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Reforma agrária e socialismo na América Latina: Cuba e Chile
Joana Salém Vasconcelos1
Quienes emprendan la reforma evolutiva de los niveles de ingreso se
encontrarán con la resistencia organizada de los sectores sociales
privilegiados de América Latina y de sus protectores militares. Deberá,
además, afectar inevitablemente a los inversionistas norte-americanos. Por
ello, tendrán que afrontar, más tarde o más temprano, este dilema: o se
decide a realizar las transformaciones por las vías revolucionarias, o se
sufrirá la misma derrota que todos los procesos reformistas experimentaron
en las últimas décadas latinoamericanas.
Carlos Rafael Rodríguez presidiu o Instituto Nacional de Reforma Agrária
de Cuba nos anos 1960. Declaração no 13º período de sessões da CEPAL em
Lima, 10 de abril de 1969. (Rodriguez, 1983, p.283)
En los años 50, yo escribí un libro sobre la reforma agraria en América
Latina. Antes que se pasara todas esas cosas. En este libro, yo decía lo
siguiente: “la reforma agraria tiene que ser rápida, drástica y masiva”.
Esta frase me la achacaran encima veinte mil veces. Como que yo era
responsable. Pero creo que en el fundo yo tenía razón.
Jacques Chonchol foi ministro da agricultura do governo Salvador Allende.
Entrevista realizada em Santiago do Chile, 15 de abril de 2016 (Chonchol,
2016b).
1. Introdução
Houve um tempo em que o assunto “reforma agrária” era incontornável na agenda
política latino-americana. Embora a ideia gerasse desconfiança e aversão entre setores das
velhas oligarquias rurais, que ocupavam ainda postos-chaves nos Estados nacionais, entre as
décadas de 1950 e 1970, o fortalecimento de projetos reformistas de cunho
desenvolvimentista e o acirramento das lutas camponesas alçaram a questão agrária ao centro
da arena política continental. O termo “reforma agrária”, porém, nunca foi portador de um
único significado. Muito pelo contrário. A possibilidade de identifica-lo com diferentes
conteúdos políticos mobilizou disputas ferozes no decorrer do século XX, especialmente
contagiadas pela Guerra Fria e pela revolução cubana.
A emergência da reforma agrária como “questão continental” foi impulsionada por
diversos sujeitos políticos e movimentos sociais, no contexto da crise da divisão internacional
1 Historiadora, Mestra em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp, doutoranda em História Econômica
pela USP e bolsista FAPESP. Email: [email protected]
do trabalho. Em decorrência das guerras mundiais e da crise de 1929, a reconfiguração dos
fluxos internacionais de mercadorias tornou possível e necessária a industrialização por
substituição de importações em alguns países capitalistas periféricos. Como analisou Octávio
Ianni, nesse processo, as oligarquias rurais de corte liberal se enfraqueceram perante novas
frações da burguesia, alinhadas com o pensamento nacional-desenvolvimentista, defensores
da industrialização e da formação de mercados internos robustos (Ianni, 1975). Estas novas
frações burguesas protagonizaram uma onda reformista, que incluía em seu horizonte a
mudança da função da agricultura no conjunto da economia. Com o surgimento da CEPAL
em 1948, forjou-se um arsenal teórico e um aparato técnico que pautou as disputas pela
reforma agrária em diferentes países, nos marcos do programa das reformas estruturais. Neste
sentido, a reforma agrária era uma proposta classicamente capitalista, apresentada em um
contexto periférico, que a ela, porém, impunha fortes restrições2.
Tais restrições eram proporcionais à força histórica das oligarquias rurais de alguns
países, muito especialmente os exportadores de produtos agrícolas tropicais3. Para citar alguns
exemplos, Brasil, Argentina, Equador, Colômbia, Cuba e Guatemala tiveram projetos
capitalistas de reformas agrárias bloqueados, por afetarem interesses oligárquicos e exigirem
enfrentamento excessivo para agenda reformista. Houve casos, contudo, em que a reforma
agrária capitalista foi bem sucedida e contou com expressiva redistribuição da terra, como no
México de Lázaro Cárdenas4.
Diante dos limites da reforma agrária capitalista “clássica” nos países periféricos, os
partidos da esquerda latino-americana e a intelectualidade marxista disputaram seus
conteúdos com diferentes perspectivas. Os setores alinhados a um etapismo stalinista viam a
2 Os teóricos cepalinos estabeleceram que o problema do subdesenvolvimento latino-americano decorria do
caráter primário-exportador de suas economias. Para eles, a reforma agrária seria um complemento estratégico
para a industrialização: por um lado, forneceria alimentos para o novo proletariado industrial, deslocando a
agricultura de seus fluxos de exportação; por outro, auxiliaria na redução das desigualdades sociais por meio da
distribuição da terra (Prebisch, 1986; Rodríguez, 1981). Para uma comparação entre as políticas agrárias
varguista e peronista no contexto do nacional-desenvolvimentismo, ver Ribeiro, 2008.
3 Nos anos 1960, mais da metade da população latino-americana vivia em países exportadores de produtos
agrícolas tropicais, que concentravam sua principal fonte de divisas na monocultura latifundiária com mão de
obra quase servil (Furtado, 1969, p. 62-4).
4 O estudo de Stavenhagen (1978, p. 35) sobre a reforma agrária de Lázaro Cardenas no México dos anos 1930
conclui que a economia camponesa de subsistência, embora seja constantemente espoliada pela lógica da
acumulação capitalista, é também recriada pelo sistema, na medida em que lhe é funcional. Para o autor, a
reforma agrária dos ejidos mexicanos foi bem sucedida nesse sentido, pois aliviou a pressão social das periferias
urbanas, gerando maior estabilidade política, fez dos novos camponeses um exército industrial de reserva
“amansado” pela posse da terra, mas que permanecia pressionando para baixo os salários urbanos e, por último,
funcionaria como válvula de escape para as flutuações de uma industrialização dependente.
reforma agrária como parte de uma revolução burguesa modernizadora, que combateria os
resquícios feudais da colonização. Nesse sentido, se aproximavam da CEPAL, embora
operando com outras categorias. Já os agrupamentos de influência trotskista defendiam a
reforma agrária como elemento indispensável de uma revolução democrática que transitasse à
revolução socialista, tal como proposto pela teoria da revolução permanente. Para além dessa
polarização tradicional, outras compreensões marxistas surgiram sobre o problema agrário,
entre as quais se destacou a visão de Mariategui sobre a questão indígena5.
Enfim, estas “décadas da reforma agrária” não seriam as mesmas sem as crescentes
lutas camponesas e indígenas pela terra, que encarnavam os maiores temores das oligarquias
rurais. Aproveitando as brechas de seu enfraquecimento relativo, movimentos autônomos de
diversos países entraram em uma dinâmica cada vez mais intensa de disputa territorial,
acumulando experiências, formulações, métodos de ação e autodefesa. Ainda que a resistência
indígena seja um fato social permanente desde a invasão europeia e as lutas camponesas e
quilombolas datem também da era colonial, os anos 1950 e 1970 foram marcados por uma
acelerada aglutinação destes movimentos em entidades políticas de lutadores rurais,
superando o relativo isolamento das iniciativas locais que predominava anteriormente6.
Nesse cenário, um espectro amplo de ideologias, instituições, partidos, movimentos
sociais, entidades camponesas e comunidades tradicionais reivindicava a ideia de “reforma
agrária” na América Latina com intenções bastante diversas. Seus variados sentidos foram
construídos, confundidos e disputados, inclusive dentro da esquerda. Como alertava Michel
Gutelman7:
Sendo sua necessidade universalmente admitida pela esquerda, quaisquer
que sejam as divergências concernentes aos seus fins e suas modalidades de
aplicação, a reforma agrária há longo tempo constitui um ponto de referência
comum aos revolucionários e aos reformistas, que, de certa maneira, se
5 Mariategui defendeu uma posição incomum sobre a aproximação construtiva entre pré-capitalismo e pós-
capitalismo: “deixando de lado razões doutrinárias, considero fundamentalmente esse fator incontestável e
concreto que dá um caráter peculiar ao nosso problema agrário: a sobrevivência da comunidade e de elementos
de socialismo prático na agricultura e vida indígenas” (2007, p. 69). Uma antologia de documentos
representativos das diferentes tradições marxistas da América Latina pode ser encontrada no clássico livro
organizado por Lowy, 2006. Para uma crítica da esquerda etapista latino-americana, ver Prado Junior, 2004.
Sobre a teoria da revolução permanente, ver Trotsky, 2007.
6 No Brasil, com as Ligas Camponesas; em Cuba com a guerrilha de Sierra Maestra; no Chile, com o
ressurgimento das tomas mapuches e camponesas na Araucanía e formação dos sindicatos rurais; na Bolívia com
a ação indígena e camponesa que resultou na revolução de 1952, apoiadas pelos MNR e POR; no Peru com a
Confederação Campesina; na Argentina com as greves de cortadores de cana; na Colômbia com no processo de
radicalização da luta agrária que deu origem às FARC-EP; entre outros.
7 Michel Gutelman foi um agrônomo francês da equipe do economista Charles Bettelheim, que esteve em Cuba
para assessorar o governo revolucionário ao longo da década de 1960 (ver Bettelheim, 1982; Gutelman, 1975).
demarcam nitidamente da direita tradicional. Porém quando se está lá, por
menos tradicional que lhe possamos crer, ao se colocar em marcha autênticas
reformas agrárias, desmantelando latifúndios e redistribuindo as terras, a
confusão mais completa se instala (Gutelman, 1971, p. 13, tradução da
autora).
Com a presente reflexão, pretendemos analisar brevemente duas experiências de
reformas agrárias socialistas, de Cuba e do Chile, considerando, por um lado, os limites do
reformismo capitalista e, por outro, as novas polêmicas vivenciadas pelos projetos agrários da
esquerda. Embora guiados por estratégias políticas distintas, Cuba e Chile atravessaram
concomitantemente tentativas de transição a um sistema econômico socializado, com
acelerada redistribuição da terra e contenção das imposições de mercado. Ironicamente,
Salvador Allende, que morreu em defesa de uma via pacífica e democrática ao socialismo, foi
fotografado em suas últimas horas no Palácio de La Moneda segurando a AK-47 que lhe fora
presenteada por Fidel Castro em 1971, na qual se registrava a mensagem: “A meu bom amigo
Salvador Allende, de Fidel, que por meios diferentes tenta atingir os mesmos objetivos” (apud
Winn, 2010, p. 177).
Apesar das diferentes estratégias, as experiências cubana e chilena foram semelhantes
na sua rejeição ao etapismo de alguns partidos comunistas. Ambas as revoluções fizeram
repercutir as teses do desenvolvimento desigual e combinado das formações periféricas, isto
é, de que a modernização capitalista traria o agravamento das contradições sociais e dos
anacronismos econômicos, e não o contrário. Nesse sentido, as duas revoluções se
assemelharam por desacreditar na necessidade de uma etapa de modernização capitalista rumo
à superação dos problemas do subdesenvolvimento, apostando diretamente no trânsito ao
socialismo8.
Os processos de transição cubano e chileno foram marcados por duras divergências
internas. Em ambos os casos, a reforma agrária foi um ponto nevrálgico das polêmicas, que
pautavam o novo regime de propriedades, de cultivos e de trabalho da agricultura, bem como
sobre os organismos representativos do campesinato e seu relacionamento com o Estado
ocupado pelas esquerdas. Protagonizaram, assim, um dos períodos mais efervescentes da
experiência política radical latino-americana9.
8 Sobre as teses do desenvolvimento desigual e combinado nas formações periféricas, ver Amin, 1976. Sobre o
conceito de “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, ver Frank, 1968.
9 A esse respeito, caracterizamos a década de 1960 em Cuba como um “laboratório de estratégias” (Vasconcelos,
2016a).
Embora a curta duração do governo Allende possa levantar questionamentos sobre os
limites de tal experiência, o núcleo fundamental das polêmicas internas da Unidade Popular
sobre a organização do sistema agrícola socialista e sobre a velocidade das mudanças
sintonizava-se com dilemas comuns à revolução cubana. Por outro lado, os diferentes papéis
da agricultura em cada uma das sociedades e a presença de uma expressiva população
indígena no Chile, serão, efetivamente, um grande diferenciador. No caso chileno, se tornam
evidentes os conflitos em torno do papel das formas pré-capitalistas indígenas na transição
socialista, tema ausente no processo transitório cubano10.
Por fim, acreditamos que o estudo das reformas agrárias socialistas de Cuba e do Chile
torna-se relevante na atualidade, quanto mais se aprofunda o processo de reprimarização das
economias latino-americanas e eclodem catástrofes socioambientais geradas pelo agronegócio
do século XXI.
2. Reforma agrária e socialismo em Cuba
Antes da revolução cubana, o debate marxista sobre a centralidade do operariado ou
do campesinato na construção do socialismo latino-americano ainda representava mais um
eco das controvérsias bolcheviques do que propriamente um problema prático11. Posta em
marcha a revolução, novas polêmicas surgiram sobre a organização do sistema agrário
socialista no contexto de uma economia de plantation, sobre o papel da propriedade estatal
centralizada, do modelo cooperativista com ênfase no poder local e da propriedade privada
camponesa. Por que a reforma agrária cubana se tornou socialista? Por que tal reforma não
superou a monocultura canavieira, embora defendesse a diversificação agrícola? Quais as
novas formas de propriedade que substituíram o latifúndio? Como o trabalhador rural e o
camponês cubano participaram da construção deste novo sistema agrário? Essas são algumas
das perguntas que busquei explorar na minha dissertação de mestrado12.
10 Sobre a centralidade das formas pré-capitalistas na construção dos imaginários e práticas pós-capitalistas, ver
também Santos, 2011.
11 Sobre as controvérsias econômicas da transição soviética na década de 1920, ver Dobb, 1972 e Bettelheim,
1976. Elaborei uma síntese deste debate em Vasconcelos, 2013b. Sobre o debate marxista e anarquista da
questão agrária no contexto da revolução russa, ver Marcos & Fabrini, 2010.
12 Defendida no programa de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico, no IE/UNICAMP, na área de
História Econômica, com orientação do prof. Plínio de Arruda Sampaio Junior (Vasconcelos, 2013a). O trabalho
será publicado em breve pela editora Alameda, com auxílio FAPESP, sob o título “História agrária da revolução
cubana: dilemas do socialismo na periferia” (no prelo).
A reforma agrária cubana se tornou socialista porque qualquer projeto político que
buscasse alterar os fundamentos da plantation modernizada afetaria o coração da acumulação
capitalista do país, contrariando grupos oligárquicos cubanos e investidores bilionários dos
Estados Unidos13. O capitalismo cubano, caso emblemático da dominação neocolonial
(Fernandes, 2007), praticamente não abria brechas para reformas, muito menos aquelas que
ameaçassem o monopólio da terra. O conglomerado Rockefeller-Sullivan, por exemplo,
comandava um total de 480 mil hectares de terras em Cuba (superfície equivalente à área de
Trinidad y Tobago) e 79.460 trabalhadores apenas nas usinas, sem contar as plantações14.
Outro exemplo da avassaladora concentração fundiária era Julio Lobo Olavarría, “o
imperador do açúcar”, que comandava quase sozinho a produção de 15 centrais açucareiras
correspondentes a 163 mil hectares de terras e 45.836 trabalhadores, além do controle das
duas maiores refinarias do país15. Segundo o censo agrícola de 1946, 2,8% dos proprietários
rurais em Cuba concentravam 57% da superfície agrícola do país, ao passo que 78% das
propriedades rurais eram minifúndios com menos de 27 hectares, ocupando somente 15% da
superfície (Chonchol, 1961, p. 5).
O presidente Carlos Prío Socarrás, eleito em 1948, foi um reformista infeliz, pois ao
tentar ampliar participação do capital cubano na exploração do níquel, sendo ele mesmo
diretamente interessado no negócio, desagradou os interesses dos Rockefeller. Além disso,
Socarrás adotou uma política expansionista para o açúcar, eliminando barreiras e cotas de
produção, o que não agradava aos investidores estadunidenses. Foi suficiente para o golpe de
1952. Naquele contexto, não surgiram em Cuba outros reformismos que abrissem
13 O conceito de “plantation modernizada” está desenvolvido no Capítulo 1 da minha dissertação de mestrado
(Vasconcelos, 2013a). Basicamente, seria resultado do processo modernizador da estrutura agrária da plantation
colonial, determinado por uma história política de submissão aos interesses estadunidenses e pela acelerada
dinâmica especulativa que afetava a produção açucareira mundial.
14 Nos anos 1950, os Rockefeller-Sullivan também controlavam a Compañía Cubana de Teléfonos, que detinha
monopólio do serviço telefônico, investiam na extração de níquel do Oriente com a Freeport Sulphur Company e
a American Smeltin & Refining Company (AS&R), exploravam o petróleo cubano com a Esso Standart Oil
Company, além de possuírem braços no setor de transportes com o monopólio Ferrocarriles Consolidados
(Jimenez, 2000; Pino-Santos, 1983, p. 519, 544). Com tanto a perder, o conglomerado financiou o golpe de
Estado de 1952 que derrubou o presidente Carlos Prío Socarrás, faltando apenas 80 dias para as eleições.
Fulgêncio Batista foi escolhido para abrir novos caminhos de investimentos e garantir facilidades.
15 Julio Lobo era proprietário dos principais corredores comerciais e empresas de exportação de açúcar do
mundo. A Galbán Lobo Trading Company controlava 35% a 60% do açúcar cubano e porto-riquenho e 60% do
refino do mercado norte-americano. Lobo também possuía a National Bonded Warehouses Company, um
depósito açucareiro que armazenava o produto de 21 usinas, além de ser proprietária de um porto. Era dono do
Banco Financiero, com depósitos dos 21 centrais que armazenavam açúcar com Lobo; da Corporación
Aeronáutica Antillana S.A., uma companhia aérea com circulação interna às suas propriedades, uma das três
“linhas tributárias” da ilha, ou seja, isenta de impostos por transportar o correio oficial; e a Corporación
Inalámbrica Cubana S.A. de radio e telégrafo (Jimenez, 2000).
possibilidades legais e capitalistas de mudança da concentração fundiária. Sendo assim, a
guerrilha do Movimento Revolucionário 26 de Julho deu início à redistribuição de terras pela
via armada, antes mesmo de chegar ao poder, a partir da lei nº 3 da Sierra Maestra de outubro
de 1958. Isso lhe conferiu, como se sabe, crescente prestígio com o campesinato, que em 1960
fundou a Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP), organismo da própria
revolução.
A reforma agrária cubana foi distributivista no início, entregando as superfícies
expropriadas pela guerrilha na forma do “mínimo vital” de 27 hectares por família de até
cinco pessoas. Já nos primeiros meses do governo revolucionário, a primeira lei de 17 de maio
de 1959 proibiu a existência de latifúndios maiores que 402 hectares, incluindo raras exceções
para propriedades de alta produtividade. Sob a lei de reforma agrária, 1,2 milhões de hectares
foram expropriados dos latifundiários nacionais e estrangeiros no período de dois anos. As
leis de nacionalização n°851 e 890 de 1960 expropriaram mais 2,1 milhões de hectares
(Chonchol, 1961, p. 28). Já a segunda lei de reforma agrária, de 10 de outubro de 1963,
eliminou definitivamente o latifúndio, restando somente as propriedades privadas menores
que 67 hectares, a maioria delas politicamente organizadas pela ANAP. Ao final da aplicação
da segunda lei, em dezembro de 1963, 60% das terras agricultáveis da ilha eram estatais e
40% ocupadas por pequenas propriedades privadas.
Entre 1961 e 1962, ocorreu um debate agrário a respeito das novas formas de
propriedade estabelecidas pela revolução, com participação de técnicos estrangeiros e
dirigentes cubanos. Entre os estrangeiros se encontravam os agrônomos Jacques Chonchol,
Michel Gutelman e René Dumont, que foram a Cuba a convite do governo para assessorar a
reforma. Os três defendiam a forma de cooperativas mistas como mais adequada às condições
técnicas e econômicas da ilha16. Porém, dentro do governo revolucionário a posição
hegemônica era pela criação de Granjas Estatais e o assalariamento geral dos trabalhadores
rurais.
Apesar da força argumentativa dos agrônomos estrangeiros, que alertavam para os
perigos da eliminação abrupta do excedente privado local, a posição do governo estava em
consonância com uma porção expressiva do campesinato cubano, que durante os meses da
16 A gestão mista combinava direção local da cooperativa, eleita em assembleia, com administradores estatais. A
possibilidade da acumulação de excedente privado nas cooperativas era um dos principais argumentos dos
agrônomos estrangeiros em defesa da preservação da produtividade agrícola (Vasconcelos, 2015). Sobre a
participação de Jacques Chonchol como engenheiro agrônomo da FAO na reforma agrária cubana, ver a
entrevista Chonchol & Vasconcelos, 2012.
safra canavieira se assalariava, desenvolvendo uma experiência subjetiva híbrida, camponesa
e proletária. A transmissão da memória coletiva das inúmeras espoliações sofridas pelas mãos
da Guarda Rural desde o século XIX, porém, tornou esse sujeito híbrido mais confiante no
assalariamento do que na posse da terra17. Sendo assim, em setembro de 1962, um
Congresso Nacional de Cooperativas decidiu pela conversão de todas as cooperativas em
granjas estatais, com 1.381 votos favoráveis e 3 contrários (Fernandes, 2007, p. 186). O
debate agrário sobre cooperativas e granjas estatais ocorrido entre 1961 e 1962 antecipará as
principais polêmicas da transição socialista desenvolvidas no grande debate econômico
cubano dos anos seguintes (Pericás, 2004; Vasconcelos, 2011, 2015).
Desde então, a tendência estatizante da agricultura cubana foi hegemônica até os anos
1990. Mas o governo cubano buscava distanciar-se da traumática experiência stalinista da
coletivização forçada, defendendo o “princípio da voluntariedade”. Ao mesmo tempo, criou
uma ambígua política de “coletivização voluntária”, pela qual estabelecia vantagens
econômicas aos camponeses que entregassem suas terras ao Estado e se assalariassem. Tal
política não alcançou a velocidade esperada de redução da propriedade privada, gerando a
opinião, entre a nova burocracia estatal, de que a economia camponesa poderia ser uma das
culpadas pelo insucesso das metas da Junta Central de Planificação (JUCEPLAN). É nesse
contexto que se inicia o período da “ofensiva revolucionária” de 1967.
É certo que a Guerra Fria fazia de Cuba uma verdadeira panela de pressão. O governo
sentia uma necessidade geopolítica de comprovar que o modelo estatal cubano era viável e
superior ao capitalismo periférico, não somente em termos sociais, mas também econômicos.
A permanente ameaça de invasão estadunidense e as divergências programáticas entre Cuba e
União Soviética, a primeira progressivamente mais estatizada e a segunda cada vez mais
flexível, exigiam que o governo cubano comprovasse a todo custo suas capacidades técnicas e
políticas. Diante dessa situação, o Estado empreendeu um processo violento contra o
campesinato, convertendo a safra de 1970 na tábua de salvação do socialismo (Vasconcelos,
2016a). Esse processo violento foi chamado por René Dumont de “terceira reforma agrária”,
uma vez que reduziu a superfície agrícola do campesinato de 40% para 15% entre 1964 e
1970 (Gutelman, 1975, p, 88; Valdés Paz, 2009, p. 51). Mais tarde, a ANAP realizou balanços
17 Segundo o cubano José Acosta, estudioso da história agrária, “a produção açucareira determinou o surgimento
e desenvolvimento de um proletariado agrícola com um peso relativo majoritário no total da população rural”
(1972, p. 80-1).
e autocríticas públicas da sua atuação nesse período durante o Congresso de Pequenos
Agricultores de 1971 (Barrios, 1987).
No fundo, a “terceira reforma agrária” seria também resultado direto de uma polêmica
estratégia de construção do socialismo pela monocultura. Esse tema, o regime de cultivos, foi
certamente um dos mais difíceis para a revolução cubana. Há uma frase atribuída a Jean-Paul
Sartre que sintetiza a estupefação gerada pela ideia de um socialismo canavieiro: “edificar
sobre o açúcar é melhor do que edificar sobre a areia?” (apud Galeano, 2004, p. 86). As
fragilidades de uma sociedade monocultora eram conhecidas dos dirigentes revolucionários e
dos economistas da esquerda cubana. Por que, então, não puderam realizar a devida
diversificação produtiva e comercial que propunham em 1959? Desde José Martí, a ideia da
diversificação comercial se transformara em uma bandeira dos setores reformistas, sem que
houvesse, porém, espaço para reformas dentro do enquadramento político capitalista18. Estava
nítido também que a diversificação produtiva e a diversificação comercial eram duas partes
interdependentes da mesma mudança, argumento que o mexicano Juan Noyola reforçou em
suas conferências sobre desenvolvimento econômico para trabalhadores cubanos nos
primeiros três anos da revolução (Noyola, 1978).
Entre 1959 e 1963, a diversificação agrária cubana foi acelerada. Embora
correspondesse a uma diretriz do governo revolucionário, tratou-se muito mais de um
processo espontâneo e desorganizado, decorrente de uma série de fatores. O bloqueio
econômico estadunidense, propagado por quase toda a América Latina e Caribe com alta
velocidade, havia estrangulado as importações alimentares, que desde 1958, correspondiam a
20% da pauta importadora da ilha (Barkin, 1976, p. 136). Essa súbita dificuldade coincidiu
com um aumento da demanda interna por alimentos, decorrente da rápida melhoria da renda
do trabalhador cubano. Apenas em 1959, houve aumento de 22% dos salários e a tarifa
elétrica foi reduzida em 30% (Piñero, 1960, p. 85). A política de ampliação dos serviços
públicos, estatais e gratuitos contribuiu para a melhoria rápida da qualidade de vida da
população pobre. Ademais, o uso da capacidade produtiva ociosa, na contramão da lógica
especulativa, permitiu uma política de emprego de alta absorção de mão de obra no setor
18 Nunca é demais relembrar as clássicas palavras de Martí na Conferência Monetária das Repúblicas da América
em 1891, posteriormente reproduzidas por Che Guevara na Conferência de Punta del Este de 1961, que originou
a Aliança Para o Progresso: “É preciso equilibrar o comércio para assegurar a liberdade. O povo que quer
morrer, vende a um só povo, e o que quer salvar-se, vende a mais de um. O influxo excessivo de um país no
comércio de outro, se converte em influxo político. (...) O primeiro que faz um povo para dominar outro, é
separá-lo dos demais povos. O povo que quer ser livre, seja livre em negócios. Distribua seus negócios entre
países igualmente fortes” (Martí, 2005, p. 154-155).
estatal. Os resultados foram muito rápidos: entre 1957 e 1963, os postos de trabalho
aumentaram em 25%, ocupando mais de 50% da mão de obra cronicamente desempregada.
Nesse período, 425 mil pessoas ingressaram no mercado de trabalho, dissolvendo o
desemprego estrutural (CEPAL, 1964, p. 272). A diversificação agrária inicial também
foi fruto da crise do neocolonialismo, pois as relações com os Estados Unidos desmoronavam
sem que houvesse um cenário futuro nítido. Com medo da fome, os trabalhadores do campo
se lançaram a produzir roças de subsistência, gerando um mosaico de pequenas culturas
diversificadas. Com isso, em 1963, constatou-se a redução da superfície canavieira em 15%
em relação a 1959 (CEPAL, 1964, p. 287). Sendo a principal fonte de divisas da ilha, essa
situação acarretou sérios desequilíbrios nas contas públicas, que só foram sanados por
empréstimos soviéticos a baixos juros.
Tais desequilíbrios preocuparam a direção revolucionária que, para cumprir suas
promessas de investimentos sociais, precisavam de divisas. O governo tomou então a decisão
de desacelerar o processo diversificador e adiá-lo. A nova estratégia de transformações
agrárias se baseou no convênio assinado com a União Soviética em dezembro de 1963,
através do qual Cuba prometia vender 24,1 milhões de toneladas de açúcar aos soviéticos até
1970 em troca de uma série de vantagens econômicas: preços estáveis e altos pelo açúcar,
preços baixos pelo petróleo, empréstimos a juros simbólicos e prazos flexíveis, assessorias
técnicas e investimentos produtivos na ilha (Gutelman, 1975, p. 233).
O acordo não significou adesão instantânea de Cuba ao modelo soviético, que só teria
sido efetivamente adotado depois de 1970. Para justificar a falta de alternativas da ilha diante
da oferta soviética, Roberto Regalado utiliza a ideia da “revolução insertada” (Regalado,
2012). O fortalecimento das ditaduras anticomunistas no entorno cubano teria obstruído a
possibilidade de diversificação comercial regional e, consequentemente, de diversificação
produtiva. Segundo esta interpretação, o entorno hostil fez do acoplamento ao comércio
soviético a única opção. Ainda assim, os revolucionários cubanos traçaram um plano futuro
de diversificação agrária, paradoxalmente alavancado pela monocultura e pelo próprio
convênio soviético, apostando em um grande salto a partir da safra de 1970. A ideia era
radicalizar a monocultura, expandir seus excedentes ao máximo e com eles financiar a
diversificação agrícola, criando condições de desenvolvimento para a siderurgia do níquel19.
19 A essa estratégia, David Barkin, economista estadunidense que viveu em Cuba nos anos 1970, deu o nome de
“turnpike”, isto é, a tentativa de alcançar um destino (a diversificação) pelo caminho mais longo (a monocultura)
percorrido a uma velocidade mais rápida (a safra de 1970) (Barkin, 1976).
A estratégia turnpike sucumbiu por diversos motivos, sobretudo o fracasso da safra de
1970 e a acomodação do Estado cubano a uma situação relativamente confortável de
acoplamento20. Ademais, era a conjuntura específica da Guerra Fria que gerava as vantagens
geopolíticas da União Soviética no financiamento externo contínuo do socialismo cubano,
uma vitrine desestabilizadora do capitalismo latino-americano. Desfeitas tais condições, o
esquema cubano do “socialismo monocultor” desabou, dando origem a um dos períodos mais
difíceis da história da ilha. O desmoronamento do sistema agrário cubano nos anos 1990 foi
resultado direto das limitações da monocultura como motor de um sistema socialista. A crise,
entretanto, não foi suficiente para demover do poder os grupos ligados à revolução, que hoje
desenvolvem outros modelos de agricultura21.
Consideramos, por fim, que a esquerda latino-americana pode aprender muito com a
história agrária de Cuba, desde que não reduza suas análises ao maniqueísmo pueril de “erros”
e “acertos” mal examinados. Para isso, é preciso estar disposto a identificar, sem agendas pré-
determinadas, a real margem de decisão dos sujeitos políticos e as constrições estruturais e
conjunturais a eles impostas pela história.
3. Reforma agrária e socialismo no Chile
Após perderem o controle da economia cubana e serem derrotados na invasão da Baía
dos Porcos em abril de 1961, os Estados Unidos foram levados a alterar sua estratégia de
manutenção da ordem continental. Foi constituída a Aliança para o Progresso, uma plataforma
de reformas estruturais patrocinadas pelo capital monopolista estadunidense, inspiradas nas
formulações cepalinas. A iniciativa foi formalizada no encontro do Conselho Interamericano
Econômico e Social em agosto de 1961 no Uruguai, dando origem à Carta de Punta del Este.
Com uma retórica que mimetizava o léxico das esquerdas, o documento exaltava a “vocação
revolucionária” da América e estabelecia doze objetivos para as nações latino-americanas,
entre eles, a reforma agrária (OEA, 1962, p. 621-623). Como um antídoto para novas
revoluções, a Carta foi aprovada na mesma reunião em que o bloqueio econômico contra
Cuba disseminou-se, embora a ilha fosse o país que mais se aproximasse de algumas
20 Sobre a safra de 1970 ver Vasconcelos, 2016a. Sobre a dependência externa de Cuba, ver Vasconcelos, 2016b.
21 Sobre a agricultura cubana do século XXI, ver Marcos & Fabrini, 2010 e Thomaz, 2016.
diretrizes elencadas no mesmo evento22. Tratava-se, enfim, de uma política bem-sucedida de
deslocamento da CEPAL para o polo oposto à revolução cubana, por meio do financiamento
externo de reformas tuteladas. Uma fusão do reformismo com o imperialismo foi criada para
fazer face ao reformismo revolucionário
É nesse contexto que a reforma agrária chilena23 se tornou um discurso comum
enunciado pela Aliança para o Progresso, por setores das elites nacionais, incluindo a
Sociedade Nacional de Agricultores (SNA), e pelo presidente Jorge Alessandri, um político
independente da direita, eleito em 1958 com apoio de Liberais e Conservadores. Em 1962,
empréstimos baseados na Aliança para o Progresso foram demandados por Alessandri a
Washington (Garrido, 1988, p. 83; O’Brien, 1969, p. 462).
A reforma agrária era uma demanda antiga no Chile. A retórica da distribuição
fundiária via “colonização” já fazia parte da política chilena há pelo menos 30 anos,
sedimentando expectativas de acesso a terra repetidamente frustradas (Garrido, 1988, p. 54).
Sendo um país exportador de minérios, ao contrário de Cuba, a agricultura chilena nunca
representou a principal fonte de divisas, mas sim a possibilidade de substituição de
importações alimentares24. Esse foi um diferenciador fundamental em relação ao debate
agrário da esquerda cubana. A alta rentabilidade do salitre e depois do cobre tornou o norte
chileno um eixo territorial de exportação. Enquanto isso, a fronteira sul, além de não
representar lucros tão promissores, ofereceu uma histórica resistência mapuche, que garantiu
por longo tempo um efetivo controle territorial indígena da Araucanía ao sul do rio Bío-Bío,
assinando tratados fronteiriços com espanhóis e chilenos25. Na segunda metade do século
XIX, o Estado chileno intensificou uma ofensiva militar intitulada “Pacificação da
Araucanía”, produzindo um massacre e territorializando, enfim, o Estado capitalista chileno
(Klubock, 2014, p. 14). Desde então, os mapuche remanescentes passaram a reivindicar seu
22 Pouco depois, em 31 de janeiro de 1962, Cuba seria expulsa da OEA e Che Guevara denunciaria a Aliança
para o Progresso como uma “gran estafa que se hace a los pueblos de América” (Guevara, 2003, p. 52).
23 Objeto de minha atual investigação de doutorado no Programa de Pós-Graduação em História Econômica da
USP, com orientação do professor Jorge Grespan.
24 Entre 1925 e 1980, a exportação de cobre e nitratos representou entre 40% e 70% das exportações do país
(Furtado, 1969, p. 232; Winn, 2010, p. 63). Em 1961, somente 29% da população economicamente ativa
trabalhava na agricultura chilena. No mesmo ano, o percentual de trabalhadores agrícolas alcançava 70% a 90%
em outros países latino-americanos (Garrido, 1988, p. 88).
25 Em 1641, foi assinado o Tratado de Quillin, pelo qual os espanhóis reconheceram a autonomia territorial
mapuche. Em 1825, foi firmado o Tratado de Tapihue entre chilenos e mapuches, renovando o princípio da
autonomia recíproca. Durante o século XIX, os mapuche chamavam o território ao norte do rio Bío-Bío de “El
país” e diziam “La Tierra” para a fronteira Sul que ocupavam (Correa; Molina; Yáñez, 2005).
direito às “terras usurpadas”, luta que impactaria a reforma agrária conduzida pela Unidade
Popular26.
Em 1962, o governo de Alessandri aprovou a lei 15.020, alinhada com a Aliança para
o Progresso. Estabeleceu-se a possibilidade de expropriação de terras (antes inexistente),
porém mediante indenização com preços de mercado, o que na prática tornaria a reforma
agrária impossível (Chonchol, 2016b). Seu objetivo era mercantilizar a terra e difundir a
propriedade privada individual no campo, preservando os mecanismos de reconcentração
fundiária. Tais intenções conformavam a substância conservadora de uma política reformista
e serão retomadas com o projeto agrário pinochetista. Como era de se esperar, a lentidão da
distribuição de terras não foi superada com a nova armadura jurídica de 1962, um dos motivos
pelos quais Alessandri chegou desgastado ao pleito de 196427.
Na década de 1960, a estrutura agrária do Chile correspondia àquilo que Celso Furtado
denominou binômio minifúndio-latifúndio (Furtado, 1981, p. 97). Em 1965, 2% das
propriedades agropecuárias do país controlavam 55% da superfície agrícola nacional, ao
passo que 81% delas ocupavam somente 9,7% da superfície (Barraclough & Fernandez,1974).
Como resultado de um extenso processo de concentração fundiária, os trabalhadores da terra,
em sua maioria, não eram proprietários e estabeleciam diferentes relações de trabalho com os
latifundiários. Entre eles, estavam os inquilinos, trabalhadores permanentes de fazendas, que
de geração em geração eram submetidos a um nexo servil e paternalista com os latifundiários,
repetidamente usados como base eleitoral compulsória; os afuerinos, que realizavam serviços
temporários e sazonais, alternados com a subsistência em minifúndios; e os medieros,
camponeses que repartiam sua produção com os proprietários (Bengoa, 2015; Chonchol,
2016a, 2016b).
Em 1964, a reforma agrária foi um dos temas centrais das eleições vencidas pelo
Democrata-Cristão Eduardo Frei. Seu slogan, “uma revolução em liberdade”, novamente
indicava o temor da cubanização do Chile, refletida também no aporte financeiro que
26 Além da guerra, um processo colonizador contínuo massacrou os mapuche ao longo dos séculos XIX e XX, já
que sucessivos governos adotaram a política de ocupação ilegal da Araucanía com “comunidades de
proprietários” brancos. As desvantagens dos mapuche no terreno jurídico foram exploradas para legalizar um
intenso processo espoliador (Correa; Molina; Yáñez, 2005). Como analisou Boaventura de Sousa Santos, a
dominação epistemológica era e é uma arma fundamental da acumulação capitalista. Nesse caso, os sistemas de
justiça dos colonizadores, ao conferir a “ilusão do direito”, absorveram energia da luta mapuche para batalhas
perdidas dentro das instituições (Santos, 2011).
27 Para Jacques Chonchol (2016b), o fato da primeira lei de reforma agrária da história do Chile ter sido
emplacada por um governo da direita significou uma grande vantagem simbólica para a esquerda.
empresas estadunidenses dispenderam em sua campanha. Vencedora com 54% dos votos, a
centrista DC atravessou anos de tensão interna e dissidência devido à polarização cada vez
mais acirrada entre as alas direita e esquerda do partido (Winn, 2010, p. 53; O’Brien, 1969, p.
462). Tal acirramento culminou, em 1967, com uma nova lei de reforma agrária, gestada no
interior do governo democrata-cristão por visível influência de sua ala esquerda, da qual
participava Chonchol como vice-presidente do INDAP (Instituto Nacional de
Desenvolvimento Agropecuário). Posteriormente, Chonchol romperia com a DC, fundaria o
Movimiento de Acción Popular Unitária (MAPU) e ingressaria na Unidade Popular,
tornando-se uma figura chave no governo Allende como ministro da Agricultura. Pouco
depois, o MAPU atravessaria outra dissidência, que resultou na formação da Izquierda
Cristiana (IC).
Três novidades importantes marcaram a nova lei de 1967. A primeira foi a categoria
assentamento, como etapa transitória entre a distribuição da terra pelo Estado e a propriedade
privada individual. A possibilidade da propriedade coletiva da terra foi objeto de intensas
críticas da parte das associações latifundiárias. A segunda foi o limite de tamanho da
propriedade a 80 hectares de riego básico28 (HRB). Além disso, propriedades maiores que 40
HRB que permanecessem ociosas teriam três anos para serem produtivas ou seriam
expropriadas (Barraclough & Fernandez, 1974). Em terceiro, a lei permitia a sindicalização
rural e acelerou o processo de organização da luta camponesa pela base (Chonchol, 2016a).
Embora reformador, Eduardo Frei não pretendia perder o controle do processo de
modernização capitalista. Mas suas concessões à esquerda, ao invés de apaziguarem os
ânimos da luta de classes, catalisaram uma radicalização social e política que abriu caminho
para vitória eleitoral de Salvador Allende em 1970 com apenas 36% dos votos, representando
a Unidade Popular (PC, PS, MAPU, IC). Desencadeou-se assim um processo inédito na
história do continente: uma transição socialista desbravada por dentro das vias institucionais
(Sader, 1982).
Com a eleição de Allende ocorreu um acirramento das tensões sociais no campo e nas
cidades. Ao criar as áreas de propriedade social (APS), o governo da Unidade Popular abriu
caminho para modificação radical das relações sociais de produção nas fábricas. Em Santiago,
os cordões industriais se organizaram como uma experiência nova de poder popular, com
28 HRB foi uma unidade técnica criada na Lei 16.640 (art. 172) para permitir comparações de terras com graus
diferentes de fertilidade, relativizando o tamanho em superfície como critério único de expropriação (Garrido,
1988, p. 163).
assembleias e comitês de trabalhadores tomando decisões horizontais sobre as atividades de
produção. A radicalidade transformadora dos cordões, tanto na vida de cada trabalhador,
quanto na organização econômica de toda a sociedade, conduziu as divergências entre os
partidos da esquerda aos seus limites (Borges, 2015).
No caso da reforma agrária, a lei de 1967 ofereceu arcabouço suficiente para que
Allende não necessitasse alterá-la de imediato, conseguindo acelerar a redistribuição da terra
com respaldo legal do governo anterior. Simultaneamente, movimentos sociais camponeses e
as comunidades mapuche renovaram seu fôlego de luta pela terra, organizando tomas para
forçar expropriações. Na Araucanía, o sucesso da toma do Fundo Ruculán, mais tarde
assentamento Nicolás Ailío, por uma comunidade mapuche em aliança com militantes do
MCR (Movimento Campesino Revolucionário, ligado ao MIR), desencadeou uma série de
outras tomas espontâneas (Winn, 2010, p. 95). Estudantes da Universidade de Concepción
agitaram o slogan “Arauco vuelve a la lucha” em defesa das tomas mapuches e da
recuperação das terras usurpadas (Chonchol, 2016b).
Quando Chonchol assumiu o ministério da Agricultura, em novembro de 1970, a luta
social da fronteira sul estava tão efervescente que Allende lhe recomendou transferir o
ministério para Temuco. Durante três meses, Chonchol despachou a expropriação de 150 mil
hectares devolvidos aos indígenas, diretamente da Araucanía, embora a lei de 1967 nada
mencionasse sobre “terras usurpadas” ou mapuches. Nessa circunstância, ocorreu um
impasse: um conflito entre povos mapuche e pequenos proprietários descendentes dos
usurpadores do século XIX. Segundo Chonchol, “nós, por nenhum motivo queríamos
expropriar aos pequenos agricultores, porque era dar uma arma à direita, que dizia que a
reforma agrária ia terminar com todos os agricultores possíveis” (Chonchol, 2016b). Além das
ameaças da direita parlamentar chilena, com quem Allende buscava mediar, tal conflito
evidenciava outra dificuldade relevante para as atuais esquerdas latino-americanas, sintetizada
nos limites da palavra de ordem “a terra para quem a trabalha”. A ausência da menção aos
povos indígenas na lei de reforma agrária evidenciava certa limitação teórica e política do
marxismo no trato da questão indígena. O que fazer com os povos que “não trabalham” e
sequer possuem essa ideia dentro de seus sistemas de pensamento e cultura?29
Outro conflito desencadeado pela radicalização da reforma agrária ocorreu entre os
diferentes tipos de trabalhadores rurais mencionados. A expropriação “propriedade a
29 Essa pergunta é central para a investigação de doutorado em andamento.
propriedade” privilegiava os inquilinos em relação aos afuerinos, que circulavam pelo
território de modo itinerante e não mantinham um vínculo fixo com as fazendas, perdendo
muitas vezes a chance de participar da sua redistribuição. Nesse contexto, para que os
inquilinos não fossem privilegiados em relação aos outros trabalhadores rurais, surgiu a
proposta de expropriações de um grupo de fazendas e formação dos Centros de Reforma
Agrária (CERA). Os CERA eram grupos de assentamentos organizados como propriedade
coletiva transitória, compartilhando máquinas e, sobretudo, canais de representatividade com
o governo. A ideia era que, ao cabo de três anos de capacitação administrativa e experiência
de trabalho coletivo, os trabalhadores tomassem uma decisão sobre a forma econômica que
melhor se adequava às expectativas do grupo30.
Em meio ao acelerado processo de reorganização do campo chileno, a vanguarda
partidária mirava o futuro e buscava definir seus próximos passos. Muitos dos conflitos entre
PC, PS, IC, MAPU e MIR pautavam estratégias para um tempo que não chegou a existir.
Entre elas, os métodos de decisão que seriam adotados pelos CERA sobre as formas de
propriedade definitivas após os três anos de experiência. Enquanto os comunistas defendiam a
consulta aos Conselhos de Reforma Agrária, formados por representantes de entidades, os
socialistas defendiam os Conselhos pela Base, isto é, assembleias com voto direto. Os
Conselhos de Reforma Agrária foram estabelecidos por decreto presidencial. Os Conselhos
Pela Base, dos socialistas, chegaram a ocorrer sem vinculação legal em alguns lugares.
Entre as principais acusações da direita contra o governo Allende estava a
coletivização da propriedade da terra: criados por decreto, os CERA e os CEPRO foram
apontados como inconstitucionais. Quando o golpe militar foi desferido em setembro de 1973,
a transição socialista chilena sofreu uma violenta reversão e um processo de contrarreforma
agrária. A política agrária de Pinochet eliminou a propriedade coletiva da terra e chegou a
lotear inclusive terras indígenas em propriedades privadas individuais, desenvolvendo, por
exemplo, o Projeto Perquenco, que visava a “capacitação técnica” de “pequenos proprietários
mapuches” (Garrido, 1988, p. 196-197). Ao buscar converter mapuches em pequenos
empresários capitalistas, o regime Pinochet encarnava com brilhantismo a proposta da
Aliança Para o Progresso, fundindo de maneira pioneira o “reformismo-imperialismo” com os
primeiros rascunhos das narrativas neoliberais. A divisão da terra em propriedades privadas
30 Outra propriedade coletiva que surgiu à época eram os Centros de Produção (CEPRO). Eram estatais e quase
só existiram em Magallanes, em zonas de produção de ovelhas (Garrido, 1988, p. 107).
individuais foi uma estratégia de mercantilização, acumulação por espoliação e desterro dos
povos originários.
A reforma agrária no Chile foi obstruída não somente pelas oligarquias rurais, mas
especialmente por burguesias consideradas “modernas”, por grupos tecnocráticos de poder e
pelas forças de inteligência estadunidense. Nesse contexto, o reformismo cepalino atolou,
perdendo espaço para o “reformismo-imperialismo”, por um lado, ou para o reformismo
socialista, por outro. A ideia de reformismo tornou-se, então, a antessala de projetos radicais,
fossem de direita, patrocinados pela Aliança para o Progresso, ou fossem de esquerda,
agitados pela militância marxista ou pelos movimentos populares. Com a onda de ditaduras
macarthistas no Cone Sul e a derrota geral das esquerdas no século XX, a captura do
“reformismo” pela direita repercute até hoje nas concepções hegemônicas de reforma agrária
e no poder político sobre os significados das palavras.
4. Considerações finais
Nas epígrafes deste texto, Carlos Rafael Rodríguez e Jacques Chonchol, protagonistas
políticos das reformas agrárias analisadas, criticam a posição dos “reformistas lentos”, isto é,
aqueles que defendem processos graduais de mudanças agrárias no continente. Para eles, o
reformismo lento não seria capaz de atingir a profundidade e velocidade necessárias para que
os objetivos anunciados por seus próprios defensores pudessem se concretizar. Políticas de
reformismo lento serviriam, então, como válvula de escape do capitalismo dependente, uma
espécie de descompressor, cuja abertura e fechamento permaneceriam controlados pelos
grupos oligárquicos ou pela burguesia tecnocrático-modernizadora. No momento em que o
reformismo lento ultrapassasse certos limites ou que as crises estrangulassem o excedente
econômico para sua realização, podem ser rapidamente substituídos, com maior ou menor
grau de violência, pelos “projetos tradicionais”. A funcionalidade do reformismo lento para o
sistema de desigualdades do capitalismo dependente, portanto, precisaria ser historicamente
examinada por todos os genuínos reformistas. Esse argumento foi insistentemente
desenvolvido por Carlos Rafael Rodríguez nas reuniões da CEPAL da década de 1960
(Rodríguez, 1983).
Quando a CEPAL tomou oficialmente a decisão de aderir à Aliança para o Progresso e
tornar-se cúmplice do bloqueio contra Cuba, ocorreu um marco na história da reforma agrária
e das chamadas reformas estruturais. A concepção de reforma agrária da Aliança para o
Progresso foi tão fortalecida e bem sucedida na manutenção da ordem continental que se
tornou definitivamente o conteúdo hegemônico do termo até os dias atuais. A “reforma
agrária a conta-gotas”, confundida com colonização, tanto quanto a “reforma agrária
tecnocrática” confundida com revolução verde (Mota, 2009) permitem que a dinâmica
mercantil-espoliadora da concentração fundiária desfaça toda noite o trabalho realizado
durante o dia. Assim, enquanto o senso comum crê que existem políticas de reforma agrária
por assentamentos, nas estruturas silenciosas permanece o mesmo processo de concentração
fundiária, que estrangula o espaço de populações camponesas e indígenas. A flexibilidade da
válvula de escape permite o ajuste do número de assentamentos de acordo com a necessidade
política ou econômica de cada conjuntura. A ordem latifundiária nunca é ameaçada. Enquanto
existirem sujeitos políticos do reformismo lento capazes de domesticar os movimentos de
base nos ritmos que convêm, tanto mais eficiente será a manutenção da ordem. A ideologia
da modernização e da revolução verde também capturaram com sucesso os significados da
reforma agrária. A confusão semântica acerca do termo é extremamente funcional aos
defensores do agronegócio, do mercado de agrotóxicos e das multinacionais das sementes
transgênicas.
Será possível retomar a disputa em torno do termo “reforma agrária”? Quais palavras
com novos conteúdos políticos poderiam amalgamar as lutas contra o latifúndio? Seria a
agroecologia o novo programa das esquerdas, munidas de uma palavra ainda não capturada
pela ordem? Quais os seus desafios e limites? Enfim, as experiências agrárias do socialismo
cubano e chileno podem representar parâmetros históricos e políticos sobre os caminhos
percorridos e ainda por percorrer pelas esquerdas latino-americanas.
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Entrevistas
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REGALADO, Roberto. Roberto Regalado: entrevista [13 jul.2012]. Entrevistadora: Joana
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