem colocado no mercado a oferta de vitelos desmamados destinados à fileira da carne.No passado, os bovinos de raça Mirandesa desempenharam um papel fulcral nos sistemas de exploração de vastas regiões do território nacional graças à sua notável aptidão para a tração animal, em especial das vacas. No presente, afigura-se que a conservação da população destes bovinos esteja associado à qualidade da sua carne e à boa governação que os criadores e as suas organizações sociais façam da menção protegida que lhes foi confiada.

Fernando Jorge Ruivo de SousaInstituto Politécnico de Bragança – ESA – CIMO

1. Introdução

Nota: Numa dada coluna, os valores seguidos de uma mesma letra minúscula não diferem significativamente entre si (p<0.05).

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18 19MUNDO ANIMALMUNDO ANIMAL

Uma marca decompõe-se na essência em três vectores fundamentais: o produto, a imagem e o serviço.

O produto

Em relação à carne, identificam-se três factores determinantes para a sua diferenciação enquanto “produto”: a genética, normalmente associada à raça; a alimentação a que os animais são sujeitos e, por fim, as práticas de maneio, (3).

Os principais constrangimentos que se associam à raça na atualidade são a consanguinidade e esta, por sua vez, está dependente da dimensão da população e, de forma particular, às práticas de emparelhamento praticadas pelos criadores. Os efeitos da depressão da consanguinidade têm sido observados na raça Mirandesa, quer no desempenho reprodutivo, idade ao primeiro parto e intervalo entre partos, quer no desempenho produtivo, acréscimo de peso vivo entre o nascimento e desmame (3). A mudança de atitude nas práticas de emparelhamento impõe-se como uma necessidade e a utilização do Índice de Conservação Genética afigura-se como um precioso auxiliar para alcançar este objectivo. Por outro lado, a notoriedade da carne exige uma atenção permanente na recolha de informação zootécnica que possa ser integrada no plano de seleção genético tendo em vista a manutenção/melhoria da qualidade da carne. Com isto, importa melhorar a conformação

e composição qualitativa da carcaça, mas que tal não afecte a qualidade da carne.O que os animais comem é determinante para a qualidade da carcaça e da carne. São vários os estudos na raça Mirandesa que comprovam que a alimentação afecta a qualidade não só da carcaça mas especialmente da carne. O produto estrela da DOP Carne Mirandesa é a vitela que é sacrificada ao desmame (idade inferior a 240 dias). Para os produtores, o objectivo assenta na obtenção de um vitelo que ao desmame tenha o máximo peso possível. Para tal, durante o período de criação, este é alimentado com leite materno, forragens conservadas e alimentos compostos. Ao longo de gerações a carne Mirandesa sedimentou a sua notoriedade graças a práticas de alimentação que se consubstanciaram na gestão sustentável das pastagens naturais e dos recursos naturais disponíveis na exploração. Mais recentemente, graças à oportunidade de acesso ao

O VALOR DE UMA MARCA

mercado que a Menção Protegida criou e, às políticas de apoio da UE, os sistemas evoluíram e passaram a depender de forma significativa de culturas forrageiras e da aquisição de cereais. A globalização, as alterações climatéricas e o desenvolvimento de países do terceiro mundo conduziram ao aumento de custo dos factores de produção. Os combustíveis, adubos e cereais estão hoje mais caros e põem em causa a sustentabilidade dos atuais sistemas de alimentação. A alternativa às atuais práticas passarão, a continuar a atual tendência dos preços dos fatores de produção, pela recuperação de práticas ancestrais. Assim, é expectável e desejável que no sistema de produção se observe um aumento da importância da componente pastagem, uma gestão sustentável da fertilidade do solo, nomeadamente através da instalação/melhoria de pastagens e a optimização das práticas de gestão com destaque para o pastoreio rotacional.As práticas de maneio representam uma componente fulcral para a eficiência do sistema de produção. De entre todas, destacaremos as que, do nosso ponto de vista, têm maior maior impacto sobre a qualidade do produto final, o vitelo desmamado.A condição corporal das vacas ao parto é um dos “handicaps” que condiciona quer a eficiência reprodutiva quer o peso vivo ao nascimento e a evolução de peso vivo dos vitelos, durante os primeiros meses de vida. Quanto mais pesados e vigorosos os vitelos forem ao nascimento, melhor será o seu peso vivo ao desmame. Frequentemente, as vacas chegam ao parto magras, em especial nas explorações onde o touro as acompanha permanentemente e desta forma o criador não controla a época de partos. O fim do Inverno é um dos períodos mais críticos, porque os partos na raça têm maior expressão na Primavera. No Inverno, a alimentação das vacas tende a ter uma forte componente de forragens

conservadas e por vezes cereais, são caras, escassas e os criadores tendem a racioná-las. Todas as medidas que se possam introduzir que favoreçam as vacas para atingirem o parto com uma condição corporal favorável, “limpas” o mesmo é dizer, sem estarem gordas mas que não estejam magras, é desejável porque com a Primavera, período de abundância de pastagem, poderão manter e até recuperar condição corporal.O maneio dos vitelos durante o período de criação. Os vitelos que permanecem no estábulo são mais pesados ao desmame, por oposição aos que acompanham as mães, em pastoreio, durante o período de criação. A tendência recente para o aumento da dimensão dos efetivos e a permanência das vacas por períodos mais longos em pastoreio levou a que um número significativo de criadores deixasse de manter os vitelos, no período de criação, em estabulação. Esta prática tem contribuído para que os vitelos atinjam o desmame com um peso vivo mais baixo e com um nível de acabamento insuficiente para que possam ser abatidos. Neste domínio, temos observado que é fácil o maneio dos vitelos e que se podem introduzir alterações na organização da exploração por forma a que, ao fim do dia, as vacas recolham e se juntem aos filhos em abrigos/estábulos. Os vitelos, que ficam na tranquilidade do abrigo/estábulo podem ser adequadamente suplementados por forma a maximizar o seu potencial de crescimento.

A Imagem

Quando nos referimos à carne de bovino, e em particular à Carne Mirandesa DOP, qualquer consumidor associa imediatamente este produto a uma imagem de marca, como um conceito global de qualidade que se sustenta numa criação tradicional, uma imagem muito clara do campo,

onde um vitelo de raça autóctone mama na mãe e é abatido ainda jovem para produzir uma carne, cuja qualidade incomparável, tenrura e sabor é apreciada.Para além doutras considerações económicas, industrias e legais, convém ter a percepção que é essa criação tradicional, protagonizada por muitas pequenas explorações familiares, que têm “construído” essa imagem de marca, constitui um factor de importância social e económica: explorações ligadas à terra desde os tempos ancestrais, que permitiram manter o melhor de uma tradição pecuária que em conjunto com o desenvolvimento da genética e da tecnologia reprodutiva, nos têm permitido oferecer uma carne produzida de modo tradicional, com as garantias sanitárias e, com o nível de qualidade exigida pelo consumidor.

O serviço

Cada vez se torna mais necessário comunicar ao consumidor os aspectos técnicos mais importantes que intrinsecamente o produto tem, porque através do seu conhecimento, adquire a competência para comparar e eleger, para, em definitivo, aceitá-lo melhor como a opção idónea da satisfação do gosto, a satisfação da aceitabilidade e a garantia do seguro, são e natural. Esta componente normalmente vem associada ao serviço quando este, para além da rastreabilidade logística, integra a componente produto e de comunicação interativa com os consumidores (1).Os bovinos desta raça têm Livro Genealógico formalmente instituído através da Portaria 17132, de 22 de Abril de 1959. A identificação animal é uma componente fundamental para todos os atores que interagem na fileira da carne de bovino. No caso do Livro Genealógico constitui a garantia

Factores determinantes da qualidade da carne.

MANEIO

RAÇA

ALIMENTAÇÃO

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20 21MUNDO ANIMALMUNDO ANIMAL

da integridade da informação nele constante que tem por principal objectivo servir de base ao processo de conservação e melhoramento genético de uma raça. A utilização da identificação com recurso a marcadores genéticos permite, ao Livro genealógico, clarificar as situações de perda de identidade, ascendência duvidosa ou até a prática da fraude. Na essência, credibiliza a informação quando o objectivo em causa é a gestão genética de uma população.No ano de 2000, a organização que gere o Livro Genealógico decidiu que todos os animais que se inscrevessem no Livro de Adultos passariam a ser identificados também com recurso a marcadores genéticos (STRs). Com esta estratégia pretendia-se que toda a população de reprodutores passasse a estar identificada num prazo de 12 anos (Figura 2).

Através desta estratégia, a organização visou, por um lado, garantir a idoneidade e integridade de informação que constava no Livro genealógico e, por outro lado, dar garantia á fileira da DOP Carne Mirandesa, em especial aos consumidores, da genuinidade do produto que adquiriam/consumiam. Desta forma, além de melhorar o nível de acreditação da carne junto dos consumidores, o Livro genealógico, procurou melhorar também o nível de segurança da informação que

recolhia sobre a própria raça. Para a fileira da carne, a utilização deste sistema de rastreabilidade permite, não só identificar a raça mas também o animal produtor e, através deste, o produtor, possibilitando a identificação do produto ao longo da fileira nos diferentes atores que intervenham no processo. A fileira da carne de bovino, caracteriza-se por uma grande diversidade e versatilidade de modelos. Vai da situação mais simples, em que o produtor se relaciona com o consumidor final, até situações em que, ao longo da fileira, interagem um elevado número de atores. Nalgumas situações, nas regiões marginais e onde os produtores não estão organizados, sempre há um ou outro interveniente que pouco ou nenhum valor acrescenta (Figura 3).

A diferenciação que a utilização da menção protegida proporcionou criou a oportunidade de os produtores, cada vez mais longe dos consumidores, poderem “comunicar” com estes sem o filtro dos diferentes atores que intervêm na fileira nomeadamente da indústria/comércio (Figura 4). Esta comunicação é tanto mais efetiva quanto mais desenvolvido estiver, e idóneo for, o sistema de rastreabilidade. A rastreabilidade, enquanto capacidade de detectar a origem e de seguir o rasto ao longo de todas as fases da produção, transformação e distribuição de um produto/matéria-prima (Reg CEE 178/2002), normalmente descrita como rastreabilidade logística, possibilitou o desenvolvimento de sistemas de comunicação interativos entre todos os intervenientes na fileira, com especial destaque para os consumidores.

Figura 2 Identificação de uma reprodutora com recurso a marcadores genéticos e a comprovação da ascendência

À medida que os consumidores se foram distanciando dos produtores, aumentou a necessidade dos primeiros em acederem a mais informação sobre os produtos e, neste contexto, assume maior importância a dimensão acreditada relativamente à dimensão evidenciada e experimentada. A percepção da qualidade torna-se essencialmente uma questão de comunicação.Por outro lado, a valorização da

comunicação interativa é muito importante para a fidelização dos consumidores porque é através dela que os produtores têm a oportunidade de desenvolver estratégias eficientes que confiram competitividade qualitativa ao produto. É através da comunicação interativa ao longo de toda a cadeia que se identificam os erros, fraquezas, perigos e, também, as potencialidades que proporcionam as oportunidades de optimização do valor.

Figura 3. Atores que intervêm na fileira da carne de bovino

Figura 4. Relação dos produtores com os consumidores, com e sem o filtro da indústria (2).

OS DESAFIOS DO FUTURONum mundo onde a globalização do mercado é uma realidade, os bovinos de raça Mirandesa, à semelhança de outras pequenas populações de bovinos em risco de extinção, enfrentam grandes desafios para a sua sobrevivência.O consumidor, concentrado em mega cidades, tem acesso, em tempo útil, a produtos com origem nas antípodas, que por força de factores de produção estruturais ou conjunturais lhe são oferecidos a preços muito competitivos e, cada vez mais, com níveis de qualidade que satisfazem as necessidades e desejos de segmentos significativos da população, o que se traduz em desafios à persistência das pequenas produções das nossas raças autóctones. No tempo que vivemos, afigura-se-nos importante a continuação da recolha e valorização de informação zootécnica de interesse económico e o fortalecimento e fidelização dos parceiros da fileira da carne da DOP, com especial focalização para os consumidores, que valorizam de forma muito significativa os factores intangíveis da qualidade. Neste contexto, a estratégia na Mirandesa deve assentar em três princípios fundamentais: qualificação dos recursos, dos produtores à estrutura organizativa e parceiros da fileira; progressão na cadeia de valor e inovação como forma de garantir a competitividade dos produtos da raça; prossecução de um comportamento ético, responsável e transparente porque do recurso que administra, os bovinos de raça Mirandesa, só lhes assiste o direito do usufruto.

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23FLORESTA22

A ALELOPATIA E O SEU POTENCIAL EM AGRICULTURA

Os metabolitos secundários de plantas estão distribuídos em grande número de família botânicas, muitos deles apresentando actividade antimicrobiana, como é o caso dos alcalóides que conferem sabor amargo às plantas. A actividade biológica de compostos secundários presentes em extractos de plantas ou em óleos essenciais constitui mais uma ferramenta no controlo de pragas e doenças das plantas, na preservação de alimentos e em saúde pública. Trabalhos desenvolvidos com extracto bruto ou óleo essencial obtidos a partir de plantas medicinais, têm indicado o seu potencial no controlo de fitopatógeneos, tanto por sua acção fungitóxica directa, inibindo o crescimento micelial e a germinação de esporos, quer pela sua indução de fitoalexinas (compostos produzidos pelas plantas como defesa). As plantas libertam para o solo compostos que alteram a rizosfera dos solos, o que pode influenciar a assimilação de nutrientes, a interacção entre plantas da mesma espécie, ou de espécies diferentes, e a interacção entre microrganismos e entre estes e as plantas. A alelopatia envolve um conjunto de interacções entre plantas, a nível da parte aérea e a nível das raízes (rizosfera), consideradas de

um modo geral como negativas, uma planta pode inibir o desenvolvimento de outra ou outras plantas de espécies diferentes vizinhas. Alelopatia corresponde ao efeito das substâncias químicas libertadas, para o meio, por uma determinada espécie de planta, que pode influenciar outras espécies na sua vizinhança. Estes produtos são compostos do tipo alcalóides, isoprenóides, compostos fenólicos, flavonóides, e terpenóides, gluconolatos, etc. Os aleloquímicos estão presentes em praticamente todos os tecidos da planta, incluindo folhas, flores, frutos, caules, raízes, rizomas, sementes e pólen. Os designados aleloquímicos são compostos libertados pelas plantas, normalmente a nível da parte subterrânea e que vão interferir com os outros organismos presentes no solo e podem exercer efeitos tóxicos aditivos ou sinérgicos. O comportamento invasor de muitas espécies vegetais exóticas, para além de falta dos seus inimigos naturais e das suas diversas estratégias reprodutivas, deve-se à sua produção de compostos alelopáticos. Broz e Vivanco (2006)(1) estudaram o fenómeno Centaurea maculosa, planta com comportamento invasor nos EUA, infestando mais de 4,5 milhões de hectares em Montana, onde surge em densa monocultura.

Natália Gaspar Instituto Politécnico de Santarém

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24 25FLORESTAFLORESTA

Esta planta é originária da Europa, onde não tem este comportamento. As plantas autóctones por não terem evoluído em conjunto com esta espécie introduzida são sensíveis às suas fitotoxinas às quais ainda não se adaptaram. Os exsudados obtidos exibiram, inibições de germinação e o desenvolvimento em diversas espécies de plantas. O metabolito principal encontrado nestes exsudados é catequina, um composto fenólico. As plantas resistentes à catequina aparentam possuir mecanismos de detoxificação das catequinas. Em contraste com o aspecto negativo para biodiversidade e para a agricultura das espécies com comportamento invasor, as culturas alelopáticas oferecem forte potencial para o desenvolvimento de cultivares que exibem características de resistência às infestantes.

Alelopatia nos cereaisA alelopatia tem sido objecto de inúmeras publicações científicas. A FAO em 2003, produziu um folheto informativo dedicado à importância da alelopatia no melhoramento de novas cultivares (5). Os cereais por serem a base de alimentação humana, tem sido estudados por diversos autores no sentido de se obterem cultivares mais competitivas com as infestantes. No quando 1 indicam-se os principais compostos aleloquímicos produzidos por diversas espécies de cereais.

Os aleloquímicos do trigo foram objecto de um projecto internacional, promovido pela Comissão Europeia, para estudar a nível da química/ecologia - FATEALLCHEM (“Fate and toxicity of allelochemicals (natural plant toxins) in relation to environment and consumer”).Têm sido publicados diversos trabalhos relativos a alelopatia em trigo. Genes ligados à alelopatia foram detectados, contudo os compostos alelopáticos parecem contribuir para uma pequena parte da variação fenotípica. Os efeitos alelopáticos no trigo são devidos a uma flutuação de uma mistura de duas categorias de fitotoxinas – ácidos fenólicos e benzoxazinoides. Muitas espécies de Sorghum produzem a nível da raiz compostos hidrofóbicos, designados por sorgoleone, a principal fonte de alelopatia do sorgo. Sorgoleone actua in vitro a nível da fotossíntese (actividade do PSII), inibe a função mitocondrial e actua na enzima p-hidroxifenilpiruvato dioxigenase. O facto de ter muitos pontos de acção é um factor importante para evitar resistências das espécies alvo. A manipulação da via de síntese em sorgo, ou transferência de todo ou em parte do caminho para as cultivares de sorgo seleccionadas pode resultar em cultivares com alelopatia reforçada. Actualmente, não existem cultivares comerciais disponíveis com propriedades alelopáticas. No entanto existem progressos significativos nos métodos de selecção, na identificação de compostos aleloquímicos específicos e genes relacionados que podem ser usados em programas de melhoramento.Na gestão das infestantes, pela diversidade de factores intervenientes, alelopatia terá de ser aliada a outras práticas para uma melhor eficácia. Uma redução no uso de herbicidas é urgente para benefício dos agricultores, do meio ambiente e dos consumidores.

ALELOQUÍMICOS PRODUZIDOS POR CEREAIS

Cultura Aleloquímico Referência

Hordeum vulgare Hordenina, benzoxazinonas Lovett et al. 1994 (7)

Avena sativa Acidos fenólicos Fay e Duke, 1977 (4)

Oryza sativa Momilactona B Dilday et al. 2001(2); Kong et al. 2002 (6)

Secale cereale Benzoxazinonas Perez e Ormeno-Nunez 1991 (8)

Sorghum spp. Sorgoleone, dhurrin Weston, 2003 (9)

Triticum aestivum Benzoxazinonas Wu et al. 2000a e 2000b (10;11)

NOTAS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DAS CULTIVARES DE CITRINOS

Em Portugal, nos últimos anos, temos assistido a uma grande confusão quanto ao uso da palavra tangerina e à denominação deste grupo de citrinos. É frequente ouvir falar de “pequenos citrinos”, em referência ao grupo e usar a palavra “tangerina” para designar apenas uma parte das tangerinas. Tal terminologia é claramente incorrecta. Embora as tangerinas sejam normalmente menores que as laranjas, há citrinos de calibre bastante inferior ao das tangerinas, como é o caso dos cunquatos (género Fortunella). Há um elevado número de características que estão presentes em quase todas as tangerineiras (ver caixa) mas o grupo de espécies apresenta uma grande variabilidade que faz com que se subdivida em diversos grupos de cultivares (considerados ou não, como espécies autónomas).A dificuldade da classificação dos citrinos é especialmente manifesta no caso das tangerineiras. Dois dos principais cientistas que estudaram a sistemática dos citrinos estão

de acordo quanto à existência deste grupo de espécies mas diferem quanto à sua subdivisão. Walter Swingle agrupa todas as tangerinas em 3 espécies; Tyozaburo Tanaka classifica as tangerineiras em 36 espécies. Apesar de algumas dessas espécies terem sido originadas por hibridação, elas são hoje consideradas por muitos autores como espécies autónomas. Além dessas espécies, há muitos híbridos que produzem frutos do tipo tangerina e que surgiram mais recentemente, de forma espontânea ou no âmbito dos programas de melhoramento genético. Alguns desses híbridos não são propriamente tangerineiras, já que resultam do cruzamento entre tangerineira e laranjeira, toranjeira ou outro citrino. Isso justifica que, ao nome de “tangerineiras”, se junte “e seus híbridos”. Mesmo assim, não é errado designar o grupo apenas como “tangerineiras”, dado que todas produzem frutos do tipo tangerina e que a origem não é determinante na classificação das cultivares. Vejamos então quais as subdivisões deste grande grupo.

Amílcar DuarteProfessor Auxiliar da Universidade do AlgarveInvestigador do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientas Mediterrânicas

(continuação)3. Tangerineiras e seus híbridos

25ACTIVIDADES AGRÍCOLAS

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26 27ACTIVIDADES AGRÍCOLASACTIVIDADES AGRÍCOLAS

Tangerineira do Mediterrâneo (Citrus deliciosa Tenore)As tangerineiras desta espécie são árvores de tamanho médio, crescimento lento e vigor médio. Têm muita tendência à alternância de produções. As folhas são pequenas e têm umas glândulas de óleo essencial muito especial que confere às folhas um cheiro característico que, por isso, se chama”cheiro de tangerineira do Mediterrâneo” ou “cheiro de tangerineira comum”. Isto porque esta espécie também é chamada de “tangerineira comum”. Procuramos evitar essa designação porque o termo “comum” conduz frequentemente a equívocos. O que é comum numa região não é comum noutra. Por essa razão, a designação de “tangerineira comum” usada entre nós para esta espécie é utilizada noutras zonas do mundo para designar outras espécies de tangerineira, mas comuns nesses países. Os frutos são tangerinas típicas: achatadas, descascam-se facilmente, etc. O sabor dos frutos está bem definido no nome científico da espécie (C. deliciosa). Habitualmente, o fruto tem muitas sementes, de cor verde. Em Itália foram obtidas algumas cultivares de frutos sem sementes (com poucas sementes): Avana apireno.Em Portugal, esta espécie está representada pela tangerineira “Setubalense”. No Brasil, há várias cultivares de tangerineira deste grupo, designadas genericamente

como “mexericas”. A mais importante é a ‘Mexerica do Rio’.

Satsumas (Citrus unshiu (Mak) Marc.)A tangerineira Satsuma teve a sua origem no Japão e é cultivada sobretudo neste país. Ela substituiu outras tangerineiras, devido a ser mais temporã, mais resistente ao frio, mais produtiva e com frutos de melhor qualidade, nomeadamente, sem sementes. A expansão da citricultura japonesa que teve lugar a partir de 1950 foi feita com esta tangerineira. Hoje, no Japão, existem mais de 100 cultivares e clones de Satsuma.Em Espanha encontramos várias cultivares deste grupo (‘Owari’, ‘Clausellina’, ‘Hashimoto’, ‘Okitsu’ e outras). Em Portugal também encontramos estas cultivares, embora elas não tenham tido grande expansão no nosso país.

Clementinas (Citrus clementina Hort. ex. Tan.)A primeira clementina foi detectada num pomar do orfanato agrícola de Misserghim, próximo de Orán, na Argélia. O nome de clementina é uma homenagem ao padre Clement Rodier, director desse orfanato e que foi quem descobriu esta nova cultivar.Todas as clementinas provêm directa ou indirectamente dessa clementina.

Hoje existe um amplo leque de clementinas que permitem ter este tipo de frutos no mercado durante vários meses. As mais temporãs são as clementinas do grupo “Bekria” (marroquinas), constituído pelas cultivares ‘Bekria’ e ‘Cl. Georges Pourreyron’. Temos depois, por ordem de maturação, as clementinas supertemporãs (‘Loretina’, ‘Marisol’, ‘Oronules’ e ‘Clemenrubí’), as temporãs (‘Oroval’ e ‘Esbal’), as de meia-estação (‘Clementina Fina’, ‘Clementina Beatriz’, ‘Orogrande’, ‘Nules’, e outras), e as serôdias (‘Hernandina’, ‘Clementard’, ‘Nour’, etc.).

• A árvore é muito resistente ao frio. A resistência do fruto depende do teor de sólidos solúveis e da espessura da casca;• As folhas têm os pecíolos ligeiramente alados;• As nervuras são salientes em ambas páginas da folha;• Ou não têm espinhos ou estes são muito pequenos;• A flor costuma ser pequena;• O fruto costuma ser menor que as laranjas;• Os frutos têm uma forma achatada;

• Tanto a casca como os gomos, separam-se com facilidade;• O eixo central do fruto costuma desfazer-se. O fruto fica oco no centro;• Nas cultivares que produzem frutos com sementes, estas costumam ter os cotilédones de cor esverdeada;• As tangerineiras variam muito o seu comportamento vegetativo e as características do fruto, conforme a zona onde se cultivam. Essa variação é maior que nas laranjeiras.

Características comuns das tangerineiras:

Características gerais das clementinas:

• As árvores costumam ser de tamanho médio a grande;• As folhas são arredondadas na base, o que as distingue facilmente das Satsumas;• Os frutos têm as caracterís-ticas gerais das tangerinas, nomeadamente, descascam-se bem;• Os frutos habitualmente não têm porque são autoincompatíveis. O saco embrionário é viável e o pólen é fértil. É um caso de incompatibilidade genética e não mecânica. Quando polinizadas por outros citrinos, produzem frutos com sementes. As sementes são monoembriónicas.

Outras tangerineirasExistem outras espécies de tangerineira que são importantes neste ou naquele país mas que não têm qualquer importância económica em Portugal. A tangerineira Dancy (Citrus tangerine Hort ex Tan) é cultivada em regiões quentes (Florida, México, etc.) mas não é cultivada na bacia do Mediterrâneo. A tangerineira King (Citrus nobilis Loureiro) também não é cultivada em Portugal mas é muito usada para a obtenção de híbridos, sobretudo se se pretende obter cultivares serôdias.A tangerineira Poncã (Citrus reticulata Blanco) produz frutos de grande calibre. É cultivada nos países orientais mas também no Brasil.

Em cada uma destas espécies, o número de cultivares é relativamente reduzido, sendo por vezes tratadas como uma cultivar apenas.

Híbridos de tangerineiraEste grupo agrega numerosas cultivares que resultaram de hibridação, e cujos frutos são do tipo das tangerinas. Em primeiro lugar, temos os híbridos entre diferentes tangerineiras, alguns dos quais são cultivados em Portugal. É o caso das tangerineiras ‘Encore’ (tangerineira do Mediterrâneo x tangerineira King), ‘Fremont’ (clementina x Poncã), e ‘Fortune’ (clementina x Dancy). Temos depois os híbridos entre tangerineiras e outros citrinos.

É o caso das tângeras (laranjeira x tangerineira). Em Portugal temos a ‘Carvalhal’ e a ‘Ortanique’ mas existem outras que, apesar de não serem cultivadas no nosso país, têm grande importância a nível mundial, como é o caso da ‘Ellendale’ e da ‘Murcott’. Em Portugal é muito raro encontrarmos tangeleiros (tangerineira x toranjeira) mas temos a tangerineira ‘Nova’ que é um híbrido entre clementina e um tangeleiro. A ‘Nadorcott’ é um híbrido entre ‘Murcott’ e um progenitor desconhecido.Quase todos os híbridos de tangerineira são auto-incompatíveis e produzem frutos sem sementes quando cultivados isoladamente. Quando sujeitos a polinização cruzada, produzem frutos com sementes, o que os desvaloriza comercialmente. Para resolver este problema, foram obtidos híbridos triplóides de tangerineira, que produzem frutos sem sementes, independentemente de serem sujeitos a polinização cruzada. Neste grupo temos as novas cultivares ‘Safor’ (IVIA TRI-2)®, ‘Avasa PRI-43’®, ‘Garbi’ (IVIA TRI-1) ® e outras que entrarão no mercado nos próximos anos.

27ACTIVIDADES AGRÍCOLAS

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28 29VINHO E BEBIDASVINHO E BEBIDAS

VINHO E MERCADOS EMERGENTESPerspectivas para o Vinho Verde1

A presente reflexão parte de um princípio muito simples: são os consumidores exigentes e conhecedores que mais apreciam e valorizam um bom vinho. É nesse sentido que se aborda o mercado dos EUA, e, em particular, o Estado da Califórnia, como destino estratégico para as exportações de VV. Com efeito, embora não descurando outros estados Americanos, consideramos que a Califórnia, pelas suas características demográficas e culturais, pode assumir

uma posição de relevo nas exportações do vinho verde. Em alguns estudos de marketing sobre o sector e em certas posições públicas de especialistas e “opinion-makers” na matéria, a posição atrás mencionada não é considerada a melhor, sugerindo-se a costa Leste dos EUA como mercado mais favorável para a exportação de vinhos nacionais. Esta posição parte do princípio que mercados como Nova York, Nova Jersey e até o Illinois são mais favoráveis, porque mais cosmopolitas, mais abertos ao exterior, com maior poder de compra e mais próximos geograficamente. A contrario, refere-se igualmente o acentuado apego que os Californianos têm pelos seus produtos, pelo que o consumo de vinhos importados dificilmente terá um impacto significativo e uma evolução positiva. Todavia, não é essa situação que os registos estatísticos demonstram, nem é essa a nossa perspectiva. Mercados evoluídos e conhecedores, com uma sólida cultura de vinho, só o são, na exacta medida em que estão abertos a novos produtos, a novas experiências, de forma constante e consistente. É exactamente para esta reflexão que o presente trabalho pretende dar o seu contributo, concorrendo assim para a valorização comercial do vinho verde.

1. A Região Demarcada dos Vinhos Verdes

A RDVV é composta por nove sub-regiões e situa-se a NW do território nacional. Do ponto de vista vitivinícola, a região apresenta hoje cerca de 25 mil viticultores, distribuídos por quase 22 mil hectares de vinha, o que evidencia o fortíssimo parcelamento (embora a distribuição estatística esconda fortes assimetrias sub-regionais). Apesar de a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) definir um conjunto de castas recomendadas e autorizadas, a região apresenta ainda hoje uma enorme multiplicidade varietal, o que se traduz em diversos tipos de vinhos. Todavia, globalmente,

são definidos e reconhecidos três tipos de produtos vínicos na região: Vinho Verde, que inclui vinho, aguardente, espumante e vinagre; Vinho Regional Minho (VRM), e; Vinho de Mesa (VM). Em termos comparativos, a produção de VV é esmagadora, pesando, na campanha de 2010/2011, cerca de 96% do vinho total produzido na região, contra apenas 4% para os VRM.Globalmente, a produção total desta região demarcada (VV mais VRM) diminuiu de cerca de 123,2 mil hl, na campanha de 1999/2000, para quase 90,5 mil hl, em 2010/11, o que traduz um decréscimo de cerca de 27%. Esta diminuição traduz, no entanto, um forte esforço estrutural de adaptação e reconversão, o qual tem permitido constituir empresas melhor dimensionadas e vinhos de qualidade superior. Traduzindo o seu peso na produção total da região, os VV registaram uma diminuição de 28% na última década enquanto os VRM mantinham praticamente os seus níveis de produção, no mesmo período. De referir, todavia, que para ambos os tipos de vinhos se verificam fortes oscilações produtivas anuais, chegando a registar-se diferenças de 46% e de 83% entre melhores e piores anos, para os VV e VRM, respectivamente. Apesar de inevitável (porque dependente de condições climatéricas, dificilmente controláveis), esta excessiva variabilidade quantitativa (e por certo, também, qualitativa), não constitui um factor favorável à afirmação dos VV, nomeadamente, à manutenção de volumes e de qualidades consistentes para o mercado. Dentro dos VV, a evolução produtiva por tipos de vinho é consistente com a diminuição geral, excepto para o caso dos rosados. Assim, enquanto, os brancos diminuíram cerca de 34% (75,3 mil hl em 1999/2000 para 49,7 mil hl, em 2010/11), e os tintos regrediam 47% (42,4 mil hl para 22,5 mil hl), os rosados registavam um forte aumento relativo, passando de uns meros 29,2 mil litros em 1999/2000 para 2,3 mil hl, na campanha 2010/2011.Ao nível da transformação, a região

Fernando NunesEscola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Teresa MadureiraEscola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Viana do Castelo

IntroduçãoA globalização tem permitido a abertura de novos mercados aos vinhos nacionais. Com efeito, para além dos mercados ditos tradicionais, consolidados, é hoje possível perspectivar uma relação comercial crescente com economias emergentes, seja pelo fortalecimento a partir da diáspora, seja ainda pela diversificação através da captação de novos consumidores, com produtos únicos e desafiantes. O conceito de “terroir”, na sua vasta complexidade interpretativa, ajusta-se à maior parte dos vinhos nacionais, permitindo uma associação eficaz e conveniente entre qualidade percebida e tradição. A Região Demarcada dos Vinhos Verdes (RDVV), pela sua especificidade e diversidade interna, tem todas as condições para intensificar a sua presença nos referidos mercados emergentes. Neste contexto, o presente trabalho analisa, se forma sintética,

o mercado dos Estados Unidos da América (EUA), com especial enfoque no Estado da Califórnia, e as suas potencialidades para a comercialização de Vinhos Verdes (VV). Com base numa análise empírica, exclusivamente reflexiva, os caminhos que se apontam e as sugestões que se avançam confluem na necessidade de implementar uma estratégia de marketing conjunta e colaborativa, que incida em particular na geração Americana designada como “Millennial”. Conceitos como integridade, “terroir”, qualidade consistente, frescura e modernidade, são valores que aquele tipo de consumidores procura e valoriza, e que, portanto, devem ser preservados, valorizados e divulgados, pela interprofissão.Palavras-chave: vinho verde; E.U.A; “prosumer”; mercados emergentes; análise SWOT.

1 O presente texto constitui uma versão reduzida de um trabalho mais desenvolvido, apresentado nos “Primeiros Encontros

Vínicos do Vinho Verde”, realizados pela Ordem dos Engenheiros, em Viana do Castelo, no dia 16 de Abril de 2011.

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30 31VINHO E BEBIDASVINHO E BEBIDAS

regista cerca de 600 empresas engarrafadoras e 187 marcas registadas, valor que traduz todo um percurso recente dos agentes económicos locais na procura de mais-valias adicionais, integrando para jusante a sua intervenção no mercado. Em 2009, a região apresentava uma quota de mercado (retalho + horeca) de 19,6%, apenas superada, no contexto nacional, pelo Alentejo, que registou 36%, no mesmo período.

2. A exportação de Vinhos Verdes

Inserido numa região do país com fortes tradições exportadoras, o vinho verde sempre evidenciou grande capacidade de penetração nos mercados internacionais. Todavia, reconheça-se, esta aptidão foi durante muitos anos suportada pelo designado “mercado da diáspora” e assente em produtos de qualidade média, ou mesmo baixa. O advento do Mercado Único em 1993, a redefinição da nossa emigração, e o forte embate resultante dos processos de globalização crescente, conduziram os nossos produtores e restantes agentes económicos à inevitabilidade da reconversão produtiva e da melhoria da transformação, iniciando a produção de vinhos com qualidade, para consumidores internacionais diferenciados e cada vez mais exigentes. É neste contexto que se devem analisar as alterações verificadas ao nível dos destinos dominantes de exportação do vinho produzido na RDVV, bem como das quantidades vendidas e do respectivo valor. A Fig.1 coloca em evidência alguns destes aspectos, podendo constatar-se que, em apenas nove anos, as exportações de VV praticamente duplicaram em quantidade e em valor, para o conjunto dos treze países importadores mais significativos.Os valores expressos dizem respeito às exportações para o designado TOP13, ou seja, o conjunto de países mais significativos como destinos das exportações de vinho verde (EUA,

França, Alemanha, Angola, Canadá, Reino Unido, Brasil, Luxemburgo, Bélgica, Suíça, Suécia, Dinamarca e Espanha). A Fig. 1 evidencia que a evolução das vendas, em valor, seguiu uma trajectória crescente e consistente a partir de 2005, revelando um aumento do valor unitário do vinho verde exportado.O processo de concentração dos destinos da exportação de VV é particularmente evidente, tendo-se acentuado na última década. De facto, em nove anos (2001-2010), os países do TOP3 (EUA, França e Alemanha) aumentaram o seu peso nas exportações de vinho verde, de 55,6% para 61%, em volume, e de 56,5% para 59,8%, em valor. Mas, o facto mais relevante a reter consiste na inversão de posições relativas, com a França a perder largamente para a Alemanha, e, sobretudo, para os EUA. De facto, entre 2001 e 2010, a Alemanha mais do que duplicou as suas importações de VV, enquanto os EUA atingem valores recorde, quase quadruplicando as suas compras de VV. Assim, o facto de um mercado “consolidado”, como a França, perder para novos mercados emergentes, como os EUA (não apenas em termos relativos, mas também em termos absolutos), pode querer

revelar que o mercado da diáspora está a perder a sua importância como destino privilegiado do VV, e isso terá obviamente uma tradução prática em termos das estratégias de marketing a implementar. A evolução das exportações, em valor, evidencia a mesma tendência verificada no volume de vendas, embora a França, neste caso, registe um ligeiro aumento no período considerado, o que pode significar que este país está a importar menos VV, mas de melhor qualidade (ou, pelo menos, a preço mais elevado). A forte evolução verificada na compra de VV por parte dos EUA, foi no entanto acompanhada por uma redução do preço unitário do vinho. De facto, ao contrário da tendência geral evidenciada pelos principais importadores, o preço médio do vinho verde adquirido pelos EUA diminuiu no período considerado (de 2,79 para 2,17 Euros, entre 2001 e 2010).

3. O Mercado dos Estados Unidos da América

Embora o valor das exportações de vinho dos EUA tenha crescido a uma média de 25% ao ano, entre 1985 e 1997, os vinhos deste país têm pouco peso nos principais mercados

internacionais de vinho, especialmente em países produtores, como é o caso da França e da Itália (4). Todavia, internamente, é genericamente reconhecido que o mercado do vinho nos Estados Unidos da América se tornou recentemente um importante espaço de disputa comercial. De facto, como reconhece Bartlett (2009)(1), apesar de apresentar um importante e bem sucedido mercado interno, as importações de vinho nos EUA aumentaram 185% entre 1995 e 2006, ano em que o volume total de vinho importado se traduziu numa quota de mercado de 31%. Para esta evolução muito contribuiu a designada geração “Millennial”, ou seja, o promissor conjunto de consumidores com menos de 29 anos, que considera o vinho um produto de eleição e que gosta e valoriza os vinhos importados. Todavia, é também a geração da sociedade da informação, do conhecimento, da ética e da responsabilidade social. Nesse sentido, assume também particular relevo o interesse crescente pelos produtos locais (o apoio às “comunidades de vizinhança”), as preocupações ambientais e a

segurança alimentar. Nessa linha de posicionamento de mercado, os vinhos produzidos a partir de uvas biológicas, ou outros, resultantes de sistemas de produção sustentáveis, ganham um relevo crescente para este tipo de consumidores. Dado que 16 dos 70 milhões de “Millennials” ainda não tem idade leal para beber, significa, portanto, que existe um enorme mercado potencial para conquistar.Um artigo da Wine & Spirits Daily (2010), a partir do testemunho de John Gillesppie, presidente da Wine Market Council, refere a existência de um novo paradigma do consumo de vinho pós-crise de 2008 nos EUA e que se caracteriza essencialmente por: (i) crescimento das vendas, mas com o consumo em casa (“off-premise”) a dominar sobre o consumo no canal horeca (“on-premise”); (ii) no retalho, 20 e 50 dólares (14 e 36 euros, respectivamente) são “linhas de demarcação” claras para o consumidor; (iii) os consumidores que bebem, pelo menos uma vez por semana, designados por “core wine drinkers” (15,9% da população) aumentam, enquanto os “marginal

wine drinkers” (14,1%) consolidam a sua posição; (iv) acréscimo das importações, e; (v) aumento da compra de vinhos directamente ao produtor, em circuitos curtos.Uma análise mais pormenorizada destas tendências sugere que, tanto os “core wine drinkers” como os “marginal wine drinkers” vão continuar a consumir vinhos mais baratos, mesmo depois da crise, quando recuperarem o seu poder económico. Em si mesma, esta pode ser uma boa notícia para Portugal e para os VV, na medida em que a redefinição em baixa do poder de compra dos consumidores americanos tem permitido a descoberta de novos e aliciantes vinhos, com melhor relação qualidade/preço. Com efeito, embora de uma forma geral os consumidores americanos prefiram os vinhos do seu país, os “core wine drinkers” revelam grande propensão para vinhos importados.Igualmente, verifica-se um ajustamento nos circuitos comerciais do vinho nos EUA. De facto, em 2009, 31% dos “core wine drinkers” compraram vinho directamente ao produtor e 11% fê-lo através da Net. Do mesmo modo, 83% dos “core wine drinkers”. integram um, ou vários, “Clubes de Vinho”, o que pressupõe níveis de interacção significativos entre consumidores e produtores/distribuidores, dando sentido à designação “prosumer”. Em 2009, 9% da população americana e 32% dos “Millennials” passou a beber vinho em vez de outras bebidas alcoólicas, provocando um sentimento de grande expectativa no sector. Finalmente, é legítimo considerar que qualquer estratégia de intervenção a prazo no mercado do vinho nos EUA, deve privilegiar a designada geração “Millennial”. Com efeito, estes consumidores encaram o consumo de vinho sem complexos, associando-o a maturidade e sofisticação, não evidenciam diferenciação de género no consumo e valorizam o design da embalagem. Todavia, o marketing deverá ter particular atenção ao facto de que estes compradores não apreciam ser alvo de segmentação

Fig. 1 Evolução das exportações de vinho verde para os principais países de destino

Fonte: elaboração própria a partir de dados da CVRVV

14000000,0

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TOP 13 (euros) TOP 13 (litros)

(euros, p. nominais) (litros)

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explícita, nem, sobretudo, agressiva.Dentro do enorme e diverso espaço comercial que são os EUA, evidencia-se o estado da Califórnia, na medida em que é o mais populoso do país, com cerca de 38 milhões de habitantes, e ainda, o terceiro, em dimensão. Igualmente, trata-se de um estado em muitos aspectos inovador, onde a irreverência e a ambição são traços comuns da sua população. Cidades como Los Angeles e San Francisco são referências mundiais para muitos sectores, nos quais se destacam a indústria cinematográfica (Hollywood) e as novas tecnologias (Silicon Valley). Mas a Califórnia, em particular o Vale de San Joaquin, é também uma pujante região agrícola, contando com a mais importante área cerealífera do mundo. É igualmente neste estado que é produzida a esmagadora maioria do vinho dos EUA (cerca de 90%, em volume), num processo que se desenvolve há já mais de três séculos. Do ponto de vista do consumo, o mercado é bastante exigente, mas traduz e replica aquilo que são os traços e características fundamentais da sua população, ou seja, a vontade de conhecer produtos e vivências inovadoras e uma razoável disponibilidade para consumir produtos de qualidade, com preços acima da média.

4. Análise SWOT – o Vinho Verde face ao mercado da Califórnia

Pontos Fracos: produtores sem dimensão crítica de mercado; número excessivo de engarrafadores; a dimensão reduzida e o insuficiente esforço de marketing não captam o interesse (comercial) dos distribuidores nos EUA; desequilíbrio de “market power” na negociação com o importador, o qual, em particular, nos EUA, é fundamental; inexistência de importadores fortemente empenhados e “emocionalmente ligados” aos vinhos da RDVV; as principais referências de mídia não atribuem normalmente

pontuações elevadas aos vinhos verdes; a dificuldade dos VV em envelhecer, é uma condicionante de valorização acrescida do produto.Pontos Fortes: dinamismo dos responsáveis regionais; estratégia de internacionalização assente numa visão de longo prazo; metodologias de trabalho suportadas em planeamento estratégico de marketing; preço médio de partida para exportação mais baixo que a concorrência nacional (mas acima dos preços do “Novo Mundo”); o vinho da Região “Minho” é, na sua esmagadora maioria, DOP (96% na campanha 2010/2011); a “despromoção” do vinho a granel e a valorização do vinho através da referenciação geográfica; as características de produção do VV permitem comunicar um património inigualável, baseado em tradição e cultura, que o consumidor da Califórnia valoriza; o território de produção dos VV apresenta grandes potencialidades para evoluir ainda mais no sentido de sistemas ambientalmente mais sustentáveis (modo biológico, por exemplo); crescente referência nos mídia americanos a exemplos de sucesso em vinhos da RDVV, já produzidos a partir de uvas em modo de produção biológico.Ameaças: possibilidade de insucesso devido ao facto de a abordagem de mercado considerar o marketing limitado à promoção; perigo de vulgarização do VV (cf. Austrália) que pode ser associado a “Fun and Sun”; persistência da fragilidade da “marca” Portugal (agravada em Abril de 2011, com o resgate da dívida soberana Portuguesa); perigo de associação do VV a “Refrescos de Vinho” (categoria que existe nos EUA); o sistema “Three Tier”, a que se associam as taxas de importação, torna os vinhos estrangeiros mais caros; a excessiva f o c a l i z a ç ã o no mercado da diáspora

pode orientar o esforço de marketing na direcção errada; a saída da crise nos EUA pode reorientar de novo o consumidor para vinhos mais caros; a existência de vinhos produzidos nos EUA a partir de castas da RDVV, como o Alvarinho, com sabores e texturas vínicas diferentes das originais, pode provocar “incompreensão”, confusão, e, eventualmente, rejeição; o crescente e elevadíssimo número de marcas de vinho nos EUA (que intimida o consumidor) pode condicionar as vendas de VV em canais indiferenciados; os vinhos importados podem ser fortemente afectados se se intensificar a preferência dos consumidores americanos por vinhos produzidos localmente.Oportunidades: aproveitamento da dinâmica de crescimento recente das importações de vinho verde pelos EUA, neste momento, o principal destino externo deste produto; aproveitamento do lançamento recente e impacto positivo da marca “Wines of Portugal”; tirar partido do facto de que recentemente, vem surgindo nos media de referência americanos a noção de que o vinho português apresenta um excelente rácio qualidade/preço; considerando que o vinho nos EUA deverá, nos próximos anos, passar a ser consumido diariamente, o VV apresenta uma forte vantagem competitiva, dado o seu grau alcoólico moderado; a crise económica, que ainda não se dissipou,

permitiu aos Americanos descobrir novas regiões e novos vinhos, sendo os preços mais baixos uma porta aberta para os VV; o mercado Californiano do vinho é um espaço de concorrência, mas também um espaço aberto à novidade e à mudança; o mercado Californiano (bem como o Americano, em geral) privilegia os vinhos frutados, leves, frescos, de moderado teor alcoólico, e esse perfil compagina-se bem com os VV; O consumidor Californiano viaja muito, é conhecedor, e associa, de forma valorativa, vinho a “terroir”; o mercado Americano apresenta ainda um enorme potencial de crescimento; os “core wine drinkers” (que dominam) estão abertos ao consumo de vinhos importados; consumidores cansados do mainstream procuram vinhos segundo a máxima A.B.C. – “Anything But Chardonnay” (tudo menos Chardonnay)… ou Cabernet.

5. Considerações Finais

Em Agosto de 2005, Jancis Robinson, prestigiada jornalista de vinhos do Financial Times, escrevia, na sua página electrónica, o seguinte comentário: “I don’t know about you but for a long time I was rather dismissive of the wines of Minho…”. Em Fevereiro de

2011, a mesma jornalista, reconhecendo a

q u a l i d a d e

crescente dos vinhos verdes, num texto adequadamente intitulado “Shining a light on Portugal”, classificava com elevada pontuação três vinhos da RDVV, considerando-os como dos melhores brancos produzidos em Portugal. De facto, é evidente o desenvolvimento e a evolução positiva que se regista em muitos dos vinhos produzidos na RDVV, e esse facto poderá obviamente ter uma tradução prática em termos de exportação para mercados mais exigentes. Importa, todavia, que este crescimento qualitativo seja seguido por todos para que a região possa ser sempre associada a produtos de qualidade. Na deriva pela qualidade e pelo mercado, importa no entanto não ceder a facilitismos nem interpretar erradamente os sinais desse mesmo mercado. Significa isto que o vinho verde não deverá, em nossa opinião, mimetizar produtos e técnicas enológicas internacionais, que lhe retirariam o seu maior valor, ou seja, a sua exclusividade.No que diz respeito à Califórnia, a análise SWOT apresentada coloca em destaque um conjunto de oportunidades que permitem pensar que o vinho verde, salvaguardadas as devidas alterações estruturais, tem boas hipóteses de evolução naquele mercado. Desde logo, a compaginação das características únicas do VV (frescura, moderado teor

alcoólico, fruta presente,

exclusividade) com as características e tendências de consumo do mercado Californiano (público jovem, apreciador de vinhos sérios e exclusivos), pode traduzir-se numa significativa vantagem competitiva. Cremos, todavia, que algumas mudanças estruturais deverão acontecer e/ou intensificar-se na RDVV, as quais deverão incidir sobretudo no desenvolvimento tecnológico da produção vínica (melhorando e inovando constantemente) e na concentração da oferta. Quanto à abordagem do mercado Americano, basta seguir as sugestões de Michael Mondavi, apresentadas em Aranda del Duero, na conferência “Fine Wine 2010”, e que se adequam na totalidade ao esforço de internacionalização dos vinhos verdes:1. Num processo de internacionalização, primeiro é preciso vender o país, em seguida a região, e só depois a marca;2. Para criar sustentabilidade a prazo é importante estudar hipóteses de associações e/ou parcerias com adegas e produtores de outros países (de preferência, do “Novo Mundo”);3. O esforço de marketing só faz sentido quando vários produtores utilizam lógicas colaborativas e complementares;4. É preciso ter uma “história para contar”, e essa tarefa, deve ser desempenhada pelo produtor;5. Focalizar as vendas nos “core wine drinkers” (15% dos consumidores bebem uma vez/semana, e 35 milhões de pessoas consomem 91% do total de vinho consumido nos EUA);6. Apostas no mercado dos EUA: 1º) “Millennials”; 2º) “Gen. X” (a geração seguinte). Ambos se interessam por vinhos importados e querem saber mais sobre os mesmos. Estes dois grupos de consumidores exigem integridade, qualidade, confiança, segurança, mas também um “nome” por detrás de cada vinho. *O presente

texto constitui uma versão reduzida de um trabalho mais

desenvolvido, apresentado nos “Primeiros Encontros

Vínicos do Vinho Verde”, realizados pela Ordem dos

Engenheiros, em Viana do Castelo, no dia 16 de Abril de 2011.

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34 35VINHO E BEBIDASVINHO E BEBIDAS

Vejamos então como servir o vinho:

1. Tomamos nota do pedido2. Colocamos o vinho num balde com gelo e um pouco de água3. Depois de transportado para a sala mostramos a garrafa ao cliente4. Para abrir a garrafa, cortamos a cápsula de protecção da rolha por baixo da Marisa5. Sacada a rolha, analisamo-la6. Damos a provar ao cliente e esperamos pela sua aprovação7. Servir o vinho como manda o protocolo

ARTUR CALDAS/EscançãoAssociação de Escanções de Portugal

COMO SERVIR UM VINHO VERDE

POTENCIAL DOS RESÍDUOS DO BAGAÇO DA AZEITONA NO MELHORAMENTO DO SEQUESTRO DE CARBONO EM SOLOS DEGRADADOS

José Manuel R. Nunes C3I’s – Centro Interdisciplinar de Investigação e Inovação. Instituto Politécnico de Portalegre. e UIQA – Unidade de Investigação Química Ambiental. Instituto Superior de Agronomia, Lisboa

Antonio López-Piñeiro Área de Edafología y Química Agrícola.

Actualmente a produção de azeite encontra-se em franca expansão, mormente devido ao aparecimento de novos consumidores em países que não utilizavam tradicionalmente este recurso, como é o caso dos países do Norte da Europa, Estados Unidos da América e China. Nas últimas décadas a tecnologia de extracção de azeite tem sofrido uma forte evolução, passando do sistema de prensas para sistemas de maior eficiência, como são os sistemas de centrifugação contínua e, em particular, o sistema de duas fases. Contudo e apesar da maior eficiência destes sistemas, só cerca de 20% da azeitona que entra num lagar sairá sob a forma de azeite, constituindo os outros 80% um resíduo orgânico potencialmente poluente.As quantidades produzidas deste resíduo são enormes, estimando-se que só Espanha produza mais de 4.000.000 Mg ano-1. Em Portugal a produção deste resíduo tem subido exponencialmente, e embora não exista uma quantificação rigorosa das quantidades de bagaços de azeitona de duas fases produzidos no nosso país, podemos referir a título meramente indicativo que a produção de azeite no nosso país duplicou nos últimos 5 anos, muito devido à introdução desta nova tecnologia de extracção de azeite. Urge dar um

destino económica e ambientalmente conveniente a este resíduo, dado que a tradicional utilização como combustível, face às restrições de emissão para a atmosfera de gases com efeito de estufa impostas pelo protocolo de Quioto, não serão certamente adequadas. De facto ao assinar o Protocolo de Quioto, a Europa assumiu o compromisso de reduzir as suas emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) em 8% relativamente a 1990, durante o período de 2008 e 2012. No caso de Portugal, como a situação geográfica e económico-social dos diversos Estados Membros da União Europeia é diversa, foi celebrado um acordo de objectivo comum e partilha de responsabilidades entre os diferentes Estados que permitia a Portugal aumentar as emissões de GEE em 27% nesse período. Mesmo assim, o objectivo está longe de ser alcançado. Em 2003, por exemplo, as emissões nacionais excederam em cerca de 9% o valor acordado no Protocolo de Quioto. Neste âmbito, qualquer técnica que fomente o sequestro de carbono no solo, nomeadamente a aplicação como fertilizante na actividade agrícola de resíduos orgânicos eventualmente poluentes, como é o caso dos bagaços de azeitona de duas fases, pode constituir uma mais-valia para mitigar os efeitos que uma industrialização,

Introdução

O vinho verde é um tipo de vinho que, pelas suas características, quer intrínsecas quer de tipicidade, comprova ser único no Mundo, e que muito tem dignificado o nosso País pela sua qualidade.Tendo sido um dos primeiros vinhos exportado para Inglaterra, veio desta forma, a ser conhecido, podemos dizer, quase em todo o Mundo.No entanto, pela sua estrutura não ter a mesma pujança de um vinho “maduro”, e não se considera um vinho de guarda, recomenda-se o seu consumo enquanto jovem.Desfrutar destes vinhos jovens, tem todo o interesse, por vários motivos, o principal é que o consumidor, aprecia uma bebida, física e quimicamente em prefeitas condições.Este néctar, tanto pode ser servido como acompanhamento de uma refeição, como pode ser um aperitivo, como pode ser apreciado numa bela tarde de calor junto de uma piscina.No entanto existem regras de serviço que enaltecem este néctar, e dignificam o trabalho de quem o serve, um factor a ter em conta, entre outros que explicarei à frente, é, quando servirmos um vinho verde, devemos servi-lo com o gargalo da garrafa, desviado do copo a uma altura de 10 a 15 cm, isto para que o vinho sinta uma verdadeira “chicotada”, e desprenda o gás carbónico contido.Dentro da família dos vinhos verdes, existem uns que são mais exuberantes do que outros nomeadamente no aroma, e da intensidade de CO2, daí que, actualmente existem copos mais apropriados que antigamente, para servir vinho branco, que são um pouco maiores que os habituais, mais fechados e mais bojudos, isto para concentrar todos os aromas, que resultam de vinificações modernas.Outro factor é a temperatura, um vinho verde, se for servido à temperatura correcta, é sem dúvida o meio caminho andado para que o nosso trabalho não seja defraudado, esta situa-se nos 9 °C, para os verdes brancos, temperatura ideal, na medida que deixará sobressair todas a qualidades do vinho.Características do vinho verde: acídulo, tradicionalmente baixo teor alcoólico, bastante aromático, e provido de CO2 (agulha).Os vinhos verdes são considerados vinhos ligeiros na sua origem.

Ficha técnica:• Proveniência - Melgaço• Nome do vinho - Muros de Melgaço• Castas - Alvarinho• Teor alcoólico 12 vol• Temperatura recomendada 9 °C para os brancos, para os tintos 14

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36 37VINHO E BEBIDASVINHO E BEBIDAS

nem sempre bem conseguida do ponto de vista ambiental, têm sobre a libertação de GEE para a atmosfera. Não esqueçamos também o aspecto económico, de grande importância para um país como o nosso em que a falta de recursos é gritante, dado que o não cumprimento das metas do protocolo de Quioto acarreta multas elevadas a pagar pelos países incumpridores, sendo também por este motivo urgente promover e incentivar práticas que aumentem o sequestro de carbono, como é o caso da aplicação de resíduos orgânicos.Acresce ao que acabamos de dizer o facto da aplicação de bagaços de azeitona de duas fases ter ainda importantes benefícios para a fertilidade química, física e biológica dos solos onde são aplicados. Estes resíduos, ao possuírem elevadas quantidades de matéria orgânica e nutrientes, contribuem, depois de uma

compostagem natural que ocorrerá na camada superficial do solo onde são aplicados, para um aumento importante na produtividade das culturas e para a sustentabilidade dos agro-sistemas mediterrânicos, constantemente ameaçados por factores naturais e humanos (1; 2). Foi neste âmbito que surgiu o presente trabalho, visando o estudo da possibilidade de usar este resíduo orgânico como fertilizante agrícola, melhorando por um lado a fertilidade e sustentabilidade dos paupérrimos solos mediterrânicos e, por outro lado, contribuindo para o sequestro de carbono no solo, dando cumprimento às últimas directivas ambientais.

Delineamento Experimental

O estudo realizou-se num olival de regadio, notoriamente degradado e com défice de acompanhamento, localizado em Elvas. A variedade de olival utilizado é a ‘Azeiteira’, que neste caso se encontrava plantada com um compasso de 5x5 em triângulo. O solo do referido olival é classificado, segundo a FAO, como Luvissol Cutanico e as suas principais características encontram-se no quadro 1. Os resíduos utilizados, cuja composição se encontra no quadro 1, foram no caso do Bagaço de Duas Fases Natural (BDFN) provenientes de um sistema de extracção de azeite por centrifugação contínua de duas fases, localizado no lagar da Olidal (Portalegre) e, no caso do bagaço obtido após a extracção com solventes químicos do óleo remanescente no BDFN, designado por Bagaço de Duas Fases Extractado (BDFE), proveniente da empresa Parceria de Azeites no Crato (Portalegre)

Propriedades Unidade Solo BDFN BDFEHumidade (%) 48.2 5.40

Argila (g kg-1) 197

Limo (g kg-1) 197

Areia (g kg-1) 606

Estabilidade dos agregados

(%) 26.2

Carbono Orgânico (g kg-1) 13.3 535 516

pH (g kg-1) 8.1 5.7 5.3

N Total (g kg-1) 1.49 16.0 24.0

CTCa (cmolc kg-1) 19.0 27.2 34.0

CE (g kg-1) 0.513 5.02 5.30

P (g kg-1) 0.013b 2.75c 1.79c

K (g kg-1) 0.200b 15.0c 12.5c

Fenóis (sol. Água) (g kg-1) 7.3 14.6

Lenhina (g kg-1) 19.6 23.7

Hemicelulose (g kg-1) 19.1 16.7

Celulose (g kg-1) 22.8 21.5

Quadro 1 – Características químicas e bioquímicas iniciais no solo, do Bagaço de Duas Fases Natural (BDFN) e no Bagaço de Duas Fases Extractado (BDFE).

O delineamento experimental utilizado contou com 5 tratamentos, nomeadamente: T0 – sem qualquer fertilização; BDFN 1 – Aplicação anual de 30 Mg ha-1 (MS) de BDFN (quantidade correspondente aproximadamente a 1.5 kg de azoto por árvore); BDFN 2 – Aplicação anual de 60 Mg ha-1 (MS) de BDFN (quantidade correspondente aproximadamente a 3.0 kg de azoto por árvore); BDFE 1 – Aplicação anual de 27 Mg ha-1 (MS) de BDFE (quantidade correspondente aproximadamente a 1.5 kg de azoto por árvore); BDFE 2 – Aplicação anual de 54 Mg ha-1 (MS) de BDFE (quantidade correspondente aproximadamente a 3.0 kg de azoto por árvore). Destes 5 tratamentos fizemos 3 repetições, conduzindo a um total de 15 unidades experimentais, sendo cada repetição constituída por um conjunto de 12 árvores. Em cada uma das unidades experimentais, durante 5 anos, medimos o teor de carbono orgânico total (COT), carbono orgânico solúvel (COS) e produção. A aplicação dos resíduos ocorreu durante o mês de Fevereiro

e a colheita de amostras de solo em Junho. As amostras eram recolhidas unicamente na zona correspondente às duas árvores centrais de cada conjunto, com uma sonda inox, até uma profundidade de 25 cm.O carbono orgânico total foi determinado por oxidação por via húmida, segundo Nelson e Sommers (1996). O carbono orgânico solúvel foi extraído com água desionizada e doseado por oxidação por via húmida e medido por espectofótometria de absorção molecular a 590 nm, segundo Sims and Habby (1971) (5). A estabilidade dos agregados foi determinada segundo Sun et al. (1995) (6).

Resultados e Discussão A aplicação de BDFN e de BDFE, nas doses que anteriormente referimos, durante 5 anos consecutivos, aumentou significativamente a quantidade de carbono orgânico sequestrado no

solo (quadro 2). Este aumento na quantidade de carbono existente no solo é de grande importância para a sustentabilidade dos agro-ecossistemas mediterrânicos, geralmente pobres neste constituinte e por isso mesmo sujeitos a intensos processos de degradação. Se observarmos este resultado no que concerne ao aumento de sequestro de carbono no solo, podemos constatar que para a maior dose de BDFN passamos de uma quantidade de 564 Mg ha-1 em 1999 para 1005 Mg ha-1 em 2003, a que corresponde um aumento de 78.1% em 5 anos. Se fizermos a mesma análise para a maior dose de BDFE os resultados são ainda mais expressivos, passando-se em 5 anos de uma quantidade de carbono orgânico no solo na ordem das 480 Mg ha-1 para 1077 Mg ha-1 a que corresponde um aumento de 124%. Relativamente às características iniciais do solo esse aumento foi ainda mais importante, situando-se nos 152% no caso do BDFN 2 e nos 170% para o BDFE 2.

a-capacidade de troca catiónica; b-P e K assimilável; c-P e K total.

Quadro 2 – Alteração do conteúdo em carbono orgânico total e carbono orgânico solúvel em água num solo, após 5 anos de aplicação de BDFN e BDFE em diferentes doses.

T0 BDFN 1 BDFN 2 BDFE 1 BDFE 2 F-AnovaCarbono Orgânico Total (kg m-2)

1999 3.48 a 4.35 bc 5.64 d 4.29 b 4.80 c ***

2000 3.63 a 5.34 b 5.73 b 5.58 b 6.00 b ***

2003 3.57 a 5.85 ab 10.05 bc 7.47 b 10.77 bc ***

2008 4.35 a 7.17 b 10.25 c 11.04 c 14.81 d ***

Carbono Orgânico Solúvel em Água (kg m-2)

1999 0.07 a 0.08 a 0.11 a 0.09 a 0.09 a ns

2000 0.08 a 0.25 ab 0.46 b 0.18 a 0.32 ab ***

2003 0.11 a 0.18 b 0.33 c 0.15 ab 0.21 bc ***

2008 0.17 a 0.22 a 0.41 b 0.19 a 0.37 b ***

*, **, *** Significativo ao nível 0.05, 0.01, 0.001 de probabilidade, respectivamente; os valores, numa dada linha, seguidos de uma mesma letra não são estatisticamente diferentes

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39TRADIÇÕES E SABERES38 VINHO E BEBIDAS

O facto de o BDFE ser mais eficaz no aumento da quantidade de carbono sequestrado no solo que o BDFN, apresentando uma tendência inversa ao que se poderia esperar ao observar a composição dos dois resíduos, leva-nos a pensar que o BDFE será mais recalcitrante relativamente ao processo de mineralização. Com efeito, de acordo com López-Piñeiro et al. (2007) (1) e vários outros autores, a maior presença de carbono orgânico solúvel em água nos BDFN, relativamente ao que acontece nos BDFE, poderá resultar num aumento na actividade microbiológica no solo, em virtude do aumento de fontes de energia facilmente acessíveis, conduzindo a um aumento na mineralização do carbono orgânico.

A quantidade de carbono orgânico solúvel em água também aumentou significativamente, para qualquer um dos resíduos aplicado (quadro 2), relativamente ao controle. Independentemente do número de nãos de aplicação e das quantidades aplicadas, podemos ainda verificar que a quantidade de carbono orgânico solúvel em água é sempre superior nos solos que receberam BDFN comparativamente aqueles que receberam BDFE, confirmando o que havíamos referido no parágrafo anterior.

A aplicação quer dos BDFN quer dos BDFE conduziram a aumentos significativos na percentagem de agregados estáveis em água (figura 1). Após 5 anos de aplicações repetidas destes resíduos o aumento médio da percentagem de agregados estáveis em água foi de 64%, 73%, 12% e 34% para os tratamentos BDFN 1, BDFN 2, BDFE 1e BDFE 2, respectivamente. Como podemos verificar, a aplicação de BDFN mostra-se mais eficaz para o aumento dos valores deste importante parâmetro do solo que a aplicação de BDFE.

Verificamos ainda que o aumento da percentagem de agregados solúveis em água está correlacionado de forma altamente significativa com a quantidade de carbono orgânico solúvel em água existente no solo (R2 = 0,849; P<0.01) e não apresenta qualquer correlação com significado estatístico com o carbono orgânico total existente no solo (R2 = 0,599; P>0.05), indicando que à fracções da matéria orgânica mais importantes para a estabilidade estrutural dos solos que outras.

Conclusões Dos resultados obtidos podemos concluir que a aplicação ao solo como fertilizante de bagaços de azeitona de duas fases, quer em natureza quer após extracção química do óleo remanescente neste tipo de bagaços, parece-nos ser uma alternativa económica e ambientalmente adequada, contribuindo de forma altamente significativa para o aumento do sequestro de carbono no solo e sendo portanto uma ajuda potencial no cumprimento

das metas do protocolo de Quioto, das quais Portugal se vem afastando ano após ano. Se comparamos o efeito da aplicação destes dois tipos de resíduos sobre a quantidade de carbono sequestrado no solo, poderemos igualmente concluir que a aplicação de BDFE é mais eficaz neste processo que a aplicação de BDFN, nomeadamente devido á maior resistência à mineralização que o primeiro apresenta.Podemos ainda concluir que a aplicação destes resíduos contribui de forma significativa para o aumento da sustentabilidade dos agro-ecossistemas mediterrânicos, melhorando nomeadamente a estabilidade estrutural destes solos.

Figura 1 – Percentagem de agregados estáveis em água para os vários tratamentos em análise

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